problemas de nós dois

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Fanfic: “Problemas de nós dois” I (Festa de renovação de votos de Tereza Cristina e René) Paulo estava afastado de todos da festa, do lado de fora do salão da Fio Carioca, pensando na briga que tivera com Esther durante o dia, quando de repente Marcela aparece: - Oi, querido! O que você faz aqui, sozinho? - Oi...- Paulo se assusta. – Nada. Estava aqui, pensando... – Ele sorri, sem graça, com um copo de vinho na mão. - Hum, sei...E essas rugas de preocupação na sua testa? - É, deve ser cansaço. - Sabe que eu posso resolver isso bem depressa...- Marcela diz, se aproximando dele, sem dar tempo para que Paulo resistisse. Após o beijo que Marcela rouba de Paulo, o empresário se desfaz do abraço dela e diz: - Por favor, Marcela. Que loucura é essa? - Calma, querido. Foi uma delícia, não foi?! Paulo segura o braço de Marcela quando ela tenta beijá-lo novamente, e antes que ela falasse alguma coisa, Paulo a impede: - É melhor a gente voltar pra festa. - Tudo bem. – Marcela diz, chegando mais perto dele e se insinuando. Paulo fica estático e deixa que Marcela o toque novamente. - Você estava tão retraído aquele dia na Fio Carioca, pensei que você ia me desprezar. - Por favor, Marcela. Não complica as coisas...E não comente isso com ninguém, por favor..Você sabe que...- Marcela o interrompe: - Eu sei que você é casado com a queridíssima da Esther. Eu não quero ser intrometida, mas eu percebo que você e ela não estão em um bom momento...Você precisa relaxar...Tantos anos no mesmo casamento... - Marcela...Não. – Paulo tira as mãos de Marcela que se aproximavam novamente dele. – Vamos voltar... Vai você primeiro. - Tá bom, vai. Mas tenho certeza que essa não foi nossa única e última noite juntos. – Marcela sorri e beija rapidamente os lábios de Paulo, voltando para a festa. Paulo retribui e fica pensativo. Marcela vai direto conversar com Tereza, fingindo não ter acontecido nada. Paulo aparece alguns minutos depois, ainda atordoado, sem saber o que pensar. Esther o encontra e pergunta: - Paulo? Aconteceu alguma coisa? - Não..nada. Por que? - Não sei, você está estranho...Pálido. Está passando mal? - Que implicância é essa agora, Esther? Está tudo bem. – Paulo responde, nervoso, e Esther se espanta com a reação dele. - Desculpa. Eu só fiquei preocupada... - Tudo bem, me perdoa. Eu estou cansado. Você não quer ir embora, não? – Paulo pergunta, reclamando. - Tudo bem. Também não estou no clima da festa. Acho que já ficamos para a parte mais importante...

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Page 1: Problemas de nós dois

Fanfic: “Problemas de nós dois”

I(Festa de renovação de votos de Tereza Cristina e René)

Paulo estava afastado de todos da festa, do lado de fora do salão da Fio Carioca, pensando na briga que tivera com Esther durante o dia, quando de repente Marcela aparece:- Oi, querido! O que você faz aqui, sozinho?- Oi...- Paulo se assusta. – Nada. Estava aqui, pensando... – Ele sorri, sem graça, com um copo de vinho na mão.- Hum, sei...E essas rugas de preocupação na sua testa?- É, deve ser cansaço.- Sabe que eu posso resolver isso bem depressa...- Marcela diz, se aproximando dele, sem dar tempo para que Paulo resistisse. Após o beijo que Marcela rouba de Paulo, o empresário se desfaz do abraço dela e diz:- Por favor, Marcela. Que loucura é essa?- Calma, querido. Foi uma delícia, não foi?!Paulo segura o braço de Marcela quando ela tenta beijá-lo novamente, e antes que ela falasse alguma coisa, Paulo a impede:- É melhor a gente voltar pra festa.- Tudo bem. – Marcela diz, chegando mais perto dele e se insinuando. Paulo fica estático e deixa que Marcela o toque novamente.- Você estava tão retraído aquele dia na Fio Carioca, pensei que você ia me desprezar.- Por favor, Marcela. Não complica as coisas...E não comente isso com ninguém, por favor..Você sabe que...- Marcela o interrompe:- Eu sei que você é casado com a queridíssima da Esther. Eu não quero ser intrometida, mas eu percebo que você e ela não estão em um bom momento...Você precisa relaxar...Tantos anos no mesmo casamento...- Marcela...Não. – Paulo tira as mãos de Marcela que se aproximavam novamente dele. – Vamos voltar... Vai você primeiro.- Tá bom, vai. Mas tenho certeza que essa não foi nossa única e última noite juntos. – Marcela sorri e beija rapidamente os lábios de Paulo, voltando para a festa. Paulo retribui e fica pensativo.

Marcela vai direto conversar com Tereza, fingindo não ter acontecido nada. Paulo aparece alguns minutos depois, ainda atordoado, sem saber o que pensar. Esther o encontra e pergunta:- Paulo? Aconteceu alguma coisa?- Não..nada. Por que?- Não sei, você está estranho...Pálido. Está passando mal?- Que implicância é essa agora, Esther? Está tudo bem. – Paulo responde, nervoso, e Esther se espanta com a reação dele.- Desculpa. Eu só fiquei preocupada...- Tudo bem, me perdoa. Eu estou cansado. Você não quer ir embora, não? – Paulo pergunta, reclamando.- Tudo bem. Também não estou no clima da festa. Acho que já ficamos para a parte mais importante...

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- Ótimo. Vamos nos despedir e ir...Paulo e Esther se despedem de René e Tereza e Marcela fixa o olhar em Paulo, que tentava disfarçar perto de Esther. Marcela se aproxima, beijando o rosto de Esther e Paulo fica tenso:- Tchau querida. Foi um prazer. – Marcela diz, cinicamente.- Tchau. Até logo. – Esther responde, sem perceber nada.Paulo cumprimenta Marcela rapidamente e toca o ombro de Esther, a levando embora.Quando o casal chega em casa, Esther percebe o nervosismo do marido mas não comenta nada. Paulo segue para o banheiro sem dizer uma palavra e no banho ele pensa no beijo que aconteceu entre ele e Marcela, se sentindo culpado.Esther troca de roupa e resolve desenhar. Ela passa a noite toda fazendo esboços e Paulo dorme sozinho. Quando Esther termina os desenhos, ela vai até o quarto e observa Paulo dormir, sentindo que pela primeira vez o casamento dos dois começava a entender o que era uma crise.Esther vai até o banheiro e entra no chuveiro, esperando que a água que corria no seu corpo tirasse todo o pressentimento ruim que ela sentia naquele momento.

No dia seguinte, Paulo acorda e olha para o lado. Ele vê Esther dormindo e fica alguns minutos a observando, até que levanta e vai tomar café. Depois de um tempo, Esther acorda e vai até a cozinha:- Bom dia.- Oi...bom dia. – Paulo responde, com um leve sorriso no rosto.Esther toma o café em silêncio e o casal troca de roupa, seguindo para a Fio Carioca, sem trocar uma palavra no caminho.

Chegando no escritório, Esther conversa com a secretária e Paulo vai até sua sala. Eles passam algum tempo separados, até que Paulo entra na sala de Esther:- Acabei de enviar algumas peças pros chineses. Acho que deu tudo certo.- Ótimo! – Esther sorri ainda concentrada nos papéis.- Esther, eu disse que a gente ia conversar depois da festa...- Não, tudo bem. Acho que a gente não tem mais o que conversar, Paulo. Seria pior nós ficarmos remoendo, não é?- É...Acho que você tem razão.- Bom, não sei se você se lembra, mas antes da festa eu comentei que ia até Itaipava...Acabei de confirmar um horário pra hoje, com a Dra. Danielle.- Como assim? Você vai mesmo até lá?- Vou...Eu disse que ia, Paulo...Nós combinamos naquele dia que ela veio até à Fio Carioca.Paulo vira de costas e depois retorna para ela, colocando as mãos no queixo, aparentando nervosismo:- Eu não acredito....Esther, pelo amor de deus... Você continua com essa ideia? Já não basta o tanto que você sofreu com as palavras daquela médica.- Eu sei...Mas eu quero conversar mais com ela, entender melhor o procedimento...Eu fiquei tão nervosa, que descartei qualquer possibilidade...- Esther, por favor! – Paulo altera o tom de voz. – Isso tudo é uma loucura...Essa Dra. Danielle mesmo disse que você...- Esther o interrompe:- Que eu não poderia ter filhos...mas com os meus próprios óvulos.- Dá na mesma, Esther! – Paulo a contraria.

Page 3: Problemas de nós dois

- Não dá na mesma! Eu não vou mais discutir isso com você, já estou atrasada...Qualquer problema é só me ligar...Até mais.Paulo a observa pegar a bolsa e sair da sala, indignado.

II

Quando Esther chega à Itaipava, Danielle a recebe:- Querida, entra por favor. Fique à vontade.- Oi, Danielle, como vai? – Esther e Danielle se cumprimentam e Esther se senta.- Desculpa não ter te atendido antes, mas tive alguns problemas...com o meu sobrinho. – Danielle diz.- Imagina, tudo bem. Estão difíceis as coisas entre vocês?- É...Ele ainda está se acostumando..Sabe como são as crianças...- Não sei ainda como elas são...Mas quero muito saber. – Esther joga uma indireta.- Isso quer dizer que você...?- É..Eu estava muito confusa, mas eu já decidi, Danielle.- Decidiu? – Danielle a questiona, ainda confusa.- Sim. Eu estou disposta a fazer essa fertilização in vitro. Eu pensei muito, e eu não vou perder essa oportunidade...O que mais me prendia era a opinião do meu marido, mas mesmo se eu não tiver o apoio dele, eu vou seguir em frente.- Mas o Paulo, ele não quer mesmo?- Nós brigamos muito por conta disso, ultimamente. Mas eu vi que não adianta mais conversar sobre esse assunto com ele....Eu não vou mais conversar com o Paulo a respeito disso. Essa decisão é só minha agora.- Tem certeza disso, querida?- Absoluta. É minha última chance. – Esther diz, com os olhos já cheio de lágrimas.Danielle sorri e vai até ela, se sentando ao seu lado e pegando em suas mãos:- Fica calma, eu vou tentar tirar todas suas dúvidas, e vai dar tudo certo!- Obrigada! – Esther sorri, emocionada.

Enquanto isso, Paulo decide ir ao restaurante de René, conversar sobre Esther:- Mas então a Esther está mesmo decidida a fazer esse tratamento? – René pergunta.- Pelo jeito sim...Eu não vou agüentar isso, René. Eu não quero ter um filho! Não quero!- Calma...calma. Vocês não podem resolver um assunto desses assim...De cabeça quente. - Mas não adianta. Tantas vezes que eu já deixei claro isso pra Esther. Eu não queria ser rude com ela, mas às vezes...- Nesse instante, Marcela chega.- Olha só quem eu encontro por aqui!- Marcela! Como vai? – René se levanta e a cumprimenta.- Estou ótima! E vocês? Paulo? – Marcela se aproxima e Paulo levanta, dando um beijo no rosto dela.- Tudo bem, Marcela?- E então? Eu vim até aqui almoçar sozinha, mas já arrumei ótimas companhias.- Me desculpem, mas eu vou ter que voltar pra cozinha! O restaurante hoje está uma loucura. Vocês fiquem à vontade.- Ah, eu na verdade também estou indo...- Paulo tenta se levantar.- Nada disso! Imagina só...Você acha certo isso, René? Um cavalheiro abandonar uma dama como eu? Vai me deixar almoçar sozinha, Paulo?René olha sem jeito, sorrindo para Paulo e ele não tem outra saída.- Tudo bem. Vamos almoçar. – Paulo concorda.

Page 4: Problemas de nós dois

- Ótimo! – Marcela se senta e sorri para ele. René diz:- Então fiquem à vontade. Vou trazer o prato do dia! Marcela pisca para René e logo se volta para Paulo, dizendo:- E aí? Dormiu bem?- Marcela...Foi até bom eu te encontrar por aqui...O que aconteceu ontem...- Marcela o interrompe:- Aquele beijo maravilhoso?- Pára com isso! Fala baixo...- Paulo fica nervoso. – Por favor, não comenta desse beijo com ninguém, entendeu?- Calma...Eu não vou falar nada. Ninguém nos ouviu, baby! Não se preocupa.Paulo fica quieto, aparentando insatisfação.- Mas eu sei que você gostou...Não gostou? Não ficou perturbado e pensando nisso o tempo todo?- Por favor, Marcela. Não me faça perder a educação com você...Eu sei que esse beijo não aconteceu somente da sua parte, mas eu quero esclarecer que não significou absolutamente nada...Eu estava num momento ruim e...- Hum, você estava frágil? Tudo bem...Eu não me sinto usada. Eu sei que mais cedo ou mais tarde você vai abrir os olhos.- Bom, desculpa, mas avisa o René que não vou poder ficar...Tenho que voltar pro trabalho. E por favor, não...- Não vou falar nada, meu bem! Fica tranqüilo.- Tudo bem...Até mais...- Tchauzinho, lindo! – Marcela se despede sorrindo, ainda sentada, e o observa sair.

Anoitece e Paulo ainda está no escritório, esperando notícias de Esther que não atendia o celular. Quando de repente ela liga:- Alô, Esther?- Oi, desculpa. Eu acabei perdendo a hora aqui na clínica, deixei o celular desligado durante a consulta.- Você ainda está aí?- Sim. Acho melhor dormir por aqui hoje, já está tarde. Tudo bem?- É, é perigoso você voltar a essa hora. Amanhã a gente se fala então...- Sim. Volto bem cedo e vou direto pro escritório. Está tudo bem por aí?- Tudo ótimo.- Ok. Até amanhã, então. Boa noite.- Boa noite.Os dois se despedem friamente pelo telefone e quando desligam, ficam pensativos.

Já é de manhã e Esther chega na Fio Carioca. Paulo estava conversando com um dos funcionários:- Bom dia! – Esther diz, e Paulo a olha fixamente, a seguindo até a sala.- E aí? Tricotou bastante com a doutora? – Paulo pergunta, ironicamente.- Paulo...Que jeito de dizer..- Esther diz, chateada.- Ué, pra você esquecer do mundo e passar a noite lá...Deve ter sido longa a conversa.- Foi, foi longa e esclarecedora.- É? Por que, esclarecedora?- Você já deve imaginar...Paulo fica um tempo em silêncio olhando para ela, até que diz:- Você decidiu mesmo ter esse filho?- Decidi...Eu vou fazer a fertilização in vitro, Paulo.

Page 5: Problemas de nós dois

- Eu não...eu não acredito nisso. - Paulo, qual é o seu medo, porque você fica tão incomodado?- Caramba, Esther! Já não ficou claro que eu não quero que você tenha esse filho? O que mais eu preciso dizer? Você quer que eu seja grosso, que eu grite?- Não, você já está fazendo isso e me assustando. – Esther diz, quase chorando.- Certo...- Paulo vira de costas e começa a andar pela sala...- Se você quer insistir com essa ideia, tudo bem...Mas não conte comigo, entendeu? Eu sei que no começo eu concordei, mas era diferente. Esse filho não vai ter nada nosso...Eu não entendo, eu não quero entender e se você insistir nessa história absurda eu ...- Paulo pára um instante antes de dizer e continua: - ...eu acho que é melhor a gente se separar. Não vai dar pra continuar...Esther olha para ele com os olhos cheios de lágrimas e diz:- Acho que agora você foi bastante claro...Eu realmente pensei que pudesse contar com o teu apoio... Que pudesse ser um sonho nosso. Infelizmente eu me enganei ...Eu preciso ir pra casa, eu estou muito cansada da viagem, mas eu não vou abandonar a Fio Carioca, não se preocupa. Esther pega sua bolsa e se esquiva dele para sair da sala. Paulo a olha com os olhos também marejados, sentindo que o mundo desabava diante dele.

Ao chegar em casa, Esther senta na poltrona e toma um café, descansando da viagem que fizera e tentando se recuperar das palavras duras que acabara de ouvir do marido.Ela acaba pegando no sono com um livro aberto no colo.Nesse instante, Marcela aparece na Fio Carioca e vê Paulo sozinho, trabalhando:- Hum! Sozinho a essa hora? - Marcela? O que está fazendo aqui?- Eu tinha uma matéria pra cobrir aqui perto, então eu pensei que você poderia estar por aqui, fazendo hora extra...e acertei!- É...Muita coisa pra resolver.- E a Esther?- Ela já foi pra casa.- Sei...Você não quer tomar alguma coisa, descansar?- Marcela...- Paulo diz, não achando uma boa ideia.- Ei. Eu não vou te morder, prometo!Paulo sorri e aceita:- Tudo bem, então...Mas só um pouco.- Você é quem manda, baby!Os dois saem juntos da Fio Carioca e vão até um bar, conversar.

- E então? Por que essa carinha de preocupação?- Minha? Nada...Só estou cansado.- Do que?- O trabalho...- Sei. Será que não tem outra coisa te preocupando?- Por favor, Marcela...Se for pra tocar naquele assunto, eu acho melhor ir embora.- Não, calma! Se desarma um pouco, querido. Eu não vou falar nada. Só notei que você anda desanimado. Eu me lembro das noites que via você em Nova York junto com a sua esposa. Era tão diferente...- Tá certo, Marcela. Você venceu..Eu não estou com a minha mulher agora, e também não estou passando por uma fase boa. Era isso que você queria ouvir?

Page 6: Problemas de nós dois

- Claro que não. Apesar de nunca ter escondido que eu te acho interessante, que eu gosto de você...aliás, que eu sempre gostei de você... Eu não queria te ver assim, triste. – Marcela tenta tocar o rosto de Paulo e ele permite.- Eu...eu amo tanto a Esther, mas essa ideia dela...- Paulo acaba dizendo depois de uns copos a mais de whisky.- Ideia? – Marcela o pressiona.- É, ela quer fazer aquele diabo de fertilização. Eu já disse que não vai dar certo isso, que eu não quero!- Calma, calma...Me explica melhor isso.- Eu não posso ter filho, Marcela. Então, se você achava que eu era um bom partido, já pode mudar de ideia.Marcela começa a rir.- E você acha que isso é um problema pra mim? É a solução!- Como?- Eu nunca quis ter filhos e nem quero ter. Imagina só, eu? Com um monte de pirralhinhos em volta? Nunca! Eu prefiro dedicar a minha vida ao trabalho e à uma só pessoa...- Ela diz, se insinuando.- Sério? Eu pensava que toda mulher quisesse...E enfim. Eu falei isso pra Esther, mas ela não tira essa ideia de ter um filho de outra pessoa.- Hum, ela quer fazer uma inseminação?- É, isso aí...Mas o problema é que ela também não pode ter, e aí? Essa criança vai ser filha de desconhecidos?- É, complicado. - Eu nem devia estar falando essas coisas, eu vou embora...Marcela o segura.- Espera. Não tem problema, eu não vou dizer a ninguém...Confia em mim. Não vai embora...Paulo fica quieto e deixa que Marcela o conduza. Ela paga a conta e leva Paulo embora.

III

Eles chegam no apartamento de Paulo:- Pronto. Está em casa... – Marcela diz.- Obrigado...Eu não estou bem, bebi demais. Desculpa pela péssima companhia.- Imagina. Sua companhia sempre vai ser ótima! – Marcela dá um beijo de leve nos lábios de Paulo e ele fica estático. Depois de um tempo, ele se solta de Marcela e vai embora, sem dizer nada. Ela o observa sorrindo.

Esther já estava dormindo na cama do casal, quando ela acorda com os passos de Paulo na sala. Ela olha para o relógio e já eram 3 horas da madrugada.http://www.youtube.com/watch?v=eWU1S-q15L0

Ela resolve fingir que estava dormindo e vê o marido deitar na cama. Paulo a observa de costas para ele e pensa nas palavras duras que disse e na revolta que ainda sentia pela decisão da esposa de ter um filho. Esther chora baixo, sentindo uma dor enorme no peito...a dor de estar perdendo o grande amor da sua vida.

Já era manhã de sábado e Esther abre os olhos e estica os braços ao acordar. Ela olha para o lado e não vê Paulo. Depois de alguns minutos, Esther se levanta, veste o roupão e vai até a cozinha. Paulo estava tomando um café rapidamente, já vestido.

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- Aonde você vai? – Esther pergunta, ainda sonolenta.- Eu...eu vou embora, Esther. – Paulo diz, com dificuldade.- Embora? Como assim?- Eu pensei muito ontem, depois da nossa conversa...E não dá mais pra continuar assim. Você fez sua escolha, e você sabe muito bem que não é a minha.Esther estava desacreditada nas palavras de Paulo e enfim, consegue dizer:- Então você...resolveu mesmo acabar com tudo o que vivemos juntos?- Não, você resolveu...- Paulo! Olha só o que você está dizendo...Eu pensei que...que você estava do meu lado. - Eu sei que eu errei quando disse que ia te apoiar, no início...Mas agora piorou, Esther. Eu já não aguento mais a presença daquela médica, desse assunto. Eu não quero isso pra mim, não quero!Esther apenas balança a cabeça e anda pela cozinha, sem saber o que dizer. Paulo diz as últimas palavras:- Eu já arrumei minhas coisas, depois eu passo pra pegar o restante. Essa casa é mais sua do que minha, e não seria justo eu brigar por essas coisas...A gente pode muito bem fazer um acordo e...- Você quer fazer um acordo? – Esther questiona, indignada. – Então isso é uma separação definitiva? Como se você estivesse indo embora pra uma simples viagem, como se nós fôssemos dois estranhos e não tivéssemos vivido nada juntos?- Esther, não complica as coisas. Você sabe que está sendo muito difícil pra mim...- Não, eu não sei. Eu já não conheço mais o homem que está na minha frente.- Pára de ser a única vítima nisso, Esther! Você resolveu levar essa sua história adiante sem nem ao menos saber o que eu achava! – Paulo se altera.- Eu não vou gritar e não vou brigar com você, Paulo. Eu posso ter errado sim, mas foi só no momento que eu resolvi abrir mão de um desejo meu por sua causa.- Agora a culpa é minha?- Chega! A culpa é de nós dois. Você não disse que suas coisas já estavam prontas? - Esther insinua, para ele ir embora.- Sim. – Paulo a olha com tristeza e pega suas malas no chão, sem dizer mais nada.Quando Paulo fecha a porta, Esther fica sem reação, e só depois de longos minutos ela percebe o que havia acontecido e chora, sentando no sofá.

Paulo vai para um apartamento que ele tinha, próximo a casa da irmã. Mas resolve não contar nada para ninguém.Ele e Esther passam todo o final de semana trancados em casa, pensando um no outro.

Na segunda-feira, Esther e Paulo seguem para a Fio Carioca. É o primeiro dia de separação e os dois ainda estavam completamente abalados. Paulo chega antes e encontra Marcela na sala dele.- Marcela? - Oi, querido. Desculpa vir sem avisar, é que fiquei preocupada.- Está tudo bem.- Com essa sua cara? Duvido.Paulo a olha, nervoso, e ela tenta se corrigir:- Desculpa, mil desculpas. Você deve estar passando por uma fase difícil e eu aqui, brincando. Me perdoa? – Marcela se aproxima cada vez mais de Paulo e segura nos braços dele. – Hein? Diz que sim...- Ela insiste e alcança os lábios deles. Os dois se abraçam e se beijam.

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Nesse momento, Esther aparece e flagra os dois aos beijos. Marcela percebe a presença da rival e se distancia, sorrindo. Paulo olha para trás assustado e Esther não diz nada, apenas sai da sala.Paulo olha para Marcela sem ter o que dizer e depois sai correndo atrás da esposa:- Espera, Esther...espera!- O que você quer? Explicar o que estava acontecendo? Não precisa, eu não sou tão ingênua assim. – Esther diz, caminhando apressadamente até sua sala, assustando os funcionários.- Espera, vem aqui. – Paulo segura o braço de Esther, já dentro da sala dela, e fecha a porta. – Eu não quero que você pense que eu e a Marcela já estávamos...- Esther o interrompe:- Eu não pensei em nada. Eu vi...Eu vi que você e ela estão juntos! E é isso que interessa. O nosso casamento acabou, pronto. Nós já estávamos separados, não precisa me explicar nada....- Paulo fixa seu olhar em Esther e ela olha pro seu braço, dizendo: - Me solta, por favor.Paulo a solta e não diz mais nada, apenas a observa caminhar até a cadeira. Ela liga o computador e começa a trabalhar, como se Paulo não estivesse lá.Ele suspira, tentando dizer algo, mas não consegue, apenas sai da sala.Esther se segura firme até um certo momento, mas quando Paulo sai, ela não segura as lágrimas.

Depois de um tempo, Esther liga para Danielle, e a médica disse que estava no RJ. Elas marcam de se encontrarem em um restaurante, que não fosse o Le Velmont.Chegando lá, Danielle pergunta:- O que aconteceu? Te senti tão nervosa no telefone...E você ainda não quis ir até o restaurante do marido da sua cunhada.- Ex... ex cunhada.- Hum. Então vocês...?- Sim, acabou Danielle. E eu estou arrasada.- Calma, querida. Eu imagino como deve estar sendo doloroso, mas acho que ia acabar acontecendo isso, já que vocês estavam brigando tanto, não é?- Sim. Não dava mais pra continuar assim...Só que eu nunca pensei que o Paulo estava tão decidido e chateado com essa história de ter um filho.- Por que você diz isso?- Ele me disse coisas tão duras...E eu ainda encontrei ele aos beijos com outra mulher.- Meu deus. Então, foi sério mesmo?- Não tem volta, Danielle. Não tem...- Esther começa a chorar.- Por que a gente não vai embora? Que tal irmos pra Itaipava? A gente aproveita e conversa sobre a fertilização.- É...Eu acho que preciso mesmo...Porque de agora em diante minha prioridade vai ser esse filho.- Ótimo! Assim que se diz! Vamos?- Vamos.

Esther e Danielle vão até Itaipava e a estilista deixa um recado com a secretária.- Quem era? – Paulo pergunta.- Era a dona Esther. Ela disse que teve que ir até Itaipava, e que não voltava hoje. Mas já deixou os esboços prontos e já fez as ligações pendentes da semana passada.- Hum, tudo bem. Obrigado. – Paulo diz e sai nervoso para sua sala. Ele entra e bate na mesa:

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- Droga!

Quando Paulo acaba o trabalho na Fio Carioca, ele fica um tempo parado, pensativo. Ele então percebe que estava sozinho, e que não iria mais encontrar a esposa quando voltasse pra casa.Um vazio invade o peito de Paulo e ele resolve ligar para Marcela. Eles vão até o apartamento dela e passam a noite juntos.

Esther havia conversado a tarde toda com Danielle e passado o dia com ela e Pedro, o sobrinho da médica.Elas já haviam marcado a data na mesma semana para realizar a fertilização, já que os exames deram positivo para o procedimento.Depois de jantar junto com Danielle, Beatriz e Pedro, Esther se despede:- Foi ótimo o jantar, Danielle. Nem sei como estaria se não fosse você e sua família.- Que isso! Foi um prazer...E você, vai ficar bem?- Sim, estou bem melhor. Ansiosa pra começar o tratamento!- Ótimo! Então descansa bastante e nos falamos em breve!- Sim! Boa noite, e muito obrigada!As duas amigas se abraçam e Esther vai para sua casa em Itaipava, que na realidade era sua e de Paulo. Ela estava preocupada ainda com o rumo de sua vida, como seria sua separação definitiva de Paulo, pois ela ainda o amava como antes...

IV

Dois dias se passam e o clima entre Paulo e Esther continuava tenso. Ele resolve conversar com a esposa:- Licença, posso entrar?- Sim...- Esther diz, com o coração acelerado, pois desde então eles não tiveram uma conversa sozinhos.- Eu estive pensando, que é melhor a gente já arrumar os papéis da nossa separação. Esther fica pensativa, não acreditando ainda nas palavras de Paulo, até que consegue dizer:- Tudo bem. Podemos ver isso o mais breve possível.- Certo...Eu pensei que o apartamento poderia ficar com você e a casa de Itaipava eu deixaria no nosso nome ainda, já que você continua indo até lá...- Não, não precisa, se for por isso...- Não, eu faço questão. Depois a gente decide o que faz. Se você precisar ir, você me avisa, e vice-versa.Esther concorda com a cabeça.- Bom, eu posso ver com o advogado e amanhã mesmo a gente assina os papéis. – Paulo diz.- Tá. E...a Fio Carioca?- Somos sócios ainda, não somos? Acho que não devíamos deixar os problemas pessoais afetarem tudo o que a gente construiu...Esther fica desacreditada, pensando que Paulo não levava em consideração o amor que construíram juntos, somente os negócios. Mas preferiu não dizer em voz alta, para evitar mais conflitos.- É. – Esther só consegue dizer isso.- Então tá...Eu vou indo almoçar.Esther concorda, sem dizer nada, e Paulo sai.

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Paulo vai até o Lê Velmont conversar com René:- Foi tão difícil, dizer aquilo tudo como se fosse algo normal...Como se eu só me importasse com a Fio Carioca, sendo que eu estava a ponto de voltar atrás ali mesmo e segurar ela nos meus braços.- Ai meu deus. Vocês dois...Ainda se amam e ficam nesse impasse.- Não é impasse. A gente não ia conseguir viver em paz com essa droga de decisão da Esther.- Você já pensou que isso pode ser só um equívoco seu? Vai que é uma boa ideia ter esse filho, com a mulher que você ama.- Não, não. É tudo muito estranho, confuso...Ia acabar ainda mais com o nosso casamento. Não dá mais, René...E agora eu estou com a Marcela, e ela pensa exatamente como eu...- É, você é quem sabe...Mas vem cá, você ama a Marcela?- Claro que não. Eu acho que nunca vou amar outra pessoa...Não como eu amo a Esther.- Como você aguenta então ficar com outra mulher, amando a Esther?- Eu vou esquecer a Esther, eu vou...Eu tenho que esquecer.- Boa sorte, amigo! – René brinda com o copo de Paulo e os dois almoçam.

Um mês se passa e durante esse tempo, Esther já havia assinado os papéis da separação e feito todos os exames após a fertlização, constatando finalmente que estava grávida. Ela não conta nada para Paulo, mas sua felicidade era tão evidente, que Paulo a escuta no telefone com Danielle:- Eu estou tão feliz, Danielle! Finalmente eu estou sentindo toda essa felicidade em ser mãe! Eu fico horas conversando com a minha barriga! – Esther começa a sorrir e de repente percebe a presença de Paulo na porta:- Eu...eu vou desligar Danielle. A gente se encontra amanhã. Um beijo.- Desculpa, eu estava passando e ouvi sem querer...- Tudo bem...- Esther diz, séria.- Você então...Já está grávida?- Sim. Nesse instante, Marcela aparece:- Oi, meu amor! – Ela dá um beijo em Paulo, sem se preocupar com Esther.- Oi. – Paulo se desfaz dos braços de Marcela, sem graça.- Oi, Esther, tudo bem? – Marcela diz.- Tudo bem e você? – Esther responde e tenta não se abalar com a cena.- Estou ótima. Vim pegar meu amor pra gente ir almoçar. Vamos?- Ah, na verdade eu acho que tenho umas coisas ainda pra resolver e... – Paulo tenta recusar o pedido, querendo continuar a conversa com Esther, mas ela diz:- Pode ir, Paulo. As coisas por aqui estão tranqüilas.- Viu só? Se a Esther diz, é porque está! Vamos! – Marcela puxa Paulo pelo braço e o leva embora. Esther ainda se sente incomodada com o suposto amor entre Paulo e Marcela, e fica chateada. Mas logo tenta se recuperar, pensando no seu filho.

Alguns dias se passam e já é tarde. Esther ainda está na Fio Carioca. Paulo havia telefonado avisando que estava em reunião com alguns clientes chineses. Marcela aproveita e vai até o escritório, falar com Esther.- Oi, posso entrar, querida?Esther se assusta quando vê Marcela e pergunta:- Você aqui? O Paulo não está...

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- Eu sei, ele já me disse que ia estar numa reunião, por isso eu vim...Quero falar com você.- Comigo? Por que?- Porque...Porque eu percebo o jeito que você ainda olha pro Paulo.- Como? – Esther pergunta, sem entender.- Eu sei que você ainda gosta dele. Mas eu demorei muito pra conseguir o Paulo só pra mim e eu queria deixar bem claro que ele agora é só meu...E eu posso aparentar ser muito amiga, compreensiva, mas isso é só perto dele e quando não mexem comigo...- Você está me ameaçando?- Não, imagina! Só se você estiver realmente querendo voltar pro Paulo!Esther começa a rir e diz:- Você é ridícula!- Ridícula é você, queridinha...Como diz a Tereza Cristina, é claro que o Paulo não ia passar o resto da vida dele ao lado de uma mulher tão sem graça e sem sal como você.- Olha aqui, se você veio até aqui pra me dizer essas coisas, é melhor você sair daqui agora mesmo ou...- Ou o que? Vai começar a chorar, é?- Cala essa boca! Sai daqui, agora! O Paulo pode agüentar as suas grosserias, ou melhor, ele pode não ter percebido elas ainda, mas eu não sou do tipo de pessoa que convive com pessoas como você...- Ah é? Você convive com que tipo de pessoa? Com aquelas sem moral e sem ética alguma, que fazem filhos de outros em pessoas secas como você?Esther não aguenta ouvir os desaforos de Marcela e dá um tapa no rosto da rival, que é empurrada para trás com a força do tapa:- Sua louca! Você me bateu! – Marcela diz, com as mãos no rosto.Paulo chega na hora e presencia a cena:- Esther! Por que você fez isso? – Ele diz, não acreditando que a ex-esposa fosse capaz de fazer uma cena daquelas.- Eu não vou me explicar, Paulo. Eu vou embora...E se você quiser acreditar nessa mulher, o problema é seu. Eu não vou aturar mais isso.Esther pega suas coisas e sai apressada da sala. Paulo a olha ir embora confuso e pergunta para Marcela:- O que aconteceu aqui, você pode me explicar?- Claro, meu amor. Essa sua ex - mulher é uma maluca. Ela me agrediu só porque eu disse que agora você é meu...Ela não aceita ter terminado o casamento, o que eu posso fazer?- Foi isso mesmo, Marcela? Eu te conheço...- Me conhece sim, e sabe que eu sou honesta e falo tudo o que tenho pra dizer. Não tenho motivos pra mentir pra você...- Hum. E porque ela bateu em você? Só por isso?- Porque eu...Bom, porque ela disse que estava grávida, e todo mundo já sabe que ela fez a tal da fertilização in vitro...Eu comentei e ela ficou afetada.- Quem te contou que ela já fez?- Ai, Paulo. Eu como jornalista, sei de tudo. Você acha que uma notícia dessas, com uma estilista famosa e uma médica renomada, não ia estourar? Fora a sua irmã, né, nenhuma notícia escapa dela...- Mas você não tem nada a ver com isso, Marcela. Não devia se meter.- Ai, me desculpa, meu amor...Eu comentei na maior inocência..Você sabe que eu sou jornalista e às vezes não me seguro...Mas eu não disse nada demais, só comentei.

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- É, a Esther fica muito estressada quando tocam nesse assunto. Esses dias mesmo ela brigou com a Tereza no telefone por conta disso.- A Tereza me contou...e a pobrezinha da sua irmã só perguntou se ela já tinha feito o tratamento, querendo ajudar...Ai, fazer o que...Mas deixa quieto, eu entendo.- Mas a Tereza Cristina também não fez isso na inocência, e você sabe disso.- É, pode ser, mas mesmo assim não era motivo para a Esther ser tão grossa...- Marcela tenta convencê-lo.Paulo suspira, cansado, e diz:- Vamos embora. Por hoje já chega.- Vamos! Estou com umas idéias ótimas pra gente essa noite...Paulo vai embora com Marcela, desanimado.

Enquanto isso, Esther chega em casa e tenta não se abalar com o que havia acontecido, mas era impossível. Ela não esquecia as palavras de Marcela e não acreditava que Paulo tinha desistido do amor entre eles.Esther então toma um banho e lembra dos momentos que passou ao lado de Paulo, aos prantos.No mesmo momento, Paulo estava deitado na cama, depois de passar a noite com Marcela. Ele cruza os braços para trás e olha para Marcela dormindo. Ele vira para frente e fecha os olhos, pensando nos beijos de Esther e dos momentos felizes ao lado da ex-mulher.

V

Já é outro dia e Esther avisa para a secretária que teve que ir até Itaipava, deixando Paulo contrariado.- Desse jeito a Fio Carioca vai ficar abandonada.- Não, a dona Esther deixou tudo pronto pro dia de hoje e disse que tenta voltar até o final da tarde.- Hum. Tudo bem. – Paulo vai até a sua sala, nervoso.

Enquanto isso, Esther é apresentada a um médico, que acabara de chegar de um seminário na Europa, grande amigo de Danielle:- Esther, esse é o Marcelo, ele também é especialista em fertilização, estava curiosíssimo para saber mais sobre o seu caso.- Ah é? Está tão famoso assim? – Esther brinca cumprimentando Marcelo. – Como vai?- Tudo bem! Prazer, Esther! Realmente, seu caso ficou famoso, mas só entre mim e a Danielle! – Ele sorri.- Pois é. O Marcelo veio dos estudos lá na Itália só para nos ajudar, não é?- Vai ser um prazer e um crescimento na minha carreira. Quero acompanhar de perto...se você me permitir, claro.- Bom, eu na verdade, não imaginei a dimensão disso tudo, para mim é uma gravidez, como qualquer outra. Ainda estou um pouco assustada, mas já considero esse filho só meu, com o meu gene.- Claro, é essa a intenção! – Marcelo diz, sorrindo.- Bom, vamos almoçar? Podemos conversar melhor, beber alguma coisa. – Danielle sugere.- Ótima ideia. Estou faminto! – Marcelo diz.Os três seguem para um restaurante próximo à clínica.

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Depois de conversarem bastante durante o almoço, sobre o tratamento de Esther, os três vão até a clínica novamente e ela se despede:- Foi um prazer conhecê-lo. A gente se encontra então, na próxima consulta.- O prazer foi todo meu, Esther. Cuida bem dele...Ou dela! – Marcelo diz, tocando de leve a barriga de Esther. - Pode deixar! – Esther sorri sem graça.Danielle sorri e abraça Esther, a acompanhando até o carro. Marcelo as observa de longe.

Quando Esther vai embora, Marcelo pergunta:- Difícil encontrar um casal que esteja decidido a ter um filho com outros genes. Geralmente, ou a mãe tem os próprios óvulos ou o pai doa os espermas.- Pois é. Mas no caso da Esther, é como se fosse uma produção independente.- Sério? Mas ela não é casada com o dono da Fio Carioca? Já os vi muitas vezes em reportagens lá na Europa.- Sim. Eles eram casados até a Esther decidir ter o filho. O Paulo não pode ter filhos e a Esther descobriu que os óvulos dela também não estavam aptos.- Hum, entendi. E o marido não concordou?- Não. Você sabe melhor do que eu como é essa questão. Ainda mais no Brasil...As cabeças precisam evoluir muito.- É. A Esther parece ser uma mulher decidida. Gostei de saber dessa decisão dela.- Fiquei orgulhosa também. A Esther ainda sofre muito com a separação, mas acho que ela fez uma ótima escolha.- Com certeza. – Marcelo sorri e sobe o elevador com Danielle até a sala na clínica.

Já é tarde e Esther chega na Fio Carioca. As pessoas já estavam indo embora e ela se despede, sorrindo. De repente, Paulo aparece no corredor, a abordando:- Oi...Tudo bem?- Oi. Tudo certo. E por aqui? Tudo sob controle?- É, aparentemente sim. Eu não queria ser chato, Esther, mas você não acha que anda muito ausente por aqui?- Não. Eu deixei tudo pronto e ainda avisei que, se tivesse algum problema era só me ligar...Ninguém me ligou.- Não estou dizendo que tivemos problemas por aqui, mas se tivéssemos, não daria nem tempo de você chegar para resolver alguma coisa.- Tudo bem, Paulo. Eu entendi o recado. Só que você aceitou que eu ficasse ausente quando precisasse. Se você mudou de ideia, deveria ter me avisado.- Esther, você deturpa tudo o que eu falo. Eu não disse isso...- Bom, desculpa se eu entendi errado, então. Vou até minha sala, preciso organizar alguns papéis para amanhã.- Você não vai ficar por aqui amanhã, de novo?- Calma, Paulo! Depois sou eu quem deturpo as coisas. Eu vou ficar...Só estou querendo me adiantar. Com licença.Paulo não diz nada e, com as mãos no bolso, a observa caminhar até a sala.

Esther se senta e começa a ler alguns papéis, e de repente ela sente uma vertigem e coloca a mão sobre a testa, fechando os olhos. Paulo entra na sala dela, sem perceber que ela estava passando mal:- Esther, licença. Hoje chegaram alguns contratos e eu preciso que você já assine...

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- Tudo bem. – Esther diz em voz baixa, tentando enxergar Paulo a sua frente. Ele percebe a reação de Esther e fica preocupado:- O que foi? Você está passando bem?- Não...não é nada. Deve ser só um mal estar pela viagem. Já vou ficar melhor.- Mas o que você está sentindo? Será que não é algum problema por causa da gravidez?- Não sei, não deve ser. Já vai passar...- Calma...Você quer um copo d´água? – Paulo se aproxima dela e fica cada vez mais perto, segurando em suas mãos. Esther fixa seu olhar nos olhos dele, que as fitavam com preocupação e carinho.- Eu... – quando Esther tenta dizer, Marcela aparece na sala.- Oi, cheguei em uma hora errada?- Marcela...- Paulo diz, se voltando para trás.Esther fecha os olhos, não acreditando que Marcela estava ali, e depois de um tempo, diz:- Eu já estou bem, eu queria ficar sozinha, por favor.- Tá...tudo bem. Mas se você sentir alguma coisa, eu estou aqui fora. Esther apenas confirma com a cabeça e Marcela lança um olhar cheio de ciúmes.Paulo sai da sala com Marcela e quando eles estão a sós do lado de fora, a jornalista faz um interrogatório:- O que estava acontecendo ali? Essa mulher não tem noção, né? Você não percebeu que ela faz essas coisas de propósito, Paulo? Você é muito ingênuo, precisa abrir seus olhos pra essas armadilhas que...- Paulo a interrompe, nervoso:- Pára, pára com isso Marcela! – Ele grita no começo mas depois abaixa o tom de voz, não querendo que Esther os escutasse. – Que besteira isso tudo. Ela estava passando mal.- Duvido.- Pára com esse ciúmes sem motivo. Desse jeito eu não vou agüentar, tanta pressão.- Tá bom, tá bom. Me perdoa, meu amor. É que eu sou tão louca por você que acabo me excedendo.- Tá bom. Eu vou ficar aqui mais um pouco, estou com medo que ela se sinta mal, de novo.- Eu fico aqui com vocês.Paulo faz uma cara de insatisfação e fica na recepção, prestando atenção na sala de Esther, que tentava segurar seu mal estar.

Depois de meia hora, Esther desliga o computador e arruma as coisas na mesa. Ela levanta e sente novamente uma vertigem, se apoiando na mesa com dificuldade. Paulo percebe e corre para a sala, sem se importar com Marcela.

- Esther, o que foi? – Paulo corre para Esther, e segura em suas mãos, fazendo com que ela se apoiasse nos braços dele.- Não sei. Eu estou com dor de cabeça, um pouco de enjôo. Deve ser algum sintoma mesmo, nada grave.- Mas a gente precisa ir no médico, ver se é isso mesmo. Calma...- Paulo segura o braço de Esther quando percebe que ela iria desmaiar. Marcela aparece e diz:- Não é melhor ligar para a médica dela?Esther se senta na cadeira, sentindo que ia desmaiar a qualquer momento. Nesse instante, Paulo liga para Danielle:

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- Danielle? É o Paulo. Não, não, a Esther não está passando bem, eu resolvi ligar para você, não sei se a levo para o hospital, se é sintomas da gravidez...Sei, sei. Tá certo. Tchau.Paulo desliga e Marcela pergunta, ao lado de Esther:- E então? O que ela disse?- Ela pediu para levar a Esther num médico de confiança e ligar quando estivermos lá para passar o endereço, que ela está vindo pra cá agora.- Então vamos, logo! – Marcela diz, sem paciência.- Vem, Esther. Se segura em mim. – Paulo diz.A estilista se apóia nos braços de Paulo, pálida e andando devagar.

Ao chegarem na clínica médica do ginecologista de Esther, Paulo e Marcela ficam do lado de fora enquanto ela é atendida. O médico fica um bom tempo examinando Esther, quando Danielle aparece:- E então? Como ela está? Vim o mais rápido possível.- Ela está fazendo alguns exames, o médico ainda não apareceu para dar notícias.- Calma, não deve ser nada. Fizemos alguns exames hoje e estava tudo bem.- Hum. – Paulo diz, contrariado.- Então podemos ir embora, né Paulo? – Marcela pergunta, sem paciência.- Se você quiser ir, tudo bem. Eu vou ficar mais um pouco.- Não, eu fico. – Marcela é forçada a ficar.Danielle olha para os dois, e sorri sem graça, à espera do médico.

VI

Alguns minutos se passam e todos levantam quando o médico aparece:- Oi, doutor. Eu sou Danielle Fraser, a médica da Esther, estou cuidando da gravidez dela. Prazer. – Danielle cumprimenta o médico.- Olá. Eu já ouvi falar muito do seu trabalho, como está?- Tudo bem. E a Esther, como está?- Bom, fizemos alguns exames e ela está bem agora. Foi apenas um mal estar devido aos remédios que ela vem tomando para náuseas. Acho que é melhor diminuirmos a quantidade. Mas referente à gravidez, está tudo bem. Com ela e com o bebê. Apesar de poucas semanas, temos que ficar bem atentos no desenvolvimento deste feto, por se tratar de uma fertilização in vitro. É uma gravidez normal, mas todo cuidado é pouco.- Claro, claro. Estou dando toda a atenção possível e acho até que vou me mudar aqui para o Rio de Janeiro para cuidar melhor da gravidez da Esther. – Danielle diz, preocupada.- Ótimo! Eu não sei porque estou recomendado tudo isso, afinal, você é uma excelente especialista. Mas nunca é demais tomarmos as devidas precauções. – O médico completa.- Claro, tem toda a razão, doutor...?- Carlos, meu nome é Carlos.- Carlos! – Danielle sorri e aperta a mão do médico novamente. – Eu posso vê-la? - Sim. Pode entrar comigo. As visitas eu peço que aguardem um pouco.- Tudo bem. – Paulo consente e Marcela fica em silêncio até os médicos saírem da sala:- Ai meu deus, então não era nada.- Não, ainda bem. – Paulo diz, aliviado.- É, ainda bem..Então podemos ir, né? Ela está muito bem acompanhada...por dois médicos.

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- Eu já disse que se você quiser, você pode ir...- quando Paulo tenta terminar a frase, o celular de Marcela toca:- Ai...quem será? Alô. Oi, Renan. Agora??? Tá bom, vou indo, tchau.- O que foi? – Paulo pergunta.- Surgiu uma pauta de última hora, tenho que correr para a redação. Vamos comigo?- Não, vou ficar aqui, Marcela. Você entende, né? Estou preocupado.- Hum. Tudo bem...Eu confio em você, bobinho. – Marcela tenta disfarçar sua raiva, para não perder Paulo.- Tá. Qualquer coisa me liga. – Paulo diz e se despede com um beijo de leve em Marcela.

Algum tempo se passa e Marcelo chega na clínica:- Olá, tudo bem? Você deve ser o...Paulo?- Isso... Desculpa mas não estou me lembrando de você.- É que não nos conhecemos. Eu conheço você somente por revistas e gosto muito do seu trabalho e da Esther. – Marcelo aperta a mão de Paulo, que sorri e agradece:- Ah, sim. Obrigado! E você é...?- Desculpa, não me apresentei. Meu nome é Marcelo Aguiar, sou amigo da doutora Danielle, também sou especialista em fertilização, estou acompanhando todo o tratamento...E a doutora Danielle me ligou avisando que a Esther passou mal, fiquei preocupado...- Ah entendi...Você também é médico...Nossa, pelo visto a Esther está muito bem amparada.- É...- Marcelo sorri sem graça com o jeito de Paulo.Nesse instante, Danielle aparece:- Oi, Marcelo. Como vai? – Eles se cumprimentam com beijos no rosto. - Não foi nada grave, a Esther está bem, se recuperando.Paulo se sente excluído e cheio de ciúmes de Esther, como se ela não fizesse mais parte de sua vida. Ele então, entra na conversa:- Eu posso ver a Esther?- Pode, pode entrar Paulo. – Danielle diz.- Obrigado, com licença.Marcelo sorri e dá espaço para Paulo passar. Danielle e o médico se entreolham, percebendo o nervosismo de Paulo.

Paulo olha pela janela do quarto e vê Esther se recuperando, dormindo. Ele vai até a porta e a abre devagar, se aproximando dela.Paulo chega perto da cama e toca a mão de Esther. Ela abre os olhos e ele diz:- Desculpa, não queria te acordar.- Eu só estava, cochilando. – Esther diz e se encosta na cama.- Está tudo bem?- Sim, estou melhor.- Que bom...Eu fiquei preocupado, você nunca tinha passado mal assim antes...- É, eu também estranhei...Mas acho que vou ter que me acostumar com o mal estar agora.- É...acho que sim. – Paulo diz, sem graça.- E a...Marcela?- Ela teve um trabalho de última hora. Teve que ir embora.Esther não diz nada, apenas retribui o olhar que ele jogava em sua direção.- Eu, eu vou ficar aqui com você. – Paulo diz.

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- Não precisa, Paulo. Eu já estou bem, e a Danielle está aqui.- Eu sei, mas não quero ir. Posso ficar?- Você deve estar cansado...- Não tem problema algum, eu quero ficar.- Tudo bem, você quem sabe...Obrigada.Paulo sorri e beija a mão de Esther, dizendo:- Eu queria que você soubesse que apesar de tudo isso que aconteceu conosco, eu tenho um carinho imenso por você...sempre vou ter.Esther sorri e toca a mão de Paulo sobre a dela:- Eu também.Os dois continuam se olhando quando Marcelo e Danielle batem na porta:- Podemos entrar?Esther olha para os dois e diz:- Claro, entrem.Paulo solta a mão de Esther e se esquiva, deixando os médicos se aproximarem:- E então? Tudo bem com a nossa paciente? – Marcelo pergunta, sorrindo.- Meu deus, eu fiz você vir até o Rio por minha causa? Não foi nada grave...- Esther diz.- Mas poderia ter sido...Não quero assustá-la,Esther, mas estive conversando com a Danielle, e temos que tomar cuidado com essas medicações. Já combinei com o seu médico, outros remédios para resolver os enjôos e que não prejudiquem a sua pressão.- Certo... – Esther diz, sonolenta.- Bom, acho melhor deixarmos você descansar, não é, querida? – Danielle diz. – Vamos indo? – Ela se volta para Marcelo e Paulo.- Claro. Vamos... – Marcelo concorda.- Estamos aqui fora, se precisar de algo, é só chamar pela campainha. – a médica diz.- Tudo bem, obrigada.Os três saem, e Paulo continua a observá-la através da janela do quarto.- E você, Paulo? Vai ficar também? – Danielle pergunta para ele.- Sim, vou ficar até ela ter alta.- Amanhã ela já vai para casa, já está tudo bem! – Danielle diz, tocando o ombro de Paulo.- Que bom! – Ele retribui o sorriso e se senta no sofá, apoiando o rosto entre as duas mãos, pensando em Esther.

http://www.youtube.com/watch?v=8QKlS1hTZRo&feature=related

VII

Já é de manhã, e Esther se prepara para sair da clínica. Paulo estava aparentemente cansado e ainda preocupado. Quando Esther sai do quarto com Danielle, ele se aproxima:- Você está bem?- Sim, já está tudo bem. Obrigada por ter ficado. – Ela o olha com carinho.- Imagina. - Eu só vou tomar um banho quando chegar em casa e já vou para a Fio Carioca.- Não, imagina. Você tem que descansar.- Eu não vou conseguir ficar em casa.- Não, Esther. O Paulo tem razão. Você vai ter que ficar de repouso, é melhor tomarmos cuidado nesses primeiros dias. – Danielle a repreende.- Tudo bem, então.

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- Vamos indo? – Marcelo pergunta. - Eu posso te levar...- Paulo diz.- Não precisa, Paulo. Acho melhor você descansar também, a Marcela deve estar preocupada. – Esther diz.- Eu a levo, Paulo. Não se preocupe. – Danielle tenta tranqüiliza-lo e ele concorda, sem saída:- Então tá certo. Qualquer coisa é só me ligar.Esther sorri para ele e segue com Danielle e Marcelo até o carro. Paulo os observa, indo junto com eles até o estacionamento.Ele se despede novamente e não tira os olhos da ex-esposa.

Chegando em casa, Esther entra com Danielle e Marcelo:- Obrigada por me trazerem até aqui. Estou dando tanto trabalho para vocês! – Esther sorri, sem graça.- Imagina, querida. Vamos ficar mesmo no seu pé, 24 horas! Você tem certeza que não quer que eu fique aqui? - Não precisa, Danielle. De verdade. Você precisa ficar com o Pedro.- Mas eu posso pedir para a Bia cuidar dele...- Não, não precisa. Realmente, eu te agradeço de coração. – Esther segura as mãos de Danielle, agradecida.- Bom, então tá. Qualquer coisa nos ligue.- Isso mesmo, Esther. Pode ligar para mim também, viu? Estou aqui à disposição! – Marcelo diz, se despedindo dela com beijos no rosto.- Assim eu fico mal acostumada! – Esther sorri mais uma vez e se despede dos amigos.

Quando Marcelo e Danielle estão no carro, o médico pergunta para a amiga:- Será que é seguro a Esther ficar sozinha? Ela não tem mais ninguém aqui no Rio?- Então, acho que a maioria dos amigos dela são da família do Paulo e a família dela não mora aqui.- Ela não pode passar a gravidez toda assim, sozinha...Sem cuidados.- Eu concordo. Mas ela é teimosa também...Não quis ficar em Itaipava. A solução vai ser eu me fixar aqui no RJ. Tanto pela Esther quanto por mim mesma, meu sobrinho. Ele precisa estudar, e em Itaipava não temos muita opção.- Você pensa em se mudar?- Sim. Já estou reformando um prédio que aluguei por aqui. Já está tudo organizado...Aliás, esqueci de fazer um convite à você.- Convite?- Sim. Você pretende voltar para a Europa?- Bom, depende. Se eu tiver motivos para ficar, eu não penso duas vezes. Eu amo essa cidade, esse país.- Pois é, eu sei disso. Por isso que eu estou te convidando para vir trabalhar comigo, uma sociedade. O que acha?- Sério isso?- Claro, você já me mostrou inúmeras vezes que é competente e que é um excelente médico. Seria um prazer trabalhar com um amigo e profissional como você.- Nossa, eu não sei nem o que dizer, Danielle. Eu estou tão empolgado em fazer parte desse tratamento da Esther, e agora esse convite...Vai ser maravilhoso!- Que bom! Fico feliz...Depois conversamos mais sobre os detalhes e nos mudamos juntos para o RJ. Vamos colocar a Esther na linha e acompanhar ela de perto!- Ótimo!

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Os dois sorriem e seguem para Itaipava.

Paulo estava na Fio Carioca e encontra Marcela:- Oi, meu amor! Onde você estava? Não me diz que estava na clínica até agora? – Marcela questiona, o abraçando.- Sim, esperei a Esther ter alta. Você sabe, Marcela, ela não tem muitas pessoas próximas aqui no Rio.- Hum. Mas não foi isso que eu percebi...Dois médicos ali para cuidar dela. Ela não está sozinha!- Eu não falo de médicos, Marcela. Eu falo de companhia, de amigos.- Aquela médica é amiga dela...- Tá bom, Marcela. Não vou discutir.- Claro que não. Não estou discutindo...Eu entendo. E ela? Está melhor?- Sim, parece que sim.- Ótimo. Bom, eu vim até aqui avisar que hoje vou ficar o tempo todo na redação. Aquele chato do Renan me deu várias pautas para cobrir.- Ah, tudo bem, então. A gente se encontra para o jantar?- Não sei se vai dar, mas eu te ligo, gato! Juízo, hein? – Marcela dá um beijo em Paulo.- Pode deixar.Marcela volta para trás e diz:- A Esther, volta hoje?- Não. Ela vai ter que repousar durante alguns dias.- Certo! – Marcela responde, animada. – Beijinho, querido. Tchau.Paulo sorri sem vontade e vai até a sala de Esther, olhando para o vazio, pensativo. Depois de alguns minutos ele pega sua chave e também sai.

Enquanto isso, Esther havia tomado um banho e estava encostada na cabeceira da cama, pensando na visita de Paulo na clínica:

“ Eu queria que você soubesse que apesar de tudo isso que aconteceu conosco, eu tenho um carinho imenso por você...sempre vou ter.”

http://www.youtube.com/watch?v=JR5_RFDyiKg

De repente, ela é despertada com uma batida na porta, e pensa sozinha:- Quem será? O porteiro nem avisou...Ela coloca o roupão por cima de uma camisola azul longa, e vai até a porta. Quando ela abre, se depara com Paulo, que sorria para ela levemente:- Oi. Te acordei?- Oi...Não, eu estava acordada. Entra...- Licença. – Paulo entra com as mãos no bolso, olhando para a sala. – Nossa, fazia um bom tempo que não vinha até aqui.- É...- Esther diz, não entendo a visita do ex-marido.Paulo olha na estante e vê uma foto dos dois:- Você ainda tem...essa foto aqui?- Eu ainda não tive muito tempo para mudar as coisas por aqui. – Esther diz, sem jeito.- Hum...Desculpa ter vindo sem avisar, na verdade eu estava preocupado, queria saber se você está bem.- Estou...Está tudo bem.

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Paulo a olha de cima abaixo e se aproxima dela. Esther engole a seco, sentindo seu coração disparar com a proximidade de Paulo:- Você...Quer beber alguma coisa? – Esther tenta desfazer o clima.- Não, obrigado...- Paulo se aproxima ainda mais e olha para os lados, tentando evitar o olhar de Esther, mas não consegue. – Esther eu...eu ainda não sei ao certo o que me trouxe até aqui, além da preocupação....- Paulo fica em silêncio e retoma: - Na verdade eu acho que sei...eu sinto tanto a sua falta, que quando eu percebi que podia acontecer alguma coisa com você, eu fiquei desesperado. - Paulo...- Esther tenta falar mas ele não deixa:- Não, por favor, deixa eu terminar... – Ele segura as mãos de Esther: - Me perdoa se eu te fiz sofrer, eu realmente não consegui continuar com o nosso casamento, eu ainda não entendo essa sua escolha, mas a única coisa que eu ainda tenho certeza é dessa dor que eu sinto no peito toda vez que eu vejo sua sala vazia na Fio Carioca, ou como a gente se trata com tanta frieza ultimamente...Eu acho que vai ser difícil eu esquecer...Das noites, dos dias, de cada segundo que nós fomos felizes juntos. Eu nunca coloquei os negócios a frente do nosso amor. Tudo que eu falei ou demonstrei foi tentando me contrariar, negar que eu ainda...ainda...- Paulo chega cada vez mais perto dos lábios de Esther, eufórico...- eu ainda te amo. – Ele termina de dizer e segura firme a nuca de Esther, puxando o corpo dela para perto do dele. O beijo é imediato e intenso. Esther não resiste e o abraça, alternando suas mãos na nuca e depois na cintura dele. Paulo beija o pescoço de Esther com paixão,tirando o roupão dela, que cai no chão. O casal caminha esbarrando nos móveis da sala. Ele encosta o corpo de Esther na parede, com cuidado, e a beija por todas as partes do seu corpo, dizendo:- Eu senti tanta saudade... da tua pele, do teu cheiro...Esther não consegue dizer nada, apenas retribui as carícias do ex-marido, quando de repente, o celular de Paulo toca insistentemente. Esther não consegue continuar, e afasta o corpo de Paulo, que tentava abaixar a alça de sua camisola.- Não, Paulo. Pára...Paulo se afasta, sem vontade, ainda eufórico com os beijos, e olha para Esther, que diz:- Atende, o celular...Ele tira o celular do bolso e vê o número: era Marcela.- Alô. Oi, Marcela. – Ele diz, olhando sem jeito para Esther.- ...é...é que eu estava no trânsito, tive que parar o carro. Está tudo bem, estou saindo de uma reunião. Tá, eu passo aí depois. Tchau.Esther fica parada, se recompondo e depois diz para ele, balançando a cabeça negativamente:- Pelo amor de deus, Paulo. Eu não quero que isso aconteça nunca mais. Não quero nunca mais passar por uma situação dessas.- Eu sei, eu sei. Desculpa, eu não sei o que aconteceu, eu não consegui...- Tudo bem. É melhor você ir embora...- Tá...- Paulo caminha de costas para a porta, ainda olhando para ela. – Você, você está bem mesmo, né?- Sim. Vai embora, Paulo...- Esther insiste.- Tchau... – Ele diz, ainda a olhando, e vai embora.Esther não responde, apenas fecha a porta quando Paulo sai e se encosta nela, fechando os olhos e chorando.

http://www.youtube.com/watch?v=fj1yQOj2OPw

VIII

Page 21: Problemas de nós dois

Paulo vai até o jornal ao encontro de Marcela, e no caminho não consegue esquecer do beijo que havia dado em Esther. No mesmo momento, Esther estava deitada na cama, acariciando sua barriga e chorando, dividida entre a felicidade e o amor que já sentia pelo filho e a tristeza por não ter Paulo ao seu lado.

No dia seguinte, Esther chega na Fio Carioca, antes de Paulo. Ela coloca suas coisas na sala e começa a trabalhar. Em alguns minutos, Paulo aparece e Esther o escuta nos corredores, cumprimentando as pessoas. Seu coração dispara e eles se entreolham pela janela da sala. Ele bate na porta e entra:- Posso? – Ele pergunta antes de entrar.- Pode...Os dois se olham, ainda sem graça pelo beijo trocado na noite anterior, e Paulo resolve quebrar o silêncio:- Você não acha que é melhor descansar mais? Porque não tem problema, eu tomo conta de tudo e... – Esther diz:- É, eu pensei nisso...Mas não quero deixar a Fio Carioca. Pensei em diminuir a carga horária. O que você acha?- Por mim, está tudo bem. O que importa é a sua saúde, não é?Esther sorri de leve para ele e fica em silêncio. Paulo bate as mãos na perna, se dispersando do clima:- Bom! Então é isso...Qualquer coisa, é só me chamar.- Tudo bem. – Esther diz e o observa sair da sala, mordendo os lábios, nervosa.

Paulo fecha a porta e se encosta nela, pensando no beijo novamente, quando a secretária chega e o assusta:- Paulo?!- O...Oi...Nossa, que susto, eu estava distraído.- Percebi! – Ela sorri. – Vamos para a reunião?- Sim, vamos.

Na hora do almoço, Marcelo telefona para Esther:- Oi, tudo bem? – Ele diz, animado.- Oi Marcelo! Tudo ótimo e com você?- Melhor agora! Ouvindo sua voz, animada! Sinal que já está tudo bem!- Sim. Obrigada pela preocupação. Já estou bem melhor, e tudo isso graças aos seus cuidados e da Danielle.- É pra isso que estamos aqui! Vem cá...Você está muito ocupada?- Não, estava saindo para almoçar.- Hum. Será que ainda está em tempo de te fazer um convite?- Convite?- Quer almoçar comigo hoje?- Tudo bem! Seria ótimo...- Que bom! Posso passar aí pra te pegar?- Claro. Fico te esperand, então. Um beijo.- Outro. Até logo.Esther desliga o celular sorrindo e termina de arrumar suas coisas.

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Esther e Marcelo repetem os encontros várias vezes. Paulo nunca havia visto os dois juntos, até então.- Boa tarde! A Esther está? – Marcelo pergunta para a secretária na Fio Carioca.- Está sim, quem gostaria?- Diz que é o Marcelo. Sou amigo dela...- Claro, só um instante que vou avisá-la.Nesse momento, Paulo aparece:- Doutor Marcelo!- Paulo! Como está?- Tudo bem e você? – Paulo o cumprimenta com um aperto de mãos.- Tudo certo. - Você veio...? – Paulo pergunta, sem se preocupar com a discrição.- Eu vim ver a Esther, nós combinamos...- Nisso, Esther aparece e os interrompe:- Oi...Marcelo! – Ela o beija no rosto, sorrindo.- Oi! Nossa, cada dia mais linda, hein. A barriga já está crescendo! - Ah, nem tanto assim! – Esther sorri.- Posso? – Marcelo pergunta se pode tocar a barriga de Esther.- Claro! - Os dois sorriem e Paulo se sente excluído e incomodado com a proximidade dos dois amigos.- É...Vocês vão sair, juntos? – Paulo pergunta, interrompendo os dois. Marcelo retira as mãos da barriga de Esther e diz:- Sim. Combinamos de ir ao cinema. Tá tudo bem pra você... sair agora? – Marcelo pergunta para Esther.- Está. Já deixei tudo organizado. Não tem problema, não é? – Esther questiona o ex-marido, que fica quieto por alguns instantes e diz:- Não...problema algum. Podem ir.- Opa! Legal...Até mais, Paulo. Foi um prazer te ver de novo. – Marcelo o cumprimenta. - Até mais. Divirtam-se. – Paulo diz, friamente.- Tchau...- Esther se despede e sai conversando animadamente com Marcelo enquanto Paulo lança um olhar cheio de ciúmes para os dois.

Esther e Marcelo estão chegando no shopping e ele diz:- Escolhi uma comédia romântica para você relaxar.- Ótimo, estou precisando mesmo!- Você tem que parar de trabalhar tanto, Esther. Eu fico até chato de pegar no seu pé, mas a Danielle pediu que eu ficasse de olho. E agora que somos sócios e ficamos aqui no RJ, quero ver a senhorita sair da linha.- Pois é. Estou sem saída! Já falei que assim eu vou ficar mal acostumada? – Esther sorri e Marcelo retribui.- Já falei que você fica linda sorrindo?- Marcelo...- Esther diz, sem graça.- Vamos entrar! Já começou...- E a pipoca?- Ih, nossa! Melhor eu comprar senão o bebê nasce com cara de pipoca, né?- É, acho que sim! – Esther sorri.Os dois seguem para a fila de pipoca e depois entram na sala do cinema, conversando.

Alguns dias se passam e as saídas de Esther e Marcelo são cada vez mais freqüentes. Paulo, por estar ocupado com a Fio Carioca ou com Marcela, não percebe tanto a proximidade dos dois, porém, quando os vê juntos, ainda sente ciúmes, como se Esther

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nunca tivesse deixado de ser sua mulher. Não havia um só dia que Paulo não lembrasse dos momentos ao lado de Esther, e sentisse saudades. Mas sempre conseguia desvencilhar seus pensamentos, tentando esquecê-los com a rotina desenfreada de trabalho na empresa ou com o fogo e a pressão de Marcela.

Antes de uma consulta médica com Esther, Danielle e Marcelo conversam na sala dela, já na clínica reformada do RJ:- A Esther está tão bonita, né? Cada dia que passa eu vejo um brilho nos olhos dela...Acho que essa teoria de que mulher grávida fica mais bonita, é verdade! – Marcelo sorri.- Hum, teoria? Isso pra mim tem outro nome. – Danielle diz.- Como assim?- Você não me engana, meu amigo. Isso tem cheiro de paixão, amor...- Danielle..- Marcelo a repreende.- O que? Vai esconder isso de mim? Por favor, Marcelo. Qualquer um enxerga isso.- Sério que dá pra perceber? – Ele sorri, sem graça, se entregando.- Bobo! Por que você não se declara de uma vez?- Declarar? Parece que sou um adolescente.- Parece mesmo. E isso é tão bonito. Um amor que surge assim, a gente não pode deixar escapar.- Mas e ela? Ela ainda ama o marido, não ama? O jeito com que ela fala nele...Todo o assunto, o Paulo surge.- É normal, ela sempre viveu com ele, foi o grande amor da vida dela. Mas você tem grandes chances pra concorrência. Afinal, eles estão separados, e ele está com outra.- Eu não consigo entender como um homem inteligente é capaz de deixar uma mulher como a Esther.- Pois é...Mostra isso pra Esther...Fala com ela...- Não sei, sei lá...E se ela disser não? Se ela me desprezar?- Marcelo, quanto bobagem. A Esther é adulta e séria, ela vai saber lidar com isso.- É...Não sei. Eu só sei que já não consigo mais deixar de falar com ela um só dia, de ver aquele sorriso...- Ih, nossa! Que melação, meu amigo! Vamos mudar de assunto que jajá ela está aí. Guarde o açúcar pra quando você se abrir com ela!Marcelo e Danielle começam a rir até Esther chegar.

IX

Algumas horas se passam e era pra ser um dia como outro qualquer na Fio Carioca, a não ser por um incidente. Marcelo e Esther chegam juntos no escritório, depois da consulta com Danielle.- Eu nem acredito, Marcelo! Que daqui há alguns dias já vou poder saber o sexo do bebê.- Pois é. Está quase! Passou tão rápido esses 2 meses.- Sim...Parece que foi ontem que eu estava indecisa em ter esse filho. Não me arrependo um só segundo dessa decisão.- Fico feliz...- Vamos entrar? – Esther abre caminho para Marcelo entrar em sua sala.Marcelo entra e fica observando Esther arrumar suas coisas.- O que foi? – Ela pergunta sorrindo.- Nada, estava aqui pensando...Te olhando...

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- No que?- Esther, eu não ia comentar nada, não queria estragar essa amizade que a gente construiu, mas é que está sendo mais forte do que eu...- Marcelo sorri. – Meio piégas isso que falei, mas vou dizer mesmo assim...Mesmo que isso mude nossa convivência, e que você não ache certo, até mesmo ético...- Nossa, Marcelo...O que foi? – Esther pergunta, confusa de ser o que ela estava imaginando.- Eu me encantei com você desde o primeiro dia que te conheci...Acho que já ficou até evidente o meu interesse por você...Eu já não consigo mais chegar perto sem me contagiar com as suas conversas, com o seu sorriso, com o seu jeito...- Marcelo diz, encantado, e se aproxima dela...- Esther...me dá uma chance pra te fazer feliz, pra eu cuidar de você.- Marcelo, eu...- Marcelo toca os lábios dela e continua:- Eu sei que você ainda deve amar o Paulo, mas ele não te merece, Esther. Você já sofreu tanto com ele...E por mais que você me condene por tudo que te falei agora, eu não me arrependo e não saio daqui sem antes...sem isso...- Marcelo segura firme a cintura de Esther e a beija cheio de urgência e paixão. Esther não resiste e retribui o beijo, segurando a nuca do médico, colando ainda mais o seu corpo no dele. (Trilha de Marcelo e Esther) http://www.youtube.com/watch?v=aAC_anHNhVM&feature=related)

Nesse momento, Paulo que já havia escutado Marcelo se declarar à Esther pelo vão da porta entreaberta da sala, não acredita quando vê os dois se beijando. Ele sente tudo ao mesmo tempo: ciúmes, raiva e culpa.Paulo não aguenta a cena por muito tempo e sai abalado para sua sala.

Esther se afasta de Marcelo, confusa com o beijo:- O que foi isso? – Ela pergunta, tocando os lábios.- Um beijo...Maravilhoso, por sinal. – Marcelo diz, sorrindo.- Desculpa Marcelo, eu acho melhor a gente não repetir isso. Eu não vou me afastar de você, como você mencionou...Mas você sabe que eu ainda...- Marcelo a interrompe:- Você ainda ama o seu marido...Eu sei.- Eu sei que eu e o Paulo já estamos separados, mas é tão difícil começar outra história...Você entende, né?- Claro, claro...- E eu estou totalmente focada nessa gravidez. Um relacionamento agora...Nem passa pela minha cabeça. – Esther termina, ainda sem graça pelo beijo.- Tudo bem. Não precisa se preocupar que eu vou tentar me policiar!Esther o olha, o repreendendo.- Brincadeira! Eu te respeito muito Esther, de verdade. Não vou fazer nada que você não queira. Eu só tinha que te dizer tudo aquilo, e o beijo...O beijo era uma obrigação. Nem que tenha sido o primeiro e último.Esther sorri levemente, encantada com as palavras de Marcelo, mas ainda se sentia confusa com a situação. Marcelo que a olhava fixamente, diz:- Eu nunca vou esquecer.- Marcelo...Nem sei como te agradecer por toda sua amizade e carinho. Espero que não mude nada entre a gente depois disso...- Da minha parte, não vai mudar. Mas, quem sabe muda de outra maneira, uma amizade colorida... eu sou um homem de muita fé! – Marcelo brinca.

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- Bobo! Tá certo...Bom, acho que eu vou indo pra casa, não quero abusar muito no trabalho.- Ótimo! Estou gostando de ver essa preocupação com a sua saúde...Eu te deixo em casa.- Não, obrigada, não precisa. Estou com o carro...- Você não está fugindo de mim não, né?- Claro que não! Nem ia conseguir...Você me acostumou tão mal com essas caronas, com os passeios, cinema...Nem que eu fosse louca. Você é um grande “amigo” ! (Esther enfatiza)- Hum. Queria poder dizer o mesmo...Mas não vou ser chato e bater na mesma tecla. Vou embora pra casa também! – Marcelo e Esther começam a rir e saem da sala juntos.Paulo observa tudo no corredor e diz sozinho:- Não é possível...

No mesmo dia, Paulo e Marcela jantam e depois dormem juntos, mas ele não consegue esquecer da cena que viu entre a ex-esposa e o médico. Ele não acompanha o ritmo de Marcela, que reclama:- Ai, Paulo. O que aconteceu?- Não sei, desculpa. Eu estou muito cansado...- Hum. Tudo bem, né. Quer que eu faça uma massagem? – Marcela se aproxima das costas dele, mas ele se esquiva:- Não...Não precisa, obrigado. Eu só quero dormir, tudo bem?- Tudo bem...- Marcela diz, chateada, mas Paulo nem percebe. Ele só vira para o lado e finge dormir, ficando a noite toda acordado pensando em Esther.

Enquanto isso, Esther está sentada no sofá. Ela pensa no beijo de Marcelo ainda confusa, e diz sozinha, olhando para o retrato dela com Paulo, que ainda estava na estante:- Como eu queria te esquecer...Mas agora somos só eu e você, não é? – Ela fala com o filho, tocando sua barriga.

No dia seguinte, Esther chega na Fio Carioca e Paulo a puxa pelo braço, no corredor:- Esther, espera...Eu posso falar com você um instante? Esther olha para as mãos dele que estavam em seu braço e ele logo a solta.- Podemos...Vamos para minha sala? – Ela pergunta.- Pode ser.

Chegando na sala de Esther, Paulo fecha a porta e pergunta:- Eu sei que eu não tenho mais nada a ver com isso, mas eu preciso saber... – Paulo fica em silêncio.- Saber...o que?- Ontem, sem querer, eu vi você e aquele médico se beijando...- Hum. Bom, se você se sentiu incomodado por ser um ambiente de trabalho, não se preocupa que não vai se repetir por aqui...- Não é nada disso...Eu só queria saber se...se vocês estão juntos...- É, eu acho que isso não tem nada a ver com você mesmo.Paulo engole a seco e diz:- Ok. Não devia ter perguntado, né?- Não.

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- Tá...Eu...vou indo. – Paulo sai rapidamente.Esther fica em silêncio e se senta, confusa com a reação de Paulo.

O dia todo passa e já é a hora do almoço. Esther arruma suas coisas e pega a chave do carro. Paulo percebe que ela estava de saída, pela janela da sala, e corre até lá:- Espera, Esther. – Ele diz, fechando a porta.- O que? O que aconteceu? – Esther pergunta preocupada, se aproximando dele. Paulo chega ainda mais perto e diz:- Aconteceu que eu...eu não suporto ver você com outro homem, Esther. Eu sei que eu não tenho direito algum de falar isso, mas eu preciso saber...- Paulo segura o braço dela e continua:- Você ama aquele homem?- Me larga, Paulo. Como você mesmo disse, você não tem direito algum e eu obrigação nenhuma de te responder.- Eu sei que você ainda não esqueceu de nós dois...- Paulo diz chegando mais perto de Esther, olhando fixamente para os lábios dela.- E você? Já esqueceu de nós dois, não foi? Já não está com outra mulher? – Esther rebate, chateada.- Você sabe que eu não esqueci...Que isso é impossível.- Mas você escolheu assim, Paulo.- Não! Você é que ficou com essa ideia fixa de ter...- Esther o interrompe e se solta dele, bruscamente:- De ter o “meu” filho! Me solta...- Não...Eu não vou te soltar. – Paulo a segura novamente. - Esther...eu não consigo tirar você da minha cabeça, eu passo perto das pessoas, eu vejo você em todas elas, sinto o seu perfume em todos os lugares...E a falta que o teu sorriso me faz, todo dia...Por que isso foi acontecer com a gente?- Eu não tenho essa resposta. Você deve saber melhor do que eu...Paulo fica em silêncio e puxa o corpo de Esther para ele. Ela não consegue reagir diante da respiração ofegante de Paulo, que pedia um beijo com urgência. Os dois ensaiam um beijo por alguns minutos, fechando os olhos e sentindo a pele um do outro. A saudade e o desejo é tão grande, que o beijo enfim acontece: íntimo, delicado e demorado, fazendo com que o casal sentisse, por longos minutos, que estavam ainda ligados por um amor maior do que qualquer desentendimento.

http://www.youtube.com/watch?v=JR5_RFDyiKg

Nesse momento, Marcela chega sorridente na Fio Carioca. Ela pergunta por Paulo para a secretária, que informa que o empresário está na sala de Esther. Marcela caminha até a sala e sem ser vista, se depara com os dois aos beijos. Ela lança um olhar cheio de ódio e resolve ir embora, sem dizer nada.

X

Nisso, Esther se afasta de Paulo, também ofegante. Ela olha para ele com tristeza, se auto-repreendendo pelo o que havia acontecido:- Isso não pode acontecer de novo.Paulo fica em silêncio e quando ele vai dizer alguma coisa, o celular de Esther toca. Ela tenta encontrar o celular na bolsa, ainda confusa e nervosa, e enfim o encontra:

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- Alô...Oi Danielle. Sim, desculpa a demora, eu tive um...- Esther olha para Paulo. - ...um imprevisto. Já estou descendo. Um beijo.- Calma, não vai embora..- Paulo a segura novamente pelo braço. – A gente precisa conversar.- Não, Paulo. A gente não tem nada pra conversar. Nós somos apenas sócios, mais nada...Meu assunto com você só vai ser sobre a Fio Carioca. – Ela pára um instante olhando para os olhos de Paulo, e termina: - Licença, eu preciso ir embora.Esther se esquiva dele com dificuldade e sai apressada da sala. Paulo continua atônito, passando as mãos nos lábios, pensativo.

Esther sai do escritório abalada e Danielle percebe, ao lado de Marcelo e Pedro:- Querida, aconteceu alguma coisa? Você está pálida.- Não, nada. Acho que é o calor.- Ai, meu deus. Você não está se sentindo mal não? O bebê? – Danielle pergunta, preocupada.- Está tudo bem, de verdade! Já está passando.- Se quiser vamos pra sua casa, a gente te deixa lá...- Marcelo diz.- Não, não é necessário. Vamos almoçar! E em todo caso eu tenho dois médicos para me socorrer! – Esther brinca e sorri.- Olha lá hein! Se você sentir alguma coisa, não esconda de nós, por favor.- Pode deixar, está tudo bem!- Então vamos! – Marcelo diz brincando com Pedro até o carro.Danielle olha encantada para Marcelo e o sobrinho, e diz para Esther, sem que ele ouvisse:- Esse Marcelo... Daria um belo pai, não?- Pois é! – Esther concorda.Marcelo entra no carro e coloca Pedro na parte de trás. Danielle observa o médico e percebe que ele não tirava os olhos de Esther. A médica se sente incomodada mas logo tenta desviar o suposto ciúmes.

Alguns dias se passam e a barriga de Esther já estava razoavelmente aparente. Ela chega na Fio Carioca e a secretária já a aborda com vários pedidos de clientes. A estilista não tem tempo para intervalos e trabalha a manhã e a tarde toda. Paulo passa o dia fora da empresa, em uma reunião com fornecedores.

Já são 18 horas e Esther está exausta. Ela senta na cadeira finalmente descansando, quando de repente alguém bate na porta e já entra:- Com licença, queridinha! – Diz Tereza Cristina animada. – Podemos entrar?Esther se levanta da cadeira e vê Tereza Cristina acompanhada por...Marcela! Ela não acredita no que estava vendo. Depois de um dia cansativo de trabalho, as pessoas que ela menos gostaria de ver eram justamente as duas.- E então? Podemos entrar ou não? – Tereza insiste quando vê Esther estática.- Pode entrar...Desculpa Tereza Cristina, hoje eu estou muito cansada.- Hum, você não deveria estar trabalhando. Nessa situação...- Que situação? Eu estou grávida Tereza, e não doente.- É o que todas as mulheres “pseudo-fortes” dizem! – Tereza a provoca.- Pseudo? Não entendi o comentário.- Querida...Ela quis dizer que você só se faz de forte, mas no fundo é muito frágil..Bobinha, sabe? – Marcela a provoca.

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- Olha só...Eu juro que acreditei que vocês vieram ter uma conversa civilizada, não sei sobre o que...mas...se vocês vieram pra...- Esther tenta dizer, perdendo já a paciência.- Calma, não fique agitada, ex - cunhadinha. Sente-se, vamos conversar. – Tereza pede e Esther se senta, sem vontade:- O que vocês querem?- Queremos que primeiro você se desarme, e escute... – Tereza diz, se sentando junto com Marcela. – Bom, nós estávamos no shopping e resolvemos vir juntas pra cá. A Marcela me contou da sua falta de compostura com ela esses dias pra trás. Um tapa na cara, Esther? Sempre achei você tão fina e educada.Esther fecha os olhos, tentando respirar e não se chatear, e Tereza continua:- Você já foi bem mal educada comigo também, sempre que eu tocava no assunto da sua gravidez.- É porque esse assunto só interessa a mim. – Esther responde, com frieza.- Viu só? Pra que esse rancor todo? Você se sente afetada porque sabe que fez uma má escolha, deixando o meu irmão pra ficar com esse “bichinho” de laboratório. – Tereza se refere ao filho de Esther.- Chega, Tereza Cristina! – Esther se levanta e bate as mãos na mesa. – Eu não vou ficar ouvindo calada as suas agressões, e nem dessa mulher...Essa empresa é minha e se eu não quiser que vocês pisem aqui de novo, eu tenho todo o direito.- O que é isso? – Tereza se levanta fingindo um susto. – Você vai me proibir de entrar na empresa do “meu” irmão?- É minha também.- Olha só, Tereza, eu não disse? Essa mulher está fora de controle, maluca! – Marcela provoca. – E tem mais...Esses dias eu vi você agarrando o Paulo nessa sala. Você não tem vergonha, não?Esther começa a rir, desacreditada no que estava ouvindo, e diz:- Eu acho que as únicas que não têm nenhuma vergonha na cara aqui, são vocês. Eu não vou ficar agüentando isso...Por favor, vão embora.- Estherzinha, você é tão bobinha, né? Não sei como o meu irmão agüentou tanto tempo ao seu lado...Você nunca demonstrou nenhum interesse com a nossa família.- Tereza Cristina diz.- Por favor, Tereza Cristina! Qualquer um ficaria intimidado com a família do Paulo, especificamente falando: com você...- Isso! Atira pedra mesmo em quem te acolheu...Você foi abandonada nessa cidade pela sua família, e nós te recebemos de braços abertos. – Tereza diz, fazendo-se de vítima.- Queridas, eu adorei a visita de vocês, e a intenção mais ainda. – Esther diz, ironicamente. -... Mas eu estou realmente muito cansada e vocês estão sendo muito inconvenientes.- Calma, mas a gente não deu o nosso recado ainda... – Marcela diz.- Ah, ainda tem um recado? – Esther diz, cruzando os braços e sorrindo, sem acreditar.- Escuta bem, que eu vou dizer só uma vez, sua abusada. – Marcela se altera. – Se você relar de novo no “meu” homem eu acabo com você e com essa...coisa..aí dentro. – Marcela aponta para a barriga de Esther. Tereza Cristina que tinha ido apoiar a amiga também se surpreende com as palavras da jornalista e prefere ficar quieta.Esther se aproxima de Marcela:- Escuta aqui, eu não vou me rebaixar, não vou gritar, não vou me alterar...Mas se isso foi uma ameaça, ótimo. Tenta fazer alguma coisa contra o meu “filho” e você vai ver quem é a bobinha, a sem sal, a sem graça... Quem vai acabar com você, sou eu! E se o problema é o Paulo, ele já é todo seu. Eu só não posso fazer nada se você não se garante, se você não consegue segurar o “seu” homem...Eu não fiz nada, pode ter

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certeza que pra mim essa história já morreu...Tenta convencer o Paulo disso... – Esther termina, cínica e fria, como Marcela merecia.- Você é uma seca, recalcada! – Marcela vai se aproximando de Esther, ameaçando agredi-la fisicamente, mas Tereza Cristina a segura.- Saem daqui! Vocês duas! – Esther grita e de repente sente uma dor aguda na cabeça e posteriormente em sua barriga. Ela se senta, pálida, temendo ter acontecido algo com seu filho. Nervosa, ela diz alterada para as duas, quase chorando:- Saem daqui...Me deixem em paz, pelo amor de deus.- O que foi agora? Tá fingindo né, só pra me prejudicar. – Marcela não abre mão de provocá-la.- Marcela, pára. Ela está passando mal mesmo. – Tereza diz, assustada. – O que a gente faz?- Nada...É tudo encenação. Vamos embora..Já disse tudo mesmo. Espero que você tenha entendido, queridinha. Tchau. – Marcela puxa Tereza pelo braço, que ainda continua assustada, olhando para trás.Esther se contorce de dor e chora com medo de perder o filho. Nisso, a secretária vê Tereza e Marcela saindo e corre quando vê Esther na cadeira, quase desmaiando.- Esther, o que houve? Meu deus...- Por favor, liga pra Danielle...no meu celular. Está ali em cima da outra mesa.A secretária pega o celular de Esther e liga para Danielle, mas ela não atende:- Ela não atende...e agora? - Ai, não sei. – Esther diz com dificuldade. – O Carlos está viajando, justo agora...- Você quer que eu ligue para o Paulo?- Não, de jeito algum. Já sei...Procura por Marcelo na agenda. Liga pra ele...A secretária disca e diz:- Atendeu! Oi...Alô, Marcelo? Aqui é a secretária da Esther. Ela precisa muito que você a ajude, ela está passando muito mal, pode ter acontecido algo com o bebê. Tá, tudo bem, espero você aqui...rápido!Esther não consegue mais prestar atenção na conversa, sentindo uma forte dor de cabeça. Marcelo, que estava perto do local, chega rápido e socorre Esther:- Aonde ela está? – Ele chega, atônito.- Aqui, no sofá. Acho que ela não está lúcida...de tanta dor.- Meu deus...Esther...Vem aqui. – Marcelo fala com ela, sem resultado, e a pega no colo. – Eu vou levá-la para a clínica, depois dou notícias. Obrigado.- Sim, por favor. Tomara que dê tudo certo – A secretária diz, preocupada com a chefe.Marcelo leva Esther no colo até o seu carro e ao tocar o pulso de Esther, percebe que ela estava com a pressão arterial alta. Ele fica preocupado e segue o mais rápido possível com a estilista para a clínica.

Nisso, Paulo chega na Fio Carioca, animado com a reunião:- Ah, finalmente, conseguimos bons preços com os fornecedores! – Paulo diz para a secretária, que estava pálida e aflita.- O que foi que aconteceu? Que cara é essa?- A Esther...- Ela não consegue dizer.- O que? Você está me assustando...A Esther? Onde ela está?- Ela passou muito mal, Paulo. Ela foi direto para a clínica.- Mas como assim? Como foi isso? – Paulo diz, quase gritando, agitado.- Calma, aquele doutor, o Marcelo, veio buscá-la...Ela passou muito mal, disse que estava com dores na barriga e na cabeça...Eu não queria fazer fofoca nenhuma, mas isso foi depois que a sua irmã, Tereza Cristina e a Marcela saíram daqui.

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- Como? Elas vieram aqui, pra que?- Não sei. Eu só ouvi uma discussão, porque foi bem alta...Elas foram embora e a Esther ficou assim.- Não acredito nisso! Eu vou agora mesmo pra clínica.- Tá..Vai com cuidado e me dê notícias, por favor. – A secretária diz com o tom de voz alto para que Paulo, que já havia saído correndo, escutasse.

XI

Na clínica, Carlos havia deixado outro médico em seu lugar, enquanto viajava. O médico substituto cuidava de Esther junto com Marcelo, que tentava encontrar Danielle. Depois de alguns minutos a médica finalmente atende o celular, dizendo que estava com Pedro em Itaipava, buscando alguns objetos que o sobrinho havia deixado por lá. Quando Marcelo explica o que havia acontecido, ela fica aflita:- Meu deus do céu, pressão alta? Marcelo, cuida dela, não saia de perto dela, entendeu? Eu estou indo praí agora mesmo.Marcelo desliga e vai correndo acompanhar os exames de Esther, que estava sedada.

Paulo chega na recepção e pede para ver Esther. Quando pedem para ele aguardar, sem nenhuma notícia, ele entra em desespero:- Pelo amor de deus, é a minha mulher que está lá dentro! – Ele grita, sem pensar.- Calma, Paulo! – Danielle toca o ombro dele, chegando na clínica.- Danielle..a Esther...- Eu sei, eu estou indo vê-la. Vem comigo...Danielle explica para Paulo que só sabia que ela estava com a pressão alta e que não podia dar uma posição para ele do estado de Esther, pois não sabia detalhes. Ela pede para ele se acalmar:- Fica calmo, vai dar tudo certo. A Esther estava respondendo muito bem à gravidez e aos exames...Tenho certeza que foi só um susto e se não foi, vamos controlar.- Por favor, Danielle. Eu sei que eu nunca fui seu amigo, nunca me aproximei muito de você por conta dessa história toda, mas eu te peço...Cuida dela, não deixa que nada aconteça. Apesar de tudo o que aconteceu, eu nem sei o que seria de mim se acontecesse alguma coisa com ela...ou com essa criança... – Paulo diz, desesperado, surpreendendo a médica.- Tudo bem, Paulo. – Ela sorri e segura a mão dele. – Confia em mim. Vai dar tudo certo. Deixa eu ir correndo, pra cuidar da Esther.- Certo. Me deixa informado, por favor..Não vou sair daqui.- Pode deixar. – Danielle diz e vai direto para a sala onde estava Esther.

Depois de um tempo, os médicos colocam um soro para hidratar e remédios para tranquilizar Esther. Ela acorda, ainda sonolenta em decorrência dos remédios:- Danielle...- Ela chama a médica, com dificuldade.- Oi, querida, estou aqui.- Diz...diz pra mim que está tudo bem com o meu filho...- Calma, está tudo bem sim. Não aconteceu nada. – Danielle diz e segura a mão de Esther, que sorri aliviada. Ela se volta para Marcelo que também estava lá:- Obrigada, por tudo..Se não fosse você, poderia ter sido pior.- Imagina, Esther. Eu fiz o que pude...E fica tranqüila, que deu tudo certo..Agora vamos ter que conversar sério, sobre sua alimentação, exercícios, e o mais importante: o seu

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trabalho...você vai ter que parar de ir à Fio Carioca, até estabilizar seu estado, ou melhor, até o parto.- É, Esther. Tudo isso pode ter sido resultado do stress. Você teve pressão alta e isso também pode ser comum na primeira gravidez, principalmente com pessoas na sua idade. Mas não se preocupe, vamos controlar isso muito bem, mas você vai ter que abrir mão de muitas coisas. – Danielle recomenda.- Claro. – Esther diz, preocupada.- Mas agora você vai descansar, depois conversamos sobre isso...- Danielle diz e arruma o soro de Esther, depois se lembra:- Ah, esqueci! O Paulo...Ele está lá fora, querendo te ver.- Não, por favor. Não deixem ele entrar....Eu tenho certeza que se eu ver ele, eu vou ficar muito nervosa e...- Não, não. Tudo bem, fica calma. A gente dá um jeitinho nisso, não se preocupa. – Danielle a tranqüiliza.Esther se acalma e tenta descansar e apagar as lembranças da conversa que tivera com Tereza e Marcela.

Quando Danielle sai do quarto de Esther junto com Marcelo, Paulo sai correndo até eles:- E então? Como ela está?- Ela já está bem. Fica calmo...- Danielle tenta tranqüiliza-lo.- Eu posso vê-la?- Paulo, a Esther pediu que não fosse incomodada. Ela precisa descansar...É melhor evitarmos que ela fique agitada, porque o que ela teve foi uma crise de pressão alta. Se não controlarmos, isso pode ser muito arriscado, tanto para a criança quanto para ela mesma.- Não, tudo bem. Eu entendo...Mas eu posso esperar aqui até ela melhorar?- Paulo, a verdade é que a Esther pediu que não deixássemos você entrar.- Ela pediu?- Sim...- Danielle olha para Marcelo, sem jeito.- É, eu sou um idiota mesmo. É claro que ela não quer me ver, depois de tudo...- Paulo diz, triste.- O que houve? Vocês brigaram quando ela passou mal, foi isso? – Marcelo questiona e Paulo fica incomodado com o interesse do médico em sua vida, mas responde mesmo assim:- Claro que não. Eu estou fazendo o máximo para poupar a Esther do trabalho, de passar por algum tipo de stress, desde a última vez que ela passou mal....- Paulo faz uma pausa e termina: - Eu fiquei sabendo que minha irmã foi até lá hoje e elas tiveram um desentendimento. Mas eu vou resolver essa situação, isso não vai ficar assim...- Bom, eu acho melhor você ir pra casa, Paulo. Ela já está se recuperando. – Danielle recomenda.- De jeito algum, mesmo sem poder vê-la, eu vou esperar aqui.- Você é quem sabe...- Danielle toca de leve o braço de Paulo e se afasta junto com Marcelo. Paulo os observa e fica pensativo e agitado.

Nesse momento, Marcela estava na casa de Tereza Cristina e liga para a Fio Carioca para saber notícias de Paulo, já que o celular dele estava desligado.A secretária conta sobre o incidente, somente para provocá-la. Marcela fica irritada e Tereza Cristina percebe:

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- O que aconteceu?- A sonsa da Esther..Não disse que ela ia arranjar problemas pra mim? E pra você também, né...Afinal de contas você estava comigo.- O que foi? Fala logo!- Diz a secretária que ela passou mal e moveu montanhas até lá, para levarem ela até a clínica. E o Paulo está lá...Com certeza já sabe que nós estivemos na Fio Carioca...Mas eu preciso conversar com ele agora! Vamos pra clínica comigo...- De jeito algum...Esse problema é seu!- Jura que é só meu, amiga? Será que eu vou ter que conversar com a tia Íris, pra ela ter uma conversinha com você?- Tá bom, tá bom. Vamos logo.As duas seguem para a clínica e chegando lá...

- Paulo! Como a Estherzinha está? – Tereza se aproxima dele junto com Marcela. Paulo se levanta do sofá, e lança um olhar cheio de ódio para as duas:- O que vocês estão fazendo aqui?- Nós viemos te fazer companhia, querido. Fiquei tão chocada e...- Paulo não aguenta e se altera com as palavras falsas de Marcela:- Cala essa boca! Eu não estou podendo olhar pra cara de vocês duas...Como que vocês puderam fazer isso com a Esther? Armar toda uma discussão e depois sair sem prestar socorro? Se acontecer alguma coisa com ela, eu....eu nem sei! – Paulo começa a andar de um lado para o outro, raivoso.- Calma, Paulo, não foi nossa culpa, não é? Ela não estava passando tanto mal assim... – Tereza diz com medo, olhando para Marcela.- É, meu amor. Ela ficou alterada, do nada. Nem vimos quando ela passou mal...- Meu amor? Que meu amor? Fica quieta senão eu sou capaz de fazer uma loucura aqui mesmo. Vocês não prestam! Saem daqui vocês duas... Saem! – Paulo grita.- Tá, tá bom...A gente vai. Você está muito abalado agora. Mas tenho certeza que depois você vai se arrepender muito por essas palavras. – Marcela diz,convicta.- Vai embora! Tereza Cristina, antes de ir embora com Marcela, diz:- Espero, de verdade, que a Esther esteja bem. Até logo...Paulo, ainda nervoso, não responde e senta no sofá, colocando as mãos entre os cabelos.

XII

Algum tempo se passa e Danielle aparece na sala onde estava Paulo:- Paulo...Não é melhor você ir pra casa, descansar?- Não, eu vou ficar aqui.- Certo...Você não quer ir na cantina, comer alguma coisa?- É, acho que eu preciso pelo menos, tomar um café.- Então vamos, vou com você. O Marcelo vai ficar aqui com o outro médico, cuidando da Esther.- Tudo bem...Os dois vão até a cantina e conversam:- Eu estou me sentindo tão culpado. A Esther passou mal por minha culpa.- Claro que não, Paulo. Pelo o que você me contou, essa Marcela é bem desequilibrada, e eu conheço um pouco a sua irmã, sei que ela não tem muita rédea... Enfim, você nem estava lá no momento.

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- Mas eu poderia ter evitado muita coisa, entende? Eu...me sinto tão culpado por não ter apoiado a Esther, por ter sido tão egoísta.- É, no começo quando eu conheci vocês, eu tinha certeza que você ia ficar do lado da Esther nessa decisão..Aliás, a Esther passava essa confiança.- E eu quebrei essa confiança. Ela nunca vai me perdoar, não é?- Calma, você precisa ter paciência. A Esther está muito machucada sim, com tudo isso. Mas só o tempo pode curar essa dor.- Não sei, tenho medo de ser tarde demais...E ela e esse médico, estão juntos, não estão?- Ela e o Marcelo? – Danielle ri. – Pelo o que eu saiba não... Pelo menos não oficializaram nada. Mas cá entre nós, Paulo, você não pode julgá-la se ela estiver realmente junto com o Marcelo. Vocês estão separados...- Eu sei...Mas eu sinto que agora estou perdendo a Esther, de verdade.- É que antes você estava muito seguro, Paulo. Me desculpe me intrometer assim, mas agora, como amiga da Esther, eu me sinto à vontade para falar o que penso...- Sim...- Então...Você estava com outra mulher, deixou a Esther numa fase tão frágil, em que ela precisava mais do que nunca de uma pessoa ao lado dela...E daí surge um homem, gentil, amigo, que a apoiaria em qualquer decisão porque entende todo esse procedimento, uma história nova... – Danielle diz, aparentando um pouco de tristeza ao falar do possível caso entre Esther e Marcelo. – Mas eu sinceramente acho que a Esther ainda está muito ligada à você, e se você quer reconquistá-la, que seja apoiando e entendendo as decisões dela. Senão vai ser tudo em vão...porque essa criança agora que vai nascer, já faz parte da Esther. Não existe só a Esther agora.- É, eu sei...E eu tenho tanto medo de perdê-la, que eu agora acho que entendo esse desejo da Esther, entendo ao mesmo tempo que o que eu tinha e tenho é um medo...Medo de perder o amor dela...- Danielle o interrompe:- Perder o amor dela pra essa criança, Paulo? Isso parece coisa de filho mais velho, sabia? – Danielle sorri.- Me desculpe, mas acho que você precisa ser mais maduro...E deve temer é a proximidade dela com o Marcelo e não o nascimento desse bebê. Porque amor de mãe é uma coisa, amor entre casal é outra.Paulo fica em silêncio e eles voltam para a sala de espera:

- Bom, Paulo, vou ter que dar uma passada em casa para ver o meu sobrinho, o Marcelo também acho que precisa sair, mas os médicos e enfermeiros vão estar aqui.- Tá certo.Nesse instante, Marcelo aparece:- Acho que está tudo sob controle, ela vai dormir bastante hoje.- Certo. Vamos indo, então?- Vamos, te dou uma carona. – Marcelo diz para Danielle.- Ótimo. Você fica? – Danielle pergunta para Paulo.- Sim, vou ficar.Marcelo o olha insatisfeito, mas resolve não dizer nada, indo embora com Danielle.

Quando todos vão embora, Paulo entra na área reservada dos quartos, procurando o de Esther. Ele caminha nos corredores, olhando pelas janelas e finalmente a encontra.O empresário abre a porta devagar e vê Esther dormindo profundamente. Ele vai até ela e tenta segurar as lágrimas, em vão. Paulo a vê tão frágil na cama, sendo alimentada por soro e remédios, que não consegue parar de se culpar. Ele diz, sentando em uma cadeira ao lado de Esther, enquanto ela dorme:

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- Meu amor...Eu sei que eu errei muito com você. Espero que um dia você possa me perdoar. – Ele abaixa a cabeça nas mãos de Esther e chora. Nisso, ela acorda, ainda sem saber o que estava acontecendo. Quando ela percebe que era Paulo, ela fica aflita, se soltando das mãos dele:- Paulo? O que você faz aqui?- Esther...Você está bem? – Paulo pergunta, sorrindo, e Esther fica em silêncio, olhando para ele, seriamente, até que diz:- Sai daqui, Paulo. Vai embora...Paulo se surpreende com a reação da ex-esposa e se levanta, triste:- Esther..Por favor, eu não quero deixar você nervosa, agitada...Fica calma.- Então me deixa em paz, já não basta tudo o que já aconteceu? Eu sei que vocês querem que eu perca esse filho, mas eu não vou deixar! Esse filho é meu, só meu...E ninguém vai fazer mal à ele.- Eu sei, meu amor. Fica calma, por favor. Eu não quero nada disso.- Pára de mentir, Paulo. Pára de me chamar assim...Você nunca me amou, nunca! – Esther diz, chorando.- Esther, eu sempre te amei, sempre...Me escuta, me perdoa, por favor. Eu preciso muito que você me escute, que você me dê uma chance de...- Esther não deixa ele terminar e grita:- Sai daqui! Agora! Danielle e Marcelo que estavam retornando, escutam Esther gritar e correm para o quarto:- Esther, Paulo? O que está acontecendo aqui? - Tira ele daqui, Danielle. Por favor, eu não quero olhar pra você, ouvir sua voz...Sai daqui!- Esther, por favor, não fala assim. – Paulo diz, chorando em desespero.- Você e aquela mulher se merecem...Mas eu não vou deixar que vocês façam nada com o meu filho...- Calma Esther...Vem comigo, Paulo. – Marcelo diz, levando Paulo quase a força para fora do quarto.- Eu preciso explicar pra ela, que não foi minha culpa, que eu não quero que ela perca esse filho...eu não quero! – Paulo diz, tentando olhar para trás, mas Marcelo o impede e o repreende:- Ei, fica calmo. Fica calmo! Desse jeito você só vai piorar as coisas...- Me deixa, me larga! – Paulo se distancia de Marcelo, nervoso. – Não quero ouvir sermão seu agora...Era só o que me faltava.- Eu estou só querendo ajudar...Não vou dizer que eu concordo com as coisas que você fez, ou que você volte pra Esther, mas desse jeito vocês nunca vão se entender...- Sei...Você acha que não percebi seu interesse pela minha mulher?- Sua mulher, não. Vocês estão separados, e a Esther é uma mulher livre.- A Esther me ama. Nós nunca vamos deixar de nos amar... - Pode ser. Mas você está fazendo tudo errado, Paulo...Vai por mim. Eu posso ser louco de falar isso pra você agora, porque realmente eu estou interessado pela Esther sim, e muito. O que eu mais queria era fazer ela feliz, mas eu sei que ela não ficaria comigo enquanto não resolvesse a situação entre vocês dois... Não deixa de apoiar a mulher que você ama... E esse filho, eu tenho certeza que a Esther deseja que seja muito mais seu do que de qualquer outro homem...- Marcelo fica em silêncio e Paulo também. - Bom, acho que era isso o que eu tinha pra dizer...Vai pra casa, esfria a cabeça, e depois que a Esther se recuperar, tenta conversar com ela e pensa bastante em tudo o que

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aconteceu. Até mais... – Marcelo termina e entra no corredor dos quartos para ver Esther. Paulo sai abalado da clínica e segue para casa.

XIII

Esther fica mais dois dias se recuperando na clínica, agora com acompanhamento do Dr. Carlos que já havia chegado de viagem:- Esther, vou te dar alta hoje, mas fica combinado o que conversamos: nada de esforços físicos e psicológicos. Trabalho nem pensar.- Tudo bem, doutor. Pode deixar que eu vou fazer como o senhor recomendou.- Ótimo. E Danielle e Marcelo, espero que fiquem de olho nela regularmente. Pressão alta pode ser muito perigoso.- Pode deixar. – Danielle e Marcelo dizem juntos.- Bom, espero ter notícias boas em breve, como o sexo do bebê! Até mais, Esther, Danielle, Marcelo...- Carlos cumprimenta rapidamente os médicos e sai do quarto.- Pronto! Tudo sob controle, já podemos levá-la pra casa. – Marcelo diz.- Nem acredito, não estava agüentando mais ficar aqui. – Esther diz, pegando sua bolsa, e seguindo com os médicos até sua casa.

Enquanto isso, Paulo estava em seu apartamento, se arrumando para o trabalho, quando tocam o interfone:- Oi, quem? – Paulo reclama e depois responde. – Tá, pode mandar subir.Batem na porta e Paulo abre, ainda com a camisa desabotoada:- O que você quer?- Por favor, meu amor. Vamos conversar... – Marcela pede e Paulo apenas abre caminho para ela entrar, ficando em silêncio por algum tempo.- Eu não tenho muito tempo...O que você quer conversar? Mentir outra vez que você se importa comigo? Que você é a pessoa mais compreensiva e ingênua desse mundo?- Paulo! Não fala assim comigo.- Marcela, por favor. Você fica ridícula se fazendo de vítima. É até óbvia a contradição, porque você é a culpada por tudo o que aconteceu com a Esther...Se ela perdesse esse filho, você e a Tereza Cristina seriam as culpadas.- Ah, por favor Paulo! Você foi o primeiro a condenar essa gravidez da Esther, e agora você culpa a mim e a sua irmã?- Cala essa boca! – Paulo segura o braço de Marcela com força. – A vontade que eu tenho é de apagar tudo o que eu vivi com você. Não repete o nome da Esther nunca mais...você é um animal, sem sentimento, fria por dentro.- Me larga! Você ainda vai se arrepender. – Marcela diz, se soltando de Paulo.- Nunca...A única coisa que me arrependo é de ter sim, condenado a gravidez da Esther e ter sido cego ao ficar com você... Eu sempre fui contra essa decisão dela, mas eu nunca seria capaz de fazer o que você fez...Fazer a Esther perder essa criança, ela podia até ter ... Eu não quero nem pensar nisso!- Paulo, Paulo... Você está cego agora...Fragilizado com tudo o que aconteceu. A Esther conseguiu mais uma vez te prender na vida dela, como se você fosse uma marionete...Mas eu não vou mais discutir, porque sei que você vai se arrepender e voltar pra quem realmente gosta de você. Paulo volta a segurar o braço de Marcela, tomado pela raiva:

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- Eu já disse pra você não falar mais o nome da Esther...Eu não quero mais ver o nome dela na sua boca. Aliás, eu não quero mais saber de você freqüentando os mesmos lugares que eu, nunca mais eu quero ver você na minha frente, entendeu?- Me larga, seu estúpido! Eu não vou mais tentar te convencer...Mas pode ter certeza que quando você vier pedir desculpas, eu vou aceitar. Porque eu sim, te amo!- Sai daqui! – Paulo a empurra até a porta.- Eu vou, baby, mas eu volto! – Marcela ri, friamente, e sai. Paulo bate a porta com força e diz sozinho:- Desgraçada!...- Ele respira, eufórico de tanta fúria e volta a dizer: - Eu fui um idiota...Ah, Esther, você nunca vai me perdoar...Nunca...Paulo lamenta e senta no sofá, desesperado.

Depois de um tempo, Paulo chega na Fio Carioca e liga para a clínica pensando que Esther ainda estava por lá:- Já teve alta? Quando? Sei sei...Obrigado. – Paulo desliga o celular e Márcia aparece:- Licença, Paulo...- Oi Márcia, pode entrar.- Paulo, a Esther acabou de ligar.- O que? Agora? – Ele diz, agitado.- Sim, ela disse que está tudo bem, mas que os médicos recomendaram que ela fique de licença até o parto. Então ela vai encaminhar um atestado de licença maternidade...- Sei...Ela não vem mais pra cá antes disso?- Parece que não. Mas já disse que vai enviar também todos os croquis que ela fizer, e se tiver que assinar alguma coisa, ela pediu que eu fosse até a casa dela.- Você? - É, ela pediu pra mim. – Márcia diz, sem graça.- Certo...E vem cá, ela não mencionou meu nome, nenhuma vez?- Não...- Márcia diz novamente, sem jeito.- Tudo bem, Márcia. Obrigado. – Paulo diz, chateado, e fica pensativo.

Anoitece, e Marcelo estava junto com Esther, na casa dela, desde a hora que saíram da clínica. - E o que vamos fazer agora, depois desse “filmaço” da sessão da tarde? – Ele ri.Esther sorri, sentada no sofá ao lado dele:- Nem sei como te agradecer, por esse carinho todo...- Não precisa agradecer, é só deixar eu continuar aqui, perto de você...Sendo seu...amigo. É amigo, não é? O que você disse que nós somos? – Marcelo e Esther começam a rir.- É, amigos! – Esther diz e Marcelo fixa o olhar nos olhos dela e se aproxima, tocando o rosto da estilista com carinho:- Você fica ainda mais linda sorrindo... – Quando Paulo se aproxima ainda mais de Esther no sofá, batem na porta, e Esther se afasta:- Quem será?- Pode ser a Danielle, ela disse que talvez passaria aqui, pra te ver. – Marcelo lembra.- É verdade...Vou até lá.- Não, fica aqui. Eu vou...- Marcelo caminha até a porta e quando abre, se depara com Paulo.O empresário fica cheio de ciúmes quando vê Marcelo na porta e não consegue esconder:- A Esther, onde ela está?

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- Paulo? – Esther se levanta rapidamente quando escuta a voz do ex-marido. – O que você....- Paulo não a deixa falar:- Esther, me deixa entrar, eu preciso muito conversar com você...Esther olha para Marcelo e ele assente com a cabeça, a aconselhando a conversar com Paulo. Esther fica nervosa, e depois diz:- Tudo bem, pode falar. Paulo entra e Marcelo fecha a porta, dizendo:- Eu vou pra cozinha, deixar vocês dois à vontade.- Não, Marcelo! Fica.- Mas...- Marcelo não entende.- O Paulo pode dizer tudo na sua frente, afinal de contas você é meu amigo, não tenho nada pra esconder de você... Pode falar, Paulo.- Esther, por favor, vamos conversar a sós. – Paulo pede.- Ou você diz o que tem pra dizer agora, Paulo, ou você vai embora daqui. – Esther diz, decidida. – E também, se por acaso você tentar fazer com que eu perca essa criança, o Marcelo está aqui, pode ajudar...- Esther, não diz isso! Eu nunca faria nada contra você...- Paulo se espanta com as palavras cheias de dor, da ex-esposa.- Mas faria contra essa criança...Assim como sua irmã, a Marcela, não é? Você sempre foi contra essa gravidez.- Calma, Esther. – Marcelo fica preocupado.- Está tudo bem. - Eu juro pra você, Esther, que eu nunca faria isso. Eu sempre fui contra à sua decisão, mas eu nunca seria capaz de pensar em planejar uma atrocidade dessas, você não me conhece? – Paulo a questiona.- Não mais. Você é completamente diferente do homem que eu conheci , que eu escolhi para ser meu marido, companheiro...- Eu sei que eu errei muito com você...Que eu não mereço o teu perdão depois de tudo isso que eu deixei que fizessem contra você e o bebê...Mas eu preciso te falar que eu...eu ainda te amo... muito.- Paulo, eu não quero mais conversar sobre isso. Eu já escutei o que você tinha pra dizer, e é só. Por favor, vai embora agora.- Eu vou...mas... eu não vou aguentar ver você me tratar assim com tanta frieza... - Eu preciso de um tempo pra mim. – Esther diz, com lágrimas nos olhos, se esquivando de olhar nos olhos dele.- Pra ficar junto com ele? – Paulo rebate, olhando para Marcelo. – Vocês estão juntos, não é?- Isso não te interessa mais, Paulo. Por favor, vai embora. – Esther pede mais uma vez, nervosa.- Tudo bem. Eu vou... Eu...Espero que você esteja melhor... de verdade. – Paulo diz, tropeçando nas palavras.Esther não responde e continua olhando para baixo. Marcelo fica parado olhando para os dois e Paulo vai embora, desolado.

Quando Marcelo fecha a porta, Esther cai sobre o sofá e chora. O médico corre até ela e a abraça:- Calma, não fica assim- Meu deus, eu jurei que não ia mais ...- Esther pára e tenta segurar as lágrimas, fechando os olhos e colocando as mãos no rosto. - ...que não ia mais me alterar com isso

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tudo...com ele. Por que ele tinha que aparecer.? Estava tudo tão bem, eu estava tão segura da minha decisão...- Esther...Olha...Eu nem sei porque vou te falar isso...Você sabe que eu acho as atitudes do Paulo imperdoáveis, mas eu senti, nas vezes que conversei com ele lá na clínica, que ele estava realmente arrependido. Se o Paulo estivesse mesmo com essa outra mulher, ele não viria até aqui e muito menos aceitaria conversar com você comigo do lado... - Eu não sei de mais nada, Marcelo. Eu estou muito confusa...Sem chão. A única coisa que me faz ter discernimento e coragem, é o meu filho. Eu vou agora me focar nisso, priorizar a minha saúde pra não prejudicar essa gravidez que eu tanto sonhei e que abri mão durante tanto tempo.- Você está certíssima, Esther, certíssima...Mas não fica assim, vai dar tudo certo. – Marcelo sorri levemente para ela, que ainda chorava, e a abraça, tentando acalmá-la.

Esther pega no sono nos braços de Marcelo, e ele a coloca na cama, indo embora e deixando um recado na mesa ao lado: “ Esther, espero te ver renovada amanhã. Tudo dará certo. Um beijo. Do seu amigo. Marcelo.”Enquanto isso, Paulo passa a noite em claro, pensando nas palavras de Esther e lembrando dos beijos que trocaram pela última vez.

XIV

Dois dias se passam e Paulo passa o tempo todo desanimado nos corredores da Fio Carioca, preocupando os funcionários e amigos. Durante conversas no intervalo do serviço, Márcia deixa escapar com um dos funcionários, e Paulo escuta:- Hoje a Esther ligou dizendo que vai fazer o ultrassom. Ela vai fazer em Itaipava e disse que liga de lá pra dar notícias sobre o sexo do bebê!Nisso, Marcela estava entrando para falar com Paulo e escuta tudo. Ela fica pensativa e sai sem falar com ninguém.

Paulo finge que não escuta a conversa dos funcionários e resolve sair para um almoço no Lê Velmont, para conversar com René:- E aí? Tudo certo? – René pergunta e os dois se sentam.- Hum, não sei, acho que sim.- O nome disso é: Esther?- É...Esther...- Paulo diz, com tristeza. - Tá muito difícil, René. Você nem imagina...- Faço uma ideia. Você ama tanto essa mulher, que duvidei desde o princípio que essa separação ia dar certo.- Eu errei muito com ela. Muito...E agora eu acho que está tudo acabado...- Calma, eu tenho certeza que a Esther ainda te ama e vai te dar uma chance.- Tomara...- E vem cá, você aceitou essa ideia dela, do filho?- Eu quero a Esther de volta pra mim, e eu enxerguei agora, tarde demais, que pra isso eu tenho que apoiá-la... e eu vou fazer isso, se ela me perdoar. – Paulo faz uma pausa e termina. - ... Eu quero cuidar desse filho junto com ela.- Sério? – René se surpreende.- Sério...Eu estava sendo muito imaturo, muito egoísta. Isso tudo fez com que eu aprendesse a controlar meus medos, minhas reações. E o amor que a Esther tem por esse filho, é impressionante...É como se ele realmente fizesse parte dela... desde sempre.René o olha, surpreso, e Paulo continua:

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- Eu não sei, eu estou ainda muito confuso, mas o que eu sei agora é que eu amo essa mulher, mais do que tudo...e esse filho faz parte dela...- É, faz sentido. – René diz, confuso.

Nesse momento, Marcela aparece no restaurante:- Não acredito nisso. – Paulo diz, quando percebe a presença dela.- Ih...Vendo a Marcela eu até esqueci de te pedir desculpas mais uma vez pela Tereza Cristina, e esse incidente todo com a Esther...Eu falei com ela, mas parece que ela está sendo influenciada por essa amiga.- É, e eu idiota só fui perceber isso agora.- Oi, queridos. – Marcela os cumprimenta.- Eu já não avisei que eu não quero estar no mesmo lugar que você, olhar pra você? – Paulo se volta para Marcela, irritado.- Meu bem, isso é um lugar público, e eu preciso urgente falar com você, Paulo. Nem que seja pela última vez.- Eu já falei tudo o que tinha que falar com você.- Você vem comigo ou eu vou ter que fazer um escândalo aqui? – Marcela ameaça e René a olha assustado, pedindo:- Por favor, gente. Não faz isso aqui dentro...- Desculpa, René...Vem comigo, Marcela. – Paulo a puxa pelo braço para o lado de fora do restaurante e ela sorri, cinicamente.

Quando eles já estão do lado de fora, Paulo diz irritado:- O que você quer, diz logo? - Vamos pra um lugar mais reservado, eu preciso te dizer algumas coisas. Por favor, depois de tudo que a gente passou, eu mereço ser ouvida.- Eu já ouvi até demais, Marcela.- Eu prometo que depois de hoje eu não te procuro mais.- Droga...Vamos logo então, pro meu apartamento. – Paulo diz, nervoso, seguindo com a jornalista até seu carro.

Chegando no apartamento dele, Marcela pede algo para beber e Paulo se enfurece:- Você veio até aqui para beber ou ter uma conversa definitiva?- Que falta de educação, Paulo. Eu preciso de coragem pra te dizer tudo o que aconteceu, tudo o que eu pensei durante esse tempo...Vai me recusar uma bebida?Paulo caminha até a garrafa de whisky e pega um copo para Marcela. Ela vai até lá e diz:- Deixa comigo, eu coloco. – Ela pega dois copos e em um deles ela coloca um sonífero, mas não mede a quantidade.- Toma. Bebe comigo. Acho que nós dois vamos precisar de coragem.- O que? Você quer me embebedar, é isso?- Deixa de ser bobo, Paulo. Você está com medo de cair nas minhas garras? – Marcela ri e Paulo pega o copo das mãos dela e bebe de uma vez. Marcela olha satisfeita e espera o remédio fazer efeito. Como a dosagem era muita, Paulo logo sente uma vertigem e se apóia no sofá, não agüentando o sono e o descontrole com o seu próprio corpo. Ele cai desacordado e Marcela comemora.

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Depois de um tempo tentando carregar Paulo até o estacionamento sem ninguém perceber, Marcela consegue colocá-lo na parte de trás do carro e segue com ele até o apartamento de Esther.A jornalista, depois de ouvir pela secretária da Fio Carioca que Esther estaria em Itaipava, resolve ligar para o apartamento dela, para ter certeza que a estilista passaria o dia fora, tendo a confirmação do porteiro. Chegando lá, ela percebe que não havia ninguém na portaria, e consegue entrar com a chave extra de Paulo, o carregando pelo braço. O empresário estava semi-acordado e caminhava com dificuldade.Quando o porteiro aparece, ele vê Marcela subindo com Paulo pelo elevador, mas ele reconhece Paulo e não se preocupa, apenas estranha ele estar chegando naquele estado (aparentemente embriagado), e com outra mulher.

Marcela entra no apartamento e coloca Paulo na cama de Esther, tirando toda a roupa dele. Nisso, ela também tira a roupa, e se deita ao lado.Passado alguns minutos, Esther chega, feliz por saber que teria uma filha. Ela entra sozinha no apartamento, já que Marcelo e Danielle tinham outros compromissos.Ela vai até a cozinha e pega um copo d´água, e quando acende a luz do seu quarto, se depara com o casal em sua cama, derrubando o copo no chão.

Esther fica um tempo em silêncio olhando para eles e Marcela finge ter se assustado:- Ai, o que é isso? Oi...Esther? - O que é isso...aqui? – Esther diz, apavorada.- Ué, baby. Você quer que eu te explique? – Marcela sorri, se aproximando de Paulo que ainda estava desacordado.Esther fica sem palavras quando, de repente, alguém abre a porta com força e a chama:- Dona Esther, dona Esther! A senhora está bem?- Luis? – Esther se assusta com a presença do porteiro.- Desculpa, Dona Esther, eu achei tudo muito estranho, eu tive que pegar a chave e entrar, pra saber se a senhora estava bem. - Mas o que está acontecendo aqui? – Esther não entende.- Eu não sei, o que esse porteiro quer aqui? – Marcela diz espantada, cobrindo o corpo com o lençol.- Eu vi essa madame aí entrando com o Seu Paulo pelo elevador, ele tava muito estranho, então eu fiquei meio desconfiado...- Nós tínhamos bebido um pouquinho...- Marcela ri sem graça, tentando contornar a situação que criou.- Eu até pensei que o Seu Paulo estava embriagado mesmo, mas depois eu pensei bem e lembrei que uma mulher tinha ligado aqui de manhã perguntando se a senhora ia estar fora o dia todo, e eu fiz a burrada de confirmar, Dona Esther, mas não foi de maldade...- Ele diz, com medo.- Calma, Luis, calma...Me explica isso direito.- É isso mesmo. Depois eu pensei que essa mulher poderia ser essa daí. E achei estranho...Que podia estar acontecendo alguma coisa pra que essa mulher não quisesse que a senhora estivesse aqui.E o Seu Paulo não vem mais pra cá, né...- Sim. Você fez muito bem, Luis...- Esther olha com rancor para Marcela, tentando segurar as lágrimas, de nervoso. – Agora está tudo explicado...Mais uma tentativa de fazer com que eu perdesse o meu filho, não é? Mas em vão...- Você se acha o centro do mundo, não é, meu bem? O Paulo que me trouxe pra cá...Não é? – Marcela mexe em Paulo, que não reage. – Paulo...Pauloooo? – Ela insiste.

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- Ixi, aconteceu alguma coisa com o Seu Paulo. Isso daí não é só bebedeira, não. – O porteiro diz, preocupado, e Esther também concorda, se aproximando da cama:- Sai daqui! Agora! – Esther puxa Marcela pela mão que sai da cama à força, envolta pelo lençol. Nesse instante, os seguranças percebem a movimentação e sobem até o apartamento de Esther. O porteiro diz:- Já está tudo bem. Acho melhor a moça ir embora...- Ele se volta para Marcela.- Levem ela daqui...- Esther fala, ao lado de Paulo, tentando sentir o pulso dele.Os seguranças seguram Marcela, mas ela reage:- Tirem a mão de mim. Eu já estou indo. – Marcela pega as suas roupas no chão e se volta para Esther antes de ir:- Você ainda me paga, Esther! Você roubou o Paulo de mim, mas ele vai voltar rastejando.- Ridícula...Você é ridícula, Marcela. - Vamos embora, dona. – Luis a segura e ela se solta, indo sozinha. - Dona Esther, é melhor chamar algum médico, não é?- Pode deixar, Luis, eu cuido dele. Obrigada, por tudo!- Imagina. Qualquer coisa estou lá embaixo.Esther não consegue tirar os olhos de Paulo, tentando acordá-lo:- Paulo, fala comigo...- Ela acaricia o rosto dele e desesperada, liga para Marcelo.

Alguns minutos se passam e Marcelo finalmente chega, indo até o quarto ver Paulo:- Esther, isso só pode ser efeito de algum remédio muito pesado. Ele está respirando, sim, mesmo não dando pra sentir muito o pulso. Isso parece ser algum tipo de sonífero, usado em muita quantidade.- Não acredito...Aquela mulher é capaz de tudo, Marcelo. Eu estou apavorada...- Esther diz, quase em prantos.- Calma, Esther. Tenta ficar tranqüila...Ele vai ficar bem, vamos levá-lo até o hospital.- Sim. – Esther concorda e acompanha Marcelo.Chegando no hospital, Esther fica aguardando Marcelo chegar com notícias. Quando ele aparece, ela se levanta rapidamente:- E então? Como ele está?- Ele está sendo desintoxicado. Realmente deram uma grande quantidade de sonífero com bebida alcoólica, tendo perigo até de afetar alguma parte do cérebro.- Meu deus do céu. Mas ele ainda corre esse risco? – Esther pergunta, em desespero.- Ainda não sei, Esther. Você tem que ficar traquila, controlar sua pressão...Vamos beber uma água, depois voltamos. – Marcelo leva Esther até a cantina.

Marcelo acompanha de perto a recuperação de Paulo, e vai até Esther, depois de algumas horas:- Esther, é melhor você ir embora, descansar.- Não, eu preciso ficar aqui...Como ele está?- Está bem melhor. Já conseguimos retirar todo o medicamento do sangue. Agora é preciso aguardar alguns minutos para fazermos alguns exames, pra ver se ele teve alguma seqüela.- Tomara que não...- Esther diz, desolada, e nesse instante, Tereza Cristina chega com René:- O que vocês fizeram com o meu irmão? – Tereza grita.- Fica quieta, Tereza. – René a repreende. – Estamos em um hospital.- Que se dane! E você, Esther, o que você tem a ver com isso, hein?

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- Eu aposto que a sua amiga Marcela já foi inventar alguma história, não é? Mas eu não me importo, Tereza Cristina. O próprio Paulo quando acordar pode te contar o que aconteceu, ou as várias testemunhas...Mas isso não vem ao caso agora. - É verdade. Como ele está, Esther? – René pergunta.- Ele está bem agora. Mas ainda vão fazer alguns exames... Ele ingeriu uma grande quantidade de sonífero com bebida alcoólica.- Meu deus! – Tereza diz, quase chorando. – Eu quero ver meu irmão.- Eles vão liberar as visitas só mais tarde...- Esther diz e os três se sentam, esperando notícias.

Algum tempo se passa e Esther, mesmo com muito sono por conta da gravidez, continua no hospital. Marcelo ia vê-la de tempo em tempo, aproveitando para dar notícias:- Ele já acordou e já fez os exames, está tudo certo. Sem seqüela alguma! – Marcelo diz, contente.- Graças a Deus! – Esther se levanta, aliviada e Tereza insiste:- Quero vê-lo. Eu posso entrar agora?- Pode sim, Tereza. Mas antes ele pediu para ver a Esther.Tereza a olha em silêncio e concorda:- Tudo bem...Eu vou depois.

XV

Esther caminha até o quarto acompanhada por Marcelo, que a deixa a sós com Paulo. Ela se aproxima da cama, e Paulo a olha, com um leve sorriso:- Agora é a minha vez, de enfrentar uma cama de hospital! Esther balança a cabeça, negativamente, e diz:- Não diz isso... Eu fiquei tão preocupada...- Sério?- Claro que sim...Você não se lembra de nada?- Algumas coisas...Lembro que eu estava em casa com a...- Ele pára, sem dizer o nome de Marcela.- Sim, com a Marcela...- É...E depois não me lembro mais de nada...Ela queria conversar...O que foi que aconteceu?- É melhor você descansar e depois você conversa sobre isso com ela. - Eu preciso saber, se foi ela quem me deixou nesse estado. O Marcelo, me disse que foi por conta de soníferos misturados com bebida alcoólica...Eu não bebi nada disso!- Calma, Paulo. Não é hora pra tentar descobrir tudo isso agora. Você precisa dormir...- Você também, Esther. Você não devia estar aqui.- Eu queria ver se estava tudo bem, antes de ir...Mas parece que amanhã cedo você já recebe alta...E eu volto...Paulo sorri para ela e ela retribui, com um sorriso mais tímido.- Bom, eu já vou indo. – Ela diz.Paulo segura o braço de Esther, levemente:- Obrigado. Por estar aqui...Você não sabe o quanto isso me faz bem.- Imagina... Amanhã eu estou de volta...Boa noite.- Boa noite. – Ele solta o braço de Esther, aos poucos, a acariciando ao mesmo tempo. Ela se afasta e vai embora, olhando para trás.

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Tereza Cristina vai depois de Esther, visitar o irmão junto com René, e o empresário só não reclama por conta da presença do cunhado. Ele ainda estava chateado com as atitudes da irmã e a proximidade dela com Marcela.

No outro dia, Esther aparece no hospital e encontra Tereza Cristina sozinha.- Esther! Eu queria conversar com você...- Tereza, eu acho melhor a gente não...- Tereza a interrompe:- Por favor, eu não vou dizer nada contra você. Pelo contrário...Eu já imagino o que a louca da Marcela deve ter feito contra meu irmão e enfim...Eu...eu queria te pedir um favor.- Favor? – Esther se surpreende.- Sim..Na verdade é pelo Paulo e não por mim. Como a Marcela ainda está lá em casa, e eu não posso expulsá-la, por certos motivos meus...Não tem como eu levar o Paulo pra lá, entende? - Você quer que o Paulo...?- Isso. Que ele fique na sua casa...Quer dizer, na antiga casa dele, né?- Eu já tinha pensado nisso, Tereza. E eu vou fazer isso por ele, e não por você.- Ótimo, ótimo! Isso que interessa...- Mas você vai continuar abrigando na sua casa uma mulher que foi capaz de fazer o que fez, comigo e com o Paulo?- Eu vou dar um jeito nisso, querida. Pode ter certeza.- Espero que sim. – Esther diz, séria, e nesse instante Paulo aparece acompanhado por uma enfermeira.- Meu irmão! Você está bem? – Tereza se aproxima dele, fazendo com que ele se apoiasse nela.- Sim, está tudo bem. – Paulo diz, ainda pálido e a enfermeira recomenda:- O doutor Marcelo e o doutor Ricardo, pediram pra avisar que o paciente deve ficar de repouso por alguns dias, sem trabalhar, sem fazer esforços. Tudo bem?- Tá certo. Pode deixar que ele vai fazer isso, não é, meu irmãozinho?- É, Tereza. – Ele diz, sério, e depois olha para Esther:- Oi...Você veio mesmo...- Eu falei que vinha...- Ela sorri, levemente. – Você está se sentindo bem?- Um pouco com dor de cabeça, mas vai passar.- Paulo, a Esther vai ficar com você durante esses dias, não é, Estherzinha? Porque lá em casa está meio conturbado, se é que você me entende.- Eu nunca iria pra sua casa, Tereza Cristina. E eu vou ficar no meu apartamento...- De jeito algum, Paulo. Você precisa de cuidados, e eu sei bem que você não sabe cozinhar muito bem, nem preparar café...Não é? – Esther sorri.- Hum, me entregou...- Paulo sorri junto com ela. – Mas é sério, eu não quero que você faça isso porque a Tereza está pedindo...nem quero te dar trabalho.- A Tereza pediu, mas eu já havia decidido isso antes. Você vem comigo. – Esther se aproxima, segurando o braço de Paulo no lugar de Tereza. Paulo ri da situação e diz:- Era pra eu estar amparando você agora, grávida...Esther fica em silêncio e depois diz:- Vamos indo?- Vamos, vamos! Eu acompanho vocês. – Tereza diz, indo com eles até o estacionamento.

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Esther passa no apartamento de Paulo para buscar com ele algumas roupas, porém ele não a deixa carregar a mala:- Deixa comigo, Esther. - Mas você ainda está fraco, Paulo. Não tem problema algum, não está pesado.- Nada disso. Vamos indo. – Paulo diz, segurando a mala e fechando a porta.Os dois seguem até o apartamento de Esther, e chegando lá:- Pronto. Aonde eu deixo minhas coisas? – Paulo questiona, segurando a mala.- Eu já deixei tudo arrumado no quarto de hóspedes.- Certo...Então eu vou indo...- Tudo bem...Fica à vontade. – Esther diz sem graça e Paulo segue para o quarto.Enquanto Paulo tomava um banho, Esther estava na cozinha preparando o almoço. Ela termina e coloca a mesa para os dois.Paulo sai do banho, de cabelos molhados e com uma roupa mais leve:- Hum...Que cheiro bom.- Adivinha o que eu fiz?- Ah...- Paulo fica pensativo, brincando com ela. – Risoto?Esther começa a rir e coloca o prato na mesa, servindo Paulo.- Obrigado. – Paulo segura a mão dela ao pegar o prato e Esther logo solta, constrangida com a situação.- Você sabe que não sei fazer muita coisa na cozinha, mas enfim...Acho que sou melhor do que você nesse quesito. - Ela diz com um sorriso tímido, se sentando.- Ah, isso com certeza! Obrigado, Esther. Depois de tudo você ainda está fazendo tudo isso por mim...- Esther o interrompe.- Não precisa agradecer. Eu fiz o que era certo. Agora vamos comer? Senão vai esfriar.- Vamos...- Ele diz, e os dois almoçam em silêncio.

Quando terminam, Paulo se oferece para lavar a louça:- Não fiz nada para ajudar no almoço, então a louça é minha.- Não vou recusar a ajuda!Paulo lava a louça e Esther o observa, séria, confusa com o que estava sentindo na presença do ex-marido.Ao terminar, eles vão para a sala e Esther pega um livro para ler, enquanto Paulo assistia TV. Ele diz, durante o intervalo:- Estou tão desacostumado a ficar o dia todo em casa, sem fazer nada...Será que está tudo sob controle na Fio Carioca? - Ele ri.- É, eu também não consegui me acostumar. Mas já deixamos tudo pronto pra Márcia. Qualquer coisa ela nos liga. – Esther diz, olhando para ele discretamente, e depois se concentra no livro. Paulo a olha em silêncio e diz:- Vou deixar você ler, à vontade.Esther não diz nada e o olha por alguns instantes.

XVI

Depois de um tempo, Esther se levanta e vai pegar um copo de água na cozinha. Paulo vai atrás sem que ela perceba e quando ela se vira para trás, fechando a geladeira, se assusta:- Ai, que susto, Paulo!- Desculpa...Eu queria...- Paulo se aproxima dela. - ...queria conversar, Esther.- Paulo, acho que a gente já conversou tudo e...- Ele a interrompe:

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- Me escuta, por favor. Eu sei que eu fico até repetitivo, mas depois disso tudo Esther, eu vejo, eu sinto, que o nosso amor é maior ainda. Eu sei que você ainda sente alguma coisa por mim, não sente? – Paulo chega ainda mais perto e tira o copo da mão de Esther, que fica estática por alguns segundos. Paulo vai subindo as mãos devagar pelo braço de Esther, a fazendo arrepiar. Ela fecha os olhos e sente a respiração dele cada vez mais perto dela. Paulo segura o pescoço de Esther, querendo encaixá-la em seus braços, em um beijo, mas ela se esquiva:- Paulo, pára com isso. Eu não quero que você confunda as coisas. Eu pedi que você viesse pra cá, mas foi somente para ajudá-lo. Eu não esqueci tudo o que eu passei, tudo o que você me fez junto com aquela mulher...- Eu sei, eu sei...Eu errei muito com você, Esther. Mas eu te amo tanto, tanto, que chega a me sufocar...essa dor que eu sinto toda vez que eu fico perto de você e me dou conta que...que eu te perdi. Eu me culpo todos os dias.- Por favor, Paulo. – Esther se solta da mão dele, que segurava ainda o seu braço, e se esquiva com dificuldade. – Eu não vou mais conversar com você sobre isso enquanto você estiver aqui. – Ela sai da cozinha e vai até a sala. Paulo a segue:- Tudo bem, Esther. Me perdoa de novo...Eu não quero te deixar nervosa, te prejudicar mais uma vez.- Tá tudo bem, Paulo. Acho que eu vou me deitar um pouco.- Certo...Se precisar de alguma coisa...- Estou bem. Acho melhor você se deitar também. Você ainda está em recuperação.Paulo sorri para ela, encantado com a preocupação da ex-esposa.Ela não retribui o sorriso e fica apreensiva, indo até o seu quarto. Esther se senta na cama e fecha os olhos, respirando fundo e sentindo o coração disparar depois do quase beijo de Paulo. Ela ainda o amava, e concordava com ele, que o amor era ainda maior, apesar de tudo.A estilista se deita na cama e acaba pegando no sono. Paulo, que estava lendo um livro no sofá, fica inquieto e começa a caminhar pelo cômodo, e percebe novamente a foto dos dois, ainda na estante. Ele pega o retrato nas mãos e sorri:- Esther... – Ele coloca o porta-retrato de volta no lugar, caminhando pelo apartamento.Ao se aproximar do quarto em que Esther estava, que era do casal antigamente, ele sente uma vontade imensa de entrar. Paulo, por fim, entra e um filme começa a passar pela sua cabeça, lembrando dos tempos que passou junto de Esther naquele quarto, e nas noites de amor que tiveram ali.Ele se aproxima da cama e vê Esther dormindo, tranquilamente. Ele fica estático diante da cama e sente um carinho e uma vontade de abraçá-la e protegê-la. Paulo começava a entender a gravidez da ex-mulher, mas sentia que era tarde demais...Esther ainda dormia e Paulo se senta ao lado dela, acariciando levemente os seus cabelos, tomando cuidado para não acordá-la. Ele deita e fica velando o sono de Esther.

O dia amanhece e Esther acorda. Ela abre os olhos e quando se vira, se depara com Paulo deitado ao seu lado:- Paulo?! Ele acorda, assustado:- Oi? O que? - O que você está fazendo aqui? – Ela se levanta, assustada, olhando para ele.- Não sei...Eu...acho que acabei pegando no sono sem querer.Esther continua o olhando, ainda assustada:

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- Paulo, sai do meu quarto. Ou eu vou ser obrigada a abrir mão da minha decisão de deixar você aqui em casa.- Me desculpa. Eu não resisti ontem a noite, vendo você dormir... – Ele faz uma pausa e sorri levemente. - ... como um anjo...Eu ia ficar só um pouco, mas acabei....- Esther o interrompe:- Tudo bem, não precisa explicar mais nada. Eu preciso me arrumar, por favor...- Esther faz um gesto para ele sair.- Já estou saindo...- Paulo sai do quarto e Esther o observa, colocando as mãos na testa, ainda nervosa, e dizendo baixo:- Isso não vai dar certo...

XVII

Enquanto Paulo tomava banho naquela manhã, o telefone toca:- Oi, Marcelo! Está tudo bem e com você?- Tudo ótimo. E o Paulo, está aí?- Sim, está. Mas começo a me arrepender um pouco de ter pedido pra ele vir...- Por que?- Não sei, está tão estranho.- Hum. O problema é só um, Esther.- Qual?- Vocês ainda se amam, não é?- Não... não sei. Eu só sei que eu estou confusa...- Mas, você está bem? Digo, de saúde? Não fez mal à você toda essa situação?- Não, está tudo bem. Estou calma, mas inquieta.- Entendo...Posso passar aí, então? Para irmos na consulta de rotina?- Tudo bem. Te espero aqui.- Daqui pouco estou chegando. Um beijo.- Outro. Tchau...

Esther desliga o telefone e quando olha para frente, se depara com Paulo:- Você estava aí? Não tinha visto.- Sim, cheguei agora pouco...- Paulo mente, pois havia escutado toda a conversa.- Hum. Bom, eu vou ter que sair, Paulo. Você pode ficar à vontade...Só não saia, e tenta não se agitar muito...O médico disse que é bom repousar direto durantes esses dias.Paulo sorri e diz:- Tudo bem, fica tranqüila...Você vai sair, sozinha?- Não, o Marcelo...Ele vai vir me buscar.- Hum. – Paulo diz, sério. – Vocês estão bem próximos, não é?- Bom, eu vou me arrumar. – Esther corta o assunto e Paulo fica estático, com as mãos no bolso.

Quando Marcelo toca a campainha, Paulo atende:- Opa. Entra... – Paulo pede.- Com licença..- Marcelo entra, sem graça. – Eu vim buscar a Esther, pra consulta.- É, ela disse...Ela está lá dentro, se arrumando.- Certo...- Senta aí.- Estou bem assim, vou esperar aqui mesmo. – Marcelo diz, ainda em pé.

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O clima entre os dois fica tenso e eles não dizem uma palavra. Esther então aparece depois de alguns instantes:- Oi, Marcelo! – Ela se aproxima dele, o beijando no rosto e o abraçando. Paulo fica enciumado, só os observando.- Oi! E então, está pronta?- Sim, desculpa a demora!- Imagina...E essa menininha aí, como vai?- Ela está ótima!- Como assim? Você já sabe que é uma menina? – Paulo diz, surpreso.- É, sim..Na verdade eu fiquei sabendo no dia que aconteceu tudo aquilo com você...- Ah! – Paulo diz, ainda surpreso. – Uma menina...- Ele sorri acanhado e pensativo.- Bom, vamos indo, Marcelo? – Esther muda de assunto.- Vamos! Até mais, Paulo. Se cuida aí. – Marcelo diz.- Tchau. Até mais.Paulo se senta no sofá e coloca a mão no rosto, ainda atordoado com a notícia. Ele então, pega o telefone e liga para Tereza:- Crô, a Tereza Cristina está aí?- Vou chamá-la! – Crô diz.- Alô, querido!Tudo bem? Que saudades! – Tereza diz, pegando o telefone de Crô.- Tudo bem...Tereza, eu só liguei pra saber se você já colocou aquela mulher pra fora da sua casa...Eu não sou idiota, e já sei de tudo o que ela armou contra mim...Você por um acaso estava junto com ela nisso?- Claro que não, Paulo! Eu...eu só estou esperando mais um tempo para colocá-la pra fora.- Esperando por que, Tereza? – Paulo pergunta, indignado. – O que te prende à essa mulher?- Nada, é que ela e a tia Íris ficam me atormentando...- Ela diz, nervosa.- Ah, então tem a ver também com a tia Íris? O que você tanto teme na tia Íris, Tereza? E o que a Marcela tem a ver com isso tudo?- Nada, Paulo! Você precisa se recuperar. Cadê a Esther, hein? Que não cuida de você direito. Você não escolhe bem essas mulheres...- Pára, Tereza, não muda de assunto. Eu vou desligar. Depois conversamos melhor...E eu quero ver essa mulher longe daí, ouviu?- Tá, depois a gente conversa, meu irmão. – Tereza Cristina desliga, nervosa.

- Hum, era seu irmão? – Marcela escuta.- O que? - Seu irmão, no telefone...- Era...Por que? - Você vai me ajudar, não é? A reconquistá-lo.- O Paulo está decidido a ficar com a Esther.- Mas você vai aceitar isso?- Ele não liga pra minha opinião.- Não interessa, Tereza Cristina. Nesse momento eu preciso mais do que nunca de aliados...E você também. Você sabe que eu posso te ajudar com a tia Íris.- Você não pode nada! – Tereza grita.- Querida, o que houve?- O que houve, é que você e a tia Íris me deixam maluca! – Tereza grita e sobe as escadas. Marcela ri da situação.

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Já é noite e Esther chega com Marcelo da consulta:- Obrigada, Marcelo! Entra... – Ela oferece enquanto eles ainda estavam na porta e Paulo aparece, quando ela abre a porta.- Não, obrigado Esther. Fica pra uma próxima vez. – Marcelo diz, ficando desconfortável com a presença do ex-marido dela.- Tudo bem, então. Obrigada de novo pela companhia, foi ótimo.- Eu que agradeço! – Marcelo se aproxima de Esther e a beija no rosto, segurando a cintura dela delicadamente. Paulo fica enciumado e coloca as mãos no bolso, andando pela sala, tentando disfarçar.Quando eles se despedem, Esther fecha a porta e se volta para Paulo:- Tudo bem? Não sentiu nenhuma dor?Paulo começa a rir.- O que foi? Porque você está rindo? – Esther pergunta.- Nada...Desculpa. É que eu acho bonitinho você se importar assim...Como se eu fosse uma criança...Sempre foi assim, lembra? Quando eu peguei só um resfriado naquela nossa viagem pra Buenos Aires. Você ficou cuidando de mim...- É...Acho que lembro. – Esther diz, fria. – Vou tomar um banho.- É, espera Esther. – Paulo segura o braço de Esther e eles ficam se olhando, até que ele a solta, assim que ela pára, e diz:- Como foi na consulta? É mesmo uma menina? Está tudo bem com ela?- Sim...É uma menina...E está ótima. – Esther estranha o interesse de Paulo.- Já escolheu o nome?- Ainda não...Eu vou indo, Paulo. Estou muito cansada. Licença. – Esther se esquiva dele e vai para o quarto, ainda confusa com o interrogatório. Paulo fica desolado com a frieza da ex-mulher.

XVIII

O dia amanhece e Esther vai caminhar na orla da Lagoa junto com Danielle:- E então? Como está tudo com o Paulo na sua casa?- Ai, Danielle. Está tudo tão estranho...Eu já não sei mais como reagir...Não sei se eu lembro das coisas horríveis que ele me fez ou se...- Esther fica quieta por alguns instantes. - ...é que às vezes eu sinto uma vontade imensa de me entregar à ele, de me render aos pedidos de desculpas.- Você se sentiria melhor assim?- Não sei, de verdade. Eu ainda amo o Paulo, não é possível negar isso...Mas ele me traiu, ele foi egoísta, imaturo. Me disse coisas terríveis...Eu ainda tenho muito mágoa.- Imagino. Mas eu tenho certeza que na hora certa você vai saber tomar a decisão correta! E me fala uma coisa...Você e o Marcelo...?- O que? Se nós dois estamos...? – Esther faz um gesto dando a entender se eles estavam juntos.- Sim! Eu vejo bem o modo como ele te olha, vocês andam saindo com freqüência...- Bom, não vou mentir que o Marcelo já chegou a se declarar pra mim...Me disse coisas maravilhosas, mas eu não consigo. Ele é um grande amigo, e só.- Hum. - Danielle sorri para ela, tentando não demonstrar seu alívio, e as duas voltam a caminhar, tomando uma água de coco pelo caminho.

Voltando, Danielle a deixa em casa e ela chega no apartamento com a roupa de ginástica e um copo de água na mão. Paulo estava acabando de acordar:- Bom dia. – Ele diz, olhando para ela.

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- Bom dia. Tudo bem? – Esther pergunta, colocando sua bolsa no sofá.- Sim. Estou só com um pouco de dor de cabeça, mas pensei em ir até à Fio Carioca.- Imagina...De jeito algum. O médico te deu no mínimo uma semana de recuperação, Paulo.- Ah, eu não aguento mais, ficar aqui preso...Você podia ter me chamado pra caminhar, assim você não ia sozinha.- Não se preocupa, eu não fui sozinha...A Danielle estava comigo.- Hum, a sua amiga Danielle...- Isso foi uma ironia?- Desculpa. – Ele se auto-repreende.- Ela é minha amiga sim, uma das poucas pessoas que sempre me apoiaram.- Esther, pára com isso...É bem diferente e...- Esther o interrompe rapidamente:- Chega, chega! Eu não fiz esse comentário para a conversa se estender. Conversamos sobre isso enquanto ainda éramos casados. Agora não vejo necessidade alguma. Com licença, vou me trocar.- Esther...- Paulo a segura novamente. – Por favor, me perdoa. Eu não penso antes de falar e...acabo falando besteira. Não quis te magoar.- De jeito algum, você não me magoou. Só estou cansada dessa história com você, Paulo. Eu sei que você não gosta da Danielle, mas não precisamos discutir sua simpatia pelas pessoas...- Calma! Não precisa ficar assim, Esther. - Eu estou muito calma...Preciso só de um banho...- Esther se desprende dele e vai até seu quarto. Paulo diz, xingando a si mesmo:- Burro...

A tarde chega e Paulo diz para Esther:- Vamos almoçar fora? - Aonde? No Lê Velmont?- É...- Paulo afirma e Esther logo diz:- Nem pensar!- Por que não?- Você ainda pergunta?- Mas o René é nosso amigo ainda, não é?- O René sim, mas certas pessoas podem estar por lá.- Eu já me informei, nenhuma das duas vão pra lá, segundo o René.- Não sei...- Por favor, vamos...Podemos ir bem rápido.- Tá...Tudo bem. Precisava mesmo agradecer o René por ter me ligado esses dias para saber da gravidez.- Certo, ótimo! – Paulo se anima.Esther se arruma para o almoço,colocando um vestido bem solto da cor magenta,que destacava a cor da sua pele e a deixava elegante, evidenciando sua gravidez. Paulo fica maravilhado:- Nossa, você está linda!- Vamos? – Esther tenta cortar os elogios, indo contra sua vontade.- Vamos...Paulo abre espaço para ela na porta e faz questão de ir dirigindo, alegando já estar bem:- Pode deixar, juro que estou bem!- Olha lá, hein. Se acontecer alguma coisa, a Tereza Cristina me mata.- Sei...Esquece a Tereza agora, vamos aproveitar nosso almoço.

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Esther fica em silêncio no trajeto, até chegarem no Lê Velmont.

O casal almoça no restaurante de René e passam quase a tarde toda conversando. Eles enfim, retornam para casa:- E aquela hora que o Severino derrubou o vinho sem querer...e a Vanessa quase matou ele com o olhar! – Paulo lembra dos acontecimentos do almoço e começa a rir junto com Esther:- Pois é! Eu nunca tinha visto o Severino naquela situação. Coitado! – Esther concorda e os dois continuam a rir juntos.- Ai, preciso descansar um pouco. – Paulo se joga no sofá.- O que foi? Está sentindo alguma coisa? – Esther se preocupa, se aproximando dele ao lado do sofá. Ele a olha por alguns instantes, demonstrando dor:- Aqui...Dói bem aqui. – Paulo coloca a mão de Esther do lado esquerdo do peito dele, e a puxa para ele, a fazendo cair sobre o seu corpo:- Sente? É bem aqui....- Ele ainda pressiona a mão dela sobre seu peito. – No meu coração...- Paulo a olha, segurando a cintura de Esther aos poucos e se aproximando cada vez mais dela. A estilista fica um tempo sem reação, mas depois se levanta com dificuldade, empurrando Paulo:- Paulo! Eu pensei que era sério...Você me puxou com força...- Desculpa...Você se machucou? O bebê, está tudo bem? – Paulo se levanta, preocupado, e toca a barriga de Esther. Nesse instante, Esther sente seu corpo todo estremecer...Pela primeira vez, Paulo tocava a barriga dela, demonstrando um imenso carinho:- Eu não quero que aconteça nada com ela....- Ele se refere à criança, tocando ainda a barriga de Esther.- Pára...- Esther logo desperta da situação e se afasta:- Paulo, eu não sei o que você pretende, mas...- Paulo não a deixa terminar e se aproxima dela, tocando seus lábios:- Eu não pretendo nada...Só me deu vontade de tocá-la...De sentir o bebê... – Ele continua acariciando o rosto de Esther. – Você ficou ainda mais linda depois de grávida, sabia? Eu sei que você me detesta, que já não é mais como antes, mas eu não vou desistir de você...Nunca! – Paulo fixa o olhar nos lábios de Esther e a beija apaixonadamente. Eles se abraçam e se beijam devagar, até que Esther se distancia:- Paulo, não! Você não entende que assim é pior? Que assim você não vai conseguir nada..nada?! – Esther sai raivosa da sala e se tranca no quarto. Ela se senta na cama e começa a chorar, tocando sua barriga. Paulo continua estático na sala, tocando seus lábios. Ele fica preocupado com o estado de saúde de Esther e bate na porta:- Esther, por favor, abre essa porta...Você não pode se alterar assim...Se acontecer alguma coisa...sua pressão. Olha só, abre a porta e vamos esquecer tudo o que houve, certo? Eu prometo que não vai mais acontecer...Mas abre essa porta. – Esther continua em silêncio, ainda chorando, e ele insiste:- Esther, eu vou ser obrigado a abrir essa porta à força...Nesse instante, ela abre a porta e ele fica aliviado:- Esther! Você está bem?- Estou...Vou beber um copo d´água. – Esther sai e caminha para a cozinha, o ignorando. Paulo fica sem reação.- Você esquece, então? Tudo o que aconteceu? - O que foi que aconteceu? – Esther questiona, bebendo a água e fingindo já não se lembrar.Paulo começa a rir:

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- Tá bom, vai. Não vou mais tocar no assunto, prometo. Que tal se a gente agora descansar, ver um filme?- Não era pra gente esquecer?- Esther, apesar de querer muito... mais do que nunca... eu não chamei você pra passar a noite comigo...Eu quero só ver um filme, na sua companhia. Afinal, você é a melhor pessoa que já conheci na vida, pra assistir filmes...- Por que? – Esther pergunta, tentando conter um sorriso, que saía tímido.- Porque mesmo se o filme é bom pra mim e ruim pra você, você nunca comenta isso e ainda deixa a pipoca só pra mim!- Você é bobo, mesmo! E essa parte da pipoca agora, mudou. Minha fome é por dois.- Duas! – Paulo a corrige e Esther fica sem ter o que dizer, tentando evitar o encantamento com as palavras carinhosas dele.

Esther acaba cedendo e eles assistem a um filme romântico na TV, comendo pipoca. Nas cenas de beijo, os dois ficam constrangidos e com um desejo enorme de se entregarem um ao outro. Mas Esther continua firme.Um tempo se passa, e por conta da gravidez, Esther se sente mais sonolenta do que o normal. Ela pega no sono no meio do filme e sem perceber, adormece nos braços dele, que estava ao seu lado. Paulo a abraça instintivamente e com paixão. Ele a olha dormir e a beija na testa, acariciando seus cabelos.Com a ex-esposa nos braços, num momento de fragilidade para os dois, o empresário quase deixa uma lágrima cair, com saudades dos tempos que já não eram mais os mesmos entre eles.

http://www.youtube.com/watch?v=XD0HGLi9hxQ&feature=related

XIX

Depois de algum tempo adormecida nos braços de Paulo, Esther abre seus olhos lentamente e ainda tocando o peito dele, ela se dá conta de onde estava:- Paulo?! Eu...eu dormi, aqui?- Dormiu...Calma, não tem problema, eu não fiz nada, juro! – Paulo começa a rir.- Deixa de ser bobo. – Esther se levanta e percebe que Paulo estava tocando sua barriga. Ela olha para ele e os dois ficam algum tempo trocando olhares, sem dizer uma palavra. Até que Esther se levanta e diz:- Eu vou levar isso para a cozinha. – Ela pega a bacia de pipoca vazia e os copos, e vai até a cozinha. Paulo a segue, dizendo:- Ei, espera. Me dá isso aqui...Eu te ajudo. – Ele segura os copos e coloca na mesa junto com a bacia. Aos poucos, ele vai tocando as mãos de Esther e segura o rosto dela carinhosamente:- Não foge de mim...Não foge disso que é tão forte entre a gente...Esther fica em silêncio por um tempo, tocando os braços dele que estavam em seu rosto, e depois diz:- Fugir de que? O que existe entre a gente, Paulo? Mágoa, desentendimento, sofrimento...- Não...não fala isso. O que existe e que supera todos esses obstáculos, Esther, é o nosso amor. É um amor que todo mundo luta pra ter todo dia...Você não vê isso?- Não mais. Eu juro que acreditava nisso, mais do que tudo nessa vida...Mas...- Paulo toca os lábios dela e a interrompe:

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- Ele ainda existe. E eu preciso tanto do teu perdão...Volta pra mim, meu amor, por favor...- Paulo se aproxima ainda mais e acaricia o rosto dela, fechando os olhos e aproximando seu rosto, quase tocando os lábios de Esther, que também fecha seus olhos. Os dois dançam suavemente no ritmo de uma música imaginária e finalmente se rendem à um beijo cheio de amor e paixão. Paulo entrelaça seus dedos por entre os cabelos de Esther e intensifica o beijo, quando de repente, ela sente uma dor forte na barriga:- Espera...- Esther se solta rapidamente de Paulo, que se preocupa:- O que foi? Foi o bebê? – Paulo toca a barriga de Esther, preocupado. – Calma, eu vou levar você para a clínica.- Não, eu só preciso sentar, respirar.- Tá, tá bom...- Paulo a coloca na cadeira da cozinha, sem saber o que fazer. – E agora? Você quer uma água, eu vou pegar...Espera aí, sentada. – Paulo caminha até a geladeira, demorando para se desprender dos braços dela, ainda nervoso e preocupado. Ele enche o copo sem tirar os olhos dela, que ainda estava pálida e reclamando de dor.- Esther, vamos para a clínica. – Paulo dá o copo nas mãos dela e insiste.- Está melhorando. Acho que é normal...- Ela diz, bebendo a água.- Mas você nunca teve um filho Esther, como você vai saber se é normal? Eu vou ligar pro Carlos...- Não, não precisa...- Não adianta discutir...Espera aí. – Paulo diz e corre até o telefone, chamando por Carlos.

Após explicar o que aconteceu e informar para Carlos que não houve nenhum sangramento, o médico recomenda que Esther repouse o restante da noite sem se levantar da cama. Ela obedece e Paulo faz questão de ficar junto com ela:- Esther, você não vai ficar sozinha. Eu fico aqui, de longe... tá bom? – Ele diz, sentando numa poltrona mais afastada da cama.- Mas você está se recuperando ainda, Paulo. Você não vai dormir aí...Desconfortável.- Não tem problema...- Claro que tem...Você pode piorar...- Esther fica pensativa e diz, já na cama, encostada na cabeceira. – Você pode deitar aqui do lado, mas...só dormir.Paulo começa a rir:- Sério?- Dormir..- Esther friza, séria.- Tá bom...Vou dormir. – Paulo caminha até a cama e se deita. Ele fica com os braços cruzados olhando para o teto e diz:- Você não vai se deitar?Esther olha para ele, o repreendendo e se deita, virando para o outro lado. Paulo sorri e fica a observando.Quatro meses se passam e Esther ainda continuava irredutível com relação à Paulo. Desde que ele havia ido embora de sua casa, eles nunca mais se aproximaram. Esther continuava sendo apenas amiga de Marcelo e ele continuava ainda mais apaixonado por ela.Paulo permanecia sozinho, tentando evitar os encontros planejados de Marcela.A jornalista o perseguia sempre e Tereza Cristina ainda não havia a colocado para fora de sua casa. Até que um dia:- Paulo, telefone pra você. – Márcia diz para Paulo, na sua sala da Fio Carioca.- Quem é?- Marcela Coutinho...Disse que é urgente.- O que essa maluca quer comigo, de novo?! – Paulo diz nervoso e atende.

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- O que foi, Marcela?- Paulo, por favor, me tira daqui. – Marcela diz, desesperada.- O que? O que foi?- Eu estou presa, Paulo. Esses abusados ousaram me prender...Ai, como jornalista sofre...E ainda querem me deportar pros EUA.- Como assim? O que você fez?- Nada...Eu não fiz nada. Por favor, me ajuda.Paulo fica sem reação e resolve ir até à delegacia – mais por curiosidade do que por solidariedade.

Chegando na delegacia:- Paulo! Ainda bem! – Marcela o segura no pescoço, o abraçando, e ele se distancia:- O que você fez?- Nada...- Como nada?- Eles me acusam de coisas absurdas...E eu não tenho dinheiro pra um advogado.- Hum...Antes que eu te ajude, preciso saber o motivo.Um policial se aproxima e explica:- Recebemos denúncias que essa senhora publicou notas falsas para um jornal conhecido nos EUA sobre um político muito influente de lá. Estavam todos à procura dela, mas como ela usou identidade falsa...- Ah, além de mentirosa, é culpada por falsa identidade? Parabéns, Marcela! – Paulo diz, batendo palmas, para provocá-la.- Paulo! É tudo mentira, isso é calúnia...Intriga da oposição, inveja!- Tá bom! Acho que você vai ter tempo o bastante para se explicar, mas não pra mim...Cansei, Marcela. Eu vim aqui mesmo só pra ver você com essa cara de derrotada! Espero que você tenha uma boa noite com os seus parceiros de cela...- Paulo sai, rindo, deixando Marcela desesperada:- Volta aqui, seu desgraçado! Você não pode me deixar aqui sozinha...Preciso ligar pra Tereza Cristina, agora!

Antes que Marcela ligasse para Tereza, Paulo faz isso antes e proíbe a irmã de ajudá-la, por mais que as duas tivessem segredos em comum. Marcela é então transferida para uma prisão nos EUA, podendo responder em liberdade, porém, sem sair do país antes de cumprir a pena.

XX

Enquanto isso, Esther se despedia dos funcionários na Fio Carioca:- Mas calma, eu não vou ficar tanto tempo longe assim...- Ai, Esther, mas sem você isso aqui não anda. O Paulo dá conta de tudo, mas os desenhos, o brilho...Tudo isso é seu!- Márcia! – Esther a abraça. – Tenho certeza que nesses meses o Paulo vai dar conta do recado, como está sendo agora...E os desenhos, eu vou enviando quando puder, e eu já deixei vários deles prontos, para a próxima coleção!Nisso, Paulo chega e escuta o final da conversa:- Esther? - Oi, Paulo...Nesse momento todos terminam de se despedir de Esther e a deixam a sós com o ex-marido:

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- Vamos para a minha sala, Paulo.- Tudo bem...Entrando na sala, Paulo diz:- Engraçado, estava mesmo querendo te ver, pra te contar uma novidade...- Hum, diz...- Esther pede.- Acabei de sair da delegacia. – Paulo sorri e Esther fica confusa:- Delegacia?!- Calma, não foi nada grave comigo ou com a empresa... Foi a Marcela.Esther continua em silêncio esperando ele se explicar.- Ela foi acusada nos EUA por ter divulgado notícias falsas sobre um político super influente de lá, e ainda falsificou a própria identidade.- Não sei porque, mas isso não me surpreende. – Esther diz, tocando a barriga de 7 meses.- É...- Paulo sorri e fixa seu olhar em Esther...- Ela vai ficar fora do país cumprindo pena, em liberdade provisória.- Que belo fim...- Esther diz, séria, tocando suas coisas na mesa. Eles ficam em um silêncio constrangedor, até que Paulo diz:- Como a sua barriga cresceu...Você está linda...- Ele fala com brilho nos olhos.Esther não diz nada sobre o comentário e muda de assunto: - Bom, eu te chamei aqui, Paulo, porque eu queria me despedir de você também...- Despedir? Como assim? – Paulo fica sério.- Eu...Eu estou indo pro Canadá, passar o restante da gestação por lá, junto com a Danielle...- Mas...você vai embora, assim? E vai ficar por quanto tempo?- Não se preocupa que, com relação à Fio Carioca, já está tudo adiantado, e se precisar já falei com a Márcia que ela pode me ligar que eu resolvo por lá.- Não é isso, Esther...A Fio Carioca está ótima, mas e eu? - Você...? – Esther pergunta.- Eu não vou agüentar ficar todo esse tempo longe...Tá certo que já faz um tempo que a gente não conversa tanto como antes, mas pelo menos eu te via quase todo dia por aqui... quando dava pra você vir...mas agora...- Agora eu vou viver minha vida junto com a minha filha, Paulo. - É, essa foi sua escolha, não é? – Paulo diz, tentando segurar as lágrimas e ser firme.- Metade disso tudo foi você quem escolheu também. Poderia ter sido diferente, não podia?- Eu sei que foi minha culpa, Esther. Mas não precisa ficar jogando isso na minha cara, me fazendo sentir culpado! – Ele altera o tom de voz. – E agora você vai embora, embora??!! – Ele repete, inconformado.- Chega, Paulo! Eu não sou obrigada mais a ouvir você gritar comigo desse jeito.- Desculpa,desculpa...Eu perdi a cabeça. Eu não posso, eu não quero ficar longe de você... – Paulo se aproxima dela, segurando seu rosto. Esther se solta dele:- Tem que ser assim. – Ela também se segura para continuar firme com as palavras e com a sua decisão. – Eu preciso ir, vou ainda hoje...- Esther fica com os olhos marejados, pegando suas coisas sobre a mesa e evitando o olhar de Paulo. Ela direciona um último olhar para ele, e termina:- Espero um dia poder te perdoar.

Ela sai da sala, e Paulo chora, se sentando na cadeira, sentindo que havia perdido Esther para sempre.

Page 55: Problemas de nós dois

Esther sai do escritório desolada e Marcelo aparece:- Vamos?- Vamos... – Esther diz, olhando para trás, segurando as lágrimas.Marcelo caminha com Esther colocando seus braços em volta dela, e da janela do prédio, Paulo os observa.

http://www.youtube.com/watch?v=sgRb_lfIZ6A

XXI

Algumas semanas se passam e Paulo não consegue se concentrar no trabalho. Ele pensava em Esther todo o tempo e se dispersava ao lembrar dela no vazio de sua antiga sala na Fio Carioca. Os dias para ele se arrastavam e os funcionários iam percebendo o seu desinteresse, preocupados com o rumo da empresa:

- Paulo, Paulo? – Márcia o chama e ele se assusta:- Oi, Márcia.- Paulo, acho melhor pararmos por hoje, né? Você precisa ir pra casa, descansar.- É, acho que preciso. – Paulo se levanta da mesa de reuniões e sai da sala, sem reação alguma. Todos se entreolham, preocupados.

Enquanto isso, no Canadá...

- Marcelo, não precisa...Eu posso levar o carrinho de compras sozinha! – Esther diz, sorrindo.- Não, nada disso. Depois a Danielle também briga comigo, porque você deveria estar em casa...e é verdade.Esther pára diante dele, no supermercado, e diz:- Você é muito especial, sabia? Obrigada pelo seu carinho...De verdade. – Ela acaricia o rosto de Marcelo, que segura a mão dela no seu rosto e a retira, cruzando seus dedos nos dela:- Não precisa agradecer, você sabe tudo o que eu sinto, e eu não consigo e não vou esconder... – Marcelo fica em silêncio, apenas olhando para ela. Esther sorri sem graça e segue empurrando o carrinho, continuando as compras.

Mais um tempo se passa e Esther já estava com 8 meses e meio de gestação. Paulo resolve ir até a clínica de Danielle:- Oi, por favor, você tem algum contato da doutora Danielle? – Paulo pergunta para Glória.- A doutora está em viagem...- Paulo a interrompe:- Eu sei, eu sei...Ela está com a minha esposa...quer dizer, com a minha ex-mulher, a Esther...- Ah, você é o...?- Paulo. Eu preciso muito de um contato da Danielle. Não consigo no celular.- É, ela trocou o número...Paulo, eu vou ver com ela se ela pode te atender, ok?- Por favor, faça isso. Fala que é importante.Depois de alguns minutos:- Oi, Paulo. – Glória chega, e Paulo, que estava aflito, se vira para ela:- E então? Conseguiu falar com ela?

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- Sim, ela quer falar com você....- Glória dá o telefone para Paulo e ele e Danielle conversam por um longo tempo.

Dois dias se passam e Esther chama Marcelo para um passeio no centro da cidade de Quebec, onde estavam hospedados. Era inverno e todos vestiam roupas pesadas de inverno e cachecol.

Esther senta com Marcelo em um dos bancos da praça, próxima ao hotel, e diz:- E então? Como está se sentindo à um passo de finalmente ter sua filha nos braços?- Nem me fala...É o melhor sentimento do mundo! Ainda nem acredito. – Esther diz tocando sua barriga e Marcelo toca a mão dela.- Marcelo...Eu te chamei aqui porque precisava te dizer algumas coisas...- Eu já imagino o que seja, Esther...

Enquanto conversavam, Paulo - que havia conseguido o endereço de Esther com Danielle – chega perto do hotel, vestindo um sobretudo cinza escuro e um cachecol azul marinho, e logo reconhece Esther. Ele fica um tempo parado em frente a praça e os observa:Esther diz para Marcelo:- ....mas eu queria muito, muito... sentir alguma coisa por você, além desse carinho entre...amigos.Marcelo fica em silêncio e ela toca o rosto dele:- Eu nunca vou me esquecer de tudo o que você fez por mim...Eu queria te dar alguma esperança mas eu não posso fazer isso. Não agora.- Eu sei...E é por isso que eu sou apaixonado por você, Esther. Você é maravilhosa...Até pra me dar o fora! – Marcelo começa a rir e ela também ri, tímida:- Bobo!Marcelo não se segura e diz, se aproximando ainda mais dela:- Eu queria só...só sentir o seu beijo mais uma vez...nem que seja a última vez. – Ele termina de falar e fixa o olhar nos lábios de Esther. Os dois fecham os olhos e se beijam devagar.

Paulo deixa a mala cair no chão, ao presenciar o beijo. Ele fica estático olhando para o casal, e nisso, quando Marcelo se solta de Esther, ele vê Paulo de longe:- Esther...- Ele diz, olhando para frente. Esther se vira e olha para a direção que Marcelo estava olhando e se depara com Paulo os observando.- Paulo...- Ela diz, em voz baixa.- Eu acho melhor você ir até lá, Esther...Vamos? – Marcelo ajuda Esther a se levantar e eles caminham até Paulo.O empresário continuou onde estava e quando Esther e Marcelo se aproximam, ele olha para eles com os olhos marejados.- Paulo...O que você está fazendo aqui? – Esther pergunta.- Bom, eu vou deixar vocês...a sós. – Marcelo solta as mãos de Esther e a olha, como se desejasse sorte. Esther sorri de leve e volta a olhar para Paulo:- Como você me encontrou aqui?- Eu...- Paulo tenta dizer, engolindo a seco...- Eu consegui o endereço com a Danielle. Eu insisti com ela...na verdade...- Por que isso, Paulo?- Porque eu pensava que...que eu poderia ter você de volta...Mas eu me enganei, depois do que eu vi agora...- Paulo olha para o chão e pega sua mala. Quando ele levanta o

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corpo e tenta caminhar para ir embora, Esther segura o braço dele, o impedindo. Ele então solta a mala novamente:- E o que foi que você viu? – Esther pergunta.- Eu preciso mesmo dizer? Eu sei que eu errei muito, Esther. E esses dias todos sem você eu tenho pagado pelos meus erros, em doses homeopáticas...É horrível ver aquela sala da Fio Carioca vazia, e pensar que eu deixei...que eu deixei você ir embora, sem fazer nada...- Me escuta, Paulo. Pela primeira vez, tenta enxergar o que realmente está acontecendo...- Como assim?- Como sempre você viu o que queria ver...E não o que se passa dentro de mim, o que eu sinto...Você sempre se precipitou tanto nas suas decisões...Mas eu não vou mais te julgar, porque eu vejo...- Esther faz uma pausa. – Eu vejo que seria inútil...porque tudo o que você viu foi uma despedida.- Despedida...- Paulo continua confuso.- Eu poderia ser muito feliz ao lado do Marcelo, sim. Eu confesso que eu tentei e dei algumas chances, mas o que você viu ali foi apenas uma despedida da minha suposta felicidade...Porque eu não consigo mais fugir, Paulo. Eu não posso mais fugir desse...- Esther começa a chorar, enxugando as lágrimas que caíam. - ...eu não consigo mais fugir desse amor imenso que chega a doer...que só pertence à você.Paulo fica emocionado junto com Esther, e segura os braços dela, enxugando as lágrimas dela, com carinho:- Ei...Olha pra mim...olha...- Paulo diz, sorrindo levemente. – Eu juro que eu pensei que eu tinha perdido você pra sempre...pra esse médico, que foi tão mais atencioso, tão mais ... marido...do que eu. – Paulo confessa e Esther continua a enxugar as lágrimas. – Mas eu também te amo...te amo mais do que tudo nesse mundo, meu amor. E eu fui tão imaturo, tão cego por não perceber que essa criança...sempre fez parte de nós dois. E se você me perdoar, Esther, eu quero ficar do teu lado e quero que essa filha seja minha...Nossa... – Paulo toca a barriga de Esther, emocionado.Esther não acredita no que ouve e sorri, chorando ao mesmo tempo:- Ai, Paulo...Eu não acredito nisso! Você está falando sério?- E eu sou louco de mentir à essa altura? Eu amo você...Eu te amo! – Paulo grita e sorri. Esther coloca suas mãos na boca, sorrindo e se divertindo com a atitude de Paulo:- Você é louco!- Louco de amor...louco pra ter você de volta pros meus braços, e cuidar...cuidar de vocês duas!- É o que eu mais desejo!Paulo segura o rosto de Esther com as duas mãos e abre um sorriso largo. Ele se aproxima dela e a beija várias vezes nos lábios, dizendo, em desespero:- Te amo, te amo, te amo...Que saudade que eu tava de você...dos seus beijos...de você inteira...- Nisso, os dois se rendem a um beijo apaixonado e intenso.

http://www.youtube.com/watch?v=hLQl3WQQoQ0&feature=fvsr

Algumas pessoas que passavam pela praça, os olhavam sorrindo, percebendo a felicidade do casal, que finalmente se reencontrara.

XXII

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Já era o dia do parto e Paulo estava segurando a mão de Esther, na maca:- Calma, vai dar tudo certo.Esther respirava ofegante, tentando controlar a dor. Danielle estava junto com um dos médicos, que era grande amigo seu – brasileiro mas que morava no Canadá. Marcelo também estava, mas aguardava do lado de fora.Algum tempo se passa e todos escutam o choro do bebê:- Nasceu, meu amor...- Paulo diz, sorrindo, e sente algo que nunca pensou em sentir.- Nossa filha...Valentina! – Esther diz, emocionada.- Valentina? – Paulo diz, surpreso. – Era por isso que você quis fazer surpresa com o nome?- Sim! Eu sempre tive esse nome em mente... O nome da sua mãe! – Esther diz à ele.- Esther...Você é tão maravilhosa...Eu...- Paulo fica sem palavras. - ...nem sei o que dizer...- Não diz nada. – Esther acaricia o rosto dele com uma das mãos, e com a outra segura Valentina.Danielle sorri e diz:- Valentina nasceu! “Valente” como a mãe!Todos olham para o bebê, emocionados.

Algum tempo se passa e todos retornam para o Brasil. Não se falava em outra coisa a não ser do filho de Esther, que nasceu por um procedimento ainda novo no país. Esther se preocupava em acompanhar minuciosamente cada mês de vida do bebê, e Danielle acompanhava junto com ela e Paulo.

Valentina já estava com quase 2 anos de idade, e Esther e Paulo a levavam para a creche pela primeira vez:- Ai, que aperto no coração, Paulo. – Esther diz, nervosa.- Calma, vai dar tudo certo...Daqui a pouquinho a gente passa pra buscá-la. – Ele diz e beija os lábios da esposa.Esther entrega a filha para as funcionárias da creche, hesitante. Paulo beija Valentina e pede:- Cuidem bem dela, hein? Daqui a pouco estamos aqui.- Pode deixar! – a funcionária diz.Esther beija a filha várias vezes e vai com Paulo.

Chegando na Fio Carioca, Paulo fecha a porta da sala e segura o braço de Esther:- Não fica preocupada, ela vai ficar bem. A gente liga de minuto em minuto.Esther começa a rir:- Você tá ficando pior do que eu...Quem diria, pra quem não tinha jeito pra ser pai..Você tá se saindo muito bem!- Impossível não ser um bom pai pra nossa menina dos olhos... Pra nossa Valentina...Se depender de mim ela vai ser a criança mais amada desse mundo.A estilista fica emocionada e toca o rosto de Paulo com carinho, que diz:

http://www.youtube.com/watch?v=iSI8TSl17Gc&feature=related

- Agora vem aqui, vem...Que eu estou morrendo de vontade de te beijar..- Paulo sorri e encosta Esther na mesa. Ele segura firme a cintura da esposa e a beija apaixonadamente nos lábios, a beijando em seguida no pescoço e descendo até o colo:

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- Te amo tanto, sabia?- Eu também...- Esther diz, ainda eufórica e sorrindo, segurando os cabelos de Paulo que ainda a beijava.Ele se solta dela e diz:- Tive uma ideia!- Qual?Ele tira uma aliança, de brilhante, do bolso:- Casa comigo de novo? No aniversário da nossa filha de 2 anos! Uma festa conjunta, que tal?Esther morde os lábios, sorrindo, e chora:- Não acredito...- Aceita?- É claro...Claro que eu aceito!Paulo coloca a aliança no dedo de Esther e ela o abraça com entusiasmo, segurando a nuca de Paulo e o beijando várias vezes. Paulo a gira e os dois riem juntos, comemorando o começo de uma nova vida.

XXIII

No aniversário de Valentina e casamento do casal, Esther estava com um vestido longo, perolado, e decotado nas costas, seu cabelo estava loiro e maior, preso para trás. Paulo estava de terno preto e com os cabelos penteados para trás, com um pouco de gel. Valentina estava com um vestido rodado branco e os cabelos loiros presos com um pequeno laço de pérolas. Todos admiravam a beleza da família. Casais estavam presentes como: Marcelo e Danielle:- Parabéns, amiga! A Valentina está cada dia mais linda. – Danielle diz.- Obrigada! – Esther diz, numa conversa a sós com Danielle. – Ela não estaria aqui hoje, se não fosse você!- Hum...É verdade. Mas eu também não estaria feliz, se não fosse por você.- Como assim? – Esther pergunta, sorrindo.- Graças a você eu descobri que estava aberta pro amor, de novo...O Marcelo é maravilhoso...E por mais que ele te amasse... – Esther a interrompe:- Imagina, isso já passou Danielle. Eu vejo os brilhos nos olhos dele quando está perto de você...Acho que era amor antigo, e ele não queria assumir, hein!- Hum, não sei, só sei que estamos todos felizes, não é?- Sim, e muito!

Chega a hora da troca das alianças, que e é feita juntamente com os parabéns para Valentina. Paulo e Esther beijam o rosto da filha: um de cada lado, e tiram uma foto que iria registrar um dos momentos mais felizes do casal.

http://www.youtube.com/watch?v=nIjVuRTm-dc&ob=av3e

FIM!