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PRO-REITORIA DE PESQUISA, PÓS GRADUAÇÃO E EXTENSÃO PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO HELENA LUCIA DAMASCENO FERREIRA EXPANSÃO URBANA E PERIFERIZAÇÃO EM ÁREAS DE INTERESSE TURÍSTICO: O CASO DA ILHA DO MOSQUEIRO (BELÉM-PARÁ) BELÉM 2010

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PRO-REITORIA DE PESQUISA, PÓS GRADUAÇÃO E EXTENSÃO PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO

AMBIENTE URBANO

HELENA LUCIA DAMASCENO FERREIRA

EXPANSÃO URBANA E PERIFERIZAÇÃO EM ÁREAS DE INTERESSE TURÍSTICO: O CASO DA ILHA DO MOSQUEIRO

(BELÉM-PARÁ)

BELÉM 2010

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HELENA LUCIA DAMASCENO FERREIRA

EXPANSÃO URBANA E PERIFERIZAÇÃO EM ÁREAS DE INTERESSE TURÍSTICO: O CASO DA ILHA DO MOSQUEIRO

(BELÉM-PARÁ)

BELÉM 2010

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia-UNAMA, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Marco Aurélio Arbage Lobo.

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EXPANSÃO URBANA E PERIFERIZAÇÃO EM ÁREAS DE INTERESSE TURÍSTICO: O CASO DA ILHA DO MOSQUEIRO

(BELÉM-PARÁ)

HELENA LUCIA DAMASCENO FERREIRA

Dissertação submetida à avaliação, como requisito parcial para obtenção do título de

Mestre.

BANCA EXAMINADORA

Prof.Dr. Marco Aurélio Arbage Lobo – Orientador

Prof. Dr. Saint-Clair Cordeiro da Trindade Jr. - UFPA

Prof. Dr. Ana Maria Vasconcellos - UNAMA

Aprovada em 29/04/2010

Belém/Pará

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Aos meus pais, Fernando e Francisca,

Que Deus os abençoe sempre!

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AGRADECIMENTOS

Escrever um trabalho de pesquisa é uma tarefa solitária. Porém, nada poderia

ser alcançado se não fossem as contribuições recebidas de tantas pessoas. Muitas

essencialmente próximas, outras nem tanto e muitas outras que, por entenderem o

esforço para se elaborar um trabalho científico, se colocam à disposição diante de

tantos questionamentos. Por isso é que agradecer e rezar por essas pessoas é tão

importante e necessário.

Aos meus pais, Fernando e Francisca. Basta apenas suas presenças para

que eu me sinta capaz de seguir adiante.

Ao meu filho, Isac Fernando, sempre carinhoso. Especialmente obrigada pela

compreensão diante das minhas dúvidas em relação à informática e por me

entender em todos os momentos.

Aos meus irmãos Fernando Stéllio, Lúcio, Angélica e Tiago, pela força; ao

Silvinho, que lá da estrela onde está olha para nós; em especial ao Júlio, pelas

nossas conversas e pela ajuda com a língua inglesa.

À Trícia, pela contribuição com as primeiras figuras.

Ao meu orientador Prof. Dr. Marco Aurélio Arbage Lobo, que com sua natural

cordialidade e atenção pode me transmitir valiosos e inestimáveis conhecimentos.

Fique certo de que alcancei outro olhar para a cidade. A você um obrigado especial.

Aos demais professores do curso: Voyner Ravena Cañete, Luciana Costa da

Fonseca, Mário Vasconcellos Sobrinho, Leonardo Bello, Anna Maria Vasconcellos,

Samuel Sá, Nírvia Ravena. Saibam que todos contribuíram para meu crescimento

pessoal, acadêmico e profissional.

Aos funcionários do Programa de Mestrado da Unama que nos atenderam

durante o curso.

Ao amigo Luiz Célio Morais, que me apresentou ao Cordeiro e possibilitou

que eu chegasse à primeira área de ocupação visitada em Mosqueiro, abrindo-me

as “portas” para as demais.

Às pessoas que me atenderam nos órgãos que visitei; em especial a Marli

(SEGEP), o Pedro Leão (ADMOS) e o Aldenir Franco, da Polícia Civil. As

informações prestadas foram essenciais para a elaboração deste trabalho.

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Ao Prof. Dr. José Júlio Ferreira Lima, pelo empréstimo de material e pelas

dicas quando iniciei o curso. Obrigada.

Aos meus tios, primos, sobrinhos e cunhados, que me apoiaram nesta

iniciativa.

À Gracieth Mendes, pelo auxílio com a língua espanhola.

Ao Edenilson Buriti, aluno-bolsista do PIBIC Júnior, pela colaboração com o

processamento das imagens geo-referenciadas.

À Mirian, ao Leonardo e ao Aldenor, da Biblioteca do CIABA, sempre solícitos

e atenciosos nas minhas buscas nas estantes.

Ás duzentas pessoas que me receberam em suas casas, muitas vezes

relatando fatos que não constavam da pesquisa, mas que se tornaram importantes

para melhor compreensão do trabalho, além de me enriquecer como “gente”.

Um agradecimento carinhoso à Maria do Ipixuna; à Eliete e à Odília, do

Poeirão; ao Marivaldo e à Ivonete, do Banco Tupinambá, ao “seu” Pereira e à Ieda,

do APROAR e ao Mamede, à Dos Anjos e à Kátia, da Mártires de Abril.

Aos meus colegas de curso, especialmente ao Mauro e à Clara, pois tenho a

certeza de que nossa amizade permanecerá após o alcance deste objetivo.

São muitas as pessoas a quem devo agradecer. Não gostaria de esquecer

daquelass que se tornaram importantes na realização deste trabalho, por isso

agradeço a Deus por tê-las encontrado.

A todos meu MUITO OBRIGADA!

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Tão desejada quanto desconhecida dessa gente que se banha em suas praias mais próximas,

se deleita em suas tardes deliciosas, ou a aproveita em alguns momentos silenciosos de paz e devaneio.

Mosqueiro, não é só isso. É alguma coisa de mais substância e conteúdo.

Lugar de inspiração e capaz de transformar a alma da gente, em cada momento a que dela se participe.

Há em sua atmosfera, algo que seduz e se transforma em um delírio de saudade.

Augusto Meira Filho.

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RESUMO

Este trabalho objetiva caracterizar o processo de expansão urbana, por meio de assentamentos precários, e seus efeitos socioeconômicos numa área de turismo de veraneio de uma região metropolitana: a Ilha do Mosqueiro (Belém-Pará). O tema se justifica pelo surgimento de um número expressivo desses assentamentos, que vêm se traduzindo em importantes impactos ambientais, dentre os quais o desmatamento, que prejudica a função turística da ilha. O objetivo principal da investigação é caracterizar o surgimento de assentamentos precários e seus efeitos socioeconômicos em áreas de interesse turístico de regiões metropolitanas, aplicando essa abordagem ao caso do Distrito Administrativo de Mosqueiro. O quadro teórico baseou-se nos conceitos de expansão urbana, segregação socioespacial e periferização, realizando-se uma revisão da literatura dos principais autores sobre o tema, tanto clássicos quanto contemporâneos. A metodologia de investigação empírica desenvolveu-se em dois momentos: no primeiro, procedeu-se a um levantamento documental, que incluiu relatórios oficiais, dados estatísticos e informações cartográficas, estas tratadas com o uso de técnicas de geoprocessamento; no segundo, foi realizada uma pesquisa de campo em quatro assentamentos precários: Aproar, Ipixuna, Mártires de Abril e Poeirão, representativos de quatro situações diferentes, com a realização, em cada um deles, de 50 entrevistas estruturadas com responsáveis por domicílios e de grupos focais com as lideranças comunitárias. Após a sistematização e análise dos dados, concluiu-se que a implantação de assentamentos precários na Ilha do Mosqueiro apresenta características comuns e peculiares em relação a outros assentamentos precários situados em regiões metropolitanas. Como características comuns, têm-se saneamento deficiente, moradias inadequadas, baixas rendas dos moradores, problemas ambientais e implantação sem planejamento técnico, dentre outros. Como características específicas, destacam-se: a dupla dinâmica de periferização, associada tanto à concentração de atividades econômicas e de residências de veranistas, localizada na parte de ocupação mais antiga da Ilha, quanto às concentrações de comércio, serviços e moradores de altas rendas situadas no restante da Região Metropolitana de Belém, especialmente no núcleo metropolitano; e a intensa presença de atividades primárias em alguns assentamentos. Á luz das conclusões obtidas são feitas algumas recomendações no sentido de promover a melhoria da situação socioambiental dos assentamentos já existentes, bem como para evitar o surgimento de outros. Palavras-chave: Região Metropolitana. Expansão urbana. Periferização. Segregação socioespacial. Assentamentos precários. Belém.

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ABSTRACT

This study analyzes the process of urban expansion through slums, and their socioeconomic effects in the tourism resort of a metropolitan region: the Isle of Mosqueiro (Belém-Pará). The theme is justified by the emergence of a significant number of these settlements, which have been translated into significant environmental impacts, among them deforestation, which impairs the function of the tourist island. The main objective of the research is to characterize the emergence of slums and their socioeconomic effects in areas of tourist interest in metropolitan areas, applying this approach to the case of District Administrative Mosqueiro. The theoretical framework was based on the concepts of urban sprawl, segregation and suburbanization, performing a literature review of the principal authors on the subject, both classical and contemporary. The methodology of empirical research developed in two phases: the first, proceeded to a documentary survey, which included official reports, statistical and cartographic information, they dealt with the use of GIS techniques, and in the second step was a field research in four squatter settlements: APROAR, Ipixuna, Martyrs April and Poeirão, representing four different situations, with the holding in each of 50 structured interviews with heads of households and focus groups with community leaders. After the systematization and analysis of data, we concluded that the establishment of squatter settlements on the island of Mosqueiro and peculiar features common on other squatter settlements located in metropolitan areas. Common characteristics, have poor sanitation, inadequate housing, low incomes of residents, environmental problems without technical planning and deployment, among others. As specific features stand out: the dynamic duo of suburbanization, coupled to both the concentration of economic activities and homes of vacationers, located at the earliest occupation of the island, as the concentration of trade, services and high-income residents located the rest of the metropolitan area of Belém, especially in the metropolitan core, and the high presence of primary activities in some settlements. In light of conclusions reached some recommendations are made to promote the improvement of socio-environmental situation of the existing settlements and to avoid the appearance of others.

Keywords: Metropolitan. Urban sprawl. Suburbanization. Spatial segregation. Squatter settlements. Belém.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Evolução da periferização na RMB 20

FIGURA 2 – Ilha de Mosqueiro 22

FIGURA 3 – Áreas de maiores densidades brutas da RMB/2000 31

FIGURA 4- ZAU’s 1 e 2, referentes à Mosqueiro 50

FIGURA 5 – Representação da ZEIA em Mosqueiro 51

FIGURA 6 – Representação da ZEIP e da Área de Interesse para fins de Recuperação Urbanística e Paisagística de Mosqueiro

52

FIGURA 7 – Representação da Área de Interesse Ambiental, Arqueológico e Histórico 52

FIGURA 8 – Mapa-índice da Região Metropolitana de Belém 61

FIGURA 9 – Espalhamento da mancha urbana de Mosqueiro 63

FIGURA 10 – Localização das ocupações urbanas de Mosqueiro 78

FIGURA 11 - Recorte da área urbana de Mosqueiro com as ocupações identificadas 79

FIGURA 12 – Localização da ocupação Ipixuna 83

FIGURA 13 - Localização da ocupação Poeirão 88

FIGURA 14 – Localização da ocupação APROAR 93

FIGURA 15 – Localização da ocupação Mártires de Abril 99

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

FOTOGRAFIA 1 - Rua das Américas, ocupação Ipixuna 83

FOTOGRAFIA 2 - Casa em construção, ocupação Ipixuna 84

FOTOGRAFIA 3 – Fogão a lenha, ocupação Ipixuna 84

FOTOGRAFIA 4 - Parte interna de sanitário, ocupação Ipixuna 85

FOTOGRAFIA 5 - Parte externa de sanitário, ocupação Ipixuna 85

FOTOGRAFIA 6 – Lixo, ocupação Ipixuna 86

FOTOGRAFIA 7 – Rua aberta pela PMB, ocupação Poeirão 90

FOTOGRAFIA 8 - Rua aberta pelos moradores, ocupação Poeirão 90

FOTOGRAFIA 9 - Lixo à espera de coleta, ocupação Poeirão 91

FOTOGRAFIA 10 – Residência abandonada, ocupação Poeirão 92

FOTOGRAFIA 11 – Única rua da ocupação APROAR 95

FOTOGRAFIA 12 – Parte frontal de uma casa, APROAR 95

FOTOGRAFIA 13 - A cozinha de uma casa, APROAR 96

FOTOGRAFIA 14 - Casa da ocupação feita com folhas de anajá, APROAR 96

FOTOGRAFIA 15 - Sanitário da Ocupação APROAR 97

FOTOGRAFIA 16 - Sanitário da Ocupação APROAR 97

FOTOGRAFIA 17 - Poço com bomba, APROAR 98

FOTOGRAFIA 18 - Modelo das casas da Agrovila, Mártires de Abril 102

FOTOGRAFIA 19 - Rua do Assentamento, Mártires de Abril 103

FOTOGRAFIA 20 - Recipiente para coleta de lixo, Mártires de Abril 103

FOTOGRAFIA 21 - Casa do lote, Mártires de Abril 104

FOTOGRAFIA 22 – Parte frontal de sanitário no lote, Mártires de Abril 105

FOTOGRAFIA 23 – Parte interna de sanitário no lote, Mártires de Abril 105

FOTOGRAFIA 24 – Produção de horticultura, Mártires de Abril 106

FOTOGRAFIA 25 – Produção de aves nos lotes, Mártires de Abril 107

FOTOGRAFIA 26 - Parte interna de uma residência, ocupação Ipixuna 121

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - - Faixa etária por gênero do principal responsável pelo domicílio 109

GRÁFICO 2 - Situação funcional do responsável pelo domicílio 112

GRÁFICO 3 - Renda Familiar Mensal 114

GRÁFICO 4 - Procedência da renda 115

GRÁFICO 5 - Condição da moradia 119

GRÁFICO 6 – Infraestrutura e benfeitorias por domicílio 120

GRÁFICO 7 – Distribuição percentual do nº de cômodos por domicílio 123

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Síntese dos procedimentos metodológicos 59

QUADRO 2 - População Urbana e População Residente em áreas de ocupação na RMB 65

QUADRO 3 – Ocupações em Mosqueiro e Outeiro até 1998. 65

QUADRO 4 – Ocupações em Mosqueiro e seus respectivos bairros, 2008. 79

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Evolução da população residente em setores censitários da área continental da RMB e Distrito de Outeiro 1991-2000

19

TABELA 2 - Evolução populacional da RMB, 1991/2000/2007 62

TABELA 3 - Pessoas residentes por gênero 139

TABELA 4 – Número de famílias residentes por domicílio 139

TABELA 5 - Estado civil do responsável pelo domicílio 139

TABELA 6 – Gênero do responsável pelo domicílio 140

TABELA 7 – Faixa etária por gênero do responsável pelo domicílio 140

TABELA 8 - Escolarização do responsável pelo domicílio 140

TABELA 9 – Local de votação do responsável pelo domicílio 141

TABELA 10 - Condição funcional do responsável pelo domicílio 141

TABELA 11 - Pessoas que trabalham em Belém/ RMB/Belém e RMB/ Mosqueiro, Belém e RMB/Mosqueiro e Belém

141

TABELA 12 - Pessoas que estão fora do mercado de trabalho 142

TABELA 13 - Percentual excluindo os que estão fora do mercado de trabalho(%) 142

TABELA 14 - Renda Familiar Mensal 142

TABELA 15 – Nº de pessoas que possuem renda por domicílio6 143

TABELA 16 - Procedência da Renda 143

TABELA 17 – Local de trabalho do responsável pelo domicílio em Mosqueiro 144

TABELA 18 - Modo de deslocamento para o trabalho 144

TABELA 19 – Frequência de deslocamento para o trabalho 145

TABELA 20 - Tempo de moradia na área 145

TABELA 21 - Caminho migratório percorrido 146

TABELA 22 - Condição legal da moradia 147

TABELA 23 – Valor pago pelo lote 147

TABELA 24 – Benfeitoria por domicílio 147

TABELA 25 - Tipo de material utilizado na construção da moradia 148

TABELA 26 – Percentual do nº de cômodos por domicílio 148

TABELA 27 - Quantidade e localização dos sanitários 148

TABELA 28 - Destino do lixo domiciliar 149

TABELA 29 - Percentual de dom. com bens duráveis e serviços de acesso à comunicação 149

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LISTA DE SIGLAS

APROAR – Associação dos Produtores Rurais da Ocupação Arlinda Gomes do Vale

BELEMTUR – Coordenadoria de Turismo de Belém

CBB – Comissão de Bairros de Belém

CODEM – Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área Metropolitana de Belém

COHAB - Companhia de Habitação do Pará

CONEP – Comissão Nacional de Ética em Pesquisa

COSANPA – Companhia de Saneamento do Pará

CTBEL – Companhia Municipal de Transportes de Belém

DAMOS – Distrito Administrativo de Mosqueiro

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e estatística

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano

PDU – Plano Diretor do Município de Belém

PEMAS – Plano Municipal para Assentamentos Sub-normais

PMB – Prefeitura Municipal de Belém

PNAD/IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios/IBGE

RMB – Região Metropolitana de Belém

SAAEB – Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Belém

SEGEP – Secretaria Municipal de Coordenação Geral do Planejamento e Gestão

SESAN – Secretaria Municipal de Saneamento

SEURB – Secretaria Municipal de Urbanismo

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 18

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Espaço urbano e Segregação socioespacial 27

2.2 Espoliação Urbana e Periferização 30

2.3 Urbanização e sustentabilidade 35

2.4 Assentamento Precário 39

2.5 Referências doutrinárias e legais 43

2.5.1 Fundamentos 43

2.5.2 Plano Diretor de Belém e o D.A. de Mosqueiro 47

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 O modelo geral da pesquisa 54

3.2 Instrumentos de pesquisa e o processo de coleta de dados 56

3.3 A escolha dos domicílios participantes da pesquisa 58

3.4 Análise dos dados 58

4 A REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM (RMB)

4.1Caracterização da RMB 61

4.2 Belém: expansão urbana e assentamentos precários 63

4.3 O Distrito de Mosqueiro 66

4.3.1 Evolução histórica, caracterização e urbanização 66

5. EXPANSÃO URBANA DE BELÉM E PERIFERIZAÇÃO DE MOSQUEIRO

5.1 Mosqueiro enquanto espaço dual 73

5.2 As ocupações urbanas em Mosqueiro 76

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6. ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS NA PESQUISA DE CAMPO

6.1 Caracterização físico-territorial e ambiental 82

6.1.1 Ocupação Ipixuna 82

6.1.2 Ocupação Poeirão 88

6.1.3 Associação dos Produtores Rurais da ocupação Arlinda Gomes do Vale (APROAR)

93

6.1.4 Ocupação Mártires de Abril 98

6.2 Caracterização socioeconômica 107

6.2.1 Informações gerais 107

6.2.2 Trabalho e renda 110

6.2.3 Migração/moradia 117

6.2.4 Condição física da moradia 119

CONSIDERAÇÕES FINAIS 125

REFERÊNCIAS 131

APÊNDICE 139

ANEXO 153

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1 INTRODUÇÃO

Segundo Motta, Mueller e Torres (1997), a expansão da população urbana

brasileira foi decorrente do processo de industrialização do país, o qual, juntamente

com outros fatores como as mudanças na estrutura ocupacional da população rural,

a agroindustrialização, a descentralização fiscal de serviços públicos para

municípios e o emprego público, levaram ao vertiginoso crescimento demográfico

dos centros urbanos.

Assim, o processo de periferização vivenciado pelas grandes cidades

brasileiras apresenta-se como uma decorrência da evolução do sistema urbano do

país, a partir dos anos 70, resultante de uma acelerada urbanização, a qual, ao

distribuir de forma desigual as oportunidades de trabalho, aumentou ainda mais a

extrema desigualdade social no Brasil.

Ainda de acordo com Motta, Mueller e Torres (1997, p. 14), “cabe ressaltar o

impressionante crescimento urbano na região Norte, atingindo não apenas Belém e

Manaus, mas também algumas cidades pequenas e médias que serviram de base

aos migrantes nas zonas de grande influxo migratório na fronteira”.

Em relação à RMB, é relevante o trabalho de Lobo (2009) sobre a dinâmica

populacional dessa região metropolitana. O autor ressalta a importância dos dados

obtidos por meio dos censos demográficos decenais apresentados pelo IBGE,

porém destaca que as constantes alterações de limites dos setores podem

comprometer a análise comparativa intercensitária entre as cidades, como as

verificadas no período 1991/ 1996, entre Belém e Ananindeua, os dois maiores

municípios da RMB.

Lobo (2009) procedeu à compatibilização dos dados estatísticos dos setores

censitários urbanos de 1991 e 2000, tendo em vista as alterações ocorridas nos

limites das áreas territoriais de Belém e Ananindeua, a fim de sobrepor os dados

numa mesma base territorial, possibilitando, então, uma análise real dessa dinâmica.

Na tabela 1, está demonstrado como se deu a evolução da população urbana

residente na RMB, no período compreendido entre 1991 e 2000.

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Tabela 1 – Evolução da população residente em setores censitários urbanos da área continental da RMB e Distrito de Outeiro 1991/2000

Local 19911 Part.(%) 2000 Part.(%) Var (%)a.a. Var. abs.

Núcleo Metrop. 712.342 52,9 739.479 43,4 0,42 27.137

Terras Altas 151.593 11,3 140.574 8,3 -0,83 -11.019

D.A.Belém 151.593 11,3 140.574 8,3 -0,83 -11.019

Terras baixas 560.749 41,6 598.905 35,1 0,73 38.156

D.A.Guamá 326.952 24,2 349.535 20,5 0,74 22.583

D.A.Sacramenta 233.797 17,4 249.370 14,6 0,72 15.573

Periferia imediata 113.611 8,4 112.644 6,6 -0,09 -967

D.A.Entrocamento 113.611 8,4 112.644 6,6 -0,09 -967

Periferia distante 520.619 38,7 851.390 50,0 5,62 330.771

D.A. Bengui 138.870 10,3 237.303 13,9 6,13 98.433

D.A.Icoaraci 81.857 6,1 129.759 7,6 5,25 47.902

D.A.Outeiro 4.856 0,4 19.025 1,1 16,38 14.169

M.Ananindeua 240.307 17,8 388.017 22,8 5,47 147.710

M.Marituba 44.502 3,3 59.355 3,5 3,25 14.853

M.Benevides 10.227 0,8 17.931 1,1 6,44 7.704

Total 1.346.572 100 1.703.513 100,0 2,65 356.941

Fonte: Lobo, 2008

A tabela 1, ao evidenciar a dinâmica populacional ocorrida entre o núcleo

metropolitano e a periferia distante da RMB, indica que essa dinâmica ocorreu de

forma semelhante às observadas em outras aglomerações urbanas de grande porte

no país. Enquanto no núcleo o crescimento foi de 0,42%, na periferia distante foi de

5,62%, correspondendo, respectivamente,em valores absolutos, a um aumento de

27.137 pessoas e de 356.941 pessoas.

A figura 1, ao mostrar o avanço da periferização da RMB, indica o caminho

que tal processo estava tomando, justificando-se, pois, a escolha por Mosqueiro

para a efetivação desta pesquisa, cujo ponto de partida foi a percepção da situação

1 Dados estimados, referentes à área territorial correspondente a 2000

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que a Ilha vem enfrentando, como resultante de um avanço demográfico

desconectado de um planejamento adequado para ordená-lo. As conseqüências

para a população e o meio ambiente exigem a preocupação com a interação

sustentável entre o meio ambiente urbano e o meio ambiente físico.

Figura 1 – Evolução da periferização na RMB Fonte: Corrêa (1989) e Tourinho et al (2001)

Essa interação entre grupos humano e meio natural mostra a dimensão de

um problema, onde a lógica que prevalece é de uma urbanização que compromete a

cidade enquanto um espaço que coloca de um lado, a cidade chamada legal ou

formal e que atende aos anseios da classe de alta renda, por meio das diversas

instâncias do Estado, que disponibilizam investimentos e serviços urbanos e, de

outro, uma cidade ilegal, a qual fica à margem dessa cidade formal, cujas

características são a ausência ou precariedade de serviços básicos.

É nessa cidade considerada ilegal, e que surge exatamente pela necessidade

de morar das classes menos favorecidas em termos socioeconômicos, que se tem a

percepção da existência de ocupações desordenadas e irregulares, chamadas de

“assentamentos precários”, conforme Marques (2007), constituindo-se como uma

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das formas de avanço da urbanização, levando, assim, à discussão do tema

expansão urbana proposta neste trabalho.

Dessa forma, os problemas decorrentes da expansão urbana processada,

tanto pela inadequação de planejamento como de maneira ilegal, através dos grupos

formados por pessoas que não tinham mais como morar na cidade e que buscam o

resgate de seus direitos de aí viver, vêm se constituindo em objeto de estudo de

várias ciências sociais. As sociedades, atualmente, estão concentradas,

principalmente, nas áreas urbanas e que, portanto, reclamam por condições

satisfatórias de vida e acesso a serviços básicos de infraestrutura.

Assim, a discussão relativa ao tema deve se voltar tanto para as camadas

pobres da população, as quais, na tentativa de resolução de seus problemas de

moradia, aceitam a situação de pobreza e carência de serviços básicos, que não

lhes permite participar de forma cidadã da cidade legal, como também aos membros

das classes de alta renda que participam dessa expansão por meio dos condomínios

fechados.

Mais uma vez, reitera-se o olhar sobre a cidade como sendo um espaço onde

há a correlação de forças entre as classes sociais e que garantem a permanente

mobilização de seus atores em busca da manutenção da sociedade.

Por todos esses fatores, justifica-se a escolha da Ilha do Mosqueiro (figura 2),

visto que, conceitualmente, se adequa ao entendimento de periferização, já que está

distante do centro tradicional de Belém, ainda que pertencendo a este município.

A Ilha do Mosqueiro que dá o nome ao Distrito Administrativo, é a maior e a

mais importante do conjunto de ilhas que compõem o distrito, sendo usada como um

local de descanso e lazer, constituindo-se numa importante opção para o veraneio

da população residente na área continental de Belém e em outros municípios,

principalmente durante as férias escolares de julho e feriados prolongados. Suas

praias de água doce são o maior atrativo do local, além da relativa proximidade com

o centro de Belém.

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Figura 2 – A Ilha de Mosqueiro Fonte: autora, com base em imagens obtidas a partir do Satélite Landsat 5, composição falsa cor (Spring/INPE)

Percebe-se pelas notícias veiculadas nos periódicos locais que a

preocupação com o crescimento desordenado em Mosqueiro vem aumentando

substancialmente nos últimos tempos. Com o título “Invasões desordenadas

ameaçam futuro de Mosqueiro”, o jornal Diário do Pará, mostrou no dia 16 de agosto

de 2009, o agravamento de um problema que já vem acontecendo há alguns anos,

sem que o poder público municipal se manifeste para buscar soluções.

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Suas matas, mantidas praticamente intactas durante séculos, estão sendo rapidamente destruídas por invasores que vão tomando conta de tudo. Sem dar explicações a ninguém e sem ninguém a lhes exigir satisfações, eles vão se constituindo aos poucos nos novos donos da ilha - ditando, diante da omissão geral, a sua sentença de morte. Os crimes ambientais se repetem dia e noite, à frente de todos. Clareiras se abrem diariamente em pontos diversos da ilha. A fauna silvestre, antes abundante em algumas áreas, é alvo de uma caçada implacável e já começa a escassear. Os igarapés que banham o interior da ilha – como o Cachorro, Água Boa, Murubira, Pratiquara e Ugoropá, entre outros – já estão seriamente comprometidos, quer pela destruição das matas ciliares, em diversos trechos, quer pelo progressivo assoreamento a que estão expostos. ( INVASÕES, 2009)

Ainda segundo a reportagem, esse problema já pode ser considerado de

“difícil reversão”, haja vista os grandes lixões que estão surgindo em pontos distintos

da Ilha, alguns às proximidades de mananciais. “Os depósitos de lixo são a

consequência natural da falta de planejamento, da inexistência de coleta regular e

da pouca ou nenhuma atenção que os novos moradores têm com a questão

ambiental”, diz a reportagem.

Outro problema, considerado gravíssimo, diz respeito à violência e à

criminalidade. “Nas áreas de invasão, costumam de homiziar todo tipo de

delinquentes, incluindo traficantes de drogas e fugitivos da Justiça”. Mais adiante,

informa que na ponte da Variante é comum a concentração de bandidos “fortemente

armados (...) desde que surgiram, ali próximo, duas áreas de invasão, os moradores

vivem em sobressalto e os assaltos se tornaram cada vez mais frequentes e

violentos”.

De acordo com o Secretário Municipal de Meio Ambiente no momento da

redação deste trabalho, José Carlos Lima, Belém está entre as poucas capitais

mundiais capazes de zerar as emissões de carbono, tendo em vista o nível atual de

cobertura vegetal em seus sítios urbano e insular (19 mil hectares e 33 mil hectares,

respectivamente), daí a necessidade em “redobrar a atenção nas ilhas sobre o

problema do lixo e a qualidade da água”.

Como se pode perceber, tanto se conhecem os problemas como as soluções

necessárias. “O que está faltando ao poder público, de fato, é disposição para agir.

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E é esse alheamento que vem provocando a ruína do Mosqueiro”, disse um

morador.

Segundo Gorayeb (2010, p.255), “Belém tende a crescer rapidamente nos

distritos de Outeiro e Mosqueiro e é necessário que um projeto de paisagismo e

manutenção das margens dos igarapés fosse, desde já, providenciado”.

De acordo com Baía (2010, p. 11), em reportagem veiculada no jornal O

Liberal, as ocupações desordenadas de Mosqueiro e Salinas2 acarretam enorme

sujeira, agridem o meio ambiente e a “consciência do interesse público”,

demonstrando “a omissão e a impassividade dos chamados poderes competentes”,

que trazem como consequência “desastres ecológicos e ambientais, os quais

guardam a mesma estreita relação humana e social, violentada pela incúria

governamental”.

O mesmo autor faz uma relação com os acontecimentos recentes do sul e

sudeste do país, onde muitas pessoas perderam a vida em desastres que poderiam

ter sido evitados, caso as administrações públicas tivessem um outro olhar para

essas situações provocadas pelas ocupações de terrenos inadequados para

moradia.

Diz que “aqui são os buracos nas ruas e a favelização das praias” que

comprometem as expectativas de transformação de Mosqueiro e Salinas em pólos

turísticos “como grandes e promissores recantos da indústria sem chaminés mais

rentável do mundo e, assim, potenciais geradores dos empregos e rendas que

libertam a gente da pobreza”.

Quando se refere especificamente a Mosqueiro, Baía (2010, p.11) afirma

ainda que a facilidade de acesso constitui-se num dos elementos promotores da

degradação da Ilha, além de torná-la num “centro preferencial de bandidos e

invasores de todas as áreas, com a consequente insegurança pública e a

deteriorização da natureza e da qualidade de vida, males que ninguém combate,

pelo contrário, estimula com a desídia” .

2 Salinas é a forma como os paraenses denominam o município de Salinópolis, localizado a cerca de 260 Km de Belém, às margens do oceano Atlântico, sendo que o mesmo é considerado como o balneário de água salgada mais famoso e visitado do Estado.

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É interessante que esse autor mostra que não são os turistas que degradam e

atrapalham o crescimento, pois, ao visitarem o lugar, fazem compras no comércio

local, consomem em bares e restaurantes; se gostam, podem construir casas e

contratar caseiros. Portanto, ao agregarem atividades que geram emprego e renda,

contribuem para o estabelecimento de um ciclo econômico permanente. O que falta

mesmo é interesse em aceitar o “desafio de reverter o desanimador quadro atual”.

Nesse contexto, cabe perguntar: existe alguma relação entre o crescimento

populacional da Ilha do Mosqueiro nos últimos 15 anos e o processo de

periferização da Região Metropolitana de Belém? Em caso positivo, como se dá

essa relação?

Quanto aos objetivos do trabalho, tem-se, como objetivo geral, caracterizar o

surgimento de assentamentos precários e seus efeitos socioeconômicos em áreas

de interesse turístico de regiões metropolitanas, aplicando essa abordagem ao caso

do Distrito Administrativo de Mosqueiro..

Em relação aos objetivos específicos, tem-se: a) identificar, no contexto dessa

expansão urbana, quais as áreas que decorrem da implantação de assentamentos

precários; b) identificar como esses assentamentos precários se colocam no

contexto geral da expansão urbana da Região Metropolitana de Belém; c)

caracterizar os principais aspectos socioeconômicos dos assentamentos precários;

d) identificar como o planejamento urbano de Belém tem lidado com o surgimento

desses assentamentos precários no Distrito Administrativo de Mosqueiro.

Em relação à estrutura, o presente trabalho está organizado da seguinte

forma: esta introdução apresentou a problemática que levou à execução da

pesquisa, assim como seus objetivos, procurando-se evidenciar a necessidade de

aprofundamento do tema da expansão urbana, particularmente através de

assentamentos precários, no contexto do processo de periferização.

O segundo capítulo – Fundamentação Teórica tem como finalidade a

discussão dos conceitos essenciais à compreensão dos processos que resultam na

implantação de assentamentos precários periféricos: espaço urbano e segregação

socioespacial; espoliação urbana e periferização; urbanização e sustentabilidade;

assentamento precário e as referências doutrinárias e legais que dão suporte às

análises.

O terceiro capítulo refere-se ao caminho metodológico adotado na pesquisa,

iniciando por uma abordagem geral do modelo adotado, dos instrumentos e do

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processo de coleta dos dados, bem como a escolha dos domicílios participantes e

de que modo se realizou a análise dos dados coletados.

O quarto capítulo – A Região Metropolitana de Belém (RMB), tem como

finalidade caracterizar a área em estudo, evidenciando-se Belém e o Distrito de

Mosqueiro. Busca a compreensão de como se deu a evolução do processo de

urbanização que culmina com a intensa periferização, decorrente da forte

segregação socioespacial existente.

O quinto capítulo – Expansão urbana e periferização de Belém em direção a

Mosqueiro, aborda de que forma está se processando a expansão urbana de Belém

em direção a Mosqueiro, além de apresentar o quadro das ocupações urbanas de

Mosqueiro, até 2008, conforme os dados coletados.

O sexto capítulo traz os resultados da pesquisa de campo, bem como a

análise e discussão dos resultados, à luz dos referenciais teóricos trabalhados.

Na conclusão do trabalho são feitas reflexões acerca do que foi pesquisado e

são propostas algumas sugestões e recomendações para futuros trabalhos, tendo-

se em vista a vastidão do tema, bem como a necessidade de aprofundamento das

discussões.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 ESPAÇO URBANO E SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL

A compreensão que se busca da cidade, na maioria das vezes, lança seu

olhar apenas para o hoje, o presente. No entanto, a necessidade de percepção do

tempo histórico que fundamentou a consolidação desse espaço é essencial. Não se

pode entender a cidade sem que se compreendam as relações sociais que as

pessoas estabelecem com esse espaço (CORRÊA, 1995).

Ainda de acordo com Corrêa (1995), o espaço urbano, aqui entendido como

cidade, pressupõe a concretização da espacialidade dos processos sociais que

fazem a coexistência dos grupos sociais, sendo, ao mesmo tempo, fragmentado,

articulado e um campo de lutas. O espaço não existe, portanto, sem a participação

do homem a moldá-lo e caracterizá-lo conforme suas necessidades de uso.

Ao afirmar o espaço como sendo uma instância social, formada pela

inseparabilidade da materialidade com as ações dos homens, Santos (2005) reforça

o conceito de espaço, da forma como está sendo concebido neste trabalho.

Portanto, deve-se entender esse espaço urbano como sendo um conjunto no

qual se deve buscar a articulação entre as várias nuanças de sua composição, sob

pena de comprometer a compreensão e análise da categoria espaço urbano. Não se

pode, pois, enxergar o espaço dissociando as paisagens física e social. O espaço

urbano remete, pois, a uma concepção relacional, lugar de discussão e significação

de uma sociedade. É onde se processa, continuamente, a criação e recriação de

possibilidades de vivência dos vários grupos sociais.

Esse espaço urbano, enquanto um campo de lutas, é apresentado por Corrêa

(1995), quando afirma que a interação entre as classes sociais, permitindo a

coexistência dos vários grupos sociais numa sociedade capitalista, resulta numa

segregação onde se vislumbra a saída das classes menos favorecidas

socioeconomicamente para áreas distantes do centro, localizadas em regiões

periféricas, sem infraestrutura e numa distribuição bastante desigual. É a chamada

segregação imposta, termo que o autor apropria-se em seu trabalho e que, no

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entanto, não se constitui na única forma de periferização. Por outro lado, a periferia

não é a única parte das cidades onde há população de baixa renda.

Tendo em vista que todo terreno significa um custo para a cidade, com a

prestação desses serviços básicos de infraestrutura e a legalização da área, além da

transformação decorrente na área, o que geralmente ocorre é a valorização dos

imóveis, forçando muitos moradores a saírem da área por não terem como arcar

com as despesas geradas por essas melhorias, como o pagamento de energia

elétrica, do consumo de água e de tributos, como o Imposto Predial e Territorial

Urbano (IPTU), além de outras exigências que surgem com os benefícios.

Assim, a população pobre, sem ter como morar em locais com condições

adequadas de saneamento, infraestrutura e equipamentos urbanos, busca a

alternativa de morar em locais afastados do centro, tendo em vista a possibilidade

de diminuição de seus gastos. Junto, porém, está a precariedade de serviços

urbanos e uma baixa qualidade de vida3, além da estigmatização perante a

sociedade da cidade considerada “legal”.

A segregação, porém, não ocorre somente pela imposição. Corrêa (1995)

mostra a segregação espontânea ou auto-segregação, esta sendo a exercida pelas

classes de renda mais alta. Villaça (2001) contribui para a compreensão do conceito,

afirmando que a segregação é um processo espacial que ocorre quando há a

concentração de determinadas classes num mesmo local. De acordo com o autor,

esse é um processo presente na estruturação das metrópoles brasileiras. É

importante ressaltar que essa concentração não exclui a presença de outras classes

no local, o que a caracteriza é exatamente a predominância de uma determinada

classe.

Reforçando o entendimento do processo de segregação, Corrêa (1995) afirma

que é um processo dinâmico, vivenciado no âmbito espaço-tempo. O autor aponta

para a tendência da uniformidade da população das áreas segregadas, a partir de

três características: status socioeconômico; urbanização e etnia. Essas

3 Entende-se Qualidade de Vida como a reflexão sobre a integração de fatores relacionados às condições materiais necessárias à sobrevivência humana e à satisfação dos desejos ligados ao lado emotivo das pessoas. (...) Reflete uma construção social que envolve o mundo da materialidade e da subjetividade, no qual estão estabelecidas as relações entre os homens e entre estes e a natureza, considerando, concomitantemente, a importância da individualidade e da coletividade (OLIVEIRA, 2008).

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características levam a uma relativa homogeneização dessas áreas, sendo um

processo que pertence somente à cidade, cuja origem é simultânea ao surgimento

das classes sociais. O processo de segregação socioespacial, ao mesmo tempo em

que revela a homogeneidade social existente no interior de cada classe, ressalta as

diferenças sociais existentes entre essas classes.

Deve ser ressaltado que o processo de segregação espacial está diretamente

relacionado à expansão urbana, residindo aí a complexidade do fenômeno, pois no

embate entre as classes sociais, suas forças são medidas de forma intensa,

realçando a fragmentação da estrutura social existente, o que afeta não só à classe

de baixa renda, mas a toda a população, principalmente pelos efeitos que acarreta,

como conflitos sociais e violência. Se, de um lado, têm-se os condomínios fechados,

dotados de infraestrutura e seu rígido sistema de segurança, de outro, fora de seus

muros, estão os excluídos, sendo, por isso, vistos como um perigo potencial aos

moradores “enclausurados” por seus muros.

Assim, na sua dinâmica de expansão, a cidade surge como o reflexo das

relações e reproduções das diversas classes sociais, as quais, convivendo num

espaço onde prevalecem as desigualdades, permitem o surgimento de movimentos

sociais para promoverem ocupações do solo e que impactam na sustentabilidade

socioambiental desse espaço.

2.2 ESPOLIAÇÃO URBANA E PERIFERIZAÇÃO

Essa dinâmica de expansão das cidades remete ao fato de que a urbanização

brasileira tem a característica de ser excludente, já que, ao se processar de forma

extremamente desigual, demonstra ser o resultado da profunda concentração de

renda existente no país, desencadeando um processo que avoluma os problemas

urbanos: a periferização.

Conforme Paviani (1994 apud CASTRO, 2006), as periferias nas grandes

cidades representam a concretização da exclusão e da segregação, com habitações

insuficientes e inadequadas, inexistência de infraestrutura básica, demora e

desconforto na acessibilidade aos locais de trabalho, além da deficiência na malha

viária e nos equipamentos de transporte coletivo.

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No entanto, as periferias podem ser entendidas tanto como áreas de

assentamentos humanos sem infraestrutura como áreas procuradas pelas classes

sociais abastadas.

De um lado, tem-se a periferização causada pela cidade que não consegue

agregar todos os seus moradores, bem como não lhes oferece serviços básicos de

infraestrutura, como transporte, energia elétrica, água, esgotamento sanitário e

saneamento básico, além de outros, como moradia, educação, lazer e emprego.

Assim, promove a saída dos pobres do centro tradicional, segregando-os em áreas

carentes desses serviços e distantes do centro comercial principal. Kowarick (1993)

aborda a questão em São Paulo, considerando-o como uma forma adicional de

exploração do trabalho, o que o autor denominou de “espoliação urbana”.

Essa falta de infraestrutura e distanciamento do centro, denominada de

espoliação urbana, surge, portanto, como resultado da falta de atendimento por

parte do Estado de serviços de consumo coletivo, os quais são essenciais a uma

sadia sobrevivência da população, ocasionando, assim, uma elevada densidade

dos assentamentos precários, como os cortiços e favelas.

No caso de Belém, a Figura 3 mostra que as áreas de cidade com maiores

densidades brutas são aquelas situadas próximas do centro comercial ou de outras

aglomerações comerciais importantes. Essa elevada densidade decorre não

somente das características intrínsecas desses assentamentos humanos (lotes

reduzidos, ruas estreitas, ausência de áreas de lazer), como também do elevado

número de moradores por domicílio (LOBO, 2008), configurando, muitas vezes,

situações de coabitação familiar.

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Figura 3 – Áreas de maiores densidades brutas da RMB/2000 Fonte: LOBO, 2008

De outro lado, tem-se a saída de famílias de alta renda do centro tradicional

para uma periferia constituída por condomínios fechados. No entanto, esta saída

ainda é relativamente pequena no Brasil comparativamente a que ocorre nos

Estados Unidos. Caldeira (2000, p.211) analisa o processo a partir desses

condomínios, por ela denominados de “enclaves fortificados” e que são vistos como

“o principal instrumento desse novo padrão de segregação espacial” e de que forma

estes se inserem nas áreas de expansão urbana.

Na análise de Caldeira (2000) e que reafirma a abordagem de Corrêa (1995)

sobre a segregação espontânea, esses espaços promovem o isolamento entre as

classes sociais numa mesma área, visto que os “enclaves fortificados” são espaços

privatizados, separados por muros e esquemas de segurança. O motivo: medo da

violência.

Com essa nova forma de estruturação do espaço urbano, altera-se o espaço

público, comprometendo-se a acessibilidade e a livre circulação, mudando, por

conseguinte, a face das relações entre as classes sociais, já que dado os muros que

as separam, as diferenças entre elas destacam-se nesse universo de segregação

socioespacial.

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A análise desse processo, mesmo que tenha sido realizada em São Paulo

pode ser visualizada em Belém ou em outras cidades brasileiras. A preocupação

principal é com a violência e com as condições de vida dos moradores.

O modelo de Borsdoff (2003) apresenta a periferia como sendo um novo

modelo de estruturação urbana, denominando-o de “cidade fragmentada” e que vem

se juntar às análises de Kowarick (1993) e Caldeira (2000).

Também podem ser citados diversos estudos que detectaram a expansão

mais acelerada da população nas áreas periféricas das aglomerações urbanas em

comparação a outras partes da cidade.

Constituem exemplos: Barbon (2004), Januzzi (2002) e Torres (2004) sobre

São Paulo, e Marques e Torres (2000) sobre o município de Mauá, na mesma região

metropolitana; Baeninger e Gonçalves (2000) sobre Campinas; Brito e Souza (1998)

sobre Belo Horizonte; Lago (1998) sobre o Rio de Janeiro; Jardim e Barcellos (2004)

sobre Porto Alegre; Deschamps (2002) sobre Curitiba; e Jakob e Barêa (2000) sobre

Goiânia; Taschner e Bógus (2001) sobre São Paulo.

Algumas tendências demográficas foram detectadas nesses estudos: a

acelerada expansão das áreas periféricas, a estagnação ou mesmo redução

populacional nas áreas centrais e o crescimento de favelas4.

O padrão de crescimento do município de São Paulo tem sido, a partir dos anos 40, de contínua expansão da mancha urbana para a periferia. A essa periferia associa-se todo um quadro de carências, aliado ao lote próprio em loteamento irregular e à casa autoconstruída. Se, de um lado, há indícios que a autoconstrução não está aumentando em lotes próprios, ela aumenta fortemente em lotes invadidos. As favelas urbanas estão se periferizando, e o crescimento da cidade nos anos 90, embora pequeno, ocorre fundamentalmente na periferia. (Taschner e Bógus, 2001)

A percepção de que a periferia está crescendo bem mais do que os núcleos

principais das cidades e que apresenta diferenças em relação ao centro, como a

densidade, a contigüidade e a continuidade da área construída, reforça a idéia de

desorganização, motivada principalmente pela heterogeneidade das construções e

4 Segundo o IBGE (2000), é um aglomerado situado em áreas que, em geral, estão localizadas nos terrenos que não interessam ao mercado de terra, desvalorizadas pela localização, qualidade ambiental , características físicas, condição jurídica.

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dificuldade da legibilidade espacial, que são decorrentes da segregação e da falta de

legalização urbanística da área.

Seguindo esta linha de raciocínio, tem-se que a especulação fundiária5 e

imobiliária que ocorre nos vazios urbanos nos municípios, leva ao espraiamento da

cidade, visto que o acesso ao uso da terra e do próprio solo urbano é considerado

uma mercadoria, cuja localização é que define seu valor e formas de ocupação. Os

especuladores imobiliários, com a finalidade de alcançar maior valorização de suas

áreas, deixam-nas “reservadas” aguardando o momento propício para a venda ou

construção. A expansão urbana ordenada, portanto, fica comprometida.

Nesse aspecto, é importante a contribuição de Reydon (2005), pois o autor

propõe uma divisão da urbanização brasileira em duas fases: a primeira, ocorrida

nas décadas de 50 e 60, pode ser considerada como suportável e a outra, a partir

dos anos 70, é denominada de caótica, haja vista o crescimento desorganizado das

cidades, cujas características visíveis são dadas pela especulação imobiliária que,

intensificando sua presença, propicia a periferização dos assentamentos humanos,

devido à submissão a que relegou a sociedade e o Estado no comando do processo

de ocupação do solo, submetendo-os a seus interesses.

Percebe-se, pois, que a falha na gestão por parte do Estado permite tal

espalhamento da “mancha urbana”. O crescimento não se dá a partir de um

planejamento voltado para a ocupação dos vazios urbanos com assentamentos

organizados e dotados de infraestrutura. Pelo contrário, a especulação e o

tratamento dado ao solo urbano mostram, de forma intensa, a diversidade entre as

classes sociais e como estas interagem com o solo da cidade. Para Corrêa (1995), é

este modo de produção do espaço, o qual, sendo um reflexo das desigualdades

sociais, significa o aumento da segregação socioespacial.

Assim, o próprio Estado, segundo Santos (2005, p.122), estimula o

surgimento de novos problemas urbanos, tornando-se um “criador privilegiado de

escassez”, ao permitir a especulação e fomentar novos espaços vazios nas cidades,

além de, ao direcionar os investimentos públicos, fazer de forma que promova

determinados espaços em detrimento de outros, sem considerar que tal escolha

possa relegar as melhorias das condições de vida para aquelas pessoas que moram

5 Manutenção de grandes áreas vazias no espaço urbano, as quais não cumprem a função social, no aguardo de melhores condições para vendê-las.

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em áreas de ocupação ilegal. E, por não resolver o problema da habitação, empurra

cada vez mais as populações de baixa renda para as periferias, empobrecendo-as

ainda mais, por serem forçadas a pagar caro por serviços precários e bens

essenciais à sobrevivência.

O interessante é que, junto com os problemas sociais e uma urbanização cujo

planejamento se mostra ineficaz para dar conta desses graves problemas, as

modificações inseridas no espaço urbano, desencadeadas pela especulação,

segregação e periferização, fazem com que os problemas ambientais sejam

intensificados, pois, ao serem obrigadas a morarem em áreas sem condições

adequadas à habitação, as classes menos favorecidas, mesmo que de forma

velada, vão sendo “responsabilizadas” pelos estragos causados ao meio ambiente,

por estarem próximas das nascentes dos rios e dos mananciais que abastecem a

cidade.

Fernandes (2001) chama a atenção para o enfrentamento da ilegalidade

urbana, originada por essas ocupações decorrentes da segregação socioespacial e

que, se existem, não é porque escolheram esse caminho, mas sim porque, pelas

suas condições socioeconômicas, não têm como participar do mercado habitacional.

Segundo o pesquisador, é necessário identificar e entender que os motivos que

provocam esse fenômeno são o resultado da combinação entre a dinâmica dos

mercados de terras e o sistema político e, ainda, a ordem jurídica elitista e

excludente que existe no Brasil, a qual não consegue compreender que os

problemas do espaço intra-urbano são conseqüência, portanto, desse enfrentamento

entre centro e periferia.

Outros problemas ainda podem ser detectados como decorrentes desta

situação. Deve-se destacar a dificuldade de inserção dessas pessoas no mercado

de trabalho formal, o qual não acompanhou o crescimento da população da periferia,

permanecendo concentrado no centro comercial principal e imediações. Isto leva à

intensificação dos movimentos pendulares, bem como ao aumento de tempo

despendido no deslocamento, dada a distância entre a periferia e o centro estarem

crescendo continuamente.

Além da distância, outro fator chama a atenção, embora não seja objeto de

avaliação nesta pesquisa, que é a precariedade do sistema de transporte público

coletivo e que não atende às necessidades de deslocamento das pessoas. Esse fato

mostra um dos resultados desse processo, que é o surgimento das “cidades-

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dormitórios”, onde boa parte dos habitantes permanece apenas durante a noite ou

nos finais de semana.

Assim, segundo Santos (2005, p.106), “graças às dimensões da pobreza e

seu componente geográfico”, é que se chega a um novo modelo de centro-periferia,

onde a especulação aliada ao déficit habitacional, conduzem à periferização da

população de baixa renda.

2.3 URBANIZAÇÃO E SUSTENTABILIDADE

Entende-se por uso do solo o tipo de atividade existente numa parte do solo

urbano, como habitação, comércio, indústria, serviço, construídos ou em construção.

Já por ocupação do solo entende-se com o a forma com que essa construção ocupa

uma parte do solo urbano, representada por dados como taxa de ocupação6 e índice

de aproveitamento7, dentre outros.

Visto de forma geral, pode-se dizer que o uso e a ocupação do solo urbano

das cidades brasileiras se deram a partir de um processo desordenado e que

desembocou num verdadeiro “chão de ilegalidade”, motivado, principalmente, pela

intensa desigualdade existente no país, anteriormente abordado. Um estudo sobre

uso e ocupação do solo urbano não pode prescindir da identificação das pessoas

que fazem parte desses grupos e das características desses espaços. Um grupo

busca as periferias e áreas impróprias das cidades para morar. É formado por

pessoas que mostram os reflexos da inadequação das políticas de gestão urbana e

que sofrem, portanto, os efeitos da falta de investimentos e das desigualdades

sociais entre ricos e pobres.

Essas pessoas são, por isso, o produto da espoliação urbana que os exclui da

cidade legal. Outro grupo é formado por aqueles que fazem parte das classes de

renda mais altas e que procuram áreas para a construção de suas moradias, sem a

6 É a relação entre a área de projeção do imóvel e a área total do terreno. Parâmetro importante para o conforto da edificação. 7 É a relação entre a área construída do imóvel (excluídas as áreas permitidas nas leis de controle urbanístico) e a área total do terreno.

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preocupação de tratar o espaço como um ambiente onde ocorra a convivência entre

as classes sociais.

E, mais uma vez, temos a noção do espaço urbano como um campo de lutas,

posto que as pessoas residentes nesses locais precisam conviver entre si, enfrentar

pessoas estranhas ao seu meio e, ao mesmo tempo, lutar por melhoria das

condições de vida nesses locais, aqui compreendidas sob a ótica de infraestrutura

básica de serviços públicos,como acesso à água potável, esgotamento sanitário e

coleta de lixo. Por isso, as ocupações urbanas, notadamente as que estão nas

periferias, representam a ausência do Estado em questões básicas, como a

moradia.

Seguindo esse contexto, a contribuição de Motta, Muelle e Torres (1997)

identificam que a deficiência da gestão urbana, que não prevê políticas e

instrumentos que permitam a ocupação do espaço de forma racional e capaz de

atender às camadas mais pobres da população, é o que leva essas pessoas a

ocuparem áreas sem qualquer infraestrutura de saneamento básico e longe da

assistência do Estado. Ou seja, é a concretização da espoliação humana.

Não se pode compreender que, num ambiente onde não há a prestação

adequada de serviços básicos; onde a ausência do Estado se faz notada pela

deficiência de programas e planejamento adequados que não cuidam seriamente

das restrições fundiárias existentes; e onde as pessoas não têm condições

aceitáveis de moradia, seja capaz de contribuir para a sustentabilidade

socioambiental de uma cidade.

Dessa forma, a população pobre, sem acesso aos serviços infraestruturais

básicos, se vê à mercê de uma situação de precariedade, na qual os problemas

socioambientais só se avolumam, à medida que crescem as ocupações

desordenadas.

Maricato (2000 apud REYDON, 2005, p. 154) vai mais além ao definir aa

invasões como sendo algo “estrutural e institucionalizada pelo mercado imobiliário

excludente e pela ausência de políticas sociais, no entanto, a dimensão e os fatos

são dissimulados sob notável ardil ideológico”.

Buscar a sustentabilidade socioambiental, portanto, torna-se a cada dia um

objetivo de difícil alcance, se existem pessoas que estão fora das políticas oficiais do

Estado e que, não dispondo desses serviços, contribuem para a degradação

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socioambiental, ao não contarem com acesso à água potável e esgotamento

sanitário, por exemplo.

Conforme abordagem anterior, na outra ponta da estrutura social estão as

pessoas de alta renda e que também praticam a segregação espacial. Também

estão nas ocupações. Porém, há um diferencial entre a forma de ocupação que

levam a efeito. Ao realizarem o processo de segregação, segundo Corrêa (1995),

escolhem criteriosamente as áreas a ocupar, levando ao controle do mercado

fundiário e de incorporação imobiliária, além de seletivizar onde os demais grupos

populacionais devem se localizar. Uma situação que merece destaque nessa análise

é o que ocorre quando surge uma ocupação próxima a condomínios da classe de

alta renda e que esta se mobiliza a fim de cobrar do Poder Público medidas para

afastar ou até mesmo eliminar a invasão de suas proximidades. E, muitas vezes,

esse mesmo condomínio não está cumprindo com todas as regras estabelecidas na

legislação urbanística.

Isso é o que se pode denominar de conflito socioambiental. Duas forças que

se contrapõem, cujos atores estão separados em classes sociais bastante distintas e

com interesses quase sempre contraditórios, além de possuírem uma nítida

diferença no acesso à informação e na tomada de decisão.

Um elemento importante nessa questão, e que está intimamente ligado ao

planejamento urbano, é o que se refere à descontinuidade na gestão da coisa

pública, aqui entendida como sendo a cidade. Não se tem uma visão sistêmica ou

uma interação entre o meio natural e as ações antrópicas.

A partir do entendimento do espaço urbano enquanto um campo de lutas das

classes sociais por conta de suas buscas por espaço alcança-se a abordagem do

que significa, no contexto deste trabalho, a sustentabilidade socioambiental.

Para Lima e Roncaglio (2001), chegar ao conceito de sustentabilidade

socioambiental das cidades não se constituiu numa tarefa das mais fáceis, haja vista

que o interesse da maioria dos governantes era alcançar as metas previstas para o

progresso econômico, mesmo que os esforços levassem ao sacrifício da qualidade

de vida das pessoas, devido à falta de preocupação com o meio natural.

Aqui, a noção de desenvolvimento é tida como o resultado das relações

socioespaciais que se processam num determinado espaço, daí a necessidade de

que essas relações apresentem qualidade, para que se alcance um determinado

equilíbrio entre o homem e o meio-ambiente. E para que ocorra, deve-se trabalhar a

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fim de diminuir os efeitos perversos da concentração de renda que desloca os

menos favorecidos economicamente do espaço onde está a cidade “legal”, para

locais inadequados para a construção de moradias.

Para isso, atentar à necessidade de um planejamento urbano que esteja

firmemente atrelado às condições socioeconômicas e ao desenvolvimento urbano é

essencial, visto que a desvinculação entre a atividade de planejar e de padrões

adequados de sustentabilidade acarreta graves problemas, não só físicos, como o

déficit habitacional, mas também sociais, como o caso das habitações que estão

próximas do centro tradicional da cidade, porém bastante distante dos serviços

urbanos básicos. O planejamento que não consegue avançar no acompanhamento

das necessidades urbanas ou que não alcança a dinâmica urbana contribui para a

manutenção da cidade “ilegal” e de seus problemas.

O planejamento deve, portanto, ser concebido de forma a perceber a cidade

como um todo e não apenas como fragmentos, onde as necessidades são atendidas

conforme a classe social dos interessados. Por isso, o entendimento da necessidade

da participação dos atores envolvidos é fundamental para a consolidação de um

novo processo de gestão8 e planejamento urbanos que tenham como foco principal

o enfrentamento da especulação imobiliária e a segregação socioespacial, além de

incrementar a participação popular nos processos decisórios, sem que se abandone

a necessidade de uma visão técnica nesses processos.

Assim, a noção de sustentabilidade socioambiental das cidades é recente,

visto que os espaços urbanos, na impossibilidade de satisfação das necessidades

de seus habitantes, estes interferem de várias formas na natureza, prejudicando-a.

Seja através da ocupação do solo sem planejamento, seja pela falta de cuidados

adequados para tratamento do lixo e outros detritos, seja pela maneira de produzir

energia. E sustentabilidade socioambiental deveria ser uma relação harmônica entre

homem e natureza, quando se pensa a cidade de forma integrada, perpassando por

todas as suas relações – históricas, sociais, culturais, ambientais, físicas e políticas,

cujo fim é alcançar a qualidade de vida no meio ambiente urbano

8 O conceito de gestão “remete ao presente: gerir significa administrar uma situação dentro dos marcos dos recursos presentemente disponíveis e tendo em vista as necessidades imediatas” (Castro, 2002, p.46).

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É essa relação de harmonia entre a sociedade humana e a natural que

permite o uso de áreas para a prática de turismo.

2.4. ASSENTAMENTO PRECÁRIO

No caput do artigo 6º da Constituição Federal do Brasil, está assegurado

dentre outros direitos sociais, o direito à moradia, visto como um dos elementos

essenciais para a qualidade de vida da população. No entanto, a realidade mostra

que o pressuposto na Carta Magna ainda está longe de ser alcançado. Com a

criação do Ministério das Cidades, pode-se vislumbrar melhoria no tratamento da

questão, apesar das iniciativas ainda se mostrarem incipientes, o que vem

provocando um aumento vertiginoso da população morando em áreas inadequadas,

seja pelas questões econômicas e legais, seja pelas condições de infraestrutura e

ambientais.

Segundo a Secretaria Nacional de Habitação, do Ministério das Cidades

(2009), os assentamentos precários são classificados sob quatro categorias, a

saber:

1. Favelas, vilas e mocambos;

2. Loteamentos irregulares de moradores de baixa renda - loteamentos ocupados

por moradores de baixa renda, sem aprovação do poder público ou sem atender as

condições exigidas no processo de aprovação, geralmente caracterizados pela auto-

construção das unidades habitacionais e pela ausência ou precariedade de

infraestruturas urbanas básicas.(Secretaria Nacional de Habitação, Ministério das

Cidades,2009, p.23).

3. Cortiços - habitação coletiva, constituída por edificações sub-divididas em

cômodos alugados, sub-alugados ou cedidos a qualquer título, super lotados e com

instalações sanitárias de uso comum dos moradores dos diversos cômodos, e;

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4. Conjuntos habitacionais degradados - são aqueles produzidos pelo setor público

que se encontram em situação de irregularidade ou degradação, demandando ações

de reabilitação ou adequação.

No presente trabalho, o foco é para as favelas, vilas e mocambos, os quais se

apresentam como “aglomerado de domicílios auto-construídos, dispostos de forma

desordenada, geralmente denso e carente de serviços públicos essenciais,

ocupando terreno de propriedade alheia (pública ou particular)”, segundo a

Secretaria Nacional de Habitação, Ministério das Cidades, 2009, p.23)

Os assentamentos precários configuram-se como um dos resultados da

combinação de uma série de fatores, como a desigual distribuição de renda, o alto

preço praticado no mercado imobiliário, a segregação socioespacial, elementos

característicos na acelerada urbanização brasileira, processada sem um

planejamento urbano que desse conta das necessidades de infraestrutura

requeridas pelas populações dessas áreas e que já foram discutidos neste trabalho.

A produção do espaço, enquanto consequência dessa combinação reflete,

prioritariamente, a divisão da sociedade em classes, onde a moradia, vista como um

elemento essencial para a vida social assume dimensões que vão além do

componente físico, visto que seu entendimento engloba, além da acessibilidade e

legalidade, as condições infraestruturais e ambientais.

Aqui se faz importante trazer a abordagem de Maricato (2001) referente à

população moradora em favelas, visto também se constituir num tipo de

assentamento precário. Afirma a autora que a estigmatização que acompanha os

habitantes tem a marca de ilegalidade e a carência de direitos, implicando, assim,

numa exclusão tanto urbana quanto ambiental. Por serem áreas que não dispõem

de infraestrutura e serviços urbanos, seus moradores, além de serem excluídos

territorialmente, também sofrem com o preconceito e rejeição.

Cada homem vale pelo lugar onde está; o seu valor como produtor, consumidor, cidadão, depende de sua localização no território. Seu valor vai mudando incessantemente, para melhor ou para pior, em função das diferenças de acessibilidade (tempo, frequência, preço) independentes de sua própria condição. Pessoas com as mesmas virtualidades, a mesma formação, até mesmo o mesmo salário, têm valor diferente segundo o lugar em que vivem: as oportunidades não são as mesmas. Por isso, a possibilidade de ser mais ou menos cidadãos depende, em larga proporção, do ponto do território onde se está. (SANTOS,1987, p.81 apud VILLAÇA, 2001, p.75)

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Nesse sentido, falar em assentamento precário no Brasil significa

compreender não só como estão sendo processados o uso e a ocupação do solo

nessas áreas, mas também compreender que esse solo ilegal/irregular constitui-se

na base para uma vida também ilegal/irregular, esquecida pelas políticas públicas,

no que concerne aos direitos e benefícios urbanos. Destaque-se que, de acordo com

os dados da pesquisa solicitada pela Secretaria Nacional de Habitação ao Centro de

Estudos da Metrópole, são mais de 12,4 milhões de pessoas vivendo em áreas

precárias, praticamente o dobro da população apontada pelo IBGE9, durante o censo

de 2000.

Nessa pesquisa, constatou-se que, dentre as regiões metropolitanas

pesquisadas, a de maior média é a de Belém, a qual apresenta 50% de seus

domicílios em aglomerados subnormais e assentamentos precários, valor muito

superior ao da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, onde estão apenas 19,6%

dos domicílios. Em relação ao Estado do Pará, 42,2% das pessoas estão em setores

subnormais e assentamentos precários.

Esse fato comprova a necessidade de que, além do conhecimento de tais

áreas, deve-se agir com efetividade a fim de inseri-los na “cidade legal”, visto que

essa “cidade real” evidencia a urgência de um planejamento urbano que faça parte

de uma política urbana, cujo objetivo seja a inclusão socioespacial da população, a

partir da regularização fundiária e da urbanização dos assentamentos precários.

A não-satisfação dessas condições significa a permanência dessa população

dentro do caráter irregular, o que, para Taschner (1982, p.83), significa que “não têm

luz, água, esgoto, ruas, linhas de ônibus nas proximidades, pavimentação, parques,

jardins, córregos canalizados, etc. O preço do lote, porém, possibilita o acesso da

população à terra” .

A caracterização dos assentamentos precários deve iniciar pelo entendimento

do que seja uma moradia considerada digna. Já se discutiu neste trabalho que o

espaço é resultado das relações entre as diversas classes sociais, não podendo

haver dissociação entre as paisagens física e social. O entrave está justamente

nessas relações, que se dão de forma bastante desigual, “empurrando” cada vez

mais as populações de baixa renda para locais distantes que não apresentam as

condições necessárias para recebê-las. 9 Pesquisa apresentada em setembro de 2007, pelo Centro de Estudos da Metrópole

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Para melhor entendimento do que seriam as condições dignas de moradia, o

Ministério das Cidades (2009), apresenta como elementos básicos: redes de

infraestrutura (transporte coletivo, água, esgoto, luz, coleta de lixo, pavimentação,

telefone); acesso a equipamentos de educação, saúde, segurança, cultura e lazer;

instalações sanitárias adequadas; condições mínimas de conforto e habitabilidade;

utilização por uma única família (excetuando-se casos de opção voluntária); um

dormitório permanente para cada dois moradores.

Assim, um planejamento urbano para essas áreas não pode prescindir na sua

identificação, de dados que quantifiquem os domicílios existentes, caracterizando-os

para posteriores intervenções.

Os assentamentos precários constituem um problema mundial, que, porém,

afeta os países do mundo de forma bastante desigual. Uma avaliação global do

problema dos assentamentos globais pode ser encontrada num relatório Programa

das Nações Unidas para Assentamentos Humanos, denominado The Challenge of

Slums (UN-HABITAT, 2003), que passou a se constituir numa referência mundial

sobre o assunto. O documento salienta que houve um significativo crescimento dos

assentamentos precários no mundo durante a década de 1990. Prevê, ainda, que o

forte incremento da população mundial resultará na adição de cerca de 2 bilhões de

novas residências situadas nessas áreas, caso não se tome uma atitude firme para

evitar que isso ocorra.

O citado documento estima que, em 2001, quase 1/3 da população mundial

(31,6%) residia em assentamentos precários (slums), o equivalente a quase um

bilhão de pessoas (924 milhões). Esse percentual é resultado de uma média de

componentes continentais e nacionais bastante desiguais, visto que os percentuais

deferem bastante entre os grupos de países considerados no estudo. Enquanto nos

países desenvolvidos o percentual era de 6%, alcançou 43% nas regiões compostas

por países pouco desenvolvidos, 63,1% naquelas com países menos desenvolvidos

sem litoral marinho e 78,2% nas que eram compostas pelas nações menos

desenvolvidas do mundo. Em termos continentais, os percentuais foram os

seguintes: África: 61,3%; América Latina e Caribe: 32,3%; Ásia: 40,1%; Europa

Oriental: 6,6%; Europa Ocidental e demais países: 9,6%.

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2.5 REFERÊNCIAS DOUTRINÁRIAS E LEGAIS

2.5.1 Fundamentos

O aprofundamento da análise que dê sustentação a esta pesquisa requer que

se inicie pelas contribuições que têm suas bases na Agenda 21 e na Conferência

Habitat II.

A Conferência Habitat II, ocorrida em Istambul, em junho de 1996, chama a

atenção para o desenvolvimento em bases sustentáveis. A erradicação da pobreza é

seu principal ponto, por ser uma situação que retrata perfeitamente o processo de

segregação socioespacial existente nas cidades. Tratou, assim, de dois temas

globais: habitação adequada para todos e o desenvolvimento de assentamentos

humanos em um mundo em urbanização. Seu foco foi direcionado para a

elaboração de uma agenda, denominada de Agenda Habitat, na qual se estabelece

um conjunto de princípios, metas e compromissos, além de um plano global de

ação, voltado para a orientação de esforços nacionais e internacionais no que se

refere à melhoria dos assentamentos humanos.

Dias (2005, p.63), mostra que a Conferência Habitat II vem complementar a

Agenda 21, reafirmando a necessidade de que as mudanças sejam direcionadas

para ”a concretização deste novo paradigma para o desenvolvimento”, buscando a

redução das desigualdades sociais. Ainda segundo a mesma autora (p. 66), a

Agenda 21 Brasileira, ao analisar as questões intraurbanas que se constituem num

entrave para a sustentabilidade, elenca como as principais, “o problema do acesso à

terra e ao déficit habitacional, o saneamento ambiental”.

O tema está fundamentado na Constituição Federal de 1988, a partir da qual

todas as ações voltadas ao desenvolvimento urbano devem ser implementadas,

constituindo-se num poderoso instrumental legal, o qual, no entanto, depende de

vontade política para colocá-lo em prática.

Os fatos demonstrados no parágrafo anterior em relação à Carta Magna

indicam que não pode ser vista como se fosse um documento feito de mosaicos

distintos. Deve-se analisá-la a partir de uma visão generalista, porém sem perder o

foco necessário nas questões fundamentais para o entendimento e a

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fundamentação primeira dos temas que envolvem o Estado Brasileiro, em todos

seus aspectos – sociais, econômicos, legais, ambientais.

Sendo assim, está no entendimento de seus artigos, a compreensão dos

problemas a enfrentar com as ocupações desordenadas e ilegais que estão

redesenhando o espaço urbano de Belém, especificamente neste trabalho, o do

Distrito de Mosqueiro.

No preâmbulo da Carta Magna de 1988, prevê-se que o Estado Democrático

deve “assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais”, compreendidos como

aqueles que promovam a dignidade da pessoa humana, conforme o inciso III, do

artigo 1º.

Assim, sendo a Constituição Federal o documento-base para qualquer

proposta de análise jurídica, fica comprometida a compreensão do porquê da

ausência do Estado no atendimento aos direitos básicos das pessoas, aqui

entendidos como o acesso aos serviços de infraestrutura (rede de esgotamento

sanitário, rede de canalização de água potável, energia, estrutura viária) e aos

serviços sociais (educação, saúde, habitação), conforme o previsto no inciso III, do

artigo 3º - “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades

sociais e regionais” e no artigo 225:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bens de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Tem-se, portanto, que o direito a uma cidade com sustentabilidade

socioambiental está previsto na Constituição Federal, pois, a partir do momento em

que se promovam os benefícios de uma vida com qualidade à população, pode-se

esperar que a sustentabilidade da vida urbana seja mais facilmente alcançada.

E, ao buscá-la, estar-se-á promovendo o que se denomina de “legalidade

urbana”, configurando-se numa alternativa para minimizar o processo de segregação

espacial que ocorre em Belém, e que culmina nos movimentos de ocupação,

irregulares e ilegais, fragmentando, de forma crescente, o desenho da cidade, ao

afastar cada vez mais, umas das outras, as classes ricas e pobres.

A abordagem da Constituição Federal mostra a base de toda a ação voltada

para a melhoria das condições de vida num espaço urbano, com o objetivo principal

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de minimizar os efeitos nocivos da segregação espacial motivada pelo

distanciamento socioeconômico entre as classes sociais, possibilitando a

instrumentalização dessas ações. Esse documento não trata especificamente dos

instrumentos que darão corpo ao direito urbanístico, porém em seus artigos 182 e

183 deixa os pilares que constituirão a materialidade das iniciativas.

Para buscar a ordenação jurídica das questões urbanísticas, após as

diretrizes lançadas pela Constituição Federal, foi sancionado o Estatuto da Cidade,

através da Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001.

Segundo Dias (2005, p.143)

o Estatuto da Cidade apresenta diretrizes gerais nacionais para a execução de políticas urbanas, estabelecendo normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana, delimitando de forma precisa e com contornos claros o que seja a função social.

Para o Estatuto da Cidade, esta é um bem coletivo, cuja função social deve

ser garantida, mediante a integração harmoniosa e dentro de um espírito de

cooperação entre os entes federados. Possui um caráter inovador ao reconhecer a

cidade real e que esta deve ser incorporada à cidade legal, por meio de

instrumentos de regularização fundiária e urbanística das áreas ocupadas pelas

populações de baixa renda, conforme seu artigo 2º, inciso XIV. Busca, assim, dar

garantias às pessoas de baixa renda, para a legalização jurídica das moradias.

Ao reafirmar a propriedade privada, impor limitações à especulação e criar

novos instrumentos jurídicos na questão urbanística, o Estatuto da Cidade revê o

planejamento urbano, rompendo com o paradigma até então vigente de um

“planejamento estático, setorial, burocratizado”, conforme afirma Rodrigues (2004,

p.13).

Para isso, apresenta como instrumento principal o Plano Diretor, documento

que deve buscar a organização do espaço urbano, com vistas à sadia qualidade de

vida da população , além de uma maior participação da sociedade civil10, por meio

de audiências públicas.

10 Sociedade civil é o conjunto de instituições e relações sociais que não fazem parte, diretamente, do aparelho do Estado. É heterogênea, formada por diversos grupos, organizações e movimentos de diferentes orientações políticas, que muitas vezes têm interesses diferentes e conflitantes. No entanto, é indispensável, para a transformação social e espacial, que a sociedade civil participe

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Em relação ao Plano Diretor, o Estatuto da Cidade, afirma que o mesmo deve

atender

às exigências fundamentais de ordenação da cidade, assegurando o atendimento das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça social e ao desenvolvimento das atividades econômicas (...) constituindo-se no instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana”, conforme disposto em seus artigos 39 e 40.

Deve buscar uma relação sadia entre os habitantes e os serviços urbanos. É,

pois, um instrumento que vem auxiliar as cidades em suas ações de planejamento

para o enfrentamento da expansão ilimitada em sentido horizontal e que caracteriza

o urbanismo “selvagem e de alto risco” para a sustentabilidade socioambiental, pois

avança rapidamente em direção à áreas inadequadas para a construção de

moradias.

Apesar de se tratar da regulamentação do espaço urbano, o Estatuto da

Cidade prevê que o Plano Diretor deve ser relativo a toda a territorialidade municipal,

ou seja, deve contemplar tanto a cidade com o meio rural. Lobo (2007, p. 56) chama

a atenção para a necessidade de se tratar das áreas urbanas e rurais num

planejamento articulado, porém resguardando-se as diferenças existentes entre

essas áreas, pois “misturá-las é aumentar a possibilidade de criar confusão a

respeito do escopo do PD, ampliando-o desnecessariamente e contribuindo para o

enfraquecimento de suas propostas e, conseqüentemente, de sua eficácia”.

2.5.2 Plano Diretor de Belém e o D.A. de Mosqueiro

É interessante se fazer uma referência ao primeiro Plano Diretor de Belém,

sancionado através da Lei Municipal nº 7.603, de 13 de janeiro de 1993, o qual deixa

efetiva e diretamente da construção de propostas, projetos, políticas públicas, planejamento e gestão urbanos. (SOUZA, 2004, p.71)

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claro no artigo 1º, que seu objetivo vem ao encontro do que está proposto na

Constituição Federal, “a melhoria da qualidade de vida de seus habitantes e

usuários”, a partir do cumprimento da função social da cidade em atender às

necessidades de acesso à moradia, aos serviços urbanos (transporte coletivo,

energia elétrica, iluminação pública, segurança, saneamento), e ainda, à saúde, ao

trabalho, ao lazer, à educação, à segurança, ao patrimônio ambiental e cultural, à

informação e à cultura.

Em relação ao acesso à moradia e aos serviços urbanos, pode-se afirmar que

as ações não tiveram capacidade para garantir o que está disposto no artigo 1º da

Lei: por isso, as ocupações desordenadas e ilegais ganharam terreno nessa luta,

apesar das disposições contidas no Plano, referentes aos programas de moradia

popular e urbanização dessas áreas.

Quanto ao distrito do Mosqueiro, esse Plano Diretor de Belém, previu a

elaboração de um Plano Diretor específico, contendo programas para atender à

potencialidade turística da Ilha, o que ocorreu com a aprovação da Lei Municipal de

nº 7.684, de 12 de janeiro de 1994. Esta Lei previu as diretrizes para o ordenamento

urbano também da Ilha de Caratateua.

Como não poderia deixar de ser, o Plano Diretor de Mosqueiro e Caratateua

tem como finalidade o cumprimento da função social e da “propriedade imobiliária de

fins urbanos”, mediante a integração de todos os agentes públicos e privados,

visando “garantir o bem-estar individual e coletivo de seus habitantes”, conforme

dispõe o artigo 1º.

Para a organização do espaço urbano, a Prefeitura Municipal de Belém teve

como principal referência, a construção da ponte que liga a ilha ao continente, na

década de 70, modificando, assim, a forma de acesso, que passou a ser rodoviária,

“o que demandou uma nova área de expansão urbana, desordenada, configurada

por ocupações em forma de loteamentos, conjuntos habitacionais e invasões”,

conforme o disposto no artigo 7º, inciso I.

Mais adiante, ao tratar do controle urbanístico, o Plano Diretor trouxe uma

conceituação de zona de expansão urbana como sendo “toda área definida como

passível de ser urbanizada, de maneira contínua, na forma desta Lei”, conforme o

artigo 13 desse Plano.

E previu ainda, a criação de Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) –

espaços onde estão localizadas as invasões seja em terrenos públicos ou privados.

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Nessas áreas, a Prefeitura Municipal de Belém deverá propor a elaboração de

projetos para urbanizá-las, regular juridicamente a posse da terra e a implementação

de programas de habitação popular voltados, principalmente, para a população de

baixa renda.

Além da criação das ZEIS, o Plano Diretor previu ainda programas para

“construção de moradias populares”, “promoção do acesso a lotes urbanizados,

dotados de infraestrutura básica e serviços de transporte coletivo”, além da

“regularização jurídica das áreas ocupadas por população de baixa renda, passíveis

de urbanização”, conforme dispõe o artigo 64.

Seria o caminho adequado para que Mosqueiro não perdesse sua vocação

natural para o lazer e o turismo. Inclusive, no próprio Plano Diretor, já estavam

previstas as ações voltadas para o turismo e a indústria de transformação de

produtos regionais e artesanal (artigo 36), dentre as atividades econômicas para

proporcionar o desenvolvimento econômico local.

Em relação ao saneamento, o Plano Diretor previu a adoção de instrumentos

que “visem o aumento gradativo do padrão dos serviços prestados à população”,

segundo dispõe o artigo 82.

Dessa forma, o Plano Diretor tratou da drenagem urbana, do abastecimento

de água, do esgotamento sanitário, dos resíduos sólidos, todos vistos como itens

prioritários para a administração municipal. No entanto, deve-se ressaltar que essa

Lei não alcançou o que estava previsto em seus artigos. Assim, as ocupações

desordenadas continuaram crescendo na Ilha de Mosqueiro, avançando cada vez

mais sobre áreas próximas à beira-rio, comprometendo não só a qualidade de

“bucólica” da Ilha, mas ocasionando graves problemas socioambientais, além de

agravar os econômicos pela chegada de pessoas em áreas inadequadas para

moradia.

O atual Plano Diretor (Lei nº 8.655), sancionado em 30 de julho de 2008,

tratou, no mesmo texto, de todo o território do Município de Belém, significando,

pois, a inclusão de Mosqueiro e Outeiro, visto que ambos os distritos estão inseridos

na municipalidade. Este Plano Diretor seguiu, em sua elaboração, os preceitos do

Estatuto da Cidade, além das Constituições Federal e Estadual e Lei Orgânica do

Município de Belém.

Deve se ressaltar que, dentre seus princípios fundamentais, estão o

cumprimento da função social da cidade e da função social da propriedade urbana,

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os quais abrangem desde o direito à terra urbanizada como a preservação do

patrimônio histórico, cultural e ambiental, conforme disposto no artigo 3º do Plano

Diretor. Inicialmente é interessante destacar os artigos 4º, 26 e 27, pois os mesmos

tratam das condições gerais de habitabilidade, onde estão inseridos os

assentamentos precários, objeto deste trabalho.

No artigo 4º, o Plano trata das diretrizes gerais de desenvolvimento de Belém,

em cujos incisos II e III, são abordadas as condições básicas de habitabilidade e

ordenamento da estrutura espacial da cidade.

O artigo 26 versa sobre a Política Municipal de Habitação, “visando a

universalização do acesso à moradia com condições adequadas de habitabilidade”,

prevendo, conforme disposto em seu inciso IV “promover a requalificação

urbanística e a regularização fundiária dos assentamentos precários existentes”.

Complementando-o, têm-se, no artigo 27, as diretrizes da Política Municipal de

Habitação cuja abordagem é para se buscar mecanismos que atendam à população

de baixo poder aquisitivo, de forma que sejam alcançada a melhoria da condição de

habitabilidade.

O Plano Diretor divide o Município de Belém em duas macrozonas: a

Macrozona do Ambiente Urbano (MZAU) e a Macrozona do Ambiente Natural

(MZAN), divididas de acordo com as características de cada área, seja urbana ou

natural. Cada macrozona está dividida, por sua vez, em zonas. Assim, tem-se as

Zonas do Ambiente Urbano (ZAU) e as Zonas do Ambiente Natural, ( ZAN).

Tendo em vista que esta pesquisa trata da questão urbana, o enfoque,

portanto, será para a MZAU, que possui dentre suas diretrizes (artigo 81) a

viabilização de atividades socioeconômicas de acordo com o desenvolvimento

sustentável, “valorizando a paisagem e a proteção do meio físico, como elemento

fundamental da paisagem urbana” (inciso I), além de “garantir a mobilidade e

acessibilidade nas áreas urbanas” (inciso III). A análise será específica para

Mosqueiro, o qual é abordado no Plano Diretor dentro da MZAU, ZAU 1 e ZAU 2

(Figura 4).

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I LHA SD6

ILHA SD3ILHA SD5

ILHA DE M OS QUEI RO

IL HA DO MARACUJÁ

I LHA DOS AM ORES

ILHA DAS GUARIBAS

ZAN 2

ZAU 2

ZAU 1

Setor I

Setor IIILHA DE CUNUARI

IL HA DA CONCEIÇÃO

ILHA SD2

ILHA DO M ARUIM I

I LHA DO M ARUI M IIILHA SD1

IL HA DO PAPAGAIO

ILHA SD4

ILHA SD7

Figura 4 – ZAU’s 1 e 2, referentes à Mosqueiro

Fonte: Plano Diretor de Belém ( Lei nº 8655/2008), anexo V

O artigo 88, referente à Zona do Ambiente Urbano 1 (ZAU 1) mostra as

características dessa parte do território: “ocupação rarefeita, inexistência de

infraestrutura e presença de vegetação significativa”. De acordo com o parágrafo

primeiro deste artigo, dentre os objetivos para esta ZAU 1 estão a garantia da

qualidade ambiental, a promoção da ocupação horizontal de baixa densidade e a

implementação de infraestrutura mínima.

Para esta ZAU 1, dentre as diretrizes a serem seguidas estão a estruturação

do sistema viário e áreas de uso coletivo e o estímulo às atividades de comércio e

serviços locais. Em relação aos parâmetros urbanísticos, o artigo 136, parágrafo 3º,

I, dispõe que o coeficiente de aproveitamento mínimopara esta área é de 0,05, com

o propósito de evitar a subutilização dos terrenos.

A ZAU 2, abordada no artigo 89, tem como característica principal a ocupação

habitacional, com infraestrutura consolidada em parte dela, sazonalidade do núcleo

habitacional, cuja ocupação se dá principalmente em período de férias e finais de

semana. Define-se para essa ZAU um coeficiente de aproveitamento mínimo de 0,1,

conforme artigo 136, parágrafo 3º, II. Assim como a ZAU 1, esta também objetiva a

qualidade ambiental, a ocupação horizontal, além do fortalecimento das “atividades

de cultura, esporte, lazer, comércio, serviços e negócios, visando o incremento do

turismo” (parágrafo 1º).

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Suas diretrizes apontam para a consolidação da infraestrutura, a fim de

potencializar a atividade turística, devendo ser implantados “mecanismos para a

promoção da regularização fundiária” (parágrafo 2º), além da organização dos

sistemas viário e de transporte, com prioridade para o transporte coletivo; estímulo

às atividades comerciais e de serviços, a fim de incrementar a economia local,

enfatizando-se o turismo.

Em sua Seção III, artigo 100, o Plano Diretor de Belém trata das Zonas

Especiais, as quais “compreendem áreas do território que necessitam de tratamento

específico e definição de parâmetros reguladores de uso e ocupação do solo,

sobrepondo-se ao zoneamento”. Classificam-se em Zonas Especiais de Interesse

Social (ZEIS); Zonas Especiais de Interesse Ambiental (ZEIA); Zonas Especiais de

Interesse do Patrimônio Histórico e Cultural (ZEIP); e Zonas Especiais de Promoção

Econômica (ZEPE).

Em relação a Mosqueiro, a maior parte de seu território é considerado como

uma ZEIA, ilustrada na cor verde, conforme mostra a figura 5.

Figura 5 – Representação da ZEIA em Mosqueiro Fonte: Plano Diretor de Belém ( Lei nº 8655/2008), anexo VI

De acordo com o artigo 113, III, a Vila e seu entorno estão classificadas como

ZEIP, enquanto que a orla – Setor A (na cor vermelha) é considerada como Área de

Interesse para fins de Recuperação Urbanística e Paisagística, conforme figura 6. A

parte circulada na cor preta identifica o Parque Ecológico da Ilha do Mosqueiro.

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10

7

11

5 15

Figura 6 – Representação da ZEIP e da Área de Interesse para fins de Recuperação Urbanística e Paisagística de Mosqueiro Fonte: Plano Diretor de Belém ( Lei nº 8655/2008), anexo VI

Na parte norte da Ilha, conforme a figura 7, a área identificada pela cor róseo-

Setor B, é considerada como Área de Interesse Ambiental, Arqueológico e Histórico,

conforme disposto no artigo 111, parágrafo primeiro.

Figura 7 – Representação da Área de Interesse Ambiental, Arqueológico e Histórico Fonte: Plano Diretor de Belém ( Lei nº 8655/2008), anexo VI

No artigo 221, V e VIII, fica estabelecido que o Poder Público Municipal terá a

partir da publicação desta Lei, até vinte e quatro meses, para encaminhar à Câmara

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Municipal, projetos de leis que tratem especificamente das Zonas Especiais de

Interesse do Patrimônio Histórico e Cultural (ZEIP) e das Zonas Especiais de

Interesse Ambiental (ZEIA).

Sabe-se claramente que o Plano Diretor de Belém ainda está bastante

recente para que se possa fazer uma análise de seus efeitos. Não se deve

esquecer, porém, que as ocupações urbanas levadas a efeito sem qualquer

planejamento estão ocorrendo muito rapidamente, descaracterizando muitas áreas

do território municipal.

E em Mosqueiro a situação não é diferente, como será mostrado quando se

abordar a expansão urbana de Belém em direção a Mosqueiro, no capítulo 5 deste

trabalho.

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Neste capítulo são apresentados os principais procedimentos metodológicos

utilizados para desenvolver a presente pesquisa. Assim, como passo inicial foi feita a

identificação e o fichamento da literatura teórica e empírica sobre o tema, para, em

seguida, chegar-se ao modelo geral da pesquisa, identificando-se as áreas a serem

pesquisadas, para então se proceder à aplicação dos instrumentos selecionados.

Em relação aos instrumentos, optou-se pela entrevista estruturada, com apoio

de formulário e pelo grupo focal. Quanto à primeira, o objetivo foi coletar dados

referentes aos domicílios e às pessoas responsáveis pelos mesmos, visando,

principalmente, a compreender como se configuram essas ocupações no contexto

socioeconômico da expansão urbana de Belém. Para tanto, procedeu-se à

caracterização das famílias, do trabalho que exercem, da renda auferida, das

condições físicas e legais da moradia, dos bens duráveis pertencentes às famílias e

do processo migratório dos responsáveis pelos domicílios pesquisados.

A utilização do grupo focal teve como objetivo central verificar de que maneira

essas ocupações estão inseridas no contexto socioeconômico da expansão urbana

de Belém, além de permitir o cruzamento dos dados informados durante a aplicação

dos formulários.

3.1 O MODELO GERAL DA PESQUISA

Para responder ao problema central desta pesquisa: existe alguma relação

entre o crescimento populacional da Ilha do Mosqueiro nos últimos 15 anos e o

processo de periferização da Região Metropolitana de Belém? Em caso positivo que

relação é essa? – foram necessárias algumas decisões quanto ao design geral da

pesquisa.

Assim, a primeira refere-se à natureza do delineamento que deveria ser

utilizado, optando-se por um estudo de caso analítico, a partir de quatro áreas de

ocupação urbana localizadas na Ilha do Mosqueiro – Ipixuna (Baía do Sol), Poeirão

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(Praia Grande), Associação dos Produtores Rurais da Ocupação Arlinda Gomes do

Vale (Sucurijuquara) e Mártires de Abril (Carananduba). São áreas que, segundo

pesquisa preliminar, passam por um processo de ocupação do solo sem

planejamento urbano, configurando assentamentos precários.

A pesquisa do tipo analítica, além de identificar e descrever as principais

características da realidade estudada visa a estabelecer e compreender que

relações existem entre essas características, apesar das limitações e possibilidades

de generalizações dos dados pesquisados.

Para fazer uma análise mais aprofundada dos dados obtidos, optou-se pela

abordagem do tipo quali-quanti, a qual se fez necessária tanto pela subjetividade

apontada pela pesquisa, como pela necessidade de apresentação de dados

estatisticamente trabalhados.

Com o propósito de chegar à consecução do trabalho proposto, foram

utilizadas a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental e a pesquisa de campo.

A pesquisa bibliográfica, segundo Oliveira (2002), tem como objetivo principal

o conhecimento das contribuições já existentes sobre um determinado tema,

servindo, pois, para a construção de um trabalho que avance na compreensão do

fenômeno em estudo. Sua importância está na necessidade do trabalho ter uma

fundamentação teórica que possibilite a análise do fenômeno pesquisado, tendo em

vista a especificidade da abordagem, como também para verificar a contribuição do

trabalho para a literatura sobre o tema.

Para se proceder à pesquisa bibliográfica, os locais foram:

a) as bibliotecas da Universidade da Amazônia, da Universidade Federal do Pará e

do Centro de Instrução Almirante Braz de Aguiar, este último, organização da

Marinha do Brasil;

b) a Biblioteca Pública Arthur Viana e o Arquivo Público do Pará; e

c) as bases de periódicos eletrônicos.

A pesquisa documental, cuja importância, segundo Beuren (apud LOPES,

2006), está na possibilidade de se organizar as informações, pois sua base está em

materiais que ainda não sofreram um tratamento analítico ou que, de acordo com a

pesquisa, podem ser reelaborados. Neste trabalho, refere-se à legislação pertinente

ao tema, notadamente os planos diretores, aos mapas e às imagens de satélite,

sendo realizada com o propósito de verificar de que forma se trabalhou o espaço no

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Município de Belém especificamente, o do Distrito de Mosqueiro. As fontes

documentais foram buscadas nos arquivos:

a) da Companhia de Desenvolvimento de Belém (CODEM);

b) da Companhia de Habitação do Pará (COHAB);

c) nas Secretarias Municipais de Planejamento (SEGEP) e de Habitação (SEHAB);

d) na Agência Distrital de Mosqueiro (ADMOS), e;

e) no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Tendo em vista que “a pesquisa de campo corresponde à coleta de

informação no local em que acontecem os fenômenos”, segundo Trujillo Ferrari (in

Lopes, 2006, p. 215), a observação dos fatos da forma como ocorrem, permite que

se estabeleçam relações entre as variáveis; por isso, a escolha da pesquisa de

campo, com a finalidade de aprofundar a compreensão da realidade das pessoas

que vivem nessas áreas, bem como os impactos socioeconômicos nas áreas em

estudo.

Durante a aplicação dos formulários, foi realizado um levantamento

fotográfico dos locais, principalmente referentes à questão do saneamento –

sanitários, arruamento e lixo, além de modelos das moradias.

3.2 INSTRUMENTOS DE PESQUISA E O PROCESSO DE COLETA DE DADOS

A fim de se alcançar o objetivo geral da pesquisa e se captar a complexidade

dos dados escolheram-se como instrumentos de coleta, a entrevista subsidiada pelo

formulário e o grupo focal, os quais, após aplicação, devem ser tratados por meio de

uma triangulação entre as técnicas, para se investigar a veracidade das informações

coletadas.(Apêndice B)

O formulário foi aplicado a 50 domicílios em cada uma das quatro áreas

escolhidas, totalizando 200 sujeitos, selecionados de maneira não aleatória,

buscando-se, contudo, uma escolha dos domicílios que representem as

características gerais de cada uma das áreas.

Foi dividido em quatro partes, contendo perguntas abertas e fechadas. A

primeira parte refere-se às informações gerais sobre as pessoas residentes nos

domicílios pesquisados, composta por perguntas acerca da pessoa do responsável e

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da família. A segunda parte diz respeito ao trabalho e renda. Aqui, as perguntas

foram em relação à origem da renda, natureza da ocupação, renda familiar, local de

trabalho e a frequência semanal ao trabalho e através de que meio é feito esse

deslocamento. Na terceira parte, sobre migração/moradia, o objetivo foi identificar

de onde essas pessoas vieram, há quanto tempo estão nessas áreas, quanto

pagaram e quais os motivos que as trouxeram ao local. Na quarta e última parte,

referente à condição física da moradia, teve-se como objetivo identificar o tipo de

material da construção das casas, o número e a localização dos banheiros, a

quantidade de cômodos por domicílios, além de como é o acesso à água e se

dispõe de energia elétrica. Nessa parte, investigou-se também a existência, nos

domicílios, de alguns bens duráveis e acesso á comunicação.

Em relação ao grupo focal, sua importância está na possibilidade de se criar

um espaço para as observações da realidade dos assentamentos precários

estudados. Este instrumento foi desenvolvido através da participação da autora nas

reuniões de centro comunitário ou com as lideranças das áreas. Complementou-se

com visitas aos órgãos públicos. O objetivo principal foi estabelecer o cruzamento

das informações orais com os dados obtidos através da aplicação dos formulários,

bem como aprofundamento sobre a origem do assentamento e o porquê de estarem

naquele local.

A coleta de dados foi realizada no período compreendido entre setembro e

novembro de 2009 nos domicílios das áreas já citadas anteriormente. Deve-se

ressaltar que a maior dificuldade para a realização da pesquisa diz respeito ao

transporte da autora para os locais pesquisados, que foi sempre feito pelo modal

ônibus.

De Belém até a Praça do Carananduba, em Mosqueiro, localizada no bairro

de mesmo nome, leva-se, em média, entre 1 hora e 30 minutos a 2 horas, de acordo

com o horário. Daí, a espera pelo ônibus Vila-Baía do Sol, chega a ser de até 50

minutos, apesar de que, numa das visitas, a espera ultrapassou as duas horas.

Excluindo-se a ocupação do Poeirão, as outras três são alcançadas através dessa

linha de ônibus. Na volta, a duração da viagem para Belém, pode levar até 4 horas,

incluindo-se o tempo de espera nos pontos.

A aplicação dos formulários nas ocupações APROAR e Mártires de Abril

foram realizadas em menos tempo que nas demais, explicando-se pelo fato de

serem oriundas de movimentos organizados, necessitando, pois, da autorização das

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lideranças para se adentrar nas áreas. Assim, os moradores já sabiam que seriam

entrevistados e prestaram apoio à autora.

3.3 A ESCOLHA DOS DOMICÍLIOS PARTICIPANTES DA PESQUISA

Para se definir os domicílios participantes da pesquisa, primeiro se fez o

levantamento das áreas de ocupação/ assentamento precário existentes em

Mosqueiro, cujos dados, da Secretaria Municipal de Saúde, foram obtidos na

Agência Distrital.

Das 32 áreas, optou-se por quatro áreas, a partir de dois critérios básicos:

quais eram provenientes de movimentos e quais eram espontâneas. Assim,

escolheu-se a Ipixuna, cuja origem é espontânea e hoje possui um grupo na

liderança que luta por melhorias na área, tendo inclusive acompanhado a pesquisa;

a Poeirão, também espontânea, e que somente agora está partindo para a formação

de um centro comunitário; a APROAR, surgida a partir da formação de um

movimento social e o assentamento Mártires de Abril, cuja origem se deu através do

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). O objetivo dessa escolha é poder

alcançar as várias nuanças que permeiam nas ocupações, visto as relações

estabelecidas a partir de a sua origem serem bastante diversas entre si.

3.4 A ANÁLISE DOS DADOS

Para se tratar os dados coletados, foram utilizados dois procedimentos

principais. As informações oriundas das questões fechadas do formulário foram

dispostas, inicialmente, em tabelas e quadros. Daí, para a interpretação dos

resultados, foram criados gráficos, a partir do programa Excel, componente do

pacote Microsoft Office 2007, os quais visam a apresentar as informações mais

relevantes para que se alcance o objetivo desta pesquisa.

O segundo procedimento utilizado baseou-se nas respostas abertas do

formulário, tendo como objetivo verificar a relação entre as respostas e as

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informações obtidas por meio do grupo focal. Dessa forma, as informações das

pessoas foram anotadas numa agenda de campo, permitindo-se que, em alguns

casos, se retornasse a uma questão já abordada a fim de maior compreensão do

assunto. Posteriormente, se procedia a uma leitura atenta sobre as questões,

quando se buscava a maior fidelidade possível na transcrição dos dados. Em alguns

casos, apenas uma pessoa se reportava àquela questão, porém, mesmo essa

contribuição procurou-se não desprezá-la.

A análise resultante dos dados de natureza quantitativa são apresentados

por meio de tabelas, gráficos e quadros. Já os de natureza qualitativa e que resultam

das perguntas abertas são apresentados sob a forma de um quadro de referência,

onde estão elencadas as respostas obtidas, além de fotografias.

Com a finalidade de sintetizar os procedimentos metodológicos desta

pesquisa, a seguir é apresentado um quadro onde se relacionam os objetivos

específicos e os procedimentos utilizados para se alcançá-los.

Quadro 1 – Síntese dos procedimentos metodológicos

Objetivo específico Instrumentos de coleta de

dados Análise dos dados

Identificar, no contexto dessa expansão urbana, quais as áreas que decorrem da implantação de assentamentos precários

Identificar como essa expansão urbana se coloca no contexto geral da expansão urbana da Região Metropolitana de Belém

Caracterizar os principais aspectos socioeconômicos dos assentamentos precários;

identificar como o planejamento urbano de Belém tem lidado com o surgimento desses assentamentos precários no Distrito Administrativo de Mosqueiro.

Entrevista com autoridades e pesquisadores;

Mapeamento das áreas;

Visita aos órgãos públicos a fim de verificar a situação dos loteamentos existentes no local de estudo;

Formulário

Grupo Focal

Em relação aos dados quantitativos serão utilizadas tabelas, gráficos e quadros

Quanto aos de natureza qualitativa, a análise será partir de um quadro de referência, além de fotografias.

Quanto às informações cartográficas, servirão para subsidiar a análise, através da identificação das áreas de assentamento precário.

Fonte: construção própria

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Esta pesquisa está de acordo com os princípios éticos adotados pela Comissão

Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) em cumprimento à Resolução CNS Nº

196/96 referente à pesquisa envolvendo seres humanos, cuja aprovação pelo

Comitê de Ética em pesquisa da Universidade da Amazônia (CEP UNAMA), foi em

11 de setembro de 2009, sob o Protocolo Nº 274958/09. (Anexo A)

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4 A REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM (RMB)

4.1CARACTERIZAÇÃO DA RMB

A Região Metropolitana de Belém (RMB), instituída através da Lei nº 5.907,

de 19 de outubro de 1995, é composta pelos municípios de Belém, Ananindeua,

Marituba, Benevides e Santa Bárbara (figura 8), possuindo uma superfície de,

aproximadamente, 1.828 Km2, comportando, no ano de 2007, uma população de

mais de 2 milhões de pessoas, de acordo com a Contagem Populacional do IBGE.

Figura 8 - Mapa-índice da Região Metropolitana de Belém Fonte: Lobo, 2004

Os estudos populacionais sobre a RMB revelam uma taxa de urbanização de

95%, excetuando-se os municípios de Benevides e Santa Bárbara. Deve-se

destacar que Ananindeua, enquanto segundo município em termos de

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desenvolvimento da RMB possui a maior taxa de urbanização do Estado do Pará, a

qual é em 2000, de 99,76%.

A RMB apresentou um crescimento de 3,63% ao ano entre 1970 e 2000,

segundo Faure (2002 apud CASTRO, 2006). De seus municípios, Belém sofreu até

a década de 1990, um expressivo aumento populacional, devido principalmente à

intensa migração proveniente do interior e de outros Estados da federação, quando

o crescimento passa a ser garantido pelos demais municípios do conjunto.

Essas tendências identificadas nos estudos demográficos podem ser

evidenciadas em relação à Região Metropolitana de Belém (RMB), conforme a

tabela abaixo.

Tabela 2: evolução populacional da RMB, 1991/2000/2007

Municípios 1991 2000 Var.(%) 2007 Var.(%)

Ananindeua (1) 88.151 393.569 346,5 484.278 23,0

Belém - PA (2) 1.244.689 1.280.614 2,9 1.408.847 10,0

(1)+(2) 1.332.840 1.674.183 25,6 1.893.125 13,1

Benevides (3) 68.465 35.546 -48,1 43.282 21,8

Marituba (4) - 74.429 - 93.416 25,5

Santa Bárbara (5) - 11.378 - 13.714 20,5

(3)+(4)+(5) 68.465 121.353 77,2 150.412 23,9

Total 1.401.305 1.795.536 28,1 2.043.537 13,8 Fonte: IBGE – censos demográficos e dados estimados.

A tabela 2 mostra claramente o crescimento demográfico da periferia da RMB.

No período compreendido entre 1991 e 2000, o crescimento populacional do

conjunto formado pelos municípios de Belém e Ananindeua foi de 25,6%, enquanto

que nos municípios mais distantes do núcleo metropolitano, Benevides, Marituba e

Santa Bárbara, ocorreu um crescimento de 77,2%, número bem mais expressivo.

Ressalte-se que, nesse período, não faz sentido analisar a evolução populacional de

cada município isoladamente, em razão das profundas alterações de limites

municipais sofridas na RMB.

Os distritos de Outeiro e de Mosqueiro, localizados em áreas insulares do

município de Belém, também já são alcançados por esse processo de periferização,

apesar de estarem localizadas em pontos afastados do centro comercial da cidade.

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Conforme dados dos censos demográficos de 1991 e 2000, o Distrito de Outeiro

teve um incremento populacional de 352,5%, passando de 5.795 para 26.225

pessoas.

Em relação ao Distrito de Mosqueiro, o crescimento percentual foi de 52,1%,

passando de 18.343 para 27.896 pessoas. No entanto, deve-se destacar que

durante o período intercensitário de 1980 a 1991, o incremento demográfico na ilha

foi de 26,9%, considerando que a população era constituída de 14.460 pessoas.

Assim, entre 1980-2000, Mosqueiro cresceu 80,4% em termos demográficos, o que

ocasionou grande espalhamento da mancha urbana, conforme as imagens do

satélite Landsat5, apresentada na Figura 9.

1989 1999 2008

Figura 9 – Espalhamento da mancha urbana de Mosqueiro Fonte: Ferreira, Lobo e Fonseca (2009).

4.2 BELÉM: EXPANSÃO URBANA E ASSENTAMENTOS PRECÁRIOS

Segundo Belém (2000), a partir de 1950, já se pode falar em problemas

relativos à expansão de Belém, dada a ocorrência de conflitos sociais, motivados

pelos monopólios na ocupação das margens de rios, pela especulação imobiliária e

pelo autoritarismo exercido pelos planejadores no que se referia à remoção de

populações, empurrando-as para as áreas de “baixada”, localizadas na Primeira

Légua Patrimonial.

De acordo com Rodrigues (apud BELÉM, 2000) a expansão urbana de

Belém, ocorre de três maneiras:

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a) quando há o parcelamento das propriedades da época da borracha e que

dá origem a muitas vilas e passagens nas terras altas;

b) ocupação dos alagados, e;

c) quando se ultrapassa o “cinturão institucional”, chegando-se às áreas rurais

de Belém e Ananindeua. Têm-se ocupações espontâneas, estabelecimento de

indústrias e implantação de projetos habitacionais, através de loteamentos e

conjuntos.

Quando a cidade deu sinais de que necessitava se expandir11, ultrapassando

os limites da Primeira Légua Patrimonial12, os rumos iniciais apontaram no sentido,

tanto da rodovia Augusto Montenegro como da rodovia BR-316. Para ficar mais claro

o entendimento de como se deu esse processo de expansão, Rodrigues (1996,

p.143 apud Belém, 2000, p.128) coloca que o mesmo teve início pela avenida

Tavares Bastos, alcançando as Rodovias Augusto Montenegro e Arthur Bernardes,

chegando até o município de Ananindeua, através da estrada do Coqueiro.

Para Lima (2002), esta é a forma que direciona a ocupação da periferia e que

serve de suporte para que se tenha a fragmentação desse processo, por meio dos

conjuntos e condomínios.

Belém experimenta, a partir daí, duas formas de ocupação de sua periferia.

Uma se caracteriza pelas ocupações ilegais, localizadas principalmente às margens

das rodovias Augusto Montenegro e BR-316, para poderem usufruir das condições

de infraestrutura oferecidas pelo Estado. A outra se dá com a construção de vários

condomínios de luxo, que tiveram o cuidado de elevar seus muros até onde não se

sentissem vulneráveis ao contato com os outros moradores da periferia. É o início da

concretização, em Belém, do fenômeno analisado por Caldeira (2000).

Para ressaltar o exposto acima, tem-se que, com o aumento dos litígios pela

posse da terra, da segunda metade da década de 1970 até o início da década de

1990, a Região Metropolitana de Belém (RMB), experimentou um processo

crescente de ocupações, segundo demonstrado por Alves (1997 apud Belém 2000,

p.128): “dez invasões entre 1979 e 1982; 29 entre 1983 e 1986; e 44 entre 1987 e

1990”. 11 As áreas de expansão previstas para a malha urbana de Belém foram estabelecidas ao longo das Rodovias Augusto Montenegro e BR-316, Avenida Pedro Álvares Cabral e da Estrada do 40 Horas. BELÉM, 2000. 12 Doação da Coroa Portuguesa, através de Carta de Datas e Sesmaria, em 1º de setembro de 1627

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Um fato importante nessa análise é que as invasões ocorridas em Belém

seguiram as construções de conjuntos habitacionais para a baixa renda, a fim de

aproveitarem os serviços de infraestrutura e equipamentos públicos oferecidos aos

moradores. Para efetivar a regularização e ordenação das áreas invadidas, através

da “regularização dos lotes, desapropriação de áreas, implantação de infraestrutura

básica e equipamentos coletivos”, tem-se como responsáveis a COHAB, a partir de

1990 e a CODEM, a partir de 1992, “como os órgãos públicos que estavam à frente

dessa ação”, segundo Belém (2000, p. 129)

É importante dizer que todas as áreas de ocupação tratadas pelos dois

órgãos estavam fora da Primeira Légua Patrimonial, segundo IPEA (apud BELÉM,

2000). O IPEA apresenta ainda uma estimativa da população dessas áreas em

relação a Belém, conforme quadro a seguir, o qual mostra um expressivo

contingente populacional residente nas áreas de ocupação, formando a chamada

“cidade ilegal”, expressão já conceituada neste trabalho. Tem-se cerca de 120 mil

famílias nessa condição, constituindo 19 dos 45 bairros continentais de Belém.

Quadro 2 - População Urbana e População Residente em áreas de ocupação na RMB

População Urbana População Ocupação %

1991 1996 1991 1996 1991 1996

1.095.499 1.401.305 398.483 547.254 36,37 39,05

Fonte: IPEA, 1997 apud Belém, 2000.

Na área insular, representada pelos Distritos de Mosqueiro e Outeiro, as

ocupações até 1998, estão representadas no quadro 3.

Quadro 3 – Ocupações em Mosqueiro e Outeiro até 1998.

Nº Denominação Distrito Bairro

01 Mosqueiro DAMOS Maracajá

continua

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continuação

02 Ilha Bela DAMOS Marahú

03 Carananduba DAMOS Carananduba

04 Baía do Sol DAMOS Baía do Sol

05 Cop. do Norte (Água Boa) DAOUT Água Boa

06 Fama DAOUT Água Boa

Fonte: Anuário Estatístico do Município de Belém, 1998.

É importante ressaltar que as informações contidas no Quadro 3, até 1998,

foram relacionadas apenas seis áreas de ocupação irregular nos distritos de

Mosqueiro e Outeiro, sendo quatro em Mosqueiro, objeto deste trabalho. Estes

dados são essenciais para se compreender a motivação desta pesquisa, visto que

apenas dez anos após o levantamento citado, Mosqueiro passou de quatro para 32

áreas ocupadas irregularmente, significando um avanço de 700% no número de

áreas ocupadas de forma irregular.

4.3 O DISTRITO DE MOSQUEIRO

4.3.1. Evolução histórica, caracterização e urbanização

Segundo Meira Filho (1978), desde 1627 já se encontram referências a essa

parte do território, dados que constam da Carta Geral do Brasil, quando identifica o

delta com várias ilhas, entre as barras do Rio Pará. Outros documentos

apresentados pelo autor reportam-se a Mosqueiro como uma das ilhas componentes

dessa parte do litoral. No entanto, nesses primórdios da história paraense e

particularmente de Belém, a Ilha de Mosqueiro ainda não era vista como uma área

de destaque para a caracterização de Belém. Inclusive em relação ao uso da

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denominação Mosqueiro nos documentos oficiais, as pesquisas desse autor indicam

que esta começou a ser utilizada em 1680.

Em relação ao porquê da denominação Mosqueiro, Meira Filho (1978)

acredita que é o resultado de um processo de linguagem, que se iniciou com os

termos “moqueio”, “mosqueio”, “musqueira”, “musqueia”, chegando, por fim, a

Mosqueiro. Esta expressão - moqueio13 possui, ainda hoje, um significado bastante

relevante para a região amazônica, sendo uma das formas mais usadas para a

preparação de alimentos onde não há recursos para a conservação.

A importância do processo de moqueio deve ser ressaltada, visto que se

constituía no modo como o peixe era trazido para negociar na sede da colônia.

Chegavam embalados em fardos e prontos para abastecer os consumidores de

Belém.

Meira Filho (1978) afirma que foram os índios tupinambás e os moribiras os

primeiros habitantes da Ilha. Faziam parte do grupo indígena que habitava tanto a

costa quanto o sertão brasileiro, servindo como importante fator de mão-de-obra

para o desenvolvimento da colônia e prestação de serviços à Coroa portuguesa,

devido principalmente aos poucos moradores, que não eram suficientes para a

execução dos trabalhos.

Acredita-se que as populações que ocupavam a parte norte da Ilha, a Baía do

Sol, são as mais antigas, oriundas dos índios e dos colonizadores que chegavam via

São Luis. Muito depois é que se chegou até a Vila, como é conhecido o centro do

núcleo urbano de Mosqueiro.

Até o ano de 1868, Mosqueiro pertencia à Freguesia de Benfica, quando a 10

de outubro desse ano, por meio da Lei nº 563, alcançou a denominação de

Freguesia. Vinte e sete anos depois, em 6 de julho de 1895, chegou aos foros de

Vila, através da Lei nº 324. Seu aspecto físico compara-se a um rim recurvado,

estando separado do continente pelo Furo das Marinhas.

13 O Moqueio é uma técnica de conservação de origem indígena, porém mantida posteriormente por outros habitantes. Consiste em, após a limpeza do peixe ou da caça, enrolar em folhas de guaraná, colocando num buraco na areia coberto com lenha verde, a fim de fazer bastante fumaça. Na realidade, o que ocorre é a defumação do peixe ou da caça moqueada, conservada pelo carbono que a madeira desprende na queima. Ao preparar o moqueio, o índio fazia cortes bem finos no peixe ou caça, para melhor absorção do carbono. Tais cortes eram denominados pelos colonos portugueses de “musqueia”, por se parecer com listras (Meira Filho, 1978)

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Em 26 de fevereiro de 1901, através da Lei nº 753, sancionada pelo

Governador Augusto Montenegro, os terrenos do Distrito da Vila de Mosqueiro são

incorporados ao patrimônio de Belém.

Há uma controvérsia na legislação quanto às ilhas que compõem o Distrito.

Conforme o artigo 7º, I, da Lei Municipal nº 7.682, de 5 de janeiro de 1994, este é

composto pelas ilhas do Mosqueiro, São Pedro, do Maracujá, das Pombas, do

Papagaio, Cunuari, da Conceição, do Maruim I, do Maruim II e mais quatro sem

denominação. Porém, de acordo com dados apresentados pela Companhia de

Desenvolvimento de Belém (CODEM, 2000) são 17 as ilhas. Além das já citadas,

tem-se a dos Amores e mais seis sem denominação.

Outro trabalho de relevância para esses estudos iniciais da formação de

Mosqueiro, pertence a Antonio Baena, citado por Meira Filho (1978, p. 40). Segundo

Baena, em 1885, Mosqueiro possuía “40 casas de telha, algumas de palha,

dispostas em uma larga praça e duas ruas; igreja,( ...), cemitério, 3 casas de

negócio, 2 escolas públicas, 2 padarias, uma foguetaria, 500 habitantes na

povoação,( ...), 1 engenho de cana, movido a vapor, 4 olarias”.

Até o fim do século XIX, Mosqueiro ainda não havia despertado nos

moradores de Belém, grande interesse em conhecer e desfrutar de suas praias de

água doce e de ondas altas. Em 10 de janeiro de 1904, é que se instala oficialmente

o primeiro transporte entre a Vila e as praias, com a construção de um ferro-carril.

Em relação à ligação entre Belém e Mosqueiro, entenda-se Vila, esta se dava

através as embarcações de pescadores, as quais não dispunham de regularização

de horários nem de qualquer organização para realizar a viagem.

Esse cenário vai mudar nos anos finais do século XIX e nos primeiros anos do

século XX, quando Belém experimenta os excelentes resultados da borracha, no

período conhecido como bélle-époque14.

Belém é inserida num cenário de modernidade, dando mostras de que era

uma cidade em franca expansão social e econômica e que mantinha uma ligação

estreita com a Europa. Foi um período de grandes obras, como as construções do

Teatro da Paz, do Mercado do Ver-o-Peso, dos Palacetes Bolonha e Pinho e de

melhorias na infraestrutura, quando a cidade recebe inúmeros serviços públicos. 14 Período áureo da “economia do látex na Amazônia”, e que “está intrinsecamente ligado às transformações ocorridas a nível da reprodução do capital e da acumulação de riquezas pela burguesia internacional” (SARGES, 2002).

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Tem-se, assim, benefícios na área de eletricidade, de transportes, de água, de gás,

de tratamento do lixo, de telefonia. Há, ainda, a construção do cais do Porto de

Belém.

Para a construção dessas obras, chegou à cidade um grande contingente de

técnicos europeus – ingleses, franceses e alemães, os quais com o intuito de

descanso nos finais de semana, elegeram Mosqueiro para essa finalidade. O relato

desse fato é importante neste trabalho, pois levou a sociedade belenense a

descobrir as potencialidades oferecidas pela Ilha para servir como um balneário.

Além da elite, comerciantes portugueses, libaneses e hebraicos também aderiram

ao movimento.

Iniciam-se, a partir daí, a construção de residências, tipos palacetes rurais, ao

longo da orla fluvial, contrastando com as modestas e pobres residências,

localizadas em torno da Igreja Matriz, na Vila. Esse afluxo de pessoas à Ilha levou à

instalação da Delegacia de Polícia, da Sede da Agência Municipal, dos Correios e

de algumas lojas comerciais, iniciando-se, assim, o processo de urbanização do

Mosqueiro, fortemente atrelado ao período faustoso da borracha.

Pelo uso como balneário, segundo Meira Filho (1978), a evolução de

Mosqueiro, pode ser dividida em três épocas. A primeira inicia-se pelas praias

localizadas na Vila. À medida que a população de Belém procurava novos refúgios,

tem-se o avanço pelas praias do Farol, Chapéu Virado, Porto Arthur, Murubira e

Ariramba.

Tempos depois é que os visitantes da capital chegaram ao Marahú, Paraíso,

Caruara e São Francisco. É o que o autor considera como a segunda fase da

ocupação de Mosqueiro como balneário.

A terceira fase seria a procura pelos locais mais distantes da Vila, como as

praias da Baía do Sol, situada ao norte da Ilha. Essa parte do território de Mosqueiro

permaneceu durante muito tempo como se não pertencesse à administração

municipal, “completamente divorciada dos interesses da ínsula, em termos de

desenvolvimento, sob as rédeas do primitivo Grão-Pará, depois da Província, no

Império e na República, após 1889”, segundo relata Meira Filho (1978, p. 68). Este

relato pode servir como referência para o fato de que nos dias de hoje, algumas das

ocupações urbanas promovidas pelas classes de menor poder aquisitivo estejam

localizadas nesta parte do território do Mosqueiro.

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Observando-se a partir da ótica de núcleos populacionais, pode-se afirmar

que Mosqueiro tinha, inicialmente, dois núcleos bastante distintos. Um deles

constituído pelos moradores nativos, localizado na Vila. O outro constituído pelos

veranistas e localizado nas praias do Chapéu Virado, Farol e Murubira.

A relação estabelecida entre esses dois núcleos deixa clara a existência de

um processo de segregação socioespacial, visto que os moradores da Vila, em sua

maioria, exercem suas atividades para atendimento dos veranistas. Em muitos

casos, são seus caseiros e empregados domésticos. Mesmo quando são pequenos

comerciantes, se voltam para a clientela do núcleo dos veranistas. Por isso, as

diferenças de status e poder econômico entre os nativos e os veranistas e a forma

como se relacionam também é extremamente desigual. É um espaço dual, portanto,

cuja produção se deu a partir de interesses alheios aos moradores locais. Na

verdade, foi o reflexo do momento histórico por que passava Belém e não como o

resultado da promoção de um desenvolvimento socioespacial onde se buscasse

melhor qualidade de vida para os nativos da Ilha.

Essa configuração socioespacial e a continuidade do processo de ocupação

de Mosqueiro experimentam uma nova territorialidade, quando é inaugurada, em 12

de janeiro de 1976, a ponte Sebastião R. de Oliveira, com 1.457,35 metros, ligada à

Ilha através da PA-391 - Rodovia Augusto Meira Filho, esta concluída em 1965 e

que possui um traçado que vem confirmar o que está dito no parágrafo anterior,

pois, primeiro ela acompanha o litoral até a praia do Chapéu Virado e somente então

é que segue até à Vila. Com isso, Mosqueiro integrou-se ao continente.

A inauguração da ponte possibilitou que uma grande parte da população

belenense tivesse acesso à Ilha. O turismo sofreu uma modificação. Se antes era

um privilégio da elite, passou a servir às pessoas de menor poder aquisitivo. Levou a

massa populacional a conhecer os atrativos de Mosqueiro. Mas também levou ao

início de um processo de ocupação caracterizado pela especulação imobiliária e

pelo uso inadequado do solo devido à relação antrópica com o meio ambiente e que

foi se configurando de forma desordenada.

O crescimento populacional experimentado por Mosqueiro pouco tem a ver

com o que se espera de desenvolvimento humano, visto que há poucas melhorias

nos diversos sistemas que compõem um espaço urbano, como saneamento,

transporte, saúde, educação.

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Esta ineficiência de planejamento, tanto abriu espaço para as ocupações

irregulares, com a conseqüente descaracterização da Ilha e principalmente a

degradação ambiental, como se percebe o desalojamento da população nativa, a

qual passou a vender seus terrenos para a construção de segunda residência de

pessoas de Belém.

Nas mensagens enviadas anualmente à Câmara de Vereadores15, a

administração municipal de Belém faz seu relatório de atividades do ano anterior.

Assim, durante as quatro últimas mensagens (2006 a 2009), pode-se verificar que,

em relação a Mosqueiro, os trabalhos realizados ocorreram de forma isolada, não se

identificando um planejamento que integre Mosqueiro como um pólo de turismo,

onde se vislumbre a sustentabilidade socioambiental, nem uma política sistemática

para melhorar a qualidade de vida da população local.

Segundo a mensagem enviada em 2006, a Prefeitura, com a finalidade de

buscar a expansão do turismo16 e a preservação dos mananciais, inaugurou o

Sistema de Esgotamento Sanitário de Mosqueiro, totalizando 45,5 Km de rede

coletiva, a qual tem a capacidade para atender 5.286 ligações domiciliares, podendo

alcançar 90 mil pessoas, diretamente, sendo o monitoramento da qualidade da água

tratada por esse Sistema feito pelo Laboratório de Análise de Efluentes, inaugurado

no mesmo período (julho de 2005). No entanto, esta é uma obra que não está

funcionando. Ainda nesta mensagem, com a finalidade de dar um novo aspecto à

chegada na Ilha, a Prefeitura inaugurou o Pórtico17, num projeto do arquiteto Milton

Monte, com se fosse uma apresentação da ilha às pessoas que a visitam,

principalmente aquelas que a procuram para veraneio.

15 Mensagens do Prefeito de Belém à Câmara Municipal de Vereadores e Relatório de Atividades, anos 2006, 2007, 2008 e 2009, SEGEP.

16 Programa para transformação de Mosqueiro em pólo turístico: Nova orla da praia do Paraíso - 1.370m de via, construção de calçadas em concreto, meio-fio com linha d’água, iluminação pública a vapor de sódio, sinalização e paisagismo com 3.000m2 de grama em placas tipo esmeralda. 17 Projeto inspirado nos chalés construídos no século XIX pelos colonizadores europeus, “que são réplicas dos chalés das regiões fronteiriças entre a França, Alemanha, Suíça e a Bélgica(...) construído em maçaranduba, madeira nobre da região, tem 9m de altura por 17m de largura e 17m de comprimento, situando-se a 300m do trevo de Carananduba, na PA-391” Mensagem do Prefeito, 2006.

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Na mensagem de 2007, destaca-se a realização de um inventário

socioespacial de Mosqueiro, através de um trabalho conjunto entre a Coordenadoria

Municipal de Turismo - BELEMTUR e a Universidade Federal do Pará. Na

mensagem de 2008, a referência feita a Mosqueiro dá-se pelo projeto Condomínio

das Amazonas, localizado na estrada da Baía do Sol, prevendo-se a urbanização de

100 lotes.

No texto enviado à Câmara de Vereadores em 2009, a Prefeitura informa que

realizou melhorias no Sistema de Abastecimento de Água e Esgoto, com a

construção de três sistemas públicos de água e esgoto e um sistema de coleta e

tratamento de esgoto sanitário; implantação de linha fluvial, com a finalidade de

integração intermodal as ilhas e o continente; o Programa Bolsa Família, do Governo

Federal, atendeu em Mosqueiro 3.514 famílias, o que correspondeu a 4,09% do total

de famílias beneficiadas em Belém, que foi de 85.825 famílias; realização de

revisões cadastrais em 18 áreas18 do Distrito, totalizando 365 imóveis vistoriados e

398 processos de revisão cadastral de terrenos.

18 Aeroporto - Ariramba – Baía do Sol – Carananduba – Caruara – Chapéu Virado – Farol – Mangueiras – Maracajá – Marahú – Murubira e Natal do Murubira – Paraíso – Porto Arthur – Praia Grande – São Francisco – Sucurijuquara.

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5 EXPANSÃO URBANA DE BELÉM E PERIFERIZAÇÃO DE MOSQUEIRO

5.1 MOSQUEIRO ENQUANTO ESPAÇO DUAL

A organização territorial de Mosqueiro caracteriza-se pela existência de áreas

voltadas ao veraneio, à moradia da população local, à produção agropecuária e à

preservação. Na primeira área, basicamente na orla e seu entorno, estão localizadas

as residências das pessoas que vêm à Ilha, em geral, durante o período de férias

escolares, no mês de julho e em feriados prolongados, caracterizando-se pela

sazonalidade da ocupação. Constituem-se, portanto, na segunda residência dessas

pessoas. A maioria é construída em alvenaria e dotada de infraestrutura,

contrastando, por isso, com as áreas passíveis de expansão urbana, onde estão

localizadas as ocupações irregulares - os assentamentos precários, cujas

características são a falta de serviços básicos, como saneamento, coleta de lixo,

rede de água, esgotamento sanitário, iluminação pública.

Visto que a ocupação de Mosqueiro iniciou pela orla, o traçado de suas ruas,

foi desenhado a partir daí, valorizando as áreas próximas, o que permitiu uma certa

valorização imobiliária, já que é nessa área que se encontram as moradias da

população de poder aquisitivo considerado alto, atraindo, assim, um amplo leque de

serviços, apesar da sazonalidade já citada.

No entanto, segundo levantamento efetuado nesta pesquisa em relação às

ocupações, nota-se certa proximidade do espaço ocupado por essa população e o

de baixa renda. Porém, tal proximidade é apenas física, visto as diferenças em

relação aos serviços urbanos básicos serem realmente visíveis.

É exatamente o que Corrêa (1995) afirma como segregação socioespacial.

Em Mosqueiro, a separação entre as classes sociais influenciou a ação do Estado, a

partir da discriminação pelo poder municipal, ao tratar de forma diferenciada as

pessoas em relação à disponibilização de serviços urbanos básicos. A idéia de tratar

Mosqueiro como área de interesse turístico coloca à mostra as relações que

resultam dessa interação desigual, pois, ao se buscar a articulação entre o morador

nativo e o que vem de fora para visitar a ilha, cujo interesse é o consumo e o lazer,

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enquanto exigências básicas da atividade turística, é comum que as diversidades

sejam excessivamente fragmentadas, a fim de dar conta dessas exigências.

No entanto, o olhar apenas para a possibilidade de Mosqueiro se constituir

num espaço de turismo, permitiu o avanço das ocupações, contrariando, portanto, a

intenção do poder público municipal, conforme o disposto no Plano Diretor. Assim,

se chegou ao ano de 2008 com 32 áreas de ocupação irregular, seja pela falta de

regularização fundiária, seja pela carência de serviços públicos. Muitas estão

próximas de mananciais, como é o caso da ocupação do Pução, identificada neste

trabalho.

Inclusive no atual Plano Diretor de Belém, artigo 66, III, estabeleceu-se que a

implementação dos Corredores de Integração Ecológica exige o estabelecimento

de uma faixa de domínio ao longo dos cursos d’água, a qual na orla das praias,

considera-se como área non aedificandi, a faixa mínima de cem metros, a partir da

linha de maior preamar. Contrariando essa determinação tem-se tanto residências

de veranistas, algumas construídas literalmente à beira da praia, como casas de

moradores de assentamentos precários.

A relação entre a orla/entorno e as áreas de expansão deixa visível a grande

desigualdade entre elas. Pode-se verificar que os moradores de baixa renda

geralmente se dirigem à orla/entorno para exercerem um trabalho informal nas

praias ou prestar serviços domésticos e pequenos reparos nas residências. Poucas

vezes utilizam os equipamentos de lazer disponíveis e outros espaços públicos. Eles

próprios se sentem segregados, daí a inibição em enxergar a orla como um espaço

de lazer para ser utilizado por todas as pessoas. Destaque-se que o Sistema

Municipal de Áreas Verdes e de Lazer, segundo o inciso II, do artigo 58, do Plano

Diretor/2008, tem como um de seus objetivos: “adotar critérios justos e eqüitativos

de provisão e distribuição das áreas verdes e de lazer no âmbito municipal”.

Quanto aos estabelecimentos prestadores de serviços e comerciais, a maioria

está localizada na orla/entorno, o que significa para a administração municipal,

arrecadação de tributos, levando-a a disponibilizar uma infraestrutura visando a

atrair e tornar permanentes essas iniciativas. Para tanto, efetiva os serviços de

manutenção dos logradouros, o que se pode verificar pela limpeza desses locais,

com coleta regular do lixo.

Outro fato que deve ser destacado é que esses empreendedores são os

maiores interessados em manter afastadas as pessoas de baixa renda, visto as

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mesmas não serem vistas como consumidores potenciais, por não disporem de

recursos financeiros para adquirir seus produtos. O que lhes importa é que na sua

proximidade devem estar as pessoas que tenham capacidade de consumo e que

possam elevar a valorização da área, daí a escassez de terrenos nesse local.

Em relação ao sistema de transporte público, a ligação entre Mosqueiro e

Belém é feita através de duas linhas de ônibus. Uma saindo do Terminal Rodoviário

de Belém, utilizando veículos de tamanhos variados, categoria semi-urbano, com ar

refrigerado, ao preço em torno de R$ 5,0019 e outra saindo de um ponto em frente ao

Terminal de Belém, em ônibus urbano, ao preço de R$ 2,8020.

Apesar de contar com essas duas alternativas, pode-se afirmar que é um

serviço precário, tanto pelo número de veículos quanto pelo estado de conservação

dos mesmos, o que quase sempre faz com que as viagens apresentem excesso de

passageiros, principalmente nos horários de maior fluxo, como durante a ida/volta

para o trabalho/ escola.

Em relação à Baía do Sol, o fato é agravado, visto que a viagem direta para

Belém se dá apenas em dois horários matutinos, às 5:00 horas e 5:30 horas, em

veículos que já saem do ponto de origem com grande número de pessoas.

Quanto ao transporte no interior da Ilha, a maioria das viagens são realizadas

por veículos de transporte alternativo, sem estabelecimento ordenado de horários, o

que não permite às pessoas se programarem para suas atividades. É comum se

esperar por até uma hora ou mais por um transporte, principalmente para locais

mais distantes, como a Baía do Sol e Paraíso.

Durante o trabalho de campo, a autora deste trabalho, experimentou essa

realidade de espera longa por um transporte coletivo na Praça do Carananduba

para se deslocar até às ocupações Ipixuna, APROAR e Mártires de Abril. E um

detalhe que se torna importante citar neste trabalho, tendo em vista seus objetivos: o

transporte público coletivo não existe nas praias mais famosas da Ilha, como é o

caso da praia do Farol. Os veículos seguem pela Avenida 16 de novembro em

direção à Vila.

Mosqueiro, portanto, tem a enfrentar inúmeros obstáculos em relação à sua

ocupação e expansão urbanas, principalmente por ser considerada uma área

voltada ao turismo. 19 Valor referente a novembro de 2009. 20 Valor referente a novembro de 2009.

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De acordo com o disposto no artigo 8º do Plano Diretor/2008, dentre as

diretrizes da Política de Desenvolvimento Econômico do Município, tem-se:

(...) XXIII - promover os produtos turísticos dos diversos segmentos específicos e prioritários, como história e cultura, esporte e aventura, negócios e eventos profissionais, turismo de natureza, de entretenimento e lazer urbano, contemplando as diversidades culturais e naturais da cidade; XXIV - criar e fortalecer imagem que corresponda aos produtos turísticos dos segmentos específicos e prioritários, para divulgá-la e promovê-la nos diversos mercados potenciais, nacional e internacional.

Em referência a esse capítulo do Plano Diretor, o Poder Público Municipal

dispõe de 18 meses, a contar da publicação desta Lei, para a elaboração e

encaminhamento à Câmara Municipal de Belém, de projeto de lei instituindo o Plano

de Desenvolvimento Econômico de Belém.

Portanto, o prazo encerra-se em janeiro de 2010. É interessante se destacar,

mais uma vez, que as ocupações urbanas levadas a efeito no território de

Mosqueiro, a maioria de caráter irregular, por diversos motivos (irregularidade

fundiária, proximidade de áreas de conservação ou naturais, por exemplo) estão

acontecendo de forma muito rápida.

5.2 AS OCUPAÇÕES URBANAS EM MOSQUEIRO

Apesar da existência de ocupações em Mosqueiro anteriores a 1999,

conforme Anuário Estatístico de 1998, a que mais se destacou foi a que ocorreu em

1999, quando um grupo de militantes do Movimento Sem Terra – MST - ocupou a

fazenda da TABA21, uma área de 450 hectares, apoiado pela administração

municipal da época, do Partido dos Trabalhadores – PT.

Nessa fazenda estavam plantados, aproximadamente, 45 mil pés de coco.

Após a ocupação, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA,

21 Taba – Empresa de transporte aéreo, denominada Transportes Aéreos da Bacia Amazônica, já extinta e que tinha a propriedade da área invadida.

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transformou-a em assentamento agrário, denominado de Assentamento Mártires de

Abril, a qual constituiu-se numa das áreas estudadas nesta pesquisa.

Essa ocupação deu margem para que outras ocorressem. De 1999 até 2005,

as ocupações não foram tão expressivas. Porém, a partir daí, percebeu-se um

aumento substancial, alcançando pontos distintos da Ilha. O que chama a atenção é

a organização dos grupos, os quais não poupam nem as áreas particulares, além

daquelas que pertencem ao poder público. Foram esses fatos que levaram ao

percentual de 700% de aumento nas ocupações ocorridas em Mosqueiro.

Segundo dados constantes na Secretaria Municipal de Saúde de Belém –

Distrito de Mosqueiro, em 2008, Mosqueiro passou a ter 32 áreas urbanas de

ocupação irregular, segundo demonstrado nas figuras 10 e 11 e no Quadro 4, onde

estão elencadas as ocupações urbanas detectadas em Mosqueiro, distribuídas em

seus respectivos bairros. O bairro de Carananduba apresentou em 2008 nove áreas

de ocupação, seguido do Murubira e Baía do Sol, com três áreas ocupadas em cada

um.

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Figura 10 – Localização das ocupações urbanas de Mosqueiro Fonte: autora, com base em imagens obtidas a partir do Satélite Landsat 5, composição falsa cor (Spring/INPE) / dados da Prefeitura de Belém/Secretaria de Saúde

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Figura 11 – Recorte da área urbana de Mosqueiro com as ocupações identificadas. Fonte: autora, com base em imagens obtidas a partir do Satélite Landsat 5, composição falsa cor (Spring/INPE) / dados da Prefeitura de Belém/Secretaria de Saúde

Quadro 4 – Ocupações em, Mosqueiro e seus respectivos bairros, 2008.

Denominação Bairro

Pantanal Vila

Cajueirinho Maracajá

Poeirão Praia Grande

Fazenda Clube Praia Grande

Jardim Rosália Chapéu Virado

continua

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continuação

Prainha Prainha

Murubira Murubira

ASCB Natal do Murubira

Consciência Porto Arthur

Variante Murubira

Vasco da Gama Murubira

Ariramba (Coragem) Ariramba

Ariramba (área de loteamento da Prefeitura de Belém)

Ariramba

Terra Alta Bonfim/São Francisco

Igaracoco São Francisco

Cajueiro (Vila Sapo) Carananduba

Vila de Pescadores Carananduba

Pução Carananduba

Curvão Carananduba

Bairro Novo Carananduba

Lote do Mendes Carananduba

Estrela da Manhã Carananduba

Coréia Carananduba

Taba (Mártires de Abril) Carananduba

Caruara Caruara

Vale do Paraíso Paraíso

Associação dos Produtores Rurais da Ocupação Arlinda Gomes do Vale (APROAR)

Sucurijuquara

continua

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continuação

Ipixuna Baía do Sol

São Geraldo Baia do Sol

Parque Severino Baía do Sol

Dorothy I PA-391/Posto de Combustível BR

Dorothy II Rod. Bl-13/PA 391

Fonte: autora, a partir das figuras 9 e 10.

As Figuras 8 e 9, complementadas pelo Quadro 4, demonstram claramente a

situação de Mosqueiro diante do crescimento das ocupações, o que vem sendo

colocado de forma constante nos noticiários dos periódicos locais, conforme

abordagem feita na parte introdutória deste trabalho.

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6 ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS NA PESQUISA DE CAMPO

Para atender ao objetivo da pesquisa, este capítulo traz a análise dos

resultados dos formulários aplicados nas quatro ocupações estudadas. As variáveis

estudadas. As mesmas estão divididas em duas partes. Na primeira, é feita a

caracterização físico-territorial e ambiental das áreas pesquisadas: Ipixuna, Poeirão,

APROAR e Mártires de Abril. Na segunda parte, é analisado o perfil socioeconômico

dos responsáveis pelos domicílios pesquisados, além de apresentar informações

sobre as condições físicas e benfeitorias das moradias, cujas características são

apresentadas por meio de tabelas, gráficos, quadros e fotografias, conforme

abordagem no item 2.4 deste trabalho

6.1 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-TERRITORIAL E AMBIENTAL

6.1.1 Ocupação Ipixuna

A ocupação Ipixuna está localizada na Baía do Sol, ao norte da ilha, às

proximidades da ocupação Mártires de Abril (Figura 12). Possui por volta de 400

casas, com uma população em torno de 1.800 pessoas. A origem de grande parte

desses habitantes é a própria ilha, onde morava à beira dos rios, conforme

informações obtidas durante a realização do trabalho de campo

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Figura 12 – Localização da Ocupação Ipixuna Fonte: autora, com base em imagens obtidas a partir do Satélite Landsat 5, composição falsa cor (Spring/INPE) / dados da Prefeitura de Belém/Secretaria de Saúde

As ruas da ocupação (Fotografia 1) foram abertas sem critérios técnicos, de

acordo com a conveniência dos moradores, sendo que eles próprios é que fazem a

numeração das casas, bem como as denominações das ruas e passagens.

Fotografia 1 - Rua das Américas, ocupação Ipixuna, 2009 Fonte: Pesquisa de campo

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Em geral, as casas são de alvenaria, porém sem reboco ou pintura. Possuem

geralmente três cômodos – sala pequena, quarto, cozinha. Muitas vezes, a cozinha

está localizada na parte externa da moradia, não dispondo de condições

satisfatórias de higiene, conforme demonstrado nas fotografias 2 e 3.

Fotografia 2 – Casa em construção, ocupação Ipixuna, 2009 Fonte: Pesquisa de campo

Fotografia 3 – Fogão a lenha, ocupação Ipixuna, 2009 Fonte: Pesquisa de campo

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Muitos sanitários são externos, sem fossa, apenas com uma abertura cavada

no chão. Alguns desses sanitários situam-se muito próximos a cursos d’água,

contribuindo para poluí-los (Fotografias 4 e 5).

Fotografia 4 – Parte interna de um sanitário, ocupação Ipixuna, 2009. Fonte: Pesquisa de campo

Fotografia 5 – Parte externa de um sanitário, ocupação Ipixuna, 2009.

Fonte: Pesquisa de campo

Fezes Córrego

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Em relação aos serviços urbanos, verificou-se que a energia elétrica, que

antes era obtida por meio de ligações clandestinas, passou a ser oferecida pela

concessionária privada que presta o serviço no Estado do Pará; não há sistema de

esgotamento sanitário; no caso da água para consumo doméstico, os moradores

cavam poços, sem qualquer cuidado sanitário, haja vista estarem, muitas vezes,

próximas aos sanitários; antes buscavam em outros locais, distantes de suas casas;

às vezes, até pagando pela água que consumiam.

Quanto ao destino do lixo, a Prefeitura se propôs a realizar uma coleta

semanal, porém, como não há a efetividade do serviço, os moradores cavam

buracos no quintal de suas casas, onde queimam ou enterram os resíduos

(Fotografia 6).

Fotografia 6 – Lixo, ocupação Ipixuna, 2009 Fonte: Pesquisa de campo Devido à distância do centro de Belém, a precariedade do serviço de

transporte coletivo faz com que o percurso seja feito em até 3 horas, desde a

entrada da Ipixuna até o Entroncamento, no limite entre Belém e Ananindeua. De lá

até a feira do Ver-o-Peso, mais uma hora e meia, dificultando ainda mais a procura e

manutenção de um emprego, já que a Ilha não oferece oportunidades suficientes de

trabalho remunerado e com carteira assinada. Essa deficiência do sistema de

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transporte público propiciou o aumento do transporte alternativo22, mais caro, sem

legalização e que não aceita carteiras de estudantes para meia-passagem.

Os serviços sociais acompanham a precariedade dos demais. Mesmo

estando localizada na Baía do Sol, o posto de saúde local não atende aos

moradores da ocupação, enviando-lhes para atendimento na localidade

Sucurijuquara, distante cerca de 5 km. Deve-se destacar um detalhe nesse

atendimento: as consultas são marcadas no prazo médio de dois meses, devido à

procura ser intensa e a oferta insuficiente.

Na área de educação, os estudantes são atendidos pelas escolas localizadas

no bairro Sucurijuquara – Ângelus Nascimento (educação infantil/fundamental) e no

centro da Baía do Sol - Lauro Chaves e anexo do Honorato Filgueiras (ensino

fundamental e médio). Para atender às necessidades das crianças, que não têm

como se deslocar até a escola mais próxima, os moradores começaram uma

pequena escola. No entanto, a mesma não possui registro; por isso, é vista apenas

como uma espécie de reforço escolar, apesar de que a maioria não estuda em outra

escola. O anseio dos moradores da ocupação Ipixuna é que seja instalado um anexo

da Escola Lauro Chaves ou que lhes seja disponibilizado um ônibus para transporte

dos alunos.

Outro grave problema é em relação à segurança pública, pois, como as ruas

são desprovidas de qualquer serviço de terraplenagem, além de serem abertas sem

planejamento, dificulta a execução de rondas preventivas pela autoridade policial.

Mesmo assim, percebe-se que há o policiamento ciclístico na área, como uma forma

de mostrar a presença do serviço policial.

Deve-se destacar que muitas famílias recebem recursos do Programa Bolsa

Família, o qual entra ativamente na formação da renda familiar, já que é comum os

responsáveis pela residência viverem de “bicos”, sem um trabalho com vínculo

empregatício. Parte dos moradores faz serviços considerados sem qualificação, de

pequenos consertos nas residências de veranistas. No entanto, é a ocupação que

apresentou o maior número de pessoas que trabalham em Belém.

22 COOPETPAN – Cooperativa de Transportes de Passageiros do Norte

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6.1.2 Ocupação Poeirão

A ocupação Poeirão está localizada na parte central da Ilha do Mosqueiro, às

proximidades da Vila, que constitui a principal e mais tradicional aglomeração

comercial da Ilha. Precisamente, está localizada à margem esquerda no sentido

praia-Vila da Avenida 16 de Novembro, limitando-se com a Vila e a Praia Grande

(Figura 13).

Figura 13 – Localização da ocupação Poeirão Fonte: autora, com base em imagens obtidas a partir do Satélite Landsat 5, composição falsa cor (Spring/INPE) / dados da Prefeitura de Belém/Secretaria de Saúde

Segundo o relato de seus moradores mais antigos, esse local era habitado

por um pequeno grupo de pescadores, adaptados a uma rotina de vida sem

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nenhuma infraestrutura urbanística, não recebendo, pois, por parte da administração

municipal, praticamente nenhum serviço básico.

Posteriormente, muitos moradores de Belém chegaram ao local, adquirindo

várias casas desses pescadores, o que os levou ou a sair do local para outros mais

distantes do centro da Ilha ou, então, muitos adentraram na área, “abrindo” novas

ruas e lá se instalaram. A partir desse fato e numa clara demonstração de que o

Estado acompanha as pessoas de poder aquisitivo mais elevado, criou um grande

loteamento, no qual as ruas foram demarcadas de forma planejada, porém, a

prestação de serviços não foi além de alguns serviços básicos, como coleta de lixo

(bastante irregular) e água encanada, que atendeu apenas algumas residências, a

maioria pertencente a veranistas.

Nesta ocupação, as casas são construídas tanto em alvenaria como em

madeira. As primeiras servem principalmente como segunda residência para

moradores de Belém. Já as que são construídas em madeira servem,

principalmente, para os residentes fixos da área e aparentam dar pouco conforto aos

seus moradores.

O arruamento é precário, apesar de que as ruas que foram abertas pela

Prefeitura apresentem uma largura considerável, contrastando com outras que foram

abertas por moradores e ocupantes que foram chegando ao local (Fotografias 7 e 8).

Muitas dessas ruas são facilmente alagáveis durante o período do inverno, conforme

relato dos moradores e que, inclusive, ensejou um requerimento à Prefeitura

Municipal de Belém, no mês de setembro de 2009, em decorrência da proximidade

do período chuvoso.

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Fotografia 7 – Rua aberta pela PMB, ocupação Poeirão, 2009 Fonte: Pesquisa de campo

Fotografia 8 - Rua aberta pelos moradores, ocupação Poeirão, 2009 Fonte: Pesquisa de campo

A coleta de lixo é precária, normalmente feita apenas a cada duas semanas

nas ruas principais (Fotografia 9). A iluminação pública praticamente inexiste na

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ocupação e desperta a atenção o fato de ser feita a cobrança da taxa nas contas

das casas das ruas Bahamas e Aruba, onde não há nem poste.

Fotografia 9 - Lixo à espera de coleta, ocupação Poeirão, 2009 Fonte: Pesquisa de campo

Outras coincidências observadas nas ocupações pesquisadas é a

precariedade do transporte público, a falta de opções de lazer e de cursos para os

jovens e a distância das escolas disponíveis. Da Poeirão até a escola Inglês de

Souza, na Vila, são aproximadamente cinco quilômetros.

Na visão dos moradores, a Poeirão não apresenta um crescimento

desordenado. Essa é a resposta dada à Agência Distrital que, quando seus

moradores a procuram reivindicando melhorias para o local, obtêm como justificativa

que o fato de ser uma área de ocupação desordenada e irregular, o que,

oficialmente não lhes dá o direito de lutar por melhorias.

É importante se destacar que as reivindicações são semelhantes nas

ocupações. Da mesma forma que na ocupação Ipixuna, os moradores da Poeirão

também se ressentem de segurança pública, afirmando que o policiamento passa

somente na frente da ocupação, sendo difícil a saída de casa no período da noite, o

que faz com que os moradores considerem o local bastante inseguro, conforme

relato dos mesmos. De acordo com os moradores, a situação se agravou de dez

anos para cá, principalmente pela chegada de muitas pessoas oriundas de outros

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Estados da Federação e que, por falta de condições, se valem do processo de

ocupação de áreas sem qualquer cuidado com a legalidade e com questões

socioambientais.

De acordo com alguns moradores, a administração municipal anterior à atual

realizou um investimento muito bom, porém que se mostrou inadequado à realidade

financeira da maioria dos moradores da área. Foi quando começou a construir uma

rede de esgotamento sanitário, o qual, no entanto, ficou abandonado, visto que a

maioria das pessoas não teve como aproveitar o benefício, já que não dispunham de

dinheiro para realizar as adaptações da parte interna de suas casas.

Visto estar localizada próxima das praias e possuir muitas casas de

veranistas, é comum a administração municipal realizar, às vésperas das férias de

julho, um serviço de capinação, numa espécie de “maquiagem” para os veranistas,

segundo palavras dos habitantes tradicionais da área, enfatizando que, quando julho

acaba, também acabam as coletas regulares de lixo e os serviços básicos.

Um problema verificado durante o trabalho de campo é o fato de que muitas

das casas pertencerem a veranistas ficam a maior parte do ano praticamente

abandonadas, o que pode se constituir num elemento agravante para a população

tradicional, que, dadas as suas condições não têm como pagar para ter segurança

privada, tornando-se alvo fácil da ação de malfeitores (Fotografia 10).

Fotografia 10 - Residência abandonada, ocupação Poeirão, 2009. Fonte: Pesquisa de campo

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6.1.3 Associação dos Produtores Rurais da Ocupação Arlinda Gomes do Vale (APROAR)

Essa ocupação, localizada na área denominada Sucurijuquara, entre a Baía

do Sol e o Carananduba, foi iniciada por 56 famílias, as quais produziam mandioca,

macaxeira, feijão, apenas para o consumo familiar, sem excedente para vender

(Figura 14).

A história dessa ocupação inicia com a chegada em Mosqueiro de

movimentos sociais- o Movimento dos Sem Terra (MST) e o Movimento dos

Pequenos Agricultores (MPA), os quais se mostravam muito bem articulados e

estavam ocupando o espaço das famílias tradicionalmente moradoras da área.

Figura 14 – Localização da ocupação APROAR Fonte: autora, com base em imagens obtidas a partir do Satélite Landsat 5, composição falsa cor (Spring/INPE) / dados da Prefeitura de Belém/Secretaria de Saúde

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Assim, em 2001, 56 dessas famílias começaram a se mobilizar, constituindo

um movimento organizado para se contrapor às iniciativas de ocupação que vinham

ocorrendo no local, a fim de não permitir que as terras que tradicionalmente eram

usadas pela comunidade passassem para outras mãos. De acordo com as

informações coletadas no local, as terras ocupadas pertenciam a familiares das

pessoas desse grupo que se formou, cujos sobrenomes eram Vale e Gomes.

Mesmo surgindo em contraposição aos movimentos sociais que estavam

ocupando as áreas, deve ser ressaltado que nunca houve conflito entre os

moradores antigos e os ocupantes; nas palavras da coordenação do movimento, são

considerados parceiros, visto que tanto os que já estavam como os que chegavam

não estavam sendo atendidos pelo poder público.

As famílias participantes da APROAR moravam até então de forma dispersa;

com a organização, algumas mudaram de lugar, passando a ocupar terras devolutas

da União, estando por isso subordinadas à Gerência Regional do Patrimônio da

União (GRPU). Segundo a coordenação do movimento, já houve reuniões com o

órgão, cuja finalidade seria a realização de um processo discriminatório a fim de

separar o público do privado, haja vista que os ocupantes das áreas não possuem

título de posse e nem de propriedade das mesmas.

Em relação ao arruamento, a área assemelha-se à ocupação Ipixuna, apesar

de que esta se mostra ainda bastante irregular, sendo extremamente difícil encontrar

um endereço, visto que as ruas foram abertas conforme as conveniências de cada

morador. Inclusive só existe uma rua digna dessa denominação na ocupação, a São

José; o restante são caminhos (Fotografia 11).

Muitas vezes, para ir de uma casa à outra, passa-se pelos quintais das casas,

que não são numeradas. Segundo uma moradora, esse é um problema que se

agrava com a chegada de correspondências, o que não acontecia anteriormente.

A situação dessa ocupação é um reflexo das alterações socioespaciais

verificadas no meio rural brasileiro decorrente, principalmente, da expansão do

tecido urbano sobre as áreas rurais, segundo Reis (2005). Com as mudanças houve

o crescimento da quantidade de pessoas desenvolvendo atividades que eram tidas

exclusivamente como urbanas e que por isso possuem certas características que

demandam serviços que não existiam anteriormente, como é o caso de entrega de

correspondências referentes principalmente a cobranças de compras parceladas,

segundo a moradora entrevistada.

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Fotografia 11 - Rua da ocupação APROAR, 2009 Fonte: Pesquisa de campo

Muitas casas são construídas em madeira, onde a maioria possui poucos

cômodos; algumas até agrupam num só ambiente várias pessoas, entre adultos e

crianças (Fotografias 12, 13 e 14)

Fotografia 12 – Parte frontal de uma casa da ocupação APROAR, 2009 Fonte: Pesquisa de campo

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Fotografia 13 – A cozinha da casa da foto 12, ocupação APROAR, 2009 Fonte: Pesquisa de campo

Fotografia 14 – Casa com paredes de folhas de anajá23, APROAR, 2009 Fonte: Pesquisa de campo

Chama a atenção, nesta ocupação, as condições encontradas em relação ao

saneamento, visto que a totalidade das casas não possui sistema de esgotamento

23 Anajá é uma planta nativa da região, semelhante à bananeira.

Pia

Plástico para proteger da chuva

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sanitário, além de que na maioria das residências, o poço está muito próximo do

sanitário (Fotografias 15 e 16).

Fotografia 15 - Sanitário de casa da ocupação APROAR, 2009 Fonte: Pesquisa de campo

Fotografia 16 – Sanitário de casa da ocupação APROAR, 2009 Fonte: Pesquisa de campo

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Não há em nehuma casa ligação de água à rede geral de atendimento. Da

mesma forma que nas demais ocupações pesquisadas, há o fornecimento de

energia elétrica por parte da concessionária do serviço.

A fotografia 17 mostra um poço que atende a quatro famílias, equipado com

bomba elétrica, onde a mesma eleva a água para uma caixa d’água.

Fotografia 17 - Poço com bomba, APROAR, 2009 Fonte: Pesquisa de campo

Quanto à destinação final do lixo, os moradores pesquisados informaram que

a maioria queima, pois o serviço realizado pela Prefeitura passa apenas na Rodovia

que liga a Vila à Baía do Sol e é de frequência muito irregular.

6.1.4 Ocupação Mártires de Abril

Esta ocupação está localizada no bairro Carananduba, na estrada que leva à

Baía do Sol, no ponto denominado Asa Branca (Figura 15).

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Figura 15 – Localização da ocupação Mártires de Abril Fonte: autora, com base em imagens obtidas a partir do Satélite Landsat 5, composição falsa cor (Spring/INPE) / dados da Prefeitura de Belém/Secretaria de Saúde

Segundo a liderança, os militantes ao chegarem à área, em 1999,

enfrentaram quatro ações de despejo, todas sem sucesso. Conforme os assentados,

a antiga Fazenda TABA, que funcionou no local, aforou apenas alguns lotes, porém

ocupou toda a área. Quando houve a ocupação pelos militantes do MST, a TABA

pediu o aforamento do restante e a Prefeitura não lhe concedeu.

De acordo com a liderança do movimento, a área já estava abandonada há,

pelo menos, dez anos, tendo somente três moradores, os quais sobreviviam com a

venda de cocos.

Após essas tentativas, houve a desapropriação da mesma, quando os

assentados julgaram conveniente criar uma agrovila, visto ser um caminho mais fácil

para o atendimento de benefícios sociais, como é o caso do Projeto Casulo, o qual

existe somente nas áreas urbanas, sendo diferente, pois, dos assentamentos rurais

propriamente ditos.

A criação de uma agrovila vai ao encontro do que afirma Reis (2005, p. 79)

para quem as manifestações da cidade podem ser vistas sob variadas densidades,

“os espaços rural e urbano não podem ser compreendidos separados um do outro,

visto que são realidades que não existiriam isoladamente. Tais espaços se

relacionam e se interpenetram”

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No ano de 2001, por meio do Projeto Volta ao Campo24, se buscou melhorias

das condições de vida para as 95 famílias que estavam assentadas na área. Houve

a elaboração de um projeto para obtenção de recursos que financiassem a

produção, como cultivo de mandioca, feijão, frutas e hortaliças, além da criação de

animais e uma fábrica de roupas. Em 2002, o Banco do Brasil liberou R$

1.058.000,00 (um milhão e cinquenta e oito mil reais).

Porém, os assentados deixaram claro que o INCRA cumpriu a parte que lhe

cabia, que foi de disponibilizar linhas de crédito. Quanto à Prefeitura, esta deixou de

cumprir o que estava acordado: saneamento e assistência técnica para a agricultura

familiar. Em relação à agricultura familiar, destacaram que existe um projeto do

Ministério do Desenvolvimento Social para o plantio na cidade e Belém foi aprovada,

sendo, inclusive, a única cidade da Amazônia contemplada. No entanto, os recursos

foram perdidos, visto a Secretaria Municipal de Economia não ter elaborado o

projeto solicitado.

Há no assentamento o projeto CAUP – Centro de Agricultura Urbana e

Periurbana. Está vinculado à Universidade Federal do Pará, por meio de sua

incubadora, tendo dentre suas diretrizes a agroecologia, o que exige a utilização de

sementes orgânicas para o plantio. Vale ressaltar que este projeto fez parte do

Programa Fome Zero, do Ministério do Desenvolvimento Social.

Entre os militantes que chegaram à área, todos pertencentes ao mesmo

movimento, ocorreu um conflito interno, culminando com a saída de quatro desses

militantes, os quais formaram então um novo movimento, conhecido como

Movimento Terra, Trabalho e Liberdade (MTL). No entanto, visto que a luta é pela

terra, a liderança do MST na área, afirmou que existe a amizade como vizinhos. As

divergências ficam por conta das idéias. E quando há algo a ser resolvido em

relação à área, sentam juntos à mesa de discussão.

Em relação às idéias do Movimento Sem Terra, a liderança cita algumas,

como: a luta não é por título definitivo, mas sim, pela concessão de uso. Crêem que

o título definitivo é uma porta para levar à venda do lote; só ocupam áreas

consideradas improdutivas ou ilegais; quanto à segurança, a comunidade é a única

responsável quando ainda está na fase de acampamento, após essa etapa, os

24 Programa Volta ao Campo é um projeto realizado pela Prefeitura de Belém iniciado em 2001 no Assentamento Mártires de Abril. Fonte: BELÉM, 2004.

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órgãos de segurança pública, principalmente a Polícia Militar, tem livre acesso à

área do assentamento. Deve-se ressaltar que essas idéias não foram citadas pelos

moradores das demais ocupações pesquisadas.

Conforme os assentados, inicialmente os militantes criam um acampamento.

Depois, torna-se uma comunidade. A diferença entre a comunidade do MST e outra

comunidade é que na primeira há a luta permanente por direitos. Em outras

palavras, primeiro buscam a posse da terra, posteriormente, lutam por por benefícios

sociais, como educação e saúde.

Existe no assentamento a prática da fitoterapia artesanal, com a produção de

gel de andiroba, perfumaria, sabonetes, além de bombons de frutas regionais.

O assentamento está dividido em agrovila e lotes agrícolas. A agrovila é a

parte urbana, constituída por aproximadamente 76 casas, divididas em quatro ruas e

quatro travessas.

Além da agrovila, a área possui lotes agrícolas, a fim de mostrar que é

possível a convivência saudável entre campo e cidade, atendendo, assim, a uma

idéia do movimento: “Se o campo não planta, a cidade não janta”.

Ferrão (2000) aponta que a oposição entre o mundo rural e o mundo urbano,

a partir da distinção de suas funções, atividades, grupos sociais e paisagens, foi, em

grande parte, construída contra o mundo rural. No entanto, essa oposição deve ser

encarada como natural visto que as relações entre campo e cidade complementam-

se, devendo buscar um relacionamento estável “num contexto (aparentemente?)

marcado pelo equilíbrio e pela harmonia de conjunto”.

Reis (2005) contribui afirmando que há uma idéia de continuum entre esses

dois espaços, evidenciada pela intensificação entre as relações rurais e urbanas,

motivadas pelo crescimento das cidades, fazendo o urbano a transbordar sobre o

rural, levando à diluição entre as suas diferenças.

Após a saída do Partidos dos Trabalhadores da administração municipal, não

se deu andamento às atividades iniciadas. É o caso da iluminação pública e da água

encanada, que não são fornecidas nem na agrovila nem nos lotes agrícolas.

Segundo os assentados, em relação à água, durante a administração petista

o órgão responsável-SAAEB esteve presente, tendo realizado uma análise

preliminar. Após a troca de administração, nada mais foi feito. A água da área é

proveniente de poços cavados pela comunidade.

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Deve ser ressaltado que quando a liderança do movimento procurou a

CODEM, já na administração do prefeito Duciomar Costa, foram surpreeendidos

com a informação de que o órgão desconhecia o Assentamento Mártires de Abril,

conforme os assentados.

As casas da agrovila são construídas de acordo com projeto do INCRA, em

alvenaria, possuindo sanitário interno, o que por si só já é um enorme diferencial em

relação às ocupações APROAR e Ipixuna. Estão localizadas em terreno amplo,

dispondo de quintal, onde algumas casas têm hortas, além de árvores frutíferas

(Fotografia 18).

Fotografia 18 - Modelo das casas da Agrovila, Mártires de Abril, 2009 Fonte: Pesquisa de campo

Percebe-se que as ruas e travessas são largas, seguindo um traçado regular.

No entanto, apesar de fazer parte do convênio celebrado entre o Governo Federal e

a Prefeitura para asfaltamento das mesmas, até a data desta pesquisa, nada foi

feito (Fotografia 19).

O lixo é coletado pela empresa terceirizada que presta serviço à Prefeitura de

Belém; porém, segundo os assentados, é normal a coleta demorar de 15 a 30 dias

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para ser feita, havendo necessidade de procurar a Agência Distrital para

providenciar a coleta (Fotografia 20).

Fotografia 19 - Rua do assentamento Mártires de Abril, 2009 Fonte: Pesquisa de campo

Fotografia 20 – Recipiente para coleta de lixo, Mártires de Abril, 2009, Fonte: Pesquisa de campo

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Em relação aos lotes agrícolas, cada um possui entre 3,6 e 4ha e todos têm

acesso à praia do Paraíso25 ou da Baía do Sol. A divisão em lotes está associada à

cada família de assentado.

Enquanto núcleo do Movimento, a idéia é seguir a linha da permacultura, ou

seja, tirar o máximo que for possível do próprio lote para a sobrevivência familiar.

Pode-se perceber, portanto, que cada família tem seu lote.

No entanto, como em algumas dessas famílias originárias já surgiram outras,

formadas pelos filhos, essas novas famílias, às quais o movimento chama de

“agregados”, não possuem seus lotes próprios, trabalhando, pois, conjuntamente,

com seus pais.

As casas dos lotes são bem mais modestas, construídas em madeira,

geralmente dispondo de apenas um ou dois cômodos (Fotografia 21)

Fotografia 21 - Casa do lote, Mártires de Abril, 2009 Fonte: Pesquisa de campo

25 Paraíso é uma das localidades de Mosqueiro.

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As fotografias 22 e 23 mostram um sanitário do lote da ocupação, devendo-se

destacar que mesmo sendo externo, os moradores colocam uma espécie de tampa

sobre a abertura para evitar a proliferação de vetores de doenças.

Fotografia 22 – Parte frontal de sanitário no lote, Mártires de Abril, 2009 Fonte: Pesquisa de campo

Fotografia 23 – Parte interna de sanitário no lote, Mártires de Abril, 2009 Fonte: Pesquisa de campo

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Nos lotes do assentamento, iniciou-se pela produção orgânica, a qual de

acordo com os assentados, não usa produtos químicos nem nos adubos nem nos

defensivos. Porém, como aplica o sistema de monocultivo, a agressão á natureza é

muito grande, principalmente pela necessidade de separação das plantas. Como as

plantas precisam umas das outras para sobreviverem, concluiu-se, pois, que se é

monocultivo, há a ocorrência de pragas, exatamente pelo abalo causado ao sistema

natural (Fotografias 24 e 25).

Essa constatação foi a motivação para que a produção passasse a ser

agroecológica, não sendo utilizado qualquer espécie de defensivo, nem mesmo

natural, segundo depoimento dos moradores. Quanto mais puder se buscar a

diversificação de culturas – o policultivo, a produção alcançará resultados mais

proveitosos, principalmente em relação aos benefícios à saúde humana e ao

equilíbrio do ambiente26. Com este sistema, em 2007, já se tinha cerca de 87

variedades de culturas.

Fotografia 24 - Produção de horticultura dos lotes, Mártires de Abril, 2009 Fonte: Pesquisa de campo, 2009

26 Segundo os pesquisados, a criação de aves possibilita a produção de biofertilizante para ser colocado na horta e a adubação verde, que é possibilitada pelas leguminosas, as quais transformam o oxigênio e nitrogênio.

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Fotografia 25 - Produção de aves dos lotes, Mártires de Abril, 2009 Fonte: Pesquisa de campo, 2009

6.2 CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA

6.2.1 Informações gerais

A primeira parte do formulário, aplicado aos responsáveis de 50 domicílios em

cada uma das áreas, teve a finalidade de levantar as informações gerais acerca do

número de pessoas residentes, entre adultos e crianças; o número de famílias que

dividem a mesma casa; o gênero, a faixa etária, o estado civil, a escolarização e o

local de votação dos responsáveis; onde as crianças estudam e como se deslocam

até à escola.

A tabela 327 mostra que, nos 200 domicílios visitados, residem 818 pessoas,

sendo 525 adultos e jovens a partir de 13 anos (64,1%), divididos entre 249 homens

e 276 mulheres. Em relação ao número de crianças com até 12 anos completos, são

27 As tabelas 3 a 28 estão apresentadas no Apêndice 1.

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293 (35,9%), sendo 152 meninos e 141 meninas. Deve ser destacado que em 59

domicílios (7,2% do total) não há crianças, sendo que destes 59, 20 (33,8%) estão

no assentamento Mártires de Abril; 18 (30,6%) na Poeirão 11 (18,7%) estão

localizados na Ipixuna e 10 (16,9%) na APROAR.

Esses dados revelam o número médio de pessoas por domicílios, que é de

4,09 pessoas, estando acima da média nacional de 3,3 pessoas e também acima da

média para a Região Norte, que é 3,8 pessoas por domicílio, segundo a Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD 2008, do IBGE. Lobo (2008) revela

que no grupo constituído pelas famílias de baixa renda na RMB, a média é de 4,21

pessoas por domicílio.

A despeito da média de pessoas por domicílio não ser elevada, as

informações que mostram a existência de adensamento populacional excessivo,

visto que a maioria das casas é de pequena dimensão, possuindo até três cômodos,

sendo um quarto, uma cozinha e uma sala pequena, excluindo-se sanitários, já que

estes foram contabilizados à parte.

Apenas no assentamento Mártires de Abril é que a maioria das residências

possui quatro cômodos, entre estes, dois quartos. Ressalte-se, no entanto, que essa

área é resultado da ocupação por militantes do MST, sendo, portanto, uma situação

diferenciada das demais ocupações pesquisadas, considerando também o apoio

governamental que receberam.

Em relação ao número de famílias que residem na mesma casa, em 182

moram apenas uma família; em 17 são duas e em apenas uma coabitam três

famílias, conforme tabela 4.

Na constituição dessas famílias, a maioria declarou para a pergunta sobre seu

estado civil que “vive junto”, em união estável, conforme tabela 5. Segundo os

mesmos, é “caro casar de papel passado” e que não dispõem de recursos

financeiros para isso.

É interessante que, apesar do quantitativo de mulheres suplantar o de

homens, a maioria expressiva de responsáveis pelos domicílios é do gênero

masculino, conforme a tabela 6 e o gráfico 1.

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Gráfico 1 - Faixa etária por gênero do principal responsável pelo domicílio Fonte: Pesquisa de campo

Dentre os responsáveis pelos domicílios pesquisados, pode- se verificar que a

maioria, mais de 50% possui entre 26 e 45 anos; portanto, são pessoas que estão

na fase adulta. Ressalte-se que na ocupação Poeirão não há nenhum homem até 25

anos de idade e nenhuma mulher a partir de 66 anos como responsáveis pelo

domicílio. Já no assentamento Mártires de Abril, todos os responsáveis por

domicílios têm entre 26 e 65 anos de idade (tabela 7).

Quanto à escolarização do responsável pelo domicílio (tabela 8), percebe-se

que a maioria possui menos de 8 anos de estudo28, o que corresponde ao ensino

fundamental incompleto. Se forem somados os dados referentes a essas pessoas e

os que se disseram analfabetos, chega a 57% do total de pesquisados, confirmando,

assim, os dados informados pela PNAD 2008 do IBGE, que conclui que a

população de 10 anos ou mais de idade no país tinha, em média, 7,1 anos de estudo

– em 2007, a média era de 6,9 anos de estudo. Em relação à região Norte, em 2007

a média foi de 6,4 anos de estudo, aumentando um ponto percentual em 2008.

28 A duração do ensino fundamental em nove anos deve ser implantada pelos municípios até 2010, segundo a Lei 11.274, de 6 de fevereiro de 2006.

Faixa etária por gênero do principal responsável pelo domicílio

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É fundamental se pesquisar sobre o nível de escolarização, visto que a baixa

escolaridade da maioria dos responsáveis por domicílios, reflete-se no tipo de

ocupação que exercem, bem como se constitui num fator de evidência do processo

de segregação, devido exatamente à precariedade do nível de escolaridade dessas

pessoas, que lhes impede de alcançar um posto melhor qualificado no mercado

formal de trabalho.

Quando se perguntou onde votavam (tabela 9), dos 200 responsáveis, 44

declararam votar em outro município e 8 não votam mais, dada sua idade. Segundo

um depoimento, “votar no lugar onde se mora significa que ‘pertencem’ a ele” e por

isso, têm mais chance de “conseguirem seus direitos”. É interessante que no

assentamento Mártires de Abril são 41 os votantes em Belém, contra 29 da Ipixuna.

Talvez a explicação esteja na participação política dos moradores da Mártires de

Abril.

Em relação ao local da escola das crianças, a maioria está localizada fora das

áreas de ocupação, visto que na Poeirão não há nenhum estabelecimento de

ensino; na Ipixuna, há apenas uma escola que atende as crianças como se fosse um

reforço escolar e, no assentamento Mártires de Abril, há uma escola para séries

iniciais que funciona como um anexo de uma outra escola. Quanto à APROAR, os

moradores consideram que a escola Angelus Nascimento, localizada no

Sucurijuquara, pertença à comunidade do assentamento.

As crianças se deslocam até à escola principalmente a pé ou de bicicleta ou

de ônibus; em alguns casos, as respostas obtidas apontaram para o uso

concomitante de um ou dois meios. Além da bicicleta e do ônibus, há casos das

crianças se deslocarem por meio de transporte alternativo (“van”) ou de motocicleta.

Apenas uma resposta na ocupação Poeirão aponta para o deslocamento por meio

de veículo particular. Destaque-se que, na APROAR, todos os deslocamentos são

feitos a pé ou de bicicleta ou de ônibus.

6.2.2 Trabalho e renda

Em relação à variável trabalho e renda, esta se constitui num elemento

fundamental para se compreender o processo de periferização que leva os

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moradores a procurarem uma área carente de infraestrutura para construírem suas

residências. Nesse sentido, algumas respostas devem ser transcritas a fim de

propiciar melhor compreensão da estratégia de sobrevivência que essas pessoas

encontram para continuarem às proximidades de seus locais de trabalho. Soam,

portanto, como uma resposta à seletivização e segregação que lhes é imposta pela

sociedade. A seguir, três das respostas sobre o motivo de residirem nos respectivos

locais:

A: “Como meu salário não estava dando para continuar a pagar aluguel, soube

dessa área e vim”.

B: “Vim para cá porque não tinha casa”.

C: “Vim para cá pela falta de oportunidade de trabalho onde morava antes”.

A condição do responsável pelo domicílio em relação à sua situação como

trabalhador mostrada na tabela 10 revela que a maioria se considera autônoma

(37,5%). Dois detalhes chamam a atenção nessa análise.

Um deles refere-se ao problema decorrente da situação dos autônomos, onde

praticamente 100% das pessoas não contribuem para a previdência social, segundo

informações obtidas durante a aplicação dos formulários.

O outro diz respeito ao percentual de desocupados29 em relação à população

que efetivamente está trabalhando, correspondendo a 11% desse total,

concentrados principalmente na APROAR (5%). Note-se que na Ipixuna nenhum

responsável se considerou como tal.

Os dados da tabela 10, geraram o gráfico 2 o qual demonstra o alto

percentual de trabalhadores autônomos em todas as ocupações.

Se forem somados os percentuais das pessoas que não possuem carteira

assinada às que se dizem autônomas, totalizando 45,5%, percebe-se que grande

parte está no setor informal da economia, o qual pode ser conceituado como a

parcela da população que não possui carteira assinada ou que possui pequenos

empreendimentos sem registro, excetuando-se os profissionais liberais. 29 Neste trabalho, desocupado é a pessoas que se encontra sem um trabalho, porém está à procura de alguma atividade remunerada.

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Gráfico 2 – Situação funcional do responsável pelo domicílio Fonte: Pesquisa de campo.

Esta situação reflete a situação normalmente encontrada nas áreas de

assentamento precário.

Em relação ao local de trabalho, do universo pesquisado, 26 pessoas (13%

do total) trabalham somente em Belém e outras responderam que exercem seu

trabalho em Belém e/ou em outros municípios da RMB. Em números absolutos, são

46 pessoas, correspondendo a 23% do total, conforme tabela 11, discriminando o

local de trabalho por área.

Dentre os responsáveis que trabalham fora de Mosqueiro, alguns casos

chamam a atenção. Um diz respeito a um policial militar que, devido à dificuldade de

deslocamento e pelas características de seu trabalho, costuma passar três a quatro

dias em Belém. Outro caso é de uma vendedora que exerce sua atividade no

comércio de Belém. Também devido aos problemas no transporte, a mesma

geralmente retorna para sua residência apenas aos finais de semana, pernoitando

na casa de amigos.

Há o caso de um responsável que além de si próprio seus filhos também vêm

diariamente a Belém para estudar. No entanto, dispõem de veículo particular.

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Conforme a pesquisa de campo, morar em Mosqueiro foi uma escolha da família,

diferindo, portanto, dos demais casos.

Para melhor caracterização do universo pesquisado em relação ao local de

trabalho, foram excluídas as pessoas que estão fora do mercado de trabalho

(aposentados, pensionistas e desocupados), os quais somam 48 pessoas, conforme

tabela 12. Isso significa que das 200 pessoas pesquisadas, apenas 152 realmente

estão trabalhando, o que aumenta o percentual de pessoas que exercem seu

trabalho em Belém e/ou em Belém e outros municípios, para 30,1% do total,

conforme as tabelas 12 e 13.

Os dados são claros em demonstrar a existência de um processo de

periferização da área continental de Belém e demais municípios da RMB em direção

a Mosqueiro, atendendo dessa forma aos objetivos propostos nesta pesquisa.

Dentre as ocupações dos responsáveis pelos domicílios, a maioria pode ser

classificada como trabalho não qualificado ou de nível fundamental – caseiro, vigia,

auxiliar de serviços gerais, braçal, doméstica, diarista, atendente, porteiro, gari,

ajudante de obra/pedreiro, pescador, borracheiro, costureira, padeiro, vendedor,

carpinteiro, agricultor, mecânico de bicicleta/automóveis, comerciário, cortador de

grama, motorista, garçom/garçonete, moto taxista e merendeira escolar.

Esses dados mantêm uma relação com a escolarização informada, quando a

maioria (73,5%) possui até o ensino fundamental, inclusive 7% são analfabetos.

Dentre os que possuem nível superior (3,5%) do total, duas pessoas estão no

Ipixuna; quatro no Poeirão e uma na Mártires de Abril. São dois administradores, um

oficial das forças armadas, três professores e um aposentado.

Quando os dados referentes ao gênero, ocupação, local de trabalho e faixa

de renda dos que possuem curso superior são cruzados, pode-se constatar que,

efetivamente, o nível de escolaridade das pessoas é um fator essencial para a

melhoria das condições de vida.

Na ocupação Ipixuna, são duas mulheres. Uma trabalha em Belém, é

funcionária pública, sua renda está na faixa de 4 a 6 SM e a outra trabalha em

Mosqueiro, é professora, com salário entre 1 e 2 SM. Na ocupação Poeirão, são 4

pessoas, sendo que uma é inativa. Dois homens são administradores que trabalham

em Belém e em outros municípios da RMB e a outra é uma mulher que também

trabalha em Belém. Todos estão na faixa de renda acima de 6 SM. No

assentamento Mártires de Abril, uma mulher declarou ter nível superior, porém

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afirmou que, devido às dificuldades, está trabalhando como vendedora ambulante

aos finais de semana num município próximo RMB, auferindo uma renda na faixa de

1 SM.

No lado oposto, onde está a maioria dos responsáveis pelos domicílios, “é

uma mão-de–obra que só tem a energia física para oferecer no mercado de

trabalho”. (KOWARICK, 1993, p. 97)

Em relação à renda familiar30 mensal, os resultados demonstram o que já foi

exposto na parte introdutória e no capítulo 2 deste trabalho. Mostra que a dinâmica

de expansão das cidades aponta para a urbanização brasileira excludente,

processada de forma extremamente desigual, enquanto resultado da forte

concentração de renda existente no país, avolumando, pois os problemas urbanos,

cuja consequência é a periferização.

A pesquisa entre as 200 pessoas responsáveis por seus domicílios mostra

que 62 (31%), têm renda inferior a 1 Salário Mínimo31, sendo que, desse total, 4%

não possuem renda, constituindo-se, pois, num elemento que comprova a ideia de

que a maioria dos residentes nessas áreas estão ali por que não dispõem de

alternativas para se inserir no mercado habitacional da cidade “legal”, reforçando,

pois, a ideia da segregação socioespacial formulada por Corrêa (1995). O gráfico 3

permite melhor visualização da situação.

Gráfico 3 – Renda Familiar Mensal Fonte: Pesquisa de campo

30 Renda Familiar é a soma dos rendimentos individuais dos membros da família, provenientes das rendas do trabalho, de aposentadorias, pensões, trabalho ocasional, seguro-desemprego, transferências governamentais ou de terceiros, bolsas de estudo, de acordo com o IBGE (2000). 31 Salário Mínimo vigente à época da pesquisa: R$ 465,00

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Ressalte-se que se a essas pessoas forem somadas as que ganham entre

um e dois salários mínimos, as quais totalizam117 e que correspondem a 58,5% do

total, chega-se a 89,5% do total de pessoas com salários inferiores a R$ 930,00,

conforme tabela 14.

Na tabela 15 está sendo apresentado o número de pessoas por domicílio que

possuem renda, evidenciando que, na maioria (76%), apenas uma pessoa aufere

algum rendimento.

Em relação à procedência da renda, verifica-se que pouco mais da metade

(50,5%), declarou que o rendimento é auferido unicamente por meio do trabalho. Um

detalhe importante é que, na ocupação APROAR, a procedência da renda é mais

diversificada do que nas demais áreas pesquisadas.

Um aspecto a ser destacado é que, se forem somadas as procedências de

renda que envolvem os programas sociais do governo, principalmente o Bolsa

Família, ter-se-á um percentual elevado de pessoas que complementam sua renda

através dessas transferências governamentais. Quando são somados aos

rendimentos do trabalho, aos de aposentadoria e aos de pensão, e também

daqueles que dependem apenas dos Programas, serão 32% de pessoas, o que

demonstra o elevado impacto social desses programas, conforme gráfico e e tabela

16.

Gráfico 4 – Procedência da renda

Fonte: Pesquisa de campo

Procedência da renda

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Quanto ao pessoal que trabalha em Mosqueiro (tabela 17), os locais foram

divididos entre a própria ocupação, a Vila, as praias e os bairros, além de

combinações de lugares, tendo em vista que muitos são autônomos ou vivem de

“bicos”. Das quatro áreas pesquisadas, três estão distantes da Vila – Ipixuna,

APROAR e Mártires de Abril, o que caracteriza um processo de periferização

interno, ou seja, na própria Ilha. Do total de 106 (53%) pessoas que trabalham em

Mosqueiro, excluindo-se as do Poeirão, por essa ocupação estar bem próxima da

Vila, 12 trabalham na Vila, compreendendo, pois, 11% desse total.

Ressalte-se que, apesar da ocupação Mártires de Abril estar dividida em

agrovila e lotes agrícolas, apenas 13 entrevistados declararam exercer as atividades

na própria ocupação. Quando questionados, foram claros em afirmar que a

ocupação é urbana e que aliam o trabalho no lote com uma atividade remunerada

exercida fora da área. Tais respostas confirmam Reis (2005, p.81), para quem o

aumento do tecido urbano incorporou periferias mais ou menos distantes, onde se

percebe “a existência expressiva de atividades não-agrícolas”.

Em relação ao deslocamento das pessoas para o trabalho, incluindo-se todos

os locais informados, a maioria faz o percurso de bicicleta, conforme demonstrado

na tabela 18. As reclamações são, em sua maioria, para a deficiência do transporte

público, não só pelo preço das passagens, mas também devido ao mau estado de

conservação e quantidade dos veículos e ao não-cumprimento dos horários.

Quanto à frequência de deslocamento (tabela 19), das 152 pessoas inseridas

no mercado de trabalho, 74,3% responderam que se deslocam diariamente ao

trabalho, sendo a maioria da Mártires de Abril (34 pessoas). Destaque-se que 29

pessoas (19,1%) se deslocam ocasionalmente, somente quando surge um trabalho,

porém não se vêem como desocupados, visto que na Ipixuna nenhum responsável

por domicílio se enquadrou nessa categoria, no entanto há 12 pessoas nessa

situação.

Esses dados reforçam os conceitos abordados neste trabalho referentes à

situação de exclusão a que são relegados os moradores dos assentamentos

precários, visto que, por meio da pesquisa de campo, pode-se constatar in loco a

situação desses moradores.

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117

6.2.3 Migração/ moradia

Em relação ao tempo de moradia na área, pode-se detectar que, nas

ocupações que são resultado de movimentos organizados, a maioria das pessoas

tem o mesmo tempo na área. É o caso do assentamento Mártires de Abril e da

APROAR. Deve ser relembrado que, neste último caso, os moradores já estavam

morando em área próxima à da ocupação, a qual resolveram ocupar, a fim de

“retomada” do terreno e não permitir que a mesma fosse ocupada por movimentos

organizados que poderiam chegar a Mosqueiro após o grupo do MST. A tabela 20 retrata o tempo de moradia das pessoas por ocupação.

Quanto à questão de onde vieram as pessoas, solicitou-lhes, quando

possível, informar o caminho migratório considerando até três deslocamentos

quando for o caso.

Conforme a tabela 21 percebe-se que na maioria dos deslocamentos, as

pessoas foram de Belém para Mosqueiro, configurando-se, portanto, mais uma vez,

o processo de periferização relacionado à área continental desse município, haja

vista que, quando lhes foi perguntado o porquê de terem saído de seus locais de

origem, em todas as áreas foram obtidas respostas do tipo “conseguir terreno para

casa”.

Do total apresentado, 24,5% das pessoas responderam que vieram de Belém,

sendo o maior número pertencente à ocupação Mártires de Abril, o que pode ser

atribuído por ser fruto de um movimento organizado. Se ao quantitativo de pessoas

que se deslocaram de Belém for adicionado o montante das que se deslocaram de

outros municípios da RMB esse percentual se eleva para 45,5 %, praticamente a

metade dos responsáveis pelos domicílios pesquisados.

Na ocupação Ipixuna, 17 pessoas disseram que o motivo que lhes trouxe até

à área foi por terem conseguido o terreno para construção de suas casas; duas

pessoas vieram para fugir da violência onde moravam antes; cinco estão na área por

necessidade (não informaram que tipo). Os demais alegaram motivos como

mudança por falecimento de parente; calma do lugar; separação; proximidade da

família.

Na ocupação Poeirão, oito pessoas estão lá por que ganharam o terreno; sete

porque estão próximas do trabalho; quatro eram caseiros e por isso vieram para o

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118

local. É interessante que, nessa ocupação, 12 pessoas que escolheram o lugar pela

possibilidade de terem melhor qualidade de vida.

Na ocupação APROAR, 20 pessoas responderam que vieram pela ocupação,

oito pela retomada de posse do terreno; seis por não terem mais que pagar aluguel

e quatro porque não tinham casa; para as demais, os motivos alegados foram

separação, ficar próximo da família, falta de oportunidade.

Na ocupação Mártires de Abril, 35 pessoas vieram com o movimento; uma

veio pelo trabalho; três estão na área tomando conta de imóvel de amigos; oito por

que o próprio movimento lhes conseguiu uma área e uma alega estar ali pela

necessidade.

Em relação à condição da moradia (tabela 22), nas ocupações Ipixuna e

Mártires de Abril, segundo as informações dos próprios moradores, a totalidade dos

domicílios são ocupados, o que significa dizer que seus moradores têm a posse do

imóvel, mas não a do terreno, configurando-se, pois, a irregularidade fundiária. No

entanto, segundo informações obtidas nos órgãos municipais32, todos os domicílios

dessas áreas estão na mesma condição, daí a sua inclusão como área de ocupação

irregular. Os que consideram o imóvel como próprio possuem recibos de compra e

venda, sem valor legal junto aos órgãos públicos.

Na ocupação APROAR, mesmo os que dizem que o imóvel é próprio

informam que nada pagaram para obter o terreno. Apenas na Poeirão as respostas

indicam que houve pagamento pelo terreno, onde 20 pessoas disseram ter pago até

R$ 3.000, 00; cinco mais de R$ 3.000,00 e quatro afirmaram que não lembram mais

quanto pagaram (tabela 23).

32 Foram visitados: CODEM, SEGEP, SEHAB e ADMOS.

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Gráfico 5 – Condição legal da moradia Fonte: Pesquisa de campo

6.2.4 Condição física da moradia

Segundo a Fundação João Pinheiro (2006, p.14), para que um domicílio seja

considerado inadequado, basta apresentar uma das características a seguir: “com

carência de infraestrutura, com adensamento excessivo de moradores, com

problemas de natureza fundiária, em alto grau de depreciação ou sem unidade

sanitária domiciliar exclusiva”.

Dessa forma, todos os domicílios existentes nas áreas pesquisadas podem

ser considerados como inadequados, visto não disporem de documentos que

regularizem seus imóveis. Nenhum deles possui escritura pública.

A mesma Fundação enquadra, como domicílio carente, qualquer um que não

apresente apenas um dos serviços básicos a seguir: “ iluminação elétrica, rede geral

de abastecimento de água com canalização interna, rede geral de esgotamento

sanitário ou fossa séptica e coleta de lixo” (p.14).

O gráfico 6 e a tabela 24 mostram os itens pesquisados em relação à

infraestrutura e benfeitorias.

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Gráfico 6 – Infraestrutura e benfeitorias por domicílio Fonte: Pesquisa de campo

Dentre as ocupações pesquisadas, constatou-se que na Ipixuna, na APROAR

e na Mártires de Abril, nenhum domicílio está ligado à rede geral de água. Ao

contrário do que ocorre na ocupação Poeirão, onde a maioria possui esse acesso

(37 residências). O fato pode ser explicado devido à localização dessa área, visto

que a mesma está situada na parte central de Mosqueiro, onde há grande circulação

de veranistas, bem como estão localizados os estabelecimentos comerciais e de

serviços, além de órgãos públicos e bancários, como é o caso da Seccional Urbana

de Mosqueiro - Polícias Civil e Militar, o quartel da Polícia Militar e a agência do

Banco do Brasil (tabela 24).

Nas demais ocupações, a maioria dos domicílios utiliza o poço – amazonas33

ou artesiano. São 43 do primeiro tipo na Ipixuna, 37 na APROAR e 35 na Mártires de

Abril.

Em relação ao tipo de material utilizado para a construção das casas, a

maioria é de alvenaria, como se pode constatar na tabela 25.

Apesar das residências serem construídas, em sua maioria, de alvenaria,

suas características físicas refletem a carência de recursos financeiros de seus 33 Poço amazonas é aquele poço cuja abertura possui um diâmetro largo. Em algumas localidades são denominados de “caipiras”

Infraestrutura e benfeitorias por domicílio

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moradores. Normalmente são bastante modestas, as paredes sem reboco e/ou não

são forradas. A pintura é presente em pouquíssimas unidades. Seus cômodos têm

dimensões reduzidas, o que diminui o nível de conforto das pessoas, visto o

adensamento existente. Um elemento importante diz respeito à mobília dessas

casas. O que se viu na pesquisa de campo foram móveis gastos e insuficientes para

abrigar todos os moradores.

E, ainda que disponham de banheiros internos e tenham acesso à

comunicação, através do uso de telefones móveis, os moradores dessas áreas

enfrentam um processo de espoliação urbana, visto que suas condições de

habitabilidade podem ser consideradas de baixa qualidade, devido a não contarem

com serviços básicos, como saneamento e esgotamento sanitário.

Fotografia 26 – Interior de uma residência da ocupação Ipixuna, 2009 Fonte: Pesquisa de campo

Uma das casas visitadas, de apenas um cômodo, cujas dimensões são de 4m

por 5m, abriga sete pessoas da mesma família. Os móveis são uma cama de casal e

um beliche que deveria servir para duas pessoas, mas onde dois irmãos dividiam a

mesma cama de solteiro, os demais dormiam em redes. Além das camas, um sofá,

uma estante com o aparelho de som e a TV e a geladeira. As roupas

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acondicionadas em cestos de plástico, separados de acordo com o gênero. Na parte

externa da casa, ficavam a cozinha e o banheiro.

Juntamente com todas essas questões, é inevitável lembrar do tempo gasto

no deslocamento para o trabalho, que é excessivo, principalmente para quem

trabalha fora de Mosqueiro e que depende do transporte coletivo. Essas questões,

aliadas à deficiência na escolarização e por isso, a salários baixos – a maioria ganha

menos de um salário mínimo - também não lhes permitem a possibilidade de um

lazer adequado e acesso aos serviços privados de saúde.

Dentre as casas construídas em alvenaria, pode-se observar que

aproximadamente 40% do total está no assentamento Mártires de Abril, sendo o

restante distribuído de forma praticamente homogênea pelas demais áreas. As

áreas de assentamento precário significam, por si só, inadequação das condições de

vida das populações. Em todas as áreas pesquisadas não há iluminação pública.

Apenas 18,5 por cento das casas estão ligadas à rede geral de água, todas

localizadas na ocupação Poeirão. Apesar de 50% dos pesquisados afirmarem que o

lixo domiciliar é recolhido pela Prefeitura, a demora na coleta é frequente, daí ser

comum se ver lixo jogado a céu aberto.

A tabela 26 apresenta a quantidade de cômodos por domicílios, refletindo o

que já se discutiu até aqui, haja vista que mais de 50% das casas possui até 3

cômodos A situação de precariedade das moradias é um dado que deve ser cruzado

neste momento com o número de pessoas por domicílio. São 4,09 pessoas que

devem dividir os espaços exíguos das casas.

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Gráfico 7 – Distribuição percentual do nº de cômodos por domicílio Fonte: Pesquisa de campo

Outro item pesquisado foram os sanitários das ocupações, visto se

constituírem num elemento de capital importância para a questão do saneamento.

Em relação à localização dos mesmos, embora a maioria seja interno, aqueles que

são externos demonstram extrema precariedade, conforme já evidenciado pelas

fotografias mostradas na parte inicial deste capítulo. A tabela 27 apresenta a

localização dos mesmos. Deve-se chamar a atenção para a localização dos

sanitários. Na parte externa da moradia estão 40% na Ipixuna e 58% na APROAR,

devendo-se ressaltar que, em algumas casas de alvenaria, os sanitários estavam

fora da residência.

Em relação ao destino do lixo domiciliar (tabela 28), a maioria respondeu que

é a Agência Distrital de Mosqueiro que realiza o serviço. No entanto, é essencial se

destacar que, na maioria dos casos, o veículo coletor leva até duas semanas para

passar. No caso do assentamento Mártires de Abril, por ser um movimento

organizado e que possui uma liderança atuante, quando a demora ultrapassa os

quinze dias, os mesmos se dirigem até à Agência Distrital de Mosqueiro para

solicitarem o serviço de coleta. Nas demais áreas, ninguém informou se faz essa

solicitação.

Distribuição percentual do nº cômodos por domicílio (%)

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O último item da pesquisa diz respeito aos bens duráveis e acesso à

comunicação disponíveis nos domicílios (tabela 29). É interessante destacar a

existência de 6% dos imóveis na ocupação APROAR que não possuem nenhum dos

bens perguntados, configurando o que a pesquisa mostrou ao longo das respostas.

Das ocupações investigadas, a APROAR é a que se mostrou como a mais carente,

apesar de possuir mais máquinas de lavar roupas que na Poeirão, a única que

dispõe de acesso à rede geral de água.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa revelou que, juntamente com a “nova periferia”, mais complexa,

onde se destaca a presença de condomínios fechados e clubes , a “velha periferia”

ainda é uma realidade eloquente, enfatizando a atualidade do conceito de

espoliação urbana formulado por Lúcia Kowarick.

Isto se torna evidente pelos resultados dos principais motivos que deram

origem às ocupações estudadas, onde se evidenciaram a fuga do aluguel e a busca

da tão sonhada casa própria. Dessa forma, os segmentos sociais mais pobres

somente conseguem realizar tais aspirações em áreas remotas da urbe; assim, são

continuamente “empurradas” para locais bem distantes das centralidades

metropolitanas, onde, além das péssimas condições ambientais, enfrentam longos

tempos de deslocamento em direção aos seus empregos.

Esse processo de expansão urbana, sem nenhum planejamento

governamental ou critério técnico e sem a infraestrutura e serviços urbanos

adequados, acaba constituindo assentamentos precários com toda a sorte de

problemas, aprofundando ainda mais a já grave situação de segregação urbana. A

mancha urbana das metrópoles vai, assim, expandindo-se de forma incontrolada,

acrescentando à gestão urbana novas áreas problemáticas às inúmeras já

existentes.

Pela análise dos dados, conclui-se que as áreas de assentamento precário

investigadas neste trabalho apresentam-se como resultado de um duplo processo

periferização, tanto em relação à própria Ilha de Mosqueiro quanto ao núcleo da

RMB, excetuando-se a ocupação Poeirão.

Essa característica de dupla periferia, uma delas associada a atividades

turísticas, constitui uma peculiaridade do processo de periferização no qual as

ocupações de Mosqueiro se inserem. Outra peculiaridade é a forte presença de

atividades primárias, especialmente a agricultura e a criação de aves.

Isto posto, os caminhos apontam que o tratamento adequado para essa forma

de expansão urbana é um planejamento no qual as pessoas possam participar do

processo de decisões acerca do espaço urbano. Quando as pessoas estão

organizadas podem, juntas com o poder público, buscar alternativas e estratégias

para a contenção do avanço de uma expansão urbana cuja característica central é a

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periferização moldada na segregação socioespacial das pessoas, confirmando o que

diz Kowarick (1993, p. 71), para quem a melhoria dos níveis de habitabilidade que se

adequem à reprodução dos trabalhadores e que exigem a prestação de serviços de

consumo coletivo, tanto material quanto cultural, “só serão atingidos quando estes

conseguirem desenvolver canais de reivindicação vigorosos e autônomos, tanto no

que se refere às condições de trabalho como no que diz respeito às melhorias

urbanas”.

Conforme salienta UN-Habitat (2003), as políticas nacionais voltadas a

equacionar o problema dos assentamentos precários vêm evoluindo

significativamente, passando de abordagens negativas como a negligência ou o

despejo puro e simples de extirpá-los para outras de caráter mais positivo e com

base doutrinária na conquista de direitos, como a auto-ajuda e o melhoramento in

situ.

Os problemas, socioeconômicos e ambientais, decorrentes dos

assentamentos precários, exigem da administração municipal, uma nova forma de

olhar para essas áreas, a fim de, pelo menos minimizar, os conflitos advindos do

crescimento dessas ocupações.

Percebe-se, pois, a necessidade de se buscar a regularização fundiária,

apesar de que o Plano Diretor atual não define para Mosqueiro nenhuma zona

especial de interesse social. No entanto, a própria conceituação de ZEIS a coloca

como uma categoria que permite se estabelecer, a partir de projeto específico de

urbanização, um novo padrão urbanístico para adequação do assentamento

precário, dotando-o de qualidade socioambiental, além de introduzi-lo na legalidade

jurídica e aumentar a renda auferida pela arrecadação de tributos, quando for o

caso.

Nas áreas pesquisadas neste trabalho, caracterizadas como sendo

assentamentos precários, percebeu-se que o assentamento Mártires de Abril, por

ser fruto de movimento organizado, cuja discussão sobre suas formas de agir não

são objeto desta pesquisa, as condições de vida de seus moradores diferem das

demais, excetuando-se a ocupação Poeirão, a qual, por estar localizada numa área

voltada para o veranista, próxima do centro de decisão do Distrito, que é a Vila, e

por possuir muitas residências dessas pessoas, apresenta condições diferenciadas.

O fato do assentamento Mártires de Abril possuir uma liderança atuante

colabora com a idéia de que, quando há organização da sociedade civil juntamente

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com apoio governamental, é possível se estabelecer uma correlação de forças, de

modo a, pelo menos, minimizar os efeitos das desigualdades. Mesmo que se saiba

que o planejamento não pode ser neutro, já que é submetido às “pressões dos

grupos sociais”, a dificuldade para se levar a efeito um trabalho conjunto, é muito

grande, necessitando, ainda, ultrapassar as barreiras dos interesses partidários, que

permeiam essas relações.

Trata-se de pautar, de forma democrática, a atuação do Estado em seu papel

de planejador e regulador das relações socioeconômicas, trazendo à tona uma

discussão necessária em relação à participação das pessoas nas discussões sobre

a cidade, reiterando, pois, o que está previsto no Estatuto da Cidade e no Plano

Diretor de Belém/2008.

O planejamento da cidade seria uma atividade fácil se fosse resultado apenas

de fórmulas matemáticas calculadas de forma exata, cujas variáveis não

apresentassem nenhuma alternativa que não fosse quantitativa. Ocorre, porém, que

se está discutindo acerca do planejamento de uma cidade, a qual é formada por

uma sociedade cuja complexidade não é apenas quantitativa, mas principalmente,

de caráter social, visto ser formada por pessoas que não buscam simplesmente uma

casa para morar, mas desejam que esse espaço seja um local que lhes proporcione,

além das condições físicas de sobrevivência, como saneamento, possibilidades de

se sentirem membros da cidade. O sentimento presente de que não fazem parte da

cidade “legal” foi expresso por muitos moradores, durante o trabalho de campo.

Quando se faz uma pesquisa de campo, visitando-se os domicílios, as

percepções vão muito mais além da simples aparência, visto que, ao se olhar nos

olhos das pessoas, percebe-se que não desejam apenas ser vistas como

submoradores da cidade, cujas denominações que recebem são de invasores,

ocupantes ou simplesmente, pobres.

No caso de Mosqueiro, área tradicionalmente voltada ao turismo de veraneio,

o que se vê com frequência é a intervenção urbanística, enquanto um “conjunto de

intervenções físicas no espaço urbano (...) cuja essência é a transformação material

do espaço, negligenciando ou pouco considerando uma mudança efetiva da cidade

de uma perspectiva social”, conforme Souza (2004, p. 62). A orla e os locais mais

próximos às praias estão recebendo de forma contínua a realização de serviços de

limpeza, coleta, pintura, asfaltamento, o que não ocorre nas áreas ocupadas.

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Por mais que alguns defendam, de forma pura e simples, que a ilha é voltada

para o turismo e por isso deve ser preparada para atender a essas pessoas, não se

pode esquecer que esse mesmo espaço é dividido também por residentes das áreas

de assentamento precário e que se estão ali, é resultado da carência de um

planejamento urbano que não atentou para a possibilidade de que a cidade “legal”

não tinha como dar conta de sua expansão.

Segundo Souza (2004, p. 62), a reforma urbana “representa uma

transformação da sociedade e do espaço, tendo por objetivos melhorar a qualidade

de vida da população, elevar o nível de justiça social e democratizar as práticas de

gestão e planejamento”.

Um dos objetivos da reforma urbana é a redução do nível de desigualdades

socioeconômicas e da segregação espacial. Assim, mediante as reformas, é

possível que as pessoas que residem nessas áreas tenham sua qualidade de vida

melhorada. Porém, de nada adiantarão as medidas se, juntamente com elas, não

vierem outras medidas voltadas para a geração de emprego e renda para essas

populações, visto que a maioria dos que responderam esta pesquisa afirmou estar

no mercado informal, exercendo atividades consideradas não qualificadas, como

caseiros, auxiliar de serviços gerais e auxiliares da construção civil, além de uma

parcela que afirmou exercer apenas “bico”, ou seja, não possui uma atividade ou

ocupação fixa.

Essa condição reforça as idéias de Fernandes (2001) e de Kowarick (1993)

quando afirmam que essas pessoas não tiveram como se inserir na cidade “legal” e

no mercado habitacional, devido principalmente às suas condições socioeconômicas

e que por isso são estigmatizadas no espaço urbano, tanto pelo Estado que não lhes

fornece os serviços básicos, como pelas pessoas de rendas mais altas, que se auto-

segregam em seus condomínios de altos muros.

Deve-se ressaltar que a proposta de reforma urbana, apesar da delimitação

de espaço apontar para Mosqueiro, é bem mais ampla, devendo fazer parte de todo

um processo que abranja não só Belém, mas toda a Região Metropolitana, visto

que, para se chegar a Mosqueiro, é necessário transpor os municípios de

Ananindeua, Marituba, Benevides e Santa Bárbara, ou seja, todos os municípios que

fazem parte da RMB.

Nesse sentido, é imperativo que se busque um compromisso entre a atividade

turística – principal geradora de empregos e renda na Ilha – e a população residente

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nos assentamentos precários. É imprescindível dar aos assentamentos precários o

status de zonas especiais de interesses sociais (ZEIS), no sentido de promover a

regularização fundiária das mesmas. Aqui entendida não somente como a

concessão de um título de posse ou propriedade, como também a provisão de uma

infraestrutura mínima para garantir uma vida digna, nos termos dispostos no

Capítulo III da Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009, que trata da regularização

fundiária de assentamentos urbanos.

Para isso, é indispensável que o Plano Diretor de Belém aprofunde o nível de

detalhamento espacial de suas propostas no que diz respeito ao Distrito de

Mosqueiro, com o propósito de localizar todas as áreas passíveis de serem

consideradas ZEIS. Essa recomendação faz sentido quando se observa que esse

Plano, em sua versão original, não previu nenhuma zona desse tipo na ilha.

O planejamento urbano para Mosqueiro pode, e deve, ampliar a função de

moradia permanente na Ilha. Contudo, o aumento das ocupações, da forma

como estas vem ocorrendo, é algo bastante danoso para o meio ambiente,

podendo comprometer, inclusive a principal fonte de emprego e renda

local: a atividade turística. Novos projetos habitacionais podem ser

previstos, inclusive de habitação social, porém obedecendo aos

parâmetros da legislação urbanística. Em outras palavras, deve-se melhorar os

assentamentos precários existentes, mas evitar a formação de outros novos.

Em relação à atividade turística, o detalhamento espacial mencionado –

que pode adotar a forma de um zoneamento ecológico-econômico – também

deve definir as áreas que a serem objeto de preservação ambiental,

admitindo-se aí determinados níveis de utilização antrópica, quando for o caso.

É possível que algumas dessas áreas de preservação possam ser

destinadas, com o devido cuidado, ao uso turístico, criando-se na Ilha um novo

atrativo, reforçando, dessa forma, o turismo como atividade geradora de emprego e

renda à população local, inclusive aos moradores das ocupações. Esse zoneamento

pode constituir um instrumento importantíssimo para uma

ocupação territorial de Mosqueiro em bases sustentáveis, visto que

pode definir o uso adequado para cada parcela do território da ilha.

Esse conjunto de propostas só poderá ter a eficácia desejada se for

resultado de um compromisso mínimo entre as várias forças sociais

interessadas num projeto de desenvolvimento sustentável para a Ilha.

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Com esse propósito, a Prefeitura Municipal de Belém deve tomar a

iniciativa de propor a realização de um plano estratégico para o

Distrito, que envolveria, além do poder público, todas as forças

organizadas da sociedade civil.

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APÊNDICE

APÊNDICE A - Tabelas Tabela 3 - Pessoas residentes por gênero

Ipixuna Poeirão APROAR MÁ Total geral %

Gênero A C A C A C A C A C A C

Masc. 54 53 62 26 70 47 63 26 249 152 47,5 52,0

Fem. 65 43 77 36 79 35 55 27 276 141 52,5 48,0

Total 119 96 139 62 149 82 118 53 525 293 100,0 100,0

Fonte: Pesquisa de campo Legenda: A-adulto; C-criança; MA – Mártires de Abril

Tabela 4 – Famílias residentes por domicílio

Nº Ipixuna % Poeirão % APROAR % MA % Total %

1 46 92 47 94 41 82 42 84 182 91,0

2 4 8 2 4 9 18 8 16 17 8,5

3 0 0 1 2 0 0 0 0 1 0,5

Fonte: Pesquisa de Campo

Tabela 5 - Estado civil dos responsáveis pelo domicílio

Estado civil

Ipixuna Poeirão APROAR MÁ Total %

Solteiro 9 13 8 9 39 19,5

Vive Junto 24 20 19 27 90 45

Casado 11 13 12 9 45 22,5

Sep/Div 5 2 3 4 14 7

Viúvo 1 2 8 1 12 6

Fonte: Pesquisa de campo

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Tabela 6 - Gênero do responsável pelo domicílio

Gên/Área Ipixuna % Poeirão % APROAR % MA %

Masculino 33 66 39 78 32 64 36 72

Feminino 17 34 11 22 18 36 14 28

Fonte: Pesquisa de campo

Tabela 7 -Faixa etária por gênero do responsável pelo domicílio

Ipixuna Poeirão APROAR MA

Gênero Gênero Gênero Gênero

Idade/Área

Masc Fem Masc Fem Masc Fem Masc Fem

Total

%

Até 25 anos 3 0 0 3 4 2 5 0 17 8,5

26 – 45 24 6 24 4 14 4 20 9 105 52,5

46 – 65 5 10 11 4 11 7 9 5 62 31

66 em diante 1 1 4 0 3 5 2 0 16 8

Fonte: Pesquisa de campo

Tabela 8 - Escolarização do responsável pelo domicílio

Escolaridade Ipixuna % Poeirão % APROAR % MA % Total %

Analfabeto 2 4 3 6 6 12 3 6 14 7

Fund.Inc. 23 46 19 38 33 66 25 50 100 50

Fund.Comp. 8 16 11 22 6 12 7 14 32 16

Médio Inc. 6 12 3 6 2 4 5 10 16 8

Médio Comp. 9 18 10 20 3 6 8 16 30 15

Superior Inc. 0 0 0 0 0 0 1 2 1 0,5

Superior 2 4 4 8 0 0 1 2 7 3,5

Fonte: Pesquisa de campo

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Tabela 9 - Local de votação do responsável pelo domicílio

Mun/Área Ipixuna Poeirão APROAR MA

Belém 29 38 40 41

Outro 19 10 6 9

Não vota 2 2 4 0

Fonte: Pesquisa de campo

Tabela 10 - Condição funcional do responsável pelo domicílio

Situação Ipixuna % Poeirão % APROAR % MA % Total %

Empregado c/cart.assinada

20 40 16 32 11 22 14 28 61 30,5

Empregado s/cart.assinada

5 10 5 10 2 4 4 8 16 8

Autônomo 20 40 15 30 16 32 24 48 75 37,5

Desocupado 0 0 6 12 8 16 3 6 17 8,5

Inativo c/apos. 5 10 8 16 7 14 5 10 25 12,5

Inativo s/apos. 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Pensionista 0 0 0 0 6 12 0 0 6 3

Fonte: Pesquisa de campo

Tabela 11 – Responsáveis por domicílios que trabalham em Belém; em outros municípios da RMB; Belém e em outros municípios da RMB; em Mosqueiro, Belém e outros municípios da RMB e em Mosqueiro e Belém

Área Belém % RMB % B/RMB % M/B/RMB % M/B % Total %

Ipixuna 9 18 6 12 0 0 0 0 0 0 15 30

APROAR 6 12 3 6 0 0 0 0 0 0 9 18

Poeirão 3 6 2 4 1 2 0 0 0 0 6 12

MA 8 16 5 10 0 0 1 2 2 4 16 32

Total 26 13 16 8 1 0,5 1 0,5 2 1 46

23 Fonte: Pesquisa de campo

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Tabela 12 – Responsáveis por domicílios que estão fora do mercado de trabalho ÁREA Aposentado % Pensionista % Desocupado % TOTAL

Ipixuna 5 10 0 0 0 0 5 APROAR 7 14 6 12 8 16 21 Poeirão 8 16 0 0 6 12 14 MA 5 10 0 0 3 6 8 Total 25 12,5 6 3 17 8,5 48

Fonte: Pesquisa de campo

Tabela 13 - Percentual excluindo os que estão fora do mercado de trabalho(%)

Área Belém RMB B/RMB M/B/RMB M/B Total

Ipixuna 20 13,3 0 0 0 9,8

APROAR 20,6 10,3 0 0 0 5,9

Poeirão 8,3 5,5 2,7 0 0 3,9

MA 19 11,9 0 2,3 4,7 10,5

Total 16,9 10,2 0,6 0,5 1,1 30,1 Fonte: Pesquisa de campo

Tabela 14 - Renda Familiar Mensal

Faixa de renda Ipixuna % Poeirão % APROAR % MA % Total %

S/ rendimento 0 0 1 2 4 8 3 6 8 4

Até R$ 100,00 0 0 0 0 3 6 1 2 4 2

R$100,00 a R$ 200,00 8 16 5 10 4 8 4 8 21 10,5

R$200,01 a R$ 300,00 8 16 3 6 4 8 2 4 17 8,5

R$ 300,01 a R$ 464,99 1 2 2 4 2 4 7 14 12 6

1 a 2 SM 27 54 30 60 32 64 28 56 117 58,5

2 a 4 SM 5 10 3 6 1 2 3 6 14 7

4 a 6 SM 1 2 2 4 0 0 0 0 3 1,5

Mais de 6SM 0 0 4 8 0 0 0 0 4 2

Fonte: Pesquisa de campo

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Tabela 15 - Número de pessoas que possuem renda por domicílio

Nº/Área Ipixuna Poeirão APROAR MA Total %

1 45 32 41 34 152 76

2 5 15 4 12 36 18

3 0 1 0 1 2 1

4 0 1 1 0 2 1

Fonte: Pesquisa de campo

Tabela 16 - Procedência da Renda

Procedência/Área Ipixuna Poeirão APROAR MA Total %

Trabalho 39 18 13 31 101 50,5

Trabalho/Programas Sociais 6 18 15 10 49 24,5

Trabalho/Aposentadoria 0 0 0 1 1 0,5

Aposentadoria 5 8 4 5 22 11

Aposentadoria/Programas Sociais 0 0 3 0 3 1,5

Pensão 0 0 4 0 4 2

Pensão/Programas Sociais 0 1 3 0 4 2

Programas Sociais 0 4 4 0 8 4

S/Renda 0 1 4 3 8 4

Fonte: Pesquisa de campo

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Tabela 17 - Local de trabalho em Mosqueiro

Local/Área Ipixuna Poeirão APROAR MA Total %

Ocupação 2 5 7 13 27 25,4

Vila 7 9 3 2 21 19,9

Praias 12 8 5 6 31 29,2

Bairros 1 0 1 5 7 6,7

Ocupação/Vila/Praias 1 5 2 0 8 7,6

Vila/Praias 7 1 0 0 8 7,6

Ocupação/Praias 0 0 1 0 1 0,9

Ocupação/Vila 0 2 1 0 3 2,7

Total 30 30 20 26 106 100,0

Fonte: Pesquisa de campo

Tabela 18 - Modo de deslocamento para o trabalho

Modo/Área Ipixuna Poeirão APROAR MA Total

A pé 7 12 5 11 35

Bicicleta 15 12 8 11 46

Õnibus 17 4 12 17 50

Motocicleta 1 4 0 0 5

Veículo particular 0 1 1 0 2

A pé/bic/ônibus 1 0 2 0 3

Ônibus/a pé 0 0 1 0 1

A pé/bicicleta 2 2 0 0 4

Bic/Moto/van 0 1 0 0 1

Bic/ônibus 2 0 0 2 4

Ônibus/Moto 0 0 0 1 1

Fonte: Pesquisa de campo

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Tabela 19 – Frequência de deslocamento para o trabalho

Frequência/Área Ipixuna Poeirão APROAR MA Total %

Diariamente 30 28 21 34 113 74,3

Ocasionalmente 12 6 6 5 29 19,1

Por turno 1 2 1 2 6 4

Vai 2ª/retorna sábado 2 0 1 1 4 2,6

Fonte: Pesquisa de campo

Tabela 20 - Tempo de moradia na área

Tempo/Área Ipixuna Poeirão APROAR MA Total %

Menos de 3 anos 5 16 11 5 37 18,5

3 – 5 anos 25 11 6 4 46 23

6 – 8 anos 20 8 25 5 58 29

9 – 11 anos 0 3 2 36 41 20,5

Mais de 11 anos 0 12 6 0 18 9

Fonte: Pesquisa de campo

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Tabela 21 - Caminho migratório percorrido

Origem do deslocamento Ipixuna Poeirão APROAR MA

1 deslocamento

Outros locais de Mosqueiro 14 20 31 3

Belém 12 10 5 22

RMB, exceto Belém 9 10 9 14

Outro município do Pará 10 5 2 7

Outro Estado 5 5 3 4

2 deslocamentos

Outros locais de Mosqueiro 5 8 0 1

Belém 2 3 2 1

RMB, exceto Belém 6 1 1 1

Outro município do Pará 4 2 1 4

Outro Estado 0 1 1 0

3 deslocamentos

Outros locais de Mosqueiro 1 1 1 0

Belém 0 0 0 0

RMB, exceto Belém 0 0 0 2

Outro município do Pará 0 0 0 1

Outro Estado 0 0 0 0

Fonte: Pesquisa de campo

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Tabela 22 - Condição legal da moradia

Condição/Área Ipixuna Poeirão APROAR Mártires de Abril

Total %

Própria 0 39 25 0 64 32

Alugada 0 0 0 0 0 0

Cedida 0 10 3 0 13 6,5

Ocupada 50 1 22 50 123 61,5

Fonte: Pesquisa de campo

Tabela 23 – Valor pago pelo lote

Preço/Área Ipixuna Poeirão APROAR MAl Total %

Não pagou nada 50 21 50 50 171 85,5

Até R$ 3.000,00 0 20 0 0 20 10

Mais de R$ 3.000,00 0 5 0 0 5 2,5

Não lembra 0 4 0 0 4 2

Fonte: Pesquisa de campo

Tabela 24 – Infraestrutura e benfeitorias por domicílio

Benfeitorias/Área Ipixuna Poeirão APROAR MA Total

Rede de água 0 37 0 0 37

Poço Amazonas 43 7 37 35 122

Poço Artesiano 3 4 4 5 16

Energia Elétrica 50 50 50 49 199

Fonte: Pesquisa de campo

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Tabela 25 – Tipo de material utilizado na construção da moradia Material Ipixuna Poeirão APROAR MA Total

Madeira 21 21 22 1 65

Alvenaria 28 24 26 49 127 Mista 1 5 1 0 7

Outra 0 0 1 0 1

Fonte: Pesquisa de campo

Tabela 26 - Nº de cômodos por domicílio

Nº/Área Ipixuna % Poeirão % APROAR % MA % Total %

1 4 8 3 6 12 24 0 0 19 9,5

2 15 30 5 10 15 30 2 4 37 18,5

3 21 42 21 42 7 14 1 2 50 25

4 4 8 11 22 8 16 42 84 65 32,5

5 6 12 3 6 4 8 5 10 18 9

Mais de 5 0 0 7 14 4 8 0 0 11 5,5

Fonte: Pesquisa de campo

Tabela 27 – Quantidade e localização dos banheiros

Local/Área Ipixuna % Poeirão % APROAR % MA % Total %

Interno 30 60 39 78 21 42 49 98 139 69,5

Externo 20 40 9 18 29 58 1 2 59 29,5

Não há 0 0 1 2 0 0 0 0 1 0,5

Int/Ext 0 0 1 2 0 0 0 0 1 0,5

Fonte: Pesquisa de campo

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Tabela 28 - Destino do lixo domiciliar

Destino Ipixuna % Poeirão % APROAR % MA % Total %

Coleta Pública 24 48 19 38 17 34 43 86 103 51,5

Queima 24 48 6 12 32 64 5 10 67 33,5

Enterra 1 2 0 0 1 2 0 0 2 1

Coleta/queima 0 0 24 48 0 0 1 2 25 12,5

Lixeira própria 0 0 1 2 0 0 0 0 1 0,5

Queima/enterra 1 2 0 0 0 0 0 0 1 0,5

Coleta/adubo 0 0 0 0 0 0 1 2 1 0,5

Fonte: Pesquisa de campo

Tabela 29 – Percentual de domicílios com alguns bens duráveis e serviços de acesso à comunicação

Bens e serviços

Área Telefone

móvel (%)

Som

(%)

TV

(%)

Rádio

(%)

Máquina de lavar roupas

(%)

Geladeira

(%)

Nenhum

(%)

Ipixuna 74 48 96 48 32 92 2

Poeirão 96 50 100 56 26 98 0

Aproar 72 24 84 14 30 76 6

Mártires de Abril

84 26 80 14 28 78 2

Total 81,5 37 90 33 29 86 2,5

Fonte: Pesquisa de campo

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APÊNDICE B - Formulário aplicado nos domicílios pesquisados

I INFORMAÇÕES GERAIS

1. Número de pessoas adultas residentes na casa: ____homens ____mulheres.

2. Número de crianças até 12 anos residentes na casa:___meninos _____meninas

3. Quantas famílias moram na mesma casa? _______

4. Estado civil do principal responsável pela residência: ________

5. Grau de escolaridade do principal responsável pela residência: ________

6. Onde as crianças estudam? ( ) na ocupação ( ) fora da ocupação ( ) não

estudam

7. Como as crianças se deslocam até à escola?

8. Gênero e idade do principal responsável pela residência: ( )F ( )M

_____ anos

9. Qual o seu local de votação: ( ) Belém ( ) Outro município

II TRABALHO E RENDA

10. Condição do responsável pelo domicílio

( ) Ativo empregado c/ carteira assinada

( ) Ativo empregado s/ carteira assinada

( ) Autônomo

( ) Desocupado

( ) Inativo com aposentadoria

( ) Inativo sem aposentadoria

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11. Ocupação do principal responsável pela residência:

12. Renda Familiar Mensal: ( ) Sem renda Renda : R$ ________

13. Procedência da renda: ( ) Trabalho ( ) Aposentadoria ( ) Programas sociais

14. Se programas sociais, quais? _____________________; __________________

15. Quantas pessoas possuem renda na casa?________

16. Local de trabalho:

( ) Mosqueiro

( ) Belém

( )RMB, exceto Belém

( ) outro

17. Se em Mosqueiro, onde?

( ) Na própria ocupação

( ) Na Vila

( ) Nas praias

18. Com que freqüência semanal você se desloca para o trabalho? _____________

19. Através de que modo de transporte é feito o deslocamento para o trabalho?

III MIGRAÇÃO / MORADIA

20. Há quanto tempo mora neste local? __________ ( )anos ( )meses

21. Condição da moradia:

( ) Própria

( ) Alugada

( ) Cedida

( ) Ocupada

22. Por que motivo está morando no local?

23. Locais de residência anteriores do principal responsável pela residência:

Local: ____________________________________ Ano de saída: ____________

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Local: ____________________________________ Ano de saída: ____________

Local: ____________________________________ Ano de saída: ____________

24. Como soube da existência desse local?

25. Quanto você pagou pelo lote? R$ _________ ( ) Não pagou nada

IV CONDIÇÃO FÍSICA DA MORADIA

26. Tipo de moradia (Paredes)

( ) Madeira

( ) Alvenaria

( ) Mista. Parede de ....................

27. Número de banheiros da casa: ____________

28. Local do(s) banheiro(s): ( ) Interno ( ) Externo

29. Número de cômodos da casa: _________

30. Benfeitorias na residência:

( ) Rede de água

( ) Poço amazonas

( ) Poço artesiano

( ) Energia elétrica

31. Destino do lixo domiciliar:__________________________________

32.Bens duráveis existentes na casa

( ) Antena parabólica

( ) Telefone celular

( ) Aparelho de Som

( ) Tv ( ) colorida ( ) P&B

( ) Rádio

( ) Máquina de lavar roupas

( ) Outros. Quais? __________________________

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ANEXO

ANEXO A – Documento de aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa/UNAMA

C E P

UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA (CEP)

CERTIFICADO

Certificamos que o Protocolo nº 274958/09 referente ao Projeto de Pesquisa

intitulado ‘EXPANSÃO URBANA E PERIFIERIZAÇÃO EM ÁREAS DE INTERESSE

TURÍSTICO: O CASO DA ILHA DO MOSQUEIRO – BELÉM –PARÁ” desenvolvido

por Helena Lucia Damasceno Ferreira, sob a orientação do Pesquisador Marco

Aurélio Arbage Lobo, está de acordo com os princípios éticos adotados pela

Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) em cumprimento à Resolução

CNS nº 196/96 referente à pesquisa envolvendo seres humanos, tendo sido

aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade da Amazônia (CEP-

UNAMA), em 11/09/2009. Este certificado expira em 11/09/2010.

Belém (Pa), 12 de setembro de 2009.

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CERTIFICATE

We certify that work described in the manuscript intitled ‘EXPANSÃO

URBANA E PERIFIERIZAÇÃO EM ÁREAS DE INTERESSE TURÍSTICO: O CASO

DA ILHA DO MOSQUEIRO – BELÉM –PARÁ” developed by Helena Lucia

Damasceno Ferreira, under coordination of the researcher Marco Aurélio Arbage

Lobo is in agreement with the ethical principles adopted by National Ethics Council

(CONEP) for regulation of CNS Resolution nº 196/96 about Guidelines and Norms

Regulating Research Involving Human Beings, and was aproved by Amazon

University Ethics Committee for Research (CEP-UNAMA) on 11/09/2009, Protocol nº

274958/09 his certicate expires on 11/09/2010.

Belém (Pa), 12 de setembro de 2009.

MAISA SALES GAMA TOBIAS IVANÉIA CORRÊA DA SILVA

Coordenadora do CEP Secretária do CEP