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PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA
FICHA PARA CATÁLOGO
PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA
Título Leitura e interpretação de anúncios
publicitários: uma proposta à luz da AD
francesa
Autor Marlene Fátima Reis dos Santos
Escola de Atuação Escola Estadual Cândido Portinari. Ensino
Fundamental.
Município da escola Ampére - PR
Núcleo Regional de Educação Francisco Beltrão
Orientador Profª Franciele Luzia de Oliveira Orsatto
Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual do Oeste do Paraná
– UNIOESTE, Campus de Cascavel – PR
Disciplina/Área (entrada no PDE) Língua Portuguesa
Produção Didático-pedagógica Unidade Didática
Relação Interdisciplinar
Público Alvo Alunos do 9º ano do Ensino Fundamental.
Localização Escola Estadual Cândido Portinari. E. F.
Rua Presidente Kennedy, 1043
Ampére – PR. Fone (46) 3547 - 1392
Apresentação: Apresenta-se esta produção didática,
fundamentada na Análise de Discurso
francesa, com o objetivo de ampliar a visão
do aluno em relação à leitura crítica,
observando as relações de poder e
ideologias presentes nos discursos dos
anúncios publicitários. A importância desse
trabalho justifica-se, primeiramente, pela
presença cada vez mais significativa da
mídia no cotidiano das pessoas. Daí a
necessidade de chamar a atenção dos
alunos para que, ao lerem o texto,
percebam que este não é ingênuo,
estimulando-os a refletir sobre o(s)
sujeito(s) que produzem e que interagem
com o texto, bem como sobre a situação
sócio-histórica em que esse processo
ocorre. Esta Unidade Didática apresenta
propostas de atividades de leitura e
interpretação de anúncios publicitários
direcionados para alunos do 9º ano do
período noturno, propondo que estes
realizem uma leitura crítica, reflexiva e
questionadora, desvencilhando-se das
sedutoras armadilhas que os textos
midiáticos apresentam.
INTRODUÇÃO
O presente material didático, organizado em forma de unidade didática, tem como
objetivo apresentar uma proposta prática de leitura e interpretação de anúncios publicitários,
fundamentada teoricamente na Análise do Discurso de filiação francesa. Objetiva-se levar o
aluno a ampliar sua visão crítica, estimulando-o a atribuir sentido ao que lê a partir do
reconhecimento das relações entre o texto e o contexto sócio-histórico-ideológico a partir do
qual os sentidos são construídos. Assim, conceitos como interdiscurso, polifonia, alteridade,
ideologia e historicidade são tomados como norteadores deste trabalho.
Acredita-se que o desenvolvimento das atividades propostas, aliado à reflexão sobre
a AD pelos docentes e sobre as contribuições que tal teoria pode fornecer ao ensino, poderá
contribuir, de forma significativa, para a formação de cidadãos críticos em relação aos
diferentes discursos que circulam socialmente.
OBJETIVO GERAL
1. Ampliar a visão do aluno em relação à leitura crítica, observando as relações de
Ao professor O objetivo desta discussão
inicial é que, ao lerem o
texto, os alunos possam
compreender melhor os
discursos que os cercam e
terem condições de interagir
com esses discursos,
posicionando-se
criticamente e refletindo
sobre a influência da mídia
em nosso cotidiano.
Leitura complementar:
Platão, A República.
poder e manifestações da ideologia presentes nos discursos dos anúncios
publicitários.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1. Analisar o papel da publicidade nas nossas atitudes, valores, ideias, gostos e
sentimentos.
2. Oferecer instrumentos para que os alunos tenham uma visão reflexiva e
crítica em relação à publicidade.
3. Contribuir para a formação de cidadãos críticos, conscientes de seu papel.
UNIDADE DIDÁTICA
Para ler e refletir: você já ouviu falar no mito da caverna?
O MITO DA CAVERNA
O mito da caverna, também conhecido como Alegoria
da Caverna, foi escrito pelo filósofo Platão. Trata da
exemplificação de como podemos nos libertar da condição de
escuridão que nos aprisiona através da luz da verdade.
O escrito conta que existem alguns prisioneiros numa
caverna e que ali permanecem acorrentados desde que
nasceram. Estão presos de tal forma que tudo q que veem
são sombras projetadas na parede diante deles. As sombras
são os reflexos de uma fogueira que arde atrás, mais em
cima. Como tudo o que os prisioneiros conhecem são as
sombras, eles acham que aquela é toda a realidade que
existe.
Mas, um belo dia, um deles consegue se soltar dos grilhões. Enfrentando os
obstáculos de um caminho íngreme e difícil, sai da caverna. No primeiro instante, fica
totalmente cego pela luminosidade do sol, com a qual seus olhos não estão acostumados.
Enche-se de dor por causa dos movimentos que seu corpo realiza pela primeira vez e pelo
ofuscamento de seus olhos sob a luz externa, muito mais forte do que o fraco brilho do fogo
Para discutir
1. O que representa a caverna?
2. O que representam as sombras projetadas no fundo? E a luz do sol?
3. O que são os grilhões e as correntes?
4. Como você avalia a atitude do prisioneiro que resolveu sair da caverna?
5. O que é o mundo iluminado?
6. Qual é o instrumento que liberta o prisioneiro rebelde, com o qual ele deseja libertar os
outros prisioneiros?
que havia no interior da caverna. Sente-se dividido entre a incredulidade e o
deslumbramento. Incredulidade, porque será obrigado a decidir onde sé encontra a
realidade: no que vê agora ou nas sombras em que sempre viveu; deslumbramento, porque
seus olhos (literalmente feridos pela luz) não conseguem ver com nitidez as coisas
iluminadas. Ainda atraído pela escuridão, que lhe parece mais acolhedora, seu primeiro
impulso é o de retornar à caverna para livrar-se da dor e do espanto. Além disso, precisa
aprender a ver e esse aprendizado é doloroso, fazendo-o desejar a caverna, onde tudo lhe é
familiar e conhecido.
Sentindo-se sem disposição para regressar à caverna por causa da rudeza do
caminho, o prisioneiro permanece no exterior. Aos poucos, habitua-se à luz e começa a ver
o mundo. Encanta-se, tem a felicidade de finalmente ver as próprias coisas, descobrindo
que estivera prisioneiro a vida toda e que em sua prisão vira apenas sombras. Doravante,
desejará ficar longe da caverna para sempre e lutará com todas as suas forças para jamais
regressar a ela. No entanto, não pode evitar lastimar a sorte dos outros prisioneiros e, por
fim, toma a difícil decisão de regressar ao subterrâneo sombrio para contar aos demais o
que viu e convencê-los a se libertarem também. Que lhe acontece nesse retorno? Os
demais prisioneiros zombam dele, não acreditando em suas palavras e, se não conseguem
silenciá-lo com suas caçoadas, tentam fazê-lo espancando-o. Mesmo assim, ele teima em
afirmar o que viu e os convida a sair da caverna, o que leva os prisioneiros a matá-lo. Mas,
quem sabe alguns podem ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidir sair da
caverna rumo à realidade.
Para discutir
1. Após ter assistido ao vídeo “A evolução do mito da caverna”, que relação é possível
estabelecer com o texto “O mito da caverna”?
2. Você acredita que a mídia exerce influência sobre nós? Comente.
3. Como é o nosso comportamento diante da mídia?
4. Em sua opinião, atualmente, uma pessoa consegue viver sem se deixar seduzir pela
mídia?
5. A mídia pode ser considerada um instrumento de poder? Por quê?
O mito da caverna: nova versão
Sabemos que a mídia está cada vez mais presente no cotidiano das pessoas,
atingindo a todos sem distinção de faixa etária. Agora assistiremos ao vídeo “A evolução do
mito da caverna” (Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=I9qPYb_N3ng), para
então refletir a respeito da influência da mídia em nossas vidas.
Observe os anúncios distribuídos por seu professor. Faça uma leitura atenta de cada
anúncio e discuta com seus colegas:
1. Qual a temática explorada nos anúncios?
2. Que tipo de necessidade ou aspiração os anúncios procura explorar?
3. A que tipo de público eles se dirigem? Que valores esse público teria – ou deveria ter –
segundo cada anúncio?
4. Qual anúncio mais chamou a sua atenção? Por quê?
5. Qual a imagem que mais seduziu? Por quê?
6. De maneira geral, para quem são direcionados os anúncios publicitários?
7. Com que objetivos os anúncios são geralmente produzidos?
8. De quais recursos esses textos se utilizam para chamar a atenção do consumidor?
9. Por que é importante ler criticamente anúncios publicitários?
Ao professor Agora, para introduzir o trabalho com o gênero anúncio publicitário, apresente aos alunos
anúncios locais e selecione previamente também em revistas, jornais, TV, internet, folders,
panfletos, outdoors, rádio etc., anúncios dirigidos ao público jovem. Organize a turma em grupos.
Em seguida, peça que cada participante escolha um anúncio propondo que façam uma leitura
crítica de um ou dois anúncios escolhidos pelo grupo.
O objetivo desta atividade é refletir sobre as estratégias usadas pelo anunciante e a
exploração da linguagem, incluindo a forma de utilizar as imagens, as cores, as palavras e as
situações representadas, observando o poder de sugestão dos textos.
Para melhor compreender o quanto somos influenciados pelos anúncios publicitários vamos
ouvir, ler e analisar a música “Subprodutos”, da banda Dead Fish (Disponível em
http://letras.terra.com.br/dead-fish/78992/).
Subprodutos - Dead Fish
A felicidade é para poucos
(...)
A ironia é desejar e nunca ter
A propaganda diz: você precisa!
(...)
Um produto pra te tornar especial
Consumo necessário and very cool
Não seja um perdedor
(...)
Subproduto do subproduto
De todo conceito que cria a cultura
Do subproduto da massa ou da elite
O que somos nós?
(...)
Ao professor Bakhtin, linguista russo cujos estudos fundamentam as Diretrizes Curriculares Estaduais
(DCEs), afirma que cada esfera de utilização da língua elabora seus “tipos relativamente estáveis de
enunciados, sendo isso o que denominamos gêneros do discurso. Bakhtin não é analista de
discurso, porém, seus estudos dialogam, em muitos aspectos, com a perspectiva adotada pela AD
francesa. Assim, é importante, também, considerar suas contribuições para o ensino de língua
portuguesa.
O enunciado, para Bakhtin (2003, p. 182), reflete as condições específicas e as finalidades de
cada uma das esferas discursivas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, pela
seleção operada nos recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais – mas,
sobretudo, por sua construção composicional.
A partir do que é exposto por Bakthin, revela-se a necessidade de apresentar ao aluno o
conhecimento dos gêneros discursivos, não só nos seus aspectos linguísticos, como também na sua
composição e contexto de produção para que ele possa participar ativamente dos processos sócio-
históricos em que está inserido.
De acordo com esse teórico, a riqueza e a variedade dos gêneros discurso são infinitas, pois
a variedade da atividade humana é inesgotável e cada esfera dessa atividade comporta um
repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se, à medida que a própria
esfera se desenvolve e fica mais complexa (BAKTHIN, 1992, p. 275). Se não existissem gêneros e não
os dominássemos, isto é, se precisassem ser criados no momento da interação verbal, a
comunicação seria quase impossível.
Nessa perspectiva, a língua é compreendida a partir de sua mobilidade, dinamicidade e
fluidez. Considera-se a imprecisão da linguagem e os textos não são aprisionados em determinadas
propriedades formais. Torna-se necessário, então, reconhecer que a relação estabelecida entre o
material linguístico e o seu entorno (isto é, o extralinguístico, que também o constitui) é
fundamental para que o texto produza sentido(s).
(...)
Buscando sempre o diferencial
O importante é nunca se deixar levar
Intransigente diferença torna igual
(...)
A propaganda diz: você precisa!
O desejo sempre se parece o mesmo
Massificado ou customizado
(...)
Cientistas criando novas soluções
Artistas sendo originais
Médicos fazendo pílulas legais
Escolha!
Escolha!
1. Para você, qual é a mensagem dessa música?
2. Qual a visão que o texto passa sobre o consumismo?
3. Você concorda com a visão do texto?
4. Conseguimos compreender facilmente os discursos perpassados pela mídia ou
muitas vezes, sem perceber, somos levados de forma sutil a consumir o que é
anunciado por esses meios? Comente.
5. Que ações são necessárias por parte de todos para discernir o que deve ou não ser
absorvido dos anúncios publicitários e mensagens da mídia? Em sua opinião, como
podemos ser mais críticos diante de tantos apelos?
6. Na segunda estrofe, há um estrangeirismo (nome que damos ao emprego de
palavras de outras línguas). Em qual língua está escrita? O sentido que podemos
construir a partir desse termo seria o mesmo se a palavra estivesse escrita em
português?
7. Observamos que palavras e expressões em inglês são muito utilizadas em textos e
principalmente na publicidade. Qual efeito o uso dessas palavras em mensagens
publicitárias provoca no leitor?
8. Leia novamente o seguinte trecho:
“Buscando sempre o diferencial
O importante é nunca se deixar levar
Intransigente diferença torna igual”
Neste trecho, há dois termos opostos que são colocados no mesmo verso, que
indicam uma contradição. Qual é essa contradição e qual a relação podemos
estabelecer com o universo da publicidade e do consumismo?
9. Observe atentamente os versos:
“O desejo sempre se parece o mesmo
Massificado ou customizado”
O que é algo customizado? Qual é esse desejo que, massificado ou customizado,
parece sempre o mesmo?
Observa-se que, na letra, há o pressuposto de que para vender se faz necessário
propagar ideias e que o sujeito é influenciado de maneira rápida e fácil, inclusive, deixando
de lado certos valores para avançar rumo à conquista de bens materiais. Nesta música,
percebe-se, ainda, a influência da propaganda na constituição da subjetividade do sujeito
(consumidor), que, ao mesmo tempo em que é influenciado, nem sempre questiona o preço
que poderá pagar pela satisfação do seu desejo de consumo.
A propaganda provoca em nós o desejo de ter; mas será que todos têm acesso ao
que a mídia mostra? E o “ser” é valorizado pela mídia e pela propaganda? É possível dizer
que a propaganda, que chega até nós por meio dos meios de comunicação (TV, rádio,
Internet, outdoors etc), leva-nos ao consumismo, isto é, somos conquistados pela vontade
de ter. Tendo em vista este objetivo, muitos recursos são usados para nos conquistar, para
que compremos os produtos ofertados.
Agora, vamos ao laboratório de informática e à biblioteca para pesquisar, em sites,
revistas e jornais, anúncios publicitários. Em seguida, na sala de aula, juntamente com a
professora e colegas, vamos fazer um levantamento das peculiaridades desse gênero
textual, procurando conhecer o suporte onde esse gênero é encontrado, sua construção
composicional (que envolve termos específicos e tempos verbais utilizados, vocabulário e
recursos visuais empregados, marcas linguístico-enunciativas etc.), contexto de produção,
relação entre autor/leitor/texto e conteúdo temático.
IMPORTANTE!
Os ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS são textos, em geral com palavras e imagens (na TV, também com
som e movimento), que têm o objetivo de provocar nas pessoas o desejo ou a necessidade de
comprar alguma coisa, de usar algum serviço ou de adotar certos comportamentos.
ATIVIDADES
Agora, vamos assistir a um comercial da TV. Você deve assistir a ele várias vezes, pois a
cada exibição você deverá observar e verificar novas informações.
http://www.youtube.com/watch?v=TCv3RnXIGT0
Responda:
1. A propaganda divulga os benefícios de um produto, de um serviço ou de uma
idéia?
2. A que público se destina (sexo, faixa etária, formação cultural, classe social,
profissão)?
3. Quais apelos estão em destaque (emoções, valores, conceitos)?
4. Como se apresentam os recursos visuais e sonoros?
5. Qual é o seu conceito a respeito de quem dirige embriagado?
6. Que conselhos estão presentes na propaganda?
7. Expresse suas observações aos colegas, trocando idéias.
8. Costuma-se fazer uma diferenciação entre propaganda (textos que objetivam
divulgar ou propagar ideias e comportamentos) e publicidade (textos que objetivam
vender produtos e serviços). Sabendo disso, responda: como podemos classificá-
lo? Trata-se de uma propaganda ou de uma publicidade?
Agora que já você conhece os gêneros textuais anúncio publicitário e propaganda,
vamos conhecer, de maneira mais aprofundada, os elementos que os estruturam, para que
possamos observar atentamente esse gênero textual tão presente em nossos dias e que
explora nossas necessidades, identificando nosso ego e, por meio de estratégias
específicas, seduz-nos ao ato da compra.
A propaganda e a publicidade possuem um conjunto de características linguísticas
que, aliado aos elementos do seu contexto de produção, a identificam. São textos que
explorarm o texto verbal e o não-verbal, muitas vezes polissêmicos. Que tal tornar-se um
leitor mais proficiente desses gêneros discursivos? Então vamos lá!
Um pouco da História da Propaganda
Agora vamos conhecer um pouco sobre a história da propaganda. Primeiro
precisamos diferenciar publicidade de propaganda que, como você já viu, apresentam
objetivos diversos. Costumamos utilizar publicidade e propaganda como se fossem
sinônimos. Ambas são realmente bem parecidas, pois usam técnicas semelhantes de
convencimento e persuasão. No entanto, existe uma distinção entre os dois termos.
Publicidade – seu objetivo é basicamente comercial: divulgar serviços ou produtos. É
“tornar público”. A publicidade é voltada a um mercado consumidor.
Propaganda – dissemina ideias e conceitos. Ela é uma comunicação persuasiva, ou
seja, busca influenciar as opiniões e os sentimentos do público. A propaganda pode ser de
caráter comercial ou não. Pode ser política, religiosa, ideológica.
Foi no século XVII que começaram a aparecer os anúncios nos jornais como os
conhecemos hoje. Eles eram basicamente informativos: profissionais independentes, como
relojoeiros e costureiras, divulgavam seus serviços, proprietários anunciavam leilões ou
venda de imóveis etc.
Nos Estados Unidos, no século XIX, surgiram as primeiras agências de publicidade.
Em princípio, elas apenas gerenciavam os espaços da publicidade nos jornais. Aos poucos,
começaram a produzir as mensagens publicitárias para seus clientes.
No Brasil, o primeiro anúncio de que se tem notícia surgiu em 1808 e foi veiculado na
Gazeta do Rio de Janeiro: “Quem quiser comprar uma morada de casas de sobrado de
frente para Santa Rita, fale com Joaquina da Silva, que mora nas mesmas casas”.
Em seguida, começam a surgir pequenos textos nos quais eram oferecidos vários
serviços, como aulas de idioma, casas à venda ou para alugar e ofertas de escravos. Em
1875, com os jornais Mequetrefe e O Mosquito, encontram-se os primeiros anúncios com
ilustrações, desenhos e litrogravuras.
IMPORTANTE!
A estrutura de um texto publicitário geralmente apresenta estes componentes: slogan, ilustração e texto.
O slogan é uma frase curta e atraente que mostra as qualidades do produto anunciado; a ilustração (ou imagem) é um recurso visual que visa chamar a atenção do leitor e que muitas vezes “diz” mais do que o texto verbal; e o texto, além de informar sobre o produto, reforça apenas suas qualidades. Ou seja: um texto desse tipo dificilmente vai mencionar problemas e defeitos do produto ou dificuldades que poderão surgir quando o consumidor adquiri-lo.
A primeira agência de publicidade do Brasil foi a Eclética, que surgiu um pouco antes
da Primeira Guerra mundial.
Com a chegada do rádio, a cara da publicidade mudou. A oralidade passou a ser
fundamental, voltada para um público mais amplo. As empresas patrocinavam noticiários,
programas humorísticos e seriados. Além da voz, os anúncios radiofônicos traziam os
jingles – pequenas músicas comerciais que ajudavam o consumidor a jamais esquecer do
produto.
No início da história da televisão no Brasil, como não havia videoteipe, tudo era
transmitido ao vivo. Era comum os garotos propaganda esquecerem o texto ou ocorrerem
problemas técnicos.
Nos anos 50, a indústria no Brasil era bastante frágil, e assim era também a
publicidade nacional. Com a importação dos produtos das multinacionais, também foi
importado o modelo publicitário dos EUA, que propagava o “modo de vida americano” – que
associava a felicidade familiar à compra de bens de consumo.
Nos anos 60 e 70, com o crescimento do mercado consumidor, a publicidade inicia
um período de grande criatividade. Os profissionais ligados a ela começaram a ser muito
respeitados.
Na virada do século XXI, a publicidade já está por toda parte. Além dos meios
tradicionais, como revistas jornais, rádio e TV, ela ocupa outdoors nas ruas, a camisa e o
calção dos times de futebol. Há o merchandising nas novelas. Na internet, a publicidade
invade de sites e as caixas postais dos usuários pelos chamados spams. Hoje, ela está nos
lugares mais inusitados!
Leia mais sobre a propaganda!
“A linguagem da propaganda” –VESTERGARD, Torben, SCHRODER, Kim, São Paulo: M.
Fontes, 2004..
Agora vamos ler um anúncio de uma empresa de produtos de limpeza, que você
pode encontrar no link http://www.youtube.com/watch?v=TI1YiwfCmu0 Em seguida, faça as
atividades abaixo.
TEXTO - BOMBRIL
Uma linha completa para deixar as suas roupas gostosas, macias e cheirosas. Não
que o tosco do seu marido vá notar.
Bombril. Os produtos que evoluíram com as mulheres.
ATIVIDADES
1) Quem é o anunciante deste texto?
2) O que mais se destaca neste anúncio?
3) Que apelo é feito no anúncio? Qual é a intenção deste texto?
4) Antes de iniciar a análise do texto, procure o significado da palavra tosco.
5) Qual era a função do homem em épocas passadas?
6) Qual era o papel da mulher em outras épocas e como é atualmente, com a expansão do
mercado de trabalho?
7) O homem é tão valorizado quanto a mulher pela mídia?
8) A que público esse anúncio é dirigido: adultos (homens ou mulheres), adolescentes ou
crianças? Justifique.
9) No anúncio, se o a palavra “marido” fosse substituída por “esposa” e a palavra
“mulheres” fosse substituída por “homens” (fazendo as adaptações gramaticais
necessárias), o sentido seria o mesmo? Você acha que a reação das pessoas, ao ler o
anúncio, seria a mesma? Comente.
10) Você acha que o produtor desse texto utiliza-se de estratégias para convencer o
consumidor a adquirir o produto? Quais são elas? Aponte todos os recursos que o autor
usou para atrair o público leitor.
11) Que ideias (valores, princípios, concepção de mundo) são veiculados por meio do
anúncio e como elas são apresentadas (de modo explícito ou implícito)?
12) Você gostou da propaganda? Por quê?
Nas últimas décadas, percebe-se uma preocupação crescente com a publicidade e
com o público a que ela se dirige. Uma prova disso é a diversidade de profissionais
envolvidos em um texto publicitário. Mais do que uma transmissão de informação, temos
toda uma encenação e um trabalho gráfico cuidadosamente planejado para que o produto
anunciado seja bem-sucedido. Porém, deve-se destacar que isso não garante que o sentido
pensado pelos produtores do texto coincida com os efeitos de sentido que o leitor constrói a
partir do texto, considerando-se sua relação com o extralinguístico.
Observe no texto retirado da revista Contigo ed. Nº 1859 do dia 05 de maio de
2011. A propaganda de medicamentos genéricos apresenta uma imagem com pano de
fundo um lindo céu azul e um campo com flores silvestres, a frente uma mãe com seu filho
no colo. Ao lado o slogan “Onde existe colo de mãe, existe confiança”... Você encontrará
como foi feita a apresentação do produto na integra procurando o texto na revista citada
acima.
ATIVIDADES
1) Complete:
a) Produto anunciado: _______________________________________________;
b) Público-alvo _____________________________________________________;
2) Que recursos o anúncio parece usar a fim de chamar a atenção para o produto que
anuncia?
3) Qual a relação entre a foto e o texto do anúncio?
4) Leia o slogan do anúncio: “Onde existe colo de mãe, existe confiança”. Que relação
podemos estabelecer com “colo de mãe” e o produto anunciado?
5) Que recursos o anúncio usa a fim de chamar a atenção para o produto que anunciado?
6) Qual a sensação que a imagem da mulher e da criança transmite? Justifique sua
resposta com elementos da imagem.
7) Qual a função da imagem nesse anúncio: contribuir para sua clareza ou atrair a atenção
do leitor? Explique.
8) Como foram usadas as cores no anúncio e que efeitos de sentido podem ser
depreendidos da forma como foi feita essa utilização?
Para refletir, faça a leitura do texto “Eu etiqueta” de Carlos Drummond de Andrade. É
uma poesia, portanto um gênero textual que não tem nenhuma intenção de divulgar um
produto, apenas utiliza recursos literários para mostrar, de forma muito sutil, como nós
somos influenciados pela propaganda, adotando um estilo que nem sempre é próprio.
Eu, Etiqueta
Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
(...)
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
(...)
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
(...)
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar a minha identidade,
(...)
Agora sou anúncio,
ora vulgar, ora bizarro,
(...)
E nisto me comprazo, tiro glória
da minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
(...)
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
(...)
objeto pulsante, mas objeto
que se oferece como signo de outros
(...)
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem,
meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.
Carlos Drummond de Andrade. O Corpo. Rio de
Janeiro, Record, 1984, p.85-87.
ATIVIDADES
1. Por que o poeta se sente homem anúncio itinerante?
2. Qual a concessão que, segundo o poeta, deve se fazer para “estar na moda”?
3. Em que momento do texto o poeta questiona a perda da liberdade na escolha do
produto, segundo a maneira de ser do indivíduo?
4. No trecho “peço que meu nome ratifiquem”, por que se faz esse pedido?
5. Como ele pede para ser chamado?
6. Você acredita que o estilo das roupas, de tênis etc., revela a personalidade de uma
pessoa? Por quê?
7. Tudo o que a mídia apresenta provoca o desejo de ter. E assim o sujeito não se vê,
perde sua identidade, começa a desejar o que o outro quer. Que tipo de
comportamentos isso desencadeia?
8. Que relação é possível fazer entre o poema de Carlos Drummond e os versos “
intransigente diferença que nos torna iguais” da letra da música Subprodutos de
Dead Fish?
VAMOS CRIAR UM POUCO!
Chegou a sua vez de produzir um anúncio publicitário. A turma será dividida em
cinco grupos. Cada grupo será responsável pela produção de um anúncio. Reúna-se com
seu grupo para produzir seu próprio anúncio publicitário ou propaganda. Para isso você vai
inventar um produto, um serviço ou uma ideia.
Atenção: Lembrem-se dos recursos da arte de persuadir. Quais recursos visuais
vocês pretender utilizar? Desenhos, pinturas, fotos, colagens? Será feito à mão ou no
computador? Reflita sobre como fazer: pensando no público-alvo e no assunto, discuta com
seus colegas as cores e qual tipologia poderia ser a mais adequada. Crie um slogan. Não
deixe de dar um nome criativo, procurando fazer dele um recurso para atrair a atenção de
seu potencial consumidor.
Pronto? Agora vocês vão divulgá-lo. Para criar uma campanha publicitária eficiente,
lembre-se de que:
Em seu texto, não pode faltar:
- o nome em destaque:
- a imagem, que dará vida à propaganda (pode ser um desenho ou uma colagem);
- um texto criativo e interessante.
- o slogan - uma ou mais frases inteligentes, objetivas, que destacam o que se quer
anunciar. Um bom slogan é capaz de atrair a atenção do público visado. Deve, de forma
breve, resumir a idéia que se quer passar.
- o logotipo, a representação gráfica utilizada para enfatizar.
Cuide para que seu texto esteja de acordo com a imagem e procure empregar os
recursos de que a língua dispõe:
- frases curtas, que tornam a linguagem mais clara, objetiva, concisa;
- verbos no imperativo, incentivando o leitor a seguir um conselho;
Quando seus anúncios estiverem prontos, você e seus colegas irão expô-los no
mural da escola, para que todos conheçam seus talentos criativos.
Proposta 1 – Anúncio publicitário Proposta 2 - Propaganda
Juntamente com seu grupo escolha um
produto ou crie um anúncio.
Inventem o nome de uma marca para esse
produto (um nome bem chamativo ou
engraçado!).
Examinem o produto. Qual a utilidade dele?
Anote quais as características que fariam
dele um produto que poderia ser
comercializado.
Que características poderia ter esse produto
que o diferenciariam de seus concorrentes?
A qualidade do material? O preço? Algum
atributo que os outros não têm?
Para que público ele seria destinado?
Escolham um dos temas sugeridos ou outro
que julguem importante e discutam entre
vocês sobre o tema escolhido. Você vai
produzir uma propaganda. Veja abaixo
algumas sugestões de objetivos que podem
ser trabalhados!
* Prevenir a população contra uma
epidemia.
* Incentivar a reciclagem do lixo.
* Alertar par o desperdício de água.
* Opor-se a discriminação racial, religiosa ou
de qualquer forma.
* Promover o hábito de leitura na escola e
fora dela.
* Trabalhar um problema especifico da
escola.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAKHTIN, MIKAEL. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003
FIORIN, José Luiz. Linguagem e Ideologia. 7. ed. São Paulo: Ática, 2007.
FOUCAULT, M. A Arqueologia do Saber. Trad. L. F. Baeta Neves. Petrópolis.
Vozes, 1971 (título original, 1969).
GREGOLIN, Maria do Rosário Valancise Gregolin. Sentido, sujeito e memória: com o
que sonha nossa vã autoria? In: GREGOLIN, Maria do Rosário; BARONAS, Roberto
(Orgs.). Análise do discurso: as materialidades do sentido. São Paulo: Claraluz,
2003.
MUSSALIN, Bentes. Análise do Discurso. In: MUSSALIN, Fernanda e BENTES,
Anna Cristina. Introdução á lingüística: domínio e fronteiras. V. 2. São Paulo:
Cortez, 2001.
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