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PARANÁGOVERNO DO ESTADO

FICHA CATALOGRÁFICA PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

PROFESSOR PDE 2010

Título Violência (des) velada no contexto escolar: o bullying

Autor Rosilene Martins Sanches

Escola de Atuação Colégio Estadual Nóbrega da Cunha

Município da escola Bandeirantes

Núcleo Regional de Educação Cornélio Procópio

Orientador Professora Doutora Maria Cristina Cavaleiro

Instituição de Ensino Superior UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná

Disciplina/Área (entrada no PDE) Pedagogia

Produção Didático-pedagógica Artigo

Relação Interdisciplinar (indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)

Todas as disciplinas

Público Alvo (indicar o grupo com o qual o professor PDE desenvolveu o trabalho: professores, alunos, comunidade...)

Professores, Alunos, Funcionários e Equipe Técnico Pedagógica.

Localização (identificar nome e endereço da escola de implementação)

Colégio Estadual Nóbrega da Cunha. Rua: Prefeito Moacyr Castanho, 1403, Centro.

Apresentação: (descrever a justificativa, objetivos e metodologia utilizada. A informação deverá conter no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)

A problemática da violência, seja aquela em que crianças e/ou jovens são vítimas, ou ainda, aquela que é protagonizada por estes, vem provocando crescente perplexidade e sendo objeto de preocupação nos contextos escolares. Assim, pensar a violência no ambiente escolar, requer compreender a escola na sociedade contemporânea e, ao mesmo tempo, perceber a violência como processo social que compromete o desenvolvimento do trabalho pedagógico e as práticas docentes e discentes. Partindo dessas premissas, este projeto pretende identificar e compreender o modo como são construídas as explicações acerca do fenômeno do bullying numa instituição escolar. Para tanto, a construção deste artigo se baseia em projeto de pesquisa em andamento, que servirá de suporte para estudos de

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aprofundamento teórico acerca do fenômeno do bullying durante a intervenção da professora PDE na escola, utilizando principalmente como referencial téorico, os estudos de: Vera Maria Candau (1999), Miriam Abramovay (2003, 2004), Marilena Chauí (1996/19970), Cleodelice Fante (2005, 2008), Flávia Schillying (2004, 2010), Ana Beatriz Barbosa Silva (2010), Marília Pontes Sposito (2001, 2008).

Palavras-chave ( 3 a 5 palavras) Violência; bullying; escola.

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL____________________________________________________________________________

ROSILENE MARTINS SANCHES

Violência (des) velada no contexto escolar: o bullying

BANDEIRANTES - Pr2011

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ROSILENE MARTINS SANCHES

Violência (des) velada no contexto escolar: o bullying

Artigo Científico – Produção Didático –Pedagógica – apresentado ao Núcleo Regional de Ensino de Cornélio Procópio e à Secretaria de Estado de Educação – Pr, como requisito obrigatório para a participação no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE e respectiva conclusão de curso.

Orientadora IES: Profa. Dra. Maria Cristina Cavaleiro. Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP.

BANDEIRANTES - Pr2011

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Violência (des) velada no contexto escolar: o bullying

CAVALEIRO, Maria Cristina1 SANCHES, Rosilene M. 2

RESUMO

A problemática da violência, seja aquela em que crianças e/ou jovens são vítimas, ou ainda, aquela que é protagonizada por estes, vem provocando crescente perplexidade e sendo objeto de preocupação nos contextos escolares. Assim, pensar a violência no ambiente escolar, requer compreender a escola na sociedade contemporânea e, ao mesmo tempo, perceber a violência como processo social que compromete o desenvolvimento do trabalho pedagógico e as práticas docentes e discentes. Partindo dessas premissas, este projeto pretende identificar e compreender o modo como são construídas as explicações acerca do fenômeno do bullying numa instituição escolar. Para tanto, a construção deste artigo se baseia em projeto de pesquisa em andamento, que servirá de suporte para estudos de aprofundamento teórico acerca do fenômeno do bullying durante a intervenção da professora PDE na escola, utilizando principalmente como referencial téorico, os estudos de: Vera Maria Candau (1999), Miriam Abramovay (2003, 2004), Marilena Chauí (1996/19970), Cleodelice Fante (2005, 2008), Flávia Schillying (2004, 2010), Ana Beatriz Barbosa Silva (2010), Marília Pontes Sposito (2001, 2008).

Palavras Chave: violência; escola; bullying.

1 Profa. Dra. Graduada em Pedagogia e Educação Física. Universidade Estadual de Cornélio Procópio. Professora Colaboradora. Colegiado de Pedagogia.

2 Psicopedagoga, Pedagoga, Professora Pedagoga do Estado do Paraná – cursista PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional.

.

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Violence (un) veiled in the school contests: the bullyning

ABSTRACT

The problematic of violence, the one in which children and young people are victms, or, the one where they are the main characters, has been casing a growing perplexity as well as being object of concern in the school contests. This way, thinking about violence in the school environment, requires to understand school in the contemporary society, and the same time to notice violence as a social process that compromises the development of the pedagogical work and the teachers and students practices. Starting from this premise, this project has an objective to identify and understand the way on how the explanations about the “bullyning” are built in schools. For this, the creation of this article is based on a research project in progress, and that will surve as a support for studies that have a deeper knowledge about violence during the intervention of PDE teacher at school. Having mainly as a theoretical references from: Vera Maria Candau (1999), Miriam Abramovay (2003, 2004), Marilena Chauí (1996/19970), Cleodelice Fante (2005, 2008), Flávia Schillying (2004, 2010), Ana Beatriz Barbosa Silva (2010), Marília Pontes Sposito (2001, 2008).

Keywords: violence; school; bullyning.

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1. Introdução

O programa de Desenvolvimento Educacional – PDE propõe no

decorrer dos estudos a elaboração de materiais didáticos para uso nas escolas.

Atendendo a tal dispositivo, o presente artigo científico é um material preliminar

baseado no projeto de pesquisa que está em andamento, visando a discussão

do bullying no Colégio Estadual Nóbrega da Cunha. A finalidade do projeto é,

portanto, identificar e compreender o modo como são construídas as

explicações acerca do fenômeno bullying na instituição escolar. Este artigo

pretende proporcionar aos(as) professores(as) do Ensino Fundamental e

Médio, reflexões iniciais sobre a complexidade desse fenômeno e sua

interferência no processo de aprendizagem.

É certo que ao tratarmos da discussão sobre violência na escola,

visualizamos uma série de situações nas quais os alunos discutem e brigam.

Contudo, em vários momentos, também presenciamos situações que circulam

na forma de “brincadeiras” e geram um aumento significativo da propagação da

violência entre os estudantes. É esse tipo de violência “velada” que vem

permeando os ambientes escolares e quando negligenciada tende a aumentar.

No campo dos estudos sobre violência na e da escola, esse tipo de violência

vem sendo denominada de bullying. É sobre este tema que nos ocuparemos

em nosso estudo.

2. Desenvolvimento

2.1. Violência: fenômeno social multidimensional

Etimologicamente, a palavra violência vem do latim vis (força) e

significa todo ato contra a natureza de algum ser. Cotidianamente ouvimos

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expressões utilizadas para caracterizar esse fenômeno: “violência urbana”,

“violência no trânsito”, “violência doméstica”, “violência moral”, “violência física”,

“violência verbal” etc.

Diversos autores, à luz de diferentes áreas do conhecimento, buscam

definir o fenômeno. Numa definição ampla, Marilena Chauí explica que a

“violência é um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra

alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão,

intimidação, pelo medo e pelo terror” (CHAUÍ, 1999). Para CANDAU et alii

(1999), a violência pode ser definida como,

“(...) ação ou comportamento que vai causar dano a outra pessoa ou ser vivo. Nega ao outro a autonomia, a integridade física ou psicológica e até mesmo o direito à vida. Também pode ser entendida como o uso excessivo de força, além do necessário ou esperado.” (CANDAU, LUCINDA e NASCIMENTO, 1999, p 48).

Marilia Sposito nos fala da complexidade em se definir a violência, pois

cada indivíduo apresenta um conceito, dependendo de sua história de vida

“A própria noção encerra níveis diversos de significação, pois os limites entre o reconhecimento ou não do ato como violento são definidos pelos atores em condições históricas e culturais diversas” (SPOSITO, 2008, p 03).

Como ponto de partida para nossa reflexão consideramos que o

conceito de violência possui uma multiplicidade de sentidos, “há violências

diversas implicando atores (sujeitos) diversos, acontecendo sob formas

diferentes (violência física, psicológica, emocional, simbólica)” (SCHILLING,

2010, p 35).

Flavia Schilling (2004) explica que “pela primeira vez, encaramos a

face violenta da sociedade, com seus preconceitos de classe, de raça, com sua

violência estrutural”, revelando um “profundo mal-estar”, e que hoje em dia

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podemos ver um esforço, por parte dos mais variados segmentos da

sociedade, em busca de possíveis soluções.

É preciso compreender que uma das questões que contribui para

encobrir a necessidade do debate sobre a violência em nosso país é a ideía

bastante impregnada no imaginário que somos um “povo pacífico e não-

violento por natureza”. A esse respeito, Marilena Chauí ressalta que a origem

desse pensamento é antiquíssimo em nosso país, datando da época da

descoberta da América, provém a imagem do Brasil “como país abençoado por

Deus” (como se diz na música: “e bonito por natureza!”). Para Chauí, diante

dessa imagem, como encarar a violência real existente no país? Exatamente

não a encarado, mas absorvendo-a no preconceito da não-violência.” (CHAUÍ,

apud SCHILLING, 2004, p. 39)

No Congresso Interamericano de Educação em Direitos Humanos, a

filósofa disse que o povo brasileiro não é "pacífico e ordeiro", e a luta contra a

violência é uma luta pelos direitos que estaria longe de ser concretizado no

Brasil, pois há bloqueios e resistências à instituição dos direitos econômicos,

sociais e culturais. Chauí (2006), observa que sobre as classes populares são

depositados os estigmas da suspeita, da culpa e da incriminação permanente.

A classe dominante prega o horror às contradições, recusando-se a trabalhar

os conflitos, porque eles negam a ideia mítica da boa sociedade pacífica e

ordeira. Uma situação violenta é transformada num traço positivo quando a

transgressão é elogiada como um “jeitinho brasileiro”.

A esse respeito, Chauí destaca a importância da educação como

criação do conhecimento, não somente um direito adquirido, mas como uma

educação formadora que se realiza como trabalho do pensamento, para pensar

e dizer o que ainda não foi pensado nem dito. “Essa formação é civilizatória

contra a violência social, econômica, política e cultural, porque age como

criadora de novos direitos quando compreende que o pensamento é um

trabalho e que o trabalho é a negação da realidade dada.” (CHAUÍ, 2006).

Para Schilling, é preciso unir forças começando com nosso meio,

nosso trabalho, pelos próprios professores que constituem “o ponto de partida

essencial que é o trabalho de diagnóstico, detectando as várias dimensões da

violência, a sócio-econômica, a familiar, a institucional” (SCHILLING, 2010, p

17), verificando os locais onde acontecem, as pessoas que participam suas

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influências nas ações. Unindo diversos atores para trabalharem juntos,

amparando e protegendo os objetivos da proposta.

A autora defende que uma das questões fundamentais é compreender

a complexidade das questões sociais que envolvem a violência para

instrumentalizar as ações, estabelecendo onde começar e qual a prioridade.

Essas questões são muito pertinentes à educação. São ações que devem ser

pensadas coletivamente, pois todos têm sua parcela de responsabilidade

absorvendo e refletindo os diversos tipos de violência dentro da instituição

escolar. A educação como sendo um dos direitos humanos imprescindível para

a concretização de uma série de outros direitos

“Não se trata de ensinar um conteúdo que será usado em algum futuro provável, mas sim de fazer com que as atitudes cotidianas reflitam a prática do respeito aos direitos humanos” (SCHILLING, 2004, p 69).

Enfim, pensar a violência no ambiente escolar, também requer

compreender o papel da escola na sociedade contemporânea, ao mesmo

tempo em que considerar a violência como processo social que compromete o

desenvolvimento do trabalho pedagógico e a prática docente e discente.

2.2. Violência no contexto escolar

A problemática da violência seja aquela em que crianças e/ou jovens

são vítimas, ou ainda, aquela que é protagonizada por estes, vem provocando

crescente perplexidade e sendo objeto de preocupação no meio escolar,

constituindo-se em tema com freqüente exposição nos órgãos de comunicação,

traduzindo uma realidade comprometedora da qualidade de ensino enfrentada

por toda a comunidade escolar.

Em artigo em que faz um balanço das pesquisas sobre violência

escolar no Brasil, Marilia Sposito (2001) destaca que os atos violentos nas

escolas sinalizam as dificuldades em criar possibilidades para que tais

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condutas assumam a forma de um conflito capaz de ser acertado no âmbito da

convivência democrática. De acordo com a autora, nos últimos anos as

pesquisas acadêmicas sobre violência escolar sofreram mudanças

significativas. Na década de 1980, o tema da violência na escola era abordado

pelos pesquisadores a partir de manifestações relativas à segurança pública:

atos juvenis de depredações e pichações serviam de objeto para a reflexão

sobre a violência (Sposito, 2001).

Nos anos 90, os estudos centravam suas análises no fenômeno

violento, apontando mudanças no padrão da violência observada nas escolas

públicas, cujas decorrências consistiam não somente de atos de vandalismo,

que continuam a ocorrer, mas também nas práticas de agressões

interpessoais. Sposito (2008) enfatiza que o tema da violência escolar foi

“insuficientemente investigado”. Para a autora a violência enquanto ato que

implica na ruptura de um nexo social pelo uso da força “nega a possibilidade da

relação social que se instala pela comunicação, pelo uso da palavra, pelo

diálogo e pelo conflito” (SPOSITO, 2008, p 03).

Assim, não podemos analisar apenas situações envolvendo força,

como forma de violência, “práticas mais sutis e cotidianas observadas na sala

de aula que veiculam o racismo ou a intolerância e, até, os mecanismos

relativos à violência simbólica presentes na relação pedagógica” (SPOSITO,

2008, p 03).

No início do ano 2000, investigações realizadas para a compreensão

das violências escolares, passaram a conceber a questão com a perspectiva

da vítima, ou seja, incluindo a percepção por aquele ou aquela que se expõe

aos atos de violência. A esse respeito, pesquisa realizada pela UNESCO em

2001, em várias capitais brasileiras, procurou construir um conceito de

violência a partir dos vitimados e concluiu que as violências nas escolas não

“constituem em dados objetivos, mas experiências vivenciadas de formas

múltiplas e distintas por aqueles que as sofrem” (ABRAMOVAY et alli, 2002).

Essa pesquisa revela um aspecto de pensamento que permeia as instituições,

que segundo as análises, indicam que a escola colabora tanto para a

reprodução de situações de violências no seu espaço, como para potencializar

uma cultura contra violências.

A ideia de que a violência é difusa por toda a sociedade e que

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repercute nas escolas, omite a reflexão crítica sobre a instituição e o lugar da

educação, da comunicação para modelar culturas contra violência. Importante

observamos que a escola, como instituição, acaba sofrendo os efeitos de

processos sociais mais amplos.

“Nesse sentido, a violência não é vista como produzida no espaço escolar, mas como uma questão social maior que reverbera na escola, local vulnerável a vários tipos de processos, especialmente a exclusão social”. (ABRAMOVAY et alli , 2005, p 68).

Para superar a violência enquanto desejo de destruição, a partir da

escola, e buscar desnaturalizá-la, é preciso desconstruir esse processo na sua

essência fundamental, ou seja, nas relações de poder e dominação

(SCHILLING, 2004).

A essas contribuições, retomamos os estudos de Sposito, que nos leva

à reflexão de que a violência seria apenas a conduta mais visível de recusa ao

conjunto de valores repassados pelos adultos, representados pela instituição

escolar, que não mais respondem ao seu universo de necessidades. Sposito

conclui que, “na ausência de outras referências, a indiferença e a violência

serão respostas frequentes e banalizadas, expressões parciais da crise que

atinge os sistemas escolares” (SPOSITO, 2008, p 16).

Assim, um dos principais desafios é encontrar alternativas que

possibilitem à escola sua redefinição, adquirindo significado efetivo. Com temas

contidos na ideia de democracia, direitos, desigualdades e o tratamento das

diferenças. Podem conter pré-condições para a busca de novas atribuições de

sentido para a instituição escolar.

É preciso refletir sobre o fenômeno da violência, enquanto prática entre

os pares, em meio a inúmeras complexidades que interagem no ambiente

escolar. Portanto, compreende-se que o bullying é uma dessas múltiplas

formas de violência inserida no contexto educacional.

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2.3. O fenômeno bullying: violência velada no contexto escolar

Quando imaginamos a violência na escola, lembramos de cenas de

crianças e jovens discutindo, brigando, mas prontamente interrompida e

supervisionada por profissionais. Contudo, a preocupação atual é com outro

tipo de violência, “aquela que se apresenta de forma velada”, que não se

mostra aos adultos, e ocorre através de várias atitudes “(...) cruéis,

intimidadores e repetitivos, prolongadamente contra uma mesma vítima, e cujo

poder destrutivo é perigoso à comunidade escolar e à sociedade como um

todo, pelos danos causados ao psiquismo dos envolvidos”, (FANTE, 2005, p

21).

Segundo Ana Beatriz Barbosa Silva, devemos ter em mente: a

distinção entre as brincadeiras naturais, típicas da idade escolar, quando todos

se divertem, zoam dos demais e de si mesmo, daquelas que ganham

“requintes de crueldade” e ultrapassam os limites de respeito pelo outro, que

apresentam segundas intenções, onde somente “alguns se divertem à custa de

outros que sofrem”. Para a autora, esses episódios representam o fenômeno

do bullying “que abrange todos os atos de violência (física ou não) que ocorrem

de forma intencional e repetitiva contra um ou mais alunos, impossibilitados de

fazer frente às agressões sofridas” (SILVA, 2010, p13).

Cleo Fante (2005) define “o bullying como um comportamento cruel

intrínseco nas relações interpessoais, em que os mais fortes convertem os

mais frágeis em objetos de diversão e prazer, através de “brincadeiras” que

disfarçam o propósito de maltratar e intimidar” (FANTE, 2005, p 29).

Pesquisas sobre violência, incluindo o fenômeno conhecido como

bullying, tiveram início na década de 1970 na Suécia e na Dinamarca. Na

década de 1980, a Noruega desenvolveu grande pesquisa sobre o tema. De

acordo com Fante e Pedra (2008) o primeiro estudo a relacionar a palavra ao

fenômeno da violência foi realizado por Dan Olweus, na Universidade da

Noruega. O termo bullying - originário da palavra inglesa bully- quer dizer

ameaçar, intimidar, amedrontar, tiranizar, oprimir, maltratar.

Ao pesquisar as tendências suicidas entre adolescentes, Olweus

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descobriu que a maioria desses jovens tinha sofrido algum tipo de ameaça e

que, portanto, era um mal a combater, e identificou critérios para detectar o

problema de forma específica.

“ações repetitivas contra a mesma vítima num período prolongado de tempo; desequilíbrio de poder, o que dificulta a defesa da vítima; ausência de motivos que justifiquem os ataques. Acrescentamos ainda que se devem levar em consideração os sentimentos negativos mobilizados e as sequelas emocionais” (FANTE e PEDRA, 2008, p 39).

Para a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e

à Adolescência (ABRAPIA, 2010), por não existir uma palavra na língua

portuguesa capaz de expressar todas as situações de bullying, tais como:

colocar apelidos, ofender, zoar, gozar, encarnar, sacanear, humilhar, fazer

sofrer, discriminar, excluir, isolar, ignorar, intimidar, perseguir, assediar,

aterrorizar, amedrontar, tiranizar, dominar, agredir, bater, chutar, empurrar, ferir,

roubar e quebrar pertences, decidiu-se então utilizar mesma nomenclatura

utilizada por Dan Olweus.

Os papéis característicos deste fenômeno são: alvos: os alunos que só

sofrem; alvos/autores: os alunos que ora sofrem, ora praticam; autores: os

alunos que só praticam; testemunhas: os alunos que não sofrem nem praticam

bullying, mas convivem em um ambiente onde isso ocorre. Os autores são,

comumente, indivíduos que têm pouca empatia.

Destacando as conseqüências para as vítimas, Ana Beatriz Barbosa

Silva constata que neste tipo de ato depende muito de cada indivíduo, da sua

estrutura, de vivências, de predisposição genética, da forma e da intensidade

das agressões. Muitas levarão marcas profundas provenientes das agressões

para a vida adulta, e necessitarão de apoio psiquiátrico e/ou psicológico para a

superação do problema. A autora cita que os problemas mais comuns são:

desinteresse pela escola; problemas psicossomáticos; problemas

comportamentais e psíquicos como transtorno do pânico, depressão, anorexia

e bulimia, fobia escolar, fobia social, ansiedade generalizada, entre outros. O

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bullying pode agravar problemas preexistentes, em casos mais graves, podem-

se observar quadros de esquizofrenia, homicídio e suicídio (SILVA, 2010, p 09).

O levantamento realizado pela ABRAPIA, em 2002, envolvendo 5875

estudantes de 5ª a 8ª séries, de onze escolas localizadas no município do Rio

de Janeiro, revelou que 40,5% desses alunos admitiram ter envolvimento direto

em atos de bullying, naquele ano, sendo 16,9% alvos, 10,9% alvos/autores e

12,7% autores. Nas análises dessa investigação, é destacado que a ausência

de intervenções efetivas corrobora para que todas as crianças, sem exceção,

sejam afetadas negativamente, passando a experimentar sentimentos de

ansiedade e medo. Além disso, alguns alunos, que testemunham as situações

deste fenômeno, quando percebem que o comportamento agressivo não

resulta nenhuma consequência a quem o pratica, poderão achar por bem

adotá-lo.

Nesta direção, Silva nos chama a atenção para uma característica

peculiar que foi verificada neste tipo de agressão e que dificulta a ação dos

educadores, pois os alunos raramente pedem ajuda às autoridades escolares

ou aos pais, se tornando refém do jogo do poder instituído pelos agressores.

Agem assim, pois acreditam que essa postura é capaz de evitar possíveis

retaliações dos agressores e por acreditarem que, ao sofrerem sozinhos e

calados, pouparão seus pais da decepção de ter um filho frágil, covarde e não

popular na escola (SILVA, 2010, p 12).

Fante e Pedra (2008, p 61) alertam que os espectadores representam

a maioria dos alunos de uma escola. Eles não sofrem e nem praticam bullying,

mas sofrem as suas conseqüências, por presenciarem constantemente as

situações de constrangimento vivenciadas pelas vítimas. Muitos espectadores

repudiam as ações dos agressores, mas nada fazem para intervir. Alguns as

apóiam e incentivam dando risadas, consentindo com agressões. Outros

fingem se divertir com o sofrimento das vítimas, como estratégia de defesa.

Esse comportamento é adotado como forma de proteção, pois temem

tornarem-se as próximas vítimas.

No Brasil, pesquisa realizada por Fante e Pedra, com

aproximadamente 600 professores da rede pública e privada de ensino,

demonstrou que 50% deles se envolveram em bullying em seu processo de

escolarização, e a maioria ainda sofre as consequências do fenômeno ou são

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alvos de assédio moral. (FANTE e PEDRA, 2008, p. 44). Contudo, a maioria

desconhece a “relevância do fenômeno e não sabe como agir ao se deparar

com a questão”. Consequente a isso, muitos agem de acordo com suas

próprias experiências e acreditam ser o bullying necessário para o

amadurecimento dos indivíduos acreditando serem brincadeiras próprias da

idade, sem prejuízos e que os próprios alunos devem resolver seus problemas,

sem intromissão dos adultos (FANTE e PEDRA, 2008, p. 54).

Sob a forma de violência velada, “as crianças vitimizadas pelo

comportamento bullying sofrem terrivelmente ao longo dos anos, muitas sob a

vista de seus professores no ambiente escolar, nas salas de aulas” (FANTE,

2005, p 11). Análises desse processo indicam que o bullying ocorre com

ausência de motivação, ou seja, não surge de um conflito ou briga entre

alunos, mas sim, os bullies escolhem um aluno que apresenta fragilidade em

seu aspecto físico ou psicológico, denunciando ser ele uma presa fácil aos

ataques. O “bode expiatório” deixa claro em suas atitudes que não revidará,

não denunciará e nem conseguirá motivar outros em sua defesa.

Na opinião de Fante, as infrações precisam de sanções e essas

sanções, que devem ser previstas em estatutos feitos com a participação de

todos os alunos, precisam ter um acentuado caráter pacificador, para que o

aluno que desobedeça as regras tenha a possibilidade de aprender atitudes

positivas e melhorar seu comportamento com o auxílio de seus companheiros

(FANTE, 2005. p 118).

Portanto, o bullying enquanto violência velada origina-se na recusa a

uma diferença e do desrespeito ao outro e as escolas devem criar

procedimentos preventivos e formas de reação ágeis, visando evitar a

ocorrência dessas e quaisquer outras manifestações de violência entre

estudantes.

3. Considerações Finais

O presente artigo teve por objetivo oferecer algumas reflexões sobre o

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fenômeno da violência, destacando-a em sua multiplicidade e implicações no

ambiente escolar. É preciso lembrar que a violência é um fenômeno histórico, e

sua compreensão acompanha, dentre outros, as mudanças dos tempos e

lugares, expressando-se em múltiplas formas e revelando diferentes

consequências. No que diz respeito ao contexto educacional, tarefa urgente

consiste em desnaturalizá-la, ou seja, é preciso refletir sobre a prática da

violência entre os pares, em meio a inúmeras complexidades que interagem no

ambiente escolar. Nesse sentido, a questão do bullying, se expressa como uma

dessas múltiplas formas de violência, cujas decorrências se pretendem discutir

nesta pesquisa, compreendendo a violência como processo social que

compromete o desenvolvimento do trabalho pedagógico e a prática docente e

discente.

Fazendo parte do projeto de pesquisa que está sendo executado e

resultando em Material Didático, o texto será utilizado como forma de

aprofundamento teórico para a equipe docente da instituição estudada. A

pesquisa em andamento caracteriza-se por uma abordagem qualitativa

realizada através de estudo de caso, visando detectar o modo como são

construídas as explicações acerca do fenômeno do bullying na instituição

escolar. Para tal finalidade utilizou-se como instrumento para coleta de dados

o questionário, aplicado com professores/as, alunos/as e funcionários/as. O

resultado das análises fará parte do artigo final do estudo.

4. Referências

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de Jul. de 2011.

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