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TEORIA GERAL DO PROCESSO DR. MARIO RAMOS DOS SANTOS ITE-BAURU 3 – PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PROCESSUAL 3.1 – CONCEITO Princípios informativos do processo: normas ideais que representam uma aspiração (desejo) de melhoria do sistema processual: a) princípio lógico: seleção dos meios mais eficazes e rápidos de procurar e descobrir a verdade e de evitar o erro; b) princípio jurídico: igualdade no processo e justiça na decisão; c) princípio político: o máximo de garantia social, com o mínimo de sacrifício individual da liberdade; d) princípio econômico: processo acessível a todos, com vista ao seu custo e à sua duração. Os princípios informativos, embora distintos dos princípios gerais, influenciam os mesmos, 1

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TEORIA GERAL DO PROCESSODR. MARIO RAMOS DOS SANTOS

ITE-BAURU

3 – PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PROCESSUAL

3.1 – CONCEITO

Princípios informativos do processo: normas ideais que representam

uma aspiração (desejo) de melhoria do sistema processual:

a) princípio lógico: seleção dos meios mais eficazes e rápidos de

procurar e descobrir a verdade e de evitar o erro;

b) princípio jurídico: igualdade no processo e justiça na decisão;

c) princípio político: o máximo de garantia social, com o mínimo de

sacrifício individual da liberdade;

d) princípio econômico: processo acessível a todos, com vista ao seu

custo e à sua duração.

Os princípios informativos, embora distintos dos princípios gerais,

influenciam os mesmos, extrapolando o campo da mera deontologia (valores

éticos), para agirem também na dogmática jurídica.

3.2 – PRINCÍPIO DA IMPARCIALIDADE DO JUIZ

O juiz se coloca entre as partes e acima delas.

Imparcialidade --- é pressuposto para que a relação processual se

instaure validamente --- órgão jurisdicional subjetivamente capaz.

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Para asseguarar a imparcialidade do juiz a CF lhe confere garantias (art.

95), impõe vedações (art. 95, parág. Único) e proíbe juízos ou tribunais de

exceção (art. 5º, inc. XXXVII).

Tribunais de exceções – são aqueles instituídos para contingências

particulares. Viola a garantia do juiz natural, previamente estabelecido pela

CF e pela lei.

Princípio do juiz natural:

a) só são órgãos jurisdicionais os instituídos pela Constituição;

b) ninguém pode ser julgado por órgão constituído após a ocorrência do

fato;

c) entre os juízes pré-constituídos vigora uma ordem taxativa de

competências que exclui qualquer alternativa deferida à

discricionariedade de quem quer que seja.

d) CF 88 – garantia do juiz competente – art. 5º, LIII.

A imparcialidade do juiz é uma garantia de justiça para as partes – dever

do Estado de garantir tratamento imparcial às partes no exercício da

jurisdição.

Grande importância – direito internacional garante o direito ao juiz

imparcial – Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 estabelece:

“toda pessoa tem direito, em condições de igualdade, de ser ouvida

publicamente e com justiça, por um tribunal independente e imparcial, para

a determinação de seus direitos e obrigações ou para o exame de qualquer

acusação contra ela em matéria penal.”

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3.3 – PRINCÍPIO DA IGUALDADE

Igualdade perante a lei é premissa para a igualdade perante o juiz: art. 5º,

caput, da CF --- brota a igualdade processual.

As partes e procuradores ---- tratamento igualitário ---- mesmas

oportunidades para fazer valer em juízo suas pretensões.

Disposições no CPC:

1) Art. 125, I, CPC: compete ao juiz “assegurar às partes igualdade de

tratamento”.

2) art. 9º, CPC: nomeação de curador especial ao incapaz que não o

tenha (ou cujos interesses colidam com os do representante) e ao réu preso,

bem como revel citado por edital ou com hora-certa.

No processo penal: nomeação de defensor dativo.

Igualdade formal --- passagem para ---- IGUALDADE SUBSTANCIAL

---- iguais oportunidades a todos, a serem propiciadas pelo Estado.

Igualdade substancial ou material ---- aparente quebra da isonomia,

dentro e fora do processo, impõe tratamento desigual aos desiguais,

justamente para suprir as diferenças, atingindo, assim, a igualdade substancial.

No proc. Penal --- igualdade atenuada pelo favor rei que protege o

acusado. Exemplos:

a) improcedência por insuficiência de provas (art. 386, VI, CPP);

b) a existência de recursos privativos da defesa (arts. 607 – protesto

por novo júri - e 609, parágrafo único, - embargos infringentes

ou de nulidade – CPP);

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c) revisão criminal somente em favor do réu (arts. 623 e 626,

parág. Único, CPP).

No processo civil há normas cujo objetivo é reequilibrar as partes,

proporcionando a igualdade material, tendo em vista a existência de causas ou

circunstâncias fora do processo que ponha uma delas em situação de

superioridade ou inferioridade em face da outra.

Exemplos:

a) os prazos em quádruplo para contestar e em dobro para

recorrer em benefício da Fazenda Pública e do Ministério

Público (art. 188 do CPC);

b) o reexame obrigatório nos casos em que a fazenda pública

é vencida, remetendo, assim, os autos ao tribunal mesmo

que não haja recurso das partes (art. 475 do CPC);

c) Fazenda Pública, quando vencida, paga honorários

advocatícios em percentual inferior ao normas (art. 20,§ 4)

d) Dispensa de preparo e concessão de medida cautelar

independentemente de justificação e de caução para a

Fazenda Pública (arts. 27, 511 e 816, I, CPC);

e) Lei nº 10.173/01 – lei que determina que se conceda

prioridade, nos juízos inferiores e tribunais, às causas de

interesse de pessoas com 65 ou mais anos de idade.

3.4 – PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA.

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Princípio do contraditório – bilateralidade da audiência – audiatur et

altera pars – inerente à própria noção de processo.

O juiz, imparcial, coloca-se entre as partes, de maneira eqüidistante:

ouvindo uma, deverá ouvir a outra.

Iguais oportunidades para ambas de:

a) expor suas razões;

b) apresentar provas;

c) influir sobre o convencimento do juiz.

Soma das parcialidades – tese (autor) + antítese (réu) = síntese (juiz) ---

processo dialético --- exercício da jurisdição. Frente ao juiz, as partes são

colaboradores necessários: cada parte age no processo visando seu próprio

interesse, mas da ação combinada dos dois a justiça se serve para conseguir

proceder a eliminação da justiça.

CF 88 --- foi expressa ao garantir o contraditório e a ampla defesa aos

litigantes, em qualquer processo, judicial ou administrativo, e aos acusados

em geral (art. 5º, LV).

No processo penal:

a) defesa técnica – através de advogado – é indisponível –

sempre necessária;

b) autodefesa – aquela exercida pelo próprio réu:

interrogatório do réu e sua presença aos atos instrutórios –

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é disponível, até porque o réu pode optar pelo direito ao

silencia, sem qualquer prejuízo (art. 5º, LXIII, CF).

Contraditório inclui necessidade de CIÊNCIA: cada litigante deverá ter

ciência, ser comunicado, dos atos praticados pelo juiz e pelo seu adversário.

Só conhecendo-os é que poderá exercer o contraditório.

Ciência dos atos processuais: 03 mecanismos:

1) CITAÇÃO --- é o ato pelo qual se dá ciência à alguém da

instauração de um processo, chamando-o a participar da relação

processual (art. 213, CPC);

2) INTIMAÇÃO --- é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos

atos do processo, contendo também, eventualmente, comando

de fazer ou deixar de fazer alguma coisa (art. 234, CPC);

3) NOTIFICAÇÃO --- tanto o CPC, quanto o CPP, não usa a

expressão notificação no sentido de comunicação de ato

processual. Já a CLT e a Lei do Mandado de Segurança usa a

expressão “notificação” com o significado de “citação”.

Direitos disponíveis (demanda entre maiores, capazes, sem relevância

para a ordem pública) --- há contraditório, mesmo que a contrariedade não se

efetive concretamente. Ex: revelia do réu (art. 319 , CPC).

Direitos indisponíveis ---- necessidade de contraditório efetivo e

equilibrado --- Ex:

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a) nomeação de defensor para réu revel no proc. Penal (arts. 261 e

263, CPP);

b) se a defesa for abaixo do padrão mínimo tolerável, o réu será

considerado indefeso e o processo anulado;

c) Lei nº 9.271/96: proc. Penal: réu revel, citado por edital, sem

advogado constituído: suspensão do processo, juntamente com

o prazo prescricional;

d) No processo civil, réu revel citado por edital ou com hora-certa

----nomeação de curador especial (art. 9º, CPC);

e) Incapaz assistido pelo Ministério Público (art. 82, I, CPC).

CONTRADITÓRIO: constituído por dois elementos:

1º) INFORMAÇÃO;

2º) REAÇÃO (essa meramente possibilitada na hipótese de

direitos

disponíveis).

CONTRADITÓRIO não admite exceções: nos casos de urgência:

liminar: “periculum in mora” e “fumus boni iuris” : juiz pode conceder

medidas urgentes, “inaudita altera parte” (art. 929, 932, 937, 813 ss, CPC),

mas não definitiva. A parte contrária toma ciência e se manifesta em momento

posterior: daí falar-se em CONTRADITÓRIO DIFERIDO.

INQUÉRITO POLICIAL – é mero procedimento administrativo que visa

à colheita de provas para informações sobre o fato violador da norma e sua

autoria. Embora sem acusação, há conflito de interesses, devendo ser

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respeitados os direitos fundamentais do indiciado. Colheita de provas –

contraditório diferido.

3.5 – PRINCÍPIO DA AÇÃO – PROCESSOS INQUISITIVOS E

ACUSATÓRIO

PRINCÍPIO DA AÇÃO (ou princípio da demanda) --- implica na

atribuição à parte da iniciativa de provocar o exercício da função

jurisdicional.

AÇÃO --- é o direito (poder) de ativar os órgãos jurisdicionais, visando à

satisfação de uma pretensão.

Jurisdição é INERTE, exige PROVOCAÇÃO do interessado: “nemo

iudex sine actore”.

Se o juiz instaura o processo, já estará propenso a julgar favoravelmente,

violando a necessária imparcialidade (é o chamado “processo inquisitivo”).

PROCESSO ACUSATÓRIO:

a) prevaleceu em Roma e Atenas;

b) é um processo penal de partes --- acusador e acusado em plena

igualdade;

c) é um processo de ação, com garantias da imparcialidade do juiz, do

contraditório e da publicidade.

O processo penal brasileiro adotou o sistema ACUSATÓRIO.

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O Inquérito policial é mero procedimento administrativo, sem

acusado mas com litigantes (após o indiciamento), de modo que os elementos

probatórios nele contidos (salvos as provas antecipadas de caráter cautelar –

ex: exame de corpo de delito), servem apenas para a formação da

convicção do Ministério Público, mas não para embasar condenação.

Ordenamento brasileiro : adota o princípio da AÇÃO:

a) na esfera penal (arts. 24, 28 e 30, do CPP);

b) na esfera cível (arts. 2º, 128 e 262 do CPC).

EXCEÇÕES:

1ª) na execução trabalhista: art. 878 da CLT : A execução poderá

ser promovida por qualquer interessado, ou ex officio pelo próprio Juiz

ou Presidente ou Tribunal competente, nos termos do artigo anterior.

(art. 877 – comp. do juiz que houver conciliado ou julgado o dissídio);

2ª) em matéria falimentar: art. 162 da Lei de Falências ---

possibilidade do juiz declarar a falência, mesmo sem pedido do devedor

ou credor, se comprovadas determinadas situações elencadas no referido

artigo, como descumprimento da concordata preventiva;

3ª) concessão de habeas corpus de ofício pelo juiz.

OBS: Na reconvenção (art. 315 do CPC), o réu move uma nova demanda

contra o autor, exercendo pretensão própria e autônoma, verdadeira ação,

embora dentro do mesmo processo. Também é manifestação do princípio da

ação.

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Outra manifestação do princípio da ação: o JUIZ (que já não pode

instaurar o processo) NÃO PODE TOMAR PROVIDÊNCIAS QUE

SUPEREM OS LIMITES DO PEDIDO: “ne eat iudex petita partium”.

No processo civil: arts. 459 e 460 do CPC.

No processo penal: vinculação do juiz ao fato delituoso descrito da

denúncia, independentemente de sua qualificação jurídica.

O juiz pode dar definição jurídica diversa daquela que consta na

denúncia, ainda que implique em sanção mais (arts. 383 e 384, caput, do

CPP). Não há, nesse caso, julgamento ULTRA PETITA, pois decorre da

máxima “jura novit curia”.

Quando se altera a configuração do fato delituoso (art. 384, par. ún. do

CPP), o Ministério Público deverá aditar a denúncia.

3.6 – PRINCÍPIOS DA DISPONIBILIDADE E DA

INDISPONIBILIDADE

Poder dispositivo --- é a liberdade que as pessoas têm de exercer ou não

direitos.

Princípio da disponibilidade processual --- é a possibilidade da

pesssoa apresentar ou não sua pretensão em juízo, bem como apresentá-la da

maneira que melhor lhe aprouver e renunciar a ela (desistir “da ação”) ou a

certas situações processuais.

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No PROCESSO CIVIL: quase ABSOLUTO, tendo em vista o direito

material que se visa atuar. Exceção: quando o direito material é indisponível.

No PROCESSO PENAL: prevalece o princípio da

INDISPONIBILIDADE (ou da OBRIGATORIEDADE), pois o crime é uma

lesão irreparável ao interesse público.

Direito PENAL:

a) caráter público das normas penais;

b) necessidade de assegurar a convivência dos indivíduos na sociedade;

c) Estado tem o direito e sobretudo o dever de punir ------ órgãos

incumbidos da persecução penal não são dotados do poder

discricionário para apreciarem a oportunidade ou conveniência da

instauração, quer do processo penal, quer do inquérito policial

Atenuação ao princípio da indisponibilidade da esfera penal:

1º) possibilidade de transação nos casos das denominadas infrações

penais de menor potencial ofensivo (art. 98, I, CF e Lei nº 9.099/95);

2º) arquivamento de inquérito policial nos casos de lesão corporal leve

entre cônjuges que voltam à convivência conjugal;

3º) os chamados delitos de bagatela: insignificantes. Ex: furto de uma

banana, um parafuso, etc.

CONSEQÜÊNCIAS DO PRINC. DA OBRIGATORIEDADE:

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a) nos crimes de ação pública, a autoridade policial (delegado) é

obrigada a proceder as investigações preliminares (art. 5º, CPP);

b) o MP deve apresentar denúncia (salvo crimes de pequeno potencial

ofensivo) – art. 24 do CPP;

c) arquivamento do inquérito policial pelo MP deve ser motivado,

podendo o Juiz rechaçar, determinando a remessa dos autos ao

Procurador- Geral de Justiça (art. 28 do CPP);

OUTRAS LIMITAÇÕES AO PRINC. DA OBRIGATORIEDADE:

a) ação penal privada: cabe ao ofendido (ou seu representante legal)

decidir acerca do ajuizamento da ação;

b) ação penal pública condicionada à representação: a atuação dos

órgãos públicos fica condicionada à manifestação de vontade da

vítima ou de seu representante legal;

c) ações condicionadas à requisição do Ministro da Justiça. Ex: crimes

contra a honra praticados contra o Presidente da República ou chefe

de governo estrangeiro (art. 145, par. ún., CP);

d) nas infrações penais de menor potencial ofensivo, da ação

condicionada à representação, a transação civil acarreta a extinção da

punibilidade penal;

e) o MP, ao invés de oferecer denúncia, pode propor a imediata

aplicação de pena alternativa (restritiva de direito ou multa) quando

não houve transação civil ou a ação for pública incondicionada;

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f) nos crimes de média gravidade, o MP pode propor a suspensão

condicional do processo (art. 89 da Lei nº 9.099/95).

Princípio da Indisponibilidade na TRAMITAÇÃO do inquérito ou da

ação penal: regra da IRRETRATABILIDADE:

a) Art. 17 do CPP: proíbe a autoridade policial de abandorar o

inquérito ou arquivá-lo;

b) Art. 42 do CPP: o MP não pode desistir da ação penal;

c) Art. 576 do CPP: o MP não pode desistir do recurso interposto.

Obs: O MP pode pedir, ao final, a absolvição do réu, mas isso não equivale à

desistência da ação, até porque o Juiz pode, mesmo assim, condenar o réu (art.

385 do CPP).

EXCEÇÕES à regra da IRRETRATABILIDADE:

a) crimes de ação penal privada: admite-se renúncia, perdão e

perempção (arts. 49, 51 e ss, e 60 CPP).

Obs: na ação penal pública condicionada à representação, tem-se que

após oferecida a denúncia, não é possível retratação da representação

(art. 25 do CPP).

Outra decorrência do princípio da indisponibilidade do processo penal:

REGRA DA OFICIALIDADE: os órgãos incumbidos da persecução penal

devem ser ESTATAIS.

Dispositivos legais:

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a) à polícia judiciária compete a instauração do inquérito policial

(arts. 4º e 5º do CPP);

b) ao MP compete a promoção da ação penal.

EXCEÇÕES:

a) ação penal privada: titularidade cabe ao ofendido ou seu representante

legal;

b) ação penal popular: acusação formulada por qualquer do povo nos

casos de crimes de responsabilidade praticados pelo Procurador-Geral

da República e por Ministros do Supremo Tribunal Federal (Lei nº

1.079/50, arts. 41, 58, 65 e 66).

Desdobramentos da regra da OFICIALIDADE:

a) regra da autoridade --- é exercida por uma autoridade pública;

b) regra da oficiosidade --- a autoridade deve exercer suas funções de

ofício, sem requerimentos ou condições. Exceção: ação penal privada

e ação penal pública condicionada à representação.

3.7 – PRINCÍPIO DISPOSITIVO E PRINCÍPIO DA LIVRE

INVESTIGAÇÃO DAS PROVAS – VERDADE FORMAL E VERDADE

REAL.

PRINCÍPIO DO DISPOSITIVO: consiste na regra de que o juiz depende, na instrução da causa, da iniciativa das partes quanto às provas e às alegações em que se fundamentará a decisão: iudex secundum allegata et probata iudicare debet.

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Não confundir princípio do dispositivo com disponibilidade. Fundamento do princípio do dispositivo:

salvaguardar a IMPARCIALIDADE do juiz. Caso foi acrescido em demasia o poder instrutório do juiz, ter-se-ia atenuação da distinção entre processo dispositivo e processo inquisitivo.

Visão PUBLICISTA do processo ---- direito processual integrando o ramo do direito público ---- juiz passa de mero expectador inerte para exercer posição ATIVA ---- cabe-lhe então:impulsionar o processo; determinar provas;conhecer ex officio de determinada circunstância que dependiam de alegações das partes; coibir condutas irregulares das partes.

VERDADE FORMAL ---- aquilo que resulta verdadeiro em face das provas carreadas aos autos, podendo ou não coincidir efetivamente com a realidade dos fatos. VERDADE REAL ---- consiste na denominada “verdade material”, ou seja, aquilo que concreta e efetivamente aconteceu na realidade fática.

PROCESSO CIVIL ---- embora o juiz tenha poderes instrutórios (arts. 130 , 342, etc, do CPC) ---- em regra, direitos DISPONÍVEIS ---- juiz pode satisfazer-se com a verdade FORMAL ---- limita-se a apreciar o que as partes levaram ao processo, podendo rejeitar a demanda ou a defesa por falta de provas.

PROCESSO PENAL ---- direito INDISPONÍVEL ---- busca sempre a verdade REAL ---- só excepcionalmente o juiz penal se satisfaz com a verdade formal, ou seja, quando não dispõe de meios para obter a verdade real (art. 386, VI, do CPP). Ex: absolvido o réu, por faltas de provas, não poderá ser novamente processado pelo mesmo fato, ainda que surjam provas novas --- prevalência, nesse caso, da verdade formal por razões políticas.

Processo Civil ---- caminha para acentuar os poderes do juiz --- hoje, não mais eminentemente dispositivo. Processo Penal ---- caminhou do inquisitivo para o acusatório --- hoje, existe dada parcela de dispositividade das provas.

CONCLUSÃO: tanto no campo do processo penal como do processo civil impera o princípio da LIVRE INVESTIGAÇÃO DAS PROVAS, embora com doses maiores de dispositividade no processo civil.

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LIVRE INVESTIGAÇÃO DAS PROVAS PELO JUIZ: no PROCESSO PENAL: é ABSOLUTO. Raríssimas exceções: impossibilidade de novo processo após absolvição.no PROCESSO CIVIL: juiz participa da colheita da prova, tendo poderes instrutórios e diretivos (arts. 125, 130, 131, 330, 342 e 440). O sistema consiste em uma conciliação do princípio do dispositivo com o da livre investigação judicial; no PROCESSO TRABALHISTA: os poderes do juiz na colheita das provas são ambos (CLT, art. 765).

3.8 – PRINCÍPIO DO IMPULSO OFICIAL

Conceito: É o princípio pelo qual compete ao juiz, uma vez instaurada a

relação processual, mover o procedimento de fase em fase, até exaurir a

função jurisdicional.

3.9 – PRINCÍPIO DA PERSUASÃO RACIONAL DO JUIZ

Tal princípio regula a apreciação e a avaliação das provas existentes nos

autos, indicando que o juiz deve formar livremente sua convicção. O sistema

brasileiro situa-se entre o sistema da prova legal e o do julgamento secundum

conscientiam.

Sistema da prova legal : significa atribuir aos elementos probatórios

valor inalterável e prefixado, que o juiz aplica mecanicamente. Ex: prova

invocação de deus – direito germânico antigo.

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Sistema secundum conscientiam: juiz pode decidir segundo as provas

dos autos, mas também sem provas ou até contra estas. Ex: adotado, com certa

atenuação, pelos tribunais do júri, composto por juízes populares.

BRASIL: adota o PRINCÍPIO DA PERSUASÃO RACIONAL DO

JUIZ: o juiz NÃO é desvinculado das provas e dos elementos existentes nos

autos (quod non est in actis non est in mundo), mas a sua apreciação NÃO

depende de critérios legais determinados a priori.

O juiz só decide com base nos elementos existentes no processo, mas

os avalia segundo critérios críticos e racionais (arts. 131 e 436 CPC; arts.

157 e 182 do CPP).

Há liberdade de convicção e, não, arbitrariedade. Tem-se, portanto, que

O CONVENCIMENTO DEVE SER MOTIVADO (CF, art. 93, IX; CPP, art.

381, III; CPC, arts. 131, 165 e 458, II), não podendo desprezar as regras legais

porventura existentes (CPC, art. 334, IV; CPP, arts, 158 e 167) e as máximas

da experiência (CPC, art. 335).

3.10 – PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS

Necessidade de motivação das decisões judiciais ---- funda-se em dois

aspectos cumulativos:

a) pensamento tradicional: motivação como garantia às partes,

possibilitando a impugnação de decisão para efeito de futura reforma

(CPP, art. 381; CPC, art. 165 c/c 458; CLT, art. 832);

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b) pensamento moderno: motivação exercendo uma função política

para toda a sociedade, pois configura meio para aferir-se, em

concreto, a imparcialidade do juiz e a legalidade e justiça das

decisões (CF, art. 93, IX).

3.11 – PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

Publicidade do processo:

a) garantia do indivíduo no tocante ao exercício da jurisdição;

b) instrumento de controle popular da obra dos juízes, promotores de

justiça e advogados.

Em regra:

a) presença do público às audiências realizadas;

b) possibilidade de exame dos autos por qualquer pessoa.

Revolução Francesa: insurgiu-se contra juízos secretos e de caráter

inquisitivo que existiam no período anterior.

A publicidade confere TRANSPARÊNCIA aos trabalhos desenvolvidos

pelo Poder Judiciário: garantias da independência, imparcialidade, autoridade

e responsabilidade do juiz.

BRASIL: fundamento legal:

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a) CF, art. 5º, LX, e art. 93, IX;

b) Legislação ordinária: CPC, art. 155; CPP, art. 792; CLT art. 770.

Dois sistemas:

1º) publicidade popular --- é a regra geral --- todos possuem acesso aos

atos processuais;

2º) publicidade restrita --- é a exceção --- só as partes e seus

procuradores têm acesso aos atos processuais, nos casos em que o decoro ou o

interesse social assim o exigirem. Fundamento legal: CPC, art. 155, I e II;

CPP, arts. 483 e 792, § 1º. Outros casos:

a) Lei n° 9.034/95: art. 3º --- sigilo do resultado

das investigações acerca de organizações

criminosas;

b) Lei nº 9.296/96: art. 8º --- sigilo do resultado

das interceptações telefônicas.

ATENÇÃO: A interpretação do princípio da publicidade deve ser

procedida com bom senso. Restrição aos meios de comunicações, audiências

televisionadas, etc. A publicidade, como garantia política – cuja finalidade é o

controle da opinião pública nos serviços da Justiça – não pode ser confundida

com o sensacionalismo que afronta a dignidade humana. Deve ser buscado o

equilíbrio: Ex: inquérito policial é sigiloso (art. 20, do CPP), mas o advogado

tem acesso (art. 7º, do Estatuto da Advocacia – Lei nº 8.906/94).

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3.12 – PRINCÍPIO DA LEALDADE PROCESSUAL

Considerando que o processo é essencialmente dialético, é

REPROVÁVEL que as partes se sirvam dele faltando com o dever de

verdade, agindo deslealmente e empregando artifícios fraudulentos.

Princ. da LEALDADE PROCESSUAL é aquele que impõe à todos

aqueles que participam do processo (partes, juízes, auxiliares da justiça,

advogados e membros do Ministério Público) os deveres de moralidade e

probidade.

Tal princípio visa conter os litigantes e lhes impor uma conduta que

possa levar o processo à consecução de seus objetivos.

DESRESPEITO AO PRINCÍPIO implica em ILÍCITO PROCESSUAL,

com aplicação de SANÇÕES (CPC, arts. 14, 15, 17, 18, 31, 133, 135, 144,

147, 153, 193 ss, 600 e 601).

A jurisprudência tem interpretado tais dispositivos com cautela, para que

não ocorra sérias lesões ao princípio do contraditório.

PROCESSO PENAL: não há especial atenção com a lealdade processual

(salvo, arts. 799 e 801). No entanto, CÓDIGO PENAL ---- pena de detenção

no caso de fraude no processo civil ou procedimento administrativo, bem

como pena em dobro no caso em que a fraude ocorre no processo penal.

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3.13 – PRINCÍPIO DA ECONOMIA E DA INSTRUMENTALIDADE

DAS FORMAS

PRINCÍPIO DA ECONOMIA: preconiza o máximo de resultado na

atuação do direito com o mínimo emprego possível de atividades processuais.

Ex: reunião dos processos em casos de conexidade ou continência (CPC, art.

105), a reconvenção, ação declaratória incidental, litisconsórcio etc.

Em muitos casos, tem-se economia e eliminação do risco de decisões

contraditórias.

Economia --- decorre: princípio do APROVEITAMENTO DOS ATOS

PROCESSUAIS (CPC, art. 250, de aplicação geral ao processo civil e penal).

Exemplos:

a) indiferença na escolha do interdito possessório adequado (art. 950);

b) nulidade processual: não declaração quando o ato tiver alcançado sua

finalidade e não prejudicar a defesa (arts. 154, 244, 248).

3.14 – PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO

Tal princípio indica a possibilidade de revisão, por via de recurso, das

causas já julgadas pelo juiz de primeiro grau (ou primeira instância), que

corresponde à denominada jurisdição inferior.

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Garante, assim, um novo julgamento, por parte dos órgãos da jurisdição

superior, ou de segundo grau (também denominada de segunda instância).

JUIZ – julga segundo direito e sua própria consciência, analisando

racionalmente os elementos presentes nos autos.

A existência do duplo grau de jurisdição, ou seja, da superior instância,

não interfere nem reduz as garantias de independência dos juízes.

Fundamentos:

a) possibilidade da decisão de primeiro grau ser injusta ou errada;

b) conveniência de dar ao vencido mais uma oportunidade para o

reexame de decisão com a qual não se conformou;

c) o tribunal de segundo grau é formado por juízes mais experientes,

constituindo-se em órgãos colegiados, o que implica no oferecimento

de maior segurança;

d) o juiz de primeiro grau decide com maior cuidado quando sabe que

sua decisão poderá ser revista por órgão superior.

FUNDAMENTO MAIOR: natureza política: NENHUM ATO

ESTATAL PODE FICAR IMUNE AOS NECESSÁRIOS

CONTROLES.

O princípio do duplo grau de jurisdição implica no controle interno,

realizado pelo próprio Poder Judiciário, da legalidade e justiça das decisões

judiciárias.

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Não há adoção expressa do princípio, mas é evidente sua adoção, na

medida em que a própria Constituição Federal regula a competência recursal

de vários órgãos jurisdicionais (art. 102, II, art. 105, II, art. 108, II), além de

prever, sob denominação de tribunais, órgão de segundo grau (art. 93, III).

Ademais, o CPC, CPP, CLT, leis extravagantes e leis de organização

judiciária prevêem e disciplinam o duplo grau de jurisdição.

Exceções: hipóteses previstas pela própria Constituição Federal: casos

de competência originária do STF (art. 102, I).

STF – órgão de cúpula – pode funcionar como de 4º ou 3º grau

STJ, TSE e TST – podem funcionar como de 3º grau.

REGRA: Duplo grau -- efetividade: mediante recurso voluntário da

parte.

Exceção: interesses públicos relevantes: jurisdição superior entra em

cena sem necessidade de atuação da parte (CPC, art. 475; CPP, art. 574, I-II

c/c 401, e art. 746). É a chamada DEVOLUÇÃO OFICIAL ou REMESSA

NECESSÁRIA (ou recurso de-ofício – expressão não apropriada).

Admissibilidade de efetivação do duplo grau:

- REGRA: não há discriminação. Mesmos causas de pequeno

valor são passíveis de reexame pelo órgão superior;

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- EXCEÇÃO: CLT : considera irrecorríveis as sentenças

proferidas em causas de pequeno valor, salvo se versarem

acerca de matéria constitucional (art. 893, §4°).

Obs: Lei de Execução Fiscal (Lei n° 6.830/80 – art. 34):

embargos infringentes nas hipóteses de causas de pequeno

valor: o mesmo juiz que reapreciará a matéria. Questão de

controvertida constitucionalidade.

Lei dos Juizados Especiais – Lei n° 9.099/95 – duplo grau: colégio

recursal --- órgão colegiado composto por juízes de primeiro grau --- bom

resultados na prática, pois não sobrecarrega os tribunais.

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Bibliografia extra recomendada:

- NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do processo civil na constituição

federal.

5ª ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999.

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