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TítuloFutebol - Treinar para Jogar

AutorVitor Gouveia

Design e paginaçãoGonçalo Sousa

ImpressãoCafilesa

1ª ediçãoFevereiro 2019

ISBN978-989-655-355-5

Depósito legal

Prime Books ‑ Sociedade Editorial, Lda. [email protected] www.primebooks.pt seguro | rápido | económico

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Aos meus pais, À Inês,À Ana,

À Maria.

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LISTA DE ABREVIATURAS E DE SÍMBOLOS

MA Médios(s) ala

MC Médio(s) centro

DC Defesa(s) central(ais)

GR Guarda‑redes

PL Ponta(s) de lança

DL Defesa(s) lateral(ais)

PV Pivô(s)

VO2máx Consumo máximo de oxigénio

PSE Percepção subjetiva de esforço

JR Jogos reduzidos

H‑H “homem‑a‑homem”

MPB Manutenção da posse de bola

TDA Transição defesa‑ataque

TAD Transição ataque‑defesa

Passe

Desmarcação

Condução de bola ou Drible

Passe longo

Zonas de ligação (“portas”)

Bola

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NOTA PRÉVIA

Este trabalho reflete uma ideia de pensar o treino e o jogo em futebol. Esta ideia que se vai desenvolvendo a cada dia terá motivações e origens diversas que variam de treinador para treinador, neste caso a nossa ideia advém, por um lado, da formação académica e técnica, que nos despertam a curiosidade para procu‑rarmos saber mais, para aprofundarmos conhecimentos, dando‑nos sustentabi‑lidade para o que fazemos. Por outro lado, e não menos importante, resulta da experiência diária, na qual contatamos com a realidade, com a tomada de deci‑sões e que funciona como uma espécie de laboratório onde crescemos, evoluímos, adequando a nossa forma de estar no treino em função do acumular de vivências e das aprendizagens que delas resultam. Não escrevemos este livro com qualquer tipo de pretensiosismo, vaidade ou so‑berba em relação às nossas ideias. A nossa motivação vem do enorme gosto, diríamos mesmo do fascínio que o conhecimento do jogo exerce em nós e pelo prazer em partilhar um pouco da nossa experiência. A partilha quando acompa‑nhada da reflexão crítica, é uma forma fantástica de aprendizagem!Assim, tendo em consideração a nossa formação académica e a importância que atribuímos ao conhecimento científico, começamos por enquadrar o tema com uma revisão focada na investigação sobre o treino em futebol e na tendência atual dos jogos reduzidos como forma de trabalhar em contexto de jogo, desenvolven‑do essencialmente aspetos técnicos e táticos, mas também como forma de treinar as capacidades motoras que suportam o esforço do jogo. De seguida entramos no modelo de jogo: naquilo que é o seu enquadramento conceptual e concretizando o que é que queremos no nosso modelo, avançando quais os comportamentos em função dos vários momentos do jogo e que servem de fio condutor para que todo o processo de treino seja coerente com o que pre‑tendemos que seja a nossa forma de jogar. Por último, descrevemos a metodologia de treino, isto é, as principais opções em função do modelo de jogo, que resultam do cruzamento entre o conhecimento teórico e o conhecimento empírico, adquirido no campo, a cada dia. Por último e não menos importante, não nos podemos esquecer da capacidade crítica em relação ao que fazemos, que nos permite manter o foco, a atualização

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técnica e científica, que nos sustenta a convicção de que amanhã estaremos insa‑tisfeitos com o que fizemos hoje, o que na nossa perspetiva é um sinal inequívoco de evolução!

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Índice

PREFÁCIO 11

PARTE I | FUNDAMENTAÇÃO DA NOSSA PROPOSTA: TREINO, PERIODIZAÇÃO E MODELO DE JOGO 13

1. O TREINO EM FUTEBOL 14 1.1. Jogos reduzidos 15 1.1.1. Intensidade 16 1.1.2. Manipulação de condicionantes regulamentares e estruturais 17 1.1.2.1. Espaço 17 1.1.2.2. Número de jogadores 19 1.1.2.3. Presença de jokers e guarda‑redes 20 1.1.2.4. Regras 21 1.2. A periodização 22

2. O MODELO DE JOGO 26 2.1. A estrutura 29

3. OS MOMENTOS DO JOGO E O SEU CARÁTER ORIENTADOR DO PROCESSO DE TREINO 31 3.1. O ataque 32 3.2. A defesa 34 3.3. A dominância do equilíbrio defensivo durante o jogo 36 3.4. As transições e o seu potencial desequilibrador 38 3.4.1. Aspetos relevantes durante as transições 39 3.5. Transição defesa‑ataque (TDA) 40 3.6. Transição ataque‑defesa (TAD) 41

PARTE II | O MODELO DE JOGO: APRESENTAÇÃO DA NOSSA PROPOSTA 43

1. CONTEXTUALIZAÇÃO DESTA OPÇÃO DE INTERVENÇÃO 44 1.1. A estrutura 46 1.2. Missões táticas individuais 48 1.2.1. Guarda‑redes (GR) 48 1.2.2. Defesas laterais (DL) 49

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1.2.3. Defesas centrais (DC) 50 1.2.4. Pivôs (PV) 51 1.2.5. Médios centro (MC) 52 1.2.6. Médios ala (MA) 53 1.2.7. Ponta de lança (PL) 54 1.3. Opções do modelo de jogo 55 1.3.1. Os comportamentos pretendidos no ataque 55 1.3.2. Os comportamentos pretendidos na defesa 64 1.3.3. Os comportamentos pretendidos na TDA 74 1.3.4. Os comportamentos pretendidos na TAD 75

PARTE III | METODOLOGIA DE TREINO: A OPERACIONALIZAÇÃO DO MODELO DE JOGO 77

1. Identidade e Adaptação 78 1.1. Apresentação de uma proposta metodológica 79 1.1.1. O exercício de treino: preparar situações a partir do jogo 80 1.1.2. A importância da especificidade 81 1.2. Os períodos de treino 86 1.2.1. Período pré‑competitivo 87 1.2.2. Período competitivo ‑ A semana de treino como unidade estrutural de planeamento 89 1.2.2.1. Segunda‑feira: 1º dia após o jogo 90 Exercícios tipo do 1º dia após o jogo 92 1. Rondos 5X2 92 2. Jogo de Posição 4X4+6 93 3. Jogo Reduzido Gr+3X3+Gr com alteração da relação numérica 94 4. Situação de jogo Gr+10X8+Gr 95 5. Ligação intersetorial ofensiva e defensiva 96 1.2.2.2. Terça‑feira: 2º dia após o jogo 97 1.2.2.3. Quarta‑feira: 3º dia após o jogo 98 Exercícios tipo do 3º dia após o jogo 99 6. Rondo com transição de espaço (1) 99 7. Rondo com transição de espaço (2) 101 8. Rondo com transição de espaço (3) 102 9. Rondo com transição de espaço (4) 103

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10. Rondo com transição de espaço (5) 103 11. Organização setorial da linha defensiva e reação à perda 105 12. Ligação setorial e intersetorial ofensiva e defensiva (1) 106 13. Ligação setorial e intersetorial ofensiva e defensiv (2) 107 14. Jogo posicional vs organização setorial defensiva 108 1.2.2.4. Quinta‑Feira ‑ 4º dia após o jogo 109 Exercícios tipo do 4º dia após o jogo 110 15. Exercício por vagas: ataque posicional e reação à perda 110 16. Jogo de posição 5X5+4 112 17. Manutenção da posse de bola: organização defensiva em 1‑4‑1‑4‑1 vs construção a 3 113 18. Variação do centro de jogo para explorar “lado fraco” 114 19. Manutenção da posse de bola: unidade da equipa 115 20. Exploração do espaço entrelinhas para acelerar o jogo 116 21. Preparação estratégica: jogo posicional, reação à perda e recuperação defensiva 118 22. Organização tática: ocupação dos espaços no ataque 119 1.2.2.5. Sexta‑feira: 5º dia após o jogo 119 Exercícios tipo do 5º dia após o jogo 121 23. Rondo com reação à perda 121 24. Ação setorial da linha defensiva 122 25. Ligação setorial e intersetorial 122 26. Ligação setorial e intersetorial 125 1.2.2.6. Sábado ‑ 6º dia após o jogo 127 1.2.3. Período transitório 127

PARTE IV | CONCLUSÃO 129

MENSAGEM FINAL 130

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 132

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PREFÁCIO

Numa das suas mais emblemáticas obras (Cosmos) Carl Sagan, no seu estilo eloquente e cativante, conta‑nos a história de como Eratóstenes, director da grande Biblioteca de Alexandria, calculou a circunferência da Terra há mais de 2000 anos. A exactidão do resultado alcançado na altura (espantoso, convém sublinhar) não é tanto o ponto central a que quero chegar, mas antes o processo que levou ao raciocínio. A pergunta era simples: como era possível que no mes‑mo instante não existisse sombra em Siena e em Alexandria ela fosse visível ? A superfície da Terra teria de ser curva, imaginou. Não podia estar mais certo. Conseguiu, com a ajuda de instrumentos simples e inteligência, ser a primeira pessoa a medir com exactidão o tamanho de um planeta. Uma resposta com‑plexa, uma pergunta simples. Um resultado capaz de quebrar paradigmas, um método simples e objectivo. É da simplicidade que nasce o complexo e julgo, tal como afirma Boaventura de Sousa Santos ‑ Um Discurso sobre as Ciências ‑ que nunca foi tão necessário “voltar às coisas simples, à capacidade de formular per‑guntas simples, perguntas que, como Einstein costumava dizer, só uma criança pode fazer, mas que, depois de feitas, são capazes de trazer uma luz nova à nossa perplexidade.” Julgo que é precisamente aqui que, enquanto treinadores, temos de nos situar mais vezes. Temos de ser mais vezes o “homem das perguntas” para não corrermos o risco de sermos vistos apenas como o “homem das respostas” (daquelas que podem, sabemos nós, “cristalizar”). Sendo o FUTEBOL um jogo de decisões, julgo que o último estereótipo será sempre o menos necessário e o mais “mecânico” mas, entendo que por vezes, o mais apreciado. É com base nesta perspectiva que entendo que o cenário de TREINO deverá ser sempre mais um cenário de perguntas que um cenário de respostas e é sobre esta capacidade que considero que nos devemos, precisamente, colocar. Melhores perguntas, melho‑res respostas. Simples ! Creio que será pacífico afirmar que queremos ter sempre jogadores que decidam com qualidade. Por outro lado, se optamos por oferecer o caminho (a resposta) em todos os momentos, temos de considerar pelo menos a hipótese plausível de que estes irão ter alguma dificuldade em adaptar‑se (res‑ponder) a contextos diferentes e de mudança constante tendo nós, por outro lado, que fazer o exercício de avaliar que tipo de contexto é o jogo. O JOGO é comple‑xo, mas são as coisas simples que geram a complexidade – Julgo que esta é uma

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FUTEBOL • TREINAR PARA JOGAR

premissa fundamental, elementar mas esclarecedora. Se tivermos a capacidade de nos “alimentar” constantemente, se conseguirmos chegar às perguntassimples, aquelas a que Einstein se referia, estaremos seguramente mais perto de criar conhecimento, seguindo uma via que a mim me parece incontornável: praticar – reflectir – actualizar – partilhar ... Praticar ... ! É este o tipo de conhecimento a que me refiro e que fará de nós mais vezes o “homem das perguntas”, não de mais mas de “melhores perguntas”, sendo também aqui que assenta o contributo do autor deste livro, na capacidade de questionarmos, de crescermos e de criarmos o nosso próprio conhecimento. O tempo que já passámos juntos, no campo, assim como a amizade que há largos anos nos une, permitem‑me saltar descrições ou sugestões mais específicas que o leitor terá, seguramente, o prazer de descobrir, sabendo que não é na convergência que se estabelece a sabedoria, mas antes na capacidade de irmos criando, no nosso caminho, interrogações que nos façam, pelo menos, pensar mais e melhor. Interessa, em última análise, e ao contrário do que possa parecer pela lógica do discurso até aqui apresentado, sublinhar que nem sempre iremos encontrar o que procuramos, e ainda bem. Seremos suficien‑temente “sortudos” se, tal como os Príncipes de Serendip, tivermos a capacidade de fazer descobertas inesperadas, daquelas que na verdade não procuramos (ou achamos que não procuramos). Será, sem dúvida, um sinal positivo !

Vítor SeverinoTreinador UEFA PRO Adjunto da equipa principal do Vitória Sport Clube

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PARTE I • FUNDAMENTAÇÃO DA NOSSA PROPOSTA: TREINO, PERIODIZAÇÃO E MODELO DE JOGO

PARTE I FUNDAMENTAÇÃO DA NOSSA

PROPOSTA: TREINO, PERIODIZAÇÃO E MODELO DE JOGO

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1O TREINO EM FUTEBOL

O treino em futebol registou uma grande evolução nas últimos anos, desde exer‑cícios de condição física sem a presença da bola, com o intuito de desenvolver as capacidades motoras (Bangsbo, 1994), sendo um treino completamente compar‑timentado e adaptado de outras modalidades desportivas (essencialmente indivi‑duais), até novos métodos e exercícios que procuram desenvolver as capacidades físicas concomitantemente com aspetos técnico‑tácticos, específicos da forma de jogar da equipa (Sarmento, Clemente, Harpe, Costa, Owen e Figueiredo, in press).Qualquer capacidade deverá ser treinada em contexto de jogo, contexto esse que pode ir desde comportamentos considerados chave no modelo de jogo do trei‑nador até ações reais que reproduzem de forma mais fiel o que é o jogo. Para Vargas et al. (2017) o trabalho de potência no ginásio pode levar a melhorias da potência, mas descura muito as exigências coordenativas e de interação. Podendo inclusivamente pensar‑se que é possível melhorar a “força de jogo” (força ade‑quada para fazer face a cada uma das ações nos desportos de equipa), como se esta fosse uma capacidade inalterável, imperturbável e constante nos desportistas. A realidade é que a força que um desportista tem, é a que consegue aplicar a cada momento, em cada situação e que esta aplicação está associada ao movimento, às experiências motoras e às condicionantes do meio envolvente. Bangsbo, Mohr e Krustrup (2006), a partir da análise do jogo em relação ao esforço envolvido (vias metabólicas, substratos energéticos, intensidade, entre outros.), referem que no treino de jogadores de elite se deve ter em consideração a melhoria da sua capacidade de realizar exercício intenso e a capacidade de recuperação rápida de esforços de alta intensidade. As diferenças na performance física de acordo com a posição desempenhada em campo, sugerem que o treino específico em regimes de alta intensidade pode ser mais benéfico para determi‑nados indivíduos dentro de uma equipa de futebol (Dellal et al., 2011). Di Mas‑

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PARTE I • FUNDAMENTAÇÃO DA NOSSA PROPOSTA: TREINO, PERIODIZAÇÃO E MODELO DE JOGO

cio e Bradley (2014) referem ser razoável assumir que o treino físico bem como os testes, devem ter em consideração a posição dos jogadores em campo e incluir o tempo de recuperação, a corrida de alta intensidade e o rácio esforço:recupe‑ração. Os mesmos autores concluíram que oito esforços de alta intensidade de aproximadamente 7‑8 segundos com cerca de 30 segundos de recuperação ativa (1:4 rácio esforço:recuperação), reproduziriam as ações dos defesas laterais (DL), médios centro (MC), médios ala (MA) e avançados, enquanto os defesas centrais (DC) teriam 45 segundos de recuperação de acordo com a análise do período mais intenso do jogo. Hoff e Helgerud (2004) também referem intervalos de treino de 3 a 8 minutos a 90‑95% da frequência cardíaca máxima com períodos de recuperação para a eliminação do lactato, melhorando a resistência aeróbia e a performance no jogo. Este tipo de análise é importante para conhecermos o esforço envolvido no jogo, mas acreditamos que o treino deve ser mais específico e nessa medida, em termos de investigação científica, apresentados uma síntese do estado da arte em relação aos small-sided games ou jogos reduzidos ( JR).

1.1. Jogos reduzidosOs JR são exercícios modificados jogados em espaços mais reduzidos, com regras adaptadas e que envolvem um número mais reduzido de jogadores do que o jogo de futebol (Davids, Araújo, Correia e Vilar, 2013). O JR podem integrar todos os principais aspetos do rendimento no futebol, desde os aspetos puramente fí‑sicos até comportamentos técnico‑tácticos específicos do jogo, constituindo uma forma bastante eficiente de gerir o tempo de treino. Owen, Wong, Paul e Dellal (2012) referem que os JR implicam a realização de sprints repetidos, mudanças de direção, remates, tackles e dribles, que são aspetos que exacerbam o impacto fi‑siológico nos jogadores durante a realização deste tipo de exercícios, tornando‑os simuladores daquilo que são as exigências do jogo. Owen et al. (2012) reportam melhorias em vários parâmetros do sistema aeróbio e também anaeróbio após uma intervenção que consistiu na aplicação de JR com GR+3 vs. 3+GR em jo‑gadores profissionais durante uma pausa no período competitivo. Dellal et al. (2011) compararam jogadores amadores e profissionais na realização de vários JR e concluíram que o patamar competitivo influenciou as respostas fisiológicas, técnicas e tácticas à intervenção baseada nos JR. Em todos os JR aplicados, os jogadores amadores, tiveram uma percentagem mais reduzida de passes bem‑su‑cedidos, registaram valores superiores de perceção subjetiva de esforço (PSE) e

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FUTEBOL • TREINAR PARA JOGAR

de concentração de lactato, perderam um maior número de bolas e percorreram uma distância menor em sprint e corrida de alta intensidade, o que enfatiza a ne‑cessidade de todos os aspetos condicionantes destes exercícios devem ser adequa‑dos ao patamar competitivo dos jogadores com os quais trabalhamos (por exem‑plo, espaço, regras, objetivos, entre outros). Os JR podem ser utilizados como um meio de treino eficaz para melhoria da capacidade aeróbia e performance de jogo em jogadores de futebol, porque quando comparados com treino de corrida intervalado, não foram encontradas diferenças significativas entre ambos os mé‑todos de treino (Impellizzeri et al., 2006). Dellal, Chamari, Pintus, Girard, Cotte, e Keller (2008) referem que jogos 2 vs. 2 e 8 vs. 8 com guarda‑redes induziram uma resposta da frequência cardíaca idêntica do que vários exercícios intermiten‑tes de corrida, isto é, 5‑20 segundos* a 120% VO2máx, 10–10 segundos a 110% VO2máx, 15–15 segundos a 110% VO2máx e 30–30 segundos a 100% VO2máx com recuperação ativa ou passiva. Os outros jogos, isto é, 1 vs. 1; 4 vs. 4 e 10 vs. 10 provocaram a mesma resposta da frequência cardíaca do que 15–15 segundos a 110% do VO2máx e que o protocolo 30–30 segundos a 100% VO2máx com re‑cuperação passiva. Estes dados levam a crer que estes dois formatos de JR podem ser usados de forma eficaz para desenvolver a resistência específica do jogo, com a vantagem de poderem provocar adaptações multifacetadas (técnicas, táticas, estratégicas, psicológicas, motivacionais, entre outras).*(esforço‑recuperação).

1.1.1. Intensidade

Owen, Wong, Paul e Dellal (2014) apontam para intensidades superiores a 85% da Frequência cardíaca máxima durante a maior parte do tempo em JR (4 vs. 4) quando comparados com large sided-games ou jogos mais amplos (9 vs. 9; 10 vs. 10 e 11 vs. 11). Fanchini, Azzalin, Castagna, Schena, Mccal e Im‑pellizzeri (2010) referem intensidades de 87.9 a 91.3% da frequência cardíaca máxima. Casamichana, Castellano e Castagna (2012) referem que os JR (3 vs. 3; 5 vs. 5 e 7 vs. 7) não fornecem o stress pretendido no que concerne às variáveis potenciadoras de adaptações relacionadas com habilidade de desem‑penhar sprints repetidos e atividades de alta intensidade, quando comparados com jogos amigáveis. Por exemplo, a velocidade máxima foi maior em jogos amigáveis, sendo os sprints neste formato mais frequentes, de duração superior e de distância média e máximas superiores do que nos JR. A percentagem da