prociv # 57 (dezembro de 2012) já disponível online

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PUBLICAÇÃO MENSAL DA AUTORIDADE NACIONAL DE PROTECÇÃO CIVIL / N.º57 / DEZEMBRO 2012 / ISSN 1646–9542 Ativado Plano de Operações Nacional Serra da Estrela 57 Distribuição gratuita Para receber o boletim PROCIV em formato digital inscreva-se em: www.prociv.pt Dezembro de 2012 Esta revista é redigida ao abrigo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

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Já se encontra disponível para consulta, a edição de dezembro da revista PROCIV da ANPC. Este número destaca o Plano de Operações Nacional – Serra da Estrela (PONSE), que irá vigorar entre 1 de dezembro de 2012 e 30 de abril de 2013 e ainda um artigo de opinião do Comandante Operacional Nacional, Vítor Vaz Pinto, intitulado: Incêndios Rurais. Apostar na prevenção e na sensibilização das populações.

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PUBL ICAÇÃO MENSAL DA AUTORIDADE NACIONAL DE PROTECÇÃO C IV I L / N .º 57 / DE ZEMBRO 2012 / I S SN 16 46 –9542

Ativado Plano de Operações Nacional Serra da Estrela

57Distribuição gratuita

Para receber o boletim PROCIV em formato

digital inscreva-se em:www.prociv.pt

Dezembro de 2012

Esta revista é redigida ao abrigo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

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E D I T O R I A L

P. 2 . P RO C I V

Número 57, dezembro de 2012

Serra da Estrela: lazer em segurança

Tendo assumido recentemente as funções de Presidente da Autoridade Nacional de Proteção Civil, saúdo, nesta primeira oportunidade em editorial, todos os agentes de proteção civil, dirigentes e demais trabalhadores da ANPC, bem como todos os intervenientes no Sistema Integrado de Operações de Proteção e Socorro.

Sendo a proteção civil, como é sabido, uma missão de todos para todos, onde se cru-zam os valores da cidadania e do serviço público, é por demais honroso dirigir esta instituição onde o interesse coletivo prevalece no desempenho das funções que lhe estão cometidas: identificação de riscos, informação, desenvolvimento dos sistemas de alerta e aviso, planeamento de emergência, coordenação das operações de prote-ção e socorro, entre tantas outras.

À semelhança dos anos anteriores, o Plano de Operações Nacional da Serra da Estre-la (PONSE) é ativado a partir de 1 de dezembro. Através de um dispositivo que integra Bombeiros Voluntários, GNR e Força Especial de Bombeiros "Canarinhos" da ANPC, procura-se acompanhar e responder à procura particularmente sazonal de que é ob-jeto a Serra da Estrela por parte de um número cada vez maior de visitantes e que, se por um lado se traduz na ocorrência de acidentes, sobretudo relacionados com ativi-dades desportivas, de lazer e rodoviárias, por outro lado tem permitido aperfeiçoar, ano após ano, o dispositivo conjunto de proteção e socorro, que inclui também ações de sensibilização e informação.

Costuma dizer-se que "os incêndios se apagam no inverno e as cheias se tratam no verão". Por essa razão, incluímos neste número do PROCIV um artigo de opinião so-bre incêndios rurais e necessárias medidas preventivas.

São do domínio público os custos diretos suportados pela ANPC este ano no com-bate aos incêndios rurais (florestais e outros), no período compreendido entre 15 de maio e 30 de outubro: acima de 74 milhões de euros. Não sendo o vetor mais impor-tante a ter em conta – a salvaguarda de vidas humanas e bens está e sempre estará no topo das nossas preocupações – a vertente económica não é despicienda face ao acrés-cimo na ordem dos 10,3%, relativamente ao período homólogo de 2011, representando o montante referido apenas uma parte dos encargos assumidos pelo Estado.

A situação do país não comporta estes valores. É imperativo mudar de paradigma e fundamental a adoção de uma nova atitude!

Edição e propriedade – Autoridade Nacional de Protecção Civil Diretor – Manuel Mateus Couto Redação e paginação – Núcleo de Sensibilização, Comunicação e ProtocoloFotos: Arquivo da Autoridade Nacional de Protecção Civil, exceto quando assinaladoImpressão – Textype Tiragem – 2000 exemplares ISSN – 1646–9542

Os artigos assinados traduzem a opinião dos seus autores. Os artigos publicados poderão ser transcritos com identificação da fonte.

Autoridade Nacional de Protecção Civil Pessoa Coletiva nº 600 082 490 Av. do Forte em Carnaxide / 2794–112 Carnaxide Telefone: 214 247 100 Fax: 214 247 180 [email protected] www.prociv.pt

P U B L I C AÇ ÃO M E N S A L

Projecto co-financiado por:

Manuel Mateus CoutoPresidente da ANPC

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B R E V E S

P RO C I V . P.3Número 57, dezembro de 2012

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Simulacro de evacuação de edifícios testa capacidade de mobilização de condóminos

Realizou-se no passado dia 10 de novembro, em Oeiras, distrito de Lisboa, um simulacro de incêndio e evacuação de edifícios, com a participação dos moradores das emblemáti-cas "Torres das Palmeiras"

(4 torres de habitação com 16 pisos cada). Tratou-se de uma iniciativa organizado pela REDE – Associação Nacional de Voluntários de Proteção Civil, tendo como principal obje-tivo treinar os procedimentos tidos como mais adequados em caso de incêndio em edifícios. Previamente ao simula-cro, cada administrador de condomínio identificou o nú-mero de inquilinos por andar, incluindo os moradores com mobilidade reduzida, elementos fundamentais para quem presta o socorro numa situação real.

Exercício internacional testa Sistema de Alerta para Tsunamis

Portugal, através da ANPC e do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), participou, nos dias 27 e 28 de novembro, no exercício NeamWave'12, no decorrer do qual foi simulada a ocorrência de um sismo com potencial de geração de tsunami, ao qual se seguiu a disseminação de mensagens de alerta de tsunami. A ANPC, enquanto pon-to focal do Sistema de Alerta para Tsunamis do Atlântico Nordeste, Mediterrâneo e Mares Conexos (NEAMTWS), recebeu as mensagens de alerta emitidas pelo IPMA e ava-liou quais os procedimentos a implementar para a resposta a esta ocorrência. O exercício envolveu a participação de 19 países, do Nordeste do Atlântico e do Mediterrâneo.Este sistema encontra-se atualmente numa fase experi-mental, estando já em operação os Centros Nacionais de Alerta para Tsunami da Turquia, Grécia e França. Prevê-se que Portugal implemente o seu Centro Nacional de Alerta no final de 2013.

ANPC participou em exercício NATO

Decorreu, de 14 a 16 de novembro, o exercício de gestão de crises da NATO CMX'12. Tratou-se de um exercício de ní-vel estratégico político-militar destinado a praticar, testar e validar a gestão, as medidas e os mecanismos relaciona-dos com o processo de consulta e de decisão coletiva na resposta a crises. O cenário centrou-se numa ameaça mul-tidimensional onde foram empregues armas de destruição massiva (ADM) e/ou Químicas, Biológicas e Radiológi-cas (QBR), contra populações, forças e infraestruturas da NATO, ocorrendo ainda incidentes de natureza cibernética que ameaçaram as infraestruturas de informação civis e militares da NATO e nacionais. Para o acompanhamento do exercício foi constituída, a nível nacional, uma Célula de Resposta Nacional (CRN), sob a coordenação do Minis-tério da Defesa Nacional e com várias entidades do Estado com responsabilidades e competências na área da seguran-ça e defesa, entre as quais a ANPC.

Despacho conjunto promove plano setorial de preven-ção e redução de riscos

O secretário de Estado da Administração Interna, Filipe Lobo d’Avila, e o se-cretário de Estado do Am-biente e do Ordenamento do Território, Pedro Afonso de Paulo, assinaram no pas-sado dia 20 de novembro

um despacho conjunto que determina a elaboração de um Plano Setorial de Prevenção e Redução de Riscos. Este Plano visa estabelecer a estratégia nacional integrada de preven-ção dos riscos, definir as medidas de prevenção e mitigação dos seus efeitos, no quadro das políticas públicas de orde-namento do território, de urbanismo e de proteção civil, e proceder ao enquadramento normativo dos riscos, em função da legislação setorial e dos guias técnicos existentes e de acordo com as atuais medidas de proteção de recursos hídricos em matéria de riscos, previstos no Regime Jurídi-co da Reserva Ecológica Nacional.

Setúbal: Simulacro de acidente industrial na Mitrena testou capacidades da Proteção Civil

Mais de 3.000 pessoas participaram no passado dia 8 de no-vembro no Mitrex 2012, um simulacro de acidente industrial que visou testar a capacidade de resposta das autoridades em caso de sinistro na península da Mitrena, em Setúbal. Uma explosão fictícia, no que poderiam ser as instalações de uma das muitas empresas que trabalham com materiais perigosas naquela localidade, foi o ponto de partida para a iniciativa. A explosão "provocou" um incêndio que amea-çou atingir reservatórios adjacentes de resíduos agroindus-triais, em resultado do qual trabalhadores de diversas em-presas tiveram que ser evacuados. O exercício visou ainda treinar o acionamento do Plano de Emergência Externo da Mitrena, aprovado em março passado.

Projeto «Disaster» apresentado em Cascais

Investigadores das Universidades de Lisboa, Porto e Coimbra conceberam, ao longo dos últimos dois anos, o projeto Disaster, uma base de dados que resultou da aná-lise exaustiva de milhares de edições de 16 jornais por-tugueses que relataram, ao longo dos últimos 150 anos, episódios de inundações e deslizamentos de terras em Portugal Continental, em que ocorreram vítimas mortais. O projeto, apresentado no dia 26 de novembro em Cascais, prevê a disponibilização na internet da informação reco-lhida, segundo o seu coordenador, José Luís Zêrere.

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T E M A

Número 57, dezembro de 2012

P. 4 . P RO C I V

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Nos exigentes dias de hoje, em que impera a proficiên-cia e a qualidade, o sistema de proteção e socorro têm

que obrigatoriamente acompanhar a dinâmica do universo tecnológico, económico, cultural e social do País, contri-buindo significativamente para a manutenção e incremen-to da atração e distinção destes locais enquanto destinos turísticos seguros. Estes aspetos, a par da frequência com que ocorrem situações de perigo para o grande afluxo de visitantes do Parque Natural da Serra da Estrela, levam a Autoridade Nacional de Proteção Civil a planear e opera-cionalizar anualmente um dispositivo conjunto específico para assegurar uma resposta operacional eficaz e eficien-te no âmbito da proteção e socorro, envolvendo diversos agentes de proteção civil, devidamente articulados sob um Plano de Operações Nacional, designado PONSE (Plano de

Operações Nacional da Serra da Estrela), o qual define, de forma proativa e plurianual, mecanismos de resposta céle-res e coordenados das diversas forças e entidades com res-ponsabilidade de intervenção nesta região.

O dispositivo conjunto de proteção e socorro na Serra da Estrela (DICSE), tem vindo a evoluir, a diversificar e a solidificar a sua actividade e capacidade de intervenção, ano após ano, essencialmente através das lições aprendi-das em cada campanha e está preparado para responder transversalmente às situações que recorrentemente suce-dem na região, destacando a sua especialização na resposta a acidentes relacionados com a prática de montanhismo, passeios pedestres e outras atividades relacionadas, a imo-bilização de veículos e pessoas devido a condições meteo-rológicas adversas, a acidentes rodoviários com vítimas e a deslizamentos ou movimentos de vertentes.

Este ano, fruto da experiência adquirida, pretende-se en-riquecer e reforçar a capacidade técnica do dispositivo na vertente pré-hospitalar, pelo que vai ser disponibilizado pela Guarda Nacional Republicana (GNR) um Desfibrila-dor Automático Externo (DAE), possibilitando o acesso ao terceiro elo da cadeia de sobrevivência em tempo útil, logo após um socorro imediato e efectivo, prestado por parte

A Serra da Estrela é um dos pontos turísticos do país de maior interesse paisagístico e importância económica, atraindo todos os anos, especialmente no inverno, milhares de visitantes para a prática de atividades ligadas ao usufruto da natureza. As pre-ocupações com a proteção e socorro aos turistas não podem ser alheias a esta dinâmica.

Serra da EstrelaAtivado Plano de Operações Nacional

Foto: Nuno Azevedo

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FORÇA ESPECIAL DE BOMBEIROSGrupo de Resgate em Montanha apto a intervir nos cenários mais complexos

A FEB possui meios humanos com elevadas qualifica-ções e equipamentos de resposta operacional, capazes de responder com eficácia às necessidades de proteção e socorro dos cidadãos. Assim, foi criado no seu seio, o Grupo de Resgate em Montanha, competindo-lhe a execução de missões de proteção e socorro no âmbito do salvamento em montanha com ou sem ambiente de neve. Distribuído pelas Bases Permanentes existentes nos dis-tritos da Guarda e de Castelo Branco, e desenvolvendo a sua missão na área definida no PONSE (ver texto ao lado), pode, no entanto, ser mobilizado para outras áre-as de intervenção por indicação do Comandante Opera-cional Nacional da ANPC ou por imposição que decorra da ativação de planos e diretivas nacionais. Pode ainda prosseguir as suas atribuições fora do território conti-nental, quando mandatado legalmente para esse efeito. É constituído por um Chefe de Grupo, 2 Chefes de Brigada, 2 Chefes de Equipa e dezasseis Bombeiros. Para o cumprimento eficaz da missão que lhe está atri-buída, foram disponibilizados diversos meios, entre os quais 2 Veículos de Operações Especificas, 3 Veículos de Transporte de Pessoal Tático, 2 Quadriciclos – "Moto4" e 1 Veículo de Comando, sendo este dispositivo re-forçado a partir do dia 11 de Dezembro com mais um veículo com equipamento técnico de apoio (VETA). Para além destes meios, o Grupo conta com um conjunto de equipamentos específicos de trabalho, na vertente do Montanhismo, que integram a carga operacional destes, e que permite desenvolver uma operação de qualquer tipo neste ambiente ou em outro similar. De destacar ainda a recente aquisição de equipamento de salvamento e de-sencarceramento portátil, de elevada autonomia e facil-mente transportável para os locais de acesso mais difícil. Em qualquer momento e face à complexidade da missão a desenvolver, este Grupo pode ser reforçado com meios humanos e materiais provenientes dos Grupos Territo-riais da Guarda e de Castelo Branco.

dos operacionais do DICSE devidamente habilitados para o efeito.

No próximo dia 1 de dezembro, o PONSE será ativado e o DICSE retomará a sua atividade numa zona de inter-venção que abrange os municípios de Covilhã, Manteigas, Seia e Gouveia, no território com altitude superior a 1400 metros, e a sua força de empenhamento permanente con-tará com a habitual participação dos Corpos de Bombeiros da Covilhã, Manteigas, Seia, Loriga, São Romão e Gouveia, e ainda do Grupo de Intervenção em Proteção e Socorro (GIPS) da GNR e da Força Especial de Bombeiros da ANPC.

Este dispositivo incluirá ainda o imprescindível apoio dos demais agentes de proteção civil e instituições coope-rantes, entre os quais, se destacam os Corpos de Bombeiros daquela região, GNR, Polícia de Segurança Pública, Insti-tuto Nacional de Emergência Médica, Estradas de Portugal, Cruz Vermelha Portuguesa, Direção Geral de Saúde, Insti-tuto de Conservação da Natureza e das Florestas, Institu-to Português do Mar e da Atmosfera e Empresa de Meios Aéreos, realçando o papel fundamental e determinante dos Serviços Municipais de Proteção Civil territorialmente competentes.

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O P I N I Ã O

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© Ana Livramento

© R. SantosParece existir a noção, entre os portugueses, de que o calor é equi-valente a incêndios florestais, e que, dessa forma, é inevitável que durante o Verão ou em outros momentos do ano de maior secura,

os incêndios ocorram. O fogo, sabe-se, é um instrumen-to eficaz e de uso tradicional de gestão da paisagem. Téc-nica barata, permite às populações rurais gerir os com-bustíveis nos territórios dos quais retiram rendimento, e o fogo “técnica” redunda em fogo “incêndio” quando sobre ele se perde o controlo, e sobretudo quando se ig-nora a necessidade de gerir o território e dar resposta às necessidades de quem ocupa espaços não urbanizados.

A forma como os incêndios rurais são mediatizados parece contribuir para a noção de inevitabilidade. São imagens fortes de fim-de-tarde durante o verão que os portugueses consomem em frente às televisões, e que dão a quem as vê uma forte imagem do esforço de com-bate, com todos os agentes de protecção civil que con-tribuem para extinguir um incêndio. O cidadão menos informado tenderá a atribuir as principais responsabi-lidades pelo sucesso ou insucesso da contabilização de incêndios e áreas queimadas às forças que efetivamente se colocam no terreno quando se torna imperioso ex-tinguir o fogo. Na verdade, essa perceção está enviesada e esconde o facto de os incêndios serem a consequência última de um conjunto de fatores a mon-tante, tornando o combate ao fogo a úl-tima opção. Um incêndio rural começa a apagar-se, evitando-o. E também quando as populações adotam boas práticas e evi-tam, elas mesmas, usar o fogo sem condi-ções de segurança, respeitando as indica-ções das autoridades, tendo o cuidado de medir as consequências das suas acções. Os incêndios começam, ainda, a apagar-se quando se previnem por via de um correcto ordenamento do território, com a limpeza adequada dos espaços florestais, com a criação de mosaicos de paisagem e com uma clara e segura sepa-ração entre perímetros edificados e espaços combustí-veis. Um incêndio rural evita-se, também, quando se vai ao encontro da necessidade das populações, admitindo, a título de exemplo, que essas populações procurarão sempre queimar os combustíveis dos espaços onde pre-

tendem eliminar sobrantes de exploração rural ou mes-mo renovar pastagens.

A ideia acima expressa, de combinar vontades na gestão do espaço por via do fogo, materializa-se quei-mando de forma acompanhada. Fazendo um levan-tamento de necessidades, todos os anos, e agendando com os cidadãos os melhores momentos para proceder à queima acompanhada, em condições de segurança. Territórios que sejam geridos desta forma são terri-tórios onde os incêndios durante o Verão provavel-mente não ocorrerão ou, caso ocorram, terão muito menor severidade, obrigando a um esforço humano e material francamente mais reduzido. Trata-se de uma abordagem diferente, face ao esforço de combate clássi-co, que desafia a noção da inevitabilidade incendiária, contrapondo uma metodologia de prevenção activa, usando o fogo de uma forma compatível com o interesse de todos e para benefício nacional.

Mas existe, ainda, uma outra perceção – incorrecta – que convirá clarificar: todos os incêndios são iguais e que, dessa forma, precisam de apagar-se rapidamente, em força, com todo o esforço possível. Observa-se que os cidadãos menos familiarizados com os incêndios ru-rais e com as paisagens onde estes ocorrem não parecem compreender que um incêndio possa manter-se ativo durante várias horas ou, até, que o esforço de combate seja mais conservador, evitando-se uma mobilização massiva de meios. Os incêndios rurais não são, de facto, todos iguais. Um incêndio rural que represente perigo imediato para áreas de valor instalado, como povoa-

mentos florestais e património edificado ou de inquestionável valor natural, deve-rá ser objecto de uma primeira interven-ção muito capaz e célere, aplicando todos os recursos disponíveis para, com eficiên-cia, reduzir a perda de valor ao mínimo. Inversamente, um incêndio rural que se apresente de progressão lenta, em paisa-

gens contínuas de mato com pouco ou nenhum valor a defender, ou em paisagens rochosas de difícil progres-são para homens e máquinas, não precisa entender-se, necessariamente, como algo a extinguir rapidamente. Nesses casos, parece revelar-se bastante mais proveitoso tratar esse incêndio como um fogo de gestão, estabele-cendo apenas uma defesa perimétrica, mas deixando que o fogo evolua controladamente, queimando o que se mostrar vantajoso queimar, sem colocar em perigo a segurança dos operacionais e sem dispender recursos

Temos que adoptar comportamentos

conscientes através dos quais demonstramos que

tipo de espaço rural desejamos ter.

Incêndios Rurais

Vítor Vaz PintoComandante Operacional Nacional da [email protected]

Apostar na prevenção e nasensibilização das populações

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T E M A

P RO C I V . P.7Número 57, dezembro de 2012

© Paulo Santos

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O P I N I Ã O

materiais e financeiros que podem ser aplicados noutras ocorrências mais gravosas.

É necessário entender-se, também, que Portugal não é um país de pirómanos. Sem prejuízo para as causas intencionais, criminosas, que efectivamente exis-tem, Portugal é sobretudo um país onde os comporta-mentos negligentes e as atitudes de passividade face à auto-protecção imperam. São exemplos de comportamentos negligentes o uso do fogo e de maquinaria agrícola em dias de extrema secura na proximidade de combustíveis finos, facilmente infla-máveis, ou o uso do fogo para lazer em espaços florestais. A passividade face à auto-protecção observa-se quando as habitações confi-nam com espaços combustíveis, facilitando a chegada do fogo às habitações que, mesmo que em muitos casos possam não sofrer dano considerável, geram um ine-vitável transtorno às populações e dispersam meios de combate, favorecendo a progressão do fogo. Este fenó-meno sazonal – que não exclui surpresas fora dos me-ses de maior calor – não admite a desresponsabilização. A todos cabe uma parte.

Ao combate cabe, também, a sua parte. A do final da li-nha e aquela onde se coloca a exigência de salvaguardar pessoas e bens. A parte de preparar uma resposta capaz, na plena consciência de que é impossível para qualquer país ter um dispositivo sobre-dimensionado, habili-tado a responder mesmo às situações mais extremas. No equilíbrio entre o que é possível e o que é perfeito, tem-se realizado um esforço considerável para proteger os es-paços rurais nacionais, que necessita de um investimento sustentado na prevenção e boas-práticas para continuar

a dar bons resultados a este nosso país.A ANPC realizou, a tempo da mais recente campa-

nha do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais, 185 acções de treino operacional, envol-vendo directamente 5333 operacionais dos diversos agentes de proteção civil e entidades cooperantes, procurando, dessa forma, um incremento constante

da eficiência, da uniformização de pro-cedimentos e em métodos e linguagem comuns. Integraram pela primeira vez o DECIF no ano transato (2011), equipas pré-formatadas de Posto de Comando, com operacionais treinados para enfrentarem as mais exigentes operações de proteção

e socorro e a par deste investimento fundamental na procura da necessária proficiência das forças de respos-ta foi normalizado e operacionalizado no terreno o sis-tema de gestão de operações, procurando uniformizar as metodologias que se praticavam de forma heterogé-nea um pouco por todo o país, dotando a estrutura de ferramentas de comando e controlo universais, as quais importa agora sedimentar.

Este é o momento de alterar a forma como se enca-ra o problema, sobejamente conhecido e estudado, dos incêndios rurais. Este é o momento para maior especialização, para maior investimento em pre-venção, para mudança de práticas na relação com as populações rurais que precisam do fogo. Esta mis-são ganha-se com a vontade de todos, muito antes de ser necessário combater um incêndio. A ANPC está empenhada em contribuir, como sempre, para a minimização deste problema.

Apagar os incêndios deve ser considerada

uma acção de fim-de-li-nha, quando tudo o que

está para trás falhou.

Foto: Pedro Santos

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A G E N D A

1 de dezembroDi st r itos de Caste lo Bra nco e Gu a rd aAT I VA D O PL A NO DE OPE R AÇ ÕE S NAC IONA L DA SE R R A DA E S T R E L AEste Plano de Operações Nacional define, de forma proativa e plurianual, mecanismos de resposta céleres e coordenados das diversas forças e entidades com responsabilidade de intervenção nesta região, que recebe anual-mente, especialmente no inverno, milhares de turistas nacionais e estrangeiros.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

3-5 dezembroEstor i l – Cent ro de Cong ressosN F PA-A PSEI F I R E & SE C U R I T Y 2 01 2P romov id a pe l a A ssociação Por t ug ue-sa de Seg u ra nça (A PSEI) e s ubord i n a-do ao tem a Te n d ê n c i a s e Tec n olog i a s n a P roteçã o e Seg ura n ça d e Pe sso a s e B e n s, a tercei ra ed ição deste e vento pre-tende promover o debate téc n ico, o i ntercâ mbio de e x per iências e con he-ci mentos, a for m ação e d a r a con he-cer as opor t u n id ades de negócio neste dom í n io.

7 dezembroCa r n ide, Li sboa – Escol a Sec u nd á r ia Vi rg í l io Fer rei raSE S SÃO DE DI V U L G AÇ ÃO D OS R E S U LTA D OS D O PRO G R A M A OPE R AC IONA L DE VA L OR I Z AÇ ÃO D O T E R R I T ÓR IO – 2 01 2A sessão será ded icad a à aprese nt ação de res u lt ados do POV T e do cont r ibuto dos projetos cof i n a nciados pe lo Fu n-do de Coesão pa ra o A mbie nte e dese n-volv i mento Su stent áve l .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

5 e 6 de deze mbro Br u xe l as, Bé lg icaR EU N I ÃO D O G RU PO DE T R A bA-LhO PRO C I V, D O C ONSE LhO DA U N I ÃO EU ROPEI A O encont ro, orga n i z ado sob a ég ide d a P residência Cipr iot a do Con se l ho d a Un ião Eu ropeia, i nclu i n a s u a age nd a a a n á l i se do re l atór io d a P residê ncia sobre o se m i n á r io rea l i z ado e m Nico-sia sobre boas prát icas no acol h i me nto a volu nt á r ios e m ce n á r ios de proteção civ i l e ajud a hu m a n it á r ia, a c r iação de u m Cor po Eu rope u de Volu nt á r ios (em fase de projeto-pi loto) e a d i sc u s-são d a nova propost a leg i sl at iva pa ra a á rea d a proteção civ i l .

8 de deze mbro Ba rce los – Bombei r0s Volu nt á r ios C ON F E R ê NC I A S ObR E M E DIC I NA h I PE R bá R IC A E S U bAqUáT IC AO e ncont ro, orga n i z ado pe l a Escol a de Merg u l ho de Ba rce los, Ser v iço de Med ici n a H iperbá r ica do Hos pit a l de Ped ro H i spa no e Bombei ros Volu nt á-r ios de Ba rce los, abord a rá te m as re-l acion ados com câ m a ras h iperbá r icas n a saúde, acide ntes de descompressão e i ntox icações por monóx ido de ca r-bono. I n for m ações e i n sc r ições e m w w w . e m b a r c e l o s . c o m / c o n f e r e n -cia 201 2

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

11 de deze mbroNi sa – Sa l a Aud itór io d a Bibl ioteca Mu n icipa lSE M I Ná R IO “ R E A bI LI TAÇ ÃO PR E V E N T I VA , I N T E RV E NÇ ÃO L O C A L”Este Se m i n á r io, orga n i z ado pe l a A N PC e pe l a Câ m a ra Mu n icipa l de Ni sa, compree nde pa i néi s de debate sobre “P roteção Civ i l e problem as do O rde n a me nto do Ter r itór io”, “Reabi l it ação P re ve nt iva" e “Equ ipas Mu lt id i scipl i n a res de I nter ve nção Loca l”. A e nt rad a é l iv re.