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A Literatura da imigração alemã e a imagem do Brasil Prof. Dra Valburga Huber – F. Letras/UFRJ Para melhor se entender a literatura teuto-brasileira, temos que colocá-la no contexto histórico da imigração e colonização alemã no Brasil. Seguindo estudos de Giralda Seyferth 1 , vemos que os alemães participam do processo de colonização desde a fundação da primeira colônia na Bahia, em 1818, e o fluxo imigratório estende-se de 1824 à década de 1930. Apesar de sua presença significativa em cidades como São Paulo, Porto Alegre e Curitiba, a maioria encontra-se engajada em projetos baseados na pequena propriedade familiar, nas zonas rurais. A vinda da corte portuguesa para o Brasil em 1808, abre espaço para a atuação de estrangeiros no mercado brasileiro e, assim, os primeiros alemães que podem ser classificados como imigrantes, se estabelecem no Rio de Janeiro já a partir desta época. Estes imigrantes, de inserção urbana, fundam, em 1821, a ''Gesellschaft Germania'' – a mais antiga associação cultural e recreativa de caráter étnico surgida no país, sendo mencionada por Oberacker Jr. (1968) 2 e Fouquet (1974) 3 . A partir de 1824, grupos de imigrantes de língua alemã chegam ao sul do país, época da fundação da colônia agrícola de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, marco inicial do processo de colonização alemã. Os alemães passam a entrar sistematicamente no Brasil na segunda metade do século XIX. Willems 4 , por exemplo, leva em conta a etnia definida lingüisticamente para chegar ao número máximo de 280 mil imigrantes de língua alemã para o período de 1880 a 1940. Esse número inclui também imigrantes da Áustria, Rússia, Polônia, Tcheco-eslováquia e Suíça. O critério lingüístico de Willems leva a pensar em uma homogeneidade étnica, obscurecendo a diversidade representada pelas identidades regionais e procedências nacionais, em parte mantidas no Brasil, como o caso dos pomeranos no Espírito Santo, dos hunsrücker no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, dos badenses em Santa Catarina, dos teuto-boêmios no Rio Grande do Sul, além dos grupos teutos do Leste europeu fixados no Paraná. A diversidade regional reduz-se, porém, através da participação conjunta no processo de colonização e de constituição de uma nova

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A Literatura da imigração alemã e a imagem do Brasil

Prof. Dra Valburga Huber – F. Letras/UFRJ

Para melhor se entender a literatura teuto-brasileira, temos que colocá-la no contexto

histórico da imigração e colonização alemã no Brasil. Seguindo estudos de Giralda

Seyferth1, vemos que os alemães participam do processo de colonização desde a

fundação da primeira colônia na Bahia, em 1818, e o fluxo imigratório estende-se de

1824 à década de 1930. Apesar de sua presença significativa em cidades como São

Paulo, Porto Alegre e Curitiba, a maioria encontra-se engajada em projetos baseados

na pequena propriedade familiar, nas zonas rurais.

A vinda da corte portuguesa para o Brasil em 1808, abre espaço para a atuação de

estrangeiros no mercado brasileiro e, assim, os primeiros alemães que podem ser

classificados como imigrantes, se estabelecem no Rio de Janeiro já a partir desta

época. Estes imigrantes, de inserção urbana, fundam, em 1821, a ''Gesellschaft

Germania'' – a mais antiga associação cultural e recreativa de caráter étnico surgida

no país, sendo mencionada por Oberacker Jr. (1968)2 e Fouquet (1974)3.

A partir de 1824, grupos de imigrantes de língua alemã chegam ao sul do país, época

da fundação da colônia agrícola de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, marco inicial

do processo de colonização alemã. Os alemães passam a entrar sistematicamente no

Brasil na segunda metade do século XIX. Willems4, por exemplo, leva em conta a etnia

definida lingüisticamente para chegar ao número máximo de 280 mil imigrantes de

língua alemã para o período de 1880 a 1940. Esse número inclui também imigrantes

da Áustria, Rússia, Polônia, Tcheco-eslováquia e Suíça.

O critério lingüístico de Willems leva a pensar em uma homogeneidade étnica,

obscurecendo a diversidade representada pelas identidades regionais e procedências

nacionais, em parte mantidas no Brasil, como o caso dos pomeranos no Espírito

Santo, dos hunsrücker no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, dos badenses em

Santa Catarina, dos teuto-boêmios no Rio Grande do Sul, além dos grupos teutos do

Leste europeu fixados no Paraná. A diversidade regional reduz-se, porém, através da

participação conjunta no processo de colonização e de constituição de uma nova

etnicidade no Brasil.

A relevância desta imigração nada tem a ver com o número de imigrantes, que é muito

menor do que o dos grupos vindos de países latinos como a Itália, Espanha e

Portugal. Sua importância no contexto imigratório brasileiro, contudo, tem a ver com a

forma de participação no povoamento dos três estados do sul do país, que ocorre em

zonas pioneiras, e com a formação cultural de comunidades com traços específicos.

Esta especificidade étnica, visível também na organização comunitária dos imigrantes

que se dirigem para centros urbanos, chama a atenção dos nacionalistas brasileiros e

cria situações de conflito que perduram até a década de 1940, tendo os pontos altos

mais críticos sido alcançados, naturalmente, na época das duas Guerras Mundiais.

Na primeira fase da colonização, os primeiros imigrantes alemães destinados a

projetos agrícolas, que chegam em 1818 para fundar a colônia Leopoldina na Bahia,

fracassam. Outra tentativa de colonização anterior à Independência, ocorre na região

serrana do Rio de Janeiro, com a fundação de Nova Friburgo, em 1819, por imigrantes

suíços. Em meio a grandes dificuldades, a maioria destes se retira para outros lugares

e, em 1824, a colônia recebe cerca de 350 imigrantes alemães. É, contudo, no ano de

1824 que acontece o ''fato inaugural'' da colonização alemã no Brasil – com a

fundação da colônia de São Leopoldo no Rio Grande do Sul, por ser considerada o

primeiro empreendimento bem sucedido desta natureza. Mais tarde, em 1829, a

fundação das colônias de São Pedro de Alcântara e Mafra (Santa Catarina) e Rio

Negro (Paraná) encerra a primeira fase da imigração alemã. A guerra civil no sul –

Revolução Farroupilha – interrompe o fluxo imigratório apenas iniciado, que só é

retomado na década de 1840.

Em 1845 reiniciam-se os assentamentos com a fundação de Petrópolis, no Rio de

Janeiro e, no sul isto ocorre em solo gaúcho na Região de São Leopoldo e também

em Santa Catarina, onde se povoam algumas das principais bacias hidrográficas, os

conhecidos ''vales'' de imigrantes alemães, como o Vale do Itajaí, Vale do Cachoeira e

outros.

A predominância de alemães nos projetos mais consistentes de colonização pode ser

explicada pela presença influente de indivíduos de origem germânica junto ao governo

imperial brasileiro e por seu papel na orientação da política imigratória nos seus

primórdios. Os nomes das colônias (Leopoldina, São Leopoldo, São Pedro de

Alcântara) remetem à Imperatriz Leopoldina e seu filho D. Pedro.

A localização das colônias alemãs revela os interesses mais diretos da política de

colonização com imigrantes, que era povoar terras devolutas, consideradas mais

apropriadas à instalação de colonos estrangeiros livres e europeus, ou seja, brancos,

num processo controlado pelo Estado. Nestas terras os imigrantes ficam isolados em

zonas pioneiras não ocupadas pela grande propriedade.

Após 1850, o Governo imperial passa a responsabilidade da colonização às províncias

e entram em cena as companhias particulares de colonização. Schaeffer, por exemplo,

um dos iniciadores das tentativas de colonização na Bahia, médico naturalista e,

depois, major do exército imperial, além de principal recrutador de soldados alemães

para formar os batalhões estrangeiros para as lutas de independência, é também

encarregado dos negócios do governo brasileiro junto às cidades hanseáticas, onde

agencia imigrantes para São Leopoldo e as demais colônias do sul. A referência a

Schaeffer é importante, pois aponta para o procedimento usado para trazer imigrantes,

ou seja, para os agenciadores, que freqüentemente oferecem falsas vantagens aos

que querem emigrar para o Brasil. Os lotes coloniais diminuem e a partir de 1854 uma

lei determina que o imigrante só pode ter acesso à terra por compra a prazo, e o título

definitivo de propriedade só pode ser requerido após a quitação da dívida, terminando

assim a concessão gratuita vigente na primeira fase de imigração. A promulgação

dessa Lei coincide com a abolição do tráfico de africanos, passando a imigração

européia a ser visualizada como solução não só para o problema do povoamento, mas

também para o da mão-de-obra.

Contudo, as denúncias sobre o sistema de parceria vigente em São Paulo desde 1847

(a revolta de Ibiacaba denunciada em livro pelo suíço Thomas Davatz em 1858, já

mencionado neste trabalho) e a promulgação do Decreto de Heydt, pela Prússia, em

1859, passam a ser obstáculos. Mas como a lei é revogada (mais cedo para o Rio

Grande do Sul e Santa Catarina) a imigração é retomada e a concentração de

imigrantes alemães nestes estados passa a ser maior.

Novos assentamentos surgem no vale do Rio dos Sinos e são fundadas as colônias de

Santa Cruz, Santo Ângelo, Nova Petrópolis e Monte Alverne administradas

oficialmente pelo governo provincial e deixadas nas mãos de empresas particulares.

A continuidade da ação dos agenciadores durante o Império e a propaganda oficial

das empresas particulares de colonização, atraem principalmente camponeses, mas

também trabalhadores urbanos e artífices, em busca de melhores condições de vida

(ser ''proprietário''). Vêm também professores, artesãos, operários, refugiados políticos

e até indivíduos com recursos financeiros para dedicar-se a atividades comerciais e

industriais.

A colonização oficial no planalto gaúcho (Ijuí), intensifica-se no início da República,

seguida pela colonização do alto Uruguai (são fundadas 142 colônias alemãs no Rio

Grande do Sul até 1920, com grande mobilidade entre si). Em Santa Catarina as

principais colônias surgem da iniciativa particular: Hermann Blumenau funda a colônia

Blumenau, em 1850, e a Sociedade Hamburguesa de Colonização, a colônia D.

Francisca (Joinville) em 1851. Estabelecem-se também outros núcleos como a colônia

Itajaí, Ibirama, Jaraguá do Sul, todas ligadas por ferrovias.

No Paraná, estabelecem-se imigrantes alemães em Curitiba (colônia urbana) e

também no interior (Lapa e Ponta Grossa). Após a 2ª Guerra Mundial, em 1951,

suábios do Danúbio – uma minoria germânica expulsa da Iugoslávia – estabelecem

núcleos no município de Guarapuava. Vindos de diferentes lugares do sul do Brasil e

do Paraguai, os menonitas – grupo de minoria religiosa – juntam-se e formam a

colônia de Witmarsum.

Fora da região sul, imigrantes de Pomerânia fundam várias colônias no Espírito Santo

e em Minas Gerais, destacam-se as colônias de Teófilo Otoni e de Juiz de Fora.

O desenvolvimento urbano e a industrialização iniciada no Brasil nas duas últimas

décadas do século XIX, acelerados a partir da década de 1920, faz nascer uma classe

operária relativamente numerosa, trazendo também migrantes brasileiros para as

áreas de colonização alemã. A denominação ''colônia alemã'' passa, portanto, a não

indicar mais homogeneidade étnica, assim como algumas regiões definidas como

''alemãs'', (vale do Itajaí em Santa Catarina e Ijuí no Rio Grande do Sul) passam a ter

colonização mista, pois recebem também imigrantes europeus de outras

nacionalidades.

O termo ''colônia alemã'' remete, então, à organização comunitária de imigrantes da

mesma etnia na zona rural, mas há também as ''colônias urbanas'' formadas,

sobretudo por gente vinda das colônias alemãs do interior. Depois da 1ª Guerra

Mundial, há igualmente alemães que procuram diretamente os centros urbanos.

Contudo, o isolamento nos dois tipos de colônia é uma de suas principais

características.

Como as colônias têm planejamento cuidadoso, mas na maioria delas não há

demarcação prévia de linhas e lotes, este trabalho é realizado com a própria

mão-de-obra dos imigrantes-colonos e consiste na abertura de picadas ou linhas, na

construção de pontes e pontilhões, estradas, colocação de marcos divisórios,

edificação de alojamentos públicos e outras obras (o que auxilia o imigrante a pagar

sua dívida). Nos relatos e histórias de vida dos imigrantes, na documentação oficial e

também nas narrativas da literatura teuto-brasileira, ao longo do processo de

colonização, são descriitos conflitos de terra, o cansaço para derrubar a mata e

cultivar os lotes sem usar os métodos tradicionais europeus, problemas o povoamento

disperso, a precariedade das estradas e o transporte, das doenças e enchentes, o

endividamento e a dependência em relação aos comerciantes estabelecidos, entre

outros.

As dificuldades enfrentadas, ao longo do período de ocupação territorial ajudam a

elaborar a figura do ''pioneiro'' – como desbravador da floresta e o fundador das

colônias alemãs – que aparece freqüentemente como tema da literatura

teuto-brasileira.

Superada a fase pioneira, formam-se as colônias baseadas na pequena propriedade

familiar, caracterizada pela policultura, pela criação de animais e produção artesanal.

Aos poucos, toma forma uma classe média rural de pequenos produtores, surge a

pequena indústria familiar, artesanal, que prolifera até a década de 1940, sendo a

industrialização iniciada em diversos núcleos urbanos em fins do século XIX (indústria

têxtil e mtalúrgica, couro, cerâmica etc).

A concentração em áreas restritas, isoladas da sociedade brasileira, facilita a

manutenção dos costumes e o uso cotidiano da língua alemã. A carência de serviços

públicos leva à formação de uma organização assistencial comunitária e à criação de

uma rede escolar particular a ''escola alemã''. Criada para atender às necessidades de

ensino elementar da população estrangeira, mas aos poucos ela vai tomando feições

étnicas, enquanto instrumento da germanidade e da perpetuação da língua e da

cultura alemãs, o que também está na base das associações culturais, recreativas,

esportivas e mesmo religiosas, que representam o que se conhece por ''Deutschtum''.

Estas feições contribuem para que, durante as duas guerras mundiais se fale, em

relação às colônias, no ''perigo alemão''.No “Deutschtum”(patrimônio cultural alemão)

está em primeiro lugar a língua, traço fundamental da identidade alemã, a raça, o

sangue ou origem étnica. Todo esse conjunto deve ser preservado ao lado dos

deveres para com a nova terra dentro da cidadania brasileira.

A imprensa em língua alemã, constituída à época por jornais e por anuários

(Kalender), veicula um patrimônio cultural misto chamado ''Brasilianisches

Deutschtum'' ou ''Deutschbrasilianertum'' (Patrimônio cultural teuto-brasileiro). Nele

coexistem o amor à “Urheimat” (pátria de origem), a Alemanha e também ao Brasil, já

que o critérios de nacionalidade alemã vê isto como normal, o que, porém, traz

conflitos em épocas de confronto bélico, como ocorreu nas duas Guerras Mundiais.são

diversos.

Os jornais mais antigos surgem na década de 1850 e têm duração efêmera (como o

''Der Kolonist'' em Porto Alegre e o ''Der Einwanderer'' no Rio de Janeiro). O primeiro

jornal importante e de grande prestígio, o jornal ''Kolonie Zeitung'' é fundado em

Joinville, Santa Catarina, por Ottokar Dörffel, um refugiado político que havia

participado, na Alemanha, da Revolução de 18485 e circula de 1861 até 1939. Em

Porto Alegre, o jornal ''Deutsche Zeitung'' começa a circular em 1861 e, em 1864,

passa a ser dirigido pelo mais influente político teuto-brasileiro do Império, Karl von

Koseritz, um ''Brummer'' 6 , que, em 1882, cria outro jornal de grande prestígio, o

''Koseritz Deutsche Zeitung'' que também circula até a época da nacionalização.

Muitos outros jornais passam a circular pelo sul do Brasil como, por exemplo,

''Deutsches Volksblatt'' (Diário popular alemão), Porto Alegre; o ''Blumenauer Zeitung e

o ''Urwaldsbote'' (Jornal de Blumenau e Mensageiro da Selva), Blumenau-SC; o

''Serra-Post'', Ijuí-RS, para citar apenas alguns. Revistas também vêm a lume e entre

elas destacam-se as religiosas como a ''SKT Paulusblatt'' (Folheto de S. Paulo) e a

''Sonntagsblatt für die evangelischen Gemeinden in Brasilien'' (Folha dominical para as

comunidades evangélicas no Brasil).

Os primeiros almanaques ou anuários datam da década de 1870 e são os veículos de

comunicação mais populares e abordam assuntos diversos, inclusive traduções para o

alemão de textos de autores brasileiros, principalmente poesias, divulgação de contos

e romances de autores alemães e teuto-brasileiros, além de muitas informações

práticas destinadas aos colonos.

De fato, estes ''Volkskalender'' tornam-se muito populares e chegam a atingir quase

toda a população teuto-brasileira (com volumes com mais de 200 páginas e tiragens

que ultrapassam os doze mil exemplares como em 1931, por exemplo). Destacam-se

o ''Koseritz Deutscher Volkskalender für Brasilien'' (a partir de 1874 em Porto Alegre)

fundado por Karl von Koseritz e o ''Kalender für die Deutschen in Brasilien'' (publicado

desde 1881 pela editora Rotermund de São Leopoldo) que é o mais conhecido em

todo o sul do Brasil. Estes anuários são seguidos por muitos outros como o ''Der

Familienfreund'' (O amigo da família), o ''Serra-Post Kalender'', (Anuário do Correio

Serrano), Ijuí-RS; o ''Kalender für die evangelischen Gemeinden'' (Anuário para as

comunidades evangélicas), S.Leopoldo e o ''Luther-Kalender für Südamerika'' (Anuário

Luterano para a América do Sul), P. Alegre. Na década de trinta surgem, ainda, em

São Paulo, publicações vinculadas ao Partido Nazista, como é o caso do almanaque

''Volk und Heimat'', editado de 1935 a 1938. A atividade de todos foi encerrada quando

a campanha de nacionalização do Estado Novo proíbe o uso do idioma alemão no

Brasil.

São os almanaques ou anuários (e menos intensamente, publicações literárias em

forma de brochuras e os jornais), os principais divulgadores da literatura

teuto-brasileira, sobretudo no sul, cuja temática mais constante é a imigração, a vida

cotidiana nas colônias, o dualismo, ou seja, o sentimento de divisão entre duas pátrias

mas que, aos poucos, vai acentuando o afeto em relação ao Brasil. Essa literatura,

que expressa o ''Bodenständigkeitsgefühl'', ou sentimento de apego ao solo, nos

termos de Kuder 7 (1936-37), é freqüentemente considerada menor em termos

estéticos, inclusive por utilizar uma linguagem teuto-brasileira com importações

lingüísticas do português, o que ocorre mais na prosa do que na poesia. Seu valor

reside em parte considerável no seu aspecto histórico e sociológico, mas são

estudiosos como Erich Fausel, Werner Aulich e Marion Fleischer que chamam a

atenção para as qualidades estéticas desta literatura, como um fenômeno sui generis,

o que também buscamos evidenciar neste trabalho.

Werner Aulich fundamenta sua argumentação em defesa do valor estético da literatura

teuto-brasileira, no que ele denomina pathos dos imigrantes. Segundo ele, qualquer

emigração encerra uma realidade objetiva, única e concreta, que é um marco na vida

de cada emigrante. Há uma cesura, um corte em todas as esferas da vida da pessoa,

a começar pela genealógica. Este corte é muito profundo e as reações a ele são as

mais diversas, mas ele sempre deixa marcas indeléveis na personalidade, nas

reações, nas características, bem como nas transformações pessoais que constituem

os aspectos mais importantes da espiritualidade teuto-brasileira. Esta espiritualidade

está no cerne da literatura dos imigrantes, que só pode ser entendida a partir dela. O

que caracteriza os escritores desta literatura é a força da face subjetiva da imigração.

As experiências pessoais, ou de pessoas próximas, são importante material narrativo.

A imigração, portanto, como fato objetivo e subjetivo é a principal temática e também a

força plasmadora das formas de expressão da literatura teuto-brasileira. Nas palavras

de Werner Aulich, entendemos o significado desse pathos:

No espaço vital de uma comunidade teuto-brasileira, existe entre o poeta e o público, uma característica comum – a saber, justamente decisiva para um julgamento da poesia – que queremos designar.... de pathos dos emigrantes. A palavra pathos, criada pela antiguidade grega significa – traduzida literalmente – ''encontro traumático'' e ''padecimento'', caracterizando o estado de uma pessoa, à qual algo adverso acontece..... Sob pathos dos emigrantes entendemos aqui, em primeiro lugar, uma atitude passiva, formada tanto pelo ato, quanto pela aventura da emigração. Essa atitude pessoal inclui ainda uma susceptilidade de formação particular em relação a determinadas sensações E, por fim, externa-se aquela atitude moldada pelo phatos dos emigrantes, numa particular capacidade de expressão. Esse phatos é o estado da personalidade teuto-brasileira e se manifesta, com particular nitidez, no sistema do relacionamento entre poeta e público. A este estado podem ser reduzidos, de certo modo, todos os problemas de uma particularidade teuto-brasileira.... Se na

Europa, tão pequena é a compreensão encontrada pela literatura teuto-brasileira, isto deve ser atribuído, em primeiro lugar, àquela particularidade poética determinada pela predominância do phatos dos emigrantes.8

No seu estudo, Werner Aulich mostra que os escritores teuto-brasileiros estão sujeitos

a este phatos em alto grau, pois é através dele que se tornam escritores e têm suas

características europeias buriladas e transformadas. Entre o escritor e o leitor, o

phatos da emigração funciona como um elo, pois ambos passaram pela experiência

da emigração, o que não é facilmente compreendido pelos que não tiveram a mesma

vivência.

Vários escritores da literatura teuto-brasileira são participantes da fracassada

Revolução de 1848 na Alemanha e por isso chamados de ''Achtundvierziger'', e

chegam ao Brasil, portanto, ainda no tempo do Império. Estes trazem maior bagagem

política e intelectual e Karl von Koseritz, principal liderança política de origem alemã no

Rio Grande do Sul (é eleito deputado provincial em 1884), também faz parte deste

grupo. A posição de Koseritz contribui para uma síntese do pensamento étnico

teuto-brasileiro que propõe a integração política, a luta pelo reconhecimento dos

direitos de cidadania, a fidelidade à nova pátria, contribuição do ''trabalho alemão''

para o desenvolvimento brasileiro, e, ao mesmo tempo, defende o direito das minorias

à peculiaridade étnica. O ''Deutschbrasilianertum'' comporta dois significados: o Brasil

como nova pátria (''Heimat'' ou ''Vaterland'') pelo jus solis, e a Alemanha como pátria

ancestral (''Urheimat'') pelo jus sanguinis. Esse dualismo tem intensa expressão na

literatura teuto-brasileira e, subjacente ao ''Deutschbrasiliarertum'' há, freqüentemente,

um ideal de superioridade germânica.

Todavia, Roche (1969:720) assinala que a resistência aos avanços do nazismo parte,

também, dos meios teuto-brasileiros e, não obstante a extensão e a importância de

seus esforços, os propagandistas do nazismo não fazem vibrar a população das

colônias como a das cidades grande. Contudo, é inegável que esta propaganda tenha

causado efervescência étnica e até mesmo entusiasmo pela sua vinculação ao

desenvolvimento da Alemanha após sua grande crise econômica. Com a proibição do

uso do idioma alemão em qualquer atividade cultural ou social 9 , bem como o

fechamento de todas as escolas alemãs em 1939, esse patrimônio cultural misto é

desmantelado, depois de quase um século de florescimento.

Após o movimento da Nacionalização, portanto, há uma lacuna cultural e só

lentamente, volta-se a escrever novamente em alemão, mas são poucos os veículos

de divulgação que sobrevivem à 2ª Guerra Mundial e esta literatura reaparece, bem

mais frágil, geralmente nas cidades maiores. Jornais, anuários e brochuras isoladas

continuam, porém, sendo seus veículos de expressão, como mostra Marion Fleischer

nos seus dois livros sobre o assunto: A Poesia alemã no Brasil – Tendências e

situação atual (1967) e Elos e Anelos – Da Poesia em Língua Alemã no Brasil ((1981),

que também abriram esta vasta seara para muitos outros estudos seguindo seu

trilhar.

Primeira geração de escritores: Paraíso natural e paraíso

construído

Os grupos étnicos que imigraram no Brasil, os imigrantes alemães formam um grupo

étnico, com características bem definidas, têm sua própria literatura, expressão de um

patrimônio cultural misto.

A literatura teuto-brasileira tem, entre seus temas basilares, a imigração e a vida nas

colônias alemãs. Nos primeiros imigrantes a natureza brasileira, principalmente a

floresta, também desperta um fascínio único, tal como nos descobridores e viajantes.

Bachelard, no seu livro A poética do espaço, diz que essa ''imensidão da floresta'' está

no ser humano, que toma consciência da sua fragilidade ante o conceito de infinito:

Não há necessidade de permanecer nos bosques para conhecer a impressão sempre um pouco ansiosa de que nos ''aprofundamos'' num mundo sem limite... A floresta, sobretudo, com o mistério do seu espaço indefinidamente prolongado além da cortina dos seus troncos e de suas folhas, espaço encoberto para os olhos, mas transparente para a ação, é um verdadeiro transcendente psicológico. .... A imensidão é uma categoria filosófica do devaneio.... E a contemplação da grandeza determina uma atitude tão especial, um estado de alma tão particular, que o devaneio põe o sonhador fora do mundo mais próximo, diante de um mundo que traz a marca do infinito..... A imensidão está em nós.10

Na atitude do imigrante, porém, a natureza não é apreendida só no nível da emoção e

da contemplação. O imigrante conjuga contemplação e ação, emoção à razão, pois ele

tem que dominar a natureza, enfrentanado também o seu lado selvagem.

Esta natureza, paraíso natural, tem que ser dominada. A mata virgem tem que ser

penetrada para chegar-se ao solo fértil. Aqui tem lugar de destaque o “Urwald”

(selva),e nela nossa fauna e flora exuberantes. Portanto, vales e clareiras podem ser

paradisíacos e também podem ser transformados em lugares habitáveis e aprazíveis

para viver. Surge, assim, dentro do paraíso natural, o paraíso construído, a colônia

alemã, fruto do trabalho do imigrante, seu novo lar e, aos poucos, sua nova pátria. A

imagem edênica do Brasil dos primeiros imigrantes tem, pois, dupla face: a natural e a

construída.Aqui surgem conceitos conhecidos e populares nesta produção literária

como “Tatkraft”( capacidade de ação, trabalho),”Fleiss” ( dedicação ao trabalho),

“Streben” ( aspiração,ambição), “Held”( herói), “Pionier” (pioneiro) entre outros.

Os autores da primeira geração, todos nascidos na Alemanha, compõem um grupo

heterogêneo e constituem o auge desta literatura na virada do século XIX para o

século XX. Deste grupo fazem parte, entre outros, Wilhelm Ahrons, Theodor Amstad,

Rudolf Damm, Franz Donat, Mathias Ganzweidt, Karl Kleine, Georg Knoll e Ida Knoll,

Otto Meyer, Karl Friedrich Niederhut, Arno Philipp, Emil Schlabitz, Mathias Schmitz,

Ambros Schupp, Wilhelm Süffert, Alfred Wiedemann, Wilhelm Wustrow, Viktor Schleiff,

Clara Sauer, Helmut Cullmann e Wolfgang Ammon. Como editores e mentores da vida

cultural, bem como escritores, destacam-se Karl von Koseritz e Wilhelm Rotermund.

Dentre os autores acima, analisamos criações de Georg Knoll, Viktor Schleiff, Clara

Maria Sauer, Helmut Culmann, Rudolf Damm, Karl von Koseritz e Wilhelm Rotermund,

por oferecerem poemas e textos, a nosso ver, representativos do encantamento do

imigrante alemão ante a paisagem brasileira e que também expressam o outro lado do

paraíso, o construído.

Nossas ilustraçôes começam com poemas de Georg Knoll, a saber “Im Hochland”

(No planalto)

Escutas o farfalhar da copa das palmeiras Hörst du der Palmen Wipfel Rauschen Quando uma brisa a atravessa, Wenn durch sie eine Briese zieht, Vieste escutar alguma vez o sabiá, Kamst du einmal der Amsel lauschen, Quando feliz entoava a sua canção de amor? Als froh sie sang ihr Liebenslied? Docemente corre o rio pelas verdes Sanft fliesst der Bach durch grüne Campinas Fluren E em toda a parte os rastros da primavera Und überall des Frühlings Spuren Um ressuscitar no campo e no mato. Eine Aufersteh'n in Feld und Hain. O ar é puro, o céu azuleja, Die Luft ist rein, der Himmel blauet, Em minha volta um mar de flores, Um mich herum ein Blütenmeer, Os olhos miram extasiados Das Auge wonnetrunken schauet À rica beleza ao redor. Die reiche Schönheit ringsumher11

No poema acima, o arquitexto edênico transparece nas verdes palmeiras, no rio, no ar

puro, nas campinas, na primavera, nas flores, nos pássaros, na beleza reinante. São

traços típicos do ''locus amoenus'' , o paraíso natural, que extasiam o poeta.

Em ''Felicidade'' (Das Glück), G. Knoll celebra e engrandece a vida no campo, como

um lugar especial, cercado de paz e tranqüilidade:

A casinha na campina Das kleine Haus dort in der Weide Pintada de branco e verde Gestrichen ist es weiss und grün Ladeada por um galpão, Ein Schuppen steht an seiner Seite, No jardim florescem rosas. Im Vordergärtchen Rosen blüh'n ....... ....... Uma paz sobre montanhas e planícies Ein Friede über Berg und Heide É solene paz domingueira! Und feierliche Sonntagsruh! Tu procuras a felicidade nesta terra, Du suchst das Glück auf dieser Erde, Aceitas muitas decepções. Nimmst viel Enttäuschung in den Kauf, Para que então todos estes sofrimentos Wozu denn alle die Beschwerde Aqui está. Abre os olhos! Hier ist es. Mach die Augen auf!.12

Outro poeta da primeira geração, Viktor Schleiff, igualmente exalta a natureza

brasileira, contrapondo-a a pátria de origem,fazendo também apologia do trabalho

alemão. Em ''Alte und neue Heimat'' (Velha e nova pátria) lemos:

Uma terra rica para ser nossa Ein reiches Land, das uns zu eigen! Prodigamente a natureza engendra Verschwenderisch schafft die Natur, Para mostrar sua enorme pujança Um ihre höchste Kraft zu zeigen Aqui, em solo brasileiro, milagres Hier Wunder auf Brasiliens Flur. Aqui amadurece o milho, a banana Hier reift der Mais, hier die Banane, A seiva da cana de açúcar ferve nos caules Im Rohre kocht des Zuckers Saft, As lianas florescem Und über blühender Liane Enquanto a palmeira balança sua copa. Wiegt sich de Palme schlanker Schaft. A velha pátria deu à nova Die alte Heimat gab der neuen O que torna um país grande e forte Das was ein Land macht groβ und stark Deu-lhe do seu sangue, da sua força Gab ihr von ihrem Blut dem treuen Nós transformamos aqui, com mãos calejadas Wirschufen hier mit schwiel'gen Händen A selva em paraíso Die Wildnis um zum Paradies, E em toda parte e todos os cantos Und überall an allen Enden Sorri o trabalho e a dedicação alemãs Grüβt deutsche Arbeit, deutscher Fleiss13

A poetisa Clara Maria Sauer, descreve a paisagem brasileira com admiração pelas

folhas sempre verdes e brilhantes da palmeira em todas as épocas do ano e a sua

emoção ao contemplá-las como o símbolo da constância e da fidelidade em terras

brasileiras. A palmeira é uma espécie de divindade dos trópicos, eterna no seu verde,

o que nos leva a associa-la às árvores do Éden. Subjacente está o contraste com a

Alemanha onde as árvores, em sua maioria, perdem as folhas no outono e no inverno

ficam como mortas entristecendo a paisagem, enquanto nos trópicos há eterna

primavera. É o que vemos em''Entre palmeiras''(Unter Palmen)

Sempre verdes são estes ramos Stets grün sind diese Wedel Em cada época e tempo, Zu jeder Zeit und Frist, A ponto de eles serem Dass sie der rechten Treue O retrato da verdadeira fidelidade. Ein wahres Abbild ist. E onde não se deseja ficar Und wo man nicht will bleiben Na sua terra e chão Auf seinem Land und Grund,

Ali não crescem palmeiras Da wachsen keine Palmen Diz o ditado popular So sagt der Leute Mund.14

Helmut Culmann, descreve numa atmosfera de sonho a colônia alemã como um Éden

no poema . ''Colônia Alemã'' (Deutsche Siedlung):

Atrás das palmeiras brilham brancas cumeeiras Hinter Palmen schmimmern weisse, Giebelwände

No jardim floresce a rosa e a murta Im Garten bluht die Rose und die Myrte E o dourado peso das laranjas Und der Lanranjen goldgeschwellte Bürde Inclina sua roupagem para a terra brilhante Neigt ihre Tracht ins leuchtende Gelände ........ ......... Suave cai a noite em sua plumagem de sonho Leis sinkt die Nacht herab auf raumbefieder, E no quintal ecoam canções da terra natal Und aus den Lauben schalle Heimatlieder: Pulsa o A lua resplandece na celeste melodia, Der Mond erglänzt, dês Himmels Melodie, coração da colônia alemã. Es schägt das Herz der deutschen Kolonie!15 Chama a atenção o ''dourado peso das laranjas que, para os alemães, sempre foram frutos do sul, de regiões quentes, pelas quais anseiam. Tal referência intertextualiza o poema de Goethe denominado ''Mignon''16 – que, por exemplo, ouvíamos nossos pais e avós, imigrantes alemães, declamarem:

Kennst du das Land, wo die Zitronen blühn Im dunkeln Laub die Goldorangen glühn, Ein sanfter Wind vom blauen Himmel weht, Die Myrte still und hoch der Lorbeer steht – Kennst du es wohl?

Dahin! Dahin! Möcht ích mit dir, o mein Geliebter, ziehn! Tu conheces a terra onde florescem os limoeiros? Laranjas de ouro pendem incandescentes no verde escuro da folhagem Um vento suave sopra do céu azul, Tu a conheces talvez? Onde estão a silenciosa murta e no alto as folhas de louro –

Para lá! Para lá! Eu quero contigo, meu amor, ir!

Na prosa destacam-se Karl von Koseritz e Wilhelm Rotermund que são, sobretudo,

grandes mentores espirituais das colônias alemãs e editores, mas também escrevem

narrativas, das quais extraímos trechos ilustrativos.

Dos escritos de Karl von Koseritz, selecionamos trechos da narrativa publicada no seu

''Koseritz' Deutscher Vokskalender für die Provinz Rio Grande do Sul'' ''Reise nach

Brasilien'' (Viagem ao Brasil) e do seu livro Retratos do Brasil (Bilder aus Brasilien)

onde encontramos várias descrições da paisagem brasileira. Vejamos esta descrição

extraída de ''Reise nach Brasilien'' (Viagem ao Brasil):

Repentinamente descortinou-se diante de nós a grande baía de São Francisco. Tão calma, tão azul, tão festiva, estendia-se ela diante de nós e nos sentimos como se finalmente tivéssemos sido libertados de um longo cativeiro. Uma leve

brisa encrespava a imensa superfície das águas. Ao redor, até onde alcançava a vista, enormes montanhas cobertas de cima a baixo de rica vegetação. Parecia encontrarmo-nos no centro de uma esfera formada pelo céu, a mata e o mar.17

A natureza impressiona o imigrante desde o primeiro instante, por sua extensão,

colorido, luz, ar puro, imponência, acidentes geográficos, viço de sua vegetação, sua

flora e sua fauna totalmente novos e o brilho de suas estrelas

No livro Retratos do Brasil (Bilder aus Brasilien – 1890) – Koseritz descreve uma

viagem ao longo da costa brasileira, feita 32 anos após sua chegada ao Brasil, onde

lemos esta passagem, uma recordação de suas primeiras impressões da terra

brasileira:

É eu? O jovem em flor tornou-se um senhor de meia idade. (......) Ele me fez lembrar dos dias, nos quais a beleza deste lugar paradisíaco, deixou uma impressão indelével em meu espírito jovem. Diante dos meus olhos estava a nossa entrada no porto do Rio de Janeiro, como se fosse agora.... Também o meu coração pulsava fortemente quando, diante de nossos olhos, se descortinava a maravilhosa paisagem com o Corcovado, o Pão de Açúcar, a Floresta da Tijuca.... 18

Além da descrição de várias cidades brasileiras por onde passa, Koseritz

descreve, neste livro, sua visão da colônia alemã, a luta dos imigrantes

alemães, lançados na selva para sobreviver e criar suas prósperas colônias.

No trecho abaixo, ele expressa seu desejo de explicar esse sucesso aos

alemães da cidade (no caso, o Rio de Janeiro), que muito pouco sabem sobre

os imigrantes das colônias:

Se o Sr. Schmid pudesse vir comigo para o Rio Grande, eu o acompanharia numa visita às nossas colônias para lhe dar uma idéia desse maravilhoso pedaço da história da cultura, que nós lá escrevemos. Assim ele logo avaliaria tudo de forma diferente e lhe seriam vivamente lembradas as palavras do melhor mestre Goethe sobre a teoria do Cinzento e ele se lembraria do frescor dos anos verdes. Quem reflete sobre as difíceis condições em que as colônias do Rio Grande do Sul se desenvolveram e hoje vê a que estágio de desenvolvimento elas chegaram – este sentirá respeito por este trabalho cultural. Uma vez, foram jogados na mata virgem alguns milhares de imigrantes alemães que tiveram que batalhar anos e anos contra necessidades e misérias; os frutos da colheita eles tiveram que carregar nas costas para fora das picadas, pois não havia caminhos, tampouco trilhas e diariamente eram ameaçados pelos selvagens e animais ferozes.... Sim, foram duros tempos de lutas aqueles de antigamente, mas nós vencemos e hoje o alemão tem grande importância no Rio Grande do Sul.19

Wilhelm Rotermund,é o fundador da editora Rotermund que edita o ''Kalender

für die Deutschen in Brasilien'' ' que se torna muito popular e tem longa duração

(1881 a 1941) e em 1914, por exemplo, alcança 12.750 exemplares. Neste

anuário encontramos também muitos exemplos do apreço pela nova terra em

forma de narrativas, poesias e memórias..

Na narrativa ''Die beiden Nachbarn'' (Os dois vizinhos)20, W. Rotermund retrata

a paisagem brasileira assim:

A picada Isabelle é uma das mais férteis das colônias alemãs.... junto às encostas da montanha, ricas em matas e vertentes... No alto via-se com admiração e surpresa as abençoadas campinas, emolduradas por escuras montanhas cobertas de matas.... A visão era tão sedutora e extasiante, o coração receptivo sentia-se tão enfeitiçado, que havia o receio de quebrar o encanto alentador. ...... Caminhar assim sobre flores sentindo seu aroma e ver brilhar a multidão de estrelas do céu meridional torna o coração ansioso e cheio de esperança.21

A natureza pujante e majestosa obnubila, encanta, enfeitiça o seu admirador.

Entre o homem e a natureza há uma harmonia mágica, o poeta está em

devaneio. O intertexto edênico reaparece na fertilidade da terra, na

exuberância da mata, na harmonia entre o homem e a natureza.. A picada

Isabelle representa, metonimicamente, a colônia alemã e seu contraponto é a

natureza exuberante, com suas montanhas, campinas, matas e vertentes. O

escritor sente ecapta tudo com admiração: a paisagem, as estrelas, os aromas,

toca a natureza ao caminhar sobre as flores. A natureza entra em seu coração

pelos sentidos, enche-o de emoção e ele sente-se fazer parte integrante dela.

A contemplação das estrelas no céu meridional enche-lhe o coração de

esperança e, assim, ele expressa toda a expectativa de felicidade do imigrante

na nova terra.

No conto ''Ama enquanto puderes!'' (O, lieb so lang du lieben kannst), também

de Rotermund, vemos o mesmo fascínio agora ante uma exuberante plantação,

obra do homem, havendo clara contraposição de paraíso natural e paraíso

construído:

Então a mata abre-se e ante os nossos olhos descortina-se a lavoura dourada, inserida na mata. E que panorama! Não eram centenas mas milhares de pirilampos que pairavam, se entrelaçando por sobre a plantação de milho e mandioca. É um cintilar, um relampejar e um Então faiscar por todo o ambiente sob a meiga luz da lua e junto a escura borda da mata.... Nada perturbava este silêncio festivo, a mata interrompera seu murmúrio misterioso e a lua observava esquecida essa maravilha.... E como tudo cintilava.22

O arquitexto edênico transparece na lavoura que simboliza abundância e

fertilidade, nos animais, na harmonia entre a natureza (mata) e a obra do

homem (a plantação). A forma circular da plantação, inserida na mata, é a

imagem de um microcosmo (construído pelo homem) inserido no macrocosmo,

a natureza

Nos escritores e poetas da primeira geração da literatura teuto-brasileira vemos

que a natureza brasileira, enluarada, iluminada pelo sol tropical ou envolta em

sombras, é constante estímulo para a criação literária. Por um lado, o

encantamento, o fascínio do europeu ante a paisagem brasileira, e por outro, a

necessidade de conquistar a terra, dominá-la para poder construir nela seu

novo lar. O paraíso natural, o Éden terrestre tem sempre o seu contraponto: o

paraíso construído pelo trabalho, a colônia alemã, é o embate entre o natural e

o civilizado. São paraísos ora com facetas de ''locus amoenus'', ora de paraíso

tropical bucólico que se acoplam e amalgamam, pois um se constrói dentro do

outro. Diferente da visão dos viajantes e escritores alemães que, raramente

aqui vivem ou permanecem apenas por períodos curtos, o imigrante vê a

natureza brasileira como um espaço a ser conquistado. Ele tem que penetrá-la,

derrubar a floresta para usufruir do solo fértil que ela oculta. Portanto, o

encantamento ante a paisagem brasileira vem pelos sentidos, pela emoção,

mas enfrentar esta natureza selvagem para dominá-la é um ato da razão.

Assim, a visão edênica européia trazida no imaginário dos imigrantes altera-se,

pois as dádivas da natureza existem, mas têm que ser conquistadas e

transformadas, daí a valorização do trabalho do imigrante pioneiro. No

imigrante, a imagem edênica do Brasil tem, portanto, duas faces: a natural e a

construída.

A edenização da imagem do Brasil na primeira geração vem de duas vertentes.

A imagem européia trazida no imaginário dos imigrantes, aqui sofre

reatualização, sendo que o mito do Éden transparece de formas diversas,

como vimos, que vão do lugar ameno ao bucolismo tropical e há sempre a idéia

do paraíso construído. A outra vertente da edenização é o romantismo

brasileiro, que influencia bastante esses escritores.

O significado profundo e simbólico destes motivos é magistralmente explicados

por Bachelard na obra A poética do espaço 23 São motivos que estão no

imaginário inconsciente coletivo e que são trazidos à tona de forma ora

ingênua, ora singela pelos poetas analisados neste trabalho, que usam a

hipérbole e a antítese como figuras de linguagem mais freqüentes.

Portanto, o paraíso bíblico perdido é novamente acenado à humanidade com a

Terra de Canaã, com um novo céu e uma nova terra. Este paraíso, uma utopia

iluminista, é conquistado através do desenvolvimento da civilização e o

imigrante europeu, ao partir para novas terras, leva consigo esta utopia,

sempre renovada, pois quer construir este paraíso com suas mãos.

Os traços edênicos desta imagem vão persistir na segunda geração de escritores e,

menos intensamente na terceira geração, que já se abre a temas diversos. Persiste,

no entanto, subjacerntemente na obra dos descendentes de imigarntes alemães –

Raul Bopp e Augusto Meyer, como demonstramos em nossa Tese de Doutorado A

ponte edênica da Literatura os imigrantes de lingua alemã a Raul Bopp e Augusto

Meyer

Notas 1 SEYFERTH, Giralda. ''A colonização alemã no Brasil: Etnicidade e conflito''. In: Fazer a América, 1999, p. 273-313 2 OBERACKER JR., C.H. A Contribuição Teuta à Formação da Nação Brasileira. Rio de Janeiro, Presença, 1968. 3 FOUQUET, C. O imigrante alemão e seus descendentes no Brasil, 1808, 1824, 1874. São Paulo, Inst. Hans Staden, São Leopoldo, Federação 25 de julho, 1974. 4 WILLEMS, E. Assimilação e populações marginais no Brasil. São Paulo: Nacional, 1940 e Aculturação dos alemães no Brasil. São Paulo: Nacional, 1946. 5 Esta revolução havia desencadeado grandes esperanças no alvorecer de uma era de mais liberdade e justiça, mas a Assembléia Nacional no parlamento de Frankfurt esgota-se em longas discussões teóricas sobre os direitos humanos e acaba sendo dissolvida pelo poder monárquico. Tanto depois desta revolução como na chamada ''Bismarkzeit'', (a era de Bismark) há fortes fluxos emigratórios (os pontos altos foram entre 1866 e 1870 e 1881 e 1890). Cf. Turk, Eleonor L., ''Os alemães de 1848 no Brasil''. Trad. de Hans H. E.Koch. In: Blumenau em Cadernos, Blumenau. Março-1999, pg.29-39. Neste artigo a autora faz um paralelo do Brasil com outros países que receberam imigração alemã, sobretudo em 1848. Ela estuda três nomes de destaque no sul do Brasil: Karl von Kozeritz, Dr. Hermann Blumenau e o naturalista Fritz Müller. Sobre este último foi, recentemente, escrito por Moacyr Werneck de Castro o livro O sábio e a Floresta, Rio de Janeiro, Ed.Rocco, 1992. 6 O termo ''Brummer'', resmungão, identifica os membros da Legião Alemã – cerca de 50 oficiais e 1.800 soldados recrutados na Alemanha em 1852 para lutar na guerra contra Rosas (Rosas, cujo domínio na Argentina foi tão forte que designa um período da história daquele país, entre 1831 e 1852, denominado rosismo. Latifundiário e ditador argentino de grande atuação nos conflitos bélicos entre o seu país e o Uruguai, cujo porto Montevidéu competia com o de Buenos Aires e onde se alternavam no poder, os ''blancos'' e os ''colorados'', havendo também, interesses franceses e ingleses nesses conflitos. A partir de 1848, o governo imperial

brasileiro engajou-se nas lutas do Prata contra Rosas, em defesa da independência do Uruguai porque isto atendia mais aos interesses brasileiros, sendo Rosas derrotado em 1852). As forças militares brasileiras contaram, portanto, com a participação da Legião Alemã, a qual incorporou também quase mil voluntários das colônias alemãs do Rio Grande do Sul. Após a guerra com a Argentina, alguns ''Brummer'' ficaram no Rio Grande do Sul, atuando no comércio, ensino e jornalismo, como foi o caso de Koseritz. 7 A obra de Kuder Die deutschbrasilianische Literatur und das Bodenständigkeitsgefühl der deutschen Volksgruppe in Brasilien (Berlin/Bonn, Ferdinand Dummlers Verlag, 1937) é o primeiro trabalho importante sobre a literatura brasileira.O autor analisa esta literatura no seu contexto histórico social, seus autores e obras importantes. 8 AULICH, W. ''Von Phatos der Auswanderer''. In: Staden Jahrbuch, São Paulo: Inst. Hans Staden, 1966, p. 211 e 213. 9 Lucio Kreutz, em seu artigo ''A Escola Teuto-Brasileira Católica e a Nacionalização do Ensino'' In: MÜLLER, TL. (org.) Nacionalização e Imigração Alemã, São Leopoldo, Unisinos, 1994, mostra como a rede escolar teuto-brasileira pode ser dimensionada pelo número de escolas existentes do Rio Grande do Sul e Santa Catarina por ocasião da nacionalização do ensino em 1937, quando mais de 1.500 escolas, a maioria mantida por ordens religiosas católicas ou pelas comunidades evangélicas, as escolas comunitárias leigas restritas ao meio rural, foram fechadas. 10 BACHELARD, Gaston. A poética do Espaço. In: Os Pensadores, S. Paulo. Ed. Abril. Vol. 34, p. 475-476. 11. Id. ''Im Hochland''. In: KDB. 1923, p.295. 12 KNOLL, G. ''Das Glück''. In: KDB ,1923, p. 86. 13 Id. ''Am Wasserfall''. In: KDB, 1933, p.43. 14 SAUER, Clara Maria. ''Unter Palmen''. In: Kalender Serra Post, 1924, p.121. 15 CULMANN. H. ''Deutsche Siedlung''. In: KDB, 1936, p.103. 16 Cf. Poema ''Mignon'' de Goethe. In: Goethe – Auswahl in drei Bändern – Gedichte (Weimar, 1781-1784 – 2 Band. Leipzig: Bibliographisches Institut, 1949. 17 KOSERITZ, Karl von. ''Reise nach Brasilien''. In: KDV, 1890, p. 78. "Und auf einmal that sich die grosse Bai von S.Francisco vor uns auf, und es war, als ob wir nach langer Gefangenschaft endlich die Freiheit wiedersahen. So still, so blau, so feierlich lag er vor uns, der Binnensee; ein leiser Windhauch nur kräuselte die gewaltige Wasserfläche. Rings umher, so weit das Auge reichte, mächtige Berge, von oben bis unten mit reicher Vegetation bedekt. Es schien, als lägen wir in einer gewaltigen Kugel, vom Himmel, Wald und Wasser gebildet''. 18 Id. Bilder aus Brasilien. Leipzig und Berlin. 1885, p.18-19. ''....Und ich? Aus dem blühenden Jüngling ist ein alter Mann geworden. Erinnerte er mich doch lebhaft an jene Tage, in denen die Schönheit dieser paradiesischen Gegend einen unauslöschlichen Eindruck auf mein jugendfrisches Gemüth gemacht hatte. Auch unsere damalige Einfahrt in den Hafen von Rio trat mir wieder lebendig vor die Augen.... Auch mir klopfte das Herz nicht wenig, während vom schwankenden Mast herunter mein Blick die herrliche Gegend mit dem Zuckerhut, dem Corcovado, der Tijucca überflog...'' 19 Id.Ib., p. 139-140. ''Könnte ich Herrn SchmId. einmal in Rio Grande haben, ihn auf unsere Colonien begleiten und ihn einen Einblick gewinnen lassen in das herrliche Stück Culturgeschiechte, welches wir dort machen, – so möchte er bald anders urtheilen und lebhaft na Altmeister Goethe's Wort von der grauen Theorie und dem frischen Grün des Lebens erinnert werden. Wer zurückdenkt, unter welchen schwierigen Verhältnissen sich die deutschen Colonien in Rio Grande entwickelten, und sieht, auf welchen Punkt sie heute stehen, – der muss Respekt vor dieser Culturarbeit bekommen. Einstens wurden dort ein paar Tausend deutsche Einwanderer in den Urwald gesteckt und mussten jahreland gegen Noth und Elend kämpfen; ihren Erntesegen mussten sie auf dem Rücken aus den Picaden tragen; es gab weder Weg noch Steg, und wilde Menschen und reissende Thiere bedrohten sie täglich..... Já, es waren damals harte Tage des Kampfes, aber wir siegten, und heute ist das deutsche Element ein gewichtiger Faktor in Rio Grande do Sul''. 20 Os dois vizinhos e outros textos é tambem o nome de uma coletânea de narrativas escritas por W. Rotermund, traduzidas recentemente por Martin N. Dreher, publicada pela Ed. EST, Porto Alegre, 1997. 21 ROTERMUND, W. ''Die beiden Nachbarn''. In:.Gesammelte Schriften Südamerikanische Literatur, vol. 8, p.5-6. ''Die Isabellen-Pikade ist eine der fruchtbarsten unter den deutschen

Ansiedlungen...dann wurde auf der Höhe mancher Ausruf der überraschung und Verwunderung laut. Denn man schaute in die Segensgefilde der Täler, die von dunklen Waldgebirgen einfasst waren... Já, so reizend und entzückend war der Anblick, so sehr fühlte ein empfängliches Herz sich wirklich bezaubert, das man sich scheute durch Worte den beseligenden Bann zu brechen....... So auf Blüten und in Blütenduft wandeln und über sich die Sternenfülle der südlichen Himmels funkeln sehen, das macht das Herz ahnungsreich und hoffnungsvoll.'' 22 Id. ''O lieb so lang du lieben kannst'' In: Gesammelte Schriften Südamerikanische Literatur. Vol. 8. p.,15. – ''Da öffnet sich der Wald, und vor uns liegt ein grosses rundes Feld in den Wald hineingebettet. Und welch ein Anblick! - Nicht Hunderte sondern Tausende von Leutchkäfern schwebten durcheinander über die Pflanzung von Mais und Mandioca. Das ist ein Aufleuchten, ein Blitzen und Funkeln über den ganzen Raum in dem samftentlicht des Mondes und an dem dunklen Saum des Waldes.....Nichts störte die feierliche Stille, der Wald hatte sein geheimnisvolles Rauschen eingestellt und der Mond schaute selbstvergessen auf diese Pracht....... Und wie glitzerte alles dabei''. 23 BACHELARD, G. A poética do Espaço. In: Os Pensadores. Nova Cultural, São Paulo, 1988, p. 93-261. Fontes bibliográficas

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