prímulas e perseidas - lyra

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Pequena fábula que é quase crônica do cotidiano de olhos caóticos ou sutis.

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  • Prmulas e Perseidas

    Contos de Fada Inacabados : Fernanda Lyra

    Era uma noite de ventania, e uma madrugada pouco fria ao calor terno de fogueira e cantiga. O leito a grama de ribanceira, o telhado o lumiar de cada estrela em quedas de Perseu em chama Noutro lodo alm da grama, dentre as folhas mais escuras, eis que

    uma luz intensa insiste em brilhar, e com flores na cabea a dama que carrega uma criana em seu olhar volta e desperta, conseguindo observar cada detalhe que os mais

    sbios deixariam passar por perder os olhos infantes.

    Eis que um lenhador de corao calejado como madeira resolve soltar a criana em seus fundos olhares ao contar sobre as moedas enterradas para o guardio da porta na rvore, guardando em seu interior o mais sublime conhecimento sobre a porta por trs

    de cada rvore, e sobre cada um dos que as deveriam guardar.

    Eis que a dama das flores, com lembranas infantis tambm despertas, retoma a lembrana de uma toca onde em outrora aos possveis duendes, pedras e flores ela iria

    deixar. E em um simples recordar, nenhum de pronto percebe que acordam em si mesmos a percepo de algo que talvez ali sempre o pudesse estar, e quem sabe os

    duendes e os guardies de cada uma das rvores, que outrora lhes permitiram o observar, novamente despertam.

    Dentre a escurido das rvores e folhas cobertas de sombras, h um brilho repleto de silhuetas e cachos, e sob a treva da noite uma dama de ouro dana com seu vestido

    dourado, e o bailar de sua saia reluzente compreendido como um convite para o vento acompanha-la nesta dana entre as rvores.

  • Eis que a ventania a assobiar, acompanha o ritmo do bailado da dama dourada, que entre o flutuar douro, paira de tempos em tempos para observ-los. No puderam ouvir o som que dela poderia ecoar, mas puderam reproduzir o tom que ela haveria de deixar

    com vozes e violo ecoando com o assobio do vento, entre as folhas da grandiosa rvore na qual de tempos em tempos a dama dourada por trs viria a se ocultar.

    E prontamente, outros caminhantes chegam ao gramado, mas a dama de flores e o lenhador hipnotizados pelo brilho dourado e flutuante se impedem de falar a respeito da

    dama de ouro, que ainda segue sua dana flutuante, e mesmo sem estar distante, nenhum outro caminhante teve a audcia de pod-la enxergar.

    Entre o brilhar da dama e das estrelas, na virada do luar, entra o sol com a manh, e no despertar de outro dia s sobra a lembrana da presena to dourada quanto o sol da

    manh de uma dama flutuante entre as rvores. A dama das flores e o lenhador, em busca da dama dourada observam a ausncia da rvore na qual durante a noite ela

    parecia se ocultar, e como as prmulas de ouro, e como o guardio de uma rvore na infncia, a dama flutuante e dourada no estava a se esconder, e sim a guardar esta

    outra rvore, que se oculta na relva da manh, pois de fato, tal como a fada, ela pertence a um outro lugar.

    Desperta ento a vontade de reencontrar, de poder perguntar, e de pronto como as flores em sua cabea, a dama das flores em seu desejo gritante de fugir da sua possvel humanidade exclama sem falar no eco de seus pensamentos: Oh flutuante dama dourada, poderia alm dessa rvore ocultada, uma talvez humana errante perdida em sua caminhada, poderia ela de alguma maneira encontrar, um caminho embora daqui, para alm desse outro lugar?