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PREVENÇÃO E CONTROLE DA NOCIVIDADE DOS RISCOS QUÍMICOS PARA PROMOVER A SAÚDE NOS AMBIENTES DE TRABALHO Maria Bernadete Fernandes Vieira de Melo (UFPB ) [email protected] Diogo Sergio Cesar de Vasconcelos (UFPB ) [email protected] Maria do Socorro Marcia Lopes Souto (UFPB ) [email protected] Riscos Químicos são substâncias que podem modificar a composição química do ambiente de trabalho, e, devido à sua nocividade, são capazes de produzir danos à saúde dos trabalhadores, quando superados os limites de tolerância fixados pela legislação. Através de um estudo de caso realizado numa empresa de grande porte do setor alimentício comprova-se que a correta aplicação de medidas de prevenção e controle dessa nocividade é uma ferramenta capaz de promover a saúde ocupacional. Por fim, discutem- se as medidas de controle desses riscos adotadas pela empresa, bem como o mau entendimento dos indicadores propostos por normas internacionais como forma de garantir a saúde ocupacional nas empresas. Palavras-chaves: Nocividade dos Riscos Químicos, Prevenção e controle, Saúde Ocupacional. XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

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PREVENÇÃO E CONTROLE DA NOCIVIDADE

DOS RISCOS QUÍMICOS PARA PROMOVER A

SAÚDE NOS AMBIENTES DE TRABALHO

Maria Bernadete Fernandes Vieira de Melo (UFPB )

[email protected]

Diogo Sergio Cesar de Vasconcelos (UFPB )

[email protected]

Maria do Socorro Marcia Lopes Souto (UFPB )

[email protected]

Riscos Químicos são substâncias que podem modificar a composição

química do ambiente de trabalho, e, devido à sua nocividade, são capazes de

produzir danos à saúde dos trabalhadores, quando superados os limites de

tolerância fixados pela legislação. Através de um estudo de caso realizado

numa empresa de grande porte do setor alimentício comprova-se que a

correta aplicação de medidas de prevenção e controle dessa nocividade é

uma ferramenta capaz de promover a saúde ocupacional. Por fim, discutem-

se as medidas de controle desses riscos adotadas pela empresa, bem como o

mau entendimento dos indicadores propostos por normas internacionais

como forma de garantir a saúde ocupacional nas empresas.

Palavras-chaves: Nocividade dos Riscos Químicos, Prevenção e controle,

Saúde Ocupacional.

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Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10

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1. Introdução

Os Riscos Químicos são substâncias, compostos ou produtos que têm a capacidade de

modificar a composição química do meio ambiente de trabalho e podem ser absorvidos pelo

organismo do trabalhador por ingestão, inalação ou contato direto, sendo mais comuns as

formas de absorção cutânea e respiratória. O organismo do trabalhador elimina rapidamente

parte desses riscos, porém outros podem se concentrar em determinados órgãos ou tecidos,

causando desde tonturas até câncer ou mutações genéticas.

A exposição aos ambientes laborais insalubres torna o trabalhador vulnerável ao

desenvolvimento de doença que o incapacitará para o trabalho, afastando-o para tratamento.

Na volta ao trabalho, após o tratamento, persistindo as mesmas condições insalubres

provavelmente esse trabalhador voltará a ficar doente e assim sucessivamente até que fique

totalmente incapacitado para o trabalho. Percebe-se que proporcionar apenas o tratamento da

doença significa agir na consequência e não na causa fundamental que é a contaminação do

ambiente de trabalho e exposição ao risco.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) considera que, quase 2 em cada 3

trabalhadores no mundo inteiro estão expostos à substâncias químicas, estimando-se que 1,5 a

2 bilhões de pessoas são afetadas. Estes números são indicadores de que as questões de

segurança e saúde ocupacional estão relacionadas com saúde pública.

Nesse contexto, esse artigo aborda os riscos químicos e respectivos limites de tolerância

estipulados pela legislação, tanto brasileira como internacional e utiliza os resultados de uma

pesquisa numa empresa de grande porte do setor alimentício situada em João Pessoa/PB, que

analisou as medidas adotadas para prevenção e controle dos riscos químicos nessa empresa,

para apresentar como discussão a decisão da empresa em agir prioritariamente no trabalhador,

através do uso do EPI, embora o ambiente permaneça insalubre.

Cuidar do meio ambiente de trabalho de uma empresa fazendo o reconhecimento dos agentes

nocivos presentes, a avaliação dessa nocividade para a saúde dos trabalhadores e a

implantação de medidas preventivas e de controle, é proporcionar aos funcionários um

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ambiente laboral qualificado e sadio para a realização de suas tarefas, com mais motivação e

qualidade de vida.

2. Gestão de Riscos Químicos

Dada a complexidade da gestão de riscos químicos, considera-se importante para nortear sua

análise e posterior controle, a adoção de uma abordagem sistêmica e integrada.

A ABHO - Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais (2012) define Higiene

ocupacional como “a ciência e a arte dedicada ao estudo e ao gerenciamento das exposições

ocupacionais aos agentes físicos, químicos e biológicos, por meio de ações de antecipação,

reconhecimento, avaliação e controle das condições e locais de trabalho, visando à

preservação da saúde e bem estar dos trabalhadores, considerando ainda o meio ambiente e a

comunidade.” Dessa forma, por definição, a higiene ocupacional, atua na gestão de riscos

ocupacionais utilizando, de forma integrada, as etapas metodológicas: antecipação,

reconhecimento, avaliação e controle.

A etapa de Antecipação envolve a análise de novos projetos, instalações, produtos, métodos

ou processos de trabalho ou de modificação das já existentes, cujo objetivo é a identificação

dos riscos potenciais e a introdução das medidas de controle necessárias, antecipando-se a

exposição ao risco ambiental.

O Reconhecimento é da maior importância, pois se um agente tóxico não for reconhecido, não

será avaliado nem controlado (BREVIGLIERO et al., 2006). Esta etapa baseia-se no

reconhecimento dos agentes ambientais que afetam a saúde dos trabalhadores, o que implica o

conhecimento profundo dos produtos envolvidos no processo, métodos de trabalho, fluxo do

processo, layout das instalações, número de trabalhadores expostos, etc. (SALIBA;

CORREIA, 2000; SALIBA et al., 2002).

A Avaliação é uma etapa imprescindível que se compara a uma ferramenta de prevenção de

doenças do trabalho. Trata-se de realizar a avaliação quantitativa e/ou qualitativa dos agentes

físicos, químicos e biológicos existentes nos postos de trabalho. Exigem-se conhecimentos de

avaliação, baseados na calibração dos equipamentos, tempo de coleta, tipo de análise química

a ser feita, etc. (SALIBA; CORREIA, 2000; SALIBA et al., 2002). A não realização dessa

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etapa ou sua realização de maneira inadequada, certamente resultará no adoecimento dos

trabalhadores.

O controle desses agentes deve ser feito preferencialmente através de medidas de engenharia,

protegendo o ambiente de trabalho. De modo geral para todos os agentes, as medidas de

controle devem ser adotadas, priorizando a sua eficiência, isto é, em primeiro lugar as que se

referem à fonte, seguidas das que se referem ao percurso e finalmente as relativas aos

trabalhadores (BREVIGLIERO et al., 2006). O objetivo desta etapa é adotar medidas que

visem à eliminação ou minimização do risco presente no ambiente. (SALIBA; CORREIA,

2000; SALIBA et al., 2002).

De acordo com Brevigliero et al. (2006), o estudo, desenvolvimento e implementação das

medidas coletivas deverão obedecer à seguinte hierarquia (Figura 1):

Medidas que eliminem ou reduzam a utilização ou formação dos agentes ambientais

prejudiciais à saúde (controle na fonte): substituição de produtos químicos; modificação de

métodos e processos de trabalho; modificação de projetos; manutenção de equipamentos;

etc.;

Medidas que previnam a liberação ou disseminação desses agentes no ambiente de trabalho

(controle na trajetória): criação de sistemas de ventilação/exaustão; enclausuramento de

máquinas e substâncias; etc.;

Medidas que reduzam os níveis de concentração desses agentes no ambiente de trabalho

(controle no receptor): utilização de equipamentos de proteção individual; realização de

treinamentos periódicos sobre segurança no desenvolvimento das atividades; realização de

exames médicos periódicos para detectar precocemente doenças profissionais.

Figura 1 – Prioridade das medidas de controle

Fonte: Adaptado de BREVIGLIERO et al., 2006

3. Materiais e métodos

A investigação realizada para alcançar o objetivo do presente estudo se apresenta em duas

etapas: a pesquisa bibliográfica, tendo por base a literatura existente sobre o tema e normas

brasileiras e internacionais de segurança e saúde ocupacional, e estudo de caso em uma

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empresa do setor alimentício.

O estudo de caso foi realizado utilizando como instrumentos uma pesquisa em documentos,

referentes aos anos de 2009 a 2013, relacionados à segurança e saúde ocupacional (Programa

de Prevenção de Riscos Ambientais-PPRA; Programa de Controle Médico e Saúde

Ocupacional-PCMSO; Programa de Proteção Respiratória-PPR; Relatórios de análises

químicas; Ordens de Serviço; e Mapas de Risco) e um roteiro de observação do processo

produtivo.

A pesquisa documental buscou identificar os agentes químicos presentes no processo

produtivo, bem como verificar o tipo de amostragem realizada, as metodologias de análise e

as concentrações desses agentes no ambiente de trabalho. E com base nesta identificação e

verificação, foi determinado o posto de trabalho crítico da empresa em relação a presença dos

agentes químicos.

Após a determinação do posto de trabalho crítico, foram realizadas visitas às instalações

fabris com o objetivo de estudar o processo produtivo, bem como verificar in loco a gestão de

riscos químicos da empresa estudada. Após essa análise procedeu-se a comparação com as

informações constantes nos documentos investigados anteriormente.

Nas visitas utilizou-se um roteiro de observação com vistas à identificação e definição do

posto de trabalho e das tarefas e operações a serem executadas; determinação dos métodos de

trabalho; descrição do local de trabalho; obtenção de dados referentes ao ser humano, às

ações, às condições ambientais e às condições organizacionais.

Durante a pesquisa de campo, foram também realizadas entrevistas semi-estruturadas, com os

trabalhadores envolvidos no posto objeto de estudo desta investigação, bem como com os

gerentes da área.

A entrevista com os trabalhadores teve o objetivo de obter informações acerca dos impactos

dos produtos químicos sobre sua saúde e confirmar as informações obtidas durante a

aplicação do roteiro de observação. Já a entrevista com a gerência do posto de trabalho

escolhido teve o intuito de verificar os aspectos políticos, administrativos e organizacionais

adotados pela empresa em relação ao tema segurança e saúde ocupacional, e compará-los com

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as práticas apresentadas nos documentos analisados.

Posteriormente, e de acordo com os dados obtidos nas fases anteriores, verificou-se a

existência de medidas de controle que visem à eliminação ou minimização dos riscos

presentes no ambiente de trabalho.

Por fim foi feita uma comparação entre as etapas presentes na definição de Higiene

Ocupacional da ABHO (antecipação, reconhecimento avaliação e controle) e a gestão de

riscos químicos existente na empresa objeto de estudo deste trabalho. O objetivo desta

comparação foi propor medidas complementares àquelas já adotadas pela empresa, como

forma de melhorar a gestão de riscos químicos, bem como de proteger a saúde e a integridade

física dos trabalhadores.

4. Resultados e discussão

4.1 O ambiente de trabalho pesquisado

Seguindo recomendação da American Industrial Hygiene Association – AIHA, a empresa

realiza avaliações químicas quantitativas daqueles agentes químicos manipulados

frequentemente e cuja natureza constitui incômodo ou risco à saúde ou integridade física do

trabalhador. Em 2013 foram realizadas num total de nove avaliações químicas quantitativas,

sendo uma varredura de metais, uma varredura de solventes, três de bicarbonato de amônia,

duas de poeira respirável e duas de poeira total.

De todas as avaliações químicas quantitativas realizadas, duas de bicarbonato de amônia

tiveram seus valores de concentração (69,8 ppm e 136,7 ppm) acima do limite de tolerância

estabelecido pela NR-15 (20 ppm) e pela ACGIH (35 ppm STEL e 25 ppm TWA).

Por este motivo, para esta pesquisa, escolheu-se estudar os impactos deste produto químico

nos postos de trabalho onde os valores de concentração obtidos estiveram acima dos limites

de tolerância estabelecidos pela legislação nacional e internacional.

Foram então escolhidos os postos de trabalho denominados de “mistura de matérias primas” e

“masseira”, onde os valores de concentração do bicarbonato de amônia estão acima dos

limites de tolerância.

4.2 Resultados e Discussão

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A seguir procede-se com a comparação entre as etapas presentes na definição de Higiene

Ocupacional da ABHO e a gestão de riscos químicos existente na empresa objeto de estudo

deste trabalho. O objetivo desta comparação é propor medidas de controle aos riscos

químicos, complementares àquelas já adotadas pela empresa, como forma de melhorar a

gestão de riscos químicos, bem como de proteger a saúde e a integridade física dos

trabalhadores.

Os resultados obtidos são apresentados e discutidos, e paralelamente comparados às quatro

etapas apresentadas anteriormente.

4.2.1 Antecipação aos riscos

Esta etapa inicia-se com o processo de antecipação aos riscos químicos. Como a empresa em

questão não possui atualmente projetos de novas instalações, processos de trabalho ou

produtos, não se pode atualmente analisar ou discutir esta primeira fase da etapa.

4.2.2 Reconhecimento dos riscos

Na empresa em questão a primeira etapa inicia-se com o processo de reconhecimento dos

agentes químicos através de programas de prevenção exigidos pela legislação brasileira.

Conforme dito anteriormente, após a pesquisa bibliográfica, procedeu-se a uma pesquisa

documental com o intuito de conhecer a metodologia de gestão de riscos químicos da empresa

em estudo. Entre os documentos analisados estão o Programa de Prevenção de Riscos

Ambientais (PPRA), o Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional (PCMSO), o

Programa de Proteção Respiratória (PPR), entre outros apresentados a seguir.

O Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) é um conjunto de ações visando à

preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, através da antecipação,

reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais

existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção

do meio ambiente e dos recursos naturais (PUGAS et al., 2001).

O PPRA foi estabelecido pela Secretaria de Segurança e Saúde do Trabalho, do Ministério do

Trabalho, por meio da Norma Regulamentadora NR 9, Portaria 3214/78, com objetivo de

definir uma metodologia de ação para garantir a preservação da saúde e integridade dos

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trabalhadores face aos riscos existentes nos ambientes de trabalho.

Analisando o PPRA da empresa, pode-se perceber que devido ao setor de atuação, ao mix de

produtos e a complexidade dos processos produtivos, a empresa em questão possui em suas

linhas de produção uma grande quantidade de produtos químicos, nem todos manipulados

permanentemente.

Esta grande utilização de produtos químicos pode também ser comprovada através da análise

dos mapas de risco da empresa. De acordo com Santos et al. (2004), mapa de risco é uma

representação gráfica de um conjunto de fatores presentes nos locais de trabalho (sobre a

planta baixa da empresa, podendo ser completo ou setorial), capazes de acarretar prejuízos à

saúde dos trabalhadores ou acidentes de trabalho.

O Bicarbonato de Amônia (Carbonato Hidrogênio Amônia, Carbonato Ácido de Amônia,

ácido carbônico ou sal de monoamônio), cuja fórmula química é CH5NO3, é utilizado nos

postos de trabalho “mistura de matérias primas” (136,7 ppm) e “masseira” (69,8 ppm).

Na empresa ele é utilizado em forma de pó como fermento químico, com o objetivo de

aumentar a massa dos produtos durante a mistura dos insumos e também de garantir uma

maior crocância ao produto final. Por ser volátil, seu forte aroma desaparece quando aquecido

(no forno), sem deixar sabor ou aroma no produto final. Suas propriedades físico-químicas

podem ser observadas no Quadro 1 a seguir.

Quadro 1 – Propriedades físico-químicas do bicarbonato de amônia

Estado físico: Pó branco cristalino sólido Aspecto: Cristais

Cor: Branco Odor: Amoniacal

pH: 7,8 (solução 0.1 N a 25ºC) Temperaturas específicas ou faixas de temperaturas nas quais ocorrem mudanças de estado físico:

Ponto de ebulição: Ponto de fusão:

Não aplicável. 107.5ºC (decompõe-se).

Temperatura de decomposição: 107,5ºC

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Ponto de fulgor: Não aplicável produto não inflamável. Solubilidade: Em água 17.4% a 20ºC. Em solventes orgânicos é solúvel em

glicerol e insolúvel em acetona, benzeno e etanol. Densidade do vapor (ar = 1): 5,7.

Pressão de vapor: 58,9 mmHg a 25ºC. Densidade específica (H2O=1): 1,59 g/mL.

Fonte: Ficha de Informações para Segurança de Produtos Químicos - FISPQ

De acordo com informações presentes na Ficha de Informações para Segurança de Produtos

Químicos – FISPQ do Bicarbonato de Amônia, os efeitos adversos à saúde humana são:

Em caso de inalação: A poeira pode causar irritação ao nariz, garganta e pulmões. Os

vapores da amônia liberados pela decomposição podem causar irritação do trato

respiratório superior, vômito e vermelhidão das mucosas. Em concentrações mais elevadas

(> 1000 ppm) podem causar agitação, edema pulmonar, pulsação fraca.

Em caso de contato com a pele: Pode causar irritação com vermelhidão e dor.

Em caso de contato com os olhos: Pode causar irritação, vermelhidão e dor.

Em caso de ingestão: Quando ingerido em grande quantidade pode causar irritação ao

sistema gastrointestinal

Apesar de não ser considerado um produto inflamável, medidas de armazenagem e manuseio

devem ser tomadas visando à segurança no ambiente do trabalho. Regras de descarte do

bicarbonato de amônia e de suas embalagens devem ser seguidas a fim de evitar impactos ao

meio ambiente.

4.2.3 Avaliação dos riscos

De acordo com o PPRA da empresa, a amostragem utilizada foi do tipo ativa e o

procedimento de coleta do agente químico foi individual, ou seja, o sistema de coleta (bomba

de amostragem e coletor) foi colocado no próprio trabalhador.

Ainda de acordo com o PPRA, o procedimento de coleta do agente químico dividiu-se nas

seguintes etapas:

I. Calibrar a bomba de amostragem

II. Montar o sistema de coleta acoplando o dispositivo de coleta á bomba o sistema de

amostragem por meio da mangueira.

III. Instalar o sistema de coleta no trabalhador na altura do sistema respiratório.

IV. Verificar-se a entrada de ar do dispositivo de coleta está livre e ligar a bomba de

amostragem.

V. Acompanhar e observar o processo e as atividades de trabalho assim como a ocorrência

que podem interferir nos resultados durante o período da coleta.

VI. Anotar a data, horário do inicio da coleta, código do filtro, numero da bomba de

amostragem e demais dados em formulário de registro.

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VII. Após a realização da coleta, os amostradores devem ser enviados a laboratórios

credenciados para realização das análises e verificação da concentração dos agentes

químicos no ambiente de trabalho, identificando aqueles que ultrapassaram os limites

concentração estabelecidos na NR-15 ou, na ausência destes, os valores de limites de

exposição adotados pela ACGIH (American Conference of Governamental Industrial

Hygienists).

A bomba de amostragem utilizada é da marca SENSYDINE, modelo GilAir BDX-II,

calibrada com calibrador de bombas de amostragem da marca TSI, modelo GilAir BDX-II.

Ambos os instrumentos, bomba e calibrador, apresentavam certificados de calibração

emitidos por órgão credenciado ao INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e

Tecnologia).

De acordo com o NIOSH (The National Institute for Occupational Safety and Health) o

método de análise do bicarbonato de amônia é o “NIOSH S347 - Medidor de Íon específico”,

que estabelece que durante a coleta sejam utilizados, como coletores, um cassete de 37 mm,

referencia SKC 225-2250, com filtro de éster de celulose com porosidade de 0,8 m

referência SKC 225-5, seguido de tubo de sílicagel impregnada com ácido sulfúrico, de

200/100 mg referência SKC 226-10-06. Com o objetivo de se calibrar a vazão da bomba no

valor exigido para a amostragem, utilizou-se um “kit de redução de vazão” para amostragens

de gases e vapores orgânicos (0,005 a 0,5 L/min). Este kit é também utilizado para proteger os

tubos de silicagel (de vidro), e evitar que os mesmos sejam acidentalmente quebrados durante

a avaliação e venham a ferir o trabalhador.

Independente do resultado da comparação da análise quantitativa com os limites de tolerância

estabelecidos, o monitoramento da exposição dos trabalhadores aos agentes químicos é

realizado anualmente pela empresa. Todos os dados são armazenados, constituindo assim um

histórico técnico e administrativo da exposição dos trabalhadores aos agentes químicos.

Nos postos analisados (“mistura” e “masseira”) constatou-se que após o monitoramento não

existe um plano de ação para implantar medidas corretivas focadas na fonte ou na trajetória do

agente químico, de modo a controlar a sua nocividade e promover a saúde nos citados

ambientes de trabalho. Do ponto de vista da legislação brasileira não há o cumprimento da

mesma, pois medidas corretivas já deveriam ser tomadas quando a concentração ultrapassasse

50% do limite de tolerância estabelecido (10 ppm para o bicarbonato de amônia).

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4.2.4 Controle dos riscos

A fim de minimizar os impactos do bicarbonato de amônia sobre os trabalhadores, a empresa

faz a entrega gratuita de respiradores purificadores de ar tipo peça semifacial ou facial. A

entrega desse EPI e sua substituição periódica podem ser comprovadas através do “Termo de

responsabilidade de entrega e reposição de EPI” devidamente assinados pelos trabalhadores.

Foi verificado no Programa de Proteção Respiratória (PPR) da empresa, elaborado de acordo

com a Instrução Normativa (IN) 01/94 da Fundacentro – Fundação Jorge Duprat Figueiredo

de Segurança e Medicina do Trabalho, que são realizados anualmente “ensaios de vedação”

com todos os trabalhadores que fazem uso de respiradores purificadores de ar (semifacial ou

facial).

De acordo com Pugas et al. (2001), o PPR é um conjunto de medidas práticas e

administrativas que devem ser adotadas por toda empresa onde for necessário o uso de

respirador. O propósito do PPR é proporcionar o controle de doenças ocupacionais

provocadas pela inalação de poeiras, fumos, névoas, fumaças, gases e vapores. Além disso,

são necessárias recomendações para elaboração, implantação e administração de um programa

de como selecionar e usar corretamente os equipamentos de proteção respiratória.

Com objetivo de monitorar a saúde dos trabalhadores expostos a produtos químicos, a

empresa possui o Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional (PCMSO). O

Programa, elaborado de acordo com a Norma Regulamentadora n.º 7 do MTE, tem caráter de

prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce dos agravos à saúde relacionados ao trabalho,

inclusive de natureza subclínica, além de constatação da existência de casos de doenças

profissionais ou danos irreversíveis à saúde dos trabalhadores.

Nesse programa estão contemplados todos os exames (admissionais, periódicos, etc.)

realizados pelos funcionários da empresa. De acordo com o PCMSO, para detectar se a

exposição ao Bicarbonato de Amônia vem causando algum dano a saúde dos trabalhadores,

são realizados periodicamente radiografias de tórax e espirometrias com os funcionários dos

postos “mistura” e “masseira”.

Percebe-se assim que a empresa em questão adota medidas de controle focadas apenas no

trabalhador, como uma forma de diminuir o impacto dos agentes químicos sobre a saúde do

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mesmo. De acordo com a legislação brasileira e internacional estas medidas deveriam ser

tomadas apenas em último caso e de forma complementar a outras medidas focadas na fonte

ou na trajetória, que tenham como objetivo de eliminar ou neutralizar os riscos químicos.

5. CONCLUSÃO

Esse estudo consistiu em uma pesquisa, no sentido de conhecer o modelo de gestão de riscos

químicos implantado pela referida empresa, estabelecendo uma comparação com as etapas

presentes na definição de Higiene Ocupacional da ABHO (antecipação, reconhecimento

avaliação e controle), evidenciando os pontos não conformes, na ótica da metodologia em

análise e desfavoráveis à eficiência da gestão de riscos da empresa.

A existência de planos de ação anuais repetitivos, treinamentos e medidas de controle com

foco apenas na proteção individual, ausência de medidas que tratem o ambiente e ausência do

processo completo de monitoramento são as principais não conformidades detectadas que se

constituem em entraves para a melhoria contínua.

Todas as não conformidades observadas culminam para ações corretivas focadas apenas no

trabalhador, que acontecem de forma isolada, gerando assim um mau entendimento dos

indicadores propostos por normas nacionais e internacionais.

O número de casos de doenças relacionadas ao trabalho é um dos indicadores de saúde

ocupacional existentes na legislação brasileira (Norma Regulamentadora n.º 4 do Ministério

do Trabalho e Emprego). No entanto, o não adoecimento dos trabalhadores não significa que

a nocividade dos riscos químicos está controlada, bem como não é indicador da salubridade

do ambiente de trabalho, que deve ser garantida pelo atendimento aos limites de tolerância

estabelecidos.

A empresa estudada não possui casos de doenças ocupacionais relacionadas ao agente

químico bicarbonato de amônia, porém as concentrações deste agente nos postos de trabalho

analisados (“mistura” e “masseira”) estão acima dos limites de tolerância estabelecidos nas

normas nacionais e internacionais. As medidas de controle focadas apenas na proteção

individual dos trabalhadores garantem o cumprimento da legislação trabalhista, no entanto, o

ambiente de trabalho continua insalubre e a saúde do trabalhador está sendo lentamente

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comprometida pela ação nociva desses agentes químicos.

Em síntese, o modelo metodológico para a gestão dos riscos químicos proposto apresenta uma

visão sistêmica, contribuindo para a integração das etapas de antecipação, reconhecimento,

avaliação e controle e respectivas ações corretivas no sentido de garantir continuamente a

salubridade do ambiente de trabalho e saúde dos trabalhadores, refletindo na sustentabilidade

empresarial e ambiental.

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