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1 GRUPO DE LEITORES DA BIBLIOTECA MUNICIPAL DE ALGÉS DINAMIZADORA: MARIA PAULA SESSÃO DE MARÇO FICHA DE LEITURA OS LOUCOS DA RUA MAZUR DE JOÃO PINTO COELHO PRÉMIO LEYA 2017 PUBLICAÇÃO: LANÇADO A 21 NOVEMBRO 2017 GÉNERO: ROMANCE PORTUGUÊS PALAVRAS CHAVE II GUERRA MUNDIAL # HOLOCAUSTO # POLÓNIA # AUSCHWITZ # RUA MAZUR # LITERATURA # PRÉMIO LEYA # DOM QUIXOTE # PERGUNTEM A SARAH GROSS # JOÃO PINTO COELHO # ESCRITOR # ARQUITETO # TRÁS-OS-MONTES SINOPSE Quando as cinzas assentaram, ficaram apenas um judeu, um cristão e um livro por escrever. Paris, 2001. Yankel - um livreiro cego que pede às amantes que lhe leiam na cama - recebe a visita de Eryk, seu amigo de infância. Não se veem desde um terrível incidente, durante a ocupação alemã, na pequena cidade onde cresceram - e em cuja floresta correram desenfreados para ver quem primeiro chegava ao coração de Shionka. Eryk - hoje um escritor famoso - está doente e não quer morrer sem escrever o livro que o há-de redimir. Para isso, porém, precisa da memória do amigo judeu, que sempre viu muito para além da sua cegueira. Ao longo de meses, a luz ficará acesa na Livraria Thibault. Enquanto Yankel e Eryk mergulham no passado sob o olhar meticuloso de Vivienne - a editora que não diz tudo o que sabe, virá ao de cima a história de uma cidade que esteve sempre no fio da navalha; uma cidade de cristãos e judeus, de sãos e de loucos, ocupada por soviéticos e alemães, onde um dia a barbárie correu à solta pelas ruas e nada voltou a ser como era. Na senda do extraordinário Perguntem a Sarah Gross, aplaudido pelo público e pela crítica, o novo romance de João Pinto Coelho regressa à Polónia da Segunda Guerra Mundial para nos dar a conhecer uma galeria de personagens inesquecíveis, mostrando-nos também como a escrita de um romance pode tornar-se um ajuste de contas com o passado.

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    GRUPO DE LEITORES DA BIBLIOTECA MUNICIPAL DE ALGÉS DINAMIZADORA: MARIA PAULA

    SESSÃO DE MARÇO

    FICHA DE LEITURA

    OS LOUCOS DA RUA MAZUR DE

    JOÃO PINTO COELHO

    PRÉMIO LEYA 2017

    PUBLICAÇÃO: LANÇADO A 21 NOVEMBRO 2017

    GÉNERO: ROMANCE PORTUGUÊS

    PALAVRAS CHAVE II GUERRA MUNDIAL # HOLOCAUSTO # POLÓNIA # AUSCHWITZ # RUA MAZUR # LITERATURA # PRÉMIO LEYA # DOM QUIXOTE # PERGUNTEM A SARAH GROSS # JOÃO PINTO COELHO # ESCRITOR # ARQUITETO # TRÁS-OS-MONTES

    SINOPSE Quando as cinzas assentaram, ficaram apenas um judeu, um cristão e um livro por escrever. Paris, 2001. Yankel - um livreiro cego que pede às amantes que lhe leiam na cama - recebe a visita de Eryk, seu amigo de infância. Não se veem desde um terrível incidente, durante a ocupação alemã, na pequena cidade onde cresceram - e em cuja floresta correram desenfreados para ver quem primeiro chegava ao coração de Shionka. Eryk - hoje um escritor famoso - está doente e não quer morrer sem escrever o livro que o há-de redimir. Para isso, porém, precisa da memória do amigo judeu, que sempre viu muito para além da sua cegueira. Ao longo de meses, a luz ficará acesa na Livraria Thibault. Enquanto Yankel e Eryk mergulham no passado sob o olhar meticuloso de Vivienne - a editora que não diz tudo o que sabe, virá ao de cima a história de uma cidade que esteve sempre no fio da navalha; uma cidade de cristãos e judeus, de sãos e de loucos, ocupada por soviéticos e alemães, onde um dia a barbárie correu à solta pelas ruas e nada voltou a ser como era. Na senda do extraordinário Perguntem a Sarah Gross, aplaudido pelo público e pela crítica, o novo romance de João Pinto Coelho regressa à Polónia da Segunda Guerra Mundial para nos dar a conhecer uma galeria de personagens inesquecíveis, mostrando-nos também como a escrita de um romance pode tornar-se um ajuste de contas com o passado.

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    CARACTERIZAÇÃO DOS PERSONAGENS E EXCERTOS

    YANKEL Nordeste da Polónia nos anos 30: Yankel era o mais alto; esguio dos ombros para baixo, (…) os olhos eram castanhos, baços como o cabelo quase sempre desgrenhado. Era belo, tão belo quanto um rapaz pode aspirar (pg.93, l.1). Foi o escolhido por Shionka na disputa com Eryk: -Yankel ofereceu-lhe tudo o que tinha: não a via nem ouvia, mas pôs-lhe a vida nas mãos (pg.67, l.19). Eryk ‘matou’ Yankel, para ficar com Shionka só para ele: Deu-te jeito fazeres-me acreditar que o Yankel morreu no shtetl? (…) Matei o Yankel, e então? Desde sempre que o Homem o faz por ciúme (pg. 139, l. 26). 2001, Paris, Rue de Nevers, no Quartier de la Monnaie; o livreiro cego, dono da livraria Thibault, afundado numa multidão de livros que o rodeavam desde sempre como um coro de mudos (pg.9, l. 20). Várias amantes lhe passaram pelas mãos, escolhidas pelos olhos que não tinha (pg.9, l.22): APOLLINE, a primeira amante, que ardia quando o romance aquecia; FIDELIA, a amante jovem que a todas as horas do dia lhe lia; AZURINE, uma argelina de meia-idade obcecada por Zola; DORIANE, a atriz que invadia a sua imaginação; MADALENA, filha de um português e de Apolline (a primeira amante de todas). ERYK Crescera a custo e ficara a um palmo da altura de Yankel. (…) quase albino, olhos de gato no escuro, talvez encorpasse com a idade. Quando o exército polaco procedeu à recruta de patriotas, Eryk foi um dos garotos em pé de guerra mascarados de soldados (pg. 110, l. 10). PAUL LESTRANGE Eryk, agora o afamado escritor Paul Lestrange, que visita Yankel em Paris, para dele reclamar parte da história de uma vida que outrora ambos viveram…Quero-te ao meu lado para me contares o que aconteceu (pg. 22, l.17), diz Eryk a Yankel. Quiseste o teu livro, o teu último livro, precisaste tão desesperadamente de Yankel para o escrever que o foste buscar aos mortos (pg. 140, l.31/ pg.141, l.1), diz-lhe Vivienne. (..) lutou para manter o marido à tona. Conhecia bem a sua angústia, aquilo que o ía demorando. As últimas páginas do livro seriam terríveis de escrever; quem viu de frente o inferno, não pode querer lá voltar (pg. 131, l.21). Paul Lestrange, o escritor belga que nascera na Polónia, fez chamada de capa no Le mOnde do primeiro dia do ano (pg.151, l. 1)

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    DREIDE A louca. Ninguém lhe sabia pai, mãe ou nação. Chegara acompanhada por um cigano, duas mulas e uma miúda nas entranhas (pg. 33, l.4). Desprezava os humanos mas, sendo ela uma criatura iluminada, muitos a ela recorriam para benzeduras, milagres, exorcismos e encantamentos; depois de seca essa fonte benéfica, Dreide passou a apelidada de maldita, peçonhenta e digna de apedrejamento. SHIONKA Filha de Dreide, dita selvagem e tida como a criança mais bonita da província (…), Shionka não falava – dizia-se que era cisma, moléstia, esconjuro da mãe tresloucada (pg. 34, l.10). Tinha 11 anos quando foi adotada por Eryk e Yankel. Vivia entre os dois e ambos a cobiçavam e (…) iriam atravessar-se no caminho de Shionka as vezes que pudessem, mesmo que para tal se pisassem um ao outro (pg.67, l.5). No início, a disputa entre os dois amigos divertia-a; mas mesmo sem dar por isso, já tinha escolhido Yankel; tanta honestidade havia de ser o bastante para poder morrer por ele (pg. 67, l.29). A seguir, nadaram a par, voltaram a tocar-se e a empurrar-se. (…) Ainda outro mergulho, e outro. Quando finalmente saíram Shionka conduziu-o até ao tapete de erva pisada à beira de um amieiro. Deitaram-se lado a lado, deixando os braços encostados e os corpos húmidos à chapa do sol. Sabiam o que iria acontecer caso um deles se virasse (pg. 134, l. 32). VIVIENNE LESTRANGE Mulher e editora de Eryk. Arranquei-te daquele chiqueiro, lembras-te? Fui eu quem te foi buscar ao fogo. Ninguém mais queimou as mãos por tua causa. Olha para ti hoje – disse com um sorriso apático. – Uma flâneuse…Nada sobra da Shionka, o animal selvagem que aqui chegou a balbuciar as primeiras palavras (pg. 140, l. 11). A que, já como Shionka, escolhera Yankel: -Yankel foi sempre o meu amante, nunca me deitei com outro homem(…) fui tão cega como ele, só assim o via e me extasiava (pg. 141, l.3). Vivienne lutou para manter o marido à tona. Conhecia bem a sua angústia, aquilo que o ía demorando. As últimas páginas do livro seriam terríveis de escrever; quem viu de frente o inferno, não pode querer lá voltar (pg. 131, l.21). PADRE KAZIMIERZ Apelidado de ‘Pau Preto’ devido aos seus dois metros de altura e sotaina preta puída pelo seu uso diário, (…) merecia a deferência de todos os cristãos da cidade (pg.35, l.13). Visitava o manicómio da Rua Mazur todos os domingos. PANI KRYSIA Amante do Presidente da Câmara, beata e coscuvilheira; sabia de cada paroquiano o que precisava, media-lhes as culpas pelo tempo de confessionário, registava em caderninhos as manhas que encontrava (…) tudo em nome do Senhor (pg.55, l.6 ).

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    ROMAN SKIBA Milionário, conhecido por “o comendador”, era ávido de opulência, fazendo questão de apregoar o tamanho das suas posses. Crescera a sonhar com castelos e salões formidáveis, haveria de esquecer os anos antigos, o catre húmido e as correntes de ar (pg.37, l. 15). SALOMÃO FINKELSTEIN Era para muitos a versão hebraica de Skiba. Abastado e ortodoxo, disputava-lhe cada palmo de terra, influência e respeito. Odiavam-se. (pg. 44, l.29). TADEUSZ ORLOSK O presidente da Câmara. Casado com Apolónia. Maníaco. Fora sempre um rapaz vexado, ázimo, diminuído pela altura irrisória (pg. 56, l.6). Acusava os judeus de traição, contra a sua própria pátria e contra os cristãos: comunistas, traidores, bufos! Mereciam cada uma das pedras da calçada (pg. 246, l.10). APOLÓNIA A mulher do presidente da Câmara era uma esposa imensa com pele transparente, três queixos e um busto desmedido (pg.56, l. 13). WALENTYNA Filha de Tadeusz e Apolónia; noiva de Cibor - um dos gémeos de Skiba – para regozijo de Tadeusz que ansiava fazer parte do círculo de convivência íntima do presidente da Câmara. SHLOMO PASTERNAK Encadernador, poeta e dono da mina de ouro, era também comunista, tenor e judeu (pg. 59, l. 27). A ele se deveu a primeira escola da cidade, na rua Mazur, onde foi professor durante 20 anos. Calhou-lhe em sorte a calúnia de abuso das crianças que ensinava e caíram-lhe em cima dois anos de calabouço sem provas. Dos despojos do seu património brotou o Manicómio Pasternak, para acudir aos aflitos da razão (pg. 102, l. 16). OS LOUCOS DO MANICÓMIO: -FLORIAN, era um rapaz doce (…) movia-se como um prodígio no seu espaço imaginado (pg. 103, l. 7). Falava com o vento; -KASIA, irmã de Florian, não entendia porque ali estava, aquilo era para loucos e o seu mal estva nos olhos, não nacabeça; no lugar de pessoas, via animais, e então? (pg. 104, l. 11). RENEUSZ BOGUMIL SIENKIEWICZ, O CHECO Na verdade polaco, Ireneusz cheirava a homem, uma mistura de perfume, álcool e tabaco (pg.75, l. 29). Dono da loja de tintas. Dominava o jogo da ‘Mizerka’.

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    REMIGIUSZ Empregado do ‘salão de Ouros’, onde os homens se juntavam para a jogatana ao serão, era balofo, com seios de mulher, papada, (…) e boca babosa (pg. 77, l. 10). JULIUSZ DABROWSKI Dono da serração, viciado no jogo, teve nele o motivo para o suicídio: (…) com um berro tresloucado, arrancou do bolso um revólver e, sem dar tempo a ninguém, disparou na própria boca (pg.79, l. 2). TAUBA SANDBERG Tauba cor de azeitona, não fosse tingida seria ideal: ombros estreitos de fidalga, mãos e braços melindrosos(…) pescocinho de Modigliani (pg. 118, l.6). Noiva de Baruch, primo endireinhado, amiga de Perla Weissmann com quem fugia para o cemitério judaico. PERLA WEISSMANN A amiga de Tauba Sandberg: E depois havia Perla, também às portas de ser mãe. Tauba, que crescera com ela, vira-a sempre um passo à frente: Perla nascera primeiro, (…) casara-se primeiro e, claro, seria mãe antes dela (pg.225, l.25). JALELEDDINE Jovem tunisino, fotógrafo, que vivia na garagem mais arruinada do Quai de Conti, com vista para o arco que cobria a livraria (pg. 129, l. 10). Com Yankel conversava sobre livros e imagens (pg.129, l. 20); além disso, vendia livros e aceitava encomendas na livraria. (…) Fê-lo com tal denodo que, desde então, o livreiro manteve-o sempre de reserva para suprir os intervalos entre as amantes (pg. 130, l. 11). IVAN FEDOROVICH GOVOROV Tenente da Segurança do Estado, moscovita, parte para a pequena cidade na Polónia de que nem sabia o nome (pg. 166, l.26). O que dele se sabia: O terror tinha um rosto, aquele que os fazia olhar para o chão, estacar de rompante ou mudar de passeio (pg.169, l. 13). SHURA O russo, capataz do campo. (…) ao mesmo tempo que Shura lhes virava as costas a caminho de um anexo. Seria ali, no seu pardieiro privado, que o capataz beberia o que pudesse até cair como morto (pg.221, l.7).

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    SOBRE O AUTOR

    João Pinto Coelho nasceu em Londres em 1967. Licenciou-se em Arquitetura em 1992 e viveu a maior parte da sua vida em Lisboa. Mudou-se posteriormente para Murça, lecionando Artes Visuais no Agrupamento de Escolas de Valpaços. Passou diversas temporadas nos Estados Unidos, onde chegou a trabalhar num teatro profissional perto de Nova Iorque. Em 2009 e 2011 integrou duas ações do Conselho da Europa que tiveram lugar em Auschwitz (Oswiécim), na Polónia, trabalhando de perto com diversos investigadores sobre o Holocausto. No mesmo período, concebeu e implementou o projeto Auschwitz in 1st Per-son/A Letter to Meir Berkovich, que juntou jovens portugueses e polacos, e que o levou uma vez mais à Polónia, às ruas de Oswiécim e aos campos de concentração e extermínio. A esse propósito tem realizado diversas intervenções públicas, uma das quais, como orador, na conferência internacional Portugal e o Holocausto, que teve lugar na Fundação Calouste Gulbenkian. Em 2015 publica o seu romance de estreia, Perguntem a Sarah Gross, finalista do prémio LeYa na edição daquele ano. Os Loucos da Rua Mazur, o seu último romance publicado, foi o vencedor do prémio LeYa 2017, escolhido entre quatrocentos originais de dezoito países.

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    CRÍTICAS

    In VISÃO VIAGEM AO MUNDO DE JOÃO PINTO COELHO: Os loucos somos nós João Pinto Coelho recebeu a VISÃO em Murça, onde vive. Os Loucos da Rua Mazur, romance vencedor do Prémio Leya, foi o pretexto para a entrevista com o autor em Trás-os-Montes. O escritor regressa à Polónia da Segunda Guerra Mundial com um romance, ‘Os Loucos da Rua Mazur,’ que sangra feridas históricas e nos desafia a olhar o Mal onde nunca o vemos: dentro de nós. O que ele andou para aqui chegar? Quantos pedaços de uma história cabem em 100 quilómetros? De Murça, onde vive, até ao agrupamento de escolas de Valpaços, onde leciona Artes Visuais, João Pinto Coelho (Londres, 1967) faz do vaivém quotidiano o caminho mais curto para as cenas, personagens e imaginários dos seus livros. Perguntem a Sarah Gross, romance de estreia (2015), muito ficou a dever a esse percurso transmontano quase diário. “Parte dos meus livros é escrita no carro”, revela o autor, após calcorrear os vinhedos do seu refúgio aldeão nas cercanias de Sobredo. “Estou a conduzir, surge uma ideia e gravo. Tenho o telemóvel cheio de frases, diálogos, coisas desgarradas que depois vejo se funcionam no papel. Em Lisboa, gastava essas horas a estacionar ou noutras coisas estúpidas...” Em 2000, o arquiteto e professor deu consigo exaurido, espremido entre rotinas desenfreadas, almoços em pé e prazos sufocantes. Concorreu então a uma escola no interior do País. “Pouco importava para onde ia, queria apenas sair de Lisboa.” Foi parar a Valpaços. Ao trocar a capital pela província, João Pinto Coelho não mudou apenas de geografia. Ganhou tempo de qualidade e em doses generosas, mesmo que a tal centena de quilómetros nem sempre lhe devolva a centelha de um parágrafo. Do leitor obsessivo e amadurecido brotou finalmente o escritor. Logo ao primeiro livro, a crítica e o público (Sarah Gross vai na quarta edição) renderam-se a uma história arrebatadora, de chispa cinematográfica, fruto de talento e décadas de estudo sobre o Holocausto. Era para ser uma BD, mas ele foi buscar palavras onde nunca procurara: às entranhas de Oświęcim, a cidade polaca que já foi um lugar feliz, reescrita a cinzas pelos nazis na memória da Humanidade. Sim, Auschwitz. A 20 de outubro último, o tempo voltou a fugir-lhe, mas por boas razões. Nesse dia, o júri do Prémio Leya, presidido por Manuel Alegre, distinguiu Os Loucos da Rua Mazur (Dom Quixote), desassossegando o remanso de João Pinto Coelho, agora num corrupio de viagens entre Murça e Lisboa relacionadas com a promoção do livro (que chega às livrarias no próximo dia 21). “Viver da escrita” passa-lhe, cada vez mais, pela cabeça e este pode ser o empurrão que faltava. Elogiado pela qualidade literária, efabulação e verosimilhança, o novo romance, burilado a partir das feridas abertas pela violência numa pequena comunidade da Polónia em plena Segunda Guerra Mundial, arrecadou o maior galardão literário do País. O enredo convoca os fantasmas da relação entre cristãos e judeus, a insanidade do ser humano comum e até a ausência de Deus.

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    “Enquanto escrevia lembrei-me do padre Tolentino de Mendonça para apresentar o livro [dia 29, em Lisboa]”, explica. “Fi-lo também enquanto crente e católico, por causa das minhas dúvidas e inquietações sobre um Deus que não intervém para travar a barbárie. Mergulhar no tema através da voz ou da pele de uma personagem é a parte mais interessante da escrita, mas, ao fazê-lo, encontramos sempre questões que são nossas”. O MAL, LUGAR ÍNTIMO Jedwabne, Nordeste da Polónia, 10 de julho de 1941. Semanas depois da chegada dos nazis, um grupo de cidadãos, na maioria cristãos, arrastou à bruta os vizinhos judeus para um celeiro, sobretudo mulheres e crianças, queimando-os vivos. O número de vítimas, entre 600 a 1600 consoante as fontes, é questão ainda controversa na atualidade polaca: a Igreja Católica nega a narrativa oficial sobre os acontecimentos e recusa culpas do seu rebanho no desvario incendiário enquanto a maioria da

    população de 
Jedwabne nem quer ouvir falar do assunto. Na sequência do genocídio, das pilhagens e da destruição de referências históricas, a secular presença judaica foi varrida da memória física da cidade e trancada a olhares curiosos até hoje. Este e outros episódios semelhantes ocorridos em mais de uma vintena de cidades polacas no mesmo período constituem o contexto histórico do romance, no qual João Pinto Coelho recusa, uma vez mais, a tentação de adjetivar o sofrimento, um exercício obsceno quando falamos desses tempos. “São as únicas coisas a que pretendo manter-me absolutamente fiel, são o meu chão para a criação literária. Não queria contar nada que fosse fantasia. A cena da violação e outras aconteceram. O resto, sim, já é do domínio da ficção e da criatividade”, reforça. As páginas de Os Loucos da Rua Mazur começaram a escrever-se nas entrelinhas de Sarah Gross. “Quando acabei, ainda tinha coisas por dizer. E uma delas era sobre o Mal, a personagem principal dos meus romances, sobretudo deste.” Estamos, agora, imersos nas atrocidades cometidas pelo “zé-ninguém”, pelos seres humanos assustadoramente normais, na senda de Hannah Arendt. Porém, não se trata aqui de romancear a partir da “banalidade do Mal” teorizada pela filósofa alemã de origem judaica, mas sim a pretexto “da universalidade do Mal”, no dizer de João Pinto Coelho: “Quando terminei o Sarah Gross, os maus eram os alemães. Neste caso, falo da perseguição aos judeus praticada pelos seus vizinhos cristãos numa cidade que nunca identifico, mas onde cabe Jedwabne. Se falarmos apenas das vítimas estaremos a referir-nos às pessoas que não tiveram opção. Por isso, convém também falar dos perpetradores, sobretudo enquanto pessoas iguais a nós, para aprendermos a não ter tantas certezas sobre o nosso caráter em situações extremas”, desafia. TRAGÉDIA A CAMINHO? Mais do que respostas, o Holocausto devolve-lhe, cada vez mais, perguntas. “Dependendo das circunstâncias, todos temos um bocadinho de Himmler ou de Eichmann dentro de nós. O que estará adormecido para que a rolha salte, de forma descontrolada?”, interroga-se o autor, aqui e agora, mas também nas entrelinhas das mais de 300 páginas do romance. Por isso, ele não se cansa de semear o primado da dúvida entre mentes jovens quando vai às escolas falar do tema. “Aprendemos pouco com a História”, assinala. “Continuamos arrogantes, certos da nossa bondade e

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    incapacidade de fazer coisas terríveis. Mas, naquela época, aqueles cristãos também terão pensado assim...” Nem de propósito, em Varsóvia e noutras cidades polacas, ressurgem vagas inquietantes de discursos xenófobos, extremistas, em nome da “Polónia pura” e “branca”, impulsionadas por movimentos de extrema-direita e com o aplauso patriótico do Governo. “Os sinais estão aí, de novo, mas a indiferença é mais forte do que a História”, adverte João Pinto Coelho. “Os objetos, os monumentos, o que resta da memória judaica está a ser atacado e vandalizado. Receio que isto acabe outra vez em tragédia. Se fosse judeu, neste momento não me sentia confortável na Polónia. A crise dos refugiados remete para o período pré-Holocausto, quando quase todos os países fecharam as portas aos judeus. Nós, quando estamos assustados, reagimos da pior maneira”, refere o escritor. É neste pano de fundo, resgatado à História, que se desenrola o novo romance. Mais uma vez, João Pinto Coelho tira o tapete ao leitor que, a páginas tantas, já vai convencido de que pegou a narrativa pelos cornos. Tal como fizera em Sarah Gross, o escritor surpreende-o e leva-o com mestria a épocas e geografias distintas, tricotadas num baloiço constante entre os primórdios e o início da Segunda Guerra Mundial (no Nordeste da Polónia e da Rússia) sem esquecer a atualidade (em Paris). É na capital francesa que vive, aliás, uma das personagens candidata a tornar-se inesquecível: Yankel, o livreiro judeu e cego que recorre às amantes para lhe lerem na cama, desde logo um exercício de imaginação poderoso e arriscado por tratar-se de alguém que não vê nem viu antes. “Senti necessidade de falar do sofrimento extremo através da perspetiva de um cego. Quase como se não quisesse dizer o que via. Como é que se conta isso sem recorrer às imagens?”, questionou-se, a dada altura, o autor, obrigando-se a fechar os olhos e a tatear todas as referências sobre os vários tipos de cegueira. “Quando comecei, pensei que um cego só via negro”, assume. Yankel, de resto, podia ter sido qualquer coisa na obra, tão avassaladora é a sua presença, mas tornou-se livreiro por razões mais singelas: “É a homenagem a um homem extraordinário, o Joaquim Gonçalves, de Sines. Admiro-o imenso, é um herói pela forma como luta pela sua livraria [A das Artes] e pelos seus livros”. A Yankel juntam-se outras personagens que compõem o trio central, amoroso e conflituoso, da ação de Os Loucos da Rua Mazur, à deriva entre a culpa e o perdão: Shionka, a habitante da floresta que não fala, e Eryk, o cristão polaco em busca da sua própria redenção através das palavras e memórias do velho amigo judeu. “Cada frase demorou muito tempo a escrever. É um livro mais arriscado e onde me exponho mais”, assume João Pinto Coelho. PERCURSO E INSPIRAÇÃO O despertar do escritor para a temática do Holocausto remonta à série com o mesmo nome exibida em Portugal nos primeiros anos de democracia, tal como à produção britânica Colditz, cuja trama é centrada num castelo transformado pelos nazis em prisão de alta segurança. Seguiram-se décadas de leituras e investigações, até integrar, em anos recentes, duas ações do Conselho da Europa que lhe permitiram “viver” nos campos de Auschwitz e Birkenau. Aí entrevistou sobreviventes, estudou contextos e vivências das comunidades judaica e cristã anteriores à guerra, assistiu a debates inflamados e descobriu Oświęcim, onde 17 alunos de Valpaços e outros tantos polacos

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    desenvolveram um diário comum, a partir de rigorosas referências históricas da cidade. “O Perguntem a Sarah Gross nasceu aí.” A partir da ideia seminal, João Pinto Coelho sabe sempre como os seus romances vão acabar, “até com algum pormenor”. A aventura maior é o começo e o caminho. “Tenho de me divertir a escrever. Envolvo-me muito, desapareço para o mundo, fico tão curioso como o leitor.” O professor da página inicial pode já ser uma professora na seguinte. E pode até dar-se o caso de uma gravidez ou um morto ficarem esquecidos no novelo, mas os alçapões involuntários e as reviravoltas fazem parte desse deleite. As descobertas e cenários reavivam no escritor deslumbramentos quase infantis. “Parte da ação do primeiro livro passa-se nos Estados Unidos da América porque me apeteceu viajar até lá, onde não vou há muitos anos. Por vezes, tinha pressa de sair da escola e chegar a casa só para viajar até ao Kimberly College ou até ao meu apartamento em Cracóvia”, explica, sorrindo, o homem que já trabalhou num teatro perto de Nova Iorque. “Levava as lâmpadas, pregava os cenários, coisas menores. Era um ambiente tipo Fame, com atores da Broadway. Foi fantástico, marcante”. Todas as experiências contam. O “COMPRIMIDO” GARCÍA MÁRQUEZ Se as florestas polacas atravessam o novo romance é porque primeiro se atravessaram no percurso de João. “São cenários muito interiorizados. As árvores de Birkenau, por exemplo, marcaram-me imenso. Apesar do que lá aconteceu, é um sítio lindíssimo.” É fácil descobrir-lhe influências anglo-saxónicas na escrita, mais difícil é destapar os nomes. E quando isso acontece, descobre-se, afinal, que a inspiração se faz à sombra de paisagens mais improváveis. “O García Márquez é um escritor fundamental para mim, mas ninguém o vai encontrar na minha escrita. É a quem mais recorro quando escrevo, costumo dizer que é o meu comprimido”, desvenda, divertido com a sua própria revelação. “Houve dias em que a última coisa que me apetecia era escrever. Sentava-me no sofá, abria o Cem Anos de Solidão ao calhas e dez minutos depois estava revigorado e a escrever como se não houvesse amanhã. Deve ser o livro a que voltei mais vezes, mas nunca o li de uma ponta à outra, foi sempre por excertos.” Casado, três filhos, João Pinto Coelho escreve preferencialmente no braço de um sofá ou na mesa da cozinha, das três às sete da manhã. Se for no inverno, com a lenha a crepitar e uma chávena de café por perto, melhor. Quer isto dizer que, enquanto dormíamos, ele escreveu, durante onze meses, à razão de uma página por dia, um romance para sobressaltar a nossa indiferença e lembrar, parafraseando Mark Twain, que a História não se repete, “mas rima”. Os Loucos da Rua Mazur talvez sejam os outros, mas também podemos ser nós, para lá do espelho. Sobretudo se, uma vez mais, não acordarmos a tempo. (Entrevista publicada na VISÃO 1289, de 16 de novembro de 2017) http://visao.sapo.pt/actualidade/cultura/2017-11-16-Viagem-ao-mundo-de-Joao-Pinto-Coelho-Os-loucos-somos-nos

    http://visao.sapo.pt/actualidade/cultura/2017-11-16-Viagem-ao-mundo-de-Joao-Pinto-Coelho-Os-loucos-somos-noshttp://visao.sapo.pt/actualidade/cultura/2017-11-16-Viagem-ao-mundo-de-Joao-Pinto-Coelho-Os-loucos-somos-nos

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    In OBSERVADOR Os loucos da rua Mazur, de João Pinto Coelho é o vencedor do Prémio Leya 2017, anunciou Manuel Alegre, presidente do júri, ao final da manhã desta sexta-feira na sede do grupo editorial, em Alfragide. Coelho já tinha sido finalista do galardão em 2014, com o romance Perguntem a Sarah Gross, publicado posteriormente pela editora D. Quixote. Passado em dois tempos distintos — por altura da Segunda Guerra Mundial, na Polónia, e na atualidade, Os loucos da rua Mazur é um romance “bem estruturado, bem escrito, que capta a atenção do leitor, quer pelo tema quer pela construção em tempos paralelos, um no passado imediatamente anterior à Segunda Guerra Mundial e no início desta, e o outro no mundo atual”, afirmou Manuel Alegre. “Não cedo ao facilitismo do romance histórico, embora a história seja parte da ação e nos apresente uma visão inédita da tragédia resultante das invasões russa e nazi da Polónia.” Segundo o presidente do júri, “as qualidades de efabulação e verosimilhança em episódios de violência brutal com motivações ideológico-políticas e étnico-religiosas, emergindo de uma convivência comunitária multissecular” foram as mais apreciadas pelos jurados. “De igual modo, o júri valorizou a criação de personagens com densa singularidade existencial, no triângulo perturbador de amizade e conflito amoroso dos protagonistas, tal como de figuras secundárias com valor simbólico“. Para o júri, é ainda “de salientar a força humana de um protagonista, o velho livreiro cego, que irá ficar como uma figura inesquecível da nossa ficção mais recente”. Manuel Alegre salientou ainda que Os loucos da rua Mazur foi premiado “pela sua qualidade literária e também pela sua singularidade”, uma vez que retrata a violência cometida numa “pequena comunidade da Polónia”. Ao contrário de outras obras sobre a Segunda Guerra Mundial, o romance de João Pinto Coelho fala “da crueldade cometida pela comunidade sobre a própria comunidade”. “É uma das comunidades que extermina outra, não se passa em Auschwitz”, frisou ainda o presidente do júri do Prémio Leya. O presidente executivo da Leya, Isaías Gomes Teixeira, também presente no anúncio desta sexta-feira, disse que o grupo editorial “está muito contente” com o vencedor, “uma vez que já foi finalista há três anos com um livro Perguntem a Sarah Gross” um livro que foi “não só um sucesso de crítica, mas um sucesso comercial”. “É uma alegria ver o João Pinto coelho a escrever um livro que entusiasma o júri”, acrescentou Isaías Gomes Teixeira. Um livro sobre a “universalidade do mal e não sobre a sua banalidade” Foi o próprio Manuel Alegre que deu a grande notícia a João Pinto Coelho. “A reação foi de grande contentamento”, confessou o presidente do júri do Prémio Leya, durante o anúncio desta sexta-feira. “O contentamento sentia-se, embora sem a exuberância

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    de alguns vencedores anteriores.” Ao Observador, o autor admitiu que “foi uma sensação ótima, porque nunca estamos verdadeiramente à espera”. “Claro que temos sempre aquela sensação de que pode acontecer, mas é muito bom.” Além de se tratar de “um reconhecimento prévio” por parte de júri respeitado, o galardão dará também “outra visibilidade ao livro”. “Um prémio como este é sempre importante, principalmente para um autor que não é conhecido”, admitiu ainda. João Pinto Coelho pode não ser conhecido, mas já não é novo nestas andanças. O primeiro romance, Perguntem a Sarah Gross, foi editado pela D. Quixote em 2015, depois de ter sido finalista do Prémio Leya no ano anterior. A história — sobre uma mulher carismática e misteriosa que dirige o colégio mais elitista da Nova Inglaterra, nos Estados Unidos da América — remete para um tema a que Coelho tem dedicado os últimos 30 anos da sua vida — a perseguição dos judeus na Segunda Guerra Mundial. Nascido em 1967, em Londres, e licenciado em Arquitetura, em 2009 e 2011, Coelho integrou duas ações do Conselho Europa que tiveram lugar em Oświęcim, onde ficava o campo de concentração de Auschwitz, o que lhe permitiu trabalhar de perto com diversos investigadores do Holocausto. Foi durante este período, que concebeu e implementou o projeto Auschwitz in 1st Per-son/A Letter to Meir Berkovich, que juntou vários jovens portugueses e polacos, e que teve a ideia para o seu primeiro livro. Mas houve qualquer coisa que ficou por contar e, por essa razão, João Pinto Coelho decidiu voltar ao mesmo tema em Os loucos da rua Mazur. “Quando acabei o livro, que se centrava mais no Holocausto propriamente dito, o processo feito pelos alemães, deixei ficar um bocadinho a ideia de que [aquilo] só aconteceu com os alemães. Este livro é escrito com as entrelinhas do primeiro”, explicou ao Observador. “Este livro fala-nos dos outros atores, os bons cristãos da Polónia, que conviveram durante séculos com os seus vizinhos judeus e que, num determinado contexto, decidiram praticar o mal da forma mais terrível. Aquilo era uma improbabilidade, mas aconteceu mesmo.” Os loucos da rua Mazur é, nesse sentido, um complemento do primeiro romance do autor. “Fala-nos da universalidade do mal, não da sua banalidade” e de uma parte da história que, muitas vezes, fica por contar, e que permanece “muitíssimo” atual. “Na Polónia, está hoje a causar um debate muito aceso, até com a própria intervenção política, que está a tentar reescrever a história. Tem a ver com a memória coletiva.” Além disso mostra que, aqueles que foram vítimas, também foram capazes de praticar “atos terríveis”. E não só na Polónia. “É uma parte importante da história e deve ser falada porque aconteceu, e não só num sítio. É importante que as pessoas saibam.” Quando lhe perguntamos como é que vizinhos foram capaz de se virar contra vizinhos, João Pinto Coelho diz que não tem uma resposta. “Tudo o que aconteceu durante o Holocausto e nestes casos paralelos, é o que me tem mantido preso à historia deste processo terrível de perseguição dos judeus no século XX. Quanto mais procuro perceber, mais interrogações reúno, e isso resulta nesse fascínio de tentar cada vez mais perceber o que aconteceu.” Passado todo este tempo, Coelho admite que o que se passou durante a Segunda Guerra Mundial é algo que ainda o surpreendo. “Ainda hoje esbarro com histórias que me surpreendem”, afirmou. “Ainda há muito para descobrir sobre a historia da Segunda Guerra Mundial.”

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    Júri recomenda publicação de O Testamento de José de Nazaré, de Ivan José de Azevedo Fontes Além do prémio atribuído a João Pinto Coelho, o júri do Prémio Leya recomenda ainda a publicação de O Testamento de José de Nazaré, o brasileiro Ivan José de Azevedo Fontes. Segundo o júri, “o livro traz à cena uma prensagem obscura na tradição cristã, pela sua própria voz”. “Apresenta um José trabalhador, insubmisso e solidário, dividido entre o seu inconformismo e o seu amor por Maria e pela sua família, entre a paz e a revolta. A simplicidade de linguagem traduz uma refinada estratégia no processo de construção narrativa.” À edição de 2017 do Prémio Leya, concorreram 400 originais, provenientes de 18 países, como Brasil, Alemanha ou Suíça. João Pinto Coelho foi escolhido de entre os cinco finalistas pelo júri, constituído por Manuel Alegre (Presidente), os escritores Nuno Júdice, Pepetela e José Castello, José Carlos Seabra Pereira, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Lourenço do Rosário, Reitor do Instituto Superior Politécnico e Universitário de Maputo, e ainda Rita Chaves, professora da Universidade de São Paulo. O Prémio Leya, no valor de 100 mil euros, foi criado em 2008 com o objetivo de distinguir um romance inédito escrito em português. É o maior prémio para uma obra não publicada em língua portuguesa. Coro dos Defuntos, de António Tavares, foi o último romance a ser galardoado, em 2015. No ano seguinte, o prémio não foi atribuído, depois de apenas um romance ter sido “submetido à apreciação final” dos jurados, explicou na altura o júri em comunicado. Esta não foi a primeira vez que o júri decidiu não atribuir o prémio. Em 2010, foi decidido que, “perante originais que” se apresentavam “prejudicados por limitações na composição narrativa e por fragilidades estilísticas”, o galardão não seria entregue a nenhum escritor. “As obras a concurso não correspondem à importância e ao prestígio do Prémio Leya no âmbito das literaturas de língua portuguesa.” https://observador.pt/2017/10/20/joao-pinto-coelho-vence-premio-leya-2017/

    In WOOK OPINIÃO DOS LEITORES

    QUEM NÃO PERCEBE, NÃO SABE, OU IGNORA A HISTÓRIA ESTÁ IRREMEDIÀVELMENTE CONDENADO A REPETI-LA José Lucas | 16-11-2018 Tenho 68 anos de idade e sou economista do ISEG (retirado). Como amante de História e leitor compulsivo estudo há perto de trinta anos o III Reich e o Holocausto possuindo uma pequena biblioteca pessoal de alguma relevância. A melhor homenagem que posso prestar é de que o deficientíssimo ensino da História em Portugal, tanto no secundário como no superior não merecem (o país não merece) um escritor-historiador de altíssimo nível como João Pinto Coelho. Nós que ainda não ajustamos contas com a nosso História como queremos forçar os outros a fazê-lo (embora tenhamos o dever de denunciar). Numa época (país) em que a maior parte das pessoas

    https://observador.pt/2015/10/13/antonio-tavares-vence-premio-leya-2015/https://observador.pt/2016/10/21/premio-leya-nao-sera-atribuido-em-2016/https://observador.pt/2017/10/20/joao-pinto-coelho-vence-premio-leya-2017/

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    anda obcecada com essa bugiganga suprema chamada smartphone e que ainda não compreendeu que as redes sociais são a maior ameaça existente á democracia uma vez que todos os cérebros deficientes despejam para lá todo o lixo que querem, é lógico que a História pouco interessa. Antes de Os Loucos da Rua Mazur eu já tinha adquirido Vizinhos de Jan Gross, pelo que agora tenho uma perspectiva mais alargada. Mesmo caindo pouquíssimo no nível da ficção comparada com o documento de Gross, não posso deixar de enaltecer o João que teve a coragem de despertar as consciências (daqueles que ainda as têm) para um episódio terrível dos muitos que aconteceram nas Terras Sangrentas durante o último conflito. Dou os meus sinceros parabéns a toda a equipa que acompanhou o escritor e desejo sinceramente que prossiga, pois este povo ignaro necessita de vez em quando quem lhe abra os olhos, se isso for ainda possível. Bem-hajas João e muitos parabéns. Do sempre e sincero amigo José Lucas UM LIVRO ENVOLVENTE Carla Carmo | 20-08-2018 Um relato envolvente e acutilante acerca da amizade adolescente, de um dos momentos de maior horror da História da humanidade, da maldade grotesca que pode sair do coração dos homens. Obrigatório ler. https://www.wook.pt/livro/os-loucos-da-rua-mazur-joao-pinto-coelho/21021280

    OBRAS DO AUTOR NO NOSSO CATÁLOGO

    COTA: ROM ROM-POR COE

    https://www.wook.pt/livro/os-loucos-da-rua-mazur-joao-pinto-coelho/21021280https://www.wook.pt/livro/perguntem-a-sarah-gross-joao-pinto-coelho/16270539https://www.wook.pt/livro/os-loucos-da-rua-mazur-joao-pinto-coelho/21021280