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PLANEJAMENTO, IMPLANTAÇÃO E GESTÃO DE UMA INTERVENÇÃO EM SANEAMENTO: Uma avaliação à luz da Promoção da Saúde Aline Nogueira, Tecnóloga em Saneamento Ambiental Ana Samille Vasconcelos, Tecnóloga em Saneamento Ambiental Auriana Silva, graduanda de Tecnologia em Saneamento Ambiental Cezarina Maria Nobre Souza, Professora DSc do IFPA I Congresso Baiano de Engenharia Sanitária e Ambiental - COBESA

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PLANEJAMENTO, IMPLANTAÇÃO E GESTÃO DE UMA INTERVENÇÃO EM SANEAMENTO:

Uma avaliação à luz da Promoção da Saúde

Aline Nogueira, Tecnóloga em Saneamento Ambiental

Ana Samille Vasconcelos, Tecnóloga em Saneamento Ambiental

Auriana Silva, graduanda de Tecnologia em Saneamento Ambiental

Cezarina Maria Nobre Souza, Professora DSc do IFPA

I Congresso Baiano de Engenharia Sanitária e Ambiental - COBESA

O PROJETO “ÁGUA EM CASA, LIMPA E SAUDÁVEL”

• O projeto “Água em Casa, Limpa eSaudável”, consiste na implantação de umsistema de abastecimento de água quecompreende a captação da água da chuvae sua desinfecção pela exposição aosraios solares.

O PROJETO “ÁGUA EM CASA, LIMPA E SAUDÁVEL”

• A água é captada por meio de calhasinstaladas no telhado das casas earmazenada em caixas de fibra de vidrocom capacidade para mil litros, providasde torneira. Em seguida, é submetida aoum processo de desinfecção – o sistemaSODIS.

O PROJETO “ÁGUA EM CASA, LIMPA E SAUDÁVEL”

Figura 1: calha ao redor da casa. Fonte: Cáritas de Belém (2007)

Figura 2: Caixa de fibra de vidro e garrafas de plástico expostas ao sol

Fonte: SEDURB (2007)

O PROJETO “ÁGUA EM CASA, LIMPA E SAUDÁVEL”

• O projeto “Água em Casa, Limpa e Saudável”,foi implantado pela Cáritas de Belém, paracontribuir na melhoria das condições de vidados moradores das ilhas Nova, Jutuba eUrubuoca, que possuem aproximadamente 600habitantes, que sobrevivem da agricultura, caçae pesca.

OBJETIVO GERAL

• Analisar o projeto "Água em Casa, Limpae Saudável", do ponto de vista de seuplanejamento, implantação e gestão, à luzda Promoção da Saúde.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Identificar as percepções dos moradores usuáriosda intervenção sobre como a mesma foi planejadae implantada e como está sendo gerida;

• Identificar as percepções dos idealizadores eexecutores da intervenção (engenheiros, técnicos,diáconos, sacerdotes, entre outros), a respeitodos mesmos aspectos citados no item anterior;

• Analisar as percepções identificadas sob a óticada Promoção da Saúde.

JUSTIFICATIVA

• O projeto “Água em Casa, Limpa e Saudável”está sendo replicado pela Cáritas de Belém emoutras localidades, além das ilhas estudadas notrabalho.

• Assim, é importante verificar se a forma comoestá sendo conduzido em cada comunidadefavorece a mobilização das mesmas para queos altos objetivos a que se propõe sejamalcançados.

CARACTERIZAÇÃO DAS ILHAS

• As ilhas não dispõem de sistema deabastecimento de água convencional.

• A utilização das águas da Baía de Guajará parafins de potabilidade não é possível devido a suamá qualidade.

• Não há a possibilidade de extrair águasubterrânea devido à contaminação do solo.

PROMOÇÃO DA SAÚDE E SANEAMENTO

• A Promoção da Saúde, enquanto teoria, nasceuno Canadá, na década de 70.

• A Carta de Ottawa afirma que a Promoção daSaúde consiste em proporcionar aos povos osmeios necessários para melhorar sua saúde eexercer um maior controle sobre a mesma(Carta de Ottawa,1986).

PROMOÇÃO DA SAÚDE E SANEAMENTO

• Promoção da saúde é o conjunto de atividadesque visam a melhoria da qualidade de vidaatravés da criação de subsídios que favoreçama população o maior controle sobre a sua saúdee condições de vida a nível individual e coletivo(Gutierrez, 1994 apud Buss, 2000; Gutierrez etal., 1997 apud Buss, 2000).

Diferenças práticas entre o saneamento como promoção da saúde e como prevenção de doenças

CATEGORIAS SANEAMENTO COMO PROMOÇÃO DA SAÚDE

SANEAMENTO COMO PREVENÇÃO DE

DOENÇASObjetivos dos projetos Implantar sistemas visando

contribuir para mudanças nasituação dos indivíduos e deseu ambiente e com issoerradicar a doença,melhorando a performancede indicadores sociais, desaúde e ambientais, ou seja,a qualidade de vida.

Implantar sistemas visandoobstaculizar a interaçãoagente-suscetível e com issoimpedir a manifestação dadoença, melhorando aperformance de indicadoresepidemiológicos e ambientais

Preocupação quanto àsustentabilidade das ações

Sustentabilidade dossistemas para alcançar osobjetivos dos projetos

Sustentabilidade dossistemas para alcançar osobjetivos dos projetos

Articulação entre políticas,instituições e ações

Articulação institucional einter-institucional paraempoderamento.

Articulação institucional einter-institucional paraimplantação de sistemas

Fonte: Souza e Freitas (2006)

Diferenças práticas entre o saneamento como promoção da saúde e como prevenção de doenças

CATEGORIAS SANEAMENTO COMO PROMOÇÃO DA SAÚDE

SANEAMENTO COMO PREVENÇÃO DE

DOENÇASModelo de intervenção Participativo, adaptativo;

intersetorial (entre técnicos epopulação)

Adaptativo; tecnicista;intersetorial (entre setorestécnicos)

Estratégias Educação sanitária eambiental voltada para oempoderamento.Negociação entre todos osatores envolvidos

Educação sanitária eambiental voltada paraensinar novos hábitos ecostumes. Convencimentoda população alvo

Executores dos projetos Órgão responsávelcompartilhando com outrosórgãos oficiais eorganizações da sociedade

Órgão responsável(engenheiros e sua equipede educação ambiental)

Modelo de gestão Participativo; intersetorial;contextualizado; adaptativo;inclusivo

Impositivo; tecnicista;adaptativo (em termostécnicos)

Fonte: Souza e Freitas (2006)

MÉTODO

• Para a identificação das percepções dossujeitos da pesquisa foram realizadasentrevistas gravadas em áudio, baseadas emum diálogo informal orientado por um roteiro.

MÉTODORoteiro de perguntas para os usuários:

1) De onde a senhora tirava a água antes doprojeto para atender suas necessidades?

2) Havia algum tipo de tratamento? A senhorafervia a água ou filtrava? A senhora colocavaalguma coisa antes de beber?

3) Como a senhora ficou sabendo do projeto? Asenhora foi convidada a participar?

4) A senhora recebeu alguma orientação de comoiria funcionar o sistema? Quem orientou asenhora?

5) Existe alguma dificuldade na instalação ou naforma de usar o sistema?

6) O que a senhora está achando do projeto?Está tendo resultados positivos ou negativos?

MÉTODO

MÉTODO

Roteiro de perguntas para os idealizadores/executores:

1) De onde partiu a idéia para a realização desse projeto?;2) Porque escolheram essas ilhas para implantar esse

projeto?; 3) De onde foi adotada a tecnologia empregada?;4) Deu certo onde foi implantado?;5) Quais foram as maiores dificuldades para a implantação

do projeto?

Resumo das respostas obtidas entre asusuárias

PERGUNTA RESPOSTAS OBTIDAS

1) De onde a senhora tirava a água antes doprojeto para atender suas necessidades?

de ilhas próximasde Icoaracido riodireto da chuva

2) Havia algum tipo de tratamento? A senhorafervia a água ou filtrava? A senhora colocavaalguma coisa antes de beber?

adicionava produtos químicosferviafiltravanão fazia nada

3) Como a senhora ficou sabendo do projeto? Asenhora foi convidada a participar?

convidada pelo pároco localconvidada por professores, ou pelo pessoalda igreja católica

4) A senhora recebeu alguma orientação de comoiria funcionar o sistema? Quem orientou asenhora?

o guardador das caixas d’águao engenheiro e o padreprofessores locaispessoal do projeto

5) Existe alguma dificuldade na instalação ou naforma de usar o sistema?

não há dificuldadeos preguiçosos têm dificuldadedá trabalho, mas antes era pior

6) O que a senhora está achando do projeto?Está tendo resultados positivos ou negativos?

resultados positivos

Trecho de uma resposta obtida na ilha Nova -Como a senhora ficou sabendo do projeto?

• E12 Por intermédio do Padre que veio aqui (...),aí ele viu as nossas condições, aí ele foi e faloucom um..., agora eu não sei com quem foi queele falou... Eu sei que ele falou lá com umpessoal, aí parece que foi da Cárices (Cáritas),aí ele trouxe as caixas (d’água) pra lá (...).

Resumo das respostas obtidas entre idealizadores/executores

PERGUNTA RESPOSTAS OBTIDAS

1) De onde partiu a idéia para a realização desse projeto?

de visitas às ilhas identificando a carência deágua potável e o risco de naufrágio

2) Porque escolheram essas ilhas para implantaresse projeto?

pela facilidade de acesso para fazer oacompanhamentopelo descaso do poder público

3) De onde foi adotada a tecnologia do sistemaSODIS?

da região nordestina

4) Deu certo onde foi implantado? deu certo em todos os lugares

5) Quais foram as maiores dificuldades para aimplantação do projeto?

a questão financeiraa aceitação pela população

• V1- Nós dissemos que poderíamos fazer umaadaptação do projeto que tem lá no nordestesemi-árido, que eles captam água da chuvatambém. Lá, chove dois meses por ano, e aquichove muito mais que dois meses, a estiagemaqui é pequena. Só que lá, um detalhe: lá éseco; aqui nas ilhas é molhado, tudo alagado. Ainós fizemos essa adaptação. Fizemos o estudo.

Trecho de uma resposta obtida de um dosidealizadores/executores - De onde foi adotadaa tecnologia empregada?

DISCUSSÃO

• As respostas obtidas para a pergunta 3 dosusuários e para as perguntas 1, 2 e 3 dosidealizadores permitiram constatar que aintervenção foi concebida na perspectivapreventivista do saneamento, descrita porSouza e Freitas (2006) e Souza, Freitas eMoraes (2007).

DISCUSSÃO

• Referente à categoria modelo de intervenção,observou-se que o saneamento é visto comopreventivista, já que foi adaptativo, tecnicista eintersetorial (entre setores técnicos), enquantoque um saneamento voltado para a promoçãoda saúde caracteriza-se por ser participativo,adaptativo e intersetorial (entre técnicos epopulação).

DISCUSSÃO

• No que se refere à categoria estratégias,observa-se pelas respostas que o principalrecurso utilizado foi o convencimento dosmoradores, primeiro para aceitar a implantaçãodo sistema em sua casa, e depois para operá-locorretamente.

DISCUSSÃO

• Essa forma de atuação se aproxima daprevenção de doenças.

• O saneamento preventivista utiliza os recursoseducativos, dentro de uma proposta deeducação sanitária e ambiental, para ensinarnovos hábitos e costumes à população.

DISCUSSÃO

• Em relação à categoria executores dos projetos,as respostas das perguntas 3 dos usuários e 2dos idealizadores também revelam a marcapreventivista da intervenção: o órgãoresponsável (engenheiros e sua equipe deeducação ambiental) assume integralmente aexecução do projeto.

DISCUSSÃO

• A categoria modelo de gestão, foi vista comopreventivista de acordo com as revelações dosusuários ao responder as perguntas 3 e 4.

DISCUSSÃO

• A educação ambiental que se limita a repassarrecomendações para o uso correto dedeterminado recurso não é capaz de produzirum acréscimo de conscientização nosindivíduos e comunidades (Rozemberg, 1998),(Souza e Freitas, 2006), e (Souza, Freitas eMoraes, 2007).

CONCLUSÃO

• Os resultados obtidos não podem serextrapolados, uma vez que foram feitasentrevistas apenas com uma pequenaparcela da população das ilhas

CONCLUSÃO

• No entanto, dentro desse limite, pode-sedizer que o projeto “Água em Casa Limpae Saudável”, no que tange aoplanejamento, implantação e gestão,esteve associado à uma concepçãopreventivista do saneamento

CONCLUSÃO

• Pode-se dizer, também, que essaassociação :

1. não é proposital;

2. em nada tira o mérito de iniciativa da

Cáritas

RECOMENDAÇÕES

• Com o intuito de oferecer contribuição aos idealizadoresdo projeto, pode-se recomendar:

1. a convivência diuturna com a população para queconheçam melhor seus hábitos e costumes e, dessaforma, realizem o planejamento e a implantação emconjunto com ela;

2. a busca constante de parcerias com o setor publico,pois o mesmo é o responsável por assegurar osdireitos do cidadão ao saneamento

Obrigada !

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