alegoria da caverna - comentário -

16
1 Escola Secundária Rainha Dona Amélia Comentário ao texto “A alegoria da Caverna” de Platão Filosofia Profª: Isabel Sousa Beatriz Conceição Nº4 10ºC1

Upload: biblioteca-esrda

Post on 31-Jan-2016

189 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Comentário da Alegoria da Caverna, escrito por Beatriz Conceição, Nº 4 - 10ºC1.

TRANSCRIPT

Page 1: Alegoria Da Caverna - Comentário -

1

Escola Secundária Rainha Dona Amélia

Comentário ao texto “A alegoria da Caverna”

de Platão

Filosofia

Profª: Isabel Sousa

Beatriz Conceição Nº4 10ºC1

Page 2: Alegoria Da Caverna - Comentário -

2

Questões que surgiram ao ler o texto

1.O que é uma alegoria?

Uma alegoria é um recurso retórico-estilístico em que se faz corresponder um

nível de significados literais e um nível de significados figurados. A alegoria pode

ser considerada como uma metáfora que cria uma imagem para o intérprete ir

descobrindo, passo a passo, a correspondência entre a realidade apresentada

(mais concreta) e a realidade figurada (mais abstracta).

Platão escreveu uma alegoria que ilustra precisamente essa reflexão: A Alegoria da

Caverna. A Alegoria da Caverna é um diálogo em que Platão faz participar Sócrates

e um dos seus discípulos, Gláucon, com a finalidade de demonstrar que grande

parte da humanidade contenta-se com as meras aparências, o equivalente às

sombras tremeluzentes projectadas na parede. Os filósofos, contudo, porque amam

a verdade, buscam o conhecimento da realidade: viajam para fora da caverna e têm

acesso às ideias.

2.O que simboliza a luz?

A luz simboliza o conhecimento verdadeiro (Episteme), ou seja, o mundo das ideias.

O mundo da percepção quotidiana está em constante devir e é imperfeito, mas o

mundo das Ideias, da luz, ao qual os filósofos têm acesso, é imutável e perfeito. Não

pode, por isso, ser apreendido pelos cinco sentidos: só através do pensamento se

pode experimentar as Ideias ou verdadeiro conhecimento.

3.O que simboliza a escuridão?

A escuridão simboliza o mundo sensível, o mundo onde as pessoas não utilizam a

faculdade da razão e ficam satisfeitas com um nível de conhecimento superficial.

Por isso, o conhecimento que estas detêm da realidade é somente aparente e nunca

verdadeiro (Doxa).

Page 3: Alegoria Da Caverna - Comentário -

3

4. Qual é o significado dos prisioneiros?

Os prisioneiros da caverna representam todos aqueles que estão acorrentados à

opinião e aos preconceitos. O engano desses prisioneiros consiste em tomar as

sombras das coisas pelas próprias coisas, o que resulta num conhecimento falso da

realidade.

5.Porque razão o prisioneiro sentiu dor ao olhar para a luz?

O prisioneiro que saiu da caverna sentiu dor ao olhar para a luz porque estava

habituado a viver no mundo da ignorância, da escuridão. O prisioneiro só começa a

aperceber-se de quão pobre a sua vida havia sido quando os olhos ofuscados

começaram a distinguir o mundo em seu redor: contentara-se sempre com o

mundo das sombras, do sensível, quando por detrás ficava o mundo real.

6.Qual é a semelhança entre nós e os prisioneiros?

A semelhança entre nós e os prisioneiros da caverna é que ambos estamos

representados na alegoria por aqueles que estão acorrentados ao mundo das

aparências (caracterizado pela falta de reflexão filosófica). O desafio para cada

homem e cada mulher é o de se livrarem dessa prisão para alcançarem, através do

esforço dialéctico que a filosofia proporciona, a liberdade do mundo iluminado das

ideias. Notemos que para além da caverna, do mundo imperfeito no qual estamos

acorrentados, existe um mundo inteligível, das ideias perfeitas, que marcam entre

outros, os conceitos de justiça, virtude, bem e belo.

7. O que, na actualidade, nos coloca na situação dos prisioneiros?

A televisão pode-nos colocar numa situação idêntica à dos prisioneiros de Platão,

pois, por exemplo, acomodados a receber as informações através dos diversos

programas de informação, já não nos damos ao trabalho de as analisar de forma

Page 4: Alegoria Da Caverna - Comentário -

4

crítica. Podemos criar um mundo de ilusões, crenças e convicções e não nos

darmos conta que existe uma outra realidade.

9.Porque razão os prisioneiros que se mantêm na caverna consideram o

filósofo um louco?

Os prisioneiros que se mantiveram na caverna consideram o filósofo um louco

porque não conseguem distinguir a verdadeira realidade das aparências. Isto

acontece porque eles não estão habituados a usar a faculdade da razão e apenas

conhecem o mundo sensível. Para ascender ao mundo das ideias é necessário um

esforço dialéctico que eles não estão dispostos a fazer; continuam a contentar-se

com o mundo das aparências superficiais e não abandonariam a caverna mesmo

que pudessem.

Page 5: Alegoria Da Caverna - Comentário -

5

Alegoria da caverna

A alegoria da caverna fala-nos da condição da maioria dos seres humanos

no que respeita ao conhecimento e ao que julgam ser a verdadeira realidade.

Somos prisioneiros dos nossos hábitos, do que nos transmitiram através da

socialização. Temos a cabeça cheia de ideias ou de crenças que não nos damos ao

trabalho de examinar, de avaliar. Essa falta de pensamento crítico faz com que

tomemos por verdadeira uma crença sem nos perguntarmos se há boas razões

para a aceitar.

Na alegoria, os prisioneiros representam o peso das ideias feitas e

recebidas sem análise racional. Estas são grilhões que atrofiam o

pensamento. Qual é o erro que os prisioneiros cometem? Consideram que as

sombras são a verdadeira realidade. Quer dizer, não sabem que as sombras são

sombras. Quando um prisioneiro é solto distancia-se do mundo das sombras e

pode assim ver as coisas, as sombras, apesar de com dificuldade ao início, com

olhos diferentes. Olha para as sombras e vê que elas são sombras de alguma coisa,

que não existem por si e por isso não são nem a única nem a verdadeira realidade.

A ascensão forçada do ex-prisioneiro ao mundo exterior à caverna, é uma

transformação do seu modo de pensar. Adopta um espírito crítico e transforma as

crenças da maioria em problemas. Os prisioneiros estão imóveis, passivos, porque

consideram incontestáveis as crenças dominantes, são dominados por estas. O

filósofo está em movimento, numa viagem que o faz subir da caverna em direcção à

luz exterior, não se satisfaz com as ideias feitas e essa viagem é difícil porque exige

disciplina e capacidade intelectual além de coragem para pensar criticamente

acerca de crenças básicas que nos foram transmitidas e aceites de forma acrítica.

Ao perguntar «Será que Deus existe?», «Será que devemos obedecer a quem nos

governa?», «Será que há uma vida para além da morte?», «Será que é justo pagar

impostos ou ser enviado para uma guerra que acho injusta?», o filósofo abala as

crenças estabelecidas, torna-se incómodo e pode ser considerado herege,

adversário do regime, um perigoso despertador das consciências, um agitador.

Vários sábios como Sócrates, Galileu, Giordano Bruno, sofreram com a sua

ousadia de pensarem por si e de pensarem diferente dos outros. Andamos tão

ocupados com as tarefas do dia-a-dia (assegurar o emprego, o sustento dos filhos,

Page 6: Alegoria Da Caverna - Comentário -

6

boas notas para ir para a universidade ou passar o ano) que ficamos aborrecidos

quando alguém nos convida e tenta estimular para examinar criticamente as

crenças em que temos baseado as nossas vidas.

Ao descer à caverna, o filósofo anuncia que a realidade não é o que os seus

habitantes pensam, que há um outro mundo lá fora. O que pretende ele com isto? O

que quer ele dizer aos seus companheiros? Quer dizer-lhes que não devem

transformar as ideias que receberam em hábitos mentais, que devem tornar-se

filósofos e perguntar: O que justifica essas crenças? Que razões temos - se é que

temos - para pensar que elas são verdadeiras? A mensagem parece -me ser esta: «O

vosso pensamento tem estado preso a crenças que nem se deram ao trabalho de

questionar, aceitaram-nas como se não houvesse alternativa. Despertem, libertem-

se porque não há uma só forma de pensar sobre as coisas. Aceitem só as crenças

que estão apoiadas em bons argumentos. Deixem de ser conformistas, libertem-se

de preconceitos. Não vivam à sombra do pensamento dos outros, dos que querem

que vocês não pensem ou que só pensem como eles».

Parece-me que na alegoria, o filósofo regressado do mundo luminoso sem o

qual nem sombras os prisioneiros veriam, não lhes diz: «Trago -vos a luz e a

verdade». Seria trocar uma prisão por outra. O que o filósofo lhes diz é: «Façam

como eu, afastem os olhos do fundo da caverna. Saiam da caverna para verem

melhor o que está na caverna. Libertem-se das ideias estabelecidas, distanciem-se

delas e reflictam racionalmente para ver se elas são aceitáveis. Pensem pela vossa

cabeça. E nunca aceitem que uma crença é verdadeira só porque a maioria pensa

que é verdadeira. A maioria pode estar errada. Escolham ser prisioneiros ou

homens livres. A escolha é vossa.».

A filosofia é isto mesmo: pensamento crítico. O problema que os filósofos

enfrentam com as outras pessoas é que pensar criticamente pode desorientar-nos,

podemos sentir que estamos a ficar sem os pés no chão porque as crenças em que a

nossa cultura e a nossa sociedade se baseia são questionadas. Não gostamos de ter

dúvidas.

Outro problema é que normalmente os filósofos chegam a respostas

diferentes para o mesmo problema: uns dizem que somos livres, outros que não;

Page 7: Alegoria Da Caverna - Comentário -

7

uns dizem que o direito de governar se deve basear na vontade da maioria e outros

no mérito; uns dizem que as intenções é que contam, outros que as boas acções

dependem das consequências; uns que Deus existe e outros que Deus não existe. E

muitas vezes, os argumentos parecem convincentes de um lado e do outro. Assim,

muitas pessoas pensam que a filosofia nada nos diz e nos deixa confusos.

Mas Platão dá a entender que a filosofia procura a verdade embora

isso seja difícil. Creio que haver problemas que devido à sua generalidade e

radicalidade não têm solução científica, não quer dizer que não devamos

responder-lhes. Na verdade, respostas sempre houve. A filosofia dá-nos o

método - a discussão crítica de ideias - para lidar com as respostas que

encontramos, sejam dos filósofos ou não. Esse método consiste em avaliar a

qualidade dos argumentos em que se apoiam as crenças ou teorias que respondem

aos problemas da filosofia. Devemos pensar por nós e pensar bem. E isso é

importante para a nossa formação como seres humanos.

Page 8: Alegoria Da Caverna - Comentário -

8

A Alegoria da Caverna na Actualidade

Será que está correcto dizer que a Alegoria da Caverna, de Platão,

corresponde á actualidade? Ou será que esta é apenas uma afirmação que foi feita

para nós (alunos) deixarmos as redes sociais a televisão e outras coisas que não

deveriam interessar o suficiente para perdermos horas e horas em vez de nos

dedicarmos apenas aos estudos? Mas também não será a mesma coisa se estiver

fechada no quarto o dia todo a estudar e estar numa caverna isolada do mundo a

observar as “sombras”?

Esta questão tem uma importância considerável. Podemos reflectir e

apercebermo-nos dos riscos: “Estaremos nós a viver apenas ilusões?”,

“Realidade?”.

As teses alternativas serão a negação da apresentada. Sempre podemos

pensar: “Disparate! Espalhafato por nada”, “O telemóvel não é a minha vida”, “Vivo

as duas realidades” (…) mas em vez destas correntes considero o pensamento de

que, realmente, A Alegoria da Caverna, é algo aplicável neste caso da vida dos

nossos dias, as redes sociais, é algo muito mais verdadeiro, principalmente do

ponto de vista filosófico (procura pela verdade).

Tendo em conta que a Alegoria, de Platão, descreve a inconsciência do

Mundo Inteligível por aqueles que ao Mundo Físico se dedicam, encontro a minha

tese sustentada pelo facto do mundo se encontrar numa caverna. Aliás, considero-

o tão afundado na caverna que, praticamente fará ele já, praticamente, parte dela.

O nível de materialismo a que o mundo chegou funde-o com a caverna. As

correntes que nos aprisionam, poderemos então neste caso considerar os

telemóveis (pois não serão as únicas), à caverna fundem-nos com ela. Uma

evidência desta afirmação é a perda da interioridade das pessoas: somos definidos

pelo que temos — cabelo, roupa e telemóvel. Vivemos um mundo onde

encontramos os presos da caverna acorrentados, a desenvolver e melhorar as

correntes que os aprisionam! Uma verdadeira seita! As redes sociais afundam-nos

mais no materialismo! As pessoas já não possuem personalidade própria. Em vez

disso, possuem uma imagem (mundo físico).

Page 9: Alegoria Da Caverna - Comentário -

9

O que fazem ao homem depois de ele voltar para a caverna? Matam-

no. Este gesto intriga-me, quero dizer depois de tantos anos preso o homem teve

finalmente a coragem de se libertar e quando ele volta pelos companheiros matam-

no? Pensamos que ninguém nos tempos actuais seria tão pobre de alma para

efectuar tal barbaridade. No entanto pensamos mal. Todos ainda o fazemos. Não

encontramos o equilíbrio. Analisemos o exemplo das redes sociais.

Quem nunca gozou com um amigo nem lhe chamou antiquado apenas pelo

simples facto dele não estar interessado em criar uma conta no Facebook? E quem

sabe se o pobre rapaz não criou mesmo a conta só para se integrar no grupo que

pretendia agradar? E porque razão é que era ele que estaria errado? Não é

preferível conhecer as pessoas cara a cara com todos os defeitos e feitios reais em

vez de analisar fotografias carregadas de Photoshop e outros programas que

apenas irão servir para criarem falsos juízos de nós? Óbvio que não! Porque nós

até gostamos, gostamos de julgar pessoas que muitas vezes até são nossos amigos,

gostamos de gastar o nosso precioso tempo a “cuscar” comentários e etc. para

descobrir algum escândalo para contar aos amigos. Gostamos de investigar os

pontos fracos de alguém para atacá-los directamente. Gostamos da ideia de poder

provocar alguém sem que nos chamem nomes desagradáveis por o termos feito.

E se por algum motivo somos confrontados com estas questões rapidamente

dizemos “Claro que é necessário!” Quem pensa que não é, é tão “século passado”!

Ora ao fazermos isto estamos não só a metermo-nos numa caverna como a

descriminar os que nela não entram. Somos quase tão pobres de alma como as

personagens da alegoria que Platão escreveu. Ele tinha razão. Sábio homem!

Acerca de afirmações contrárias tenho a dizer que esta é a postura que

aprendemos a não tomar desde o primeiro dia de Filosofia. Dogmas, falácias, as

verdades fáceis. São essas as coisas sobre as quais Platão nos avisa serem as

correntes que nos aprisionam na caverna. Aqueles que afirmarem o contrário,

estão a ser eles próprios correntes na caverna. A Filosofia ensina-nos a não nos

confinarmos neste mundo físico, a libertarmo-nos da caverna. Ela ensina-nos a

fugir à mentira! A Filosofia consiste na busca da verdade e do bem. O desprezo pela

mentira. Realmente, não vê-mos o exterior da caverna. Tal como na Alegoria, é

Page 10: Alegoria Da Caverna - Comentário -

10

outra dimensão de pensamento, é outra dimensão de percepção. É outra dimensão

de sentir.

E POR QUE DIABOS CAMINHAMOS

COMO CARNEIROS SEM SEQUER

SABER PARA ONDE VAMOS?

Page 11: Alegoria Da Caverna - Comentário -

11

A Alegoria da Caverna e Sócrates

Outra maneira de interpretar A Alegoria da Caverna é relacionando-a com

Sócrates.

Sócrates nasceu tal como todos aqueles prisioneiros, a única diferença, é

que tal como no texto, ele é solto e obrigado a encarar o mundo. Ao fazê-lo passa

pelo mesmo processo de ser forçado a levantar-se, a virar a cabeça, a andar, a olhar

para o lado da luz, e por fim tornando-se no filósofo que se conhece.

Até agora pudemos comparar isto a grande parte da vida de Sócrates. Mas a

parte que mais me suscita interesse, é quando Sócrates, volta para a caverna, para

o mesmo lugar de antigamente. O que acontece na Alegoria? Matam-no.

O que acontece no final da vida de Sócrates? Ele tenta incentivar as pessoas

em redor dele a pensarem por eles próprios e a encararem o “sol”, a

compreenderem-no. E como é que as pessoas reagem? Julgam-no! Matam-no.

Esta interpretação é das que mais faz sentido a meu ver, tendo em conta a

posição de Platão em relação a Sócrates. Se assim for, Platão criou uma metáfora

perfeita que não só se aplica a Sócrates como a todas as gerações passadas,

presentes e futuras.

Page 12: Alegoria Da Caverna - Comentário -

12

Page 13: Alegoria Da Caverna - Comentário -

13

Page 14: Alegoria Da Caverna - Comentário -

14

Page 15: Alegoria Da Caverna - Comentário -

15

Page 16: Alegoria Da Caverna - Comentário -

16