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2021 Processo do TRABALHO PARA OS CONCURSOS DE ANALISTA DO TRT, TST E DO MPU Coleção Tribunais e MPU Coordenador HENRIQUE CORREIA ÉLISSON MIESSA 9. a edição Revista e atualizada

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2021

Processo doTRABALHO

PARA OS CONCURSOS DE ANALISTA DO TRT, TST E DO MPU

Coleção Tribunais e MPU

Coordenador HENRIQUE CORREIA ÉLISSON MIESSA

9.a edição

Revista e atualizada

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Cap. XII – PROVAS

CAPÍTULO XII

Provas

1. INTRODUÇÃO

Em razão da importância da prova, ela já foi chamada por Carnelutti de “coração do processo”. Isso porque ela tem o condão de convencer o julgador a respeito dos fatos alegados pelas partes, ou seja, demonstrar a certeza dos fatos aduzidos em juízo.

A prova tem como objeto, portanto, a comprovação dos fatos controvertidos, pertinentes e relevantes ao esclarecimento do processo. Não se busca, pois, a com-provação do direito, uma vez que este o juiz conhece (iura novit curia).

Excepcionalmente, no entanto, admite-se a prova do direito, como ocorre nas hipóteses de comprovação dos direitos municipal, estadual, estrangeiro ou consue-tudinário, quando exigido pelo juiz (CPC/2015, art. 376). Nesses casos, poderá o juiz solicitar a comprovação de seu teor e de sua vigência.

fATENÇÃO:A comprovação do direito, nesses casos, não é automática, dependendo de solicitação do juiz.

No processo do trabalho, a doutrina também exige a comprovação do direito quando decorrente de normas coletivas (convenção coletiva e acordo coletivo), regulamento de empresa e sentenças normativas.

É importante observar que, nos termos do art. 374 do CPC/2015, alguns fatos não dependem de provas, a saber:

1) fatos notórios: de conhecimento público e não apenas das partes.

2) fatos confessados: alegados por uma parte e admitidos pela parte contrária.

3) fatos incontroversos: alegados por uma parte e não negados pela parte contrária.

4) em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade. A presunção pode ser:

• absoluta (juris et de juris): quando não admite prova em sentido contrário;

• relativa (juris tantum): quando admite a produção de prova em contrário.

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PROCESSO DO TRABALHO – Élisson Miessa

Por fim, os destinatários da prova são as partes1 e o juiz, o qual, por meio do seu convencimento motivado, deverá analisá-las. Isso quer dizer que o magistrado terá de verificar o conjunto probatório produzido nos autos, motivando quais foram capazes de comprovar os fatos alegados (CF/88, art. 93, IX).

fOBSERVAÇÃO:Os juízos e tribunais terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento delas (CLT, art. 765).

2. PRINCÍPIOS DA PROVA

2.1. Contraditório e ampla defesa

A Constituição Federal de 1988 estabelece no art. 5º, LV, o direito à observância do princípio do contraditório e da ampla defesa nos processos judiciais e administrativos.

O princípio do contraditório pode ser analisado sob dois enfoques:

a) contraditório formal: consiste no binômio informação + possibilidade de reação. Preocupa-se em dar ciência às partes do ocorrido nos autos, per-mitindo sua manifestação.

b) contraditório substancial (dinâmico): amplia o conceito do contraditório, tornando-se um trinômio: informação + possibilidade de reação + poder de influenciar o julgador. Com efeito, não basta a mera permissão de que as partes se manifestem, sendo necessária que essa permissão ocorra antes da decisão judicial, a fim de que possam influenciar o convencimento do julgador, impedindo ainda o proferimento de decisões-surpresa. Trata-se do denominado contraditório efetivo.

A ideia de contraditório substancial veio contemplada no CPC/2015, aplicável subsidiariamente ao processo do trabalho, como se pode observar em seu artigo 7º:

Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório (Grifo Nosso).

Isso significa que às partes é conferido o direito de ter informação das provas colhidas nos autos, sendo-lhes oportunizada a possibilidade de contraditá-la, para que possam influir no convencimento do juiz.

Portanto, tem as partes o direito de produzir as provas, participar de sua pro-dução e de manifestarem sobre a prova produzida

1. A doutrina atual tem admitido que além do juiz as partes também são destinatárias da prova.

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Ademais, o CPC/2015 impede que o juiz profira suas decisões sem que antes possibilite a participação das partes, vedando, pois, a prolação de decisões-sur-presa, como se verifica pelos artigos 9º e 10 (TST-IN nº 39/2016, art. 4º), aplicáveis subsidiariamente ao processo do trabalho, in verbis:

Art. 9º. Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida.

Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:

I – à tutela provisória de urgência;

II – às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III;

III – à decisão prevista no art. 701.

Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.

Observa-se pelos supracitados dispositivos que, apesar de mantida a possibili-dade de o juiz reconhecer de ofício determinadas matérias, antes de reconhecê-las deverá dar à parte a oportunidade de se manifestar, com o objetivo de influenciar o julgador sobre o tema. Percebe-se, assim, que o princípio do contraditório não representa apenas uma garantia às partes, mas serve também como limitador dos poderes do juiz.

De acordo com entendimento de Humberto Theodoro Junior, “o contraditório mo-derno constitui uma verdadeira garantia de não surpresa que impõe ao juiz o dever de provocar o debate acerca de todas as questões, inclusive as de conhecimento oficioso, impedindo que, em ‘solitária onipotência’, aplique normas ou embase a decisão sobre fatos completamente estranhos à dialética defensiva de uma ou de ambas as partes”2.

Destaca-se que, para o C. TST, decisão-surpresa corresponde à decisão “que, no julgamento final do mérito da causa, em qualquer grau de jurisdição, aplicar fundamento jurídico ou embasar-se em fato não submetido à audiência prévia de uma ou de ambas as partes” (TST-IN nº 39/2016, art. 4º, § 1º).

Por outro lado, o C. TST não considera decisão-surpresa “a que, à luz do orde-namento jurídico nacional e dos princípios que informam o Direito Processual do Trabalho, as partes tinham obrigação de prever, concernente às condições da ação, aos pressupostos de admissibilidade de recurso e aos pressupostos processuais, salvo disposição legal expressa em contrário” (TST-IN nº 39/2016, art. 4º, § 2º).

2. THEODORO JR, Humberto. Processo justo e contraditório dinâmico. Revista de Estudos Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito jan-jun 2010, p. 69.

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PROCESSO DO TRABALHO – Élisson Miessa

Por fim, é importante registrar que, a doutrina distinguia os conceitos do con-traditório e da ampla defesa, entendendo aquele como o contraditório formal e a ampla defesa como a possibilidade de a parte se valer de todos os meios legais e moralmente legítimos para demonstrar suas alegações. Todavia, a ampliação do conceito e da aplicação do princípio do contraditório substancial fez com que a doutrina passasse a integrar a ampla defesa no conceito de contraditório.

2.2. Necessidade

O princípio da necessidade da prova declina que não basta a simples alegação do fato, devendo as partes comprovar em juízo suas alegações.

Dessa necessidade de demonstrar nos autos suas alegações, surge o princípio da escrituração ou escritura, o qual exige a materialização dos fatos relevantes nos autos, sob pena de serem ignorados no momento do julgamento. Em razão disso, a doutrina clássica impõe que o juiz somente pode tomar ciência daquilo que está nos autos, incidindo assim a máxima quod nonest in actis non est in mundo (o que não está nos autos não está no mundo).

Contudo, há de se observar que referido brocardo, de certo modo, começa a ser relativizado com a chegada do mundo virtual, em que a rede mundial de com-putadores aumenta em escalas consideráveis o fato público e notório, permitindo assim o amplo acesso às informações existentes fora dos autos, seja pelas partes, seja especialmente pelo magistrado.

Nesse contexto, a doutrina passa a utilizar-se do princípio da conexão, segundo o qual os mundos virtual e real se conectam, permitindo que o juiz se utilize de conhecimentos e informações que não constam expressamente dos autos, mormente quando se trata de processo judicial eletrônico, desde que observados os princípios do contraditório e da ampla defesa.

2.3. Oralidade

O princípio da oralidade consiste no predomínio da palavra falada, simplifican-do o procedimento, além de contemplar a celeridade e a efetividade da prestação jurisdicional.

Embora referido princípio não seja próprio do processo do trabalho, ele tem maior incidência nessa seara, em razão de suas características, em que dá preva-lência a atos orais, tais como: reclamação verbal (CLT, art. 840), defesa oral (CLT, art. 847), razões finais orais (CLT, art. 850) etc. Ademais, como regra, os atos praticados no processo do trabalho ocorrem na audiência, exigindo ainda a presença das pró-prias partes (CLT, art. 843).

É interessante observar que o princípio da oralidade se caracteriza pela con-junção dos seguintes princípios:

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a) a identidade física do juiz, de modo que este dirija o processo desde o seu início até o julgamento;

b) a concentração, isto é, que em uma ou em poucas audiências próximas se realize a produção das provas;

c) a irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias, evitando a cisão do processo ou a sua interrupção contínua, mediante recursos, que devolvem ao Tribunal o julgamento da decisão impugnada.

No que tange ao princípio da identidade física do juiz é importante destacar que, antigamente, o TST não aplicava esse princípio na seara trabalhista, criando a Súmula nº 136, em razão da existência, na época, dos juízes classistas. Posteriormente, o C. TST cancelou referida súmula, ante as diretrizes do art. 132 do CPC/73.3

Com o CPC/2015, o posicionamento do TST deverá ser novamente alterado, uma vez que o novel código não reproduziu o teor do art. 132 do CPC/73, o qual discipli-nava o princípio da identidade física do juiz. Com essa alteração, acreditamos que nas provas objetivas deverá ser adotada a tese de que referido princípio não é mais aplicado na seara processual, tanto civil, como trabalhista.

2.4. Imediação

Entende-se por princípio da imediação (ou imediatidade) “a necessidade de que a realização dos atos instrutórios deve se dar perante a pessoa do Juiz, que assim poderá formar melhor seu convencimento, utilizando-se, também, de impressões obtidas das circunstâncias nas quais as provas se realizam”4.

Para tanto é conferido ao juiz a direção do processo, podendo “determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento” da causa (CLT, art. 765), além de indeferir, em decisão fundamentada, “as diligências inúteis ou meramente protela-tórias” (CPC/2015, art. 370, parágrafo único).

2.5. Aquisição processual da prova ou comunhão da provaO princípio da aquisição processual da prova estabelece que, sendo produzida

a prova, ela se incorpora ao processo, sendo irrelevante quem a produziu. Isso significa que a prova sai da esfera de quem a produziu, tornando-se pertencente ao conjunto probatório, podendo favorecê-lo ou prejudicá-lo (CPC/2015, art. 371).

3. Mesmo depois do cancelamento da Súmula, em decisão da 3ª Turma do TST, o Min. Maurício Go-dinho Delgado continuou não aplicando o referido princípio no processo do trabalho, por força dos princípios da simplicidade, a celeridade e a efetividade da prestação jurisdicional. TST-Ag--AIRR-322-81.2011.5.06.0021. Terceira Turma. Rel. Min. Mauricio Godinho Delgado. DEJT 31.1.2014.

4. Souto Maior, Jorge Luiz apud Schiavi, Mauro. Provas no processo do trabalho. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Ltr, 2013. p. 42.

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Busca-se a “homogeneidade da eficácia probatória, pois deve ser atribuído um só valor à prova que, como tal, repercutirá na esfera do seu produtor e todos os outros sujeitos do processo: ou bem a prova demonstra a veracidade da alegação de fato, ou bem demonstra sua inveracidade, afinal não há meia-verdade; (...)”5 (grifos no original).

Há de se atentar para o fato de que o princípio da aquisição processual da prova não se confunde com o ônus objetivo. Aquele norteia o juiz num cenário de suficiência probatória, enquanto o ônus objetivo será utilizado quando há insufi-ciência probatória.

Portanto, havendo provas nos autos sobre determinado fato, desnecessário se valer do ônus objetivo, aplicando-se ao caso o princípio da aquisição processual da prova.

3. CLASSIFICAÇÃOA doutrina classifica o instituto da prova da seguinte forma:

a) quanto ao fato;

b) quanto ao sujeito;

c) quanto ao objeto; e

d) quanto à preparação.

No que se refere ao fato, as provas podem ser:

1) diretas quando dizem respeito ao fato probante (ex., testemunha viu o fato alegado); ou

2) indireta quando, em decorrência dos fatos provados, há indícios de veraci-dade dos fatos alegados.

Quanto ao sujeito, as provas se subdividem em pessoais e reais.

1) as pessoais são afirmações conscientes feitas por uma pessoa;

2) as reais são atestações inconscientes realizadas por uma coisa (ex., uma declaração contida em um documento).6

No que tange ao objeto, as provas podem ser testemunhais, documentais e materiais.

1) as testemunhas derivam de afirmações orais;

2) a documental é a afirmação escrita ou gravada;

5. DIDIER Jr., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual civil: Teoria da prova, direito probatório, teoria do procedente, decisão judicial, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2013. v. 2. p. 28.

6. CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. 18. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. v. 1, p. 375.

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3) as materiais consistem em qualquer outra materialidade que sirva de prova (perícias, inspeções etc.).7

No que concerne à preparação, a prova pode ser casual ou pré-constituída.

1) a prova casual é aquela produzida no processo;

2) a pré-constituída é a preparada preventivamente, ou seja, antes da propo-situra da demanda.

4. ÔNUS DA PROVA

Como já estudado, havendo prova no processo, não há falar em ônus da prova, pois, com base no princípio da comunhão da prova, esta pertence ao processo e não às partes, sendo indiferente quem as produziu. Assim, mesmo que a parte não tenha o ônus de provar um fato, se o fizer, a prova passa a pertencer ao processo, não importando quem a trouxe para os autos. Nesse sentido, o art. 371 do CPC:

Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independen-temente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento.

Pode acontecer, no entanto, de não existirem provas no processo ou, se exis-tentes, serem insuficientes para o julgamento da causa. Nesse caso, não pode o juiz deixar de proferir o julgamento, ou seja, declarar o non liquet, é vedado pelo nosso ordenamento.

Ganha relevância, nesse momento, o ônus da prova que pressupõe, portanto, a insuficiência e/ou inexistência de provas nos autos.

Ademais, existindo fatos notórios, confessados e incontroversos, não há necessi-dade de provas, podendo o julgador solucionar a lide sem adentrar o ônus da prova. O mesmo ocorre com os fatos em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade, os quais independem de prova.

É evidente que, nas hipóteses de fatos notórios e que possuem presunção de veracidade, a parte que não terá proveito poderá alegar outros fatos que afastem a notoriedade e a presunção relativa de veracidade, mas, nesse caso, atrai para si o ônus da prova.

Desse modo, não havendo provas nos autos, fatos notórios, confessados, incon-troversos ou em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade, passa-se a ter importância o estudo do ônus da prova.

Difere-se, na doutrina, o ônus subjetivo do objetivo.

7. CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. 18. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. v. 1, p. 376.

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10. QUESTÕES DISSERTATIVAS E ESTUDOS DE CASO

Questão 1 Por convenção das partes, o ônus da

prova pode ser distribuído de forma diversa do que estabelecido em lei?

Resposta sugerida pelo autor No processo civil, o ônus da prova pode

ser distribuído de forma diversa por vontade das partes, que podem esta-belecê-lo antes ou durante o processo, denominando-se distribuição conven-cional do ônus da prova. Essa conven-ção apenas é vedada quando recair sobre direito indisponível da parte ou tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito (CPC/2015, artigo 373, §§ 3º e 4º).

Contudo, essa distribuição convencional do ônus da prova é inaplicável ao proces-so do trabalho (TST-IN nº 39/2016, artigo 2º, VII), uma vez que, os direitos discutidos na seara trabalhista são indisponíveis, im-possibilitando que as partes estabeleçam o ônus da prova convencionalmente.

Questão 2 Explique a teoria da distribuição dinâ-

mica da prova e se ela se aplica ao pro-cesso do trabalho.

Resposta sugerida pelo autor A teoria dinâmica do ônus da prova con-

siste na possibilidade de o julgador, no caso concreto, atribuir o ônus da prova àquele que tem melhores condições de produzi-la. Nessa hipótese, ao invés de se definir de forma fixa o ônus da prova e incidir o princípio do interesse (teoria estática), sua definição é feita no caso concreto (flexível), aplicando-se o princí-pio da aptidão para a prova.

O art. 818, § 1º, da CLT, nos mesmos mol-des do preconizado pelo art. 373, § 1º, do CPC/2015, estabelece que o juiz po-derá atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa, relacionadas à impossibilidade ou excessiva dificuldade de cumprir o

encargo de acordo com a teoria estática do ônus da prova; ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário.

O legislador trabalhista expressamente declinou no § 2º do art. 818 da CLT que a decisão fundamentada deve ser pro-ferida antes da fase instrutória, a fim de possibilitar à parte contrária que se desincumba de seu ônus. Além disso, descreve o art. 818, § 3º que essa deci-são não poderá gerar situação em que a desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil.

Questão 3

Explique a prova emprestada e se ela é aplicável ao processo do trabalho.

Resposta sugerida pelo autor A prova emprestada consiste na uti-

lização de uma prova produzida em outro processo, com base no princípio da economia processual (CPC/2015, arti-go 372), sendo plenamente aplicável à seara trabalhista. A utilização da prova produzida em outro processo pressu-põe alguns requisitos.

O primeiro exige que a prova tenha sido validamente realizada no processo origi-nário. O segundo impõe que ela possua relevância com o segundo processo, en-quanto o terceiro requisito corresponde à exigência de que a parte contra a qual se faz a prova, tenha participado do contraditório no processo originário.

Observa-se que o limite para a utiliza-ção da prova emprestada é o princípio do contraditório (CPC/2015, artigo 372).

Por fim, é válido destacar que a prova emprestada poderá ser requerida por ambas as partes, por uma delas, ou até mesmo pelo juiz ex officio (CLT, artigo 765). Além disso, o juiz poderá dar o valor que entender adequado à prova emprestada (CPC/2015, artigo 372), po-dendo inclusive julgar de forma diversa do processo originário, sempre, evi-dentemente, motivando sua decisão, de forma a evitar a discricionariedade.

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Cap. XII – PROVAS

Questão 4

Nos casos em que a testemunha fizer afirmação falsa, negar ou calar a ver-dade é possível alguma forma de res-ponsabilização na Justiça do Trabalho?

Resposta sugerida pelo autorÉ sabido que a testemunha presta o compromisso legal de dizer a verdade (CLT, art. 828, caput). Desse modo, nos casos em que fizer afirmação falsa, ne-gar ou calar a verdade, ela poderá ser responsabilizada criminalmente, pelo crime de falso testemunho, nos termos do art. 342 do CP. Na esfera criminal o fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade (CP, art. 342, § 2º). Ademais, o art. 793-D da CLT, acrescenta-do pela Lei nº 13.467/17 (Reforma Trabalhista), passou a prever a possibilidade de aplicação direta da multa à testemunha ao autorizar a imposição de multa superior a 1% e inferior a 10% do valor corrigido da causa diretamente à teste-munha que intencionalmente alterar a verdade dos fatos; ou omitir fatos es-senciais ao julgamento da causa.

Estudo de caso 1Patrick, estrangeiro, executivo com sa-lário elevado, não beneficiário de gra-tuidade de justiça, ajuizou ação em face de sua empregadora, Mineração Ltda. Arrolou como testemunha seu colega de trabalho, também estrangeiro, Paul. Contudo, a testemunha não fala portu-guês, apenas se comunicando no idioma alemão. Com base no caso apresentado, responda aos itens a seguir.

A) Qual deverá ser o procedimento legalpara colher o depoimento da testemu-nha que não fala o idioma nacional?

B) Em havendo despesa processual como depoimento da testemunha, a quemcaberá o pagamento?

Resposta sugerida pelo autor

A) O procedimento legal a ser adotadocaso as testemunhas não saibam falar a

língua nacional, como no caso em tela, será a realização do depoimento por meio de intérprete nomeado pelo juiz, nos termos do artigo 819 da CLT.

B) Havendo despesa processual com o de-poimento da testemunha, as despesascorrerão por conta da parte sucumben-te, salvo se beneficiária de justiça gra-tuita (CLT, art. 819, § 2º).

Estudo de caso 2Alex ingressou com reclamação traba-lhista em face da empresa multinacional “W”, postulando o pagamento de horas extraordinárias, com a alegação de que trabalhava de segunda a sexta-feira das 08:00h às 19:00h. Em razão de possuir mais de vinte empregados, a empresa juntou os cartões de ponto que demonstravam horários de entrada e saída uniformes, ou seja, que o empregado trabalhava de se-gunda a sexta-feira das 08:00h às 17:00h, sem qualquer variação de minutos. Encer-rou-se a instrução processual, sem outras provas. Diante do caso exposto, qual argu-mento deverá prevalecer: o do emprega-do ou do empregador?

Resposta sugerida pelo autorAs horas extras, como o próprio nome já indica, decorrem de fato extraordinário. Desse modo, é regra básica que o ordi-nário se presume, enquanto o extraordi-nário se prova. Assim, caso o reclamante alegue a realização de horas extras, por ser fato extraordinário e constitutivo de seu direito, incumbe-lhe o ônus da prova. Essa regra, contudo, não se aplica às empresas com mais de vinte emprega-dos, como o caso exposto, uma vez que estas possuem a obrigação de manter a anotação de entrada e saída de seus empregados, em registro manual, me-cânico ou eletrônico, conforme artigo 74, § 2º, da CLT. Nessa hipótese, como o empregador tem maior aptidão paraa prova, ou seja, é ele quem possui maiores condições de demonstrar os controles, pois lida com a fiscalização

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PROCESSO DO TRABALHO – Élisson Miessa

de entrada e saída dos trabalhadores, fica sob sua incumbência demonstrar o registro da jornada do trabalhador.No caso apresentado, apesar de o em-pregador ter juntado os cartões de ponto, as anotações de horário mostra-ram-se invariáveis (08:00h às 17:00h), isto é, demonstravam que o empregado saía e entrava sempre no mesmo horário.

Nessa hipótese, o TST entende que tais cartões são inválidos como meio de pro-va, de modo que prevalecerá a jornada da inicial, se não for afastada por prova em contrário (Súmula nº 338 do TST).Assim, como não foram apresentadas ou-tras provas, a reclamada não desincumbiu de seu ônus, devendo prevalecer a jorna-da descrita pelo reclamante na inicial.

11. SÚMULAS E ORIENTAÇÕES JURISPRUDENCIAIS DO TST

fPROVASSúmula nº 212 do TST. Despedimento. Ônus da provaO ônus de provar o término do contrato de trabalho, quando negados a prestação de ser-viço e o despedimento, é do empregador, pois o princípio da continuidade da relação de emprego constitui presunção favorável ao empregado.Súmula nº 338 do TST. Jornada de trabalho. Registro. Ônus da provaI – É ônus do empregador que conta com mais de 10 (dez) empregados o registro da jornada de trabalho na forma do art. 74, § 2º, da CLT. A não-apresentação injustificada dos controles de frequência gera presunção relativa de veracidade da jornada de trabalho, a qual pode ser elidida por prova em contrário.II – A presunção de veracidade da jornada de trabalho, ainda que prevista em instrumento normativo, pode ser elidida por prova em contrário.III – Os cartões de ponto que demonstram horários de entrada e saída uniformes são in-válidos como meio de prova, invertendo-se o ônus da prova, relativo às horas extras, que passa a ser do empregador, prevalecendo a jornada da inicial se dele não se desincumbir.Súmula nº 460 do TST. Vale-transporte. Ônus da prova.É do empregador o ônus de comprovar que o empregado não satisfaz os requisitos indis-pensáveis para a concessão do vale-transporte ou não pretenda fazer uso do benefício.Súmula nº 461 do TST. FGTS. Diferenças. Recolhimento. Ônus da prova.É do empregador o ônus da prova em relação à regularidade dos depósitos do FGTS, pois o pagamento é fato extintivo do direito do autor (art. 373, II, do CPC de 2015).Súmula nº 443 do TST. Dispensa discriminatória. Presunção. Empregado portador de doença grave. Estigma ou preconceito. Direito à reintegração.Presume-se discriminatória a despedida de empregado portador do vírus HIV ou de outra doença grave que suscite estigma ou preconceito. Inválido o ato, o empregado tem direito à reintegração no emprego.Súmula nº 74 do TST. ConfissãoI – Aplica-se a confissão à parte que, expressamente intimada com aquela cominação, não comparecer à audiência em prosseguimento, na qual deveria depor.II – A prova pré-constituída nos autos pode ser levada em conta para confronto com a confissão ficta (arts. 442 e 443, do CPC de 2015 – art. 400, I, do CPC de 1973), não implicando cerceamento de defesa o indeferimento de provas posteriores.III – A vedação à produção de prova posterior pela parte confessa somente a ela se aplica, não afetando o exercício, pelo magistrado, do poder/dever de conduzir o processo.

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Cap. XII – PROVAS

Orientação Jurisprudencial nº 36 da SDI – I do TST. Instrumento normativo. Cópia não auten-ticada. Documento comum às partes. ValidadeO instrumento normativo em cópia não autenticada possui valor probante, desde que não haja impugnação ao seu conteúdo, eis que se trata de documento comum às partes.Orientação Jurisprudencial nº 134 da SDI – I do TST. Autenticação. Pessoa jurídica de direito público. Dispensada. Medida provisória nº 1.360, de 12.03.96São válidos os documentos apresentados, por pessoa jurídica de direito público, em fotocópia não autenticada, posteriormente à edição da Medida Provisória nº 1.360/96 e suas reedições.Súmula nº 12 do TST. Carteira ProfissionalAs anotações apostas pelo empregador na carteira profissional do empregado não geram presunção “juris et de jure”, mas apenas “juris tantum”.Súmula nº 8 do TST. Juntada de documentoA juntada de documentos na fase recursal só se justifica quando provado o justo impedimento para sua oportuna apresentação ou se referir a fato posterior à sentença.Súmula nº 357 do TST. Testemunha. Ação contra a mesma reclamada. SuspeiçãoNão torna suspeita a testemunha o simples fato de estar litigando ou de ter litigado contra o mesmo empregador.Orientação Jurisprudencial nº 233 da SDI – I do TST. Horas extras. Comprovação de parte do período alegadoA decisão que defere horas extras com base em prova oral ou documental não ficará limitada ao tempo por ela abrangido, desde que o julgador fique convencido de que o procedimento questionado superou aquele período.Orientação Jurisprudencial nº 165 da SDI – I do TST. Perícia. Engenheiro ou médico. Adicional de insalubridade e periculosidade. Válido. Art. 195 da CLTO art. 195 da CLT não faz qualquer distinção entre o médico e o engenheiro para efeito de caracterização e classificação da insalubridade e periculosidade, bastando para a elaboração do laudo seja o profissional devidamente qualificado.Orientação Jurisprudencial nº 278 da SDI – I do TST. Adicional de insalubridade. Perícia. Local de trabalho desativadoA realização da perícia é obrigatória para verificação de insalubridade. Quando não for possível sua realização como em caso de fechamento da empresa, poderá o julgador utili-zar-se de outros meios de prova.Súmula nº 453 do TST. Adicional de periculosidade. Pagamento espontâneo. Caracterização de fato incontroverso. Desnecessária a perícia de que trata o art. 195 da CLTO pagamento de adicional de periculosidade efetuado por mera liberalidade da empresa, ainda que de forma proporcional ao tempo de exposição ao risco ou em percentual inferior ao máximo legalmente previsto, dispensa a realização da prova técnica exigida pelo art. 195 da CLT, pois torna incontroversa a existência do trabalho em condições perigosas.Súmula nº 293 do TST. Adicional de insalubridade. Causa de pedir. Agente nocivo diverso do apontado na inicialA verificação mediante perícia de prestação de serviços em condições nocivas, considerado agente insalubre diverso do apontado na inicial, não prejudica o pedido de adicional de insalubridade.

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12. LEGISLAÇÃO RELACIONADA AO CAPÍTULO

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Art. 74, CLT – O horário de trabalho será anotado em registro de empregados.

§ 1º (Revogado).

§ 2º Para os estabelecimentos com mais de 20(vinte) trabalhadores será obrigatória a anotação da hora de entrada e de saída, em registro ma-nual, mecânico ou eletrônico, conforme instruções expedidas pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, permitida a pré-assinalação do período de repouso.

§ 3º Se o trabalho for executado fora do esta-belecimento, o horário dos empregados constará do registro manual, mecânico ou eletrônico em seu poder, sem prejuízo do que dispõe o caput deste artigo.

§ 4º Fica permitida a utilização de registro de ponto por exceção à jornada regular de trabalho, mediante acordo individual escrito, convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho

Art. 195, CLT – A caracterização e a classificação da insalubridade e da periculosidade, segundo as nor-mas do Ministério do Trabalho, far-se-ão através de perícia a cargo de Médico do Trabalho ou Engenheiro do Trabalho, registrados no Ministério do Trabalho.(...)

§ 2º Arguida em juízo insalubridade ou periculosida-de, seja por empregado, seja por sindicato em favor de grupo de associado, o juiz designará perito habilitado na forma deste artigo, e, onde não houver, requisitará perícia ao órgão competente do Ministério do Trabalho.

§ 3º O disposto nos parágrafos anteriores nãoprejudica a ação fiscalizadora do Ministério do Trabalho, nem a realização ex officio da perícia.

Art. 765, CLT – Os juízos e tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo andamento rápido das causas, po-dendo determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento delas.

Art. 780, CLT – Os documentos juntos aos autos poderão ser desentranhados somente depois de findo o processo, ficando traslado.

Art. 787, CLT – A reclamação escrita deverá ser formulada em duas vias e desde logo acompanhada dos documentos em que se fundar.

Art. 790-B, CLT – A responsabilidade pelo paga-mento dos honorários periciais é da parte sucum-bente na pretensão objeto da perícia, ainda que beneficiária da justiça gratuita.

§ 1º Ao fixar o valor dos honorários periciais, ojuízo deverá respeitar o limite máximo estabelecido pelo Conselho Superior da Justiça do Trabalho.

§ 2º O juízo poderá deferir parcelamento doshonorários periciais.

§ 3º O juízo não poderá exigir adiantamento devalores para realização de perícias.

§ 4º Somente no caso em que o beneficiário da justi-ça gratuita não tenha obtido em juízo créditos capazes de suportar a despesa referida no caput, ainda que em outro processo, a União responderá pelo encargo.

Art. 818, CLT –O ônus da prova incumbe:

I – ao reclamante, quanto ao fato constitutivo de seu direito;

II – ao reclamado, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do reclamante.

§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante depeculiaridades da causa relacionadas à impossibi-lidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o en-cargo nos termos deste artigo ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juízo atribuir o ônus da prova de modo diverso,desde que o faça por decisão fundamentada, casoem que deverá dar à parte a oportunidade de sedesincumbir do ônus que lhe foi atribuído.

§ 2º A decisão referida no § 1o deste artigo de-verá ser proferida antes da abertura da instrução e, a requerimento da parte, implicará o adiamento da audiência e possibilitará provar os fatos por qualquer meio em direito admitido.

§ 3º A decisão referida no § 1o deste artigo nãopode gerar situação em que a desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessiva-mente difícil.

Art. 819, CLT – O depoimento das partes e teste-munhas que não souberem falar a língua nacional será feito por meio de intérprete nomeado pelo juiz ou presidente.

§ 1º Proceder-se-á da forma indicada nesteartigo, quando se tratar de surdo-mudo, ou de mudo, que não saiba escrever.

§ 2º As despesas decorrentes do disposto nesteartigo correrão por conta da parte sucumbente, salvo se beneficiária de justiça gratuita.

Art. 820, CLT – As partes e testemunhas serão inquiridas pelo juiz ou presidente, podendo ser reinquiridas, por seu intermédio, a requerimento

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Questões – CAPíTuLOS XII A XV

QUESTÕES

Capítulos XII a XV

1. QUESTÕES COM GABARITO COMENTADO

01. (FCC – Analista Judiciário – Oficial de Jus-tiça Avaliador – TRT 19/2014) Considerea seguinte situação hipotética: Recla-mação trabalhista em que a reclamanterequer o reconhecimento do vínculo deemprego com a empresa “GHJ Ltda.”. Aempresa reclamada, por sua vez, negao referido vínculo, alegando que a re-clamante não trabalhou para ela, nãotendo, inclusive, jamais ingressado nointerior do estabelecimento. O Magis-trado converteu a audiência em diligên-cia e se dirigiu à empresa reclamadacom as partes. No local, o Magistradosolicitou que a reclamante indicasse obanheiro feminino. Esta não soube indi-car e o Magistrado percebeu qual daspartes estava faltando com a verdade.Esta hipótese é um exemplo específicodo princípio

a) dispositivo.b) da imediação.c) da estabilidade da lide.d) da eventualidade.e) da perempção.

COMENTÁRIOS

Alternativa correta: B. O princípio da ime-diatidade ou imediação é aquele aproxima o julgador dos atos instrutórios, impondo que a realização das provas ocorra na sua presença, como ocorre especialmente na inspeção judi-cial, como é o caso da questão.

02. (FCC – Analista Judiciário – Oficial de Jus-tiça Avaliador – TRT 19/2014) Considerea seguinte situação hipotética: Jaques

ajuizou reclamação trabalhista em face da empresa “MNX Ltda.”, empresa de pequeno porte que possui oito empre-gados. Dentre os pedidos formulados por Jaques está o reconhecimento do vínculo de emprego e o trabalho em jornada extraordinária. Considerando que, a empresa admitiu a prestação de serviços por Jaques, mas não como empregado e sim como trabalhador au-tônomo, bem como que não anexou aos autos os cartões de pontos de Jaques, o ônus da prova no tocante ao vínculode emprego e no tocante às horas ex-tras laboradas é

a) da empresa e de Jaques, respectiva-mente.

b) da empresa.c) de Jaques.d) de Jaques e da empresa, respectiva-

mente.e) da empresa, desde que a reclamação

se processe pelo rito ordinário.

COMENTÁRIOS

Alternativa correta: A. Na questão, o empre-gador admitiu a prestação de serviços, mas não como empregado, e, sim como trabalha-dor autônomo. Nessa situação, a reclamada aduz fato que impede a formação da relação de emprego (fato impeditivo), sendo, portan-to, seu ônus provar. O reclamante que alegue a realização de horas extras, por ser fato ex-traordinário e constitutivo de seu direito, in-cumbe-lhe o ônus da prova. Como a empresa tem apenas 8 empregados não há inversão do ônus da prova nas horas extras, afastando a aplicação da Súmula 338 do TST. Portanto, é da empresa o ônus de provar que Jaques é trabalhador autônomo, enquanto que as horas extras devem ser provadas por Jaques.

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Alternativa e. Todas as provas serão produzi-das na audiência de instrução e julgamento, ainda que não requeridas previamente (art. 852-H, caput, CLT).

56. (Fundação Carlos Chagas. TRT da 3ªRegião/2009. Analista Judiciário – ÁreaJudiciária) Na ação que vise, comoprovimento final, a reintegração dotrabalhador estável, a reintegraçãoconcedida por liminar tem natureza de

a) medida compensatória.b) medida preventiva, de caráter pacifica-

dor.c) antecipação dos efeitos da tutela.d) medida cautelar.e) medida inibitória.

COMENTÁRIOS

Alternativa correta: c. Trata-se de antecipação dos efeitos da tutela, porque a decisão tem na-tureza satisfativa.

57. (FCC/2018 - TRT 6ª Região – Analista –Área Judiciária) Sobre o procedimento sumaríssimo adotado no processo do trabalho,

a) todas as provas serão produzidas em audiência, desde que requeridas pre-viamente.

b) as mudanças de endereço ocorridas no curso do processo deverão ser comuni-cadas ao juiz pelas partes e advogados no prazo máximo de 15 dias após ocor-rerem, sob pena de serem reputadas eficazes as intimações enviadas ao lo-cal anteriormente indicado, na ausên-cia de comunicação.

c) pode ser adotado nas demandas em que são partes autarquia e fundação pública.

d) em razão da celeridade imprimida pelo legislador, sobre os documentos apre-sentados por uma parte, a outra se ma-nifestará no prazo improrrogável de 24 horas, podendo tal prazo ser dilatado se o juiz entender necessário.

e) a admissibilidade de recurso de re-vista está limitada à demonstração de

violação direta a dispositivo da Cons-tituição Federal ou contrariedade a Súmula do TST, não se admitindo o re-curso por contrariedade a Orientação Jurisprudencial do TST, ante a ausência de previsão legal.

COMENTÁRIOS

Alternativa “e” – correta: Nas causas sujeitas ao procedimento sumaríssimo, a admissibi-lidade de recurso de revista está limitada à demonstração de violação direta a dispositivo da Constituição Federal ou contrariedade a Súmula do Tribunal Superior do Trabalho, não se admitindo o recurso por contrariedade a Orientação Jurisprudencial deste Tribunal (Li-vro II, Título II, Capítulo III, do RITST), ante a ausência de previsão no art. 896, § 6º, da CLT (Súmula nº 442 do TST).

2. QUESTÕES DE CONCURSOS

01. (FCC – TST/2017 – Analista Judiciário) Se-gundo a jurisprudência sumulada do Tri-bunal Superior do Trabalho – TST, contraa decisão que defere a tutela provisóriaé cabível

(A) Mandado de segurança, desde que adecisão concessiva da tutela tenha sedado antes da sentença, por não haverrecurso próprio, sendo atacável por re-curso ordinário a concessão de tutelaprovisória proferida em sentença.

(B) Recurso ordinário, na hipótese de a tu-tela ter sido concedida antes da sen-tença ou na própria sentença, sendoque na primeira hipótese a interposi-ção do recurso suspende o curso doprocesso.

(C) Mandado de segurança, ainda que atutela tenha sido deferida na sentença,para o fim de conceder efeito suspensi-vo à decisão.

(D) Recurso ordinário se a tutela tiver sidoconcedida na sentença, cabendo man-dado de segurança apenas para obtera suspensão dos efeitos imediatos datutela provisória.

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III. É do empregador o ônus da prova dofato impeditivo, modificativo ou extinti-vo da equiparação salarial.

IV. O termo inicial do direito ao salário-fa-mília coincide com a prova da filiação e,em regra, se feita em juízo, correspon-de à data do ajuizamento do pedido.Está correto o que consta APENAS em

a) II, III e IV.b) I, II e III.c) III e IV.d) I e IV.e) I e III.

10. (Fundação Carlos Chagas. TRT da 18ªRegião/2008. Analista Judiciário – ÁreaJudiciária. Especialidade Execução deMandados) Nas reclamações trabalhistasplúrimas, as razões finais para todos osreclamantes assistidos por um mesmo ad-vogado deverão ser apresentadas

a) oralmente, no prazo de 15 minutospara todos os reclamantes.

b) oralmente, no prazo de 10 minutospara todos os reclamantes.

c) por escrito, no prazo de 05 dias paracada reclamante.

d) por escrito, no prazo de 15 dias paratodos os reclamantes.

e) oralmente, no prazo de 15 minutospara cada reclamante.

11. (FCC - Analista Judiciário: Área Judiciária –TRT15/2018) Considerando a exigência legal de fundamentação das decisões judiciais, de acordo com as previsões da Instrução Normativa no 39/2016 do TST, consideram-se “precedentes”, para fins de fundamentação das decisões no processo do trabalho,

(A) as teses jurídicas prevalecentes no TST,fixadas a partir de decisões oriundas de recursos de pelo menos metade dos TRTs.

(B)

(C)

as decisões do STF em ações diretas de constitucionalidade.os entendimentos firmados em inciden-tes de resolução de demandas repetiti-vas, mas não os adotados em incidentes de assunção de competência.

(D) as decisões do plenário, do Órgão Espe-cial ou de seção especializada compe-tente para uniformizar a jurisprudência do tribunal a que o juiz estiver vincula-do ou do TST.

(E) as teses jurídicas prevalecentes em TRTs, desde que não conflitantes com entendimentos pacificados pelo TST através das Súmulas, não se conside-rando, porém, para esse fim os enten-dimentos adotados nas Orientações Jurisprudenciais.

3. GABARITO

Questão Resposta Fundamentação

01 A Súmula nº 414 do TST

02 A Art. 818 da CLT

03 A Súmula nº 357, TST; art. 852, caput, CLT; art. 829, CLT; art. 852-H, § 2º, CLT.

04 C Doutrina; art. 852-H, § 4º; CPC/2015, art. 148,II; Súmula nº 341 do TST.

05 D Art. 429, II, CPC/2015; Súmula nº 212, TST e art. 818, II, CLT

06 A Art. 821, CLT; art. 461, I, CPC/2015; art. 442, CPC/2015; art . 819, caput, CLT.

07 Errado Súmula nº 357, TST.

08 C Art. 852-H, caput, §§ 2º, 3º e 6º, CLT; art. 852-B, II, CLT.

09 A I. Súmula nº 212, TST. II.Art. nº 818, I, CPC/2015.III. Art. 818, II, CPC/2015.IV. Súmula nº 254, TST.

10 B Art. 850, caput, CLT.

11 D Art. 15 da IN nº 39/2016

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