prevenção sistematica da obesidade na escola

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GPEC Educação a Distância [Escolha a data] Nelson Pascarelli Filho |Curso: Gestão Educacional e Prática Pedagógica MÓDULO 2 PREVENÇÃO SISTÊMICA DA OBESIDADE NA ESCOLA

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Curso Gestão Educacional- Edição do Texto Tais Sabrine - Autor do Texto: Nelson Pascarelli

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GPEC – Educação a Distância

[Escolha a data]

Nelson Pascarelli Filho |Curso: Gestão Educacional e Prática Pedagógica

MÓDULO 2 PREVENÇÃO SISTÊMICA DA OBESIDADE NA ESCOLA

PREVENÇÃO SISTÊMICA DA OBESIDADE NA ESCOLA

Agradecimentos

Dr. Mauro Fisberg, eu tive o prazer de conhecê-lo na

Universidade São Marcos e Sociedade de Cardiologia de SP pelas

diversas orientações que obtive sobre o tema: obrigado!

Prof. Nelson Pascarelli Filho

I - INTRODUÇÃO

WALMIR FERREIRA COUTINHO

Médico, Professor de

Endocrinologia da PUC/ RJ.

Vice-Presidente da ABESO.

A obesidade é atualmente um dos mais graves problemas de

saúde pública. Sua prevalência vem crescendo acentuadamente nas

últimas décadas, inclusive nos países em desenvolvimento, o que levou a

doença à condição de epidemia global.

Estudos epidemiológicos em populações latino-americanas têm

relatado dados alarmantes. À medida que se consegue erradicar a

miséria entre as camadas mais pobres da população, a obesidade

desponta como um problema mais freqüente e mais grave que a

desnutrição.

É o fenômeno da transição nutricional, que sobrecarrega nosso

sistema de saúde com uma demanda crescente de atendimento a

doenças crônicas relacionadas com a obesidade, como o diabetes tipo 2,

a doença coronariana, a hipertensão arterial e diversos tipos de câncer. É

provável que 200.000 pessoas morram anualmente em decorrência

destas complicações na América Latina.

O tratamento da obesidade, entretanto, continua produzindo

resultados insatisfatórios, em grande parte por estratégias equivocadas e

pelo mau uso dos recursos terapêuticos disponíveis.

Além de buscarmos planos terapêuticos mais eficazes, faz-se

necessário, também, que sejam adotadas medidas de prevenção para

conter o surgimento de casos novos e evitar que a prevalência da

doença continue crescendo a despeito de todos os esforços com seu

tratamento.

II - OBESIDADE NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA

A obesidade na infância e na adolescência é o problema

nutricional que mais rapidamente cresce no mundo inteiro.

No Brasil, já temos mais crianças obesas do que desnutridas, e os

trabalhos epidemiológicos mais recentes apontam que cerca de 15% dos

jovens brasileiros estão acima do peso.

Esse quadro alerta para uma série de complicações que a

obesidade acarreta, tanto para a saúde atual da criança como quanto

fator de risco para doenças crônico-degenerativas do adulto.

Como a obesidade infantil é uma doença de difícil tratamento, a

grande arma que possuímos é a prevenção.

A escola é a melhor janela de oportunidade para prevenir essa

patologia por uma série de motivos, entre outros citamos:

A criança faz pelo menos uma refeição por dia na escola;

Nesse ambiente, é possível trabalhar, de uma forma transversal,

noções de educação alimentar;

Oportunidade (infelizmente perdida) de prática de atividade física e

esporte;

Potencial da criança de ser um agente de mudança na família;

Para modificar o estilo de vida dos alunos, o corpo docente tem que

repensar o seu próprio;

Oportunidade de ter uma cantina escolar saudável;

Projetos integrados, como uma horta.

Sentimos que várias ações isoladas, em alguns pontos do país, já

vêm sendo realizadas, mas precisamos de uma política que englobe,

coordene e direcione todas essas iniciativas, respeitando, é claro, as

características culturais de cada região desse nosso país continente.

III - OBESIDADE NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA UMA VERDADEIRA

EPIDEMIA

Cecília L. de Oliveira

Mauro Fisberg

Unifesp e Unimarco

A prevalência mundial da obesidade infantil vem apresentando um

rápido aumento nas últimas décadas, sendo caracterizada como uma

verdadeira epidemia mundial.

Este fato é bastante preocupante, pois a associação da obesidade

com alterações metabólicas, como a dislipidemia, a hipertensão e a

intolerância à glicose, considerados fatores de risco para o diabetes

melitus tipo 2 e as doenças cardiovasculares até alguns anos atrás, eram

mais evidentes em adultos; no entanto, hoje já podem ser observadas

freqüentemente na faixa etária mais jovem (1).

Além disso, alguns estudos sugerem que o tempo de duração da

obesidade está diretamente associado a morbimortalidade por doenças

cardiovasculares (2).

No Brasil, verifica-se nas últimas décadas um processo de

transição nutricional, constatando-se que entre os anos 1974/75 e 1989,

houve uma redução da prevalência da desnutrição infantil (de 19,8%

para 7,6%) e um aumento na prevalência de obesidade em adultos (de

5,7% para 9,6%) (3).

Em adolescentes, Neutzling (4), por meio da análise dos dados da

Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN-1989), encontrou uma

prevalência de 7,6% de sobrepeso.

Mais recentemente, comparando-se os dados do Estudo Nacional

da Despesa Familiar (ENDEF), realizado em 1974/75 com os dados da

Pesquisa sobre Padrões de Vida (PPV), realizada em 1996/97 somente

nas regiões Sudeste e Nordeste, verificou-se um aumento na prevalência

de sobrepeso e obesidade de 4,1% para 13,9% em crianças e

adolescentes de 6 a 18 anos (5).

Estudos realizados em algumas cidades brasileiras mostram que o

sobrepeso e a obesidade já atingem 30% ou mais das crianças e

adolescentes, como em Recife, alcançando 35% dos escolares avaliados

(6). O trabalho de Souza Leão et al. publicado neste número dos ABE&M

(7), mostrou uma prevalência de 15,8% de obesidade em 387 escolares

de Salvador, sendo que esta foi significativamente maior nas escolas

particulares (30%) em relação às públicas (8,2%).

Dados semelhantes podem ser verificados em um estudo realizado

por nossa equipe na cidade de Santos, estado de São Paulo, com toda a

população (10.821) de escolares da rede pública e privada, de 7 a 10

anos de idade, em que 15,7% e 18,0% apresentavam sobrepeso e

obesidade, respectivamente, sendo que os maiores índices apareciam em

escolares de instituições privadas (8).

Vários fatores são importantes na gênese da obesidade, como os

genéticos, os fisiológicos e os metabólicos; no entanto, os que poderiam

explicar este crescente aumento do número de indivíduos obesos

parecem estar mais relacionados às mudanças no estilo de vida e aos

hábitos alimentares (9). O aumento no consumo de alimentos ricos em

açúcares simples e gordura, com alta densidade energética, e a

diminuição da prática de exercícios físicos, são os principais fatores

relacionados ao meio ambiente.

O estudo de Oliveira et al. (10), publicado também neste número,

verificou que a obesidade infantil foi inversamente relacionada com a

prática da atividade física sistemática, com a presença de TV,

computador e videogame nas residências, além do baixo consumo de

verduras, confirmando a influência do meio ambiente sobre o

desenvolvimento do excesso de peso em nosso meio.

Outro achado importante foi o fato da criança estudar em escola

privada e ser unigênita, como os principais fatores preditivos na

determinação do ganho excessivo de peso, demonstrando a influência do

fator sócio-econômico e do micro-ambiente familiar.

O acesso mais fácil aos alimentos ricos em gorduras e açúcares

simples, assim como, aos avanços tecnológicos, como computadores e

videogames, poderia explicar de certa forma a maior prevalência da

obesidade encontrada nas escolas particulares.

Contudo, esses dados não estão de acordo com os encontrados

em países desenvolvidos, onde existe uma relação inversa entre o nível

de educação ou sócio-econômico e a obesidade.

Outro aspecto que tem se discutido sobre os fatores relacionados

à epidemia da obesidade é a contribuição do aumento das porções dos

alimentos servidas em restaurantes, bares e supermercados.

O artigo de Young & Nestle (11) apresenta a evolução dos

tamanhos das porções de alimentos oferecidas em alguns

estabelecimentos nos EUA, nas últimas décadas, e compara com as

padronizadas pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).

Os resultados mostraram que o tamanho da porção de carnes,

massas e chocolates ultrapassavam em 224, 480 e 700%,

respectivamente, o da padronizada pelo USDA.

Além disso, constatou-se que foi a partir da década de 70 que se

iniciou um aumento das porções, coincidindo com a atuação mais forte

do marketing na indústria alimentícia.

Como exemplo, o tamanho da batata-frita oferecida aos

consumidores em meados dos anos 50 representava 1/3 do maior

tamanho oferecido em 2001.

Diante do que foi discutido e dos números apresentados, percebe-

se a importância da implementação de medidas intervencionistas no

combate e prevenção a este distúrbio nutricional em indivíduos mais

jovens.

Algumas áreas merecem atenção, sendo a educação, a indústria

alimentícia e os meios de comunicação, os principais veículos de atuação.

Medidas de caráter educativo e informativo, através do currículo escolar

e dos meios de comunicação de massa, assim como, o controle da

propaganda de alimentos não saudáveis, dirigidos principalmente ao

público infantil e, a inclusão de um percentual mínimo de alimentos in

natura no programa nacional de alimentação escolar e redução de

açúcares simples são ações que devem ser praticadas.

Sobre a indústria alimentícia, devemos procurar o apoio à

produção e comercialização de alimentos saudáveis.

REFERÊNCIAS

1. Styne DM. Childhood and adolescent obesity. Prevalence and

significance. Pediat Clin North Amer 2001; 48:823-53.

2. Must A, Jacques PF, Dallal GE, Bajema CJ, Dietz WH. Longterm

morbidity and mortality of overweight adolescents: a follow-up of the

Harvard Growth Study 1922 to 1935. N Engl J Med 1992; 327:1350-5.

3. Monteiro CA, Mondini L, Medeiros SAL, Popkin BM. The nutrition

transition in Brazil. Eur J Clin Nutr 1995; 49:105-13.

4. Neutzling MB, Taddei JAAC, Rodrigues EM, Sigulem DM. Overweight

and obesity in Brazilian adolescents. Int J Obes 2000; 24:1-7.

5. Wang Y, Monteiro C, Popkin BM. Trends of obesity and underweight in

older children and adolescents in the United States, Brazil, China, and

Russia. Am J Clin Nutr 2002; 75:971-7.

6. Balaban G, Silva GAP. Prevalência de sobrepeso em crianças e

adolescentes de uma escola da rede privada de Recife. J Pediatr 2001;

77:96-100.

7. Souza Leão SC, Araújo LMB, Moraes LTLP, Assis AM. Prevalência de

obesidade em escolares de Salvador, Bahia. Arq Bras Endocrinol Metab

2003; 47/2:151-7.

8. Costa R, Fisberg M, Maxta J, Sonderbergh T. UNIFESP, Secretaria

Municipal de Santos e Universidade São Marcos (dados em publicação).

9. Rosenbaum M, Leibel RL. The physiology of body weight regulation:

relevance to the etiology of obesity in children. Pediatrics 1998; 101(3):

525-39.

10. Oliveira AMA, Cerqueira EMM, Souza JS, Oliveira AC. Sobrepeso e

obesidade infantil: Influência dos fatores biológicos e ambientais em Feira

de Santana, BA. Arq Bras Endocrinol Metab 2003; 47/2: 144-50.

11. Young LR, Nestle M. The contribution of expanding portion sizes to the

US obesity epidemic. Am J Public Health 2002; 92:246-9.

Para saber mais

Filme

Super Size Me - A Dieta do Palhaço. Diretor Morgan Spurlock . EUA. 2004

Livros

A Obesidade. Ricardo Cohen e Maria Rosária Cunha. Publifolha. Coleção

Folha Explica. 2009.

Obesidade: o Peso da Exclusão. Lúcia Marques Stenzel. Edipucrs. 2002.

Transtornos Alimentares e Obesidade. Mária Angélica Nunes. Artmed. 2006.

Esse livro reúne mais de 50 profissionais com atuação no tratamento

desses transtornos. Entre outros tópicos, os autores descrevem os

comportamentos e as emoções das pessoas na sua relação com a

alimentação, como esses transtornos se desenvolvem, seu impacto na

saúde e suas conseqüências sociais e psicológicas.

Sites

www.abeso.org.br

Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade

Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo

www.socesp.org.br