processo de limpeza e desinfecção de superfícies ambientais

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM ANGÉLICA OLIVEIRA PAULA GONÇALVES PROCESSO DE LIMPEZA E DESINFECÇÃO DE SUPERFÍCIES AMBIENTAIS, EQUIPAMENTOS E ARTIGOS NÃO CRÍTICOS DE UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL GOIÂNIA, 2013

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS

    FACULDADE DE ENFERMAGEM

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEM

    ANGLICA OLIVEIRA PAULA GONALVES

    PROCESSO DE LIMPEZA E DESINFECO DE SUPERFCIES

    AMBIENTAIS, EQUIPAMENTOS E ARTIGOS NO CRTICOS DE

    UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

    GOINIA, 2013

  • Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo a Universidade Federal de Gois

    (UFG) a disponibilizar, gratuitamente, por meio da Biblioteca Digital de Teses e Dissertaes

    (BDTD/UFG), sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei n 9610/98, o

    documento conforme permisses assinaladas abaixo, para fins de leitura, impresso e/ou

    download, a ttulo de divulgao da produo cientfica brasileira, a partir desta data.

    1. Identificao do material bibliogrfico: [ x ] Dissertao [ ] Tese

    2. Identificao da Tese ou Dissertao

    Autor (a): Anglica Oliveira Paula Gonalves

    E-mail: [email protected]

    Seu e-mail pode ser disponibilizado na pgina? [ x ]Sim [ ] No

    Vnculo empregatcio do autor

    Agncia de fomento: Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    Sigla: CAPES

    Pas: BRASIL UF: CNPJ: 00889834/0001-08

    Ttulo: Processo de limpeza e desinfeco de superfcies ambientais, equipamentos e artigos

    no crticos de uma unidade de terapia intensiva neonatal.

    Palavras-chave: Unidades de Terapia Intensiva Neonatal; Recm-Nascido; Infeco Hospitalar; Ambiente de Instituies de Sade; Servio de Limpeza Hospitalar.

    Ttulo em outra lngua:

    Process for cleaning and disinfection of environmental surfaces, equipment and noncritical items in a neonatal intensive care unit

    Palavras-chave em outra lngua:

    Intensive Care Neonatal, Newborn, Cross Infection, Health Facility Environment; Housekeeping, Hospital.

    rea de concentrao: A Enfermagem no cuidado sade humana

    Data defesa: (dd/mm/aaaa) 21/03/2013

    Programa de Ps-Graduao: Em Enfermagem da Universidade Federal de Gois

    Orientador (a): Prof. Dr Marinsia Aparecida Prado Palos

    E-mail: [email protected]

    Co-orientador (a):*

    E-mail:

    3. Informaes de acesso ao documento:

    Concorda com a liberao total do documento [ x ] SIM [ ] NO1

    Havendo concordncia com a disponibilizao eletrnica, torna-se imprescindvel o envio do(s) arquivo(s) em formato digital PDF ou DOC da tese ou dissertao.

    O sistema da Biblioteca Digital de Teses e Dissertaes garante aos autores, que os arquivos contendo eletronicamente as teses e ou dissertaes, antes de sua disponibilizao, recebero procedimentos de segurana, criptografia (para no permitir cpia e extrao de contedo, permitindo apenas impresso fraca) usando o padro do Acrobat.

    ________________________________________ Data: ____ / ____ / ___

    Assinatura do (a) autor (a)

    1 Neste caso o documento ser embargado por at um ano a partir da data de defesa. A extenso deste prazo

    suscita justificativa junto coordenao do curso. Os dados do documento no sero disponibilizados durante o

    perodo de embargo.

    TERMO DE CINCIA E DE AUTORIZAO PARA

    DISPONIBILIZAR AS TESES E DISSERTAES

    ELETRNICAS (TEDE) NA BIBLIOTECA DIGITAL DA UFG

  • ANGLICA OLIVEIRA PAULA GONALVES

    PROCESSO DE LIMPEZA E DESINFECO DE SUPERFCIES

    AMBIENTAIS, EQUIPAMENTOS E ARTIGOS NO CRTICOS DE

    UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

    Dissertao de Mestrado apresentada ao

    Programa de Ps-Graduao da Faculdade de

    Enfermagem da Universidade Federal de Gois

    como requisito para obteno do ttulo de Mestre

    em Enfermagem.

    rea de concentrao: A Enfermagem no cuidado sade humana.

    Linha de pesquisa: Preveno e controle de Infeces Relacionadas Assistncia

    em Sade.

    Orientadora: Prof. Dr. Marinsia Aparecida Prado Palos

    GOINIA, 2013

  • FOLHA DE APROVAO

    ANGLICA OLIVEIRA PAULA GONALVES

    PROCESSO DE LIMPEZA E DESINFECO DE SUPERFCIES

    AMBIENTAIS, EQUIPAMENTOS E ARTIGOS NO CRTICOS DE

    UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

    Dissertao de Mestrado apresentada ao

    Programa de Ps-Graduao da Faculdade de

    Enfermagem da Universidade Federal de Gois

    como requisito para obteno do ttulo de Mestre

    em Enfermagem.

    Aprovada em: 21 de maro de 2013.

    BANCA EXAMINADORA

    Prof. Dr. Marinsia Aparecida Prado Palos Presidente da Banca e Orientadora

    Faculdade de Enfermagem - Universidade Federal de Gois - FEN/ UFG.

    _________________________________________________________

    Prof. Dr. Luiz Almeida da Silva - Membro Externo

    Faculdade de Enfermagem - Universidade Federal de Gois - FEN/ UFG

    __________________________________________________________

    Prof. Dr. Ana Lcia Queiroz Bezerra Membro Interno

    Faculdade de Enfermagem - Universidade Federal de Gois - FEN/ UFG

    __________________________________________________________

    Prof. Dr. Maria Cludia Dantas Portrio Borges Andr - Membro Suplente

    Instituto de Patologia Tropical e Sade Pblica Universidade Federal de Gois

    __________________________________________________________

    Prof. Dr. Adencia Custdia Silva e Sousa - Membro Suplente

    Pontifcia Universidade Catlica de Gois PUC-GO

  • DEDICATRIA

    minha famlia, Meus pais, Eisenhower Jos de Paula

    e Jeane de Oliveira Paula; Meu irmo, Pedro Augusto Oliveira Paula e,

    Afilhado, Rafael Almeida Oliveira Paula. Meu esposo,

    Jos Henrique de Freitas Gonalves, Vocs so pessoas mais que especiais na

    minha vida, me completam como ser. Obrigada pelo amor, amizade e apoio,

    Essa conquista nossa!

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus, razo de todas as coisas, pelas oportunidades que tive e por

    proteger a minha vida. Por guiar meus caminhos, orientar minhas decises e por

    aliviar os momentos de angstia.

    Prof. Dra. Marinsia Aparecida Prado Palos por sua orientao, pacincia e

    dedicao, por seus sinceros e sbios conselhos, pela amizade, incentivo,

    empenho e competncia que culminaram na realizao deste trabalho. Sou grata

    pelos momentos de ateno, por acreditar em mim e permitir a realizao desse

    sonho.

    prof Dra. Ana Lcia Queiroz Bezerra pela ateno, conselhos, amizade e pela

    significativa contribuio ao meu trabalho. A sua dedicao a este trabalho foi

    essencial. E s professoras, Dra. Dlete Delalibera Corra de Faria Mota e Dr

    Silvana de Lima Vieira dos Santos, pelas importantes contribuies durante o

    Exame de Qualificao para o aprimoramento deste trabalho.

    Ao Professor Dr. Luiz Almeida da Silva, e Professoras, Dr. Maria Cludia Dantas

    Portrio Borges Andr, Dr.Adencia Custdia Silva e Sousa, Dr. Ana Lcia

    Queiroz Bezerra por aceitarem participar da Banca de Defesa. Agradeo pela

    disponibilidade, dedicao e contribuies.

    mestranda Cyana Ferreira Lima Gebrim, colega da turma de 2011. Voc foi

    muito mais que uma amiga, serei eternamente grata pelo carinho e auxlio.

    Aos colegas da turma de Mestrado 2011 da FEN/UFG que contriburam de

    alguma forma para o meu crescimento pessoal e profissional. Quero agradecer

    pelos bons momentos vividos durante esses anos de ps-graduao.

    A todos os docentes do Programa de Ps-Graduao em Enfermagem da

    Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Gois que proveram as

    ferramentas pra que eu pudesse vivenciar e concretizar este sonho, meus

    eternos agradecimentos!

  • s Professoras Dr Sheila de Arajo Teles e Dr Anaclara Ferreira Veiga Tipple,

    coordenadora e vice-coordenadora do Programa de Ps-Graduao Strictu

    Sensu da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Gois, pela

    competncia com que conduzem o acolhimento e orientao dos alunos junto ao

    Programa.

    Aos integrantes do NEPIH, especialmente s enfermeiras e colegas Ndia

    Ferreira Gonalves Ribeiro e Dayane de Melo Costa pelo apoio e colaborao a

    este trabalho.

    Ao Ncleo de Estudos e Gesto em Enfermagem e Segurana do Trabalhador e

    Usurio do Servio de Sade (NUGESTUS), da Faculdade de Enfermagem da

    Universidade Federal de Gois (FEN/UFG).

    A todos os tcnicos administrativos e docentes da Faculdade de Enfermagem

    pelo apoio, incentivo constante, sabedoria e que, direta ou indiretamente,

    contriburam para a minha formao.

    Aos trabalhadores do Servio de Controle de Infeco Hospitalar e da Unidade

    de Terapia Intensiva Neonatal do Hospital Materno Infantil pela colaborao,

    pacincia e apoio no desenvolvimento deste estudo.

    Ao meu esposo, Jos Henrique de Freitas Gonalves, pelo companheirismo e

    pacincia, sempre me incentivando e auxiliando nas tarefas do dia-a-dia para que

    fosse possvel o cumprimento desse trabalho. E por todo apoio e amor os quais

    me deram segurana para seguir em frente.

    Aos meus pais, Eisenhower Jos de Paula e Jeane de Oliveira Paula, Meu irmo,

    Pedro Augusto Oliveira Paula e Afilhado Rafael Almeida de Oliveira Paula, que

    com toda palavra e demonstrao de amor e carinho me fazem sentir mais viva

    para continuar nessa caminhada.

    Jaciara Queiroz de Freitas Gonalves, pelos conselhos, incentivo e carinho e,

    por compartilhar os momentos de alegria e angstia vividos nesse perodo. Alm

    de me conceder, mensal e at quinzenalmente, uma prazerosa hospedagem.

  • Estudo vinculado ao Ncleo de Estudos em

    Infeces Relacionadas Assistncia em

    Sade (NEPIH) e Ncleo de Estudos e

    Gesto em Enfermagem e Segurana do

    Trabalhador e Usurio do Servio de Sade

    (NUGESTUS), ambos da Faculdade de

    Enfermagem da Universidade Federal de

    Gois (FEN/UFG).

    Este estudo recebeu apoio financeiro da

    Coordenao de Aperfeioamento de

    Pessoal de Nvel Superior (CAPES).

  • Penso no que fao, com f. Fao o que devo fazer, com amor.

    Eu me esforo para ser cada dia melhor, pois bondade tambm se aprende.

    Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar,

    desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante o

    decidir

    Cora Coralina

  • SUMRIO

    LISTA DE ILUSTRAES

    LISTA DE TABELAS

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    RESUMO

    ABSTRACT

    RESUMEN

    APRESENTAO

    1. INTRODUO................................................................................................... 20

    2. OBJETIVOS....................................................................................................... 25

    2.1. Objetivo Geral.................................................................................................. 25

    2.2. Objetivos especficos....................................................................................... 25

    3. REFERENCIAL TERICO................................................................................. 26

    3.1. O ambiente da UTIN e o papel das superfcies ambientais, equipamentos

    e artigos no crticos na disseminao de micro-organismos.....................

    26

    3.2. A cadeia epidemiolgica das IrAS e as interfaces com as superfcies

    ambientais, equipamentos e artigos no crticos em UTIN.........................

    34

    3.3. O processo de limpeza e desinfeco de superfcies ambientais,

    equipamentos e artigos no crticos em UTIN.............................................

    37

    3.4. Princpios de segurana para o paciente e o trabalhador no ambiente de

    sade...........................................................................................................

    44

    3.5. A qualidade dos servios de sade para a segurana do

    paciente.......................................................................................................

    45

    4. MATERIAL E MTODO..................................................................................... 49

    4.1. Tipo de estudo .............................................................................................. 49

    4.2. Local do estudo............................................................................................. 49

    4.3. Populao do estudo..................................................................................... 52

    4.4. Variveis do estudo....................................................................................... 52

    4.5. Procedimento para coleta de dados.............................................................. 53

    4.6. Anlise dos dados......................................................................................... 54

    4.7. Aspectos tico-legais....................................................................................... 55

  • 5. RESULTADOS................................................................................................... 56

    5.1. Caracterizao dos trabalhadores da UTIN.................................................... 56

    5.2. Caracterizao da estrutura fsica e recursos materiais................................. 58

    5.3. Processo de limpeza e desinfeco das superfcies ambientais,

    equipamentos e artigos no crticos da UTIN..................................................

    60

    5.4. Classificao de resultados do grau de risco e das fragilidades no processo

    de limpeza e desinfeco das superfcies ambientais, equipamentos e

    artigos no crticos...........................................................................................

    67

    6. DISCUSSO...................................................................................................... 72

    7. CONCLUSO.................................................................................................... 87

    8. CONSIDERAES FINAIS............................................................................... 89

    9. REFERNCIAS.................................................................................................. 91

    APNDICES E ANEXOS....................................................................................... 100

    APNDICE I ...................................................................................................... 100

    APNDICE II ..................................................................................................... 101

    APNDICE III..................................................................................................... 103

    ANEXO I............................................................................................................. 104

    ANEXO II............................................................................................................ 105

    ANEXO III........................................................................................................... 106

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1. Processo de limpeza e desinfeco de superfcies ambientais, equipamentos e artigos no crticos, realizado pelos trabalhadores da UTIN de um hospital da rede pblica estadual de Goinia-GO, 2011..........

    61

    Quadro 1 Demonstrativo das principais tcnicas e produtos utilizados no processamento das superfcies ambientais, equipamentos e artigos no crticos da UTIN de um hospital da rede pblica estadual de Goinia-GO, 2011.......................................................................................................

    66

    Quadro 2 - Risco para disseminao de micro-organismos, proveniente da tcnica de processamento adotada pelo trabalhador na execuo da limpeza e desinfeco de superfcies ambientais, equipamentos e artigos no crticos, segundo as diretrizes da ANVISA, na UTIN de um hospital da rede pblica estadual de Goinia-GO, 2011.................................................

    68

    Quadro 3 - Fragilidades no processo de limpeza e desinfeco das superfcies ambientais, equipamentos e artigos no crticos, pelos trabalhadores da UTIN de um hospital da rede pblica estadual de Goinia-GO, 2011..........................................................................................

    69

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Caractersticas sociodemogrficas e laborais dos trabalhadores da

    Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (n=37) de um hospital da rede pblica

    estadual de Goinia-GO, 2011............................................................................

    57

    Tabela 2 Variveis da estrutura fsica da Unidade de Terapia Intensiva

    Neonatal (n=69) de um hospital da rede pblica estadual de Goinia-GO,

    2011.....................................................................................................................

    58

    Tabela 3 Produtos e materiais utilizados no processo de limpeza e

    desinfeco (n=93) das superfcies ambientais, equipamentos e artigos no

    crticos da UTIN de um hospital da rede pblica estadual de Goinia-GO,

    2011.....................................................................................................................

    59

    Tabela 4 Variveis de processo para a limpeza e desinfeco das

    superfcies ambientais, equipamentos e artigos no crticos (n=93) da UTIN

    de um hospital da rede pblica estadual de Goinia-GO, 2011..........................

    62

    Tabela 5 Execuo e no execuo das etapas do processo de limpeza e

    desinfeco, pelos trabalhadores da UTIN de um hospital da rede pblica

    estadual de Goinia-GO, 2011............................................................................

    64

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria

    BGN Bacilos Gram-Negativos

    BGP Bacilos Gram-Positivos

    CCIH Comisso de Controle de Infeco Hospitalar

    CDC Centers for Disease Control and Prevention

    CoNS Staphylococcus coagulase-negativos

    EPI Equipamento de Proteo Individual

    FC Frequncia Cardaca

    FR Frequncia Respiratria

    FEN Faculdade de Enfermagem

    HICPAC Healthcare Infection Control Practices Advisory Committee

    HM Higiene de Mos

    IrAS Infeces Relacionadas Assistncia em Sade

    MRSA Methicillin-resistant Staphylococcus aureus

    NR Norma Regulamentadora

    MMR Micro-organismos Multirresistentes

    MO Micro-organismos

    OMS Organizao Mundial de Sade

    PGRSS Programa de Gerenciamento de Resduos de Servios de Sade

    pH Potencial Hidrogeninico

    PP Precaues Padro

    PVC Poly Vinyl Chloride (policloreto de vinila)

    RDC Resoluo Diretoria Colegiada

    RN Recm-Nascido

    SaO2 Saturao de Oxignio

    SCIH Servio de Controle de Infeco Hospitalar

    SHL Servio de Higienizao e limpeza

    SUS Sistema nico de Sade

    UFG Universidade Federal de Gois

    UTIN Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

    VRE Vancomycin-resistant Enterococcus

  • RESUMO

    PAULA-GONALVES AO. Processo de limpeza e desinfeco de superfcies ambientais, equipamentos e artigos no crticos de uma unidade de terapia intensiva neonatal [dissertao]. Goinia: Faculdade de Enfermagem/UFG; 2013. 106p. INTRODUO: A Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) considerada um local insalubre por agregar micro-organismos por dias e at meses sobre as superfcies ambientais, equipamentos e artigos no crticos. Esses artefatos em contato com os RN e trabalhadores, sem prvia limpeza e desinfeco, intensificam os riscos de colonizao e eventual infeco, com agravos sade de ambos. OBJETIVO: Analisar os processos de limpeza e desinfeco de superfcies ambientais, equipamentos e artigos no crticos de uma unidade de terapia intensiva neonatal de uma instituio pblica de Goinia-Gois. METODOLOGIA: Estudo observacional do tipo descritivo, realizado em uma UTIN de um hospital da rede pblica estadual, especializado em atendimento materno-infantil de mdia e alta complexidade. Os sujeitos da pesquisa foram 37 trabalhadores da equipe multiprofissional de sade e do Servio de Higienizao e Limpeza (SHL). A coleta de dados ocorreu nos meses de outubro e novembro de 2011, por meio da observao direta das etapas dos processos executados e no executados pelos trabalhadores, norteada por formulrio tipo check list, elaborado conforme as recomendaes da ANVISA. O projeto foi aprovado pelo Comit de tica, sob os protocolos n 10/2010 e n 03/2012. Os dados foram analisados estatisticamente. RESULTADOS: Com relao ao gnero, 97,3% dos trabalhadores que tiveram oportunidade de execuo dos processamentos eram do sexo feminino, 51,4%, com idade entre 31 e 40 anos, 62,2% eram tcnicos em enfermagem e 89,2% trabalhavam no perodo diurno. Das 243 oportunidades de execuo dos processos de limpeza e desinfeco, 61,72% foram perdidas e, dessas, 90,66% eram relacionadas aos estetoscpios. Dos 93 processos de limpeza e desinfeco executados, 58,06% equivaleram-se s incubadoras. Entretanto, apenas 1,65% deles atenderam as diretrizes parcialmente. Quanto s fragilidades, identificou-se o uso inadequado de tcnicas, relacionado qualificao inadequada dos trabalhadores, protocolos desatualizados e falhas na superviso das etapas do processo de limpeza e desinfeco. As potencialidades no foram contempladas neste estudo. Averiguou-se que 95,7% dos processamentos executados no seguiram as recomendaes da ANVISA e 61,7% das oportunidades de realizao desses processamentos no foram executadas, colocando o trabalhador e usurio sob risco de colonizao no servio. CONCLUSO: Os processos analisados no atenderam as recomendaes das diretrizes e as fragilidades identificadas corroboraram para a elaborao de um programa de educao em servio, visando capacitao dos trabalhadores, aliada ao controle e avaliao de cada etapa do processamento desses artefatos, tendo em vista a segurana do paciente e do trabalhador. Palavras-chave: Unidades de Terapia Intensiva Neonatal; Recm-Nascido; Infeco Hospitalar; Ambiente de Instituies de Sade; Servio de Limpeza Hospitalar.

  • ABSTRACT

    PAULA-GONALVES AO. Process for cleaning and disinfection of environmental surfaces, equipment and noncritical items in a neonatal intensive care unit [dissertation]. Goinia: Faculty of Nursing / UFG; 2013. 106p.

    BACKGROUND: Neonatal Intensive Care Units (NICU) are considered high-risk

    environments where micro-organisms can survive for days and even months on

    ambient surfaces, equipment and noncritical items. These artifacts, entering into

    contact with healthcare providers or newborn patients without prior cleaning and

    disinfection, intensify the risk of colonization and eventual infection causing possible

    health problems for both. OBJECTIVE: To analyze the processes of cleaning and

    disinfection of ambient surfaces, equipment and noncritical items in a neonatal

    intensive care unit of a public institution in Goinia-Gois. METHODS: A descriptive,

    observational, conducted in a NICU of a hospital in the state public health network,

    specializing in maternity and neonatal cases of medium to high complexity. The

    subjects of the research were a 37 member multidisciplinary team comprised of

    health care providers and employees of the Department of Sanitation and

    Cleanliness (Servio de Higienizao e Limpeza; SHL). Data collection occurred

    during the months of October and November 2011, through direct observation of the

    process steps executed and not executed by the responsible workers, guided by a

    check list form, prepared according to the recommendations of ANVISA. The project

    was approved by the Ethics Committee, under protocols No. 10/2010 and No.

    03/2012. Data were analyzed statistically.RESULTS: With respect to gender, 97.3%

    of workers who had the opportunity to execute the procedure were female, 51.4%

    aged between 31 and 40 years, 62.2% were nursing technicians and 89.2% worked

    during the day. Of the 243 observed cleaning and disinfection procedures, 61.72%

    had items that were missed, and of these, 90.66% were related to stethoscopes. Of

    the 93 cleaning and disinfections completed successfully, 58.06% were executed on

    the incubator. However, 1.65% responded only partially to the ANVISA guidelines.

    Weaknesses identified included the use of inadequate techniques related to

    improperly qualified workers, use of outdated protocols, and failure to supervise the

    stages of cleaning and disinfection. The systems strengths were not addressed in

    this study. It was found that 95.7% of the procedures executed did not follow the

    recommendations of ANVISA and 61.7% of the opportunities to complete these

    processes were not executed, putting the patient and the worker at risk of

    colonization. CONCLUSION: The cases analyzed did not comply with recommended

    guidelines, and the failures identified support the development of a program of in-

    service education, with the goal of training workers, coupled with the monitoring and

    evaluation of each step in the process, with the ultimate goal of patient and worker

    safety.

    Keywords: Intensive Care Neonatal, Newborn, Cross Infection, Health Facility

    Environment; Housekeeping, Hospital.

  • RESUMEN

    PAULA-GONALVES AO. Anlisis del proceso de limpieza y desinfeccin de superficies ambientales, equipos y elementos no esenciales de una unidad neonatal [disertacin]. Goinia: Facultad de Enfermera / UFG, 2013. 106p.

    INTRODUCCIN: La Unidad de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) es considerada insalubre por reunir micro-organismos por das, y hasta meses, sobre las superficies ambientales, equipos y elementos no esenciales. Estos artefactos, en contacto con los trabajadores o los RN, sin previa limpieza y desinfeccin, intensifican los riesgos de colonizacin y eventual infeccin, con un impacto en la salud de ambos. OBJETIVO: Analizar los procesos de limpieza y desinfeccin de superficies ambientales, equipos y elementos no esenciales de una Unidad de Terapia Intensiva Neonatal de una institucin pblica de Goinia-Gois. MTODO: Estudio observacional de tipo descriptivo, realizado en una UTIN de un hospital de la red pblica estatal, especializado en atencin materno-infantil de mediana y alta complejidad. Los sujetos de esta investigacin fueron 37 trabajadores del equipo multidisciplinario de salud y del Servicio de Higienizacin y Limpieza (SHL). La obtencin de los datos ocurri en los meses de octubre y noviembre de 2011 por medio de la observacin directa de las etapas de los procesos ejecutados y no ejecutados por los trabajadores, guiadas por un formulario de tipo check list, elaborado segn las recomendaciones de la agencia sanitaria estatal. El proyecto fue aprobado por el Comit de tica bajo los protocolos No. 10/2010 y No. 03/2012. Los datos fueron analizados estadsticamente. RESULTADOS: Con relacin al gnero, un 97,3% de los trabajadores que podan ejecutar los procesos corresponda al sexo femenino. Un 51,4% tena entre 31 y 40 aos, un 62,2% eran tcnicos de enfermera y el 89,2% trabajaba en turnos diurnos. De las 243 oportunidades de ejecucin de procesos de limpieza y desinfeccin, 61,72% fueron desperdiciadas, y de ellas, un 90,66% estaban relacionadas a estetoscopios. De los 93 procesos de limpieza y desinfeccin ejecutados, un 58,06% corresponda a incubadoras. Entretanto, apenas un 1,65% de ellos cumpli las directrices de forma parcial. En cuanto a las debilidades, se identific el uso de tcnicas inadecuadas, relacionadas a la calificacin inadecuada de los trabajadores, a protocolos sin actualizar y a fallas en la supervisin de las etapas del proceso de limpieza y desinfeccin. Las potencialidades no fueron contempladas en este estudio. Se descubri que el 95,7% de los procedimientos ejecutados no siguieron las recomendaciones de la agencia sanitaria estatal, y 61,7% de las oportunidades de realizacin de estos procedimientos no fueron ejecutados, colocando al trabajador y al usuario bajo riesgo de colonizacin. CONCLUSIN: Los procesos analizados no cumplieron las recomendaciones de las directrices, y las fallas identificadas indican la necesidad de la elaboracin urgente de un programa de capacitacin de los trabajadores, unido al control y evaluacin de cada etapa del procesamiento de estos aparatos, teniendo en cuenta la seguridad del paciente y del trabajador. Palabras-clave: Cuidado Intensivo Neonatal, Recin Nacido, Infeccin Hospitalaria, Ambiente de Instituciones de Salud; Servicio de Limpieza en Hospital.

  • APRESENTAO

    A presente dissertao nasceu do entusiasmo pelo cuidar em neonatologia e

    por entender que os cuidados de enfermagem fazem toda a diferena na qualidade

    de vida dos recm-nascidos cuja imunocompetncia intensifica os riscos de infeco

    e agravos a sua sade. Por essa razo, os cuidados a essa populao devem ser

    especializados e as contribuies cientficas, na rea da enfermagem, devem ser

    aplicadas neonatologia para a qualidade e segurana.

    Dentre os aspectos relacionados ao cuidado seguro dos recm-nascidos

    (RN), merecem ateno especial o processamento e limpeza das superfcies

    ambientais, materiais e equipamentos mdicos, alm dos artigos no crticos. A

    qualidade do processamento desses componentes est imbricada na cadeia

    epidemiolgica das Infeces Relacionadas Assistncia em Sade (IrAS). Esses

    incidentes agravam o prognstico dos RN, especialmente, o prematuro internado em

    Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN).

    O desejo de contribuir cientificamente com a enfermagem em neonatologia

    teve incio em 2006, no Curso de Graduao da Faculdade de Enfermagem da

    Universidade federal de Gois (FEN/UFG), quando participei de Ncleos de Estudos

    e Pesquisas, atuando em Programas de Iniciao Cientfica do Conselho Nacional

    de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) e de Extenso e Cultura, alm

    da monitoria na disciplina de Ginecologia e Obstetrcia.

    Desde o incio da graduao tive afinidade pela rea de sade materna e

    infantil. E meus estudos foram focados nessa rea, resultando na publicao do

    primeiro artigo original: Aleitamento materno: orientaes, conhecimento e

    participao do pai nesse processo, na Revista Eletrnica de Enfermagem da

    UFG.

    Em 2009, no ltimo ano da graduao, aprofundei meus estudos tambm na

    rea de preveno e controle das IrAs, graas participao no Ncleo de Estudos

    e Pesquisas em Infeces Relacionadas aos Cuidados em Sade (NEPIH) da

    FEN/UFG.

    A partir desse contato fui convidada a integrar no grupo como auxiliar de

    pesquisa no projeto Micro-organismos isolados na saliva de profissionais de

    sade de um hospital oncolgico da Regio Centro-Oeste do Brasil, dentre

  • outras atividades. A partir de ento, fiquei fascinada com a temtica e com maior

    compreenso da relevncia de prevenir e controlar esses incidentes, em particular

    os ocorridos em unidades de ateno sade do RN e de forma singular em UTIN.

    Aps concluir o Curso de Graduao em Enfermagem, fui aluna especial do

    programa de ps-graduao, nvel mestrado, da FEN/UFG e ingressei no Curso de

    Ps-Graduao Lato-Sensu da Pontifcia Universidade Catlica de Gois (PUC-GO),

    denominada Enfermagem em Neonatologia e Pediatria.

    Em 2011, fui aprovada no Programa de Ps-graduao Stricto-Sensu da

    FEN/UFG, em nvel de Mestrado, vislumbrando ampliar os meus conhecimentos

    sobre a qualidade da assistncia ao RN. Nesse perodo, cursei a disciplina de

    Avaliao em servios de sade e tomei conhecimento de conceitos sobre

    indicadores de processo relacionados limpeza e desinfeco de superfcies

    ambientais, equipamentos e artigos no crticos e suas interfaces com a cadeia

    epidemiolgica das IrAS. Esses conhecimentos, relevantes para a vigilncia

    epidemiolgica dos micro-organismos de impacto para IrAS, atribuem qualidade do

    processamento desses artefatos, desempenhada pelos trabalhadores de sade e do

    Servio de Higienizao e Limpeza, a responsabilidade pela preveno e controle

    das IrAs e, de forma mpar, a Unidade de Terapia Intensiva Neonatal.

    A inobservncia de pontos inerentes a cada etapa desse processamento

    contribui para a contaminao cruzada e eventual surto de IrAS, invalidando as

    diretrizes sobre a segurana do paciente e do trabalhador. Assim, motivada pela

    minha inquietao, compartilhei situaes vivenciadas in locu com colegas

    enfermeiros e com representantes da Comisso de Controle de Infeco Hospitalar

    (CCIH), de instituies da rede de sade pblica e privada, durante a vigilncia em

    pacientes acometidos por Infeces Relacionadas Assistncia em Sade.

    Essa experincia reforou a minha busca para a prxima etapa a ser

    realizada durante o mestrado, dando seguimento busca de subsdios sobre a

    segurana do RN, com enfoque na limpeza e desinfeco de superfcies ambientais,

    equipamentos e artigos no crticos de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

    integrante do Sistema nico de Sade (SUS).

    Nessa perspectiva, pretendo fortalecer o debate sobre a qualidade do

    processo de limpeza e desinfeco de superfcies ambientais, equipamentos e

    artigos no crticos, no contexto da segurana do paciente, alm de refletir sobre os

  • aspectos relacionados s lacunas existentes no servio que comprometem a

    segurana dos recm-nascidos.

    A partir desse pressuposto e da minha insero no Mestrado, delineamos o

    projeto de pesquisa intitulado Processo de limpeza e desinfeco de superfcies

    ambientais, equipamentos e artigos no crticos de uma Unidade de Terapia

    Intensiva Neonatal o qual se insere na Linha de Pesquisa Preveno e Controle de

    Infeces Relacionadas Assistncia em Sade. Esse projeto faz parte de um

    projeto maior intitulado: Preditores para colonizao/contaminao de

    profissionais, usurios, artigos e superfcies de uma Instituio de Sade

    Materna e Infantil integrada ao SUS.

    Trata-se de um tema atual, relevante e de impacto para a sade pblica,

    para o qual convergem pesquisas, procedimentos e estratgias que abrangem

    desde a criao de insumos e tecnologias de alta complexidade, o treinamento dos

    recursos humanos, assim como aspectos relacionados ao processamento seguro

    desses artefatos, promovendo uma assistncia de qualidade clientela assistida.

    A inquietao com a segurana do paciente em unidade de cuidados

    intensivo neonatal recente e tem despertado interesse de estudiosos na rea,

    alavancado por erros na teraputica e no uso de dispositivos invasivos e incidentes,

    passveis de preveno, a exemplo da contaminao cruzada. Entre os incidentes,

    as IrAS destacam-se como a principal causa de morbimortalidade em UTIN, pois a

    preveno e o controle desses incidentes as quais agregam as atividades no setor

    so fundamentais para o processo de trabalho nos respectivos servios.

    Desse modo, a segurana requer uma execuo confivel de mltiplas

    etapas, convergentes assistncia. Etapas essas que se iniciam pela qualidade do

    processo de limpeza e desinfeco de superfcies ambientais, equipamentos e

    artigos no crticos, executadas por trabalhador qualificado e, de forma articulada,

    aos princpios da segurana do paciente e do trabalhador.

    A introduo do tema segurana do paciente pela Organizao Mundial de

    Sade (OMS) despertou o meu interesse em atualizar conhecimentos e promover

    aes interventivas na rea do processamento dos artefatos acima descritos, no

    mbito da UTIN, por ser a equipe de enfermagem responsvel pela maioria dos

    cuidados com o RN e com os artigos e equipamentos utilizados na assistncia, alm

    de gerir a limpeza e o controle ambiental.

  • Essa atribuio lembra poca de Florence Nightingale que recebeu

    destaque na comunidade cientfica por instituir medidas sistematizadas, as quais

    salvaram vidas (NIGHTINGALE, 1989).

    importante enfatizar que a assistncia ao RN admitido em UTIN envolve

    fases distintas e atitudes seguras por parte dos profissionais que compem essa

    equipe. Com os achados da pesquisa, pretendo acurar o conhecimento tcnico-

    cientfico focado no processo de limpeza e desinfeco de superfcies ambientais,

    equipamentos e artigos no crticos na rea da sade e em especial em UTIN,

    destacando a integrao ensino-servio para valorizao de uma cultura

    organizacional em consonncia com as diretrizes da ANVISA (2010-a) sobre a

    Limpeza e Desinfeco de Superfcies, focadas na segurana do paciente e da

    prxis no ambiente de sade.

  • 20

    Introduo

    1. INTRODUO

    O ambiente da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) insalubre

    por agregar micro-organismos virulentos em suas superfcies, tais como vrus,

    bactrias e fungos. Isso devido complexidade dos cuidados e dos longos perodos

    de internao (CALIL, ROLA & RICHTMANN, 2006).

    A UTIN um local de atendimento a recm-nascidos (RN) que precisam de

    cuidados e procedimentos de alta complexidade. A maioria dos RN internados nesse

    servio prematura, de baixo peso ao nascer e com algum desconforto respiratrio,

    incluindo casos de m formao, dentre outras patologias. Alm disso, a imaturidade

    do sistema imunolgico e pulmonar facilita a colonizao por micro-organismos

    (MO), ativando a cadeia epidemiolgica das Infeces Relacionadas Assistncia

    em Sade (IrAS) nessa populao (GOULART et al., 2006; RICHTMANN, 2011;

    DUEAS et al., 2011; ROCHA et al., 2011).

    A transmisso direta de bactrias e outros agentes virulentos e resistentes

    aos antimicrobianos ocorrem por meio do contato de uma pessoa colonizada para

    outra sem contaminao anterior, como por exemplo, os trabalhadores da sade e

    recm-nascidos. As diretrizes sobre a Higienizao das Mos (HM) em servios de

    sade alertam que, as mos, uma vez contaminadas, so veculos naturais de MO

    no servio (SIEGEL et al., 2007).

    A transmisso indireta ocorre quando objetos contaminados so utilizados

    entre os pacientes sem adequada limpeza e desinfeco. Esses dispositivos podem

    ser estetoscpios, termmetros, glicosmetros, bombas de infuso, nebulizadores,

    umidificadores, circuito de respirador e outros (ANVISA, 2010-a).

    Igualmente, os dispositivos invasivos tm papel impar na cadeia

    epidemiolgica das IrAS, como por exemplo, punes, cateterismos, intubao

    orotraqueal e ventilao mecnica que intensificam os riscos de colonizao e

    infeco, com impacto sobre a morbidade e mortalidade dos recm-nascidos

    (PESSOA-SILVA et al., 2004; HERRMANN et al., 2008).

    A preveno e o controle das IrAS implicam na HM dos trabalhadores, no

    uso correto de tcnicas asspticas de materiais e equipamentos submetidos ao

    processo de limpeza e desinfeco em conformidade com as diretrizes, na

    manuteno das precaues padro (PP) e, principalmente, na qualidade de cada

  • 21

    Introduo

    uma das etapas do processamento dos mesmos (CRIVARO et al., 2009; WEBER et

    al., 2010).

    Na UTIN, a limpeza e desinfeco das superfcies ambientais, equipamentos

    e artigos no crticos merecem destaque, pois a sua inadequao pode agravar o

    estado de sade dos neonatos.

    As superfcies da UTIN incluem piso, teto, paredes, bancadas, pias,

    torneiras, portas, maanetas, telefones, mobilirios, monitores multiparamtricos,

    bombas de infuso, incubadoras, ventilador mecnico, balana, termmetros,

    estetoscpios, esfigmomanmetros, almotolias, fita mtrica, entre outros. Neste

    estudo, essas superfcies foram agrupadas e denominadas superfcies

    ambientais, equipamentos e artigos no crticos dos servios de sade

    (APECIH, 2010; CECHINEL, 2011; ANVISA, 2012).

    Durante a internao na UTIN, o contato do RN com tais superfcies, alm

    do contato com a me, familiares e a equipe multiprofissional, pode resultar em

    incidentes, nesse estudo definido como IrAS. Logo, a limpeza e o controle ambiental

    constituem indicadores importantes para segurana desses recm-nascidos (CALIL,

    ROLA, RICHTMANN, 2006; BOYCE, 2007; PINHEIRO et al., 2009; ANVISA, 2010-b;

    McGRATH et al., 2011).

    A preocupao com tais aspectos vem ao encontro das discusses da

    Organizao Mundial de Sade (OMS) sobre os princpios da segurana a qual

    define tais infeces como complicaes indesejadas decorrentes do cuidado

    prestado aos pacientes, no atribudas evoluo natural da doena de base (OMS,

    2009; WHO, 2011).

    No bojo dessas discusses, a OMS lanou, em 2004, a Aliana Mundial para

    a Segurana do Paciente com seis Desafios Globais, visando despertar

    mundialmente para uma poltica de segurana do paciente e, consequentemente, do

    trabalhador na rea da sade. O primeiro desafio foi focado na preveno e reduo

    das IrAS cujo tema foi Uma assistncia limpa uma assistncia segura (WHO,

    2005).

    O cuidado limpo e seguro populao de RN em UTIN deve ser prioridade

    dos gestores e trabalhadores dos servios de sade, pois, ao conhecer a cadeia

    epidemiolgica das IrAS e seus agravos, como piora do prognstico e

    prolongamento do perodo de internao, os gestores podem contribuir para o

    desenvolvimento de medidas preventivas a esses incidentes, com reduo dos

  • 22

    Introduo

    custos para a instituio e dos ndices de mortalidade (CORRA, 2008; SCOTT,

    2009; UCHIDA et al., 2011; WHO, 2011).

    Os cuidados com o ambiente de sade para a segurana do paciente tm

    sido tema de destaque na comunidade cientfica internacional e nacional (ANVISA,

    2010-a; CDC, 2012). A partir de ento, diversas campanhas surgiram para divulgar

    medidas simples, como HM, rigor em todas as etapas do processo de limpeza e

    desinfeco de superfcies as quais podem salvar vidas (OMS, 2009; WHO, 2011).

    Esse desafio reporta Florence Nightingale (1820-1910), precursora da

    enfermagem moderna que relacionou a morbidade e mortalidade dos soldados

    feridos com a ocorrncia de infeco. Florence instituiu medidas preventivas como

    rigorosa higiene de mos e limpeza ambiental (NIGHTINGALE, 1989). Essas

    medidas ainda so fundamentais para garantir a segurana do cuidado prestado

    pela equipe de enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal.

    O Centers for Disease Control and Prevention (CDC) e a Healthcare

    Infection Control Practices Advisory Committee (HICPAC) tm publicado diretrizes

    internacionais para preveno e controle das IrAS por meio da limpeza e

    desinfeco de superfcies ambientais (RUTALA & WEBER, 2008; HHS, 2009).

    No Brasil, a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA) publicou

    manual destinado limpeza e desinfeco de superfcies para a segurana do

    paciente nos servios de sade (ANVISA, 2010-a). Essas diretrizes apontam que

    estrutura fsica, instalaes e materiais adequados, qualificao e treinamento de

    pessoal so um conjunto de aes coesas da equipe multidisciplinar na gesto do

    servio para a segurana do paciente (KAMADA & ROCHA, 1997).

    O estudo de Lima (2012), parte do projeto matriz que integra o presente

    estudo, tambm, realizado na UTIN do servio ora investigado, averiguou que a taxa

    de infeco presumida da UTIN foi de 79% dos 847 RN admitidos no servio, no

    perodo de um ano. Dessas, 5% foram por MO resistentes, dos quais 17,7% tiveram

    bito como desfecho. Detectou-se, ainda, nveis elevados de resistncia dos micro-

    organismos aos antimicrobianos utilizados na teraputica dos RN, entre eles,

    Enterobacter, E. coli, K. oxytoca, K. pneumoniae, S. marsences, P. aeruginosa, S.

    maltophilia, Enterococcus sp, E. faecalis, S. aureus, S. epidermidis, S. haemolyticus.

    Constituiu-se em agravante, o fato de que 25% dos S. aureus eram resistentes

    oxacilina e 12% dos S. haemolyticus, vancomicina.

  • 23

    Introduo

    Ribeiro (2013) isolou micro-organismos de algumas superfcies ambientais,

    equipamentos mdicos e artigos no crticos nesse mesmo servio e detectou nas

    almotolias 20% de Enterococcus resistente oxacilina, cefoxetina, penicilina e

    gentamicina e 20% de Enterobactria sp, resistente ao aztreonan, ampicilina e

    gentamicina. Nos estetoscpios foram isolados nove (64,3%) Staphylococcus

    coagulase-negativos, com perfil de resistncia meticilina de 57,1%. Nas

    incubadoras foram isoladas cinco (100%) bactrias, sendo uma (20%) Enterococcus

    resistente clindamicina, eritromicina, oxacilina, penicilina, cloranfenicol,

    gentamicina e trimetropin-sulbactran. Esses achados reforam a preocupao com a

    limpeza ambiental a fim de impedir a permanncia desses micro-organismos sobre

    as superfcies da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal.

    Corroborando tais resultados, h evidncias de que os Bacilos Gram-

    Positivos (BGP), especialmente os Staphylococcus aureus, Estafilococos coagulase

    negativos e Enterococcus sp., seguido dos Bacilos Gram-negativos (BGN) como

    Pseudomonas sp., Escherichia coli, Klebsiella sp., e por ltimo os fungos, como a

    Candida sp., sendo os patgenos mais relevantes para a ocorrncia de infeces

    neonatais (PESSOA-SILVA et al., 2004; MARCONI, et al., 2009; PRADO PALOS et

    al., 2009).

    Apesar das superfcies ambientais, equipamentos e artigos no crticos

    serem considerados de baixo risco para infeco, por entrar em contato apenas com

    a pele ntegra do paciente, estudos tm apontado que a qualidade do processo de

    limpeza e desinfeco dos artefatos dos servios de sade contribuem com a

    reduo de MO resistentes no ambiente de sade, inclusive Methicilin-resistant

    Staphylococcus aureus (MRSA) e Vancomycin-resistant Enterococcus (VRE)

    (HAYDEN et al., 2006; GOODMAN et al., 2008; APECIH, 2010; CARLING &

    BARTLEY, 2010). Assim, o processamento dessas superfcies configura-se como

    um dos objetivos do primeiro Desafio Global, para segurana do paciente (WHO,

    2005; ANVISA, 2010-a).

    A Resoluo da Diretoria Colegiada (RDC) n 15 da ANVISA (2012) que

    trata do processamento de produtos no crticos refere que o processo de limpeza,

    dever ser realizado em qualquer unidade do servio de sade, conforme protocolo

    institucional definido.

    Entretanto, para garantir a qualidade da limpeza ambiental, de equipamentos

    e artigos no crticos dos servios de sade, necessrio o uso de indicadores de

  • 24

    Introduo

    processo para o controle e avaliao de cada etapa envolvida nos processos. Essa

    ferramenta importante para a gesto em sade, pois conhecer os indicadores

    possibilita a anlise da eficincia e eficcia dos processos, alm de aprimorar os

    protocolos e incidncia de Infeces Relacionadas Assistncia em Sade

    (GRAZIANO et al., 2009; PADOVEZE, 2010; ANVISA, 2010-c).

    Entendendo a relevncia da temtica para a manuteno da integridade

    fsica dos RN em UTIN e o significado dos apontamentos para a segurana do RN

    apresentados por Lima (2012) e Ribeiro (2013), formulamos a presente hiptese: O

    processo de limpeza e desinfeco das superfcies ambientais, equipamentos e

    artigos no crticos de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal integrada ao

    SUS, situada em Goinia-GO e referncia para a regio Centro-Oeste e outras

    regies do Brasil atendem as diretrizes estabelecidas no pas pela ANVISA?

    Nesse sentido, esse estudo teve por finalidade desvelar as conformidades e

    no conformidades dos processos de limpeza e desinfeco desempenhados pelos

    trabalhadores dessa UTIN, segundo as diretrizes do pas.

  • 25

    Objetivos

    2. OBJETIVOS

    2.1. Objetivo geral

    Analisar os processos de limpeza e desinfeco de superfcies ambientais,

    equipamentos e artigos no crticos de uma unidade de terapia intensiva neonatal de

    uma instituio pblica estadual do municpio de Goinia-GO.

    2.2. Objetivos especficos

    Caracterizar a estrutura organizacional da unidade de terapia intensiva neonatal

    quanto aos recursos humanos e estrutura fsica;

    Caracterizar os processos de limpeza e desinfeco de superfcies ambientais,

    equipamentos e artigos no crticos quanto tcnica adotada, os produtos e

    materiais utilizados;

    Descrever as potencialidades e as fragilidades dos processos de limpeza e

    desinfeco, segundo as conformidades e no conformidades com as diretrizes

    da ANVISA;

    Classificar o grau de risco para a disseminao de micro-organismos, por meio

    das superfcies ambientais, equipamentos e artigos no crticos entre os recm-

    nascidos e trabalhadores de uma unidade de terapia intensiva neonatal.

  • 26

    Referencial Terico

    3. REFERENCIAL TERICO

    3.1. O ambiente da UTIN e o papel das superfcies ambientais, equipamentos e

    artigos no crticos na disseminao de micro-organismos

    As Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) so locais de

    atendimento sade de alta complexidade, insalubres por agregar em suas

    superfcies micro-organismos virulentos. Esse fator favorece a transmisso cruzada

    de micro-organismos veiculados pelas mos dos trabalhadores de sade e do

    Servio de Higienizao e Limpeza e por meio de objetos contaminados

    (MINISTRIO DA SADE, 2005; ANVISA, 2010-b).

    Muitos desses micro-organismos so resistentes aos antimicrobianos e

    podem estar presentes na gua, solues medicamentosas e matria orgnica,

    depositados sobre objetos inanimados, como termmetros, estetoscpios,

    equipamentos, vestimenta dos prprios trabalhadores de sade entre outros

    (RICHTMAM, 2011).

    Por muitos anos no se acreditou que superfcies ambientais contaminadas

    pudessem ser foco de transmisso de micro-organismos para os pacientes.

    Entretanto, estudos recentes tm evidenciado que as superfcies do ambiente dos

    servios de sade so fonte de disseminao desses patgenos (CECHINEL, 2011;

    CESRIO, LIRA, HINRICHSEN, 2010).

    Considerando que a contaminao do ambiente por fontes inanimadas: o

    ar, a gua e as superfcies. Todas devem receber tratamento adequado para

    garantir a qualidade dos processos realizados no ambiente de sade. As superfcies

    do ambiente de sade so quaisquer superfcies propriamente dita (piso, teto,

    bancada, maaneta, torneira, almotolia, dentre outros), alm de equipamentos e

    artigos dos servios de sade (CECHINEL, 2011).

    Segundo a classificao de Spaulding, os artigos foram divididos em trs

    categorias adotadas pela CDC desde 1985: artigos crticos, semicrticos e no

    crticos (PADOVEZE, 2010).

    Os artigos crticos so aqueles que tm contato com tecidos estreis ou do

    sistema vascular e so considerados crticos porque o risco de infeco alto,

    sendo necessria esterilizao. Os artigos semicrticos entram em contato com

  • 27

    Referencial Terico

    membranas mucosas ntegras ou pele no ntegra e o risco de transmisso de

    infeco intermedirio, devendo receber, no mnimo, desinfeco de alto nvel. E,

    os artigos no crticos so aqueles que entram em contato com a pele ntegra ou

    no entram em contato direto com o paciente, apresentando baixo risco para

    infeces. Se estiver contaminado com matria orgnica, o artigo no crtico deve

    receber desinfeco de baixo nvel, mas na ausncia dessa, a limpeza suficiente

    (PADOVEZE, 2010).

    Conforme Rutala & Weber (2004), a soma de limpeza e desinfeco das

    superfcies o processo mais eficaz para a reduo do nmero de micro-

    organismos (99%), comparado realizao, apenas, da limpeza que reduz os micro-

    organismos em 80%. Sendo assim, as superfcies ambientais so consideradas

    itens no crticos, por entrarem em contato apenas com a pele ntegra ou por no

    entrarem em contato direto com o paciente. Por isso as prticas de limpeza e

    desinfeco dessas superfcies e a adeso dos profissionais a tais prticas so

    consideradas medidas eficazes para a interrupo da cadeia epidemiolgica das

    Infeces Relacionadas Assistncia em Sade.

    Em 1991, Spaulding dividiu as superfcies no crticas em superfcies de

    limpeza ambiental (piso, parede, teto, mesa de cabeceira, mobilirios) e superfcies

    de equipamentos mdicos (balana, monitores, incubadoras, bero aquecido,

    equipamento de fototerapia, estetoscpios, termmetro e outros). Segundo o

    mesmo autor, os equipamentos mdicos devem ser desinfetados com germicidas de

    nvel intermedirio ou de baixo nvel. J as superfcies de limpeza ambiental devem

    ter suas superfcies regularmente limpas para proporcionar um ambiente agradvel

    ao paciente, alm de evitar que objetos potencialmente contaminados possam

    transmitir infeces. Porm, o uso rotineiro de germicidas nessas superfcies

    controverso entre alguns autores (CECHINEL, 2011).

    De tal forma, para que haja cuidados com o ambiente, devem-se estabelecer

    normas e procedimentos de rotina para limpeza e desinfeco das superfcies

    ambientais, como a construo de protocolos, segundo o nvel de contato ou

    proximidade com o paciente e de sujidade da superfcie. Para isso, devem-se utilizar

    materiais adequados, como desinfetantes registrados na ANVISA que tenham ao

    microbicida contra os germes mais frequentes no ambiente e seguir as orientaes

    do fabricante. Alm de avaliar o produto regularmente quanto eficcia e resistncia

    aos patgenos (ARMOND & MATOS, 2011).

  • 28

    Referencial Terico

    Assim, com efeito para esse estudo, elegeram-se as superfcies que, ao

    entendimento, tem maior contato com as mos dos trabalhadores de sade e com

    os RN, as quais foram classificadas em: Superfcies ambientais (torneiras e

    bancadas), equipamentos (incubadoras, monitores multiparamtricos, bombas de

    infuso e balana) e artigos no crticos (almotolias, estetoscpios, termmetros e

    fita mtrica).

    A caracterizao desses materiais, segundo as diretrizes, assim como o

    processamento indicado sero apresentados a seguir (ANVISA, 2010-a; APECIH,

    2010).

    3.1.1. Superfcies ambientais

    a) Torneiras

    Funcionalidade Riscos de

    transmisso

    Tipo de

    Material

    Produto

    recomendado

    Processamento

    indicado

    Suprimento de

    gua no servio.

    Contato Indireto,

    por meio da

    colonizao das

    mos dos

    trabalhadores

    Metal/Ao

    inoxidvel

    lcool a 70%.

    gua e sabo

    ou detergente.

    As pias e torneiras

    devem ser limpas com

    gua e sabo ou

    detergente, com

    posterior enxgue e

    secagem.

    b) Bancadas

    Funcionalidade Riscos de

    transmisso

    Tipo de

    Material

    Produto

    recomendado

    Processamento

    indicado

    Suporte de apoio

    para disposio de

    materiais de

    consumo e ou

    preparo de

    medicao.

    Contato

    Indireto, por meio

    da colonizao

    de objetos em

    contato com esta

    superfcie e a

    colonizao das

    mos dos

    trabalhadores.

    Metal/Ao

    inoxidvel

    Mrmore/

    Granito

    lcool a 70%.

    gua e sabo

    ou detergente.

    As bancadas e

    prateleiras devem ser

    limpas com gua e

    sabo ou detergente.

    Devem ser enxaguadas

    e secas e podem, ainda,

    ser friccionadas com

    lcool a 70% ou outro

    desinfetante definido.

    Entretanto, o hipoclorito

    de sdio no indicado

    para uso em metais, pela

    ao corrosiva.

  • 29

    Referencial Terico

    3.1.2. Equipamentos

    a) Incubadoras

    A incubadora surgiu em 1878, quando o professor e obstetra parisiense

    Stephane Etienne Tarnier, pediu a um funcionrio do zoolgico de Paris que

    desenvolvesse um equipamento semelhante a uma chocadeira de ovos de galinha.

    Em 1880, esta incubadora foi instalada na Maternidade de Paris, reduzindo a

    mortalidade das crianas nascidas abaixo do peso (SILVADO, 1903 apud

    RODRIGUES & OLIVEIRA, 2004).

    O mesmo autor afirma ainda que a incubadora neonatal tornou-se um

    equipamento semelhante ao ambiente intratero, favorecendo a sobrevida do

    neonato prematuro. Em forma de cpula de parede dupla, por onde passa um fluxo

    de ar aquecido, esse equipamento com acesso frontal e posterior possibilitou o

    manuseio do RN sem que houvesse perda de calor. Isso proporcionou ao prematuro

    um ambiente favorvel ao seu desenvolvimento por ser capaz de controlar a

    temperatura e a umidade do ar. Tal avano tcnico-cientfico ajudou a reduzir as

    taxas de mortalidade neonatal, assim como as infeces.

    Com o advento da incubadora surgiu a necessidade de cuidados de

    enfermagem ao RN prematuro relacionados incubadora, como o controle da

    temperatura e umidade e a preveno de infeces (OLIVEIRA, 2004). Nesse

    aspecto, a equipe de enfermagem realizava a limpeza da incubadora na parte

    interna e externa atravs da lavagem diria com gua, sabo e um pano ou papel

    para cada incubadora. As estruturas metlicas da incubadora e dos beros eram

    desinfetadas com lcool ou amnia. Aps a alta, a incubadora era higienizada com

    gua e sabo e colocada para arejar durante 6 horas antes de uma nova admisso

    (MARTINS, 1957 apud OLIVEIRA, 2004).

    Da mesma forma, ainda hoje, as incubadoras devem ser limpas e ou

    desinfetadas. A troca das incubadoras deve ser feita sempre entre um cliente e outro

    e, no mesmo cliente, a cada cinco ou sete dias, quando as condies clnicas assim

    permitirem. Vale ressaltar que essa prtica, apesar de amplamente utilizada, ainda

    no foi validada (CALIL, ROLA, RICHTMANN, 2006).

  • 30

    Referencial Terico

    Funcionalidade Riscos de

    transmisso

    Tipo de

    Material

    Produto

    recomendado

    Processamento

    indicado

    Equipamento em

    forma de cpula, de

    parede dupla, por onde

    passa um fluxo de ar

    aquecido, que

    proporciona ao

    prematuro um

    ambiente favorvel ao

    seu desenvolvimento

    por controlar a

    temperatura ambiente

    e a umidade do ar.

    Contato

    Direto, por

    entrar em

    contato com a

    pele do RN;

    Contato

    Indireto, por

    meio das mos

    dos

    trabalhadores.

    Metal/Ao

    inoxidvel

    Acrlico

    Borracha

    Silicone

    lcool a 70%

    (na parte de

    metal).

    gua e sabo

    neutro ou

    detergente

    (regio do

    acrlico e

    borracha);

    A limpeza da

    incubadora deve ser

    realizada com gua e

    sabo ou detergente,

    com posterior enxgue

    e secagem. A parte

    metlica e o

    revestimento do

    colcho podem ser

    friccionados com lcool

    etlico a 70% ou outro

    desinfetante definido

    pelo SCIH.

    b) Equipamentos

    Equipamentos como monitores multiparamtricos, bombas de infuso e

    balana no foram referenciados especificamente quanto ao processamento de suas

    superfcies. Entretanto, o manual da ANVISA recomenda que outros mobilirios e

    equipamentos podem ser submetidos limpeza e desinfeco com gua e sabo

    e/ou aplicao de lcool etlico a 70% ou outro desinfetante indicado pelo SCIH,

    desde que sejam observadas as recomendaes para cada tipo de material a ser

    limpo e/ou desinfetado. E que a frico com lcool etlico a 70% deve ser em sentido

    unidirecional, por trs vezes consecutivas (ANVISA, 2010-a).

    Outro manual sobre controle das IrAS em UTIN recomendou a limpeza diria

    de todos os equipamentos em uso no paciente, utilizando-se gua e sabo ou lcool

    a 70% ou, conforme a recomendao do fabricante. E que os equipamentos

    utilizados em pacientes, com precaues de contato, devem ser desinfetados depois

    do uso, como por exemplo, estetoscpios, termmetros, esfigmomanmetro, entre

    outros (CALIL, ROLA, RICHTMANN, 2006).

  • 31

    Referencial Terico

    Monitor multiparamtrico

    Funcionalidade Riscos de

    transmisso

    Tipo de

    Material

    Produto

    recomendado

    Processamento

    indicado

    Equipamento

    constitudo de painel

    eletrnico, que

    verifica parmetros

    de vitalidade do

    paciente (SaO2, FC,

    FR)

    Contato

    Indireto, por

    meio das mos

    dos

    trabalhadores.

    Metal/Ao

    inoxidvel

    Acrlico

    PVC

    lcool a 70% (na

    parte de metal).

    gua e sabo

    neutro ou

    detergente (regio

    do acrlico e PVC);

    Contato Indireto,

    por meio das mos

    dos profissionais.

    Bomba de infuso

    Funcionalidade Riscos de

    transmisso

    Tipo de

    Material

    Produto

    recomendado

    Processamento

    indicado

    Equipamento

    constitudo de painel

    eletrnico, utilizado na

    infuso contnua e

    controlada de fluidos

    de lquidos (drogas ou

    nutrientes), com

    controle de fluxo e

    volume nas vias

    venosa, arterial ou

    esofgica.

    Contato

    Indireto - ocorre

    a colonizao

    das mos dos

    profissionais

    com essa

    superfcie

    contaminada e,

    conseqente-

    mente, do RN.

    Metal/Ao

    inoxidvel

    Acrlico

    PVC

    lcool a 70%

    (na parte de

    metal).

    gua e sabo

    neutro ou

    detergente

    (regio do acrlico

    e PVC);

    Uso de gua e

    sabo com posterior

    enxgue e secagem.

    E frico com lcool

    etlico a 70% ou outro

    desinfetante definido

    pelo SCIH.

    Balana

    Funcionalidade Riscos de

    transmisso

    Tipo de

    Material

    Produto

    recomendado

    Processamento

    indicado

    Equipamento

    infantil, constitudo

    de painel eletrnico,

    que mede a massa

    de um corpo

    (unidade de medida

    em kg).

    Contato Direto

    Ocorre a

    colonizao do

    RN pelo contato

    direto dessa

    superfcie

    contaminada

    com a pele do

    mesmo.

    Metal/Ao

    inoxidvel

    PVC

    gua e sabo

    ou detergente;

    lcool a 70%

    Uso de gua e sabo

    com posterior enxgue

    e secagem. E frico

    com lcool etlico a 70%

    ou outro desinfetante

    definido pelo SCIH.

  • 32

    Referencial Terico

    3.1.3. Artigos no crticos

    a) Almotolias

    As almotolias so frascos destinados ao acondicionamento de substncias

    ou solues antisspticas nos estabelecimentos de sade. Segundo as diretrizes, as

    almotolias e saboneteiras devem ser limpas e/ou desinfetadas interna e

    externamente (ANVISA, 2010-a).

    Funcionalidade Riscos de

    transmisso

    Tipo de

    Material

    Produto

    recomendado Processamento indicado

    Frascos ou

    recipientes

    utilizados para o

    acondicionamento

    de substncias

    antisspticas.

    Contato

    Indireto, por

    meio das

    mos dos

    trabalhadores;

    Contato

    Direto, quando

    a substncia

    da almotolia

    entra em

    contato com o

    paciente.

    PVC

    Acrlico

    gua e

    sabo ou

    detergente;

    lcool a 70%

    A limpeza dever ser

    realizada com gua e sabo

    ou detergente, com posterior

    frico com lcool a 70% ou

    outro desinfetante definido

    pelo SCIH. Apenas o acrlico

    no deve receber lcool a

    70%.

    O contedo da almotolia

    dever ser desprezado

    quando findado o prazo de

    validade do produto e o

    recipiente processado e ou

    substitudo sempre que

    necessrio.

    b) Estetoscpio

    O estetoscpio um instrumento de uso comum em estabelecimentos de

    sade, sendo utilizado no exame fsico dos pacientes para avaliao dos sons do

    corao, pulmes e rgos localizados no abdome (WILKINS et al., 2007).

    Quando no for possvel o uso individual do estetoscpio, necessria a

    desinfeco entre um cliente e outro (CALIL, ROLA, RICHTMANN, 2006).

  • 33

    Referencial Terico

    Funcionalidade Risco de

    transmisso

    Tipo de

    Material

    Produto

    recomendado Processamento indicado

    Instrumento de

    trabalho, de uso

    comum entre os

    trabalhadores da

    sade, utilizado no

    exame fsico para

    avaliao dos sons

    do corao, pulmes

    e rgos localizados

    no abdome.

    Contato

    Direto com a

    pele do

    paciente.

    Metal/Ao

    inoxidvel

    Borracha

    gua e

    sabo ou

    detergente;

    lcool a 70%

    Limpeza diria dos

    estetoscpios com lcool

    etlico a 70%. O uso nos

    pacientes em precaues de

    contato deve ser individual.

    Na presena de secreo

    ou sangue, realizar a

    limpeza prvia com gua e

    sabo.

    c) Termmetro clnico

    Os termmetros clnicos so aparelhos utilizados para aferio da

    temperatura corporal. O instrumento composto por uma haste de vidro ou em PVC

    e o bulbo em metal e recomendado o uso de termmetro digital individual (CALIL,

    ROLA, RICHTMANN, 2006, MINISTRIO DA SADE, 2012).

    Funcionalidade Riscos de

    transmisso

    Tipo de

    Material

    Produto

    recomendado

    Processamento

    indicado

    Aparelho utilizado

    para aferio da

    temperatura corporal.

    Contato Direto

    com a pele do

    paciente.

    Haste de

    vidro ou

    PVC;

    Bulbo de

    Metal.

    lcool a 70%

    gua e sabo

    ou detergente;

    Realizar desinfeco

    com lcool etlico a 70%

    aps o uso.

    Na presena de

    secreo ou sangue,

    realizar a limpeza prvia

    com gua e sabo.

    d) Fita mtrica

    um instrumento usado para medir distncias, tamanhos, alturas, estaturas.

    Pode ser uma fita flexvel e graduada confeccionada em plstico ou uma fita retrtil

    de metal ou fibra de vidro enrolada num invlucro.

    Apesar de no haver recomendaes especficas das diretrizes para a

    limpeza e desinfeco da fita mtrica, entende-se que o processo de limpeza e

  • 34

    Referencial Terico

    desinfeco da mesma deve ser realizado conforme o material do qual constituda.

    Na UTIN do servio pesquisado, para medir a estatura dos RN, utiliza-se fita mtrica

    flexvel, confeccionada em plstico do tipo policloreto de vinila (PVC) (ANVISA,

    2010-a).

    Funcionalidade Riscos de

    transmisso

    Tipo de

    Material

    Produto

    recomendado

    Processamento

    indicado

    Instrumento de

    medida usada para

    distncias, tamanhos,

    estaturas.

    Contato Direto

    com a pele do

    paciente.

    PVC lcool a 70%

    gua e sabo

    ou detergente

    Realizar desinfeco

    com lcool etlico a 70%

    aps o uso.

    Na presena de secreo

    ou sangue, realizar a

    limpeza prvia com gua

    e sabo.

    3.2. A cadeia epidemiolgica das IrAS e as interfaces com as superfcies

    ambientais, equipamentos e artigos no crticos em UTIN

    As IrAS so infeces causadas por fungos, bactrias e vrus em

    decorrncia do cuidado em sade e de procedimentos realizados durante a

    internao ou atendimento domiciliar (CDC, 2012).

    Esses agentes podem ser veiculados por transmisso cruzada de forma

    direta ou indireta, seja por meio das mos colonizadas dos trabalhadores de sade

    ou por contato com as superfcies ambientais contaminadas (BOYCE, 2007; WEBER

    et al., 2010). As IrAS podem resultar de falhas na higienizao das mos (HM), no

    processamento das superfcies ambientais, equipamentos, artigos e roupas, e falhas

    nas precaues-padro, com quebra da cadeia assptica (SIEGEL et al., 2007;

    WHO, 2011; CDC, 2012).

    A transmisso de patgenos, por meio da superfcie ambiental, facilitada

    por alguns micro-organismos como MRSA, VRE e Clostridium difficile, pois esses

    possuem capacidade de sobreviver por perodos prolongados, como dias, semanas

    e at meses, sobre as superfcies do ambiente hospitalar, sendo fontes contnuas de

    infeco. Isso implica em risco para a ocorrncia de contaminao cruzada, quer

  • 35

    Referencial Terico

    atravs das mos dos profissionais de sade ou de produtos contaminados

    (KRAMER, SCWEBKE, KAMPF, 2006; BOYCE, 2007).

    Alguns fatores microbiolgicos, tambm, contribuem para esse tipo de

    disseminao como, capacidade de permanecer virulento quando exposto ao

    ambiente, capacidade de colonizar pacientes, especialmente Acinetobacter,

    Clostridium difficile, MRSA e VRE, capacidade de colonizar transitoriamente as mos

    dos trabalhadores de sade, alm da frequente contaminao do ambiente

    hospitalar, ocasionando, tambm, resistncia aos desinfetantes usados nas

    superfcies do ambiente (WEBER et al. 2010).

    A transmisso por contato direto ocorre quando micro-organismos so

    transferidos de uma pessoa infectada para outra sem uma contaminao anterior.

    Isso ocorre muitas vezes entre pacientes e trabalhadores de sade quando sangue

    e fluidos contaminados entram em contato com mucosas, pele no ntegra ou

    sangue por acidente com perfurocortantes (SIEGEL et al., 2007). Outra forma de

    transmisso direta pode ocorrer por meio de medicaes, nutrio parenteral, leite

    materno e frmulas lcteas contaminadas (CALIL, ROLA, RICHTMANN, 2006).

    Um estudo na Itlia props investigar as causas no aumento do nmero de

    infeces e colonizaes por Pseudomonas aeruginosa. Assim, medidas de controle

    e preveno dessas IrAS foram adotadas por meio de um programa educacional de

    HM e coleta de amostras microbiolgicas do ambiente. De 616 neonatos, 135

    (23,8%) foram colonizados por P. aeruginosa e 11 tiveram infeces graves. O

    estudo concluiu, por meio de anlises genotpicas, que as infeces foram causadas

    por transmisso cruzada devido a falhas na prtica de HM e desinfeco de

    superfcies na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (CRIVARO et al., 2009).

    No mbito internacional, tem-se utilizado marcadores para avaliao da

    adequada limpeza das superfcies. Esses marcadores, denominados black light,

    possuem caractersticas as quais possvel visualizar sujidades microscpicas sob

    fonte de luz de lmpada ultravioleta. Esse mtodo utilizado para verificar se as

    tcnicas de limpeza esto sendo adequadas e qual o impacto da interveno, por

    exemplo, de atividades educativas sobre os processos de limpeza e desinfeco.

    Um estudo verificou, por meio desse instrumento, que as estratgias para melhoria

    dos processos de limpeza e desinfeco das superfcies estudadas, foram

    contempladas e que tais estratgias reduziram a frequncia de MRSA e VRE

    (GOODMAN et al., 2008; CARLING & BARTLEY, 2010).

  • 36

    Referencial Terico

    Os seres humanos so considerados reservatrios naturais de micro-

    organismos, entre eles o Staphylococcus sp que tem como principais stios de

    colonizao pele e mucosas. Assim, quando no so tomadas as devidas

    precaues, os profissionais de sade colonizados podem transmitir micro-

    organismos aos neonatos e causar-lhes infeco (PRADO-PALOS et al., 2009).

    Alm disso, as Unidades de Terapia Intensiva so locais considerados de

    alto risco para a transmisso de bactrias multirresistentes entre pacientes por ser

    um setor de alta complexidade no qual a maioria dos procedimentos realizados so

    invasivos. Devido a isso, o trabalho da equipe costuma ser excessivo, o que

    favorece a menor adeso HM e ocorrncia de tcnicas asspticas inadequadas,

    ampliando o risco de colonizao dos trabalhadores de sade por micro-organismos

    (ANVISA, 2007-a).

    Historicamente, as medidas de preveno e controle das infeces tiveram

    incio no sculo XIX, em 1846, quando o mdico hngaro Ignaz Semmelweis

    reportou a reduo do nmero de mortes maternas por infeco puerperal no

    hospital de Viena, devido prtica de HM (ANVISA, 2007-b).

    No mesmo sculo, Florence Nightingale (1820-1910), precursora da

    enfermagem moderna, analisou os fatores que afetavam a morbidade e mortalidade

    dos soldados durante a guerra da Crimia e conseguiu reduzir as infeces por meio

    da higiene de mos e controle ambiental. Em sua publicao Notes on Nursing, de

    1859, Florence descreveu seu interesse pioneiro na pesquisa por fatores ambientais

    que promoviam o bem-estar fsico e emocional. Assim, procurando oferecer conforto

    aos pacientes, separou-os em enfermarias, adotou cuidados de higiene para os

    pacientes e o ambiente. Com isso, conseguiu prevenir a transmisso cruzada de

    infeces (NIGHTINGALE, 1989).

    Desde ento, a Higiene de Mos tem sido recomendada como medida

    primria no controle da disseminao de micro-organismos infecciosos, constituindo

    a medida individual mais simples e menos onerosa para prevenir as Infeces

    Relacionadas Assistncia em Sade (ANVISA, 2007-b).

    Entretanto, apesar de ser recomendada mundialmente como a medida mais

    eficaz e de baixo custo para a preveno das infeces, a HM no praticada de

    forma efetiva. Estudos revelam que mesmo o trabalhador de sade tendo o

    conhecimento da importncia da prtica de HM na tcnica correta, no a pratica. A

    no adeso a tal prtica contribui para a transmisso de micro-organismos muitas

  • 37

    Referencial Terico

    vezes resistentes aos antimicrobianos expondo o usurio colonizao e agravos a

    sua sade (PRADO-PALOS et al., 2009, CRUZ et al., 2009).

    Em geral, o risco potencial de transmisso de infeces, por meio de

    equipamentos hospitalares no crticos e superfcies ambientais, baixo. Entretanto,

    se esses estiverem contaminados com matria orgnica contendo agentes

    infecciosos, podem contribuir para a disseminao das IrAS. Por essa razo,

    equipamentos no crticos devem receber limpeza e desinfeco de baixo ou mdio

    nvel, a fim de evitar a transmisso cruzada por contaminao do trabalhador de

    sade (APECIH, 2010; RUTALA & WEBER, 2008).

    3.3. O processo de limpeza e desinfeco de superfcies ambientais,

    equipamentos e artigos no crticos em UTIN

    3.3.1. Limpeza

    A limpeza o primeiro passo para o processamento de artigos e est

    intimamente ligada qualidade final do processo. Por definio, a limpeza consiste

    na remoo mecnica de sujidade visvel depositada em superfcies, dispositivos e

    equipamentos. Pode ser realizada por meio de processo manual ou mecnico,

    utilizando detergente e gua. Tem por finalidade reduzir a carga microbiana e

    remover os resduos qumicos, orgnicos e toxinas que aderem s superfcies

    internas e ou externas dos artigos (RIBEIRO, 2010; SOBECC, 2007).

    A complexidade do processo de limpeza vai depender do tipo de material e

    suas formas, observando aspectos como presena de lmen, dobradias, fissuras e

    fendas (RUTALA & WEBER, 2008).

    Diante de tal complexidade, a escolha do produto para assegurar a

    qualidade no processamento a etapa primordial. Dentre os principais produtos

    recomendados pelas diretrizes tm-se os sabes e detergentes (ANVISA, 2010-a).

    O sabo um produto de limpeza domstica, formulado base de sais

    alcalinos e cidos graxos associados ou no a outros tensoativos. E o detergente

    um produto destinado limpeza de superfcies e tecidos atravs da diminuio da

    tenso superficial pela presena do surfactante na sua composio. Isso facilita a

    sua penetrao nas superfcies, dispersando e emulsificando a sujidade, tanto de

    sujeiras hidrossolveis quanto das solveis em gua (ANVISA, 2010-a).

  • 38

    Referencial Terico

    Durante a limpeza manual, a frico deve ser realizada com acessrios no

    abrasivos e que no liberem partculas. O enxgue dos produtos para sade deve

    ser realizado com gua que atenda aos padres de potabilidade definidos em

    normatizao especfica (ANVISA, 2012).

    Para o processo de limpeza das superfcies ambientais, necessrio

    verificar se os materiais so resistentes lavagem e ao uso de desinfetantes. A

    limpeza de paredes e anexos deve ser de cima para baixo, a do teto deve ser

    unidirecional e o piso de enfermarias, quarto ou box deve iniciar do fundo para a

    porta de entrada. De modo geral, a limpeza deve ser iniciada sempre da rea mais

    limpa para a mais contaminada e nunca se deve realizar movimentos de vaivm

    (CECHINEL, 2011).

    Os processos de limpeza de superfcies em servios de sade envolvem a

    limpeza concorrente e a limpeza terminal.

    A limpeza concorrente um procedimento realizado diariamente, em todas

    as unidades dos estabelecimentos de sade, com a finalidade de limpar e organizar

    o ambiente, repor os materiais de consumo dirio (sabonete lquido, papel higinico,

    papel toalha) e recolher os resduos, de acordo com a sua classificao. Nesse

    procedimento esto includas a limpeza de todas as superfcies horizontais, de

    mobilirios e equipamentos, portas e maanetas, parapeitos de janelas e a limpeza

    do piso e de instalaes sanitrias. Ressalta-se que a unidade de internao do

    paciente composta por cama, criado-mudo, painel de gases, painel de

    comunicao, suporte de soro, mesa de refeio, cesta para lixo e outros mobilirios

    que podem ser utilizados durante a assistncia (ANVISA, 2010-a).

    O mesmo autor refere ainda que a frequncia da limpeza concorrente em

    reas crticas deve ser feita trs vezes ao dia, em reas semicrticas duas vezes/dia

    e, em reas no crticas, uma vez ao dia. Nas reas comuns, esse tipo de limpeza

    deve ocorrer uma vez/dia e, em reas externas, duas vezes/dia. Em todos os locais,

    a limpeza deve ser em data e horrio pr-estabelecidos ou sempre que necessrio

    (ANVISA, 2010-a).

    A limpeza da unidade de internao do paciente deve ser feita diariamente

    ou sempre que necessria, antecedendo a limpeza concorrente de pisos. Merece

    maior ateno, a limpeza das superfcies horizontais as quais tenham maior contato

    com as mos do paciente e das equipes de sade, tais como maanetas de portas,

  • 39

    Referencial Terico

    telefones, interruptores de luz, grades de camas, chamada de enfermagem e outras

    (SEHULSTER et al., 2003).

    J a limpeza terminal inclui todas as superfcies horizontais e verticais,

    internas e externas. Entretanto ela ocorre quando o paciente desocupa a unidade de

    internao, seja por alta hospitalar, transferncia ou bito ou pode ser programada

    nas internaes de longa durao, como o caso das Unidades de Terapia

    Intensiva. As programadas podem ser realizadas semanalmente quando em reas

    crticas, quinzenalmente quando em reas semicrticas e, mensalmente em reas

    no crticas ou reas comuns, com data, horrio e dias da semana estabelecidos

    (ANVISA, 2010-a).

    As superfcies dos equipamentos (incubadoras, bero aquecido, balana,

    monitores, ventilador mecnico, bomba de infuso, e outros) devem ser limpas

    diariamente, antes da admisso e durante o uso no paciente. recomendvel que o

    estetoscpio, termmetro e manguito de presso, os quais so instrumentos no

    invasivos sejam de uso individual e, quando isso no for possvel, deve-se realizar

    desinfeco entre pacientes. As incubadoras devem ser limpas com gua e sabo.

    Os demais materiais devem seguir as recomendaes do fabricante de cada

    equipamento para o uso correto de detergente ou desinfetante no processo de

    limpeza ou desinfeco (CECHINEL, 2011).

    3.3.2. Desinfeco

    A desinfeco o processo fsico ou qumico que elimina muitos ou todos os

    micro-organismos patognicos, com exceo de esporos bacterianos sobre objetos

    inanimados. Para artigos semicrticos, indicada a desinfeco de alto ou mdio

    nvel, pois entram em contato com membranas mucosas ou pele no ntegra. J os

    artigos no crticos, como as superfcies fixas de equipamentos e mobilirios, podem

    ser submetidos desinfeco de baixo nvel (PSALTIKIDIS & QUILHAS, 2010;

    RUTALA & WEBER, 2008).

    Os desinfetantes so classificados como baixo nvel quando eliminam a

    maioria das bactrias, alguns vrus e fungos, sem inativar micro-organismos

    resistentes, como micobactrias e formas esporuladas; nvel intermedirio que

    inativa as formas vegetativas de bactrias, a maioria dos vrus e fungos; e alto nvel

    quando destri todos os micro-organismos, com exceo de formas esporuladas.

  • 40

    Referencial Terico

    Todavia, todo artigo para ser submetido desinfeco deve ser primeiro

    adequadamente limpo, facilitando assim a ao do agente desinfetante (SOBECC,

    2007).

    Existem fatores que podem anular ou limitar a eficcia desses desinfetantes,

    e invalidar o processamento dos materiais. Tais fatores incluem limpeza inadequada

    do objeto, presena de material orgnico e inorgnico, tipo ou nvel de contaminao

    microbiana, concentrao e tempo de exposio ao germicida, natureza fsica do

    objeto, ao apresentar fissuras, dobradias e lmen, presena de biofilme,

    temperatura e pH do processo de desinfeco. Contudo, o uso de desinfetantes

    contribui para a remoo de micro-organismos e constitui uma barreira na preveno

    das Infeces Relacionadas Assistncia em Sade (RUTALA & WEBER, 2008).

    Os autores supracitados mencionam ainda a variedade de composio

    qumica dos desinfetantes, podendo ser constitudos de lcool, cloro e seus

    componentes, formaldedo, glutaraldedo, perxido de hidrognio, iodforos, cido

    peractico, cido peractico associado a perxido de hidrognio, compostos

    fenlicos e componentes de quaternrio de amnio.

    Segundo o Manual de Limpeza e Desinfeco de Superfcies da ANVISA

    (2010-a), esses produtos devem estar devidamente registrados ou notificados no

    referido rgo competente. Alm disso, devem ser padronizados, estar em

    embalagens rotuladas e dentro do prazo de validade, utilizados na concentrao e

    tempo recomendados pelo fabricante e Servio de Controle de Infeco Hospitalar

    (SCIH), e preparados somente para uso imediato.

    O mesmo manual informa ainda que os produtos saneantes devem conter

    rtulo com nome do produto, modo de utilizao e tempo de contato do produto com

    a superfcie. Tambm, o rtulo deve conter precaues e restries de uso quanto

    toxicidade, uso de EPI, composio do produto, princpio ativo, prazo de validade,

    data de fabricao, lote e volume, empresa fabricante, responsvel tcnico e nmero

    do registro do produto na ANVISA.

    Conforme a diretriz acima citada, os principais produtos utilizados na

    desinfeco de superfcies so:

  • 41

    Referencial Terico

    a) lcool

    Os lcoois etlico e isoproplico so os principais desinfetantes utilizados em

    servios de sade, podendo ser aplicados em superfcies ou artigos por meio de

    frico. So bactericida, virucida, fungicida e tuberculicida, de fcil aplicao e ao

    imediata, em 10 segundos elimina bactrias Gram-positivas e Gram-negativas. No

    esporicida. Seu uso indicado para mobilirio em geral. Age na desnaturao das

    protenas que compem a parede celular dos micro-organismos. Porm, um

    produto inflamvel, voltil que opacifica acrlico, resseca os plsticos e borrachas e

    causa ressecamento da pele. Concentrao de uso 60% a 90% em soluo de gua

    volume/volume (PADOVEZE, 2010).

    O lcool classificado como desinfetante de nvel intermedirio e baixo,

    sendo recomendada a frico por 30 segundos. Apesar de no habitual, pode ser

    utilizado para imerso, por 10 minutos, entretanto recomenda-se que seja

    desprezado a cada utilizao, pelo risco de hiperdiluio e evaporao do produto

    (RUTALA & WEBER, 2008; PSALTIKIDIS & QUILHAS, 2010).

    Os lcoois etlico e isoproplico possuem propriedades microbicidas

    reconhecidamente eficazes para eliminar a maioria dos germes envolvidos nas IrAS,

    sendo antisspticos para as mos e desinfetantes para as superfcies do ambiente e

    de artigos mdico-hospitalares. Dentre suas vantagens inclui-se o baixo custo, fcil

    aplicabilidade e toxicidade reduzida. O lcool etlico apresenta potente ao contra

    os vrus lipdicos (HIV, HBV, HVC, Herpes vrus, Influenza vrus), muitos vrus no

    lipdicos (adenovrus, enterovrus, rinovrus, rotavrus) e algumas micobactrias (M

    tuberculosis), na concentrao 70%, em frico por 30 segundos (SANTOS,

    VEROTTI, SANMARTIN, MESIANO, 2002).

    Os artigos e superfcies que podem ser submetidos ao lcool so superfcies

    de mobilirios e equipamentos como ampolas e vidros; termmetros retal e oral;

    diafragmas e olivas de estetoscpios; bandejas de medicao; otoscpios (cabos e

    lminas sem lmpadas); superfcies externas de equipamentos metlicos; partes

    metlicas de incubadoras; macas, camas, colches e mesas de exames; pratos de

    balana; equipamentos metlicos de cozinha, lactrio, bebedouros e reas de

    alimentao; bancadas; artigos metlicos (espculos, material odontolgico)

    (ANVISA, 1994).

  • 42

    Referencial Terico

    Entretanto, a ao do lcool sobre alguns tipos de equipamentos provoca

    danos nas partes de borracha, com perda da sua elasticidade. Outros materiais que

    no devem ser submetidos desinfeco pelo lcool so o acrlico, tubos plsticos e

    equipamentos dotados de fibra ptica. (SANTOS, VEROTTI, SANMARTIN,

    MESIANO, 2002).

    As aplicaes devem ser de frico com lcool 70%, por trs vezes

    consecutivas, esperando a secagem do lcool a cada frico (ANVISA, 1994).

    b) Compostos Fenlicos Sintticos

    Esto em desuso devido toxicidade. Mas, so bactericida, virucida,

    micobactericida e fungicida e tm ao residual. No so esporicidas. Indicados

    para superfcies fixas e para mobilirios em geral. Suas principais desvantagens

    implicam no uso repetido que pode causar despigmentao da pele e

    hiperbilirrubinemia neonatal, no so recomendados em berrios. So poluentes

    ambientais e proibidos em reas de contato com alimentos devido toxicidade oral

    (ANVISA, 1994; PADOVEZE, 2010).

    c) Compostos Liberadores de Cloro Ativo - Inorgnico

    So os hipocloritos de sdio, de clcio e de ltio. Tm poder bactericida,

    virucida, fungicida, tuberculicida e esporicida, dependendo da concentrao de uso.

    Apresentao lquida ou p; amplo espectro; ao rpida e baixo custo. Indicados na

    desinfeco de superfcies fixas. Entretanto, so instveis (afetados pela luz solar,

    temperatura >25C e pH cido), inativos em presena de matria orgnica,

    corro