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PROCESSO DE REGISTRO DA CORPORAÇÃO MUSICAL NÉLSON BORGES PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ANTÔNIO DO GRAMA MG Lei Municipal nº 213 de 22 de fevereiro de 2006 Desenvolvido de acordo com as normas da Deliberação Normativa do CONEP Nº 02/2012 1 para o período de ação e preservação de 1º de dezembro de 2012 a 30 de novembro de 2013. 1 http://www.iepha.mg.gov.br/servicos/icms-cultural - Deliberação para Proteção e Modelos ICMS Patrimônio Cultural.

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PROCESSO DE REGISTRO DA CORPORAÇÃO MUSICAL NÉLSON BORGES

PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ANTÔNIO DO GRAMA – MG

Lei Municipal nº 213 de 22 de fevereiro de 2006

Desenvolvido de acordo com as normas da Deliberação Normativa do CONEP Nº 02/20121 para o período de ação e preservação

de 1º de dezembro de 2012 a 30 de novembro de 2013.

1 http://www.iepha.mg.gov.br/servicos/icms-cultural - Deliberação para Proteção e Modelos ICMS Patrimônio Cultural.

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SUMÁRIO

· Lei Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural

· Introdução

· Histórico do bem cultural e contextualização do mesmo no desenvolvimento histórico do

município

- Histórico do município / Histórico do local de ocorrência

- Histórico do bem cultural

- Depoimentos

· Descrição detalhada do bem cultural

· Registro Audiovisual

· Documentação Fotográfica

· Análise do bem cultural

· Plano de Salvaguarda e valorização

· Inventário

· Anexo I – Documentos legais

· Referências Bibliográficas

· Ficha técnica

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LEI MUNICIPAL DE PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL

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INTRODUÇÃO

O presente Dossiê de Registro da Corporação Musical Nelson Borges em Santo Antônio

do Grama/MG apresenta um conjunto de informações sobre este município, localizado na

Região da Zona da Mata mineira, Microrregião de Ponte Nova. As informações foram

organizadas e sistematizadas em forma de Dossiê de Registro do Patrimônio Cultural

Imaterial, de acordo com a Deliberação Normativa n° 02/2012 do Conselho Estadual do

Patrimônio Cultural – CONEP - do IEPHA-MG – Instituto Estadual do Patrimônio Histórico

e Artístico de Minas Gerais -, para o exercício de 2015. A Prefeitura Municipal de Santo

Antônio do Grama, órgão máximo do poder executivo local, preocupada em zelar por sua

memória e herança cultural, através do Setor de Cultura, torna-se parceira da ARO Arquitetos

Associados Ltda. para promover ações visando à preservação de seu patrimônio cultural,

iniciado no ano de 2005.

Este Dossiê de Registro constitui um esforço nesse sentido. O Conselho Municipal do

Patrimônio Cultural de Santo Antônio do Grama resolveu analisar e acatar a Proposta de

Registro da Corporação Musical Nélson Borges encaminhada pelo Sr. Marcílio Oliveira

Medeiros, gramense, Turismólogo, conhecedor da história e cultura de sua cidade, que há

vários anos trabalha em prol do reconhecimento do patrimônio e da cultura local, tendo

atuado também em diversas ocasiões como membro do referido Conselho. Assim, cabe a nós

técnicos e representantes públicos a responsabilidade em dar início a preservação deste bem

cultural. Concebida de maneira a esclarecer a real importância da Corporação Musical Nélson

Borges para o município de Santo Antônio do Grama/MG, a presente pesquisa propõe-se a

proceder à instrução do registro para a proteção legal da Forma de Expressão mencionada,

aqui analisada histórica, cultural e socialmente. Para que possamos cumprir essa tarefa em

toda sua extensão é importante que as ações sejam concebidas de forma abrangente e

sistêmica, configurando uma política de patrimônio cultural clara e acessível à comunidade.

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Nesse contexto, destaca-se a atuação do próprio Conselho de Patrimônio que, no intuito

de abarcar o maior número possível de bens culturais a serem protegidos no município

pretende efetivar a implementação de mais esse instrumento de preservação no âmbito da

Legislação municipal, que é o registro dos bens imateriais.

A Corporação Musical Nélson Borges foi o bem cultural escolhido porque, além de

pertencer ao cotidiano da população local, está intimamente ligada à história desta, já que

várias gerações de gramenses foram músicos da banda. Conforme um dos relatos recolhidos

para este trabalho, a Banda funcionou e funciona como um importante meio de socialização

da comunidade local, já que era e é através dela que vários gramenses iniciaram

relacionamentos, construíram família ou adquiriram uma profissão. Portanto, a motivação

para a indicação da proteção da “Corporação Musical Nélson Borges” vem de encontro a um

antigo anseio da comunidade, representada pelo Conselho de Patrimônio, que é o de perpetuar

um de seus bens mais significativos.

É importante mencionar que a “Corporação Musical Nélson Borges” como expressão

que denomina a Banda de Música da cidade de Santo Antônio do Grama tem uma história

recente, que remonta à década de 1980. Entretanto, como forma de expressão do município,

as Bandas de Música remontam ao ano de 1915, de acordo com a documentação histórica

levantada para este trabalho. As Bandas de Música de Santo Antônio do Grama assumiram

outras denominações durante a sua história, como “Corporação Musical Santa Cecília”,

“Banda de Música Padre Cândido” e “Banda Santa Cecília”. Apesar das diversas

nomenclaturas, a forma de expressão se manifesta como uma tradição histórica de

continuidade. Portanto, registra-se que este trabalho de reconhecimento da importância da

tradição imaterial do município recai sobre a forma de expressão das “Bandas de Música”

expressa atualmente na cidade pela Corporação Musical Nélson Borges.

A atuação da Corporação Musical Nélson Borges não se restringe ao território do

município, tendo sido nos últimos anos não só um instrumento de entretenimento e diversão

para a comunidade gramense e da região, mas também, cumpre um importante papel social na

medida em que a Corporação funciona como uma escola de música, principalmente para

crianças e adolescentes, contribuindo para afirmar nestes, desde cedo, não apenas o valor e a

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importância da arte da música, mas também a valorização das tradições culturais de sua terra

natal.

A metodologia do trabalho em questão consistiu de uma pesquisa realizada em quatro

etapas. Na primeira, executada entre os dias 22 e 26 de julho do presente ano de 2013, foi

feito um intenso trabalho de campo, in loco, resultando no levantamento de vasta

documentação primária, gráfica e fotográfica a respeito da história da região do atual

município de Santo Antônio do Grama e da Corporação Musical Nélson Borges na cidade.

Foram realizadas, ainda, com o objetivo de se criar um banco de dados suficiente para

subsidiar o dossiê de registro, entrevistas com membros de várias épocas da Banda de Música

local. A este rol de tarefas acrescentam-se a identificação, a mensuração e a descrição

minuciosas e os registros fotográfico e oral sobre a trajetória histórica de todos os bens

considerados essenciais associados à forma de expressão no município. Esta pesquisa

procurou ser tão abrangente quanto possível, embora pouca documentação escrita relativa aos

bens materiais levantados tenha sido encontrada.

Numa segunda etapa, entre os dias 26 de agosto e 20 de setembro deste ano de 2013,

realizou-se um profundo levantamento bibliográfico em diversas bibliotecas municipais e

universitárias, além de sites especializados, acerca das análises, dos significados, dos sentidos

e da história relativos à forma de expressão em questão. O objetivo foi obter conhecimentos

suficientes para uma composição honesta deste Dossiê de Registro. Nessa etapa também

foram realizadas as transcrições das entrevistas realizadas in loco durante a primeira etapa e a

sistematização dos depoimentos orais recolhidos de pessoas que participaram ou participam

da Corporação Musical Nélson Borges.

Finda essa etapa, iniciou-se uma terceira, realizada no dia 22 de setembro desse ano,

dedicada à complementação in loco, da observação, registro e análise da Corporação Musical

Nélson Borges em ação. Nesse dia, foi realizado um Encontro de Bandas na cidade de Santo

Antônio do Grama. Sendo assim, esse acompanhamento subsidiou a análise e descrição da

forma de expressão em atuação. Além disso, foi realizado o levantamento audiovisual

fotográfico relativo a Corporação Musical Nélson Borges.

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Por fim, a essa etapa segue uma última, compreendida entre os dias 23 de setembro e 25

de outubro do ano corrente, dedicados à produção dos textos que compõem o corpo do

presente Dossiê de Registro, com destaque para a descrição, análise e salvaguarda dos bens

culturais; e ao levantamento e produção dos documentos legais relativos à forma de expressão

em estudo, posteriormente anexados a este Dossiê, com vistas à apreciação do órgão estadual

competente por sua avaliação (IEPHA/MG).

A partir desse trabalho tornou-se possível identificar os valores histórico, social e

cultural relacionados à Corporação Musical Nélson Borges de Santo Antônio do Grama e

assim justificar o reconhecimento e preservação legal da forma de expressão, propondo

medidas complementares para a efetiva conservação deste bem cultural imaterial. Mediante,

sobretudo, os depoimentos dos diversos atores envolvidos nesta forma de expressão, pode-se

perceber que a participação dos mesmos é motivada por esses valores.

Esperamos, nós técnicos da ARO Arquitetos Associados Ltda., os representantes do

Setor de Cultura da Prefeitura de Santo Antônio do Grama, o Sr. Marcílio Oliveira Medeiros;

e, sobretudo, os integrantes antigos e atuais da Corporação Musical Nélson Borges, que

estiveram envolvidos na execução deste Dossiê de Registro, como o Sr. José Henrique

Domingues, o Sr. Ageu Maria Quintilhano e o Sr. Elias Silva Vitorino, estarmos contribuindo

para a reconstrução, preservação e valorização do Patrimônio Cultural desta comunidade

como um todo. Acreditamos, por fim, que a veiculação de parte das informações levantadas

pode contribuir para a salvaguarda destes bens patrimoniais que ajudam conferir identidade ao

povo gramense.

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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO BEM CULTURAL E DO SEU LOCAL DE OCORRÊNCIA

CARACTERIZAÇÃO DO MUNICIPIO

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE, o município de

Santo Antônio do Grama está localizado na Zona da Mata de Minas Gerais, na microrregião

da cidade de Ponte Nova e possui uma área de 130,2 km². Seu relevo é acidentado,

predominando montanhas e morros, e a cidade está localizada na Bacia Hidrográfica do Rio

Doce, tendo como principais rios o Ribeirão Santo Antônio e o Córrego do Taquaral. Limita-

se com os municípios de Rio Casca, Urucânia, Jequeri e Abre Campo e possui apenas o

distrito sede. Em sua área rural são encontradas algumas comunidades como Baú, Boa Vista,

Taquaral/Maias, Monsenhor Salgado e Val Paraíso.

A população do município, de acordo com o censo do ano de 2010, feito pelo IBGE, é

de 4.085 habitantes distribuídos nas áreas urbana e rural.

O acesso ao município pode ser feito através da BR-262, até o trevo de Rio Casca, onde

há o acesso à rodovia MG-329 e também pela BR-040, seguindo pela estrada de Ouro Preto e

passando por Ponte Nova. Santo Antônio do Grama encontra-se a 210 km de Belo Horizonte

e distante 920 km da capital federal.

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Localização da Microrregião de Ponte Nova no Estado de Minas Gerais

Fonte: www.ibge.gov.br

Municípios da Microrregião de Ponte Nova

Fonte: www.ibge.gov.br

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HISTÓRICO DO MUNICÍPIO

O histórico do município será apresentado como histórico do local de ocorrência da

forma de expressão “Corporação Musical Nélson Borges”. Para a construção do histórico do

município foi utilizado como principal fonte o estudo Memória Histórica de Santo Antônio do

Grama, de 1997, já em sua segunda edição2. O autor, José Henrique Domingues, é natural da

cidade. Funcionário público, este dedicou muitos anos à realização das pesquisas para a

construção da obra. Consultou cartórios e registros nos municípios vizinhos e recolheu relatos

de moradores antigos da região. Conforme veremos adiante, o autor também foi músico da

Corporação Musical Nélson Borges durante mais de 30 anos, sendo o seu depoimento,

portanto, considerado fundamental para a elaboração desta pesquisa.

Primórdios da ocupação do município

Em seu relato, José Henrique Domingues destaca que, no início do século XIX, como

em praticamente toda a região das minas, muladeiros, boiadeiros, mascates e tropeiros

utilizavam a área onde hoje se encontra o município de Santo Antônio do Grama como

caminho de ligação entre diversas regiões de Minas, atualmente conhecidas como as cidades

mineiras Abre Campo, Matipó, Manhuaçu, Ponte Nova e Mariana. Com o passar dos tempos,

os viajantes começaram a chamar a região pelo nome de Paragem da Grama.

Essa região foi ocupada, inicialmente, pelo viajante Manoel Felipe da Silva, que fixou

residência no local, ao construir sua choupana num planalto gramado, que se destacava no

meio da mata fechada. Mais tarde, expandiu seus domínios, embrenhando-se na mata e

cultivando a terra ao redor de sua moradia, fato que atraiu outras pessoas para firmarem

residência no local. A partir desse grupo inicial surgiu um núcleo de povoamento, que se

2 DOMINGUES, José Henrique. Memória Histórica de Santo Antônio do Grama. Segunda Edição, Editora Folha de Viçosa. Santo Antônio do Grama, MG, 1997.

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tornou a propriedade agrícola de nome “Fazenda da Grama”, ainda pertencente a Manoel

Felipe. Ela ocupava a margem direita do ribeirão, limitando-se acima pela sesmaria do

Emboque e abaixo pelas terras de Antônio Luiz de Freitas. Depois, essa denominação se

estendeu a todo o lugar, mesmo fora dos limites da fazenda de Manoel Felipe. Ele foi casado

com Antônia Maria de Jesus, com quem teve vários filhos. Em 1846, Antônia Maria

enviuvou-se e a propriedade foi dividida entre os filhos, em inventário procedido na Comarca

de Mariana. O distrito de Santo Antônio do Grama nasceu à sombra desta fazenda com um

pouco mais de terras ao seu redor.

Evolução Eclesiástica

Em 1850, Abre Campo foi elevada à categoria de paróquia, em virtude da lei provincial

n° 471, de 1º de junho daquele ano, se desligando da paróquia de Ponte Nova. Devido ao

importante acontecimento, foram realizadas diversas solenidades religiosas, estando presente

o bispo D. Antônio Viçoso, figura de destaque neta região, na segunda metade do século XIX.

Segundo relatos que passam de geração a geração, colhidos por DOMINGUES (1997), os

moradores da paróquia de Santo Antônio do Grama, impressionados com os eventos que se

realizavam em Abre Campo, com muitas pompas e importância, idealizaram a construção de

uma capela em seu povoado. Aproveitaram a presença do bispo em Abre Campo para pedir

permissão para a construção da referida capela. O bispo concedeu o pedido em 13 de junho de

1850, dia de Santo Antônio, e nesse mesmo ano, Antônio Luiz de Freitas, outro importante

morador da região, doou as terras para a nova construção. A data da autorização para a

construção da capela é considerada, por muitos cidadãos, a data em que os primórdios de

ocupação e povoamento do atual município de Santo Antônio do Grama foram lançados.

As terras de Antônio Luiz de Freitas eram vizinhas às de Manoel Felipe da Silva. Ele é

tido como um dos fundadores do município por ter doado as terras onde se iniciou o núcleo

urbano da cidade. O terreno doado para a construção da capela correspondente à área onde

hoje está situada a Praça Padre Antônio Ribeiro Pinto e a casa paroquial. A capela construída

era de pau-a-pique, cercada de esteira de taquara e coberta de sapé. A primeira missa

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celebrada na capela de Santo Antônio foi realizada pelo Padre Fortunato de Abreu e Silva.

Não são conhecidos mais dados referentes à este dia, nem mesmo a data.

O início do povoado se deu nas proximidades da capela, quando foram sendo

construídas casas, dando origem a um pequeno núcleo urbano. O arraial tornou-se um

significativo ponto de comércio para os viajantes que iam à Ponte Nova, fato que continuou

influenciando a cidade com o advento das estradas de ferro na região. Com o passar dos anos

as terras doadas por Antônio Luiz de Freitas se tornaram pequenas para o arraial que crescia.

Em 14 de maio de 1858, pela Lei Provincial n. 867, o povoado foi incorporado à

paróquia e freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Casca, anteriormente conhecida

como Bicudos e, atualmente, como Rio Casca, também criada pela mesma Lei, e que

pertencia ao município de Mariana.

Com essa mudança de freguesia do povoado de Santo Antônio do Grama, as missas

passaram a ser celebradas pelo Padre Cândido Synfrônio de Castro, de Nossa Senhora da

Conceição do Casca, na capela de Santo Antônio. Ele também exercia funções de médico, já

que no arraial do Grama e proximidades não existia um profissional no exercício da medicina.

A família de Manoel Felipe da Silva continuou presente na história do povoado e, em

1863, seu genro Antônio Lourenço de Lima, doou parte de suas terras para o patrimônio de

Santo Antônio, visando ao aumento de seu território. Nesse mesmo ano foi erguido o primeiro

cruzeiro – feito à foice – no dia de Santa Cruz, para a comemoração da aquisição das novas

terras. Esse cruzeiro foi implantado no centro da nova gleba, onde mais tarde foi construída a

Igreja e a Praça da Matriz.

Em 1868, ainda sob orientação do Padre Cândido Synfrônio de Castro, foi construída no

fundo dessa gleba uma nova capela, com estrutura resistente e coberta por telhas. À sua frente

foi implantado um largo que dá origem à Praça da Matriz, e à própria Matriz que substitui a

capela ali existente.

Pela provisão episcopal, de 27 de novembro de 1886, Santo Antônio do Grama foi

elevada à categoria de paróquia, adquirindo o direito de ter seu próprio vigário instalado em

seu distrito. O primeiro vigário foi o Padre Cândido Synfrônio de Castro, que se tornou figura

histórica, por sua luta e campanha para a construção da Igreja Matriz. Seus esforços

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obtiveram resultados quando a Assembleia Legislativa do Estado aprovou a construção da

Matriz pela Lei n° 3.714, de 13 de agosto de 1889, e foram liberados recursos para a

construção da mesma. Porém, já na época de aprovação dos recursos o Padre Cândido havia

deixado o distrito, sendo substituído pelo Padre José Pinheiro.

Desenvolvimento urbano e administrativo

No final do século XIX o povoado se desenvolveu rapidamente. Houve o crescimento

da lavoura, da população e do comércio. Em 20 de julho de 1868, pela Lei n. 1.550, aprovada

pela Assembleia Legislativa Provincial e pelo Presidente da Província de Minas Gerais, o

povoado de Santo Antônio do Grama foi elevado a Distrito de Paz, sendo desmembrado da

freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Casca, e novamente incorporado, agora como

distrito, ao município de Ponte Nova. Nesse mesmo ano o distrito amplia novamente seu

território com a doação de uma chácara por José Antônio Pereira Salgado e, não se sabe se

nesse mesmo ano, ou no seguinte, José Fernandes da Silva, outro filho de Manoel Felipe da

Silva, permutou quatro alqueires de suas terras da Fazenda da Piedade por três alqueires

situados na divisa das terras do distrito para mais uma ampliação do território.

Em 1869, Antônio Claudiano da Silva promoveu uma lista de subscrição para arrecadar

fundos para aquisição de mais terrenos para aumento do patrimônio de Santo Antônio. Com o

dinheiro arrecadado, comprou três partes das terras que haviam sido de Joaquim José de

Santana. A aquisição destas terras foi um marco no sentido de que, pela primeira vez, o

terreno de Santo Antônio transpõe a margem esquerda do Córrego Grande, hoje Ribeirão do

Grama.

A área adquirida não possui continuidade no território, no que se refere ao terreno onde

já se consolidara o distrito. Entre as duas áreas há terrenos da Fazenda da Grama pertencentes

a Joaquim Gonçalves Gomes. Pouco tempo depois, outro morador antigo da região, Antônio

Claudiano, adquiriu e doou as terras para o patrimônio; Joaquim Gonçalves também doou

suas terras de permeio, que se estendiam pela margem esquerda do Córrego Grande acima,

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desde a barra do Córrego dos Salgados até a antiga sede da mesma fazenda. Esta nova área

resultou no bairro que é conhecido como Rua de Cima.

Em 1870, Joaquim Gonçalves Gomes, proprietário de antigas terras da Fazenda do

Grama, vendeu a Manoel Inácio de Souza duas partes de terras para aumento territorial do

distrito. Essa nova área também se localiza a margem esquerda do Córrego Grande e, desde

então, passou a conformar o bairro Rua da Palhada, onde existe um morro que se destaca na

paisagem. Nesse morro foi construída a Igreja de Santa Efigênia, em 1872, passando o local a

ser conhecido como Morro de Santa Efigênia.

Em 1873, tem-se o registro do primeiro Livro de Notas do Cartório do Distrito, no qual

foram lavradas as primeiras escrituras das transmissões locais. Nele, estão nomeadas as

primeiras autoridades: José Joaquim da Conceição foi o primeiro Juiz de Paz, tendo como

suplentes Manoel Felipe Domingos, Francisco Vieira Frade e Tristão Pereira de Azevedo. O

primeiro Escrivão de Paz foi Carlos José da Silva, que exerceu o cargo até 1910. O

Subdelegado de Polícia foi Joaquim Gonçalves Gomes, sendo seus suplentes Manoel José de

Melo, Caetano José Domingos e Luiz Domingues Gomes.

A Lei n° 2.765, de 13 de setembro de 1881 cria a instrução primária na Freguesia de

Santo Antônio do Grama, com a primeira escola primária do município, voltada para as

meninas. Dona Joana Batista Dias Simim foi a primeira professora e seu marido, Luiz

Antônio Chaves, o primeiro professor dos meninos, poucos anos depois.

Em 1889, com a extinção do regime monárquico, segundo a Lei n° 3.712, de 27 de

julho, o distrito de Santo Antônio do Grama deixou de pertencer à Ponte Nova, passando sua

administração para o então criado município de Abre Campo, que também fora desmembrado

de Ponte Nova. No ano seguinte, em 28 de novembro de 1890, o Decreto Federal n° 255,

ratificou tal transferência ao criar a Comarca de Abre Campo e manter Santo Antônio do

Grama como um de seus distritos.

A última grande ampliação da área urbana de Santo Antônio do Grama ocorreu em

1900. Joaquim Gonçalves Gomes, ainda possuidor do restante das terras localizadas à

margem esquerda do Ribeirão do Grama, divisa das terras públicas, a ocupou, seguindo os

moldes dos logradouros públicos. Ele construiu diversas casas dispostas formando uma

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espécie de praça, que recebeu o nome de Largo dos Bambus. A partir deste largo iniciou-se

uma plantação de bambu, que se estendeu pela área conhecida como pastinho. Com o

falecimento de Joaquim Gonçalves Gomes, em 1899, sua fazenda foi dividida entre os

herdeiros e Francisco Gomes da Silva Júnior; um deles vendeu ao distrito seu terreno, mas

ainda há a área do Largo dos Bambus que é de domínio particular entre os logradouros

públicos. O Conselho Distrital procurou os herdeiros José Adrião Gomes e Raimundo Nonato

Gomes e propôs a venda da área para o patrimônio público. A proposta foi aceita e, assim, se

realizou a última ampliação territorial do Distrito.

O Largo dos Bambus se transformou na Praça Santa Rita, e é a atual Praça Francisco

Luiz Pinto Moreira, onde está localizado o prédio do antigo Cine Gramense. A região do

pastinho continua desocupada em grande parte, sendo uma área disponível para ampliação da

malha urbana do Município. Na época da última aquisição, o Distrito tinha na agropecuária

sua principal fonte geradora de riquezas.

Em 1904, o Distrito publicou seu primeiro jornal, o São Geraldo Magela, fundado pelo

Padre João Batista Coutinho, então vigário da paróquia. O segundo jornal do Distrito surgiu

em 1914, sob o título “Democrata”, sob a direção de seu proprietário, José Fausto de Oliveira

Dias. O “Democrata” Circulou até 1916 quando se transferiu para Ponte Nova com o título

de A Ponte Nova.

Neste período, a partir de 1904, a antiga Igreja Matriz passou por grandes reformas. Foi

nesta época que se angariou fundos para a construção do altar e a Sra. Maria da Conceição

Fonseca doou a imagem do Sagrado Coração de Jesus à Igreja Matriz. Até os dias atuais essa

peça continua exposta na Igreja.

Na área cultural, foi inaugurado, em 1912, o Teatro Santo Antônio, construído pelos

próprios atores, e que hoje se encontra desativado.

A partir de 1913, o distrito de Santo Antônio do Grama passou por uma transformação

econômica devido ao desativamento da parada de trem em Ponte Nova, pela Estrada de Ferro

Leopoldina, o que diminuiu, consideravelmente, o comércio de viajantes, típico da região. O

fim da Primeira Guerra Mundial, seguida da grande depressão também contribuiu para o

atrofiamento econômico dessa região ligada à agricultura.

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Numa tentativa de melhorar o quadro de atraso econômico e social, a população iniciou

um movimento em prol da transferência do distrito de Santo Antônio do Grama, então

pertencente a Abre Campo para o município de Rio Casca. Este desejo se deve ao fato de Rio

Casca ser mais próxima e ter as estradas de acesso mais transitáveis, além de uma estação

ferroviária ativa. Em 1923, o Congresso Mineiro, por meio do art. 6º, n. XVII, da Lei n° 843,

transfere Santo Antônio do Grama do município de Abre Campo para o município de Rio

Casca.

Esta transferência rendeu duas melhorias consideráveis para o distrito de Santo Antônio

do Grama. A primeira foi a iluminação elétrica pública da localidade e a segunda a construção

da estrada asfáltica, ligando Santo Antônio do Grama ao distrito Sede de Rio Casca, o que

melhorou seu acesso, reascendendo os ânimos do comércio deste distrito.

Em 1921, assumiu a Paróquia de Santo Antônio do Grama o Padre Antônio Ribeiro

Pinto. Padre Antônio Pinto é considerado um grande benfeitor da cidade, tendo promovido

diversas melhorias e incentivos em várias áreas, especialmente cultural e social. Sabe-se que

foi fundador do time de futebol da cidade, colaborou para a criação da Banda de Música

“Padre Cândido”, atual Corporação Musical Nélson Borges, e apoiou a fundação de um grupo

de Congado na cidade.

Em 1926, o Padre Antônio Ribeiro Pinto, responsável pela condução de grandes obras

nos templos do Município, iniciou a construção da nova Igreja Matriz. A benção à fachada

principal ocorreu em 1929, realizada pelo Arcebispo D. Helvécio Gomes de Oliveira. Pouco

tempo depois a antiga nave central foi demolida para a construção de uma nova. No dia 24 de

abril de 1938, Padre Antônio celebrou a primeira missa, com as obras ainda incompletas (que

só seriam concluídas em 1940). A benção à nova Matriz ocorreu no dia 15 de dezembro de

1940, realizada pelo Vigário Geral da Arquidiocese, Reverendíssimo Monsenhor Alípio Odier

de Oliveira.

Finda a construção da Igreja Matriz, iniciou-se a reconstrução da Capela de Santa

Efigênia, que carecia de reparos desde quando um raio derrubou sua torre. A nova Capela foi

então abençoada no dia 24 de setembro de 1944. Desta vez, foi o Padre Antônio Russo Neto

que cuidou de substituir o antigo cruzeiro de madeira do Morro de Santa Efigênia, que se

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encontrava podre e ameaçava ruir e instalar, no mesmo local, um novo cruzeiro em concreto

armado com 33 lâmpadas, representando a quantidade de anos que Jesus passou na terra. A

inauguração e a benção do novo cruzeiro ocorreram no dia 07 de abril de 1957. Ainda durante

o ministério de Padre Antônio Russo Neto, foi inaugurada a Capela de Nossa Senhora

Aparecida, em 12 de outubro de 1960, construída por este Padre e pelo Sr. Luiz Domingues,

que afirmou ter alcançado uma graça da Santa, erguendo a capela no local onde ocorrera o

suposto milagre.

No ano de 1950 foi realizada uma grande comemoração pelo centenário de fundação de

Santo Antônio do Grama. No 1º Livro de Tombo da Paróquia, entre as páginas 325 e 330, foi

feita uma descrição dos festejos:

As comemorações do centenário de fundação de Santo Antônio do Grama tiveram brilho singular, superando as mais otimistas expectativas. As festas tiveram caráter cívico-religioso (...) e dificilmente se farão outras de tamanho esplendor nesta freguesia. (...). Como de costume, a trezena de Santo Antônio começou a primeiro de junho. (...). Dia Treze, as ruas e praças amanheceram festivamente adornadas com bandeiras, faixas e escudos. (...) Pela manhã houve alvorada, ao som de sinos e fogos, tocando a banda de música local e a de Abre Campo, que veio gentilmente prestar o seu magnífico concurso durante todas as festividades. (...) 3

Durante os festejos de centenário de Santo Antônio do Grama, com direito a

inauguração de Marco Comemorativo, tendo em sua placa gravada a seguinte mensagem

Durate et vosmet rebus servate secundis [Perseverai e conservai-vos para um futuro melhor],

os moradores do Distrito iniciaram uma campanha para promover a sua emancipação criando,

inclusive, uma Comissão Pró-Emancipação. Após três anos de espera, em 12 de dezembro de

1953, através da Lei n° 1.039, Santo Antônio do Grama foi elevado à categoria de município,

sendo instalado no dia 1º de janeiro de 1954.

Findo o processo de emancipação, a comissão inicia a organização do novo Município e

designa Carlos Cunha Brandão para ser o Intendente Municipal até se organizarem as

eleições. Ele foi empossado no cargo em 1º de janeiro de 1954 e governou até 1º de janeiro de

3 1º Livro de Tombo da Paróquia – p. 325 a 330 – Inscrição nº 16. Data: junho de 1950.

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1955, quando o primeiro prefeito eleito, José Flaviano Bayão, tomou posse do cargo e

governou por três anos.

Uma das ações de Carlos Brandão, em seu único ano de governo foi contratar a

elaboração de um projeto modernizante, que organizasse de forma racional os vários setores

da sociedade, necessários a uma administração eficiente, aqui personalizado na figura do

planejamento urbano. Para tanto se contrata o arquiteto Archimino Augusto Jaqueira,

soteropolitano, residente em Belo Horizonte-MG. Seu projeto mostrou-se arrojado, seguindo

os preceitos de higiene e organização administrativa, ideias comuns à ideologia republicana,

vigente na política brasileira da época.

Visando proporcionar um incremento na cultura local, em dezembro de 1954, a

prefeitura autorizou a construção do edifício do Cine Gramense, na Praça Santa Rita, hoje

Praça Francisco Luiz Pinto Moreira. Local público que, seguindo sua vocação, abrigaria as

atividades de teatro, salão de festas, bailes e apresentações em geral. Do período de sua

construção até os fins de 1970, a Praça Santa Rita foi um dos espaços de maior convivência

social do novo município. Comparando a proposta do Plano de Urbanização entregue pelo

arquiteto Archimino Jaqueira, em 1954, e a disposição urbana atual do município, percebe-se

que inicialmente algumas das propostas foram adotadas, porém em poucos anos ela foi

abandonada e o projeto engavetado.

No que tange aos aspectos culturais, em 1955, foram iniciadas as atividades da Igreja

Presbiteriana do Brasil em Santo Antônio do Grama e, atualmente, existem dois templos, um

na Fazenda da Alegria, no Córrego do Taquaral e outro no distrito Sede.

O Grupo Escolar Mariano Gomes, localizado à Praça Manoel Dias da Fonseca,

construído em 1958, foi a primeira escola mista no Município. No mesmo ano foram criadas

as escolas rurais nas regiões do Córrego dos Salgados e do Córrego dos Frades. Somente entre

os anos de 1977 e 1982 o ensino de 5ª a 8ª séries foi implantado em Santo Antônio do Grama,

e, em 1884, foi criado o ensino de 2º grau, além da construção do prédio da Escola Antônia

Zanetti.

Melhorias de infraestruturas também foram feitas ao longo dos anos, como a construção

de pontes – por exemplo, a de concreto armado sobre o Córrego dos Salgados, na Rua Padre

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João Coutinho e a Ponte Preta, sobre o Rio Casca, localizada na divisa com Urucânia, na

rodovia sentido Jatiboca –, a execução de calçamento urbano nas Praças Padre Antônio

Ribeiro Pinto e Francisco Luiz Pinto Moreira, em 1967, e a instalação de rede de esgoto na

área urbana.

O Monumento em homenagem ao Padre Antônio Ribeiro Pinto, que tanto contribuiu

para o desenvolvimento de Santo Antônio do Grama, construindo diversos templos, foi

inaugurado em 20 de agosto de 1989.

O Jornal Pró-Grama surgiu em 1994, após uma iniciativa de alguns estudantes da 8ª

série da Escola Estadual Mariano Gomes criarem o Jornal Perereca. Estes estudantes deram

prosseguimento ao projeto do jornal durante o 2º grau que, nesta etapa recebeu o título de

Pró-Grama. O jornal era uma publicação mensal de apoio à cultura gramense e circulou

durante três anos, revivendo os momentos de produção local, como na já distante década de

1910.

Nos últimos anos, até os dias atuais, o município de Santo Antônio do Grama continua

tendo como principal atividade econômica a agropecuária, principalmente em sua zona rural.

Já que na área urbana o setor de serviços é o que concentra a maior parte dos moradores.

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HISTÓRICO DO BEM CULTURAL

“Minas é Musical. Pouco afeito ao meteorismo de sucessos

fabricados em estúdios, seu povo segue a pauta incomum da simplicidade. Sem promover, sem retumbar, Minas reconta suas 438 Bandas de Música registradas e lavra o fato de ser dotada de um terço das Bandas do Brasil. Nas partituras, clava-se a história. Interação de classes e idades buscando o objetivo comum. Na relação de troca, na horizontalidade e condição participativa que oferece, a Banda se torna exemplo de grupo. (...) Nas ações internas e externas da Banda, pratica-se a participação social, degrau confidente da democracia. Representação democrática, a Banda afina seu tom com a vida e seu compasso com a comunidade. É ritmo, tempo, despertar e seguir. É alvorada que faz a manhã ser maior. (...) A Banda não se instala, percorre, passa, chama, pré-dispõe sem dispor ou estabelecer. É movimento que favorece o passo do povo no compasso próprio. Sintonia com a vida. (...) Sendo corporação, a Banda incentiva, favorece, cria vocações musicais, recreação e prática do convívio social. Cumpre sua origem de sinal e bandeira. É marca local, signo da comunidade. Toca a alegria da praça no carnaval e compõe o tom fúnebre da procissão do enterro, na quaresma. Momentos do ano, eventos do povo. No palco do correto ou no desfile das ruas, os componentes da Banda vestem o mesmo uniforme, variam pouco o repertório e seguem o mesmo caminho que tem por marcos a praça e a igreja: o povo e a fé. (...) Nas Bandas antigas, há poeira da história. Nas rachaduras dos instrumentos, a marca do tempo nos conta do século. Nas praças sem alma, o coreto nos cobra atenção. O coreto sem Banda não é presença, é pergunta. (...) Há, no grupo da Banda, a força do encontro, da afinação e da sintonia. Retrato ingênuo da comunidade que vive suas trocas e relações, institucionais. A procura da harmonia aparece nas grandes e pequenas comunidades, parecendo, porém, configurar-se mais próxima no aconchego do interior. (...) Ainda que seja carinhosamente guardada, no interior, como uma joia ou relíquia de família, a Banda necessita de apoio para continuar sendo e fazendo parte da história de Minas. Na composição da história, há instituições em acordes fortes: as que representam iniciativas produtivas sociais e culturais do Estado. Aquelas que buscam estimular, ajudar, participar

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e que se ampliam sem perder os fios do tecido social que veste Minas inteira. No cenário das montanhas, o relevo das Instituições do Estado que precisa manter na linha o trem de Minas. No vagão dos valores, continua a fé de uma gente que sabe ter direito de contribuir e cobrar, esperando ver restaurados e guardados os seus bens: obras e ações, feitos e fatos, jeito e corporações. Na estação da memória, no trilho, a Banda espera.”

4

Antecedentes históricos das Bandas de Música

De acordo com Fernando Binder (2006, p.8) “Banda é um conjunto musical formado

por instrumentos de sopro e percussão”. Na Europa, sua origem remonta à França do século

XVII. No Brasil, as Bandas de Música são fruto de uma tradição musical que vem do Período

Colonial e desde então são consideradas como um rico celeiro de maestros, músicos e gêneros

musicais.

A Funarte – Fundação Nacional de Arte – apresenta uma cronologia dessa manifestação

cultural no Brasil, apresentando os marcos históricos da atuação das Bandas de Música no

país. De acordo com essas informações, as primeiras Bandas de Música surgiram no início do

século XIX no Rio de Janeiro. Elas formadas por barbeiros – escravos em sua maioria -, que

tocavam fandangos, dobrados e quadrilhas, em festas religiosas e profanas. Em 1831 foram

criadas as Bandas de Música da Guarda Nacional, e esta arte se espalhou pelo país, na maioria

das vezes atrelada às funções militares5.

O pesquisador Fernando Binder (2006, p.9), apoiado nos estudos de Vicente Salles,

afirma que as Bandas começaram a ser introduzidas no Brasil a partir de 1808, com a

transferência da corte portuguesa ao Rio de Janeiro:

O grande impulso dado à formação das bandas militares no Brasil começou, como vimos, com a transmigração da corte portuguesa para o Rio de Janeiro. Mas a banda da Brigada Real trazida por D. João VI, em 1808, ainda era arcaica. Em Portugal, a banda de música começou a se modernizar somente em 1814, quando seus soldados regressaram da guerra peninsular, trazendo brilhantes bandas de música, onde

4 Trechos do Texto “História das Bandas de Música”, de Nestor Sant’Anna e Guiomar Murta. Disponível em: <http://www.bandasdeminas.com.br/historia-das-bandas-de-musica-de-minas/>. Acesso em outubro de 2013. 5 Projeto Bandas. Disponível em: [http://www.funarte.gov.br/projeto-bandas-2/]. Acesso em março/2014.

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predominavam executantes contratados, principalmente espanhóis e alemães [...]. A música militar claramente aparecida em bases orgânicas, na metrópole, em 1814, forneceria o modelo para a formação das bandas civis (SALLES, 1985, p. 20, apud BINDER, 2006 p. 9).

Ainda conforme Fernando Binder (2006) “muitos autores vinculam o surgimento das

bandas civis à formação das bandas militares”, sendo que entre estes autores se situa Vicente

Salles, conforme a citação transcrita acima. Em sua pesquisa, Fernando Binder constatou que

Bandas Militares muitas vezes tomavam parte das festas oficiais da monarquia luso-brasileira

(durante o século XIX), tanto em honra à família real e imperial quanto por razões de Estado.

Essa situação teria gerado um tipo de exposição frequente, que por sua vez teria favorecido a

divulgação deste tipo característico de conjunto instrumental - a banda de música - como um

importante elemento simbólico na representação monárquica. A partir de então, a criação e

manutenção das bandas militares atuaram como um importante elemento na disseminação

dessa atividade na sociedade civil, pois foram os fornecedores dos elementos necessários para

a atuação deste tipo de conjunto, como instrumentos, músicos, repertório e ensino (KIEFER,

1997, p. 17 apud BINDER, 2006, p. 10).

Marcos Holler e Débora Costa Pires, também identificaram o século XIX como o

primordial para as Bandas de Música6. Eles escreveram que as bandas foram uma das

instituições musicais mais presentes no Brasil do século XIX. Naquele período, elas faziam

parte de um imaginário no qual tais conjuntos eram símbolos sonoros de poder e status. Este

imaginário dava sentido à atuação das bandas, justificando a existência e criação dos

conjuntos.

As bandas civis encontraram grande proliferação no fim do século XIX, ostentando

nomes iniciados em geral por “Lira”, “Filarmônica”, “Associação”, “Corporação” ou mesmo

“Banda”, com uniformes que lembravam o dos militares e com o uso dos tradicionais quepes.

Data do final do século XIX, do ano de 1896, a fundação da mais famosa de todas as bandas

6 Fonte: HOLLER, Marcos; PIRES, Débora Costa. Atuação das Sociedades Musicais e Bandas Civis em Desterro Durante o Império. Disponível em: http://gpceid.ceart.udesc.br/revista_dapesquisa/volume3/numero1/musica/debora-marcos.pdf. Acesso em março de 2014.

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de música: a do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, fundada por Anacleto de Medeiros,

músico carioca filho de uma escrava liberta.

Já no século XX, de acordo com a Funarte, as bandas de música se transformam em

uma das mais populares manifestações da cultura nacional: onde havia um coreto, existia uma

bandinha, orgulho da cidade. Rara era a localidade que não as possuía. As bandas estavam

presentes em praticamente todos os eventos sociais, sacros e profanos, militares e civis; ainda

hoje são um centro gerador de um vasto repertório de diversos gêneros, como chorinhos,

marchas e dobrados, e nelas formam-se músicos profissionais e amadores7.

As Bandas fazem parte de uma romântica visão da vida nas cidades, nas quais, durante

três séculos de história do Brasil, as comunidades possuíam a tradição de parar para “ver a

banda passar”, trazendo alegria e música para todos. Ainda hoje nas cidades interioranas, as

bandas atuam como única fonte de formação musical disponível para os moradores e

determinante fator de socialização entre os citadinos.

7 Idem.

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HISTÓRICO DA CORPORAÇÃO MUSICAL NÉLSON BORGES

Conforme já foi mencionado, Minas Gerais é o Estado da federação que encerra maior

tradição de bandas, possuindo as mais antigas e concentrando o maior número delas. A cidade

de Santo Antônio do Grama é um exemplo desta tradição. Contando atualmente com

aproximadamente 4 mil habitantes e uma economia voltada para agricultura e pecuária, Santo

Antônio do Grama foi emancipada em 12 de dezembro de 1953 e instalada como cidade em

1° de janeiro de 1954. Antes, porém, dessa época encontram-se registros de intensa atividade

histórica e cultural na localidade, o que a torna uma importante referência na Zona da Mata

mineira.

Já foi mencionado também que a “Corporação Musical Nélson Borges” como expressão

que denomina a Banda de Música da cidade de Santo Antônio do Grama tem uma história

recente, que remonta à década de 1980. Porém, como será apresentado adiante, como forma

de expressão, as Bandas de Música do município remontam ao ano de 1915. As Bandas de

Música de Santo Antônio do Grama assumiram outras denominações durante a sua história,

como “Corporação Musical Santa Cecília”, “Banda de Música Padre Cândido” e “Banda

Santa Cecília”. Apesar das diversas nomenclaturas, a forma de expressão se manifesta com

uma tradição histórica de continuidade, iniciada no início do século XX.

Contradizendo as fontes históricas existentes até a realização desse trabalho, a primeira

Banda de Música da qual se teve notícia na cidade de Santo Antônio do Grama foi a

“Corporação Musical Santa Cecília”. Desta não se tem muitas informações, como data de

fundação, fundador ou registro dos maestros e músicos; foram encontrados apenas alguns

registros no jornal “O Democrata”, que circulou em Santo Antônio do Grama entre 1913 e

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1916 8. Na edição do dia 16 de maio de 1915, o periódico comenta a participação da Banda

nas celebrações do dia 13 de maio:

“Não passou por desapercebida entre nós a grande data de 13 de Maio; pois a correcta Corporação Musical S. Cecília acompanhada de grande massa popular, fez a noite uma bonita passeata, percorrendo as principaes ruas do nosso districto (...)”9

Até então havia um consenso de que a primeira banda fundada na cidade teria sido a

“Banda de Música Padre Cândido”, fundada em 1922, como veremos a seguir. Entretanto,

uma nova fonte histórica revelou que o passado musical da cidade remonta a meados da

segunda década do século XX, quando foi registrada a atividade da “Corporação Musical

Santa Cecília” nos eventos festivos da cidade.

Outra notícia veiculada na edição de “O Democrata” do dia 29 de maio de 1915 traz a

programação da festa do padroeiro, Santo Antônio, daquele ano. Nessa programação existe a

informação de como se daria a participação da Corporação Musical Santa Cecília durante a

Festa de Santo Antônio que seria realizada entre os dias 31 de maio e 13 de junho de 1915:

“No dia 31 do corrente mez, ao meio dia em signal do inicio da trezena haverá repiques de sinos, foguetes, e a banda musical S. Cecília executará algumas peças do seu vastíssimo repertório. (...) As rezas começarão às 7 ½ horas em ponto, tendo todas as noites a presença da Banda S. Cecília. No dia 12 antes de principiar a resa, as 7 horas, a correcta banda irá buscar em sua residência o alferes da bandeira, que em procissão virá para a Matriz trazendo-a. (...) Pela madrugada, haverá alvorada pela correcta banda musical S. Cecília. (...)”.10

A “banda musical Santa Cecília”, pelo que se pode aferir através dos registros acima,

participava das comemorações religiosas e cívicas do então povoado de Santo Antônio do

Grama em meados da década de 1910. Merece destaque a participação desta na festa do

8 O jornal “O Democrata” circulou na cidade de Santo Antônio do Grama entre 23 de novembro de 1913 e 23 de janeiro de 1916. Seu editor e proprietário era o Sr. José Fausto de Oliveira Dias. Em 1916, porém, este mudou-se para Ponte Nova/MG, levando a tipografia e continuando a escrever o semanário nesta cidade. 9 DIAS, José Fausto de Oliveira. 13 de maio. O Democrata, Santo Antônio do Grama, 16 de maio de 1915. 10 DIAS, José Fausto de Oliveira. Imponentíssimos festejos de Santo Antônio de Pádua, padroeiro desse Districto, a realizar-se dia 13 de junho do corrente ano de 1915. O Democrata, Santo Antônio do Grama, 29 de maio de 1915.

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padroeiro da cidade, característica que marcou a existência da forma de expressão no

município durante toda a sua história.

“O Democrata” também registra, no dia 6 de junho de 1915, uma notícia da tentativa de

criação de uma nova banda musical na cidade, através da iniciativa de Francisco Lino e do

Coronel Theophilo S. do Couto. Entretanto, pelo que foi possível investigar, essa nova banda

nunca foi criada.

Não se sabe qual foi o destino que teria seguido a Corporação Musical Santa Cecília, que,

conforme os registros históricos demonstraram, existia na cidade no ano de 1915. Em 1922,

nova empreitada em direção à formação de uma banda de música foi iniciada, dessa vez

idealizada pelo dinâmico Padre Antônio Ribeiro Pinto e oficialmente criada em 19/02/1922

por uma comissão de homens ilustres. Tal grupo se reuniu, pela primeira vez, no salão da

escola da professora D. Elisa Soares. O Livro de Tombo da Paróquia traz o relato do

movimento inicial desses homens ilustres, registrando que:

Aos 19 dias do mês de fevereiro reuniram-se pela primeira vez no salão da Escola da Professora D. Elisa Soares, para se tratarem da criação de uma banda musical (...). Foi deliberado, em vista da falta de instrumentos, fazer uma compra dos mesmos, fazendo para isto uma lista de duzentos homens que foram os auxiliares, e serão também festeiros perpétuos das Festas da Semana Santa. Foram escolhidos: Presidente: Revmº Padre Antônio Ribeiro Pinto; Diretor: Cel. Nicolau; Vice-Presidente: Olympio José Bayão; Secretário: Benigno do Couto; Tesoureiro: Capitão Braga; Fiscal: Vitalino de Paula Gomes; Maestros: João Henrique de Oliveira e seu auxiliar Enídio de Sena. 11

Sabe-se que a nova banda foi denominada “Banda de Música Padre Cândido” 12. Pelo

registro existente no livro de tombo acima reproduzido, ficamos sabendo também que a banda

contou, para a sua fundação e manutenção, com a doação de instrumentos dos homens ilustres

da cidade, que formaram uma comissão para adquirir tais instrumentos.

11 Fonte: 1º Livro de Tombo da Paróquia – p. 25 e 26 – Inscrição nº 23 data: 19 de fevereiro de 1922. 12 Padre Cândido Synfrônio de Castro foi o primeiro vigário de Santo Antônio do Grama no período de 1886 até 1888, sendo nomeado novamente para a localidade entre 4 de janeiro de 1892 a 6 de maio de 1898. De acordo com o livro “Memória Histórica de Santo Antônio do Grama”, o Padre Cândido teria lutado pela transformação e elevação do local, sendo um religioso progressista. Conta-se que foi o Padre Cândido quem ensinou o povo do Grama a calçar sapatos. Possivelmente por ser uma personalidade reconhecida no local, a Banda fundada em 1922 pelo Padre Antônio Ribeiro Pinto resolveu homenagear o vigário, dando a ela o seu nome.

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Formada a nova banda, esta iniciou suas atividades ainda no ano de 1922. O início das

atividades da Banda de Música Padre Cândido foi registrado no 1° Livro de Tombo da

Paróquia de Santo Antônio:

No dia 1º de outubro, a Festa do Santíssimo Sacramento (...) às 8 horas missa pelo Pe. Antônio Pinto, às 10 horas missa pelo vigário Francisco Antônio de Carvalho, em seguida as irmandades em forma de procissão acompanhadas de grande massa popular e a Banda de Música dirigiram-se a residência do Cel. Nicolau Pinto Moreira para lá trazer o estandarte da “Banda Pe. Cândido”, oferecido pelo jovem Sr. Sebastião José de Oliveira. Ao chegar, depois de formar circuitos em fileiras, na frente da dita Fazenda a senhorita Guiomar do Couto fez a entrega do estandarte a dita banda e imediatamente foi confiado a Reverendíssimo Pe. Álvaro, para levá-lo até a Matriz. Às 2 horas da tarde deu início procissão do Santíssimo Sacramento que percorreu todas as ruas deste arraial e sendo dada a benção em todos os altares, onde a afinada Banda Musical Pe. Cândido executara o Hino nacional, com estridentes sons, ao entrar a procissão foi celebrado do Te-Deum e bênção do SS. Sacramento. Foi encerrada a Festa com a bênção do dito estandarte, que foi entregue ao Diretor da banda Cel. Nicolau Pinto Moreira, que levou-o para o recinto da banda. 13

Através do registro acima descrito, ficamos sabendo que foi realizada uma grande

solenidade para a entrega e bênção do Estandarte da Banda Padre Cândido, inaugurando suas

atividades na cidade. Nas palavras do padre Antônio Ribeiro Pinto, que escreveu o registro, a

“afinada Banda Musical” participara de todos os momentos, acompanhando também a

procissão religiosa e procedendo à solenidade de entrega e bênção do Estandarte. O registro

também ressalta a participação do Coronel Nicolau Pinto Moreira, que além de ser o primeiro

diretor da Banda, foi responsável por guardar o estandarte desta e por adquirir os

instrumentos, juntamente com o Padre Antônio Ribeiro Pinto.

Apesar da participação ativa da comunidade e das autoridades locais para a fundação da

banda de música Padre Cândido, ressalta-se o grande esforço e trabalho empreendido pelo

Padre Antônio Ribeiro Pinto. O Padre Pinto, como é conhecido pela comunidade local,

também foi um homem que muito incentivou a cultura e a religiosidade do povo gramense.

13 1º Livro de Tombo da Paróquia – p. 35 e 36 – Inscrição nº 42 data: 1º de outubro de 1922

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História do Padre Antônio Ribeiro Pinto14

Antônio Ribeiro Pinto nasceu no dia 2 de abril de 1879, em Rio Piracicaba/MG. Sua mãe,

Fábia Maria de Jesus, era filha de escravos. O menino foi criado pela família da tia, irmã de

sua mãe, D. Maria Augusta e seu esposo, o músico Mansueto.

Com cerca de 6 anos de idade, Antônio foi com sua mãe e seus tios para a localidade de

Abre Campo. Lá estudou numa escola regular. Posteriormente, foi enviado para Alvinópolis

para iniciar os estudos sacerdotais, sob orientação do Padre Antônio Nicolau. Esses estudos

foram financiados por Mansur Daiher, Manoel da Cunha e outros amigos da família que

habitavam em Abre Campo. Iniciou os estudos com 21 anos de idade. Dois anos depois,

apresentou-se ao Seminário de Mariana, onde teve dificuldades em iniciar os estudos devido à

sua origem escrava e negra. Entretanto, os superiores obtiveram autorização para admiti-lo no

seminário visto que ele demonstrava claramente possuir sinais da vocação sacerdotal.

Ordenou-se padre em 9 de abril de 1912, com trinta e três anos de idade. A primeira

missa foi celebrada em Abre Campo, em gratidão aos benefícios que teria recebido daquela

terra. Sua primeira paróquia foi a da cidade de Rio Casca, onde permaneceu até 1917.

Posteriormente foi nomeado para a freguesia de José Pedro, hoje Ipanema, onde viveu até

meados de 1921.

Em 1º de maio de 1921 tomou posse da freguesia de Santo Antônio do Grama. Pe. Pinto

participou ativamente da vida social de Santo Antônio do Grama. Fundou o time de futebol,

colaborou para a criação da Banda de Música Padre Cândido, apoiou a fundação do Congado,

dentre outras atividades importantes para o desenvolvimento social e cultural da localidade.

Nessa época, de acordo com relatos, Padre Antônio Ribeiro Pinto estava viciado em álcool, o

que fez com que fosse afastado da freguesia de Santo Antônio do Grama no ano de 1925.

14 DOMINGUES, José Henrique. Memória Histórica de Santo Antônio do Grama. Segunda Edição, Editora Folha de Viçosa. Santo Antônio do Grama, MG, 1997.p. 66-77; Gramenses Homenageiam o Padre Antônio Ribeiro Pinto. Disponível em: <http://www.santoantoniodograma.mg.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=379:gramenses-homenageiam-padre-antonio-ribeiro-pinto&catid=7:noticias&Itemid=93>. Acesso em 26 de setembro de 2013.

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Porém, em 1º de novembro de 1926, o Padre Antônio retornou à Paróquia depois de um forte

apelo popular da cidade dirigido ao Bispo, Dom Helvécio, solicitando o retorno do pároco.

Um dos maiores feitos do padre, porém, foi a construção da Igreja Matriz, entregue à

cidade no dia 20 de outubro de 1940. A festa de inauguração da Igreja teve a presença das

bandas de Rio Casca e da banda de música local. Em seguida prosseguiu a construção da

Capela de Santa Efigênia, entregue à comunidade em 1944. Construiu também a casa que se

situa a direita da Igreja Matriz, que foi utilizada durante muito tempo como sede da Banda

Padre Cândido, e também a nova Casa Paroquial, situada na rua de baixo, onde atualmente se

encontra o Ginásio Gramense.

Apesar do vício da bebida, Padre Antônio teve uma vida ilibada como sacerdote. Devoto

de Nossa Senhora das Graças, Padre Antônio propagou a fé e a devoção à Virgem da Medalha

Milagrosa. Em meados da década de 1940, quando passou a conceder a “Bênção Ritual” aos

enfermos, aos quais distribuía a “Medalha Milagrosa”, Padre Antônio já recebia na cidade de

Santo Antônio do Grama numerosas romarias dos que, junto a ele, vinham implorar graças

espirituais, favores e curas a Nossa Senhora das Graças.

FOTO 01: Padre Antônio Ribeiro Pinto ao lado de uma escultura de Nossa Senhora das Graças.

Fonte: Memória Histórica de Santo Antônio do Grama, p. 76.

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No dia 02 de fevereiro de 1947, Padre Antônio renunciou repentinamente à Paróquia de

Santo Antônio do Grama, num episódio que até hoje não fora completamente esclarecido. A

partir daí fixou residência em Urucânia, onde cresceu sua fama de “milagreiro” e passou a

receber grande multidão, vinda de todas as partes do país e do exterior para receber a sua

bênção, ouvir conselhos e até mesmo confessar-se.

Padre Antônio faleceu no Hospital de Nossa Senhora das Dores de Ponte Nova, no dia 22

de julho de 1963, quando possuía 84 anos de idade. Foi sepultado em Urucânia. Em 1975, seu

corpo foi exumado e os restos mortais foram transferidos para o Santuário de Nossa Senhora

das Graças de Urucânia, que Padre Antônio havia ajudado a construir nos seus últimos anos

de vida.

Padre Antônio Pinto recebeu e continua a receber várias homenagens póstumas nas

cidades da região: em Urucânia, a sua casa foi transformada em museu municipal e a rua onde

esta se localiza passou a se chamar Rua Padre Antônio Pinto. Em Rio Casca, foi erigido um

monumento com o busto do sacerdote na Praça José Ribeiro da Costa. E em Santo Antônio do

Grama, em 1989, foi construído um busto em homenagem ao Padre Antônio Ribeiro Pinto. As

festividades do dia foram abrilhantadas pela Banda de Música, homenageando o vigário que

foi o responsável pela sua criação. Nessa ocasião a banda já se chamava Corporação Musical

Nélson Borges.

Em junho de 2013, na véspera de completar 50 anos de falecimento de Padre Antônio,

Santo Antônio do Grama homenageou mais uma vez o padre benfeitor da localidade,

inaugurando uma escultura construída pelo escultor Marcos Antônio Sales, em pedra sabão,

erigida em um pedestal localizado em frente à Igreja Matriz. A Corporação Musical Nélson

Borges esteve presente para homenagear seu fundador e incentivador.

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FOTO 02: Gramenses Homenageiam Padre Antônio Ribeiro Pinto. Disponível em:

<http://www.santoantoniodograma.mg.gov.br/fotos/6-homenagens-e-inauguracao-da-escultura-do-padre-antonio-ribeiro-pinto/category/60/pagina-60>. Acesso em Setembro de 2013.

As atividades da Banda de Música entre os anos 1920 e 1950

Entre as décadas de 1920 e 1950, a Banda permaneceu em atividade, entretanto, existem

poucos relatos históricos de sua atuação nesse período. Segundo conta José Henrique

Domingues em Memória Histórica de Santo Antônio do Grama, a Banda teve como maestros

e músicos de renome os Srs. Antônio Conrado, José Serafim, Etelvino Leão e Lourenço de

Paula Braga.

Outro relato importante a respeito desse período nos vem através do Sr. Antônio

Francisco Zacarias 15. Antônio Zacarias, como é conhecido na comunidade, nasceu no dia 05

de janeiro de 1926. No ano de 1938, quando tinha 12 anos de idade, foi convidado pelo então

Maestro José Ângelo de Oliveira (conhecido como Juquita de Deta) para participar da Banda

de Música gramense.

15 Antônio Francisco Zacarias. Entrevista concedida em: 22 de julho de 2013 em Santo Antônio do Grama/MG

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Não foram encontradas referências sobre a atuação do Maestro Juquita na Banda de

Música Padre Cândido, porém, sabe-se que o músico teve uma atuação marcante no local,

atuando como Clarinetista e maestro. O Sr. Antônio Zacarias contou que aprendeu a tocar seu

instrumento musical, um Bombardino, com o Maestro Juquita. José Henrique Domingues

(1997) apresenta o músico Juquita como uma grande personalidade local, que depois de atuar

na música gramense, teria participado de bandas em várias cidades de Minas Gerais.

FOTO 03: O Maestro Juquita tocando o Saxofone Reto (si bemol).

Fonte: Memória Histórica de Santo Antônio do Grama, p. 170.

O Sr. Antônio Zacarias conta que, após Juquita, foi maestro da banda o músico conhecido

como Etelvino Leão, que teria atuado no início da década de 1940. Não foram encontradas

referências a respeito da atuação de Etelvino Leão, porém, de acordo com o relato do Sr.

Antônio Zacarias, ele “era muito educado e comunicativo. Tocava contrabaixo. Ele ensinava

tudo muito bem e tudo era muito fácil”. O Sr. Antônio Zacarias se recorda também que

quando conheceu o Maestro Etelvino Leão este era um homem de aproximadamente 40 anos

de idade, enquanto ele próprio deveria ter aproximadamente uns 14 anos de idade.

O Sr. Antônio Zacarias informou que esteve participando da Banda até os 17 anos de

idade, sendo que com esta idade mudou-se para Belo Horizonte/MG em busca de trabalho. De

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acordo com o seu relato, na época em que se mudou, no ano de 1943, Etelvino Leão ainda era

o maestro.

De acordo com registro existente no Primeiro Livro de Tombo da Paróquia, sabe-se que a

Banda de Música encontrava-se inativa no ano de 1947. O Padre Antônio Russo Neto, que

assumiu a paróquia em 1947 após a renúncia do Padre Antônio Ribeiro Pinto, relatou que

“desde o começo de mil novecentos e quarenta e sete, e tendo mesmo se agravado a situação,

devido à divergências entre músicos, motivadas por opiniões politico-partidárias diferentes, a

banda desorganizou-se” 16. Além dos motivos observados pelo novo pároco, supõe-se que a

saída do Padre Antônio Ribeiro Pinto também pode ter influenciado a “desorganização” da

Banda de Música naquele período, já que o Padre Pinto era o dinâmico idealizador e

organizador da manifestação naquele período. A paróquia de Santo Antônio, através do Padre

Pinto, era responsável por manter financeiramente as atividades da banda, realizando o

pagamento do ordenado dos maestros, com a manutenção dos instrumentos e também com o

pagamento de alguma contribuição aos músicos da banda. No 1° Livro de Tombo da Paróquia

o Padre Pinto registrou em várias ocasiões, especialmente quando havia alguma celebração

importante na comunidade, os valores que eram repassados como contribuições à “Banda de

Música” 17. Possivelmente, na ausência do Padre Pinto, essas contribuições deixaram de ser

direcionadas à Banda, que não teve condições de continuar com as suas atividades.

Porém, no ano de 1950, quando foram realizadas as Comemorações do Centenário de

existência de Santo Antônio do Grama, a banda já tinha voltado a funcionar. O Sr. Antônio

Zacarias, por exemplo, afirmou que nesta época já havia retornado ao município, e que teria

participado das apresentações da Banda na ocasião. Nessa época, de acordo com as memórias

informadas pelo Sr. Antônio Zacarias, a Banda voltou a ser chamada de “Banda Santa

Cecília”. Não foram encontradas referências a respeito da nova mudança de nomeação da

banda musical de Santo Antônio do Grama. Fato é que a participação desta nas

comemorações do centenário da localidade foi registrada. De acordo com o Primeiro Livro de

Tombo da Paróquia,

16 Fonte: 1º Livro de Tombo da Paróquia – p. 309 a 311 – Inscrição nº 11 data: 1948

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As comemorações do centenário de fundação de Santo Antônio do Grama tiveram brilho singular, superando as mais otimistas expectativas. As festas tiveram caráter cívico-religioso (...) e dificilmente se farão outras de tamanho esplendor nesta freguesia. (...). Como de costume, a trezena de Santo Antônio começou a primeiro de junho. (...). Dia Treze, as ruas e praças amanheceram festivamente adornadas com bandeiras, faixas e escudos. (...) Pela manhã houve alvorada, ao som de sinos e fogos, tocando a banda de música local e a de Abre Campo, que veio gentilmente prestar o seu magnífico concurso durante todas as festividades. (...)18

O Sr. Antônio Zacarias afirmou que neste período a Banda estava sob a responsabilidade

do Maestro conhecido como “Flores Barbeiro”, reconhecido pelo ofício que executava. Não

foram encontradas referências do citado maestro.

Através do Livro “Memória Histórica de Santo Antônio do Grama”, de José Henrique

Domingues, conforme já foi mencionado, sabe-se que nesse período um dos Maestros da

Banda Padre Cândido foi o músico Lourenço de Paula Braga. De acordo com os relatos do

livro citado, Lourenço Braga foi Maestro apoiado pelo pároco padre Antônio Russo Neto, que

atuou na paróquia de Santo Antônio entre os anos de 1941 a 1967. Entretanto, Lourenço veio

a falecer na década de 1950.

FOTO 04: Lourenço Braga, provavelmente na década de 1950.

Fonte: Acervo do Setor de Cultura da Prefeitura de Santo Antônio do Grama.

17 Exemplos dessas contribuições são citadas nas páginas 154, 158, 165 e 191 do referido Livro de Tombo. 18 Fonte: 1º Livro de Tombo da Paróquia – p. 325 a 330 – Inscrição nº 16 data: junho de 1950

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No Livro “Memória Histórica de Santo Antônio do Grama” encontramos a informação de

que após o falecimento de Lourenço Braga (em data desconhecida durante a década de 1950),

a Banda “Padre Cândido” ficou um longo período sem maestro, o que provocou sua extinção.

A banda somente foi reativada no primeiro mandato do Prefeito Afrânio Pinto Moreira

(1963 – 1967). Em visita à Rio Casca, o pai deste, Sr. Glicério Moreira, encontrou-se com um

antigo morador da cidade do Grama, o Sr. Nélson de Carvalho Borges, um músico,

compositor, fotógrafo e alfaiate que naquele momento estava residindo em São Pedro dos

Ferros/MG. Ao perceber que o antigo conhecido passava por dificuldades financeiras,

Glicério ofereceu ao amigo a oportunidade de reger a banda da cidade, em troca de uma

residência fixa em Santo Antônio do Grama.

Sendo assim, estima-se que no período entre 1963 e 1967 o Maestro Nélson Borges

iniciou o trabalho de reativação da Banda de Música de Santo Antônio do Grama. A banda

convocada e regida por Nélson Borges chegou a ter 60 integrantes, realizando seus ensaios na

própria residência do maestro, um sobrado à Rua Dr. Vicente Bretas Cupertino. Há registros

documentais de que banda teve grandes incentivos na gestão do Prefeito Francisco Moreira

Salgado (1967-1971).

A atuação de Nélson Borges

Nélson de Carvalho Borges é Natural de Alvinópolis/MG, tendo nascido no dia 14 de

outubro de 1989. De acordo com registros de cartório19, é filho de Manoel Borges de

Carvalho e Maria dos Anjos Borges. Casou-se no dia 25 de julho de 1914 em Santo Antônio

do Grama, com Josina de Sant'Ana, que era gramense.

Sabe-se que durante a sua vida, além de músico, Nélson Borges foi alfaiate. Em uma

edição do jornal “O Democrata” datada do dia 7 de dezembro de 1913 existe o anúncio de

uma propaganda da Alfaiataria de Nélson Borges.

19 Cartório do Registro Civil de Santo Antônio do Grama/MG; Cartório do Registro Civil das Pessoas Naturais e de Interdições e Tutelas de Alvinópolis/MG.

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FOTO 05: Anúncio da Alfaiataria de Nélson Borges veiculado no jornal “O Democrata”.

Fonte: DIAS, José Fausto de Oliveira. Alfaiataria Borges. O Democrata, Santo Antônio do Grama, 7 de dezembro de 1913.

Infelizmente, poucas informações biográficas de Nélson Borges ficaram registradas.

Portanto, não se sabe o período em que este teria residido na cidade, nem quais motivos o

teriam levado a se mudar de Santo Antônio do Grama. Não foram encontrados registros

também a respeito da formação musical do maestro. As fontes orais consultadas para este

trabalho, entretanto, afirmam que Nélson Borges marcou época na regência da Banda de

Música de Santo Antônio do Grama que naquela época era conhecida como “Banda Santa

Cecília”.

O Sr. Antônio Zacarias, por exemplo, afirmou que Nélson Borges teria residido, durante

sua vida, nas cidades de Governador Valadares, Caratinga e Raul Soares, em Minas Gerais.

Afirmou também que o povo de Santo Antônio do Grama gostava muito de Nélson Borges e

de sua esposa, a Sra. Josina.

José Henrique Domingues, o já mencionado autor de “Memória Histórica de Santo

Antônio do Grama” se formou músico da Banda de Santo Antônio do Grama durante o

período de atuação do maestro Nélson Borges. Ele afirmou nas linhas do seu livro que

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Nélson Borges, além de músico e compositor, era também fotógrafo e Alfaiate. Organizou uma famosa banda de música, na década de 1960, composta de músicos discípulos seus que eram a Prata da Casa, e entre eles está o autor dessas linhas, que tocava bombardino. Dentre os seus alunos sobressaíram-se os pistonistas João Bosco Russo, que se tornou músico profissional da Banda Militar de Brasília, João Pereira de Oliveira e Francisco Dias Azevedo; o clarinetista Siro Ferreira de Oliveira, o trombonista Antônio Novais e o baixista Nilton Rafael Gomes, grandes batalhadores pela manutenção da banda de música local. (DOMINGUES, 1977, p. 166)

O autor, porém, deu o maior testemunho de atuação do maestro durante seu relato oral

para a realização deste trabalho. José Henrique Domingues afirmou no ano de 1967, quando

retornou de seus estudos em um Seminário na cidade de Juiz de Fora/MG, o Maestro Nélson

Borges estava formando uma nova Banda de Música na cidade:

O Sr. Nélson Borges que formava os músicos. Formava e ele era compositor também. Os ensaios obrigatórios eram realizados três vezes por semana. Mas a gente geralmente ia todos os dias, ia quando podia. Tudo acontecia na casa de Nélson Borges (...)20

O Sr. José Henrique aprendeu noções de música no seminário. Porém, aprendeu a ler

partituras e a tocar o instrumento do Bombardino com o Sr. Nélson Borges.

De acordo com o relato de José Henrique, a Banda Musical, na época de atuação de

Nélson Borges tinha o apelido de “Furiosa”, a “Furiosa do Sr. Nélson”. A Banda de Música

Santa Cecília, nesse período, atuava principalmente nos eventos religiosos realizados na

cidade.

20 José Henrique Domingues. Entrevista concedida em: 22 de julho de 2013 em Abre Campo/MG.

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FOTO 06: Nélson Borges, em novembro de 1973. Fonte: Acervo pessoal de João Tavares Rabello.

José Henrique também afirmou que o Maestro Nélson Borges era um homem muito

enérgico e exigente. Tinha um ouvido afinado e conseguia perceber qualquer desvio de

melodia dos músicos durante a execução das marchas e dobrados. De acordo com o relato do

autor de “Memória Histórica”,

Ele era um maestro muito enérgico. Ele era muito exigente e exigia a perfeição. (...) Ele tinha aquela formação antiga, que falava na hora, em qualquer lugar. Então se a gente tivesse tocando (...), e isso aconteceu, lá no coreto, e se a gente desafinava, ele chegava para a gente e falava assim: você desafinou! Você desafinou! Os músicos envermelhavam e ficavam com uma vergonha. Ele tocava sax, às vezes ele vinha e parava perto do músico. Eu sei que os músicos ficavam com vergonha. (...) E eu lá no bombardino não ganhava muitos elogios dele. ‘Você tem o sopro fraco!’ Ele sempre arranjava um jeito para procurar defeito na gente, sabe? Eu aprendi muito com ele. (...) 21

Os anos se passaram e no início da década de 1970, Nélson Borges, que se encontrava em

idade avançada, deixou a regência da banda. Faleceu em 29 de julho de 1977 no Hospital

21 Idem.

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Nossa Senhora da Conceição (Rio Casca), depois de sofrer um acidente doméstico. Sua

esposa, a Sra. Josina, de acordo com o relato oral fornecido pelo Sr. Jesus Gomes Pereira22,

teria se mudado para Belo Horizonte na ocasião da morte do marido, onde ela também

faleceu, em data desconhecida.

Décadas de 1970 e 1980

De acordo com os relatos orais, Nélson Borges teria deixado a regência da então “Banda

Santa Cecília” entre os anos de 1973 e 1975. Nessa época, a regência da banda foi assumida

pelo músico Mouzart Mayrink. Desse período infelizmente não foram encontrados registros.

O Sr. Antônio Zacarias informou que Mouzart foi um músico formado durante o período de

Nélson Borges, que posteriormente teria se tornado Maestro. Porém não foi possível

comprovar essas informações.

Já mencionamos anteriormente que até o início da década de 1960, a Paróquia de Santo

Antônio foi responsável por administrar e financiar a Banda de Música local, conforme as

informações dos registros encontrados e das entrevistas realizadas. A partir da década de

1960, o apoio da administração municipal passou a ser fundamental para o funcionamento e

atuação da Banda de Música de Santo Antônio do Grama. Sendo assim, a década de 1960

inaugurou uma nova época de atuação da Banda, que, a partir de então, alternou entre

momentos de intensa atividade e inatividade de acordo com o “sistema” político em poder no

município. Essa característica ficou mais marcante e evidente a partir da década de 1960.

Durante a década de 1970 foram prefeitos os Srs. José Salgado Bayão (1971-1972),

Afrânio Pinto Moreira (1973-1976) e José Flaviano Bayão (1977-1982). É reconhecido que o

Prefeito Afrânio Moreira foi um grande incentivador da Banda de Música de Santo Antônio

do Grama, pois ele teria contribuído para a reativação da mesma durante o seu primeiro

mandato como prefeito (entre os anos de 1963 e 1967, quando foi contratado Nélson Borges).

Sendo assim, supõe-se que Afrânio Moreira tenha sido responsável pela contratação do

Maestro Mouzart Mairink durante os anos de 1973 e 1976. Já entre os anos de 1977 e 1982,

22 Jesus Gomes Pereira. Entrevista concedida em: 22 de julho de 2013 em Santo Antônio do Grama/MG.

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quando não há qualquer registro a respeito da atuação da Banda, é possível que ela tenha

permanecido desativada e só tenha retornado às atividades no ano de 1983, quando Afrânio

Pinto Moreira retornou para um terceiro mandato como Prefeito Municipal (1983-1988).

Dessa maneira, em 1983, o Prefeito Afrânio trouxe para reger a Banda Santa Cecília o

maestro Ageu Maria Quintilhano. Ageu foi um músico que também atuou de forma

determinante durante sua época na regência da Banda. A regência de Ageu foi marcada pela

revelação de muitos talentos musicais e pela integração das mulheres pela primeira vez na

banda. O maestro também foi responsável pela formação de um conjunto musical

carnavalesco, não mais existente, pela composição do dobrado “Menina dos Meus Olhos” e

de uma valsa em homenagem à D. Quinha, antiga moradora local. Segundo DOMINGUES

(1997), no período de regência de Ageu “a banda compunha-se de 38 integrantes com

conhecimento regular de teoria musical e de um repertório de, aproximadamente, 60 peças

musicais de padrão culto, entre dobrados, marchas, música popular, música sacra e valsas”.

As aulas e ensaios eram noturnos e praticamente diários, acontecendo numa residência à Rua

Dr. Vicente Bretas Cupertino, nº 102, mesmo local onde residia o maestro.

Aparecida Maria de Souza Salgado e Geraldo Luzia de Carvalho (conhecido como Gegê)

são músicos atuais da Banda que aprenderam a tocar instrumento e começaram a participar da

Banda durante a regência de Ageu, nos anos de 1984 e 1986, respectivamente. Os músicos,

que foram entrevistados para a realização desse trabalho23, foram unânimes em reconhecer a

qualidade do trabalho de Ageu, que além de Maestro e Professor, se tornou amigo de ambos.

Foi também durante a regência de Ageu e comandados por ele que os músicos da Banda,

vários deles discípulos de Nélson Borges, resolveram homenagear o antigo Maestro dando seu

nome à banda, que oficialmente passou a chamar “Corporação Musical Nélson Borges”. De

acordo com o relato oral fornecido por Ageu, a decisão, que marcaria definitivamente a

história da Banda de Santo Antônio do Grama, passou pelo seguinte processo: Dona Quinha,

instrumentista que tocava Bandolin, conseguiu recuperar um acervo de partituras pertencentes

23 Aparecida Maria de Souza Salgado. Entrevista concedida em: 23 de julho de 2013 em Santo Antônio do Grama/MG; Geraldo Luzia de Carvalho. Entrevista concedida em: 24 de julho de 2013 em Santo Antônio do Grama/MG.

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à Nélson Borges, que continha músicas compostas por ele e por outros compositores. De

acordo com o relato de Ageu,

A Dona Quinha conseguiu recuperar isso para mim. Um belo dia ela chegou e disse: Ageu, eu consegui recuperar um acervo de Nélson Borges, se você tiver interesse. Eu disse, é claro que eu interesso, eu quero conhecer a obra dele e também ter as partituras para a banda ensaiar. Então ela me deu uma caixa lotada de partituras. Eu levei a caixa e comecei a pesquisar. Então eu vi o valor que este homem tinha. O valor que ele tinha como músico e arranjador. Começamos a tocar muito as músicas dele. Os músicos passaram a gostar do repertório. Alguns já até conheciam, como é o caso do José Henrique, porque ele já tocava com ele antes. João Pereira também começou a pedir alguns dobrados daquela época, então a banda passou a ensaiá-los.24

De acordo com o relato de Ageu, após estudar e passar a tocar as músicas compostas por

Nélson Borges, reconhecendo o valor que este possuía como músico, teve a ideia de trocar o

nome da Banda. Assim, ele se reuniu com os músicos, dentre eles José Henrique Domingues,

que havia sido músico na época de Nélson Borges, para ver se estes concordavam com a

ideia. Como todos concordaram, o nome da Banda foi então trocado de “Banda Santa Cecília”

para Corporação Musical Nélson Borges. Ageu contou que naquela época existiam várias

bandas com o nome de “Santa Cecília” no estado. Mudar o nome da Banda de Santo Antônio

do Grama seria uma forma de reconhecer o trabalho valoroso do Maestro Nélson Borges e ao

mesmo tempo firmar a identidade da banda de música da cidade como uma coisa única

daquela localidade.

A história da Bolsa de Nélson Borges

Daí em diante surgiu uma brincadeira entre os músicos da banda: o maestro Ageu

colocou algumas partituras que haviam sido compostas por Nélson Borges em uma espécie de

“embornal” de tecido jeans e pendurou-o no quadro da sala onde a Corporação Musical

ensaiava. Passou a dizer que a “bolsa” teria pertencido a Nélson Borges. Sendo assim, os

músicos passaram a reverenciar o objeto que teria pertencido ao Maestro inspirador da banda.

24 Ageu Maria Quintilhano. Entrevista concedida em: 24 de julho de 2013 em Ponte Nova/MG.

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A partir de então, essa brincadeira ficou na memória de várias gerações de músicos que

passaram pela Corporação Musical na década de 1980, como o já citado José Henrique

Domingues, o Sr. Geraldo Luzia de Carvalho, a Sra. Aparecida Maria de Souza Salgado e o

Sr. João Pereira de Oliveira, que deram o relato oral para a elaboração desse trabalho. Até a

realização dessa pesquisa, não se sabia qual teria sido o paradeiro da Bolsa e até os músicos

atuais, sabendo da existência de partituras compostas por Nélson Borges, estavam à procura

da Bolsa.

FOTO 07: Cópia da partitura do dobrado “União” composto por Nélson Borges.

Fonte: acervo de Aparecida Maria de Souza Salgado.

O Sr. João Pereira de Oliveira contou, emocionado, que o Maestro Ageu confiou a ele a

guarda da “Bolsa de Nélson Borges”, que continha várias partituras de composições do

Maestro25. Porém, após passar por um problema de saúde que o teria privado da memória, o

Sr. João Pereira de Oliveira foi expulso de casa pela esposa, que nunca mais devolveu seus

pertences. Sendo assim, a “Bolsa de Nélson Borges” nunca mais foi vista. O assunto, porém,

ainda causa comoção nos músicos mais antigos da Corporação Musical.

25 João Pereira de Oliveira. Entrevista concedida em: 22 de julho de 2013 em Santo Antônio do Grama/MG.

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Final da década de 1980 até os dias atuais

De acordo com o depoimento de Ageu, o Prefeito eleito para o mandato de 1988 a 1992,

Expedito Pereira Lima, não entrou em acordo com o Maestro para a manutenção de seu

salário e do aluguel da sua residência em Santo Antônio do Grama. Sem ter como se

sustentar, Ageu precisou mudar de cidade em busca de emprego e naquela época a banda foi

extinta, interrompendo um período de rica atuação da Corporação.

Na gestão do Prefeito José Geraldo Salgado (1993/96), contudo, a Corporação foi

reativada, através da contratação de Aguimar Gomes da Silva, um músico natural de Rio

Casca, como regente. Durante quase quatro anos, a banda retornou às suas atividades normais,

com ensaios diários no antigo Cine Gramense, localizado à Praça Francisco Luiz P. Moreira.

Neste mesmo período, a Prefeitura concedeu um lote para a construção da Sede Social da

Banda de Música e do Centro Cultural Gramense, que, posteriormente, foi cedido para a

construção da sede do bloco carnavalesco Ressaca (não mais existente).

A construção do galpão ficou inacabada até o início dos anos 2000, quando foi concluída

para funcionar como quartel do Destacamento da Polícia Militar em Santo Antônio do Grama,

que funciona até os dias de hoje no local. Ao final da gestão de José Geraldo Salgado,

Expedito Pereira Lima foi reeleito, desativando novamente a banda durante dois mandatos

consecutivos (1997-2000 e 2001-2004).

Foi somente quando Jéferson Russo Miranda assumiu a Prefeitura de Santo Antônio do

Grama no ano de 2005 que a Corporação Musical Nélson Borges voltou à sua rotina de

ensaios e apresentações, com a aquisição de novos instrumentos pelo poder público. Em 2006,

o Maestro Aguimar reassumiu a regência da Corporação Musical, então formado por 28

integrantes de diversas faixas etárias.

Entretanto, um fato inusitado marcou a segunda passagem de Aguimar pela Corporação

Musical Nélson Borges. No dia 05 de dezembro de 2009, durante uma apresentação da Banda

na Escola Municipal São Domingos Sávio (em Santo Antônio do Grama), Aguimar sofreu um

enfarte fulminante e morreu na hora. Os músicos e o público presente naquela ocasião narram

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com tristeza e comoção o ocorrido, contando que a Banda estava executando o Hino Nacional

Brasileiro quando o Maestro caiu entre os presentes.

Foto 08: O Maestro Aguimar entre as jovens Edvirges Aparecida Salgado e Taciana de Souza Baião, em

uma apresentação durante o dia 7 de setembro. Fonte: acervo de Aparecida Maria de Souza Salgado.

Apesar da tristeza e do descontentamento, a Banda seguiu em frente. Em 2009 também

ocorreu a criação oficial da Corporação Musical Nélson Borges, através da Lei Municipal nº

385, de 23 de fevereiro de 2009. A Banda foi oficialmente criada como uma entidade de

direito público, integrada por subordinação ao Setor de Educação e Cultura, com as seguintes

atribuições: I – ensinar, difundir e preservar a cultura musical no município; II – apresentar-se

publicamente em ocasiões de festividades cívicas, religiosas e culturais, mediante solicitação

dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário 26.

No início de 2010, assumiu o maestro João Batista Bifano, natural de Matipó/Minas

Gerais. Este atuou durante os anos de 2010, 2011 e 2012.

26 Art. 2° da Lei N° 385, de 23 de fevereiro de 2009, que “Dispõe sobre a criação da Corporação Musical Nélson Borges”.

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Em 2013 assumiu a regência da Banda o Maestro Elias Vitorino da Silva, natural de

Ponte Nova/MG. Atualmente, a Banda conta com 27 integrantes, sendo a maioria crianças e

jovens, e tem participado dos acontecimentos festivos, civis e religiosos da cidade, além de

Encontros de Bandas e atividades culturais diversas realizadas em cidades vizinhas,

representando o município de Santo Antônio do Grama.

Em acréscimo a suas apresentações, a Banda cumpre importante função social, com aulas

gratuitas de música com periodicidade praticamente diária, acompanhando o calendário

escolar, e prática musical junto a diversas crianças e jovens do município.

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DEPOIMENTOS

José Henrique Domingues

Nasceu em Santo Antônio do Grama, em 28/05/1945. Estudou em um Seminário em Juiz de

Fora/MG até o ano de 1966. Estudou português, francês, grego, latim, inglês. Em 1967

retornou para Santo Antônio do Grama. Foi aí que entrou na banda, tocando Bombardino até

o ano de 1996. Durante a sua vida profissional, tentou ser fotógrafo. Depois passou a ser

professor particular. Ajudava os jovens a prepararem-se para os exames de admissão ao

ginásio, tendo ajudado várias figuras importantes da cidade.

Depois disso, a partir de 1969, trabalhou no Minascaixa como faxineiro. Foi aprovado em um

concurso dessa mesma instituição, onde trabalhou até o ano de 1991, quando a Minascaixa foi

liquidada. Atualmente é aposentado.

José Henrique Domingues escreveu um livro sobre a cidade, que é usado como referência

para toda a história do município.

Sr. José Henrique foi músico na época do Sr. Nélson Borges. José Henrique aprendeu música

com Nélson Borges (1967). Antes dele foi Lourenço Braga. Depois dele foi Etelvino Leão.

Quem levou Nélson Borges para Santo Antônio do Grama foi o Sr. Glicério, pai de Afrânio

(ex-prefeito). O Sr. Nélson Borges vivia em Raul Soares. Encontrou com o Sr. Glicério em

Rio Casca. Lá, o Sr. Glicério o convidou para vir morar em Santo Antônio do Grama. Ele era

alfaiate. O Sr.Glicério ficou de arrumar uma colocação para o Sr. Nélson Borges no grama,

através da influência do filho que era Prefeito. O Sr.Nélson Borges concordou, mas precisava

de uma casa para morar, porque o salário não dava para pagar o aluguel. Sendo assim o

Afrânio destinou uma casa para o Sr. Nélson Borges (onde era a Telemig).

Então ele já tinha a casa e um trabalho na prefeitura.

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De acordo com o Sr. José Henrique, o Sr.Nélson Borges foi nascido em Santo Antônio do

Grama. A banda estava desativada antes da vinda de Nélson Borges. Ele começou na época

do Afrânio como prefeito, em 1967. Afrânio tomou posse em 1963.

Acredita que foi na época de 1965 a 1967. Quando o Sr. José Henriques voltou do seminário,

em 1967, ele estava formando a banda.

“Ele era um maestro muito enérgico. Ele era muito exigente e exigia a perfeição”. Naquela

época a banda chegou a ter 60 membros.

“Ele era muito exigente. Ele tinha aquela formação antiga, que falava na hora, em qualquer

lugar. Então se a gente tivesse tocando, vamos supor, a gente tocava muito durante a missa,

nos leilões da Igreja Católica, porque a banda sempre foi vinculada à Igreja Católica. Tinha

a Missa dia de domingo, a missa era às 10 horas, e tocava mais nas coroações do mês de

maio. No mês de maio havia a missa a noite, a missa às 7 horas, e a coroação era mais ou

menos ali pelas 8 horas. Após a coroação, havia os leilões, ao lado da Igreja. Tinha um

coreto, aí ficavam lá as prendas e a banda lá, porque de quando em quando tocavam os

dobrados. Lembro-me que as vezes arrematavam laranja, as crianças arrematavam laranjas,

e era um corre-corre, uma criança querendo tomar a laranja da outra, e a banda tocando. A

gente tocava dobrados. (...)”

“Voltando ao assunto do Sr. Nélson, ele era assim: se a gente tava tocando, e isso aconteceu,

se a gente estivesse tocando lá no coreto, e se a gente desafinava, ele chegava para a gente e

falava assim: - você desafinou! Você desafinou! Os músicos envermelhavam e ficavam com

uma vergonha. Ele tocava sax, às vezes ele vinha e parava perto do músico, eu sei que os

músicos ficavam com vergonha, e ele vinha mesmo. Então os músicos tinham muito medo

dele. E acabou sobrando eu lá no bombardino, mas eu não ganhava muitos elogios dele. -

Você tem o sopro fraco! Ele sempre arranjava um jeito para procurar defeito na gente, sabe?

Eu aprendi muito com ele. Agora tem um outro lá que foi meu colega, é João Pereira. João

foi grande músico, João tocava Piston. (...)”

“O bombardino faz contracanto, sabe? Então você tem que prestar muita atenção. Na música

a gente fala ‘enrabado’. Dá enrabada quando vai todo mundo junto, por exemplo, se está

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todo mundo junto, aí toca o trombone, aí toca a clarineta, o trombone pode acompanhar

aquilo aí, você vai acompanhando. Mas o bombardino não tem jeito, porque ele vai sozinho.

Aí eles tocam e você faz a resposta, aí toca uma resposta. Por isso que é muito difícil você

encontrar um bombardinista. Você fica sozinho, você tem que prestar atenção para dar

aquelas respostas bem em cima. Você não pode adiantar nem pode atrasar.(...)”

“A banda sempre dependia muito dos prefeitos. Se tinha um prefeito que não tinha interesse,

a banda parava. Outro vinha e reativava. (...)”

“(...) tanto é que eu conheci a minha esposa no dia 7 de setembro. Eu estava tocando, me

lembro muito bem, foi até com o Nélson Borges, no Mariano Gomes [escola]. Em 1969, na

parte da manhã. Aí tocando lá, tocamos o Hino Nacional, até um amigo meu me dizer que

tinha uma professora olhando muito para mim. Quando estávamos saíndo, o meu amigo me

disse: ela continua olhando. Aí surgiu o namoro e o casamento. Eu contei essa história,

porque ela lecionava lá em Santo Antônio do Grama, na época não havia professoras

formadas lá no Grama, suficientes para completar o magistério. Aí tinha que buscar

professora fora, sabe? Na época então eu a conheci lá em Santo Antônio do Grama. Ia uma

rural daqui com várias professoras, sabe? Aí ela foi também, foi no dia sete de setembro de

1969. E eu devo a minha felicidade ao meu bombardino. (...)”

“Ela [a banda] tinha o apelido de ‘Furiosa’, a Furiosa do Sr. Nélson. (...)”

“Todas as festas da Igreja tinha Alvoradas. A gente sempre começava lá no cemitério. Ia nas

quatro praças da cidade e a gente ia tocando. Tocava dobrados e na semana santa. O Sr.

Nélson Borges que formava os músicos. Formava e ele era compositor também. Os ensaios

obrigatórios eram realizados três vezes por semana. Mas a gente geralmente ia todos os dias,

ia quando podia.(...)"

“Em Santo Antônio do Grama, a socialização dos jovens se dava em duas entidades: no

futebol e na banda. Lá que a gente arranjava namorada, inclusive eu arrumei, foi na banda

de música. E no futebol também havia casos de pessoas que jogavam futebol e tocavam na

banda. (...) o fator de socializaçao era o futebol e a banda de música. (...) quando nós

tocávamos sempre ficava o público ali, eu tinha o meu público. Os meus fãs eram Dona

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Quinha, Bebém, Taninho. Geralmente quem gostava de bombardino é quem tocava violão,

sabe? Porque ele é grave. E dona Quinha porque ela tocava bandolim. (...)”

“Todos os maestros que eu tive o prazer de conhecer foram unânimes em reconhecer e

elogiar o povo de Santo Antônio do Grama. O povo do Grama possui musicalidade, o povo

do Grama gosta muito de música, carnaval, danças. (...) mas então o povo do Grama sempre

amou a banda de música. Até hoje as pessoas falam: você tocou bombardino, então eu fiquei

marcado em Santo Antônio do Grama como bombardinista. As vezes as pessoas me

encontram e falam: toquei na banda com você. As vezes eu nem me lembro mais, sabe? (...)”

“Nós temos que incentivar a banda porque isso é um meio de evitar o mau caminho dos

jovens, as drogas e o crime. Os jovens estando ali eles estão trilhando o caminho do bem.

Aprendem hierarquia, porque a banda de música tem hierarquia, que é o maestro, aprendem

autoridade, socialização, amizade, conforme o caso, amizade sincera e eterna. A

socialização, o respeito às tradições, de tudo isso a banda é escola. É uma escola cívica. Na

banda a gente aprende a importância do civismo. A pessoa aprende muito a ser patriota.

Enfim, a base é a socialização, a pessoa fica conhecida e reconhecida no lugar. Na minha

época, conforme eu repito, era o futebol e a banda. Então eu penso assim, nós estamos

vivendo muitos problemas, tanto crime, tantas drogas, então se voltar para esse lado, de

cultura e de esporte, eu acho que é um meio muito bom para os jovens trilharem o caminho

do bem. (...)”

“Os dobrados eram compostos pelos maestros. Eles davam os nomes aos dobrados de acordo

com a inspiração. O Nélson Borges contava que, tinha um dobrado, ‘Borboleta Azul’, que

quando ele estava escrevendo a borboleta pousou sobre o papel e manchou a partitura aí ele

deu o nome de borboleta azul. Uma marcha muito bonita, sabe? (...)”

“O Sr. Nélson não gostava de fanfarra. Ele dizia que fanfarra não tem arte. Quem é músico

não gosta de fanfarra. (...) o Sr.Nélson não gostava que o músico dele tocava na fanfarra.”

“Na época da festa o padre dava uma gratificação, o padre entregava para o Sr. Nélson e

aquilo tinha hierarquia. Aí o Sr. Nélson ganhava um dinheirinho, o bombardinista ganhava

um pouquinho mais, o pistonista e o centrista era quase nada. Festa da Semana Santa, São

Sebastião, e outras festas religiosas. (...) O padre retirava o dinheiro da arrecadação da

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festa. Ele dava para o Sr. Nélson e este distribuía o montante entre os músicos. Isso

aconteceu até o tempo de Mozart. (...)

O bombardino do Sr. José Henrique foi reformado por um especialista e atualmente, com

mais de 80 anos de existência, ele funciona normalmente. Existem mais alguns instrumentos

da mesma época que precisam ser reformados. Estão guardados na prefeitura.

João Pereira de Oliveira

O Sr. João Pereira de Oliveira nasceu em Santo Antônio do Grama em 23/11/1953.

Começou a tocar na Corporação Musical com o Maestro Nélson Borges, quando tinha apenas

treze anos de idade (no ano de 1967) até o ano de 1978.

Ele tocou na banda na época de Nélson Borges. Tocava piston. Tocou até três anos

depois que Nélson Borges faleceu. Depois tocou com Ageu. Não tocou com Mozart.

O Sr. João Pereira não guarda todas as lembranças da Corporação Musical, pois depois

de adoecer no final da década de 1980, perdeu a memória e a esposa o expulsou de casa. E

não devolveu os seus pertences. Fez tratamento em São Paulo, pois em Ponte Nova não havia

recursos para tratar a sua doença. Uma bolsa com partituras escritas por Nélson Borges ficou

sob a guarda do Sr. João Pereira, mas a antiga esposa se recusa a devolvê-la.

Conta que o Maestro Ageu que pendurou o embornal de Nélson Borges na parede da

sala de onde a banda ensaiava para homenagear o músico. Também foi dele a ideia de mudar

o nome da banda para Nélson Borges. “Dá uma saudade na gente falar daquilo. (...)”.

Contou, emocionado, durante o depoimento.

Antônio Francisco Zacarias

O Sr. Antônio Francisco Zacarias nasceu em Santo Antônio do Grama em 5 de janeiro de

1926. É um dos músicos mais antigos da Banda que ainda estão vivos nos dias atuais. De

acordo com o seu depoimento, ele atuou na banda por mais de 35 anos, tendo dela participado

entre os anos de 1938 a meados da década de 1970.

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Estava com 12 anos de idade quando começou a aprender seu instrumento, um

Bombardino. Aprendeu a primeira letra de música com o Maestro Juquita. Na época, a Banda

sempre participava das Festas do mês de maio, Festa do Rosário e Festa de Santo Antônio.

Informou que quem doou os primeiros instrumentos para a Corporação foi o Sr. Nicolau Luiz

Pinto Moreira, conhecido como Coronel Nicolau.

“Eu gosto muito da música, gosto mesmo. Mas hoje, o rapaz de hoje, eles não respeitam a

pessoa idosa. Nós respeitávamos. Nós não dávamos um piado na rua com os instrumentos

(...).”

“Padre Antônio gostava muito de ver a Banda tocar. Todos os domingos, ele assistia as

apresentações. Ele gostava muito de um dobrado que se chamava Artur Bernardes. Era um

dobrado muito difícil de executar, cheio de contracantos. Os músicos não gostavam de tocar

porque era um dobrado pesado. Então o padre chegava e perguntava: por que vocês não

tocaram o meu dobrado? Então os músicos entravam novamente em formação para atender o

padre (...).”

“Nélson Borges já havia morado no Grama quando o pai do prefeito Afrânio, o Sr. Glicério,

o convidou para vir morar na cidade. Ele chegou de volta no Grama já de bastante idade. O

próprio Nélson Borges me convidou para voltar a tocar na Banda. Eu toquei com ele mais ou

menos uns 3 anos. Ele continuou com a Banda aí morreu. (...) O povo do Grama gostava

muito de Nélson Borges. A esposa dele se chamava Josina. (...)”

Aparecida Maria de Souza Salgado

Aparecida Maria de Souza Salgado é natural de Piedade de Ponte Nova e nasceu no dia

23/09/1963. Veio morar em Santo Antônio do Grama em 1984. É casada com Hipólito Baião

Salgado e possui duas filhas: Edvirges Aparecida Salgado e Taciana de Souza Baião, que

também já participaram da Corporação Musical Nélson Borges e eventualmente ainda

participam das atividades da Banda.

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De acordo com o depoimento de Aparecida, ela começou a participar da Corporação

Musical Nélson Borges no ano de 1984, tocando o Sax Alto. Atualmente ela toca o Sax

Tenor.

Nessa época, o prefeito Afrânio resolvera reerguer a Banda, que havia ficado desativada

durante um período. Foi contratado para ser Maestro o Sr. Ageu Maria Quintilhano, que

permaneceu na Banda até 1989. A Sra. Aparecida Maria contou que tocou até o ano de 1990,

mas após a saída do Maestro Ageu a Banda não teve outro maestro fixo até a contratação de

Aguimar Gomes da Silva, em meados da década de 1990.

“Depois veio João, que era maestro em Raul Soares. Ele ficou até o final de 2012.

Atualmente não tenho tempo de ir aos ensaios, por isso não estou apresentando com a

Banda”.

Aparecida Maria conta que gostava de participar dos encontros de bandas em outras

cidades. Já foi em Caputira, Manhumirim, Caratinga, Santa Cruz do Escalvado. A depoente

afirma que a sua participação na Banda foi muito marcante em sua vida. “Para mim todos os

momentos foram marcantes, é difícil de falar”, afirmou.

Geraldo Luzia de Carvalho “Gegê”

Geraldo Luzia de Carvalho, conhecido como “Gegê” nasceu em 13/12/1962, na cidade de

Jequeri/MG. Mudou-se para Santo Antônio do Grama no ano de 1968, quando tinha 6 anos de

idade, 1968. Ele começou na Banda no ano de 1986, tocando Piston e permanece na

Corporação Musical até os dias atuais.

Casado com Eunice Mesquita Braga Carvalho.

De acordo com o depoimento de Gegê, ele aprendeu a tocar o seu instrumento com o

Maestro Ageu Maria Quintilhano. Os ensaios eram realizados de segunda à sexta-feira, na

residência do Maestro Ageu, que era localizada na Rua Dr. Vicente Bretas Cupertino.

“Eu não tinha conhecimento, mas sempre admirei o trabalho dos músicos. Quando Ageu

começou a ensinar, eu me inscrevi para participar e comecei a tocar. Aprendi usando o livro

ABC”.

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Gegê contou que a Banda sempre tocou no carnaval de Santo Antônio do Grama. A

Banda Carnavalesca se chamava “Estrela Dalva”. Era a mesma formação da Corporação

Musical Nélson Borges, mudando apenas o nome da banda. Não se recorda se o nome já era

Nélson Borges quando entrou na Banda, mas se recorda do embornal com as partituras do

músico que ficavam penduradas na parede da sala de aula.

De acordo com o depoente, os principais eventos dos quais a Corporação participa são

festas religiosas, Sete de Setembro e o Mês de Maio.

No início da década de 1990, Gegê ficou afastado da Banda, pois se mudou para outra

cidade a trabalho, retornando no início da década de 2000, época em que era Maestro o Sr.

Aguimar. Ele conta que nesse período os ensaios da Corporação não eram tão frequentes, pois

o Maestro Aguimar morava na cidade de Matipó/MG. Além disso, ele tinha a saúde frágil,

com problemas cardíacos e usava muitos medicamentos.

Na época do Maestro João, de acordo com Gegê, o trabalho da Corporação Musical era

“meio devagar”. Apesar disso, Gegê conta que sempre auxiliou o Maestro, inclusive tocando

em algumas ocasiões na Banda do município de Raul Soares/MG, da qual João é o atual

regente.

Gegê conta que infelizmente, atualmente não está tendo tempo de participar dos ensaios,

pois tem apenas uma folga de trabalho por semana, que sempre cai em dias diferentes.

Entretanto, sempre que há alguma apresentação da Corporação nesses dias de folga ele

participa. Ele informou que às vezes ele até participa dos ensaios, mas pelo impedimento

imposto pelo trabalho ele não consegue participar da apresentação para a qual ensaiou. Gegê

contou que se houvesse alguma maneira de ele ser remunerado pelo seu trabalho na Banda,

ele abandonaria o seu trabalho e se dedicaria exclusivamente à Corporação Musical Nélson

Borges.

“O meu sonho era ficar na frente da Banda direto. Eu gosto demais, mas não tenho tempo.

Tem dia que eu desanimo porque a gente não é valorizado. Mas eu sou apaixonado com a

Banda, se eu pudesse eu ajudaria sempre. (...)”

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Ageu Maria Quintilhano

Nasceu em São Paulo/SP no dia 7 de setembro de 1954. Os pais eram de Ponte

Nova/MG, mas se conheceram e se casaram na cidade de São Paulo. Então, em 1959 a família

se mudou para Ponte Nova. A partir daí Ageu Quintilhano sempre residiu nessa cidade. Sua

formação musical adveio de participação em Bandas de Música. Começou a se formar em

música na banda de Ponte Nova, que se chama Corporação Musical Sete de Setembro.

Começou tocando clarinete, em 1968. Ainda tem o primeiro clarinete, que também foi o

primeiro instrumento musical que possuiu na vida, presente de seu pai. Aprendeu a tocar o

instrumento com o Maestro Paulo Vidoti.

Marcou época na banda de Santo Antônio do Grama.

Introduziu mulheres na banda. Anteriormente só tinha homens. Estudou com a banda

mesmo, mas não fez nenhuma graduação. Na época que tirou a carteira da OMB (Ordem dos

Músicos do Brasil) fez alguns cursos em BH para preparar para o exame da ordem. Quando se

tira a carteira não precisa fazer a academia, conservatório. Depois disso tudo que aprendeu foi

por conta própria.

Já foi alfaiate, já trabalhou com outros ofícios. Mas sempre quis trabalhar com música.

Atualmente trabalha com música. Porém, investiu o dinheiro que adquiriu com a música

na compra de alguns imóveis, que atualmente estão alugados. Trabalha durante a noite em

boates e casas noturnas.

“Foi um período muito bom lá em Santo Antônio do Grama. Foi um trabalho que eu posso

dizer assim, foi feito 100% com amor. Tudo que você faz com amor as coisas fluem melhor. E

era uma beleza lá. A gente comemorava os meus aniversários e os aniversários dos

integrantes, terminava o ensaio e a gente ia comemorar. Tornou-se uma amizade, eu procurei

não fazer aquela barreira entre professor e aluno. Não existia isso lá. Eu penso assim, se eu

sou professor e tenho a ciência de ensinar, e você tem a paciência de aprender, ninguém é

superior a ninguém. Isso foi bom demais para a gente. (...) é claro que teve alguma coisinha,

sempre tem, mas a gente resolvia sem problemas. A gente resolvia facilmente. Era aquela

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coisa, o rapaz queria ser o primeiro piston da banda, então chamava a atenção dos outros.

Outra hora era alguém que queria encontrar com a namorada na hora da banda sair. Aí eu

tinha que chamar a atenção. (...). eu sinto claramente que o pessoal de Santo Antônio do

Grama comenta com muito carinho a época que eu estive lá. (...)”

“Foi na época do prefeito Afrânio, de 1983 a 1988. E um pouco do prefeito Expedito. A

banda estava parada. Eu lembro que (...) tinha um instrumental, e alugaram a casa que era

perto da ponte. Lá era a sede da banda e eu morava lá. (...)”

“Dona Quinha, instrumentista que tocava Bandolin, conheguiu recuperar um acervo de

Nélson Borges. O acervo era o seguinte: tinha músicas dele e de outros compositores. A dona

Quinha conseguiu recuperar isso para mim. Um belo dia ela chegou e disse: Ageu, eu

consegui recuperar um acervo de Nélson Borges. Se você se interessar. Eu disse, é claro que

eu interesso, eu quero conhecer a obra dele e também ter as partituras para a banda ensaiar.

Então ela me deu uma caixa lotada de partituras. Então eu levei e comecei a pesquisar.

Então eu vi o valor que este homem tinha. O valor que ele tinha como músico e arranjador.

Começamos a tocar muito as músicas dele. Os músicos passaram a gostar do repertório.

Alguns já até conheciam, como é o caso do José Henrique, porque ele já tocava com ele

antes. João Pereira também começou a pedir alguns dobrados daquela época, então a banda

passou a ensaiá-los. Aí me veio uma ideia: uma pessoa dessa merece que a gente coloque o

nome dele na Corporação. E ai eu conversando com o José Henrique, ele disse que era uma

ótima ideia. Então nós resolvemos colocar Corporação Musical Nélson Borges. Naquela

época era Banda Santa Cecília. Mas existem tantas, esse nome é muito chavão para colocar

em nome de banda de música. Então nós achamos melhor colocar Nélson Borges porque

estaria homenageando uma pessoa que fez muito para a música de Santo Antônio do Grama.

E aí todos concordaram. Aí a gente tinha uma brincadeira lá que tinha uma sacola, uma

bolsa jeans e nós tivemos a ideia de colocar na sacola que a bolsa pertenceu ao Maestro

Nélson Borges. E era uma pessoa que eu não conheci,mas pelo que as pessoas me falavam

dele ele era parecido comigo, em algumas coisas de comportamento, porque eu sou meio

piegas (...) e me disseram que ele era assim também. (...) Talvez seja pela força da música, a

força da música que faz a gente ser assim. A gente lida com a emoção. (...) A emoção é

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fundamental no trabalho musical. Foi muito bom o período que eu estive no Grama. Foi

assim marcante. Compus também algumas coisas lá. Tem muitas histórias boas de lá. Tive

amigos, paixões, etc. (...)”

Elias SilvaVitorino

Elias Silva Vitorino é o atual regente da Corporação Musical Nélson Borges, contratado

no início do ano de 2013. É natural de Ponte Nova/MG e nasceu no dia 29/10/1973. Sua

formação musical aconteceu através da participação em Bandas, desde a infância, nas cidades

de Ponte Nova/MG e Betim/MG.

Trabalha com vários repertórios musicais. Elias trabalha com repertório mais popular,

pois é mais fácil. Gosta muito de musicas clássicas, mas no momento como a formação é

nova e tem muitos músicos iniciantes, ele prefere trabalhar com música popular por ser de

mais fácil aprendizagem por parte dos alunos.

“A banda que não toca dobrado não é banda. Tem que manter a tradição. (...) O dobrado é

um estilo de marcha, feito especialmente para bandas. Dobrados, valsas e marchas

animadas. (...) Atualmente a banda tem 21 músicos que já tocam. Aprendendo, tem 11 alunos,

que já estão entrando na banda. O processo de aprendizagem depende de vários fatores.

Alguns alunos aprendem com mais facilidade. Alguns dedicam mais tempo, estudam nos

horários da banda e treinam em casa, por isso acabam aprendendo mais rápido. Além disso,

a frequência nos ensaios também é importante no processo de aprendizagem.

(...) A banda precisa de uma sede, um espaço só para a Banda. Por exemplo atualmente estão

utilizando o espaço do clube. Porém, em dias de terça-feira não podem ensaiar porque o

clube fica ao lado da Câmara Municipal e o barulho atrapalha as reuniões na câmara.

(...) A Prefeitura de Santo Antônio do Grama dá um ótimo suporte para o trabalho da banda,

é difícil encontrar lugares que seja assim. Essa questão é muito importante. Por isso eu estou

batalhando e cobrando muito dos alunos, porque a atual prefeita gosta e apoia muito a

iniciativa. (...)”

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“Em 2013 já tocaram em festas religiosas e no encontro de Bandas de Santa Cruz do

Escalvado. No segundo semestre de 2013 a agenda está cheia. Encontro de bandas,

apresentações culturais e festas religiosas da cidade. (...)”

“Eu sou um maestro rígido, mas se for rígido demais, se falar demais, o menino acaba saindo

da banda. Mas disciplina isso não escapa não. Quando eu assumi a disciplina nessa banda

aqui não era fácil não. Tem as dificuldades, os horários, mas tudo conversado tem jeito. (...)”

“A música é minha vida. Se não fosse a música eu não estaria nem vivo aqui hoje. (...) Eu

agradeço a minha mãe por ter me colocado em uma banda. Porque eu nem pensava em

entrar em Banda. A minha mãe é que me pediu para entrar na Banda. Então eu comecei a

gostar e até hoje estou aqui.”

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DESCRIÇÃO DETALHADA DO BEM CULTURAL

A Banda de Música “Corporação Musical Nélson Borges” caracteriza-se por ser uma

Banda Civil, composta basicamente por instrumentos de sopro e instrumentos de percussão.

Possui a sua frente um Maestro, que é o regente. Os músicos iniciam sua atividade na Banda

tomando aulas de música e teoria musical, e após um período de aprendizagem que varia de

pessoa para pessoa, começam a atuar nas diversas apresentações da Corporação Musical. O

repertorio é variado, sendo composto basicamente por marchas, dobrados, valsas, músicas

populares e eruditas. Tem por objetivo atingir o maior número de pessoas de uma

coletividade, sem qualquer distinção. É formada por integrantes acima de 7 anos de idade,

sem distinção de sexo.

Adota-se o termo músico quando nos referimos a qualquer pessoa ligada diretamente

à música, em caráter profissional ou amador, exercendo alguma função no campo de música,

como a de tocar um instrumento musical, cantando, escrevendo arranjos, compondo, regendo,

ou dirigindo um grupo coral ou algum grupo de músicos, como orquestras, bandas, big

band de Jazz, ou ainda lecionando, trabalhando no campo de educação, em terapia musical.

Sendo assim, os executantes da forma de expressão, a partir do momento que adquirem a

prática de um instrumento musical, podem ser considerados músicos.

Com relação aos integrantes da Banda, através dessa pesquisa ficou esclarecido que, até o

início da década de 1980, eram admitidos apenas homens para se tornarem músicos da Banda.

Foi somente a partir da regência do Maestro Ageu Maria Quintilhano (1983 a 1989) que foi

admitida a participação de mulheres na Corporação Musical. De acordo com o depoimento

concedido pelo próprio Ageu, quando iniciou o seu trabalho no município, ele abriu as

inscrições “para quem quisesse participar, homens, mulheres e crianças”. A partir de então e

até os dias atuais, a composição da banda é variada, apresentando crianças, jovens e adultos,

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homens ou mulheres. De acordo com as informações orais obtidas durante este trabalho, sabe-

se que durante a segunda regência do Maestro Aguimar Gomes da Silva (2006 a 2009), a

banda possuía 28 integrantes, divididos em instrumentos de sopro (70%) e instrumentos de

ritmo (30%), sendo que a banda já chegou a ter mais de 40 integrantes. A composição por

sexo e a faixa etária era variada, com adultos e adolescentes (como as filhas da Sra.

Aparecida, as estudantes Taciana e Edwiges) em diferentes níveis de aprendizagem. Esta é,

inclusive, uma característica que bem representa a Corporação Musical Nélson Borges, a

participação harmônica de pessoas de idades variadas.

Os principais instrumentos musicais da Corporação Musical Nélson Borges consistem em

clarineta, saxofone alto, saxofone tenor, saxofone soprano, trompete, trombone, bombardino,

e percussão. A percussão é composta por caixas, pratos, bumbos, surdos, tarol. Já os

instrumentos são divididos em duas categorias: as “madeiras” (clarinetas, saxofones) e os

“metais” (trompetes, trombones). Essas categorias também são chamadas de “naipes” pelos

músicos e regentes da Banda.

O repertório é diversificado, variando de acordo com a solenidade. Sabe-se, através dos

relatos orais dos membros mais antigos da Banda, que o repertório tradicional da Corporação

Musical era composto essencialmente por Dobrados e Marchas, muitas vezes compostos pelos

próprios maestros que estavam na regência da Banda. Estima-se que as formações primitivas

de bandas em Santo Antônio do Grama, mais especificamente a Banda de Música Padre

Candido e a Banda Santa Cecília, mesclavam dobrados ao repertório sacro tradicional,

apresentando-se tanto em celebrações religiosas, como Semana Santa ou Corpus Christi,

quanto em festejos “profanos”. Com o passar do tempo, porém, o repertório da Banda foi

incorporando novas composições musicais, passando a apresentar, além dos tradicionais

dobrados e marchas, sambas, versões de temas famosos da MPB ou música internacional.

Desde o início de sua história, iniciada pela então chamada “Corporação Musical Santa

Cecília” e depois pela “Banda Padre Cândido” ainda nas décadas de 1910 e 1920, a Banda de

Música de Santo Antônio do Grama mantém a tradição de participação nos eventos religiosos,

ligados à Igreja Católica, mais especificamente à Paróquia de Santo Antônio, além de manter

sua participação em diversos eventos festivos e comemorações cívicas que são realizadas na

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cidade. Assim, nos tempos de maior atividade, a banda animava e celebrava a festa do

Padroeiro da cidade, a Semana Santa, as comemorações do Mês de Maria, inaugurações de

edifícios públicos, desfiles de 7 de Setembro, procissões religiosas, carnavais, dentre outros

eventos e ocasiões de encontro da população gramense. Esse padrão ainda se mantém nos dias

atuais, já que os principais momentos de atuação da forma de expressão no município ainda

são notadamente as comemorações civis e religiosas do município, além de eventos culturais

diversos.

As apresentações da Corporação Musical Nélson Borges não estão restritas a uma

ambiência específica. A Banda rotineiramente se apresenta na comunidade local, sendo as

áreas de maior ocorrência os espaços ligados à Igreja Católica, as praças da cidade e os

espaços onde ocorrem celebrações públicas e tradicionais do município. Conforme foi

demonstrado, a Corporação Musical Nélson Borges é uma das principais atrações culturais da

cidade e indicativa da efervescência da cultura local. Entretanto, a Corporação Musical

Nélson Borges ainda não tem uma sede própria. Durante o ano de 2013, a Banda funciona

provisoriamente no prédio do Centro Social Comunitário Glycério Pinto Moreira, localizado

na Rua Vicente Bretas Cupertino, n° 458. Os lugares ligados à forma de expressão no

município serão apresentados adiante.

A Banda também manifesta sua imaterialidade, ou seja, sua música, a forma de expressão

em destaque, nos eventos das cidades vizinhas. A Sra. Aparecida Maria de Souza Salgado,

membro da banda desde 1984, conta que a Corporação Musical também participou e continua

a participar de eventos fora do município, nas cidades de Oratórios, Caputira, Urucânia, Ponte

Nova e Jequeri, por exemplo. Dessa maneira, além dos eventos fixos, como Carnaval, Semana

Santa ou Sete de Setembro, a Corporação Musical também possui um agenda móvel de

apresentações, dependendo dos convites que recebe ocasionalmente, variando o público de

cada apresentação conforme o evento.

Em acréscimo a suas apresentações, a Banda cumpre importante função social, com aulas

gratuitas de música com periodicidade praticamente diária, acompanhando o calendário

escolar, e prática musical junto a diversas crianças e jovens do município. Essas aulas

ocorrem de segunda-feira à quinta-feira, em horários matutinos, vespertinos e noturnos, para

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atender a disponibilidade dos músicos que ainda são estudantes e aqueles que trabalham.

Segundo Elias Vitorino, o papel social exercido pela Banda é significativo: “O que uma

criança de uma cidade do interior tem para brincar? Tem o pião, a bola, mas a banda

representa uma alternativa relevante pelo que pode proporcionar uma formação de caráter,

oferecendo uniforme, viagens e a oportunidade de aprender música”, relata. Segundo ele, “na

banda não se ganha, mas se geram os meios para se ganhar”27.

Atualmente, com a regência do Maestro Elias Silva Vitorino, a Banda conta com 27

músicos, sendo a maioria crianças e jovens, e tem participado dos acontecimentos festivos,

civis e religiosos da cidade, além de Encontros de Bandas e atividades culturais diversas

realizadas em cidades vizinhas, representando o município de Santo Antônio do Grama. Além

disso, salienta-se que existem 6 pessoas na fase de aprendizagem.

Tabela 1 – Composição atual da Corporação Musical Nélson Borges

Músicos Instrumento Ana Elisa Custódia dos Santos Clarineta Ariane Aparecida Teixeira Ribeiro Clarineta Augusto César Herculano Saxofone alto Bárbara Miranda dos Reis Ventura Clarineta Daniele Barbosa Ribeiro Saxofone alto Davisson Jesus Martins Oliveira Bumbo Dieison Santos Barboza Trombone Douglas Silva Teixeira Bombardino Elivélton Lucas Santos Barboza Trompete Éverton da Cruz Silva Tarol Felipe Surdo Francisco Augusto dos Santos Clarineta Geraldo Luzia de Carvalho Trompete Gustavo Fernandes Lemos Trompete José das Graças Silva Tuba Josemar Batista de Freitas Saxofone tenor Lucas de Jesus Silva Bateria Márcia Cristina Fernandes Oliveira Saxofone soprano Marcus Aurélius Leão Lanna Saxofone alto Maria Aparecida de Jesus Silva Trompete Maria das Graças Zinato Prato Mariany Ribeiro Silva Clarineta Priscila Barbosa Ribeiro Saxofone alto Rafael Gomes de Souza Clarineta Rafaela Gomes Ferreira Saxofone soprano

27 Elias da Silva Vitorino. Entrevista concedida em: 24 de julho de 2013 em Santo Antônio do Grama/MG.

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Táisson Antônio Amorim Moreira Trombone Vinícius Vieira de Souza Prato

Aprendizes Brenda Helena Frade Ribeiro Cláudia Maria Gomes Silva Domingues Dulce Maria Silva Domingues Leandro Barbosa Ribeiro Maria da Conceição Domingues Maria Helena Teixeira Ribeiro

Fonte: Setor de Cultura de Santo Antônio do Grama

A Corporação Musical possui um uniforme de gala, com camisa em estilo militar na cor

verde e calça preta, e variações que dependem da ocasião, por exemplo, a camisa amarela de

malha utilizada no carnaval. De acordo com os depoimentos orais fornecidos para este

trabalho, ficou evidenciado que os uniformes da Banda variam de acordo com a Gestão

Municipal que está em vigência, sendo que cada administração procura imprimir sua marca

nos uniformes da Banda, seja pelo destaque de uma cor que a represente ou por uma

logomarca. No ano de 2013, porém, a Banda adotou como uniforme uma camisa de cor azul,

que representa a cor do município presente em sua bandeira e em seu brasão.

FOTO 09: Detalhe para o Uniforme adotado pela Corporação Musical Nélson Borges no ano de 2013.

Fotógrafa: Sara Aredes. Data: 22/09/2013.

Com relação aos recursos financeiros utilizados pela Corporação Musical, pudemos ver

que no início de sua história, durante a primeira metade do século XX, a Corporação era

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mantida através de recursos provenientes da Paróquia de Santo Antônio. Os recursos que a

financiavam eram adquiridos através de doações, cachês e contribuições arrecadadas em suas

apresentações, ligadas ao calendário religioso da cidade, além de outras celebrações para as

quais era convidada a se apresentar, e assim, angariar fundos para aquisição dos recursos

como instrumentos. A partir da segunda metade do século XX, entretanto, essa base de

financiamento passou a ser o poder público, através da atuação da Prefeitura Municipal. Nesse

período, conforme demonstramos, o financiamento da Prefeitura foi essencial para manter a

Corporação Musical em funcionamento, financiando o salário do maestro, os instrumentos,

uniformes e demais suportes. Nos períodos nos quais a Prefeitura se afastou dessa

responsabilidade, a Corporação Musical deixou de atuar.

Atualmente, a parceria com a Prefeitura continua sendo essencial para manter a Banda,

pois o pagamento do Maestro, o financiamento das viagens, uniformes e instrumentos

continua sendo proporcionados pelo poder público municipal. Essa participação do poder

público municipal está sendo realizada de maneira satisfatória. Conforme descrição do atual

Maestro, Elias Vitorino, “a Prefeitura de Santo Antônio do Grama dá um ótimo suporte para o

trabalho da Banda, é difícil encontrar lugares que sejam assim.”28

Ao considerarem-se as funções de músico como de relevante interesse público, estes não

podem ser remunerados; a exceção do maestro, cujo cargo é de livre nomeação pelo Prefeito

Municipal e pode ser pago pelo trabalho prestado.

Lugares ou Sedes utilizadas pela Corporação Musical Nélson Borges ao longo de sua

história

Conforme mencionamos anteriormente, a “Corporação Musical Nélson Borges” não

possui sede própria. Ao longo de sua história, as atividades de ensaio e organização da

Corporação Musical aconteceram em diversos espaços do município, públicos e privados.

Durante um período de sua história, foi comum o uso das residências dos próprios maestros

28 Idem.

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como sede e local para ensaios e guarda dos instrumentos. Porém, outros espaços públicos,

foram utilizados pela Banda de Música da cidade para estas finalidades.

De acordo com as fontes orais consultadas, a sede da “Banda Padre Cândido” nas décadas

de 1920 a 1940 foi uma casa localizada na Praça Padre Antônio Ribeiro Pinto, n° 57. O

imóvel foi construído nessa época pelo Padre Antônio Ribeiro Pinto - era uma espécie de casa

de apoio da Paróquia, entretanto, nunca foi casa paroquial. Em frente a essa casa eram

celebradas missas durante a construção da Matriz. Há indícios de que tenha sido sede da

Banda Santa Cecília também na década de 1950, pois a mesma era mantida pela Paróquia.

FOTO 10: Fotografia de uma homenagem ao Padre Antônio Ribeiro Pinto realizada no ano de 1945,

mostrando o povo da cidade e a Banda de Música posicionados em frente à Igreja Matriz. A casa que teria sido a primeira sede da Banda encontra-se do lado direito da Igreja Matriz. Fonte: Arquivo da Prefeitura de Santo Antônio do Grama. Data: 23/09/1945

Na década de 1960, a sede passou a funcionar na Rua Dr. Vicente Bretas Cupertino, s/nº

(entre o nº 234 e 262). O casarão pertencia ao Sr. Glycério Pinto Moreira, pai do então

prefeito Afrânio Pinto Moreira e foi cedido para residência do maestro Nélson Borges e sede

da Banda. Entretanto, o Sr. Nélson Borges construiu uma residência própria na cidade,

localizada na Praça Manoel Dias da Fonseca. Não foi possível esclarecer, entretanto, se o

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maestro Nélson Borges continuou utilizando o imóvel cedido pelo Sr. Glycério como sede da

Banda ou se transferiu esta para o seu novo endereço. Sabe-se que no ano de 1977, o terreno

onde se localizava a primeira residência de Nélson Borges foi doado para a construção da

central de telefonia da Telemig e o antigo Casarão onde morou Nélson Borges foi demolido.

Atualmente o local pertence à Telemar e continua funcionando como central da telefonia fixa

no município.

FOTO 11: O último imóvel da esquerda foi a casa construída por Nélson Borges, localizada na Praça

Manoel Dias da Fonseca. Fonte: Arquivo da Prefeitura Municipal de Santo Antônio do Grama. Data desconhecida.

A partir de 1983/1984, quando Afrânio Pinto Moreira reassumiu o Executivo municipal e

trouxe o maestro Ageu, a prefeitura alugou o imóvel da Rua Dr. Vicente Bretas Cupertino, n°

102, para residência do maestro e sede da banda, que ficou por lá até 1989. O imóvel, porém,

também já foi demolido.

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FOTO 12: O imóvel ao centro da imagem corresponde à residência de Ageu durante sua permanência no

município à frente da Corporação Musical Nélson Borges. Fonte: Arquivo da Prefeitura Municipal de Santo Antônio do Grama. Data desconhecida.

Na gestão do Prefeito José Geraldo Salgado, a banda funcionou no prédio do Antigo

Cinema “Cine Gramense”, na Praça Francisco Luiz Pinto Moreira, n° 45. O maestro nessa

época era Aguimar Gomes da Silva, que residia em Rio Casca.

FOTO 13: Prédio do Antigo Cine Gramense, em 1994, quando era utilizado como Sede da Banda.

Fonte: Arquivo da Prefeitura Municipal de Santo Antônio do Grama. Data: 1994.

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A Corporação Musical Nélson Borges chegou a funcionar também no subsolo do Centro

Comunitário no primeiro ano da gestão do prefeito Expedito Pereira Lima (1997), mas o

funcionamento da Corporação Musical não foi adiante durante os dois mandatos consecutivos

do Sr. Expedito, ficando a banda paralisada até o ano de 2005, quando assumiu a Prefeitura de

Santo Antônio do Grama o prefeito Jéferson Russo Miranda.

De 2005 a 2012 a banda não teve sede própria, usando espaços públicos que

ocasionalmente eram cedidos para seu funcionamento. Funcionou numa sala e depois num

salão da Escola Municipal São Domingos Sávio - Rua João de Souza Brandão, n° 199.

Posteriormente (2011 e 2012), voltou a usar os espaços do prédio do Antigo Cinema,

dividindo o espaço com outras atividades culturais que lá tomavam lugar.

Atualmente, no ano de 2013, a Banda funciona provisoriamente no prédio do Centro

Social Comunitário Glycério Pinto Moreira, localizado na Rua Vicente Bretas Cupertino, n°

458.

FOTO 14: Fachada frontal do Centro Social Comunitário.

Fotógrafo: Anna Flávia C.Oliveira / Data: Fev./2010

Um fato interessante é que na gestão do Prefeito José Geraldo Salgado (1993-1996), foi

doado um lote na Rua João de Souza Brandão, nº 426 para a construção de uma Sede para a

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Corporação Musical Nélson Borges. A Prefeitura construiu no local o barracão do bloco

carnavalesco Ressaca, que existiu na cidade naquela época; depois da extinção do bloco, o

local foi reformado para ser o quartel do Destacamento local da Polícia Militar. Não foi

possível apurar quais foram os motivos que levaram a essa mudança de planejamento por

parte da Prefeitura Municipal. Curiosamente, é o mesmo local que está prometido para ser

adaptado para funcionar como sede definitiva da Corporação Musical Nélson Borges a partir

do ano de 2014, quando a Polícia Militar será transferida para um novo endereço.

Mapa do município de Santo Antônio do Grama com delimitação do distrito sede, área

de ocorrência da Forma de Expressão Corporação Musical Nélson Borges

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Mapa do distrito sede de Santo Antônio do Grama com marcação dos espaços e lugares

associados à forma de expressão Corporação Musical Nélson Borges (em anexo)

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2° Encontro de Bandas de Santo Antônio do Grama – o “Concerto da Primavera”,

edição de 2013

Pelo segundo ano, a cidade de Santo Antônio do Grama realizou um Encontro de Bandas

na cidade. Este foi realizado no dia 22 de setembro de 2013. Neste dia, a Corporação Musical

Nélson Borges brindou os gramenses com uma bela apresentação realizada na Praça

Francisco Luis Pinto Moreira, também conhecida como Praça da Rodoviária, no centro da

cidade.

Coincidentemente, o dia 22 de setembro é o dia em que tem início a Primavera. O dia, um

domingo, foi um dia típico de primavera, com muito sol, céu azul e calor. Na Praça foi

montada uma estrutura para receber os músicos e a população local, com uma tenda para

proteger do sol e cadeiras para que todos pudessem se sentar e desfrutar da boa música

executada pelas tradicionais bandas de música, ilustrando um acontecimento muito conhecido

dos mineiros desde tempos remotos.

Além da Corporação Musical Nélson Borges, estiveram presentes a Filarmônica Santa

Cruz do Escalvado (da cidade de mesmo nome), a Corporação Musical Lira Nossa Senhora do

Amparo (de Amparo do Serra/MG) e da Corporação Musical Santíssima Trindade (de Ponte

Nova/MG). Os músicos bem vestidos, uniformizados, disciplinados e com instrumentos

afinados proporcionaram um espetáculo musical aos presentes.

O “Concerto da Primavera”, como foi nomeado o Encontro de Bandas, começou com a

apresentação das Bandas presentes pelo apresentador oficial do evento. Depois disso, a

Prefeita Municipal, Sra. Alcione Ferreira de Albuquerque Lima, deu as boas vindas aos

presentes e agradeceu a presença das bandas e dos convidados. Em seu pronunciamento de

abertura do evento, a Prefeita Municipal confirmou que a Corporação Musical Nélson Borges,

depois de mais de vinte anos, voltará a ter sua sede própria, o que possibilitará o

aperfeiçoamento dos músicos e a abertura de novas vagas para o ensino da música,

especialmente para as crianças e jovens do município, prometendo para muito breve um novo

encontro de bandas para marcar a inauguração da sede.

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A primeira apresentação da tarde foi realizada pelos “donos da casa”, a Corporação

Musical Nélson Borges. Vale lembrar que o Evento foi pensado pelos organizadores como

uma forma de celebrar a abertura do Processo de Registro da Corporação Musical Nélson

Borges como Patrimônio Imaterial de Santo Antônio do Grama. Sendo assim, os músicos e o

Maestro apresentaram-se de forma impecável. A Corporação Musical Nélson Borges também

estreou, na ocasião, um novo uniforme com a cor presente na Bandeira e no Brasão do

município, o azul. Tudo foi preparado com muito zelo para o Concerto da Primavera.

A Corporação Musical Nélson Borges, regida pelo Maestro Elias Silva Vitorino

apresentou repertório composto de composições tradicionais e populares, uma mistura de

ritmos e estilos que tem sido marca da banda gramense nos últimos anos. Vários músicos que

ingressaram na banda neste ano fizeram no encontro sua primeira apresentação. Além disso, a

Corporação Musical Nelson Borges encantou o público presente e emocionou os mais antigos

através da execução de um dobrado, subgênero musical tradicionalmente executado pela

banda e que marcou várias gerações de músicos que passaram por ela. A apresentação da

Corporação Musical Nélson Borges, assim como das demais bandas presentes foi breve,

porém marcante. Essa foi uma característica muito positiva do Encontro: começou no horário

estabelecido e não se prolongou durante as apresentações, mostrando profissionalismo dos

organizadores e respeito pelo público participante.

Em seguida, foi a vez da Filarmônica Santa Cruz do Escalvado fazer sua apresentação,

com o brilhantismo que lhe é peculiar, regida pelo maestro Rodrigo Carvalho da Silva.

Depois, foi a Corporação Musical Lira Nossa Senhora do Amparo, regida pelo Maestro

“Leco”, que, se apresentando pela primeira vez na cidade, foi veementemente aplaudida pelo

público. Para fechar com chave de ouro, o maestro José Paulo Gomides conduziu mais uma

belíssima apresentação da Corporação Musical Santíssima Trindade.

O “Concerto da Primavera” foi uma celebração onde as tradicionais Bandas de Música da

região demonstraram que a música ainda é uma expressão da arte que mais toca e sensibiliza

o ser humano. Além disso, celebrou o momento importante que vive a Corporação Musical

Nélson Borges, que se verá valorizada e reconhecida através de seu registro como patrimônio

imaterial de Santo Antônio do Grama. Nada mais merecido depois de uma trajetória de quase

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um século de atividade, em que a história cultural e social da cidade foi marcada pela

participação da Banda de Música.

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REGISTRO AUDIOVISUAL

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DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA

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Corporação Musical Nélson Borges. Corporação Musical Nélson Borges em

setembro de 1986. Fonte: Acervo do Sr. Geraldo Luzia de

Carvalho. Data: setembro/1986.

Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Corporação Musical Nélson Borges durante a década de 1980. À frente do grupo está o Sr.

Ageu Maria Quintilhano, maestro da Corporação Musical entre 1983 e 1989.

Fonte: Acervo do Sr. José Henrique Domingues. Data: década de 1980.

Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Apresentação durante a Festa de Santo Antônio do ano de 2012, em Santo Antônio do Grama.

Fonte: Acervo da Prefeitura Municipal de Santo Antônio do Grama

Data: junho de 2012. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Apresentação durante a Festa de Santo Antônio do ano de 2012, em Santo Antônio do Grama.

Fonte: Acervo da Prefeitura Municipal de Santo Antônio do Grama

Data: junho de 2012. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Ensaio da Corporação Musical Nélson Borges no ano de 2012. Fonte: Acervo da Prefeitura Municipal de Santo Antônio do Grama

Data: janeiro de 2012. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Apresentação durante o dia 7 de setembro de 2013, em Santo Antônio do Grama.

Fonte: Acervo da Prefeitura Municipal de Santo Antônio do Grama

Data: 7 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Apresentação durante o dia 7 de setembro de 2013, em Santo Antônio do Grama.

Fonte: Acervo da Prefeitura Municipal de Santo Antônio do Grama

Data: 7 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Apresentação durante o dia 7 de setembro de 2013, em Santo Antônio do Grama.

Fonte: Acervo da Prefeitura Municipal de Santo Antônio do Grama

Data: 7 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges. Apresentação durante a 84ª Semana do

Fazendeiro em Viçosa/MG. Fonte: Acervo da Prefeitura Municipal de Santo

Antônio do Grama Data: 20 de setembro de 2013.

Viçosa/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges. Apresentação durante a 84ª Semana do

Fazendeiro em Viçosa/MG. Fonte: Acervo da Prefeitura Municipal de Santo

Antônio do Grama Data: 20 de setembro de 2013.

Viçosa/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges. Apresentação durante a 84ª Semana do

Fazendeiro em Viçosa/MG. Fonte: Acervo da Prefeitura Municipal de Santo

Antônio do Grama Data: 20 de setembro de 2013.

Viçosa/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges. Apresentação durante a 84ª Semana do

Fazendeiro em Viçosa/MG. Fonte: Acervo da Prefeitura Municipal de Santo

Antônio do Grama Data: 20 de setembro de 2013.

Viçosa/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges. Sr. José Henrique Domingues, autor de

“Memória Histórica de Santo Antônio do Grama” e músico da Banda durante mais de 30 anos, em sua residência em Abre Campo/MG.

Apresenta o Bombardino, instrumento que tocou durante suas atividades na Banda.

Fotógrafa: Sara Aredes. Data: 22 de julho de 2013.

Abre Campo/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Vista interna do Centro Social Comunitário Glycério Pinto Moreira, que em 2013 está sendo

utilizado como sede para as atividades de ensaios e aulas da Corporação Musical Nélson

Borges. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 24 de julho de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Elias Vitorino, atual maestro da Corporação Musical preparando o local para o ensaio da

Banda. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 24 de julho de 2013.Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Vista de uma das salas do Centro Social Comunitário Glycério Pinto Moreira que está sendo utilizado para depósito de guarda dos instrumentos da Corporação Musical Nélson

Borges. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 24 de julho de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Ensaio da Corporação Musical Nélson Borges. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 24 de julho de 2013.Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Ensaio da Corporação Musical Nélson Borges. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 24 de julho de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Ensaio da Corporação Musical Nélson Borges. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 24 de julho de 2013.Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Ensaio da Corporação Musical Nélson Borges. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 24 de julho de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Ensaio da Corporação Musical Nélson Borges. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 24 de julho de 2013.Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges. Praça Francisco Luis Pinto Moreira preparada

para o Encontro de Bandas de Santo Antônio do Grama.

Fotógrafa: Sara Aredes. Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges. Praça Francisco Luis Pinto Moreira preparada

para o Encontro de Bandas de Santo Antônio do Grama.

Fotógrafa: Sara Aredes. Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Praça Francisco Luis Pinto Moreira preparada para o Encontro de Bandas de Santo Antônio do

Grama. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Praça Francisco Luis Pinto Moreira preparada para o Encontro de Bandas de Santo Antônio do

Grama. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Músicos da Corporação Nélson Borges se preparando para a apresentação, instalando as estantes com as partituras e os instrumentos.

Fotógrafa: Sara Aredes. Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Músicos da Corporação Nélson Borges e equipe da Prefeitura de Santo Antônio do Grama preparando o espaço para o Encontro de

Bandas. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Músicos da Corporação Musical Nélson Borges e equipe da Prefeitura de Santo Antônio do

Grama preparando o espaço para o Encontro de Bandas.

Fotógrafa: Sara Aredes. Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Músicos da Corporação Musical Nélson Borges se preparando para a apresentação no Encontro

de Bandas. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Músicos da Corporação Musical Nélson Borges se preparando para a apresentação no Encontro

de Bandas. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Músicos da Corporação Musical Nélson Borges se preparando para a apresentação no Encontro

de Bandas. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Músicos da Corporação Musical Nélson Borges se preparando para a apresentação no Encontro

de Bandas. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Maestro Elias Vitorino confere afinação dos instrumentos com os músicos momentos antes

da apresentação. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Maestro Elias Vitorino confere afinação dos instrumentos com os músicos momentos antes

da apresentação. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Apresentação oficial do Encontro de Bandas de Santo Antônio do Grama. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Autoridades municipais são convidadas a receber os convidados e as Bandas presentes no

Encontro de Bandas de Santo Antônio do Grama.

Fotógrafa: Sara Aredes. Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Discurso da Prefeita Municipal Sra. Alcione Ferreira de Albuquerque Lima durante a

apresentação do Encontro de Bandas de Santo Antônio do Grama.

Fotógrafa: Sara Aredes. Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Apresentação da Corporação Musical Nélson Borges durante o Encontro de Bandas de Santo

Antônio do Grama. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Apresentação da Corporação Musical Nélson Borges durante o Encontro de Bandas de Santo

Antônio do Grama. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Apresentação da Corporação Musical Nélson Borges durante o Encontro de Bandas de Santo

Antônio do Grama. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Apresentação da Corporação Musical Nélson Borges durante o Encontro de Bandas de Santo

Antônio do Grama. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Apresentação da Corporação Musical Nélson Borges durante o Encontro de Bandas de Santo

Antônio do Grama. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Apresentação da Corporação Musical Nélson Borges durante o Encontro de Bandas de Santo

Antônio do Grama. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Apresentação da Corporação Musical Nélson Borges durante o Encontro de Bandas de Santo

Antônio do Grama. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Apresentação da Corporação Musical Nélson Borges durante o Encontro de Bandas de Santo

Antônio do Grama. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Apresentação da Corporação Musical Nélson Borges durante o Encontro de Bandas de Santo

Antônio do Grama. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Apresentação da Corporação Musical Nélson Borges durante o Encontro de Bandas de Santo

Antônio do Grama. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Apresentação da Corporação Musical Nélson Borges durante o Encontro de Bandas de Santo

Antônio do Grama. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Apresentação da Corporação Musical Nélson Borges durante o Encontro de Bandas de Santo

Antônio do Grama. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Encerramento da apresentação da Corporação Musical Nélson Borges durante o Encontro de

Bandas de Santo Antônio do Grama. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Encerramento da apresentação da Corporação Musical Nélson Borges durante o Encontro de Bandas de Santo Antônio do Grama. A Prefeita

Alcione entrega o certificado de participação para o Maestro Elias Vitorino.

Fotógrafa: Sara Aredes. Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Apresentação da Filarmônica Santa Cruz do Escalvado, da cidade de Santa Cruz do

Escalvado/MG no Encontro de Bandas de Santo Antônio do Grama.

Fotógrafa: Sara Aredes. Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Apresentação da Filarmônica Santa Cruz do Escalvado, da cidade de Santa Cruz do

Escalvado/MG no Encontro de Bandas de Santo Antônio do Grama.

Fotógrafa: Sara Aredes. Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Apresentação da Corporação Musical Lira Nossa Senhora do Amparo, da cidade de

Amparo do Serra/MG no Encontro de Bandas de Santo Antônio do Grama.

Fotógrafa: Sara Aredes. Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges.

Apresentação da Corporação Musical Lira Nossa Senhora do Amparo, da cidade de

Amparo do Serra/MG no Encontro de Bandas de Santo Antônio do Grama.

Fotógrafa: Sara Aredes. Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges. Apresentação da Corporação Musical

Santíssima Trindade, da cidade de Ponte Nova/MG no Encontro de Bandas de Santo

Antônio do Grama. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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Corporação Musical Nélson Borges. Apresentação da Corporação Musical

Santíssima Trindade, da cidade de Ponte Nova/MG no Encontro de Bandas de Santo

Antônio do Grama. Fotógrafa: Sara Aredes.

Data: 22 de setembro de 2013. Santo Antônio do Grama/MG.

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ANÁLISE DO BEM CULTURAL

A banda é som. Música. Melodia. É o ritmo cadenciado das marchas e dobrados, ou o breque gostoso de sambas e maxixes, ou ainda o embalo dolente das valsas. E que compassa o coração da gente para segui-la pelas ruas, ou nos chama para praça. E ao som das harmonias criadas por aqueles instrumentos às vezes um pouco desafinados, manejados por mãos duras e calejadas, somos transportados para um espaço mágico, onde as pessoas sorriem, se integram, aplaudem e se emocionam. (GRANJA, 1984: 79-80)

A Corporação Musical Nélson Borges, inserida no contexto das “Formas de Expressão”,

é uma manifestação cultural da cidade de Santo Antônio do Grama ligada à música. Diversas

são as apropriações que dela fazem os gramenses, podendo ser citadas as facetas ligadas à

memória, identidade, reconhecimento, socialização, história e valorização de parte da cultura

imaterial do município. Ao atravessar gerações de músicos, a Corporação Musical Nélson

Borges mantém seu compromisso em formar valores humanos entre seus integrantes,

transmitindo toda a vivacidade das referências culturais de sua cidade de origem através das

harmonias por ela transmitidas.

As filarmônicas das cidades interioranas são o centro de atividade musical mais

importante de uma região. A elas muito se deve de estímulo e de aperfeiçoamento dos

modestos artistas que residem longe das cidades grandes. Há localidades que possuem mais

de uma banda, abrigando homens de várias categorias sociais como médicos, barbeiros,

advogados, padeiros, etc. todos reunidos em torno de um ideal comum – a música.

Conforme já mencionamos, as Bandas de Música brasileiras são fruto de uma tradição

musical que vem dos tempos do Período Colonial. Percorrendo as histórias das diversas

Bandas de Música espalhadas pelo território nacional, observamos que as bandas de música

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têm sido um rico celeiro de maestros, músicos e gêneros musicais29. Durante três séculos de

sua história, o povo parava para ver a banda passar, trazendo, além da música, alegria. Toda

cidade possuía uma bandinha que se apresentava principalmente nos coretos e eram o

principal entretenimento local, participando de movimentos políticos, acontecimentos

religiosos, cívicos e sociais – tradição mantida até os dias de hoje30.

A maravilhosa confraternização que provoca a execução de uma banda de música sugere

dizer que uma cidade sem banda vive pela metade. São atrações que embalam as velhas e as

novas gerações. São escolas de arte e de cultura populares, revestidas de total espontaneidade.

A Bahia dá um excelente exemplo realizando todos os anos festivais de bandas de

música, inclusive no recôncavo. Em Valença, território fluminense, até a década de 1950, o

Cine Teatro Glória – hoje não mais existente, como a maioria dos cinemas – promovia a

Sessão da Banda. A cada semana a arrecadação do cinema de um dia destinava-se à

Sociedade Musical Progresso de Valença, banda quase centenária daquela cidade.

No Rio Grande do Norte, os saberes e os ofícios se confundem com diversas formas pelas

quais as pessoas se expressam: através da literatura, da música, das artes plásticas, das artes

cênicas e do lúdico. Os acordes, as notas e a ufania do instrumental toado pelas bandas de

música de Parelhas, Carnaúba dos Dantas, Apodi, Florânia, Patu, Portalegre, Santana do

Matos, Campo Grande e Caicó.

Fazendo referência às Bandas de Música protegidas pelo Registro no país podemos citar a

“Banda Daki”, de Juiz de Fora/MG. Uma banda carnavalesca que foi criada em 1972, e desde

então renova o espírito de alegria de milhares de pessoas em Juiz de Fora e visitantes nos

sábados de carnaval.

No Rio de Janeiro/RJ, em janeiro de 2004, a Banda de Ipanema tornou-se primeiro bem

imaterial registrado no município. Várias Bandas de Música, carnavalescas, grupos folclóricos

e bandas de todos os gêneros são registrados todos os anos. No estado do Piauí, na cidade de

Parnaíba, temos o exemplo da Banda Municipal de Parnaíba, que desde o ano de 2007 está

protegida pelo registro municipal. Já no Mato Grosso do Sul, na cidade de Ponta Porã, sob

29 COSTA, Manuela Areias. Música e História: um estudo sobre as bandas de música civis e suas apropriações Militares. Tempos Históricos, volume 15, 1º semestre de 2011. p. 240-260.

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registro municipal a Banda de Música do 11° Regimento de Cavalaria passa a integrar o

conjunto do patrimônio cultural daquele município.

Entretanto, “em nenhum outro lugar a canção de Chico Buarque é tão vivenciada como

em Minas Gerais” 31. De acordo com informações disponíveis no site do Instituto do

Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA/MG, o estado possui as mais

antigas e concentra o maior número de bandas. O IEPHA/MG informa que em alguns

municípios mineiros esta tradição está assegurada por meio do registro como patrimônio

imaterial e apresenta alguns exemplos de cidades do Estado que proporcionaram a proteção

dessa rica manifestação cultural. Abaixo seguem alguns exemplos apresentados pelo Instituto:

- Banda Lira da Mantiqueira – Foi criada oficialmente em 1998, na cidade de Andradas,

por meio de um decreto. Porém há relatos que, no século XIX, houve uma imigração em

massa de italianos, tendo entre eles um musicista chamado Feliciano Constantino de Morais,

mais conhecido como Professor Xanico, que se juntou a outros músicos e formaram a

primeira banda que consta na história do município.

- Banda Musical Amantes da Lira – Fundada em 1º de agosto de 1981, em Guiricema, por

um grupo preocupado com a perda de cultura no município, que resolveu retomar os trabalhos

de uma banda surgida no começo do século XX, que até então estava estagnada. Seus

componentes mantêm uma escola de música gratuita para crianças - as que se destacam são

convidadas para participar da Amantes da Lira.

- Banda Santa Cecília, de Rio Pomba – Fundada em 1º de janeiro de 1934, sua história

começa ainda no período colonial, onde diversas atividades artístico-literárias tiveram palco

em Rio Pomba, estando em primeiro plano a música. Com sede própria, a Santa Cecília

possui uma escola de música. A banda conta com uma média de 20 integrantes, sendo a

maioria crianças e jovens, e tem participado dos acontecimentos festivos, civis e religiosos da

30 IEPHA/MG informa: pra ver a banda passar... Disponível em: <http://www.iepha.mg.gov.br/banco-de-noticias/1105-iephamg-informa-pra-ver-a-banda-passar>. Acesso em outubro de 2013. 31 “A Banda” é uma canção de 1966 composta e interpretada pelo músico brasileiro Chico Buarque. Foi lançada no primeiro álbum do cantor, “Chico Buarque de Hollanda”. IEPHA/MG informa: pra ver a banda passar... Disponível em: <http://www.iepha.mg.gov.br/banco-de-noticias/1105-iephamg-informa-pra-ver-a-banda-passar>. Acesso em outubro de 2013.

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cidade, além das edições do Encontro e Confraternização de Bandas, realizado pela Prefeitura,

e dos encontros regionais e estaduais de bandas.

- Corporação Musical Lira Nossa Senhora do Desterro - Fundada em 20 de janeiro de

1994, a Corporação é fruto do desejo comum da comunidade do município que amava a

música e se uniu para resgatar a tradição das bandas de música em Desterro do Melo, que já

contou com a Corporação Musical Euterpe Melense, a Sociedade Musical São Vicente de

Paulo e Lira Basílico Véspoli.

- Corporação Musical Antônio de Freitas Carvalho – Composta por 29 integrantes cujas

idades variam de 10 a 70 anos, a Corporação, do município de Cristina, faz importante

trabalho de resgate musical. Em 2007 o maestro João César da Silva conseguiu financiamento

para um projeto de digitalização e organização do acervo de partituras que pertenceram às

antigas bandas da cidade.

- Sociedade Musical Santa Cecília, de Sabará – Considerada uma das mais antigas e

tradicionais de Minas Gerais, foi fundada em 22 de novembro - dia de Santa Cecília – do ano

de 1781. Durante o período oitocentista seus integrantes formaram uma corporação musical

com uma orquestra de cordas e um coral. Os membros executavam peças litúrgicas nos

templos e participavam de eventos oficiais. Entre as suas apresentações, destacam-se uma

realizada durante a visita de Dom Pedro I a Sabará e uma na inauguração de Belo Horizonte,

em 1897. Desde sua criação, a Santa Cecília é voltada para o ensino e divulgação da música,

em especial a colonial mineira.

Através das características apresentadas acima, podemos afirmar que a forma de

expressão representada pela Corporação Musical Nélson Borges de Santo Antônio do

Grama/MG guarda muitas semelhanças com as Bandas de Música espalhadas pelo território

mineiro. Uma dessas características é a atuação determinante das comunidades locais nas

ações de conservação, resgate e manutenção das atividades da forma de expressão em seus

municípios. Em Santo Antônio do Grama podemos dizer que a forma de expressão foi

sustentada durante praticamente um século pela força e amor da comunidade local, que não

deixou a Banda de Música morrer, apesar dos períodos de inatividade que esta apresentou

durante sua história.

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Podemos destacar também a atuação social das Bandas de Música, através do ensino

gratuito da música que oferecem para seus munícipes. Essa ação reforça não apenas o caráter

social da atividade das Bandas de música, mas, sobretudo a importante ação de transmissão

dos saberes necessários para que a forma de expressão se perpetue.

Outra característica da atuação das Bandas de Música mineiras é a presença delas nos

acontecimentos festivos, civis, religiosos e culturais de seus municípios, assim como nos

momentos mais importantes da história local. Em Santo Antônio do Grama a Corporação

Musical Nélson Borges sempre manteve essa característica, sempre esteve presente nos

momentos mais marcantes da vida social da comunidade.

Durante a realização deste trabalho muito se pôde observar da importância que a forma

de expressão adquiriu no município através de seus anos de existência. É difícil existir uma

família no município que não tenha um membro que não tenha sido músico da Corporação

Musical ao longo de sua história. A Banda de Música de Santo Antônio do Grama marcou a

história de muitas pessoas da comunidade. Vários depoimentos colhidos para este trabalho

foram realizados com muita emoção e sentimento. Muitos músicos antigos realçaram o papel

que a Banda de Música teve em suas vidas, especialmente por proporcionar a socialização,

diversão, união e expressão dos valores locais.

Exemplos da importância da Corporação Musical nas vidas de indivíduos que dela

fizeram parte foram dados por João Pereira de Oliveira e José Henrique Domingues. O Sr.

João Pereira que contou, emocionado, a respeito do paradeiro da “Bolsa de Nélson Borges”,

cuja história foi mencionada anteriormente. O Sr. João Pereira foi um músico muito atuante

durante as décadas de 1970 e 1980, que, emocionado, relatou que sente muitas saudades da

época que era músico da Corporação Musical Nélson Borges.

Já o Sr. José Henrique Domingues, Bombardinista da Banda durante mais de 30 anos

(entre as décadas de 1970 a 1990) contou que conheceu a sua esposa, a Sra. Estela Matutina

Comissário (já falecida) em uma apresentação do dia 7 de setembro no ano de 1969:

Eu estava tocando, me lembro muito bem, foi até com o Nelson Borges, no Mariano Gomes [escola]. Em 1969, na parte da manhã. Aí tocando lá, tocamos o Hino Nacional, até um amigo meu me dizer que tinha uma professora olhando muito para mim. Aí tocamos, e tudo mais. Quando estávamos saindo, o meu amigo me disse:

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ela continua olhando. Aí surgiu o namoro e o casamento. (...) Foi no dia sete de setembro de 1969. E eu devo a minha felicidade ao meu bombardino.32

Além disso, o Sr. José Henrique Domingues, que também é autor de um livro sobre a

história da cidade de Santo Antônio do Grama, ressaltou o valor da Banda de Música para a

comunidade local:

Em Santo Antônio do Grama, a socialização dos jovens se dava em duas entidades: no futebol e na banda. Lá que a gente arranjava namorada, inclusive eu arrumei, foi na banda de música. E no futebol também havia casos de pessoas que jogavam futebol e tocavam na banda. (...) o fator de socialização era o futebol e a banda de música. (...) Todos os maestros que eu tive o prazer de conhecer foram unânimes em reconhecer e elogiar o povo de Santo Antônio do Grama. O povo do Grama possui musicalidade, o povo do Grama gosta muito de música, carnaval, danças. (...) mas então o povo do Grama sempre amou a banda de música.33

Conforme pudemos observar através dos relatos apresentados e do histórico da forma de

expressão, o valor da Corporação Nélson Borges para o município de Santo Antônio do

Grama é inegável e inestimável. A banda sempre esteve presente nos momentos mais

importantes de celebração e socialização local, como foi o caso da Comemoração do

Centenário da Cidade (celebrado em 1950), diversas ocasiões de Celebração do Padroeiro,

eventos cívicos como o sete de setembro, homenagens a personalidades locais, como as

homenagens em honra ao Padre Antônio Ribeiro Pinto, etc. Nos dias atuais, a Corporação

Musical mantém esse padrão de atuação, estando presente nas comemorações civis e

religiosas da cidade, contribuindo para valorizar a cultura e aumentar a autoestima da

comunidade local, que se vê representada através dos acordes da Banda de Música da cidade.

Finalmente, pode-se dizer que mesmo com as devidas ressalvas, as Bandas de Música no

Brasil e em Minas Gerais não perdem seus espaços como manifestações culturais, pois é

nobre o município que mantém uma Banda em seu poder, podendo ter a garantia de que todos

os seus eventos sejam solenemente abertos por estas.

32 José Henrique Domingues. Entrevista concedida em: 22 de julho de 2013 em Abre Campo/MG. 33 José Henrique Domingues. Entrevista concedida em: 22 de julho de 2013 em Abre Campo/MG.

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PLANO DE SALVAGUARDA E VALORIZAÇÃO

A proteção do patrimônio imaterial tem sido alvo de inúmeras discussões no mundo

inteiro, principalmente após 2002, período em que o Brasil, como um dos pioneiros no

assunto, já tinha promulgada sua legislação específica referente a essa categoria de bens

culturais (Decreto 3.551 de 04 de agosto de 2000). Porém, apesar desse pioneirismo, a

salvaguarda dos bens imateriais ainda é uma questão cuja solução ainda está longe de ser

consenso, já que se trata de uma área que envolve diretamente uma interdependência com o

patrimônio material cultural e natural, além das relações humanas e os cotidianos das

comunidades com a tradição.

O reconhecimento de um bem de natureza imaterial como patrimônio cultural, por meio

do Registro, atribui a ele valor representativo da cultura e da identidade de um povo. Ao

chancelar determinada manifestação cultural com esse título, o Conselho do Patrimônio

Cultural, a Prefeitura Municipal e os agentes envolvidos na manifestação assumem tanto a

responsabilidade de acompanhar os possíveis desdobramentos e reflexos desse ato sobre o

bem quanto o compromisso com a sua preservação.

Tal compromisso se traduz na sua divulgação e valorização, e também na

recomendação de ações para sua salvaguarda. Tais recomendações destinam-se a todos que,

direta ou indiretamente, desempenham algum papel na gestão e organização do bem cultural

registrado, inclusive os órgãos municipais que recebem atribuições para recriação da forma de

expressão e outros que podem de alguma maneira, contribuir para a sua continuidade.

A pesquisa desenvolvida para este registro comprovou que a tradição das Bandas de

Música existe há aproximadamente 100 anos em Santo Antônio do Grama. As Bandas de

Música, embora assumissem diversas nomenclaturas com o passar dos anos, representam uma

forma de expressão tradicional que teve como base o gosto pela música, reforçado pela

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comunidade gramense que sustentou essa forma de expressão por todo um século. Diante

dessa constatação, não se pode falar em extinção. Apesar de alguns aspectos da forma de

expressão terem sofrido alterações ao longo dos anos, essas transformações fazem parte do

caráter dinâmico e imaterial da manifestação, que se transformou, recriou-se e atualizou-se,

acompanhando a dinâmica da história. E se não há razão para preocupações com o

desaparecimento da Corporação Musical Nélson Borges, existe, porém, uma série de medidas

que devem ser adotadas para sua preservação.

O século XX foi berço de muitas transformações em todos os aspectos da vida

cotidiana das comunidades, tanto no que diz respeito à vida social como à vida privada dos

indivíduos. Com o avanço do sistema capitalista e da globalização, a massificação cultural foi

sendo disseminada por todo o mundo, chegando também ao interior do Brasil. A invasão da

cultura de massa foi garantida principalmente pela televisão, que foi ficando cada vez mais

popular a partir da segunda metade do século XX. Este fato, juntamente com outros fatores,

causou uma crescente desvalorização de manifestações da cultura popular, fazendo com que

elas ficassem fadadas ao esquecimento e à extinção. Na maioria das cidades do interior, as

manifestações culturais foram ficando mais escassas com o passar dos anos e grande parte da

população jovem migrou para as grandes cidades, o que dificultou, sobremaneira, a

continuidade das tradições culturais. Porém, ao final do século XX e com o advento do século

XXI, iniciaram-se movimentos preservacionistas em prol da cultura regional, quase

esquecida, alertando para a importância de se resgatar as raízes da cultura popular brasileira.

Estes movimentos tocaram o setor público que, em detrimento da cultura massificada,

começou a valorizar as manifestações regionais encontradas no interior do Brasil.

Mesmo com o intenso processo de desvalorização da cultura popular tradicional, a

Corporação Musical Nélson Borges permaneceu ativa na cena cultural do município de Santo

Antônio do Grama. Vale dizer que apesar da crescente massificação cultural e o advento da

internet, os jovens continuam fazendo parte desta forma de expressão.

Contudo, mesmo com toda vitalidade desta forma de expressão, foram verificados

alguns problemas que podem interferir na maneira como a forma de expressão é conduzida e

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no modo como a comunidade local vive, experimenta e se apropria da tradição cultural. Sendo

assim, elencamos abaixo os principais problemas verificados:

1. Problemas relacionados à manutenção das atividades da Corporação Musical

Nélson Borges independentemente de questões relacionadas à política local em

Santo Antônio do Grama;

2. Problemas relacionados à manutenção da forma de expressão: questões ligadas aos

suportes materiais utilizados pela forma de expressão, tais como roupas,

acessórios, instrumentos;

3. Problemas relacionados à inexistência de uma sede fixa, particular e adaptada para

o bom funcionamento das atividades da Corporação Musical Nélson Borges;

4. Problemas relacionados à falta de organização interna da Corporação Musical no

tocante à agenda, catalogação de participantes, de bens, de horários de aulas, de

participação dos músicos, etc;

5. Problemas relacionados à inexistência de um arquivo de documentação da

Corporação Musical Nélson Borges, onde sejam catalogados documentos

históricos, além de arquivados os registros visuais e audiovisuais das

apresentações da forma de expressão nos dias atuais;

6. Problemas relacionados à adoção de iniciativas para promover a divulgação e a

valorização da Corporação Musical entre a comunidade gramense;

7. Problemas relacionados à falta de retorno/incentivo para a participação dos

músicos na Corporação Musical Nélson Borges.

Apesar de terem sido detectados esses problemas ao longo da realização dessa pesquisa

existem ações que podem contribuir para a salvaguarda da Corporação Musical Nélson

Borges, garantindo sua fruição para as gerações futuras e afirmando a identidade cultural do

município. A seguir, listaremos novamente os problemas detectados de forma mais

explicativa, juntamente com as ações propostas e suas justificativas para a salvaguarda da

forma de expressão:

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1. Durante a pesquisa histórica da Corporação Musical Nélson Borges, foi verificado que a

forma de expressão foi sustentada pela Paróquia de Santo Antônio, desde sua criação até o

início da década de 1960. Após esse período, o principal responsável pela manutenção da

Corporação Musical no sentido do financiamento das atividades passou a ser o poder público

municipal. A partir de então foi constatado que a Banda ficou inativa durante alguns períodos

e que a motivação dessa inatividade teria sido a falta de interesse do poder público em manter

o funcionamento da mesma. Faz-se necessário, nesse sentido, o empreendimento de um

trabalho de conscientização da administração para que os futuros gestores municipais tenham

em mente o compromisso assumido com o Registro da Corporação Musical Nélson Borges e

possam continuar contribuindo para a manutenção de suas atividades. É pouco provável que

os músicos e a própria comunidade gramense deixem essa tradição morrer, pois ao longo de

quase um século a tradição se mantém firme e sustentada pelo amor que a comunidade local

devota à música. Porém, com o financiamento e a gestão da Prefeitura a Corporação Musical

pode melhor se estruturar para trabalhar de forma efetiva na continuidade e permanência da

forma de expressão.

2. A Salvaguarda da Corporação Musical Nélson Borges também depende da manutenção,

traduzida pelo financiamento, de atividades e suportes que são essenciais para a recriação da

forma de expressão. Os relatos dos representantes da manifestação foram enfáticos sobre as

necessidades na confecção de uniformes, compra ou manutenção de instrumentos, viagens

para apresentações em outras cidades, transporte, alimentação para os músicos, dentre outras

atividades. A Prefeitura nos últimos anos contribuiu de forma fundamental para a manutenção

da Corporação Musical, fornecendo instrumentos, uniformes e financiando as viagens para

apresentações em outras cidades, além de manter o pagamento do salário do regente. Porém,

medidas devem ser tomadas no sentido de manter essa contribuição ou até mesmo

incrementá-la. Por este bem registrado, o município irá receber divisas que podem e devem

ser repassadas para que a manifestação mantenha a sua recriação. Nesse sentido, é

extremamente necessário que o poder público contribua efetivamente com as despesas de

transporte, alimentação, além de outros gastos associados aos uniformes, troca e manutenção

de instrumentos etc. Devem ser organizadas, também, atividades de análise e vistoria dos bens

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e instrumentos da Banda, para analisar se estão precisando de reparos, ou algum tipo de

restauração. Esta ação garantirá a manutenção e conservação dos equipamentos, que

proporcionam a manifestação da perfeita forma de expressão da Banda, ou seja, a boa música.

Uma importante ação de manutenção da forma de expressão que está ligada não ao poder

público, mas aos próprios músicos, é a questão do comportamento destes em relação aos

suportes materiais de expressão da Corporação Musical, ou seja, da relação dos músicos com

os instrumentos, uniformes e demais suportes materiais. Durante a observação realizada para

este trabalho, verificou-se, em um dos ensaios da Corporação Musical, que alguns

alunos/músicos estavam adotando um comportamento prejudicial à conservação dos

instrumentos e demais suportes materiais. Foi verificado que alguns alunos estavam apoiando

os pés nas estantes das partituras, oferecendo um sobrepeso prejudicial ao equipamento. Foi

citado também pelo Maestro que um problema recorrente é o uso de “chicletes” enquanto

utilizam os instrumentos, o que danifica o objeto. Deve ser realizado um trabalho de

sensibilização com os alunos e músicos da Corporação Musical para que estes aprendam a

fazer o uso consciente dos instrumentos, para que, consequentemente, os gastos com

manutenção dos mesmos sejam minimizados. O mesmo comportamento deve ser observado

para outros materiais, como uniformes e partituras. É importante mencionar que o poder

público arca com a aquisição e manutenção dos instrumentos e demais materiais, estando

estes objetos apenas emprestados aos músicos. Deve-se então salientar a responsabilidade da

conservação de um bem público que deve ser usado em benefício da comunidade. O próprio

regente da Banda pode ministrar cursos de capacitação e conscientização sobre a melhor

forma de manusear e ensiná-los a conservar os instrumentos utilizados pela Banda.

3. Outra questão fundamental para a Salvaguarda do bem está relacionada a não existência

de uma sede própria para a Corporação Musical Nélson Borges. É muito importante salientar

a necessidade da existência de uma Sede para a Corporação Musical, equipada de forma a

atender as necessidades do bom funcionamento desta. A sede poderá ser utilizada para vários

fins, como para local de guarda dos instrumentos e demais materiais, local de ensaios e aulas

de música, espaço para confraternização entre os membros da Corporação, local para

recebimento de visitantes e acolhimento de Bandas de outras localidades, etc. Um exemplo

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prático de como a existência de uma sede própria facilitaria a manutenção da forma de

expressão é o fato de que, atualmente, a Banda se reúne na sede de um clube que se localiza

ao lado da Câmara Municipal. De acordo com o depoimento do atual Maestro, às terças-

feiras, dia de reunião na Câmara Municipal, a Corporação Musical não pode se reunir para ter

ensaios ou aulas, já que o barulho provocado pela manipulação dos instrumentos causa

incômodo às reuniões dos vereadores locais. Isso causa dificuldades e certo constrangimento,

pois utilizando espaços cedidos para aulas e ensaios, os músicos acabam ficando presos aos

horários em que esses espaços estão disponíveis, que muitas vezes coincidem com o horário

de trabalho dos mesmos. Sendo assim, a Corporação Musical não têm liberdade para reunir-se

em momentos convenientes para a participação da maioria de seus membros. Salienta-se

também que a sede para a Corporação Musical Nélson Borges será um elemento organizador,

do ponto de vista prático, das atividades da mesma. Quando a sede definitiva da Corporação

Musical Nélson Borges for preparada, deve ser realizado um minucioso levantamento de

todos os bens e equipamentos necessários para a sede da Banda, para que esta possa ter um

bom ambiente de trabalho quando for se instalar na sua nova sede. Itens como materiais de

escritório, impressora, telefone, bebedouros, sanitários, materiais para as aulas, cadeiras,

estantes para partituras, itens de segurança como equipamentos de prevenção e combate a

incêndios, armários, dentre outros, devem ser considerados como prioritários. O Conselho

Municipal do Patrimônio Cultural deve fiscalizar essa atividade e cobrar a sua realização da

por parte do poder público municipal.

4. No tocante a organização, retomando o raciocínio apresentado anteriormente, um espaço

próprio viabilizaria a organização das atividades da Banda. A sede também viabilizaria a

existência de uma secretaria própria, que serviria de centro de convergência para todas as

atividades e informações úteis às atividades da Corporação Musical Nélson Borges, sempre

tendo em vista que facilitar o trabalho da Banda é manter viva a tradição no município. A

organização traduz-se também em manter uma agenda de apresentações, de horários de aulas,

um catálogo com os dados dos músicos atuais e antigos, etc, enfim, a documentação,

organização e sistematização das atividades práticas da banda. A organização do calendário

de apresentações da banda de acordo com o calendário de eventos da cidade teria por objetivo

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priorizar as apresentações da Banda nos eventos em Santo Antônio do Grama, pois caso não

haja uma organização desse calendário, pode acontecer da banda se comprometer em um

evento fora do município e deixar de se apresentar dentro da sua própria cidade. A

organização dos documentos pertinentes à Corporação Musical Nélson Borges, tais como

Leis, Regimento Interno, fotografias, partituras, relação dos nomes dos alunos e ex-alunos,

dentre outros, facilitaria também o acesso da população aos mesmos;

5. O Dossiê de Registro é o primeiro passo para se documentar a memória da Corporação

Musical Nélson Borges de Santo Antônio do Grama. Daqui em diante, o registro histórico e

toda a documentação da Banda precisam ser tomados como uma das prioridades para que a

salvaguarda do bem seja eficaz e baseada no sentido da tradição. Muitas lacunas e

dificuldades encontradas para a realização da pesquisa do Dossiê de Registro são devidas à

falta do hábito de se registrar os principais acontecimentos da manifestação cultural desde os

seus primeiros momentos. Nesse sentido, houve omissão tanto da Prefeitura Municipal quanto

dos responsáveis pela Corporação Musical ao longo de sua história. A maioria das

informações levantadas baseia-se tradição oral dos músicos da cidade, especialmente daqueles

mais idosos. Porém, muito se perdeu com a morte de alguns deles. Apesar disso, verificou-se

que várias pessoas da comunidade local, pelo grande envolvimento da comunidade com a

Corporação Musical ao longo de sua história, detêm documentos, partituras e fotografias da

forma de expressão, faltando, portanto, um trabalho de conscientização da importância desse

acervo e ações para que ele seja identificado, catalogado e arquivado, para que sirva de

memória histórica da Corporação. Deverá ser mobilizada uma busca, com a população local,

de documentos, fotografias, filmagens (registros audiovisuais), dentre outros materiais

relacionados para que o acervo documental da banda seja organizado com a maior riqueza de

detalhes, possibilitando a preservação do mesmo e a catalogação dos anos de história da

Corporação Musical. Deve-se também organizar as partituras da Corporação, pois não estão

arquivadas de forma adequada. No sentido de documentar e facilitar o acesso ao patrimônio

imaterial, conforme recomenda a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural

Imaterial da UNESCO 34, é necessário dar continuidade ao registro audiovisual das

34 Convention for the Safeguarding of the Intangible Cultural Heritage. Paris, 17 october 2003.

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apresentações da Corporação Musical Nélson Borges, além de e incentivar outras formas de

documentação e registro da manifestação. Além disso, próprios músicos devem ser

incentivados a manter um registro de todas as suas atividades. Em acréscimo, sugere-se que

sejam criadas formas de registrar todas as atividades da Banda, como a elaboração de atas,

livro de registro de atividades, organização de uma agenda, para que a memória das ações e

decisões relacionadas à Corporação Musical seja registrada. A ideia de manter uma secretaria

própria poderia contribuir significativamente para esse processo;

6. No sentido de contribuir para a promoção, difusão e valorização Corporação Musical

Nélson Borges, sublinha-se que existe uma tradição da Banda, que é sempre atender ao

convite para apresentações em cidades vizinhas. Seria motivo de constrangimentos para a

Corporação não atender a um convite de uma Banda que compareceu à festa realizada em

Santo Antônio do Grama. A ida da Banda para outras cidades em ônibus próprio ou da

Prefeitura Municipal, por exemplo, mostraria o quanto o poder público municipal valoriza as

manifestações de cultura popular existentes em sua cidade. Além disso, a visita a outro

município é uma oportunidade para reafirmar a identidade do grupo, da manifestação cultural

e do próprio município. Nesse ponto, deve ser salientada uma ação positiva que vem sendo

adotada pelas últimas administrações em exercício, inclusive a atual. A Banda de Santo

Antônio do Grama atende sempre que possível aos convites recebidos para atuar em outras

localidades, pois a Prefeitura sempre disponibiliza o transporte necessário. É importante

ressaltar a importância dessa ação e reforçá-la como um meio de salvaguarda da forma de

expressão para que ela não deixe de ser realizada. Visando também a divulgação e valorização

da forma de expressão, devido à natureza histórica e cultural da Corporação Musical Nélson

Borges em Santo Antônio do Grama, seria interessante a produção de uma cartilha educativa

contendo a história da forma de expressão no município e realçando a importância de

preservá-la. O material pode conter informações sobre os seus integrantes, antigos maestros,

os momentos mais marcantes de sua história, os “causos” que ela suscitou na comunidade, as

histórias dos casais e das famílias que nasceram através da socialização permitida pela banda,

as mudanças e permanências ocorridas na manifestação ao longo dos anos etc. Esta

publicação poderia conter depoimentos dos integrantes mais antigos e também dos mais

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jovens; fotos de apresentações e de antigos integrantes; seus principais momentos; as histórias

das músicas que marcaram a comunidade, entre outros vários assuntos importantes. Além do

caráter informativo que essa publicação viria a possuir, destaca-se também a função

documental, já que não existe no município nenhum estudo dessa natureza anterior a

produção desse dossiê de registro. Sublinha-se que o conteúdo da cartilha deverá ser discutido

previamente com os representantes da Corporação Musical Nélson Borges e a comunidade,

priorizando-se aquilo que eles considerarem mais adequado para constar na publicação. A

reunião de fotos, depoimentos, “causos”, entre outros, deve ser também feita junta à

população. Esta ação certamente valorizaria e atentaria para a importância histórica, social e

cultural da banda de música em Santo Antônio do Grama. E, para além disso, a produção

desta cartilha deixaria orgulhosa a população da cidade, aguçando o interesse dos jovens em

participar da Corporação Musical e conhecer mais afundo suas atividades. Dando

continuidade às ações de divulgação e valorização, para que todas as ações elencadas acima

sejam possíveis, é necessário que antes seja feito um longo trabalho de Educação Patrimonial,

enfatizando a importância deste rico patrimônio imaterial de modo a promover, estimular e

garantir condições adequadas para a permanência e a vitalidade da Corporação Musical

Nélson Borges. Isto permitirá que a população se identifique com a manifestação cultural em

foco e, consequentemente, orgulhe-se de tê-la na cidade. Estas ações devem ser conjuntas

com as escolas locais para que a população mais jovem tenha contato com parte da história de

sua cidade, da qual a Corporação Musical faz parte. Importante também se faz a realização de

periódica divulgação das atividades da Banda entre a comunidade local, bem como o

planejamento de atividades que visem à promoção, divulgação e transmissão dos locais,

horários e datas das possíveis apresentações da banda, bem como faça matérias periódicas

com o Maestro, ex-alunos e com os atuais alunos, no sentido de incentivar e perpetuar a

manifestação na esfera municipal, bem como colher depoimentos com a população local sobre

a representatividade histórico-cultural da mesma para Santo Antônio do Grama.

7. Através das pesquisas e entrevistas realizadas, verificou-se também que existe atualmente

uma demanda entre os músicos, que é a necessidade de um retorno financeiro ou incentivo

para que estes permaneçam em atividade na Corporação Musical, além daquele já

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representado pelo ensino gratuito da música. A Corporação Musical Nélson Borges, de acordo

com sua Lei de Criação, “não tem fins lucrativos em suas aulas, atividades e demonstrações,

constituindo-se em trabalho social e cultural de Santo Antônio do Grama” 35. Além disso, a

mesma lei determina que “é vedada a cobrança, pela Corporação Musical Nélson Borges, por

suas apresentações no interior ou fora do município, de qualquer remuneração (...)” 36. Sendo

assim, não é permitido o pagamento de salários ou contribuições financeiras, por parte do

poder público de Santo Antônio do Grama aos músicos da Banda. Porém, recomenda-se que

os responsáveis pela Banda estudem uma maneira apropriada para recompensar os jovens por

sua dedicação à Banda, que perpasse o ensino gratuito de música. Uma sugestão seria a

realização de momentos de confraternização entre os membros da Banda e suas famílias, para

que estes se sentissem motivados a continuar com o trabalho prestado.

Finalizando, para que este programa de Salvaguarda funcione, será necessária uma

avaliação periódica das ações propostas, verificando-se os reflexos positivos e negativos.

Embora essa seja uma questão que não se limita apenas ao patrimônio imaterial, mas ao

patrimônio cultural de forma geral, o caráter dinâmico das manifestações vivas torna essa

preocupação ainda mais latente. O momento da avaliação também se configurará como uma

oportunidade para que novas ações sejam propostas de acordo com as necessidades do

momento.

35 Art. 7° da Lei n° 385, de 23 de fevereiro de 2009. 36 Art.3° § 1° da Lei n° 385, de 23 de fevereiro de 2009.

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CRONOGRAMA DAS MEDIDAS DE VALORIZAÇÃO E SALVAGUARDA

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INVENTÁRIO

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ANEXO I – DOCUMENTOS LEGAIS

· Cópia da proposta de registro dirigida ao Conselho Municipal.

· Cópia da ata de reunião do Conselho Municipal autorizando a instauração do processo.

· Cópia do parecer do Setor.

· Ata do Conselho com avaliação do estudo prévio e decisão FINAL.

· Cópia da divulgação que dê possibilidade de manifestação quanto ao registro.

· Cópia de eventuais manifestações (se houver).

· Decreto homologação do Registro

· Cópia termo de abertura do respectivo Livro de Registro

· Cópia da inscrição do bem no livro de registro.

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ANEXO II – DOCUMENTOS DIVERSOS

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, Mário de. Dicionário musical brasileiro. São Paulo: Editora da Universidade

de São Paulo, 1989.

BINDER, Fernando Pereira. Bandas militares no Brasil: difusão e organização entre 1808-

1889. 2006. 132 f. Dissertação (Mestrado em Música) – Universidade Estadual Paulista, São

Paulo, 2006.

Convention for the Safeguarding of the Intangible Cultural Heritage. Paris, 17 october 2003.

COSTA, Manuela Areias. Música e História: um estudo sobre as bandas de música civis e

suas apropriações Militares. Tempos Históricos, volume 15, 1º semestre de 2011. p. 240-260.

DOMINGUES, José Henrique. Memória Histórica de Santo Antônio do Grama. Segunda

Edição, Editora Folha de Viçosa. Santo Antônio do Grama, MG, 1997.

Diretrizes para a proteção do Patrimônio Cultural de Minas Gerais. Belo Horizonte:

Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA/MG.

GRANJA, Maria de Fátima. A banda: Som e Magia. Dissertação (Mestrado em Sistema de

Comunicação) – Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1984.

Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia

Maria Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ANTONIO DO GRAMA. Plano de Inventário do

Município de Santo Antônio do Grama. Santo Antônio do Grama, 2006.

SALLES, Vicente. Sociedade de Euterpe: as bandas de música no Grão-Pará. Brasília:

Edição do Autor, 1985.

TINHORÃO, José Ramos. Música popular de índios, negros e mestiços. Petrópolis: Vozes,

1972.

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TINHORÃO, José Ramos. História social da música popular brasileira. São Paulo: Editora

34, 1998.

Fontes orais:

· Ageu Maria Quintilhano. Entrevista concedida em: 24 de julho de 2013 em Ponte

Nova/MG.

· Antônio Francisco Zacarias. Entrevista concedida em: 22 de julho de 2013 em Santo

Antônio do Grama/MG.

· Aparecida Maria de Souza Salgado. Entrevista concedida em: 23 de julho de 2013 em

Santo Antônio do Grama/MG.

· Elias da Silva Vitorino. Entrevista concedida em: 24 de julho de 2013 em Santo

Antônio do Grama/MG.

· Geraldo Luzia de Carvalho. Entrevista concedida em: 24 de julho de 2013 em Santo

Antônio do Grama/MG.

· Jesus Gomes Pereira. Entrevista concedida em: 22 de julho de 2013 em Santo Antônio

do Grama/MG.

· João Pereira de Oliveira. Entrevista concedida em: 22 de julho de 2013 em Santo

Antônio do Grama/MG.

· José Henrique Domingues. Entrevista concedida em: 22 de julho de 2013 em Abre

Campo/MG.

Documentos:

Acervo da Prefeitura de Santo Antônio do Grama/MG.

Acervo do Setor de Cultura da Prefeitura de Santo Antônio do Grama/MG.

Acervo pessoal de João Tavares Rabello, Santo Antônio do Grama/MG.

Acervo de Aparecida Maria de Souza Salgado, Santo Antônio do Grama/MG.

Acervo do Sr. Geraldo Luzia de Carvalho, Santo Antônio do Grama/MG.

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Acervo do Sr. José Henrique Domingues, Santo Antônio do Grama/MG.

Cartório do Registro Civil de Santo Antônio do Grama/MG;

Cartório do Registro Civil das Pessoas Naturais e de Interdições e Tutelas de

Alvinópolis/MG.

DIAS, José Fausto de Oliveira. 13 de maio. O Democrata, Santo Antônio do Grama.

PARÓQUIA DE SANTO ANTÔNIO. 1º Livro de Tombo da Paróquia de Santo Antônio.

Sites:

· “História das Bandas de Música”, de Nestor Sant’Anna e Guiomar Murta. Disponível

em: <http://www.bandasdeminas.com.br/historia-das-bandas-de-musica-de-minas/>.

Acesso em outubro de 2013.

· Gramenses Homenageiam o Padre Antônio Ribeiro Pinto. Disponível em:

<http://www.santoantoniodograma.mg.gov.br/index.php?option=com_content&view=

article&id=379:gramenses-homenageiam-padre-antonio-ribeiro-

pinto&catid=7:noticias&Itemid=93>. Acesso em 26 de setembro de 2013.

· IEPHA/MG informa: pra ver a banda passar... Disponível em:

<http://www.iepha.mg.gov.br/banco-de-noticias/1105-iephamg-informa-pra-ver-a-

banda-passar>. acesso em outubro de 2013.

· www.ibge.gov.br

· www.almg.gov.br

· www.santoantoniodograma.mg.gov.br

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FICHA TÉCNICA

Equipe responsável pela realização do dossiê de registro: ARO Arquitetos Associados Ltda

CAU MG 26.721-0 CNPJ 04.544.819/0001-70

Inscrição Municipal 167.155.001-0 Av. Portugal, 2.085/loja 14, Pampulha, Belo Horizonte - MG, CEP 31.555-000

TeleFax (31) 3491.1118/9157.9071 e-mail [email protected]

Levantamento e elaboração

Sara Glória Aredes Moreira Historiadora / Mestre em Ciências Sociais

RG MG-12.502.882

Colaboração/Agradecimentos Equipe Técnica da Prefeitura Municipal de Santo Antônio do Grama

Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Santo Antônio do Grama Assessor de Cultura da Prefeitura Municipal de Santo Antônio do Grama -

Marcílio Oliveira Medeiros Apoio

Ariádne Mendes Estagiária RG. M-9.243.721 Viviane Braga Arquiteta Urbanista CAU-MG 41.893-5

Orientação e revisão Andrea Zerbetto Arquiteta Urbanista CAU-MG 26.721-0

Coordenação Geral Rodrigo Torres Arquiteto Urbanista CAU-MG 30.408-5

Belo Horizonte 31, de outubro de 2013.

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______________________________________________

Valéria Gomes Palardo

Responsável pelo Setor de Patrimônio Cultural da Prefeitura de Santo Antônio do Grama

______________________________________________

Vilma Auxiliadora Frade dos Reis

Presidente do Conselho de Patrimônio Cultural de Santo Antônio do Grama

______________________________________________

Sara Glória Aredes Moreira

Historiadora / Mestre em Ciências Sociais – RG 12.502.882

Responsável pelo levantamento e a elaboração

__________________________________________

Andréa Zerbetto

Arquiteta Urbanista – CAU-MG 26.721-0

Responsável pela orientação e a revisão geral