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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA
RENATA MARTINS DE AGUIAR VERÇOSA
PROCESSO DE ADAPTAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
NATAL-RN
2016
RENATA MARTINS DE AGUIAR VERÇOSA
PROCESSO DE ADAPTAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Artigo Científico apresentado ao Curso de Pedagogia, na modalidade à distância, do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia, sob a orientação da professora Dra. Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo de Paiva.
NATAL-RN
2016
PROCESSO DE ADAPTAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Por
RENATA MARTINS DE AGUIAR VERÇOSA
Artigo Científico apresentado ao Curso de Pedagogia, na modalidade a distância, do Centro de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no semestre letivo 2016.1, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Profa. Dra. Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo (Orientadora)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
_____________________________________________________
Dra. Jacyene Melo de Oliveira Araújo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
______________________________________________________
Dra. Maria Cristina Leandro de Paiva
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
RESUMO
. Este artigo tem o objetivo de proporcionar uma reflexão acerca do processo de adaptação na Educação Infantil. Nesse sentido, apresenta os resultados do estudo sobre a análise de alguns conceitos e orientações acerca do ingresso de crianças pequenas ao ambiente escolar disponíveis nos documentos oficiais. A análise foi realizada em dois documentos que são referências nacionais para a Educação Infantil: Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (BRASIL, 1998) e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010), que orientam e norteiam o trabalho realizado dentro das Instituições Públicas de Educação Infantil. A opção metodológica foi pela pesquisa qualitativa, com ênfase na análise documental, que consiste em identificar, verificar e apreciar os documentos com uma finalidade específica. Para tanto, inicialmente, realizamos uma pesquisa bibliográfica a fim de buscar contribuições teóricas sobre o tema abordado, com o objetivo de compreender o que é o processo de adaptação e o papel dos sujeitos (crianças, pais e professores) nesse processo. Contudo, ressaltamos a escassez bibliográfica dessa temática, dentre as produções encontradas destacamos os autores Balaban (1988), Rêgo (1995), Rossini (2001) e Rapoport (2004). A análise dos documentos e a revisão bibliográfica nos permitiu explicitar que são muitas as especificidades envolvidas no período de adaptação das crianças e que essa fase requer um esforço conjunto de todos os envolvidos, principalmente dos pais e professores, para que juntos possam buscar estratégias para o enfrentamento dessa fase, pela qual todas as crianças passam no momento da sua entrada na escola. E, finalmente, constatamos que embora os documentos sejam de nível nacional, muitos professores de instituições públicas, desconhecem sua existência e não se utilizam das suas orientações
Palavras-Chave: Processo de Adaptação, Educação Infantil, Crianças.
ABSTRACT
The article have the object of propose the reflection on of the process the adaptation of kid’s education. In this sense, present the results of the study about the analyses of some definition and directions on the ingress the small kids in environment school available in official document. The analyses was realized in two documents of referent the national for the kids education: Referent curricular national of kids education (Brazil, 1998) and the curricular guidelines national of kids education (Brazil, 2010) that orient and control the work realized inside of the public institute of kids education. The option of methodology is the search qualitative and emphasis the documental analyses that consist in identify, verify and appreciate of the documents with the finally specific. For this, initial, the search bibliography equal to seek the contribution theory about the theme addressed, with the object of comprehension what is the process of adaptation in the paper of the subjects (dad, daughters and teacher) in this process. However, highlight shortage bibliography in this thematic in this product founds highlight the author Balaban (1998), Rêgo (1995), Rossini (2001) e Rapoport (2004). The analyses of the documents and the revision of bibliography we permitted express that how many the specific involved in the period of adaptation of the kids and that faze require the effort set for all the involved, principally of parents and teachers, that together can search strategic for the confrontation in this faze that all the children’s pass in this moment of your input in the school. Finally, detect that although of documents in other of level national, many teachers in the institute public, deny your exist and no utilize of the orientation. Key words: Process Adaptation, kids’ education, children’s
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 07
2. O INÍCIO DA VIDA ESCOLAR: CONCEITOS E PAPEL DOS SUJEITOS .......... 08
2.1. O QUE É O PROCESSO DE ADAPTAÇÃO ESCOLAR? .......................................... 09
2.2. CRIANÇAS EM PROCESSO DE ADAPTAÇÃO ................................................ 15
2.3. FAMÍLIAS EM PROCESSO DE ADAPTAÇÃO................................................... 17
2.4. PROFESSORES EM PROCESSO DE ADAPTAÇÃO........................................ 19
3. ANÁLISE DOS DOCUMENTOS ........................................................................... 21
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 25
5. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 27
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1. INTRODUÇÃO
O presente artigo apresenta os resultados do estudo sobre a análise de
alguns conceitos e orientações acerca do ingresso de crianças pequenas ao
ambiente escolar. A análise foi realizada em dois documentos que são referências
nacionais para a Educação Infantil: as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil, fixadas pela Resolução nº 5, de 17 de dezembro 2009 (BRASIL,
2010) os Referenciais curriculares Nacionais para a Educação Infantil (RCNEI,
1998). Nesse sentido, a opção metodológica foi à pesquisa qualitativa, com ênfase
na análise documental, que consiste em identificar, verificar e apreciar os
documentos com uma finalidade específica. Segundo Sá-Silva et al (2009, p. 4)
Quando um pesquisador utiliza documentos objetivando extrair dele informações, ele o faz investigando, examinando, usando técnicas apropriadas para seu manuseio e análise; segue etapas e procedimentos; organiza informações a serem categorizadas e posteriormente analisadas; por fim, elabora sínteses, ou seja, na realidade, as ações dos investigadores – cujos objetos são documentos – estão impregnadas de aspectos metodológicos, técnicos e analíticos.
A análise foi realizada a partir das seguintes questões: como esses
documentos conceituam ADAPTAÇÃO? Qual a importância atribuída ao papel da
família e dos professores? Que sentimentos estão envolvidos na problemática da
separação precoce e as consequências para o desenvolvimento infantil? Que fatores
podem interferir na adaptação e as estratégias utilizadas para o enfrentamento de
situações potencialmente estressantes no contexto escolar?
Para tanto, elegemos como objetivo geral: conhecer o que é o processo de
adaptação. E mais especificamente: conhecer como esse processo acontece para
crianças, família e educador e como são apresentados nos documentos oficiais.
O interesse na realização do trabalho surgiu ao perceber, através de uma
experiência de dois anos, atuando como educadora auxiliar com crianças entre 02 e
03 anos, as dificuldades de lidar com situações inerentes ao “período” de adaptação
na turma do nível I de um Centro Municipal de Educação infantil da cidade do Natal,
Rio Grande do Norte.
Para tanto, inicialmente, realizamos uma revisão, tipo pesquisa bibliográfica,
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sobre o tema e é importante destacar a escassez de produções que tratam do
assunto. Nessa direção fizemos uma busca em quatro contextos/espaços diferentes
com as seguintes palavras chaves: adaptação de crianças pequenas, processo de
adaptação, início da vida escolar, entrada da criança na escola e acolhimento de
crianças pequenas. Os espaços selecionados foram: o site da ANPED - fizemos a
busca em dois GTs, A Criança de 0 a 6 anos e Psicologia da Educação e
considerando os últimos cinco anos. Não encontramos nenhum trabalho ou poster
publicados com as referências de busca selecionadas; no SCIELO BRASILEIRO*;
GOOGLE ACADÊMICO e no GOOGLE. Encontramos poucas produções nesses três
últimos e apenas o livro de Balaban (1988) aparece como produção voltada
especificamente para o tema em pauta. Constatamos, portanto, a relevância de
pesquisar e refletir sobre a temática que é fundamental para as experiências futuras
das crianças como sujeitos aprendentes.
O artigo está organizado da seguinte forma: no item 1 Introdução, no qual
destacamos os objetivos e metodologias utilizadas para a realização do artigo, bem
como o motivo de interesse pelo assunto abordado; no item 2 O Início da Vida
Escolar: conceitos e papel dos sujeitos, buscamos aprofundar os conhecimentos
destacando a visão de autores e obras encontradas acerca do tema processo de
adaptação e a importância dos sujeitos durante este período; no item 3 A Análise
dos Documentos, realizamos um breve apanhado histórico sobre a história das
instituições de Educação Infantil para, consequentemente, destacar a importância
dos documentos oficiais e sua abordagem ao tema estudado. E no item 4
Considerações Finais, realizamos uma síntese dos principais resultados e
contribuições sobre o tema deste artigo.
2. O INÍCIO DA VIDA ESCOLAR: CONCEITOS E PAPEL DOS SUJEITOS
O início da vida escolar da criança é marcado por inúmeras situações que
necessitam de atenção especial por parte de todos os envolvidos nesse processo.
Desse modo, é fundamental entender e refletir sobre esse processo que pode
influenciar decisivamente o desenvolvimento das crianças em situações de
separação futuras.
Atualmente há um consenso sobre a importância e complexidade do “período”
de adaptação da criança à escola, no entanto, ainda existem muitas práticas que
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desconsideram os estudos mais recentes e continuam perpetuando mitos, estigmas
e rótulos, principalmente, às crianças tais como: que são manhosas, birrentas e até
atribuem alguma necessidade especial.
O interesse pelo tema surgiu a partir das minhas observações realizadas em
sala de aula, no período de atuação como professora auxiliar, onde constatei a
dificuldade da maioria das crianças em se adaptarem aos espaços e às pessoas
diferentes, bem como a insegurança de seus familiares em deixarem os filhos com
pessoas “desconhecidas”. O que mais me angustiava era ver o quanto as crianças
sofriam, para elas, tudo era novo, o ambiente, as pessoas, a rotina. Observei ainda,
as dificuldades mais comuns em pais, educadores, crianças, assim como de todos
os sujeitos que fazem a escola, que optei nesse trabalho por analisar as
contribuições dos documentos oficiais, orientadores das instituições que atendem
crianças pequenas e como eles podem contribuir para esclarecer algumas
indagações de todos os atores envolvidos no processo.
Como já me referi na Introdução, o objetivo desse trabalho foi conhecer o que
é o processo de adaptação, identificando em dois documentos oficiais, os RCNEI
(BRASIL, 1998) e as DCNEI (BRASIL, 2010), o conceito de adaptação, o papel da
escola, da família e as repercussões para as crianças, ou seja, como essas
questões são apresentadas e/ou orientadas nos referidos documentos. Dessa forma,
analisamos o conceito de adaptação, o papel da escola, da família e os sentimentos
das crianças presentes nos supracitados documentos. Nesse item
refletiremos/discutiremos, na perspectiva dos autores que tratam sobre o assunto,
sobre o conceito de adaptação e o papel da família, educadores e crianças nesse
processo.
2.1. O QUE É O PROCESSO DE ADAPTAÇÃO ESCOLAR?
Historicamente, a educação infantil considerou o processo de adaptação à
escola como um “período” em que a criança chora e adaptação entendida de forma
estrita como definida nos dicionários e com uma forte conotação biológica, ou seja,
adaptação como ato de se adaptar, acomodar-se e ajustar-se e não como um
processo que é construído nas relações estabelecidas em função da inserção da
criança a um novo ambiente ou situação e mediado por vários atores. Nesse
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sentido, o principal objetivo é fazer as crianças pararem de chorar, sem a
preocupação com um planejamento pedagógico sistemático e significativo.
A preocupação com as questões referentes ao início da vida escolar ou a
inserção da criança pequena em ambientes coletivos, só ganha relevância no Brasil
a partir da década de 70, com as discussões acerca do desenvolvimento infantil,
principalmente na área da psicologia infantil.
Mas para Rêgo (1995), são obras teóricas, geralmente oriundas da
Psicologia, que trazem a discussão do desenvolvimento, importância e sentimentos
envolvidos nessa fase “(...) Antes disso, não havia uma preocupação maior com as
questões relacionadas ao início da vida escolar”.
Segundo Rêgo (1995, p.40):
É indiscutível a relevância dessas contribuições para o trabalho pedagógico, mas elas não dão conta do cotidiano de uma sala de aula, e nem é proposta delas. Por sua vez, os professores, atarefados no seu dia-a-dia, não conseguem aplicar essas contribuições na sua prática, continuando a encarar o início da vida escolar como sendo um "PERÍODO", delimitado no tempo e espaço, determinado pela própria escola e não como um "PROCESSO" gradativo que faz parte da construção da personalidade do indivíduo e acontece em cada um diferentemente.
Segundo Rêgo (1995) foram às contribuições de BALABAN, (1988)
apontando “o conceito de adaptação enquanto processo” e de MALDONADO (1985),
apresentando uma “proposta de interpretar os sentimentos das crianças e explicitá-
los, para que elas próprias possam compreendê-los, ou seja, estar em sintonia com
elas”, que influenciaram uma nova forma de entender e encaminhar o início da vida
escolar.
Para BALABAN (1988) adaptação é um processo gradativo que se inicia bem
antes da criança entrar na escola. Ainda sustenta que a criança pequena é um ser
que pensa, com desejos e vontades próprias, pois já vivenciou um determinado
número de experiências no grupo social e familiar ao qual pertence, ou seja, desde o
nascimento na família e na igreja, a criança aprende cotidianamente.
Também Rapoport (2004, p.53) descreve que para autores como Rossetti-
Ferreira (1993) “a adaptação tem início nos contatos iniciais da família com a
instituição, pois as primeiras impressões influenciam a forma como esses pais se
relacionam com o novo ambiente”. Em contrapartida, a autora aponta que segundo
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os autores Bloom-Feshbach e Gaughram (1980), a adaptação ocorre desde o
momento do ingresso da criança até o final do primeiro mês. Diferentemente de Fein
(1995) que considera que esse período se estende entre três e seis meses, após o
ingresso no novo ambiente.
Nesse sentido, compreendemos que o processo de adaptação tem seu tempo
determinado por inúmeros fatores, podendo variar de caso para caso. Muitas vezes,
depois de adaptado, mesmo que por um longo período, fatores externos ou do
próprio desenvolvimento infantil, podem levar o processo a recomeçar. Dessa forma,
o termo período de adaptação, com data e prazo para acabar, não abrange a
realidade dos envolvidos nesse processo, um feriado, o período férias, doenças são
apenas alguns exemplos mais comuns que, em muitos casos, favorecem a
retomada desse processo. Inclusive Balaban (1988, p. 25) afirma que, a separação é
uma experiência que ocorre em todas as fases da vida humana, sempre que nos
deparamos com um novo ambiente ou uma nova situação, mas a cada etapa da vida
nos preparamos para enfrentar essas mudanças.
Nas palavras de BALABAN (1988, p. 24):
A separação afeta as crianças. Afeta os pais. Faz brotar sentimentos nos professores. O início da vida escolar pode ser uma ocasião excitante ou também uma ocasião desagradável. Junto com aqueles que realmente estão encantados por estarem iniciando sua vida escolar, existem frequentemente outras crianças chorando ou pais tensos e nervosos. Os professores com frequência se sentem pressionados pelas necessidades contraditórias das crianças, pelas exigências dos pais e por suas inclinações pessoais.
Nesse contexto fica evidenciado o quanto o educador precisa estar atento a
essas dificuldades a fim de ir à busca de referenciais teóricos e criar estratégias para
o seu enfrentamento. É relevante ainda reconhecer que nessa fase inicial as
crianças não têm um maior entendimento do que está acontecendo ao seu redor, e
de que o seu desenvolvimento na adaptação poderá ser determinado e/ou
influenciado pelas experiências e qualidade das interações das quais participam. No
entanto, é decisivo, compreender a criança, o papel da família, da escola e dos
educadores como mediadores culturais no processo de formação das crianças.
Descrever sobre as especificidades encontradas no período de adaptação e
as estratégias que o educador pode utilizar para promovê-lo, torna-se importante a
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todos que diretamente ou indiretamente fazem parte desse fenômeno, pois além de
ser uma forma de socializar os conhecimentos adquiridos em uma experiência
particular, trazendo sugestões para algumas das indagações de profissionais da
área, pode contribuir para uma adaptação mais tranquila para a criança pequena,
que é um indivíduo em pleno desenvolvimento e que necessita de equilíbrio
emocional para crescer saudável.
A partir da experiência que vivenciei, já apresentada anteriormente, verifiquei
que o período de adaptação gera muitos sentimentos para todos os envolvidos
nesse processo. Entre eles podemos destacar: ansiedades, inseguranças,
angústias, medos, incertezas, enfim alegrias para uns e insatisfação para outros.
Durante essa etapa as crianças reagem de formas diferentes. Algumas se
espairecem com brinquedos e começam a brincar, interagindo com as outras
pessoas e com o espaço; outras reagem de modo mais agressivo, querendo
descontar em alguém sua insatisfação em estar ali; e ainda há aquelas que choram
e se recusam a participar das atividades escolares.
É possível ainda destacar que as crianças muito pequenas, na sua maioria,
necessitem de colo das educadoras e que por mais que o profissional entenda as
particularidades desse momento, muitas vezes não consegue atender todas as
solicitações e especificidades que cada criança revela/solicita, em virtude da
quantidade de criança que requer atenção especial ao mesmo tempo, mesmo
quando o número de crianças na sala seja adequado ao atendimento e estão e
obedecem às diretrizes nacionais de qualidade. Nesse caso é importante que a
escola se organize como um todo, para disponibilizar outros profissionais da escola,
com o objetivo específico de acolher uma criança que está chorando, ou ainda
assustada com essa nova situação.
Conforme os estudos e observações realizadas durante a pesquisa sobre a
temática, entende-se que a adaptação das crianças pequenas se inicia desde o
momento em que os seus pais começam a conversar com elas no ambiente familiar,
explicando que elas irão para uma escola, na qual, terão contato com outras
pessoas, outros brinquedos e materiais didáticos, mas que depois de algum tempo,
no final do horário os familiares irão buscá-las, o que possivelmente gera
expectativas nas crianças e de certa forma favorece sua compreensão acerca da
sua nova rotina.
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Diante do exposto, percebe-se que essa etapa se inicia desde a tomada de
decisão dos pais na escolha do espaço, nas conversas que estabelecem com as
crianças, quando comunicam aos familiares até elas ingressarem na instituição de
Educação Infantil perdurando, em alguns casos, por meses, dependendo de como
cada criança vai entender esse processo, de fatores internos e externos, e podendo
variar de acordo com questões sociais que interferem com o emocional humano,
considerando, inclusive, regressões.
Buscando entender essa fase de ingresso na instituição escolar, estudos
mostram que esse período provoca expectativas não só nas crianças mais também
em seus familiares, nos educadores, bem como em toda a equipe docente da
escola, que permanece atenta e empenhada para que essa experiência ocorra de
maneira satisfatória e tranquila para todos, principalmente para as crianças.
Nas palavras de Santos (2012, p.38):
(...) o processo de adaptação de uma criança é sim muito ‘doloroso’, não só para a criança, como para os pais e também para professora que faz a adaptação da criança. Os pais precisam estar muito seguros do que realmente querem (deixar a criança na escola), pois terão que manter firmes e não ceder a ‘chantagem’ dos pequenos que tentam de todas as maneiras manipulá-los. Tanto para a criança, como para o adulto uma situação nova é uma posição incômoda, pois o indivíduo sai da sua zona de conforto. Enfrentar algo desconhecido é sempre uma condição estressante independente da idade.
Quando falamos em adaptação precisamos atentar que em toda adaptação
ocorrem separações, situações nas quais nós temos que nos separar de alguém ou
de algo para passar a conviver em outros lugares, com outras pessoas e outros
objetos.
O ser humano vivencia diferentes separações em vários momentos da sua
vida, no transcorrer de sua existência, entre elas o ingresso na escola tendo que se
relacionar com um grande grupo, com várias opiniões, espaços e objetos; a
experiência de passar de uma escola para outra, deixando amigos e professores
para trás; a experiência de mudar de endereço, entre outras. Enfim, são tantas as
experiências de separações, mas que precisam ser superadas em suas
especificidades, contando, principalmente, com a ajuda de outras pessoas.
Conforme Balaban (1988, p. 25):
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existe um potencial de crescimento e de mudança em cada experiência de separação, ainda que predomine uma sensação temporária de perda. Algumas pessoas começam uma nova etapa sem pensar naquilo que deixaram para trás.
Muitas pessoas diminuem o conflito das perdas por reconhecerem que
algumas separações são positivas para uma nova fase do desenvolvimento. Assim,
compreendemos o ingressar na escola como uma passagem para uma nova fase de
desenvolvimento, tanto na vida das crianças quanto nas vidas de seus familiares e
professores. Segundo Balaban, (1988, p. 33):
Quando damos um passo à frente, para um novo estágio ou desafio, deixamos necessariamente, algo para trás. Sem esses altos e baixos a vida seria plana e as pessoas não se desenvolveriam. Quanto mais jovem for o indivíduo, mais ajuda ele precisará ter para seguir em frente sem sofrimentos. As crianças nos dizem, por meio do seu comportamento, que elas precisam da nossa ajuda.
Nesse sentido, precisamos estar atentos às características de cada criança,
observando as suas especificidades e singularidades, para melhor atendê-las. A
partir desse entendimento, podemos ajudar a criança em adaptação, prestando
atenção em seus comportamentos, ou seja, se ela está interagindo e de que forma
acontece essa interação, se está se alimentando; se está brincando, se está
realizando as atividades compatíveis a sua faixa etária. Também é de grande valor
realizar uma entrevista com os pais, conversar sobre as vivências em casa, para que
a partir disso possamos planejar e mediar atividades considerando suas
necessidades, interesses e principalmente sua realidade.
Conforme Sartori (2001), toda separação implica uma passagem, envolve
uma perda e o processo de adaptação corresponde a estas passagens. Desse modo
é necessário compreender que o processo de adaptação deve fazer parte do
currículo da escola. Isso implica atividades, materiais específicos, enfim, que toda
uma programação seja elaborada com a finalidade de acolher esse momento.
Compreendemos que o processo de adaptação é contínuo e se dá de forma
gradativa. Para que esse período ocorra de forma satisfatória deve-se considerar a
diversidade e a singularidade que cada educando possui ao ingressar no ambiente
escolar.
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No próximo item, detalharemos os sentimentos das crianças e as reações
mais comuns nesse período.
2.2. CRIANÇAS EM PROCESSO DE ADAPTAÇÃO
A entrada da criança pequena em creches e pré-escolas é carregada de
muita expectativa, porque tem um grande significado social pela importância que a
escola assume para a sociedade e parece significar, também, o encerramento de
um ciclo, de bebê para criança. Para muitas famílias é a primeira grande separação
da criança, gerando sentimentos diversos e contraditórios, de felicidade, pela nova
conquista social do filho(a) ou de imensa tristeza, pela possibilidade de estar
“perdendo” o filho(a). Esses sentimentos podem influenciar os sentimentos e
reações das crianças. Balaban (1988) acredita que, os sentimentos de pais e
crianças são intrinsecamente ligados e para compreender os das crianças,
necessariamente é fundamental entender e avaliar os dos pais.
Nas palavras de Balaban (1988, p.13):
A separação dos pais ou daquela pessoa que é a principal fonte de atenção torna as crianças pequenas frequentemente muito infelizes. Elas muitas vezes se sentem abandonadas, deixadas de lado e desprezadas.
Os primeiros dias em um novo ambiente podem ser muito prazerosos, ou de
muita ansiedade, porque a criança pode se encantar com o ambiente, com os
colegas, assim como, pode ficar assustada pelas muitas novidades. Geralmente, a
criança está acostumada a conviver com poucas pessoas da família, com as quais já
estabeleceram vínculos afetivos. Em casa, elas já estão habituadas a explorar e
interagir com segurança em todos os espaços, já no ambiente escolar, seja na
creche ou pré-escola, ela passará a conviver com pessoas e situações diferentes,
além de uma rotina bem distinta da qual estava acostumada.
Nos primeiros dias de aula é importante que os professores entrevistem os
pais, fazendo perguntas sobre as crianças para conhecê-las melhor e saber: o que
mais gostam, como elas se comportam em casa, etc. Se são apegadas a algo que
possa contribuir para que se sinta mais tranquila no novo espaço, um paninho, um
objeto, entre outros. Esse contato é muito importante, pois só após alguns dias de
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observação e contato é que os professores serão capazes de conhecê-las melhor e
de poder ajudá-las em suas reais necessidades.
Assim como há crianças com dificuldades para se adaptar, existem aquelas
com facilidades na adaptação, são crianças que possivelmente já tenham passado
por várias situações de separações como, por exemplo, ter que ficar com os avós ou
com babás enquanto os pais ou responsáveis trabalhavam, dentre outras. Diante
disso, a maioria das crianças que passou por situações de separação, tem mais
facilidade de se relacionar com outras crianças, com novos brinquedos e espaços
por iniciativas próprias e de realizar com mais tranquilidade as atividades dirigidas.
Mas para outras crianças a nova situação pode ser estressante e causar ansiedade,
Balaban (1988, p. 31) acrescenta que “nós conhecemos outras crianças que não se
encaixam nessas descrições e para as quais a entrada e a permanência continuada
numa creche ou num jardim de infância é estressante e mal sucedida”.
Nesse sentido, o trabalho do educador com essas crianças torna-se mais
difícil, uma vez que elas ficam agitadas sem compreender e aceitar o que está
acontecendo. Os pais ficam preocupados, e muitos chegam até a tirar o filho da
escola.
Daí a importância do responsável dialogar com a criança bem antes da sua
entrada na instituição. Falar sobre o espaço e o que possivelmente irá acontecer no
período de adaptação, como por exemplo: visitar o local com a criança antes das
aulas, apresentar professores e funcionários, oportunizar que a criança tenha
previamente contato com materiais didáticos e brinquedos educativos, ensinar a
criança a comer sozinha, ajudá-la a abandonar as fraldas, controlando o cocô e o
xixi. De acordo com Balaban, (1988, p. 31):
Desde que os pais são os mediadores das experiências de seus filhos pequenos, eles ajudam as crianças a compreenderem o significado dos acontecimentos e o comportamento das outras pessoas, através da maneira pela qual explicam esses fatos para as crianças e pela maneira deles, pais, agirem.
Compreendemos que o trabalho dos pais junto à escola é de extrema
importância para o crescimento pessoal de cada indivíduo envolvido no processo
educativo, principalmente das crianças, além de fornecer subsídios para que a
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equipe pedagógica possa desenvolver um trabalho de qualidade junto aos novos
alunos.
2.3. FAMÍLIAS EM PROCESSO DE ADAPTAÇÃO
Para a maioria dos pais, também é a primeira grande separação da criança e
geralmente gera muitos sentimentos e atitudes diferentes e por vezes contraditórios.
Por um lado estão felizes e orgulhosos com o momento tão significativo para a
criança e valorizado na nossa sociedade, mas por outro, demonstram insegurança
sobre diversos aspectos, tais como: esse é o momento certo de deixar meu filho(a)
sozinho(a)? Não é muito bebezinho? Fiz a escolha certa? Essas pessoas vão cuidar
bem da minha criança? São sentimentos que podem vir a tona nesses dias. Há
ainda os pais que tiveram experiências desagradáveis quando entraram pela
primeira vez na escola e essas lembranças as vezes interferem nas suas atitudes
diante os desafios que agora tem que enfrentar como adulto, conduzindo e
mediando os sentimentos do seu filho, deixando-o seguro para enfrentar essa nova
experiência.
Rêgo (1995, p.50) resumindo as contribuições de Balaban (1988) afirma:
E os pais como se sentem? Segundo BALABAN (1988), eles, geralmente, se sentem inseguros quanto à decisão de enviar seu filho à escola aos 2 anos; preocupação em deixá-lo com pessoas estranhas; lembram de suas próprias experiências anteriores de separação; têm medo que o filho goste mais da professora do que deles, estão excitados, emocionados, apreensivos, tristes, alegres são adjetivos que ela utiliza para descrever os sentimentos contraditórios que surgem nessa época.
Da mesma forma que demonstram sentimentos contraditórios, igualmente,
acorre com as reações: “alguns se recusam a deixar o filho sozinho, outros choram
junto com a criança na despedida e há ainda os que tentam sair escondidos” (Rêgo,
1995, p. 49).
Os familiares também passam por uma fase de adaptação tendo que se
acostumar com a ausência da criança em casa e a nova rotina estabelecida. Em
relação à escola em que realizei minha experiência, atuando como educadora
auxiliar, pude observar que ao deixarem seus filhos no Centro Municipal de
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Educação Infantil - CMEI alguns pais demonstraram insegurança chegando até a
chorar, preocupados se a sua criança iria ser bem cuidada, alimentada etc. Em
alguns casos percebe-se que provavelmente essa é a primeira separação da criança
com a família.
Nessa direção, destacamos a importância da realização de uma primeira
reunião, a fim de ajudar os pais e orientá-los sobre a nossa rotina, o cardápio
alimentar, os cuidados que temos com as crianças, os conteúdos curriculares que
iriam ser trabalhados durante o ano. Essas atitudes são capaz de transmitir
antecipadamente aos pais um clima positivo de segurança e coragem contribuindo
para que os mesmos conhecessem a nossa dinâmica de trabalho e pudessem ficar
mais tranquilos e seguros ao deixar suas crianças na instituição
Com relação às despedidas, alguns familiares pensam que é melhor sair
escondido após a criança se entreter para evitar o choro, porém para nós
educadores é melhor que os responsáveis se despeçam da criança, conversando
com ela que precisarão trabalhar, mas que em breve virão buscá-la. Inicialmente, os
pequenos irão reagir à despedida com choro, com raiva ou querendo se isolar, mas
com o tempo elas terminam se acostumando.
A presença de pais ou responsáveis na sala de aula nos primeiros dias de
adaptação, tanto pode ajudar o educador, passando segurança para a criança, como
também, pode trazer complicações, do tipo: deixar o educador desconfortável para
exercer o seu trabalho, interferindo em algumas situações em defesa do filho; ou até
influenciar na questão psicológica de outras crianças que os pais não puderam
participar desse momento, seja por motivo de trabalho, entre outros.
Cabe ao professor garantir aos pais que o trabalho será realizado em parceria
com eles a fim de proporcionar benefícios aos educandos. Nesse sentido, é
necessário planejar as primeiras semanas de acordo com a idade e as necessidades
das crianças e dos pais. Porque, provavelmente, quanto menores forem elas, mais
tempo será necessário para que sintam segurança e tranquilidade no ambiente
escolar.
Os pais devem, também, se preocupar em cumprir com os horários, tanto de
entrada e principalmente de saída da criança da escola, porque quando atrasam e
as crianças veem os colegas ir embora, fazendo com o que algumas delas se sintam
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abandonadas e no dia seguinte não querem ir a escola e nem tampouco permanecer
na instituição.
2.4. PROFESSORES EM PROCESSO DE ADAPTAÇÃO
Os professores têm uma nova situação para se adaptarem, pois mesmo que
já atuem há muito tempo com crianças nessa fase, um novo grupo sempre trás
expectativas, então é fundamental conhecer as especificidades das famílias e
crianças que está recebendo, criar laços de afetividade com alunos e responsáveis
e, principalmente, planejar de acordo com os interesses e necessidades das
crianças.
De acordo com Rêgo (1995, p.48):
Para as professoras, essa fase sempre é de muitas expectativas/ansiedades/excitações, com a perspectiva de encontrar um novo grupo de crianças e pais. Muitas vezes, elas se sentem pressionadas, tanto pelas famílias, quanto pelas outras pessoas da escola, para que façam as crianças pararem de chorar, no menor tempo possível.
No processo de adaptação, é imprescindível que pais e educadores
compreendam e respeitem o momento da criança, em conhecer a sua nova
realidade e estabelecer novas relações com o espaço, com as pessoas e com os
materiais. Conforme a criança for se integrando, podem ser observada pelos
professores que por meio do registro escrito e fotográfico serão capazes de ajudá-
las a superar o sentimento da separação.
Balaban (1988) explicitou em sua pesquisa que, assim como nos pais e
crianças, também nos professores surgem sentimentos diversos. De acordo com
Rêgo (1995, p.48):
(...) esse período faz surgir nos professores muitos sentimentos: anseio, quanto ao tempo que vai durar o choro; aflição, tendo tantos pais por perto durante alguns dias; a sensação de raiva, com as atitudes de alguns pais. É possível que nesse momento os professores lembrem ou revivam outras situações semelhantes, vivenciadas por eles anteriormente.
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Ainda discute o forte sentimento de impotência que geralmente os/as
professores/ras sentem, diante as situações complexas que têm de enfrentar, tais
como: crianças chorando, pais inseguros, entre outros.
Rêgo (1995, p.48) ainda relata a sua própria experiência como professora
descrevendo:
O choro ou a não adaptação da criança à escola gera muitos sentimentos em nós professoras. Talvez, o mais forte seja o de impotência. Parece que nada do que falamos ou fazemos dá certo, muitas vezes, sentimo-nos inseguras da nossa capacidade em dar conta do trabalho, diante das diversas tentativas para fazê-las se acalmarem e sem obter resultados positivos.
Mas são os professores que têm a responsabilidade profissional de mediar e
conduzir esse processo tão complexo e importante para todos os envolvidos, ou
seja, crianças, pais e os próprios professores,
Também como uma forma de contribuir com a segurança emocional das
crianças em adaptação, os professores precisam demonstrar compreensão e
confiança, falando para as crianças e seus familiares que esse é um momento
turbulento, porém necessário e que vai passar, pois quando nós reconhecemos que
o processo de separação é difícil, os pais compreenderão que nós estamos
acostumadas a lidar com essa situação e, consequentemente, ficarão mais
confiantes e tranquilos.
Portanto, devemos considerar a importância de incluir satisfatoriamente a
criança no ambiente escolar, o professor deve oportunizar momentos que
possibilitem a socialização criança - criança, criança - adulto e criança - espaço.
Nessa perspectiva, é necessário criar um ambiente lúdico e prazeroso, e organizar
uma rotina diversificada, mostrando para elas cada etapa do dia, o que estava
acontecendo, como estava acontecendo.
É adequado destacar que a afetividade é um dos fatores principais para a
conquista de uma boa adaptação, uma vez que a criança é um ser essencialmente
afetivo. Por esse motivo é preciso possibilitar que o emocional de cada criança
floresça e se amplie.
O indivíduo sem afetividade torna-se sem motivação para realizar possíveis
ações do dia-dia. Nesse sentido, Rossini (2001, p.15) declara que “a falta de
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afetividade leva a rejeição aos livros, á carência de motivação para a aprendizagem,
á ausência de vontade de crescer”, portanto na escola ambos, educadores e
crianças, devem estar envolvidos emocionalmente.
Rossini (2001, p.16) ainda relata que “aprender deve estar ligado ao ato
afetivo, deve ser gostoso e prazeroso”, pois a afetividade é a base da vida. Se nós
não estamos bem afetivamente, o nosso desempenho na sociedade estará abalado.
Na psicologia, a primeira relação afetiva é chamada de apego (ROSSINI,
2001). Na escola, nós professores exercemos o papel da figura de apego. Quando o
espaço da instituição está bem organizado a criança sente-se atraída a se envolver,
mas sempre com a visão de onde o professor se encontra como quem não quer
perdê-lo de vista. Por isso, a importância do cuidado na organização do espaço da
sala de aula, de modo que facilite a visão ampla da criança, bem como permitam
aos professores observá-las, cuidá-las e acolhê-las.
Por fim, ressaltamos a necessidade da parceria entre a escola e a família na
promoção de um processo adaptativo afetuoso, sensível e que permita às crianças
serem destemidas, curiosas e felizes no ambiente escolar.
3. ANÁLISE DOS DOCUMENTOS OFICIAIS SOBRE O PROCESSO DE
ADAPTAÇÃO NA EDUCAÇÃO INANTIL
Ao longo da história as funções adotadas pelas instituições de Educação
Infantil vêm se transformando de acordo com as transformações sociais, políticas e
econômicas.
Inicialmente, esse atendimento tinha apenas um caráter assistencialista,
tendo como função principal guardar crianças, com a revolução industrial e a
inserção da mulher no mercado de trabalho, houve a necessidade de se criar um
espaço para que as mães pudessem deixar seus filhos, daí o surgimento das
creches, com a finalidade de atender as classes populares e consequentemente
liberar a mão de obra feminina.
Durante o século XX, no Brasil, surge um novo momento, precisamente em
1961, é aprovada a LDB (Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) que
defende e organiza a criação de escolas maternais ou jardins de infância. No ano de
1996, é constituída a Lei 9394/96, a qual propõe que os municípios sejam
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responsáveis por ofertarem educação infantil e reconhece essa modalidade de
ensino como primeira etapa da educação básica.
Diante desse contexto surge a necessidade de se criar documentos que
regulamentem e organizem as atividades realizadas pelas instituições de Educação
Infantil no Brasil. Dentre outros, surgem então as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Infantil (BRASIL, 2010) e os Referenciais curriculares Nacionais
para a Educação Infantil (BRASIL, 1998).
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, fixadas pela
Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009, é um documento de cumprimento
obrigatório a nível nacional, as informações e definições possuem requisito legal e
devem ser devidamente cumpridas pelas instituições de ensino. Entre as definições
apresentadas podemos destacar a definição de criança como: Sujeito histórico e de
direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua
identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa,
experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade,
produzindo cultura (BRASIL, 2010, p.12). Através desse novo olhar a criança
ganhou seu espaço dentro das instituições educativas, tornando-se o centro do
processo.
As propostas pedagógicas de Educação Infantil devem respeitar os princípios
norteadores desse documento, apresentados sob a seguinte forma:
Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identidades e singularidades. Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática. Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais (BRASIL, 2010, P. 16).
Diante disso, destacamos que embora o tema de pesquisa não se apresente
de forma explicita no documento, a adaptação esta implicitamente relacionada aos
princípios éticos e políticos, o princípio ético tem como uma de suas finalidades o
desenvolvimento da autonomia enquanto o princípio político anuncia como um de
seus objetivos: a ordem democrática.
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O outro documento analisado é o Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil (BRASIL, 1998), organizado em três volumes: volume I -
Introdução; volume II - Formação Pessoal e Social, e volume III - Conhecimento de
Mundo. Trata-se de um documento Nacional, entretanto, sua utilização é facultativa,
cabe à escola decidir se vai utiliza-lo ou não.
O RCNEI possui caráter instrumental e didático, embora não seja obrigatório
é um importante instrumento de trabalho para os professores e toda comunidade
escolar, aborda de maneira global e integrada os eixos trabalhados com as crianças.
Neste documento encontramos subsídios que estão diretamente ligados ao
processo de adaptação e sua importância para os sujeitos envolvidos: pais, crianças
e professores. De acordo com o RCNEI (BRASIL,1998, p.79, V.1)
O ingresso das crianças nas instituições pode criar ansiedade tanto para elas e para seus pais como para os professores. As reações podem variar muito, tanto em relação às manifestações emocionais quanto ao tempo necessário para se efetivar o processo.
Fica evidenciado que o documento tem a visão do termo adaptação como
processo e não como algo pronto com data para terminar, conforme citado
anteriormente no tópico 1.1. Nesse sentido, o RCNEI (BRASIL, 1998) aborda que
Instituições de Educação Infantil devem ter flexibilidade diante dessas
singularidades, atendendo aos pais e as crianças nesses momentos.
Um dos pontos abordados no documento é a importância da entrevista com
os pais para que os professores tenham a oportunidade de conhecer um pouco a
criança antes da sua chegada à instituição. De acordo com o RCNEI (BRASIL, 1998,
p. 80, V 1):
A maneira como a família vê a entrada da criança na instituição de educação infantil tem uma influência marcante nas reações e emoções da criança durante o processo inicial. Acolher os pais com suas dúvidas, angústias e ansiedades, oferecendo apoio e tranquilidade, contribui para que a criança também se sinta menos insegura nos primeiros dias na instituição.
Com base no RCNEI (BRASIL, 1998) ao iniciar a sua vida escolar, a criança
encontra um mundo novo. Ela precisa se adaptar a uma nova situação, já que tudo é
novo, educadores, espaços e amigos. Tantas mudanças causam ansiedade e
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insegurança nas crianças. Nesse sentido, justifica-se a necessidade do cuidado e
atenção especial à elas.
Desse modo, percebemos a necessidade de reduzir o horário nos primeiros
dias de aula, objetivando minimizar as angústias e as ansiedades das crianças
nesse primeiro contato com a escola. O documento ainda faz uma ressalva referente
às creches que possuem atendimento em regime integral:
Quando o atendimento é de período integral, é recomendável que se estabeleça um processo gradual de inserção, ampliando o tempo de permanência de maneira que a criança vá se familiarizando aos poucos com o professor, com o espaço, com a rotina e com as outras crianças com as quais irá conviver. É importante que se solicite, nos primeiros dias, e até quando se fizer necessário, a presença da mãe ou do pai ou de alguém conhecido da criança para que ela possa enfrentar o ambiente estranho junto de alguém com quem se sinta segura. Quando tiver estabelecido um vínculo afetivo com o professor e com as outras crianças, é que ela poderá enfrentar bem a separação, sendo capaz de se despedir da pessoa querida, com segurança e desprendimento. (BRASIL,1998, P 82. V. I).
Nós professores podemos auxiliar aos poucos a criança a se familiarizar com
sua nova rotina: os novos horários de alimentação, de sono, de banho e das
brincadeiras levando-a a um equilíbrio dos seus horários na creche. Com base no
Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil- RCNEI (BRASIL, 1998, p. 82
V. 1)
O professor pode planejar a melhor forma de organizar o ambiente nestes primeiros dias, levando em consideração os gostos e as preferências das crianças, repensando a rotina em função de sua chegada e oferecendo-lhes atividades atrativas. Ambientes organizados com materiais de pintura, desenho e modelagem, brinquedos de casinha, baldes, pás, areia, água etc.
Os Referencias Curriculares Nacionais para a Educação Infantil - RCNEI
(BRASIL, 1998, p. 80) recomendam poucas crianças por turma no período da
adaptação para que possam ter uma atenção mais individualizada do professor.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil apresenta grandes
contribuições para a atuação do professor durante o processo de adaptação,
ressalta a importância de considerar a participação e colaboração coletiva, de pais,
crianças e professores para que juntos possam buscar alternativas para a
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construção de um vínculo que se inicia com o ingresso da criança na instituição e
que vai se estender durante todo ano letivo.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho de pesquisa e análise dos documentos oficiais e
referenciais teóricos possibilitou de maneira critica e reflexiva compreender melhor
como se dá o processo de inserção na escola, quem são os envolvidos e seus
papeis na contribuição para uma boa entrada na instituição educativa. Percebemos
que as dificuldades de adaptação de crianças, muitas vezes não são atribuídas à
escola, às famílias e às crianças, bem como ao contexto social no qual ela está
inserida.
A análise dos documentos aponta que tanto a família quanto escola têm
papeis bem definidos no processo de adaptação, mas cada um com suas
responsabilidades. Ambos adaptam e educam, com o objetivo de tornar a processo
de inserção na escola mais tranquilo e organizado.
Os documentos analisados representam um grande avanço para o âmbito
educacional, tendo em vista que foram elaborados para auxiliar o trabalho dos
professores dentro das instituições de Educação Infantil. Entretanto, não podemos
deixar de destacar que embora os documentos sejam de nível nacional, muitos
professores de instituições públicas, desconhecem sua existência e não se utilizam
das suas orientações.
Nessa perspectiva, fica evidenciada a importância das contribuições
documental e teóricas acerca desse tema, que objetivou esclarecer a importância da
família e da escola diante das dificuldades que pais, educadores e crianças se
deparam no período de adaptação.
Portanto, este estudo nos possibilitou mais conhecimentos acerca das
dificuldades que o ser humano enfrenta em separações e, mais especificamente,
sobre as crianças em processo adaptação e como intervir na escola diante de certos
desafios enfrentados pelos discentes, familiares e corpo docente, de forma a buscar
estratégias que possam contribuir com uma adaptação adequada e de qualidade
para as crianças e seus responsáveis. Revelou ainda, que tanto a escola, quanto a
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família devem trabalhar juntas, de forma que a adaptação das crianças seja
realmente significativa, prazerosa e tranquila.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AROEIRA, Maria Luisa Campos.Projetos para a educação infantil. Belo Horizonte: Dimensão, 2004.
BALABAN, Nanci. O início da vida escolar: trad. Yeda Luci Sehm Berlin – Porto
Alegre: Artes médicas, 1988.
BARBOSA, Maria Carmem Silveira. Por Amor e Por Força: Rotinas na Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2006. BORGES, M. F. S. T. e SOUZA, R. C. de (org.).A práxis na formação de educadores de educação infantil. Rio de Janeiro: DP & A, 2002. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil: Brasília: MEC / SEF, 1998. v. 1 e 2.
_______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. – Brasília: MEC/SEB, 2010.
RAPOPORT, Andrea. (et al). O dia a dia na educação infantil. Porto Alegre:
Mediação, 2012.
RÊGO, Maria Carmem Freire Diógenes. Recortes e Relatos: a criança de 2 e 3 anos no espaço escolar. Natal, RN. 1995. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal do Rio Grande do Norte. ROSSINI, Maria Augusta Sanches. Pedagogia afetiva. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. SANTOS, Elisandra Pereira dos. Adaptação de crianças na educação infantil. Revista e-Ped – FACOS/CNEC. Osório, RS. Vol. 2, n. 1, p. 38, ago. 2012. ISSN
2237-7077. Disponível em: http://facos.edu.br/publicacoes/revistas/e-ped/agosto_2012/pdf/adaptacao_de_criancas_na_educacao_infantil.pdf. Acesso em: 20 mai. 2016. SARTORI, Cristina H. G. Entrada da criança na escola e período de adaptação. Campinas, São Paulo: Editora Alínea, 2001.
SÁ-SILVA, Jackson Ronie; ALMEIDA, Cristóvão Domingos de; GUINDANI, Joel Felipe. Pesquisa documental: pistas teóricas e metodológicas. Revista Brasileira de História & Ciências Sociais,Qualis Capes B1 - A Nacional, ano I, n. I, p. 4, jul. 2009. ISSN 2175-3423. Disponível em: https://www.rbhcs.com/rbhcs/article/view/6/pdf. Acesso em: 20 mai. 2016. NOTAS SCIELO BRASILEIRO–O Scientific Electronic Library Online é um portal de revistas
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