primeiro-ministro 2013_discurso [03 maio]

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  • 7/30/2019 Primeiro-ministro 2013_discurso [03 Maio]

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    DISCURSO PM 02.05.2013

    (s faz f verso lida)

    Portugueses,

    Na sequncia dos acontecimentos das ltimas semanas

    meu dever falar-vos para transmitir as decises do

    Governo. Tivemos de lidar com as consequncias

    oramentais decorrentes da deciso do Tribunal

    Constitucional, que fez reabrir a 7a reviso regular da

    troika. Estvamos tambm comprometidos com a Troika e

    com os nossos parceiros europeus a apresentar a

    estratgia do Governo para o mdio e longo prazo em

    termos de contas pblicas. E no poderamos ignorar estas

    duas exigncias porque ambas eram requisitos para fechar

    a 7a reviso.

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    Estou certo de que todos compreendem o valor de uma

    concluso positiva e atempada desta 7a reviso. que no

    o fazer teria como efeito perder a deciso favorvel

    quanto ao alargamento do prazo para pagarmos os

    emprstimos, solicitado por Portugal e pela Irlanda. Seria

    um revs inegvel para os Portugueses, para a retoma do

    financiamento da economia e para a preparao do ps-

    troika, se perdssemos esta oportunidade que a Irlanda

    certamente no ir perder.

    Portanto, as condies para fechar a 7a reviso so as

    seguintes:

    - encontrar medidas que substituam integralmente as

    perdas oramentais resultantes da deciso do Tribunal

    Constitucional; e

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    - levar a cabo poupanas estruturais e permanentes, isto

    , vlidas para os anos futuros, para os anos em que j

    no estaremos sob o Programa de Assistncia, no valor de

    perto de 4 mil milhes de euros, valor essencial para

    termos contas pblicas sustentveis no mdio prazo.

    Haver certamente muitos Portugueses que se perguntam

    porqu mais poupanas. Reafirmo o que j vos disse: no

    iremos aumentar os impostos para corrigir o problema

    oramental decorrente da deciso do Tribunal

    Constitucional. Faz-lo seria comprometer gravemente as

    perspectivas de recuperao econmica, do emprego e do

    investimento. E isso no podemos, de modo algum,

    aceitar. Pelo contrrio. Dentro da margem muito estreita

    que a nossa, devemos ponderar todos os meios para, a

    prazo, proporcionar melhores condies fiscais s nossas

    empresas e trabalhadores. Chegou o momento de relanar

    o investimento privado.

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    Mas isso tambm quer dizer que o caminho deve ser o de

    reduzirmos a despesa pblica de forma estrutural.

    Embora estejamos a inverter rapidamente o

    endividamento privado, e tenhamos registado pela

    primeira vez desde h muitas dcadas o equilbrio das

    nossas contas externas, ainda no resolvemos

    definitivamente o nosso problema de endividamento

    pblico e o nosso dfice ainda excessivamente avultado.

    De facto, nestes 2 anos j baixmos para quase metade o

    dfice pblico mas ainda temos de o reduzir mais.

    Um ato de desistncia da nossa parte nesta altura seria

    um golpe provavelmente irreversvel no capital de

    confiana que todos os Portugueses adquiriram com os

    sacrifcios, o seu trabalho e a sua coragem ao longo destes

    ltimos dois anos. O regresso aos mercados crucial em

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    todo este percurso de superao da crise nacional.

    crucial para o financiamento do Estado e do Estado social,

    em particular, mas tambm para as empresas, para o

    crescimento e para o emprego.

    O nosso cumprimento e a confiana que reconquistmos

    nos ltimos 2 anos j nos permitiram por duas vezes

    flexibilizar as metas para o dfice, ajustando-as s

    necessidades da economia. Quando comemos h 2 anos,

    o dfice era de perto de 10 por cento. Tnhamos 3 anos

    para o reduzir para 3 por cento. Com o nosso cumprimento

    acabmos por ter mais dois anos. Sem perturbaes. E sem

    credibilidade, nada disso teria ocorrido.

    Hesitar agora seria um golpe nessa credibilidade que j

    reconquistmos. E o que teramos pela frente, na melhor

    das hipteses, seria um segundo pedido de resgate, com

    mais tempo e mais dinheiro, mas tambm com austeridade

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    mais dura e mais prolongada. Est nas nossas mos evitar

    este cenrio.

    Chegou, portanto, o momento exato de avanar para uma

    segunda fase da reforma do Estado e do sistema de

    segurana social. Uma reforma com medidas estratgicas

    que obtenham poupanas permanentes, mas segundo

    princpios de igualdade e de sustentabilidade.

    Queremos discutir todas estas medidas com os parceiros

    sociais e com os partidos polticos. Precisamos de um

    debate empenhado de todos. Queremos debat-las com

    todos para as aperfeioar, para minimizar o seu impacto

    sobre o rendimento das pessoas, para aumentar a

    equidade e para garantir a adequao jurisprudncia

    constitucional. E quero, alm disso, sublinhar que a

    abertura do Governo na discusso pblica que ter lugar a

    partir de agora estende-se possibilidade de substituir

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    estas medidas por alternativas credveis que cumpram o

    objectivo quantitativo de poupana que lhes est

    associado e que sejam permanentes.

    Assim, no mbito da reforma do Sector Pblico

    Administrativo, o Governo d prioridade a medidas que,

    por um lado, envolvam mudanas na actividade das

    pessoas, e no a cortes no seu rendimento. E, por outro

    lado, que reestruturem a despesa pblica segundo uma

    orientao de maior igualdade com as regras que so

    aplicadas aos trabalhadores do sector privado. Alm disso,

    precisamos de medidas que redimensionem e racionalizem

    a Administrao Pblica s necessidades do Pas e s

    capacidades da nossa economia.

    - Em primeiro lugar, precisamos de transformar o Sistema

    de Mobilidade Especial num novo Sistema de

    Requalificao da Administrao Pblica, com o objectivo

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    de promover a requalificao dos trabalhadores em

    funes pblicas, atravs de aes de formao e da

    introduo de um perodo mximo de 18 meses de

    permanncia nessa condio, pois no justo para a

    pessoa, nem boa administrao do Estado, perpetuar

    uma situao remuneratria que j no tem justificao

    laboral.

    - Em segundo lugar, precisamos de aprofundar a

    convergncia do regime de trabalho dos funcionrios

    pblicos s regras do Cdigo do Trabalho aplicveis a todos

    os trabalhadores do sector privado, designadamente

    atravs da fixao do perodo normal de trabalho no

    regime regra das 40 horas por semana, como sucede de

    resto na maioria dos pases da OCDE. Tambm aqui se

    coloca a questo da igualdade entre todos os

    trabalhadores portugueses.

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    - Em terceiro lugar, precisamos de aprovar um plano de

    rescises por mtuo acordo ajustado s necessidades

    tcnicas da Administrao Pblica, o que, por sua vez,

    conduzir a uma diminuio do nmero de efetivos. Este

    plano, que, recordo, ser de mtuo acordo, dever ser

    acompanhado por um novo processo de reorganizao dos

    servios, implicando uma reduo natural das estruturas e

    dos consumos intermdios. Combinando o novo Sistema de

    Requalificao da Administrao Pblica com o plano de

    rescises, estimamos abranger cerca de 30 mil efetivos.

    - Em quarto lugar, precisamos de rever a tabela

    remuneratria nica, em conjunto com a elaborao de

    uma tabela nica de suplementos para aplicao aos

    trabalhadores em exerccio de funes pblicas, para

    nivelar as remuneraes com os salrios praticados na

    economia.

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    - Em quinto lugar, precisamos de aumentar as

    contribuies dos trabalhadores para os subsistemas de

    sade ADSE/ADM/SAD em 0,75 pontos percentuais cento

    ainda em 2013, e em 0,25 pontos percentuais a partir de

    Janeiro de 2014, mantendo a voluntariedade sua adeso.

    Esta proposta visa diminuir as transferncias que todos os

    anos provm do Oramento do Estado para esses

    subsistemas e, portanto, assegurar a sua sustentabilidade,

    suavizando o esforo em 2 anos.

    - Em sexto lugar, precisamos de mandatar os ministrios

    para procederem a redues de encargos no mnimo de 10

    por cento, face a 2013, em despesas com aquisies de

    bens e servios e outras despesas correntes, redobrando o

    esforo que j tem vindo a ser feito.

    Tanto a transformao do Sistema de Mobilidade Especial

    num Sistema de Requalificao da Administrao Pblica,

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    como o regime de trabalho das 40 horas na funo pblica

    tero de vigorar j em 2013. Sero estas duas medidas

    permanentes que complementaro as medidas de reduo

    de despesa j anunciadas pelo Governo e que estaro

    includas no Oramento rectificativo que ser apresentado

    no Parlamento at ao final deste ms que substituiro as

    normas do Oramento do Estado invalidadas pelo Tribunal

    Constitucional.

    Precisamos ainda de recorrer a vrias medidas com um

    mbito sectorial nos vrios domnios da governao e que

    tambm se inserem no horizonte mais amplo da reforma

    do Estado.

    - Uma dessas medidas que iremos propor consiste na

    alterao da idade legal mnima de acesso situao de

    reserva, pr-aposentao e disponibilidade, que precede a

    reforma, nas Foras Armadas, na Guarda Nacional

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    Repblica e na Polcia de Segurana Pblica, para os 58

    anos de idade.

    J no mbito da reforma do sistema de segurana social o

    Governo prope:

    - Em primeiro lugar, proceder alterao da regra de

    determinao do factor de sustentabilidade aplicvel na

    determinao do valor futuro das penses, de modo a que

    a idade de passagem reforma dos sistemas pblicos de

    penses sem penalizao se fixe nos 66 anos de idade. Isto

    quer dizer que a idade legal de reforma se mantm nos 65

    anos, mas que s aos 66 no haver qualquer penalizao.

    uma condio importante para assegurar a

    sustentabilidade do sistema.

    - Em segundo lugar, precisamos de reponderar a frmula

    de determinao do factor de sustentabilidade para que, a

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    par da esperana mdia de vida que j dela consta, possa

    incluir agregados econmicos como, por exemplo, a massa

    salarial total da economia. Assim, poderemos associar

    mais estreitamente a base da economia, que financia o

    sistema, s responsabilidades assumidas pelo Estado neste

    domnio.

    - Em terceiro lugar, precisamos de eliminar regimes de

    bonificao de tempo de servio para efeitos de acesso

    reforma, e que expandem desigualmente as carreiras

    contributivas entre diferentes tipos de actividade

    profissional, criando situaes injustas, o que significa que

    ser mais um contributo para reforar a igualdade e a

    sustentabilidade do sistema.

    - Em quarto lugar, precisamos de proceder convergncia

    das regras de determinao das penses atribudas pela

    Caixa Geral de Aposentaes com as regras da Segurana

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    Social, fazendo com que os trabalhadores do sector

    pblico e privado fiquem numa situao de maior

    igualdade, o que no acontecia at agora. Iremos

    salvaguardar as penses de valor inferior porque sabemos

    que as penses de reforma de muitos Portugueses so

    baixas.

    - Finalmente, precisamos de equacionar a aplicao de

    uma contribuio de sustentabilidade sobre as penses

    atribudas pela Caixa Geral de Aposentaes e pela

    Segurana Social, com a garantia de salvaguarda das

    penses de valor mais baixo. No entanto, queremos

    minimizar tanto quanto for possvel esta contribuio.

    Para isso queremos associ-la ao andamento da nossa

    economia para que haja uma relao automtica entre,

    por um lado, o crescimento econmico e, por outro, a

    reduo gradual e progressiva dessa mesma contribuio

    que ter como base a atual Contribuio Extraordinria de

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    Solidariedade. Sabemos que esta medida pesaria sobre o

    rendimento disponvel dos pensionistas, e por isso

    queremos que o crescimento econmico em que estamos

    empenhados possa atenuar diretamente os sacrifcios que

    so pedidos aos pensionistas, desejavelmente at ao ponto

    em que ela possa desaparecer por completo. E tambm

    estamos a trabalhar para minimizar o impacto desta

    medida com a obteno de poupanas sectoriais viveis.

    Quanto mais longe for a reforma do Estado, mais

    conseguiremos reduzir esta contribuio. Infelizmente, o

    facto incontornvel de os salrios e as transferncias

    sociais, incluindo as penses, constiturem quase 70 por

    cento das despesas do Estado, fora-nos a incidir nestas

    rubricas porque todas as restantes so comparativamente

    menos importantes quando se trata de reduzir despesa.

    O conjunto das medidas transversais e sectoriais, e os

    princpios gerais de igualdade e de sustentabilidade que o

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    norteia, faro parte do documento sobre a reforma do

    Estado que ser apresentado em breve. Aquando da

    apresentao desse documento poder ser consultado todo

    o detalhe do conjunto das medidas.

    As medidas que acabei de enunciar perfazem, no seu

    conjunto, cerca de 4,8 mil milhes de euros at 2015.

    por isso que devem ser vistas como um conjunto de

    alternativas mais completo para atingirmos o nosso

    objectivo de perto de 4 mil milhes. Devem ser vistas

    como um conjunto de possibilidades que no esto

    fechadas precisamente porque queremos uma discusso

    aberta sobre cada uma delas e, desejavelmente, analisar

    propostas alternativas ou as combinaes mais coerentes

    das medidas. Aos nossos interlocutores sociais e polticos,

    na concertao social e na Assembleia da Repblica, quero

    deixar claro que no deve haver qualquer dvida sobre a

    nossa abertura para debater esta matria. E, com esta

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    abordagem global, os nossos parceiros europeus no

    podero duvidar do rigor do nosso compromisso.

    Mas a reforma do Estado deve ser vista como um processo

    contnuo em que mantemos o esprito crtico sobre as

    nossas instituies. E sabemos que h muito por fazer para

    tornar o Estado e a despesa pblica mais eficazes na

    reduo das desigualdades, na quebra da transmisso da

    pobreza de gerao em gerao, nos servios de proteo

    social aos cidados mais vulnerveis, ou no apoio

    economia.

    Portugueses,

    Eu sei que se interrogam se os sacrifcios que vos tm sido

    pedidos vo valer a pena. A estas dvidas, quero responder

    que valero a pena certamente. Mas para isso temos de

    remover este obstculo que temos pela frente. Falhar

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    agora seria desperdiar esses sacrifcios e isso nenhum de

    ns pode aceitar. A estratgia do Governo, ao responder

    afirmativamente aos desafios que se nos colocam, faz

    valer a pena os sacrifcios que todos os Portugueses

    fizeram at agora. Estamos na recta final dessa estratgia

    medida que se aproxima a concluso do Programa de

    Assistncia. Temos de ter a coragem para resistir s falsas

    promessas e s iluses que tempos como os que estamos a

    viver fazem crescer.

    No controlo da despesa pblica j muito foi feito. Nestes

    ltimos dois anos poupmos cerca de 13 mil milhes de

    euros em despesa do Estado. Para atenuar as medidas de

    poupana que tm impacto no rendimento disponvel das

    pessoas, atacmos as rendas excessivas como nunca tinha

    sido feito. Conseguimos em 2013 poupanas de 35% nos

    encargos com as PPP rodovirias, no montante de 300

    milhes de euros, e queremos poupanas ainda maiores

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    para os anos seguintes. Ao longo da vida destes contratos

    obteremos uma reduo em termos nominais de mais de 7

    mil milhes de euros. No sector energtico estamos a ser

    igualmente exigentes, com poupanas de 160 milhes de

    euros j a comear este ano e que aumentaro em anos

    futuros, num total de mais de 2 mil milhes de euros em

    termos nominais.

    Diminumos substancialmente as despesas de

    funcionamento dos ministrios e das empresas pblicas.

    Actumos com grande determinao na reforma das

    empresas pblicas de transportes. Foi assim que reduzimos

    em 25 por cento o parque automvel dessas empresas, em

    28 por cento os gastos com comunicaes e em 60 por

    cento o nmero de horas de trabalho suplementar, atravs

    de uma organizao mais adequada do tempo de trabalho.

    E passmos para resultados operacionais em 2012, mesmo

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    tendo em conta a reduo das transferncias do

    Oramento do Estado para essas empresas.

    Alm disso, o Governo tem reduzido e continuar a reduzir

    os consumos intermdios na Administrao Pblica. Os

    consumos intermdios caram 903 milhes de euros em

    2011 e 504 milhes de euros em 2012. Graas a estas

    poupanas, Portugal tem hoje o 5. valor mais baixo de

    consumos intermdios na Europa. E este esforo de

    reduo dos consumos intermdios tem, pois, de

    continuar.

    Estes so apenas alguns exemplos, mas bem ilustrativos,

    de um trabalho persistente que foi feito nos ltimos dois

    anos.

    Tambm sei que os Portugueses ouvem todos os dias

    opinies de que existem sadas fceis para esta crise. Em

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    particular, ouvem dizer que os dfices e a dvida no so

    problemas de maior, ou que no pagar a dvida remdio

    pronto e indolor para a crise e que acabaria com a

    austeridade. Ouvem ainda dizer que respeitar os nossos

    compromissos no assim to importante como o Governo

    quer fazer crer, porque a Europa estar l sempre para nos

    dar o dinheiro de que precisamos.

    A crise em que Portugal mergulhou em 2011 demasiado

    sria para no pensarmos nas consequncias das nossas

    escolhas. Temos de ser realistas na abordagem aos nossos

    problemas. A ideia de que a Europa estar sempre

    disponvel para nos socorrer sem condies falsa. O

    nosso caminho no tem sido fcil, mas seria

    incomparavelmente mais difcil se no tivesse havido da

    nossa parte o cumprimento cabal das nossas obrigaes. As

    consequncias do incumprimento para Portugal, membro

    da rea do euro, dependente do financiamento externo

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    para o pagamento de salrios e penses, e que procura

    arduamente recuperar o financiamento para as suas

    empresas, seriam desastrosas.

    Esse no o caminho. Voltar agora para trs seria, no s

    virar as costas ao crescimento e ao emprego, como seria

    equivalente a regressar ao ponto onde estvamos em

    2011, isto , beira da bancarrota, com as taxas de juro

    novamente a subir e o financiamento a fechar-se.

    Tambm no nos podemos esquecer que, como membros

    da rea do euro, estamos sujeitos a regras claras. Por

    exemplo, o Tratado Oramental, que beneficiou de um

    amplo apoio parlamentar que incluiu o principal partido da

    oposio, estabelece o equilbrio oramental e a reduo

    consistente da dvida pblica at ao valor de referncia de

    60 por cento do PIB. Isto significa que precisamos de

    adequar estruturalmente o nosso regime econmico e

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    financeiro s exigncias do euro. No o fizemos no passado

    e infelizmente ns todos aprendemos s nossas prprias

    custas o resultado dessa inaco.

    A escolha no , portanto, entre austeridade e ausncia

    de austeridade. entre o cumprimento, com uma

    estratgia consolidada de curto e mdio prazo, e o

    incumprimento que teria como provvel desfecho a sada

    do euro com consequncias catastrficas para todos,

    sobretudo para a classe mdia e para aqueles que esto

    mais vulnerveis.

    Por si s, as exigncias do Programa de Assistncia j

    recomendariam um amplo consenso poltico e social. Mas o

    valor do consenso ainda mais importante quando o que

    est em causa a nossa participao no euro e o

    cumprimento das obrigaes que dela decorrem.

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    neste contexto que finanas pblicas sustentveis devem

    ser vistas como um objectivo nacional e como um

    patrimnio comum, ao servio da nossa democracia. um

    erro ver as finanas pblicas saudveis como estando

    sintonizadas com um governo especfico ou com uma

    legislatura particular. Todos os projetos polticos, sejam de

    esquerda, de direita ou do centro, precisam que as contas

    pblicas batam certo. E todos os projetos polticos que

    defendam a nossa permanncia no euro tm de

    reconhecer esta obrigao.

    Apesar das grandes dificuldades, temos razes para estar

    mais confiantes. Desde o incio que o Governo tem estado

    a preparar os alicerces do crescimento futuro com um

    programa ambicioso de reformas estruturais. Sabemos que

    os seus efeitos demoram algum tempo a repercutir-se na

    actividade econmica mas esses efeitos iro chegar.

    Porm, queremos mais. Recentemente, propusemos aos

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    parceiros sociais e aos partidos polticos uma estratgia

    abrangente de crescimento associada reindustrializao

    do Pas. Fomos o primeiro pas da rea do euro a

    apresentar uma estratgia integrada de crescimento

    econmico. E contamos complement-la com outros

    planos de redinamizao da actividade de sectores

    econmicos importantes. Este o momento para dar

    prioridade ao investimento produtivo. Para dar incio

    ltima fase do processo de ajustamento, isto , para o

    perodo de transio para o crescimento estvel e

    duradouro.

    Por vezes no nos damos conta de como estamos prximos

    da experincia irlandesa, que considerada como um caso

    bem-sucedido J tm mais resultados a apresentar do que

    ns em certos aspectos, mas isso tambm se deve a terem

    meio ano de avano sobre ns nas reformas e nos impactos

    econmicos. Os irlandeses tm sentido dificuldades, como

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    natural, mas no desistiram e foram capazes de

    estabelecer consensos polticos entre os partidos em torno

    de matrias fundamentais. Ns tambm no podemos

    desistir.

    Todo este processo de reforma do Estado ir decorrer em

    simultneo com a recuperao da economia. Ir decorrer a

    par da recuperao da nossa soberania econmica e

    financeira plena. Tudo isso abre perspectivas mais

    motivadoras para todos ns.

    Sabemos que no depende apenas de ns obter condies

    mais favorveis no nosso processo de ajustamento.

    Depende sobretudo de mudanas polticas e institucionais

    a nvel europeu. Mas, se mantivermos a nossa capacidade

    de cumprimento e de reforma, seremos uma voz influente

    na conduo dessas mudanas. Mais uma vez, o consenso

    interno trar resultados positivos para todos porque

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    reforaria a nossa capacidade negocial e a credibilidade

    da nossa interveno.

    A firmeza de todos os Portugueses j nos trouxe sucessivas

    flexibilizaes do processo de ajustamento. Neste

    momento, a nossa margem de manobra ainda no

    grande, mas grande a confiana que inspiramos por toda

    a Europa e que, estou certo, no deixar novamente de se

    traduzir em respostas concretas e benficas para ns.

    Sei que este caminho no fcil. Sei o que estas

    mudanas implicam para muitos Portugueses. No as

    proporia se as no considerasse absolutamente necessrias

    para ultrapassar a emergncia nacional e fundamentais

    para o nosso crescimento. Nenhum governante defende

    medidas difceis apenas por prazer nem de nimo leve.

    Mas temos todos de ser corajosos e enfrentar a situao.

    Sobre todo o governo pende a obrigao de amenizar o seu

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    impacto e aperfeioar o seu desenho. Mas como so

    mudanas que dizem respeito ao nosso futuro colectivo a

    responsabilidade pela sua discusso e pelo seu

    melhoramento cabe a todos os Portugueses.

    As escolhas que temos diante de ns so mais do que

    simples questes financeiras. a construo do nosso

    futuro como povo europeu e como democracia madura que

    est em causa. Tal como em tantas ocasies no passado,

    os Portugueses no deixaro de, em conjunto, tomar em

    mos essa grave tarefa, cientes das dificuldades que

    juntos enfrentaremos, mas com coragem e com

    esperana.

    Muito obrigado.