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COPYRIGHT@ 2008 BY RICELLI DIAS TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. R. SÍTIO SÃO JOSE, 35 B. VEREDA- RIBEIRÃO DAS NEVES 33800-000. MG NÓS DOIS NO ABISMO UM ROTEIRO DE RICELLI DIAS

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Page 1: NÓS DOIS NO ABISMOstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/2616176.pdf · EXT- PONTO DE ÔNIBUS- NOITE Há dois homens e duas mulheres no ponto de ônibus esperando o coletivo. ANA,

COPYRIGHT@ 2008 BY RICELLI DIAS

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.

R. SÍTIO SÃO JOSE, 35

B. VEREDA- RIBEIRÃO DAS NEVES

33800-000. MG

NÓS DOIS NO

ABISMO

UM

ROTEIRO DE RICELLI DIAS

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1

FADE OUT:

_____________________________________________________________________________

ÂNGULO ABERTO.

CRÉDITOS INICIAIS

EXT- PONTO DE ÔNIBUS- NOITE

Há dois homens e duas mulheres no ponto de ônibus esperando o coletivo. ANA, mulher negra

aproximadamente 28 anos de cabelos compridos está vestida com um vestido longo florido e

com uma bolsa em seu ombro. Ana está apreensiva, olha o relógio.

Ana:

Por que esse ônibus não vem logo?

Ana e as pessoas avistam um ônibus aparecer três metros de distância. Ana sente-se aliviada.

Ana sorrir, mas fecha o rosto.

Ana:

Que droga! Não é o meu.

Um homem dá sinal para o ônibus. O ônibus para. As três pessoas adentram o ônibus. O ônibus

parte. Ana fica sozinha no ponto de ônibus.

EXT- PONTO DE ÔNIBUS- NOITE

Cansada e desanimada Ana ainda está no ponto de ônibus. Está sentada no chão. Atos, branco,

29 anos, terno e gravata aproxima-se, lentamente, dela. Clara olha o relógio.

Ana:

Não é possível que este ônibus

não virá!

Atos aproxima-se dela. Ana olha para ele.

Ana:

Aqui passa o ônibus 3200?

Ana se levanta do chão.

Ana: (mais)

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Passa, sim.

Atos:

Estou perdido.

Não conheço nada aqui.

Corta lentamente para:

EXT- RUA- DIA

Várias pessoas andando no meio da rua, há tanta gente que não sobra espaço para mais

ninguém andar. Atos está de roupa social e sapatos sociais pretos, anda no meio desta

multidão de pessoa. Atos andando está muito concentrado. Na mesma direção em que Atos

está indo, vem Ana. Ana está feliz e sorridente. O ombro de Atos esbarra, forte, em Ana. Ana

cai no chão.

Ana:

Ai!

Atos:

Foi mal.

Atos para de andar e aproxima-se dela.

Atos:

Desculpe!

Atos agacha-se diante dela. Ana levanta-se a cabeça.

Ana:

Você!

Atos estende a mão para dar a ela. Ana olha para ele com um olhar de encantamento. Ana e

pega na mão dele, mas continua no chão olhando-o fixamente, com a sua mão na dele.

EXT- RUA/ CALÇADA- DIA

Sol radiante. Atos e Ana estão andando no calçadão. Estão alegres.

Ana:

Acho que você tá me perseguindo.

Atos: (mais)

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Não. Eu acho que você é quem

tá me perseguindo.

Ana:

Pode dizer! Você gostou de mim

e vai ficar me perseguindo sempre. Acho que

vou trocar a fechadura da minha casa.

Não quero perseguida.

Atos:

O que acha que sou? Um maníaco?

Ana:

Não sei. Isso é você que vai me mostrar!

Close shot de Atos e Ana

param de andar e se olham.

EXT- QUIOSQUE/ DIA

Há algumas pessoas no quiosque. Há uma mesinha. Ana e Atos estão sentados nessa mesa

tomando água de coco.

Ana:

Que calorão, hein.

Atos:

Por isso eu te convidei

pra você vir tomar essa

água de coco comigo.

Também por que é um forma

de eu me desculpar com você.

Ana:

Tudo bem. Já está desculpado.

Mas você faz o que para

ir com tanta pressa daquele

jeito?

Atos:

Administração de empresas.

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Ana:

Interessante. Sempre

quis ser administradora

de empresas.

Atos:

E por que não seguiu

esse desejo?

Ana:

Porque descobri que

não tinha vocação para

ficar presa dentro de um

escritório o dia todo.

Eu gosto de ser livre. Livre pra voar.

Atos:

E você faz o que?

Ana:

Nada.

Atos:

Nada? Vive com os pais

ou é uma dondoca que recebe

mesada do marido?

Ana:

Sou escritora.

Tenho dois livros publicados.

Atos:

E você ainda diz que

não faz nada?

Ana:

É. neste país livros não dá

dinheiro, então procuro outra

profissão para me manter.

Estou no último ano de contabilidade.

Vou conciliar esta carreira (mais)

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com a de escritora.

Atos:

O que escreve?

Ana:

Romance, poesias, crônicas,

historinhas. Tudo.

Atos:

Quero ler alguma coisa sua.

Me leve pra sua casa!

Ana:

Você tá doido?

Atos:

Não. Só quero que você

me mostre teus manuscritos.

Ana:

Você não tem que ir trabalhar?

Atos:

Agora não tenho que ir mais.

INT- APARTAMENTO/ SALA- DIA

Sala pequena, um tanto pouco sofisticado. Dois sofás grandes no centro da sala de costas

virada à porta. Dois quadros pendurados na parede. Uma estante grande cheia de livros outra

estante com porta-retrato. Atos está sentado no sofá com o notebook no colo, lendo os

manuscritos de Ana. Ana está sentada ao seu lado olhando-o. De repente atos olha para Ana

que continua olhando-o. Ana e Atos se beijam.

INT- QUARTO- DIA

Quarto grande com uma cama bem grande no centro. Um closet bem grande no fundo. Uma

janela enorme no fundo com outra janela grande na parede do lado. Duas cômodas com vários

vidros de perfumes e maquiagem em baixo da janela. Outra cômoda com TV e aparelho de

som. Na outra parede uma porta que dá acesso ao banheiro. A porta se abre, se beijando

rapidamente e eufóricos, Ana e Atos abrem entram no quarto. Atos empurra, com o pé, a porta

do quarto fechando-a. atos e Ana se beijando intensamente, rapidamente se aproximam da

cama.

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Ana:

Eu não transo no primeiro encontro.

Atos:

Eu não ligo para essas bobagens.

Atos continua beijando-a. Ana tira a camisa do corpo de atos. Atos retira a camisa do corpo de

Ana deixando-a só de sutiã. Ana deita-se na cama. Atos deita-se em cima dela e continua

beijando-a, beijando seu corpo ardentemente.

INT/ BANHEIRO/ TARDE

Dentro Box o chuveiro está ligado. Debaixo da água estão Atos e Ana nus se beijando.

Ana:

Eu nunca vivi uma

aventura como esta.

Atos:

Sempre tem a primeira vez.

E estou adorando.

Ana:

Eu também.

Ana e Atos continuam se beijando sob a água que caíra sobre eles.

INT- ESTAÇÃO DO METRÔ- NOITE

Algumas pessoas sentadas nos bancos da plataforma do metrô. Ana está sentada em uma

delas. O metrô para na plataforma. Os passageiros se levantam e caminham ao metrô. As

pessoas entram. Ana vai entrar, Atos chega logo atrás, dela entrando logo em seguida no

metrô. O metrô começa a andar sobre os trilhos.

Atos:

Oi!

Ana:

Oi! O que faz aqui?

Pensei que mauricinhos como você

não andasse de metrôs

só de carro importado e luxuosos.

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Atos:

Não julgue a capa antes de ler o livro.

Precisamos conversar.

Ana:

É por isso que veio aqui?

Atos:

Sim. Você disse que nunca mais

voltaria para casa de ônibus desde

aquele episódio em que você

ficou plantada no ponto de ônibus.

Como sei seu horário, vim.

Ainda bem que te peguei!

INT- RESTAURANTE- NOITE/ DOIS MESES APÓS

Linda e com um vestido deslumbrante Ana chega com Atos, que está de terno e gravata a uma

mesa.

Ana:

Por que você me

trouxe aqui?

Atos e Ana sentam-se a mesa.

Atos:

Para comemorarmos. Esqueceu?

Sempre nestas datas mais bobas

que existem são as mulheres

que lembram não o homem.

Ana:

Isso só mostra que você

é perfeito para mim.

Ana e Atos se beijam.

Ana:

Mas para comemorarmos

nosso dois meses de namoro não

precisava me trazer aqui. (mais)

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Era só me levar num motel.

Atos:

Isso vai ser depois, depois.

[alto] garçom!

O garçom chega à mesa.

Garçom:

Sim, senhor!

Atos:

Traga um champanhe para mesa!

Ana:

[sorrindo]

É por isso que eu a cada

dia estou mais apaixonada,

encantada com você.

você não existe!

Atos:

Existo, sim.

Nos seus sonhos.

Ana:

Você é perfeito.

Um homem ideal pra mim!

É com você que eu quero

estar pra sempre.

Atos:

Eu também quero. Por isso

quero propor que moramos juntos.

Ana:

Eu quero morar com você, sim.

É tudo que eu mais quero.

É tudo que eu desejo no

momento, ser sua. Somente sua!

Atos:

Você já é minha.

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EXT- APARTAMENTO- DIA

Ana, de óculos no rosto está sentada com o notebook no colo escrevendo. Está concentrada. A

porta da sala se abre, Atos adentra a casa.

Atos:

Cheguei!

Ana:

[sem olhar para ele]

Atos você não deveria

estar trabalhando agora?

Atos:

[aproximando-se dela]

Mas eu escolhi ficar com

a minha mulherzinha.

[ agacha-se perante ela]

Ana:

agora não, Atos.

Eu preciso me concentrar

neste romance.

Atos:

Ah, depois você escreve.

Atos retira o notebook do colo dela.

Ana:

Atos! Eu preciso.

Atos:

Sou eu que quero ficar aí

[senta no colo dela]

Ana:

Atos, eu preciso terminar.

Atos:

Depois você termina.

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Atos a beija. Ana cede aos beijos deles. Ana e atos se beijando deitam-se no sofá. Os dois

curtem. De repente, Ana grita.

Ana:

Ah!

[põe a mão na cabeça] Ah!

Atos se levanta.

Atos:

O que foi, Ana?

INT- HOSPITAL/ CORREDOR- NOITE

Sentado em um banco no corredor Atos está de cabeça baixa. Um médico, senhor de idade

aproxima-se dele.

Atos:

E aí!

Médico:

Realizamos uma bateria de enxames.

Os resultados sairão amanhã.

Mas quero adiantá-lo que é algo grave.

Realizamos uma ressonância magnética.

Temos que esperar os resultados.

Close shot de Atos

Triste ao ouvir a notícia.

INT- QUARTO MÉDICO- NOITE

Quarto vazio. A janela está aberta. Ana, de olhos fechados, está deitada na cama. A porta se

abre, Atos entra no quarto. Atos aproxima-se de Ana. Ana abre os olhos e sorrir.

Ana:

Oi, amor! Pensei que não

viria me ver?

Atos:

Eu jamais deixaria de te ver, meu amor.

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Ana:

O que os médicos te falaram?

Atos:

Nada. Você irá ficar boa.

Atos aproxima-se bem perto de Ana.

Atos:

Eu te amo, Ana.

Ana:

Eu sei. Eu também te amo muito.

Não diga isso, pois fica parecendo

despida. Eu não vou morrer!

Você ainda vai me aturar muito

por esses anos.

Atos sorrir.

INT- QUARTO/ DIA

Imagem obscura, sombria passando na tela. Música de fundo bem triste. Ana deitada na cama

está chorando muito. Atos abre a porta, entra no quarto. Rapidamente aproxima-se de Ana.

Ana:

Eu vou morrer. Eu vou morrer.

Atos a abraça.

Atos:

Não vai. Eu juro que não vai!

Atos a abraça. Ana continua chorando aos braços de Atos.

Ana:

Eu vou morreeeer...

INT- HOSPITAL/ QUARTO- DIA

Debilitada, Ana está deitada na cama de barriga virada pra cima com a cabeça apoiada em dois

travesseiros. Atos com um bandeja de comida na mão abre a porta. Atos entra no quarto.

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Ana:

[abrindo os olhos]

Trouxe uma comida boa para mim?

Eu não aguento mais comer essa

comida do hospital.

É tão sem graça.

Atos:

É por pouco tempo.

Ana ajeita o corpo na cama ficando sentada de costas apoiada nos travesseiros. Atos põe a

bandeja no colo dela.

Atos:

Quero que coma tudo.

Ana:

[com cara feia]

Só com essa comida eu vou vomitar.

Atos:

Anima-se!

Ana:

Conseguiu falar com a minha mãe?

Atos:

Consegui. Ela não se importou muito.

Ana:

Eu sabia. Falei que era pra você

não ligar para minha mãe.

Ela nem gosta de mim.

Atos:

Que tipo de mãe é a sua?

Ana:

Do tipo piranha. Quanto tempo

ficarei aqui, neste lugar?

Atos: (mais)

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Até começarmos o seu tratamento.

Ana:

Radioterápica é muito doloroso.

INT- HOSPITAL/ QUARTO- DIAS DEPOIS

Ana está dormindo profundamente na cama. De repente ela abre os olhos. Há um enorme

tufão de cabelos caídos no travesseiro. Ana olha-o. Ana começa a chorar, passa a mão no

cabelo e mais um tufão de cabelo sai em sua mão. Ana chora.

INT- APARTAMENTO/ SALA- DIA

Ana, de cabeça raspada está sentada ao sofá com o notebook em seu colo. Ana está digitando.

Insert- Tela do notebook escrito QUAL O MOTIVO DA TRAIÇÃO?

Ana:

[escrevendo]

Por que existe a traição quando há amor?

Qual o significado da traição quando

Tudo vai bem? Será que é preciso

Trair só quando não há amor

Traímos quando estamos amando?

Por quê?

INT- HOSPITAL/ CORREDOR- DIA

Corredor vazio, algumas pessoas sentadas no banco. Transição de médicos, enfermeiros.

Alguns enfermeiros levando pessoas enfermas. Atos está andando pelo corredor empurrando a

cadeira de rodas onde Ana está sentada.

Ana:

Não quero ter que fazer

isso de novo.

Atos:

Eu sei que é chato, mas é pra curar você.

Eu quero vê-la curada.

INT- BANHEIRO- NOITE

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Ana está agachada no vaso vomitando muito. A porta está aberta. Triste, Atos está encostado

na porta vendo-a vomitar.

INT- APARTAMENTO/ SALA- MEIA NOITE

De lenço na cabeça Ana está dormindo em cima do sofá. A TV está ligada no canal Globo do

Rio. Ouve-se barulho na fechadura da porta. A porta se abre. Atos, de terno e gravata entra,

fecha a porta. Atos aproxima-se do sofá, dá um beijo no rosto de Ana. Ana continua dormindo.

INT- APARTAMENTO/ QUARTO- MEIA NOITE

Atos entra no quarto. Tira o paletó e joga-o em cima da cama. Atos tira o sapato, a meia. Atos

tira a gravata, a camisa. Atos aproxima-se da porta do banheiro. Atos entra no banheiro.

INT- APARTAMENTO/ QUARTO- MEIA NOITE E QUINZE

Quarto escuro, nervoso Atos de short e sem camisa está sentado à beira da cama, de mãos na

e com a cabeça baixa. Ana está deitada na cama.

Ana:

E o que fazemos agora?

Atos:

Nos separar, talvez.

Ana:

Eu não quero me separar de você.

Eu não quero. Eu não posso viver sem você.

Você é meu amor, é a minha vida.

Ana aproxima-se dele, pondo suas mãos no braço dele.

Ana:

Eu não quero ir. Eu não posso ir.

Você me salvou e eu não

quero morrer agora.

Atos levanta-se da cama, indo para a parede onde se mantém de cabeça baixa de frente à

parede de costas para cama.

Ana:

Não fuja de mim! Isso me dói tanto.

O que mudou? O que mudou? (mais)

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Nos amávamos tanto, eu ainda te amo.

Você não pode me deixar.

O que é? O que mudou, cara?

Desesperada Ana levanta-se da cama, aproxima-se dele.

Ana:

O que é? Não me deseja mais.

Não quer mais transar comigo?

Enjoou de mim? Eu não posso aceitar isso.

[ põe a mão nele] Olha pra mim! Olha!

Atos:

Para!

Ana:

Olha pra mim! Olha!

Atos:

Sai!

Ana:

Me pega de jeito, então!

Me joga nesta cama, meta em mim!

Me faça delirar de prazer

igual fazia antes. Lembra?

Atos:

(sem olhá-la)

Para!

Ana:

lembra de quando transávamos?

Era bom demais. A gente se amava, se curtia.

Eu urgia, gritava a cada metida sua.

Era delicioso demais!

Não deixe tudo acabar assim.

Atos:

Chega!

Ana aproxima-se bem perto dele, põe a mão delicadamente em suas costas alisando-a.

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Ana:

Não resista a mim!

Faça-me a sua escrava.

Eu quero você. Eu te amo!

Ana continuara alisando-o pelas costas, beijando sua nuca e pescoço. Atos tenta resistir a seus

apelos.

Atos:

Não quero!

Ana:

Quer sim, eu sei que quer.

Ana o vira, o beija intensamente. Atos cede aos beijos dela. Rapidamente e agressivamente a

vira colocando-a na parede. Atos rasga a blusa de clara e atola seu rosto nos seios delas

beijando-os, lambendo-os.

INT_ QUARTO/- NOITE

Nua em cima da cama, Ana está de perna aberta enquanto Atos nu está por cima dela

penetrando na vagina dela em movimentos de vai e vem.

INT/ BANHEIRO/ NOITE

Chuveiro ligado, água quente escorrendo sobre o corpo de Atos que está debaixo d’água. O Box

do banheiro se abre, nua Cristina adentra.

Ana:

Posso entrar?

Atos:

Já entrou. Cai pra dentro!

Ana se aproxima de Atos e o beija.

Atos:

Eu não gosto de brigar contigo.

Ana:

Nem eu. Tenho medo de perdê-lo.

Atos:

Você não vai me perder. Eu garanto.

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Ana:

Eu queria acreditar nisso, não que eu não

acredite que você esteja falando a verdade

talvez você está certo e quer isso, mas as coisas mudam.

Atos:

Nem sempre as coisas têm que

mudar pra pior, às vezes

elas mudam pra melhor.

INT- QUARTO- NOITE

Em cima da cama dormindo profundamente estão Atos e Ana. Ana abre os olhos.

Ana:

Eu te amo muito, Atos!

Só quero que me ame também.

Só isso que peço.

EXT- RUA/ CALÇADÃO DE COPACABANA- DIA

De short, camisa e tênis Atos corre junto de seu amigo LEANDRO, também de short, camisa e

tênis.

Atos:

Você é doido? Eu nunca

faria uma coisa dessas.

Leandro:

Você vai ficar preso a uma mulher

condenada? Você vai perder a

sua vida por causa dela.

Atos:

Não fala assim. Eu a amo.

Leandro:

Ela tá doente.

Atos:

Mais um motivo para eu abandoná-la.

Leandro para no calçadão, puxa Atos pelo braço. Atos para e olha para ele.

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Leandro:

Você vai ficar com ela por pena?

Close up de Atos

Sem saber o que dizer.

INT- APARTAMENTO/ QUARTO- TARDE

Ana está deitada no quarto com a mão na cabeça gritando muito. está gritando alto. Está com

muita dor na cabeça.

Ana:

[alto]

Ahhhhhh!

Maldita dor......

Ahhhhhhhh! Vou enlouquecer.

Ahhhhhhhhhh!!!

INT- APARTAMENTO/ QUARTO- NOITE

Quarto escuro, janela e porta fechadas. Ana ainda está deitada na cama gritando muito de dor.

Está enroscada na cama.

Ana:

Eu não aguento mais!

Ai!!!!!!!

De pasta na mão, terno e gravata Atos adentra rapidamente o quarto.

Atos:

Ana!

[joga a pasta no chão]

Atos aproxima-se de Ana. Ana continuara gritando muito.

Atos:

O que você tem, Ana? O que?

Ana continuara gritando muito, se contorcendo de dor na cama. Ana desmaia.

Atos:

[desesperado]

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Ana! Ana!

Ana, pelo amor de Deus

Fala comigo!

Fala comigo!

INT- HOSPITAL/ QUARTO- NOITE

Ana está dormindo profundamente na cama. Próximo a cama Atos está sentado a uma cadeira

observando-a dormir. O médico abre a porta do quarto, entra.

Atos:

O que houve, doutor?

Medico:

As dores só vão aumentar a cada dia.

A radioterapia não deu certo.

As dores só vão aumentar.

Atos:

Não tem jeito de contornar essa

Situação? Ela vai sofrer muito.

Médico:

Só resta a cirurgia. Como o tumor

Tá grande e crescendo o risco é mais grave.

INT- HOSPITAL/ BANHEIRO- DIA

Chorando Atos entra no banheiro. Atos senta-se no vaso, abaixa a cabeça.

Atos:

Que merda! Que merda!

Droga de vida. Por que ela

Merece passar por isso?

Por quê?

Revoltado, Atos se levanta e começa a chutar a porta.

Atos:

Por quê? Por quê? Por quê?

Ela não merece. Que porra

Atos chorando encosta-se na porta. Atos continuara chorando.

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INT- HOSPITAL/ QUARTO- MANHÃ

Ana está bem melhor, tá sentada com as costas apoiada nos travesseiros. Está com uma

bandeja de café da manhã no colo. Tá tomando suco no momento. Atos está ao seu lado.

Ana:

Não vai trabalhar?

Atos:

Não. Prefiro ficar com você.

Ana:

Atos, eu não quero te atrapalhar.

Desse jeito você irá perder o emprego.

Atos:

Não importa! Agora coma!

Ana pega o pão da bandeja e o come.

Ana:

Está disposta a passar por uma

Cirurgia?

Ana olha para Atos.

Atos:

É uma cirurgia grave,

De alto risco. Mas

Pode dar certo.

Ana:

Não! Não quero morrer

Em uma mesa de cirurgia.

Ana põe o pão na bandeja. Tira a bandeja do seu colo e dá para Atos. Atos pega a bandeja. Ana

deita-se na cama e vira de lado, de costas para Atos. Atos se retira do quarto. Ana começa a

chorar.

EXT- ESCRITORIO/ DIA

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Escritório grande. Uma mesa bem grande no fundo. Atrás da mesa há uma janela grande com

uma cortina. Em cima da mesa dois computadores, impressora. Alguns objetos. Atos está

sentado na cadeira pensativo, sem ânimo. A porta se abre, Leandro adentra o escritório.

Leandro:

Chegou, Atos?

Pensei que não fosse vir

Trabalhar hoje.

Atos:

Cheguei atrasado.

Passei à noite no hospital.

Leandro:

Ela ainda não melhorou?

Atos:

Tá pior. A radioterapia não ajudou.

O tumor voltou a crescer. Só resta a

Cirurgia, mas é tão grave. A Ana

Não quer fazer.

Leandro:

Ela tem medo, né? É muito arriscado.

Atos:

Eu também tenho medo. Não quero perdê-la.

Tenho muito medo.

Leandro:

Você tá se acabando junto com ela.

Precisa ir para casa descansar.

Olha pra você! Não é o mesmo cara

De sempre.

Atos:

E o que posso fazer?

Não posso largá-la nesse momento.

Leandro:

Claro que não. Mas você precisa

Cuidar de você também se não

Você não vai aguentar. Vai adoecer também.

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INT- HOSPITAL/ CONSULTÓRIO- TARDE

Atos conversa com o médico.

Médico:

Quando os tumores são muito grandes não é possível

removê-los através da via transesfenoidal,

sendo necessário proceder a uma abertura do crânio –

craniotomia. Faz-se uma incisão no couro cabeludo, remove-

se parte do crânio e, afastando o cérebro, remove-se o tumor

separando-o das artérias, veias e nervos adjacentes.

Esta abordagem cirúrgica permite ver melhor

todo o tumor mas acarreta mais riscos pela

necessidade de maior manipulação do tecido cerebral,

podendo haver mais frequentemente lesões neurológicas –

alterações da visão ou dos movimentos dos olhos e

hemiparesia, que é falta de força de um dos lados do corpo.

EXT- RUAS DO RIO DE JANEIRO- DIA

Muito triste e abalado Atos anda de carro pela entre a multidão de pessoas que passam diante

dele. Atos está muito desanimado. Atos permanece dirigindo até chegar em uma outra

avenida. Mais a frente CÍNTIA, uma mulher bonita e loira esperando o sinal fechar. O sinal

fecha, os outros carros param, a mulher atravessa. Atos não percebe o sinal fechado e

continuara dirigindo.

Close shot de Cíntia.

Apavora-se ao ver o carro em sua direção.

Bruscamente Atos freia o carro. O carro próximo a Cintia. Atos abre a porta do carro, sai

correndo e aproxima-se de Cíntia.

Atos:

Você está bem?

Cíntia:

Vê se presta a atenção!

Você poderia ter me matado.

Atos:

Mil perdões!

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INT- QUARTO DO HOSPITAL- NOITE/ 06: 30

Ana está deitada na cama, impaciente.

Ana:

Será que o Atos não virá hoje?

INT- BOATE SEXY CLUB HOUSE- NOITE/ 07: 40

Boite grandaça. Alta agitação, lotadaça de pessoas, na maioria jovens. Esses jovens estão

curtindo ao som da música eletrônica que está estrondando a casa. Há umas mulheres em

cima de um balcão dançando sensualmente, uma delas é Cíntia que estara com um topo

pequeno, short bem curto e uma bota cano alto. Em passos lentos e a admirando as pessoas e

o ambiente, Atos adentra a boite. Atos não olha para as mulheres em cima do balcão vai

direto na atende atrás do balcão.

Atos:

Um dry Martini, por favor!

A atendente começa a preparar o pedido. Atos apóia os braços em cima do balcão. Atos olha

para as mulheres e vê Cíntia. Atos observa Cíntia dançar.

Insert_ a mulher põe o dry Martini em cima da mesa.

Fixamente Atos continuara observando Cíntia dançar em cima do balcão.

INT- QUARTO DO HOSPITAL- NOITE

Ana está muito triste, deitada na cama.

Ana:

Por que ele não virá?

Música triste de fundo. Ana começara a chorar.

INT/ BOITE SEXY CLUB HOUSE- NOITE

Música alta tocando. Várias pessoas dançando ao som da música, algumas se beijando, outras

se agarrando. Numa mesa estão sentados Atos e Cíntia.

Atos:

Nunca poderia pensar, sequer imaginar

que você trabalhasse em uma boite.

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Cíntia:

Fazer o que, né, gato? Eu tenho que ralar.

Cheguei aqui sem nada.

Graça a Deus eu arranjei um trampo nessa boite.

Atos:

Trampa em Boite há muito tempo?

Cíntia:

Sim. Já tenho alguma experiência.

Já dancei em várias boates. E você?

Atos:

Eu?

Cíntia:

É. o que faz aqui perdido na noite?

Atos:

Estou tentando me distrair.

Cíntia:

Então veio ao lugar certo.

Atos:

Espero que sim. Essa é a minha Idea.

Cíntia:

Vamos dançar?

Atos:

Prefiro ficar aqui conversando, com você.

Cíntia sorrir.

INT- BOITE SEXY CLUB HOUS- NOITE

Boite lotadaça, muitas pessoas. Cíntia está com outras garotas dançando sensualmente em

cima do balcão. Atos sentado na mesa as observa. Atos estica o braço com o relógio e vê as

horas.

EXT- RUA/ PORTA DA CASA DELA- NOITE

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Rua vazia e isolada, meio escura. Dentro do carro Atos e Cíntia estão conversando.

Atos:

Então é aqui que você mora?

Cíntia:

É. não quer entrar?

Atos:

Não. Já está tarde e eu preciso ir.

Cíntia:

Para que a pressa, gato? A noite só

Está começando.

Close up de Cíntia

Põe a mão no peito de Atos.

Atos olha para mão dela em seu peito. Lentamente Cíntia vai se aproximando mais dele.

Cíntia:

Tenho certeza que você não irá

Se arrepender.

Atos:

O que você quer de mim?

Cintia:

O que você procurou à noite inteira.

Diversão?

Cíntia o beija.

Atos:

Acho melhor você ir.

Cíntia:

E se eu disse que é melhor eu ficar?

Cíntia passa a mão no pescoço de Atos. Atos tenta fugir disfarçando seu olhar.

Atos: (mais)

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[incomodado]

Olha, eu queria muito entrar.

Mas eu não posso.

Cintia:

É gay?

Atos:

Claro que não. Mas eu não posso.

Tenho uma mulher.

Insatisfeita Cíntia encosta-se no banco.

Cíntia:

Então, você é casado?

Atos:

Amigado. Eu me sinto casado.

Não dizem que amigado com fé,

Casado é? então! Moramos juntos

A alguns meses.

Cíntia:

Se você tivesse me tido antes eu

Não teria perdido meu tempo ao dar

Em cima de você este tempo todo.

Atos:

Mas tenho que te confessar que

Eu estava gostando.

Cíntia:

Então você me deixou ir além

Por que você estava gostando?

Agora eu me senti péssima.

Atos:

Por quê?

Cíntia:

Eu estava investindo nisso. Para

Mim seria sério, por isso peguei carona.

Agora me senti usada numa brincadeira.

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Atos:

Desculpe! Esta não era minha intenção.

Mas podemos ser amigos.

Cíntia:

Claro.

INT- ESCRITÓRIO- DIA/ MANHÃ

Sol radiante do lado de fora penetra a cortina da janela do escritório. Atos está sentado na

cadeira com a cabeça baixa em cima da mesa cochilando.

INT- QUARTO DO HOSPITAL- TARDE

Ana está com as costas apoiada nos travesseiros Atos está sentado à beira da cama. Atos e Ana

dialogam.

Atos:

Eu entendo o seu medo.

Mas a cirurgia é a única

Solução para sua cura.

Ana:

Não quero correr o risco.

Atos:

Eu quero que você se cure.

Ainda temos muitas coisas para viver

Juntos. Se você partir, eu não vou

Aguentar segurar a barra.

Ana:

Por isso eu não quero fazer a cirurgia.

Mesmo que dê tudo certo, mesmo que

Ocorra tudo bem, eu posso ficar cega.

O médico me explicou tudo sobre

As sequelas que poderão ficar.

Atos:

Poderão ficar. Há uma dúvida,

Incerteza. Só tentando que saberemos.

Ana: (mais)

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Você falou que a cirurgia é a

Única maneira de me curar, você se

Engana. Há uma outra maneira.

Atos:

Qual?

Ana:

Deus!

INT- QUARTO DO HOSPITAL- NOITE

Ana está deitada na cama, de barriga para cima, de olhos abertos, pensando. Pensando alto.

Ana:

A vida é cheia de incógnitas que

Nunca será decifrada por ninguém.

Qual é a existência de tanta dor,

Tanto sofrimento? Talvez seja para

Procurarmos por Deus. As pessoas

Só o procura quando está na pior ou

Com algum tipo de problema.

É aquela velha frase:

Venha por amor ou pela dor!

Mas talvez precisamos encontrar

Forças para enfrentarmos o nossos

Problemas e sofrimento através Dele.

INT- BOITE SEXY CLUB HOUSE- NOITE

Boite lotada de pessoas, na maioria jovens. Alguns dançando ao som da música eletrônica,

outras bebendo. Em cima do balcão algumas mulheres dançando, Cíntia está no meio dessas

melhores. Lentamente, Atos adentra a boite e caminha em direção ao balcão. Atos assim que

vê Cíntia dançando no balcão para de andar.

Close shot de Atos

Olhando-a com admiração.

Atos continua olhando-a dançar em cima do balcão. Cíntia o vê, sorrir. Cíntia pisca para Atos.

Atos sorrir.

INT- BOITE SEXY CLUB HOUSE- NOITE

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Boite cheia, lotada de pessoas. Atos está de lado com o braço apoiado em cima do balcão

vendo as meninas dançarem, Cíntia não está no meio delas. Cíntia aproxima-se de Atos.

Cíntia:

Oi. Como vai?

Atos:

Tudo bem?

Cíntia e Atos trocam dois beijos no rosto.

EXT- LADO DE FORA DA BOITE- NOITE

Atos e Cíntia saem do interior da boite saindo do lado de fora onde há alguns carros

estacionados, e nenhum sinal de pessoas.

Atos:

Quer dizer que você brigou

Com o dono da boite.

Desse jeito vai acabar

Perdendo o emprego.

Cíntia:

Azar! Eu disse para ele

Que eu tinha que sair mais cedo para

Resolver um problema, mas ele não

Aceitou. Tudo bem que era mentira! Eu não

Tenho nenhum problema para resolver,

Mas eu não poderia te perder de vista.

Atos:

Você saiu mais cedo por minha causa.

Cíntia:

Você ia embora sem se despedir de mim.

Sei lá, me deu um aperto no coração. Algo

Me dizia que nunca mais te veria.

Atos:

Não sei se me sinto lisonjeado com isso, ou

Me sinto mal. Mesmo que eu não venha mais

Aqui há possibilidades de nos cruzarmos na rua,

Algum dia, em qualquer lugar.

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Cíntia:

Até esse dia chegar você

já terá se esquecido de mim.

Atos:

Que nada! vou lembrar de você como uma amiga.

Cíntia se aproxima mais perto de Atos.

Cíntia:

Eu queria ser muito que isso

Pra você.

Cíntia rapidamente o beija. Atos e Cíntia ficam se beijando.

INT- CASA DE CÍNTIA/ QUARTO- NOITE

Quarto simples, nada muito ostentoso. Apenas uma cama grande no centro, duas cômodas

com alguns objetos e perfumes no fundo, uma sapateira do lado. Um guarda-roupa grande.

A porta do quarto se abre, se beijando Atos e Cíntia entram no quarto. Os dois continuam se

beijando. Atos e Cíntia aproximam-se da cama. Cíntia tira a camisa de Atos. Novamente Cíntia e

atos se beijam rapidamente.

INT- QUARTO- NOITE

Quarto escuro. Atos apenas de short está sentado à beira da cama, triste e muito culpado.

Cíntia está deitada na cama.

Cíntia:

O que foi, Atos?

De repente tudo mudou.

Atos:

Não é nada.

Cíntia ajoelha-se em cima da cama, aproxima-se por trás de Atos apoiando sua cabeça nas

costas dele.

Cíntia:

Me diga o que tá se

Passando em seu coração agora!

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Atos:

Eu não deveria ter feito o que eu fiz.

MÚSICA de fundo bem triste. Imagem escura, negra.

EXT- CALÇADÃO/ RUA- DIA

Rua movimentada, pessoas transitam pelas ruas como alguns carros. Atos está andando pela

rua. Está triste. A câmera acompanha seus passos.

TELA ESCURECE

INT- APARTAMENTO/ SALA- DIA

Caída no chão Ana está chorando muito. As lágrimas escorrem pelo seu rosto.

Ana:

Maldição! Eu nem consigo

Mais ficar em pé.

[chorando]

Minha vida acabou.

Minha vida acabou.

A EMPREGADA, uma senhora sai do interior do apartamento aproximando dela.

Empregada:

Dona Ana, o que aconteceu?

Ana:

Me ajude aqui!

A empregada pega no braço de Ana ajudando-a a se levantar. A empregada a põe no sofá.

Ana:

Pegue meu comprimido,

Por favor!

A empregada sai. Ana encosta a cabeça no encosto do sofá e continua chorando. A empregada

volta à sala com um frasco na mão.

INT- APARTAMENTO/ QUARTO- DIA

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Tv ligada. Encostada nos travesseiros em cima da cama, Ana está dormindo profundamente.

Atos entra no quarto, aproxima-se de Ana. Atos senta-se na beirada da cama, dar um beijo no

rosto dela, e a observa dormir. Ana continua dormindo. Atos se levanta, tira o paletó, afrouxa

a gravata. Atos caminha à janela, onde observa o movimento de pessoas, carros lá em baixo.

Insert_ vista para o mar.

INT- APARTAMENTO/ QUARTO- NOITE

Quarto escuro e silencioso. Atos está deitado na cama com as costa encostada no encosto da

cama. Ana dorme ao seu lado. De repente, Ana acorda.

Ana:

Oi amor!

Nem vi você chegar.

Atos:

Você estava dormindo

Profundamente. Não quis te acordar.

Ana:

Poderia ter me acordado.

Sorridente, Ana vai pra cima de atos colocando as mãos no pescoço dele, o beijando. Ana e

atos continuam se beijando. Atos não muito a fim segura a mão dela tentando retirá-las.

Atos:

Espera aí! Espera aí!

Ana continuara beijando-o, alisando a mão nele.

Atos: [con't]

Espera aí, Ana!

Ana para de beijá-lo e olha para ele.

Ana:

Não quer transar comigo?

Atos, sem graça não diz nada. Ana continua olhando-o esperando por uma resposta.

Atos:

Acho que eu já sei a resposta.

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Ana deita-se na cama e vira de lado. Atos também deita-se e se vira de lado. Silenciosamente

Ana começa a chorar.

INT- APARTAMENTO/ SALA- DIA

A sala está muito iluminada pelos raios solares. No sofá está Ana aos gritos se remoendo, se

contorcendo de dor. Grita muito alto. A empregada, da porta, a observa gritar muito. a

empregada está triste.

Empregada:

Coitadinha!

EXT- LADO DE FORA DO PRÉDIO- TARDE

Atos de terno, gravata e pasta na mão sai do prédio. Algumas pessoas transitam em frente ao

prédio. Atos aproxima-se do seu carro. Atos abre a porta, seu celular toca. Atos põe a mão no

bolso do paletó e retira o celular. Atos atende o celular.

Atos:

Alô!

Cíntia:

Oi, Atos! Tudo bem?

Atos entra no carro. Fecha a porta.

Atos:

Tudo bem. E você?

Corta para:

INT- APARTAMENTO/ SALA- DIA

Ana está deitada no sofá com o corpo retorcido. Cara feia.

Ana:

Por que essa dor não passa?

Já tomei o remédio.

INT- CASA DE CÍNTIA/ QUARTO- NOITE

Em cima da cama Atos nu em cima de Cíntia nua. Cíntia está sendo penetrada por Atos. Os

gemidos de prazer dos dois são intensos.

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Corta lento para:

INT- APARTAMENTO/ SALA- NOITE

Sala meio escura. Ana está dormindo em cima do sofá. A porta se abre, de paletó na mão Atos

adentra o apartamento. Atos aproxima-se de Ana, a observa dormir. Atos se levanta e vai para

o interior do apartamento.

INT- APARTAMENTO/ COZINHA- NOITE

Cozinha pequena, paia com gabinete, em cima dela um filtro. Armário embutido na parede.

Uma mesinha no centro. Um micro-ondas no fundo, um fogão. A empregada está sentada à

mesa jantando. No prato arroz , feijão, bife e batata fritas.

Atos:

[entrando]

Boa noite!

A empregada se levanta. Atos aproxima-se da pia.

Empregada:

Boa noite, senhor!

Atos pega um copo e pega água no filtro.

Atos:

Pode continuar jantando.

Só vim pegar um copo d’água.

Empregada:

Deve estar com fome.

Vou lhe preparar algo pra comer rapidinho.

Espere aí!

Atos:

Não precisa esquentar a cabeça comigo!

Não vou jantar. Não tô com fome.

E como ela passou o dia?

Empregada:

Coitada! Tenho tanta pena dela.

Passou o dia todo sentindo dores.

Coitadinha, meu Deus! (mais)

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É tanto sofrimento para uma pessoa só.

INT- BANHEIRO- NOITE

Dentro do Box, chuveiro ligado, água quente caindo sobre o corpo nu de Atos.

Corta lento para:

INT- APARTAMENTO/ QUARTO- NOITE

De roupão e cabelos molhados Atos chega ao quarto. Ana está deitada na cama.

Ana:

Vem cá, amor!

Atos aproxima-se da cama, a beija.

Atos:

Como você está?

Ana:

Muito bem.

[encosta a cabeça no peito dele]

Com você eu me sinto mais

Segura.

Atos:

Me desculpe!

Ana:

Por?

Atos:

Tenho passado menos tempo com você.

Eu não queria deixá-la sozinha.

Ana:

Tudo bem. Você tem que trabalhar.

Eu não quero empatar a sua vida.

Você tem que vivê-la independentemente

de mim.

Atos: (mais)

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Por que você não procura a sua mãe?

Ana:

Eu não. Ela sabe que estou doente e nem

Mesmo assim me procurou.

Atos:

O que há entre vocês?

Ana:

Minha mãe sempre foi uma péssima mãe.

Me batia muito. Eu saí de casa

várias vezes por causa

Dela. Numa dessas vezes

que eu saí de casa conheci um homem,

morei com ele, estudei.

Desde esta última saída a

nossa relação só piorou.

Atos:

Eu te amo muito, Ana. Eu queria

Que você fizesse a cirurgia.

Ana:

Amor, não vamos estragar esse

momento falando nisso.

Tenho medo desta cirurgia. Já falei!

Eu não quero morrer.

Atos:

Mas você vai morrer se não fizer.

Ana:

Mas vai ser aos poucos.

Não de uma vez.

Chega! Eu não quero falar nisso.

Atos:

[ triste]

Credo! Isso é horrível.

Ter a certeza que vai morrer.

Tudo bem, que morreremos de qualquer

Jeito, mas não sabemos que dia, nem (mais)

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A hora e quando isso acontecerá.

Falando desta maneira parece que

Já tem hora certa, data certa.

Eu não quero pensar nisso.

Ana continuara com a cabeça deitada no peito dele.

Ana:

Só é a realidade.

Me responde uma coisa com

Sinceridade?

Atos:

Claro. O que é?

Ana:

Você me ama ao ponto

De ficar comigo, uma mulher

Condenada à morte?

Atos olha para ela.

Atos:

Ana!

Ana:

Me responda, por favor!

Eu preciso me sentir segura.

Atos:

Eu te amo muito!

Acho que isso já mata

Toda sua dúvida.

Ana:

Eu só queria ser feliz

Como antes.

Atos:

Sinta-se feliz.

Ana:

Não dá. Sinto que há uma bomba (mais)

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Relógio em minha cabeça que

Vai explodir a qualquer momento.

Mas não quero pensar no que pode

Ser. Eu só quero ficar aqui,

bem deitada, ao seu lado.

Sem fazer nada, só na paz.

Não me preocupar

Com nada.

EXT- RUA- DIA

Rua de Copacabana. Cíntia está parada, encostada num ponto de ônibus. Um carro se

aproxima e para perto dela. O vidro da janela do carro se abaixa revelando Atos. Ao vê-lo,

Cíntia sorrir. Lentamente Cíntia aproxima-se da janela do carro.

Cíntia:

Algo me dizia que veria você hoje.

Cíntia põe a mão na maçaneta da porta. Abre a porta e entra.

Corta para:

EXT- PRAÇA TIRADENTES- DIA

Em passos lentos, andando e conversando em pura harmonia estão Atos e Cíntia.

Cíntia:

Então você tá me dando o fora?

Atos:

Não temos nada. E eu não quero ter.

Cíntia:

Assim você me magoa, falando

Isso na minha cara.

Atos:

Desculpe, mas eu quero

Parar de te ver. Eu não posso

Te ver. Eu não posso mais!

Cíntia: (mais)

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Por causa de sua mulher?

Atos:

Lógico.

Cíntia:

Você a ama?

Atos:

Estamos passando por uma crise

Que está mexendo com nossas vidas.

Eu não quero me aproveitar desta

Do que estamos vivendo para arrumar

Desculpa esfarrapada para ficar contigo.

Ela não merece. Não é justo com ela.

Cíntia:

Eu gosto de você.

Eu gosto de passar, ficar

Ao seu lado.

Atos:

Isso não é o bastante pra mim.

Apesar de ser bom ficar ao seu lado

Isso não é o bastante para mim.

Cíntia:

E o que é o bastante pra você?

Diga-me para que eu possa fazer o possível

Pra você me amar.

Atos:

Sinto muito, ok!

EXT- PRAIA- DIA

Praia cheia, lotada de pessoas. As pessoas estão se divertindo, algumas pegando onda e

nadando no mar. Atos anda pelo calçadão, olhando e observando as pessoas na praia. Atos

para de andar e senta-se na beirada do calçadão. Atos continua observando, olhando

fixamente às pessoas que estão no mar.

INT- LEMBRANÇA/ PRAIA- NOITE

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Praia vazia. De sunga Atos está com Ana cabelos compridos e de biquíni dentro do mar

nadando. Atos e Ana ficam em pé na água. Ana começa a jogar água em Atos.

Ato:

Para, para se não eu vou te pegar.

Ana:

Não vai mesmo.

Ana continua jogando água nele. Atos começa a jogar água nela também.

Ana:

Assim não vale!

Ana sai correndo, Atos corre atrás dela. Na areia Atos alcança Ana, a derruba no chão.

Ana:

Ai!

Atos parte para cima de Ana e a beija.

Atos:

Sabia que eu te amo?

Ana:

Não. Sempre achei que você

Não gostasse de mim. Só estava

Comigo por que sou muito gostosa.

Atos:

E quem disse que você é gostosa?

Ana olha para ele com muita surpresa.

Atos:

Eu tô brincando, sua boba!

[beijando-a]

Você é gostosa, gostosinha.

Ana:

[sorrindo]

Repete! Repete!

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Atos:

Você é a minha gostosa, gostosinha,

Gostosona.

Atos e Ana se beijam novamente.

Ana:

Vem!

Ana se levanta e corre para o mar. Atos se levanta também e corre para o mar. os dois entram

no mar. Atos e Ana se beijam novamente.

EXT- PRAIA- DIA

Atos está sentado à beira do calçadão olhando fixamente às pessoas no mar, na praia. Está

triste. Cíntia aproxima-se dele.

Cíntia:

Desculpe! Eu não pude ir.

Atos:

E melhor que não nos vejamos mais.

Cíntia senta-se ao lado de atos.

Cíntia:

Por que é tão triste?

Atos:

Eu não sou triste.

Cíntia:

O seu olhar é. transparece isso.

Você deve ser muito infeliz com

A sua mulher.

Atos:

Eu não sou infeliz com a Ana.

Eu a amo.

Cíntia:

O nome dela então é Ana?

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Atos:

Eu não quero fazer nada que a magoe.

Traí-la eu vou magoá-la.

Cíntia:

Acho que é por isso que eu estou

Amarrada, gamada por você.

Atos:

Por?

Cíntia:

Por você ser assim. Hoje em dia

Não se encontra mais homens assim

Como você. ela deve ter sorte de tê-lo

Por perto.

Atos:

Mas isso não quer dizer que não

Podemos ser amigos.

Cíntia:

Acho que não dá pra ser amigo de

Quem a gente gosta pra valer.

Atos:

Mas podemos tentar.

INT- APARTAMENTO/ BANHEIRO- NOITE

Ana está com a cabeça abaixada no vaso, vomitando muito.

Ana:

[ para de vomitar]

Quando é que este inferno vai acabar?

Eu já não aguento mais, senhor.

Quando esse inferno vai acabar?

INT- QUARTO- NOITE

Ana está enroscada na cama. Tá triste, chora muito.

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Ana:

[chorando]

O que estou fazendo nessa droga

De mundo? Quero que tudo isso

Se acabe logo de uma vez.

Eu só quero morrer!

INT- APARTAMENTO/ SALA- MANHÃ

Ana sai do interior do apartamento chegando à sala. Ana aproxima-se da mesa onde tem um

telefone. Ana pega o telefone, retira-o do gancho e disca um número.

Ana:

Que droga!

Nem pra isso minha mãe serve.

Ana põe o telefone no gancho. Ana aproxima-se do sofá e deita-se nele.

INT- APARTAMENTO/ QUARTO- DIA

Ana aos prantos sai do banheiro chegando ao quarto. Ana se joga na cama e continuara

chorando. Com raiva Ana se levanta, aproxima-se da janela. Ana com euforia e raiva arranca a

cortina da janela, aproxima-se da cômoda e joga os objetos que estão em cima dela no chão,

aproxima-se da cama, pega a coberta com força jogando-a no chão. Ana começa a bater na

cama com muita força.

Ana:

[chorando]

Droga! Droga! Droga!

Close shot de Ana

Batendo na cama com muita força.

Ana pega a coberta e o lençol no chão, e joga pra cima com muita força. Aproxima-se da

cômoda e abre as gavetas. Ana joga os objetos que estão nas gavetas para fora. Ana bate na

cômoda.

INT- QUARTO- NOITE

O quarto está escuro. Está bagunçado, revirado. Roupas e cobertas espalhadas pelo chão,

alguns objetos, gavetas. Ana está dormindo profundamente no chão em cima das cobertas. A

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porta do quarto se abre, Atos entra. Atos fica perplexo ao ver o quarto bagunçado daquele

jeito.

Atos:

O que aconteceu aqui?

Atos aproxima-se de Ana. A pega no colo e a coloca em cima da cama. Ana continuara

dormindo profundamente.

Atos:

Não se castigue, meu amor!

Não se castigue!

INT- QUARTO- NOITE

O quarto está escuro. Está bagunçado, revirado. Roupas e cobertas espalhadas pelo chão,

alguns objetos, gavetas. Ana está dormindo profundamente no chão em cima das cobertas.

Sem camisa e de barriga para cima Atos está dormindo ao lado de Ana. Ana abre os olhos, olha

para o lado, ao ver Atos sorrir. Ana aproxima-se do rosto de Atos, o beija na boca.

Ana:

Eu te amo tanto, Atos!

Eu te amo tanto.

Novamente Ana o beija. Olha ele dormindo profundamente. Ana o beija novamente. Atos abre

os lhos.

Atos:

Ana? Como você está?

O que aconteceu aqui.

Ana:

Nada. depois eu arrumo

Esta bagunça. Vem cá!

Ana parte para cima do corpo de Atos ficando em cima dele. Ana começa a beijá-lo, a alisar sua

mão nele, a pegar no pescoço dele. Atos tenta fugir.

Atos:

Ana! Ana!

Atos tenta tirá-la de cima dele, mas Ana continua beijando-o. Ana beija seu peito.

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Atos:

Para Ana! Para!

Ana continuara beijando-o, agarrando-o, passando a mão nele.

Atos:

Para Ana!

Agressivamente, Atos retira Ana de cima dele. Ana entristece.

Atos:

Desculpe!

Ana:

Você não quer transar comigo, não?

Não me deseja mais, não?

Furiosa Ana se levanta da cama.

Ana:

Miserável. Eu sabia. Eu sabia. Que droga!

Você não me deseja mais.

Atos:

Ana!

Ana:

Você não me deseja mais, você não me

toca mais só por que sou essa

mulher que sou agora.

Como pode me desprezar dessa maneira?

Tem tanto tempo que você não me toca,

não me dá um carinho. Eu estou carente disso, pô!

Eu preciso sentir o seu toque, a sua pele, o seu cheiro.

Você me nega isso!

Atos levanta-se da cama aproximando-se dela. Ana se afasta se encurralando na parede.

Ana:

Não vem que não tem.

Você anda me traindo. Você anda me

traindo com outras mulheres, não?

Por isso não me procura mais. Por quê?

desde quando eu passei a ser algo descartável (mais)

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pra você? Por quê? Por que estou

doente, por que estou parecendo um ET?

Ana começa a bater na parede com muita raiva.

Ana:

Droga! Droga! Droga!

Atos:

Ana! Calma, Ana!

[segurando-a]

Ana furiosamente continua batendo, incontrolavelmente na parede.

Ana:

Eu não quero saber de mais nada!

Pra mim essa vida é uma droga. Você nem

me ama mais, você nem quer fazer mais

amor comigo. Eu sou um nada!

Eu me transformei em um nada.

Atos a segura fortemente abraçando-a. Ana chora em seus braços.

Ana:

Eu quero morrer.

Atos:

Eu não quero que morra.

Ana:

Eu quero morrer. Essa vida não tem

mais sentido. Não tem mais sentido.

Você não me ama mais.

Atos:

Eu te amo, Ana.

Ana: não, não me ama.

Atos:

Eu te amo, sim.

Ana: eu sou um nada!

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INT- QUARTO- NOITE

Ana está profundamente dormindo na cama. Atos sem camisa e de short está deitado na

beirada da cama observando-a dormir. Atos deita-se na cama, fecha os olhos.

INT- QUARTO- MANHÃ/ 07:00

Atos sem camisa e de short está dormindo em cima da cama ao lado de Ana. Atos acorda, olha

para a escrivaninha ao seu lado. Atos pega o relógio em cima da escrivaninha e olha as horas.

Atos ao ver as horas levanta-se rapidamente.

EXT- CASA DE CÍNTIA- MANHÃ

Atos aproxima-se da porta da casa. Bate na porta. Cíntia, de robe, abre a porta.

Atos:

Oi!

Cíntia:

Atos!

Atos:

Posso entrar?

Cíntia:

Claro. Entre!

Cintia arreganha a porta. Atos entra.

INT- SALA- DIA

Atos chega à sala lentamente. Cíntia acaba de fechar a porta. Atos para de andar ficando de

costas para ela. Cíntia caminha até ele.

Cíntia:

O que devo a honra de sua visita?

Atos vira-se a ela.

Cíntia:

Acho que na última conversa que

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tivemos você foi tão duro comigo.

Atos:

Você vai me achar maluco. Talvez, eu seja

um maluco mesmo. Mas não sei!

Eu não sei por que vim aqui. Há algo

que me atraiu até aqui. Eu quis vir

e não sei por quê.

Cíntia:

Atos, sinta-se à vontade comigo!

Você sabe que comigo você não tem

por que ficar tenso.

Atos:

Eu pareço tenso? Eu estou tenso.

Eu sei que estou tenso. E não

sei por que estou tão tenso.

Cíntia:

Você precisa relaxar. Vamos para o quarto!

Atos:

Para o quarto?

Cíntia:

Você precisa de uma boa massagem.

Vem!

Cíntia pega na mão de Atos puxando-o. Atos se mantém parado.

Atos:

Espera aí!

Cíntia olha para Atos.

Atos:

Eu quero amar você.

Corta para:

INT- EMPRESA/ SALA- DIA

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Sala grande, recepção com um mesa com um computador em cima, impressora, cadernos,

papeis, agendas, lápis. Ana adentra a sala indo até a mesa onde há uma moça bem bonita do

sentada.

Ana:

Bom dia!

Eu quero falar com o

Atos Medeiros!

Secretária:

Ele não veio trabalhar hoje.

Ana:

Como não?

Secretária:

Até agora ele não chegou, senhora.

INT- CASA DE CÍNTIA/ QUARTO- TARDE

Atos está nu sentado à beira da cama. Está de cabeça baixa. De camisão, Cíntia adentra o

quarto, deita-se na cama.

Cíntia:

O que foi, Atos?

Cíntia senta-se ao lado dele.

Cíntia:

Me diga o que tá acontecendo?

Até agora você não me disse nada.

Por quê?

Atos:

Eu não posso mais continuar com isso

Cíntia:

Por causa de sua mulher?

Atos:

Ela é doente.

Cíntia: (mais)

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Doente?

Atos:

Tem um tumor cerebral.

Eu não posso fazer isso com ela.

Ela já sofre muito.

Cíntia:

Eu sinto muito, Atos!

Atos:

Eu estou confuso.

Close shot de Atos

Chorando.

Cíntia o abraça.

EXT- RUAS DA FAVELA- NOITE

Rua solitária e vazia. Cíntia está andando na rua. Cíntia aproxima-se de um barraco pequeno.

Cíntia bate an porta. Uma senhora de 55 anos abre a porta.

Cíntia:

Oi!

Senhora:

O que você faz aqui?

EXT- DENTRO DO BARRACO- DIA

Sala pequena, pouco móveis. Um sofá velho no fundo da parede. Ana está sentada no sofá.

A senhora sai do interior do barraco chegando à sala.

Senhora:

Aceita um um golinho de café?

Acabei de passar.

Ana levanta-se do sofá aproximando-se dela.

Ana:

Nossa! Nós duas parecemos que (mais)

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nem nos conhecemos. Essa frase:

você aceita um golinho de café?

Nos deixa tão distantes. Por quê?

Nem parecemos mãe e filha.

Senhora:

Deixe de bobagem e diga logo o

que você quer.

Ana:

Você nem foi me ver no hospital.

Senhora:

Eu estava muito ocupada?

Ana:

Ocupada fazendo o que?

Ocupada com o seu próprio umbigo?

Senhora:

Não seja mal criada.

Mas que bom que está bem.

Ana:

Não. Eu não estou nada bem.

E você sabe disto?

Senhora:

Está na minha frente.

Ana:

E só por isso acha que estou bem?

Realmente eu não saí do seu ventre.

Senhora:

Eu te criei.

Ana:

Só me criou mesmo.

Ainda bem!

Não tenho a mesma

genética que você.

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Senhora:

O que você quer, Ana?

Ana:

Por que me odeia tanto?

Senhora:

Eu não te odeio, Ana.

Você é minha filha de criação.

Você é uma mulher adulta.

Não precisa mais de mim.

Ana:

Eu preciso de amor.

Senhora:

Sem essa, Ana!

Ana:

Cadê meu irmão?

Senhora:

Está preso.

EXT- LADO DE FORA DO BARRACO- DIA

A porta se abre. Ana sai de dentro do barraco. Ana está triste. Seus olhos estao merejando

lágrimas.

Ana:

Essa mulher não tem coração.

Nem com eu assim ela

se comove, me dá a mão.

Ela não presta!

INT- COZINHA- NOITE

Ana está na pia picando legumes. Está de costas virada à porta. Atos adentra a cozinha.

Atos:

Ana, como está?

Atos aproxima-se de Ana.

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Ana:

Oi, amor! Tudo bem?

Atos:

Tudo bem. E você?

[a beija]

Ana:

Por que você não trabalhar hoje?

Atos:

Eu fui trabalhar hoje.

Por quê?

Ana:

Hoje eu estive na empresa te

procurando e me disseram

que você não estava lá.

Atos:

Estranho. Que horas?

Ana:

Era de manhã. Onde foi?

Atos:

[pausa]

Em lugar nenhum.

Me atrasei.

Encontrei com um amigo meu.

Vou tomar um banho.

Atos caminha em direção a porta.

Ana:

Por quê?

Atos para de andar, vira-se a ela. Atos estranha ela dizer.

Ana:

[ vira-se]

Passamos tão pouco tempo juntos.

E quando passamos somos tão frios

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um com o outro. Diga-me por quê!

Atos:

Nada a ver. É impressão sua!

E normal a relação, às vezes,

cair na rotina. Não se preocupe

com isso, meu amor!

Ana:

[aproxima-se dele]

Eu sei que é normal. Mas

tenho o direito de me sentir

insegura, ainda mais como

estou agora.

Atos:

Não ponha a doença entre nós.

Ana:

Mas é ela que está nos separando.

Atos:

Não viaja!

Ana:

Você tem nojo de mim, não tem?

Atos estranha a pergunta.

Ana:

Pode dizer. Você tem nojo de mim?

Atos:

Não.

Ana:

Eu sei que tem.

Atos põe as duas mãos no rosto dela.

Atos:

Para de se tortura, Ana!

Para! Eu te amo.

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Atos a abraça.

Atos:

Eu te amo.

INT- QUARTO- NOITE

Quarto escuro. Atos e Ana estão transando em cima da cama. Atos está em cima de Ana

penetrando-a. Ana agarra fortemente seu corpo, beijando e alisando. Atos a beija muito

fortemente.

INT- QUARTO- NOITE

janela aberta. Quarto escuro. Atos está dormindo profundamente em cima da cama. Ana está

de camisola com um cigarro na mão fumando-o, encostada na janela aberta, olhando para

Atos.

Ana:

Você já não me ama mais.

Eu sinto isso!

Ana começa a chorar.

INT- SALA- NOITE

Chorando muito Ana está sentada em cima do sofá. O aparelho do som está ligado. Música

lenta tocando.

INT- RESTAURANTE- DIA

Restaurante vazio, duas pessoas sentadas no fundo do restaurante. Atos e Ângelo, senhor de

56 anos estão sentados a mesa que há uma garrafa de cerveja.

Ângelo:

[pondo a cerveja no copo]

Não vai beber, meu filho?

Atos:

Não. Você sabe que eu não bebo.

O que você quer conversar comigo, pai?

Ângelo:

Eu sou seu pai. Tenho o direito de

vê-lo a hora que eu quiser.

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Atos:

Chega de embromação!

Ângelo:

Você anda muito sumido. Sua mãe está

muito preocupada com você.

Atos:

Eu não estou com tempo para ficar

paparicando você e a mamãe.

Ângelo:

Não é paparicar, mas nos ver.

Somos seus pais. Nós te amamos.

Você está abatido. O que tá acontecendo?

É aquela mulher, não é?

Atos:

Aquela mulher é a minha esposa.

Ela tem nome.

Ângelo:

Eu sabia que àquela mulher iria estragar

a sua vida. Uma mulher que tá condenada

à morte. O que você fará com uma mulher

com ela, praticamente morta?

Atos:

Ela não vai morrer.

Ângelo:

Pior ainda. Você vai ter que cuidar dela

o resto da sua vida, se ela não curar.

Pelo visto isto não tem cura, pois ela nem

quer se operar. Pra quê ficar com uma

mulher condanada à morte?

Atos:

Eu a amo.

Ângelo:

Isto não é o suficiente, Atos.

É melhor que você a magoei agora (mais)

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terminando com ela do que você

magoá-la traindo com uma mulher

qualquer por que é isso que vai acontecer

mais cedo ou mais tarde. Pode escrever!

Você vai cansar da vida que tá levando,

vai se cansar de todos os problemas

e vai acabar nos braços de outra.

Vai magoá-la.

Close up em Atos

Pensativo ao ouvi-lo.

EXT- RODOVIA/ DENTRO DO CARRO- TARDE

Música triste tocando. Atos está dirigindo o carro em alta velocidade. Olhares atentos a tudo

que está passando pela frente. Atos está triste e pensativo.

Atos:

Ele tem razão!

INT- QUARTO- NOITE

Quarto escuro. Ana está sentada à beira da cama chorando silenciosamente. Atos está em pé

de costas virada para ela com as mãos apoiada em cima do móvel.

Ana:

Não é possível que você fez isso.

Atos:

Eu sinto muito, Ana!

Ana levanta-se aproximando-se dele.

Ana:

Vai te catar! Vai te catar!

Você não sente nada porque

se sentisse não teria feito

isso comigo. Desgraçado!

Miserável!

[dá um tapa no braço dele]

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Atos:

Aconteceu.

Ana:

Não venha come este papo que

os homens dizem às mulheres quando

as traem só para se sentirem melhor,

para aliviarem a dor na consciência.

Atos:

Eu sei que errei, que eu não deveria ter feito isso.

Nada que eu fiz diminuiu o meu amor por você.

Entenda!

Ana:

Eu não tenho nada o que entender.

Você é que me traiu. [grita] covarde!

Covarde! Covarde!

Atos:

Ana!

Ana:

Você é um covarde! Eu aqui em casa, doente

nem indo à faculdade e, você por aí,

com outra mulher.

Você é um covarde! Covarde!

Atos:

Eu me senti culpado por isso. Para me

redmir da culpa que eu estou sentindo por

ter feito isso eu achei melhor lhe contar

toda a verdade.

Ana:

Isso não redme a sua culpa!

[chorando]

Pô, que sacanagem!

Eu não esperava isso de você.

Apesar de ter uma leve desconfiança,

eu não esperava isso de você. Eu sempre

confiei em você, em todos os momentos,

esse tá sendo o mais crítico. Você não (mais)

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deveria ter feito isso comigo.

Ana com raiva aproxima-se da mesa, pega o abajur e joga no chão. Atos se aproxima de Ana.

Atos:

Ana!

[põe a mão nela]

Ana:

[se afasta]

Tira a mão de mim! Tira a mão de mim!

Não toque em mim! Não toque em mim!

Atos:

Vamos conversar, Ana!

Ana:

Ah, falar sobre o que? Que você me traiu

por que não estava mais aguentando

ficar com uma mulher como eu, uma mulher

com câncer no cerebro, que a qualquer

momento pode morrer? É isso que você

quer conversar comigo? Se for isso pode

cair o fora!

Atos:

Não.

Ana:

Eu sabia que seria esta doença que

nos separaria. É por causa dela

que te causou desinteresse em mim.

Eu sabia. Eu sabia.

Sai do quarto!

Atos:

Ana!

Ana:

Sai do quarto!

Atos lentamente se retira do quarto. Ana começa a chorar. Deita-se na cama chorando.

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Ana:

Por que ele tinha que

fazer isso, meu Deus?

Quebrou-me em mil pedaços.

INT- SALA- NOITE

Atos está deitado em cima do sofá, deitado com a barriga para cima com a cabeça em cima do

braço do sofá. Está pensativo. Música de fundo tocando.

INT- SALA- NOITE/ 0 HORAS

Atos está dormindo em cima do sofá de barriga para cima com a cabeça encostada no braço do

sofá. Ana com uma mala não mão chega à sala. Ana aproxima-se bem perto de Atos. Ana põe a

mala no chão. Ana o observa dormir. Atos abre os olhos.

Atos:

Ana!

Close shot de Atos

Olha a mala no chão.

Atos:

Onde você vai, Ana?

Ana:

Embora. Este é seu apartamento.,

sou eu quem tem que sair daqui.

Atos levanta-se do sofá.

Atos:

Não, Ana! Não!

Ana:

É melhor assim!

Eu tenho que partir.

Atos:

Eu não quero que vá.

Atos aproxima-se dela e a abraça.

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Atos:

Eu não quero que vá.

Me perdoa! Me perdoa!

Isso não vai mais acontecer.

Me perdoa!

Ana:

Não dá. A confiança foi quebrada.

[se afasta]

Atos:

Mas podemos reconstruí-la.

Eu sei. Nós nos amamos. Vamos nos

dar uma segunda chance, me dê uma

segunda chance. Não vamos desistir

de lutar. Já chegamos até aqui!

Não vamos nos fracassar.

Ana:

Você me magoou muito.

Atos:

Por isso peço perdão.

Ana:

Não. Você acha o que? Que pedir

perdão vai apagar o mal que você me causou?

Que vai apagar a dor que você me causou?

Não vai não.

Atos:

Eu sei que não vai.

Mas é a melhor forma que temos

para nos redimirmos que

é nos humilharmos.

Ana:

Você não vai me convencer.

Eu quero ir. Eu preciso de um

tempo. Um tempo longe de tudo.

Ana põe a mão na mala pegando-a. Ana com a mala na mão caminha à porta. Atos a observa

partir. Ana abre a porta. Ana olha para trás.

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Ana:

Vai ser melhor assim.

Atos:

Ana!

Atos corre até Ana. Atos a abraça.

Ana:

Não vai, por favor!

Não vai. Não vai!

Close shot de Atos e Ana

abraçados entre a porta. Ana chora.

Ana:

Não vai dar. Você estragou tudo.

Atos:

Deixe eu consertar!

Ana:

Você não me ama. Só está

com pena de mim.

Atos:

Nada a ver. Eu te amo, sim.

Atos a beija intensamente.

Corta para:

EXT- QUARTO- NOITE

Quarto escuro, a luz do abajur está acesa. Na cama está deitado Atos de barriga para cima sem

camisa de cabeça encostada na cabeceira. Ana está deitada em seu peito.

Ana:

Eu queria ficar assim. É tão

bom ficar assim. É como se

todos os problemas tivessem

acabado. É um sonho.

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Atos:

É um sonho, esquecer que há

vida lá fora, que quando fecharmos

os olhos e o abrirmos teremos

que voltar à vida real.

Ana:

Eu não quero voltar à vida

real. Quero ficar aqui com você.

Os dois ficam em silêncio.

Ana:

Obrigado, Atos!

Atos:

Por?

Ana:

Por ter sido leal comigo.

Me contou sua mentira.

Atos:

Era a única coisa que eu

podia fazer.

Ana:

Eu te afastei de mim.

Os meus problemas

te afastaram de mim.

Atos:

Os seus problemas são meus também.

Eu não fiquei com outra mulher

por que me afastei de você.

Aconteceu e não sei por quê.

INT- PRÉDIO/ GARAGEM- DIA

Atos caminha na garagem do prédio onde há vários carros. Atos caminha até seu carro. Atos

abre a porta do seu carro. Cíntia surge por trás dele.

Cíntia: (mais)

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Atos!

Atos:

Cíntia!

Cíntia:

Precisamos conversar.

Atos:

Claro.

EXT- RUA/ DENTRO DO CARRO- DIA

O carro está estacionado próximo ao meio-fio da rua. Atos e cíntia estão dentro do carro.

Cíntia está triste.

Cíntia:

Por que não há chances entre a gente?

Não me fala isso, por favor!

Atos:

Eu quero ficar com a minha mulher.

Cíntia:

Ela está doente.

Atos:

E eu não a abandonarei por isso.

Vou ficar do lado dela em tudo

que ela precisar. É assim que tem

que ser. Era pra ser assim desde o

início.

Cíntia:

E nós?

Atos:

Não há nós. Eu já te disse.

Ela já.

Cíntia:

Sabe?

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Atos:

Eu contei para ela.

C íntia:

Você não poderia ter feito isso.

Atos:

Eu tinha que ser leal com ela.

Cíntia:

Merda!

Cíntia, com raiva, bate na porta do carro.

Cíntia:

Eu amo você.

Atos:

Sinto muito!

INT- IGREJA- TARDE

Igreja vazia, um silêncio enorme. Lentamente, Ana entra na igreja indo à primeira fila de

bancos. Ana ajoelha-se diante ao altar.

Ana:

[faz o nome da cruz]

Senhor, eu não vou perguntar por quê,

só pedirei forças. Forças para aguentar esse

calvario que está a minha vida.

Por favor, me ajude a enfrentar todas as

barreiras que haver em minha vida.

Eu quero atravessá-las. É tão paralisante

se sentir assim como eu estou agora.

Eu quero continuar, mas tenho medo.

Me mostre o melhor caminho.

INT- SALA DO ESCRITÓRIO- DIA

Atos está sentado na cadeira digitando em seu computador que está em cima da mesa. A porta

se abre, Atos olha para a porta. Alegremente Ana adentra o escritório.

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Ana:

Oi, meu amor!

Atos se levanta da mesa aproximando-se dela.

Atos:

Oi, que supresa agradável você

aqui. Adorei!

Atos a beija.

Atos:

O que devo a honra de sua visita?

Ana:

Nada. Tem que haver um motivo

para eu visitar o meu marido no seu

serviço? Acho que não, né?

[o beija]

Mas essa visita tem um motivo

muito especial.

Atos:

Qual?

Ana:

Quero fazer a cirurgia.

Atos sorrir, muito feliz. Atos a abraça.

Atos:

Que ótima notícia, meu amor!

EXT- RUA/ CALCADA- TARDE

Algumas pessoas transitando pela rua no vai e vem. Atos e Ana de mãos dadas estão andando

indo. Cíntia vem andando na mesma direção que eles, Cíntia olhando passa sobre Atos que

olha para ela também. Ana percebe o olhar de Atos para Cíntia.

EXT- DENTRO DO CARRO/ RUA- TARDE

Atos e Ana estão dentro do carro conversando. Há um clima tenso.

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Ana:

Toca esse carro!

Atos:

Primeiro quero saber se você

tá bem.

Ana:

Como você acha que estou depois

que conheci a mulher com quem

você tem um caso.

Atos:

Tinha. Não tenho mais.

Ana:

Tinha ou tem, isso não importa mais.

O que importa é que estou ferida,

magoada, de novo.

Atos:

Eu não quis mentir pra você,

por isso te falei quem ela era.

Ana:

Até a lealdade machuca.

Mas acho que a mentira machuca

mais. Magoa mais que a lealdade.

Atos:

Por isso, meu amor, vamos esquecer

o passado. Deixar tudo para trás.

Vamos começar o nosso ponto de

partida daqui.

INT- CORREDOR DO HOSPITAL- NOITE

Imagem escura. Corredor vazio, alguns enfermeiros transitando. Atos está sentado no banco,

pensativo. Ângelo adentra o corredor, aproximando-se de Atos.

Ângelo:

Atos!

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Atos:

O que você faz aqui, pai?

Ângelo:

Te dando uma força.

Não é para isso que servem os pais?

Atos:

Acho que você veio certificar se

daria tudo errado, mas eu vou

te dizer uma coisa: Não vai dar, não!

Ângelo:

Claro que não vai dar. Filho,

não é só por que eu não te apoei por

ficar do lado dela nesse estado é que

eu quero que ela morra.

Eu seria um monstro.

Atos:

Eu não quero perdê-la, pai.

Ângelo:

Já começou a cirugia?

Atos:

Não. Ela está no quarto.

Ângelo:

Como vai ser?

Atos:

Eles vão abri o crânio devido

o tumor está grande demais.

Essa é a única maneira.

Ângelo:

Saiba que eu estarei aqui.

INT- QUARTO- NOITE

Ana está deitada na maca. O quarto está vazio. Atos abre a porta e entra. Ana sorrir ao vê-lo.

Atos aproxima-se de Ana.

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Atos:

Como você está?

Ana:

Bem, na medida do possível.

Ainda bem que veio.

Essa pode ser a última vez

que nos vemos, que eu o

verei.

Atos:

Ana!

Ana:

Atos! Temos que ser realistas.

Talvez eu morra na mesa de cirurgia.

Atos:

Não!

Ana:

A cirurgia é complicada, você sabe.

Atos:

Eu não aguento pensar nesta hipótese.

Porque eu amo você.

Ana:

Eu também te amo, e é isso que mata.

É isso que me dói profundamente.

Saber que eu escolhi, talvez, morrer.

Saber que talvez eu não estarei aqui

pra vê-lo acordar num belo dia de sol

de verão como todos os verões que

passamos juntos.

Atos:

Não fala mais nada.

Ana:

Eu só quero que me prometa algo.

Atos: (mais)

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Para! Para! Ana. Eu não consigo prometer nada.

Eu queria, do fundo do meu coração que isto

não estivesse acontecendo.

É algo do qual não posso controlar,

isso me dá uma sensação de impotência,

pois todos os nossos sonhos se acabarão.

Te ver nesta cama é tão triste! Só me faz

ter a certeza que a vida é incerta demais,

que a vida é frágil demais, e que não temos

o total controle sobre ela. Que qualquer

caminho que percorreremos ela só

nos levará a um caminho, ao da morte.

Ana:

A vida foi cruel comigo, e não sei por quê.

Eu sempre me senti castigada por algo que

eu nunca cometi. Eu perguntava a Deus:

Por que eu? Mas tudo que eu aprendi com esta

doença é que não há culpado. As coisas

só acontecem nas nossas vidas sem

que pra isso haja um planejamento.

Isso faz parte da vida, e eu, estou

vivendo a vida como ela é;

cheia de dores e alegrias.

Quando eu morrer quero que siga em frente!

Atos:

Não! Não! Você não vai.

ANA:

Não tenha medo. Admita!

Quero que siga em frente sem pensar

no que vivemos juntos. Você vai ser feliz

encontrará uma pessoa que você possa

amar como o mesmo amor que você me amou.

A vida segue em frente. Ela não para! Por

isso quero que você siga em frente.

Atos:

Não vamos pensar assim!

Não vamos fazer assim!

É sórdido demais. .

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Ana:

Me prometa que vai seguir em frente!

Me prometa, pô! Eu preciso ir com

esta promessa.

Atos:

Não me peça pra prometer isso.

Eu não conseguirei.

Ana:

Apenas prometa!

Atos:

Eu prometo.

Ana:

Sinto que estamos, nós dois

no abismo, mas eu não tenho

medo. Agora eu não tenho medo.

Atos:

Ana!

Ana::

Agora eu só quero que deite do meu

lado e adormeça comigo. Pode?

Atos deita-se na cama ao lado de Ana. Atos começa a chorar silenciosamente. Ana começa a

chorar silenciosamente.

Fusão para:

INT- CORREDOR DO HOSPITAL- NOITE

Corredor vazio. Atos está sentado no banco do corredor. Está apreensivo, nervoso e tenso. Stá

com as duas mãos apoiada no rosto, rezando.

Atos:

Meu Deus, faça que nada

dê errado!

Ela merece viver.

INT- SALA CIRURGICA- NOITE

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Sala grande. Ana dormindo está deitada em cima da maca. Há cincos médicos, todos

uniformizados em volta da maca com Ana. Há uma mesinha do lado cheia de ferramentas,

bisturi, tesoura e etc...

Médico:

Prontos para começar?

O médico pega o bisturi aproximando-se da cabeça de Ana.

Corta para:

INT- CORREDOR DO HOSPITAL- NOITE

Atos está em pé encostado na parede do corredor do hospital. Está suando frio. A Senhora,

mãe de Ana, adentra o corredor e aproxima-se dele.

Senhora:

E a Ana?

Atos:

Você aqui.

Senhora:

O que é? Ficou espantado

em me ver, meu filho?

Atos:

Sim. Não esperava em vê-la aqui.

Você nunca ligou para a Ana.

Senhora:

Ela está bem?

Atos:

Está. Ficará feliz em saber

Que você tá aqui.

Senhora:

Eu não vim para ficar.

Só vim saber se ela está bem.

Atos:

Que tipo de mãe você é que

nem liga para o que a filha tá passando?

Será que eu posso te chamar de mãe, ou (mais)

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uma mulherzinha qualquer? Nem uma

cachorra que é um animal irracional age

da maneira como você age com a Ana.

Senhora:

Cala boca, cara! Você não sabe de

nada sobre mim e a Ana.

Nunca fomos ligadas uma na outra.

Eu só a criei, nem mãe de verdade

dela eu sou.

Atos:

Acho que eu não tenho motivos

para dizer a ela que você esteve aqui.

Senhora:

Isso se ela sair viva daquela sala.

Atos:

Se Deus quiser, vai!

Acho bom mesmo a Ana ficar

Longe de pessoas iguais a você.

Ela precisa de pessoas boas por perto.

INT- CORREDOR DO HOSPITAL- NOITE

Corredor vazio. Atos dormindo sentando no banco.

INT- UNIDADE DE TERAPAIA SEMI-INTENSIVA- NOITE

Sala vazia, Ana está deitada de barriga pra cima em cima da cama. Sua cabeça está enfaixada.

Atos, pelo vidro, do lado de fora da unidade de terapia semi-intensiva observa-a dormir

profundamente.

EXT- FRENTE DO HOSPITAL- MANHÃ

Atos sai do interior do hospital para fora. Pessoas transitam sobre o local. Atos para em frente a

porta do hospital. Está abatido, dormiu mal. Atos encosta na porta do hospital, abaixa a

cabeça. Cíntia se aproxima de atos.

Cíntia:

Atos!

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Atos:

O que você faz aqui?

Cíntia:

Eu liguei para o escritório onde

Você trabalha. Me disseram que estaria aqui.

Atos:

Por que veio? Eu já disse para não me

Procurar mais. Minha esposa acabou de passar

Por uma cirurgia gravíssima.

Cíntia:

Eu sei. Senti falta de você. como ela está?

Atos:

Graças a Deus a cirurgia correu tudo bem,

Estamos esperando-a acordar. Acho melhor

Você ir embora!

Cíntia:

Não me expulse de sua vida assim, Atos!

Atos:

Ah, não! De novo com esse papo pra cima de

Mim. Eu já disse que não vai dar.

Cíntia:

Credo! Não precisa ser grosso.

Atos:

Às vezes é preciso ser sim.

Desculpe, mas saia do meu pé!

Atos entra para dentro do hospital. Cíntia, com decepção, o olha entrar.

INT- RUA/ DENTRO DO CARRO- DIA

Música de fundo. Atos, pensativo está dirigindo o automóvel. Está concentrado olhando

fixamente à sua frente.

INT- ESCRITÓRIO- DIA

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apressadamente, Atos abre a porta e entra. Atos fecha a porta. Aproxima-se da mesa. Atos

senta-se à mesa. Atos está aflito. Atos levanta-se e abre a janela.

TELA ESCURECE

INT- QUARTO DO HOSPITAL- NOITE

Ana está dormindo profundamente na cama. Atos abre a porta do quarto, entra. Atos

aproxima-se de Ana. Atos observa Ana dormir. O neurologista entra no quarto.

Neurologista:

Ela vai ficar bem.

Atos:

Você tem certeza que não há

mais risco, que o tumor foi

totalmente retirado?

Neurologista:

Claro. Fizemos todos os procedimentos

necessário. A cirurgia ocorreu muito bem.

Mas durante cinco anos ela terá

que fazer enxames períodicos para ter

certeza que o tumor não voltou.

Atos:

Ela levará uma vida normal.

Neurologista:

Claro. Ela poderá e deverá levar uma

vida normal. Sair, beber, se divertir, namorar.

Estudar, ter filhos. Tudo isso ela poderá fazer.

TELEA ESCURECE

EXT- PORTA DO HOSPITAL- NOITE

Cíntia está andando na rua em frente o hospital. Atos sai de dentro do hospital. Cíntia caminha

em direção a Atos. Cíntia aborda Atos.

Cíntia:

Olá, Atos!

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Atos:

Cíntia!

Cíntia:

Sei que você não quer mais me ver.

Nem sei porquê eu vim aqui.

Talvez por que eu não tenho vergonha

na cara, ou, talvez seja por que não tenho

orgulho. Mas eu achei que deveria vir.

Eu quero muito falar contigo!

Corta para:

EXT- RODOVIA/ CARRO- NOITE

Atos e Cíntia estão dentro do carro. Atos está dirigindo o automóvel.

Cíntia:

Eu não vim pedir para você ficar comigo.

Longe disso! Eu seria desumana se pedisse

isso. Sua mulher mal foi operada de um tumor

cerebral. Eu seria sem noção se fizesse isso.

Atos:

Então por que me procurou?

Fala a verdade! Não esconda!

Cíntia:

Por que eu fiquei mal depois do

nosso último encontro.

Você foi supermal comigo.

Atos:

Desculpe!

Atos para o carro estacionando-o no meio-fio do calçadão.

Cíntia:

Por que parou?

Atos:

Desce do carro!

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Cíntia:

Atos! O quê?

Atos:

Desce do carro agora!

Cíntia:

Eu pensei que...

Lentamente, Cíntia abre a porta do carro. Cíntia desce. Atos abre a porta do carro e desce. Os

dois fecham a porta do carro. Cíntia aproxima-se de Atos.

Cíntia:

Não tô entendendo nada.

Por quê?

Atos:

[sorrir]

Sei lá! Me libertei. Hoje estou liberto.

O último que chegar no mar é a mulher

do padre!

Atos sai correndo.

Cíntia:

Atos!

Cíntia sai correndo atrás de Atos. Atos, correndo, tira os sapatos e camisa. Atos entra no mar.

Cíntia para na beira do mar.

Cíntia:

Atos!

Atos:

Vem!

Cíntia:

Não quero me molhar!

Atos:

Deixa de ser boba! Vem!

Atos joga àgua em Cíntia.

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Cíntia:

Para Atos! Para!

Cíntia tira os sapatos. Cíntia entra no mar. Cíntia mergulha na água. Atos mergulha também.

Atos e cíntia saem na superficie um de frente para o outro.

Cíntia:

Você, um homem supersério

fazendo uma coisa dessas.

Atos:

Às vezes é preciso fazer uma bobagem

dessas. Descarregar a tensão!

Cíntia e Atos se olham fixamente.

Cíntia:

O que foi?

Atos:

Nada. Não posso mais te olhar?

Atos lentamente aproxima-se de Cíntia e a beija.

Cíntia:

O que foi isso?

Atos:

Um beijo.

Cíntia:

Eu gostei.

Atos:

Eu também.

Atos e Cíntia se beijam.

EXT- PRAIA- NOITE

Praia vazia, um silêncio enorme. Atos está por cima de Cíntia a beijando intensamente. Os dois

estão muito eufóricos. Atos passa a mão nas coxas de Cíntia.

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Cíntia:

Tem certeza?

Atos:

Tenho.

Atos beija Cíntia. Cíntia e Atos se beijam numa intensidade enorme

EXT- PRAIA- NOITE.

Praia vazia, um silêncio enorme. Atos e Cíntia estão deitados à areia de barrigas para cima

olhando para lua.

Cíntia:

acho que tava escrito, Atos!

Atos:

O que?

Cíntia:

O nosso encontro. Ele não foi por acaso.

Hoje estava escrito. Esta foi a última vez que

transamos.

Atos:

Será?

Cíntia:

Claro. Eu vou embora.

Atos olha para ela.

Atos:

Você tá falando sério?

Cíntia:

Tô. Minha vida aqui está ruim.

Quero mudanças.

Foi bom ter te conhecido.

Atos:

Mas para haver esta mudança

você tem que partir?

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Cíntia:

Claro. Não dizem que para amadurecer

temos que nos distanciarmos. Então!

Não conseguirei amadurecer, mudar

estando aqui.

Atos:

Se você tem que ir. Foi bom te

conhecer, também, Cíntia!

INT- QUARTO DO HOSPITAL- DIA/ MANHÃ

Quarto vazio e silêncioso. Ana, de cabeça enfaixada, está dormindo profundamente. Atos está

sentado à beira da cama, olhando-a dormir. Ana abre os olhos. Atos sorrir. Ana sorrir.

Ana:

Atos! Eu... eu estou viva?

Atos:

Claro que está, meu amor.

Ocorreu tudo bem. A operação

foi um sucesso.

Ana:

Ainda bem!

Corta para:

INT- CASA DE ATOS- DIA

A Porta se abre. Atos carregando Ana no colo entra dentro de casa. Ana e atos estão

superfelizes.

Ana:

Amor, amor, me põe no chão!

Me põe no chão!

Atos:

Não. Vou entrar contigo assim.

Não é assim que o noivo faz com a noiva

quando eles se casam? Então!

Esta é a nossa nova entrada.

Nosso recomeço.

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Ana:

Você é doido!

Atos:

Doido por você!

Atos e Ana se beijam. Atos põe Ana em cima do sofá.

Ana:

Estou tão feliz, Atos!

Muito feliz!

Estou curada, tenho você

do meu lado.

Atos:

Eu também estou muito feliz.

Nós vamos ser muitos felizes.

Vamos ter filhos lindos iguais

a você.

Ana:

Ter filhos seus é tudo que

quero para completar

a minha felicidade.

Atos:

A minha também.

Atos e Ana se beijam.

Ana:

Agora vou voltar a fazer tudo

que eu deixei para trás. Minha faculdade

de contabilidade, terminar meu romance.

Só viver a vida, ao seu lado.

Atos:

Esse sonho nunca vai ter fim.

Ana:

Eu não quero que tenha fim.

Não vai ter fim.

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EXT- RUA- NOITE

rua isolada e escura. Ana está, apressadamente, andando pela rua. Está com uma bolsa no

ombro. Um homem estranho trajado com roupas rasgada e uma toca na cabeça vem em sua

direção. Ana e o homem se encontram frente a frente.

Homem:

Passa a bolsa!

O homem aponta a arma para ela. Ana se assusta.

Ana:

(com medo)

Eu não tenho dinheiro, não.

Homem:

Passa a bolsa, ou, morre!

Ana fica sem reação.

Ana:

Eu...

homem:

Passa logo a bolsa!

O homem rapidamente põe a mão na bolsa de cíntia puxando-a. Ana segura a bolsa. O homem

puxa a bolsa e Ana fica segurando-a para não deixá-lo pegar a bolsa.

Homem:

Me dá! Me dá! Me dá!

Ana:

Não! Solta! Solta!

Homem:

Vadia!

O homem dá um tiro em Ana. Ana cai no chão desfalecida. O homem pega a bolsa e sai

correndo.

INT- COREDOR DO HOSPITAL- NOITE

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Corredor cheio de pessoas transitando. Os enfermeiros levam Ana que está desfalecida em

cima da maca para dentro. Preocupadíssimo, Atos está ao lado da maca junto aos enfermeiros

que a levam. Eles chegam ao bloco cirurgico.

Enfermeiro:

Senhor, aqui você

não pode entrar!

Atos:

Ela vai se salvar? Salve-a!

Enfermeiro:

Faremos de tudo. Mas não podemos

garantir nada. A bala perfurou o pulmão.

Teremos que conter a hemorragia.

O enfermeiro entra. Atos olha-o ir, desperadamente.

TELA ESCURECE

INT- RUA/ CALÇADA- TEMPOS DEPOIS/ MANHÃ.

Está chovendo muito forte. De cabelos compridos, jaqueta e jeans Ana, de sombrinha, caminha

pela rua. Está pensativa.

Ana:

Por que temos que sempre ter

a necessidade de ter

alguém ao nosso lado e justificamos

isso como amor, como ser amor?

Será que amar é só acorda e dormir

ao lado de uma pessoa todos os dias?

É viver ao lado desta pessoa para sempre?

Isso que é amor? O que é amar alguém?

É sentir algo que não vemos, que não tocamos,

que apenas ficamos contentes e realizados

por estarmos perto desta pessoa.

Talvez amor seja pouco demais!

INT- QUARTO DE ATOS- NOITE

Atos e Ana estão deitados na cama de barriga para cima. A tv está ligada. Atos e Ana estão

entediados. Ana e atos veem televisão sem entusiasmo.

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Ana:

Quero me separar.

Atos continua vendo TV.

Atos:

Tá.

Ana:

Tá? Como assim, tá?

Atos, você ouviu o que eu disse?

Atos:

Sim.

Ana:

E não se sente incomodado,

intimidade, ou mesmo, infeliz?

Atos:

Pra quê e por quê? Sei que isso

não é verdade.

Ana:

Ele mexeu comigo.

Atos:

Quem?

Ana:

A pessoa que eu conheci.

Corta rápido para:

INT- LOJA DE PERFUMES- DIA

Loja grande e sofisticada. Há várias vitrines de perfumes. Ana, andando, olha os perfumes que

estão na vitrine. Nick, 29 anos, branco, bonito e barba por fazer está há uma vitrini

experimentando um perfume. Ana continua andando e olhando os perfumes. Ana, olhando os

perfumes, dá de cara com Nick. Ana e Nick ficam se olhando.

Ana:

Oi!

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Nick:

Oi!

Nick e Ana continuam se olhando.

Corta rápido para:

INT- QUARTO DE ATOS- NOITE

Ana e Atos estão deitados, de barriga para cima, conversando.

Ana:

Foi por acaso. Eu não esperava.

Me entenda!

Atos:

Vocês transaram?

Ana:

Transamos.

INT- QUARTO DE MOTEL- DIA

Quarto grande e sofisticado, com um colchão d'água. Nick nú está em cima de Ana que está

nua. Os dois estão transado.

Corta para:

INT- QUARTO DE ATOS - NOITE

Atos e Ana estão deitados em cima da cama, de barriga para cima.

Atos:

Você gostou?

Ana:

De?

Atos:

De dar para ele.

Ana: (mais)

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Gostei.

Atos ficam em silêncio olhando para o lado. Ana apenas olha para o teto.

Ana:

Atos, me diga uma coisa!

Diga que não ficará mal.

Atos:

Impossível. Impossível.

[gritando se levanta da cama]

que merda! Merda! Você

não poderia ter feito isso.

Você estragou tudo.

Tudo que havíamos construídos juntos.

Ana senta-se na cama.

Ana:

Sei que estraguei e

não tem volta.

Atos:

Desgraçada! Quando foi isso?

Ana:

Depois de duas semanas que eu saí

do hospital.

Atos:

Vadia!

Ana:

Aprendi que amor não existe,

que sexo faz bem só no momento,

que pessoas vão e vem.

Mas o que fica mesmo, guardado,

para sempre em nossas memórias

são as lembranças. As pequenas e maravilhosas

lembranças que nem o tempo pode apagar.

Nem daqui a cem anos, pois ela sempre

estará lá, bem no fundo do interior de

nossa mente, esperando o momento certo (mais)

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para retornar à nossa imaginação

nos fazendo sorrir de felicidade.

Isso é o significado da vida, Atos.

Eu não te amo mais!

Atos:

Mentirosa!

Ana:

Sinto muito!

Atos:

Não, não sente por que se sentisse

não faria isto comigo.

Atos aproxima-se da cama, a pega pelo dois braços balançando-a.

Ana:

Ai, atos!

Atos:

Não sente porra nenhuma!

Não pode terminar tudo assim,

não depois de tudo que passamos juntos.

Toda a infelicidade, toda dor, todo sofrimento

que enfrentamos juntos. Não pode!

Diga que me ama novamente,

diga que me deseja, diga que me

ama acima de tudo.

Ana:

Eu não posso!

Atos:

Por quê?

Ana:

Isso vai passar, Atos.

O amor é como a dor que fere o peito,

como o inverno, como a tempestade

que passa. O amor passa também.

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Atos:

Mas o nosso não. É duradouro.

Ana:

É duradouro até quando existir

por que depois que deixa de existir

já não é duradouro mais.

Atos:

E tudo que vivemos juntos?

Tudo que sonhamos juntos?

Ana:

O que sonhamos juntos?

O que vivemos juntos?

Atos:

Você sabe.

Ana:

São ilusões, Atos.

Ilusões que se acabam

como o amor.

São ilusões que se passam

como as águas dos córregos.

Tudo passa, Atos.

TELA Escurece. MÚSICA de fundo bem triste começa a tocar.

EXT- RUA/ CALÇADA- DIA/ MANHÃ

Céu nublado, está chovendo muito. Debaixo de um guarda-chuva, Ana e Nick de mão dadas

caminham pela rua. Estão felizes, alegres e sorridentes.

INT- QUARTO DE ATOS- DIA

Apenas de cueca, Atos está deitado na cama. Seus olhos estão abertos e parados olhando o

teto do apartamento. Atos vira o rosto para cômoda e vê o porta-retrato com a foto de Ana.

Atos se levanta lentamente, pega o porta-retrato e joga na parede.

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INT- RUA/ CALÇADA- NOITE

Tempo chuvoso. De casaco e jeans, Atos anda pela rua. Atos para em frente a um apartamento

onde o observa. De dentro do prédio sai Ana e Nick abraçados. Nick segura o guarda-chuva.

Nick e Ana caminham pela rua. Atos observa-os caminhar pela rua. Atos triste, se vira e vai

embora andando em outra direção. Ana olha para trás e o ver partir na chuva.

FIM

CRÉDITOS FINAIS

FADE OUT:

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DRAMA DE UM JOVEM CASAL ENFRENTANDO OS PROBLEMAS DO DIA DIA.