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Dossier de Prevenção (redução) de Resíduos Nível mais avançado Agência Portuguesa do Ambiente Amadora 2008

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Dossier de Prevenção (redução) de Resíduos

Nível mais avançado

Agência Portuguesa do Ambiente

Amadora 2008

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RESÍDUOS: GESTÃO E PREVENÇÃO

Resíduos: gestão e prevenção

Resíduos, são quaisquer substâncias ou objectos de que o detentor se desfaz ou tem a intenção ou obrigação de se desfazer (...) (Decreto-Lei nº 178/2006, de 5 de Setembro). De acordo com o diploma anterior, os resíduos podem ser classificados, de acordo com a sua origem, em resíduos de produção ou de consumo, resíduos urbanos, resíduos industriais, resíduos agrícolas, resíduos hospitalares e resíduos de construção e demolição e de acordo com as suas características em resíduos inertes e resíduos perigosos. A produção de resíduos é transversal a todas as actividades humanas e das mais diversas maneiras. Mais cedo ou mais tarde, todos os bens materiais colocados no mercado transformam-se em resíduos; todos os processos de produção geram resíduos; mesmo os processos de valorização de resíduos acabam por gerar resíduos. Nas últimas décadas, e em toda a Europa, a gestão de resíduos tem tido progressos consideráveis. Entende-se por gestão de resíduos, todas as operações relacionadas com a recolha, o transporte, a armazenagem, o tratamento, a valorização e a eliminação final, incluindo a monitorização e o planeamento destas operações. A gestão dos resíduos constitui parte integrante do seu ciclo de vida, sendo da responsabilidade do respectivo produtor (excepto os resíduos urbanos, quando a produção diária exceda os 1100 l por produtor, caso em que a gestão é assegurada pelos municípios) (Decreto-Lei nº 178/2006, de 5 de Setembro). O objectivo prioritário da política comunitária e nacional, em matéria de gestão de resíduos, é evitar e reduzir a produção de resíduos bem como o seu carácter nocivo, devendo a gestão de resíduos evitar também ou, pelo menos, reduzir o risco para a saúde humana e para o ambiente (Decreto-Lei nº 178/2006, de 5 de Setembro).

PRODUÇÃO DE RESÍDUOS Na Figura 1 apresenta-se a produção per capita de RSU na UE, que evidencia uma subida da capitação média de 490 kg/hab.ano em 1995 para 570 kg/hab.ano em 2005. Portugal encontra-se, ainda, um pouco abaixo destes valores, tendo a produção de RSU ao longo daquela década variado entre 390 e 470 kg/hab.ano. Este aumento de capitação de RSU foi particularmente significativo em países como a Irlanda, a Dinamarca e a Grécia, realçando-se ainda a estabilização na capitação de RSU verificada na Bélgica.

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FONTE: OCDE 06-07

Figura1. Produção per capita de RSU na Europa, em 1995 e 2005 (OCDE, 2006-07).

A este aumento de capitação, encontra-se geralmente associado, um aumento dos quantitativos de RSU gerados. Entre 1995 e 2005, a evolução encontra-se apresentada na Figura 2.

FONTE: OCDE 06-07

Figura 2. Produção de RSU na Europa, em 1995 e 2005 (OCDE, 2006-07).

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Esta tendência é preocupante, dado que associado à produção de resíduos, que pode ser um sintoma da utilização ineficiente de recursos, se verifica simultaneamente a libertação de emissões para a atmosfera, a água e o solo, bem como ruído e outros incómodos, que, no seu conjunto, contribuem para um aumento dos problemas ambientais e dos custos económicos associados à sua resolução. Em termos nacionais e como se pode visualizar na Figura 3, a produção de RSU é variável para os diferentes Sistemas de Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos1, sendo da responsabilidade destas entidades a gestão dos RSU. Destaca-se que a produção de RSU é maior nas regiões litorais, o que resulta do facto de nestas áreas haver uma maior densidade populacional, bem como uma maior concentração de actividades económicas.

Figura 3. Produção total de RSU por Sistema de Gestão, em 2004 (INR).

Entretanto, e com o rearranjo estratégico sofrido ao nível dos Sistemas de Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos, a situação evoluiu para 29 Sistemas (15 multimunicipais e 14 intermunicipais) configurados, em Dezembro de 2007, do seguinte modo:

1 Por exemplo, o sistema VALORMINHO é composto pelos concelhos de Caminha, Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Valença e Vila Nova de Cerveira.

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Figura 4 – Sistemas de RSU em Dezembro 2007

Como se pode verificar na Tabela 1, a tendência manteve-se em 2005, com Sistemas como a LIPOR (Grande Porto) e VALORSUL (Grande Lisboa) onde se verificam as maiores produções de RSU, e outros como a AMCAL com o valor mínimo registado.

1 - VALORMINHO 2 – RESULIMA 3 - BRAVAL

4 - Amave 5 - Lipor 6 - Valsousa 7 - SULDOURO

8 - RESAT

9 - Vale do Douro Norte

10 - Resíduos do Nordeste

11 - REBAT

12 - RESIDOURO

13 - VALORLIS

14 - ERSUC

15 - Ecobeirão 16 – ÁGUAS DO ZÊZERE E CÔA

17 – Raia-Pinhal 18 - RESIOESTE

19 - Ecolezíria 20 - Resitejo 21 – Amtres 22 - VALORSUL

23 - AMARSUL

24 - Gesamb 25 - Ambilital 26 - Amcal 27 - VALNOR

28 – Resialentejo 29 – ALGAR

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Tabela 1. Produção de RSU no continente em 2005 (APA, 2007) Região Sistema Produção de RSU em 2005 (t)

VALORMINHO 34.580

RESULIMA 122.610

BRAVAL 96.464

AMAVE 175.559

LIPOR 503.346

VALSOUSA 125.604

SULDOURO 175.161

RESAT 37.820

VALE DO DOURO NORTE 41.324

RESÍDUOS DO NORDESTE

54.983

REBAT 50.693

RESIDOURO 34.745

Norte

TOTAL 1.452.889

VALORLIS 115.026

ERSUC 373.897

PLANALTO BEIRÃO 124.233

A. Zêzere e Côa 73.784

RAIA PINHAL 37.106

Centro

TOTAL 724.046

RESIOESTE 195.800

ECOLEZIRIA 62.033

RESITEJO 88.833

AMTRES 467.861

VALORSUL 551.447

AMARSUL 347.722

Lisboa e Vale do Tejo

TOTAL 1.713.696

AMDE 81.221

AMAGRA 58.741

AMCAL 13.287

VALNOR 76.709

RESIALENTEJO 47.068

Alentejo

TOTAL 277.026

ALGAR 301.663 Algarve

TOTAL 301.663

TOTAL CONTINENTE 4.469.320

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Na Figura 5 apresenta-se a composição física média dos RSU em dois Sistemas de Gestão, um com características mais rurais, a AMAGRA/AMBILITAL2, e outro com características mais urbanas, a VALORSUL3.

Figura 5. Composição física média de RSU em 2004, na AMAGRA e na VALORSUL (AMBILITAL, 2004; Carvalho, 2005). Em maior quantidade surgem os resíduos orgânicos4 e o papel e cartão, sendo também elevada a percentagem de plástico e de “finos”5. A quantidade de orgânicos é superior nas zonas com características mais rurais, embora seja menor a percentagem de vidro e da categoria “outros resíduos”. É de salientar que a composição física dos resíduos varia de zona para zona, ao longo dos anos e mesmo com as estações do ano. Em termos de composição, os resíduos podem ainda conter determinadas substâncias e componentes perigosos, como sejam os metais pesados. A sua presença está relacionada com a utilização destas substâncias no fabrico de uma grande variedade de produtos. O chumbo, o mercúrio, o cádmio e o crómio têm sido largamente estudados, estando disponível bastante informação sobre os seus potenciais efeitos no homem e no ambiente, como é apresentado, resumidamente, na Tabela 1.

2 AMAGRA/AMBILITAL engloba os concelhos de Alcácer do Sal, Aljustrel, Ferreira do Alentejo, Grândola, Odemira, Santiago do

Cacém e Sines. 3 VALORSUL engloba os concelhos de Amadora, Lisboa, Loures, Odivelas e Vila Franca de Xira. 4 Orgânicos são constituídos pelos resíduos alimentares (como restos de preparação das refeições) e os resíduos de jardim. 5 Finos - englobam todos os resíduos com um diâmetro inferior a 20 mm.

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Tabela 2. Chumbo, mercúrio, cádmio e crómio: principais fontes e efeitos no homem

e no ambiente.

Metal pesado Utilização Efeitos no homem e no ambiente

Chumbo

A principal aplicação é o fabrico de baterias eléctricas para veículos automóveis. Mas

também é um dos metais mais utilizados na indústria, estando igualmente presente em soldas

e ligas (e.g. para cabos eléctricos).

Em relação à saúde, o chumbo não é bioacumulativo, embora seja um

possível agente carcinogénico para o homem. No entanto, os principais

efeitos resultantes da exposição crónica são ao nível do sistema nervoso. As

crianças são particularmente sensíveis aos efeitos neurotóxicos do chumbo,

que se traduzem, entre outros efeitos, na diminuição da aprendizagem e do

crescimento. Em termos ambientais, é tóxico para os animais, sendo

geralmente os seus efeitos restritos às áreas contaminadas.

Mercúrio

Como fontes importantes podem ser referidas as

amálgamas dentárias, os dispositivos de medida e

controlo, como os termómetros, mas também os acumuladores e as lâmpadas fluorescentes e de descarga.

O mercúrio e os compostos derivados são muito tóxicos, sendo igualmente

bioacumulativo e volátil. Para o homem a exposição pode ser por inalação,

embora a via preferencial seja através da cadeia alimentar, essencialmente pelo consumo de peixe e de produtos relacionados. O mercúrio afecta, além de outros órgãos, o sistema nervoso

central, estando documentado que, tal como o chumbo, pode ser transmitido ao feto através da placenta, causando

efeitos persistentes no desenvolvimento mental da criança.

Cádmio

É utilizado em pilhas e acumuladores. Mas está

também presente em muitos produtos, como pigmento e estabilizador em plásticos ou em ligas usadas em trabalhos

de soldadura, joalharia, etc. Na indústria electrónica, usa-se, por exemplo, em ecrãs de

televisão e células fotovoltaicas.

O cádmio é um dos metais mais tóxicos, sendo, comparativamente com outros metais, mais solúvel em água, mais

móvel (e.g. no solo) e, também, mais biodisponível e bioacumulável. É

principalmente absorvido através da cadeia alimentar, pelos vegetais e

grãos. Acumula-se no corpo humano, em especial nos rins, causando diversos problemas renais. Quando a exposição é

por inalação está associada ao aparecimento de cancro do pulmão. No

ambiente é tóxico para os animais e para os microrganismos, diminuindo a

capacidade de decomposição.

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Crómio

É utilizado em aplicações como curtimento de peles,

preservação de madeira, fabrico de corantes e de pigmentos aplicados em

pinturas contra a corrosão dos metais.

A toxicidade dos vários compostos de crómio (Cr) varia com a sua

solubilidade. Em geral, os compostos hexavalentes (Cr VI) são mais solúveis e

por tal tóxicos, tanto para o homem como para o ambiente. Estes compostos têm uma acção irritante e corrosiva no corpo humano. A exposição prolongada

a poeiras ricas em compostos hexavalentes pode ter um efeito

cancerígeno.

FONTE: EC, 2002; Nautilus, 2006; Tavares, 2004.

A presença de metais pesados nos resíduos tem induzido a preocupações crescentes na Europa. A estratégia seguida assenta, tanto numa diminuição da exposição actual e futura aos metais pesados presentes nos resíduos, como na respectiva redução nos produtos comercializados. Com este objectivo tem sido publicada diversa legislação, nomeadamente referente ao tratamento de resíduos contendo metais pesados e a restrições na composição de diversos produtos, como, por exemplo, nos equipamentos eléctricos e electrónicos, nas pilhas e acumuladores, nos termómetros de mercúrio e nos veículos em fim de vida. GESTÃO DE RESÍDUOS E ESTRATÉGIAS A actual política de resíduos da União Europeia baseia-se na aplicação da designada “hierarquia de gestão de resíduos”. Isso significa que, preferencialmente, se deve optar pela prevenção e que os resíduos cuja produção não pode ser evitada sejam, preferencialmente, reutilizados, reciclados ou valorizados sempre que possível, sendo a sua eliminação em aterro reduzida ao mínimo indispensável. A eliminação é considerada a pior opção para o ambiente, dado implicar uma perda de recursos e poder transformar-se numa responsabilidade ambiental futura (CCE, 2005). Na Figura 6 é apresentado o destino dos RSU nalguns Estados-membros, verificando-se grandes discrepâncias entre eles. Assim, coexistem no espaço europeu Estados-membros, como a Polónia, Hungria ou a Eslováquia, que reciclam menos (80-90% de deposição em aterro) e os que valorizam mais, como a Áustria, Alemanha e Países Baixos (entre 70-75% de valorização para os quais a reciclagem, incluindo a compostagem, contribui entre 40 a 60%).

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(FONTE: OCDE 06-07)

Figura 6. Gestão dos RSU nalguns Estados-membros O Sexto Programa Comunitário de Acção em Matéria de Ambiente, para o período entre 2002 e 2012, vem reafirmar a “hierarquia de princípios de gestão de resíduos”. Dos quatro domínios de acção prioritários, destaca-se o relativo ao Uso Sustentável dos Recursos Naturais e à Prevenção e Reciclagem dos Resíduos. Este domínio de acção tem como objectivo garantir uma maior eficiência na utilização dos recursos e uma melhor gestão de recursos e resíduos, a fim de induzir padrões de produção e de consumo mais sustentáveis, visando assegurar que o consumo de recursos renováveis e não renováveis não ultrapasse a capacidade de carga do ambiente (Decisão nº 1600/2002/CE, de 22 de Julho). Para atingir estes objectivos, duas das sete estratégias temáticas do Sexto Programa de Acção em Matéria do Ambiente enquadram-se neste domínio de acção prioritário, a Estratégia Temática sobre o Uso Sustentável dos Recursos Naturais e a Estratégia Temática de Prevenção e Reciclagem de Resíduos. Além destes instrumentos de planeamento, devem também ser tidas em consideração a Política Integrada de Produtos6 e a Estratégia Comunitária para a Gestão de Resíduos7. Ao nível da UE, o quadro jurídico inerente à gestão de resíduos engloba legislação horizontal sobre resíduos, como sejam a Directiva-Quadro “Resíduos”8, a Directiva “Resíduos Perigosos”9

6 Livro Verde, de 7 de Fevereiro de 2001, sobre a política integrada relativa aos produtos (apresentado pela Comissão) (COM(2001) 68 final - Não publicado no Jornal Oficial). 7 Resolução do Conselho, de 24 de Fevereiro de 1997, relativa a uma estratégia comunitária de gestão de resíduos (JO C 76 de 11.3.1997, p.1). 8 Directiva nº 2006/12/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 5 de Abril de 2006 (revisão aprovada por co-decisão em

Junho 2008). 9 Directiva nº 91/689/CEE do Conselho, de 12 de Dezembro de 1991 (em alteração).

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e o Regulamento sobre “Transferências de Resíduos”10. Estes diplomas são complementados por legislação mais pormenorizada referente a operações de tratamento e eliminação de resíduos, como as Directivas “Aterros”11 e “Incineração”12, e a legislação que regulamenta a gestão de fluxos especiais de resíduos, algumas com objectivos de reciclagem e valorização definidos, como se verifica, nomeadamente para os resíduos de embalagens e para os veículos em fim de vida. Informação pormenorizada sobre estes fluxos especiais de resíduos pode ser consultada em:

� Embalagens e resíduos de embalagens � Óleos lubrificantes usados � Pilhas e acumuladores � Pneus usados � Veículos em fim de vida � Resíduos de equipamentos eléctricos e electrónicos

disponíveis no portal da APA: http://www.apambiente.pt/politicasambiente/Residuos/dossiers/

A legislação europeia foi transposta para o direito interno, sendo as regras gerais a que está sujeita a gestão de resíduos em território nacional estabelecidas pelo Decreto-Lei nº 178/2006, de 5 de Setembro. Este diploma tem como objectivo contribuir para a prevenção e redução da produção ou nocividade dos resíduos, nomeadamente através da reutilização e da alteração dos processos produtivos, por via da adopção de tecnologias mais limpas, bem como da sensibilização dos agentes económicos e dos consumidores. No âmbito do Decreto-Lei anterior, também denominado Lei-Quadro de Resíduos, encontra-se prevista a elaboração dos seguintes planos de gestão de resíduos:

� Plano Nacional de Gestão de Resíduos (em elaboração), estabelece as orientações estratégicas de âmbito nacional da política de gestão de resíduos e as regras orientadoras da disciplina a definir pelos planos específicos de gestão de resíduos, no sentido de garantir os princípios gerais da gestão de resíduos, bem como a constituição de uma rede integrada e adequada de instalações de valorização e eliminação de todo o tipo de resíduos, tendo em conta as melhores tecnologias disponíveis com custos economicamente sustentáveis;

� Planos específicos de gestão de resíduos, que concretizam o plano nacional de

gestão de resíduos em cada área específica de actividade geradora de resíduos, estabelecendo as respectivas prioridades a observar, metas a atingir e acções a implementar e as regras orientadoras da disciplina a definir pelos planos multimunicipais, intermunicipais e municipais de acção. Fazem parte deste grupo de Planos:

o PERSU II- Plano Estratégico de Resíduos Sólidos Urbanos; o PESGRI’01 - Plano Estratégico de Gestão de Resíduos Industriais; o PERH - Plano Estratégico de Resíduos Hospitalares (em revisão); o PERAGRI - Plano Estratégico de Resíduos Agrícolas (em elaboração);

10 Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho nº 1013/2006, de 14 de Junho de 2006. 11 Directiva nº 1999/31/CE do Conselho, de 26 de Abril de 1999. 12 Directiva nº 2000/76/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 4 de Dezembro de 2000.

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� Planos multimunicipais, intermunicipais e municipais de acção, estes planos

definem a estratégia de gestão de resíduos urbanos e as acções a desenvolver pela entidade responsável pela respectiva elaboração quanto à gestão deste tipo de resíduos, em articulação com o plano nacional e o plano específico de gestão de resíduos urbanos. Os planos multimunicipais e intermunicipais são elaborados pelas entidades gestoras dos respectivos sistemas de gestão. Por sua vez, a elaboração dos planos municipais de acção pelos municípios é facultativa.

Para além dos planos mencionados, foi ainda elaborado no contexto do PESGRI, o Plano Nacional de Prevenção de Resíduos Industriais – PNAPRI que constitui parte integrante da gestão prioritária dos resíduos industriais a médio/longo prazo, integrando para além do Plano propriamente dito, um conjunto de 21 Guias Técnicos Sectoriais dando desta forma prioridade à componente prevenção, em consonância com a hierarquia de gestão de resíduos reiterada no 6º Programa de Acção em matéria de Ambiente. O PNAPRI contribuiu para a redução da perigosidade e quantidade de resíduos industriais, não só pela aplicação de medidas e tecnologias de prevenção aos processos produtivos mas, também, através da mudança da atitude e do comportamento dos agentes económicos e dos próprios consumidores. Visando a implementação do PNAPRI, foi desenvolvido entre 2005 e 2007, o PRERESI – Prevenção de Resíduos Industriais que previu, para 7 sectores económicos seleccionados pela sua importância e potencial de prevenção, a realização das seguintes acções: 1. Divulgação de Informação, 2. Formação, 3. Demonstração, 4. Fomentação da Cooperação e 5. Gestão, Coordenação e Avaliação. A Estratégia Nacional para a Redução de Resíduos Urbanos Biodegradáveis destinados a Aterros surge no âmbito da Directiva “aterros”, transposta pelo Decreto-Lei n.º 152/2002, de 23 de Maio, e tem como objectivo levar ao cumprimento das metas estabelecidas na referida directiva, através da diminuição da deposição dos resíduos urbanos biodegradáveis em aterro. PREVENÇÃO DE RESÍDUOS Tanto a nível nacional, como europeu, a prevenção de resíduos tem sido o objectivo primordial em matéria de gestão de resíduos. Contudo, os progressos são limitados na transposição deste objectivo para acções práticas, o que está relacionado com o potencial para a prevenção de resíduos depender de uma série de factores, como, por exemplo, do crescimento económico e da adopção pelos operadores económicos das melhores práticas para a redução dos resíduos. A prevenção só pode ser conseguida influenciando decisões práticas tomadas em várias fases do ciclo de vida dum produto, nomeadamente o modo como o produto é concebido, fabricado, disponibilizado ao consumidor e finalmente utilizado. A produção de RSU é também afectada pelo comportamento dos consumidores, relacionado com a estrutura social, o rendimento individual e a riqueza da sociedade (CCE, 2005). A nível europeu, foram adoptadas em 2005 as duas estratégias, anteriormente referidas, a Estratégia Temática de Prevenção e Reciclagem de Resíduos e a Estratégia Temática sobre o

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Uso Sustentável dos Recursos Naturais, que em conjugação com outras importantes ferramentas como a Política Integrada de Produto, nomeadamente através da atribuição de Rótulo Ecológico13, e a Directiva “Prevenção e Controlo Integrados da Poluição”14, através dos documentos de referência das melhores técnicas disponíveis (BREF), dão um importante enquadramento para a prevenção de resíduos. Na Tabela 2 é apresentada uma breve síntese destas políticas e estratégias. Tabela 2. Síntese das políticas e estratégias relacionadas com a prevenção de resíduos. Designação Descrição Para mais informação

Estratégia Temática

de Prevenção e Reciclagem de Resíduos

É uma das sete estratégias temáticas mencionadas no Sexto Programa de Acção em Matéria do Ambiente. Pretende contribuir para que a UE, a longo prazo, se torne uma sociedade da reciclagem, que procure evitar a produção de resíduos e que utilize os resíduos como um recurso. Torna-se para isso necessário uma combinação de medidas de promoção da prevenção, reciclagem e reutilização dos resíduos, de modo que seja possível uma redução optimizada do impacte acumulado ao longo do ciclo de vida dos recursos, incluindo uma ênfase renovada na plena implementação da legislação em vigor, tal como na sua simplificação e renovação, além da introdução do conceito de ciclo de vida na política de resíduos.

Página UE: http://ec.europa.eu/environment/waste/strategy.htm

Estratégia Temática sobre o Uso Sustentável

dos Recursos Naturais

É uma das sete estratégias temáticas mencionadas no Sexto Programa de Acção em Matéria do Ambiente. Tem como objectivo estabelecer um quadro e adoptar medidas que permitam utilizar os recursos naturais de forma sustentável sem continuar a degradar o ambiente. Assenta nos próprios recursos, na influência das actividades humanas e nas acções já desencadeadas. Abrange o conjunto do ciclo de vida dos recursos naturais, desde a sua extracção até à sua eliminação final sob a forma de resíduos.

Página UE: http://ec.europa.eu/environment/natres/index.htm

Política Integrada

dos Produtos

Trata-se de uma estratégia de reforço e de reorientação das políticas ambientais em matéria de produtos, com vista a fomentar o desenvolvimento de um mercado favorável à comercialização de produtos mais ecológicos e, por fim, a promover um debate público sobre este tema. Pretende uma melhoria contínua da perfomance ambiental dos produtos e serviços, no contexto do ciclo de vida. É uma forma de encorajar o desenvolvimento de produtos e serviços ecologicamente mais sustentados e de reduzir os impactes negativos no ambiente.

Página UE: http://ec.europa.eu/environment/ipp/home.htm Página da Agência Portuguesa do Ambiente: http://www.apambiente.pt/INSTRUMENTOS/PIP/Paginas/default.aspx

13 Regulamento (CE) nº 1980/2000, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de Julho de 2000. 14 Directiva nº 96/61/CE do Conselho, de 24 de Setembro de 1996, relativa à Prevenção e Controlo Integrado da Poluição,

transposta pelo Decreto-Lei nº 194/2000, de 21 de Agosto.

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Directiva “Prevenção e Controlo Integrados

da Poluição”

A União Europeia definiu através da Directiva nº 96/61/CE, do Conselho, de 24 de Setembro, as obrigações a cumprir pelas actividades industriais e agrícolas de forte potencial poluente. Para tal, estabeleceu um procedimento de licenciamento dessas actividades e definiu exigências mínimas a incluir em todas as licenças, nomeadamente em termos de emissões de substâncias poluentes. O objectivo é evitar ou reduzir as emissões poluentes para a atmosfera, a água e o solo, bem como os resíduos provenientes das instalações industriais e agrícolas, de modo a alcançar um nível elevado de protecção do ambiente. Em Portugal esta temática é acompanhada pela Agência Portuguesa do Ambiente.

Página da UE: http://eur-lex.europa.eu/pt/legis/index.htm Página da Agência Portuguesa do Ambiente: http://www.apambiente.pt/Instrumentos/LicenciamentoAmbiental/Paginas/default.aspx

Rótulo Ecológico

O sistema comunitário de rótulo ecológico foi criado pelo Regulamento (CEE) n.º 880/92, de 23 de Março e posteriormente revisto e substituído pelo Regulamento (CEE) n.º 1980/2000, de 17 de Julho. Pretende promover os produtos que podem reduzir os impactes negativos no ambiente comparativamente a outros produtos da mesma categoria, além de prestar informações e orientações correctas aos consumidores, assentes numa base científica sobre os produtos.

Página UE: http://ec.europa.eu/environment/ecolabel/index_en.htm Página da Agência Portuguesa do Ambiente: http://www.apambiente.pt/Instrumentos/PIP/rotulagemambiental/reue/Paginas/default.aspx

Complementarmente, e ao nível do processo de revisão da Directiva-quadro sobre resíduos (cuja aprovação data de Junho de 2008), os Estados-membros ficam obrigados a elaborar Programas de Prevenção de resíduos que poderão constituir instrumentos de planeamento independentes ou fazer parte de Planos de Gestão de resíduos. Complementarmente, a Comissão Europeia, terá que até 2011 apresentar relatórios (que poderão incluir propostas) que integrem, nomeadamente os resultados de uma consulta pública aos operadores económicos e dos trabalhos em curso sobre ecodesign e eco-consumo, objectivos de prevenção de resíduos mensuráveis e um plano de acção que apoie os Estados-membros numa necessária mudança de padrões de consumo, e até 2014 que estipular objectivos de prevenção para 2020 e, se necessário, que rever indicadores que monitorizem as medidas preventivas adoptadas pelos Estados-membros. A especificidade de cada tipo de resíduos, e de cada fluxo em particular, confere-lhe características próprias que não são ajustáveis a uma meta única de prevenção mas sim a metas diferenciadas. Para além disso, e por força da variada panóplia de legislação sobre resíduos em vigor no espaço comunitário, os horizontes temporais dos objectivos e medidas a que os Estados-membros se encontram vinculados não são coincidentes e o desenvolvimento científico e tecnológico associado, encontra-se em diferentes estádios de evolução muitas vezes dependentes da premência dos operadores económicos em dar resposta atempada aos requisitos exigidos, tendo que estar cientes para a realidade de que haverá sempre certas utilizações para as quais ainda não é possível arranjar substitutos que provoquem menor impacte no ambiente e na saúde humana.

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Dossier de Prevenção (redução) de Resíduos Nível mais avançado

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Embora acções concretas ao nível do consumidor e informação pormenorizada relativa aos vários fluxos de resíduos sejam apresentadas nos temas seguintes, a este Tema irá ser feita uma Adenda contendo uma súmula das iniciativas realizadas e a realizar pelas Entidades Gestoras de Fluxos Específicos de resíduos, no âmbito da Prevenção:

� Embalagens - Sociedade Ponto Verde � Pilhas e acumuladores - Ecopilhas � Veículos - Valorcar � Óleos minerais - Sogilub � Pneus - Valorpneu � Equipamentos eléctricos e electrónicos – Amb3E e ERP Portugal.

REFERÊNCIAS

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