processo civil iii -...

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Unidade 1: O sistema recursal Revisão - os atos dos sujeitos processuais: - Os atos das partes estão sujeitos à preclusão, podendo ser ela: a. Preclusão consumativa: ocorre nos casos em que a parte cumpriu o que foi demandado, não podendo mais desfazer ato praticado. b. Preclusão temporal: esgotamento do prazo para a prática do ato, pela própria inércia da parte. c. Preclusão lógica: a parte pratica um ato incompatível com outro ato anteriormente praticado. Ex.: a parte cumpre a decisão dada pelo juiz se sujeitando a ela e depois deseja "voltar atrás". Isso não é possível, pela preclusão lógica. - Os atos do juiz também podem estar sujeitos à preclusão. Esses atos se dividem em: a. Sentença b. Decisão interlocutória c. Despacho: atos judiciais de mero impulso processual, para que ele avance na sequência ordenada de atos. Os despachos são irrecorríveis, pois não tem caráter decisório. * Exceção à preclusão para o magistrado: Via de regra as decisões do juiz também estão sujeitas à preclusão. A exceção a essa regra é o chamado juízo de retratação, que só terá a possibilidade de ocorrer quando for interposto um tipo de recurso que abarca o juízo de retratação. - Nos tribunais, por sua vez, os atos a serem praticados são: a. Decisões monocráticas: o recurso cabível será o agravo interno. Direito Processual Civil III Página de 1 52 Direito Processual Civil III Faculdade de Direito da UFMG Professora: Juliana Cordeiro de Faria Ana Clara Pereira Oliveira 2016/1º - Diurno

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Unidade 1: O sistema recursal • Revisão - os atos dos sujeitos processuais:

- Os atos das partes estão sujeitos à preclusão, podendo ser ela:

a. Preclusão consumativa: ocorre nos casos em que a parte cumpriu

o que foi demandado, não podendo mais desfazer ato praticado. b. Preclusão temporal: esgotamento do prazo para a prática do ato,

pela própria inércia da parte. c. Preclusão lógica: a parte pratica um ato incompatível com outro

ato anteriormente praticado. Ex.: a parte cumpre a decisão dada

pelo juiz se sujeitando a ela e depois deseja "voltar atrás". Isso não

é possível, pela preclusão lógica. - Os atos do juiz também podem estar sujeitos à preclusão. Esses atos se

dividem em:

a. Sentença b. Decisão interlocutória c. Despacho: atos judiciais de mero impulso processual, para que ele

avance na sequência ordenada de atos. Os despachos são

irrecorríveis, pois não tem caráter decisório. * Exceção à preclusão para o magistrado: Via de regra as decisões do

juiz também estão sujeitas à preclusão. A exceção a essa regra é o

chamado juízo de retratação, que só terá a possibilidade de ocorrer

quando for interposto um tipo de recurso que abarca o juízo de

retratação.

- Nos tribunais, por sua vez, os atos a serem praticados são:

a. Decisões monocráticas: o recurso cabível será o agravo interno. Direito Processual Civil III Página de 1 52

Direito Processual Civil III Faculdade de Direito da UFMG

Professora: Juliana Cordeiro de Faria Ana Clara Pereira Oliveira

2016/1º - Diurno

b. Decisões colegiadas (acórdão): vários recursos são cabíveis,

dependendo da essência da decisão. c. Despachos.

- Os órgãos que integram os tribunais são, via de regra, colegiados.

Nesse sentido, destaca-se a importância do regimento interno dos

tribunais, que serão material de estudo nesse semestre. Quando os

autos chegam no tribunal, é feita a distribuição. Por meio desta será

escolhido um juiz para presidir os trabalhos de julgamento, o qual será

chamado relator. Este relator poderá, inclusive, tomar decisões

monocráticas, ou seja, sem necessidade de consulta ao órgão

colegiado, em determinadas situações.

• Dinâmica das instâncias processuais:

- Na primeira instância, os atos decisórios serão sentenças ou decisões interlocutórias, enquanto na segunda e nos órgão superiores serão as

decisões monocráticas e colegiadas.

• Recorribilidade dos atos decisórios: Os atos decisórios do juiz (sentença

e decisão interlocutória) são, por regra, recorríveis. Isso pois, a cada ato

decisório, uma das partes tem o provimento de sua pretensão enquanto a

outra não. Como o juiz é falível, concebeu-se o sistema de impugnação

dos atos processuais, ou sistema recursal.

• Princípios estruturais do sistema recursal: - Taxatividade: O sistema recursal é taxativo, o que equivale a dizer que

as vias para impugnar os atos decisórios devem estar obrigatoriamente

previstas em lei. Dessa forma, só poderá ser recurso o expediente

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técnico que está previsto no sistema jurídico. Esse rol exaustivo é

previsto pelo artigo 994 do NCPC . 1

- Adequação: cada ato judicial tem um recurso adequado para ser

impugnado. Esse princípio recebe o nome de princípio da

unirecoribilidade ou singularidade. Um dos fatores que torna tal

princípio importante é que cada recurso tem uma técnica de julgamento

própria.

- Princípio da instrumentalidade das formas: disposto no artigo 932,

parágrafo único:

* Exemplo de aplicação dos princípios: Em uma sentença, o juiz julga as

preliminares e a tutela antecipada, bem como julga procedente a ação,

tudo isso no mesmo instrumento (sentença). Impende destacar que as

preliminares, assim como a tutela, poderiam ter sido julgadas por meio

de decisão interlocutória, em fase processual anterior. Porém, isso não faz

com que devam ser interpostos diferentes recursos para impugnar os

diferentes atos decisórios, mas apenas cabe o recurso da apelação, já

que todas as questões foram julgadas na sentença. Tudo isso ocorre

devido ao princípio da unirecoribilidade. Assim, caso a parte interponha

um recurso inadequado, há preclusão consumativa desse ato processual,

sendo esse ato avaliado tal e qual foi praticado. Se for, de fato,

inadequado, haverá o trânsito em julgado da ação, acarretando grande

prejuízo à parte por um mero erro técnico de seu procurador.

• O duplo exame do recurso: (1) Juízo de admissibilidade do recurso: os recursos deverão observar

pressupostos de admissibilidade. Se um pressuposto não for

atendido, o recurso não será conhecido. Atenção ao fato de um

Observação: os embargos infringentes não existem mais no rol dos recursos do novo CPC, mas ainda existe o instituto 1

com algumas modificações, o que será tratado posteriormente.

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CPC/15: Art. 932. "Incumbe ao relator: (...) Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco)

dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível. "

desses pressupostos é a própria adequação. Para essa primeira fase,

usam-se as expressões: "conhecer" ou "não conhecer" do recurso. (2) Juízo do mérito do recurso: uma vez decidida a admissibilidade,

sendo o recurso admissível, serão analisadas as razões recursais, ou o

mérito do recurso. Ele se relaciona com o defeito da decisão alegado

pelo recorrente, podendo ou não coincidir com a pretensão do autor

no processo de conhecimento. Nesse caso, se diz: "dar provimento

(ou não) ao recurso".

• O agravo de instrumento e o novo CPC: Uma mudança interessante

ocorrida entre o antigo e o novo CPC é em relação ao agravo de

instrumento. No NCPC, subsiste apenas a modalidade de agravo de

instrumento, enquanto no CPC/73 existiam duas modalidades, o agravo

retido e o de instrumento, vejamos:

a. Agravo retido : esse recurso era admitido contra decisões 2

interlocutórias, permanecendo o agravo então "retido" nos autos a

pedido do agravante. Em outras palavras, o agravo retido deveria ser

protocolado na primeira instância, porém não seria feita a sua

apreciação de imediato, mas sim no julgamento de eventual

apelação, caso a última se fizesse necessária. Dessa forma, seu exame

se dava apenas depois do julgamento do processo no caso de haver

sido interposto recurso de apelação pelo sucumbente. Ex.: o juiz

indeferiu a perícia solicitada pela parte, que interpôs agravo para

combater a decisão. Ao final do processo foi dado provimento àquela

parte, e, por isso ela logicamente desiste do agravo retido. Lado

outro, caso o oposto ocorresse, a parte deveria, em vias de apelação,

fazer um pedido preliminar de exame da questão do agravo, que seria

finalmente analisado. Era a regra geral no antigo CPC.

Art. 523 (CPC/73):"Na modalidade de agravo retido o agravante requererá que o tribunal dele conheça, 2

preliminarmente, por ocasião do julgamento da apelação. (...)

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b. Agravo de instrumento : recurso cabível de decisão proferida no 3

curso do processo, podendo ser utilizado em qualquer tipo de

processo, inclusive no de execução e no procedimento especial, bem

como no comum. Era a exceção no antigo CPC, apenas ocorrendo se

demonstrada suscetibilidade de causar graves danos à parte. A

interposição do recurso se dará diretamente na segunda instância, na

qual a questão controvertida será imediatamente revista pelo tribunal.

Ressalte-se que a essência dos institutos (agravo retido e de

instrumento) era a mesma, o que se modificava era apenas o

procedimento (o primeiro era retido nos autos enquanto o segundo

era diretamente apreciado). Assim, entende-se que o Código vigente

excluiu a modalidade retida, mas continuou autorizando o agravo de

instrumento, o agravo interno e o agravo em recurso especial e

extraordinário, que veremos posteriormente.

• O sistema intertemporal: importante salientar que o Brasil adota esse

sistema, e por meio deste o código de 73 ainda poderá ser aplicado por

muitos anos, principalmente no que se diz respeito ao sistema recursal.

Isso pois a lei a ser aplicada é a lei em vigor no tempo da prolação da

decisão, que se difere, dependendo da instância:

- 1ª instância: equivale à quando o juiz data e assina a decisão;

Art. 524 (CPC/73): "O agravo de instrumento será dirigido diretamente ao tribunal competente, através de petição 3

com os seguintes requisitos: I - a exposição do fato e do direito; II - as razões do pedido de reforma da decisão; III - o nome e o endereço completo dos advogados, constantes do processo."

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- 2ª instância: equivale à data da sessão de julgamento na qual é

proclamado o resultado.

• Os objetivos da impugnação:

(1) Cassação: extingue-se a decisão, que será invalidada. Lembrando que

a cassação não necessariamente ocorre apenas por um vício da

sentença, mas pode decorrer também de um ato anterior que

contamine a decisão final. (2) Reexame: não se persegue a invalidação, mas tão somente a reforma

da decisão. (3) Integração e aperfeiçoamento: nesse caso o recurso a ser interposto

é o de embargos de declaração, cabíveis em relação à todo ato

judicial no sistema brasileiro. Os embargos visam melhorar uma

decisão que apresenta vícios intrínsecos que não configurem erro de

julgamento ou de procedimento, como, por exemplo, na situação em

que a sentença é omissa, contraditória ou obscura. A particularidade

desse tipo de recurso é que o próprio prolator da decisão será o

julgador do recuso. • Recorribilidade das Interlocutórias na 1ª instância:

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Unidade 1.1) Agravo de instrumento: • Cabimento: artigo 1015 CPC/15. Ressalve-se que as hipóteses de

cabimento devem ser entendidas pela própria lógica do instituto do

agravo de instrumento e sua necessidade de apreciação imediata pelo

tribunal de superior instância.

- Há discussão doutrinária no que diz respeito ao rol apresentado pelo

artigo 1015 ser taxativo ou exemplificativo. Vejamos:

a. Rol exemplificativo: tal corrente defende que apenas são trazidos

pelo artigo 1015 exemplos de cabimento do agravo de

instrumento. Nessa lógica, entende-se que não foi tão

profundamente alterado o sistema do CPC/73, pois ainda deveria

ser ponderada a necessidade de análise imediata pelo tribunal

(quando suscetível de causar dano à parte), tendo em vista que o

rol não seria taxativo. A consequência desse entendimento é que o

objetivo do novo CPC de reduzir expedientes e agilizar o processo

seria violado, pois o agravo seria usado de forma irrestrita, por

analogia. b. Rol taxativo: defende que o recurso de agravo de instrumento só

cabe nas hipóteses descritas. Assim, no plano prático, caso o

direito violado não esteja disposto no rol (como, por exemplo, o

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CPC/15: Art. 1.015. "Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: I - tutelas provisórias;

II - mérito do processo; III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;

IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica; V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação;

VI - exibição ou posse de documento ou coisa; VII - exclusão de litisconsorte;

VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio; IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;

X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução; XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1o;

XII - (VETADO); XIII - outros casos expressamente referidos em lei.

Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário. "

caso de incompetência absoluta) deve ser impetrado mandado de segurança contra o ato judicial, sendo que a parte prejudicada

seria o impetrante e o juiz seria a autoridade coatora. A parte

beneficiada pela decisão combatida entraria como litisconsorte

necessário da parte coatora. • Prazo: 15 dias (úteis). Deve ser feito por meio de protocolo integrado,

protocolo em segunda instância, protocolo eletrônico, postagem ou fax

(lei 9.800). Destaca-se que o protocolo via fax não é uma dispensa do

original, já que deve ser apresentado o protocolo original. No caso de

atos processuais suscetíveis a prazo, deverá ser em 5 dias (corridos),

contados a partir do vencimento do prazo, independentemente de

quando se deu a apresentação do protocolo por fax. Lado outro, se não

houver prazo processual a ser cumprido para tal ato, deve ser

apresentado protocolo original 5 dias após o fax.

• Distribuição e registro: - Ocorre de acordo com a disposição interna de cada tribunal,

respeitando os seguintes princípios:

o Alternatividade; o Sorteio eletrônico; o Publicidade;

- Prevenção para recursos subsequentes - O relator poderá (artigo 932, NCPC):

o Não conhecer, prover ou desprover monocraticamente, nos casos dispostos pelo artigo 932, IV (CPC/15);

o Atribuir ou negar efeito suspensivo; o Deferir ou indeferir antecipação de tutela recursal; o Determinar intimação do agravado e, eventualmente, MP.

• Requisitos (artigo 1016, NCPC): - Deve ser direcionado ao tribunal;

- Qualificação das partes;

- Exposição de fatos de direito;

- Razões do pedido de reforma;

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- Pedido;

- Nome e endereço dos advogados;

- Instrumento (artigo 1017, NCPC): inicial, contestação, petição que

origina decisão recorrida, decisão recorrida, comprovante de

intimação, outras peças. Atenção ao fato de que, se for inteiramente

eletrônico o processo, não há necessidade de formação do

instrumento;

- Custas recursais.

• Preparo (art. 1007): sim.

- A revisão das decisões mobiliza pessoal e gera custos, que deverão ser

pagos pelo recorrente. O preparo está regulado pelo artigo 1007 do

NCPC e suas dispensas estão dispostas pelo 1º parágrafo. O preparo

deverá ser feito antes da interposição de recurso e deverá ser juntada

processualmente a guia de preparo. Na sistemática do CPC/73, os vícios

formais de recurso eram insanáveis. Então, caso a parte recolhesse o

preparo, porém não juntasse a guia, o recurso não seria recebido. O

CPC/15, por outro lado, tornou grande parte desses vícios sanáveis,

com exceção de alguns, como, por exemplo, a questão do prazo. O

caso da não juntada da guia de preparo, então, não é mais considerado

vicio insanável. Assim, no sistema atual é possível sanar o vício, devendo

a parte juntar o comprovante. No entanto, ele ser multado com o valor

do dobro das custas de preparo. Vejamos:

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- Insuficiência do preparo: ser pago valor menor que o devido é também

um vicio possível. Esse vício é sanável, em consonância com o artigo

1007, §2º. Não há mudança, nesse aspecto, do novo para o antigo CPC.

Critica-se o fato de não haver multa para esse caso, o que demonstra

uma incoerência do sistema, que sanciona aquele que pagou a

totalidade mas não juntou a guia e não o que pagou de forma

insuficiente.

• Óbice à recorribilidade: apesar do disposto no artigo 1009, parágrafo

primeiro e 278 , caso a parte deseje manter viva a possibilidade de 4 5

recorrer, deverá fazer, via petição simples, a ressalva de que houve o

cerceamento da defesa antes de praticar o ato subsequente (que poderá

ser incompatível com a vontade de recorrer). Isso tudo para que não seja

interpretado como aceitação tácita e incida no artigo 1000 . 6

• Efeitos do agravo de instrumento: 1. Suspensivo: Quando há efeito suspensivo, enquanto o recurso não é

julgado, a decisão não é apta a produzir efeitos (eficácia diferida para

momento posterior ao julgamento do recurso). O efeito suspensivo é

atribuído pela lei. No CPC/73, a maioria dos recursos era dotada de

efeito suspensivo, o que se alterou no NCPC, já que agora a regra

geral é não ocorrer o efeito suspensivo, pelo artigo 995, CPC. O

efeito suspensivo poderá, no entanto, ser atribuído pela lei ou por

decisão judicial. Para tanto, a parte deverá requerer o efeito

suspensivo nas próprias razões recursais ou por uma petição

incidental (superveniente), demonstrando o periculum in mora e a

probabilidade de provimento do recurso na fundamentação.

NCPC. Art. 1.009. (...) § 1o "As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não 4

comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões. (...)"

NCPC. Art. 278. "A nulidade dos atos deve ser alegada na primeira oportunidade em que couber à parte falar nos 5

autos, sob pena de preclusão. Parágrafo único. Não se aplica o disposto no caput às nulidades que o juiz deva decretar de ofício, nem prevalece a preclusão provando a parte legítimo impedimento."

NCPC. Art. 1.000. "A parte que aceitar expressa ou tacitamente a decisão não poderá recorrer. Parágrafo único. 6

Considera-se aceitação tácita a prática, sem nenhuma reserva, de ato incompatível com a vontade de recorrer."

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Exemplo: em uma ação de reintegração de posse, é concedida tutela

provisória. Não havendo, via de regra, o efeito suspensivo, a parte

perdedora deverá deixar o imóvel, pois concedida a tutela. Não

obstante, desejando agravar da decisão, ela poderá requerer que

seja aplicado o efeito suspensivo, e este poderá ser deferido, caso

atendidos os requisitos acima demonstrados. Se isso ocorrer, a parte

não mais precisará deixar o imóvel, pois fica suspensa a eficácia da

decisão, após o agravo.

1.a) Efeito suspensivo ativo: As noções de cautelar e antecipada

novamente se aplicam ao efeito suspensivo, podendo ele ser

conservativo (cautelar) ou satisfativo (antecipado). O primeiro é a

suspensão clássica, enquanto a segunda equivale ao efeito suspensivo ativo ou antecipação da tutela recursal, não bastando

meramente a suspensão, mas requerendo uma ordem ativa (ex.:

retirada do nome do agravante do SPC, pois apenas a suspensão dos

efeitos da decisão não atende o agravante).

2. Efeito devolutivo: a matéria é "devolvida" para reexame em instância

superior. Nesse caso, via de regra, há execução provisória da decisão.

O efeito devolutivo serve também para delimitar o campo de análise

do tribunal, sendo assim, apenas a matéria exposta nas razões

recursais poderá ser alvo do reexame. Nesse sentido, aspectos da

decisão que não forem trazidos pelo agravante não serão analisados.

3. Efeito substitutivo: havendo julgamento pelo tribunal do mérito do

recurso, haverá a substituição da decisão anterior, proferida em

primeira instância.

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CPC/15: Art. 995. "Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso.

Parágrafo único. A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do relator, se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e

ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso"

4. Efeito translativo: o tribunal poderá, em relação a questões de

ordem pública, analisar de forma mais profunda a ação, mesmo com

relação à matérias que não tenham sido objeto do conteúdo do

recurso, por ser assunto superior à vontade das partes.

• Juízo de retratação: o artigo 1018 traz a possibilidade de um juízo de

retratação por parte do juiz de primeira instância. Nesse sentido, a

petição deverá ser, inicialmente, apresentada na primeira instância para

que a sentença possa ser reformada, se for de entendimento do juiz.

• Ordem dos processos nos tribunais : art. 926/946 7

- Inicialmente, destaca-se o artigo 932, que confere ao relator poderes

que incluem a possibilidade de ser proferida decisão monocrática. Para

contrabalancear essa exceção ao sistema dos tribunais (decisão

colegiada), há possibilidade ampla de recorrer a tal decisão.

- No CPC/15, o agravo interno tem grande importância para o novo

programa processual do país, que almeja uma maior qualidade das

decisões. No NCPC, abre-se vista ao agravado, e só posteriormente à

vista o relator poderia exercer o juízo de retratação, promovendo

contraditório pleno. No CPC/73, o agravo interno não autorizava o

contraditório formal sob justificativa de que a outra parte poderia

recorrer posteriormente. Porém, esse sistema trazia cerceamento de

defesa à outra parte e o julgamento muitas vezes era anulado.

Observação: essa dinâmica se aplica, via de regra, todo recurso, e não apenas ao agravo de instrumento.7

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CPC/15: Art. 1.018. "O agravante poderá requerer a juntada, aos autos do processo, de cópia da petição do agravo de instrumento, do comprovante de sua interposição e da relação dos documentos que instruíram o recurso.

§ 1o Se o juiz comunicar que reformou inteiramente a decisão, o relator considerará prejudicado o agravo de instrumento.

§ 2o Não sendo eletrônicos os autos, o agravante tomará a providência prevista no caput, no prazo de 3 (três) dias a contar da interposição do agravo de instrumento.

§ 3o O descumprimento da exigência de que trata o § 2o, desde que arguido e provado pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo de instrumento"

- A grande maioria dos tribunais, para agravo interno, dispensa o

preparo. Para saber se o preparo é necessário, deve-se consultar o

regimento interno.

- Não havendo retração, prossegue-se ao julgamento colegiado, o qual

pode ser:

o Virtual: há apresentação do voto do relator em meio virtual e os outros componentes do tribunal deverão dizer se estão de acordo ou se desejam apresentar voto divergente na 8

plataforma. Esse julgamento é mais rápido, porém, há possibilidade das partes de oporem a essa modalidade. As razões levantadas pelas partes que não desejam usar a ferramenta virtual são: a vontade de realizar sustenção oral ou o desejo de assistir a sessão de julgamento (tem-se acesso mais rápido à decisão, enquanto no virtual é necessário esperar a publicação do acórdão).

atenção ao fato do voto divergente precisar compor o acórdão, mesmo que seja vencido.8

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o Presencial: inclusão em pauta DJE para o próximo dia livre na 9

agenda do tribunal, o que pode gerar grande vácuo temporal entre o recurso e o seu julgamento. Após o prazo mínimo de 5 dias (corridos), haverá sessão de julgamento (art. 935).

- Sessão de julgamento: → Ordem dos trabalhos: preferências legais e, após, dá-se preferência aos processos nos quais há sustentação oral. → Sustentação oral; → Assistência; → Votos (preliminares/demais questões segundo sua ordem de prejudicialidade); → Proclamação do resultado; → Lavratura do acordão (que pode ser ou não no mesmo dia).

- Há possibilidade de marcação de audiência de conciliação mesmo no âmbito dos tribunais, observando-se sempre a real possibilidade de obter essa conciliação.

Unidade 2: Organização e saneamento do processo

• Providências preliminares (artigo 347/353): - Revelia: nessa hipótese poderá o processo passar para a fase decisória,

na qual será proferida sentença de mérito. - Análise da contestação: deverá ser concedida nova possibilidade de

manifestação do autor após a contestação se nela constar os seguintes elementos (visando a assegurar o contraditório substancial):

a. Preliminares processuais; b. Fato modificativo, extintivo ou impeditivo; c. Documentos (vista ao autor por 15 dias).

- Após, haverá a decisão do juiz, que poderá ser no sentido de dar prosseguimento à fase de saneamento ou proferir a extinção do

Diário de Justiça Eletrônico 9

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processo (quando as questões são apenas de direito). A extinção do processo poderá dar-se nas seguintes condições:

a. Sem julgamento do mérito (art. 354) b. Com julgamento do mérito, podendo ser este parcial (art. 356)

ou total - julgamento antecipado da lide (art. 355).

• Questões de direito e questões de fato: - Questões de direito não são necessárias de serem provadas, ou seja,

dispensam fase probatória; - Questões de fato fazem necessária a prova, havendo, então, a fase

probatória. • O processo realiza uma distribuição estática do ônus da prova:

- Autor: tem que comprovar o fato constitutivo de seu direito; - Réu: deve comprovar fato modificativo, extintivo e impeditivo. - Ex.: na cobrança de débito o autor deve demonstrar que existe uma

relação jurídica que originou o débito (fato constitutivo), enquanto o réu deverá demonstrar que pagou de fato o débito (fato extintivo).

• Classificações dos fatos jurídicos: a. Fato constitutivo: fato que deu origem à declaração jurídica

deduzida em juízo; b. Fato extintivo: admite-se a existência da relação, mas os fatos

comprovam o fim da mesma (total ou parcialmente); c. Fato impeditivo: ausência de algum dos requisitos de validade do

negócio jurídico; d. Fato modificativo: alteram a relação jurídica deduzida em juízo;

• A fase de saneamento não ocorrerá na hipótese do artigo 354, havendo dispensa de prova (julgamento conforme estado do processo). Esse julgamento poderá se dar por meio de:

1.a) sentença terminativa (art. 485) 1.b) sentença de mérito (art. 487) Nos casos acima, a decisão poderá encerrar todo processo (por meio de sentença terminativa, que poderá ser recorrida via apelação, tendo efeito suspensivo) ou encerrar parcela do processo pelo julgamento antecipado parcial, segundo o artigo 356. A parcela do processo decidida irá compor a decisão saneadora (decisão interlocutória, questionável por agravo de instrumento e que não é dotada de efeito suspensivo). Essa é uma hipótese de julgamento antecipado do mérito, para a qual deverá ser respeitado o disposto

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no artigo 355 do CPC/15. Ex.: parte da pretensão está prescrita e a outra parte precisa de produção de provas.

• Decisão de saneamento (art. 357): - Conteúdo:

o Questões processuais pendentes: barreiras no campo processual que impactam na relação jurídico processual (preliminares). Atenção ao fato de que não será mais possível postergar a decisão dessas questões para o momento da sentença, já que apenas seguirão para a próxima fase aquelas questões que necessitam de provas. Não estão essas questões sujeitas ao arbítrio das partes;

o Delimitar questões de fato sobre as quais recairá a atividade provatória: o juiz deverá apontar os fatos controvertidos e o meio de prova adequado para sua comprovação (ata notarial, documentos, perícia, depoimento pessoal, testemunhal e inspeção judicial).

o Definir distribuição de ônus da prova (art. 373); o Delimitar questões de direito relevantes; o Designar audiência de instrução e julgamento: apenas

ocorrerá quando houver necessidade de produção de prova oral . No caso de ser deferida prova oral apenas, haverá 10

designação direta da AIJ. No caso, porém, de serem deferidas tanto prova oral quanto pericial, haverá ordem lógica de produção da prova, sendo, primeiramente, esgotada a perícia e apenas após, a AIJ será (se ainda necessário) designada.

- Forma: o Decisão (modelo clássico): o juiz decidirá sozinho. Essa 11

continua sendo a regra geral do processo, apenas sendo substituída pelo saneamento compartilhado ou negócio processual nos termos do §3º, art. 357 (CPC/15), ou seja, quando a matéria for complexa;

o Negócio processual (homologação do juiz): art. 357, parágrafo 2º. Há discussão acerca da possibilidade do juiz poder controlar o negócio jurídico, homologando-o ou não. Existe uma corrente

Havendo deferimento apenas da prova pericial, a AIJ não será marcada inicialmente, devendo ser seguido o disposto 10

pelo artigo 465 (CPC/15).

no CPC/73 era o único meio possível de saneamento.11

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restritiva, que acredita na impossibilidade de negativa de homologação e outra corrente que autoriza essa situação.

o Compartilhada: art. 357, parágrafo 3º. Será feito mediante audiência, devido à complexidade da matéria, objetivando que o saneamento seja feito em cooperação. Nessa audiência, as partes discutirão sobre a delimitação do conflito.

- Modelo híbrido: os sujeitos processuais se relacionarão de forma diferente no NCPC. O juiz continua detentor de poderes, os quais as partes não transigem, mas existe uma zona de fatos, questões e atos processuais que podem ser negociados, dando um viés de contratualização do processo (autonomia da vontade). Essas questões definidas pelas partes irão vincular o juiz após a homologação (§2º, art. 357, NCPC).

- Atenção ao fato de que, às partes é vedado dispor sobre as questões processuais (preliminares), já que estas são de interesse da ordem pública. Assim, percebe-se que não é todo o saneamento que está sujeito ao arbítrio das partes, mas principalmente o que se refere ao fato e aos meios de prova.

- Audiência: nos termos do §3º do artigo 357, quando a causa apresenta complexidade, o juiz irá designar a audiência de saneamento cooperado. Deve ser respeitado o §5º, o qual determina que, no caso de interesse em se produzir prova oral, as partes devem trazer para essa audiência o rol de testemunhas (diferente da regra geral, que estabelece prazo não superior a 15 dias, após o deferimento da prova testemunhal, para apresentar o rol, de acordo com o art. 357, §2º). Isso pois, no âmbito da cooperação, serão discutidas quais as testemunhas serão ou não ouvidas. Atenção ao fato de que todo saneamento deverá ser decidido em audiência, incluindo as questões preliminares (pelo juiz).

- Recorribilidade do saneador: o §1º do 357 , induz o intérprete a 12

entender que não cabe recurso ao saneador, mas apenas poderá ser feito um pedido de esclarecimentos. No entanto, é primordial refletir mais sobre essa questão. Por força do art. 1015, caberá agravo de instrumento com relação à decisão a respeito do ônus da prova, que será feito no saneador. Isso faz surgir discussões doutrinárias: ➢ 1ª corrente: se alguma das matérias do rol do 1015 estiver

presente, o saneador, como um todo, será recorrível por agravo

Art. 357 (...) § 1º. "Realizado o saneamento, as partes têm o direito de pedir esclarecimentos ou solicitar ajustes, no 12

prazo comum de 5 (cinco) dias, findo o qual a decisão se torna estável. "

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de instrumento. A justificativa para esse entendimento é o princípio da unirecorribilidade (decisão única e incindível). Assim, havendo uma matéria passível de impugnação, o todo da decisão poderá ser alvo de recurso. Se não for impugnada a matéria, haverá preclusão. A professora considera essa a melhor corrente.

➢ 2ª corrente: entende-se que a decisão poderá ser cindida em duas. Para a parte que está presente no 1015, caberá o agravo de instrumento, estando preclusa caso não haja o recurso. Para as questões que lá não está presentes, se seguirá o disposto pelo artigo 1009. Nesse sentido, as questões na presentes no 1015 estarão estáveis até a sentença. Após, poderão ser tratadas como preliminares de apelação ou de contrarrazões. A professora julga totalmente equivocada essa corrente.

• Deveres das partes: - O processo moderno é fundado na cooperação entre as partes e gera

deveres e poderes às partes. - Poderes (art. 369): precipuamente, as partes têm o direito de interferir

na construção do provimento final. Devem ser usados os meios de prova eficazes, sendo admitidos os meios legais bem como os moralmente legítimos.

- Deveres: o não cumprimento dos deveres, pelas partes, gera sanções. No direito processual essa sanção poderá vir por duas formas:

E. Litigância de má fé: enseja multa e/ou perdas e danos que o comportamento desleal, do ponto de vista do processo, provocou.

F. Atentado à dignidade da justiça: enseja multa. - No campo das provas, o artigo 77, NCPC traz os deveres a serem

observados pelas partes.

• O juiz na direção do processo: - O juiz irá dirigir o processo, fiscalizando-o e coibindo condutas

indesejadas (art. 139)

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CPC/15: Art. 77. "Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de seus procuradores e de todos aqueles que de qualquer forma participem do processo:

I - expor os fatos em juízo conforme a verdade; II - não formular pretensão ou de apresentar defesa quando cientes de que são destituídas de

fundamento; III - não produzir provas e não praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou à defesa

do direito; (...)"

- O novo código deu novos poderes ao juiz, sendo, alguns deles: → Art. 139, VI, dispondo acerca da flexibilização da ordem probatória. No antigo código, isso só seria feito pela antecipação das provas, devendo ser demonstrada a necessidade real daquela produção. O código vigente, no entanto, permite essa flexibilização, a cargo do juiz, que poderá modificar a ordem da produção das provas observando a ordem lógica de prejudicialidade das questões. Não se deve confundir essa prerrogativa com o caso de produção antecipada, nesse caso, pois não precisa a prova sofrer com a possibilidade de perecimento para ser invertida sua ordem de produção.

* Ex.: A e B litigam acerca de quem foi o responsável por abalroar o carro do outro. Eles pedem prova testemunhal (para demonstrar quem foi o culpado), bem como pericial (quantificar perdas e danos). O mais lógico é que se determine, primeiro, quem é o culpado e, só após, quantifiquem-se os danos. No NCPC é possível que o juiz inverta essa produção de ofício, o que não era ocorria no antigo sistema do CPC/73. → Outra hipótese importante é, ainda no artigo 139, porém no inciso VII, o qual dispõe que as partes podem ser intimadas pelo juiz a comparecer pessoalmente e prestar esclarecimentos. Atente-se ao fato de que, nessa situação, não incidirá a pena de confissão. No CPC/73 somente poderia ser ouvida a parte por depoimento pessoal, em uma audiência de instrução e julgamento, sob pena de confissão. Nesse caso, deverão ser intimadas ambas as partes. O depoimento pessoal continua presente no NCPC, mas adicionou-se outro mecanismo de ouvir as partes.

• Poderes instrutórios do Juiz: (Prof. ainda não deu)

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CPC/15: Art. 139. " O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: (...) VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às

necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito; (...)"

CPC/15: Art. 139. (...) " VIII - determinar, a qualquer tempo, o comparecimento pessoal das partes, para inquiri-las sobre os fatos da causa, hipótese em que não incidirá a pena de confesso; (...)"

Unidade 3: Teoria das provas • Quando se fala em produção de provas, elas estarão sempre relacionadas

a fatos. Esses fatos devem ser relevantes, aptos a promover as consequências jurídicas contidas na causa de pedir do autor (fatos jurídicos). Nesse âmbito, poderão os fatos ser controversos ou incontroversos. Ressalte-se que os fatos incontroversos não necessitam de provas, mas apenas o controversos. Identificados os fatos controversos, é possível identificar de quem será o ônus probatório e qual o meio adequado para produção da prova.

• Taxatividade: Os meios de prova não estão dispostos de forma taxativa no CPC. Na realidade, todos os meios de prova lícitos serão admitidos. Não são considerados lícitas, obviamente, as provas obtidas de forma ilícita ou de forma diferente daquela prescrita em lei.

• Princípio da valoração livre e fundamentada da prova: não há hierarquia entre as provas produzidas, mas sim, uma horizontalidade dos meios de prova. É o juiz que, através da fundamentação de sua decisão, especificará que prova dos autos levou à formação de sua convicção, bem como o motivo.

• Momento de produção: O momento para produção das provas é crucial no processo. Existem provas que devem aparecer no momento da postulação/contestação, como é o caso da prova documental em geral e provas que devem ser produzidas na fase de instrução (fase posterior ao despacho saneador), como é o caso das provas de caráter oral (depoimento pessoal e testemunhal) e pericial.

• Produção antecipada de provas (art. 381, NCPC): ainda sob a lógica da existência de um momento ideal para produção das provas, há possibilidade de produzi-las de forma antecipada quando há risco de perecimento ou quando é necessário avaliar a conveniência ou não do ajuizamento da ação principal. No CPC/73 era necessária a instauração de um processo autônomo cautelar para que pudesse haver a produção antecipada. No novo CPC, isso poderá se dar por duas vias: a) Tutela cautelar antecedente: nesse tipo de cautelar, não se aplica o

procedimento de dedução do pedido em 30 dias, mas a parte apenas deverá arcar com as custas processuais caso decida não deduzir o pedido principal. Nesse caso, não haverá discussão sobre a qualidade da prova produzida antecipadamente, mas apenas sua produção. A discussão acerca dessas provas se dará no processo de conhecimento. Atenção ao fato de que, nesse caso, não há prevenção da

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competência, podendo ser a tutela cautelar antecedente ajuizada no local de mais fácil obtenção dessa prova, mesmo que não seja no juízo competente. Mas, ao ajuizar a ação de conhecimento, a competência deve ser observada.

b) Tutela cautelar incidente: a produção poderá também ser incidente, no caso do pedido já ter sido ajuizado. Nesse caso, se dará por meio de simples petição.

• Ônus da prova (art. 373, NCPC): - Sistema estático de distribuição do ônus da prova: nesse sistema, a

natureza do fato, linkada diretamente a um sujeito, gerará a distribuição desse ônus. No antigo CPC, não havia flexibilização da distribuição do ônus, mas havia discussão da aplicação do artigo 6º do código do consumidor.

- No NCPC há duas possibilidades de flexibilização do ônus da prova que, via de regra, é estático:

a) Inversão do ônus da prova: continua seguindo a lógica da natureza do fato linkado a um sujeito, mas poderá ocorrer a inversão do ônus, nos casos em que a outra parte (que inicialmente não deveria suportar o ônus) tem melhores condições de apresentar a prova.

b) Distribuição dinâmica do ônus da prova: nesse caso, fato a fato (diante das particularidades da causa), é estabelecido quem tem a maior possibilidade de apresentação daquela prova. Assim, há possibilidade de determinados fatos constitutivos serem alocados para o réu e outros para o autor.

- Atenção ao fato de que, não podem ser levado em conta, no momento de flexibilização do ônus, o maior ou menor poder aquisitivo de cada parte.

- Existe ainda a discussão acerca da possibilidade das partes poderem negociar e determinar o ônus da prova. Há uma corrente ampliativa que defende que é possível e outra corrente (restritiva) que não admite que as partes negociem o ônus da prova, sendo este, dever do juiz.

• Meios de prova: A. Prova documental: A prova documental deve ser produzida pelo

autor na inicial e pelo réu na contestação. Ressalta-se a importância do momento de apresentação desse tipo de prova, a medida que apenas os documentos novos poderão ser juntados fora desse momento processual. Serão considerados novos aqueles documentos

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que comprovem fatos supervenientes afetos à solução do conflito. Também será considerado "novo" aquele documento que já existia anteriormente mas que havia algum obstáculo à sua obtenção e o documento que a parte desconhecia. Caso o documento não seja novo, ele será desentranhado do processo. Além disso, há uma sanção para quem adota tal prática, que é a de não poder apresentar tal documento posteriormente. → Exibição de documentos: existem existem duas possibilidades: se a lide está em curso (art. 396/404, NCPC), a requisição se fará nos próprios autos. Caso contrário, não estando a ação em curso, haverá procedimento autônomo (ação de exibição de documento). Nesse último caso, deverá ser seguido o rito da tutela cautelar antecedente, com petição inicial, citação, resposta do réu e, ao final, a sentença. No CPC de 73, era feito pelo rito da cautelar, por meio da ação cautelar de exibição de documento ou coisa, atualmente extinta. A cautelar para exibição de documento só é cabível quando não há outro meio de se obter o documento. Se há outro caminho, não há interesse processual.

(1) Exibição pela parte: decidindo o juiz pela exibição do documento pela parte contrária e permanecendo a negativa desta, o fato a ser provado por meio do documento será considerado verdadeiro.

(2) Exibição por terceiros: no caso de requisição de documentos a terceiros, sendo a decisão favorável, aplicar-se-á o artigo 403, parágrafo único, o qual determina que o juiz expedirá mandado de apreensão, inclusive podendo fazer uso de força policial. Nesse caso, foi adotado esse mecanismo, e não o anterior (de presunção dos fatos) porque ato de terceiro não pode gerar presunção de veracidade a respeito de um fato de interesse de outrem. Ex.: em ação de indenização por erro médico é necessária a juntada do prontuário para compor o espectro probatório da lide. Porém este

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está em poder do hospital, o qual não compõe o polo passivo da ação. Nesse caso, caberá a requisição de documento a terceiros.

→ Arguição de falsidade documental (art. 430/433, CPC): é possível ainda, haver falsidade do documento. Para tais casos, há previsão no CPC de um incidente chamado arguição de falsidade. O prazo para impugnar o documento depende do momento de sua produção. Se o documento está produzido na petição inicial, o prazo será o de contestação. Se foi juntado na contestação, há o prazo da réplica. Sendo juntado em qualquer outra fase, subsiste prazo de 15 dias a partir da juntada do documento para arguir a falsidade. Nesse último caso, a arguição de falsidade deverá vir em petição separada (incidente). Ressalta-se que deve ser realizada perícia para provar, ou não, a falsidade alegada.

→ Arguição de falsidade como questão prejudicial: a arguição se tornará uma questão prejudicial, ou seja, que deverá ser decidida antes da questão principal da lide. São as questões decididas que marcam os limites objetivos da coisa julgada material, e apenas aquelas decididas como objeto principal do processo terão as características da imutabilidade e da indiscutibilidade (questões principais). Assim, entende-se que as questões prejudiciais não trazem consigo tais características, não compondo a coisa julgada. No âmbito do antigo CPC, partindo do pressuposto que a questão prejudicial não tem o caráter imutável e indiscutível e não faz coisa julgada, a parte poderia, após a sentença, propor a questão da falsidade como questão principal de outra ação autônoma (ação

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declaratória incidental) conexa à principal e devendo ser decidia no mesmo instrumento. Por sua vez, o NCPC extingue essa ação autônoma e considera possível, na mesma relação jurídico-processual, que a questão prejudicial seja julgada com a mesma força da questão principal, nos termos dos artigos 433 e 503, parágrafo único. Necessário esclarecer que a sistemática das questões principais e incidentais continua mantida no CPC/15, o que se alterou foi o caminho para transformar a prejudicial em principal. Dessa maneira, para que a questão prejudicial seja decidida como questão principal, ela deverá ser transformada em principal, por meio de simples petição de qualquer das partes.

B. Prova pericial (art. 156, NCPC): existem questões que necessitam de conhecimento técnico ou científico para serem esclarecidas. Para estas, deverá ser feita a perícia, que precisa ser realizada por perito graduado em instituição superior. Esse perito produzirá o chamado laudo oficial, que poderá ser usado para formar o convencimento do magistrado. → Existe legislação específica para cada profissão. Assim, a lei regula qual profissional poderá fazer a perícia, em cada caso. Vias de exemplo, no caso de uma perícia acerca do valor de um imóvel, ele deverá ser feito por engenheiro agrônomo (no caso de imóvel rural) ou por engenheiro civil (no caso de imóvel urbano). → O novo CPC inovou bastante na produção da prova pericial, provocando ruptura com o anterior sistema. Antes, o juiz nomeava um perito de sua confiança (poderes amplos de indicação). O perito somente poderia ser rechaçado pelas partes caso ele não detivesse o conhecimento específico necessário. Cada vara credenciava seus peritos, sendo que eles atuariam no âmbito dos processos. No novo CPC, pelo artigo 471, é facultado às partes indicar seus próprios peritos e há novas restrições para a escolha feita pelo juiz, a serem vistas em seguida. → O art. 464, parágrafo 2º, NCPC introduziu no direito brasileiro, para os casos de menor complexidade, o chamado testemunho técnico, que seria feito por profissionais especializados (alguém que poderia ser perito). Isso é positivo, pois poderá substituir a perícia (e seu laudo), que muitas vezes é cara para as partes. Assim, por exemplo, as partes poderiam levar à audiência engenheiros de sua

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confiança para depor em um caso que envolva bens imóveis. Esse testemunho poderá ser, inclusive, equiparado à prova pericial judicial. → O laudo poderá ser judicial ou extrajudicial. O último, não está sujeito ao contraditório ou à fiscalização do juízo. No CPC/73, essa perícia extrajudicial seria considerada mero documento. Por sua vez, o CPC vigente, no art. 472, equipara também à prova pericial judicial, a extrajudicial. → Outra mudança muito positiva foi a regulamentação de quem poderia ser, pelo juiz, indicado como perito. Nos termos do artigo 156, do CPC atual, os tribunais deverão fazer cadastros de peritos e manter essa listagem em seu site. O juiz então, apenas poderá escolher entre aqueles peritos listrados pelo tribunal ao qual estão vinculados. A única exceção se dá no caso em que, na comarca do juiz, não houver o perito especializado na matéria necessária para o caso. Essa exceção está disposta pelo artigo 156, § 5º, NCPC. A lista a ser produzida pelo tribunal deve ser, no momento de sua produção, amplamente divulgada nos meios de comunicação, sendo facultada participação à todos aqueles que se enquadrem nos requisitos mínimos exigidos. Será estabelecida estrutura de rodízio entre os peritos. Para romper com o rodízio, deverá o magistrado fundamentar sua escolha, expondo seus motivos para escolher o determinado perito. Ressalta-se também que o art. 158, do NCPC, traz previsão de responsabilidade para os peritos, no caso de fornecimento de informações inverídicas (de forma dolosa ou culposa). → Atenção ao fato de que, o CPC vigente traz a possibilidade de indicação de uma instituição que congregue, por exemplo, profissionais de diversas especialidades, para produzir o laudo. Essa modificação será muito útil para casos em que se fazem necessários conhecimentos multidisciplinares. No CPC revogado, não havia essa possibilidade, só podendo ser peritos pessoas físicas. → O artigo 471 estabelece a possibil idade das partes convencionarem acerca da nomeação do perito, indicando-o mediante requerimento, atendidos os requisitos, os quais sejam: serem plenamente capazes as partes e que a causa possa ser resolvida por autocomposição. Nesse sentido, figura-se a impossibilidade das partes disporem acerca dos peritos nos casos de

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direitos indisponíveis. O melhor momento para indicar o perito é no saneador, antes que o juiz faça a indicação. → É facultado às partes formular quesitos ao perito, para dirimir pontos e suscitar questões importantes. Esses quesitos devem estar sempre afetos aos fatos controversos delimitados no saneador. Eles podem ser importantes para corrigir rumos equivocados do processo, mas também podem servir para tumultuar a lide, como mecanismo protelatório da parte. Impende destacar ainda que é a partir dos quesitos que o perito irá estimar seu valor de honorários para formular sua proposta. → Atenção à necessidade, conforme esquema abaixo, do depósito integral dos valores para que se iniciem os trabalhos de perícia. Merece atenção a segunda hipótese, de pedido de perícia pelas duas partes, ou pelo juiz, na qual deve haver o rateio. Não pagando uma das partes, a outra pode suprir o valor para adiantar o procedimento e depois ela poderá ser ressarcida. Atenção que, mesmo se a parte não pagar, ela poderá formular quesitos, o que é bastante criticável. → Problemas relacionados ao depósito prévio: 1) Fazenda Pública/ministério público/defensoria: o art. 91, caput

(NCPC), traz a ideia de que o ente não deverá depositar, apenas se for vencido. No âmbito do CPC/73, o STJ, pela súmula 232 , aduz que é sim necessário o depósito prévio, e o 13

artigo 91 não excluiria isso. Porém, o NCPC, no artigo 91, trouxe dois novos parágrafos. O parágrafo primeiro traz a ideia de que preferencialmente deve ser indicada instituição pública (receberá depois do processo). Se for o particular, haverá depósito antecipado se isso estiver previsto no orçamento. Não estando previsto, ou tendo o orçamento esgotado, na dotação orçamentária subsequente será feito o pagamento. Na prática, o perito acabará recebendo, só final, do vencido. Essa sistemática acaba influenciando uma má conduta do perito, pois se ele atrasar seu trabalho, poderá entrar na outra dotação orçamentária, o que apenas gera demora na prestação jurisdicional (crítica da professora).

Súmula Nº 232 (STJ) - A Fazenda Pública, quando parte no processo, fica sujeita à exigência do depósito prévio dos 13

honorários do perito.

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2) Assistência judiciária: definida pelo artigo 95, § 3º. Nesses casos, a perícia será custeada pelos cofres públicos, devendo ter alocação no orçamento do judiciário. Percebe-se, no caso, que a nomeação dos peritos será restrita. Deverá haver valor regulado pelo CNJ (já há resolução , porém ela será revista esse ano) 14

acerca dos valores a serem pagos pela perícia. Após o trânsito, o juiz oficia a fazenda pública. Se quem perdeu foi o sujeito não amparado pela assistência judiciária ele será cobrado e, caso não pague, será incluído na dívida ativa, com todas as suas consequências.

→ Esquema do procedimento:

C. Prova emprestada (art. 372, CPC/15): há uma ação de origem, não necessariamente conexa, na qual é produzida uma prova que poderá ser usada em outro processo. O antigo CPC trazia a natureza dessa prova como mero documento. Não obstante, no Código vigente terá a mesma natureza da prova colhida nos autos de origem. Dessa maneira, se for uma perícia, será classificada como tal, mesmo que emprestada. O NCPC autoriza esse meio de prova, porém a grande questão se dá com relação ao contraditório, pois no momento da produção da prova uma das partes, via de regra, não participou. O artigo menciona a necessidade do contraditório, mas não especifica em que momento. Assim, surgiram duas correntes: ➢ 1ª corrente - contraditório na origem: Todos deverão ter

participado da produção da prova. Essa corrente traz grande

valor mínimo de cerca de 200 reais, podendo ser majorado pelo juiz em até 4 vezes.14

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limitação ao instituto, pois exige as mesmas partes na ação de origem e de destino. Segundo a professora, é contraditória tal corrente, visto que, nesses casos, outros mecanismos poderiam ser aplicados, como a conexão ou continência.

➢ 2ª corrente - contraditório no destino: O STF já decidiu nesse sentido no âmbito do CPC/73. Se a prova foi produzida regularmente na origem, será aceita, desde assegurado também o contraditório no destino. Assim, a outra parte terá ampla possibilidade de impugnação, podendo sua argumentação, inclusive, ensejar a produção de nova prova. Há, inclusive, a possibilidade de nomeação do antigo perito para esclarecer questões no processo de destino. Porém, o mais comum seria realização de nova perícia.

D. Ata notarial (art. 384, parágrafo único): documentações de páginas, perfis, conversas de WhatsApp, bem como outros instrumentos da internet poderão ser feitos pela ata notarial, por meio de "print" feito por indivíduo que tem fé pública e utilizado como meio de prova. Ademais, assembléias de empresas também poderão ser documentadas por meio de ata notarial, em forma de vídeo, gravação de áudio ou por escrito. Esse tipo de prova na era utilizado no âmbito do CPC/73, porém o NCPC trouxe o avanço de incorpora-lo à codificação.

E. Provas produzidas por meios tecnológicos: as formas de vídeo deverão ser transcritas, em consonância com o artigo 439, CPC/15. Ademais, segundo o art. 422, § 1º, fotografias extraídas da internet, caso sejam impugnadas, deverão ser comparadas com a original. Não sendo possível o acesso à original, poderá ser solicitada perícia. Deve ser observado também o artigo 440 do CPC vigente, precisando o juiz dar acesso às partes dos documentos eletrônicos. → Validade das gravações telefônicas: na seara discutida, essencial abordar a validade das gravações feitas em diferentes contextos. No processo criminal há maior desenvolvimento do tema, pois esse meio é mais utilizado e, devido a isso, deve estabelecer-se diálogo entre as duas fontes. Inicialmente, destaca-se que a interceptação é diferente da gravação telefônica. A primeira é ferramenta de controle das conversas de um indivíduo, sem sua anuência. Esta deverá ser feita após autorização judicial, por ferir princípios da intimidade e privacidade. No caso de gravação de conversa privada, não é

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necessário anuência da outra parte para a gravação, pressupondo-se que a conversa foi natural, devendo ser uma colheita espontânea. Não é lícito, porém, induzir a pessoa a dizer algo, de forma previamente planejada.

F. Depoimento pessoal: no âmbito do CPC/73, deveria se colhido pelo próprio juiz. Não obstante, para reduzir custos, começaram alguns juízes a colher depoimento pessoal por precatória, o que não é desejável pelo sistema, pois um dos elementos mais importantes desse tipo de prova é o contato presencial entre juiz e parte(s). Assim, o CPC vigente, buscando abolir essa sistemática, autorizou o depoimento pessoal pela forma de videoconferência, ou outro recurso tecnológico, segundo o artigo 385, § 3º.

G. Prova testemunhal: podem ser arroladas no máximo 10 testemunhas e 3 para cada fato controvertido. A mesma regra descrita acima para o depoimento pessoal (acerca da colheita de depoimento pessoal por videoconferência) vale também para a prova testemunhal, segundo o artigo 453, § 1º. Será tratada melhor na exposição sobre a AIJ (unidade 4).

Unidade 4: Audiência de Instrução e Julgamento • Finalidade preponderante: Produção de prova oral. A AIJ somente (e

obrigatoriamente) será designada se for necessário produzir prova oral, a qual se dará pela colheita do depoimento das partes e oitiva de testemunhas.

• Local e modo de produção da prova oral: via de regra, será feita no juízo competente. Porém, é possível ser feita por carta precatória e, segundo o NCPC, poderá ser feita também via teleconferência.

• Princípios: O princípio da oralidade rege a audiência, não obstante, tudo deverá ser reduzido a termo. Outro princípio é o da concentração dos atos, trazendo a ideia de que a audiência não deve ser cindida, a não ser em casos especiais.

• Ordem de atos: 1. Tentativa de conciliação; 2. Esclarecimentos do perito: não é prova oral, são apenas

esclarecimentos que integram a prova pericial - via de regra, são feitos por escrito, mas há possibilidade de se darem na AIJ;

3. Depoimento (autor e réu): só poderá ser feito a pedido da parte contrária (réu pede depoimento pessoal do autor e vice-versa).

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Assim, não é possível que a parte peça seu próprio depoimento pessoal. A parte autora será ouvida primeiro, posteriormente, a parte ré. Enquanto a parte autora estiver depondo, a parte ré será retirada da sala, mas durante o depoimento do réu, o autor poderá permanecer, visto que já deu seu depoimento;

4. Testemunha (arroladas pelo autor e pelo réu): em sentido clássico, é aquele indivíduo que presenciou com os próprios sentidos o fato. Não é possível, no ordenamento pátrio, a testemunha de "ouviu dizer", podendo ser esta indeferida pelo juiz devido à ausência de valor probatório. A testemunha é compromissada, ou seja, não poderá mentir no processo, sob pena de crime de falso testemunho, inclusive o advogado poderá ser responsabilizado de forma concorrente, caso fique provado que ele instruiu a testemunha. O NCPC adota o sistema de perguntas diretas do advogado à testemunha (art. 459, NCPC) e não o sistema presidencialista. O juiz atua como fiscal, podendo indeferir perguntas segundo sua pertinência, bem como a parte contrária poderá protestar perguntas que julgue impertinentes. A ordem de perguntas será: juiz, parte que arrolou a testemunha e parte contrária. Nesse sentido, se o indivíduo não pergunta ao seu momento, ocorrerá preclusão. Ao advogado é vedado preparar a testemunha, assim, não se deve entregar roteiros ou induzir as testemunhas para chegar à resposta desejada. O que o advogado pode fazer é perguntar de forma genérica o que a testemunha sabe antes de levá-la a juízo. Aqueles que poderão ser testemunhas estão dispostos no art. 447, CPC/15 , do qual 15

excetuam-se os incapazes, os suspeitos e os impedidos. Para a parte contrária impugnar a testemunha, deverá ser por meio da contradita (oral), a qual precisa ser promovida antes do compromisso da testemunha ser feito. Acerca da intimação, é o advogado que deverá intimar suas testemunhas, via de regra, em consonância com artigo 455 e a intimação judicial só se dará nas hipóteses específicas do § 4º desse dispositivo;

5. Alegações finais: cada parte terá 20 minutos para apresentar suas alegações, que deverão ser feitas oralmente. Porém, sendo a causa complexa ou as partes entrando em acordo com relação a isso,

CPC/15, Art. 447. "Podem depor como testemunhas todas as pessoas, exceto as incapazes, impedidas ou suspeitas. 15

(...)".

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poderão ser feitas as alegações finais escritas, mas poderá o juiz indeferir esse pedido das partes, tendo em vista o desejo de prolatar a sentença em audiência ;

6. Sentença.

Unidade 5: Sentença • Conceito: tal conceito está disposto no artigo 203 § 1º, sendo o ato pelo

qual, no processo de conhecimento, é colocado fim ao processo cognitivo.

• Espécies: A. Terminativa (art. 485, CPC/15): não há solução da crise material

posta (mérito da causa). Nesse sentido, poderá a parte prejudicada renovar a ação e discutir o mérito (art. 486 ). 16

B. De mérito/definitiva (art. 487, CPC/15): há resolução do mérito, ou incide uma das hipóteses de equiparação (ex.: prescrição e decadência). Nesse caso, será a sentença dotada de coisa julgada material.

• Classificações: a classificação influirá no modo de cumprimento de sentença e nas suas técnicas de efetividade. Ela se dará conforme seu pedido imediato, podendo ser:

A. Declaratória: essa modalidade de sentença se presta a dar certeza de existência ou de não existência de relação jurídica, bem como a autenticidade ou não de um documento (art. 19, NCPC ). A 17

sentença será declaratória quando o pedido formulado no tempo da propositura da causa buscar, por exemplo, a certificação da existência de uma relação jurídica. Dessa forma, a jurisdição irá certificar (ou não) a existência do direito. Outra hipótese de incidência da sentença declaratória é no caso de improcedência do pedido em qualquer ação, não necessariamente uma declaratória. Isso ocorre pois, sendo improcedente a ação, a sentença irá

NCPC. Art. 486. "O pronunciamento judicial que não resolve o mérito não obsta a que a parte proponha de novo a 16

ação. (...)"

NCPC. Art. 19. "O interesse do autor pode limitar-se à declaração: I - da existência, da inexistência ou do modo de 17

ser de uma relação jurídica; II - da autenticidade ou da falsidade de documento."

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CPC/15: Art. 203. (...) "§ 1o Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à

fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução."

declarar a ausência da relação jurídica pretendida pelo autor. Esse tipo de sentença poderá configurar título executivo judicial caso aponte detalhes da relação material, estabelecendo a liquidez da obrigação. Caso contrário, sendo genérica, a sentença declaratória não formará título executivo.

B. Constitutiva: a sentença de caráter constitutivo tem o condão de criar, modificar ou extinguir uma relação jurídica (direitos potestativos ). Assim, a própria existência da sentença já gera 18

modificações no mundo jurídico, concebendo uma "nova situação". Ela não condena o vencido, bem como não se limita a declarar o direito. Exemplos são a sentença que decreta a separação dos cônjuges e a que anula ato jurídico por algum vício do negócio (dolo, erro, coação, fraude, incapacidade do agente e etc).

C. Condenatória: esse tipo de sentença possui duas funcionalidades, sendo (1) apreciar e declarar o direito e (2) preparar a execução, por meio da prescrição de certo comportamento a ser praticado pelo obrigado (fazer, não fazer, dar ou abster-se). Assim, via de regra, haverá a formação de um título executivo, que possibilitará ao vencedor promover processo de execução caso o vencido não cumpra a prestação determinada. Não obstante, nem sempre se formará o título executivo. Existem casos previstos em lei nos quais a sentença de caráter condenatório não irá gerar tal título, como ocorre na sentença condenatória genérica, que depende de superveniente liquidação, bem como nos casos em que a sentença condena o indivíduo a emitir declaração de vontade, sendo que ela própria exercerá esse efeito, substituindo a ação do obrigado, não dependendo de execução forçada. Ademais, entende-se que a sentença condenatória poderá prestar tutela repressiva (reparando lesão já consumada) ou tutela inibitória (impedindo o dano).

D. Homologatória: ocorre nos casos de autocomposição, havendo transação, reconhecimento do pedido ou renúncia do direito. O juiz deverá apenas verificar a capacidade das partes e a regularidade do acordo (legitimidade). Essa sentença serve unicamente para homologar o negócio jurídico das partes e dar-lhe eficácia.

Direitos potestativos criam estado de sujeição por meio de seu exercício, a ser gerado para outras pessoas, 18

independentemente da sua vontade, ou mesmo contra sua vontade.

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• Requisitos: os requisitos da sentença são dispostos pelo artigo 489, NCPC. A falta desses requisitos gera, via de regra, nulidade. São elementos obrigatórios da peça de sentença: A. Relatório: resumo da pretensão, defesa e principais atos e fatos

processuais, além de apresentação das teses jurídicas apresentadas pelas partes. Termina com a frase: "é o relatório, decido". Ausente o relatório, que é um requisito formal, ela será inválida. Há possibilidade de suprir esse vicio? No antigo CPC, não era possível que o tribunal prosseguisse com o julgamento a não ser para reconhecer o vício formal. A sentença então era devolvida à instância inferior, na qual o vício deveria ser sanado. Isso gerava distorção do sistema, ferindo o princípio da duração razoável do processo. No CPC/15, o tribunal reconhece o vício e irá fundamentá-lo no acórdão

B. Fundamentos: são apresentados os fundamentos de fato e de direito, destacando-se os motivos determinantes. Deve ser observado o artigo 489, parágrafo primeiro, não sendo considerada fundamentada de forma devida a sentença que incorrer em um ou mais vícios expostos pelos incisos desse diploma legal. Essa fase merece atenção, pois, na sistemática do novo código, a partir da provocação da jurisdição poderá haver a formação de precedentes, os quais serão vinculativos. A sentença, e principalmente a parte da fundamentação, é uma potencial geradora de precedentes, o que pode ocasionar grandes impactos em lides supervenientes. Ressalta-se que o objetivo da valorização dos precedentes é dar previsibilidade, em respeito à isonomia e à segurança jurídica. Não obstante, a sentença de primeira instância, por si só, não é um precedente, pois ela ainda deverá passar por todo um procedimento (técnica) de formação de precedentes. A fundamentação da decisão é uma verdadeira garantia constitucional, tendo em vista o artigo 93, IX da CF/88. Assim como 19

ocorre com a ausência do relatório, faltantes os seus fundamentos, a sentença será inválida, podendo o vício ser suprido pelo tribunal.

C. Dispositivo: momento no qual é tecida a conclusão, por meio da decorrência lógica da fundamentação. Quando há dissociação lógica entre a fundamentação e o dispositivo, ocorre a chamada contradição

CF/88 Art. 93 IX - "todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as 19

decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; (...)"

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interna, justificando o recurso de embargos de declaração. Nesse caso ocorrerá verdadeira inexistência, já que o mínimo que um ato decisório deverá ter é a decisão, e esta só se encontra no dispositivo, não havendo possibilidade de decisão implícita no sistema pátrio. O ato não irá gerar consequências jurídicas. O recurso cabível seria embargos de declaração ou simples petição, visto que é situação anômala que não produz efeitos.

• Princípio da congruência: esse princípio estabelece limite ao poder decisório do juiz. Não sendo respeitado, ocorrerá vício, pois o juiz não terá decidido todo conflito, deixando-o latente, o que corrompe toda função do processo. A extensão do objeto do litígio é traçada pelo pedido (consequência jurídica) e a causa de pedir, sendo que o juiz não pode alterar os fatos, fundamentos nem suas consequências, cabendo a indicação destes à parte. Na prática, a maior parte dos erros não está ligada aos pedidos, como apontam os manuais, mas sim à causa de pedir, o que torna mais difícil a análise. Além do limite imposto ao poder decisório pelo princípio da congruência, há também a limitação pelo dever de fundamentação analítica (que será tratado em seguida). Assim sendo, deve-se atentar ao fato de que, sob a ótica da congruência, o juiz não precisa analisar todos os elementos da causa de pedir, mas sob a ótica da fundamentação analítica ele precisa ao menos tocar em todas elas.

• Dever de fundamentação analítica (art. 11 e 489, §1º, NCPC): há grande estímulo no novo código para realização da fundamentação qualitativa, sendo um poder-dever do magistrado, com o objetivo de melhorar a qualidade decisória. Ressalta-se que não havendo fundamentação, a decisão será nula. O artigo 489 define negativamente a fundamentação ao citar em seus incisos as hipóteses nas quais não se considera fundamentada a decisão. A despeito do princípio da eventualidade, que é ônus das partes, se o juiz já encontrou fundamento suficiente para amparar sua conclusão, ele não precisa analisar os demais. Esse é o chamado sistema da fundamentação suficiente, adotado pelo CPC/73. Nesse sentido, ver trecho do AgRg no AREsp 810.231/RS . 20

Lado outro, no sistema da fundamentação exauriente, o juiz deverá

“É cediço, no STJ, que o juiz não fica obrigado a manifestar-se sobre todas as alegações das partes, nem a ater-se 20

aos fundamentos indicados por elas ou a responder, um a um, a todos os seus argumentos, quando já encontrou motivo suficiente para fundamentar a decisão, o que de fato ocorreu. (AgRg no AREsp 810.231/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 23/02/2016, DJe 02/03/2016)”.

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abordar tudo aquilo que foi trazido pelas partes. Nessa discussão, há formação de duas correntes:

→ Corrente 1: perdura, mesmo no CPC/15, o sistema de fundamentação suficiente que era adotado no antigo CPC de 73; → Corrente 2: o NCPC adota a fundamentação exauriente.

• Vícios: os vícios da sentença poderão ser os seguintes A. Extra petita (FORA): ocorre quando o juiz decide questão diversa da

que foi proposta no pedido, não havendo, dessa forma, interseção entre o que foi decidido e o que foi pedido (art. 492, CPC), sendo essa desconexão total. Também ocorre quando ele acolhe, contra o pedido, exceção que não foi mencionada pela defesa. Porém, não será extra petita quando a matéria puder ser conhecida de ofício pelo juiz, como é o caso do art. 485 §3º, CPC.

B. Ultra petita (ALÉM): vai além do pedido, promovendo excesso. Se diferencia da extra petita, pois há o julgamento do objeto, indo porém, para além deste. A nulidade será parcial, devendo ser decotado apenas o excesso (art. 492, CPC). Dessa forma, não será anulado todo o decisório, mas apenas a parte que ultrapassou o pedido.

C. Citra petita (AQUÉM): nesse caso, o juiz não examina todas as questões propostas pelas partes. Ex.: Réu se defende alegando A e B, porém o magistrado dá procedência ao pedido do autor sem se pronunciar acerca do ponto B da defesa, mas apenas do A. Nem sempre haverá nulidade desse tipo de sentença, pois o tribunal pode, no julgamento de apelação, completar o exame (art. 1013, §1º) , haja 21

vista o efeito devolutivo. Além disso, a ausência de decisão deve ter o

NCPC. Art. 1.013. "A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. § 1o Serão, porém, 21

objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo impugnado. (...)"

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poder de afetar a solução da lide, pois se a nulidade for favorável à parte que aferiu benefício, não há interesse para justificar a anulação.

- Consequências dos vícios da sentença:

- Exemplos de aplicação da teoria dos vícios:

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* Breve revisão: prescrição e decadência: para determinar se o prazo será de prescrição ou de decadência é necessário analisar a natureza da pretensão (todo direito material violado dá ao seu titular o poder de reivindicar esse direito em juízo). a. Se a natureza é constitutiva, o prazo será decadencial, não estando

sujeito a nenhum ato externo para que seja exercida a pretensão. Não será interrompido nem suspenso. Ex.: prazo para ação rescisória de 2 anos.

b. Se a natureza é condenatória, o prazo será prescricional, pois há necessidade de comportamento da parte contrária para que se exerça a pretensão (actio nata). Ex.: inadimplemento do contrato. Por ser prescricional, está sujeito à suspensão ou interrupção.

c. Se a natureza é declaratória, não está ela subordinada à um prazo, sendo ela imprescritível.

• Novas tendências: - Concepção programática: inspiração do processo justo

- Mudança de paradigma: A. Simplificação procedimental: questão prejudicial e coisa julgada B. Valorização dos precedentes: técnica de fundamentação, sistema

de impugnação e cabimento da ação rescisória. C. Visão instrumental: prestigiar julgamento de mérito; criação da

teoria das nulidades das decisões e novas técnicas de efetividade das decisões judiciais.

- Valorização dos precedentes: o Enunciados: estão sempre ancorados em fatos e teses, ou

motivos determinantes. o Objetivo: dar previsibilidade ao direito, respeitando a isonomia

e gerando segurança jurídica.

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o Não engessamento: o sistema de precedentes não poderá ser engessado, ele deverá ser dinâmico e admitir teses contrárias, no que couber, através de técnicas de superação.

- Novas técnicas: não apenas as partes, mas também o juiz deverá fazer uso de tais técnicas quando da aplicação e análise de jurisprudência.

A. Overruling: mudança de regra, que ocorre quando um tribunal, ao julgar determinado caso concreto, percebe que sua jurisprudência precisa ser revisitada. Se dá pela apresentação de argumentos novos.

B. Distinguishing: quando o caso concreto em julgamento apresenta particularidades que não permitem aplicar adequadamente a jurisprudência do tribunal, havendo distinção entre normas jurídicas e normas de decisão.

Unidade 6: Embargos • Cabimento: art. 1022 , NCPC. Se aplica a qualquer decisão que 22

demonstre: A. Omissão: ausência de resposta a requerimentos, pedidos e

fundamentos relevantes trazidos pela parte, além de omissões do dever-poder do juiz de agir de ofício, no que se refere às questões de ordem pública. (ex.: prescrição ou decadência não reconhecida pelo juiz de ofício). Porém, há um limite para arguir originariamente em embargos as questões de ordem pública, que será visto no tópico de predestinaremos.

B. Contradição: a contradição deve ser interna, ou seja, entre os elementos da própria sentença, como no caso em que a conclusão não decorre da fundamentação. A contradição não poderá ser suscitada com relação à lei ou às provas apresentadas, por exemplo, pois os embargos não se prestam a combater erros de julgamento. Caso seja julgado nos embargos o erro de julgamento, essa decisão será reputada nula.

C. Obscuridade: falta de clareza e/ou confusão de ideias.

(NCPC) Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para: 22

I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição; II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento; III - corrigir erro material. Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que: I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento; II - incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1o.

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D. Erro material: erro manifesto, visivelmente detectável, o qual não intere na essência do julgamento da causa.

• Recurso de integração: antes, não era tratado como recurso no sistema, pois os embargos não tem o objetivo de mudar a decisão, como a maioria dos recursos, mas sim, de promover seu aprimoramento, sendo um verdadeiro recurso de integração. Assim, uma decisão que não responde tudo o que foi requerido pelas partes ou que não enfrente todos os argumentos, poderá ser alvo dos embargos, por exemplo. O objetivo, dessa forma, não será cassar ou reformar a sentença, mas sim, buscar seu aprimoramento. Sendo recurso integrativo, deverão ser somadas a decisão gerada pelos embargos e a anteriormente questionada pelos embargos.

• Efeito interruptivo X suspensivo: o recurso de embargos não tem efeito suspensivo, porém, tem efeito interruptivo de prazo recursal (artigo 1026, CPC/15). Esse efeito se justifica, já que, enquanto não forem julgados embargos de declaração, não há decisão final contra a qual se possa interpor outro recurso, como a apelação, por exemplo. Atenção ao fato de que o efeito interruptivo é apenas com relação ao prazo de recurso, e não afeta outros prazos, como o de contestação, por exemplo. No sistema anterior, os embargos detinham, via de regra, o efeito suspensivo, o que gerava muitos recursos protelatórios, tendo em vista que eram muito usados para suspender os efeitos da sentença e ganhar mais tempo para recorrer. Destarte, foi retirado o efeito suspensivo. Não obstante, ele poderá ser concedido mediante requerimento da parte, se o vício for relevante e se restar demonstrado risco de dano, autorizando a suspensão dos efeitos da decisão embargada, tudo isso nos termos do art. 1026, § 1º, CPC/15.

• Efeito modificativo/infringente: o vício da sentença pode gerar a modificação do julgamento propriamente dito, ocorrendo o chamado

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CPC/15: Art. 1.026. "Os embargos de declaração não possuem efeito suspensivo e interrompem o prazo para a interposição de recurso.

§ 1o A eficácia da decisão monocrática ou colegiada poderá ser suspensa pelo respectivo juiz ou relator se demonstrada a probabilidade de provimento do recurso ou, sendo relevante a fundamentação, se houver

risco de dano grave ou de difícil reparação.

§ 2o Quando manifestamente protelatórios os embargos de declaração, o juiz ou o tribunal, em decisão fundamentada, condenará o embargante a pagar ao embargado multa não excedente a dois por cento sobre

o valor atualizado da causa. "

efeito infringente. Porém, ele deverá vir como consequência natural dos embargos e nunca como pretensão principal do recurso, por não ser esse o objetivo do instituto. Se ocorrer tal hipótese, deverá ser garantido o contraditório prévio às partes. Caso isso não seja observado, haverá nulidade do julgamento (art. 1023, §2º).

• Apreciação: a petição recursal de embargos de declaração será dirigida sempre à autoridade prolatora da decisão, já que é ela quem irá julgar o recurso. - 1ª instância: será direcionada ao juiz prolator da decisão. - 2ª instância:

a. Acórdão: se for combatido acórdão, será o órgão colegiado que promoverá o julgamento do recurso;

b. Decisão monocrática: se for combatida decisão monocrática, será julgado o recurso monocraticamente pelo relator.

• Prequestionamento: para se ter acesso aos tribunais superiores, a matéria deveria ser previamente debatida nas instâncias ordinárias, como será visto a seguir. Assim, como regra, não é possível apresentar recurso em tribunal superior sem que haja debate prévio nas instâncias de origem. O artigo 1025 dispõe que, mesmo que os embargos tenham sido inadimitidos/rejeitados pelo tribunal de origem, deverá ser considerada prequestionada a matéria suscitada em embargos. Ressalta-se que a arguição acerca da matéria de ordem pública poderá ser feita a qualquer tempo, porém, antes que se alce em instância superior.

• Pressupostos de admissibilidade: - Petição endereçada à autoridade prolatora da decisão; - Apontamento do vício; - Não há preparo; - Prazo de 5 dias

• Embargos: A. Sucessivos: na prática, podem os embargos da decisão de origem,

promoverem desdobramentos nessa decisão e gerar novos vícios, os quais poderão ser novamente embargados. Os embargos sucessivos serão permitidos quando a nova decisão, ou seja, aquela que julga o embargo anterior apresentar, ela mesma, vícios novos. Assim, não se pode apontar nos embargos sucessivos vícios da decisão originária, mas apenas da decisão logo anterior.

B. Protelatórios (art. 1026, § 2º): sendo considerados manifestamente protelatórios os embargos, poderá ser fixada

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multa de até 2% do valor da causa, sendo ela, a princípio, exigida apenas no final. No caso de embargos protelatórios sucessivos (reiterados) há possibilidade de majorar a multa para 10%. Com o objetivo de coibir ainda mais esse tipo de recurso, na hipótese anterior (sucessividade) e no caso de já ter sido a parte condenada, ao longo do processo, por interposição de recurso protelatório (reiteração da conduta), há mais uma sanção, a qual seja, a necessidade de depósito da multa para poder recorrer novamente.

Unidade 7: Apelação • Cabimento: art. 1009, NCPC;

• Decisão recorrível: sentença; • Prazo: 15 dias; • Preparo: sim; • Recurso impugnativo: para os recursos impugnativos, serão produzidas

duas peças, sendo elas: A. Peça de interposição:

- Endereçada ao juiz de 1ª instância; - Ao final, deverá remeter às razões anexas; - Precisa ser datada e assinada.

B. Peça com as razões recursais: - Endereçada ao tribunal (egrégio tribunal/colenda turma); - Precisa ser datada e assinada.

• Momento da sentença: A. Sentença antes da citação do réu: há possibilidade de juízo de

retratação. No antigo CPC, havia dois juízos de admissibilidade, um na primeira instância e outro na segunda. Com o intuito de evitar um eventual recurso de agravo da decisão do juiz que trancasse o processo na 1ª instância, o NCPC reduziu para apenas um juízo de

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CPC/15: Art. 1.009. "Da sentença cabe apelação.

§ 1o As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente

interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões. § 2o Se as questões referidas no § 1o forem suscitadas em contrarrazões, o recorrente será intimado para, em 15

(quinze) dias, manifestar-se a respeito delas. § 3o O disposto no caput deste artigo aplica-se mesmo quando as questões mencionadas no art. 1.015

integrarem capítulo da sentença. "

admissibilidade, sendo ele feito unicamente na 2ª instância (art. 1010, §3º).

B. Sentença após citação do réu: não há juízo de retratação.

• Efeito suspensivo (art. 1012): via de regra, interposto o recurso, automaticamente, está suspensa a eficácia da sentença, não admitindo cumprimento provisório até que decidido o recurso. O cumprimento definitivo se dará apenas após o trânsito em julgado. * Exceção (art. 1012, §1º): o dispositivo traz exceções ao efeito

suspensivo em um rol, o qual não é o rol taxativo, havendo previsão em lei extravagante de outras hipóteses de não aplicação do efeito suspensivo. (Ex.: em um procedimento de extinção de condomínio, sendo o bem divisível, há obrigatoriedade de perícia, para que se observe a aplicação do princípio igualdade em valor e em qualidade. Deve ser tal perícia homologada por sentença e, nesse caso, não haverá efeito suspensivo, nos termos do artigo 1012, §1º, I, CPC/15). Atenção também ao inciso V, que trata da tutela provisória, que, por razões lógicas e inerentes ao próprio instituto, não ensejam o efeito suspensivo da apelação.

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* Possibilidade de atribuição do efeito suspensivo (artigo 1012, §3º): pode ser requerido o efeito suspensivo mesmo para as matérias dispostas no §1º. Precisará ser suscitado o pericullum in mora e as razões para probabilidade de provimento do recurso. Deverá ser feito por simples petição, e seu direcionamento dependerá se o processo já foi distribuído ou não no tribunal. Vejamos: A. Se já foi distribuído (§3º, inciso II), será direcionado ao relator, que

irá proferir decisão monocrática da qual cabe agravo interno; B. Se ainda não foi distribuída (§3º, inciso I) à um relator, a petição

deverá conter qualificação e ser direcionada ao tribunal, devendo ela ser distribuída no tribunal. Essa petição deverá estar acompanhada do comprovante de custas, cópia das razões e outras peças, como a decisão apelada, que sejam necessárias à apreciação. Ela irá tornar prevento o relator.

• Efeito devolutivo (art. 1013, CPC/15): limitação das questões a serem apreciados pelo tribunal. Só poderá julgar as questões devolvidas pela parte nas razões recursais. A. Extensão: é a regra de todos os recursos, sendo que as matérias

apreciadas serão apenas aquelas de explícita e expressa impugnação pelo apelante.

B. Profundidade: está conectado com a extensão. Para o capítulo que foi impugnada (composto sua extensão) o tribunal está autorizado a analisar as questões afetadas e os argumentos deduzidos, ainda que não decididos em primeira instância ou não impugnados nas razões. Ex.: a contestação apresenta o capítulo da invalidade, trazendo neste argumentos acerca da simulação e da coação para ensejar anulação do negócio jurídico. A sentença foi procedente e maléfica ao réu, o que ensejou apelação, a qual teve como objeto apenas a simulação. Pelo efeito devolutivo de profundidade, o tribunal estaria autorizado também a analisar a coação, que está no mesmo capítulo impugnado.

• Teoria da causa madura (art. 1013, § 3o) : ocorre nas hipóteses nas 23

quais as causas versam somente sobre questão de direito e estiverem em condições de julgamento imediato, ou seja, não necessitar de produção de outras provas além das que já constam nos autos. Por não haver a

(CPC/15) Art. 1013, § 3o Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o mérito 23

quando: I - reformar sentença fundada no art. 485; II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir; III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo; IV - decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação.

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exigência do duplo grau de jurisdição, o tribunal poderá exercer o julgamento de mérito, prestigiando os princípios da celeridade e da instrumentalidade, sem prejuízo às partes. Atente-se ao fato de que, se ainda tiver espaço para produção de provas, não é possível aplicar essa teoria.

• Técnica de julgamento: ordem de julgamento das questões 1. Questões objeto de interlocutória: preliminar de apelação, artigo

1009, parágrafo 1º; 2. Preliminares de sentença: são aquelas que nascem da própria

sentença, emergindo dela; 3. Mérito recursal: podendo este coincidir ou não com o mérito da

causa, é o mérito que irá compor o reexame da decisão. • Julgamento colegiado: via de regra, contará a turma julgadora com 3

componentes, havendo possibilidade de decisão monocrática nos termos de artigo 932. a. Julgamento unânime: sendo unânime, encerra-se o julgamento

sendo o resultado; b. Julgamento não-unanime (art. 942, CPC/15): não havendo

unanimidade, será prolongado o julgamento para uma "câmara cheia", a qual contará com quórum qualificado, dando a possibilidade de reversão do resultado. Nesses casos, deverá ser incluso em pauta seguinte. Nesses casos, não se pode proclamar o resultado sem qualificar o quórum. O quórum qualificado será determinado pelo Regimento Interno e, no TJMG, este quórum será de 5 julgadores. Somente poderá ser dada continuidade na mesma sessão, se presentes todos os julgadores e os advogados de ambas as partes (contraditório substancial). Isso se aplicará também ao caso de julgamento não unânime de agravo de mérito (reforma da decisão) e à ação rescisória (rescisão de sentença), nos termo do § 3º do dispositivo legal mencionado.

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CPC/15: Art. 1.009. "Art. 942. Quando o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá prosseguimento em sessão a ser designada com a presença de outros julgadores, que serão convocados nos termos previamente definidos no regimento interno, em número suficiente para garantir a possibilidade de

inversão do resultado inicial, assegurado às partes e a eventuais terceiros o direito de sustentar oralmente suas razões perante os novos julgadores." (...)

Unidade 8: Recursos para tribunais superiores • Funções dos tribunais superiores (STF e STJ):

A. Precípuas (STF e STJ): visam a harmonia do sistema, promovendo a sua melhor interpretação e unificando entendimentos, almejando a isonomia. Ademais, atuam na fiscalização da situação concreta, analisando se foi aplicada a constituição (STF) ou a legislação comum (STJ) de forma correta. Suas decisões tem o condão de transformar verdadeiramente a sociedade. Isso, pois, um problema atomizado (entre A e B, por exemplo) pode promover discussão com repercussão geral.

B. Secundárias: serve como segunda instância em determinados conflitos.

• Motivos para a lei 13.256/16, a qual alterou o NCPC: o NCPC tinha flexibilizado os requisitos, tornando mais fácil o acesso às instâncias superiores. Não obstante, os ministros não acharam interessante essa medidas e optou-se por continuar dificultando o acesso, advogando-se a avultada quantidade de processos. Criam-se, então, mais filtros para vedar o acesso.

• As formas de se chegar aos tribunais superiores são: (1) Recurso ordinário: arts. 1027/1028 (CPC/15) e art. 102, II e 105, II (CF)

- Prazo: 15 dias; - Preparo: sim - Cabimento:

a. Decisões denegatórias de mandado de segurança de competência originária - tribunal superior (STJ → STF) ou 24

tribunal de 2ª instância (TJMG → STJ); 25

b. Decisões denegatórias de habeas data e mandado de injunção de competência originária do Tribunal Superior

c. Processos em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo internacional e do outro, municípios ou pessoas residentes no país.

a competência originária está prevista na CF/88, nos arts. 102, I (STF) e 105, I (STJ).24

competência originária de tribunal de 2ª instância está disposta na Constituição do Estado.25

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- Procedimento: art. 1028 (serão aplicadas as regras gerais da apelação)

- Aplicação da teoria da causa madura: não foi uniformizado o entendimento, havendo jurisprudência no sentido de aplicação da teoria, bem como de impossibilidade de sua aplicação. A professora defende a aplicação, tendo em vista a celeridade necessária para as ações constitucionais.

(2) Recurso Especial e Extraordinário: art. 1029/1041 (CPC/15) e art. 102, III e 105, III (CF/88)

- Finalidade: promover harmonização sistêmica da interpretação e da aplicação da CF e da legislação infraconstitucional.

- Duplo juízo de admissibilidade: (1) tribunal local e (2) tribunal superior; - Requisitos comuns:

A. Prazo: 15 dias B. Preparo: sim C. Devolução de questão de direito: sendo constitucional, deverá

ser por recurso extraordinário, de competência do STF. Sendo infraconstitucional, ensejará recurso especial a será julgado pelo STJ.

D. Esgotamento de recursos nas instâncias ordinárias (esgotamento das vias recursais): enquanto forem possíveis recursos na instância de origem, não estará aberto o acesso às instâncias superiores. Atenção ao fato de que os embargos não entram nesse requisito, por serem faculdade das partes.

E. Prequestionamento (art. 1025, CPC/15): é o requisito que exige discussão e o debate da matéria nas instâncias de origem (contraditório) acerca da questão devolvida no recurso. No antigo CPC, havia divergência entre o entendimento do STJ e o STF acerca do que seria o prequestionamento (conforme tabela abaixo).

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* O NCPC adotou o entendimento do STF, por ser mais adequado ao novo sistema, principalmente no que diz respeito à celeridade e duração razoável do processo. Ressalte-se que, quando não há decisão sobre a questão (decisão omissa), a forma de prequestionamento são os embargos de declaração (art. 1025, CPC/15 e súmula 98, STJ). Nessa hipótese eles deixam de ser faculdade, mas são uma via para debate da questão, provocando sua decisão no tribunal superior.

- Técnica processual: parte de uma questão já assentada. Na petição, deverão ser trazidos os fatos que já estão definidos na instância de origem. Isso, pois, nesse tipo de recurso não é mais possível discutir fatos controversos (súmulas 7 do STJ e 279 do STF). Assim, a 26 27

argumentação deve se voltar para a demonstração de que a solução jurídica dada para o fato já assentado não está de acordo com a ordem jurídica, e o porquê. Serão discutidas apenas questões de direito.

- Bipartição do recurso (duplo recurso): existem casos em que o a c ó rd ã o t r a z t a n t o f u n d a m e n t o s c o n s t i t u c i o n a i s c o m o infraconstitucionais. Nesse caso, o interessado deverá interpor o recurso especial e o recurso extraordinário, simultaneamente. A falta de interposição de um deles gera inadmissibilidade pela falta de interesse recursal, gerando recurso verdadeiramente inócuo. Importante dizer sobre a ordem dos julgamentos, sendo que primeiro será julgado o

Súmula Nº 7 (STJ) - A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial. 26

Súmula Nº 279 (STF) - Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário. 27

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CPC/15: Art. 1.025. "Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins de pré-questionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o

tribunal superior considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade."

Súmula Nº 98, STJ: Embargos de declaração manifestados com notório propósito de pré-questionamento não tem caráter protelatório

recurso especial e depois o extraordinário. Há corrente que entende que isso é uma exceção ao princípio da unirecorribilidade. Porém, a segunda corrente advoga o contrário, visto que ambos estão sob mesmo gênero (recursos extraordinários latu sensu) e se separam por questão de competência. Muitas vezes, nesse caso, o STF e o STJ são chamados a se manifestar no mesmo recurso. Nesse ponto, forma-se uma espécie de fungibilidade, a qual ocorre entre a interposição de RESP e RE quando a questão tangenciar fundamento infraconstitucional e constitucional. Isso não elimina, porém, a necessidade de interposição simultânea.

- Procedimentos: A. Efeito suspensivo (art. 1029, parágrafo 5º, CPC/15): há

competência diferente conforme a fase do procedimento e a requisição será sempre feita por petição em separado. ➢ Enquanto não há juízo de admissibilidade: deve ser requerido

ao presidente do tribunal local. ➢ Após o juízo de admissibilidade na instância local: será

direcionada ao STJ ou STF, conforme a hipótese. B. Efeito translativo: a matéria de ordem pública tem pertinência com o

princípio inquisitório (juiz age de ofício), o qual é exceção no processo civil, porém, tem aplicação. Isso não pertencerá, dessa forma, ao efeito devolutivo, mas sim ao efeito translativo. Nesse sentido, se formam duas correntes acerca da possibilidade do tribunal superior examinar a questão:

(1) Corrente 1: a primeira corrente autorizam o conhecimento de matéria pública que não foi prequestionada. Tecnicamente, para essa corrente, vencida a admissibilidade, para qual um dos requisitos é, justamente, o prequestionamento, é possível a análise da matéria da ordem pública. O requisito de admissibilidade é obrigatório. Assim, se apenas for suscitada a matéria de ordem pública, não será aceito o recurso. Em conclusão, entende-se que, uma vez se conseguindo o acesso aos tribunais superiores, a matéria de ordem pública poderá ser analisada.

(2) Corrente 2: a corrente mais tradicional não aceita que tais questões de ordem pública sejam analisadas nessa hipótese.

C. Efeito devolutivo: há devolução da matéria impugnada, devolvendo também, em profundidade, os fundamentos ligados à ele (art. 1034, NCPC). Atenção à necessidade de prequestionamento.

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D. Juízo de admissibilidade: ao tribunal local não cabe analisar o mérito, via de regra. Porém, jurisprudencialmente, se estabeleceu a possibilidade de um julgamento prévio do mérito pelo tribunal local, se houver manifesta ausência de algum elemento como, por exemplo, se claramente não houver ofensa a lei federal. Se assemelha esse papel ao do relator em outros tipos recursais. Um dos pontos mais comuns de negativa do recurso no juízo de admissibilidade, é a parte suscitar questões de fato, e não de direito, que como já dito, não é passível de discussão nos tribunais superiores. Outro ponto também abordado no momento do juízo de admissibilidade, é a falta ou insuficiência de fundamentação, como dispõe a súmula 284 do STF 28

e 182 do STJ. Além disso, necessário abordar a questão da tempestividade no caso de feriados. Ainda se mantém a necessidade de comprovação do feriado (no caso de cidades/Estados distintos) no momento da impetração do recurso, no tópico da tempestividade. Apesar disso, no âmbito do CPC/73 já havia construção jurisprudencial no sentido de aceitar posterior comprovação.

E. Fungibilidade: uma grande novidade do NCPC é trazida pelos artigos 1032 e 1033. Deve o relator, no âmbito do STJ, entendendo que o recurso versa sobre questão constitucional, mandar o recorrente emendar o recurso e, isso cumprido, remeter ao STF. O STF pode, por sua vez, devolver ao STJ se assim entender. Da mesma forma, o STF, recebendo recurso com questão meramente reflexa à constituição, poderá remetê-lo ao STJ, para que ele julgue como Resp.

Súmula Nº 284 (STF) - É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua fundamentação não 28

permitir a exata compreensão da controvérsia.

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CPC/15: Art. 1.032. "Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o recurso especial versa sobre questão constitucional, deverá conceder prazo de 15 (quinze) dias para que o recorrente demonstre a existência de

repercussão geral e se manifeste sobre a questão constitucional. Parágrafo único. Cumprida a diligência de que trata o caput, o relator remeterá o recurso ao Supremo Tribunal

Federal, que, em juízo de admissibilidade, poderá devolvê-lo ao Superior Tribunal de Justiça."

CPC/15: Art. 1.032. "Se o Supremo Tribunal Federal considerar como reflexa a ofensa à Constituição afirmada no recurso extraordinário, por pressupor a revisão da interpretação de lei federal ou de tratado, remetê-lo-á ao

Superior Tribunal de Justiça para julgamento como recurso especial

- Hipóteses de cabimento:

- Fungibilidade: não há que se falar em fungibilidade no que diz respeito à hipótese de cabimento (alíneas) dos recursos.

- Repercussão geral (para o recurso extraordinário): veio como filtro de acesso ao STF, sendo introduzido no artigo 102, § 3º, CF/88. No recurso extraordinário deve ser aberto um item "Da Repercussão", sendo este um requisito de admissibilidade. O NCPC, por sua vez, cuida da temática no artigo 1.035, §1º. O tribunal local deverá apenas verificar se o tópico da repercussão está presente, porém, não entra no mérito, visto que apenas o STF poderá dizer se há ou não a repercussão geral. Assim, o STF apenas atuará nas ações constitucionais com repercussão geral, e não qualquer uma. Notadamente, isso enseja uma maior dificuldade de acesso ao tribunal superior federal. A definição da repercussão é disposta no artigo 1.035, §1º. O §3º, por sua vez, traz hipóteses específicas nas quais se caracterizará a repercussão geral. A constitucionalidade ou não de uma norma, por exemplo, é matéria de repercussão geral jurídica (inciso III), haja vista sua relevância para todo conjunto social. Deve se atentar ao fato de que a repercussão geral é uma das técnicas para a formação dos precedentes. O procedimento da análise da repercussão geral está disposto no Regimento Interno do STF:

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• Recurso adesivo: - Limitação de cabimento: apelação, recurso especial e extraordinário. - Pressuposto: sucumbência recíproca - Art. 997: Via de regra, cada parte irá interpor seu recurso próprio. O

parágrafo primeiro e segundo, por sua vez, dão a possibilidade de uma das partes aderir ao recurso da outra, dependendo o recurso adesivo da sorte do recurso do outro (subordinação).

(FIM DA MATÉRIA DA PROVA FINAL)

Unidade 9: Ação rescisória • Conceito: ação excepcional para declarar q desconstituição de coisa

julgada material • Rejulgamento: há possibilidade de rejulgamento direto ou de

exaurimento da rescisória no exame do vício. Nesse sentido, é essencial analisar as hipóteses de cabimento, para detectar se será feito o rejulgamento pelo órgão competente da rescisória ou se será devolvido ao órgão de origem.

• Cabimento: artigo 966, NCPC. É rol taxativo. Os incisos são os seguintes. I. se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou

corrupção do juiz: há divergência doutrinária. A maioria da doutrina acredita que deve ser o julgamento realizado de forma direta, pelo princípio da celeridade. A outra corrente entende que o julgamento não deverá ter rejulgamento imediato;

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II. for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente: como o processo teve curso perante órgão não competente, não há possibilidade de rejulgamento direito;

III. resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei;

IV. ofender coisa julgada V. violar manifestamente norma jurídica: pode ser a respeito de legislação

infraconstitucional ou da própria constituição. Em 73 era violar literal disposição de lei. A súmula 343 postula que, se o texto foi divergente nos tribunais, não é possível rescisória, pois a violação deveria ser manifesta e com a pluralidade de entendimentos não haveria a unicidade de entendimentos.

VI. for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória;

VII. obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável;

VIII. for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos.

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