produção mais limpa como ferramenta de gestão ambiental

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  • 7/24/2019 Produo Mais Limpa Como Ferramenta de Gesto Ambiental

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    A PRODUO MAIS LIMPA COMO FERRAMENTA DE GESTO AMBIENTAL

    PARA AS INDSTRIAS DO MUNICPIO DE JUIZ DE FORA

    Mrcio de Oliveira

    MONOGRAFIA SUBMETIDA COORDENAO DE CURSO DE ENGENHARIA

    DE PRODUO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

    COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSRIOS PARA A

    GRADUAO EM ENGENHARIA DE PRODUO.

    Aprovada por:

    ________________________________________________

    Prof. Francisco de Assis Arajo, Ms.

    ________________________________________________

    Luiz Antnio da Costa Venncio, Esp.

    ________________________________________________Prof. Vanderl Fava de Oliveira, D Sc

    ________________________________________________

    Prof. Roberta Pereira Nunes, D Sc

    JUIZ DE FORA, MG - BRASIL

    JULHO DE 2006

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    OLIVEIRA, Mrcio de

    A produo mais limpa como ferramenta

    de gesto ambiental para as indstrias do

    municpio de Juiz de Fora. / Mrcio de

    Oliveira 2006. 78 f.

    TCC (Graduao em Engenharia de

    Produo) Faculdade de Engenharia,

    Universidade Federal de Juiz de Fora.

    1. Resduos industriais Meio ambiente.2. Desenvolvimento sustentvel. I. Ttulo.

    CDU 658.4.034:504

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    minha esposa, Daniely, companheira

    nesta difcil caminhada, pelos anos de

    compreenso e apoio.

    Ao nosso amado filho Pedro

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    iv

    AGRADECIMENTOS

    Apresento sinceros agradecimentos: minha me, pela dedicao, luta e sacrifcio em prol de seus filhos, exemplo de carter

    pelo qual sempre me guiei para chegar at aqui.

    s minhas irms, pela motivao e por todo carinho dedicado, pelo incentivo para vencer

    mais esta etapa, vitria de nossa famlia.

    minha amada esposa, pelos anos de apoio e compreenso nos momentos difceis e por

    sempre me fazer acreditar que sou capaz.

    Ao Professor Vanderl, por tornar possvel esta realizao. Com seu esprito visionrio, sua

    liderana e sabedoria, no somente lanou a pedra fundamental do Curso de Engenharia de

    Produo como se tornou a prpria rocha, slida e estvel. E mesmo com todo o lastro,Hay que endurecer pero sin perder la ternura jams. (che Guevara).

    Ao meu professor e orientador, Francisco, que em meio a tantos compromissos, aceitou o

    convite, assumiu a empreitada, e dedicou-me ateno, sempre com palavras de incentivo e

    credibilidade. Por ter aberto o caminho, na disciplina de Gesto Ambiental, para a

    concepo deste trabalho.

    Ao companheiro, co-orientador, Venncio, pelo acompanhamento na construo deste

    resultado e pela orientao profissional.

    professora Roberta, pela preciosa colaborao, sempre solcita.

    A todos os companheiros do Curso de Engenharia de Produo, professores e alunos, pela

    convivncia amigvel nestes anos de desafios e conquistas.

    Aos companheiros da AGENDA JF, que no obstaram em colaborar e nutrir este trabalho.

    Aos colaboradores da Metalrgica GG Ltda, os quais to atenciosamente contriburam

    fornecendo subsdios para a composio do resultado aqui apresentado.

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    Resumo da monografia apresentada Coordenao de Curso de Engenharia de Produo

    como parte dos requisitos necessrios para a graduao em Engenharia de Produo.

    A PRODUO MAIS LIMPA COMO FERRAMENTA DE GESTO AMBIENTAL

    PARA ASINDSTRIAS DO MUNICPIO DE JUIZ DE FORA

    Mrcio de Oliveira

    Julho/2006

    Orientadores: Francisco de Assis Arajo

    Luiz Antnio da Costa Venncio.

    Curso: Engenharia de Produo

    O presente Trabalho de Concluso de Curso teve como objetivo o desenvolvimento de uma

    Cartilha a ser usada como material de apoio para motivao e conscientizao,

    proporcionando aos empreendedores do municpio de Juiz de Fora um primeiro contato com

    as prticas da Produo Mais Limpa como ferramenta de Gesto Ambiental. O campo de

    estudo foi delineado pelos empreendimentos industriais de pequeno e mdio porte domunicpio de Juiz de Fora. Para se formar uma viso crtica destes empreendimentos, no

    que tange as questes ambientais, partiu-se da percepo do corpo tcnico da Agncia de

    Gesto Ambiental de Juiz de Fora - AGENDA JF, captada atravs de entrevistas e

    observaes. Um estudo bibliogrfico permitiu traar breve histrico e sucinta descrio do

    atual cenrio do parque industrial do municpio. Os dados coletados em uma visita realizada

    numa empresa metalrgica, a qual implantou com sucesso as prticas da Produo Mais

    Limpa, permitiram uma melhor assimilao da teoria estudada sobre o tema, alm de

    confirmar as expectativas quanto simplicidade e eficcia desta metodologia, bem como

    sua aplicabilidade para os empreendimentos industriais de Juiz de Fora. O resultado obtido

    vem corroborar a importncia de se motivar os empreendedores a investirem na Produo

    Mais Limpa, compreendendo seu significado: agregar cada vez maior valor aos produtos e

    servios, consumindo menos materiais e energia e gerando cada vez menos contaminao.

    Palavras-chave: gesto ambiental, produo mais limpa, industriais.

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    Abstract of Thesis presented to Production Engineering CourseCoordination

    as a partial fulfillment of the requirements for the graduation in Engineering Production

    THE CLEANER PRODUCTION AS TOOL OF ENVIRONMENTAL MANAGEMENTFOR

    THE INDUSTRIES OF JUIZ DE FORA

    Mrcio de Oliveira

    Julho/2006

    Advisors: Francisco de Assis Arajo

    Luiz Antnio da Costa Venncio.

    Department: Production Engineering

    The present Work of Course Conclusion had as objective the development of a booklet to be

    used as of support content for motivation and awareness, providing to the entrepreneurs of

    the city of Juiz De Fora a first contact with the practical ones of the Cleaner Production as

    tool of Environmental Management. The study field was delineated by the industrialenterprises of small and medium size of the city of Juiz De Fora. To form a critical vision of

    these enterprises, in what he refers to the environmental questions, start itself by the

    perception of the technician body of the Environmental Management Agency of Juiz De Fora

    - AGENDA JF, caught through interviews and comments. A bibliographical study allowed to

    trace historical and soon description of the current scenario of the industrial park of the city.

    The data collected in one visit carried through in a metallurgic company, which successfully

    implanted the practical ones of the Cleaner Production, they had allowed one better

    assimilation of the theory studied on the subject, beyond confirming the expectations how

    much to the simplicity and effectiveness of this methodology, as well as its applicability for

    the industrial enterprises of Juiz De Fora. The gotten result come to corroborate the

    importance of if motivating the entrepreneurs to invest in the Cleaner Production,

    understanding its meaning: to add each time bigger value to the products and services,

    consuming less material and energy and generating each time little contamination.

    Keywords: environmental management, cleaner production, industrial.

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    SUMRIO

    CAPTULO I - INTRODUO................................................................................................1

    1.

    CONSIDERAES INICIAIS .....................................................................................1

    2.

    OBJETIVOS...............................................................................................................1

    3. JUSTIFICATIVAS.......................................................................................................2

    4. DELIMITAES DO TRABALHO..............................................................................3

    4.1. Do Objeto...................................................................................................................3

    4.2. Do Mtodo.................................................................................................................4

    4.3. Do Objetivo................................................................................................................4

    5.

    METODOLOGIA...........................................................................................................4

    5.1. Pesquisa bibliogrfica..............................................................................................4

    5.2. Coleta de dados.......................................................................................................5

    5.3. Anlise dos dados....................................................................................................5

    6.

    ESTRUTURA DO TRABALHO...................................................................................6

    CAPTULO II - REVISO DA LITERATURA..........................................................................7

    1. O MEIO AMBIENTE E A CRISE AMBIENTAL............................................................7

    2.

    DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL.....................................................................9

    3.

    GESTO AMBIENTAL ............................................................................................. 10

    4.

    GESTO AMBIENTAL EMPRESARIAL ...................................................................11

    5. PRODUO MAIS LIMPA .......................................................................................12

    CAPTULO III - AGESTOAMBIENTALNOPARQUEINDUSTRIALDEJUIZDEFORA...16

    1.

    HISTRICO DO DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL DE JUIZ DE FORA..............16

    2.

    O CENRIO ATUAL DO PARQUE INDUSTRIAL DE JUIZ DE FORA......................17

    3.

    AGNCIA DE GESTO AMBIENTAL DE JUIZ DE FORA .......... ............................. 19

    4.

    A PERCEPO DOS TCNICOS DA AGENDA JF.................................................20

    CAPTULO IV IMPLANTAO DA PRODUO MAIS LIMPA: O CASO DA

    METALRGICA GG LTDA ..................................................................................................24

    1.

    PORQUE IMPLANTAR A PRODUO MAIS LIMPA...............................................24

    2.

    A IMPLANTAO DA PRODUO MAIS LIMPA....................................................24

    2.1. Diagnstico............................................................................................................25

    2.2. Balano de Material e Energia ...............................................................................26

    2.3. Sntese ..................................................................................................................27

    2.4. Implantao ...........................................................................................................28

    3.

    IMPLANTAO DA P+L NA METALRGICA GG LTDA..........................................29

    3.1. Descrio do processo produtivo...........................................................................29

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    3.2. A implantao da Produo Mais Limpa................................................................30

    3.3. Consumo de gua..................................................................................................31

    3.4. Consumo de energia eltrica .................................................................................32

    3.5. Gerao de resduo de chapa de ao....................................................................33

    3.6. Gerao de resduo de polmeros..........................................................................34

    3.7. Destinao dos resduos........................................................................................36

    4.

    O APRENDIZADO APLICABILIDADE DA METODOLOGIA..................................37

    CAPTULO V - A CARTILHA DA PRODUO MAIS LIMPA......................................... ...... 39

    CAPTULO VI - CONSIDERAES FINAIS........................................................................55

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..................................................................................... 58

    ANEXO 1 - ENTREVISTAS COM O CORPO TCNICO DA AGNCIA DE

    GESTO AMBIENTAL DE JUIZ DE FORA - AGENDA JF....................................................61

    ANEXO 2 - ENTREVISTAS COM OS FACILITADORES DO PROGRAMAPRODUO MAIS LIMPA DA METALRGICA GG LTDA....................................................75

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Gesto ambiental Empresarial Influncias................................ ........................ 11

    Figura 2 - A viso da P+L ....................................................................................................14

    Figura 3 - Organograma da AGENDA JF.............................................................................20

    Figura 4 - Balano de massa e energia................................................................................27

    Figura 5 - Identificao e avaliao das opes da P+L .............................. ........................ 28

    Figura 6 - Cartilha da Produo Mais Limpa, p.1 ............................... .................................. 40

    Figura 7 - Cartilha da Produo Mais Limpa, p.2 ............................... .................................. 41

    Figura 8 - Cartilha da Produo Mais Limpa, p.3 ............................... .................................. 42

    Figura 9 - Cartilha da Produo Mais Limpa, p.4 ............................... .................................. 43

    Figura 10 - Cartilha da Produo Mais Limpa, p.5 ........... ......................................... ........... 44

    Figura 11 - Cartilha da Produo Mais Limpa, p.6 ........... ......................................... ........... 45

    Figura 12 - Cartilha da Produo Mais Limpa, p.7 ........... ......................................... ........... 46

    Figura 13- Cartilha da Produo Mais Limpa, p.8 .............................. .................................. 47

    Figura 14- Cartilha da Produo Mais Limpa, p.9 .............................. .................................. 48

    Figura 15- Cartilha da Produo Mais Limpa, p.10 .......... ......................................... ........... 49

    Figura 16- Cartilha da Produo Mais Limpa, p.11 .......... ......................................... ........... 50

    Figura 17- Cartilha da Produo Mais Limpa, p.12 .......... ......................................... ........... 51

    Figura 18- Cartilha da Produo Mais Limpa, p.13 .......... ......................................... ........... 52

    Figura 19- Cartilha da Produo Mais Limpa, p.14 .......... ......................................... ........... 53

    Figura 20- Cartilha da Produo Mais Limpa, p.15 .......... ......................................... ........... 54

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    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Enfoque do Controle de Poluio e da Produo Mais Limpa............................15

    Quadro 2 - Relao numrica e percentual, por setor de atividade, das empresas

    cadastradas no Centro Industrial de Juiz de Fora, 2004 ......................................... ...... 18

    Quadro 3 - Resultados da implantao da P+L na Metalrgica GG Ltda ............................. 38

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    CAPTULO I

    INTRODUO

    1. CONSIDERAES INICIAIS

    Dentre as atividades da disciplina de Gesto Ambiental do curso de graduao em

    Engenharia de Produo, no desenvolvimento de um trabalho acadmico sobre Produo

    Mais Limpa foram estudados os conceitos, a origem, o processo de implantao e o enfoque

    desta metodologia, despertando o interesse para a atuao do profissional de Engenharia

    de Produo na Gesto Ambiental de uma empresa.

    Atualmente, na atividade profissional de Supervisor de Controle Ambiental do

    Departamento de Fiscalizao Ambiental da Agncia de Gesto Ambiental de Juiz de Fora

    (AGENDA JF), maior a motivao para desenvolver o presente Trabalho de Concluso de

    Curso sobre a metodologia de Produo Mais Limpa.

    Nas vistorias realizadas juntamente com os Analistas Ambientais da referida

    Agncia, a formao acadmica proporcionou uma viso crtica dos processos produtivos,

    materiais, insumos, disposio e tratamento de resduos, custos e investimentos e ainda dos

    aspectos ligados questo ambiental empresarial.

    Dentro do vasto campo de formao proporcionado pela graduao em Engenharia

    de Produo, considerando as diversas possibilidades de atuao, a Gesto Ambiental podeser vista como um referencial para orientao dos esforos na busca de um maior

    conhecimento e desenvolvimento pessoal e profissional.

    2. OBJETIVOS

    O objetivo geral do trabalho produzir uma proposta de cartilha, um material para

    motivao e conscientizao, proporcionando aos empreendedores um primeiro contato

    com as prticas da Produo Mais Limpa e assim fomentar a implantao desta

    metodologia nos processos produtivos de suas empresas.

    Os objetivos especficos e intermedirios que norteiam este trabalho so: realizar

    um estudo bibliogrfico sobre o tema Produo Mais Limpa, descrever a percepo que os

    profissionais da AGENDA JF tm sobre a gesto ambiental nos empreendimentos

    industriais do municpio e ainda visitar uma planta industrial que tenha adotado as prticas

    de Produo Mais Limpa.

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    2

    3. JUSTIFICATIVAS

    Segundo CNTL (2005), atravs da Produo Mais Limpa possvel observar a

    maneira como um processo de produo est sendo realizado e detectar em quais etapas

    as matrias-primas e os recursos esto sendo desperdiados. Desta maneira, possvel

    melhorar o seu aproveitamento e diminuir ou impedir a gerao de resduos. Isto faz com

    que produzir de forma limpa seja, basicamente, uma ao econmica e lucrativa, um

    instrumento importante para manter-se adequado vigente legislao ambiental e ainda

    promover o desenvolvimento sustentvel.

    Por sua simplicidade e aplicabilidade, a Produo Mais Limpa vem sendo implantada

    com sucesso por pequenos e mdios empreendimentos, sem a necessidade de grandes

    investimentos em estruturas, equipamentos e consultorias. Entre os resultados alcanados,

    alm da contribuio para a melhoria do meio ambiente, esto a reduo de perdas dematria prima e insumos, melhoria na qualidade dos produtos e mudanas no clima

    organizacional devido as melhores condies de trabalho e o envolvimento dos

    colaboradores com o processo produtivo.

    Os empreendimentos de pequeno e mdio porte de Juiz de Fora, de uma forma

    geral, so gerenciados intuitivamente por pessoal no qualificado. Estes gerentes tm como

    barreiras os aspectos culturais, limitaes econmicas ou, at mesmo, intervenes

    pessoais, por se tratarem de empresas familiares. Tais empreendimentos, apesar de

    individualmente possurem potencial poluidor relativamente pequeno, quando considerados

    como um todo, passam a representar um grande impacto ao meio ambiente do municpio.

    Alm disso, tambm so os mais necessitados de orientaes sobre mtodos e

    metodologias de gesto ambiental, conforme observado nas diligncias fiscais e tambm

    relatado nas entrevistas realizadas com o corpo Tcnico da AGENDA JF.

    Isto posto, ao propor uma cartilha contendo as informaes bsicas sobre a

    Produo Mais Limpa, o que se pretende despertar o interesse dos empreendedores pelo

    tema e fomentar a gesto ambiental. Desta forma, espera-se estimular as empresas na

    busca pelo conhecimento e implantao desta metodologia ou outros sistemas afins.

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    4. DELIMITAES DO TRABALHO

    4.1. Do Objeto

    O trabalho foi desenvolvido considerando os empreendimentos atendidos pela

    AGENDA JF, conforme percepo dos analistas, tcnicos e fiscais daquele rgo pblico no

    desenvolvimento das atividades de vistoria, anlise, licenciamento ambiental e de

    fiscalizao nas empresas do municpio.

    Os empreendimentos de grande porte do Estado de Minas Gerais so licenciados e

    fiscalizados pelo Conselho Estadual de Poltica Ambiental (COPAM), atravs da Fundao

    Estadual do Meio Ambiente (FEAM). A Deliberao Normativa COPAM n 74 de 9 de

    setembro de 2004 estabelece critrios para classificao, segundo o porte e o potencialpoluidor, de empreendimentos e atividades modificadoras do meio ambiente. Para classificar

    uma atividade quanto ao potencial poluidor so considerados os impactos ambientais

    relativos ao solo, gua e ar. Quanto ao porte, so considerados indicadores caractersticos

    de cada tipo de atividade, como a capacidade instalada, nmero de empregados e rea til.

    Esta DN enquadra os empreendimentos nas classes 1, 2, 3, 4, 5 e 6, em ordem

    crescente de porte e potencial poluidor. Todo municpio est autorizado a licenciar os

    empreendimentos de classe 1 e 2, desde que atenda aos seguintes requisitos: possuir um

    Conselho Municipal de Meio Ambiente (Deliberativo), um rgo Tcnico de Apoio

    (Executivo) e uma Poltica Municipal de Meio Ambiente (Legislao). As atividades das

    demais classes tm seu licenciamento ambiental restrito ao COPAM.

    Porm, o municpio de Juiz de Fora, atravs da AGENDA JF, firmou convnio com

    a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel (SEMAD), atravs

    do qual ficou autorizado o licenciamento no mbito municipal dos empreendimentos de

    classes 3 e 4. Assim sendo, a AGENDA JF e o Conselho Municipal de Meio Ambiente de

    Juiz de Fora (COMDEMA) esto aptos para o licenciamento de atividades das classes 1, 2,

    3 e 4, conforme DN COPAM n 74/2004. Este o universo de empresas onde foi

    desenvolvido o presente trabalho: o contexto formado pelos pequenos e mdiosempreendimentos industriais atendidos pela Agncia de Gesto Ambiental de Juiz de Fora.

    Os empreendimentos de Classes 5 e 6 se referem a empresas de grande porte e/ou

    grande potencial poluidor, as quais possuem obrigatoriamente sistemas de gesto ambiental

    como requisito bsico para o mercado nos quais competem. Ao municpio, como j relatado,

    cabe a gesto sobre empreendimentos de menor porte.

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    4.2. Do Mtodo

    Devido a questes de tica profissional1, no foram realizadas visitas e pesquisas

    nas empresas. Desta forma, os dados foram coletados quando das diligncias fiscais,

    observados ocasionalmente e informalmente. Tambm foram coletados os dados atravs de

    entrevistas com profissionais da AGENDA JF e visita a uma empresa onde foram

    implantados os conceitos da Produo Mais Limpa.

    Por se tratar de um tema novo, ainda pouco trabalhado, existe a dificuldade em

    encontrar livros que desenvolvam mais profundamente sobre o assunto. Desta forma, as

    principais fontes de consulta foram obtidas atravs da web (artigos, apresentaes,

    manuais, relatrios, etc.).

    4.3. Do Objetivo

    Considerando a amplitude do tema, a cartilha proposta como objetivo do presente

    trabalho no tem a inteno de esgotar o assunto. O material abordar apenas aspectos

    gerais, de maneira informativa, e ser assim delineado. No alvo desenvolver um

    documento do tipo roteiro ou manual, com proposta formativa.

    5. METODOLOGIA

    A seguir so descritas as tcnicas e instrumentos empregados no trabalho.

    5.1. Pesquisa bibliogrfica

    Para formar a base de sustentao do assunto a ser estudado, foram realizadasbuscas por informaes em diversas fontes como a web, nos sites de empresas,

    organizaes e grupos relacionados com o tema. Tambm foram consultados livros, artigos

    e publicaes diversas sobre o assunto, com o apoio e a orientao do Professor Orientador

    e do Co-orientador. Alm da contextualizao, foram pesquisados dados sobre a

    1O autor do presente TCC Supervisor de Controle Ambiental do Departamento de Fiscalizao

    Ambiental da AGENDA JF.

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    5

    implantao da metodologia de Produo Mais Limpa: etapas, dificuldades, resultados,

    exemplos e demais experincias j evidenciadas sobre o tema.

    5.2. Coleta de dados

    Os procedimentos para coletar os dados necessrios ao desenvolvimento do

    presente Trabalho de Concluso de Curso foram diversificados, conforme se segue.

    5.2.1. Entrevistas

    Foram realizadas entrevistas estruturadas com amostras por tipicidade com algunsprofissionais da AGENDA JF, escolhidos por ocuparem as funes-chave daquela agncia

    no que se refere ao tema. Tambm foi realizada um entrevista focalizada (depoimento), a

    fim de captar a experincia dos profissionais envolvidos no processo de implantao da

    Produo Mais Limpa na empresa Metalrgica GG Ltda.

    5.2.2. Observaes

    Nas visitas s empresas atendidas pela AGENDA JF, foi empregada a observao

    participante assistemtica. Nas oportunidades foram observados, de modo ocasional e

    informal, os aspectos relacionados com a gesto ambiental e os processo produtivos

    (resduos, insumos, processos, formao dos funcionrios, programas de gesto, etc.). Em

    visita na empresa Metalrgica GG Ltda, juntamente com o Professor Orientador, foi aplicada

    a observao sistemtica, direcionada para a implantao da metodologia da Produo

    Mais Limpa no empreendimento.

    5.3. Anlise dos dados

    A anlise incluiu os dados das entrevistas, os dados observados, e ainda

    impresses e afirmaes diversas que foram acumuladas e registradas, constituindo-se o

    conjunto de dados brutos que, depois de interpretados, deram origem aos resultados

    alcanados com o presente trabalho.

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    6. ESTRUTURA DO TRABALHO

    O presente Trabalho de Concluso de Curso est estruturado em seis captulos,

    organizados de forma a facilitar a compreenso de todo o contexto e das atividades

    desenvolvidas durante a construo do mesmo.

    O Captulo I introdutrio e apresenta o objetivo do trabalho, sua contextualizao,

    relevncia e delimitao.

    No Captulo II so relatados os estudos realizados sobre o tema, a base de

    conhecimento construda na reviso da literatura.

    O Captulo III apresenta a situao da gesto ambiental no parque industrial de Juiz

    de Fora, a partir de um breve histrico do desenvolvimento das indstrias no municpio,

    contextualizao do cenrio atual e a percepo dos tcnicos da Agncia de Gesto

    Ambiental de Juiz de Fora, sendo esta pautada na observao participante e,principalmente, nas entrevistas.

    O Captulo IV dedicado implantao da metodologia da Produo Mais Limpa.

    Ser apresentada uma base terica sobre o assunto, com um resumido roteiro. Em

    consonncia, este captulo relata o resultado das observaes e depoimentos dos

    colaboradores envolvidos no processo de implantao da metodologia na empresa

    Metalrgica GG Ltda, no municpio de Ub, MG.

    O Captulo V apresenta a proposta de cartilha sobre Produo Mais Limpa, objetivo

    geral deste TCC, como resultado da anlise dos captulos anteriores.

    O Captulo VI traz as consideraes finais, relatando a experincia vivida na

    elaborao do TCC, o aprendizado e as descobertas.

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    CAPTULO II

    REVISO DA L ITERATURA

    1. O MEIO AMBIENTE E A CRISE AMBIENTAL

    Meio Ambiente o conjunto de elementos, favorveis ou desfavorveis, que cercam

    os seres vivos. Buscando na origem da palavra ambiente, segundo

    BARBIERI (2004), o prefixo latino ambi d a idia de ao redor de algo ou de ambos os

    lados. O verbo latino ambio, ambiere significa andar em volta ou em torno de alguma

    coisa. Assim, as palavras meio e ambiente apresentam-se com sentidos semelhantes, com

    a idia de entorno e envoltrio, de modo que a expresso meio ambiente encerra numa

    redundncia. O que envolve os seres vivos e as coisas ou o que est ao seu redor o

    Planeta Terra com todos os seus elementos.

    Assim, por meio ambiente se entende o ambiente natural e o artificial, isto ,

    o ambiente fsico e o biolgico originais e o que foi alterado, destrudo e

    construdos pelo homem como reas urbanas, industriais e rurais. Esses

    elementos condicionam a existncia dos seres vivos, podendo-se dizer,

    portanto, que o meio ambiente no apenas o espao onde os seres vivos

    existem ou podem existir, mas a prpria condio para a existncia de vida

    na Terra.(BARBIERI, 2004, p.3).

    A interveno humana no meio ambiente natural criou ambientes artificiais ou

    domesticados, formando ecossistemas especficos como as regies agrcolas e

    agroindustriais e at mesmo as cidades e os distritos industriais, embora esses ltimos

    casos sejam concesses ao termo ecossistema, sendo denominados por alguns autores

    como tecnossistemas urbano-industriais.

    Esses tecnossistemas se caracterizam por serem parasitas dos ambientesnaturais e domesticados, pois no produzem os alimentos de que a

    populao necessita, no limpam o ar e reciclam muito pouco as guas que

    utilizam. Enfim, esses ambientes no possuem capacidade de regenerao,

    uma caracterstica importante dos ambientes naturais e at mesmo dos

    domesticados. (BARBIERI, 2004, p.3).

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    A Revoluo Industrial do sculo XIX pode ser apontada como marco importante na

    intensificao dos problemas ambientais.

    Era notria a deteriorao do ambiente urbano com a contaminao do ar, a

    disseminao de enfermidades, as pssimas condies de vida dostrabalhadores. O uso crescente do carvo para fins industriais e domsticos

    gerava os chamados odores ftidos. O carvo queimado na poca

    continha o dobro do enxofre do usado hoje em dia. (LEFF, 2003, p.112).

    Por conseqncia, o desenvolvimento industrial introduziu novos padres de

    gerao de resduos que surgem em quantidades excessivamente maiores que a

    capacidade de absoro da natureza e de maneira que ela no capaz de absorver e

    reciclar.

    A intensificao da industrializao, a exploso demogrfica, a produo e

    o consumo desmedido, a urbanizao e a modernizao agrcola so

    alguns aspectos da evoluo histrica das sociedades humanas que

    geraram desenvolvimento econmico, mas que resultaram numa

    degradao ambiental desenfreada. (UFRGS, 2002).

    O aumento da escala de produo tem sido um importante fator que estimula a

    explorao dos recursos naturais e eleva a quantidade de resduos. Recursos naturais e

    economia interagem de modo bastante evidente, uma vez que algo recurso na medida em

    que sua explorao economicamente vivel. Segundo LEFF(2003), no projeto cientfico da

    modernidade forja-se uma cincia econmica em um ideal mecanicista, nas leis cegas do

    mercado que tm determinado a economizao do mundo e o predomnio da razo

    instrumental sobre as leis da natureza e os sentidos da cultura, desembocando na crise

    ambiental.

    Devido importncia do meio ambiente para a prpria existncia humana, a questo

    ambiental surge no cenrio poltico, cientfico e educativo como um dos problemas mais

    importantes do mundo atual. A educao ambiental tem ocupado cada vez mais espaos

    de reflexo e de atuao objetivando compreender as mudanas globais e preparar novas

    mentalidades e habilidades, capazes de resolver os problemas ambientais, abrindo caminho

    para um futuro sustentvel, eqitativo e democrtico. Numa viso mais profunda do contexto

    ambiental, LEFF (2003) afirma que o saber ambiental nasce de uma nova tica e de uma

    nova epistemologia, na qual se fundem conhecimentos, se projetam valores e se

    internalizam saberes.

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    2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

    A Organizao das Naes Unidas (ONU), atravs de sua Comisso Mundial do

    Desenvolvimento e Meio Ambiente (CMMAD), publicou em 1987 o relatrio Nosso Futuro

    Comum. Neste relatrio foi definido o conceito de desenvolvimento sustentvel: Atender s

    necessidades da gerao presente sem comprometer a habilidade das geraes futuras de

    atenderem suas prprias necessidades. O documento fazia uma alerta para a necessidade

    das naes unirem-se na busca de alternativas para os rumos vigentes do desenvolvimento,

    a fim de evitar a degradao em nvel planetrio. Afirmava que o crescimento econmico

    sem melhorar a qualidade de vida das pessoas e das sociedades no poderia ser

    considerado desenvolvimento. De forma paralela, o relatrio tambm mostrava que seria

    possvel alcanar um maior desenvolvimento sem destruir os recursos naturais, conciliando

    crescimento econmico com conservao ambiental. O documento ainda criticava o modeloadotado pelos pases desenvolvidos e defendia um novo tipo de desenvolvimento, capaz de

    manter o progresso em todo o planeta e de, no logo prazo, partilh-lo entre pases em

    desenvolvimento e subdesenvolvidos. (UFRGS, 2002).

    A idia se popularizou nas conferncias do Rio de Janeiro, em 1992, a Rio

    92, a de Johanesburgo (Rio+10) em 2002. Desde ento o debate sobre

    desenvolvimento sustentvel est presente na sociedade civil, governos,

    empresas, organismos internacionais, organizaes no governamentais

    (ONGs), entre outros. A participao do empresariado nesse debate temcrescido significativamente. "No mundo inteiro, os empresrios mais

    conscientes esto comprovando, com aes e resultados, que investir em

    sustentabilidade representa um excelente negcio, alm de ser eticamente

    correto". [...] Alguns avanos so notveis. A presena cada vez maior de

    ferramentas, como Selo Verde e ISO 14000, para assegurar a proteo dos

    seres humanos e a conservao do meio ambiente nas empresas um

    deles. (INSTITUTO ETHOS, 2004)

    Nesse contexto, diversos processos foram e continuam sendo desenvolvidos para

    capturar, tratar e dispor os poluentes, bem como para usar recursos de modo mais eficiente,

    podendo-se dizer que o esforo para compreender e dominar os problemas ambientais

    constitui um dos captulos mais importantes da histria da cincia e da tecnologia. Segundo

    BARBIERI (2004), porm, questes de ordem poltica, econmica, social e cultural que

    esto na raiz dos problemas ambientais retardam ou inviabilizam a adoo de solues.

    Todas essas questes devem ser consideradas quando se pretende enfrentar os problemas

    ambientais e isso o que de grosso modo se denomina gesto ambiental.

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    Segundo o corpo tcnico da AGENDA JF, a dificuldade para um rgo pblico

    funcionar como gestor do meio ambiente consiste justamente no reflexo da conjuntura total.

    Agora, a questo da gesto ambiental algo ainda mais fora do comum,

    realmente coisa de futuro. A gesto ambiental pode ser pensada como era notempo da escravido: as pessoas no se preocupavam com o custo social do

    trabalho e, depois, foi preciso ter uma gesto sobre isso, uma internalizao

    deste contedo. O mesmo dever ser adotado para a gesto ambiental: uma

    internalizao do meio ambiente, porque este j est se acabando,

    anunciando o fim. (ENTREVISTADO 4, ANEXO 1).

    3. GESTO AMBIENTAL

    Gesto Ambiental, segundo KRAEMER (2004), um aspecto funcional da gesto

    de uma empresa que desenvolve e implanta polticas ambientais. o conjunto de diretrizes

    e atividades administrativas e operacionais, tais como planejamento, direo, controle,

    alocao de recursos e outras realizadas com o objetivo de obter efeitos positivos sobre o

    meio ambiente, quer reduzindo ou eliminando os danos ou problemas causados pelas aes

    humanas, quer evitando que eles surjam.

    A expresso gesto ambiental aplica-se a uma grande variedade de

    iniciativas relativas a qualquer tipo de problema ambiental. Na sua origem

    esto as aes governamentais para enfrentar a escassez de recursos [...]

    Com o tempo, outras questes ambientais foram sendo consideradas por

    outros agentes e com alcances diferentes e, atualmente, no h rea que

    no seja contemplada. (BARBIERI, 2004, p.21).

    As abordagens socioambientais reconhecem o valor intrnseco da natureza, mas

    admitem que ela deve ser usada para atender s necessidades humanas presentes e

    futuras e, por isso buscam sistemas de produo e consumo sustentveis. Os modelos de

    gesto ambiental empresarial decorrentes dessa viso se apiam em trs critrios de

    desempenho: eficincia econmica, qualidade social e respeito ao meio ambiente, os quais

    devem ser considerados simultaneamente em qualquer proposta.

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    4. GESTO AMBIENTAL EMPRESARIAL

    Segundo KRAEMER (2004), o desempenho ambiental satisfatrio tem sido buscado

    por um nmero cada vez maior de empresas preocupadas com o gerenciamento dos

    assuntos pertinentes ao meio ambiente. Por meio de sistemas de gesto ambiental as

    organizaes empresariais investem em aes para um desenvolvimento sustentvel,

    estudos sobre ciclo de vida dos produtos e processos, gerao, controle e tratamento de

    resduos, consumo de recursos naturais e a questo do passivo ambiental.

    Assim, para que uma empresa passe a realmente trabalhar com gesto

    ambiental deve, inevitavelmente, passar por uma mudana em sua cultura

    empresarial; por uma reviso de seus paradigmas. Nesse sentido, a gesto

    ambiental tem se configurado como uma das mais importantes atividades

    relacionadas com qualquer empreendimento. (KRAEMER, 2004).

    Entretanto, segundo BARBIERE (2004), as preocupaes ambientais das empresas

    no so espontneas, seno influenciadas por trs grandes conjuntos de foras que se

    interagem reciprocamente: o governo, a sociedade e o mercado.

    A Figura 1 ilustra esta interao de foras. A empresa recebe presses dos

    diversos agentes, mas tambm influencia o meio, seja pela poluio e degradao, seja pela

    adoo de medidas de controle e promoo ambiental. Neste sistema, o dinamismo e a

    sinergia dificultam que se defina: qual a fora de ao e qual a fora de reao.

    Figura 1 - Gesto ambiental Empresarial Infl uncias

    FONTE: ADAPTADO DE BARBIERI, 2004, P.99

    GOVERNO

    SOCIEDADE MERCADO

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    Se no houvesse presses da sociedade e medidas governamentais, no

    se observaria o crescente envolvimento das empresas em matria

    ambiental. As legislaes ambientais geralmente resultam da percepo

    dos problemas ambientais por parte de segmentos da sociedade que

    pressionam os agentes estatais para v-los solucionados [...] Embora omercado seja uma instituio da sociedade, suas influncias so tantas e

    to especficas que merece ser considerado parte. As questes

    ambientais passaram a ter impactos importantes sobre a competitividade

    dos pases e de suas empresas (BARBIERI, 2004, p.99,100).

    As organizaes podem desenvolver seu prprio modelo de gesto ambiental ou

    ainda se valer dos diversos modelos genricos que se encontram disponveis no mercado.

    Esses modelos, embora representem de modo simplificado a realidade empresarial,

    permitem orientar as decises sobre como, quando, onde e com quem abordar osproblemas ambientais e como essas decises e relacionam com as demais questes

    empresariais.

    A implantao de um sistema de gesto ambiental poder ser soluo para

    uma empresa que pretende melhorar a sua posio em relao ao meio

    ambiente. O comprometimento hoje exigido s empresas com a preservao

    ambiental obriga mudanas profundas na sua filosofia, com implicaes

    diretas nos valores empresariais, estratgias, objetivos, produtos e

    programas. (KRAEMER, 2004).

    5. PRODUO MAIS LIMPA

    Com a abordagem de Preveno da Poluio, o modelo de gesto ambiental

    denominado Produo Mais Limpa (P+L, PmaisL ou PML) uma ferramenta eficaz para

    cumprir com as necessidades ambientais e promover o desenvolvimento sustentvel.

    A expresso Produo Mais Limpa foi proposta em 1989 pelo Programa das

    Naes Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA, a fim de responder questo de como se

    deve produzir de forma sustentvel:

    Produo Mais Limpa a aplicao contnua de uma estratgia ambiental

    integrada e preventiva a processos, produtos e servios, com a finalidade de

    aumentar a eficincia e reduzir os riscos aos seres humanos e ao meio

    ambiente (UNIDO, 2005).

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    Segundo o GREENPEACE (2005), o objetivo da Produo Mais Limpa atender a

    necessidade de produtos de forma sustentvel, isto , usando com eficincia materiais e

    energia renovveis, no-nocivos, conservando ao mesmo tempo a biodiversidade.

    Os sistemas de Produo Mais Limpa so circulares e usam menor nmero

    de materiais, menos gua e energia. Os recursos fluem pelo ciclo de

    produo e consumo em ritmo mais lento. Os princpios da P+L questionam

    a necessidade real do produto ou procuram outras formas pelas quais essa

    necessidade poderia ser satisfeita ou reduzida. (GREENPEACE, 2005)

    O CNTL(2005) explica que a viso tradicional pergunta o que se pode fazer com os

    resduos e as emisses existentes?. Porm na Produo Mais Limpa, a proteo ambiental

    integrada produo pergunta: de onde vm nossos resduos e emisses? Por que afinal

    se transformaram em resduos?.

    O princpio bsico da metodologia de Produo Mais Limpa eliminar ou

    reduzir a poluio durante o processo de produo, e no no final. Isso

    porque todos os resduos gerados pela empresa custam dinheiro, pois foram

    comprados a preo de matria prima e consumiram insumos como gua e

    energia. Uma vez gerados, continuam a consumir dinheiro, seja sob a forma

    de gastos de tratamento e armazenamento, seja sob a forma de multas pela

    falta desses cuidados, ou ainda pelos danos imagem e reputao da

    empresa. A P+L , portanto, um mtodo preventivo de combate poluioque leva economia de gua, de energia e de matria prima, proporcionando

    um aumento significativo de lucratividade e competitividade (CNTL, 2005).

    Em resumo, conforme ilustrado na Figura 2, a P+L proporciona aumento da

    lucratividade uma vez que resulta em: reduo de emisses atmosfricas, reduo no

    consumo de energia e gua, resduos slidos segregados e livres de contaminao, reduo

    no tratamento de efluentes lquidos e reduo no consumo de matria prima.

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    Figura 2 - A viso da P+L

    FONTE: ADAPTADO DE CNTL, 2005

    Considerando tais princpios e toda sua contextualizao, BARROS (2005) declara

    que a Produo Mais Limpa uma notvel ferramenta para implementao da mudana

    para uma nova cultura empresarial, voltada para a sustentabilidade e inovao.

    Desenvolvida no incio da dcada de 1990 pela UNIDO/UNEP1 e

    largamente aplicada em diversos pases em desenvolvimento, foi adaptada

    a realidade das empresas brasileiras, dando nfase s questes

    organizacionais, comportamentais, s medies dos balanos de massa e

    energia necessrios para a qualificao e quantificao das perdas do

    processo produtivo e, ainda, os aspectos vinculados com a segurana e

    sade ocupacional, dentro dos mais modernos princpios da

    Responsabilidade Social Corporativa (BARROS, 2005).

    A seguir apresentado um quadro comparativo entre as atitudes de Controle de

    Poluio e de Produo Mais Limpa. Observando o Quadro 1, ficam mais evidentes as

    diferenas entre as duas abordagens (controle e preveno) e mais claro o entendimento

    sobre o enfoque da P+L, a qual supera os limites de cumprimento da legislao e assume o

    compromisso com a excelncia na Gesto Ambiental.

    1UNIDO, United Nations Industrial Development Organization; UNEP, United Nations Environment

    Programme

    EmissesAtm osf ri cas

    ResduosSlidos

    Efluentes Lquidos PRODUTOFINAL

    Matria-prima

    Insumos

    EmissesAtm osf ri cas

    ResduosSlidos

    Efluentes Lquidos PRODUTOFINAL

    Matria-prima

    Insumos

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    Quadro 1 - Enfoque do Controle de Poluio e da Produo Mais Limpa

    O enfoque do Controle de Poluio

    Fim de Tubo

    O enfoque da Preveno Poluio

    Produo Mais Limpa

    Poluentes so controlados por filtros e mtodos de

    tratamento do lixo

    Poluentes so evitados na origem, atravs de medidas

    integradas

    O controle de poluio avaliado depois do

    desenvolvimento de processos e produtos e quando

    os problemas aparecem

    A preveno da poluio parte integrante do

    desenvolvimento de produtos e processos

    Controles de poluio e avanos ambientais so

    sempre considerados fatores de custo pelas empresas

    Poluio e rejeitos so considerados recursos

    potenciais e podem ser transformados em produtos

    teis e sub-produtos desde que no txicos

    Desafios para avanos ambientais devem ser

    administrados por peritos ambientais tais como

    especialistas em rejeitos

    Desafios para avanos ambientais deveriam ser de

    responsabilidade geral na empresa, inclusive de

    trabalhadores, designers e engenheiros de produto e

    de processo

    Avanos ambientais sero obtidos com tcnicas e

    tecnologia

    Avanos ambientais incluem abordagens tcnicas e

    no tcnicas

    Medidas de avanos ambientais deveriam obedecer

    aos padres definidos pelas autoridades

    Medidas de desenvolvimento ambiental deveriam ser

    um processo de trabalho contnuo visando a padres

    elevados

    Qualidade definida como atender as necessidades

    dos usurios

    Qualidade total significa a produo de bens que

    atendam s necessidades dos usurios e que tenham

    impactos mnimos sobre a sade e o ambiente

    FONTE: GREENPEACE, 2005

    Segundo CNTL(2005), a Produo Mais Limpa, quando comparada s tecnologias

    de Fim de Tubo1, end-of-pipe, apresenta vantagens como:

    Potencial para solues econmicas na reduo da quantidade de materiais e energia

    usados.

    Induo a um processo de inovao dentro da empresa, devido a uma intensa avaliao

    do processo de produo, a minimizao de resduos, efluentes e emisses.

    Reduo dos riscos no campo das obrigaes ambientais e da disposio de resduos

    devido ao fato de que a responsabilidade pode ser assumida para o processo de

    produo como um todo.

    Facilitao do caminho em direo a um desenvolvimento econmico mais sustentado.

    1Focadas no tratamento e disposio de resduos.

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    CAPTULO III

    AGESTOAMBIENTAL NOPARQUEINDUSTRIALDE

    JUIZDEFORA

    1. HISTRICO DO DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL DE JUIZ DE FORA

    A cidade de Juiz de Fora, no incio do sculo passado, despontava no cenrio

    nacional pelo pioneirismo no desenvolvimento de sua indstria, com destaque para o setor

    txtil, financiada pelo capital proveniente da economia cafeeira e pela formao de um

    entreposto de importao e exportao favorecido pelo sistema ferrovirio (Estradas de

    Ferro Dom Pedro II e Leopoldina) e pelo sistema rodovirio (Unio Indstria). Aqui foiinstalada, ainda no sculo XIX, a primeira Usina Hidreltrica da Amrica do Sul, a Usina

    Marmelos, construda pelo empreendedor Bernardo Mascarenhas.

    J no sculo XX a cidade apresentou intensa, dinmica e diversificada

    economia industrial, conduzindo ao batismo de Manchester Mineira, sendo

    inmeras e impossvel cita-las sem cometer erro ou omisso -, as indstrias

    de relevo na cidade. Rapidamente a cidade tornou-se plo regional,

    exercendo incontestvel liderana na zona da mata mineira, e apresentando

    fulminante crescimento (CPS/UFJF, 2006, p.26).

    Com o passar do tempo, vrios fatores interferiram no processo de

    desenvolvimento de Juiz de Fora, reduzindo o ritmo de crescimento at resultar numa

    estagnao econmica.

    A partir de 1915, foi registrada uma reduo no crescimento industrial de Juiz

    de Fora. A crise foi resultado de um conjunto de fatores. Por um lado, o

    declnio da lavoura cafeeira diminuiu os investimentos deste setor na

    indstria. Tambm a capacidade de energia eltrica instalada na cidadetornava-se pequena em relao demanda que aumentava [...] A partir de

    1930 Juiz de Fora passa por um perodo de estagnao econmica devido,

    sobretudo, ao declnio da industrializao. A explicao para tal situao

    pode ser encontrada em uma srie de fatores de ordem local e nacional que

    ocorreram a partir de ento [...] Um dos fatores responsveis pelo declnio da

    cidade foi a perda de recursos em relao ao Rio de Janeiro, fazendo com

    que a cidade passasse por um processo de descapitalizao [...] No mbito

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    civil e metalrgicos. O parque industrial hoje contm ainda outros empreendimentos dos

    mais variados setores.

    Quadro 2 - Relao numrica e percentual, por setor de atividade, das empresas cadastradas

    no Centro Industr ial de Juiz de Fora, 2004

    FONTE: CPS/UFJF, 2005, tabela 39

    Todavia, o crescimento do setor industrial no foi devidamente planejado, conforme

    citao abaixo, e os empreendedores foram instalando suas plantas de forma desordenada,

    em vrios pontos da cidade, sem que houvesse um planejamento e o controle por parte daadministrao pblica sobre os aspectos ambientais e socioambientais.

    [...] a cidade de Juiz de Fora pouco pde se pensar, se refletir, o que

    seria muito interessante, em um saudvel processo de auto-reflexividade,

    auto-normatividade e auto-compreenso. O sopro de vida do curto e

    saudoso IPPLAN (Instituto de Pesquisa de Planejamento), rgo destinado

    a pensar e planejar a cidade, e sucessivamente amesquinhado e reduzido

    discusso territorial, bem como de rgo acessrio ao Planejamento

    Estratgico da cidade atesta certo descaso. (SALGADO, 2006, p.27).

    Atualmente h no municpio trs reas geogrficas dedicadas exclusivamente s

    indstrias: os Distritos Industriais I e II, localizados na zona norte da cidade e gerenciados

    pela Companhia de Desenvolvimento Econmico de Minas Gerais (CODEMIG), e o Distrito

    Industrial do bairro Milho Branco, mais conhecido como Mini Distrito Industrial, gerenciado

    pela Subsecretaria de Fomento Indstria, Comrcio e Turismo da Prefeitura Municipal de

    Juiz de Fora (PJF).

    D is c r im in a o N %

    Malhas/Vestur io 1168 21,59Construo Civ i l 969 17,91

    Metalrg icos 956 17,67Mobi l ir io 723 13,36

    Pani f icao 402 7,43A lim entao 233 4,31

    Calados 209 3,86Grf ico 208 3,84

    Qumicos /Farmacut icos 202 3,73Torrefao 171 3,16

    Outras 119 2,2Fiao/Tecelagem 51 0,94

    T O T A L 5.411 100

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    A concentrao das indstrias em reas especficas facilita o controle ambiental por

    parte do poder pblico. Apesar dos problemas estruturais e de planejamento destes distritos,

    como tamanho dos lotes considerado pequeno e sua localizao prxima a cursos dgua e

    a montante de reas residenciais, alguns pontos positivos so evidenciados, como a

    proximidade das plantas, o que possibilita interaes. Um exemplo aconteceu no bairro

    Milho Branco: duas empresas do setor txtil se uniram para construir e operar uma Estao

    de Tratamento de Efluentes (ETE) para uso comum, sendo que uma investiu o capital para

    implantao (esta no possua espao fsico disponvel na sua planta) e a segunda

    disponibilizou o terreno (no dispunha de capital para investir). Porm, muitas outras

    indstrias esto dispersas pelo municpio, em reas imprprias para o tipo de atividade que

    desenvolvem.

    Os Distritos Industriais I e II possuem 43 empresas implantadas e em operao

    (CPS/UFJF, 2005) O Mini Distrito Industrial do bairro Milho Branco abriga atualmente 25empresas1. Somando estes nmeros, tem-se um total de 68 indstrias instaladas em reas

    especficas para tal atividade. Subtraindo este valor do nmero de empresas cadastradas no

    Centro Industrial de Juiz de Fora2, chega-se ao nmero de 5.343 indstrias dispersas pelo

    municpio. Ou seja, pouco mais de 1% dos empreendimentos esto instaladas nos distritos

    industriais.

    Os gestores de pequenos e mdios empreendimentos de Juiz de Fora, de uma

    forma geral, tm pouco ou nenhum acesso s informaes sobre as questes ambientais e,

    em sua maioria, no tm conscincia do impacto ambiental causado pelo processo

    produtivo que gerenciam, conforme evidenciado nas entrevistas realizadas com corpotcnico da AGENDA JF. A gesto ambiental vista por estes empresrios apenas como um

    requisito legal (licena), que resulta em grandes investimentos e inviabiliza o negcio. A

    mudana deste paradigma est na educao ambiental. No basta dispor informaes,

    preciso desenvolver o interesse dos empreendedores, incentivar aes e acompanhar os

    resultados.

    3. AGNCIA DE GESTO AMBIENTAL DE JUIZ DE FORA

    A Agncia de Gesto Ambiental de Juiz de Fora - AGENDA JF - uma autarquia da

    Administrao Indireta subordinada diretamente Secretaria de Sade, Saneamento e

    Desenvolvimento Ambiental (SSSDA). dotada de autonomia administrativa, oramentria

    1Subsecretaria de Fomento Indstria, Comrcio e Turismo da Prefeitura Municipal de Juiz de Fora2Quadro 1= 5.411 indstrias

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    e financeira. A AGENDA JF tem por incumbncia promover o desenvolvimento sustentvel

    de Juiz de Fora. Para tal, realiza anlises para o licenciamento ambiental dos

    empreendimentos, desenvolve aes de educao ambiental, promove a qualidade

    ambiental e fiscaliza e monitora as atividades potencialmente poluidoras. Tambm compete

    AGENDA JF: gerir a Poltica Ambiental de forma participativa, propor a legislao

    ambiental, gerir os recursos naturais do municpio e assessorar e dar suporte ao Conselho

    Municipal de Meio Ambiente (COMDEMA). Para cumprir sua misso, a agncia dispe de

    uma equipe multidisciplinar, com profissionais das reas de engenharia (florestal, civil,

    qumica, agronomia e sanitria), geografia, geologia, biologia, qumica e bioqumica, e ainda

    um corpo jurdico com dedicao exclusiva s questes ambientais.

    A Figura 3 apresenta o organograma da AGENDA JF, representando seus

    departamentos e assessoria.

    Figura 3 - Organograma da AGENDA JF

    FONTE: AGENDA JF, 2005

    4. PERCEPO DOS TCNICOS DA AGENDA JF

    Com o objetivo de captar a percepo quanto a gesto ambiental nos

    empreendimentos industriais atendidos pela AGENDA JF, foram realizadas entrevistas

    estruturadas com amostras por tipicidade com os tcnicos daquele rgo ambiental, os

    quais desenvolvem as funes chave relacionadas com o presente trabalho. A amostra

    entrevistada foi composta por Tcnicos e Analistas Ambientais, Fiscais, Chefes de

    Departamentos e demais profissionais envolvidos nas vistorias, anlises tcnicas

    processuais, atividades de fiscalizao e educao ambiental. Uma vez que todos os

    AGENDA JFSuperintendncia

    Departamento deExecuo

    Instrumental

    Departamento deLicenciamento

    Amb iental

    Departamento deFiscalizaoAmbiental

    Departamento deQualidadeAmbiental

    Departamento deEducao

    Ambiental eProteo aos

    RecursosNaturais

    AssessoriaJurdica

    AGENDA JFSuperintendncia

    Departamento deExecuo

    Instrumental

    Departamento deLicenciamento

    Amb iental

    Departamento deFiscalizaoAmbiental

    Departamento deQualidadeAmbiental

    Departamento deEducao

    Ambiental eProteo aos

    RecursosNaturais

    AssessoriaJurdica

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    profissionais ligados diretamente s atividades industriais foram entrevistados, a amostra

    pode ser considerada representativa.

    Aps compilao das informaes coletadas nas entrevistas, algumas concluses

    foram delineadas a partir da percepo destes representantes do poder pblico, no que

    tange a gesto ambiental dos empreendimentos industriais.

    O empreendedor, em geral, busca o licenciamento ambiental de suas atividades

    motivado estritamente pela obrigatoriedade imposta pela legislao, ou ainda por

    necessidade de atendimento ao mercado e parcerias com empresas maiores, conforme

    relatado nas entrevistas.

    O empreendedor busca o licenciamento ambiental somente em alguns

    momentos. Por fora de uma imposio, nunca por um interesse real em

    nvel de meio ambiente. Ou ele busca por causa de um financiamento que

    necessita, pois os rgos financiadores exigem a licena ambiental, ou

    ainda, no caso dos pequenos empreendimentos, se busca pela

    necessidade do alvar de funcionamento, o qual tambm est condicionado

    ao licenciamento ambiental. Ou ainda quando multado, embargado por

    um setor de fiscalizao. (ENTREVISTADO 3, ANEXO 1).

    Com o licenciamento ambiental norteado por esta perspectiva restrita aos campos

    legal e mercadolgico, a responsabilidade socioambiental passa ao largo.

    As pessoas ficam preocupadas em gerir seus negcios, suas atividades,

    mas sempre consideram o meio ambiente como uma externalidade. [...]

    Ento existe essa cultura, ainda tradicional, de considerar o meio ambiente

    como algo ilustrativo, mais para enfeite, e no como algo importante, como

    um benefcio de fato. (ENTREVISTADO 4, ANEXO 1).

    O resultado desta considerao equivocada se constata nas vistorias e anlises

    processuais para o licenciamento ambiental e nas aes fiscalizadoras. Em poucos

    empreendimentos verificada a preocupao com a gesto ambiental.

    S identifiquei (gesto ambiental) em 5% dos empreendimentos, eu acho

    que ainda muito fraco aqui em Juiz de Fora a mentalidade de gesto

    ambiental e de qualidade tambm. Acho que as empresas no esto muito

    preocupadas com isso. Elas se preocupam muito com o lucro e no tm a

    conscincia de que, com um gerenciamento ambiental e um gerenciamento

    de qualidade podero ter lucros e uma produo mais limpa e saudvel

    para empresas e funcionrios. (ENTREVISTADO 2, ANEXO 1).

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    Nos casos em que notado algum indcio de gesto ambiental, sua abrangncia

    estreita e seu horizonte atrofiado. As preocupaes limitam-se ao tratamento e destino dos

    efluentes e resduos, conforme citado pelos tcnicos da AGENDA JF, visto que estas

    questes referem-se s condicionantes impostas pelo rgo licenciador.

    Identificam-se sinais de gesto ambiental nos empreendimentos desde que

    estejam condicionados na licena ambiental.[...] Essas condicionantes

    geralmente englobam a questo dos resduos slidos, efluentes lquidos e

    gasosos. Ento, os empreendimentos tm que atend-las para alcanarem

    a eficincia almejada. (ENTREVISTADO 6, ANEXO 1).

    Os empreendedores deixam de lado a viso do processo, do sistema produtivo

    como um todo, dedicando ateno apenas s exigncias formalizadas na licena ambiental,

    as quais no so direcionadas para uma gesto global da empresa, visto que geralmente

    englobam as questes dos resduos slidos, efluentes lquidos e gasosos. Ou seja, o prprio

    processo de licenciamento ambiental, que na maioria das vezes o primeiro contato que os

    empreendedores tm com o gerenciamento ambiental (ENTREVISTADO 5, ANEXO 1),

    estreita o campo de viso e restringe a gesto ambiental ao controle de emisso de

    efluentes e gerenciamento de resduos. Quando se pergunta sobre quais so os maiores

    problemas ambientais na indstria, as respostas dos tcnicos confirmam o enfoque de

    gerenciamento de f im de tubo: o efluente lquido, atmosfrico e o lixo.

    Com o sistema processual praticado atualmente para o licenciamento ambiental naAGENDA JF, os analistas acabam por se comportarem, de maneira restritiva, como

    conferentes de documentos, sem que se envolvam com os processos produtivos e

    promovam a gesto ambiental empresarial. A orientao prestada pela AGENDA JF

    voltada para aspectos jurdicos e legais, porm a orientao tcnica no oferecida

    (ENTREVISTADO 2, ANEXO 1). Esta prtica resulta na reduo do Licenciamento

    Ambiental a um procedimento estritamente burocrtico.

    O que se v que todas as licenas que ns expedimos aqui esto

    praticamente no papel, quando se vai ao campo se observa que no foiobtido o resultado esperado. O parecer tcnico, as condicionantes, os

    projetos esto todos dentro das normas e com todas as questes

    ambientais levantadas, mas na hora da implantao isso esquecido.

    Tornou-se apenas um compromisso, uma contratao de um consultor para

    aquele momento da licena, e que, depois de expedida, os

    empreendedores se esquecem dos projetos e fazem da forma que bem

    entendem. (ENTREVISTADO 3, ANEXO 1).

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    A consultoria ambiental oferecida no municpio tambm representa contribuio

    importante neste cenrio. Muitos dos profissionais que se apresentam como consultores

    ambientais, na realidade no passam de despachantes: renem documentos, providenciam

    laudos, escrevem relatrio e planos e se encarregam dos embaraos burocrticos. E o

    compromisso com a gesto ambiental, na sua essncia de sustentabilidade, praticamente

    relegado. No outro lado dessa moeda esto os empreendedores que, ao contratar os

    servios de consultoria ambiental, desejam apenas a obteno da licena, ou seja, o

    papel.

    As sugestes apresentadas pelos entrevistados para ajudar a melhorar este quadro

    passam pelo maior rigor no licenciamento e na fiscalizao, diminuio do custo de anlise,

    marketing, e se convergem na educao ambiental.

    Considerando a situao descrita acima, analisada luz dos conceitos e princpios

    registrados na literatura do Captulo II, pode-se concluir pela necessidade de um maiorenvolvimento com o objeto a ser licenciado, devendo o processo de licenciamento ser mais

    participativo e comprometido com a gesto ambiental sob todos os aspectos. As

    condicionantes devem deixar de se restringirem ao tratamento e destino de efluentes e

    resduos, para ento traar metas de reduo na gerao destes e acompanhar o

    desenvolvimento da empresas ao longo da vigncia da licena. A fiscalizao, tambm,

    cada vez mais com carter preventivo e menos punitivo, deve atuar com monitoramento

    dinmico das condicionantes ambientais, sempre voltadas para o aprimoramento da gesto

    ambiental.

    Por fim, dentro do resultado das entrevistas, pode-se concluir que osempreendedores necessitam de orientaes e motivao para o desenvolvimento de uma

    conscincia ambiental transformadora, a caminho de um desenvolvimento sustentvel,

    guiados por uma gesto consolidada nos princpios socioambientais.

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    CAPTULO IV

    IMPLANTAO DA PRODUO MAIS LIMPA:

    O CASO DA METALRGICA GG LTDA

    1. PORQUE IMPLANTAR A PRODUO MAIS LIMPA

    A Produo Mais Limpa traz diversas vantagens para a organizao e a sociedade.

    Alguns dos benefcios so de difcil constatao, intangveis ou imensurveis, outros

    somente sero verificados com o passar dos anos e dcadas. Mas pode-se destacar alguns

    resultados evidenciados aps a implantao da P+L, conforme citado por CNTL (2005):

    Reduo de custos de produo: minimizar os desperdcios de matrias-primas e energia,

    aumento de eficincia e competitividade.

    Reduo das infraes aos padres ambientais previstos na legislao.

    Diminuio dos riscos de acidentes ambientais.

    Melhoria das condies de sade e de segurana do trabalhador.

    Melhoria da imagem da empresa junto a consumidores, fornecedores e poder pblico.

    Ampliao da perspectivas de mercado interno e externo.

    Acesso facilitado a linhas de financiamento.

    Melhor relacionamento com os rgos ambientais, com a mdia e com a comunidade.

    2. A IMPLANTAO DA PRODUO MAIS LIMPA

    Para uma melhor compreenso, o processo de implantao da P+L descrito

    abaixo de forma simplificada, organizado em etapas distintas, conforme apresentado por

    GUETHI (2003): Fase I = Diagnstico; Fase II = Balano de material e energia; Fase III =

    Sntese; e Fase IV = Implantao.Porm, antes de tudo, necessrio que exista o comprometimento explcito do

    empreendedor, da direo e toda alta gerncia para com a Produo Mais Limpa.

    O mesmo foi verificado nas atividades/aes realizadas na empresa Metalrgica

    GG Ltda, conforme entrevista [...] quando surgiu essa oportunidade, o patro acatou,

    apostou em ns, nos enviou para o treinamento e ento executamos o trabalho com todo

    apoio da empresa [...]. (ENTREVISTADO 8, ANEXO 2).

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    Somente aps o comprometimento gerencial, ento, devem ser reunidos todos os

    funcionrios para que sejam informados do programa e do caminho a ser percorrido.

    preciso motivar os colaboradores, incentiv-los a se empenharem e, a exemplo da direo,

    se comprometerem com o sucesso do trabalho. Eles devem compreender o impacto deste

    programa na sade financeira da empresa e conseqentemente na manuteno dos postos

    de trabalho, alm da melhoria na qualidade das condies ambientais da empresa.

    O prximo passo a formao do ECOTIME (ecologia+time): equipe formada pelos

    funcionrios que conhecem a empresa mais profundamente e/ou que so responsveis por

    reas importantes, com produo, compras, meio ambiente, qualidade, sade e segurana,

    desenvolvimento de produtos, manuteno e vendas.1 Estes sero os colaboradores

    responsveis por repassar aos demais a metodologia, assim como acompanhar a

    implementao na empresa. Os componentes do ECOTIME devero participar de

    treinamentos preliminares para uma melhor compreenso da metodologia, realizar reuniese estudos em grupo a fim de promover uma maior integrao e compreenso do trabalho

    que lhes cabe. Com o ECOTIME pronto, se seguem as etapas da implantao propriamente

    dita.

    O processo de implantao da P+L aqui descrito foi verificado, em todos os seus

    aspectos, na empresa visitada, conforme ser apresentado mais adiante. Tambm os

    resultados propostos pela metodologia foram evidenciados na referida empresa. Desta

    forma, foi possvel verificar no campo os resultados prticos da teoria constante da Reviso

    da Literatura, atribuindo ao trabalho a credibilidade e sustentabilidade prtica.

    2.1. Diagnstico

    Nesta etapa traado o perfil da empresa, identificando suas caractersticas

    operacionais, financeiras, pessoal empregado, insumos, produtos e tudo o mais que

    contextualize o empreendimento. importante verificar tambm a adequao da mesma

    quanto legislao ambiental, pois, o primeiro passo para a gesto o cumprimento da

    legislao pertinente. Nesta etapa se estuda o lay out da planta, traando a localizao das

    etapas do processo, postos de trabalho, acessos e tudo o mais envolvido na produo. Este

    estudo importante para se identificar o fluxo de materiais e pessoas no cho de fbrica,

    as distncias, obstculos, cruzamentos e demais informaes. Para o sucesso dos

    trabalhos, preciso que o ECOTIME conhea bem o processo produtivo.

    1Rede de Produo Mais Limpa, 2003

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    Por isso, de relevncia que o grupo elabore o fluxograma do processo. Esta

    representao grfica facilita a identificao de todos os passos do processo e como estes

    esto relacionados entre si. Conforme BARROS (2005), o fluxograma de processo deve

    tambm dar especial ateno a diversos passos muitas vezes negligenciados nos

    fluxogramas de processo tradicionais. Estes incluem: armazenagem, fluxo e manuseio de

    materiais; manuteno e reparo dos equipamentos; subprodutos liberados para o meio

    ambiente com emisses fugitivas.

    O prximo passo quantificar as informaes referentes ao fluxograma do

    processo. A fontes de consulta mais comuns so as notas de compra de matria prima,

    contas de gua e energia eltrica, entre outras. As informaes que se deve recolher so:

    consumo de gua, vazo de efluente lquido, resduos slidos, matrias-primas e consumo

    de energia, em termos quantitativos e de custos. Algumas informaes podem no estar

    disponveis em documentos. Nesses casos, ser necessrio realizar medies no processoprodutivo.

    Para uma melhor compreenso dos dados coletados, preciso que sejam criados

    indicadores: parmetros que sero utilizados no monitoramento do processo. O prximo

    passo reunir o ECOTIME para estudar e avaliar as informaes. Deve-se considerar o

    volume de resduos gerados, a toxidade destes e a legislao pertinente, assim como o

    custo de gerenciamento destes resduos e emisses e o custo da matria-prima, insumos e

    energia dedicados ao processo.

    Com base nessa anlise deve-se definir a orientao a ser dada ao trabalho, os

    produtos ou etapas dos processos a serem priorizados. BARROS (2005) relata que, emprincpio, todos os processos e unidades de operao podem ser candidatos ao foco de

    avaliao. Contudo, a seleo orientada normalmente por razes financeiras, de

    legislao, ambientais e de recursos humanos disponveis.

    Tambm esta orientao da seleo foi constatada na empresa visitada, conforme

    relatado pelo ENTREVISTADO 8 (ANEXO 2) : [...] ns fizemos o levantamento, vimos onde

    estava gastando mais e escolhemos, no aleatoriamente.

    2.2. Balano de Material e Energia

    Consiste em identificar, quantificar e analisar as entradas e sadas de material e

    energia em determinado processo/equipamento/posto de trabalho. A ilustrao da Figura 4

    demonstra os parmetros a serem considerados. O objetivo localizar os processos onde

    se encontram os maiores custos de matria-prima e a maior gerao de resduos, e ainda

    identificar o quanto se gasta em cada processo.

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    Figura 4 - Balano de massa e energia

    FONTE: GUETHI, 2003

    2.3. Sntese

    Neste momento, hora de analisar todos os dados coletados nas etapas anteriores.

    Feito o balano de massas nos processos e/ou setores priorizados, o ECOTIME dever

    avaliar as causas da gerao de cada resduo 1, identificando as oportunidades de melhoria,

    a fim de deixar de ger-lo ou ao menos reduzir a gerao do resduo. As opes posteriores

    so a reciclagem interna e externa.Todavia, apesar de se arrecadar com a venda de resduos, deixar de ger-los pode

    ser muito mais lucrativo, pois, o que ser vendido a preo de sucata, certamente foi

    comprado a preo de matria prima e ainda consumiu insumos (materiais e energia) para

    sua transformao. A matria prima bobina de ao, por exemplo, utilizada pela Metalrgica

    GG Ltda, comprada conforme cotao do dlar, porm os resduos so vendidos a preo

    de sucata, conforme relatado na visita.

    Nesta etapa importante identificar as medidas imediatas, as mais bvias,

    conhecidas como solues caseiras (housekeeping), pois estas so o cerne da Produo

    Mais Limpa. As medidas de mdio e longo prazo no devem ser desconsideradas doravante

    tambm devero ser trabalhas pela empresa de forma estratgica. Deve-se considerar que

    tais medidas englobam: materiais, procedimentos, lay out, fluxo de materiais, processos,

    produtos e servios. A Figura 5 ilustra os aspectos envolvidos no estudo de identificao e

    avaliao das oportunidades de melhoria.

    1Rede de Produo Mais Limpa, 2003.

    PROCESSO

    ENTRADASMatrias-primas

    Materiais secundrios

    UTILIDADESCombustveis: gs

    natural, leo, carvo ...

    ENERGIAEletricidade

    Aquecimento

    SADASProdutos

    Sub produtos

    RESDUOSSlidosLquidos

    EMISSESGasosa

    Trmica, Rudos

    PROCESSO

    ENTRADASMatrias-primas

    Materiais secundrios

    UTILIDADESCombustveis: gs

    natural, leo, carvo ...

    ENERGIAEletricidade

    Aquecimento

    SADASProdutos

    Sub produtos

    RESDUOSSlidosLquidos

    EMISSESGasosa

    Trmica, Rudos

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    Figura 5 - Identificao e avaliao das opes da P+LFONTE: GUETHI, 2003

    A seguir, as opes so avaliadas sob os pontos de vista tcnico, ambiental e

    econmico, de forma a subsidiar a escolha da melhor alternativa, ou seja, aquela que

    atende de maneira mais favorvel ao serem considerados todos os aspectos. Um Plano de

    Ao deve ser traado, de forma a organizar os trabalhos e estabelecer metas e prazos.

    2.4. Implantao

    Este o momento de colocar em prtica o Plano de Ao, controlando e

    monitorando os resultados. Os benefcios ambientais e econmicos devem ser avaliados,

    comparando-os com as metas pr-estabelecidas. A metodologia da Produo Mais Limpa,

    por definio, uma ferramenta de aplicao contnua. Isto posto, a P+L tambm necessita

    de monitoramento constante e avaliao dos resultados de maneira a garantir a

    continuidade do trabalho.

    Os resultados podem ser avaliados, segundo BARROS (2005), pela alterao da

    quantidade e da toxidade dos resduos e efluentes, pela reduo no consumo de recursos

    (incluindo energia) e pela melhoria na lucratividade da empresa.

    Assim como os colaboradores foram, no incio a implantao, informados sobre o

    trabalho a ser realizado, neste momento indispensvel divulgar os resultados obtidos para

    que toda a empresa tenha conhecimento dos benefcios alcanados com o empenho e a

    dedicao de cada um. Afinal, os benefcios no so restritos ao campo econmico, mas o

    principal ganho ambiental e social desta prtica.

    PROCESSO

    Mudana daTecnologiaProdutiva

    Modificao noEquipamento

    Substituio deMatria-prima

    SoluesCaseiras

    MelhoresControles deProcessos

    Produo deSub-produtos

    Modificao doProduto

    ReciclagemInterna,

    Recuperao

    PROCESSO

    Mudana daTecnologiaProdutiva

    Modificao noEquipamento

    Substituio deMatria-prima

    SoluesCaseiras

    MelhoresControles deProcessos

    Produo deSub-produtos

    Modificao doProduto

    ReciclagemInterna,

    Recuperao

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    Para a manuteno dos resultados alcanados e a melhoria contnua do programa,

    preciso estabelecer um Plano de Monitoramento e Continuidade.

    O melhor modo de sustentar atividades de P+L a introduo de um

    programa que inclua todas as atividades necessrias para obter oentusiasmo e o comprometimento de todos os colaboradores. Em muitos

    casos, as empresas continuam com as avaliaes, determinando uma rea

    especfica para isso ou gerando um sistema de melhoria contnua na

    empresa, em que todas as reas participam, com idias de melhorias de

    seus empregados (BARROS 2005).

    3. IMPLANTAO DA P+L NA METALRGICA GG LTDA

    Para enriquecer a pesquisa e creditar os resultados que podem ser alcanados com

    a implantao da Produo Mais Limpa, foi procurada uma empresa onde se pudesse

    observar um caso prtico de aplicao desta ferramenta.

    Com esse objetivo, inicialmente foi realizado contato com o Centro Nacional de

    Tecnologias Limpas (CNTL) na tentativa de encontrar uma empresa, nas proximidades de

    Juiz de Fora, que tenha obtido sucesso com a implantao da P+L. O CNTL passou o

    contato para a Federao das Indstrias de Minas Gerais (FIEMG), em Belo Horizonte.

    Ento, a Gerncia de Meio Ambiente da FIEMG disponibilizou uma relao com empresas

    situadas no municpio de Ub que participaram do programa de P+L, sugerindo que

    anteriormente se consultasse o sindicato das indstrias daquela cidade. Dentre as oito

    empresas relacionadas pela FIEMG, a coordenao do Intersind indicou trs, sendo uma

    delas a escolhida para a visita.

    A Metalrgica GG Ltda uma indstria do setor moveleiro que fabrica peas e

    acessrios para mveis. O empreendimento conta com oitenta funcionrios empenhados na

    produo de peas em polmeros injetados e peas estampadas em ao.

    3.1. Descrio do processo produti vo

    O processo de fabricao das peas plsticas tem incio com o recebimento da

    matria prima, o polmero granulado (polietileno, polipropileno, poliestileno). O material

    ento introduzido nas injetoras, resultando em peas no estado bruto. O operador da

    mquina seleciona o produto, retira manualmente as aparas e separa os rejeitos e sobras do

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    processo de injeo. Aps este processo, as peas so encaminhadas para o setor de

    acabamento, onde so organizadas em ganchos para facilitar o manuseio. Recebem uma

    camada de verniz e, aps a secagem, so encaminhadas para metalizao.

    O processo de metalizao se d pela deposio de uma fina camada de alumnio

    sobre a pea envernizada. Em uma cmara de vcuo, so aquecidos, por corrente eltrica,

    vrios filamentos de alumnio que, ao se fundirem e evaporarem formam uma nvoa de p.

    Devido ao movimento de rotao e translao dos ganchos dentro da cmara, o p de

    alumnio depositado uniformemente sobre as superfcie das peas, reagindo com a

    camada de verniz e resultando em um acabamento idntico cromagem de metais. Aps

    este processo, as peas so retiradas dos ganchos e ento cada uma receber um parafuso

    ao longo do eixo central, o qual servir para sua fixao ao mvel a que se destina.

    Outro tipo de acabamento a pintura, em cores selecionadas de acordo com o

    pedido do cliente. Por ltimo, as peas so embaladas individualmente de forma a preservara qualidade do produto.

    A pea de ao que estava sendo produzida na empresa, por ocasio da visita, trata-

    se de um rodzio onde o suporte e eixo so de ao e a roda fabricada em polmero,

    tambm injetada na prpria empresa. A chapa de ao chega em bobinas de fita e passa por

    uma prensa onde ser estampada. Aps a estampagem, as peas so dobradas no formato

    final e ento encaminhadas para fosfatizao, que consiste num tratamento superficial

    antioxidante, sendo este processo realizado em outra empresa especializada. As peas, ao

    serem recebidas j fosfatizadas, seguem para a montagem juntamente com o eixo e a roda.

    Depois de montados os rodzios, o produto embalado para expedio.

    3.2. A implantao da Produo Mais Limpa

    Como ser relatado a seguir, o processo de implantao da P+L na Metalrgica GG

    Ltda deu-se conforme descrito no incio deste Captulo, na reviso da literatura sobre o

    tema. Os passos, procedimentos e principalmente os resultados ratificam o conhecimento

    encontrado nas fontes de consulta, promovendo o encontro da teoria dos manuais com a

    prtica do cho de fbrica.

    A Federao das Indstrias de Minas Gerais (FIEMG) convidou as empresas do

    Plo Moveleiro de Ub para participarem de um programa de Produo Mais Limpa. O

    Diretor da Metalrgica GG Ltda, ao tomar conhecimento da proposta, encaminhou ento

    dois de seus funcionrios para realizarem um treinamento inicial sobre o tema. Neste

    momento ficou evidenciado o comprometimento da direo, que, conforme citado

    anteriormente, o primeiro passo para o sucesso do programa. Os funcionrios treinados

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    serviram de multiplicadores, formaram o ECOTIME na empresa com outros oito

    componentes, sendo um de cada setor envolvido, e logo comearam os trabalhos, tudo

    conforme a metodologia da P+L, sempre com acompanhamento dos consultores da FIEMG.

    Inicialmente houve uma assemblia geral, onde todos os funcionrios foram

    informados e orientados sobre o trabalho que seria feito. Depois, ao longo do processo de

    implantao, foram realizadas outras reunies setoriais e do ECOTIME a fim de organizar e

    dar andamento aos trabalhos de implantao da Produo Mais Limpa.

    Seguindo a metodologia, passo a passo os processos foram avaliados e as

    solues implementadas. Os colaboradores que lideram o ECOTIME relataram as

    oportunidades de melhorias verificadas com a P+L e nas quais foram obtidos resultados:

    consumo de gua, consumo de energia eltrica, gerao de resduo de chapa de ao,

    gerao de resduo de polmeros e destinao dos resduos da fbrica.

    3.3. Consumo de gua

    3.3.1. Oportunidade de melhoria

    A empresa abastecida por um poo localizado no empreendimento. Segundo

    relatado pelos facilitadores, periodicamente o nvel de gua do poo baixava e a bomba

    aspirava areia, o que causava problemas mecnicos e deficincias no abastecimento. A

    maior parte da gua consumida utilizada na refrigerao das mquinas injetoras. Sem

    refrigerao as mquinas no funcionavam e a produo parava.

    O ECOTIME observou que diariamente uma grande quantidade de gua era

    desperdiada ao final do ltimo turno, aproximadamente 1.800 litros. Isto acontecia porque,

    ao se desligar as mquinas, a gua do sistema de refrigerao retornava para a torre de

    resfriamento e para o reservatrio. Como este estava instalado em nvel abaixo do piso da

    fbrica, recebia todo o volume de gua localizado nas tubulaes e equipamentos

    refrigeradores que descia por gravidade. Porm, a capacidade da caixa era inferior ao

    volume retornado e, por isso, transbordava para o sistema de captao de guas pluviaistodas as noites. Por conseqncia, na manh seguinte, era necessrio ligar novamente a

    bomba para retirar gua do poo resultando em maior consumo de gua e tambm de

    energia eltrica. Outra perda se devia ao tempo dedicado a tal operao, considerando

    ainda ajustes devido entrada de ar no sistema e outros problemas operacionais.

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    3.3.2. Soluo proposta

    Inicialmente foi instalado um hidrmetro na sada da bomba do poo a fim de se

    quantificar o consumo de gua, ou seja, tarefa da fase de diagnstico. Aps medies,

    chegou-se a um consumo dirio de aproximadamente 1.800 litros de gua.

    A soluo proposta e implantada foi bem simples: elevao do nvel da torre e do

    reservatrio do sistema de resfriamento.

    3.1.3. Resultados alcanados

    Com a elevao da torre e do reservatrio o trasbordamento foi solucionado. Ao se

    desligar o sistema, parte da gua permanece nas tubulaes e equipamentos, o volume que

    retorna menor e compatvel com a capacidade do reservatrio. Com a mudana, oconsumo dirio passou para aproximadamente 80 litros de gua, nmero bem inferior aos

    1.800 litros consumidos antes da mudana.

    Ns atuamos no consumo de gua, como voc mesmo viu, ns tnhamos

    uma perda de 444.200 litros anuais. Era uma perda inevitvel, o lay out do

    sistema de refrigerao estava errado. [...] ento ns estudamos,

    pensamos, trabalhamos, conversamos muito sobre isso e vimos que

    poderia mudar. Foram investidos aproximadamente R$ 1.690,00 e a

    mudana realizada, uma torre e caixa dgua um pouco mais elevadas,resultou numa economia anual de 385.000 litros de gua. (ENTREVISTADO

    8, ANEXO 2).

    3.4. Consumo de energia eltrica

    3.2.1. Oportunidade de melhoria

    A Produo Mais Limpa atuou tambm no consumo de energia eltrica, que

    inicialmente se aproximava dos 19.000 KWh/ms. A eletricidade utilizada no processo

    para iluminao, sistema de refrigerao, mquinas e motores em geral. As mquinas

    injetoras de polmeros so as maiores consumidoras, pois a matria-prima fundida com a

    energia trmica produzia nas resistncias eltricas daqueles equipamentos.

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    3.2.2. Soluo proposta

    Algumas medidas simples, solues caseiras1, foram adotadas, das quais so

    citadas: desligamento da chave geral da subestao ao final do ltimo turno, monitoramento

    das medies da subestao a cada turno, maior aproveitamento da iluminao natural e

    conscientizao dos operrios. Outras medidas tcnicas foram necessrias, como a

    substituio dos capacitores para correo do fator de potncia das mquinas e circuitos,

    substituio dos motores por outros de melhor rendimento e tambm a modificao em

    alguns equipamentos, como a instalao de sistemas de acionamento de motores

    (termostatos, temporizadores) a fim de se evitar o funcionamento contnuo e desnecessrio.

    A alterao no sistema de resfriamento de gua tambm influenciou no resultado, pois a

    bomba do poo passou a ser ligada com menor freqncia e por perodos mais curtos.

    3.2.3. Resultados alcanados

    Com estes procedimentos, o consumo mensal foi reduzido para aproximadamente

    10.000 KWh/ms. Um resultado bastante significativo, principalmente pelo alto custo deste

    insumo. Mais uma vez a Produo Mais Limpa obteve sucesso.

    O envolvimento dos funcionrios foi imprescindvel para o resultado positivo,

    conforme relatado.

    [...] mas tudo isso foi realizado mediante informao, um esclarecimento que

    foi dado aos colaboradores [...] Ou seja, todos se envolveram no processo e

    houve ento uma mudana radical, ns sentimos praticamente uma queda

    no consumo de energia em torno de 43% a 47%. E isso, deixo bem claro,

    foi um trabalho de quatro meses, porm de resultado quase que imediato,

    de curto prazo mesmo. (ENTREVISTADO 8, ANEXO 2).

    3.5. Gerao de resduo de chapa de ao

    3.5.1. Oportunidade de melhoria

    O ao matria-prima utilizada na fabricao do suporte do rodzio, estampado em

    uma fita. Os resduos desta fita representavam grande perda para a empresa. A cada dois

    1Conforme item 2.3. Sntese.

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    meses era recolhida uma quantidade aproximada de