principios dr.mario.cap.3
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TEORIA GERAL DO PROCESSODR. MARIO RAMOS DOS SANTOS
ITE-BAURU
3 – PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PROCESSUAL
3.1 – CONCEITO
Princípios informativos do processo: normas ideais que representam
uma aspiração (desejo) de melhoria do sistema processual:
a) princípio lógico: seleção dos meios mais eficazes e rápidos de
procurar e descobrir a verdade e de evitar o erro;
b) princípio jurídico: igualdade no processo e justiça na decisão;
c) princípio político: o máximo de garantia social, com o mínimo de
sacrifício individual da liberdade;
d) princípio econômico: processo acessível a todos, com vista ao seu
custo e à sua duração.
Os princípios informativos, embora distintos dos princípios gerais,
influenciam os mesmos, extrapolando o campo da mera deontologia (valores
éticos), para agirem também na dogmática jurídica.
3.2 – PRINCÍPIO DA IMPARCIALIDADE DO JUIZ
O juiz se coloca entre as partes e acima delas.
Imparcialidade --- é pressuposto para que a relação processual se
instaure validamente --- órgão jurisdicional subjetivamente capaz.
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Para asseguarar a imparcialidade do juiz a CF lhe confere garantias (art.
95), impõe vedações (art. 95, parág. Único) e proíbe juízos ou tribunais de
exceção (art. 5º, inc. XXXVII).
Tribunais de exceções – são aqueles instituídos para contingências
particulares. Viola a garantia do juiz natural, previamente estabelecido pela
CF e pela lei.
Princípio do juiz natural:
a) só são órgãos jurisdicionais os instituídos pela Constituição;
b) ninguém pode ser julgado por órgão constituído após a ocorrência do
fato;
c) entre os juízes pré-constituídos vigora uma ordem taxativa de
competências que exclui qualquer alternativa deferida à
discricionariedade de quem quer que seja.
d) CF 88 – garantia do juiz competente – art. 5º, LIII.
A imparcialidade do juiz é uma garantia de justiça para as partes – dever
do Estado de garantir tratamento imparcial às partes no exercício da
jurisdição.
Grande importância – direito internacional garante o direito ao juiz
imparcial – Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 estabelece:
“toda pessoa tem direito, em condições de igualdade, de ser ouvida
publicamente e com justiça, por um tribunal independente e imparcial, para
a determinação de seus direitos e obrigações ou para o exame de qualquer
acusação contra ela em matéria penal.”
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3.3 – PRINCÍPIO DA IGUALDADE
Igualdade perante a lei é premissa para a igualdade perante o juiz: art. 5º,
caput, da CF --- brota a igualdade processual.
As partes e procuradores ---- tratamento igualitário ---- mesmas
oportunidades para fazer valer em juízo suas pretensões.
Disposições no CPC:
1) Art. 125, I, CPC: compete ao juiz “assegurar às partes igualdade de
tratamento”.
2) art. 9º, CPC: nomeação de curador especial ao incapaz que não o
tenha (ou cujos interesses colidam com os do representante) e ao réu preso,
bem como revel citado por edital ou com hora-certa.
No processo penal: nomeação de defensor dativo.
Igualdade formal --- passagem para ---- IGUALDADE SUBSTANCIAL
---- iguais oportunidades a todos, a serem propiciadas pelo Estado.
Igualdade substancial ou material ---- aparente quebra da isonomia,
dentro e fora do processo, impõe tratamento desigual aos desiguais,
justamente para suprir as diferenças, atingindo, assim, a igualdade substancial.
No proc. Penal --- igualdade atenuada pelo favor rei que protege o
acusado. Exemplos:
a) improcedência por insuficiência de provas (art. 386, VI, CPP);
b) a existência de recursos privativos da defesa (arts. 607 – protesto
por novo júri - e 609, parágrafo único, - embargos infringentes
ou de nulidade – CPP);
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c) revisão criminal somente em favor do réu (arts. 623 e 626,
parág. Único, CPP).
No processo civil há normas cujo objetivo é reequilibrar as partes,
proporcionando a igualdade material, tendo em vista a existência de causas ou
circunstâncias fora do processo que ponha uma delas em situação de
superioridade ou inferioridade em face da outra.
Exemplos:
a) os prazos em quádruplo para contestar e em dobro para
recorrer em benefício da Fazenda Pública e do Ministério
Público (art. 188 do CPC);
b) o reexame obrigatório nos casos em que a fazenda pública
é vencida, remetendo, assim, os autos ao tribunal mesmo
que não haja recurso das partes (art. 475 do CPC);
c) Fazenda Pública, quando vencida, paga honorários
advocatícios em percentual inferior ao normas (art. 20,§ 4)
d) Dispensa de preparo e concessão de medida cautelar
independentemente de justificação e de caução para a
Fazenda Pública (arts. 27, 511 e 816, I, CPC);
e) Lei nº 10.173/01 – lei que determina que se conceda
prioridade, nos juízos inferiores e tribunais, às causas de
interesse de pessoas com 65 ou mais anos de idade.
3.4 – PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA.
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Princípio do contraditório – bilateralidade da audiência – audiatur et
altera pars – inerente à própria noção de processo.
O juiz, imparcial, coloca-se entre as partes, de maneira eqüidistante:
ouvindo uma, deverá ouvir a outra.
Iguais oportunidades para ambas de:
a) expor suas razões;
b) apresentar provas;
c) influir sobre o convencimento do juiz.
Soma das parcialidades – tese (autor) + antítese (réu) = síntese (juiz) ---
processo dialético --- exercício da jurisdição. Frente ao juiz, as partes são
colaboradores necessários: cada parte age no processo visando seu próprio
interesse, mas da ação combinada dos dois a justiça se serve para conseguir
proceder a eliminação da justiça.
CF 88 --- foi expressa ao garantir o contraditório e a ampla defesa aos
litigantes, em qualquer processo, judicial ou administrativo, e aos acusados
em geral (art. 5º, LV).
No processo penal:
a) defesa técnica – através de advogado – é indisponível –
sempre necessária;
b) autodefesa – aquela exercida pelo próprio réu:
interrogatório do réu e sua presença aos atos instrutórios –
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é disponível, até porque o réu pode optar pelo direito ao
silencia, sem qualquer prejuízo (art. 5º, LXIII, CF).
Contraditório inclui necessidade de CIÊNCIA: cada litigante deverá ter
ciência, ser comunicado, dos atos praticados pelo juiz e pelo seu adversário.
Só conhecendo-os é que poderá exercer o contraditório.
Ciência dos atos processuais: 03 mecanismos:
1) CITAÇÃO --- é o ato pelo qual se dá ciência à alguém da
instauração de um processo, chamando-o a participar da relação
processual (art. 213, CPC);
2) INTIMAÇÃO --- é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos
atos do processo, contendo também, eventualmente, comando
de fazer ou deixar de fazer alguma coisa (art. 234, CPC);
3) NOTIFICAÇÃO --- tanto o CPC, quanto o CPP, não usa a
expressão notificação no sentido de comunicação de ato
processual. Já a CLT e a Lei do Mandado de Segurança usa a
expressão “notificação” com o significado de “citação”.
Direitos disponíveis (demanda entre maiores, capazes, sem relevância
para a ordem pública) --- há contraditório, mesmo que a contrariedade não se
efetive concretamente. Ex: revelia do réu (art. 319 , CPC).
Direitos indisponíveis ---- necessidade de contraditório efetivo e
equilibrado --- Ex:
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a) nomeação de defensor para réu revel no proc. Penal (arts. 261 e
263, CPP);
b) se a defesa for abaixo do padrão mínimo tolerável, o réu será
considerado indefeso e o processo anulado;
c) Lei nº 9.271/96: proc. Penal: réu revel, citado por edital, sem
advogado constituído: suspensão do processo, juntamente com
o prazo prescricional;
d) No processo civil, réu revel citado por edital ou com hora-certa
----nomeação de curador especial (art. 9º, CPC);
e) Incapaz assistido pelo Ministério Público (art. 82, I, CPC).
CONTRADITÓRIO: constituído por dois elementos:
1º) INFORMAÇÃO;
2º) REAÇÃO (essa meramente possibilitada na hipótese de
direitos
disponíveis).
CONTRADITÓRIO não admite exceções: nos casos de urgência:
liminar: “periculum in mora” e “fumus boni iuris” : juiz pode conceder
medidas urgentes, “inaudita altera parte” (art. 929, 932, 937, 813 ss, CPC),
mas não definitiva. A parte contrária toma ciência e se manifesta em momento
posterior: daí falar-se em CONTRADITÓRIO DIFERIDO.
INQUÉRITO POLICIAL – é mero procedimento administrativo que visa
à colheita de provas para informações sobre o fato violador da norma e sua
autoria. Embora sem acusação, há conflito de interesses, devendo ser
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respeitados os direitos fundamentais do indiciado. Colheita de provas –
contraditório diferido.
3.5 – PRINCÍPIO DA AÇÃO – PROCESSOS INQUISITIVOS E
ACUSATÓRIO
PRINCÍPIO DA AÇÃO (ou princípio da demanda) --- implica na
atribuição à parte da iniciativa de provocar o exercício da função
jurisdicional.
AÇÃO --- é o direito (poder) de ativar os órgãos jurisdicionais, visando à
satisfação de uma pretensão.
Jurisdição é INERTE, exige PROVOCAÇÃO do interessado: “nemo
iudex sine actore”.
Se o juiz instaura o processo, já estará propenso a julgar favoravelmente,
violando a necessária imparcialidade (é o chamado “processo inquisitivo”).
PROCESSO ACUSATÓRIO:
a) prevaleceu em Roma e Atenas;
b) é um processo penal de partes --- acusador e acusado em plena
igualdade;
c) é um processo de ação, com garantias da imparcialidade do juiz, do
contraditório e da publicidade.
O processo penal brasileiro adotou o sistema ACUSATÓRIO.
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O Inquérito policial é mero procedimento administrativo, sem
acusado mas com litigantes (após o indiciamento), de modo que os elementos
probatórios nele contidos (salvos as provas antecipadas de caráter cautelar –
ex: exame de corpo de delito), servem apenas para a formação da
convicção do Ministério Público, mas não para embasar condenação.
Ordenamento brasileiro : adota o princípio da AÇÃO:
a) na esfera penal (arts. 24, 28 e 30, do CPP);
b) na esfera cível (arts. 2º, 128 e 262 do CPC).
EXCEÇÕES:
1ª) na execução trabalhista: art. 878 da CLT : A execução poderá
ser promovida por qualquer interessado, ou ex officio pelo próprio Juiz
ou Presidente ou Tribunal competente, nos termos do artigo anterior.
(art. 877 – comp. do juiz que houver conciliado ou julgado o dissídio);
2ª) em matéria falimentar: art. 162 da Lei de Falências ---
possibilidade do juiz declarar a falência, mesmo sem pedido do devedor
ou credor, se comprovadas determinadas situações elencadas no referido
artigo, como descumprimento da concordata preventiva;
3ª) concessão de habeas corpus de ofício pelo juiz.
OBS: Na reconvenção (art. 315 do CPC), o réu move uma nova demanda
contra o autor, exercendo pretensão própria e autônoma, verdadeira ação,
embora dentro do mesmo processo. Também é manifestação do princípio da
ação.
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Outra manifestação do princípio da ação: o JUIZ (que já não pode
instaurar o processo) NÃO PODE TOMAR PROVIDÊNCIAS QUE
SUPEREM OS LIMITES DO PEDIDO: “ne eat iudex petita partium”.
No processo civil: arts. 459 e 460 do CPC.
No processo penal: vinculação do juiz ao fato delituoso descrito da
denúncia, independentemente de sua qualificação jurídica.
O juiz pode dar definição jurídica diversa daquela que consta na
denúncia, ainda que implique em sanção mais (arts. 383 e 384, caput, do
CPP). Não há, nesse caso, julgamento ULTRA PETITA, pois decorre da
máxima “jura novit curia”.
Quando se altera a configuração do fato delituoso (art. 384, par. ún. do
CPP), o Ministério Público deverá aditar a denúncia.
3.6 – PRINCÍPIOS DA DISPONIBILIDADE E DA
INDISPONIBILIDADE
Poder dispositivo --- é a liberdade que as pessoas têm de exercer ou não
direitos.
Princípio da disponibilidade processual --- é a possibilidade da
pesssoa apresentar ou não sua pretensão em juízo, bem como apresentá-la da
maneira que melhor lhe aprouver e renunciar a ela (desistir “da ação”) ou a
certas situações processuais.
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No PROCESSO CIVIL: quase ABSOLUTO, tendo em vista o direito
material que se visa atuar. Exceção: quando o direito material é indisponível.
No PROCESSO PENAL: prevalece o princípio da
INDISPONIBILIDADE (ou da OBRIGATORIEDADE), pois o crime é uma
lesão irreparável ao interesse público.
Direito PENAL:
a) caráter público das normas penais;
b) necessidade de assegurar a convivência dos indivíduos na sociedade;
c) Estado tem o direito e sobretudo o dever de punir ------ órgãos
incumbidos da persecução penal não são dotados do poder
discricionário para apreciarem a oportunidade ou conveniência da
instauração, quer do processo penal, quer do inquérito policial
Atenuação ao princípio da indisponibilidade da esfera penal:
1º) possibilidade de transação nos casos das denominadas infrações
penais de menor potencial ofensivo (art. 98, I, CF e Lei nº 9.099/95);
2º) arquivamento de inquérito policial nos casos de lesão corporal leve
entre cônjuges que voltam à convivência conjugal;
3º) os chamados delitos de bagatela: insignificantes. Ex: furto de uma
banana, um parafuso, etc.
CONSEQÜÊNCIAS DO PRINC. DA OBRIGATORIEDADE:
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a) nos crimes de ação pública, a autoridade policial (delegado) é
obrigada a proceder as investigações preliminares (art. 5º, CPP);
b) o MP deve apresentar denúncia (salvo crimes de pequeno potencial
ofensivo) – art. 24 do CPP;
c) arquivamento do inquérito policial pelo MP deve ser motivado,
podendo o Juiz rechaçar, determinando a remessa dos autos ao
Procurador- Geral de Justiça (art. 28 do CPP);
OUTRAS LIMITAÇÕES AO PRINC. DA OBRIGATORIEDADE:
a) ação penal privada: cabe ao ofendido (ou seu representante legal)
decidir acerca do ajuizamento da ação;
b) ação penal pública condicionada à representação: a atuação dos
órgãos públicos fica condicionada à manifestação de vontade da
vítima ou de seu representante legal;
c) ações condicionadas à requisição do Ministro da Justiça. Ex: crimes
contra a honra praticados contra o Presidente da República ou chefe
de governo estrangeiro (art. 145, par. ún., CP);
d) nas infrações penais de menor potencial ofensivo, da ação
condicionada à representação, a transação civil acarreta a extinção da
punibilidade penal;
e) o MP, ao invés de oferecer denúncia, pode propor a imediata
aplicação de pena alternativa (restritiva de direito ou multa) quando
não houve transação civil ou a ação for pública incondicionada;
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f) nos crimes de média gravidade, o MP pode propor a suspensão
condicional do processo (art. 89 da Lei nº 9.099/95).
Princípio da Indisponibilidade na TRAMITAÇÃO do inquérito ou da
ação penal: regra da IRRETRATABILIDADE:
a) Art. 17 do CPP: proíbe a autoridade policial de abandorar o
inquérito ou arquivá-lo;
b) Art. 42 do CPP: o MP não pode desistir da ação penal;
c) Art. 576 do CPP: o MP não pode desistir do recurso interposto.
Obs: O MP pode pedir, ao final, a absolvição do réu, mas isso não equivale à
desistência da ação, até porque o Juiz pode, mesmo assim, condenar o réu (art.
385 do CPP).
EXCEÇÕES à regra da IRRETRATABILIDADE:
a) crimes de ação penal privada: admite-se renúncia, perdão e
perempção (arts. 49, 51 e ss, e 60 CPP).
Obs: na ação penal pública condicionada à representação, tem-se que
após oferecida a denúncia, não é possível retratação da representação
(art. 25 do CPP).
Outra decorrência do princípio da indisponibilidade do processo penal:
REGRA DA OFICIALIDADE: os órgãos incumbidos da persecução penal
devem ser ESTATAIS.
Dispositivos legais:
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a) à polícia judiciária compete a instauração do inquérito policial
(arts. 4º e 5º do CPP);
b) ao MP compete a promoção da ação penal.
EXCEÇÕES:
a) ação penal privada: titularidade cabe ao ofendido ou seu representante
legal;
b) ação penal popular: acusação formulada por qualquer do povo nos
casos de crimes de responsabilidade praticados pelo Procurador-Geral
da República e por Ministros do Supremo Tribunal Federal (Lei nº
1.079/50, arts. 41, 58, 65 e 66).
Desdobramentos da regra da OFICIALIDADE:
a) regra da autoridade --- é exercida por uma autoridade pública;
b) regra da oficiosidade --- a autoridade deve exercer suas funções de
ofício, sem requerimentos ou condições. Exceção: ação penal privada
e ação penal pública condicionada à representação.
3.7 – PRINCÍPIO DISPOSITIVO E PRINCÍPIO DA LIVRE
INVESTIGAÇÃO DAS PROVAS – VERDADE FORMAL E VERDADE
REAL.
PRINCÍPIO DO DISPOSITIVO: consiste na regra de que o juiz depende, na instrução da causa, da iniciativa das partes quanto às provas e às alegações em que se fundamentará a decisão: iudex secundum allegata et probata iudicare debet.
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Não confundir princípio do dispositivo com disponibilidade. Fundamento do princípio do dispositivo:
salvaguardar a IMPARCIALIDADE do juiz. Caso foi acrescido em demasia o poder instrutório do juiz, ter-se-ia atenuação da distinção entre processo dispositivo e processo inquisitivo.
Visão PUBLICISTA do processo ---- direito processual integrando o ramo do direito público ---- juiz passa de mero expectador inerte para exercer posição ATIVA ---- cabe-lhe então:impulsionar o processo; determinar provas;conhecer ex officio de determinada circunstância que dependiam de alegações das partes; coibir condutas irregulares das partes.
VERDADE FORMAL ---- aquilo que resulta verdadeiro em face das provas carreadas aos autos, podendo ou não coincidir efetivamente com a realidade dos fatos. VERDADE REAL ---- consiste na denominada “verdade material”, ou seja, aquilo que concreta e efetivamente aconteceu na realidade fática.
PROCESSO CIVIL ---- embora o juiz tenha poderes instrutórios (arts. 130 , 342, etc, do CPC) ---- em regra, direitos DISPONÍVEIS ---- juiz pode satisfazer-se com a verdade FORMAL ---- limita-se a apreciar o que as partes levaram ao processo, podendo rejeitar a demanda ou a defesa por falta de provas.
PROCESSO PENAL ---- direito INDISPONÍVEL ---- busca sempre a verdade REAL ---- só excepcionalmente o juiz penal se satisfaz com a verdade formal, ou seja, quando não dispõe de meios para obter a verdade real (art. 386, VI, do CPP). Ex: absolvido o réu, por faltas de provas, não poderá ser novamente processado pelo mesmo fato, ainda que surjam provas novas --- prevalência, nesse caso, da verdade formal por razões políticas.
Processo Civil ---- caminha para acentuar os poderes do juiz --- hoje, não mais eminentemente dispositivo. Processo Penal ---- caminhou do inquisitivo para o acusatório --- hoje, existe dada parcela de dispositividade das provas.
CONCLUSÃO: tanto no campo do processo penal como do processo civil impera o princípio da LIVRE INVESTIGAÇÃO DAS PROVAS, embora com doses maiores de dispositividade no processo civil.
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LIVRE INVESTIGAÇÃO DAS PROVAS PELO JUIZ: no PROCESSO PENAL: é ABSOLUTO. Raríssimas exceções: impossibilidade de novo processo após absolvição.no PROCESSO CIVIL: juiz participa da colheita da prova, tendo poderes instrutórios e diretivos (arts. 125, 130, 131, 330, 342 e 440). O sistema consiste em uma conciliação do princípio do dispositivo com o da livre investigação judicial; no PROCESSO TRABALHISTA: os poderes do juiz na colheita das provas são ambos (CLT, art. 765).
3.8 – PRINCÍPIO DO IMPULSO OFICIAL
Conceito: É o princípio pelo qual compete ao juiz, uma vez instaurada a
relação processual, mover o procedimento de fase em fase, até exaurir a
função jurisdicional.
3.9 – PRINCÍPIO DA PERSUASÃO RACIONAL DO JUIZ
Tal princípio regula a apreciação e a avaliação das provas existentes nos
autos, indicando que o juiz deve formar livremente sua convicção. O sistema
brasileiro situa-se entre o sistema da prova legal e o do julgamento secundum
conscientiam.
Sistema da prova legal : significa atribuir aos elementos probatórios
valor inalterável e prefixado, que o juiz aplica mecanicamente. Ex: prova
invocação de deus – direito germânico antigo.
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Sistema secundum conscientiam: juiz pode decidir segundo as provas
dos autos, mas também sem provas ou até contra estas. Ex: adotado, com certa
atenuação, pelos tribunais do júri, composto por juízes populares.
BRASIL: adota o PRINCÍPIO DA PERSUASÃO RACIONAL DO
JUIZ: o juiz NÃO é desvinculado das provas e dos elementos existentes nos
autos (quod non est in actis non est in mundo), mas a sua apreciação NÃO
depende de critérios legais determinados a priori.
O juiz só decide com base nos elementos existentes no processo, mas
os avalia segundo critérios críticos e racionais (arts. 131 e 436 CPC; arts.
157 e 182 do CPP).
Há liberdade de convicção e, não, arbitrariedade. Tem-se, portanto, que
O CONVENCIMENTO DEVE SER MOTIVADO (CF, art. 93, IX; CPP, art.
381, III; CPC, arts. 131, 165 e 458, II), não podendo desprezar as regras legais
porventura existentes (CPC, art. 334, IV; CPP, arts, 158 e 167) e as máximas
da experiência (CPC, art. 335).
3.10 – PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS
Necessidade de motivação das decisões judiciais ---- funda-se em dois
aspectos cumulativos:
a) pensamento tradicional: motivação como garantia às partes,
possibilitando a impugnação de decisão para efeito de futura reforma
(CPP, art. 381; CPC, art. 165 c/c 458; CLT, art. 832);
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b) pensamento moderno: motivação exercendo uma função política
para toda a sociedade, pois configura meio para aferir-se, em
concreto, a imparcialidade do juiz e a legalidade e justiça das
decisões (CF, art. 93, IX).
3.11 – PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
Publicidade do processo:
a) garantia do indivíduo no tocante ao exercício da jurisdição;
b) instrumento de controle popular da obra dos juízes, promotores de
justiça e advogados.
Em regra:
a) presença do público às audiências realizadas;
b) possibilidade de exame dos autos por qualquer pessoa.
Revolução Francesa: insurgiu-se contra juízos secretos e de caráter
inquisitivo que existiam no período anterior.
A publicidade confere TRANSPARÊNCIA aos trabalhos desenvolvidos
pelo Poder Judiciário: garantias da independência, imparcialidade, autoridade
e responsabilidade do juiz.
BRASIL: fundamento legal:
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a) CF, art. 5º, LX, e art. 93, IX;
b) Legislação ordinária: CPC, art. 155; CPP, art. 792; CLT art. 770.
Dois sistemas:
1º) publicidade popular --- é a regra geral --- todos possuem acesso aos
atos processuais;
2º) publicidade restrita --- é a exceção --- só as partes e seus
procuradores têm acesso aos atos processuais, nos casos em que o decoro ou o
interesse social assim o exigirem. Fundamento legal: CPC, art. 155, I e II;
CPP, arts. 483 e 792, § 1º. Outros casos:
a) Lei n° 9.034/95: art. 3º --- sigilo do resultado
das investigações acerca de organizações
criminosas;
b) Lei nº 9.296/96: art. 8º --- sigilo do resultado
das interceptações telefônicas.
ATENÇÃO: A interpretação do princípio da publicidade deve ser
procedida com bom senso. Restrição aos meios de comunicações, audiências
televisionadas, etc. A publicidade, como garantia política – cuja finalidade é o
controle da opinião pública nos serviços da Justiça – não pode ser confundida
com o sensacionalismo que afronta a dignidade humana. Deve ser buscado o
equilíbrio: Ex: inquérito policial é sigiloso (art. 20, do CPP), mas o advogado
tem acesso (art. 7º, do Estatuto da Advocacia – Lei nº 8.906/94).
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3.12 – PRINCÍPIO DA LEALDADE PROCESSUAL
Considerando que o processo é essencialmente dialético, é
REPROVÁVEL que as partes se sirvam dele faltando com o dever de
verdade, agindo deslealmente e empregando artifícios fraudulentos.
Princ. da LEALDADE PROCESSUAL é aquele que impõe à todos
aqueles que participam do processo (partes, juízes, auxiliares da justiça,
advogados e membros do Ministério Público) os deveres de moralidade e
probidade.
Tal princípio visa conter os litigantes e lhes impor uma conduta que
possa levar o processo à consecução de seus objetivos.
DESRESPEITO AO PRINCÍPIO implica em ILÍCITO PROCESSUAL,
com aplicação de SANÇÕES (CPC, arts. 14, 15, 17, 18, 31, 133, 135, 144,
147, 153, 193 ss, 600 e 601).
A jurisprudência tem interpretado tais dispositivos com cautela, para que
não ocorra sérias lesões ao princípio do contraditório.
PROCESSO PENAL: não há especial atenção com a lealdade processual
(salvo, arts. 799 e 801). No entanto, CÓDIGO PENAL ---- pena de detenção
no caso de fraude no processo civil ou procedimento administrativo, bem
como pena em dobro no caso em que a fraude ocorre no processo penal.
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3.13 – PRINCÍPIO DA ECONOMIA E DA INSTRUMENTALIDADE
DAS FORMAS
PRINCÍPIO DA ECONOMIA: preconiza o máximo de resultado na
atuação do direito com o mínimo emprego possível de atividades processuais.
Ex: reunião dos processos em casos de conexidade ou continência (CPC, art.
105), a reconvenção, ação declaratória incidental, litisconsórcio etc.
Em muitos casos, tem-se economia e eliminação do risco de decisões
contraditórias.
Economia --- decorre: princípio do APROVEITAMENTO DOS ATOS
PROCESSUAIS (CPC, art. 250, de aplicação geral ao processo civil e penal).
Exemplos:
a) indiferença na escolha do interdito possessório adequado (art. 950);
b) nulidade processual: não declaração quando o ato tiver alcançado sua
finalidade e não prejudicar a defesa (arts. 154, 244, 248).
3.14 – PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO
Tal princípio indica a possibilidade de revisão, por via de recurso, das
causas já julgadas pelo juiz de primeiro grau (ou primeira instância), que
corresponde à denominada jurisdição inferior.
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Garante, assim, um novo julgamento, por parte dos órgãos da jurisdição
superior, ou de segundo grau (também denominada de segunda instância).
JUIZ – julga segundo direito e sua própria consciência, analisando
racionalmente os elementos presentes nos autos.
A existência do duplo grau de jurisdição, ou seja, da superior instância,
não interfere nem reduz as garantias de independência dos juízes.
Fundamentos:
a) possibilidade da decisão de primeiro grau ser injusta ou errada;
b) conveniência de dar ao vencido mais uma oportunidade para o
reexame de decisão com a qual não se conformou;
c) o tribunal de segundo grau é formado por juízes mais experientes,
constituindo-se em órgãos colegiados, o que implica no oferecimento
de maior segurança;
d) o juiz de primeiro grau decide com maior cuidado quando sabe que
sua decisão poderá ser revista por órgão superior.
FUNDAMENTO MAIOR: natureza política: NENHUM ATO
ESTATAL PODE FICAR IMUNE AOS NECESSÁRIOS
CONTROLES.
O princípio do duplo grau de jurisdição implica no controle interno,
realizado pelo próprio Poder Judiciário, da legalidade e justiça das decisões
judiciárias.
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Não há adoção expressa do princípio, mas é evidente sua adoção, na
medida em que a própria Constituição Federal regula a competência recursal
de vários órgãos jurisdicionais (art. 102, II, art. 105, II, art. 108, II), além de
prever, sob denominação de tribunais, órgão de segundo grau (art. 93, III).
Ademais, o CPC, CPP, CLT, leis extravagantes e leis de organização
judiciária prevêem e disciplinam o duplo grau de jurisdição.
Exceções: hipóteses previstas pela própria Constituição Federal: casos
de competência originária do STF (art. 102, I).
STF – órgão de cúpula – pode funcionar como de 4º ou 3º grau
STJ, TSE e TST – podem funcionar como de 3º grau.
REGRA: Duplo grau -- efetividade: mediante recurso voluntário da
parte.
Exceção: interesses públicos relevantes: jurisdição superior entra em
cena sem necessidade de atuação da parte (CPC, art. 475; CPP, art. 574, I-II
c/c 401, e art. 746). É a chamada DEVOLUÇÃO OFICIAL ou REMESSA
NECESSÁRIA (ou recurso de-ofício – expressão não apropriada).
Admissibilidade de efetivação do duplo grau:
- REGRA: não há discriminação. Mesmos causas de pequeno
valor são passíveis de reexame pelo órgão superior;
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- EXCEÇÃO: CLT : considera irrecorríveis as sentenças
proferidas em causas de pequeno valor, salvo se versarem
acerca de matéria constitucional (art. 893, §4°).
Obs: Lei de Execução Fiscal (Lei n° 6.830/80 – art. 34):
embargos infringentes nas hipóteses de causas de pequeno
valor: o mesmo juiz que reapreciará a matéria. Questão de
controvertida constitucionalidade.
Lei dos Juizados Especiais – Lei n° 9.099/95 – duplo grau: colégio
recursal --- órgão colegiado composto por juízes de primeiro grau --- bom
resultados na prática, pois não sobrecarrega os tribunais.
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Bibliografia extra recomendada:
- NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do processo civil na constituição
federal.
5ª ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999.
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