procedimento de controle administrativo – pca · diante disso, a ora requerente veiculou...

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR CONSELHEIRO DO CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO - CNMP. ASSOCIAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO RIO GRANDE DO SUL – AMPRS , pessoa jurídica de direito privado, inscrita junto ao CNPJ/MF sob o nº 87.027.595/0001-57, com sede na Av. Aureliano de Figueiredo Pinto, 501, Porto Alegre, RS, por intermédio de seu procurador firmatário, ut instrumento de mandato e documentos em anexo (Doc. 01), propor o presente PROCEDIMENTO DE CONTROLE ADMINISTRATIVO – PCA em face de ato administrativo praticado, em última instância administrativa, pelo Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral de Justiça do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul , fazendo-o com base no Art. 130-A, § 2°, II, da CF/88, na Lei 9.784/99, nos Artigos 107 e seguintes do RICNMP e nos fundamentos de fato e de direito que passa a expor: I. DAS CIRCUNSTÂNCIAS FÁTICAS: A Associação do Ministério Público do Rio Grande do Sul – AMPRS possui, dentre suas finalidades institucionais, a de “representar seus associados, judicial e extrajudicialmente, na defesa de seus direitos e interesses, perante qualquer instância administrativa ou jurisdicional, independentemente de autorização de assembleia”, consoante se depreende do Art. 1º, “h”, do seu Estatuto (Doc. 02).

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR CONSELHEIRO DO CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO - CNMP.

ASSOCIAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO RIO GRANDE DO SUL – AMPRS, pessoa jurídica de direito privado, inscrita junto ao CNPJ/MF sob o nº 87.027.595/0001-57, com sede na Av. Aureliano de Figueiredo Pinto, 501, Porto Alegre, RS, por intermédio de seu procurador firmatário, ut instrumento de mandato e documentos em anexo (Doc. 01), propor o presente

PROCEDIMENTO DE CONTROLE ADMINISTRATIVO – PCA

em face de ato administrativo praticado, em última instância administrativa, pelo Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral de Justiça do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, fazendo-o com base no Art. 130-A, § 2°, II, da CF/88, na Lei 9.784/99, nos Artigos 107 e seguintes do RICNMP e nos fundamentos de fato e de direito que passa a expor:

I. DAS CIRCUNSTÂNCIAS FÁTICAS:

A Associação do Ministério Público do Rio

Grande do Sul – AMPRS possui, dentre suas finalidades

institucionais, a de “representar seus associados, judicial e

extrajudicialmente, na defesa de seus direitos e interesses, perante

qualquer instância administrativa ou jurisdicional,

independentemente de autorização de assembleia”, consoante se

depreende do Art. 1º, “h”, do seu Estatuto (Doc. 02).

Diante disso, a ora Requerente veiculou

pretensão administrativa perante a Administração Superior do

Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, visando ao

reconhecimento, em favor de seus associados, do direito à

“percepção retroativa das diferenças entre seus vencimentos já

adimplidos e o valor que resultaria da percepção do limite mínimo

constitucional no patamar de 90% do subsídio do Ministro do

Superior Tribunal de Justiça referente ao cargo de Procurador de

Justiça, observado o escalonamento de 10% entre as entrâncias,

desde 1° de janeiro de 2005 até 28 de fevereiro de 2009”.

Tal pretensão administrativa ensejou a

instauração de processo administrativo autuado sob o nº PR

00001.01496/2010-5, juntado ao presente PCA em sua íntegra

(Doc. 03).

O pedido deduzido pela ora Requerente restou

indeferido, consoante se depreende da decisão contida na fl. 82 do

PR 00001.01496/2010-5 (Doc. 03). Com isso, resta implementada

condição imposta por este colendo CNMP (v.g. processo nº

0.00.000.001104/2008-05), quanto à necessidade de ato

administrativo da chefia do Ministério Público no sentido da

rejeição do pedido para que seja possível qualquer controle de sua

constitucionalidade junto ao Conselho Nacional do Ministério

Público.

Cumpre salientar que a decisão administrativa

de indeferimento do pedido deduzido pela ora Requerente não

desafia, segundo as normas legais ou regulamentares, qualquer

recurso endereçável aos demais órgãos colegiados de

Administração Superior do MPRS, encontrando-se, pois, exaurida

a via administrativa no âmbito local.

Demais do exaurimento da via administrativa no

âmbito local – requisito esse que não se afigura essencial, como já

decidido por este CNMP quando do julgamento do PCA

0.00.000.000292/2010-61 –, afigura-se evidente a relevância geral

e institucional da questão intrínseca ao feito presente, a justificar

a atuação deste órgão de controle externo.

Por fim, a atuação da ora Requerente encontra

amparo no disposto no Art. 9º, III, da Lei 9.784/99, pelo qual “são

legitimados como interessados no processo administrativo: ... as

organizações e associações representativas, no tocante a direitos e

interesses coletivos”.

Diante de tais comemorativos e rogando-se vênia

ao Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral de Justiça do MPRS

que exarou a decisão ora impugnada, perpetrou-se, no caso,

afronta aos princípios da Administração Pública, razão pela qual

se deduz o presente Procedimento de Controle Administrativo

(PCA), que se mostra fundamentado pelas razões jurídicas que

passam a ser expostas.

II. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS DA DEMANDA:

Consoante dispõe o Art. 107, do RICNMP, o

Procedimento de Controle Administrativo mostra-se cabível

“sempre que restarem contrariados os princípios estabelecidos no

art. 37 da Constituição”.

No caso dos autos, como será demonstrado, a

decisão administrativa impugnada afronta à noção ampla de

legalidade administrativa, também denominada de juridicidade

administrativa. Destaque-se que tal noção ampla de juridicidade

encontra amparo no ordenamento jurídico pátrio, sobretudo em

face do disposto no Art. 2°, § único, I, da Lei 9.784/99, Diploma

Legal esse aplicável à espécie em face do Art. 112, do RICNMP.

O referido preceito legal – Art. 2°, § único, I, da

Lei 9.784/99 – preceitua que a legalidade administrativa há de ser

interpretada no sentido de que ser imperiosa à Administração

Pública, a “atuação conforme a lei e o Direito”.

Por dever de clareza, os argumentos jurídicos

que se prestam a evidenciar as ilegalidades intrínsecas ao ato

administrativo ora vergastado serão esposados de modo sucessivo

e articulado, reproduzindo-se, em suma, os argumentos já

utilizados nos autos do expediente administrativo que tramitou

junto ao MPRS.

1) Histórico do modelo remuneratório dos Membros do

Ministério Público:

Neste ponto, repisamos o breve histórico do

modelo remuneratório dos membros da Magistratura e do

Ministério Público, para que se possa compreender a razão pela

qual a retroatividade ora buscada não constitui um privilégio ou

uma vantagem destituída de fundamentos jurídicos, e sim o

reconhecimento de um direito associado à dignidade do exercício

das atribuições funcionais dos associados ora postulantes.

A remuneração por meio de subsídio tem sua

origem na edição da Emenda Constitucional de nº 19 de 4 de

junho de 1998, que veio a dar nova redação a diversos dispositivos

constitucionais relativos à administração pública; dentre eles,

estava o primitivo inc. XI do art. 37 da Constituição Federal,

instituindo pela primeira vez o modelo de subsídio. A regra matriz

do modelo remuneratório por subsídio passou então a constar da

nova redação conferida ao art. 39, parágrafo 4º, da Constituição

Federal, referindo-se aos membros de poder (magistrados, chefes

de executivos, ministros de estado, secretários estaduais e

municipais e membros de casas parlamentares):

§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).

Quanto aos membros do Poder Judiciário, a

previsão específica ficou localizada no art. 93, V:

V - o subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores corresponderá a noventa e cinco por cento do subsídio mensal fixado para os Ministros do Supremo Tribunal Federal e os subsídios dos demais magistrados serão fixados em lei e escalonados, em nível federal e estadual, conforme as respectivas categorias da estrutura judiciária nacional, não podendo a diferença entre uma e outra ser

superior a dez por cento ou inferior a cinco por cento, nem exceder a noventa e cinco por cento do subsídio mensal dos Ministros dos Tribunais Superiores, obedecido, em qualquer caso, o disposto nos arts. 37, XI, e 39, § 4º;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

Já no que concerne aos membros do Ministério

Público, a previsão encontrou guarida no art. 128, § 5º, I, “c”:

c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, § 4º, e ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 150, II, 153, III, 153, § 2º, I; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

Posteriormente, por meio da edição da Emenda

Constitucional de nº 41, de 19 de dezembro de 2003, deu-se

importante passo no sentido de concretizar a previsão

constitucional do novo modelo remuneratório, alterando-se o

inciso XV do artigo 48 da Constituição Federal para o fim de

afastar a então necessária iniciativa de lei conjunta dos Chefes de

Poderes da República na fixação do subsídio dos Ministros do

Supremo Tribunal Federal, conforme o teor dos textos abaixo

reproduzidos:

Texto anterior: XV - fixação do subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, por lei de iniciativa conjunta dos Presidentes da República, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Supremo Tribunal Federal, observado o que dispõem os arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).

Texto posterior: XV - fixação do subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, observado o que dispõem os arts. 39, § 4º; 150, II; 153, III; e 153, § 2º, I. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003).

Assim, superado o óbice político quanto à

iniciativa legislativa conjunta, a Presidência do Supremo Tribunal

Federal, a fim de dar cumprimento à previsão constitucional,

encaminhou à Câmara dos Deputados projeto de lei registrado sob

o nº 4.651/2004 e do qual resultou a edição da Lei Federal de nº

11.143 de 26 de julho de 2005.

No âmbito do Ministério Público, coube ao

Procurador-Geral da República, a fim de resguardar a simetria no

trato remuneratório entre as carreiras da Magistratura e do

Ministério Público, remeter à Câmara dos Deputados projeto de

lei, registrado sob o nº 4.652/2004, que culminou na edição da

Lei Federal de nº 11.144, de 26 de julho de 2005.

Ditas normas, por expressa disposição legal,

tiveram efeitos retroativos a contar de 1º de janeiro de 2005.

Fixados os valores dos subsídios dos Ministros

do Supremo Tribunal Federal por meio da Lei Federal acima

referida, via de consequência, todos os consectários do art. 48,

inciso XV, entraram plenamente em vigor, acarretando a

obrigatoriedade de os Estados membros da Federação seguirem

este modelo para o Poder Judiciário e Ministério Público, em face,

a partir deste marco, da aplicabilidade plena das normas inseridas

nos artigos. 37, XI, 39, § 4º, 93, V, 128, § 5°, I, “c”, e 129, § 4º,

todos da Constituição Federal, uma vez que, segundo orientação

jurisprudencial do excelso Pretório, a aplicabilidade dos

respectivos comandos estava condicionada à promulgação da lei

que disciplinasse acerca do subsídio.

Assim, no Estado do Rio Grande do Sul, em data

de 30 de agosto de 2006, foram encaminhados os projetos de lei

de nºs 428/2006 e 429/2006, pelos quais se instituiu o modelo de

remuneração por subsídio para os membros da Magistratura e do

Ministério Público, respectivamente.

Após o curso do processo legislativo, aprovaram-

se as Leis Estaduais de nº 12.910/08 e nº 12.911/08, que

procederam à adequação de modelo remuneratório e

estabeleceram seu escalonamento, dentro do espaço de

discricionariedade que a Constituição Federal lhe conferia.

2) Da eficácia plena da disciplina normativa concretizadora do

modelo remuneratório por subsídio:

Ao versar sobre eficácia das normas

constitucionais, o Prof. José Afonso da Silva, in Aplicabilidade das

normas constitucionais, 5ª ed., 2001, págs. 118/135, nos diz que:

“(...) as normas constitucionais de eficácia limitada são de dois tipos: a) as definidoras de princípio institutivo ou organizativo, que, por brevidade, temos chamado de normas constitucionais de princípio institutivo; b) as definidoras de princípio programático, ou, simplesmente, normas constitucionais de princípio programático. 14. Ora, as normas de que se trata aqui são as não-programáticas dependentes de legislação. São de eficácia limitada porque é o legislador ordinário que lhes vai conferir executoriedade plena, mediante leis complementares ou ordinárias integrativas. Não são, todavia, destituídas de aplicabilidade, como querem aqueles que as chamam de normas de eficácia ou aplicabilidade diferida, como a pretender que nada

significam enquanto o legislador não emitir regras jurídicas que as complementem. Para distingui-las das normas programáticas (que também são de princípio, esquematizadoras de programas), preferimos designá-las como normas de princípio institutivo, porquanto contêm esquemas gerais, um como que início de estruturação de instituições, órgãos ou entidades, pelo quê também poderiam chamar-se normas de princípio orgânico ou organizativo. Não é perfeita a denominação, reconhecemos, mas qualquer outra seria ainda mais deficiente. A evolução dos estudos dessa matéria, um pouco descuidada entre nós, certamente encontrará terminologia mais precisa e adequada. O importante, porém, é situar bem o problema, definindo com segurança as expressões ou termos empregados, de sorte a que, metodologicamente, o objeto indicado fique devidamente circunscrito. Essa a nossa preocupação na terminologia utilizada, não a veleidade de inovações. V – Caracterização e exemplificação 15. A caracterização fundamental das normas constitucionais de princípio institutivo está no fato de indicarem uma legislação futura que lhes complete a eficácia e lhes dê efetiva aplicação. Umas deixam larga margem ao poder discricionário do legislador, como a do § 2º do art. 18 da Constituição, segundo o qual a criação de Território, sua transformação em Estado ou reintegração ao estado de origem serão regulamentadas em lei complementar; outras já indicam o conteúdo da lei, como a do art. 33 – ‘A lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos Territórios’ -, ou, ainda, a do § 2º do art. 90:’“A lei regulará a organização e o funcionamento do Conselho da República’ (igual disposição consta do § 2º do art. 91 para o Conselho de Defesa Nacional); ou a do art. 113: ‘A lei disporá sobre a constituição, investidura, jurisdição, competência, garantias e condições de exercício dos órgãos da Justiça do Trabalho, assegurada a paridade de representação de trabalhadores e empregadores’.Outras deixam para o legislador ordinário (ou complementar) apenas aspectos secundários, como é o caso do art. 161:’“Cabe à lei complementar: I- definir valor adicionado para fins do disposto no art. 158, parágrafo único, I; II – estabelecer normas sobre a entrega dos recursos de que trata o art. 159, especialmente sobre os critérios de rateio dos fundos previstos em seu inciso I, objetivando promover o

equilíbrio sócio-econômico entre Estados e entre Municípios; III – dispor sobre o acompanhamento, pelos beneficiários, do cálculo das quotas e da liberação das participações previstas nos arts. 157, 158 e 159’. Preferiu o constituinte, nesses casos, separar em dispositivo próprio o aspecto dependente de legislação em relação às regras principais de aplicabilidade imediata, o que se percebe pelas remissões aos dispositivos onde tais regras principais são estatuídas. (...) 18. O legislador constituinte reconhece a conveniência de disciplinar certa matéria relativamente à organização de instituições constitucionais, mas, ao mesmo tempo, por razões várias, e até de pressão, limita-se a traçar esquemas gerais (princípios, como começo) sobre o assunto, incumbindo ao legislador ordinário a complementação do que foi iniciado, segundo a forma, os critérios, os requisitos, as condições e as circunstâncias previstos na mesma norma. Conforme já observamos, essas normas deixam menor ou maior campo à atuação discricionária do legislador ordinário, mas sempre há um mínimo que um poder mais elevado – o constituinte – quer ver atendido; quando mais não seja, abre-se, ao menos, uma possibilidade para o órgão legislativo atuar de certa forma. Leia-se, Por exemplo, o art. 18, § 2º, da Constituição; aí se encontra uma norma dessas que representam insignificante vontade do constituinte, indicando uma possibilidade (a criação e eventual transformação de Territórios) e uma norma de atuação: essa criação há que ser feita mediante lei complementar; isto é, uma lei cujo processo de formação tem características peculiares: maioria absoluta (art. 69). 19. São, pois, normas constitucionais de princípio institutivo aquelas através das quais o legislador constituinte traça esquemas gerais de estruturação e atribuições de órgãos, entidades ou institutos, para que o legislador ordinário os estruture em definitivo, mediante lei.”

Da lição, extrai-se que as normas dos artigos 48,

XV, 37, XI, 39, § 4º, 93, V, 128, § 5°, I, “c”, e 129, § 4º, todos da

Constituição Federal, são classificadas como de eficácia limitada,

definidoras de princípio institutivo ou organizativo, e, pois,

impositivas.

Mais: ao passo que o legislador constituinte

determinou ao legislador ordinário a concreção da ordem

estabelecida nos artigos acima referidos, também lhe deixou

espaço de discricionariedade determinado, harmonizando a

autonomia estadual à necessária conformação nacional do

Judiciário e Ministério Público. Esse entendimento não decorre de

nova leitura ou nova interpretação do texto constitucional; apenas

reedita o que o egrégio Supremo Tribunal Federal já afirmou na

Ação Originária nº 589 sobre a correta compreensão da norma

contida no art. 93, V, da CF, com a redação da EC 19/98, cujo

acórdão restou assim ementado (STF, Pleno, AO nº 584-1/PE, Rel.

Min. Maurício Corrêa, DJ 27.06.03):

AÇÃO ORIGINÁRIA. REMUNERAÇÃO DOS MAGISTRADOS. EC 19/98. DISCIPLINA DO ARTIGO 39, § 4º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SUBSÍDIO DOS MINISTROS DO STF, DE INICIATIVA QUÁDRUPLA (CF, ARTIGO 48, XV). TETO. EFICÁCIA CONTIDA DOS ARTIGOS 37, XI, E 39, § 4º, DA CARTA DA REPÚBLICA. PREVALÊNCIA DA REGRA GERAL QUE VEDA A VINCULAÇÃO DE VENCIMENTOS. EXIGÊNCIA DE LEI ESPECÍFICA. AJUSTE ARITMÉTICO PARA FIXAR-SE ADMINISTRATIVAMENTE O SUBSÍDIO. INCONSTITUCIONALIDADE. CARÁTER NACIONAL DO PODER JUDICIÁRIO. APARENTE ANTINOMIA EM FACE DA AUTONOMIA DAS UNIDADES FEDERADAS. 1. Remuneração dos magistrados na vigência da EC 19/98. Regência do § 4º do artigo 39, com remissão ao artigo 37, X e XI, da Constituição Federal: parcela única em forma de subsídio, exigência de lei específica e teto correspondente ao valor devido aos Ministros do STF. 2. A

nova estrutura judiciária nacional (CF, artigo 93, V),

criou ampla vinculação, embora indireta, entre toda a

magistratura, independentemente do nível

organizacional, se federal ou estadual. Antinomia apenas

aparente, em face da autonomia dos Estados-membros,

por força do constituinte derivado. 3. O sistema de

subsídio instaurado pela EC 19/98 somente terá eficácia

após a edição da lei de iniciativa dos Presidentes da

República, do Senado, da Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal (CF, artigo 48, XI). 4. Enquanto não editada a lei de iniciativa quádrupla, prevalece a regra geral que veda a vinculação de vencimentos, exceção feita apenas aos limites da própria carreira, que, no nível federal, se encerra nos Tribunais Regionais e, no estadual, nos Tribunais de Justiça. 5. Qualquer reajuste administrativo da remuneração dos magistrados viola a Constituição, quer no regime anterior, quer após a EC 19/98. Segurança denegada.

Constou, ainda, do voto do Relator:

“O que aflora relevante é que, a partir daí (eficácia plena do critério do inc. V do art. 93, com a redação da EC 19), ter-se-á uma redução considerável da dependência política dos magistrados brasileiros para a fixação de seus subsídios, ficando ao alvedrio do legislador ordinário local apenas a variação do percentual do escalonamento, já preestabelecido em patamares entre 5% e 10%. Cessará, ainda,o desnivelamento de remuneração entre os juízes dos diversos Estados, permitindo a necessária homogeneidade salarial da categoria.”

3) Do caráter nacional, uno e indivisível do Ministério Público:

É no caráter nacional do Ministério Público que

se deve reconhecer, com mais razão ainda, a eficácia plena da

disciplina normativa que concretizou o modelo de remuneração

por subsídio.

A Emenda Constitucional de nº 19/98, ao

conferir nova redação ao inc. V do art. 93 da Constituição Federal,

consagrou a imposição de observância à estrutura nacional do

Poder Judiciário, pelo escalonamento mínimo e máximo entre as

respectivas categorias federais e estaduais, a partir dos Ministros

dos Tribunais Superiores, estendendo expressamente à

remuneração esse caráter unitário que anteriormente já se inferia

do texto. Posteriormente, o próprio STF, instado a manifestar-se

nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade nº 2087-MC, nº 3367 e

nº 3854-MC, reconheceu expressamente o caráter nacional,

inclusive para fins de teto remuneratório e subsídio.

Pertinente ao Ministério Público a solução é

paritária; a Constituição Federal diz expressamente que o

Ministério Público é uno e indivisível, assim dispondo:

Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. § 1º. São princípios institucionais do Ministério Público a

unidade, a indivisibilidade e a independência funcional.”

Além de o parágrafo primeiro do artigo 127 da

Constituição Federal dizer de forma expressa que são princípios

básicos do Ministério Público a unidade e a indivisibilidade, o

artigo 128 aduz que:

Art. 128. O Ministério Público abrange: I - o Ministério Público da União, que compreende: a) o Ministério Público Federal; b) o Ministério Público do Trabalho; c) o Ministério Público Militar; d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios; II - os Ministérios Públicos dos Estados.

A presente postulação, assim, também decorre

dos princípios da unidade e da indivisibilidade do Ministério

Público, os quais ainda vieram recentemente reafirmados pela

edição da Emenda n° 45/2004, que, ao criar o Conselho Nacional

do Ministério Público, lhe conferiu atribuições precípuas para

exercer o controle administrativo e financeiro de todos seus

segmentos da União e dos Estados-membros.

Importa referir, ainda, que o caráter nacional do

Ministério Público vem sendo afirmado em decisões do Conselho

Nacional do Ministério Público, a exemplo dos julgamentos

exarados nos procedimentos de Controle Administrativo de nº

0.00.000.000021/2006-29, de Pedido de Providências de nº

0.00.000.000977/2007-10, de Pedido de Providências de nº

0.00.000.000775/2007-60, de Controle Administrativo de nº

0.00.000.001012/2008-17 e de Pedido de Providências de nº

0.00.000.000899/2009-15.

Quanto a este último, vale transcrever o que se

extrai do voto da lavra do eminente Conselheiro Cláudio Barros

Silva, ex-Procurador-Geral de Justiça do MP-RS:

“Sobre o tema, leciona José Afonso da Silva,in Curso de Direito Constitucional Positivo, 6ª ed., Editora Saraiva, São Paulo, 2007, p. 394, que “o art. 128 dá conseqüência ao princípio da unidade do Ministério Público. Por isso, trata todos os Ministérios Públicos enumerados nos seus incisos e alíneas como se constituíssem uma instituição única, ao afirmar que ‘O Ministério Público abrange [...]’. Quer-se, com esse modo de dispor, significar que a instituição do Ministério Público abrange todos os Ministérios Públicos ali indicados. Realmente, a pretensão da unidade nesse sentido já constava da exposição de

motivos da Comissão elaboradora dos estudos e do anteprojeto da antiga Lei Orgânica do MP (Lei Complementar 40/81 e consagrado na atual: Lei 8.625, de12.2.1993), segundo o qual o Ministério Público é, em seus lineamentos básicos, uma só instituição, quer atue no plano federal, junto à justiça comum ou especial, quer no plano dos Estados, Distrito Federal e Territórios.” No mesmo sentido, a lição de Emerson Garcia, in Ministério Público – organização, atribuições e regime jurídico, Editora Lumen Juris, Rio de Janeiro, 2004, p. 51, onde ensina que, “sob uma ótica funcional, é possível falar em um único Ministério Público, já que a Instituição, por intermédio de cada um de seus ramos, desempenha, no seu âmbito de atuação, as funções institucionais que lhe foram atribuídas pelo texto constitucional”. Inegavelmente, as funções institucionais definidas na Constituição Federal são as mesmas para todos os membros do Ministério Público brasileiro (artigo 129 da Constituição Federal). “O que ocorre, de fato, é apenas um arranjo organizacional mínimo e flexível do Ministério Público, objetivando sua máxima eficiência, realizado pelo próprio texto constitucional a partir de determinadas matérias colocadas sob responsabilidade da instituição”, conforme lição de Marcelo Zenkner, em artigo com o título Reflexos Processuais dos Princípios Institucionais da Unidade e da Indivisibilidade – Revistando as Atribuições dos Órgãos de Execução do Ministério Público Brasileiro, em Temas Atuais do Ministério Público, Editora Lumen Juris, Rio de Janeiro, 2008, p. 99. A Constituição Federal reserva aos membros do Poder Judiciário o monopólio da solução dos conflitos de interesses levados a Juízo. Em conseqüência, todo o membro do Poder Judiciário, assumindo o cargo de juiz, passa a ter jurisdição. São, todavia, as regras que definem a competência que irão dizer quem deva resolver determinado conflito. Também, a Constituição Federal define as funções e as atribuições dos membros do Ministério Público, nas causas reservadas à tutela da Instituição. Todavia, terá atribuição, pela via reflexa, o membro do Ministério Público que irá atuar perante o Juízo competente para atuar no feito. O caráter nacional e de unidade da magistratura e da Instituição do Ministério Público está consolidado na universalidade da jurisdição, aos magistrados, e do exercício das atribuições,

constitucionalmente conferidas aos membros da Instituição. Verdadeiramente, o que define as atribuições dos membros do Ministério Público brasileiro são as regras que fixam a competência de quem vai julgar os feitos por eles ajuizados. Como a Constituição e as Leis determinam, no âmbito do Poder Judiciário, quem deve julgar determinada causa, mantendo o seu caráter nacional, o mesmo ocorre no âmbito do Ministério Público, por seu princípio da unidade, que tem, também, previsão na Constituição e nas Leis, e é conseqüente de sua organização e das suas atribuições, e que estão, previamente, definidas. Sempre que houver atuação de membro do ramo da União ou dos Estados, pelo princípio da unidade e do seu caráter nacional, quem estará agindo no processo é o Ministério Público com atribuição. Aliás, este é o argumento utilizado por Fredie Didier Jr., in Curso de Direito Processual Civil, Vol. I, 9ª edição, Editora Jus Podium, Salvador, 2008, p. 148, onde sustenta “o Ministério Público, qualquer que seja ele, poderá exercer as suas funções em qualquer Justiça. O que importa, realmente, é saber se é da sua atribuição a causa que venha a patrocinar. Se for, poderá fazê-lo perante qualquer órgão do Poder Judiciário”. Inegavelmente, este entendimento consolida o princípio da unidade como o que afirma o caráter nacional da Instituição. Também, esta posição foi consolidada pela Suprema Corte no julgamento do HC 85.137/MT, DJ de 28.10.2005, cujo Relator foi o Ministro Cezar Peluso, onde consta, expressamente que ato processual praticado, em foro incompetente, por um representante, prescinde, para ser válido e eficaz, de ratificação por outro do mesmo grau funcional e do Ministério Público, apenas lotado em foro diverso e competente, porque foi em nome da instituição, que una e indivisível. Colocadas estas premissas, não há dúvidas de que o Ministério Público, como o Poder Judiciário, tem caráter unitário e nacional.”

Afirmada como indiscutível a matriz

constitucional do caráter nacional da instituição do Ministério

Público, a ela corresponde uma necessária relativização ao

princípio da autonomia do estado-membro, que decorre do

princípio federativo, para os fins e nos moldes do que a própria

Constituição Federal veio a estabelecer.

Vale dizer, se a instituição do Ministério Público

é nacional, esse caráter também deve ser considerado para o trato

da questão remuneratória, em especial no que se refere à

concretização de seu novo modelo, dado na forma de subsídio.

4) Do caráter nacional da norma concretizadora do modelo

remuneratório por subsídio:

Como já referido, a concretização do comando

constitucional da remuneração por subsídio só veio a ser obtido

quando da edição das Leis Federais de nº 11.143/05, quanto à

magistratura, e de nº 11.144/05, quanto ao Ministério Público.

Contudo, ao contrário do que possa inicialmente

parecer, não se trata aqui de normas federais em seu sentido

estrito, mas de normas com caráter nacional, porque decorrentes

da expressão legislativa nacional da federação, irradiando seus

efeitos a todos os entes federados que contenham em suas

estruturas organizativas unidades do Poder Judiciário e do

Ministério Público.

A respeito do tema é conhecida a valiosa lição

trazida pelo Prof. Geraldo Ataliba, que bem esclarece a essência da

estrutura federativa do Estado brasileiro e a correspondente

dimensão nacional no campo da atividade legiferante, para

distinguir as leis nacionais das leis federais.

Em clássico trabalho intitulado “Regime

Constitucional e Leis Nacionais e Federais” (in Revista de Direito

Público nºs 53/54, págs. 58/76) assevera o mestre:

“A compreensão do sentido, alcance e vinculabilidade das designadas ‘normas gerais’ ou diretrizes e bases – bem como de outras leis nacionais que versam matérias genéricas de competência de União, Estados e Municípios – exige rigorosa colocação dos fundamentos teóricos de sua distinção relativamente às simples leis federais, estaduais e municipais. “O regime jurídico dessas leis nacionais - dentre as quais estão inúmeras leis complementares – requer do exegeta abandone a simplista, primária e apressada explicação infelizmente penetrada na nossa doutrina e jurisprudência, baseada numa inexistente (entre nós) hierarquia das leis, equivocadamente concebida e desastradamente exposta. Com efeito, ao Congresso Nacional incumbe editar leis nacionais e leis federais, cumulativamente. Embora sejam estas essencialmente distintas e inconfundíveis, dotadas que são de natureza jurídicas diversas – o que as coloca em campos e níveis diferentes – difícil parece, muita vez, discerni-las, principalmente em razão da circunstância de formalmente se assemelharem e, sobretudo, originarem-se, por processos semelhantes, do mesmo órgão. (...) “Por outro lado, o Estado Federal brasileiro é formado pela aliança, pela união dos diversos Estados federados. Tem, portanto, os mesmos súditos e o mesmo território, sendo que o instrumento do pacto federal – do ‘tratado de união’ – é, concomitantemente, por exigência lógica, a constituição da nova pessoa assim nascida, o Estado Federal, o Brasil. “Esta nova pessoa, criada pela reunião das diversas pessoas federadas, tem atribuições, competências e finalidades próprias, distintas das dos entes que a compõem. Daí a necessidade de ser dotada de órgãos e instrumentos capazes de habilitá-los ao desempenho de seu múnus constitucional próprio, que não se confunde com o das demais.

“Deve-se nela, entretanto, distinguir a feição ou o aspecto nacional do aspecto federal – em oposição a federado. Seus instrumentos, entre os quais a lei, não são, concomitantemente, nacionais ou federais. São-no, exclusivamente, uma ou outra coisa. “A grande dificuldade, pois, demora-se exatamente aqui: o órgão é o mesmo – no que interessa ao nosso tema, o Congresso – o fruto de sua atuação formalmente idêntico, embora substancialmente tão diverso: lei federal e lei nacional. Leis que o Congresso edita enquanto órgão do Brasil – Estado Federal - e leis da pessoa União. (...) “O Congresso Nacional, no nosso sistema, é concomitantemente órgão do Estado Federal brasileiro e da União. O produto de sua atividade legiferante, porém, será lei nacional ou simplesmente lei federal, conforme ele atue nesta ou naquela qualidade.”

E a tese ora esposada vem com perfeição

comprovada pelo que se extrai da mais singela interpretação das

normas em apreço.

De fato, longe de disciplinarem a remuneração

da magistratura da União e do Ministério Público da União, o que

sem dúvida lhes conferiria um âmbito mais restrito, os textos

normativos ocuparam-se, em vez disso, em prescrever a

remuneração dos Ministros do Supremo Tribunal Federal e do

Procurador-Geral da República, integrantes aqueles do órgão de

cúpula da magistratura nacional e representante este do

Ministério Público brasileiro.

E é por esta razão, vale salientar, que,

especificamente quanto à magistratura da União e ao Ministério

Público da União, a disciplina remuneratória decorre não das leis

em análise, mas sim das anteriores Leis Federais de nºs

10.474/02 e 10.477/02, sendo estas sim de caráter federal em

seu sentido estrito, porque direcionadas à União, estando nelas

previsto o escalonamento remuneratória daquelas carreiras, que

tomam como base o valor posto nas leis nacionais de 2005.

5) Da Solução Cabível:

Nesse contexto, evidente que o legislador

constitucional não estabeleceu apenas o teto, mas também o

limite mínimo, ao estender o caráter nacional e unitário do

Ministério Público à forma e ao conteúdo da remuneração de seus

membros. Em outras palavras, O PODER CONSTITUINTE AO

MESMO TEMPO PROIBIU O EXCESSO E A INSUFICIÊNCIA

DENTRO DA NECESSIDADE DE UNIFORMIZAÇÃO

REMUNERATÓRIA NACIONAL.

Para tanto, foi fixado no art. 93, V, da CF o

escalonamento, que é aplicado ao Ministério Público por força do

art. 129, § 4º, ambos da Constituição Federal e, como já dito, teve

sua eficácia plena com a edição das Leis Federais de n°s

11.143/2005 e 11.144/2005.

Assim, desde 1° de janeiro de 2005, OS

MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO BRASILEIRO TÊM

DIREITO SUBJETIVO LÍQUIDO E CERTO À PERCEPÇÃO DESSE

LIMITE MÍNIMO REMUNERATÓRIO CONSTITUCIONAL, a ser

quantificado em cada caso particular conforme a diferença entre

valor devido e o vencimento mensal efetivamente pago no período

na forma do caduco modelo remuneratório por vencimentos.

Este argumento é sustentado pela doutrina do

Mestre José Afonso da Silva, alhures transcrita, pois a

promulgação das Leis Federais de n°s 11.143/2005 e

11.144/2005 acarretou na vigência plena, entre outros

dispositivos constitucionais, do inc. XI do art. 37 e do inc. V do

art. 93, principalmente das expressões “subsídio dos

Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa

inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal,

em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no

âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do

Ministério Público” e “os subsídios dos demais magistrados serão

fixados em lei e escalonados, em nível federal e estadual, conforme

as respectivas categorias da estrutura judiciária nacional, não

podendo a diferença entre uma e outra ser superior a dez por

cento ou inferior a cinco por cento”.

Desse modo, se, no âmbito do Estado do Rio

Grande do Sul, o subsídio dos Desembargadores e Procuradores

de Justiça foi fixado em 90.25% do subsídio dos Ministros do STF,

somente em março de 2009, por meio das Leis Estaduais nº

12.910/2008 e 12.911/2008, já desde de 1º de janeiro de 2005

até 28 de fevereiro de 2009 o mínimo constitucional devido, por

força do escalonamento instituído no mandamento constitucional,

na plenitude da vigência e da eficácia, corresponderia

necessariamente ao valor do subsídio de Ministro do Superior

Tribunal de Justiça subtraído da diferença de 10%, e assim

sucessivamente, até a entrância, ou “categoria”, inicial - e é

conveniente destacar: utilizando-se do parâmetro de Ministro do

Superior Tribunal de Justiça, pois é este, dentro da estrutura

nacional, o parâmetro a que estão referenciados os subsídios dos

Desembargadores e Procuradores de Justiça, com a diferença de

10%, por ser este o desconto máximo previsto no art. 93, V, da

CF.

Ressalta-se, ainda, que o caráter unitário do

Ministério Público e a impositiva obediência aos parâmetros

remuneratórios nacionais foram sedimentados no Parlamento

gaúcho quando do debate político que culminou com a alteração

do modelo remuneratório; a presente postulação, inclusive, tem

abrangência apenas pretérita, não implicando sequer

automaticidade do reajuste do subsídio, já que na sua

implementação pela Lei Estadual de n° 12.911/2008 foi ele fixado

no patamar constitucional máximo, ou seja, em valor pecuniário

correspondente a 90,25% do subsídio dos Ministros do Supremo

Tribunal Federal (art. 37, XI), ou 95% do subsídio dos Ministros

do Superior Tribunal de Justiça (art. 93, V), mantendo-se essa

equivalência no recente reajuste concedido pela Lei Estadual

n°13.407/2010.

Por fim, consigna-se que o requerimento

respeita a autonomia legislativa estadual no que importa à

estruturação de suas respectivas categorias e ao escalonamento

remuneratório do Ministério Público, apenas adequando-os aos

parâmetros e limites da Constituição Federal.

Trata-se, tão-somente, de garantir real vigência

ao mandamento constitucional durante o tempo em que o

legislador gaúcho deixou de se posicionar dentro do espaço de

discricionariedade que lhe cabia.

6) Da adequada consideração ao princípio da prévia

autorização orçamentária:

Em derradeira análise, importa afirmar que a

solução preconizada não encontra óbice no princípio da prévia

autorização orçamentária, positivado na Constituição Federal em

seu artigo 169, § 1º, incs. I e II, estando a ele conformada; isto

porque a falta de autorização pelas leis orçamentárias dos entes

federados estaduais não impede o reconhecimento do direito ora

postulado.

De fato, o mencionado princípio tem como

escopo resguardar o administrador público de eventual

repercussão financeira pela emergência de despesa não prevista

em lei, promovendo assim o necessário equilíbrio entre receitas

estimadas e despesas orçadas para determinado exercício

financeiro. Nessa linha, conhecida é a posição do Supremo

Tribunal Federal que proclama que a eventual falta de previsão

orçamentária apenas torna inexeqüível no exercício em que ela

vige, prorrogando para exercício futuro a percepção de vantagem

pecuniária que seja legalmente devida; vejam-se, assim, os

precedentes referentes aos julgamentos da ADI-MC 484 (Min.

Célio Borja), da ADI-MC 1.243 (Min. Sydney Sanches), da ADI-MC

1.428 (Min. Maurício Correa) e da ADI 1.585 (Min. Sepúlveda

Pertence).

Este último julgado restou assim ementado:

I. Despesas de pessoal: limite de fixação delegada pela Constituição à lei complementar (CF, art. 169), o que reduz sua eventual superação à questão de ilegalidade e só mediata ou reflexamente de inconstitucionalidade, a cuja verificação não se presta a ação direta; existência, ademais, no ponto, de controvérsia de fato para cujo deslinde igualmente é inadequada a via do controle abstrato de constitucionalidade. II. Despesas de pessoal:

aumento subordinado à existência de dotação

orçamentária suficiente e de autorização específica na lei

de diretrizes orçamentárias (CF, art. 169, parág. único, I e II): além de a sua verificação em concreto depender da solução de controvérsia de fato sobre a suficiência da dotação orçamentária e da interpretação da LDO, inclina-

se a jurisprudência no STF no sentido de que a

inobservância por determinada lei das mencionadas

restrições constitucionais não induz à sua

inconstitucionalidade, impedindo apenas a sua execução no exercício financeiro respectivo: precedentes.

Portanto, também sob este aspecto se afirma

legítimo o direito ora perseguido, em plena compatibilização entre

os princípios da estrutura nacional do Ministério Público e da

autonomia organizativa e previsão orçamentária do ente federado.

Nesses termos, o reconhecimento do direito que

decorre da aplicação de norma nacional não encontra óbice na

ausência de previsão pelas leis orçamentárias estaduais, apenas

significando que a efetiva satisfação do direito dependerá de

posterior deliberação no âmbito da unidade federada, ficando à

livre apreciação do juízo de conveniência e possibilidade pelo

Ministério Público estadual, quando do encaminhamento de sua

proposta orçamentária, e, de igual modo, da livre deliberação

legislativa quando da elaboração das futuras leis orçamentárias.

7) Dos precedentes:

Situação similar à que constitui o presente

objeto de debate ocorreu no âmbito do Conselho Nacional do

Ministério Público, do que se originou precedente perfeitamente

aplicável à pretensão ora veiculada – como se verá a seguir.

De fato, criado o Conselho Nacional do

Ministério Público pela Emenda Constitucional de nº 45, de 30 de

dezembro de 2004, seus membros somente passaram a ser

remunerados pelo sistema de subsídio (ao contrário do que

sucedeu, por exemplo, com os integrantes do Conselho Nacional

de Justiça, que desde o início de suas atividades já se

remuneraram dessa forma) com o advento da Lei nº 11.883, de 24

de dezembro de 2008, num hiato remuneratório de quase três

anos – em que os Conselheiros, posto que exercendo suas

atribuições no próprio CNMP, eram remunerados conforme seus

cargos originários.

A Lei 11.883/08 assim dispôs:

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º Os membros do Conselho Nacional do Ministério Público perceberão mensalmente subsídio equivalente ao de Subprocurador-Geral da República. § 1º Os Conselheiros detentores de vínculo efetivo com o poder público ou que percebem proventos em órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, da administração direta ou indireta, manterão a remuneração ou os proventos no órgão de origem, acrescida da diferença entre esses, se de menor valor, e o subsídio referido no caput deste artigo.

§ 2º Além da remuneração prevista neste artigo, os Conselheiros receberão passagens e diárias, equivalentes às pagas a Subprocurador-Geral da República, para atender aos deslocamentos em razão do serviço. Art. 2º As despesas decorrentes da aplicação desta Lei correrão à conta dos créditos consignados ao Conselho Nacional do Ministério Público no Orçamento-Geral da União. Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Dessa forma, estabelecido o regime de subsídio

para diante, a partir da vigência da nova Lei, restou a definir como

seria considerada a remuneração pretérita, referente ao tempo em

que os Conselheiros, em que pese o efetivo exercício de suas

atribuições, não se regiam por esse modelo. Essa questão foi

debatida dentro do próprio CNMP, no Pedido de Providências nº

0.00.000.000002/2009-45 (e em seus anexos, que ganharam os

nºs 0.00.000.000546/2010-41 e 0.00.002.000179/2010-65), em

que, a partir do voto do Relator, Conselheiro Cláudio Barros Silva,

se definiu o direito a esses pagamentos, de forma retroativa, na

medida em que houve, durante o período pretérito, efetiva

prestação de serviço pelos Conselheiros.

É bem verdade que a Lei nº 11.372, de 23 de

novembro de 2006, já estabelecia, no seu art. 11, a retroatividade

de seus efeitos financeiros à data da implantação do CNMP; em

todo caso, não foi este o único argumento a ser empregado no

reconhecimento do pedido administrativamente encaminhado

àquele órgão, de pagamento das diferenças pretéritas. Na verdade,

mesmo que não houvesse a lei em questão, não seria possível

outra interpretação do sistema jurídico senão a que encontrou o

Eminente Relator, ao frisar que:

Ademais, consoante afirmaram os requerentes, tanto a LOMAN, lei Complementar nº 35/79, em seu artigo 124, como a Lei Complementar nº 75/93, Lei orgânica do Ministério Público da União, em seu artigo 47, parpagrafo 3º, impõem vedação à prestação de serviços gratuitos, situação fática, inclusive, que serviu, como fundamento, ao Conselho Nacional de Justiça para a edição da Resolução nº 22/06, que determinou o pagamento das diferenças de remuneração a juízes auxiliares convocados por aquele Órgão de controle externo.

Com efeito, admitir-se o contrário implica

agasalhar a hipótese de que o exercício da função de Conselheiro

foi exercida durante o período buscado de forma não-remunerada,

o que fere a própria dignidade do cargo.

Reconhecido o cabimento da verba retroativa,

tais parcelas atrasadas se revestiram, na decisão em estudo, de

caráter eminentemente indenizatório, tornando impróprios

eventuais argumentos de matriz financeira invocados para obstar

seu pagamento, como salienta o mesmo Relator, no seguinte

destaque do mencionado voto:

Por tratar-se ainda de passivo de pessoal, ou seja, de pagamentos com caráter indenizatório, não há que se falar em contrariedade à Lei de Responsabilidade Fiscal, bem como à LOA e ao PPAG, uma vez existindo orçamento em vigor. Reconhece-se, portanto, o direito à percepção pelos Conselheiros e Membros dos subsídios, desde a instalação do Conselho Nacional do Ministério Público. A presente decisão tem caráter TERMINATIVO, e visa sedimentar a questão que, há muito, encontra-se pendente. Embora a Lei n° 11.883/08 determine a forma de remuneração através de subsídio aos membros do Conselho Nacional, a falta de pagamento aos requerentes, desde a instalação do Colegiado, em junho de 2005, não mais caracteriza remuneração, pois tem caráter

indenizatório, fato que deve ser considerado até a entrada em vigor da Lei, em dezembro de 2008. Pelo exposto, voto, em caráter definitivo, pelo pagamento, a título de indenização, das diferenças entre o subsídio de Subprocurador Geral da República e aquele percebido pelos requerentes, nos exatos termos do artigo 1° da Lei n.° 11.883/08, retroagindo a junho de 2005, data de instalação do Conselho Nacional do Ministério Público, com a devida atualização monetária e juros, observadas as disposições do artigo 11 da Lei n.° 11.372/2006, artigo 124 da Lei Complementar n.° 35/79, com aplicação analógica, e artigo 47, parágrafo 3°, da Lei Complementar n.° 75/1993, desde junho de 2005.

Ubi eadem ratio, idem ius, sendo manifesta a

semelhança entre a decisão do Conselho Nacional do Ministério

Público, em que se reconheceu a retroatividade dos subsídios

fixados posteriormente à sua instalação, com a pretensão que ora

se veicula, no sentido de alcançar aos membros do Ministério

Público do Estado do Rio Grande do Sul também a retroatividade

dos efeitos da Lei Estadual nº 12.911/08 até, pelo menos, a edição

da Lei Federal nº 11.144/05, para que lhes seja reconhecido o

direito às parcelas consistentes na diferença entre a remuneração

efetivamente recebida no período e aquilo a que teriam direito caso

já houvesse sido instituído, desde então, o regime de subsídio –

isso tudo a título indenizatório.

Poder-se-á dizer que, no caso que origina este

pedido, a legislação estadual, ao contrário da Lei nº 11.372/06,

explicitou o diferimento dos efeitos financeiros de suas

disposições; entretanto, como se verá em 3.8 infra, tal restrição é

manifestamente inconstitucional e deve ser tida por inócua em

face do direito invocado.

8) Da Inconstitucionalidade da Lei Estadual nº 12.911/08:

Por fim, é preciso enfrentar o que aparentemente

constitui um obstáculo à pretensão de retroatividade de diferenças

a título de subsídio. Trata-se da parte final do art. 4º da Lei

Estadual 12.911, de 11 de março de 2008, que projeta – ou difere

- os seus efeitos para diante, mais precisamente para março de

2009.

Para uma melhor compreensão, veja-se o

integral teor da Lei Estadual nº 12.911:

Art. 1º O subsídio mensal dos membros do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, limitado a 90,25% (noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento) do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, é fixado em R$ 22.111,25 (vinte e dois mil, cento e onze reais e vinte e cinco centavos). Parágrafo único. A alteração do valor nominal do subsídio fixado no "caput" dependerá de lei especifica, de iniciativa privativa do Procurador-Geral de Justiça, nos termos do art. 37, inciso XI, da Constituição Federal. Art. 2º A fixação do subsídio, aplicável aos inativos e pensionistas, observará os seguintes índices de escalonamento vertical: I - Procurador de Justiça ..........................................100; II - Promotor de Justiça de entrância final....... ......... 90; III - Promotor de Justiça de entrância intermediária.. 80; IV - Promotor de Justiça de entrância inicial............. 70. Art. 3º As despesas resultantes da aplicação desta Lei correrão à conta das dotações orçamentárias consignadas ao Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul. Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, produzindo seus efeitos a partir de 1º de março de 2009. Art. 5º Revogam-se as disposições em contrário.

A impropriedade da lei em comento – e que a

torna inconstitucional neste ponto - está, como salientado, no seu

art. 4º, na oração “produzindo seus efeitos a partir de 1º de março

de 2009”, na medida em que disciplina sua eficácia para diante,

quando o sistema de subsídio já fora implementado, seja na

Constituição Federal, a partir da Emenda Constitucional nº 41, de

19 de dezembro de 2003, seja em âmbito nacional, nos termos da

Lei Federal nº 11.144/05. Assim dispondo, o legislador estadual

não apenas ignorou completamente as disposições existentes

nesses níveis jurídico-normativos, como usurpou funções do

próprio Constituinte, ao estipular quando o regime de subsídio

“vigorará” no Estado, como se essa forma de remuneração já não

estivesse em vigor. Em outras palavras, disse mais do que devia e

com isso foi, no mínimo, atécnico.

É claro que o sentido e propósito dessa

determinação foi nitidamente o de inviabilizar os pagamentos

retroativos para os membros do Ministério Público do Rio Grande

do Sul; entretanto, também aqui foi o legislador além de suas

competências originárias, ingressando numa esfera hermenêutica

que lhe é absolutamente estranha. Veja-se, em contrapartida, o

caso da Lei 11.372, de 23 de novembro de 2006: na situação já

mencionada, referente ao subsídio dos integrantes do Conselho

Nacional do Ministério Público, este diploma já previa, no seu art.

11, a retroatividade de seus efeitos – única solução juridicamente

possível e razoável para o caso, diga-se de passagem. Também a

experiência de outros estados da federação é diversa: a Lei nº

3.086, de 14 de setembro de 2008, do Estado do Amazonas, por

exemplo, previu pagamentos retroativos a 2005 dos subsídios

mensais dos membros do Ministério Público, reconhecendo no

plano legal um direito que decorre da própria hermenêutica

constitucional.

Logo, por essa verdadeira usurpação em relação

à disciplina do sistema remuneratório do subsídio, o art. 4º da Lei

Estadual nº 12.911/08 deve ser considerado, na sua segunda

parte, inconstitucional, não representando essa disposição, por

conseguinte, qualquer impedimento juridicamente válido à

pretensão de retroatividade neste momento apresentada.

III. DOS PEDIDOS:

ANTE O EXPOSTO, pede a entidade Requerente:

a) seja, nos termos do Art. 107 e seguintes do RICNMP recebido o presente

Procedimento de Controle Administrativo – PCA em face do objeto do

controle pretendido, ou, se assim não for entendido, seja o feito autuado

como Pedido de Providência – PP, nos termos do Art. 125 e seguintes do

RICNMP;

b) seja intimado o Excelentíssimo Doutor Procurador-Geral de Justiça do

Estado do Rio Grande do Sul, para, nos termos do Art. 110, do

RICNMP, querendo, manifesta-se acerca do presente PCA;

c) por fim, sejam julgados procedentes os pedidos contidos no presente

PCA para, nos termos do Art. 111, II, do RICNMP, ser desconstituído e

revisto o ato impugnado, dada a afronta ao princípio da legalidade

administrativa e, em geral, aos princípios norteadores da Administração

Pública (Art. 37, da CF/88), em razão dos argumentos acima aduzidos e,

por conseguinte:

1. seja reconhecido, em favor dos associados da Requerente, o

direito à percepção retroativa das diferenças entre seus

vencimentos já adimplidos e o valor que resultaria da

percepção do limite mínimo constitucional no patamar de

90% do subsídio do Ministro do Superior Tribunal de

Justiça referente ao cargo de Procurador de Justiça,

observado o escalonamento de 10% entre as entrâncias,

desde 1° de janeiro de 2005 até 28 de fevereiro de 2009;

2. seja determinado ao MPRS o pagamento administrativo

dos créditos decorrentes do pedido acima especificado, com

a incidência da devida correção monetária e juros

moratórios, observadas as disponibilidades orçamentárias

da instituição.

Termos pelos quais,

Requer e espera deferimento.

Porto Alegre/Brasília, 02 de outubro de 2012

P.p. RAFAEL DA CÁS MAFFINI

OAB/RS 44.404