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Unidade 1: Sistemas Processuais - Direito Penal e Processo Penal Aula zero: Raízes Históricas e Filosóficas dos sistemas Processuais Sistema misto: sistema acusatório + sistema inquisitório Historicamente, o sistema acusatório é mais antigo que o inquisitório. O último atingiu seu auge no medievo através das famosas inquisições que se estendem também pela modernidade. Só no século 18 algumas práticas inquisitórias começaram a ser abandonadas, porém, diversas até hoje imperam, como, por exemplo, através do instituto da confissão. Já o sistema acusatório surge na Grécia e na Roma antiga e foi conhecida por nós através das grandes tragédias gregas. Uma das mais marcantes em relação ao Direito é o Julgamento de Orestes. Através dessa tragédia percebe-se que o direito abandona seu caráter de vingança influenciado por fortes emoções para assumir uma postura mais patriarcal e baseada na racionalidade. As bases do julgamento acusatório são, nesse sentido, o julgamento, a retórica e a razão. Ponto interessante dessa tragédia é que a juíza foi a deusa Palas Atena, que representa a sabedoria e a estratégia. No caso ela dá o voto de Minerva e opta pela absolvição de Orestes no crime de matricídio. A partir desse ponto, "morre" a face vingativa do direito e impera a razão. O concílio de Latrão, em 1215, promove o fim das ordálias (juízos de Deus) e se inicia a inquisição medieval controlada pelos dominicanos. Na Inglaterra surgem os júris (12 homens, representantes de Deus na terra, julgam os réus). Ouro modelo de júri se desenvolve nessa época, o chamado modelo escabinato . Nesse modelo há tanto juízes profissionais e juízes leigos. No Brasil, o 1 júri chega em 1822, sendo responsável pelo julgamento de crimes contra a imprensa, não tratando, em um primeiro momento, dos crimes contra a vida. Além disso, havia inquisições itinerantes que utilizavam, fundamentalmente, a tortura como meio de obtenção de provas. Destaca-se também a importância histórica da Carta Magna de João Terra (15 de junho de 1215), a qual postula que nenhum homem será julgado ou expropriado de seus bens a não ser pela lei da terra, sendo esta a base do princípio do devido processo legal. Também chamado de escabinado. 1 Direito Processual Penal II de 1 27 Direito Processual Penal II Faculdade de Direito da UFMG Ana Clara Pereira Oliveira Professor(a): Daniela Marques 2015/2º - Diurno

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Unidade 1: Sistemas Processuais - Direito Penal e Processo Penal

Aula zero: Raízes Históricas e Filosóficas dos sistemas Processuais • Sistema misto: sistema acusatório + sistema inquisitório Historicamente, o sistema acusatório é mais antigo que o inquisitório. O último atingiu seu auge no medievo através das famosas inquisições que se estendem também pela modernidade. Só no século 18 algumas práticas inquisitórias começaram a ser abandonadas, porém, diversas até hoje imperam, como, por exemplo, através do instituto da confissão. Já o sistema acusatório surge na Grécia e na Roma antiga e foi conhecida por nós através das grandes tragédias gregas. Uma das mais marcantes em relação ao Direito é o Julgamento de Orestes. Através dessa tragédia percebe-se que o direito abandona seu caráter de vingança influenciado por fortes emoções para assumir uma postura mais patriarcal e baseada na racionalidade. As bases do julgamento acusatório são, nesse sentido, o julgamento, a retórica e a razão. Ponto interessante dessa tragédia é que a juíza foi a deusa Palas Atena, que representa a sabedoria e a estratégia. No caso ela dá o voto de Minerva e opta pela absolvição de Orestes no crime de matricídio. A partir desse ponto, "morre" a face vingativa do direito e impera a razão. O concílio de Latrão, em 1215, promove o fim das ordálias (juízos de Deus) e se inicia a inquisição medieval controlada pelos dominicanos. Na Inglaterra surgem os júris (12 homens, representantes de Deus na terra, julgam os réus). Ouro modelo de júri se desenvolve nessa época, o chamado modelo escabinato . Nesse modelo há tanto juízes profissionais e juízes leigos. No Brasil, o 1

júri chega em 1822, sendo responsável pelo julgamento de crimes contra a imprensa, não tratando, em um primeiro momento, dos crimes contra a vida. Além disso, havia inquisições itinerantes que utilizavam, fundamentalmente, a tortura como meio de obtenção de provas. Destaca-se também a importância histórica da Carta Magna de João Terra (15 de junho de 1215), a qual postula que nenhum homem será julgado ou expropriado de seus bens a não ser pela lei da terra, sendo esta a base do princípio do devido processo legal.

Também chamado de escabinado.1

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Direito Processual Penal II

Faculdade de Direito da UFMG Ana Clara Pereira Oliveira

Professor(a): Daniela Marques 2015/2º - Diurno

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Unidade 1: Jurisdição e Competência

1.1) Sujeitos Processuais: Acusado/Ministério Público/Juiz • Processo, no direito penal, é um conflito entre o ius puniendi do estado o ius

libertatis do acusado. • O processo penal é um instrumento de aplicação do direito penal e está

intimamente ligado à Constituição. Nesse sentido, teorias postulam que o processo é democrático na mesma medida em que a Constituição do país é, assumindo suas feições (princípios, garantias ...)

• O acusado é a figura central do drama processual, bem como seu advogado (ou defensor).

• Na idade média também teve origem outro instituto jurídico importantíssimo para o processo penal, o ministério público, de origem francesa, surgindo a partir de uma ordenança de Felipe, o Belo.

• O juiz deve ser sempre imparcial e equidistante em relação às partes. A neutralidade, por outro lado, apesar de ser apontada como uma das características desejáveis ao juiz é inatingível, já que ele é humano e pulga através de suas crenças e de sua vivência. Principalmente os juízes criminais tem uma difícil tarefa, que é a de reconstrução do fatos (função de historiador)

• Zaffaroni propõe a existência de 3 modelos judiciários, sendo eles: (1) Modelo judiciário empírico primitivo (similar ao modelo francês), sendo um judiciário fraco; (2) Modelo técnico burocrático (sistema brasileiro) no qual o indivíduo passa por um concurso para se tornar juiz, além de, nesse sistema, haver inúmeras garantias e regras que permeiam o cargo, como, por exemplo, a proibição dos juízes de exercer cargos de chefia e as garantias da inamovibilidade e da vitaliciedade. Para assumir um cargo de segundo grau, no entanto, não são feitos concursos, como no primeiro. Mas sim, assume-se um caráter político para os critérios de elevação dos cargos; (3) Modelo democrático ideal (modelo americano) no qual o judiciário é forte e tem sensibilidade para identificar as demandas sociais. Ele estaria em construção permanente e a figura do juiz seria fundamental.

1.2) Jurisdição: • Jurisdição: Ius dictio (função de dizer o direito). - A jurisdição é, modernamente, um dever/poder do estado consagrado

constitucionalmente. - Princípios da Jurisdição:

a) Juiz natural: Quem tem a função de dizer o direito é o juiz natural, que nada mais é que uma garantia essencial do processo justo. Ele deve ser previamente constituído e determinado. Ele não pode ser definido a

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posteriori, de forma casuística (tribunal de exceção , ou seja, constituído 2

depois da causa). b) Imparcialidade do julgador c) Princípio da indeclinabilidade da Jurisdição: não é possível declinar a ação da Jurisdição d) Princípio da indelegabilidade: não se pode delegar a jurisdição a terceiros. e) Princípio da inércia da Jurisdição: para que o juiz aja ele deve ser provocado por meio da ação.

1.3) Competência • Definição: campo delimitado de ação do juiz, ou medida/limite/porção da

Jurisdição. No campo processual penal a definição da competência é extremamente complexa.

• Como definir a competência? Através de uma série de perguntas: 1. Qual a justiça competente?

(a) Competência em razão da matéria : É absoluta. Pode ser encontrada 3

na Constituição federal e dos Estados. A justiça se divide entre comum (federal e estadual) e as especializadas (Justiça do Trabalho ; Justiça Militar 4

da união e dos estados; Justiça Eleitoral). a.1) Justiça militar: julga crimes militares (definidos no artigo 9º do CPM). Sua organização se dá da seguinte forma, basicamente:

Os militares estão sujeitos tanto ao código penal comum quanto ao código penal militar, dependendo da conduta. Assim, caso um militar mate a esposa por ciúmes, ele será julgado sob o código penal comum, no caso, pelo tribunal do júri . Os crimes serão militares, em geral, quando 5

praticados por um militar no exercício da função, contra outro militar em

No Brasil houve um tribunal nesses moldes, o chamado Tribunal de Segurança Nacional (1935-1945) constituído 2

principalmente para julgar crimes políticos e contra a economia popular. Foi o órgão responsável por julgar os indivíduos que participaram da Intentona Comunista.

Ex ratione materiae3

Não interessa ao nosso estudo, já que não tem competência penal.4

O tribunal do júri hoje, no Brasil, julga os crimes dolosos contra a vida, sendo eles, atualmente: homicídio, infanticídio, 5

aborto e instigação ao suicídio.

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atividade ou contra a instituição e a administração militar. Os crimes militares se dividem entre próprios (os que ferem a disciplina e a hierarquia militar. Ex.: desrespeitar superiores, embriagar-se em serviço, deserção, pederastia ou ato de libidinagem dentro do estabelecimento militar, entre outros) e crimes impropriamente militares, que são crimes presentes no código penal comum que, porém, também são tipificados pelo Código Penal Militar. (Ex.: uma lesão corporal ou um homicídio que ocorre no exercício da função militar). Atenção ao fato de que civis também podem ser, excepcionalmente, julgados pela Justiça Militar da União, em alguns casos específicos, como a invasão do quartel por civil, por exemplo. As auditorias militares, na JM da união, são órgãos na 1ª instância que funcionam pelo esquema do escabinado. Nesse sentido, são formados os conselhos de Justiça, os quais são compostos por um juiz auditor (juiz de carreira da justiça comum) e 4 juízes militares oficiais. A composição do Superior Tribunal Militar é definida pelo artigo 123 da CF/88 . A JM dos 6

Estados, por outro lado, tem competência cível e penal, ao contrário da JM da união, que apenas tem competência penal. Nas JMs dos Estados há o Juiz de direito (e não mais o juiz auditor) que julga sozinho os crimes militares praticados contra civis. Nos demais crimes, contra a autoridade e a disciplina militar, o juiz militar julga no sistema do escabinado, enquanto no caso dos crimes de cunho civil ele julga novamente sozinho. a.2) Justiça eleitoral: o juiz eleitoral será de primeiro grau da Justiça Estadual. Julga os crimes eleitorais que são definidos pelo código eleitoral. Em geral, crimes eleitorais ocorrem em três situações: durante o período eleitoral, por motivos eleitorais ou no exercício de uma função eleitoral. Caso ocorra, por exemplo, um crime eleitoral e um crime comum, é a justiça eleitoral que julga ambos. Quanto aos crimes contra a vida, em âmbito eleitoral, ainda não é pacífico na doutrina se o julgamento se dará pela própria justiça eleitoral ou pela justiça comum.

Art. 123 CC/88 "O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze Ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente da 6

República, depois de aprovada a indicação pelo Senado Federal, sendo três dentre oficiais-generais da Marinha, quatro dentre oficiais-generais do Exército, três dentre oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado da carreira, e cinco dentre civis. Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente da República dentre brasileiros maiores de trinta e cinco anos, sendo: I - três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional; II - dois, por escolha paritária, dentre juízes auditores e membros do Ministério Público da Justiça Militar. "

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a.3) Justiça Comum Federal: ela é dividida em Tribunais Regionais Federais (TRFs). Sua competência é taxativa, tratada pelo artigo 109 (CF/7

88), sendo a competência penal descrita a partir do inciso IV. Nesse sentido, atenção à parte final do inciso IV que diz: "(...) ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;". Ou seja, as justiças especializadas tem preferência em relação à justiça comum. Outro ponto importante é a menção ao crime político também no inciso IV. Ressalta-se que esses crimes são aqueles capitulados pela lei de segurança nacional, sendo estes crimes comuns travestidos de significação política. Ex.: indivíduo ameaça matar a presidente.

* Obs.: Incidente de deslocamento de competência: grave violação de direitos humanos (art. 109, V-A CF/88). Atenção às súmulas que tratam da matéria:

- STJ: 38, 42, 62, 73, 107, 140, 147, 151, 161, 192, 200, 208, 209. - STF: 522.

a.4) Justiça Comum Estadual: competência residual.

2. Competente o órgão inferior ou superior? (b) Competência por prerrogativa de função (ratione personae): É absoluta. Órgãos que julgam indivíduos que praticam crimes na prerrogativa de sua função: * STF: artigo 102 (CF/88) julga o primeiro escalão dos poderes executivo/

legislativo/judiciário (presidente, vice, ministros e etc.) * STJ: artigo 105 (CF/88) julga o segundo escalão dos 3 poderes

(governadores, desembargadores e etc.) * TRF's e TJ's * TREs

"Art. 109 (CF/88). Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) IV - os crimes políticos e as infrações penais 7

praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; V-A - as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira; VII - os "habeas-corpus", em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição; VIII - os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais; IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar; X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização; XI - a disputa sobre direitos indígenas.

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(c) Competência territorial (ratione loci): • Teoria do resultado - Lugar da infração: onde se consumou o ato ou onde

se deu a última tentativa (teoria do resultado).

Porém, por diversas vezes, esse critério pode gerar artificialidade. Não havendo a aplicação do direito no local no qual o crime causou maior comoção, acabam se perdendo alguns objetivos contidos nele (prevenção e reparação, por exemplo). Assim, há a mitigação da teoria do resultado.

• Teoria da ubiquidade: o Código Penal, ao definir o lugar do crime (art. 6°), estabelece que:

A aparente contradição entre as duas normas pode ser resolvida a partir da lição de Mirabete:

" (...) a superveniência da Lei n° 7.209, de 11-7-84, que deu nova redação à Parte Geral do Código Penal, não alterou a regra do artigo 70, caput, do CPP, já que o artigo 6° daquele Estatuto refere-se ao lugar do crime para os efeitos de direito penal e não como regra de competência." 8

Assim, se estabelece como regra geral a teoria do resultado, haja vista também a súmula 200 do STJ: "o juízo federal competente para processar e julgar acusado de crime de uso de passaporte falso é o lugar onde o delito se consumou". Em dissonância com a regra geral, a Lei n° 9.099/95, que dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, optou pela Teoria da Ubiqüidade, o que é demonstrável pelo seu artigo 63:

MIRABETE, Julio Fabbrini. Op. Cit. p. 173.8

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Art. 70. (CPP/41) A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.

§ 1º - Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução.

§ 2º - Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado.

§ 3º - Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela

prevenção.

Art. 6º (CP). Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

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Porém, há quem interprete o termo "praticada", utilizado no art. 63, com o sentido de realizada, executada, consumada.

• Critério subsidiário: domicílio do réu

Porém, tal critério não é subsidiário em relação aos crimes de ação privada (ex:. Crimes contra a honra). Nesse caso, ele será concorrente.

• Prevenção: o juiz que primeiro conhecer da causa irá atuar

3. Qual a vara competente? Competência por distribuição, feita por um sistema eletrônico que busca o equilíbrio.

• Causas modificadoras da competência: Conexão X Continência O objetivo é atingir a unidade de processo é julgamento. (1) Conexão: art. 76, CPP. É entendida como um liame entre dois ou mais fatos

tipificados como crime que enseje a união dos processos, tudo para que o julgador possua uma perfeita visão do quadro probatório. Pode ser intersubjetiva (ocasional ou por simultaneidade; concursal; reciprocidade) objetiva ou teleológica e probatória ou instrumental.

(2) Continência: art. 77, CPP. Uma conduta criminosa que pode ser cometida em pluralidade de agentes, no caso de concurso formal ou também crimes aberrantes (ocasiões onde um fato típico decorre de outro, por circunstâncias

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Art. 72. (CPP) Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu.

§ 1º - Se o réu tiver mais de uma residência, a competência firmar-se-á pela prevenção.

§ 2º - Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato.

Art. 69 (CPP). Determinará a competência jurisdicional: (...)

II - o domicílio ou residência do réu;

Art. 63 (Lei 9.099). A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração penal.

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alheias a conduta do agente, sendo que alvo distinto de sua intenção é afetado com os efeitos do delito inicial.)

• Conflito de competência: pode ser positivo (ambos se declaram competentes) ou negativo (os dois se declaram incompetentes).

Unidade 2: Processo e Procedimento

2.1) Conceitos e natureza jurídica • Processo - pro cedere: caminhar para frente de forma ordenada caminhando

para o julgamento. • Relação jurídica: relação triangular - todos os sujeitos se relacionam entre si no

âmbito do processo. Deve haver um juiz que julgue (imparcialmente), um autor que demande e um réu a ser demandado. Lembrando que a ação penal pertence ao ministério público ou, extraordinariamente, um querelante. O réu só pode ser pessoa humana (ou pessoa jurídica, no caso de crimes ambientais), viva e maior de 18 anos.

• Atos processuais: os atos devem ser praticados sendo respeitada a forma. Se encadeiam uns aos outros até atingir a sentença. A nulidade de um dos atos pode importar na nulidade de todos os subsequentes.

• Além da teoria do processo como relação jurídica (Bülow) já descrita anteriormente e abarcada em nosso ordenamento, há também a teoria do processo como situação jurídica (Goldschmidt). Segundo ele, processo é guerra e nem sempre o dono do melhor direito é vencedor, mas sim, quem se vale melhor das estratégias processuais. Ele estabeleceu o conceito de ônus processual, utilizado, principalmente, em relação à prova. O ônus não é um dever, não causa punição caso não cumprida. Porém, se não for aproveitado, poderá gerar inclusive a perda da causa.

• Contraditório: ciência bilateral de atos e termos do processo e a possibilidade de contradizê-los. Paridade total de armas.

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• Ampla defesa: ampla defesa se relaciona intimamente com o contraditório. Ideia de garantir a defesa no âmbito mais abrangente possível. Não pode haver cerceamento infundado, ou seja, se houver falta de defesa ou se a ação do defensor se mostrar ineficiente, o processo poderá ser anulado.

• Processo e constituição: relação umbilical

Unidade 3: Comunicação dos atos processuais

3.1) Conceitos e linhas gerais: • Citação: chamamento do acusado em juízo para que tome ciência da acusação e

possa se defender. A defesa se divide entre autodefesa e defesa técnica (é exercida pelo defensor constituído, seja ele público, particular, ad hoc ou dativo, e é obrigatória. Mesmo que o réu não quiser ser defendido, o juiz deve nomeá-lo um defensor). A citação válida triangulariza a relação processual. O ato citatório no processo penal é uno e único.

• Intimação: usada para dar ciência de um ato passado. Também é usado esse nome para a notificação.

• Notificação: muitas vezes aparece denominado como citação, porém, tem uma pequena diferença. A ciência a ser dada é de um ato futuro.

3.2) A citação: pessoal e ficta • Citação pessoal: É aquela feita pessoalmente ao réu ou a quem o represente, e

gera os efeitos da revelia, caso o réu não apresente a sua contestação dentro do prazo fixado. A citação pessoal, por excelência é aquela feita por mandado. Os requisitos e características do mandado estão dispostas nos artigos 352 e 357 do CPP.

Quando o réu não morar na jurisdição, como diz o artigo acima, o juiz expedirá a carta precatória. Quando existe soberania diferente (outro país, por exemplo) há carta rogatória. Por fim, há a carta de ordem, quando o órgão superior (tribunal) determina que o juiz de primeiro grau citar o réu. • Citação ficta: citação por edital quando o réu se encontra em local incerto e não

sabido. Nesses casos, presume-se que o réu tomou conhecimento dos termos da ação por meio de edital ou pelo oficial de justiça, em não sendo encontrado pessoalmente.

• Citação por hora certa: introduzida no âmbito do processo penal apenas em 2008, com a redação do seguinte artigo:

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Art. 351. A citação inicial far-se-á por mandado, quando o réu estiver no território sujeito à jurisdição do juiz que a houver ordenado.

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O oficial de justiça deverá procurar três vezes o citando (diferentes dias e horas). Suspeitando que o indivíduo está se ocultando, o oficial deverá marcar dia e hora certa para realizar a citação, se o citando não aparecer, ocorrerá a citação por hora certa. Ele será dado como citado. • O doente mental será citado pessoalmente (caso a doença não seja

mencionada nos autos) e caso seja descrita nos autos, será citado via curador especial.

Observação: distinção entre norma penal e processual: A. Norma penal: Fala sobre crime ou pena (ex.: prescrição, tipo penal). A norma

penal nunca retroage em desfavor do réu. B. Norma processual penal: normalmente, serão normas de caráter puramente

instrumental (ex.: normas atinentes à citação). Nesse caso há imediaticidade de aplicação da norma, a não ser no caso de normas processuais com conteúdo de garantia, na qual se seguirá a premissa de não retroagir em desfavor do réu.

3.3) Prazos processuais: • Os prazos processuais marcam o tempo ou intervalos para que atos processuais

sejam praticados. No processo penal a contagem do prazo processual é feita à semelhança da contagem de prazo no processo civil. Os prazos estão dispostos no artigo 798 do CPP.

• Atenção à Súmula 710, que trata do início da contagem dos prazos:

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Art. 362. Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227 a 229 da Lei no 5.869, de 11

de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.

Parágrafo único. Completada a citação com hora certa, se o acusado não comparecer, ser-lhe-á nomeado defensor dativo..

Art. 798. (CPP) Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado.

§ 1º - Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento. § 2º - A terminação dos prazos será certificada nos autos pelo escrivão; será, porém, considerado findo o prazo, ainda que

omitida aquela formalidade, se feita a prova do dia em que começou a correr. § 3º - O prazo que terminar em domingo ou dia feriado considerar-se-á prorrogado até o dia útil imediato.

§ 4º - Não correrão os prazos, se houver impedimento do juiz, força maior, ou obstáculo judicial oposto pela parte contrária. § 5º - Salvo os casos expressos, os prazos correrão:

a) da intimação; b) da audiência ou sessão em que for proferida a decisão, se a ela estiver presente a parte; c) do dia em que a parte manifestar nos autos ciência inequívoca da sentença ou despacho.

Súmula 710 (STF): No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem.

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• Norma interessante é a do artigo 366 que dispõe sobre uma hipótese de suspensão do processo/prazos. Ela é uma norma mista dado que toca tanto o direito penal (suspensão do prazo prescricional) quanto o processual (suspensão do processo). Lembrando que, caso devam ser produzidas as provas pelo periculum in mora, como previsto no artigo, o juiz deve nomear um defensor (dativo, público ou ad hoc) para acompanhar a produção dessas provas.

Obs.: A suspensão é um congelamento do prazo. Por outro lado, diferentemente da suspensão, a interrupção do prazo faz com que ele volte ao início, é como se ele recomeçasse. • Qual será o prazo da suspensão? A norma é incerta, o que enseja critica de

grande parte dos processualistas. O processo ficará suspenso pelo máximo da pena cominada, segundo a súmula 415 do STJ.

3.4) A Intimação: • Dá-se ciência dos atos processuais aos entes do processo

• Intimação, via de regra será feita por mandado. O defensor dativo, por outro lado, deve sempre ser intimado pessoalmente. A defensoria bem como o MP deve ser intimados pessoalmente com a entrega dos autos.

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Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes

e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.

Súmula 415 (STJ) O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena cominada.

Art. 370 (CPP). Nas intimações dos acusados, das testemunhas e demais pessoas que devam tomar conhecimento de qualquer ato, será observado, no que for aplicável, o disposto no Capítulo anterior.

§ 1º - A intimação do defensor constituído, do advogado do querelante e do assistente far-se-á por publicação no órgão incumbido da publicidade dos atos judiciais da comarca, incluindo, sob pena de nulidade, o nome do acusado.

§ 2º - Caso não haja órgão de publicação dos atos judiciais na comarca, a intimação far-se-á diretamente pelo escrivão, por mandado, ou via postal com comprovante de recebimento, ou por qualquer outro meio idôneo.

§ 3º - A intimação pessoal, feita pelo escrivão, dispensará a aplicação a que alude o § 1º. § 4º - A intimação do Ministério Público e do defensor nomeado será pessoal.

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Unidade 4: Procedimentos

4.1) Procedimento Ordinário: • Crimes com pena máxima cominada superior a 4 anos • Oferecimento da denúncia ou queixa crime e do rol de testemunhas (oito)

- Uma boa denúncia deve responder às seguintes perguntas: quem (identificação física ou civil - nome, sobrenome e filiação materna do acusado ), quando, onde, como (meios de cometimento do crime) e porque. 9

É notória a dificuldade, muitas vezes, de se ter certeza de quem cometeu o crime, inclusive tendo vários possíveis autores do delito. Não obstante, a doutrina majoritária não aceita a acusação alternativa, por exemplo: denúncia contra João ou Maria ou Pedro. Quanto ao rol de testemunhas, cabe ressaltar que a vítima não poderá ser testemunha. Há uma diferença técnica entre sujeito passivo, ofendido e vítima. Sujeito passivo é nomenclatura pertencente ao Direito Penal, que seria o titular do bem jurídico lesado ou ameaçador de lesão. Já o ofendido é a pessoa jurídica ou física que ocupa posição de "perda" no processo penal. Caso o MP perca o prazo para arrolar testemunhas, ocorrerá preclusão quanto a esse ato. O juiz porém, pode aceitar o rol mesmo após o prazo e, por outro lado, a defesa poderá arguir a preclusão.

• Deve-se endereçar a denúncia ao juiz, que irá recebê-la ou rejeitá-la. - Cabe recurso apenas quando a denúncia é rejeitada. O recurso será estrito e

inominado. Atenção ao fato de que não é possível interpor recurso contra o recebimento da denúncia. O que o denunciado pode fazer é impetrar Habeas Corpus para trancamento da ação penal.

• Caso seja recebida, se dará a citação. • A defesa então apresentará resposta à acusação (prazo de 10 dias).

- Não pode haver ausência de resposta. Se o acusado não tem advogado, será nomeado defensor público ou dativo.

• Pode haver absolvição sumária: prova manifesta e clara nas hipóteses taxativas do artigo 397.

Ver lei n. 12.037/09.9

Direito Processual Penal II de 12 27

Art. 41. (CPP) A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando

necessário, o rol das testemunhas.

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• Caso não haja absolvição, se dará a audiência de instrução e julgamento: - Existem dois sistemas para presidir uma audiência: (1) Sistema presidencialista: o advogado pergunta ao juiz, e não diretamente à testemunha. (2) Exame direto/exame cruzado das provas: os advogados perguntam às partes de forma direta, sem passar pelo crivo do juiz. Ressalta-se que o juiz ainda pode indeferir as perguntas que julgar inadequadas.

2.a) Direto: o advogado pergunta para a própria testemunha por ele arrolada. 2.b) Cruzado: o advogado pergunta diretamente para a testemunha arrolada pela parte contrária.

- Há uma ordem a ser seguida durante a audiência: 1. A primeira pessoa a ser ouvida será o ofendido 10

2. Em seguida, ouvem-se as testemunhas de acusação. A ordem de quem pergunta também é muito importante: primeiro pergunta quem arrolou a testemunha de acusação (MP, querelante ou assistente do MP); em seguida o advogado de defesa pergunta e por último o juiz (sendo que, na prática, o juiz costuma perguntar primeiro, fato que pode ser considerado uma irregularidade).

3. São ouvidas as testemunhas de defesa. A ordem das perguntas se inverte: primeiro pergunta o advogado de defesa, após, o MP e então finalmente o juiz.

4. Podem ocorrer incidentes na audiência, de acordo com a necessidade (atenção, pode ser que não ocorram):

4.1) Se necessário, será ouvido o perito. 4.2) Na acareação testemunhas são colocadas frente à frente, para ver quem se desdiz. Segundo a professora, não surte efeito algum, já que existem pessoas que conseguem mentir de forma tão perfeita que chegam até mesmo a confundir a testemunha de boa-fé.

O ofendido declara, enquanto a testemunha depõe. Isso pois o primeiro não tem compromisso com a verdade, 10

enquanto o último sim.

Direito Processual Penal II de 13 27

Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:

I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;

II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade;

III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime;

IV - extinta a punibilidade do agente.

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4.3) Pode haver o reconhecimento de pessoas ou coisas. 5. Interrogatório do acusado - ver artigo 187 (último ato processual da

audiência): após ter acesso a todo material probatório, o acusado será ouvido. Como dito, ele pode estar presente durante toda produção de provas, porém no momento em que o ofendido pedir para que o acusado se retire, ele deverá ser retirado (ex.: vítima de estupro que não deseja estar na presença de seu agressor), mas permanecerá sempre seu defensor, e caso o acusado seja retirado, isso constará em ata. O interrogatório é, ao mesmo tempo, um meio de defesa é uma fonte de prova. Existem várias classificações, a saber:

5.1) Interrogatório de qualificação: não se pode mentir. O Juiz deve informar o acusado de seus direitos, sendo um deles o direito de silêncio. A pessoa, nesse momento, deverá se identificar civilmente. 5.2) Interrogatório de mérito: aspecto interessante do interrogatório é a previsão do direito ao silêncio, que teve origem romana que acabou perdendo força no tempo da inquisição. Em Roma, o silêncio admitia duas concepções, uma delas, significava o consentimento, enquanto a outra, significava discordância. Na teoria do processo penal atual, o silêncio é neutro. Apesar disso, na prática, o silêncio é altamente associado à ideia de culpa, ou cometimento do crime, devido à uma mentalidade herdada historicamente. Se o direito ao silêncio é invocado, nada mais deve ser perguntado. É previsto também o direito a ser ouvido em audiência. Ressalta-se que a vítima e as testemunhas podem ser conduzidas coercitivamente. Quanto ao acusado, a doutrina diverge. Existem aqueles que acreditam ser legal a condução coercitiva do acusado e outros que não. Lembrando que o código, em seu artigo 260 estabelece a possibilidade da coerção, porém há quem diga que ele não tenha eficácia no ordenamento.

O acusado, no processo penal brasileiro pode dar a versão mais compatível a sua defesa, inclusive faltando com a verdade. Isso

Direito Processual Penal II de 14 27

Art. 260. (CPP) Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à

sua presença.

Parágrafo único. O mandado conterá, além da ordem de condução, os requisitos mencionados no art. 352, no que lhe for aplicável.

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descende do princípio da não auto incriminação, princípio este que pode ser inclusive renunciado, tendo em vista a possibilidade de confessar o crime. Atenção ao limite desse princípio. O sujeito é autorizado a ficar inerte, porém, não se pode falsificar provas ou alterar o estado das coisas, sob pena de cometimento de injusto penal. Nos sistemas de common law, principalmente nos Estados Unidos, os acusados só poderão declarar a verdade, ou seja, se decidirem se pronunciar, devem falar a verdade, mas podem também se ater ao direito de silêncio. Isso leva à questão, no Brasil, do direito à mentira. Nesse ponto, se faz necessária a análise das fontes do direito, a saber, lei, costume, jurisprudência e doutrina. Nelas, não há, de forma reiterada ou clara, menção ao direito à mentira. Assim, o que ocorre, é a possibilidade de não dizer a verdade, e não propriamente o direito à mentira. Como não há proibição formal do acusado mentir não se pode obrigá-lo a dizer a verdade, sob pena de se incorrer em constrangimento ilegal. Porém, há limites. Um deles é o crime de auto acusação falsa, um crime contra a administração da justiça, no qual uma pessoa assume o crime que por outra foi praticado. Outro limite é a calúnia, que se caracteriza pela imputação falsa de crime a outrem. Atenção, não é possível atribuir a calúnia àqueles que realizam a delação premiada. No último, o indivíduo assume o crime e "entrega" outro que também tenha o cometido. O último grande limite é a denunciação caluniosa, chamada calúnia qualificada (crime contra a administração da justiça), não exige o animus calunianti. Durante o interrogatório pode ocorrer a confissão. Essa confissão pode ser simples (admissão da veracidade dos fatos narrados) ou qualificada, na qual o indivíduo admite a verdade mas traz novo fato, como, por exemplo, legítima defesa. Ex.: o acusado aceita a imputação do crime de homicídio, porém, alega que apenas o fez pela grave ameaça oferecida por aquele que ele matou. Se a parte acusada apresentar memoriais antes do MP o juiz pode dar vista ao último e, após, dar nova vista à defesa para que ela possa acrescentar algo, em respeito ao preceito de que o acusado deve sempre ter a última palavra.

4.2) Procedimento Sumário : • Crimes cuja pena é superior a 2 e menor que 4 anos. • Tratado nos arts. 531/538 • É um sistema quase não utilizado na prática forense

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• Em grande medida, apresenta os mesmo procedimentos do ordinário, porém, a ordem pode não ser a mesma e alguns são abreviados. Um exemplo é o fato do juiz ter de prolatar a sentença em audiência, tendo as partes então que apresentar alegações finais na forma oral. Porém, na prática, os juízes costumam autorizar memoriais escritos.

4.3) Procedimento Sumaríssimo (Lei 9.099/95): • Infrações penais de menor potencial ofensivo, o que engloba as contravenções

penais e crimes de pena máxima não superior a 2 anos. A competência pertence aos Juizados Especiais Criminais (JECrim).

• A lei 10.259/01 expandiu o procedimento sumaríssimo também para o âmbito da justiça federal, com a criação dos juizados criminais especiais.

• Contravenção penal: infrações de perigo, e não de dano. Além disso, não apresentam dolo ou culpa, mas sim a voluntariedade. Além disso, não admite tentativa. Muitas das contravenções estão em desuso. Pode haver previsão de prisão simples, multa ou penas alternativas.

• Princípios: → Concentração dos atos processuais → Oralidade → Informalidade → Economia processual

• Institutos: podem ser aplicados também fora do procedimento sumaríssimo. Não são institutos da lei, mas do processo penal como um todo.

→ Conciliação civil → Aplicação imediata da pena não privativa de liberdade (transação penal) → Suspensão condicional do processo - artigo 89, Lei n. 9.099/95: instituto despenalizador. É uma espécie de mitigação da indisponibilidade da ação penal pública para ações de médio potencial ofensivo. Atenção ao caput, que de forma clara trata de crimes com pena mínima igual ou inferior a um ano. É o MP que deve propor a suspensão e isso levanta a questão de cabimento da suspensão condicional em crimes de ação penal privada. Há jurisprudência tanto no que concerne à possibilidade quanto à impossibilidade, sendo a última a corrente majoritária, tendo em vista a restritividade da lei. O verbo "poderá" não traz uma faculdade do ministério público, mas sim um dever-poder. Assim, caso o indivíduo atenda os requisitos para a suspensão, o MP deve propô-la e, caso não haja tal proposição, a defesa poderá isso arguir. Nesses casos, não se discute a responsabilidade penal, não se declara culpa nem se tenta negá-la. O período de suspensão é de 2 a 4 anos, à luz do caso concreto. Outros requisitos são a não existência de outro processo em curso contra o acusado e também não condenação por outro crime.

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• Procedimento:

• Na AIJ: - nova tentativa de conciliação ou transação penal (art. 79); - oportunidade da defesa rebater a acusação (art. 81); - recebimento da D/Q (oral) - do recebimento não há recurso, porém do não

recebimento cabe apelação; - oitiva da vítima (ofendido) e das testemunhas; - interrogatório; - debates orais.

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Art. 89. (Lei 9.099/95) Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo

processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena. § 1º - Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo

o acusado a período de prova, sob as seguintes condições: I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;

II - proibição de freqüentar determinados lugares; III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz;

IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades. § 2º - O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do

acusado. § 3º - A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado,

a reparação do dano. § 4º - A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra

condição imposta. § 5º - Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.

§ 6º - Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo. § 7º - Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos.

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4.4) Procedimentos Especiais: • Lei de drogas - Lei n. 11.343/06

• Responsabilidade dos funcionários públicos: - A defesa se dá em momento anterior ao recebimento da denúncia.

• Crimes contra a honra (injúria, difamação e calúnia):

4.5) Delação premiada ou colaboração premiada: • A delação premiada é uma técnica de investigação que se consiste no

oferecimento de benefícios pelo Estado àquele que confessar e também prestar informações úteis ao esclarecimento do fato delituoso. Tal técnica de investigação ganhou notoriedade ao ser usada pelo magistrado italiano Giovanni Falcone para desmantelar a Cosa Nostra.

• Pode ser considerada uma declaração de falimento do estado, visto que ele precisa se valer do criminoso para resolver o crime. Assim, entende-se que o Estado falhou.

• Acordo feito entre o defensor do acusado e a polícia ou MP, como livre manifestação do arbítrio. O juiz não participa do acordo, mas apenas o homologa.

• Diversas leis, como a lei de drogas e a lei de proteção das testemunhas, por exemplo, tem previsão da delação premiada.

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• A previsão mais importante do instituto é feita pela Lei 12.850/1. → O artigo 4º da lei supramencionada define e legitima a chamada colaboração premiada. Nele estão dispostas as possibilidades de acordo, que são o perdão judicial, redução da pena ou substituição da pena privativa por restritiva de direitos. Além disso, o artigo demonstra os requisitos para tal acordo, como a livre e espontânea vontade e também a efetividade, ou seja, que ela leve a resultados que de fato colaboram e inovam a investigação. Então, o indivíduo não poderá apenas falar o que já se sabe ou o que fatalmente seria descoberto. → Atenção ao fato de que a delação por si só não é meio de prova. São necessárias outras provas para corroborar a tese levantada. → O perdão poderá advir de forma superveniente, mesmo sem que isso estivesse disposto no artigo inicial. → Apesar de não participar da negociação, o juiz pode recusar a homologação tendo em vista a falta de requisito legal ou inadequação ao caso.

4.6) Tribunal do júri: • Previsão constitucional:

• Procedimento complexo: inicia-se com a iudicium accusationis, que é o juízo ou processo da acusação, que vai do oferecimento da denúncia até sentença de pronúncia. Posteriormente, inicia-se a iudicium causae que é, por sua vez, a segunda fase do processo, que vai da preparação do processo para julgamento em plenário até a sentença de condenação ou absolvição dada pelo Conselho de Sentença.

• Crimes dolosos contra a vida: - Garantias: a) Soberania dos veredictos ; 11

b) Sigilo das votações; c) Incomunicabilidade dos jurados; d) Plenitude da defesa.

Apenas durante a Constituição Polaca essa garantia foi suprimida no país.11

Direito Processual Penal II de 19 27

Art. 5º (CF/88): XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:

a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações;

c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

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• No júri há linguagem retórica que é dinâmica, exclamativa e teatral. Tal linguagem é importante, a medida que se tenta convencer indivíduos comuns e muitas vezes leigos.

Unidade 5: Provas em espécie

5.1) Exame de Corpo de Delito e outras perícias: • Perito: indivíduo que tem conhecimento técnico, artístico ou científico sobre

algo que não é acessível a todas as pessoas, sendo necessária sua presença para dar respostas acerca de algo pertinente ao processo.

• O corpo de delito tem acepções penais e também processuais penais. No momento, apenas nos interessam as últimas. O corpo delito pode ser considerado o conjunto de elementos sensíveis do fato criminoso (vestígios)

• Criminologia x Criminalística: - Criminologia: campo de estudo de várias áreas do conhecimento, que busca

descobrir quem é o criminoso e suas motivações. - Criminalística: estudo técnico e científico, com o objetivo de desvendar o

crime. Sua técnica se traduz em perícias, nas quais serão aplicados conhecimentos específicos acerca de um assunto, chegando a conclusões científicas.

• Observação: tanto o falso testemunho quanto a falsa perícia, se encontram no mesmo tipo penal, o artigo 342, do Código Penal.

• O crime tem dois aspectos importantes e serem analisados pelas diferentes perícias, ou durante as investigações. Uma delas é o modus operandi e a outra é a assinatura do crime, a última principalmente presente nos crimes praticados por seriais. A assinatura seria aquele ritual o qual o criminoso nunca deixa de fazer ao cometer crimes, enquanto o modus operandi é a forma como o indivíduo age, suas técnicas e procedimentos. Para desvendar tais elementos, há uma ciência não muito desenvolvida no Brasil, chamada "profiling".

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Art. 342 (CP): Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: (Redação

dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001) Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 12.850, de 2013) (Vigência)

§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em

que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)

§ 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade

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• A falsidade ideológica não dá margem para perícias, tendo em vista que o documento é verdadeiro. Porém no caso de falsificação de documentos é amplamente cabível.

• Falsidade grafotécnica: perícia de análise da letra do indivíduo. A doutrina se divide com relação á necessidade ou obrigatoriedade da pessoa fornecer material para realizar os testes. Alguns acreditam que sim, outros que não com base no princípio da não auto-incriminação.

• Necessidade do exame do corpo de delito:

• O artigo 159, do Código de Processo Penal, trata das disposições gerais acerca da perícia.

• Deverá ser elaborado laudo pericial, com base no artigo 160, CPP. 5.2) Confissão: • Na idade média era chamada de rainha de todas as provas, prevalecendo está

sob as demais. • A confissão pode ser:

- Simples: admissão da veracidade dos fatos narrados; - Qualificada: o indivíduo admite a verdade mas traz novo fato, como, por

exemplo, legítima defesa. • Na atual conjuntura, não é mais a confissão interpretada como a mais importante

das provas. A confissão mais desejável é aquela feita em juízo. 5.3) Prova testemunhal: • Considerada uma prova muito importante, presente em grande parte dos casos. • Importante ressaltar a dificuldade desse tipo de prova, tenso e, vista a

possibilidade de existirem falsas memórias e do componente emocional. • A testemunha deve ser um estranho, sem envolvimento com qualquer das

partes. • A testemunha não deve julgar fatos, apenas testemunhar sobre o que viu, a não

ser que seja imprescindível, sob pena de indeferimento por parte do magistrado.

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Art. 158 (CPP): Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

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Unidade 6: Nulidades

6.1) Formas e formalidades • A forma e as formalidades do processo: tipicidade dos atos processuais

- As formas e as formalidades previstas em lei devem ser seguidas, sob pena de negação do processo, ou seu tumulto.

- Dessa forma, os atos processuais devem ser dotados de tipicidade, com certa obediência à forma.

- Porém, no processo penal, há o princípio da instrumentalidade das formas, que relativiza a importância das formalidades. De acordo com esse princípio, ainda que não se obedeça a forma, mas se for alcançada a finalidade do ato, este será válido.

• Nulidade: desvio e sanção - A nulidade é a sanção gerada pelo não respeito à forma. - A consequência da nulidade é a volta da marcha processual e do processo no

tempo. Sendo declarada nula, por exemplo, a citação, tudo que foi praticado posteriormente, irá recuar ao momento da citação.

- Com relação à nulidade, temos as seguintes classificações, com relação aos atos:

(a) Nulos: nulidade absoluta. Esse tipo de ato não permite convalidação, sempre havendo prejuízo, importando na nulidade de todos os atos dele decorrentes. São de interesse público e o juiz poderá declará-los de ofício. Um exemplo é a sentença na qual o dispositivo não corresponde à toda motivação anterior. Essa sentença seria totalmente nula. Para identificar atos nulos absolutamente, basta conferir se estes contrariam princípios constitucionais ;

(b) Nulos: nulidade relativa. O interesse dela é das partes, devendo haver a demonstração de prejuízo. Esse tipo de nulidade admite sanatórios. A nulidade será suscitada apenas pela parte que tiver interesse;

(c) Irregulares: desvio mínimo da forma, como a falta ou erro da data da sentença, por exemplo.

(d) Atos inexistentes: atos fantasmas, como, por exemplo, a senha proferida por estagiário.

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Unidade 7: Sentença

7.1) Significado e etimologia da sentença: • A forma e as formalidades do processo: tipicidade dos atos processuais 7.2) Sentença absolutória: • Ocorre quando é julgado improcedente o pedido. • No dispositivo, o juiz escreverá "ante o exposto, julgo improcedente ..." • As hipóteses de absolvição está dispostas no artigo 386 do CPP. 12

• Tipos de sentença absolutória: A. Sentença absolutória própria B. Sentença absolutória imprópria

• Efeitos: revogação de qualquer cautelar (ex.: prisão, medidas cautelares da lei Maria da Penha e etc.).

7.3) Sentença condenatória: • O juiz, na sentença captulará a conduta, irá dizer o direito. Além disso, fará a

dosimetria penal, ou • Os fatos narrados na queixa crime ou na denúncia vinculam necessariamente o

juiz, principalmente no momento de prolatar a sentença, respeitando o princípio da congruência ou correlação entre a denúncia e a sentença, sob pena da sentença ser extra petita ou ultra petita.

Unidade 8: Recursos

8.1) Conceito: • Conceito: "meio voluntário de impugnação de decisões, antes de sua preclusão

e na mesma relação jurídica processual, propiciando a reforma total ou parcial, a invalidação, o esclarecimento ou a integração da decisão." 13

• Recurso: voltar no caminho percorrido, pelo inconformismo da parte vencida. • A sentença sempre permitirá a reapreciação. • Recursos são interpostos, ações são ajuizadas e embargos são opostos.

Art. 386. (CPP) O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: 12

I - estar provada a inexistência do fato; II - não haver prova da existência do fato; III - não constituir o fato infração penal; IV - estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; V - não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; VI - existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência; VII - não existir prova suficiente para a condenação. Parágrafo único. Na sentença absolutória, o juiz: I - mandará, se for o caso, pôr o réu em liberdade; II - ordenará a cessação das medidas cautelares e provisoriamente aplicadas; III - aplicará medida de segurança, se cabível.

Nelson Nery Junior 13

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• No processo penal, via de regra, há duplo prazo para recurso. Um deles o prazo de 5 dias para o inconformismo e outros 8 para apresentar as razões. A tempestividade do recurso é contada apenas no primeiro prazo. O juiz poderá fixar multa para fazer valer o segundo prazo, porém não há consequências graves quando se extrapola o prazo. Há uma exceção, a apelação, que tem prazo único de 10 dias.

8.2) Princípios: A. Duplo grau de jurisdição: - Materializa o princípio do duplo grau de jurisdição, que se encontra na

complexa estrutura da própria justiça brasileira. B. Voluntariedade dos recursos: - Os recursos são voluntários, já que apenas recorrerá quem possui interesse na

reforma. Lembrando que o MP, apesar de ser regido pelo princípio da obrigatoriedade, não é obrigado a interpor o recurso.

- Existem exceções a esse princípio, podendo haver recurso ex officio, dispostas no artigo 574 do CPP. Porém, entende-se que esse artigo é considerado não 14

recepcionado pelo texto constitucional. Essa lei é da década de 50, e muitos dispositivos dela não se coadunam com o atual estágio do direito.

C. Disponibilidade recursal: - O MP, uma vez interposto o recurso, não pode dele desistir. Porém, na doutrina

moderna, defende-se que há mit igação ou f lexibi l ização dessa indisponibilidade. Importante ressaltar que o MP pode pedir a absolvição do réu, inclusive em vias de recurso.

- As partes, por outro lado, podem desistir a qualquer momento. D. Unirrecorribilidade: significa que de cada decisão só cabe um recurso,

devendo o recorrente adotar sempre o recurso mais benéfico. Ex.: sentença que condena o réu, aplica a pena e declara extinta a punibilidade. Da decisão que declara extinta a punibilidade cabe recurso em sentido estrito e da sentença condenatória, apelação (CPP, 593, I). Entre ambos, escolhe-se o mais benéfico ou o mais amplo, que é a apelação.

E. Fungibilidade recursal: quando a parte se equivoca na interposição do recurso, este ainda poderá ser aceito. As exceções a esse princípio são o erro grosseiro e má-fé casos nos quais não se aplica a fungibilidade.

Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser interpostos, de 14

ofício, pelo juiz: I - da sentença que conceder habeas corpus; II - da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de circunstância que exclua o crime ou isente o réu de pena, nos termos do art. 411.

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F. Vedação da reformatio in pejus: - Sendo o recurso exclusivo da defesa, não poderá de forma alguma ser piorada

a situação do réu, poderá apenas permanecer a mesma ou ser melhorada. Além disso, esse princípio também dispõe que não é possível reformar a decisão além do tópico previsto no recurso exclusivo da acusação, assim, se o MP não pede a piora da situação do réu, essa não poderá ser realizada.

- Reformatio in pejus indireto: suponha-se que há sentença em processo dotado de nulidade ou proferida por juiz relativamente incompetente. Quando o juiz for novamente prolatar a sentença, o limite será o máximo cominado na decisão anterior. Mas, se o juiz for absolutamente incompetente, há bastante discussão a respeito do tema.

G. Taxatividade: - O recurso deve ser sempre previsto taxativamente pela lei, não podendo o

indivíduo "inventar" um recurso. 8.3) Efeitos: • Suspensivo: suspensão dos efeitos (eficácia) da sentença. Tal efeito ocorrerá

apenas na sentença condenatória, não se fazendo presente na absolutória. • Devolutivo: O efeito devolutivo é o que atribui ao juízo recursal o reexame da

matéria analisada pelo órgão jurisdicional recorrido (juízo a quo ). Tal 15

reapreciação caracteriza a devolução. • Extensivo: suponha-se que existem três acusados, mas apenas um deles

recorreu. Nesse caso, o recurso alegou a prescrição do crime. Sendo reconhecida a prescrição, ocorrerá a extensão também àqueles que não recorreram. Só não se estenderá quando o caráter for personalíssimo.

• Iterativo/regressivo ou diferido: somente caberá em recurso em sentido estrito e agravo. Antes de subirem os autos ao tribunal superior o juiz poderá retratar-se da sentença.

Diferente de juízo a quem, que será o órgão revisional, ou seja, que promoverá a revisão da decisão tomada pelo 15

órgão a quo.

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Art. 579 (CPP): Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por outro.

Parágrafo único. Se o juiz, desde logo, reconhecer a impropriedade do recurso interposto pela parte, mandará processá-lo de acordo com o rito do recurso cabível.

Art. 617 (CPP): "O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da

sentença."

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8.4) Juízo de admissibilidade ou de prelibação: • Os juízes farão o exame dos requisitos e pressupostos recusais, podendo o

tribunal conhecer ou não reconhecer do recurso, o último caso, por exemplo, nas hipóteses de não ser cabível o recurso ou ser este intempestivo.

• Requisitos objetivos: I. Cabimento: previsão legal do recurso e das condições de seu exercício; II. Tempestividade: art. 575 do CPP. O artigo deve ser proposto dentro do prazo

previsto em lei; III. Inexistência de fatos impeditivos e modificativos; IV. Motivação: os recursos devem ser fundamentados. • Requisitos subjetivos: I. Legitimidade: pertinência subjetiva do recurso, ou seja, trata de quem poderá

recorrer; II. Interesse: O interessado deve vislumbrar alguma utilidade que somente pode

ser obtida por meio do aludido recurso, tendo o interessado sofrido algum prejuízo ou estando insatisfeito com a decisão. Em linhas gerais respeita-se o binômio necessidade + utilidade.

III. Sucumbência (?) 8.5) Recursos em espécie: Decisão com força de definitiva: julgar o mérito com o objetivo de encerrar o processo/simples: não poderão ser impugnadas, são exemplos /mista: A. Apelação: - São duas peças: interposição de apelação (poderá ser feita por petição ou

reduzida a termo) e as razões recursais, devido a isso, possui duplo prazo recursal. Para interpor apelação basta manifestação da vontade, devendo esta ser reduzida a termo.

- Cabe contra decisões de força definitiva bem como para sentenças. - Sua fundamentação pode ser livre ou vinculada. A primeira, trata de qualquer

matéria, enquanto a segunda, que ocorre no caso de tribunal do júri, só poderá abordar matéria determinada.

- Artigo 601: faculdade de apresentação pelo réu, das razões apenas na instância superior.

B. Recurso em sentido estrito: - Cabe contra decisões interlocutorias previstas no artigo 581. - Pode ser comparado ao agravo no processo civil. - O desejo de recorrer deverá ser manifesto em 5 dias, a parte terá 2 dias para

apresentar as razões. Mas, se não o fizer, não há problema.

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- Existe a possibilidade do juízo de retratação (589, CPP). Se o juiz não retrata, serão encaminhamos os autos à instância superior.

C. Agravo em execução: - O procedimento a ser adotado pode ser o de:

a. Agravo de instrumento b. Recurso em sentido estrito (doutrina majoritária e STJ).

- Súmulas 700, STF: fixação do prazo de 5 dias - Legitimação ampla: pode ser interposto por parentes, conjugues ou

descendentes. D. Correição parcial: - Error in procendo - Regra geral: agravo de instrumento - previsto no regimento E. Embargos declaratórios: - 1ª ou 2ª instância (2 dias) - Obscuridade, ambiguidade, contradição, omissão. - CPC, por analogia. - Petição - Interrupção do prazo - Súmula 418, STJ (reiteração) F. Carta testemunhável: - Decisão que denega recurso quando não couber outro recurso. - Recurso em desuso, sendo conhecido antes como o "recurso do rei". - Prazo de 48 horas. - Interessado no juízo Ad quem, segundo rito do recurso interposto. G. Embargos infringentes ou de nulidade: - Recurso interposto exclusivamente pela defesa. - Prazo de 10 dias - Art. 609 - Decisão não unânime em desfavor ao réu - Procedimento: Regimento interno H. Embargos de divergência: - Decisão contrária à anteriormente manifestada I. Revisão criminal: - Não é recurso, mas uma ação autônoma de impugnação, apesar de disposta no

capítulo dos recursos. Taxativamente disposto o cabimento no artigo 621.

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