produção de biodiesel via transesterificação etílica homogênea, utilizando óleo de macaúba...
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Artigo publicado nos anais do Congresso Brasileiro de Macaúba, em 2013.TRANSCRIPT
PRODUÇÃO DE BIODIESEL VIA TRANSESTERIFICAÇÃO ETÍLICA HOMOGÊNEA, 1
UTILIZANDO ÓLEO DE MACAÚBA (Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart.), POR 2
AQUECIMENTO CONVENCIONAL VERSUS IRRADIAÇÃO POR MICRO-ONDAS. 3
MARCOS ROBERTO DO NASCIMENTO PEREIRA ¹, PEDRO PRATES VALÉRIO ², 4
SALVADOR CARLOS GRANDE ³, MARIA HELENA CAÑO DE ANDRADE 4 5
INTRODUÇÃO 6
O biodiesel é um combustível renovável composto de ésteres alquílicos de ácidos graxos de 7
cadeia longa, derivados de óleos vegetais ou de gorduras animais com características físico-8
químicas específicas (REZENDE, 2011). Diversas matérias-primas vegetais estão sendo objeto de 9
estudo visando à produção deste biocombustível, sendo que este trabalho tem como foco o emprego 10
dos frutos oleaginosos da palmeira Macaúba, cujo teor de óleo se situa na faixa de 50-60% em base 11
seca e 20-25% em base úmida (frutos frescos), com potencial de produtividade de até 6000 kg de 12
óleo por hectare (RETTORE & MARTINS, 1983; PIMENTA, 2010). Esse fruto é constituído por 13
quatro partes: casca externa, polpa, endocarpo e amêndoa, sendo que das partes polpa e amêndoa se 14
obtém dois tipos diferenciados de óleo, o óleo da polpa com perfil graxo insaturado e o óleo da 15
amêndoa com perfil graxo saturado. Em função da existência de maciços naturais em três 16
importantes regiões mineiras (grande Belo Horizonte, Norte de Minas e Alto Paranaíba), o governo 17
do Estado de Minas Gerais, instituiu a política estadual de incentivo ao cultivo, à extração, à 18
comercialização, ao consumo e à transformação da Macaúba e das demais palmeiras oleaginosas - 19
Pró-Macaúba, através da lei nº 19.485, de 13 de Janeiro de 2011 (MINAS GERAIS, 2011). Um dos 20
principais objetivos foi o de incrementar o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel 21
(PNPB), baseado na sustentabilidade e no desenvolvimento econômico e social. O objetivo deste 22
trabalho é verificar a viabilidade técnica de produção de biodiesel a partir de óleo extraído da polpa 23
do fruto da macaúba por processo de transesterificação via catálise etílica homogênea, com 24
comparação de desempenho entre o processo convencional de aquecimento e o aquecimento por 25
irradiação com micro-ondas. 26
MATERIAL E MÉTODOS 27
A reação de transesterificação homogênea via catálise básica foi realizada utilizando como 28
matéria-prima o óleo do mesocarpo (polpa) da macaúba produzido no Laboratório da Macaúba do 29
Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal de Minas Gerais. Esse óleo foi 30
1 Universidade Federal de Minas Gerais - Departamento de Engenharia Química - [email protected] 2 Universidade Federal de Minas Gerais - Departamento de Engenharia Química - [email protected] 3 Universidade Federal de Minas Gerais - Departamento de Engenharia Química - [email protected] 4 Universidade Federal de Minas Gerais - Departamento de Engenharia Química - [email protected] 1
primeiramente caracterizado nos seguintes parâmetros físico-químicos: índice de acidez (método 31
oficial Cd 3d-63 da AOCS), teor de umidade (método oficial Ca 2e-84 da AOCS) e viscosidade 32
cinemática a 40°C (ASTM D 2515), parâmetros fundamentais para determinar a viabilidade da 33
produção do biodiesel e a definição da melhor rota a ser utilizada. 34
A produção de biodiesel utilizando o processo convencional de catálise etílica homogênea, 35
neste trabalho denominado aquecimento convencional, foi realizada em um banho termostático 36
Dubnoff. Os parâmetros analisados foram razão molar etanol/óleo (etanol com 99,8% de pureza) de 37
12:1, concentração de catalisador (KOH com 85% de pureza) de 0,5 – 1,0 e 1,5 % m/m em relação 38
ao óleo, temperatura constante de 30°C, tempo de 45 minutos e aproximadamente 200 rpm. Todas 39
as reações ocorreram em erlenmeyers de 125 mL contendo a massa de 20 g de óleo. Após a reação 40
o biodiesel foi purificado através de 3 lavagens: 1ª com solução de HCl 0,1 mol/L, 2ª e 3ª com água 41
destilada até o pH 7,0; verificado através do uso da fita de pH. Em seguida o biodiesel foi seco em 42
estufa microprocessada (capacidade de 42 L) com circulação forçada de ar a 105°C por 150 min 43
para remoção do excesso de etanol, água e outras substâncias voláteis. 44
A obtenção de biodiesel através do aquecimento não convencional, neste trabalho realizado 45
por irradiação com micro-ondas, foi realizada em forno doméstico (sem adaptação) de micro-ondas 46
Electrolux, modelo NEF 28, 18 L, 1020 W, com frequência de 2450 MHz. Os parâmetros 47
analisados foram razão molar etanol/óleo (etanol com 99,8% de pureza) de 12:1, concentração de 48
catalisador (KOH com 85% de pureza) de 0,5 – 1,0 e 1,5 % m/m em relação ao óleo, potência 49
máxima do aparelho de micro-ondas e tempo reacional de 20, 40, 60, 80 e 100 s. Todas as reações 50
ocorreram em erlenmeyers de 125 mL contendo a massa de 20 g de óleo, que foi homogeneizada 51
por 3 minutos a aproximadamente 200 rpm em agitador magnético MS 300 Magnetic Stirrer, antes 52
de ser submetida à irradiação de micro-ondas. O procedimento de purificação foi realizado da 53
mesma forma do procedimento utilizando o aquecimento convencional. 54
O teor de ésteres etílicos foi realizado empregando o método analítico de viscosimetria, 55
consistindo em uma técnica no qual se correlaciona matematicamente a variação do teor de ésteres 56
alquílicos com a variação da viscosidade (PASA et al., 2013; KNOTHE et al., 2005). A viscosidade 57
foi determinada utilizando o viscosímetro automático AVS 250 Schott. 58
59
RESULTADOS E DISCUSSÕES 60
Na Tabela 01 são apresentados os resultados das análises de caracterização da matéria-prima, 61
incluindo índice de acidez, umidade e viscosidade. 62
2
Tabela 01 – Propriedades físico-químicas do óleo da polpa de macaúba.
Parâmetro Valor Índice de acidez (mg KOH/g) 4,03
Índice de acidez em ácido oléico (%) 2,02 Teor de umidade (%) 0,27
Viscosidade cinemática a 40°C (mm2/s) 40,04
O índice de acidez encontrado na análise do óleo da polpa de macaúba foi de 2,02% e 63
segundo Meher et al. (2006), este índice é apropriado para a reação de transesterificação homogênea 64
via catálise básica. É essencial que o valor da umidade da matéria-prima seja o menor possível, 65
evitando reações paralelas que possam dificultar a reação e reduzir o teor da conversão. Assim, o 66
valor encontrado experimentalmente neste trabalho de 0,27% sugere que o uso da polpa do óleo da 67
macaúba torna-se viável para esta metodologia. Outro parâmetro essencial analisado é a 68
viscosidade, pois pode limitar a escolha da matéria-prima que originará o biodiesel. 69
Em todo o trabalho foram realizados 03 ensaios de produção de biodiesel por aquecimento 70
convencional e 15 por aquecimento por micro-ondas. Os resultados dos ensaios do aquecimento 71
convencional (C) resultaram em % de conversão na faixa de 13,20% a 90,18%, sendo que os 72
melhores resultados estão associados com o uso de uma maior quantidade de catalisador. Os 73
resultados dos ensaios do aquecimento por micro-ondas (M) resultaram em faixa de conversão de 74
10,15% a 96,61%. Na Tabela 02 são apresentados os melhores resultados dos ensaios comparativos 75
entre as duas formas de aquecimento visando à produção de biodiesel por catálise etílica 76
homogênea. 77
Tabela 02 – Resultados comparativos da eficiência de produção de ésteres etílicos pelos processos 78
de aquecimento convencional e por micro-ondas 79
Ensaio Tempo (s) Catalisador (% m/m) Teor de ésteres etílicos (%)
C 2700 1,5 90,18 M - A 80 0,5 76,25 M - B 60 1,0 96,61 M - C 20 1,5 86,74
C = amostra utilizando aquecimento convencional 80
M = amostra utilizando aquecimento através de irradiação de micro-ondas 81
O resultado do ensaio C, usando aquecimento convencional, proporcionou a conversão de 82
ésteres etílicos de 90,18%; indicando que o óleo da polpa da macaúba é promissor na obtenção de 83
biodiesel, utilizando condições amenas de processo. Os resultados dos ensaios M - A, M - B e M – 84
3
C, empregando irradiação por micro-ondas, demonstraram a viabilidade de se aplicar este método 85
nos processos de produção de biodiesel. Analisando a tabela 02, observa-se uma redução rigorosa 86
no tempo de reação quando da utilização do processo por irradiação com micro-ondas e ao mesmo 87
tempo a maior conversão de ésteres etílicos alcançado com o ensaio M – B. 88
CONCLUSÕES 89
Sabendo que o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) tem como 90
principal objetivo garantir a produção economicamente viável do biocombustível, proporcionando a 91
inclusão social e o desenvolvimento regional (COSTA et al., 2012), este trabalho demonstrou o 92
potencial de produção do biodiesel, empregando como matéria-prima o óleo da polpa da Macaúba, 93
utilizando o aquecimento convencional e, principalmente, apresenta a viabilidade técnica com 94
redução expressiva do tempo reacional da reação de transesterificação, usando uma metodologia de 95
indução de irradiação de micro-ondas, mesmo ao se empregar um aparelho de micro-ondas 96
convencional doméstico, sem qualquer adaptação. 97
AGRADECIMENTOS 98
Os autores agradecem a CAPES, CNPq e o Departamento de Engenharia Química da Escola 99
de Engenharia da UFMG pelas Bolsas concedidas e apoio prestado. 100
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 101
COSTA, V. L.; et al. A introdução do biodiesel na matriz energética brasileira: contextualização 102 histórica, cadeia produtiva e processo produtivo. Revista ADMpg Gestão estratégica, v. 5, n. 1, p. 103 43 - 51, 2012 104
KNOTHE, G.; GERPEN, J. V.; KRAHL, J. The Biodiesel Handbook. Illinois (USA), AOCS Press, 105 2005. 106
Lei nº 19.485, de 13 de janeiro de 2011. Institui a política estadual de incentivo ao cultivo, à 107 extração, à comercialização, ao consumo e à transformação da macaúba e das demais palmeiras 108 oleaginosas - Pró-Macaúba, Minas Gerais, 2011. 109
MEHER, L. C.; et al. Technical aspects of biodiesel production by transesterification—a review. 110 Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 10, p. 248 - 268, 2006. 111
PASA, V. M. D.; et al. Thermogravimetry and Viscometry for Assessing the Ester Content (FAME 112 and FAEE). Fuel Processing Technology, v. 109, p. 133 - 140, 2013. 113
PIMENTA, T. V. Metodologias de Obtenção e Caracterização dos Óleos do Fruto da Macaúba com 114 Qualidade Alimentícia: da Coleta à Utilização. 2010. 120f. Dissertação (Mestrado em Engenharia 115 Química) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010. 116
RETTORE, R. P.; MARTINS, H. (1983). “Produção de combustíveis líquidos a partir de óleos 117 vegetais: estudo das oleaginosas nativas de Minas Gerais”. Projeto da Fundação Centro 118 Tecnológico de Minas Gerais – CETEC, Belo Horizonte, v.1. 119
REZENDE, D. B. Esterificação e Transesterificação de Óleos de Macaúba com Elevada e Baixa 120 Acidez Catalisadas por Resinas de Troca Iônica. 2011. 122f. Dissertação (Mestrado em Engenharia 121 Química) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011. 122
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