prevalÊncia e fatores associados À ......os fatores orgânicos, a doença de hirschsprung, as...

52
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Faculdade de Medicina PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À CONSTIPAÇÃO INTESTINAL E AOS OUTROS TRANSTORNOS EVACUATÓRIOS NO PRIMEIRO ANO DE VIDA CAROLINE DE FARIA E SILVA Belo Horizonte 2009

Upload: others

Post on 04-Nov-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Faculdade de Medicina

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL

E AOS OUTROS TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

CAROLINE DE FARIA E SILVA

Belo Horizonte

2009

CAROLINE DE FARIA E SILVA

PREVALEcircNCIA DE CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL

E OUTROS TRASNTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo em Ciecircncias da Sauacutede da Faculdade de

Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais

como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo do grau de

Mestre

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Sauacutede da Crianccedila e do

Adolescente

Orientadora Profa Elizabet Vilar Guimaratildees

Belo Horizonte

Faculdade de Medicina da UFMG

2009

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Reitor Prof Ronaldo Tadecircu Pena

Vice-Reitora Profa Heloisa Maria Murgel Starling

Proacute-Reitora de Poacutes-Graduaccedilatildeo Profa Elisabeth Ribeiro da Silva

Proacute-Reitor de Pesquisa Prof Carlos Alberto Pereira Tavares

FACULDADE DE MEDICINA

Diretor da Faculdade de Medicina Prof Francisco Joseacute Penna

Vice-Diretor da Faculdade de Medicina Prof Tarcizo Afonso Nunes

Coordenador do Centro de Poacutes-Graduaccedilatildeo Prof Carlos Faria Santos Amaral

Chefe do Departamento de Pediatria Profa Maria Aparecida Martins

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

Aacuterea de Concentraccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente

Coordenador Prof Joel Alves Lamounier

Subcoordenadora Profordf Ana Cristina Simotildees e Silva

Colegiado

Prof Joel Alves Lamounier

Profordf Ana Cristina Simotildees e Silva

Prof Jorge Andrade Pinto

Profordf Ivani Novato Silva

Profordf Luacutecia Maria Horta Figueiredo Goulart

Profordf Maria Cacircndida Ferrarez Bouzada Viana

Prof Marco Antocircnio Duarte

Profordf Regina Lunardi Rocha

Adriana Santos de Oliveira (Representante Disciplinar Titular)

Agrave amiga Acircngela Maria Sezini

por estar sempre me apoiando e incentivando desde a graduaccedilatildeo

e por ter me apresentado agrave professora Elizabet Vilar Guimaratildees

A Custoacutedio Gomes Moreira

pela compreensatildeo e constante apoio

Agrave Miacuteria Senra

pelo grande apoio e incentivo

durante toda a minha caminhada

AGRADECIMENTO ESPECIAL

Agrave Profordf Elizabet Vilar Guimaratildees pela paciecircncia dedicaccedilatildeo paz incentivo e ensinamentos

sobre a pesquisa cientiacutefica

Agradeccedilo de coraccedilatildeo

AGRADECIMENTOS

A Deus criador e favorecedor de todas as coisas princiacutepio meio e fim

Aos meus queridos pais Ciacutecero e Maria Adelina por tudo que fazem por mim

Agrave minha querida secretaacuteria Deiliane por ter contribuiacutedo para a construccedilatildeo do meu banco

de dados

Agrave Nataacutelia que me ajudou a conduzir os primeiros dados estatiacutesticos

Agraves alunas do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena pela coleta de dados

Agraves funcionaacuterias do Posto Central pela gentileza em fornecer os endereccedilos das crianccedilas

Agraves matildees e crianccedilas que participaram do estudo

Ao Marcelo Militatildeo pela colaboraccedilatildeo na estatiacutestica do meu estudo

Agraves colegas de mestrado Siacutelvia e Maria das Dores pelas experiecircncias trocadas

Aos meus pacientes pela compreensatildeo nos momentos de ausecircncia do consultoacuterio

Agrave amiga Deolane pelas nossas conversas e desabafos no caminho para o trabalho na

Universidade de Itauacutena

Agrave amiga Cecy pela paz e tranquilidade que sempre me proporciona

Agrave Juldete por ter me amparado em um momento difiacutecil da minha vida

NOTA EXPLICATIVA

A presente dissertaccedilatildeo segue as orientaccedilotildees do Centro de Poacutes-Graduaccedilatildeo da Faculdade de

Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e seraacute apresentada em duas partes sob

a forma de dois artigos cientiacuteficos

A primeira parte refere-se ao artigo de revisatildeo e seguiu as normas da Revista Meacutedica de

Minas Gerais de acordo com o estabelecido no site wwwbibliomedcombr

O segundo artigo eacute original e seraacute submetido ao perioacutedico Journal of Pediatric

Gastroenterology and Nutrition As normas de publicaccedilatildeo desse perioacutedico encontram-se

no endereccedilo eletrocircnico wwwjpgnorg

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CI Constipaccedilatildeo intestinal

CONEP Comissatildeo Nacional de Eacutetica em Pesquisa

DeCs Descritores em sauacutede

DP Desvio-padratildeo

EUA Estados Unidos da Ameacuterica

IC Intervalo de confianccedila

IgE Imunoglobulina E

IgG Imunoglobulina G

LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciecircncias da Sauacutede

MG Minas Gerais

NASPGHAN Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia e Nutriccedilatildeo

OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede

OR Odds ratio

PACCT Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Artigo original

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal 35

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo por idade do lactente (meses) 37

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio por idade do lactente (meses) 38

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar por idade do lactente (meses) 38

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras por idade do lactente (meses) 38

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes aos 3 6 9 e 12 meses de

vida

40

LISTA DE TABELAS

Artigo de revisatildeo

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees 16

Tabela 2 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008) 18

Artigo original

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas 34

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento)

dependente do tempo

34

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal 34

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de

fezes nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

36

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida do lactente

39

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semana avaliada trimestralmente 40

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros 41

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e tipo de fezes

41

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes 42

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes 42

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

43

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs 44

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno 45

SUMAacuteRIO1

1 ARTIGO DE REVISAtildeO - PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM LACTENTES

13

11 Introduccedilatildeo 15

12 Metodologia 15

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo 16

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes 18

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal 19

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias 19

152 Aleitamento materno 19

153 Aleitamento artificial 20

154 Fibra alimentar 22

16 Consideraccedilotildees finais 23

Referecircncias 23

2 ARTIGO ORIGINAL - PREVALEcircNCIA DE CONSTIPACcedilAtildeOINTESTINAL NO

PRIMEIRO ANO DE VIDA UM ESTUDO LONGITUDINAL

27

21 Introduccedilatildeo 29

22 Casuiacutestica e meacutetodos 30

221 Local do estudo 30

222 Populaccedilatildeo estudada 30

223 Meacutetodos 30

2231 Delineamento do estudo 30

2232 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo 30

2233 Caacutelculo da amostra 31

2234 Coleta de dados 31

2235 Variaacuteveis coletadas 31

2236 Anaacutelise estatiacutestica 32

2237 Aspecto eacutetico 33

1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortograacuteficas

23 Resultados 33

24 Discussatildeo 45

25 Conclusatildeo 49

Referecircncias 48

Anexo A - Parecer da Cacircmara do Departamento de Pediatria da UFMG 50

Anexo B - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFMG 51

Anexo C - Parecer da Secretaria Municipal de Itauacutena 52

Apecircndice A - Questionaacuterio estruturado 53

Apecircndice B - Esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitaccedilatildeo de autorizaccedilatildeo

Apecircndice C - Escala de consistecircncia de fezes

Apecircndice D - Termo de consentimento livre e esclarecido

1 ARTIGO DE REVISAtildeO _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM

LACTENTES

14

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em

lactentes

A constipaccedilatildeo intestinal eacute um problema comum em lactentes Foi realizada revisatildeo

sistemaacutetica da literatura nos sites do PUBMED BIREME e SCIELO utilizando os

descritores constipation infant breastfeeding risk factores Para limitar os assuntos

estabeleceu-se All Infant birth-23 months A prevalecircncia da constipaccedilatildeo variou de 07 a

48 Apesar de existirem criteacuterios para diagnosticar esse distuacuterbio em lactentes muitos

autores adotam criteacuterios proacuteprios o que pode fazer com que a prevalecircncia varie muito de

um trabalho para outro Quanto aos fatores de risco observou-se que os componentes

constitucionais e hereditaacuterios estatildeo presentes em pais irmatildeos e tios das crianccedilas

constipadas Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno se constitui em

um fator de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo Pesquisas demonstram que

o consumo do leite de vaca e de foacutermulas contribui para o surgimento desse evento no

primeiro ano de vida Existem poucas investigaccedilotildees sobre o consumo de fibras alimentares

em lactentes e em crianccedilas constipadas sua utilizaccedilatildeo como suplemento ainda eacute

controversa Estudos sobre prevalecircncia com caracterizaccedilatildeo especiacutefica para lactentes com

fatores de risco associados agrave constipaccedilatildeo poderatildeo trazer melhor compreensatildeo do impacto

da morbidade dessa doenccedila e favorecer melhor tratamento e prevenccedilatildeo

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with chronic functional constipation in infants

Infant intestinal constipation is a common problem A non-systematic literature

review was performed on PUBMED BIREME and SCIELO using the following key

concepts constipation infant epidemiology and risk factors The term All Infant birth-23

months was selected for the specific search The prevalence of constipation varied from 07

to 48 Criteria for the diagnosis of this disorder in infants are available but many authors

adopt their own criteria which may result in a large prevalence variation between the

several studies conducted With regards to the risk factors it was observed that parents

brothers and uncles of the constipated children present the constitutional and hereditary

components Some studies have shown that the maternal breastfeeding is a protection

factor against the constipation development Researches have confirmed that the

consumption of cowrsquos milk and formulas favor the occurrence of this event in the first year

of life There are few investigations made regarding the consumption of alimentary fibers

by infants and therefore the utilization as a nutritional supplement is still controversial

The development of prevalence studies oriented specifically to infants with risk factors

associated to constipation may provide a better comprehension of the morbosity impact of

this disease as well as an improved treatment and prevention

Key-words Constipation Infant Epidemiology Risk factors

15

11 Introduccedilatildeo

Em todo o mundo a constipaccedilatildeo intestinal (CI) em lactentes eacute uma morbidade de

significativa relevacircncia Na literatura cientiacutefica existe ampla variaccedilatildeo na prevalecircncia dessa

doenccedila em crianccedilas o que revela a existecircncia de fatores que alteram a sua distribuiccedilatildeo ou

problemas relacionados agrave sua definiccedilatildeo ou nomenclatura

Geralmente pais de lactentes satildeo muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e qualquer

modificaccedilatildeo do haacutebito intestinal os leva a buscar assistecircncia meacutedica1

Estudos demonstram que importante proporccedilatildeo de crianccedilas com constipaccedilatildeo

intestinal inicia o quadro no primeiro ano de vida2-4

Durante os dois primeiros anos de

vida a constipaccedilatildeo intestinal pode ser causada por fatores orgacircnicos ou funcionais Entre

os fatores orgacircnicos a doenccedila de Hirschsprung as anomalias anorretais as doenccedilas

metaboacutelicas e as doenccedilas endocrinoloacutegicas como o hipotireoidismo devem sempre ser

lembradas5 Entretanto os quadros funcionais satildeo muito mais frequentes

6

As pesquisas realizadas ateacute o momento identificam a baixa ingestatildeo hiacutedrica os

fatores constitucionais e o desmame precoce como marcadores envolvidos no

desenvolvimento dessa morbidade7 O aleitamento artificial que se segue ao desmame

parece ser o principal deles8 Contudo mais estudos satildeo necessaacuterios natildeo apenas para

confirmar essa associaccedilatildeo mas tambeacutem para avaliar como os outros aspectos alimentares

relativos ao desmame participam das mudanccedilas do haacutebito alimentar protegendo ou

precipitando o surgimento dos transtornos evacuatoacuterios9

12 Meacutetodo

Realizou-se levantamento bibliograacutefico mediante consulta agrave base de dados

PUBMED BIREME e SCIELO considerando-se preferencialmente artigos na liacutengua

inglesa publicados nos uacuteltimos 10 anos entre 1998 e 2008 As publicaccedilotildees eram referentes

agrave prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em lactentes Para a busca foram

consideradas as palavras-chave constipation epidemiology infant breastfeeding risk

factors Esses termos foram determinados apoacutes consulta aos descritores em sauacutede (DeCs)

disponiacuteveis na BIREME Foram estabelecidos ainda os seguintes limites estudos com

humanos artigos referentes a ensaios cliacutenicos metanaacutelises ensaios randomizados

controlados e artigos de revisatildeo faixa etaacuteria de zero a dois anos

16

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo

A adequada definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal eacute importante para identificar de

forma precoce o paciente que apresenta a morbidade diminuindo o risco de complicaccedilotildees

e o custo do tratamento10

Em estudos cientiacuteficos epidemioloacutegicos a dificuldade na definiccedilatildeo da morbidade eacute

facilmente percebida As diferentes taxas epidemioloacutegicas relatadas na literatura ressaltam

que a identificaccedilatildeo do problema natildeo eacute tatildeo faacutecil quanto possa parecer1112

Assim alguns

autores tecircm adotado criteacuterios proacuteprios para identificar pacientes constipados incluindo

defecaccedilatildeo infrequente fezes duras dificuldade ou passagem de fezes dolorosas sem

uniformizaccedilatildeo na definiccedilatildeo e na caracterizaccedilatildeo desses sintomas13-19

A preocupaccedilatildeo em encontrar um consenso para a definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal existe haacute algumas deacutecadas20

Um dos conceitos mais adotados em pesquisas

cientiacuteficas estabelece como criteacuterio a frequecircncia evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por

semana315

Esse criteacuterio eacute adotado para a populaccedilatildeo adulta poreacutem eacute falho para crianccedilas

principalmente para as menores de quatro anos21

A Tabela 1 apresenta a frequecircncia

evacuatoacuteria da crianccedila estabelecida por Fontana et al (1989)22

Observa-se que existe

acentuada variaccedilatildeo desse paracircmetro nas diversas faixas etaacuterias No primeiro ano de vida a

amplitude da frequecircncia evacuatoacuteria eacute tatildeo vasta que maior valorizaccedilatildeo do paracircmetro pode

levar a erros no diagnoacutestico da morbidade22

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees

Idade Evacuaccedilotildees

por semana

Evacuaccedilotildees

por dia

0-3 meses

Aleitamento materno 5-40 29

Foacutermulas 5-28 20

6-12 meses 5-28 18

1-3 anos 4-21 14

Mais de 3 anos 3-14 10

Fonte Fontana et al (1989)22

17

A partir do consenso ROMA I o qual ofereceu definiccedilotildees iniciais para doenccedilas

funcionais do trato digestivo de adultos muito se evoluiu em termo de nomenclatura

criteacuterios e definiccedilotildees para as doenccedilas digestivas23

Esse consenso forneceu importantes definiccedilotildees para as alteraccedilotildees funcionais

pediaacutetricas23

Em relaccedilatildeo agrave constipaccedilatildeo intestinal da crianccedila as contribuiccedilotildees do Consenso

de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT)24

da Sociedade Norte-

Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo (NASGHAN)1 e de ROMA III

8

passaram a ser adotadas nos estudos que se seguiram No entanto entre eles satildeo notaacuteveis

as diferenccedilas nos criteacuterios conforme se segue

Roma II - em lactentes e crianccedilas preacute-escolares por pelo menos duas semanas fezes

em ciacutebalos com rachaduras duras na maioria das evacuaccedilotildees ou duas ou menos

evacuaccedilotildees de fezes firmes por semana natildeo havendo evidecircncia de doenccedila

estrutural endoacutecrina ou metaboacutelica23

Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT) - um

periacuteodo de oito semanas com pelo menos dois dos seguintes sintomas frequecircncia

evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por semana incontinecircncia fecal acima de uma vez

por semana passagem de fezes grandes que podem entupir o vaso sanitaacuterio massa

fecal palpaacutevel no abdocircmen ou no reto comportamento de retenccedilatildeo de fezes ou

defecaccedilatildeo dolorosa24

Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo

(NASPGHAN) - atraso ou dificuldade de evacuar presente por duas ou mais

semanas e suficiente para causar desconforto ao paciente25

Roma III - em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade no periacuteodo de 30

dias pelo menos dois dos seguintes itens duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao

menos um episoacutedio de incontinecircncia por semana apoacutes a habilidade para utilizar o

banheiro histoacuteria de retenccedilatildeo excessiva de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis

presenccedila de grande massa fecal no reto e fezes com grande diacircmetro e que podem

obstruir o vaso sanitaacuterio A esses sintomas associam-se a irritabilidade a falta de

apetite eou a saciedade precoce Todos podem desaparecer apoacutes a eliminaccedilatildeo das

fezes8

18

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes

A real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal em lactentes natildeo foi ateacute o momento

adequadamente estabelecida De acordo com as pesquisas mais recentes os iacutendices variam

de 0726

a 4825

Para ilustrar essas divergecircncias na prevalecircncia da morbidade foi demonstrada no

Tabela 1 uma seacuterie de estudos realizados entre os anos de 1998 e 2008

Tabela 1 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008)

Estudo Paiacutes

Ano

Delineamento N Idade Criteacuterio

definido por

Prevalecircncia

Motta et al13

Brasil 1998 Transversal 536 0ndash11 a Autor 218 0-239 m

Aguirre et al14

Brasil 2000 Transversal 275 0ndash25 a Autor 251

Souza et al15

Brasil 2001 Transversal 289 1m-4 a Percepccedilatildeo matildee 153 0-239 m

Del Ciampo et al16

Brasil 2002 Transversal 313 1ndash10 a Autor 268

Miele et al 26

Itaacutelia 2004 Longitudinal 9660 0ndash12 a Roma II 07

Corazziari et al 27

Itaacutelia 2005 Longitudinal 2680 0ndash12 a Autor 52 0-239 m

Iacono et al3 Itaacutelia 2005 Longitudinal 2879 0ndash05 a Autor 176

Loening-Bauke2 EUA 2005 Transversal 4157 0ndash2 a NASPGHAN

ou Roma II

29 1 a

101 2 a

Ludvigsson et al28

Sueacutecia 2006 Longitudinal 8431 0ndash25 a Percepccedilatildeo matildee 65

Boccia et al25

Itaacutelia 2007 Longitudinal 126 0ndash18 a Roma II e

PACCT

Roma II15-lt4a

PACCT48-lt4a

Medeiros et al19

Brasil 2007 Transversal 561 0ndash19 a Autor 191 0-239 m

Pina et al29

Espanha2008 Transversal 3487 0ndash4 m Autor 61

A = ano m = mecircs

A grande diferenccedila encontrada pode ser explicada pelas divergecircncias no criteacuterio

utilizado para definir a constipaccedilatildeo intestinal pelo delineamento do estudo realizado e pela

faixa etaacuteria considerada

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo especificamente em lactentes foi determinada em

apenas nove desses estudos2313-151927-29

Desses autores apenas um adotou criteacuterio

internacional na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo13

Os demais empregaram princiacutepio

19

proacuteprio2313-1527-29

sendo que nos estudos de Ludvigsson28

e Souza15

o criteacuterio utilizado

para diagnosticar os lactentes constipados foi a percepccedilatildeo das matildees

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias

A literatura mostra a ocorrecircncia de constipaccedilatildeo entre os familiares das crianccedilas

constipadas3031

Na Espanha em 2005 foi realizado um estudo de caso-controle para avaliar os

fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo infantil Foram incluiacutedas crianccedilas

com idades entre quatro meses e 15 anos e que apresentavam quadro de constipaccedilatildeo

crocircnica Seus controles eram as crianccedilas imediatamente atendidas sem histoacuteria preacutevia de

constipaccedilatildeo No grupo-controle 351 das crianccedilas apresentavam histoacuteria familiar com

quadro de constipaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com 542 do grupo em estudo cuja diferenccedila foi

significativa entre os grupos (plt0001) Na situaccedilatildeo pais separados a matildee apresentou mais

frequecircncia de constipaccedilatildeo no grupo de crianccedilas constipadas em relaccedilatildeo ao grupo-controle

956 e 286 respectivamente (plt0001)30

Na investigaccedilatildeo de Roma et al (1999)31

que avaliou a presenccedila de constipaccedilatildeo em

crianccedilas de dois a 14 anos identificou-se histoacuteria familiar positiva para o distuacuterbio (pais ou

irmatildeos) em 625 das crianccedilas constipadas e em 303 dos familiares dos indiviacuteduos

controles (p lt0000001) A prevalecircncia de constipaccedilatildeo crocircnica em crianccedilas foi de 34 se

nenhum dos pais manifestava o problema 103 se um dos pais estava constipado e

485 se ambos (p lt00001)31

152 Aleitamento materno

Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno constitui-se em fator

de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal na crianccedila314

Iacono et al (2005)3 desenvolveram uma pesquisa para avaliar a frequecircncia dos

sintomas gastrintestinais mais comuns durante os primeiros seis meses de vida e avaliar a

influecircncia de algumas variaacuteveis sobre o aparecimento dos sintomas Foram acompanhadas

20

2879 crianccedilas do nascimento ateacute os seis meses de vida A constipaccedilatildeo esteve presente em

507 e foi diagnosticada em idades entre 27 e 33 dias Os lactentes constipados natildeo

apresentaram diferenccedila na comparaccedilatildeo com aqueles sem a morbidade em relaccedilatildeo ao peso

ao nascer idade gestacional idade e niacutevel de ensino da matildee e do pai No entanto o nuacutemero

foi significativamente mais baixo na frequecircncia do aleitamento materno em relaccedilatildeo agraves

crianccedilas sem constipaccedilatildeo (763 versus 849 p=0007)3

A relaccedilatildeo entre o tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal foi

analisada em 275 lactentes atendidos consecutivamente no periacuteodo de dezembro de 1996 a

dezembro de 1997 concluindo-se que o aleitamento natural predominante eacute um fator de

proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo no primeiro semestre de vida14

Em um estudo de caso-controle realizado em um ambulatoacuterio de pediatria no

periacuteodo de outubro de 1997 a abril de 1999 foram acompanhados dois grupos de crianccedilas

com idades entre dois e 12 anos O primeiro grupo foi constituiacutedo de crianccedilas com

diagnoacutestico de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional e o segundo de crianccedilas com haacutebito

intestinal normal (grupo-controle) pareadas ao primeiro de acordo com o gecircnero e a faixa

etaacuteria Nos dois grupos foi aplicado um questionaacuterio padronizado para obter informaccedilotildees

sobre as caracteriacutesticas do haacutebito intestinal iniacutecio dos sintomas e o periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo Os autores concluiacuteram que houve tendecircncia ao periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo ser mais longo no grupo de crianccedilas sem constipaccedilatildeo32

153 Aleitamento artificial

No primeiro ano de vida satildeo frequentes as reaccedilotildees adversas ao leite de vaca Aleacutem

de sintomas respiratoacuterios e dermatoloacutegicos tambeacutem foram verificados sintomas

gastrintestinais como a constipaccedilatildeo intestinal e sangue nas fezes33-37

Em 2008 foram avaliadas durante um ano 555 crianccedilas nascidas consecutivamente

em um hospital Apenas 27 delas apresentaram reaccedilatildeo aleacutergica ao leite de vaca e somente

uma manifestou como sintoma a constipaccedilatildeo33

Na Turquia foi realizado um estudo retrospectivo com dois grupos de 30 crianccedilas

com idades compreendidas entre quatro meses e trecircs anos O grupo I foi constituiacutedo de

crianccedilas com fissura anal e constipaccedilatildeo crocircnica e que natildeo apresentavam necessidade de

cirurgia e o grupo II incluiu crianccedilas normais O consumo diaacuterio de leite de vaca a

duraccedilatildeo do aleitamento materno e outras caracteriacutesticas cliacutenicas das crianccedilas foram

21

investigadas O consumo meacutedio diaacuterio de leite de vaca foi maior (plt0001) e o tempo de

amamentaccedilatildeo foi mais curto no grupo I (plt0001 e plt0006 respectivamente) O risco

(odds ratio) de constipaccedilatildeo quando presentes cada um desses fatores foi de 86 (intervalo

de confianccedila - IC95 023-074 p=00005) e 57 (IC 95 037-066 p=0007)

respectivamente As crianccedilas que consumiam mais quantidade de leite de vaca

apresentaram risco oito vezes mais alto de desenvolver constipaccedilatildeo e fissura anal assim

como naqueles com duraccedilatildeo mais curta do aleitamento materno o risco foi cinco vezes

mais alto Os pesquisadores preconizam atraso na introduccedilatildeo do leite de vaca e o

consequente aumento no tempo do aleitamento materno34

Em outra pesquisa 27 crianccedilas com idades entre cinco e 36 meses e com

constipaccedilatildeo intestinal crocircnica idiopaacutetica foram investigadas na possiacutevel relaccedilatildeo entre

constipaccedilatildeo e alergia agrave proteiacutena do leite de vaca Inicialmente elas foram observadas

consumindo dieta sem restriccedilotildees e registrava-se o nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias

Posteriormente receberam dieta sem a proteiacutena do leite de vaca por dois periacuteodos de um

mecircs separados por dois desafios com a proteiacutena do leite de vaca Durante a dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca 21 apresentaram melhora dos sintomas e durante os dois desafios

consecutivos a constipaccedilatildeo reapareceu no periacuteodo de 48 a 72 horas A dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca natildeo melhorou a constipaccedilatildeo em seis pacientes Apenas quatro que

melhoraram com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca manifestaram sintomas de

alergia ao leite de vaca Histoacuteria meacutedica de alergia ao leite de vaca foi encontrada em 15

dos 21 pacientes curados e em apenas um dos seis que natildeo melhoraram (plt005) Ainda

nos 15 dos 21 curados os resultados de um ou mais testes laboratoriais (dosagem de

imunoglobulinas E e G ndash IgE IgG antiβ lactoglobulina e eosinoacutefilos circulantes) foram

positivos no momento do diagnoacutestico indicando hipersensibilidade comparados com um

dos seis pacientes que natildeo tinham melhorado (plt 0005) Os resultados encontrados na

endoscopia e histologia no momento do diagnoacutestico mostraram proctite monociacutetica com

infiltraccedilatildeo em duas crianccedilas curadas com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca depois

de um mecircs da dieta eles estavam completamente normais A conclusatildeo foi que a

constipaccedilatildeo pode ter patogecircnese aleacutergica35

Em 1995 Hyams et al desenvolveram um estudo prospectivo duplo-cego para

avaliar o efeito das foacutermulas nas caracteriacutesticas das fezes de lactentes Foram selecionadas

crianccedilas saudaacuteveis com um mecircs de idade e acompanhadas por 14 dias Os autores

demonstraram que aquelas alimentadas com leite materno apresentaram maior frequecircncia

22

evacuatoacuteria (p lt 0001) e fezes mais macias (p lt 00001) do que as alimentadas com

foacutermulas laacutecteas36

154 Fibra alimentar

As fibras alimentares satildeo habitualmente consideradas importantes para a prevenccedilatildeo

da constipaccedilatildeo Acredita-se que a sua introduccedilatildeo na alimentaccedilatildeo complementar de forma

equilibrada certamente contribuiraacute para a pouca ocorrecircncia desse distuacuterbio no primeiro ano

de vida37

poreacutem existem poucos trabalhos sobre o consumo de fibras por lactentes Os

resultados encontrados demonstram que a fibra alimentar desempenha papel ainda natildeo

comprovado25

No jaacute mencionado estudo de Aguirre et al (2002) que avaliou a relaccedilatildeo entre o

tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal em 275 lactentes descreveu-se a

implicaccedilatildeo do uso de fibra alimentar Para os lactentes de seis a 24 meses a comparaccedilatildeo

do consumo de fibra alimentar por aqueles com constipaccedilatildeo (mediana=90g percentis 25 e

75 69-131g) e pelos demais com haacutebito intestinal normal natildeo demonstrou diferenccedilas

significativas (mediana=88 percentis 25 e 75 61-129g) (p=057)14

Em trecircs localidades da Greacutecia foi considerada uma amostra randomizada de

crianccedilas (291 com constipaccedilatildeo e 1602 controles) com idades entre dois e 14 anos

Realizou-se o registro alimentar de trecircs dias e a histoacuteria dieteacutetica para avaliar a ingestatildeo

alimentar A ingestatildeo da fibra alimentar foi estatisticamente menor na dieta das crianccedilas

constipadas em todas as faixas etaacuterias quando comparadas com o grupo-controle Os

autores salientaram que a baixa ingestatildeo de fibras na dieta de crianccedilas constipadas

independentemente da idade dos sintomas que acompanham a disfunccedilatildeo e da idade de

iniacutecio sustenta a hipoacutetese causal da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica em crianccedilas31

Segundo a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e

Nutriccedilatildeo (NASPGHAN) o uso de fibras pela crianccedila constipada ainda eacute contraditoacuterio e ateacute

que novos estudos demonstrem a eficaacutecia do tratamento com esse produto os resultados

atuais satildeo fracos para apoiar a recomendaccedilatildeo definitiva de sua suplementaccedilatildeo no

tratamento dessa morbidade25

Pesquisas mais especiacuteficas quanto ao consumo de fibras por lactentes satildeo escassas

na literatura cientiacutefica14

A aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos alimentares e a escolha de tabelas

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 2: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

CAROLINE DE FARIA E SILVA

PREVALEcircNCIA DE CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL

E OUTROS TRASNTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo em Ciecircncias da Sauacutede da Faculdade de

Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais

como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo do grau de

Mestre

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Sauacutede da Crianccedila e do

Adolescente

Orientadora Profa Elizabet Vilar Guimaratildees

Belo Horizonte

Faculdade de Medicina da UFMG

2009

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Reitor Prof Ronaldo Tadecircu Pena

Vice-Reitora Profa Heloisa Maria Murgel Starling

Proacute-Reitora de Poacutes-Graduaccedilatildeo Profa Elisabeth Ribeiro da Silva

Proacute-Reitor de Pesquisa Prof Carlos Alberto Pereira Tavares

FACULDADE DE MEDICINA

Diretor da Faculdade de Medicina Prof Francisco Joseacute Penna

Vice-Diretor da Faculdade de Medicina Prof Tarcizo Afonso Nunes

Coordenador do Centro de Poacutes-Graduaccedilatildeo Prof Carlos Faria Santos Amaral

Chefe do Departamento de Pediatria Profa Maria Aparecida Martins

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

Aacuterea de Concentraccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente

Coordenador Prof Joel Alves Lamounier

Subcoordenadora Profordf Ana Cristina Simotildees e Silva

Colegiado

Prof Joel Alves Lamounier

Profordf Ana Cristina Simotildees e Silva

Prof Jorge Andrade Pinto

Profordf Ivani Novato Silva

Profordf Luacutecia Maria Horta Figueiredo Goulart

Profordf Maria Cacircndida Ferrarez Bouzada Viana

Prof Marco Antocircnio Duarte

Profordf Regina Lunardi Rocha

Adriana Santos de Oliveira (Representante Disciplinar Titular)

Agrave amiga Acircngela Maria Sezini

por estar sempre me apoiando e incentivando desde a graduaccedilatildeo

e por ter me apresentado agrave professora Elizabet Vilar Guimaratildees

A Custoacutedio Gomes Moreira

pela compreensatildeo e constante apoio

Agrave Miacuteria Senra

pelo grande apoio e incentivo

durante toda a minha caminhada

AGRADECIMENTO ESPECIAL

Agrave Profordf Elizabet Vilar Guimaratildees pela paciecircncia dedicaccedilatildeo paz incentivo e ensinamentos

sobre a pesquisa cientiacutefica

Agradeccedilo de coraccedilatildeo

AGRADECIMENTOS

A Deus criador e favorecedor de todas as coisas princiacutepio meio e fim

Aos meus queridos pais Ciacutecero e Maria Adelina por tudo que fazem por mim

Agrave minha querida secretaacuteria Deiliane por ter contribuiacutedo para a construccedilatildeo do meu banco

de dados

Agrave Nataacutelia que me ajudou a conduzir os primeiros dados estatiacutesticos

Agraves alunas do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena pela coleta de dados

Agraves funcionaacuterias do Posto Central pela gentileza em fornecer os endereccedilos das crianccedilas

Agraves matildees e crianccedilas que participaram do estudo

Ao Marcelo Militatildeo pela colaboraccedilatildeo na estatiacutestica do meu estudo

Agraves colegas de mestrado Siacutelvia e Maria das Dores pelas experiecircncias trocadas

Aos meus pacientes pela compreensatildeo nos momentos de ausecircncia do consultoacuterio

Agrave amiga Deolane pelas nossas conversas e desabafos no caminho para o trabalho na

Universidade de Itauacutena

Agrave amiga Cecy pela paz e tranquilidade que sempre me proporciona

Agrave Juldete por ter me amparado em um momento difiacutecil da minha vida

NOTA EXPLICATIVA

A presente dissertaccedilatildeo segue as orientaccedilotildees do Centro de Poacutes-Graduaccedilatildeo da Faculdade de

Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e seraacute apresentada em duas partes sob

a forma de dois artigos cientiacuteficos

A primeira parte refere-se ao artigo de revisatildeo e seguiu as normas da Revista Meacutedica de

Minas Gerais de acordo com o estabelecido no site wwwbibliomedcombr

O segundo artigo eacute original e seraacute submetido ao perioacutedico Journal of Pediatric

Gastroenterology and Nutrition As normas de publicaccedilatildeo desse perioacutedico encontram-se

no endereccedilo eletrocircnico wwwjpgnorg

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CI Constipaccedilatildeo intestinal

CONEP Comissatildeo Nacional de Eacutetica em Pesquisa

DeCs Descritores em sauacutede

DP Desvio-padratildeo

EUA Estados Unidos da Ameacuterica

IC Intervalo de confianccedila

IgE Imunoglobulina E

IgG Imunoglobulina G

LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciecircncias da Sauacutede

MG Minas Gerais

NASPGHAN Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia e Nutriccedilatildeo

OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede

OR Odds ratio

PACCT Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Artigo original

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal 35

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo por idade do lactente (meses) 37

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio por idade do lactente (meses) 38

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar por idade do lactente (meses) 38

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras por idade do lactente (meses) 38

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes aos 3 6 9 e 12 meses de

vida

40

LISTA DE TABELAS

Artigo de revisatildeo

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees 16

Tabela 2 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008) 18

Artigo original

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas 34

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento)

dependente do tempo

34

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal 34

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de

fezes nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

36

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida do lactente

39

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semana avaliada trimestralmente 40

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros 41

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e tipo de fezes

41

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes 42

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes 42

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

43

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs 44

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno 45

SUMAacuteRIO1

1 ARTIGO DE REVISAtildeO - PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM LACTENTES

13

11 Introduccedilatildeo 15

12 Metodologia 15

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo 16

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes 18

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal 19

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias 19

152 Aleitamento materno 19

153 Aleitamento artificial 20

154 Fibra alimentar 22

16 Consideraccedilotildees finais 23

Referecircncias 23

2 ARTIGO ORIGINAL - PREVALEcircNCIA DE CONSTIPACcedilAtildeOINTESTINAL NO

PRIMEIRO ANO DE VIDA UM ESTUDO LONGITUDINAL

27

21 Introduccedilatildeo 29

22 Casuiacutestica e meacutetodos 30

221 Local do estudo 30

222 Populaccedilatildeo estudada 30

223 Meacutetodos 30

2231 Delineamento do estudo 30

2232 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo 30

2233 Caacutelculo da amostra 31

2234 Coleta de dados 31

2235 Variaacuteveis coletadas 31

2236 Anaacutelise estatiacutestica 32

2237 Aspecto eacutetico 33

1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortograacuteficas

23 Resultados 33

24 Discussatildeo 45

25 Conclusatildeo 49

Referecircncias 48

Anexo A - Parecer da Cacircmara do Departamento de Pediatria da UFMG 50

Anexo B - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFMG 51

Anexo C - Parecer da Secretaria Municipal de Itauacutena 52

Apecircndice A - Questionaacuterio estruturado 53

Apecircndice B - Esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitaccedilatildeo de autorizaccedilatildeo

Apecircndice C - Escala de consistecircncia de fezes

Apecircndice D - Termo de consentimento livre e esclarecido

1 ARTIGO DE REVISAtildeO _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM

LACTENTES

14

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em

lactentes

A constipaccedilatildeo intestinal eacute um problema comum em lactentes Foi realizada revisatildeo

sistemaacutetica da literatura nos sites do PUBMED BIREME e SCIELO utilizando os

descritores constipation infant breastfeeding risk factores Para limitar os assuntos

estabeleceu-se All Infant birth-23 months A prevalecircncia da constipaccedilatildeo variou de 07 a

48 Apesar de existirem criteacuterios para diagnosticar esse distuacuterbio em lactentes muitos

autores adotam criteacuterios proacuteprios o que pode fazer com que a prevalecircncia varie muito de

um trabalho para outro Quanto aos fatores de risco observou-se que os componentes

constitucionais e hereditaacuterios estatildeo presentes em pais irmatildeos e tios das crianccedilas

constipadas Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno se constitui em

um fator de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo Pesquisas demonstram que

o consumo do leite de vaca e de foacutermulas contribui para o surgimento desse evento no

primeiro ano de vida Existem poucas investigaccedilotildees sobre o consumo de fibras alimentares

em lactentes e em crianccedilas constipadas sua utilizaccedilatildeo como suplemento ainda eacute

controversa Estudos sobre prevalecircncia com caracterizaccedilatildeo especiacutefica para lactentes com

fatores de risco associados agrave constipaccedilatildeo poderatildeo trazer melhor compreensatildeo do impacto

da morbidade dessa doenccedila e favorecer melhor tratamento e prevenccedilatildeo

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with chronic functional constipation in infants

Infant intestinal constipation is a common problem A non-systematic literature

review was performed on PUBMED BIREME and SCIELO using the following key

concepts constipation infant epidemiology and risk factors The term All Infant birth-23

months was selected for the specific search The prevalence of constipation varied from 07

to 48 Criteria for the diagnosis of this disorder in infants are available but many authors

adopt their own criteria which may result in a large prevalence variation between the

several studies conducted With regards to the risk factors it was observed that parents

brothers and uncles of the constipated children present the constitutional and hereditary

components Some studies have shown that the maternal breastfeeding is a protection

factor against the constipation development Researches have confirmed that the

consumption of cowrsquos milk and formulas favor the occurrence of this event in the first year

of life There are few investigations made regarding the consumption of alimentary fibers

by infants and therefore the utilization as a nutritional supplement is still controversial

The development of prevalence studies oriented specifically to infants with risk factors

associated to constipation may provide a better comprehension of the morbosity impact of

this disease as well as an improved treatment and prevention

Key-words Constipation Infant Epidemiology Risk factors

15

11 Introduccedilatildeo

Em todo o mundo a constipaccedilatildeo intestinal (CI) em lactentes eacute uma morbidade de

significativa relevacircncia Na literatura cientiacutefica existe ampla variaccedilatildeo na prevalecircncia dessa

doenccedila em crianccedilas o que revela a existecircncia de fatores que alteram a sua distribuiccedilatildeo ou

problemas relacionados agrave sua definiccedilatildeo ou nomenclatura

Geralmente pais de lactentes satildeo muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e qualquer

modificaccedilatildeo do haacutebito intestinal os leva a buscar assistecircncia meacutedica1

Estudos demonstram que importante proporccedilatildeo de crianccedilas com constipaccedilatildeo

intestinal inicia o quadro no primeiro ano de vida2-4

Durante os dois primeiros anos de

vida a constipaccedilatildeo intestinal pode ser causada por fatores orgacircnicos ou funcionais Entre

os fatores orgacircnicos a doenccedila de Hirschsprung as anomalias anorretais as doenccedilas

metaboacutelicas e as doenccedilas endocrinoloacutegicas como o hipotireoidismo devem sempre ser

lembradas5 Entretanto os quadros funcionais satildeo muito mais frequentes

6

As pesquisas realizadas ateacute o momento identificam a baixa ingestatildeo hiacutedrica os

fatores constitucionais e o desmame precoce como marcadores envolvidos no

desenvolvimento dessa morbidade7 O aleitamento artificial que se segue ao desmame

parece ser o principal deles8 Contudo mais estudos satildeo necessaacuterios natildeo apenas para

confirmar essa associaccedilatildeo mas tambeacutem para avaliar como os outros aspectos alimentares

relativos ao desmame participam das mudanccedilas do haacutebito alimentar protegendo ou

precipitando o surgimento dos transtornos evacuatoacuterios9

12 Meacutetodo

Realizou-se levantamento bibliograacutefico mediante consulta agrave base de dados

PUBMED BIREME e SCIELO considerando-se preferencialmente artigos na liacutengua

inglesa publicados nos uacuteltimos 10 anos entre 1998 e 2008 As publicaccedilotildees eram referentes

agrave prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em lactentes Para a busca foram

consideradas as palavras-chave constipation epidemiology infant breastfeeding risk

factors Esses termos foram determinados apoacutes consulta aos descritores em sauacutede (DeCs)

disponiacuteveis na BIREME Foram estabelecidos ainda os seguintes limites estudos com

humanos artigos referentes a ensaios cliacutenicos metanaacutelises ensaios randomizados

controlados e artigos de revisatildeo faixa etaacuteria de zero a dois anos

16

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo

A adequada definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal eacute importante para identificar de

forma precoce o paciente que apresenta a morbidade diminuindo o risco de complicaccedilotildees

e o custo do tratamento10

Em estudos cientiacuteficos epidemioloacutegicos a dificuldade na definiccedilatildeo da morbidade eacute

facilmente percebida As diferentes taxas epidemioloacutegicas relatadas na literatura ressaltam

que a identificaccedilatildeo do problema natildeo eacute tatildeo faacutecil quanto possa parecer1112

Assim alguns

autores tecircm adotado criteacuterios proacuteprios para identificar pacientes constipados incluindo

defecaccedilatildeo infrequente fezes duras dificuldade ou passagem de fezes dolorosas sem

uniformizaccedilatildeo na definiccedilatildeo e na caracterizaccedilatildeo desses sintomas13-19

A preocupaccedilatildeo em encontrar um consenso para a definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal existe haacute algumas deacutecadas20

Um dos conceitos mais adotados em pesquisas

cientiacuteficas estabelece como criteacuterio a frequecircncia evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por

semana315

Esse criteacuterio eacute adotado para a populaccedilatildeo adulta poreacutem eacute falho para crianccedilas

principalmente para as menores de quatro anos21

A Tabela 1 apresenta a frequecircncia

evacuatoacuteria da crianccedila estabelecida por Fontana et al (1989)22

Observa-se que existe

acentuada variaccedilatildeo desse paracircmetro nas diversas faixas etaacuterias No primeiro ano de vida a

amplitude da frequecircncia evacuatoacuteria eacute tatildeo vasta que maior valorizaccedilatildeo do paracircmetro pode

levar a erros no diagnoacutestico da morbidade22

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees

Idade Evacuaccedilotildees

por semana

Evacuaccedilotildees

por dia

0-3 meses

Aleitamento materno 5-40 29

Foacutermulas 5-28 20

6-12 meses 5-28 18

1-3 anos 4-21 14

Mais de 3 anos 3-14 10

Fonte Fontana et al (1989)22

17

A partir do consenso ROMA I o qual ofereceu definiccedilotildees iniciais para doenccedilas

funcionais do trato digestivo de adultos muito se evoluiu em termo de nomenclatura

criteacuterios e definiccedilotildees para as doenccedilas digestivas23

Esse consenso forneceu importantes definiccedilotildees para as alteraccedilotildees funcionais

pediaacutetricas23

Em relaccedilatildeo agrave constipaccedilatildeo intestinal da crianccedila as contribuiccedilotildees do Consenso

de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT)24

da Sociedade Norte-

Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo (NASGHAN)1 e de ROMA III

8

passaram a ser adotadas nos estudos que se seguiram No entanto entre eles satildeo notaacuteveis

as diferenccedilas nos criteacuterios conforme se segue

Roma II - em lactentes e crianccedilas preacute-escolares por pelo menos duas semanas fezes

em ciacutebalos com rachaduras duras na maioria das evacuaccedilotildees ou duas ou menos

evacuaccedilotildees de fezes firmes por semana natildeo havendo evidecircncia de doenccedila

estrutural endoacutecrina ou metaboacutelica23

Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT) - um

periacuteodo de oito semanas com pelo menos dois dos seguintes sintomas frequecircncia

evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por semana incontinecircncia fecal acima de uma vez

por semana passagem de fezes grandes que podem entupir o vaso sanitaacuterio massa

fecal palpaacutevel no abdocircmen ou no reto comportamento de retenccedilatildeo de fezes ou

defecaccedilatildeo dolorosa24

Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo

(NASPGHAN) - atraso ou dificuldade de evacuar presente por duas ou mais

semanas e suficiente para causar desconforto ao paciente25

Roma III - em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade no periacuteodo de 30

dias pelo menos dois dos seguintes itens duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao

menos um episoacutedio de incontinecircncia por semana apoacutes a habilidade para utilizar o

banheiro histoacuteria de retenccedilatildeo excessiva de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis

presenccedila de grande massa fecal no reto e fezes com grande diacircmetro e que podem

obstruir o vaso sanitaacuterio A esses sintomas associam-se a irritabilidade a falta de

apetite eou a saciedade precoce Todos podem desaparecer apoacutes a eliminaccedilatildeo das

fezes8

18

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes

A real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal em lactentes natildeo foi ateacute o momento

adequadamente estabelecida De acordo com as pesquisas mais recentes os iacutendices variam

de 0726

a 4825

Para ilustrar essas divergecircncias na prevalecircncia da morbidade foi demonstrada no

Tabela 1 uma seacuterie de estudos realizados entre os anos de 1998 e 2008

Tabela 1 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008)

Estudo Paiacutes

Ano

Delineamento N Idade Criteacuterio

definido por

Prevalecircncia

Motta et al13

Brasil 1998 Transversal 536 0ndash11 a Autor 218 0-239 m

Aguirre et al14

Brasil 2000 Transversal 275 0ndash25 a Autor 251

Souza et al15

Brasil 2001 Transversal 289 1m-4 a Percepccedilatildeo matildee 153 0-239 m

Del Ciampo et al16

Brasil 2002 Transversal 313 1ndash10 a Autor 268

Miele et al 26

Itaacutelia 2004 Longitudinal 9660 0ndash12 a Roma II 07

Corazziari et al 27

Itaacutelia 2005 Longitudinal 2680 0ndash12 a Autor 52 0-239 m

Iacono et al3 Itaacutelia 2005 Longitudinal 2879 0ndash05 a Autor 176

Loening-Bauke2 EUA 2005 Transversal 4157 0ndash2 a NASPGHAN

ou Roma II

29 1 a

101 2 a

Ludvigsson et al28

Sueacutecia 2006 Longitudinal 8431 0ndash25 a Percepccedilatildeo matildee 65

Boccia et al25

Itaacutelia 2007 Longitudinal 126 0ndash18 a Roma II e

PACCT

Roma II15-lt4a

PACCT48-lt4a

Medeiros et al19

Brasil 2007 Transversal 561 0ndash19 a Autor 191 0-239 m

Pina et al29

Espanha2008 Transversal 3487 0ndash4 m Autor 61

A = ano m = mecircs

A grande diferenccedila encontrada pode ser explicada pelas divergecircncias no criteacuterio

utilizado para definir a constipaccedilatildeo intestinal pelo delineamento do estudo realizado e pela

faixa etaacuteria considerada

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo especificamente em lactentes foi determinada em

apenas nove desses estudos2313-151927-29

Desses autores apenas um adotou criteacuterio

internacional na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo13

Os demais empregaram princiacutepio

19

proacuteprio2313-1527-29

sendo que nos estudos de Ludvigsson28

e Souza15

o criteacuterio utilizado

para diagnosticar os lactentes constipados foi a percepccedilatildeo das matildees

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias

A literatura mostra a ocorrecircncia de constipaccedilatildeo entre os familiares das crianccedilas

constipadas3031

Na Espanha em 2005 foi realizado um estudo de caso-controle para avaliar os

fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo infantil Foram incluiacutedas crianccedilas

com idades entre quatro meses e 15 anos e que apresentavam quadro de constipaccedilatildeo

crocircnica Seus controles eram as crianccedilas imediatamente atendidas sem histoacuteria preacutevia de

constipaccedilatildeo No grupo-controle 351 das crianccedilas apresentavam histoacuteria familiar com

quadro de constipaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com 542 do grupo em estudo cuja diferenccedila foi

significativa entre os grupos (plt0001) Na situaccedilatildeo pais separados a matildee apresentou mais

frequecircncia de constipaccedilatildeo no grupo de crianccedilas constipadas em relaccedilatildeo ao grupo-controle

956 e 286 respectivamente (plt0001)30

Na investigaccedilatildeo de Roma et al (1999)31

que avaliou a presenccedila de constipaccedilatildeo em

crianccedilas de dois a 14 anos identificou-se histoacuteria familiar positiva para o distuacuterbio (pais ou

irmatildeos) em 625 das crianccedilas constipadas e em 303 dos familiares dos indiviacuteduos

controles (p lt0000001) A prevalecircncia de constipaccedilatildeo crocircnica em crianccedilas foi de 34 se

nenhum dos pais manifestava o problema 103 se um dos pais estava constipado e

485 se ambos (p lt00001)31

152 Aleitamento materno

Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno constitui-se em fator

de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal na crianccedila314

Iacono et al (2005)3 desenvolveram uma pesquisa para avaliar a frequecircncia dos

sintomas gastrintestinais mais comuns durante os primeiros seis meses de vida e avaliar a

influecircncia de algumas variaacuteveis sobre o aparecimento dos sintomas Foram acompanhadas

20

2879 crianccedilas do nascimento ateacute os seis meses de vida A constipaccedilatildeo esteve presente em

507 e foi diagnosticada em idades entre 27 e 33 dias Os lactentes constipados natildeo

apresentaram diferenccedila na comparaccedilatildeo com aqueles sem a morbidade em relaccedilatildeo ao peso

ao nascer idade gestacional idade e niacutevel de ensino da matildee e do pai No entanto o nuacutemero

foi significativamente mais baixo na frequecircncia do aleitamento materno em relaccedilatildeo agraves

crianccedilas sem constipaccedilatildeo (763 versus 849 p=0007)3

A relaccedilatildeo entre o tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal foi

analisada em 275 lactentes atendidos consecutivamente no periacuteodo de dezembro de 1996 a

dezembro de 1997 concluindo-se que o aleitamento natural predominante eacute um fator de

proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo no primeiro semestre de vida14

Em um estudo de caso-controle realizado em um ambulatoacuterio de pediatria no

periacuteodo de outubro de 1997 a abril de 1999 foram acompanhados dois grupos de crianccedilas

com idades entre dois e 12 anos O primeiro grupo foi constituiacutedo de crianccedilas com

diagnoacutestico de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional e o segundo de crianccedilas com haacutebito

intestinal normal (grupo-controle) pareadas ao primeiro de acordo com o gecircnero e a faixa

etaacuteria Nos dois grupos foi aplicado um questionaacuterio padronizado para obter informaccedilotildees

sobre as caracteriacutesticas do haacutebito intestinal iniacutecio dos sintomas e o periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo Os autores concluiacuteram que houve tendecircncia ao periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo ser mais longo no grupo de crianccedilas sem constipaccedilatildeo32

153 Aleitamento artificial

No primeiro ano de vida satildeo frequentes as reaccedilotildees adversas ao leite de vaca Aleacutem

de sintomas respiratoacuterios e dermatoloacutegicos tambeacutem foram verificados sintomas

gastrintestinais como a constipaccedilatildeo intestinal e sangue nas fezes33-37

Em 2008 foram avaliadas durante um ano 555 crianccedilas nascidas consecutivamente

em um hospital Apenas 27 delas apresentaram reaccedilatildeo aleacutergica ao leite de vaca e somente

uma manifestou como sintoma a constipaccedilatildeo33

Na Turquia foi realizado um estudo retrospectivo com dois grupos de 30 crianccedilas

com idades compreendidas entre quatro meses e trecircs anos O grupo I foi constituiacutedo de

crianccedilas com fissura anal e constipaccedilatildeo crocircnica e que natildeo apresentavam necessidade de

cirurgia e o grupo II incluiu crianccedilas normais O consumo diaacuterio de leite de vaca a

duraccedilatildeo do aleitamento materno e outras caracteriacutesticas cliacutenicas das crianccedilas foram

21

investigadas O consumo meacutedio diaacuterio de leite de vaca foi maior (plt0001) e o tempo de

amamentaccedilatildeo foi mais curto no grupo I (plt0001 e plt0006 respectivamente) O risco

(odds ratio) de constipaccedilatildeo quando presentes cada um desses fatores foi de 86 (intervalo

de confianccedila - IC95 023-074 p=00005) e 57 (IC 95 037-066 p=0007)

respectivamente As crianccedilas que consumiam mais quantidade de leite de vaca

apresentaram risco oito vezes mais alto de desenvolver constipaccedilatildeo e fissura anal assim

como naqueles com duraccedilatildeo mais curta do aleitamento materno o risco foi cinco vezes

mais alto Os pesquisadores preconizam atraso na introduccedilatildeo do leite de vaca e o

consequente aumento no tempo do aleitamento materno34

Em outra pesquisa 27 crianccedilas com idades entre cinco e 36 meses e com

constipaccedilatildeo intestinal crocircnica idiopaacutetica foram investigadas na possiacutevel relaccedilatildeo entre

constipaccedilatildeo e alergia agrave proteiacutena do leite de vaca Inicialmente elas foram observadas

consumindo dieta sem restriccedilotildees e registrava-se o nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias

Posteriormente receberam dieta sem a proteiacutena do leite de vaca por dois periacuteodos de um

mecircs separados por dois desafios com a proteiacutena do leite de vaca Durante a dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca 21 apresentaram melhora dos sintomas e durante os dois desafios

consecutivos a constipaccedilatildeo reapareceu no periacuteodo de 48 a 72 horas A dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca natildeo melhorou a constipaccedilatildeo em seis pacientes Apenas quatro que

melhoraram com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca manifestaram sintomas de

alergia ao leite de vaca Histoacuteria meacutedica de alergia ao leite de vaca foi encontrada em 15

dos 21 pacientes curados e em apenas um dos seis que natildeo melhoraram (plt005) Ainda

nos 15 dos 21 curados os resultados de um ou mais testes laboratoriais (dosagem de

imunoglobulinas E e G ndash IgE IgG antiβ lactoglobulina e eosinoacutefilos circulantes) foram

positivos no momento do diagnoacutestico indicando hipersensibilidade comparados com um

dos seis pacientes que natildeo tinham melhorado (plt 0005) Os resultados encontrados na

endoscopia e histologia no momento do diagnoacutestico mostraram proctite monociacutetica com

infiltraccedilatildeo em duas crianccedilas curadas com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca depois

de um mecircs da dieta eles estavam completamente normais A conclusatildeo foi que a

constipaccedilatildeo pode ter patogecircnese aleacutergica35

Em 1995 Hyams et al desenvolveram um estudo prospectivo duplo-cego para

avaliar o efeito das foacutermulas nas caracteriacutesticas das fezes de lactentes Foram selecionadas

crianccedilas saudaacuteveis com um mecircs de idade e acompanhadas por 14 dias Os autores

demonstraram que aquelas alimentadas com leite materno apresentaram maior frequecircncia

22

evacuatoacuteria (p lt 0001) e fezes mais macias (p lt 00001) do que as alimentadas com

foacutermulas laacutecteas36

154 Fibra alimentar

As fibras alimentares satildeo habitualmente consideradas importantes para a prevenccedilatildeo

da constipaccedilatildeo Acredita-se que a sua introduccedilatildeo na alimentaccedilatildeo complementar de forma

equilibrada certamente contribuiraacute para a pouca ocorrecircncia desse distuacuterbio no primeiro ano

de vida37

poreacutem existem poucos trabalhos sobre o consumo de fibras por lactentes Os

resultados encontrados demonstram que a fibra alimentar desempenha papel ainda natildeo

comprovado25

No jaacute mencionado estudo de Aguirre et al (2002) que avaliou a relaccedilatildeo entre o

tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal em 275 lactentes descreveu-se a

implicaccedilatildeo do uso de fibra alimentar Para os lactentes de seis a 24 meses a comparaccedilatildeo

do consumo de fibra alimentar por aqueles com constipaccedilatildeo (mediana=90g percentis 25 e

75 69-131g) e pelos demais com haacutebito intestinal normal natildeo demonstrou diferenccedilas

significativas (mediana=88 percentis 25 e 75 61-129g) (p=057)14

Em trecircs localidades da Greacutecia foi considerada uma amostra randomizada de

crianccedilas (291 com constipaccedilatildeo e 1602 controles) com idades entre dois e 14 anos

Realizou-se o registro alimentar de trecircs dias e a histoacuteria dieteacutetica para avaliar a ingestatildeo

alimentar A ingestatildeo da fibra alimentar foi estatisticamente menor na dieta das crianccedilas

constipadas em todas as faixas etaacuterias quando comparadas com o grupo-controle Os

autores salientaram que a baixa ingestatildeo de fibras na dieta de crianccedilas constipadas

independentemente da idade dos sintomas que acompanham a disfunccedilatildeo e da idade de

iniacutecio sustenta a hipoacutetese causal da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica em crianccedilas31

Segundo a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e

Nutriccedilatildeo (NASPGHAN) o uso de fibras pela crianccedila constipada ainda eacute contraditoacuterio e ateacute

que novos estudos demonstrem a eficaacutecia do tratamento com esse produto os resultados

atuais satildeo fracos para apoiar a recomendaccedilatildeo definitiva de sua suplementaccedilatildeo no

tratamento dessa morbidade25

Pesquisas mais especiacuteficas quanto ao consumo de fibras por lactentes satildeo escassas

na literatura cientiacutefica14

A aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos alimentares e a escolha de tabelas

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 3: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Reitor Prof Ronaldo Tadecircu Pena

Vice-Reitora Profa Heloisa Maria Murgel Starling

Proacute-Reitora de Poacutes-Graduaccedilatildeo Profa Elisabeth Ribeiro da Silva

Proacute-Reitor de Pesquisa Prof Carlos Alberto Pereira Tavares

FACULDADE DE MEDICINA

Diretor da Faculdade de Medicina Prof Francisco Joseacute Penna

Vice-Diretor da Faculdade de Medicina Prof Tarcizo Afonso Nunes

Coordenador do Centro de Poacutes-Graduaccedilatildeo Prof Carlos Faria Santos Amaral

Chefe do Departamento de Pediatria Profa Maria Aparecida Martins

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

Aacuterea de Concentraccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente

Coordenador Prof Joel Alves Lamounier

Subcoordenadora Profordf Ana Cristina Simotildees e Silva

Colegiado

Prof Joel Alves Lamounier

Profordf Ana Cristina Simotildees e Silva

Prof Jorge Andrade Pinto

Profordf Ivani Novato Silva

Profordf Luacutecia Maria Horta Figueiredo Goulart

Profordf Maria Cacircndida Ferrarez Bouzada Viana

Prof Marco Antocircnio Duarte

Profordf Regina Lunardi Rocha

Adriana Santos de Oliveira (Representante Disciplinar Titular)

Agrave amiga Acircngela Maria Sezini

por estar sempre me apoiando e incentivando desde a graduaccedilatildeo

e por ter me apresentado agrave professora Elizabet Vilar Guimaratildees

A Custoacutedio Gomes Moreira

pela compreensatildeo e constante apoio

Agrave Miacuteria Senra

pelo grande apoio e incentivo

durante toda a minha caminhada

AGRADECIMENTO ESPECIAL

Agrave Profordf Elizabet Vilar Guimaratildees pela paciecircncia dedicaccedilatildeo paz incentivo e ensinamentos

sobre a pesquisa cientiacutefica

Agradeccedilo de coraccedilatildeo

AGRADECIMENTOS

A Deus criador e favorecedor de todas as coisas princiacutepio meio e fim

Aos meus queridos pais Ciacutecero e Maria Adelina por tudo que fazem por mim

Agrave minha querida secretaacuteria Deiliane por ter contribuiacutedo para a construccedilatildeo do meu banco

de dados

Agrave Nataacutelia que me ajudou a conduzir os primeiros dados estatiacutesticos

Agraves alunas do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena pela coleta de dados

Agraves funcionaacuterias do Posto Central pela gentileza em fornecer os endereccedilos das crianccedilas

Agraves matildees e crianccedilas que participaram do estudo

Ao Marcelo Militatildeo pela colaboraccedilatildeo na estatiacutestica do meu estudo

Agraves colegas de mestrado Siacutelvia e Maria das Dores pelas experiecircncias trocadas

Aos meus pacientes pela compreensatildeo nos momentos de ausecircncia do consultoacuterio

Agrave amiga Deolane pelas nossas conversas e desabafos no caminho para o trabalho na

Universidade de Itauacutena

Agrave amiga Cecy pela paz e tranquilidade que sempre me proporciona

Agrave Juldete por ter me amparado em um momento difiacutecil da minha vida

NOTA EXPLICATIVA

A presente dissertaccedilatildeo segue as orientaccedilotildees do Centro de Poacutes-Graduaccedilatildeo da Faculdade de

Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e seraacute apresentada em duas partes sob

a forma de dois artigos cientiacuteficos

A primeira parte refere-se ao artigo de revisatildeo e seguiu as normas da Revista Meacutedica de

Minas Gerais de acordo com o estabelecido no site wwwbibliomedcombr

O segundo artigo eacute original e seraacute submetido ao perioacutedico Journal of Pediatric

Gastroenterology and Nutrition As normas de publicaccedilatildeo desse perioacutedico encontram-se

no endereccedilo eletrocircnico wwwjpgnorg

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CI Constipaccedilatildeo intestinal

CONEP Comissatildeo Nacional de Eacutetica em Pesquisa

DeCs Descritores em sauacutede

DP Desvio-padratildeo

EUA Estados Unidos da Ameacuterica

IC Intervalo de confianccedila

IgE Imunoglobulina E

IgG Imunoglobulina G

LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciecircncias da Sauacutede

MG Minas Gerais

NASPGHAN Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia e Nutriccedilatildeo

OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede

OR Odds ratio

PACCT Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Artigo original

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal 35

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo por idade do lactente (meses) 37

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio por idade do lactente (meses) 38

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar por idade do lactente (meses) 38

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras por idade do lactente (meses) 38

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes aos 3 6 9 e 12 meses de

vida

40

LISTA DE TABELAS

Artigo de revisatildeo

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees 16

Tabela 2 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008) 18

Artigo original

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas 34

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento)

dependente do tempo

34

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal 34

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de

fezes nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

36

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida do lactente

39

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semana avaliada trimestralmente 40

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros 41

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e tipo de fezes

41

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes 42

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes 42

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

43

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs 44

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno 45

SUMAacuteRIO1

1 ARTIGO DE REVISAtildeO - PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM LACTENTES

13

11 Introduccedilatildeo 15

12 Metodologia 15

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo 16

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes 18

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal 19

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias 19

152 Aleitamento materno 19

153 Aleitamento artificial 20

154 Fibra alimentar 22

16 Consideraccedilotildees finais 23

Referecircncias 23

2 ARTIGO ORIGINAL - PREVALEcircNCIA DE CONSTIPACcedilAtildeOINTESTINAL NO

PRIMEIRO ANO DE VIDA UM ESTUDO LONGITUDINAL

27

21 Introduccedilatildeo 29

22 Casuiacutestica e meacutetodos 30

221 Local do estudo 30

222 Populaccedilatildeo estudada 30

223 Meacutetodos 30

2231 Delineamento do estudo 30

2232 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo 30

2233 Caacutelculo da amostra 31

2234 Coleta de dados 31

2235 Variaacuteveis coletadas 31

2236 Anaacutelise estatiacutestica 32

2237 Aspecto eacutetico 33

1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortograacuteficas

23 Resultados 33

24 Discussatildeo 45

25 Conclusatildeo 49

Referecircncias 48

Anexo A - Parecer da Cacircmara do Departamento de Pediatria da UFMG 50

Anexo B - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFMG 51

Anexo C - Parecer da Secretaria Municipal de Itauacutena 52

Apecircndice A - Questionaacuterio estruturado 53

Apecircndice B - Esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitaccedilatildeo de autorizaccedilatildeo

Apecircndice C - Escala de consistecircncia de fezes

Apecircndice D - Termo de consentimento livre e esclarecido

1 ARTIGO DE REVISAtildeO _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM

LACTENTES

14

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em

lactentes

A constipaccedilatildeo intestinal eacute um problema comum em lactentes Foi realizada revisatildeo

sistemaacutetica da literatura nos sites do PUBMED BIREME e SCIELO utilizando os

descritores constipation infant breastfeeding risk factores Para limitar os assuntos

estabeleceu-se All Infant birth-23 months A prevalecircncia da constipaccedilatildeo variou de 07 a

48 Apesar de existirem criteacuterios para diagnosticar esse distuacuterbio em lactentes muitos

autores adotam criteacuterios proacuteprios o que pode fazer com que a prevalecircncia varie muito de

um trabalho para outro Quanto aos fatores de risco observou-se que os componentes

constitucionais e hereditaacuterios estatildeo presentes em pais irmatildeos e tios das crianccedilas

constipadas Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno se constitui em

um fator de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo Pesquisas demonstram que

o consumo do leite de vaca e de foacutermulas contribui para o surgimento desse evento no

primeiro ano de vida Existem poucas investigaccedilotildees sobre o consumo de fibras alimentares

em lactentes e em crianccedilas constipadas sua utilizaccedilatildeo como suplemento ainda eacute

controversa Estudos sobre prevalecircncia com caracterizaccedilatildeo especiacutefica para lactentes com

fatores de risco associados agrave constipaccedilatildeo poderatildeo trazer melhor compreensatildeo do impacto

da morbidade dessa doenccedila e favorecer melhor tratamento e prevenccedilatildeo

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with chronic functional constipation in infants

Infant intestinal constipation is a common problem A non-systematic literature

review was performed on PUBMED BIREME and SCIELO using the following key

concepts constipation infant epidemiology and risk factors The term All Infant birth-23

months was selected for the specific search The prevalence of constipation varied from 07

to 48 Criteria for the diagnosis of this disorder in infants are available but many authors

adopt their own criteria which may result in a large prevalence variation between the

several studies conducted With regards to the risk factors it was observed that parents

brothers and uncles of the constipated children present the constitutional and hereditary

components Some studies have shown that the maternal breastfeeding is a protection

factor against the constipation development Researches have confirmed that the

consumption of cowrsquos milk and formulas favor the occurrence of this event in the first year

of life There are few investigations made regarding the consumption of alimentary fibers

by infants and therefore the utilization as a nutritional supplement is still controversial

The development of prevalence studies oriented specifically to infants with risk factors

associated to constipation may provide a better comprehension of the morbosity impact of

this disease as well as an improved treatment and prevention

Key-words Constipation Infant Epidemiology Risk factors

15

11 Introduccedilatildeo

Em todo o mundo a constipaccedilatildeo intestinal (CI) em lactentes eacute uma morbidade de

significativa relevacircncia Na literatura cientiacutefica existe ampla variaccedilatildeo na prevalecircncia dessa

doenccedila em crianccedilas o que revela a existecircncia de fatores que alteram a sua distribuiccedilatildeo ou

problemas relacionados agrave sua definiccedilatildeo ou nomenclatura

Geralmente pais de lactentes satildeo muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e qualquer

modificaccedilatildeo do haacutebito intestinal os leva a buscar assistecircncia meacutedica1

Estudos demonstram que importante proporccedilatildeo de crianccedilas com constipaccedilatildeo

intestinal inicia o quadro no primeiro ano de vida2-4

Durante os dois primeiros anos de

vida a constipaccedilatildeo intestinal pode ser causada por fatores orgacircnicos ou funcionais Entre

os fatores orgacircnicos a doenccedila de Hirschsprung as anomalias anorretais as doenccedilas

metaboacutelicas e as doenccedilas endocrinoloacutegicas como o hipotireoidismo devem sempre ser

lembradas5 Entretanto os quadros funcionais satildeo muito mais frequentes

6

As pesquisas realizadas ateacute o momento identificam a baixa ingestatildeo hiacutedrica os

fatores constitucionais e o desmame precoce como marcadores envolvidos no

desenvolvimento dessa morbidade7 O aleitamento artificial que se segue ao desmame

parece ser o principal deles8 Contudo mais estudos satildeo necessaacuterios natildeo apenas para

confirmar essa associaccedilatildeo mas tambeacutem para avaliar como os outros aspectos alimentares

relativos ao desmame participam das mudanccedilas do haacutebito alimentar protegendo ou

precipitando o surgimento dos transtornos evacuatoacuterios9

12 Meacutetodo

Realizou-se levantamento bibliograacutefico mediante consulta agrave base de dados

PUBMED BIREME e SCIELO considerando-se preferencialmente artigos na liacutengua

inglesa publicados nos uacuteltimos 10 anos entre 1998 e 2008 As publicaccedilotildees eram referentes

agrave prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em lactentes Para a busca foram

consideradas as palavras-chave constipation epidemiology infant breastfeeding risk

factors Esses termos foram determinados apoacutes consulta aos descritores em sauacutede (DeCs)

disponiacuteveis na BIREME Foram estabelecidos ainda os seguintes limites estudos com

humanos artigos referentes a ensaios cliacutenicos metanaacutelises ensaios randomizados

controlados e artigos de revisatildeo faixa etaacuteria de zero a dois anos

16

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo

A adequada definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal eacute importante para identificar de

forma precoce o paciente que apresenta a morbidade diminuindo o risco de complicaccedilotildees

e o custo do tratamento10

Em estudos cientiacuteficos epidemioloacutegicos a dificuldade na definiccedilatildeo da morbidade eacute

facilmente percebida As diferentes taxas epidemioloacutegicas relatadas na literatura ressaltam

que a identificaccedilatildeo do problema natildeo eacute tatildeo faacutecil quanto possa parecer1112

Assim alguns

autores tecircm adotado criteacuterios proacuteprios para identificar pacientes constipados incluindo

defecaccedilatildeo infrequente fezes duras dificuldade ou passagem de fezes dolorosas sem

uniformizaccedilatildeo na definiccedilatildeo e na caracterizaccedilatildeo desses sintomas13-19

A preocupaccedilatildeo em encontrar um consenso para a definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal existe haacute algumas deacutecadas20

Um dos conceitos mais adotados em pesquisas

cientiacuteficas estabelece como criteacuterio a frequecircncia evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por

semana315

Esse criteacuterio eacute adotado para a populaccedilatildeo adulta poreacutem eacute falho para crianccedilas

principalmente para as menores de quatro anos21

A Tabela 1 apresenta a frequecircncia

evacuatoacuteria da crianccedila estabelecida por Fontana et al (1989)22

Observa-se que existe

acentuada variaccedilatildeo desse paracircmetro nas diversas faixas etaacuterias No primeiro ano de vida a

amplitude da frequecircncia evacuatoacuteria eacute tatildeo vasta que maior valorizaccedilatildeo do paracircmetro pode

levar a erros no diagnoacutestico da morbidade22

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees

Idade Evacuaccedilotildees

por semana

Evacuaccedilotildees

por dia

0-3 meses

Aleitamento materno 5-40 29

Foacutermulas 5-28 20

6-12 meses 5-28 18

1-3 anos 4-21 14

Mais de 3 anos 3-14 10

Fonte Fontana et al (1989)22

17

A partir do consenso ROMA I o qual ofereceu definiccedilotildees iniciais para doenccedilas

funcionais do trato digestivo de adultos muito se evoluiu em termo de nomenclatura

criteacuterios e definiccedilotildees para as doenccedilas digestivas23

Esse consenso forneceu importantes definiccedilotildees para as alteraccedilotildees funcionais

pediaacutetricas23

Em relaccedilatildeo agrave constipaccedilatildeo intestinal da crianccedila as contribuiccedilotildees do Consenso

de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT)24

da Sociedade Norte-

Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo (NASGHAN)1 e de ROMA III

8

passaram a ser adotadas nos estudos que se seguiram No entanto entre eles satildeo notaacuteveis

as diferenccedilas nos criteacuterios conforme se segue

Roma II - em lactentes e crianccedilas preacute-escolares por pelo menos duas semanas fezes

em ciacutebalos com rachaduras duras na maioria das evacuaccedilotildees ou duas ou menos

evacuaccedilotildees de fezes firmes por semana natildeo havendo evidecircncia de doenccedila

estrutural endoacutecrina ou metaboacutelica23

Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT) - um

periacuteodo de oito semanas com pelo menos dois dos seguintes sintomas frequecircncia

evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por semana incontinecircncia fecal acima de uma vez

por semana passagem de fezes grandes que podem entupir o vaso sanitaacuterio massa

fecal palpaacutevel no abdocircmen ou no reto comportamento de retenccedilatildeo de fezes ou

defecaccedilatildeo dolorosa24

Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo

(NASPGHAN) - atraso ou dificuldade de evacuar presente por duas ou mais

semanas e suficiente para causar desconforto ao paciente25

Roma III - em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade no periacuteodo de 30

dias pelo menos dois dos seguintes itens duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao

menos um episoacutedio de incontinecircncia por semana apoacutes a habilidade para utilizar o

banheiro histoacuteria de retenccedilatildeo excessiva de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis

presenccedila de grande massa fecal no reto e fezes com grande diacircmetro e que podem

obstruir o vaso sanitaacuterio A esses sintomas associam-se a irritabilidade a falta de

apetite eou a saciedade precoce Todos podem desaparecer apoacutes a eliminaccedilatildeo das

fezes8

18

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes

A real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal em lactentes natildeo foi ateacute o momento

adequadamente estabelecida De acordo com as pesquisas mais recentes os iacutendices variam

de 0726

a 4825

Para ilustrar essas divergecircncias na prevalecircncia da morbidade foi demonstrada no

Tabela 1 uma seacuterie de estudos realizados entre os anos de 1998 e 2008

Tabela 1 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008)

Estudo Paiacutes

Ano

Delineamento N Idade Criteacuterio

definido por

Prevalecircncia

Motta et al13

Brasil 1998 Transversal 536 0ndash11 a Autor 218 0-239 m

Aguirre et al14

Brasil 2000 Transversal 275 0ndash25 a Autor 251

Souza et al15

Brasil 2001 Transversal 289 1m-4 a Percepccedilatildeo matildee 153 0-239 m

Del Ciampo et al16

Brasil 2002 Transversal 313 1ndash10 a Autor 268

Miele et al 26

Itaacutelia 2004 Longitudinal 9660 0ndash12 a Roma II 07

Corazziari et al 27

Itaacutelia 2005 Longitudinal 2680 0ndash12 a Autor 52 0-239 m

Iacono et al3 Itaacutelia 2005 Longitudinal 2879 0ndash05 a Autor 176

Loening-Bauke2 EUA 2005 Transversal 4157 0ndash2 a NASPGHAN

ou Roma II

29 1 a

101 2 a

Ludvigsson et al28

Sueacutecia 2006 Longitudinal 8431 0ndash25 a Percepccedilatildeo matildee 65

Boccia et al25

Itaacutelia 2007 Longitudinal 126 0ndash18 a Roma II e

PACCT

Roma II15-lt4a

PACCT48-lt4a

Medeiros et al19

Brasil 2007 Transversal 561 0ndash19 a Autor 191 0-239 m

Pina et al29

Espanha2008 Transversal 3487 0ndash4 m Autor 61

A = ano m = mecircs

A grande diferenccedila encontrada pode ser explicada pelas divergecircncias no criteacuterio

utilizado para definir a constipaccedilatildeo intestinal pelo delineamento do estudo realizado e pela

faixa etaacuteria considerada

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo especificamente em lactentes foi determinada em

apenas nove desses estudos2313-151927-29

Desses autores apenas um adotou criteacuterio

internacional na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo13

Os demais empregaram princiacutepio

19

proacuteprio2313-1527-29

sendo que nos estudos de Ludvigsson28

e Souza15

o criteacuterio utilizado

para diagnosticar os lactentes constipados foi a percepccedilatildeo das matildees

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias

A literatura mostra a ocorrecircncia de constipaccedilatildeo entre os familiares das crianccedilas

constipadas3031

Na Espanha em 2005 foi realizado um estudo de caso-controle para avaliar os

fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo infantil Foram incluiacutedas crianccedilas

com idades entre quatro meses e 15 anos e que apresentavam quadro de constipaccedilatildeo

crocircnica Seus controles eram as crianccedilas imediatamente atendidas sem histoacuteria preacutevia de

constipaccedilatildeo No grupo-controle 351 das crianccedilas apresentavam histoacuteria familiar com

quadro de constipaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com 542 do grupo em estudo cuja diferenccedila foi

significativa entre os grupos (plt0001) Na situaccedilatildeo pais separados a matildee apresentou mais

frequecircncia de constipaccedilatildeo no grupo de crianccedilas constipadas em relaccedilatildeo ao grupo-controle

956 e 286 respectivamente (plt0001)30

Na investigaccedilatildeo de Roma et al (1999)31

que avaliou a presenccedila de constipaccedilatildeo em

crianccedilas de dois a 14 anos identificou-se histoacuteria familiar positiva para o distuacuterbio (pais ou

irmatildeos) em 625 das crianccedilas constipadas e em 303 dos familiares dos indiviacuteduos

controles (p lt0000001) A prevalecircncia de constipaccedilatildeo crocircnica em crianccedilas foi de 34 se

nenhum dos pais manifestava o problema 103 se um dos pais estava constipado e

485 se ambos (p lt00001)31

152 Aleitamento materno

Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno constitui-se em fator

de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal na crianccedila314

Iacono et al (2005)3 desenvolveram uma pesquisa para avaliar a frequecircncia dos

sintomas gastrintestinais mais comuns durante os primeiros seis meses de vida e avaliar a

influecircncia de algumas variaacuteveis sobre o aparecimento dos sintomas Foram acompanhadas

20

2879 crianccedilas do nascimento ateacute os seis meses de vida A constipaccedilatildeo esteve presente em

507 e foi diagnosticada em idades entre 27 e 33 dias Os lactentes constipados natildeo

apresentaram diferenccedila na comparaccedilatildeo com aqueles sem a morbidade em relaccedilatildeo ao peso

ao nascer idade gestacional idade e niacutevel de ensino da matildee e do pai No entanto o nuacutemero

foi significativamente mais baixo na frequecircncia do aleitamento materno em relaccedilatildeo agraves

crianccedilas sem constipaccedilatildeo (763 versus 849 p=0007)3

A relaccedilatildeo entre o tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal foi

analisada em 275 lactentes atendidos consecutivamente no periacuteodo de dezembro de 1996 a

dezembro de 1997 concluindo-se que o aleitamento natural predominante eacute um fator de

proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo no primeiro semestre de vida14

Em um estudo de caso-controle realizado em um ambulatoacuterio de pediatria no

periacuteodo de outubro de 1997 a abril de 1999 foram acompanhados dois grupos de crianccedilas

com idades entre dois e 12 anos O primeiro grupo foi constituiacutedo de crianccedilas com

diagnoacutestico de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional e o segundo de crianccedilas com haacutebito

intestinal normal (grupo-controle) pareadas ao primeiro de acordo com o gecircnero e a faixa

etaacuteria Nos dois grupos foi aplicado um questionaacuterio padronizado para obter informaccedilotildees

sobre as caracteriacutesticas do haacutebito intestinal iniacutecio dos sintomas e o periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo Os autores concluiacuteram que houve tendecircncia ao periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo ser mais longo no grupo de crianccedilas sem constipaccedilatildeo32

153 Aleitamento artificial

No primeiro ano de vida satildeo frequentes as reaccedilotildees adversas ao leite de vaca Aleacutem

de sintomas respiratoacuterios e dermatoloacutegicos tambeacutem foram verificados sintomas

gastrintestinais como a constipaccedilatildeo intestinal e sangue nas fezes33-37

Em 2008 foram avaliadas durante um ano 555 crianccedilas nascidas consecutivamente

em um hospital Apenas 27 delas apresentaram reaccedilatildeo aleacutergica ao leite de vaca e somente

uma manifestou como sintoma a constipaccedilatildeo33

Na Turquia foi realizado um estudo retrospectivo com dois grupos de 30 crianccedilas

com idades compreendidas entre quatro meses e trecircs anos O grupo I foi constituiacutedo de

crianccedilas com fissura anal e constipaccedilatildeo crocircnica e que natildeo apresentavam necessidade de

cirurgia e o grupo II incluiu crianccedilas normais O consumo diaacuterio de leite de vaca a

duraccedilatildeo do aleitamento materno e outras caracteriacutesticas cliacutenicas das crianccedilas foram

21

investigadas O consumo meacutedio diaacuterio de leite de vaca foi maior (plt0001) e o tempo de

amamentaccedilatildeo foi mais curto no grupo I (plt0001 e plt0006 respectivamente) O risco

(odds ratio) de constipaccedilatildeo quando presentes cada um desses fatores foi de 86 (intervalo

de confianccedila - IC95 023-074 p=00005) e 57 (IC 95 037-066 p=0007)

respectivamente As crianccedilas que consumiam mais quantidade de leite de vaca

apresentaram risco oito vezes mais alto de desenvolver constipaccedilatildeo e fissura anal assim

como naqueles com duraccedilatildeo mais curta do aleitamento materno o risco foi cinco vezes

mais alto Os pesquisadores preconizam atraso na introduccedilatildeo do leite de vaca e o

consequente aumento no tempo do aleitamento materno34

Em outra pesquisa 27 crianccedilas com idades entre cinco e 36 meses e com

constipaccedilatildeo intestinal crocircnica idiopaacutetica foram investigadas na possiacutevel relaccedilatildeo entre

constipaccedilatildeo e alergia agrave proteiacutena do leite de vaca Inicialmente elas foram observadas

consumindo dieta sem restriccedilotildees e registrava-se o nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias

Posteriormente receberam dieta sem a proteiacutena do leite de vaca por dois periacuteodos de um

mecircs separados por dois desafios com a proteiacutena do leite de vaca Durante a dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca 21 apresentaram melhora dos sintomas e durante os dois desafios

consecutivos a constipaccedilatildeo reapareceu no periacuteodo de 48 a 72 horas A dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca natildeo melhorou a constipaccedilatildeo em seis pacientes Apenas quatro que

melhoraram com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca manifestaram sintomas de

alergia ao leite de vaca Histoacuteria meacutedica de alergia ao leite de vaca foi encontrada em 15

dos 21 pacientes curados e em apenas um dos seis que natildeo melhoraram (plt005) Ainda

nos 15 dos 21 curados os resultados de um ou mais testes laboratoriais (dosagem de

imunoglobulinas E e G ndash IgE IgG antiβ lactoglobulina e eosinoacutefilos circulantes) foram

positivos no momento do diagnoacutestico indicando hipersensibilidade comparados com um

dos seis pacientes que natildeo tinham melhorado (plt 0005) Os resultados encontrados na

endoscopia e histologia no momento do diagnoacutestico mostraram proctite monociacutetica com

infiltraccedilatildeo em duas crianccedilas curadas com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca depois

de um mecircs da dieta eles estavam completamente normais A conclusatildeo foi que a

constipaccedilatildeo pode ter patogecircnese aleacutergica35

Em 1995 Hyams et al desenvolveram um estudo prospectivo duplo-cego para

avaliar o efeito das foacutermulas nas caracteriacutesticas das fezes de lactentes Foram selecionadas

crianccedilas saudaacuteveis com um mecircs de idade e acompanhadas por 14 dias Os autores

demonstraram que aquelas alimentadas com leite materno apresentaram maior frequecircncia

22

evacuatoacuteria (p lt 0001) e fezes mais macias (p lt 00001) do que as alimentadas com

foacutermulas laacutecteas36

154 Fibra alimentar

As fibras alimentares satildeo habitualmente consideradas importantes para a prevenccedilatildeo

da constipaccedilatildeo Acredita-se que a sua introduccedilatildeo na alimentaccedilatildeo complementar de forma

equilibrada certamente contribuiraacute para a pouca ocorrecircncia desse distuacuterbio no primeiro ano

de vida37

poreacutem existem poucos trabalhos sobre o consumo de fibras por lactentes Os

resultados encontrados demonstram que a fibra alimentar desempenha papel ainda natildeo

comprovado25

No jaacute mencionado estudo de Aguirre et al (2002) que avaliou a relaccedilatildeo entre o

tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal em 275 lactentes descreveu-se a

implicaccedilatildeo do uso de fibra alimentar Para os lactentes de seis a 24 meses a comparaccedilatildeo

do consumo de fibra alimentar por aqueles com constipaccedilatildeo (mediana=90g percentis 25 e

75 69-131g) e pelos demais com haacutebito intestinal normal natildeo demonstrou diferenccedilas

significativas (mediana=88 percentis 25 e 75 61-129g) (p=057)14

Em trecircs localidades da Greacutecia foi considerada uma amostra randomizada de

crianccedilas (291 com constipaccedilatildeo e 1602 controles) com idades entre dois e 14 anos

Realizou-se o registro alimentar de trecircs dias e a histoacuteria dieteacutetica para avaliar a ingestatildeo

alimentar A ingestatildeo da fibra alimentar foi estatisticamente menor na dieta das crianccedilas

constipadas em todas as faixas etaacuterias quando comparadas com o grupo-controle Os

autores salientaram que a baixa ingestatildeo de fibras na dieta de crianccedilas constipadas

independentemente da idade dos sintomas que acompanham a disfunccedilatildeo e da idade de

iniacutecio sustenta a hipoacutetese causal da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica em crianccedilas31

Segundo a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e

Nutriccedilatildeo (NASPGHAN) o uso de fibras pela crianccedila constipada ainda eacute contraditoacuterio e ateacute

que novos estudos demonstrem a eficaacutecia do tratamento com esse produto os resultados

atuais satildeo fracos para apoiar a recomendaccedilatildeo definitiva de sua suplementaccedilatildeo no

tratamento dessa morbidade25

Pesquisas mais especiacuteficas quanto ao consumo de fibras por lactentes satildeo escassas

na literatura cientiacutefica14

A aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos alimentares e a escolha de tabelas

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 4: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

Agrave amiga Acircngela Maria Sezini

por estar sempre me apoiando e incentivando desde a graduaccedilatildeo

e por ter me apresentado agrave professora Elizabet Vilar Guimaratildees

A Custoacutedio Gomes Moreira

pela compreensatildeo e constante apoio

Agrave Miacuteria Senra

pelo grande apoio e incentivo

durante toda a minha caminhada

AGRADECIMENTO ESPECIAL

Agrave Profordf Elizabet Vilar Guimaratildees pela paciecircncia dedicaccedilatildeo paz incentivo e ensinamentos

sobre a pesquisa cientiacutefica

Agradeccedilo de coraccedilatildeo

AGRADECIMENTOS

A Deus criador e favorecedor de todas as coisas princiacutepio meio e fim

Aos meus queridos pais Ciacutecero e Maria Adelina por tudo que fazem por mim

Agrave minha querida secretaacuteria Deiliane por ter contribuiacutedo para a construccedilatildeo do meu banco

de dados

Agrave Nataacutelia que me ajudou a conduzir os primeiros dados estatiacutesticos

Agraves alunas do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena pela coleta de dados

Agraves funcionaacuterias do Posto Central pela gentileza em fornecer os endereccedilos das crianccedilas

Agraves matildees e crianccedilas que participaram do estudo

Ao Marcelo Militatildeo pela colaboraccedilatildeo na estatiacutestica do meu estudo

Agraves colegas de mestrado Siacutelvia e Maria das Dores pelas experiecircncias trocadas

Aos meus pacientes pela compreensatildeo nos momentos de ausecircncia do consultoacuterio

Agrave amiga Deolane pelas nossas conversas e desabafos no caminho para o trabalho na

Universidade de Itauacutena

Agrave amiga Cecy pela paz e tranquilidade que sempre me proporciona

Agrave Juldete por ter me amparado em um momento difiacutecil da minha vida

NOTA EXPLICATIVA

A presente dissertaccedilatildeo segue as orientaccedilotildees do Centro de Poacutes-Graduaccedilatildeo da Faculdade de

Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e seraacute apresentada em duas partes sob

a forma de dois artigos cientiacuteficos

A primeira parte refere-se ao artigo de revisatildeo e seguiu as normas da Revista Meacutedica de

Minas Gerais de acordo com o estabelecido no site wwwbibliomedcombr

O segundo artigo eacute original e seraacute submetido ao perioacutedico Journal of Pediatric

Gastroenterology and Nutrition As normas de publicaccedilatildeo desse perioacutedico encontram-se

no endereccedilo eletrocircnico wwwjpgnorg

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CI Constipaccedilatildeo intestinal

CONEP Comissatildeo Nacional de Eacutetica em Pesquisa

DeCs Descritores em sauacutede

DP Desvio-padratildeo

EUA Estados Unidos da Ameacuterica

IC Intervalo de confianccedila

IgE Imunoglobulina E

IgG Imunoglobulina G

LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciecircncias da Sauacutede

MG Minas Gerais

NASPGHAN Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia e Nutriccedilatildeo

OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede

OR Odds ratio

PACCT Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Artigo original

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal 35

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo por idade do lactente (meses) 37

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio por idade do lactente (meses) 38

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar por idade do lactente (meses) 38

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras por idade do lactente (meses) 38

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes aos 3 6 9 e 12 meses de

vida

40

LISTA DE TABELAS

Artigo de revisatildeo

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees 16

Tabela 2 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008) 18

Artigo original

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas 34

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento)

dependente do tempo

34

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal 34

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de

fezes nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

36

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida do lactente

39

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semana avaliada trimestralmente 40

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros 41

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e tipo de fezes

41

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes 42

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes 42

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

43

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs 44

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno 45

SUMAacuteRIO1

1 ARTIGO DE REVISAtildeO - PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM LACTENTES

13

11 Introduccedilatildeo 15

12 Metodologia 15

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo 16

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes 18

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal 19

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias 19

152 Aleitamento materno 19

153 Aleitamento artificial 20

154 Fibra alimentar 22

16 Consideraccedilotildees finais 23

Referecircncias 23

2 ARTIGO ORIGINAL - PREVALEcircNCIA DE CONSTIPACcedilAtildeOINTESTINAL NO

PRIMEIRO ANO DE VIDA UM ESTUDO LONGITUDINAL

27

21 Introduccedilatildeo 29

22 Casuiacutestica e meacutetodos 30

221 Local do estudo 30

222 Populaccedilatildeo estudada 30

223 Meacutetodos 30

2231 Delineamento do estudo 30

2232 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo 30

2233 Caacutelculo da amostra 31

2234 Coleta de dados 31

2235 Variaacuteveis coletadas 31

2236 Anaacutelise estatiacutestica 32

2237 Aspecto eacutetico 33

1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortograacuteficas

23 Resultados 33

24 Discussatildeo 45

25 Conclusatildeo 49

Referecircncias 48

Anexo A - Parecer da Cacircmara do Departamento de Pediatria da UFMG 50

Anexo B - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFMG 51

Anexo C - Parecer da Secretaria Municipal de Itauacutena 52

Apecircndice A - Questionaacuterio estruturado 53

Apecircndice B - Esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitaccedilatildeo de autorizaccedilatildeo

Apecircndice C - Escala de consistecircncia de fezes

Apecircndice D - Termo de consentimento livre e esclarecido

1 ARTIGO DE REVISAtildeO _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM

LACTENTES

14

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em

lactentes

A constipaccedilatildeo intestinal eacute um problema comum em lactentes Foi realizada revisatildeo

sistemaacutetica da literatura nos sites do PUBMED BIREME e SCIELO utilizando os

descritores constipation infant breastfeeding risk factores Para limitar os assuntos

estabeleceu-se All Infant birth-23 months A prevalecircncia da constipaccedilatildeo variou de 07 a

48 Apesar de existirem criteacuterios para diagnosticar esse distuacuterbio em lactentes muitos

autores adotam criteacuterios proacuteprios o que pode fazer com que a prevalecircncia varie muito de

um trabalho para outro Quanto aos fatores de risco observou-se que os componentes

constitucionais e hereditaacuterios estatildeo presentes em pais irmatildeos e tios das crianccedilas

constipadas Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno se constitui em

um fator de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo Pesquisas demonstram que

o consumo do leite de vaca e de foacutermulas contribui para o surgimento desse evento no

primeiro ano de vida Existem poucas investigaccedilotildees sobre o consumo de fibras alimentares

em lactentes e em crianccedilas constipadas sua utilizaccedilatildeo como suplemento ainda eacute

controversa Estudos sobre prevalecircncia com caracterizaccedilatildeo especiacutefica para lactentes com

fatores de risco associados agrave constipaccedilatildeo poderatildeo trazer melhor compreensatildeo do impacto

da morbidade dessa doenccedila e favorecer melhor tratamento e prevenccedilatildeo

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with chronic functional constipation in infants

Infant intestinal constipation is a common problem A non-systematic literature

review was performed on PUBMED BIREME and SCIELO using the following key

concepts constipation infant epidemiology and risk factors The term All Infant birth-23

months was selected for the specific search The prevalence of constipation varied from 07

to 48 Criteria for the diagnosis of this disorder in infants are available but many authors

adopt their own criteria which may result in a large prevalence variation between the

several studies conducted With regards to the risk factors it was observed that parents

brothers and uncles of the constipated children present the constitutional and hereditary

components Some studies have shown that the maternal breastfeeding is a protection

factor against the constipation development Researches have confirmed that the

consumption of cowrsquos milk and formulas favor the occurrence of this event in the first year

of life There are few investigations made regarding the consumption of alimentary fibers

by infants and therefore the utilization as a nutritional supplement is still controversial

The development of prevalence studies oriented specifically to infants with risk factors

associated to constipation may provide a better comprehension of the morbosity impact of

this disease as well as an improved treatment and prevention

Key-words Constipation Infant Epidemiology Risk factors

15

11 Introduccedilatildeo

Em todo o mundo a constipaccedilatildeo intestinal (CI) em lactentes eacute uma morbidade de

significativa relevacircncia Na literatura cientiacutefica existe ampla variaccedilatildeo na prevalecircncia dessa

doenccedila em crianccedilas o que revela a existecircncia de fatores que alteram a sua distribuiccedilatildeo ou

problemas relacionados agrave sua definiccedilatildeo ou nomenclatura

Geralmente pais de lactentes satildeo muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e qualquer

modificaccedilatildeo do haacutebito intestinal os leva a buscar assistecircncia meacutedica1

Estudos demonstram que importante proporccedilatildeo de crianccedilas com constipaccedilatildeo

intestinal inicia o quadro no primeiro ano de vida2-4

Durante os dois primeiros anos de

vida a constipaccedilatildeo intestinal pode ser causada por fatores orgacircnicos ou funcionais Entre

os fatores orgacircnicos a doenccedila de Hirschsprung as anomalias anorretais as doenccedilas

metaboacutelicas e as doenccedilas endocrinoloacutegicas como o hipotireoidismo devem sempre ser

lembradas5 Entretanto os quadros funcionais satildeo muito mais frequentes

6

As pesquisas realizadas ateacute o momento identificam a baixa ingestatildeo hiacutedrica os

fatores constitucionais e o desmame precoce como marcadores envolvidos no

desenvolvimento dessa morbidade7 O aleitamento artificial que se segue ao desmame

parece ser o principal deles8 Contudo mais estudos satildeo necessaacuterios natildeo apenas para

confirmar essa associaccedilatildeo mas tambeacutem para avaliar como os outros aspectos alimentares

relativos ao desmame participam das mudanccedilas do haacutebito alimentar protegendo ou

precipitando o surgimento dos transtornos evacuatoacuterios9

12 Meacutetodo

Realizou-se levantamento bibliograacutefico mediante consulta agrave base de dados

PUBMED BIREME e SCIELO considerando-se preferencialmente artigos na liacutengua

inglesa publicados nos uacuteltimos 10 anos entre 1998 e 2008 As publicaccedilotildees eram referentes

agrave prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em lactentes Para a busca foram

consideradas as palavras-chave constipation epidemiology infant breastfeeding risk

factors Esses termos foram determinados apoacutes consulta aos descritores em sauacutede (DeCs)

disponiacuteveis na BIREME Foram estabelecidos ainda os seguintes limites estudos com

humanos artigos referentes a ensaios cliacutenicos metanaacutelises ensaios randomizados

controlados e artigos de revisatildeo faixa etaacuteria de zero a dois anos

16

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo

A adequada definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal eacute importante para identificar de

forma precoce o paciente que apresenta a morbidade diminuindo o risco de complicaccedilotildees

e o custo do tratamento10

Em estudos cientiacuteficos epidemioloacutegicos a dificuldade na definiccedilatildeo da morbidade eacute

facilmente percebida As diferentes taxas epidemioloacutegicas relatadas na literatura ressaltam

que a identificaccedilatildeo do problema natildeo eacute tatildeo faacutecil quanto possa parecer1112

Assim alguns

autores tecircm adotado criteacuterios proacuteprios para identificar pacientes constipados incluindo

defecaccedilatildeo infrequente fezes duras dificuldade ou passagem de fezes dolorosas sem

uniformizaccedilatildeo na definiccedilatildeo e na caracterizaccedilatildeo desses sintomas13-19

A preocupaccedilatildeo em encontrar um consenso para a definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal existe haacute algumas deacutecadas20

Um dos conceitos mais adotados em pesquisas

cientiacuteficas estabelece como criteacuterio a frequecircncia evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por

semana315

Esse criteacuterio eacute adotado para a populaccedilatildeo adulta poreacutem eacute falho para crianccedilas

principalmente para as menores de quatro anos21

A Tabela 1 apresenta a frequecircncia

evacuatoacuteria da crianccedila estabelecida por Fontana et al (1989)22

Observa-se que existe

acentuada variaccedilatildeo desse paracircmetro nas diversas faixas etaacuterias No primeiro ano de vida a

amplitude da frequecircncia evacuatoacuteria eacute tatildeo vasta que maior valorizaccedilatildeo do paracircmetro pode

levar a erros no diagnoacutestico da morbidade22

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees

Idade Evacuaccedilotildees

por semana

Evacuaccedilotildees

por dia

0-3 meses

Aleitamento materno 5-40 29

Foacutermulas 5-28 20

6-12 meses 5-28 18

1-3 anos 4-21 14

Mais de 3 anos 3-14 10

Fonte Fontana et al (1989)22

17

A partir do consenso ROMA I o qual ofereceu definiccedilotildees iniciais para doenccedilas

funcionais do trato digestivo de adultos muito se evoluiu em termo de nomenclatura

criteacuterios e definiccedilotildees para as doenccedilas digestivas23

Esse consenso forneceu importantes definiccedilotildees para as alteraccedilotildees funcionais

pediaacutetricas23

Em relaccedilatildeo agrave constipaccedilatildeo intestinal da crianccedila as contribuiccedilotildees do Consenso

de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT)24

da Sociedade Norte-

Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo (NASGHAN)1 e de ROMA III

8

passaram a ser adotadas nos estudos que se seguiram No entanto entre eles satildeo notaacuteveis

as diferenccedilas nos criteacuterios conforme se segue

Roma II - em lactentes e crianccedilas preacute-escolares por pelo menos duas semanas fezes

em ciacutebalos com rachaduras duras na maioria das evacuaccedilotildees ou duas ou menos

evacuaccedilotildees de fezes firmes por semana natildeo havendo evidecircncia de doenccedila

estrutural endoacutecrina ou metaboacutelica23

Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT) - um

periacuteodo de oito semanas com pelo menos dois dos seguintes sintomas frequecircncia

evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por semana incontinecircncia fecal acima de uma vez

por semana passagem de fezes grandes que podem entupir o vaso sanitaacuterio massa

fecal palpaacutevel no abdocircmen ou no reto comportamento de retenccedilatildeo de fezes ou

defecaccedilatildeo dolorosa24

Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo

(NASPGHAN) - atraso ou dificuldade de evacuar presente por duas ou mais

semanas e suficiente para causar desconforto ao paciente25

Roma III - em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade no periacuteodo de 30

dias pelo menos dois dos seguintes itens duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao

menos um episoacutedio de incontinecircncia por semana apoacutes a habilidade para utilizar o

banheiro histoacuteria de retenccedilatildeo excessiva de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis

presenccedila de grande massa fecal no reto e fezes com grande diacircmetro e que podem

obstruir o vaso sanitaacuterio A esses sintomas associam-se a irritabilidade a falta de

apetite eou a saciedade precoce Todos podem desaparecer apoacutes a eliminaccedilatildeo das

fezes8

18

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes

A real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal em lactentes natildeo foi ateacute o momento

adequadamente estabelecida De acordo com as pesquisas mais recentes os iacutendices variam

de 0726

a 4825

Para ilustrar essas divergecircncias na prevalecircncia da morbidade foi demonstrada no

Tabela 1 uma seacuterie de estudos realizados entre os anos de 1998 e 2008

Tabela 1 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008)

Estudo Paiacutes

Ano

Delineamento N Idade Criteacuterio

definido por

Prevalecircncia

Motta et al13

Brasil 1998 Transversal 536 0ndash11 a Autor 218 0-239 m

Aguirre et al14

Brasil 2000 Transversal 275 0ndash25 a Autor 251

Souza et al15

Brasil 2001 Transversal 289 1m-4 a Percepccedilatildeo matildee 153 0-239 m

Del Ciampo et al16

Brasil 2002 Transversal 313 1ndash10 a Autor 268

Miele et al 26

Itaacutelia 2004 Longitudinal 9660 0ndash12 a Roma II 07

Corazziari et al 27

Itaacutelia 2005 Longitudinal 2680 0ndash12 a Autor 52 0-239 m

Iacono et al3 Itaacutelia 2005 Longitudinal 2879 0ndash05 a Autor 176

Loening-Bauke2 EUA 2005 Transversal 4157 0ndash2 a NASPGHAN

ou Roma II

29 1 a

101 2 a

Ludvigsson et al28

Sueacutecia 2006 Longitudinal 8431 0ndash25 a Percepccedilatildeo matildee 65

Boccia et al25

Itaacutelia 2007 Longitudinal 126 0ndash18 a Roma II e

PACCT

Roma II15-lt4a

PACCT48-lt4a

Medeiros et al19

Brasil 2007 Transversal 561 0ndash19 a Autor 191 0-239 m

Pina et al29

Espanha2008 Transversal 3487 0ndash4 m Autor 61

A = ano m = mecircs

A grande diferenccedila encontrada pode ser explicada pelas divergecircncias no criteacuterio

utilizado para definir a constipaccedilatildeo intestinal pelo delineamento do estudo realizado e pela

faixa etaacuteria considerada

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo especificamente em lactentes foi determinada em

apenas nove desses estudos2313-151927-29

Desses autores apenas um adotou criteacuterio

internacional na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo13

Os demais empregaram princiacutepio

19

proacuteprio2313-1527-29

sendo que nos estudos de Ludvigsson28

e Souza15

o criteacuterio utilizado

para diagnosticar os lactentes constipados foi a percepccedilatildeo das matildees

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias

A literatura mostra a ocorrecircncia de constipaccedilatildeo entre os familiares das crianccedilas

constipadas3031

Na Espanha em 2005 foi realizado um estudo de caso-controle para avaliar os

fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo infantil Foram incluiacutedas crianccedilas

com idades entre quatro meses e 15 anos e que apresentavam quadro de constipaccedilatildeo

crocircnica Seus controles eram as crianccedilas imediatamente atendidas sem histoacuteria preacutevia de

constipaccedilatildeo No grupo-controle 351 das crianccedilas apresentavam histoacuteria familiar com

quadro de constipaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com 542 do grupo em estudo cuja diferenccedila foi

significativa entre os grupos (plt0001) Na situaccedilatildeo pais separados a matildee apresentou mais

frequecircncia de constipaccedilatildeo no grupo de crianccedilas constipadas em relaccedilatildeo ao grupo-controle

956 e 286 respectivamente (plt0001)30

Na investigaccedilatildeo de Roma et al (1999)31

que avaliou a presenccedila de constipaccedilatildeo em

crianccedilas de dois a 14 anos identificou-se histoacuteria familiar positiva para o distuacuterbio (pais ou

irmatildeos) em 625 das crianccedilas constipadas e em 303 dos familiares dos indiviacuteduos

controles (p lt0000001) A prevalecircncia de constipaccedilatildeo crocircnica em crianccedilas foi de 34 se

nenhum dos pais manifestava o problema 103 se um dos pais estava constipado e

485 se ambos (p lt00001)31

152 Aleitamento materno

Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno constitui-se em fator

de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal na crianccedila314

Iacono et al (2005)3 desenvolveram uma pesquisa para avaliar a frequecircncia dos

sintomas gastrintestinais mais comuns durante os primeiros seis meses de vida e avaliar a

influecircncia de algumas variaacuteveis sobre o aparecimento dos sintomas Foram acompanhadas

20

2879 crianccedilas do nascimento ateacute os seis meses de vida A constipaccedilatildeo esteve presente em

507 e foi diagnosticada em idades entre 27 e 33 dias Os lactentes constipados natildeo

apresentaram diferenccedila na comparaccedilatildeo com aqueles sem a morbidade em relaccedilatildeo ao peso

ao nascer idade gestacional idade e niacutevel de ensino da matildee e do pai No entanto o nuacutemero

foi significativamente mais baixo na frequecircncia do aleitamento materno em relaccedilatildeo agraves

crianccedilas sem constipaccedilatildeo (763 versus 849 p=0007)3

A relaccedilatildeo entre o tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal foi

analisada em 275 lactentes atendidos consecutivamente no periacuteodo de dezembro de 1996 a

dezembro de 1997 concluindo-se que o aleitamento natural predominante eacute um fator de

proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo no primeiro semestre de vida14

Em um estudo de caso-controle realizado em um ambulatoacuterio de pediatria no

periacuteodo de outubro de 1997 a abril de 1999 foram acompanhados dois grupos de crianccedilas

com idades entre dois e 12 anos O primeiro grupo foi constituiacutedo de crianccedilas com

diagnoacutestico de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional e o segundo de crianccedilas com haacutebito

intestinal normal (grupo-controle) pareadas ao primeiro de acordo com o gecircnero e a faixa

etaacuteria Nos dois grupos foi aplicado um questionaacuterio padronizado para obter informaccedilotildees

sobre as caracteriacutesticas do haacutebito intestinal iniacutecio dos sintomas e o periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo Os autores concluiacuteram que houve tendecircncia ao periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo ser mais longo no grupo de crianccedilas sem constipaccedilatildeo32

153 Aleitamento artificial

No primeiro ano de vida satildeo frequentes as reaccedilotildees adversas ao leite de vaca Aleacutem

de sintomas respiratoacuterios e dermatoloacutegicos tambeacutem foram verificados sintomas

gastrintestinais como a constipaccedilatildeo intestinal e sangue nas fezes33-37

Em 2008 foram avaliadas durante um ano 555 crianccedilas nascidas consecutivamente

em um hospital Apenas 27 delas apresentaram reaccedilatildeo aleacutergica ao leite de vaca e somente

uma manifestou como sintoma a constipaccedilatildeo33

Na Turquia foi realizado um estudo retrospectivo com dois grupos de 30 crianccedilas

com idades compreendidas entre quatro meses e trecircs anos O grupo I foi constituiacutedo de

crianccedilas com fissura anal e constipaccedilatildeo crocircnica e que natildeo apresentavam necessidade de

cirurgia e o grupo II incluiu crianccedilas normais O consumo diaacuterio de leite de vaca a

duraccedilatildeo do aleitamento materno e outras caracteriacutesticas cliacutenicas das crianccedilas foram

21

investigadas O consumo meacutedio diaacuterio de leite de vaca foi maior (plt0001) e o tempo de

amamentaccedilatildeo foi mais curto no grupo I (plt0001 e plt0006 respectivamente) O risco

(odds ratio) de constipaccedilatildeo quando presentes cada um desses fatores foi de 86 (intervalo

de confianccedila - IC95 023-074 p=00005) e 57 (IC 95 037-066 p=0007)

respectivamente As crianccedilas que consumiam mais quantidade de leite de vaca

apresentaram risco oito vezes mais alto de desenvolver constipaccedilatildeo e fissura anal assim

como naqueles com duraccedilatildeo mais curta do aleitamento materno o risco foi cinco vezes

mais alto Os pesquisadores preconizam atraso na introduccedilatildeo do leite de vaca e o

consequente aumento no tempo do aleitamento materno34

Em outra pesquisa 27 crianccedilas com idades entre cinco e 36 meses e com

constipaccedilatildeo intestinal crocircnica idiopaacutetica foram investigadas na possiacutevel relaccedilatildeo entre

constipaccedilatildeo e alergia agrave proteiacutena do leite de vaca Inicialmente elas foram observadas

consumindo dieta sem restriccedilotildees e registrava-se o nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias

Posteriormente receberam dieta sem a proteiacutena do leite de vaca por dois periacuteodos de um

mecircs separados por dois desafios com a proteiacutena do leite de vaca Durante a dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca 21 apresentaram melhora dos sintomas e durante os dois desafios

consecutivos a constipaccedilatildeo reapareceu no periacuteodo de 48 a 72 horas A dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca natildeo melhorou a constipaccedilatildeo em seis pacientes Apenas quatro que

melhoraram com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca manifestaram sintomas de

alergia ao leite de vaca Histoacuteria meacutedica de alergia ao leite de vaca foi encontrada em 15

dos 21 pacientes curados e em apenas um dos seis que natildeo melhoraram (plt005) Ainda

nos 15 dos 21 curados os resultados de um ou mais testes laboratoriais (dosagem de

imunoglobulinas E e G ndash IgE IgG antiβ lactoglobulina e eosinoacutefilos circulantes) foram

positivos no momento do diagnoacutestico indicando hipersensibilidade comparados com um

dos seis pacientes que natildeo tinham melhorado (plt 0005) Os resultados encontrados na

endoscopia e histologia no momento do diagnoacutestico mostraram proctite monociacutetica com

infiltraccedilatildeo em duas crianccedilas curadas com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca depois

de um mecircs da dieta eles estavam completamente normais A conclusatildeo foi que a

constipaccedilatildeo pode ter patogecircnese aleacutergica35

Em 1995 Hyams et al desenvolveram um estudo prospectivo duplo-cego para

avaliar o efeito das foacutermulas nas caracteriacutesticas das fezes de lactentes Foram selecionadas

crianccedilas saudaacuteveis com um mecircs de idade e acompanhadas por 14 dias Os autores

demonstraram que aquelas alimentadas com leite materno apresentaram maior frequecircncia

22

evacuatoacuteria (p lt 0001) e fezes mais macias (p lt 00001) do que as alimentadas com

foacutermulas laacutecteas36

154 Fibra alimentar

As fibras alimentares satildeo habitualmente consideradas importantes para a prevenccedilatildeo

da constipaccedilatildeo Acredita-se que a sua introduccedilatildeo na alimentaccedilatildeo complementar de forma

equilibrada certamente contribuiraacute para a pouca ocorrecircncia desse distuacuterbio no primeiro ano

de vida37

poreacutem existem poucos trabalhos sobre o consumo de fibras por lactentes Os

resultados encontrados demonstram que a fibra alimentar desempenha papel ainda natildeo

comprovado25

No jaacute mencionado estudo de Aguirre et al (2002) que avaliou a relaccedilatildeo entre o

tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal em 275 lactentes descreveu-se a

implicaccedilatildeo do uso de fibra alimentar Para os lactentes de seis a 24 meses a comparaccedilatildeo

do consumo de fibra alimentar por aqueles com constipaccedilatildeo (mediana=90g percentis 25 e

75 69-131g) e pelos demais com haacutebito intestinal normal natildeo demonstrou diferenccedilas

significativas (mediana=88 percentis 25 e 75 61-129g) (p=057)14

Em trecircs localidades da Greacutecia foi considerada uma amostra randomizada de

crianccedilas (291 com constipaccedilatildeo e 1602 controles) com idades entre dois e 14 anos

Realizou-se o registro alimentar de trecircs dias e a histoacuteria dieteacutetica para avaliar a ingestatildeo

alimentar A ingestatildeo da fibra alimentar foi estatisticamente menor na dieta das crianccedilas

constipadas em todas as faixas etaacuterias quando comparadas com o grupo-controle Os

autores salientaram que a baixa ingestatildeo de fibras na dieta de crianccedilas constipadas

independentemente da idade dos sintomas que acompanham a disfunccedilatildeo e da idade de

iniacutecio sustenta a hipoacutetese causal da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica em crianccedilas31

Segundo a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e

Nutriccedilatildeo (NASPGHAN) o uso de fibras pela crianccedila constipada ainda eacute contraditoacuterio e ateacute

que novos estudos demonstrem a eficaacutecia do tratamento com esse produto os resultados

atuais satildeo fracos para apoiar a recomendaccedilatildeo definitiva de sua suplementaccedilatildeo no

tratamento dessa morbidade25

Pesquisas mais especiacuteficas quanto ao consumo de fibras por lactentes satildeo escassas

na literatura cientiacutefica14

A aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos alimentares e a escolha de tabelas

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 5: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

AGRADECIMENTO ESPECIAL

Agrave Profordf Elizabet Vilar Guimaratildees pela paciecircncia dedicaccedilatildeo paz incentivo e ensinamentos

sobre a pesquisa cientiacutefica

Agradeccedilo de coraccedilatildeo

AGRADECIMENTOS

A Deus criador e favorecedor de todas as coisas princiacutepio meio e fim

Aos meus queridos pais Ciacutecero e Maria Adelina por tudo que fazem por mim

Agrave minha querida secretaacuteria Deiliane por ter contribuiacutedo para a construccedilatildeo do meu banco

de dados

Agrave Nataacutelia que me ajudou a conduzir os primeiros dados estatiacutesticos

Agraves alunas do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena pela coleta de dados

Agraves funcionaacuterias do Posto Central pela gentileza em fornecer os endereccedilos das crianccedilas

Agraves matildees e crianccedilas que participaram do estudo

Ao Marcelo Militatildeo pela colaboraccedilatildeo na estatiacutestica do meu estudo

Agraves colegas de mestrado Siacutelvia e Maria das Dores pelas experiecircncias trocadas

Aos meus pacientes pela compreensatildeo nos momentos de ausecircncia do consultoacuterio

Agrave amiga Deolane pelas nossas conversas e desabafos no caminho para o trabalho na

Universidade de Itauacutena

Agrave amiga Cecy pela paz e tranquilidade que sempre me proporciona

Agrave Juldete por ter me amparado em um momento difiacutecil da minha vida

NOTA EXPLICATIVA

A presente dissertaccedilatildeo segue as orientaccedilotildees do Centro de Poacutes-Graduaccedilatildeo da Faculdade de

Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e seraacute apresentada em duas partes sob

a forma de dois artigos cientiacuteficos

A primeira parte refere-se ao artigo de revisatildeo e seguiu as normas da Revista Meacutedica de

Minas Gerais de acordo com o estabelecido no site wwwbibliomedcombr

O segundo artigo eacute original e seraacute submetido ao perioacutedico Journal of Pediatric

Gastroenterology and Nutrition As normas de publicaccedilatildeo desse perioacutedico encontram-se

no endereccedilo eletrocircnico wwwjpgnorg

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CI Constipaccedilatildeo intestinal

CONEP Comissatildeo Nacional de Eacutetica em Pesquisa

DeCs Descritores em sauacutede

DP Desvio-padratildeo

EUA Estados Unidos da Ameacuterica

IC Intervalo de confianccedila

IgE Imunoglobulina E

IgG Imunoglobulina G

LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciecircncias da Sauacutede

MG Minas Gerais

NASPGHAN Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia e Nutriccedilatildeo

OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede

OR Odds ratio

PACCT Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Artigo original

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal 35

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo por idade do lactente (meses) 37

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio por idade do lactente (meses) 38

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar por idade do lactente (meses) 38

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras por idade do lactente (meses) 38

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes aos 3 6 9 e 12 meses de

vida

40

LISTA DE TABELAS

Artigo de revisatildeo

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees 16

Tabela 2 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008) 18

Artigo original

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas 34

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento)

dependente do tempo

34

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal 34

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de

fezes nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

36

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida do lactente

39

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semana avaliada trimestralmente 40

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros 41

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e tipo de fezes

41

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes 42

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes 42

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

43

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs 44

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno 45

SUMAacuteRIO1

1 ARTIGO DE REVISAtildeO - PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM LACTENTES

13

11 Introduccedilatildeo 15

12 Metodologia 15

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo 16

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes 18

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal 19

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias 19

152 Aleitamento materno 19

153 Aleitamento artificial 20

154 Fibra alimentar 22

16 Consideraccedilotildees finais 23

Referecircncias 23

2 ARTIGO ORIGINAL - PREVALEcircNCIA DE CONSTIPACcedilAtildeOINTESTINAL NO

PRIMEIRO ANO DE VIDA UM ESTUDO LONGITUDINAL

27

21 Introduccedilatildeo 29

22 Casuiacutestica e meacutetodos 30

221 Local do estudo 30

222 Populaccedilatildeo estudada 30

223 Meacutetodos 30

2231 Delineamento do estudo 30

2232 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo 30

2233 Caacutelculo da amostra 31

2234 Coleta de dados 31

2235 Variaacuteveis coletadas 31

2236 Anaacutelise estatiacutestica 32

2237 Aspecto eacutetico 33

1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortograacuteficas

23 Resultados 33

24 Discussatildeo 45

25 Conclusatildeo 49

Referecircncias 48

Anexo A - Parecer da Cacircmara do Departamento de Pediatria da UFMG 50

Anexo B - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFMG 51

Anexo C - Parecer da Secretaria Municipal de Itauacutena 52

Apecircndice A - Questionaacuterio estruturado 53

Apecircndice B - Esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitaccedilatildeo de autorizaccedilatildeo

Apecircndice C - Escala de consistecircncia de fezes

Apecircndice D - Termo de consentimento livre e esclarecido

1 ARTIGO DE REVISAtildeO _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM

LACTENTES

14

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em

lactentes

A constipaccedilatildeo intestinal eacute um problema comum em lactentes Foi realizada revisatildeo

sistemaacutetica da literatura nos sites do PUBMED BIREME e SCIELO utilizando os

descritores constipation infant breastfeeding risk factores Para limitar os assuntos

estabeleceu-se All Infant birth-23 months A prevalecircncia da constipaccedilatildeo variou de 07 a

48 Apesar de existirem criteacuterios para diagnosticar esse distuacuterbio em lactentes muitos

autores adotam criteacuterios proacuteprios o que pode fazer com que a prevalecircncia varie muito de

um trabalho para outro Quanto aos fatores de risco observou-se que os componentes

constitucionais e hereditaacuterios estatildeo presentes em pais irmatildeos e tios das crianccedilas

constipadas Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno se constitui em

um fator de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo Pesquisas demonstram que

o consumo do leite de vaca e de foacutermulas contribui para o surgimento desse evento no

primeiro ano de vida Existem poucas investigaccedilotildees sobre o consumo de fibras alimentares

em lactentes e em crianccedilas constipadas sua utilizaccedilatildeo como suplemento ainda eacute

controversa Estudos sobre prevalecircncia com caracterizaccedilatildeo especiacutefica para lactentes com

fatores de risco associados agrave constipaccedilatildeo poderatildeo trazer melhor compreensatildeo do impacto

da morbidade dessa doenccedila e favorecer melhor tratamento e prevenccedilatildeo

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with chronic functional constipation in infants

Infant intestinal constipation is a common problem A non-systematic literature

review was performed on PUBMED BIREME and SCIELO using the following key

concepts constipation infant epidemiology and risk factors The term All Infant birth-23

months was selected for the specific search The prevalence of constipation varied from 07

to 48 Criteria for the diagnosis of this disorder in infants are available but many authors

adopt their own criteria which may result in a large prevalence variation between the

several studies conducted With regards to the risk factors it was observed that parents

brothers and uncles of the constipated children present the constitutional and hereditary

components Some studies have shown that the maternal breastfeeding is a protection

factor against the constipation development Researches have confirmed that the

consumption of cowrsquos milk and formulas favor the occurrence of this event in the first year

of life There are few investigations made regarding the consumption of alimentary fibers

by infants and therefore the utilization as a nutritional supplement is still controversial

The development of prevalence studies oriented specifically to infants with risk factors

associated to constipation may provide a better comprehension of the morbosity impact of

this disease as well as an improved treatment and prevention

Key-words Constipation Infant Epidemiology Risk factors

15

11 Introduccedilatildeo

Em todo o mundo a constipaccedilatildeo intestinal (CI) em lactentes eacute uma morbidade de

significativa relevacircncia Na literatura cientiacutefica existe ampla variaccedilatildeo na prevalecircncia dessa

doenccedila em crianccedilas o que revela a existecircncia de fatores que alteram a sua distribuiccedilatildeo ou

problemas relacionados agrave sua definiccedilatildeo ou nomenclatura

Geralmente pais de lactentes satildeo muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e qualquer

modificaccedilatildeo do haacutebito intestinal os leva a buscar assistecircncia meacutedica1

Estudos demonstram que importante proporccedilatildeo de crianccedilas com constipaccedilatildeo

intestinal inicia o quadro no primeiro ano de vida2-4

Durante os dois primeiros anos de

vida a constipaccedilatildeo intestinal pode ser causada por fatores orgacircnicos ou funcionais Entre

os fatores orgacircnicos a doenccedila de Hirschsprung as anomalias anorretais as doenccedilas

metaboacutelicas e as doenccedilas endocrinoloacutegicas como o hipotireoidismo devem sempre ser

lembradas5 Entretanto os quadros funcionais satildeo muito mais frequentes

6

As pesquisas realizadas ateacute o momento identificam a baixa ingestatildeo hiacutedrica os

fatores constitucionais e o desmame precoce como marcadores envolvidos no

desenvolvimento dessa morbidade7 O aleitamento artificial que se segue ao desmame

parece ser o principal deles8 Contudo mais estudos satildeo necessaacuterios natildeo apenas para

confirmar essa associaccedilatildeo mas tambeacutem para avaliar como os outros aspectos alimentares

relativos ao desmame participam das mudanccedilas do haacutebito alimentar protegendo ou

precipitando o surgimento dos transtornos evacuatoacuterios9

12 Meacutetodo

Realizou-se levantamento bibliograacutefico mediante consulta agrave base de dados

PUBMED BIREME e SCIELO considerando-se preferencialmente artigos na liacutengua

inglesa publicados nos uacuteltimos 10 anos entre 1998 e 2008 As publicaccedilotildees eram referentes

agrave prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em lactentes Para a busca foram

consideradas as palavras-chave constipation epidemiology infant breastfeeding risk

factors Esses termos foram determinados apoacutes consulta aos descritores em sauacutede (DeCs)

disponiacuteveis na BIREME Foram estabelecidos ainda os seguintes limites estudos com

humanos artigos referentes a ensaios cliacutenicos metanaacutelises ensaios randomizados

controlados e artigos de revisatildeo faixa etaacuteria de zero a dois anos

16

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo

A adequada definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal eacute importante para identificar de

forma precoce o paciente que apresenta a morbidade diminuindo o risco de complicaccedilotildees

e o custo do tratamento10

Em estudos cientiacuteficos epidemioloacutegicos a dificuldade na definiccedilatildeo da morbidade eacute

facilmente percebida As diferentes taxas epidemioloacutegicas relatadas na literatura ressaltam

que a identificaccedilatildeo do problema natildeo eacute tatildeo faacutecil quanto possa parecer1112

Assim alguns

autores tecircm adotado criteacuterios proacuteprios para identificar pacientes constipados incluindo

defecaccedilatildeo infrequente fezes duras dificuldade ou passagem de fezes dolorosas sem

uniformizaccedilatildeo na definiccedilatildeo e na caracterizaccedilatildeo desses sintomas13-19

A preocupaccedilatildeo em encontrar um consenso para a definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal existe haacute algumas deacutecadas20

Um dos conceitos mais adotados em pesquisas

cientiacuteficas estabelece como criteacuterio a frequecircncia evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por

semana315

Esse criteacuterio eacute adotado para a populaccedilatildeo adulta poreacutem eacute falho para crianccedilas

principalmente para as menores de quatro anos21

A Tabela 1 apresenta a frequecircncia

evacuatoacuteria da crianccedila estabelecida por Fontana et al (1989)22

Observa-se que existe

acentuada variaccedilatildeo desse paracircmetro nas diversas faixas etaacuterias No primeiro ano de vida a

amplitude da frequecircncia evacuatoacuteria eacute tatildeo vasta que maior valorizaccedilatildeo do paracircmetro pode

levar a erros no diagnoacutestico da morbidade22

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees

Idade Evacuaccedilotildees

por semana

Evacuaccedilotildees

por dia

0-3 meses

Aleitamento materno 5-40 29

Foacutermulas 5-28 20

6-12 meses 5-28 18

1-3 anos 4-21 14

Mais de 3 anos 3-14 10

Fonte Fontana et al (1989)22

17

A partir do consenso ROMA I o qual ofereceu definiccedilotildees iniciais para doenccedilas

funcionais do trato digestivo de adultos muito se evoluiu em termo de nomenclatura

criteacuterios e definiccedilotildees para as doenccedilas digestivas23

Esse consenso forneceu importantes definiccedilotildees para as alteraccedilotildees funcionais

pediaacutetricas23

Em relaccedilatildeo agrave constipaccedilatildeo intestinal da crianccedila as contribuiccedilotildees do Consenso

de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT)24

da Sociedade Norte-

Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo (NASGHAN)1 e de ROMA III

8

passaram a ser adotadas nos estudos que se seguiram No entanto entre eles satildeo notaacuteveis

as diferenccedilas nos criteacuterios conforme se segue

Roma II - em lactentes e crianccedilas preacute-escolares por pelo menos duas semanas fezes

em ciacutebalos com rachaduras duras na maioria das evacuaccedilotildees ou duas ou menos

evacuaccedilotildees de fezes firmes por semana natildeo havendo evidecircncia de doenccedila

estrutural endoacutecrina ou metaboacutelica23

Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT) - um

periacuteodo de oito semanas com pelo menos dois dos seguintes sintomas frequecircncia

evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por semana incontinecircncia fecal acima de uma vez

por semana passagem de fezes grandes que podem entupir o vaso sanitaacuterio massa

fecal palpaacutevel no abdocircmen ou no reto comportamento de retenccedilatildeo de fezes ou

defecaccedilatildeo dolorosa24

Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo

(NASPGHAN) - atraso ou dificuldade de evacuar presente por duas ou mais

semanas e suficiente para causar desconforto ao paciente25

Roma III - em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade no periacuteodo de 30

dias pelo menos dois dos seguintes itens duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao

menos um episoacutedio de incontinecircncia por semana apoacutes a habilidade para utilizar o

banheiro histoacuteria de retenccedilatildeo excessiva de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis

presenccedila de grande massa fecal no reto e fezes com grande diacircmetro e que podem

obstruir o vaso sanitaacuterio A esses sintomas associam-se a irritabilidade a falta de

apetite eou a saciedade precoce Todos podem desaparecer apoacutes a eliminaccedilatildeo das

fezes8

18

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes

A real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal em lactentes natildeo foi ateacute o momento

adequadamente estabelecida De acordo com as pesquisas mais recentes os iacutendices variam

de 0726

a 4825

Para ilustrar essas divergecircncias na prevalecircncia da morbidade foi demonstrada no

Tabela 1 uma seacuterie de estudos realizados entre os anos de 1998 e 2008

Tabela 1 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008)

Estudo Paiacutes

Ano

Delineamento N Idade Criteacuterio

definido por

Prevalecircncia

Motta et al13

Brasil 1998 Transversal 536 0ndash11 a Autor 218 0-239 m

Aguirre et al14

Brasil 2000 Transversal 275 0ndash25 a Autor 251

Souza et al15

Brasil 2001 Transversal 289 1m-4 a Percepccedilatildeo matildee 153 0-239 m

Del Ciampo et al16

Brasil 2002 Transversal 313 1ndash10 a Autor 268

Miele et al 26

Itaacutelia 2004 Longitudinal 9660 0ndash12 a Roma II 07

Corazziari et al 27

Itaacutelia 2005 Longitudinal 2680 0ndash12 a Autor 52 0-239 m

Iacono et al3 Itaacutelia 2005 Longitudinal 2879 0ndash05 a Autor 176

Loening-Bauke2 EUA 2005 Transversal 4157 0ndash2 a NASPGHAN

ou Roma II

29 1 a

101 2 a

Ludvigsson et al28

Sueacutecia 2006 Longitudinal 8431 0ndash25 a Percepccedilatildeo matildee 65

Boccia et al25

Itaacutelia 2007 Longitudinal 126 0ndash18 a Roma II e

PACCT

Roma II15-lt4a

PACCT48-lt4a

Medeiros et al19

Brasil 2007 Transversal 561 0ndash19 a Autor 191 0-239 m

Pina et al29

Espanha2008 Transversal 3487 0ndash4 m Autor 61

A = ano m = mecircs

A grande diferenccedila encontrada pode ser explicada pelas divergecircncias no criteacuterio

utilizado para definir a constipaccedilatildeo intestinal pelo delineamento do estudo realizado e pela

faixa etaacuteria considerada

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo especificamente em lactentes foi determinada em

apenas nove desses estudos2313-151927-29

Desses autores apenas um adotou criteacuterio

internacional na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo13

Os demais empregaram princiacutepio

19

proacuteprio2313-1527-29

sendo que nos estudos de Ludvigsson28

e Souza15

o criteacuterio utilizado

para diagnosticar os lactentes constipados foi a percepccedilatildeo das matildees

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias

A literatura mostra a ocorrecircncia de constipaccedilatildeo entre os familiares das crianccedilas

constipadas3031

Na Espanha em 2005 foi realizado um estudo de caso-controle para avaliar os

fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo infantil Foram incluiacutedas crianccedilas

com idades entre quatro meses e 15 anos e que apresentavam quadro de constipaccedilatildeo

crocircnica Seus controles eram as crianccedilas imediatamente atendidas sem histoacuteria preacutevia de

constipaccedilatildeo No grupo-controle 351 das crianccedilas apresentavam histoacuteria familiar com

quadro de constipaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com 542 do grupo em estudo cuja diferenccedila foi

significativa entre os grupos (plt0001) Na situaccedilatildeo pais separados a matildee apresentou mais

frequecircncia de constipaccedilatildeo no grupo de crianccedilas constipadas em relaccedilatildeo ao grupo-controle

956 e 286 respectivamente (plt0001)30

Na investigaccedilatildeo de Roma et al (1999)31

que avaliou a presenccedila de constipaccedilatildeo em

crianccedilas de dois a 14 anos identificou-se histoacuteria familiar positiva para o distuacuterbio (pais ou

irmatildeos) em 625 das crianccedilas constipadas e em 303 dos familiares dos indiviacuteduos

controles (p lt0000001) A prevalecircncia de constipaccedilatildeo crocircnica em crianccedilas foi de 34 se

nenhum dos pais manifestava o problema 103 se um dos pais estava constipado e

485 se ambos (p lt00001)31

152 Aleitamento materno

Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno constitui-se em fator

de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal na crianccedila314

Iacono et al (2005)3 desenvolveram uma pesquisa para avaliar a frequecircncia dos

sintomas gastrintestinais mais comuns durante os primeiros seis meses de vida e avaliar a

influecircncia de algumas variaacuteveis sobre o aparecimento dos sintomas Foram acompanhadas

20

2879 crianccedilas do nascimento ateacute os seis meses de vida A constipaccedilatildeo esteve presente em

507 e foi diagnosticada em idades entre 27 e 33 dias Os lactentes constipados natildeo

apresentaram diferenccedila na comparaccedilatildeo com aqueles sem a morbidade em relaccedilatildeo ao peso

ao nascer idade gestacional idade e niacutevel de ensino da matildee e do pai No entanto o nuacutemero

foi significativamente mais baixo na frequecircncia do aleitamento materno em relaccedilatildeo agraves

crianccedilas sem constipaccedilatildeo (763 versus 849 p=0007)3

A relaccedilatildeo entre o tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal foi

analisada em 275 lactentes atendidos consecutivamente no periacuteodo de dezembro de 1996 a

dezembro de 1997 concluindo-se que o aleitamento natural predominante eacute um fator de

proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo no primeiro semestre de vida14

Em um estudo de caso-controle realizado em um ambulatoacuterio de pediatria no

periacuteodo de outubro de 1997 a abril de 1999 foram acompanhados dois grupos de crianccedilas

com idades entre dois e 12 anos O primeiro grupo foi constituiacutedo de crianccedilas com

diagnoacutestico de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional e o segundo de crianccedilas com haacutebito

intestinal normal (grupo-controle) pareadas ao primeiro de acordo com o gecircnero e a faixa

etaacuteria Nos dois grupos foi aplicado um questionaacuterio padronizado para obter informaccedilotildees

sobre as caracteriacutesticas do haacutebito intestinal iniacutecio dos sintomas e o periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo Os autores concluiacuteram que houve tendecircncia ao periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo ser mais longo no grupo de crianccedilas sem constipaccedilatildeo32

153 Aleitamento artificial

No primeiro ano de vida satildeo frequentes as reaccedilotildees adversas ao leite de vaca Aleacutem

de sintomas respiratoacuterios e dermatoloacutegicos tambeacutem foram verificados sintomas

gastrintestinais como a constipaccedilatildeo intestinal e sangue nas fezes33-37

Em 2008 foram avaliadas durante um ano 555 crianccedilas nascidas consecutivamente

em um hospital Apenas 27 delas apresentaram reaccedilatildeo aleacutergica ao leite de vaca e somente

uma manifestou como sintoma a constipaccedilatildeo33

Na Turquia foi realizado um estudo retrospectivo com dois grupos de 30 crianccedilas

com idades compreendidas entre quatro meses e trecircs anos O grupo I foi constituiacutedo de

crianccedilas com fissura anal e constipaccedilatildeo crocircnica e que natildeo apresentavam necessidade de

cirurgia e o grupo II incluiu crianccedilas normais O consumo diaacuterio de leite de vaca a

duraccedilatildeo do aleitamento materno e outras caracteriacutesticas cliacutenicas das crianccedilas foram

21

investigadas O consumo meacutedio diaacuterio de leite de vaca foi maior (plt0001) e o tempo de

amamentaccedilatildeo foi mais curto no grupo I (plt0001 e plt0006 respectivamente) O risco

(odds ratio) de constipaccedilatildeo quando presentes cada um desses fatores foi de 86 (intervalo

de confianccedila - IC95 023-074 p=00005) e 57 (IC 95 037-066 p=0007)

respectivamente As crianccedilas que consumiam mais quantidade de leite de vaca

apresentaram risco oito vezes mais alto de desenvolver constipaccedilatildeo e fissura anal assim

como naqueles com duraccedilatildeo mais curta do aleitamento materno o risco foi cinco vezes

mais alto Os pesquisadores preconizam atraso na introduccedilatildeo do leite de vaca e o

consequente aumento no tempo do aleitamento materno34

Em outra pesquisa 27 crianccedilas com idades entre cinco e 36 meses e com

constipaccedilatildeo intestinal crocircnica idiopaacutetica foram investigadas na possiacutevel relaccedilatildeo entre

constipaccedilatildeo e alergia agrave proteiacutena do leite de vaca Inicialmente elas foram observadas

consumindo dieta sem restriccedilotildees e registrava-se o nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias

Posteriormente receberam dieta sem a proteiacutena do leite de vaca por dois periacuteodos de um

mecircs separados por dois desafios com a proteiacutena do leite de vaca Durante a dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca 21 apresentaram melhora dos sintomas e durante os dois desafios

consecutivos a constipaccedilatildeo reapareceu no periacuteodo de 48 a 72 horas A dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca natildeo melhorou a constipaccedilatildeo em seis pacientes Apenas quatro que

melhoraram com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca manifestaram sintomas de

alergia ao leite de vaca Histoacuteria meacutedica de alergia ao leite de vaca foi encontrada em 15

dos 21 pacientes curados e em apenas um dos seis que natildeo melhoraram (plt005) Ainda

nos 15 dos 21 curados os resultados de um ou mais testes laboratoriais (dosagem de

imunoglobulinas E e G ndash IgE IgG antiβ lactoglobulina e eosinoacutefilos circulantes) foram

positivos no momento do diagnoacutestico indicando hipersensibilidade comparados com um

dos seis pacientes que natildeo tinham melhorado (plt 0005) Os resultados encontrados na

endoscopia e histologia no momento do diagnoacutestico mostraram proctite monociacutetica com

infiltraccedilatildeo em duas crianccedilas curadas com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca depois

de um mecircs da dieta eles estavam completamente normais A conclusatildeo foi que a

constipaccedilatildeo pode ter patogecircnese aleacutergica35

Em 1995 Hyams et al desenvolveram um estudo prospectivo duplo-cego para

avaliar o efeito das foacutermulas nas caracteriacutesticas das fezes de lactentes Foram selecionadas

crianccedilas saudaacuteveis com um mecircs de idade e acompanhadas por 14 dias Os autores

demonstraram que aquelas alimentadas com leite materno apresentaram maior frequecircncia

22

evacuatoacuteria (p lt 0001) e fezes mais macias (p lt 00001) do que as alimentadas com

foacutermulas laacutecteas36

154 Fibra alimentar

As fibras alimentares satildeo habitualmente consideradas importantes para a prevenccedilatildeo

da constipaccedilatildeo Acredita-se que a sua introduccedilatildeo na alimentaccedilatildeo complementar de forma

equilibrada certamente contribuiraacute para a pouca ocorrecircncia desse distuacuterbio no primeiro ano

de vida37

poreacutem existem poucos trabalhos sobre o consumo de fibras por lactentes Os

resultados encontrados demonstram que a fibra alimentar desempenha papel ainda natildeo

comprovado25

No jaacute mencionado estudo de Aguirre et al (2002) que avaliou a relaccedilatildeo entre o

tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal em 275 lactentes descreveu-se a

implicaccedilatildeo do uso de fibra alimentar Para os lactentes de seis a 24 meses a comparaccedilatildeo

do consumo de fibra alimentar por aqueles com constipaccedilatildeo (mediana=90g percentis 25 e

75 69-131g) e pelos demais com haacutebito intestinal normal natildeo demonstrou diferenccedilas

significativas (mediana=88 percentis 25 e 75 61-129g) (p=057)14

Em trecircs localidades da Greacutecia foi considerada uma amostra randomizada de

crianccedilas (291 com constipaccedilatildeo e 1602 controles) com idades entre dois e 14 anos

Realizou-se o registro alimentar de trecircs dias e a histoacuteria dieteacutetica para avaliar a ingestatildeo

alimentar A ingestatildeo da fibra alimentar foi estatisticamente menor na dieta das crianccedilas

constipadas em todas as faixas etaacuterias quando comparadas com o grupo-controle Os

autores salientaram que a baixa ingestatildeo de fibras na dieta de crianccedilas constipadas

independentemente da idade dos sintomas que acompanham a disfunccedilatildeo e da idade de

iniacutecio sustenta a hipoacutetese causal da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica em crianccedilas31

Segundo a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e

Nutriccedilatildeo (NASPGHAN) o uso de fibras pela crianccedila constipada ainda eacute contraditoacuterio e ateacute

que novos estudos demonstrem a eficaacutecia do tratamento com esse produto os resultados

atuais satildeo fracos para apoiar a recomendaccedilatildeo definitiva de sua suplementaccedilatildeo no

tratamento dessa morbidade25

Pesquisas mais especiacuteficas quanto ao consumo de fibras por lactentes satildeo escassas

na literatura cientiacutefica14

A aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos alimentares e a escolha de tabelas

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 6: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

AGRADECIMENTOS

A Deus criador e favorecedor de todas as coisas princiacutepio meio e fim

Aos meus queridos pais Ciacutecero e Maria Adelina por tudo que fazem por mim

Agrave minha querida secretaacuteria Deiliane por ter contribuiacutedo para a construccedilatildeo do meu banco

de dados

Agrave Nataacutelia que me ajudou a conduzir os primeiros dados estatiacutesticos

Agraves alunas do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena pela coleta de dados

Agraves funcionaacuterias do Posto Central pela gentileza em fornecer os endereccedilos das crianccedilas

Agraves matildees e crianccedilas que participaram do estudo

Ao Marcelo Militatildeo pela colaboraccedilatildeo na estatiacutestica do meu estudo

Agraves colegas de mestrado Siacutelvia e Maria das Dores pelas experiecircncias trocadas

Aos meus pacientes pela compreensatildeo nos momentos de ausecircncia do consultoacuterio

Agrave amiga Deolane pelas nossas conversas e desabafos no caminho para o trabalho na

Universidade de Itauacutena

Agrave amiga Cecy pela paz e tranquilidade que sempre me proporciona

Agrave Juldete por ter me amparado em um momento difiacutecil da minha vida

NOTA EXPLICATIVA

A presente dissertaccedilatildeo segue as orientaccedilotildees do Centro de Poacutes-Graduaccedilatildeo da Faculdade de

Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e seraacute apresentada em duas partes sob

a forma de dois artigos cientiacuteficos

A primeira parte refere-se ao artigo de revisatildeo e seguiu as normas da Revista Meacutedica de

Minas Gerais de acordo com o estabelecido no site wwwbibliomedcombr

O segundo artigo eacute original e seraacute submetido ao perioacutedico Journal of Pediatric

Gastroenterology and Nutrition As normas de publicaccedilatildeo desse perioacutedico encontram-se

no endereccedilo eletrocircnico wwwjpgnorg

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CI Constipaccedilatildeo intestinal

CONEP Comissatildeo Nacional de Eacutetica em Pesquisa

DeCs Descritores em sauacutede

DP Desvio-padratildeo

EUA Estados Unidos da Ameacuterica

IC Intervalo de confianccedila

IgE Imunoglobulina E

IgG Imunoglobulina G

LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciecircncias da Sauacutede

MG Minas Gerais

NASPGHAN Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia e Nutriccedilatildeo

OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede

OR Odds ratio

PACCT Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Artigo original

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal 35

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo por idade do lactente (meses) 37

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio por idade do lactente (meses) 38

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar por idade do lactente (meses) 38

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras por idade do lactente (meses) 38

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes aos 3 6 9 e 12 meses de

vida

40

LISTA DE TABELAS

Artigo de revisatildeo

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees 16

Tabela 2 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008) 18

Artigo original

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas 34

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento)

dependente do tempo

34

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal 34

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de

fezes nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

36

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida do lactente

39

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semana avaliada trimestralmente 40

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros 41

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e tipo de fezes

41

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes 42

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes 42

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

43

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs 44

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno 45

SUMAacuteRIO1

1 ARTIGO DE REVISAtildeO - PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM LACTENTES

13

11 Introduccedilatildeo 15

12 Metodologia 15

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo 16

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes 18

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal 19

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias 19

152 Aleitamento materno 19

153 Aleitamento artificial 20

154 Fibra alimentar 22

16 Consideraccedilotildees finais 23

Referecircncias 23

2 ARTIGO ORIGINAL - PREVALEcircNCIA DE CONSTIPACcedilAtildeOINTESTINAL NO

PRIMEIRO ANO DE VIDA UM ESTUDO LONGITUDINAL

27

21 Introduccedilatildeo 29

22 Casuiacutestica e meacutetodos 30

221 Local do estudo 30

222 Populaccedilatildeo estudada 30

223 Meacutetodos 30

2231 Delineamento do estudo 30

2232 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo 30

2233 Caacutelculo da amostra 31

2234 Coleta de dados 31

2235 Variaacuteveis coletadas 31

2236 Anaacutelise estatiacutestica 32

2237 Aspecto eacutetico 33

1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortograacuteficas

23 Resultados 33

24 Discussatildeo 45

25 Conclusatildeo 49

Referecircncias 48

Anexo A - Parecer da Cacircmara do Departamento de Pediatria da UFMG 50

Anexo B - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFMG 51

Anexo C - Parecer da Secretaria Municipal de Itauacutena 52

Apecircndice A - Questionaacuterio estruturado 53

Apecircndice B - Esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitaccedilatildeo de autorizaccedilatildeo

Apecircndice C - Escala de consistecircncia de fezes

Apecircndice D - Termo de consentimento livre e esclarecido

1 ARTIGO DE REVISAtildeO _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM

LACTENTES

14

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em

lactentes

A constipaccedilatildeo intestinal eacute um problema comum em lactentes Foi realizada revisatildeo

sistemaacutetica da literatura nos sites do PUBMED BIREME e SCIELO utilizando os

descritores constipation infant breastfeeding risk factores Para limitar os assuntos

estabeleceu-se All Infant birth-23 months A prevalecircncia da constipaccedilatildeo variou de 07 a

48 Apesar de existirem criteacuterios para diagnosticar esse distuacuterbio em lactentes muitos

autores adotam criteacuterios proacuteprios o que pode fazer com que a prevalecircncia varie muito de

um trabalho para outro Quanto aos fatores de risco observou-se que os componentes

constitucionais e hereditaacuterios estatildeo presentes em pais irmatildeos e tios das crianccedilas

constipadas Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno se constitui em

um fator de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo Pesquisas demonstram que

o consumo do leite de vaca e de foacutermulas contribui para o surgimento desse evento no

primeiro ano de vida Existem poucas investigaccedilotildees sobre o consumo de fibras alimentares

em lactentes e em crianccedilas constipadas sua utilizaccedilatildeo como suplemento ainda eacute

controversa Estudos sobre prevalecircncia com caracterizaccedilatildeo especiacutefica para lactentes com

fatores de risco associados agrave constipaccedilatildeo poderatildeo trazer melhor compreensatildeo do impacto

da morbidade dessa doenccedila e favorecer melhor tratamento e prevenccedilatildeo

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with chronic functional constipation in infants

Infant intestinal constipation is a common problem A non-systematic literature

review was performed on PUBMED BIREME and SCIELO using the following key

concepts constipation infant epidemiology and risk factors The term All Infant birth-23

months was selected for the specific search The prevalence of constipation varied from 07

to 48 Criteria for the diagnosis of this disorder in infants are available but many authors

adopt their own criteria which may result in a large prevalence variation between the

several studies conducted With regards to the risk factors it was observed that parents

brothers and uncles of the constipated children present the constitutional and hereditary

components Some studies have shown that the maternal breastfeeding is a protection

factor against the constipation development Researches have confirmed that the

consumption of cowrsquos milk and formulas favor the occurrence of this event in the first year

of life There are few investigations made regarding the consumption of alimentary fibers

by infants and therefore the utilization as a nutritional supplement is still controversial

The development of prevalence studies oriented specifically to infants with risk factors

associated to constipation may provide a better comprehension of the morbosity impact of

this disease as well as an improved treatment and prevention

Key-words Constipation Infant Epidemiology Risk factors

15

11 Introduccedilatildeo

Em todo o mundo a constipaccedilatildeo intestinal (CI) em lactentes eacute uma morbidade de

significativa relevacircncia Na literatura cientiacutefica existe ampla variaccedilatildeo na prevalecircncia dessa

doenccedila em crianccedilas o que revela a existecircncia de fatores que alteram a sua distribuiccedilatildeo ou

problemas relacionados agrave sua definiccedilatildeo ou nomenclatura

Geralmente pais de lactentes satildeo muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e qualquer

modificaccedilatildeo do haacutebito intestinal os leva a buscar assistecircncia meacutedica1

Estudos demonstram que importante proporccedilatildeo de crianccedilas com constipaccedilatildeo

intestinal inicia o quadro no primeiro ano de vida2-4

Durante os dois primeiros anos de

vida a constipaccedilatildeo intestinal pode ser causada por fatores orgacircnicos ou funcionais Entre

os fatores orgacircnicos a doenccedila de Hirschsprung as anomalias anorretais as doenccedilas

metaboacutelicas e as doenccedilas endocrinoloacutegicas como o hipotireoidismo devem sempre ser

lembradas5 Entretanto os quadros funcionais satildeo muito mais frequentes

6

As pesquisas realizadas ateacute o momento identificam a baixa ingestatildeo hiacutedrica os

fatores constitucionais e o desmame precoce como marcadores envolvidos no

desenvolvimento dessa morbidade7 O aleitamento artificial que se segue ao desmame

parece ser o principal deles8 Contudo mais estudos satildeo necessaacuterios natildeo apenas para

confirmar essa associaccedilatildeo mas tambeacutem para avaliar como os outros aspectos alimentares

relativos ao desmame participam das mudanccedilas do haacutebito alimentar protegendo ou

precipitando o surgimento dos transtornos evacuatoacuterios9

12 Meacutetodo

Realizou-se levantamento bibliograacutefico mediante consulta agrave base de dados

PUBMED BIREME e SCIELO considerando-se preferencialmente artigos na liacutengua

inglesa publicados nos uacuteltimos 10 anos entre 1998 e 2008 As publicaccedilotildees eram referentes

agrave prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em lactentes Para a busca foram

consideradas as palavras-chave constipation epidemiology infant breastfeeding risk

factors Esses termos foram determinados apoacutes consulta aos descritores em sauacutede (DeCs)

disponiacuteveis na BIREME Foram estabelecidos ainda os seguintes limites estudos com

humanos artigos referentes a ensaios cliacutenicos metanaacutelises ensaios randomizados

controlados e artigos de revisatildeo faixa etaacuteria de zero a dois anos

16

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo

A adequada definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal eacute importante para identificar de

forma precoce o paciente que apresenta a morbidade diminuindo o risco de complicaccedilotildees

e o custo do tratamento10

Em estudos cientiacuteficos epidemioloacutegicos a dificuldade na definiccedilatildeo da morbidade eacute

facilmente percebida As diferentes taxas epidemioloacutegicas relatadas na literatura ressaltam

que a identificaccedilatildeo do problema natildeo eacute tatildeo faacutecil quanto possa parecer1112

Assim alguns

autores tecircm adotado criteacuterios proacuteprios para identificar pacientes constipados incluindo

defecaccedilatildeo infrequente fezes duras dificuldade ou passagem de fezes dolorosas sem

uniformizaccedilatildeo na definiccedilatildeo e na caracterizaccedilatildeo desses sintomas13-19

A preocupaccedilatildeo em encontrar um consenso para a definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal existe haacute algumas deacutecadas20

Um dos conceitos mais adotados em pesquisas

cientiacuteficas estabelece como criteacuterio a frequecircncia evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por

semana315

Esse criteacuterio eacute adotado para a populaccedilatildeo adulta poreacutem eacute falho para crianccedilas

principalmente para as menores de quatro anos21

A Tabela 1 apresenta a frequecircncia

evacuatoacuteria da crianccedila estabelecida por Fontana et al (1989)22

Observa-se que existe

acentuada variaccedilatildeo desse paracircmetro nas diversas faixas etaacuterias No primeiro ano de vida a

amplitude da frequecircncia evacuatoacuteria eacute tatildeo vasta que maior valorizaccedilatildeo do paracircmetro pode

levar a erros no diagnoacutestico da morbidade22

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees

Idade Evacuaccedilotildees

por semana

Evacuaccedilotildees

por dia

0-3 meses

Aleitamento materno 5-40 29

Foacutermulas 5-28 20

6-12 meses 5-28 18

1-3 anos 4-21 14

Mais de 3 anos 3-14 10

Fonte Fontana et al (1989)22

17

A partir do consenso ROMA I o qual ofereceu definiccedilotildees iniciais para doenccedilas

funcionais do trato digestivo de adultos muito se evoluiu em termo de nomenclatura

criteacuterios e definiccedilotildees para as doenccedilas digestivas23

Esse consenso forneceu importantes definiccedilotildees para as alteraccedilotildees funcionais

pediaacutetricas23

Em relaccedilatildeo agrave constipaccedilatildeo intestinal da crianccedila as contribuiccedilotildees do Consenso

de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT)24

da Sociedade Norte-

Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo (NASGHAN)1 e de ROMA III

8

passaram a ser adotadas nos estudos que se seguiram No entanto entre eles satildeo notaacuteveis

as diferenccedilas nos criteacuterios conforme se segue

Roma II - em lactentes e crianccedilas preacute-escolares por pelo menos duas semanas fezes

em ciacutebalos com rachaduras duras na maioria das evacuaccedilotildees ou duas ou menos

evacuaccedilotildees de fezes firmes por semana natildeo havendo evidecircncia de doenccedila

estrutural endoacutecrina ou metaboacutelica23

Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT) - um

periacuteodo de oito semanas com pelo menos dois dos seguintes sintomas frequecircncia

evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por semana incontinecircncia fecal acima de uma vez

por semana passagem de fezes grandes que podem entupir o vaso sanitaacuterio massa

fecal palpaacutevel no abdocircmen ou no reto comportamento de retenccedilatildeo de fezes ou

defecaccedilatildeo dolorosa24

Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo

(NASPGHAN) - atraso ou dificuldade de evacuar presente por duas ou mais

semanas e suficiente para causar desconforto ao paciente25

Roma III - em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade no periacuteodo de 30

dias pelo menos dois dos seguintes itens duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao

menos um episoacutedio de incontinecircncia por semana apoacutes a habilidade para utilizar o

banheiro histoacuteria de retenccedilatildeo excessiva de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis

presenccedila de grande massa fecal no reto e fezes com grande diacircmetro e que podem

obstruir o vaso sanitaacuterio A esses sintomas associam-se a irritabilidade a falta de

apetite eou a saciedade precoce Todos podem desaparecer apoacutes a eliminaccedilatildeo das

fezes8

18

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes

A real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal em lactentes natildeo foi ateacute o momento

adequadamente estabelecida De acordo com as pesquisas mais recentes os iacutendices variam

de 0726

a 4825

Para ilustrar essas divergecircncias na prevalecircncia da morbidade foi demonstrada no

Tabela 1 uma seacuterie de estudos realizados entre os anos de 1998 e 2008

Tabela 1 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008)

Estudo Paiacutes

Ano

Delineamento N Idade Criteacuterio

definido por

Prevalecircncia

Motta et al13

Brasil 1998 Transversal 536 0ndash11 a Autor 218 0-239 m

Aguirre et al14

Brasil 2000 Transversal 275 0ndash25 a Autor 251

Souza et al15

Brasil 2001 Transversal 289 1m-4 a Percepccedilatildeo matildee 153 0-239 m

Del Ciampo et al16

Brasil 2002 Transversal 313 1ndash10 a Autor 268

Miele et al 26

Itaacutelia 2004 Longitudinal 9660 0ndash12 a Roma II 07

Corazziari et al 27

Itaacutelia 2005 Longitudinal 2680 0ndash12 a Autor 52 0-239 m

Iacono et al3 Itaacutelia 2005 Longitudinal 2879 0ndash05 a Autor 176

Loening-Bauke2 EUA 2005 Transversal 4157 0ndash2 a NASPGHAN

ou Roma II

29 1 a

101 2 a

Ludvigsson et al28

Sueacutecia 2006 Longitudinal 8431 0ndash25 a Percepccedilatildeo matildee 65

Boccia et al25

Itaacutelia 2007 Longitudinal 126 0ndash18 a Roma II e

PACCT

Roma II15-lt4a

PACCT48-lt4a

Medeiros et al19

Brasil 2007 Transversal 561 0ndash19 a Autor 191 0-239 m

Pina et al29

Espanha2008 Transversal 3487 0ndash4 m Autor 61

A = ano m = mecircs

A grande diferenccedila encontrada pode ser explicada pelas divergecircncias no criteacuterio

utilizado para definir a constipaccedilatildeo intestinal pelo delineamento do estudo realizado e pela

faixa etaacuteria considerada

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo especificamente em lactentes foi determinada em

apenas nove desses estudos2313-151927-29

Desses autores apenas um adotou criteacuterio

internacional na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo13

Os demais empregaram princiacutepio

19

proacuteprio2313-1527-29

sendo que nos estudos de Ludvigsson28

e Souza15

o criteacuterio utilizado

para diagnosticar os lactentes constipados foi a percepccedilatildeo das matildees

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias

A literatura mostra a ocorrecircncia de constipaccedilatildeo entre os familiares das crianccedilas

constipadas3031

Na Espanha em 2005 foi realizado um estudo de caso-controle para avaliar os

fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo infantil Foram incluiacutedas crianccedilas

com idades entre quatro meses e 15 anos e que apresentavam quadro de constipaccedilatildeo

crocircnica Seus controles eram as crianccedilas imediatamente atendidas sem histoacuteria preacutevia de

constipaccedilatildeo No grupo-controle 351 das crianccedilas apresentavam histoacuteria familiar com

quadro de constipaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com 542 do grupo em estudo cuja diferenccedila foi

significativa entre os grupos (plt0001) Na situaccedilatildeo pais separados a matildee apresentou mais

frequecircncia de constipaccedilatildeo no grupo de crianccedilas constipadas em relaccedilatildeo ao grupo-controle

956 e 286 respectivamente (plt0001)30

Na investigaccedilatildeo de Roma et al (1999)31

que avaliou a presenccedila de constipaccedilatildeo em

crianccedilas de dois a 14 anos identificou-se histoacuteria familiar positiva para o distuacuterbio (pais ou

irmatildeos) em 625 das crianccedilas constipadas e em 303 dos familiares dos indiviacuteduos

controles (p lt0000001) A prevalecircncia de constipaccedilatildeo crocircnica em crianccedilas foi de 34 se

nenhum dos pais manifestava o problema 103 se um dos pais estava constipado e

485 se ambos (p lt00001)31

152 Aleitamento materno

Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno constitui-se em fator

de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal na crianccedila314

Iacono et al (2005)3 desenvolveram uma pesquisa para avaliar a frequecircncia dos

sintomas gastrintestinais mais comuns durante os primeiros seis meses de vida e avaliar a

influecircncia de algumas variaacuteveis sobre o aparecimento dos sintomas Foram acompanhadas

20

2879 crianccedilas do nascimento ateacute os seis meses de vida A constipaccedilatildeo esteve presente em

507 e foi diagnosticada em idades entre 27 e 33 dias Os lactentes constipados natildeo

apresentaram diferenccedila na comparaccedilatildeo com aqueles sem a morbidade em relaccedilatildeo ao peso

ao nascer idade gestacional idade e niacutevel de ensino da matildee e do pai No entanto o nuacutemero

foi significativamente mais baixo na frequecircncia do aleitamento materno em relaccedilatildeo agraves

crianccedilas sem constipaccedilatildeo (763 versus 849 p=0007)3

A relaccedilatildeo entre o tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal foi

analisada em 275 lactentes atendidos consecutivamente no periacuteodo de dezembro de 1996 a

dezembro de 1997 concluindo-se que o aleitamento natural predominante eacute um fator de

proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo no primeiro semestre de vida14

Em um estudo de caso-controle realizado em um ambulatoacuterio de pediatria no

periacuteodo de outubro de 1997 a abril de 1999 foram acompanhados dois grupos de crianccedilas

com idades entre dois e 12 anos O primeiro grupo foi constituiacutedo de crianccedilas com

diagnoacutestico de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional e o segundo de crianccedilas com haacutebito

intestinal normal (grupo-controle) pareadas ao primeiro de acordo com o gecircnero e a faixa

etaacuteria Nos dois grupos foi aplicado um questionaacuterio padronizado para obter informaccedilotildees

sobre as caracteriacutesticas do haacutebito intestinal iniacutecio dos sintomas e o periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo Os autores concluiacuteram que houve tendecircncia ao periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo ser mais longo no grupo de crianccedilas sem constipaccedilatildeo32

153 Aleitamento artificial

No primeiro ano de vida satildeo frequentes as reaccedilotildees adversas ao leite de vaca Aleacutem

de sintomas respiratoacuterios e dermatoloacutegicos tambeacutem foram verificados sintomas

gastrintestinais como a constipaccedilatildeo intestinal e sangue nas fezes33-37

Em 2008 foram avaliadas durante um ano 555 crianccedilas nascidas consecutivamente

em um hospital Apenas 27 delas apresentaram reaccedilatildeo aleacutergica ao leite de vaca e somente

uma manifestou como sintoma a constipaccedilatildeo33

Na Turquia foi realizado um estudo retrospectivo com dois grupos de 30 crianccedilas

com idades compreendidas entre quatro meses e trecircs anos O grupo I foi constituiacutedo de

crianccedilas com fissura anal e constipaccedilatildeo crocircnica e que natildeo apresentavam necessidade de

cirurgia e o grupo II incluiu crianccedilas normais O consumo diaacuterio de leite de vaca a

duraccedilatildeo do aleitamento materno e outras caracteriacutesticas cliacutenicas das crianccedilas foram

21

investigadas O consumo meacutedio diaacuterio de leite de vaca foi maior (plt0001) e o tempo de

amamentaccedilatildeo foi mais curto no grupo I (plt0001 e plt0006 respectivamente) O risco

(odds ratio) de constipaccedilatildeo quando presentes cada um desses fatores foi de 86 (intervalo

de confianccedila - IC95 023-074 p=00005) e 57 (IC 95 037-066 p=0007)

respectivamente As crianccedilas que consumiam mais quantidade de leite de vaca

apresentaram risco oito vezes mais alto de desenvolver constipaccedilatildeo e fissura anal assim

como naqueles com duraccedilatildeo mais curta do aleitamento materno o risco foi cinco vezes

mais alto Os pesquisadores preconizam atraso na introduccedilatildeo do leite de vaca e o

consequente aumento no tempo do aleitamento materno34

Em outra pesquisa 27 crianccedilas com idades entre cinco e 36 meses e com

constipaccedilatildeo intestinal crocircnica idiopaacutetica foram investigadas na possiacutevel relaccedilatildeo entre

constipaccedilatildeo e alergia agrave proteiacutena do leite de vaca Inicialmente elas foram observadas

consumindo dieta sem restriccedilotildees e registrava-se o nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias

Posteriormente receberam dieta sem a proteiacutena do leite de vaca por dois periacuteodos de um

mecircs separados por dois desafios com a proteiacutena do leite de vaca Durante a dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca 21 apresentaram melhora dos sintomas e durante os dois desafios

consecutivos a constipaccedilatildeo reapareceu no periacuteodo de 48 a 72 horas A dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca natildeo melhorou a constipaccedilatildeo em seis pacientes Apenas quatro que

melhoraram com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca manifestaram sintomas de

alergia ao leite de vaca Histoacuteria meacutedica de alergia ao leite de vaca foi encontrada em 15

dos 21 pacientes curados e em apenas um dos seis que natildeo melhoraram (plt005) Ainda

nos 15 dos 21 curados os resultados de um ou mais testes laboratoriais (dosagem de

imunoglobulinas E e G ndash IgE IgG antiβ lactoglobulina e eosinoacutefilos circulantes) foram

positivos no momento do diagnoacutestico indicando hipersensibilidade comparados com um

dos seis pacientes que natildeo tinham melhorado (plt 0005) Os resultados encontrados na

endoscopia e histologia no momento do diagnoacutestico mostraram proctite monociacutetica com

infiltraccedilatildeo em duas crianccedilas curadas com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca depois

de um mecircs da dieta eles estavam completamente normais A conclusatildeo foi que a

constipaccedilatildeo pode ter patogecircnese aleacutergica35

Em 1995 Hyams et al desenvolveram um estudo prospectivo duplo-cego para

avaliar o efeito das foacutermulas nas caracteriacutesticas das fezes de lactentes Foram selecionadas

crianccedilas saudaacuteveis com um mecircs de idade e acompanhadas por 14 dias Os autores

demonstraram que aquelas alimentadas com leite materno apresentaram maior frequecircncia

22

evacuatoacuteria (p lt 0001) e fezes mais macias (p lt 00001) do que as alimentadas com

foacutermulas laacutecteas36

154 Fibra alimentar

As fibras alimentares satildeo habitualmente consideradas importantes para a prevenccedilatildeo

da constipaccedilatildeo Acredita-se que a sua introduccedilatildeo na alimentaccedilatildeo complementar de forma

equilibrada certamente contribuiraacute para a pouca ocorrecircncia desse distuacuterbio no primeiro ano

de vida37

poreacutem existem poucos trabalhos sobre o consumo de fibras por lactentes Os

resultados encontrados demonstram que a fibra alimentar desempenha papel ainda natildeo

comprovado25

No jaacute mencionado estudo de Aguirre et al (2002) que avaliou a relaccedilatildeo entre o

tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal em 275 lactentes descreveu-se a

implicaccedilatildeo do uso de fibra alimentar Para os lactentes de seis a 24 meses a comparaccedilatildeo

do consumo de fibra alimentar por aqueles com constipaccedilatildeo (mediana=90g percentis 25 e

75 69-131g) e pelos demais com haacutebito intestinal normal natildeo demonstrou diferenccedilas

significativas (mediana=88 percentis 25 e 75 61-129g) (p=057)14

Em trecircs localidades da Greacutecia foi considerada uma amostra randomizada de

crianccedilas (291 com constipaccedilatildeo e 1602 controles) com idades entre dois e 14 anos

Realizou-se o registro alimentar de trecircs dias e a histoacuteria dieteacutetica para avaliar a ingestatildeo

alimentar A ingestatildeo da fibra alimentar foi estatisticamente menor na dieta das crianccedilas

constipadas em todas as faixas etaacuterias quando comparadas com o grupo-controle Os

autores salientaram que a baixa ingestatildeo de fibras na dieta de crianccedilas constipadas

independentemente da idade dos sintomas que acompanham a disfunccedilatildeo e da idade de

iniacutecio sustenta a hipoacutetese causal da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica em crianccedilas31

Segundo a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e

Nutriccedilatildeo (NASPGHAN) o uso de fibras pela crianccedila constipada ainda eacute contraditoacuterio e ateacute

que novos estudos demonstrem a eficaacutecia do tratamento com esse produto os resultados

atuais satildeo fracos para apoiar a recomendaccedilatildeo definitiva de sua suplementaccedilatildeo no

tratamento dessa morbidade25

Pesquisas mais especiacuteficas quanto ao consumo de fibras por lactentes satildeo escassas

na literatura cientiacutefica14

A aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos alimentares e a escolha de tabelas

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 7: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

NOTA EXPLICATIVA

A presente dissertaccedilatildeo segue as orientaccedilotildees do Centro de Poacutes-Graduaccedilatildeo da Faculdade de

Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e seraacute apresentada em duas partes sob

a forma de dois artigos cientiacuteficos

A primeira parte refere-se ao artigo de revisatildeo e seguiu as normas da Revista Meacutedica de

Minas Gerais de acordo com o estabelecido no site wwwbibliomedcombr

O segundo artigo eacute original e seraacute submetido ao perioacutedico Journal of Pediatric

Gastroenterology and Nutrition As normas de publicaccedilatildeo desse perioacutedico encontram-se

no endereccedilo eletrocircnico wwwjpgnorg

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CI Constipaccedilatildeo intestinal

CONEP Comissatildeo Nacional de Eacutetica em Pesquisa

DeCs Descritores em sauacutede

DP Desvio-padratildeo

EUA Estados Unidos da Ameacuterica

IC Intervalo de confianccedila

IgE Imunoglobulina E

IgG Imunoglobulina G

LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciecircncias da Sauacutede

MG Minas Gerais

NASPGHAN Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia e Nutriccedilatildeo

OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede

OR Odds ratio

PACCT Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Artigo original

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal 35

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo por idade do lactente (meses) 37

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio por idade do lactente (meses) 38

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar por idade do lactente (meses) 38

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras por idade do lactente (meses) 38

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes aos 3 6 9 e 12 meses de

vida

40

LISTA DE TABELAS

Artigo de revisatildeo

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees 16

Tabela 2 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008) 18

Artigo original

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas 34

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento)

dependente do tempo

34

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal 34

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de

fezes nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

36

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida do lactente

39

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semana avaliada trimestralmente 40

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros 41

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e tipo de fezes

41

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes 42

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes 42

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

43

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs 44

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno 45

SUMAacuteRIO1

1 ARTIGO DE REVISAtildeO - PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM LACTENTES

13

11 Introduccedilatildeo 15

12 Metodologia 15

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo 16

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes 18

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal 19

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias 19

152 Aleitamento materno 19

153 Aleitamento artificial 20

154 Fibra alimentar 22

16 Consideraccedilotildees finais 23

Referecircncias 23

2 ARTIGO ORIGINAL - PREVALEcircNCIA DE CONSTIPACcedilAtildeOINTESTINAL NO

PRIMEIRO ANO DE VIDA UM ESTUDO LONGITUDINAL

27

21 Introduccedilatildeo 29

22 Casuiacutestica e meacutetodos 30

221 Local do estudo 30

222 Populaccedilatildeo estudada 30

223 Meacutetodos 30

2231 Delineamento do estudo 30

2232 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo 30

2233 Caacutelculo da amostra 31

2234 Coleta de dados 31

2235 Variaacuteveis coletadas 31

2236 Anaacutelise estatiacutestica 32

2237 Aspecto eacutetico 33

1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortograacuteficas

23 Resultados 33

24 Discussatildeo 45

25 Conclusatildeo 49

Referecircncias 48

Anexo A - Parecer da Cacircmara do Departamento de Pediatria da UFMG 50

Anexo B - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFMG 51

Anexo C - Parecer da Secretaria Municipal de Itauacutena 52

Apecircndice A - Questionaacuterio estruturado 53

Apecircndice B - Esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitaccedilatildeo de autorizaccedilatildeo

Apecircndice C - Escala de consistecircncia de fezes

Apecircndice D - Termo de consentimento livre e esclarecido

1 ARTIGO DE REVISAtildeO _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM

LACTENTES

14

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em

lactentes

A constipaccedilatildeo intestinal eacute um problema comum em lactentes Foi realizada revisatildeo

sistemaacutetica da literatura nos sites do PUBMED BIREME e SCIELO utilizando os

descritores constipation infant breastfeeding risk factores Para limitar os assuntos

estabeleceu-se All Infant birth-23 months A prevalecircncia da constipaccedilatildeo variou de 07 a

48 Apesar de existirem criteacuterios para diagnosticar esse distuacuterbio em lactentes muitos

autores adotam criteacuterios proacuteprios o que pode fazer com que a prevalecircncia varie muito de

um trabalho para outro Quanto aos fatores de risco observou-se que os componentes

constitucionais e hereditaacuterios estatildeo presentes em pais irmatildeos e tios das crianccedilas

constipadas Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno se constitui em

um fator de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo Pesquisas demonstram que

o consumo do leite de vaca e de foacutermulas contribui para o surgimento desse evento no

primeiro ano de vida Existem poucas investigaccedilotildees sobre o consumo de fibras alimentares

em lactentes e em crianccedilas constipadas sua utilizaccedilatildeo como suplemento ainda eacute

controversa Estudos sobre prevalecircncia com caracterizaccedilatildeo especiacutefica para lactentes com

fatores de risco associados agrave constipaccedilatildeo poderatildeo trazer melhor compreensatildeo do impacto

da morbidade dessa doenccedila e favorecer melhor tratamento e prevenccedilatildeo

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with chronic functional constipation in infants

Infant intestinal constipation is a common problem A non-systematic literature

review was performed on PUBMED BIREME and SCIELO using the following key

concepts constipation infant epidemiology and risk factors The term All Infant birth-23

months was selected for the specific search The prevalence of constipation varied from 07

to 48 Criteria for the diagnosis of this disorder in infants are available but many authors

adopt their own criteria which may result in a large prevalence variation between the

several studies conducted With regards to the risk factors it was observed that parents

brothers and uncles of the constipated children present the constitutional and hereditary

components Some studies have shown that the maternal breastfeeding is a protection

factor against the constipation development Researches have confirmed that the

consumption of cowrsquos milk and formulas favor the occurrence of this event in the first year

of life There are few investigations made regarding the consumption of alimentary fibers

by infants and therefore the utilization as a nutritional supplement is still controversial

The development of prevalence studies oriented specifically to infants with risk factors

associated to constipation may provide a better comprehension of the morbosity impact of

this disease as well as an improved treatment and prevention

Key-words Constipation Infant Epidemiology Risk factors

15

11 Introduccedilatildeo

Em todo o mundo a constipaccedilatildeo intestinal (CI) em lactentes eacute uma morbidade de

significativa relevacircncia Na literatura cientiacutefica existe ampla variaccedilatildeo na prevalecircncia dessa

doenccedila em crianccedilas o que revela a existecircncia de fatores que alteram a sua distribuiccedilatildeo ou

problemas relacionados agrave sua definiccedilatildeo ou nomenclatura

Geralmente pais de lactentes satildeo muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e qualquer

modificaccedilatildeo do haacutebito intestinal os leva a buscar assistecircncia meacutedica1

Estudos demonstram que importante proporccedilatildeo de crianccedilas com constipaccedilatildeo

intestinal inicia o quadro no primeiro ano de vida2-4

Durante os dois primeiros anos de

vida a constipaccedilatildeo intestinal pode ser causada por fatores orgacircnicos ou funcionais Entre

os fatores orgacircnicos a doenccedila de Hirschsprung as anomalias anorretais as doenccedilas

metaboacutelicas e as doenccedilas endocrinoloacutegicas como o hipotireoidismo devem sempre ser

lembradas5 Entretanto os quadros funcionais satildeo muito mais frequentes

6

As pesquisas realizadas ateacute o momento identificam a baixa ingestatildeo hiacutedrica os

fatores constitucionais e o desmame precoce como marcadores envolvidos no

desenvolvimento dessa morbidade7 O aleitamento artificial que se segue ao desmame

parece ser o principal deles8 Contudo mais estudos satildeo necessaacuterios natildeo apenas para

confirmar essa associaccedilatildeo mas tambeacutem para avaliar como os outros aspectos alimentares

relativos ao desmame participam das mudanccedilas do haacutebito alimentar protegendo ou

precipitando o surgimento dos transtornos evacuatoacuterios9

12 Meacutetodo

Realizou-se levantamento bibliograacutefico mediante consulta agrave base de dados

PUBMED BIREME e SCIELO considerando-se preferencialmente artigos na liacutengua

inglesa publicados nos uacuteltimos 10 anos entre 1998 e 2008 As publicaccedilotildees eram referentes

agrave prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em lactentes Para a busca foram

consideradas as palavras-chave constipation epidemiology infant breastfeeding risk

factors Esses termos foram determinados apoacutes consulta aos descritores em sauacutede (DeCs)

disponiacuteveis na BIREME Foram estabelecidos ainda os seguintes limites estudos com

humanos artigos referentes a ensaios cliacutenicos metanaacutelises ensaios randomizados

controlados e artigos de revisatildeo faixa etaacuteria de zero a dois anos

16

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo

A adequada definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal eacute importante para identificar de

forma precoce o paciente que apresenta a morbidade diminuindo o risco de complicaccedilotildees

e o custo do tratamento10

Em estudos cientiacuteficos epidemioloacutegicos a dificuldade na definiccedilatildeo da morbidade eacute

facilmente percebida As diferentes taxas epidemioloacutegicas relatadas na literatura ressaltam

que a identificaccedilatildeo do problema natildeo eacute tatildeo faacutecil quanto possa parecer1112

Assim alguns

autores tecircm adotado criteacuterios proacuteprios para identificar pacientes constipados incluindo

defecaccedilatildeo infrequente fezes duras dificuldade ou passagem de fezes dolorosas sem

uniformizaccedilatildeo na definiccedilatildeo e na caracterizaccedilatildeo desses sintomas13-19

A preocupaccedilatildeo em encontrar um consenso para a definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal existe haacute algumas deacutecadas20

Um dos conceitos mais adotados em pesquisas

cientiacuteficas estabelece como criteacuterio a frequecircncia evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por

semana315

Esse criteacuterio eacute adotado para a populaccedilatildeo adulta poreacutem eacute falho para crianccedilas

principalmente para as menores de quatro anos21

A Tabela 1 apresenta a frequecircncia

evacuatoacuteria da crianccedila estabelecida por Fontana et al (1989)22

Observa-se que existe

acentuada variaccedilatildeo desse paracircmetro nas diversas faixas etaacuterias No primeiro ano de vida a

amplitude da frequecircncia evacuatoacuteria eacute tatildeo vasta que maior valorizaccedilatildeo do paracircmetro pode

levar a erros no diagnoacutestico da morbidade22

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees

Idade Evacuaccedilotildees

por semana

Evacuaccedilotildees

por dia

0-3 meses

Aleitamento materno 5-40 29

Foacutermulas 5-28 20

6-12 meses 5-28 18

1-3 anos 4-21 14

Mais de 3 anos 3-14 10

Fonte Fontana et al (1989)22

17

A partir do consenso ROMA I o qual ofereceu definiccedilotildees iniciais para doenccedilas

funcionais do trato digestivo de adultos muito se evoluiu em termo de nomenclatura

criteacuterios e definiccedilotildees para as doenccedilas digestivas23

Esse consenso forneceu importantes definiccedilotildees para as alteraccedilotildees funcionais

pediaacutetricas23

Em relaccedilatildeo agrave constipaccedilatildeo intestinal da crianccedila as contribuiccedilotildees do Consenso

de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT)24

da Sociedade Norte-

Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo (NASGHAN)1 e de ROMA III

8

passaram a ser adotadas nos estudos que se seguiram No entanto entre eles satildeo notaacuteveis

as diferenccedilas nos criteacuterios conforme se segue

Roma II - em lactentes e crianccedilas preacute-escolares por pelo menos duas semanas fezes

em ciacutebalos com rachaduras duras na maioria das evacuaccedilotildees ou duas ou menos

evacuaccedilotildees de fezes firmes por semana natildeo havendo evidecircncia de doenccedila

estrutural endoacutecrina ou metaboacutelica23

Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT) - um

periacuteodo de oito semanas com pelo menos dois dos seguintes sintomas frequecircncia

evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por semana incontinecircncia fecal acima de uma vez

por semana passagem de fezes grandes que podem entupir o vaso sanitaacuterio massa

fecal palpaacutevel no abdocircmen ou no reto comportamento de retenccedilatildeo de fezes ou

defecaccedilatildeo dolorosa24

Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo

(NASPGHAN) - atraso ou dificuldade de evacuar presente por duas ou mais

semanas e suficiente para causar desconforto ao paciente25

Roma III - em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade no periacuteodo de 30

dias pelo menos dois dos seguintes itens duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao

menos um episoacutedio de incontinecircncia por semana apoacutes a habilidade para utilizar o

banheiro histoacuteria de retenccedilatildeo excessiva de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis

presenccedila de grande massa fecal no reto e fezes com grande diacircmetro e que podem

obstruir o vaso sanitaacuterio A esses sintomas associam-se a irritabilidade a falta de

apetite eou a saciedade precoce Todos podem desaparecer apoacutes a eliminaccedilatildeo das

fezes8

18

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes

A real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal em lactentes natildeo foi ateacute o momento

adequadamente estabelecida De acordo com as pesquisas mais recentes os iacutendices variam

de 0726

a 4825

Para ilustrar essas divergecircncias na prevalecircncia da morbidade foi demonstrada no

Tabela 1 uma seacuterie de estudos realizados entre os anos de 1998 e 2008

Tabela 1 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008)

Estudo Paiacutes

Ano

Delineamento N Idade Criteacuterio

definido por

Prevalecircncia

Motta et al13

Brasil 1998 Transversal 536 0ndash11 a Autor 218 0-239 m

Aguirre et al14

Brasil 2000 Transversal 275 0ndash25 a Autor 251

Souza et al15

Brasil 2001 Transversal 289 1m-4 a Percepccedilatildeo matildee 153 0-239 m

Del Ciampo et al16

Brasil 2002 Transversal 313 1ndash10 a Autor 268

Miele et al 26

Itaacutelia 2004 Longitudinal 9660 0ndash12 a Roma II 07

Corazziari et al 27

Itaacutelia 2005 Longitudinal 2680 0ndash12 a Autor 52 0-239 m

Iacono et al3 Itaacutelia 2005 Longitudinal 2879 0ndash05 a Autor 176

Loening-Bauke2 EUA 2005 Transversal 4157 0ndash2 a NASPGHAN

ou Roma II

29 1 a

101 2 a

Ludvigsson et al28

Sueacutecia 2006 Longitudinal 8431 0ndash25 a Percepccedilatildeo matildee 65

Boccia et al25

Itaacutelia 2007 Longitudinal 126 0ndash18 a Roma II e

PACCT

Roma II15-lt4a

PACCT48-lt4a

Medeiros et al19

Brasil 2007 Transversal 561 0ndash19 a Autor 191 0-239 m

Pina et al29

Espanha2008 Transversal 3487 0ndash4 m Autor 61

A = ano m = mecircs

A grande diferenccedila encontrada pode ser explicada pelas divergecircncias no criteacuterio

utilizado para definir a constipaccedilatildeo intestinal pelo delineamento do estudo realizado e pela

faixa etaacuteria considerada

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo especificamente em lactentes foi determinada em

apenas nove desses estudos2313-151927-29

Desses autores apenas um adotou criteacuterio

internacional na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo13

Os demais empregaram princiacutepio

19

proacuteprio2313-1527-29

sendo que nos estudos de Ludvigsson28

e Souza15

o criteacuterio utilizado

para diagnosticar os lactentes constipados foi a percepccedilatildeo das matildees

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias

A literatura mostra a ocorrecircncia de constipaccedilatildeo entre os familiares das crianccedilas

constipadas3031

Na Espanha em 2005 foi realizado um estudo de caso-controle para avaliar os

fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo infantil Foram incluiacutedas crianccedilas

com idades entre quatro meses e 15 anos e que apresentavam quadro de constipaccedilatildeo

crocircnica Seus controles eram as crianccedilas imediatamente atendidas sem histoacuteria preacutevia de

constipaccedilatildeo No grupo-controle 351 das crianccedilas apresentavam histoacuteria familiar com

quadro de constipaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com 542 do grupo em estudo cuja diferenccedila foi

significativa entre os grupos (plt0001) Na situaccedilatildeo pais separados a matildee apresentou mais

frequecircncia de constipaccedilatildeo no grupo de crianccedilas constipadas em relaccedilatildeo ao grupo-controle

956 e 286 respectivamente (plt0001)30

Na investigaccedilatildeo de Roma et al (1999)31

que avaliou a presenccedila de constipaccedilatildeo em

crianccedilas de dois a 14 anos identificou-se histoacuteria familiar positiva para o distuacuterbio (pais ou

irmatildeos) em 625 das crianccedilas constipadas e em 303 dos familiares dos indiviacuteduos

controles (p lt0000001) A prevalecircncia de constipaccedilatildeo crocircnica em crianccedilas foi de 34 se

nenhum dos pais manifestava o problema 103 se um dos pais estava constipado e

485 se ambos (p lt00001)31

152 Aleitamento materno

Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno constitui-se em fator

de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal na crianccedila314

Iacono et al (2005)3 desenvolveram uma pesquisa para avaliar a frequecircncia dos

sintomas gastrintestinais mais comuns durante os primeiros seis meses de vida e avaliar a

influecircncia de algumas variaacuteveis sobre o aparecimento dos sintomas Foram acompanhadas

20

2879 crianccedilas do nascimento ateacute os seis meses de vida A constipaccedilatildeo esteve presente em

507 e foi diagnosticada em idades entre 27 e 33 dias Os lactentes constipados natildeo

apresentaram diferenccedila na comparaccedilatildeo com aqueles sem a morbidade em relaccedilatildeo ao peso

ao nascer idade gestacional idade e niacutevel de ensino da matildee e do pai No entanto o nuacutemero

foi significativamente mais baixo na frequecircncia do aleitamento materno em relaccedilatildeo agraves

crianccedilas sem constipaccedilatildeo (763 versus 849 p=0007)3

A relaccedilatildeo entre o tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal foi

analisada em 275 lactentes atendidos consecutivamente no periacuteodo de dezembro de 1996 a

dezembro de 1997 concluindo-se que o aleitamento natural predominante eacute um fator de

proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo no primeiro semestre de vida14

Em um estudo de caso-controle realizado em um ambulatoacuterio de pediatria no

periacuteodo de outubro de 1997 a abril de 1999 foram acompanhados dois grupos de crianccedilas

com idades entre dois e 12 anos O primeiro grupo foi constituiacutedo de crianccedilas com

diagnoacutestico de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional e o segundo de crianccedilas com haacutebito

intestinal normal (grupo-controle) pareadas ao primeiro de acordo com o gecircnero e a faixa

etaacuteria Nos dois grupos foi aplicado um questionaacuterio padronizado para obter informaccedilotildees

sobre as caracteriacutesticas do haacutebito intestinal iniacutecio dos sintomas e o periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo Os autores concluiacuteram que houve tendecircncia ao periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo ser mais longo no grupo de crianccedilas sem constipaccedilatildeo32

153 Aleitamento artificial

No primeiro ano de vida satildeo frequentes as reaccedilotildees adversas ao leite de vaca Aleacutem

de sintomas respiratoacuterios e dermatoloacutegicos tambeacutem foram verificados sintomas

gastrintestinais como a constipaccedilatildeo intestinal e sangue nas fezes33-37

Em 2008 foram avaliadas durante um ano 555 crianccedilas nascidas consecutivamente

em um hospital Apenas 27 delas apresentaram reaccedilatildeo aleacutergica ao leite de vaca e somente

uma manifestou como sintoma a constipaccedilatildeo33

Na Turquia foi realizado um estudo retrospectivo com dois grupos de 30 crianccedilas

com idades compreendidas entre quatro meses e trecircs anos O grupo I foi constituiacutedo de

crianccedilas com fissura anal e constipaccedilatildeo crocircnica e que natildeo apresentavam necessidade de

cirurgia e o grupo II incluiu crianccedilas normais O consumo diaacuterio de leite de vaca a

duraccedilatildeo do aleitamento materno e outras caracteriacutesticas cliacutenicas das crianccedilas foram

21

investigadas O consumo meacutedio diaacuterio de leite de vaca foi maior (plt0001) e o tempo de

amamentaccedilatildeo foi mais curto no grupo I (plt0001 e plt0006 respectivamente) O risco

(odds ratio) de constipaccedilatildeo quando presentes cada um desses fatores foi de 86 (intervalo

de confianccedila - IC95 023-074 p=00005) e 57 (IC 95 037-066 p=0007)

respectivamente As crianccedilas que consumiam mais quantidade de leite de vaca

apresentaram risco oito vezes mais alto de desenvolver constipaccedilatildeo e fissura anal assim

como naqueles com duraccedilatildeo mais curta do aleitamento materno o risco foi cinco vezes

mais alto Os pesquisadores preconizam atraso na introduccedilatildeo do leite de vaca e o

consequente aumento no tempo do aleitamento materno34

Em outra pesquisa 27 crianccedilas com idades entre cinco e 36 meses e com

constipaccedilatildeo intestinal crocircnica idiopaacutetica foram investigadas na possiacutevel relaccedilatildeo entre

constipaccedilatildeo e alergia agrave proteiacutena do leite de vaca Inicialmente elas foram observadas

consumindo dieta sem restriccedilotildees e registrava-se o nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias

Posteriormente receberam dieta sem a proteiacutena do leite de vaca por dois periacuteodos de um

mecircs separados por dois desafios com a proteiacutena do leite de vaca Durante a dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca 21 apresentaram melhora dos sintomas e durante os dois desafios

consecutivos a constipaccedilatildeo reapareceu no periacuteodo de 48 a 72 horas A dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca natildeo melhorou a constipaccedilatildeo em seis pacientes Apenas quatro que

melhoraram com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca manifestaram sintomas de

alergia ao leite de vaca Histoacuteria meacutedica de alergia ao leite de vaca foi encontrada em 15

dos 21 pacientes curados e em apenas um dos seis que natildeo melhoraram (plt005) Ainda

nos 15 dos 21 curados os resultados de um ou mais testes laboratoriais (dosagem de

imunoglobulinas E e G ndash IgE IgG antiβ lactoglobulina e eosinoacutefilos circulantes) foram

positivos no momento do diagnoacutestico indicando hipersensibilidade comparados com um

dos seis pacientes que natildeo tinham melhorado (plt 0005) Os resultados encontrados na

endoscopia e histologia no momento do diagnoacutestico mostraram proctite monociacutetica com

infiltraccedilatildeo em duas crianccedilas curadas com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca depois

de um mecircs da dieta eles estavam completamente normais A conclusatildeo foi que a

constipaccedilatildeo pode ter patogecircnese aleacutergica35

Em 1995 Hyams et al desenvolveram um estudo prospectivo duplo-cego para

avaliar o efeito das foacutermulas nas caracteriacutesticas das fezes de lactentes Foram selecionadas

crianccedilas saudaacuteveis com um mecircs de idade e acompanhadas por 14 dias Os autores

demonstraram que aquelas alimentadas com leite materno apresentaram maior frequecircncia

22

evacuatoacuteria (p lt 0001) e fezes mais macias (p lt 00001) do que as alimentadas com

foacutermulas laacutecteas36

154 Fibra alimentar

As fibras alimentares satildeo habitualmente consideradas importantes para a prevenccedilatildeo

da constipaccedilatildeo Acredita-se que a sua introduccedilatildeo na alimentaccedilatildeo complementar de forma

equilibrada certamente contribuiraacute para a pouca ocorrecircncia desse distuacuterbio no primeiro ano

de vida37

poreacutem existem poucos trabalhos sobre o consumo de fibras por lactentes Os

resultados encontrados demonstram que a fibra alimentar desempenha papel ainda natildeo

comprovado25

No jaacute mencionado estudo de Aguirre et al (2002) que avaliou a relaccedilatildeo entre o

tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal em 275 lactentes descreveu-se a

implicaccedilatildeo do uso de fibra alimentar Para os lactentes de seis a 24 meses a comparaccedilatildeo

do consumo de fibra alimentar por aqueles com constipaccedilatildeo (mediana=90g percentis 25 e

75 69-131g) e pelos demais com haacutebito intestinal normal natildeo demonstrou diferenccedilas

significativas (mediana=88 percentis 25 e 75 61-129g) (p=057)14

Em trecircs localidades da Greacutecia foi considerada uma amostra randomizada de

crianccedilas (291 com constipaccedilatildeo e 1602 controles) com idades entre dois e 14 anos

Realizou-se o registro alimentar de trecircs dias e a histoacuteria dieteacutetica para avaliar a ingestatildeo

alimentar A ingestatildeo da fibra alimentar foi estatisticamente menor na dieta das crianccedilas

constipadas em todas as faixas etaacuterias quando comparadas com o grupo-controle Os

autores salientaram que a baixa ingestatildeo de fibras na dieta de crianccedilas constipadas

independentemente da idade dos sintomas que acompanham a disfunccedilatildeo e da idade de

iniacutecio sustenta a hipoacutetese causal da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica em crianccedilas31

Segundo a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e

Nutriccedilatildeo (NASPGHAN) o uso de fibras pela crianccedila constipada ainda eacute contraditoacuterio e ateacute

que novos estudos demonstrem a eficaacutecia do tratamento com esse produto os resultados

atuais satildeo fracos para apoiar a recomendaccedilatildeo definitiva de sua suplementaccedilatildeo no

tratamento dessa morbidade25

Pesquisas mais especiacuteficas quanto ao consumo de fibras por lactentes satildeo escassas

na literatura cientiacutefica14

A aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos alimentares e a escolha de tabelas

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 8: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CI Constipaccedilatildeo intestinal

CONEP Comissatildeo Nacional de Eacutetica em Pesquisa

DeCs Descritores em sauacutede

DP Desvio-padratildeo

EUA Estados Unidos da Ameacuterica

IC Intervalo de confianccedila

IgE Imunoglobulina E

IgG Imunoglobulina G

LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciecircncias da Sauacutede

MG Minas Gerais

NASPGHAN Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia e Nutriccedilatildeo

OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede

OR Odds ratio

PACCT Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Artigo original

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal 35

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo por idade do lactente (meses) 37

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio por idade do lactente (meses) 38

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar por idade do lactente (meses) 38

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras por idade do lactente (meses) 38

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes aos 3 6 9 e 12 meses de

vida

40

LISTA DE TABELAS

Artigo de revisatildeo

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees 16

Tabela 2 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008) 18

Artigo original

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas 34

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento)

dependente do tempo

34

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal 34

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de

fezes nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

36

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida do lactente

39

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semana avaliada trimestralmente 40

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros 41

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e tipo de fezes

41

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes 42

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes 42

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

43

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs 44

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno 45

SUMAacuteRIO1

1 ARTIGO DE REVISAtildeO - PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM LACTENTES

13

11 Introduccedilatildeo 15

12 Metodologia 15

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo 16

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes 18

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal 19

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias 19

152 Aleitamento materno 19

153 Aleitamento artificial 20

154 Fibra alimentar 22

16 Consideraccedilotildees finais 23

Referecircncias 23

2 ARTIGO ORIGINAL - PREVALEcircNCIA DE CONSTIPACcedilAtildeOINTESTINAL NO

PRIMEIRO ANO DE VIDA UM ESTUDO LONGITUDINAL

27

21 Introduccedilatildeo 29

22 Casuiacutestica e meacutetodos 30

221 Local do estudo 30

222 Populaccedilatildeo estudada 30

223 Meacutetodos 30

2231 Delineamento do estudo 30

2232 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo 30

2233 Caacutelculo da amostra 31

2234 Coleta de dados 31

2235 Variaacuteveis coletadas 31

2236 Anaacutelise estatiacutestica 32

2237 Aspecto eacutetico 33

1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortograacuteficas

23 Resultados 33

24 Discussatildeo 45

25 Conclusatildeo 49

Referecircncias 48

Anexo A - Parecer da Cacircmara do Departamento de Pediatria da UFMG 50

Anexo B - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFMG 51

Anexo C - Parecer da Secretaria Municipal de Itauacutena 52

Apecircndice A - Questionaacuterio estruturado 53

Apecircndice B - Esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitaccedilatildeo de autorizaccedilatildeo

Apecircndice C - Escala de consistecircncia de fezes

Apecircndice D - Termo de consentimento livre e esclarecido

1 ARTIGO DE REVISAtildeO _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM

LACTENTES

14

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em

lactentes

A constipaccedilatildeo intestinal eacute um problema comum em lactentes Foi realizada revisatildeo

sistemaacutetica da literatura nos sites do PUBMED BIREME e SCIELO utilizando os

descritores constipation infant breastfeeding risk factores Para limitar os assuntos

estabeleceu-se All Infant birth-23 months A prevalecircncia da constipaccedilatildeo variou de 07 a

48 Apesar de existirem criteacuterios para diagnosticar esse distuacuterbio em lactentes muitos

autores adotam criteacuterios proacuteprios o que pode fazer com que a prevalecircncia varie muito de

um trabalho para outro Quanto aos fatores de risco observou-se que os componentes

constitucionais e hereditaacuterios estatildeo presentes em pais irmatildeos e tios das crianccedilas

constipadas Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno se constitui em

um fator de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo Pesquisas demonstram que

o consumo do leite de vaca e de foacutermulas contribui para o surgimento desse evento no

primeiro ano de vida Existem poucas investigaccedilotildees sobre o consumo de fibras alimentares

em lactentes e em crianccedilas constipadas sua utilizaccedilatildeo como suplemento ainda eacute

controversa Estudos sobre prevalecircncia com caracterizaccedilatildeo especiacutefica para lactentes com

fatores de risco associados agrave constipaccedilatildeo poderatildeo trazer melhor compreensatildeo do impacto

da morbidade dessa doenccedila e favorecer melhor tratamento e prevenccedilatildeo

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with chronic functional constipation in infants

Infant intestinal constipation is a common problem A non-systematic literature

review was performed on PUBMED BIREME and SCIELO using the following key

concepts constipation infant epidemiology and risk factors The term All Infant birth-23

months was selected for the specific search The prevalence of constipation varied from 07

to 48 Criteria for the diagnosis of this disorder in infants are available but many authors

adopt their own criteria which may result in a large prevalence variation between the

several studies conducted With regards to the risk factors it was observed that parents

brothers and uncles of the constipated children present the constitutional and hereditary

components Some studies have shown that the maternal breastfeeding is a protection

factor against the constipation development Researches have confirmed that the

consumption of cowrsquos milk and formulas favor the occurrence of this event in the first year

of life There are few investigations made regarding the consumption of alimentary fibers

by infants and therefore the utilization as a nutritional supplement is still controversial

The development of prevalence studies oriented specifically to infants with risk factors

associated to constipation may provide a better comprehension of the morbosity impact of

this disease as well as an improved treatment and prevention

Key-words Constipation Infant Epidemiology Risk factors

15

11 Introduccedilatildeo

Em todo o mundo a constipaccedilatildeo intestinal (CI) em lactentes eacute uma morbidade de

significativa relevacircncia Na literatura cientiacutefica existe ampla variaccedilatildeo na prevalecircncia dessa

doenccedila em crianccedilas o que revela a existecircncia de fatores que alteram a sua distribuiccedilatildeo ou

problemas relacionados agrave sua definiccedilatildeo ou nomenclatura

Geralmente pais de lactentes satildeo muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e qualquer

modificaccedilatildeo do haacutebito intestinal os leva a buscar assistecircncia meacutedica1

Estudos demonstram que importante proporccedilatildeo de crianccedilas com constipaccedilatildeo

intestinal inicia o quadro no primeiro ano de vida2-4

Durante os dois primeiros anos de

vida a constipaccedilatildeo intestinal pode ser causada por fatores orgacircnicos ou funcionais Entre

os fatores orgacircnicos a doenccedila de Hirschsprung as anomalias anorretais as doenccedilas

metaboacutelicas e as doenccedilas endocrinoloacutegicas como o hipotireoidismo devem sempre ser

lembradas5 Entretanto os quadros funcionais satildeo muito mais frequentes

6

As pesquisas realizadas ateacute o momento identificam a baixa ingestatildeo hiacutedrica os

fatores constitucionais e o desmame precoce como marcadores envolvidos no

desenvolvimento dessa morbidade7 O aleitamento artificial que se segue ao desmame

parece ser o principal deles8 Contudo mais estudos satildeo necessaacuterios natildeo apenas para

confirmar essa associaccedilatildeo mas tambeacutem para avaliar como os outros aspectos alimentares

relativos ao desmame participam das mudanccedilas do haacutebito alimentar protegendo ou

precipitando o surgimento dos transtornos evacuatoacuterios9

12 Meacutetodo

Realizou-se levantamento bibliograacutefico mediante consulta agrave base de dados

PUBMED BIREME e SCIELO considerando-se preferencialmente artigos na liacutengua

inglesa publicados nos uacuteltimos 10 anos entre 1998 e 2008 As publicaccedilotildees eram referentes

agrave prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em lactentes Para a busca foram

consideradas as palavras-chave constipation epidemiology infant breastfeeding risk

factors Esses termos foram determinados apoacutes consulta aos descritores em sauacutede (DeCs)

disponiacuteveis na BIREME Foram estabelecidos ainda os seguintes limites estudos com

humanos artigos referentes a ensaios cliacutenicos metanaacutelises ensaios randomizados

controlados e artigos de revisatildeo faixa etaacuteria de zero a dois anos

16

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo

A adequada definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal eacute importante para identificar de

forma precoce o paciente que apresenta a morbidade diminuindo o risco de complicaccedilotildees

e o custo do tratamento10

Em estudos cientiacuteficos epidemioloacutegicos a dificuldade na definiccedilatildeo da morbidade eacute

facilmente percebida As diferentes taxas epidemioloacutegicas relatadas na literatura ressaltam

que a identificaccedilatildeo do problema natildeo eacute tatildeo faacutecil quanto possa parecer1112

Assim alguns

autores tecircm adotado criteacuterios proacuteprios para identificar pacientes constipados incluindo

defecaccedilatildeo infrequente fezes duras dificuldade ou passagem de fezes dolorosas sem

uniformizaccedilatildeo na definiccedilatildeo e na caracterizaccedilatildeo desses sintomas13-19

A preocupaccedilatildeo em encontrar um consenso para a definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal existe haacute algumas deacutecadas20

Um dos conceitos mais adotados em pesquisas

cientiacuteficas estabelece como criteacuterio a frequecircncia evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por

semana315

Esse criteacuterio eacute adotado para a populaccedilatildeo adulta poreacutem eacute falho para crianccedilas

principalmente para as menores de quatro anos21

A Tabela 1 apresenta a frequecircncia

evacuatoacuteria da crianccedila estabelecida por Fontana et al (1989)22

Observa-se que existe

acentuada variaccedilatildeo desse paracircmetro nas diversas faixas etaacuterias No primeiro ano de vida a

amplitude da frequecircncia evacuatoacuteria eacute tatildeo vasta que maior valorizaccedilatildeo do paracircmetro pode

levar a erros no diagnoacutestico da morbidade22

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees

Idade Evacuaccedilotildees

por semana

Evacuaccedilotildees

por dia

0-3 meses

Aleitamento materno 5-40 29

Foacutermulas 5-28 20

6-12 meses 5-28 18

1-3 anos 4-21 14

Mais de 3 anos 3-14 10

Fonte Fontana et al (1989)22

17

A partir do consenso ROMA I o qual ofereceu definiccedilotildees iniciais para doenccedilas

funcionais do trato digestivo de adultos muito se evoluiu em termo de nomenclatura

criteacuterios e definiccedilotildees para as doenccedilas digestivas23

Esse consenso forneceu importantes definiccedilotildees para as alteraccedilotildees funcionais

pediaacutetricas23

Em relaccedilatildeo agrave constipaccedilatildeo intestinal da crianccedila as contribuiccedilotildees do Consenso

de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT)24

da Sociedade Norte-

Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo (NASGHAN)1 e de ROMA III

8

passaram a ser adotadas nos estudos que se seguiram No entanto entre eles satildeo notaacuteveis

as diferenccedilas nos criteacuterios conforme se segue

Roma II - em lactentes e crianccedilas preacute-escolares por pelo menos duas semanas fezes

em ciacutebalos com rachaduras duras na maioria das evacuaccedilotildees ou duas ou menos

evacuaccedilotildees de fezes firmes por semana natildeo havendo evidecircncia de doenccedila

estrutural endoacutecrina ou metaboacutelica23

Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT) - um

periacuteodo de oito semanas com pelo menos dois dos seguintes sintomas frequecircncia

evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por semana incontinecircncia fecal acima de uma vez

por semana passagem de fezes grandes que podem entupir o vaso sanitaacuterio massa

fecal palpaacutevel no abdocircmen ou no reto comportamento de retenccedilatildeo de fezes ou

defecaccedilatildeo dolorosa24

Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo

(NASPGHAN) - atraso ou dificuldade de evacuar presente por duas ou mais

semanas e suficiente para causar desconforto ao paciente25

Roma III - em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade no periacuteodo de 30

dias pelo menos dois dos seguintes itens duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao

menos um episoacutedio de incontinecircncia por semana apoacutes a habilidade para utilizar o

banheiro histoacuteria de retenccedilatildeo excessiva de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis

presenccedila de grande massa fecal no reto e fezes com grande diacircmetro e que podem

obstruir o vaso sanitaacuterio A esses sintomas associam-se a irritabilidade a falta de

apetite eou a saciedade precoce Todos podem desaparecer apoacutes a eliminaccedilatildeo das

fezes8

18

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes

A real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal em lactentes natildeo foi ateacute o momento

adequadamente estabelecida De acordo com as pesquisas mais recentes os iacutendices variam

de 0726

a 4825

Para ilustrar essas divergecircncias na prevalecircncia da morbidade foi demonstrada no

Tabela 1 uma seacuterie de estudos realizados entre os anos de 1998 e 2008

Tabela 1 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008)

Estudo Paiacutes

Ano

Delineamento N Idade Criteacuterio

definido por

Prevalecircncia

Motta et al13

Brasil 1998 Transversal 536 0ndash11 a Autor 218 0-239 m

Aguirre et al14

Brasil 2000 Transversal 275 0ndash25 a Autor 251

Souza et al15

Brasil 2001 Transversal 289 1m-4 a Percepccedilatildeo matildee 153 0-239 m

Del Ciampo et al16

Brasil 2002 Transversal 313 1ndash10 a Autor 268

Miele et al 26

Itaacutelia 2004 Longitudinal 9660 0ndash12 a Roma II 07

Corazziari et al 27

Itaacutelia 2005 Longitudinal 2680 0ndash12 a Autor 52 0-239 m

Iacono et al3 Itaacutelia 2005 Longitudinal 2879 0ndash05 a Autor 176

Loening-Bauke2 EUA 2005 Transversal 4157 0ndash2 a NASPGHAN

ou Roma II

29 1 a

101 2 a

Ludvigsson et al28

Sueacutecia 2006 Longitudinal 8431 0ndash25 a Percepccedilatildeo matildee 65

Boccia et al25

Itaacutelia 2007 Longitudinal 126 0ndash18 a Roma II e

PACCT

Roma II15-lt4a

PACCT48-lt4a

Medeiros et al19

Brasil 2007 Transversal 561 0ndash19 a Autor 191 0-239 m

Pina et al29

Espanha2008 Transversal 3487 0ndash4 m Autor 61

A = ano m = mecircs

A grande diferenccedila encontrada pode ser explicada pelas divergecircncias no criteacuterio

utilizado para definir a constipaccedilatildeo intestinal pelo delineamento do estudo realizado e pela

faixa etaacuteria considerada

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo especificamente em lactentes foi determinada em

apenas nove desses estudos2313-151927-29

Desses autores apenas um adotou criteacuterio

internacional na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo13

Os demais empregaram princiacutepio

19

proacuteprio2313-1527-29

sendo que nos estudos de Ludvigsson28

e Souza15

o criteacuterio utilizado

para diagnosticar os lactentes constipados foi a percepccedilatildeo das matildees

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias

A literatura mostra a ocorrecircncia de constipaccedilatildeo entre os familiares das crianccedilas

constipadas3031

Na Espanha em 2005 foi realizado um estudo de caso-controle para avaliar os

fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo infantil Foram incluiacutedas crianccedilas

com idades entre quatro meses e 15 anos e que apresentavam quadro de constipaccedilatildeo

crocircnica Seus controles eram as crianccedilas imediatamente atendidas sem histoacuteria preacutevia de

constipaccedilatildeo No grupo-controle 351 das crianccedilas apresentavam histoacuteria familiar com

quadro de constipaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com 542 do grupo em estudo cuja diferenccedila foi

significativa entre os grupos (plt0001) Na situaccedilatildeo pais separados a matildee apresentou mais

frequecircncia de constipaccedilatildeo no grupo de crianccedilas constipadas em relaccedilatildeo ao grupo-controle

956 e 286 respectivamente (plt0001)30

Na investigaccedilatildeo de Roma et al (1999)31

que avaliou a presenccedila de constipaccedilatildeo em

crianccedilas de dois a 14 anos identificou-se histoacuteria familiar positiva para o distuacuterbio (pais ou

irmatildeos) em 625 das crianccedilas constipadas e em 303 dos familiares dos indiviacuteduos

controles (p lt0000001) A prevalecircncia de constipaccedilatildeo crocircnica em crianccedilas foi de 34 se

nenhum dos pais manifestava o problema 103 se um dos pais estava constipado e

485 se ambos (p lt00001)31

152 Aleitamento materno

Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno constitui-se em fator

de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal na crianccedila314

Iacono et al (2005)3 desenvolveram uma pesquisa para avaliar a frequecircncia dos

sintomas gastrintestinais mais comuns durante os primeiros seis meses de vida e avaliar a

influecircncia de algumas variaacuteveis sobre o aparecimento dos sintomas Foram acompanhadas

20

2879 crianccedilas do nascimento ateacute os seis meses de vida A constipaccedilatildeo esteve presente em

507 e foi diagnosticada em idades entre 27 e 33 dias Os lactentes constipados natildeo

apresentaram diferenccedila na comparaccedilatildeo com aqueles sem a morbidade em relaccedilatildeo ao peso

ao nascer idade gestacional idade e niacutevel de ensino da matildee e do pai No entanto o nuacutemero

foi significativamente mais baixo na frequecircncia do aleitamento materno em relaccedilatildeo agraves

crianccedilas sem constipaccedilatildeo (763 versus 849 p=0007)3

A relaccedilatildeo entre o tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal foi

analisada em 275 lactentes atendidos consecutivamente no periacuteodo de dezembro de 1996 a

dezembro de 1997 concluindo-se que o aleitamento natural predominante eacute um fator de

proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo no primeiro semestre de vida14

Em um estudo de caso-controle realizado em um ambulatoacuterio de pediatria no

periacuteodo de outubro de 1997 a abril de 1999 foram acompanhados dois grupos de crianccedilas

com idades entre dois e 12 anos O primeiro grupo foi constituiacutedo de crianccedilas com

diagnoacutestico de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional e o segundo de crianccedilas com haacutebito

intestinal normal (grupo-controle) pareadas ao primeiro de acordo com o gecircnero e a faixa

etaacuteria Nos dois grupos foi aplicado um questionaacuterio padronizado para obter informaccedilotildees

sobre as caracteriacutesticas do haacutebito intestinal iniacutecio dos sintomas e o periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo Os autores concluiacuteram que houve tendecircncia ao periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo ser mais longo no grupo de crianccedilas sem constipaccedilatildeo32

153 Aleitamento artificial

No primeiro ano de vida satildeo frequentes as reaccedilotildees adversas ao leite de vaca Aleacutem

de sintomas respiratoacuterios e dermatoloacutegicos tambeacutem foram verificados sintomas

gastrintestinais como a constipaccedilatildeo intestinal e sangue nas fezes33-37

Em 2008 foram avaliadas durante um ano 555 crianccedilas nascidas consecutivamente

em um hospital Apenas 27 delas apresentaram reaccedilatildeo aleacutergica ao leite de vaca e somente

uma manifestou como sintoma a constipaccedilatildeo33

Na Turquia foi realizado um estudo retrospectivo com dois grupos de 30 crianccedilas

com idades compreendidas entre quatro meses e trecircs anos O grupo I foi constituiacutedo de

crianccedilas com fissura anal e constipaccedilatildeo crocircnica e que natildeo apresentavam necessidade de

cirurgia e o grupo II incluiu crianccedilas normais O consumo diaacuterio de leite de vaca a

duraccedilatildeo do aleitamento materno e outras caracteriacutesticas cliacutenicas das crianccedilas foram

21

investigadas O consumo meacutedio diaacuterio de leite de vaca foi maior (plt0001) e o tempo de

amamentaccedilatildeo foi mais curto no grupo I (plt0001 e plt0006 respectivamente) O risco

(odds ratio) de constipaccedilatildeo quando presentes cada um desses fatores foi de 86 (intervalo

de confianccedila - IC95 023-074 p=00005) e 57 (IC 95 037-066 p=0007)

respectivamente As crianccedilas que consumiam mais quantidade de leite de vaca

apresentaram risco oito vezes mais alto de desenvolver constipaccedilatildeo e fissura anal assim

como naqueles com duraccedilatildeo mais curta do aleitamento materno o risco foi cinco vezes

mais alto Os pesquisadores preconizam atraso na introduccedilatildeo do leite de vaca e o

consequente aumento no tempo do aleitamento materno34

Em outra pesquisa 27 crianccedilas com idades entre cinco e 36 meses e com

constipaccedilatildeo intestinal crocircnica idiopaacutetica foram investigadas na possiacutevel relaccedilatildeo entre

constipaccedilatildeo e alergia agrave proteiacutena do leite de vaca Inicialmente elas foram observadas

consumindo dieta sem restriccedilotildees e registrava-se o nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias

Posteriormente receberam dieta sem a proteiacutena do leite de vaca por dois periacuteodos de um

mecircs separados por dois desafios com a proteiacutena do leite de vaca Durante a dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca 21 apresentaram melhora dos sintomas e durante os dois desafios

consecutivos a constipaccedilatildeo reapareceu no periacuteodo de 48 a 72 horas A dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca natildeo melhorou a constipaccedilatildeo em seis pacientes Apenas quatro que

melhoraram com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca manifestaram sintomas de

alergia ao leite de vaca Histoacuteria meacutedica de alergia ao leite de vaca foi encontrada em 15

dos 21 pacientes curados e em apenas um dos seis que natildeo melhoraram (plt005) Ainda

nos 15 dos 21 curados os resultados de um ou mais testes laboratoriais (dosagem de

imunoglobulinas E e G ndash IgE IgG antiβ lactoglobulina e eosinoacutefilos circulantes) foram

positivos no momento do diagnoacutestico indicando hipersensibilidade comparados com um

dos seis pacientes que natildeo tinham melhorado (plt 0005) Os resultados encontrados na

endoscopia e histologia no momento do diagnoacutestico mostraram proctite monociacutetica com

infiltraccedilatildeo em duas crianccedilas curadas com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca depois

de um mecircs da dieta eles estavam completamente normais A conclusatildeo foi que a

constipaccedilatildeo pode ter patogecircnese aleacutergica35

Em 1995 Hyams et al desenvolveram um estudo prospectivo duplo-cego para

avaliar o efeito das foacutermulas nas caracteriacutesticas das fezes de lactentes Foram selecionadas

crianccedilas saudaacuteveis com um mecircs de idade e acompanhadas por 14 dias Os autores

demonstraram que aquelas alimentadas com leite materno apresentaram maior frequecircncia

22

evacuatoacuteria (p lt 0001) e fezes mais macias (p lt 00001) do que as alimentadas com

foacutermulas laacutecteas36

154 Fibra alimentar

As fibras alimentares satildeo habitualmente consideradas importantes para a prevenccedilatildeo

da constipaccedilatildeo Acredita-se que a sua introduccedilatildeo na alimentaccedilatildeo complementar de forma

equilibrada certamente contribuiraacute para a pouca ocorrecircncia desse distuacuterbio no primeiro ano

de vida37

poreacutem existem poucos trabalhos sobre o consumo de fibras por lactentes Os

resultados encontrados demonstram que a fibra alimentar desempenha papel ainda natildeo

comprovado25

No jaacute mencionado estudo de Aguirre et al (2002) que avaliou a relaccedilatildeo entre o

tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal em 275 lactentes descreveu-se a

implicaccedilatildeo do uso de fibra alimentar Para os lactentes de seis a 24 meses a comparaccedilatildeo

do consumo de fibra alimentar por aqueles com constipaccedilatildeo (mediana=90g percentis 25 e

75 69-131g) e pelos demais com haacutebito intestinal normal natildeo demonstrou diferenccedilas

significativas (mediana=88 percentis 25 e 75 61-129g) (p=057)14

Em trecircs localidades da Greacutecia foi considerada uma amostra randomizada de

crianccedilas (291 com constipaccedilatildeo e 1602 controles) com idades entre dois e 14 anos

Realizou-se o registro alimentar de trecircs dias e a histoacuteria dieteacutetica para avaliar a ingestatildeo

alimentar A ingestatildeo da fibra alimentar foi estatisticamente menor na dieta das crianccedilas

constipadas em todas as faixas etaacuterias quando comparadas com o grupo-controle Os

autores salientaram que a baixa ingestatildeo de fibras na dieta de crianccedilas constipadas

independentemente da idade dos sintomas que acompanham a disfunccedilatildeo e da idade de

iniacutecio sustenta a hipoacutetese causal da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica em crianccedilas31

Segundo a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e

Nutriccedilatildeo (NASPGHAN) o uso de fibras pela crianccedila constipada ainda eacute contraditoacuterio e ateacute

que novos estudos demonstrem a eficaacutecia do tratamento com esse produto os resultados

atuais satildeo fracos para apoiar a recomendaccedilatildeo definitiva de sua suplementaccedilatildeo no

tratamento dessa morbidade25

Pesquisas mais especiacuteficas quanto ao consumo de fibras por lactentes satildeo escassas

na literatura cientiacutefica14

A aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos alimentares e a escolha de tabelas

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 9: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Artigo original

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal 35

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo por idade do lactente (meses) 37

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio por idade do lactente (meses) 38

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar por idade do lactente (meses) 38

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras por idade do lactente (meses) 38

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes aos 3 6 9 e 12 meses de

vida

40

LISTA DE TABELAS

Artigo de revisatildeo

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees 16

Tabela 2 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008) 18

Artigo original

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas 34

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento)

dependente do tempo

34

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal 34

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de

fezes nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

36

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida do lactente

39

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semana avaliada trimestralmente 40

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros 41

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e tipo de fezes

41

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes 42

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes 42

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

43

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs 44

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno 45

SUMAacuteRIO1

1 ARTIGO DE REVISAtildeO - PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM LACTENTES

13

11 Introduccedilatildeo 15

12 Metodologia 15

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo 16

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes 18

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal 19

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias 19

152 Aleitamento materno 19

153 Aleitamento artificial 20

154 Fibra alimentar 22

16 Consideraccedilotildees finais 23

Referecircncias 23

2 ARTIGO ORIGINAL - PREVALEcircNCIA DE CONSTIPACcedilAtildeOINTESTINAL NO

PRIMEIRO ANO DE VIDA UM ESTUDO LONGITUDINAL

27

21 Introduccedilatildeo 29

22 Casuiacutestica e meacutetodos 30

221 Local do estudo 30

222 Populaccedilatildeo estudada 30

223 Meacutetodos 30

2231 Delineamento do estudo 30

2232 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo 30

2233 Caacutelculo da amostra 31

2234 Coleta de dados 31

2235 Variaacuteveis coletadas 31

2236 Anaacutelise estatiacutestica 32

2237 Aspecto eacutetico 33

1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortograacuteficas

23 Resultados 33

24 Discussatildeo 45

25 Conclusatildeo 49

Referecircncias 48

Anexo A - Parecer da Cacircmara do Departamento de Pediatria da UFMG 50

Anexo B - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFMG 51

Anexo C - Parecer da Secretaria Municipal de Itauacutena 52

Apecircndice A - Questionaacuterio estruturado 53

Apecircndice B - Esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitaccedilatildeo de autorizaccedilatildeo

Apecircndice C - Escala de consistecircncia de fezes

Apecircndice D - Termo de consentimento livre e esclarecido

1 ARTIGO DE REVISAtildeO _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM

LACTENTES

14

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em

lactentes

A constipaccedilatildeo intestinal eacute um problema comum em lactentes Foi realizada revisatildeo

sistemaacutetica da literatura nos sites do PUBMED BIREME e SCIELO utilizando os

descritores constipation infant breastfeeding risk factores Para limitar os assuntos

estabeleceu-se All Infant birth-23 months A prevalecircncia da constipaccedilatildeo variou de 07 a

48 Apesar de existirem criteacuterios para diagnosticar esse distuacuterbio em lactentes muitos

autores adotam criteacuterios proacuteprios o que pode fazer com que a prevalecircncia varie muito de

um trabalho para outro Quanto aos fatores de risco observou-se que os componentes

constitucionais e hereditaacuterios estatildeo presentes em pais irmatildeos e tios das crianccedilas

constipadas Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno se constitui em

um fator de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo Pesquisas demonstram que

o consumo do leite de vaca e de foacutermulas contribui para o surgimento desse evento no

primeiro ano de vida Existem poucas investigaccedilotildees sobre o consumo de fibras alimentares

em lactentes e em crianccedilas constipadas sua utilizaccedilatildeo como suplemento ainda eacute

controversa Estudos sobre prevalecircncia com caracterizaccedilatildeo especiacutefica para lactentes com

fatores de risco associados agrave constipaccedilatildeo poderatildeo trazer melhor compreensatildeo do impacto

da morbidade dessa doenccedila e favorecer melhor tratamento e prevenccedilatildeo

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with chronic functional constipation in infants

Infant intestinal constipation is a common problem A non-systematic literature

review was performed on PUBMED BIREME and SCIELO using the following key

concepts constipation infant epidemiology and risk factors The term All Infant birth-23

months was selected for the specific search The prevalence of constipation varied from 07

to 48 Criteria for the diagnosis of this disorder in infants are available but many authors

adopt their own criteria which may result in a large prevalence variation between the

several studies conducted With regards to the risk factors it was observed that parents

brothers and uncles of the constipated children present the constitutional and hereditary

components Some studies have shown that the maternal breastfeeding is a protection

factor against the constipation development Researches have confirmed that the

consumption of cowrsquos milk and formulas favor the occurrence of this event in the first year

of life There are few investigations made regarding the consumption of alimentary fibers

by infants and therefore the utilization as a nutritional supplement is still controversial

The development of prevalence studies oriented specifically to infants with risk factors

associated to constipation may provide a better comprehension of the morbosity impact of

this disease as well as an improved treatment and prevention

Key-words Constipation Infant Epidemiology Risk factors

15

11 Introduccedilatildeo

Em todo o mundo a constipaccedilatildeo intestinal (CI) em lactentes eacute uma morbidade de

significativa relevacircncia Na literatura cientiacutefica existe ampla variaccedilatildeo na prevalecircncia dessa

doenccedila em crianccedilas o que revela a existecircncia de fatores que alteram a sua distribuiccedilatildeo ou

problemas relacionados agrave sua definiccedilatildeo ou nomenclatura

Geralmente pais de lactentes satildeo muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e qualquer

modificaccedilatildeo do haacutebito intestinal os leva a buscar assistecircncia meacutedica1

Estudos demonstram que importante proporccedilatildeo de crianccedilas com constipaccedilatildeo

intestinal inicia o quadro no primeiro ano de vida2-4

Durante os dois primeiros anos de

vida a constipaccedilatildeo intestinal pode ser causada por fatores orgacircnicos ou funcionais Entre

os fatores orgacircnicos a doenccedila de Hirschsprung as anomalias anorretais as doenccedilas

metaboacutelicas e as doenccedilas endocrinoloacutegicas como o hipotireoidismo devem sempre ser

lembradas5 Entretanto os quadros funcionais satildeo muito mais frequentes

6

As pesquisas realizadas ateacute o momento identificam a baixa ingestatildeo hiacutedrica os

fatores constitucionais e o desmame precoce como marcadores envolvidos no

desenvolvimento dessa morbidade7 O aleitamento artificial que se segue ao desmame

parece ser o principal deles8 Contudo mais estudos satildeo necessaacuterios natildeo apenas para

confirmar essa associaccedilatildeo mas tambeacutem para avaliar como os outros aspectos alimentares

relativos ao desmame participam das mudanccedilas do haacutebito alimentar protegendo ou

precipitando o surgimento dos transtornos evacuatoacuterios9

12 Meacutetodo

Realizou-se levantamento bibliograacutefico mediante consulta agrave base de dados

PUBMED BIREME e SCIELO considerando-se preferencialmente artigos na liacutengua

inglesa publicados nos uacuteltimos 10 anos entre 1998 e 2008 As publicaccedilotildees eram referentes

agrave prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em lactentes Para a busca foram

consideradas as palavras-chave constipation epidemiology infant breastfeeding risk

factors Esses termos foram determinados apoacutes consulta aos descritores em sauacutede (DeCs)

disponiacuteveis na BIREME Foram estabelecidos ainda os seguintes limites estudos com

humanos artigos referentes a ensaios cliacutenicos metanaacutelises ensaios randomizados

controlados e artigos de revisatildeo faixa etaacuteria de zero a dois anos

16

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo

A adequada definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal eacute importante para identificar de

forma precoce o paciente que apresenta a morbidade diminuindo o risco de complicaccedilotildees

e o custo do tratamento10

Em estudos cientiacuteficos epidemioloacutegicos a dificuldade na definiccedilatildeo da morbidade eacute

facilmente percebida As diferentes taxas epidemioloacutegicas relatadas na literatura ressaltam

que a identificaccedilatildeo do problema natildeo eacute tatildeo faacutecil quanto possa parecer1112

Assim alguns

autores tecircm adotado criteacuterios proacuteprios para identificar pacientes constipados incluindo

defecaccedilatildeo infrequente fezes duras dificuldade ou passagem de fezes dolorosas sem

uniformizaccedilatildeo na definiccedilatildeo e na caracterizaccedilatildeo desses sintomas13-19

A preocupaccedilatildeo em encontrar um consenso para a definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal existe haacute algumas deacutecadas20

Um dos conceitos mais adotados em pesquisas

cientiacuteficas estabelece como criteacuterio a frequecircncia evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por

semana315

Esse criteacuterio eacute adotado para a populaccedilatildeo adulta poreacutem eacute falho para crianccedilas

principalmente para as menores de quatro anos21

A Tabela 1 apresenta a frequecircncia

evacuatoacuteria da crianccedila estabelecida por Fontana et al (1989)22

Observa-se que existe

acentuada variaccedilatildeo desse paracircmetro nas diversas faixas etaacuterias No primeiro ano de vida a

amplitude da frequecircncia evacuatoacuteria eacute tatildeo vasta que maior valorizaccedilatildeo do paracircmetro pode

levar a erros no diagnoacutestico da morbidade22

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees

Idade Evacuaccedilotildees

por semana

Evacuaccedilotildees

por dia

0-3 meses

Aleitamento materno 5-40 29

Foacutermulas 5-28 20

6-12 meses 5-28 18

1-3 anos 4-21 14

Mais de 3 anos 3-14 10

Fonte Fontana et al (1989)22

17

A partir do consenso ROMA I o qual ofereceu definiccedilotildees iniciais para doenccedilas

funcionais do trato digestivo de adultos muito se evoluiu em termo de nomenclatura

criteacuterios e definiccedilotildees para as doenccedilas digestivas23

Esse consenso forneceu importantes definiccedilotildees para as alteraccedilotildees funcionais

pediaacutetricas23

Em relaccedilatildeo agrave constipaccedilatildeo intestinal da crianccedila as contribuiccedilotildees do Consenso

de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT)24

da Sociedade Norte-

Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo (NASGHAN)1 e de ROMA III

8

passaram a ser adotadas nos estudos que se seguiram No entanto entre eles satildeo notaacuteveis

as diferenccedilas nos criteacuterios conforme se segue

Roma II - em lactentes e crianccedilas preacute-escolares por pelo menos duas semanas fezes

em ciacutebalos com rachaduras duras na maioria das evacuaccedilotildees ou duas ou menos

evacuaccedilotildees de fezes firmes por semana natildeo havendo evidecircncia de doenccedila

estrutural endoacutecrina ou metaboacutelica23

Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT) - um

periacuteodo de oito semanas com pelo menos dois dos seguintes sintomas frequecircncia

evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por semana incontinecircncia fecal acima de uma vez

por semana passagem de fezes grandes que podem entupir o vaso sanitaacuterio massa

fecal palpaacutevel no abdocircmen ou no reto comportamento de retenccedilatildeo de fezes ou

defecaccedilatildeo dolorosa24

Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo

(NASPGHAN) - atraso ou dificuldade de evacuar presente por duas ou mais

semanas e suficiente para causar desconforto ao paciente25

Roma III - em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade no periacuteodo de 30

dias pelo menos dois dos seguintes itens duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao

menos um episoacutedio de incontinecircncia por semana apoacutes a habilidade para utilizar o

banheiro histoacuteria de retenccedilatildeo excessiva de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis

presenccedila de grande massa fecal no reto e fezes com grande diacircmetro e que podem

obstruir o vaso sanitaacuterio A esses sintomas associam-se a irritabilidade a falta de

apetite eou a saciedade precoce Todos podem desaparecer apoacutes a eliminaccedilatildeo das

fezes8

18

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes

A real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal em lactentes natildeo foi ateacute o momento

adequadamente estabelecida De acordo com as pesquisas mais recentes os iacutendices variam

de 0726

a 4825

Para ilustrar essas divergecircncias na prevalecircncia da morbidade foi demonstrada no

Tabela 1 uma seacuterie de estudos realizados entre os anos de 1998 e 2008

Tabela 1 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008)

Estudo Paiacutes

Ano

Delineamento N Idade Criteacuterio

definido por

Prevalecircncia

Motta et al13

Brasil 1998 Transversal 536 0ndash11 a Autor 218 0-239 m

Aguirre et al14

Brasil 2000 Transversal 275 0ndash25 a Autor 251

Souza et al15

Brasil 2001 Transversal 289 1m-4 a Percepccedilatildeo matildee 153 0-239 m

Del Ciampo et al16

Brasil 2002 Transversal 313 1ndash10 a Autor 268

Miele et al 26

Itaacutelia 2004 Longitudinal 9660 0ndash12 a Roma II 07

Corazziari et al 27

Itaacutelia 2005 Longitudinal 2680 0ndash12 a Autor 52 0-239 m

Iacono et al3 Itaacutelia 2005 Longitudinal 2879 0ndash05 a Autor 176

Loening-Bauke2 EUA 2005 Transversal 4157 0ndash2 a NASPGHAN

ou Roma II

29 1 a

101 2 a

Ludvigsson et al28

Sueacutecia 2006 Longitudinal 8431 0ndash25 a Percepccedilatildeo matildee 65

Boccia et al25

Itaacutelia 2007 Longitudinal 126 0ndash18 a Roma II e

PACCT

Roma II15-lt4a

PACCT48-lt4a

Medeiros et al19

Brasil 2007 Transversal 561 0ndash19 a Autor 191 0-239 m

Pina et al29

Espanha2008 Transversal 3487 0ndash4 m Autor 61

A = ano m = mecircs

A grande diferenccedila encontrada pode ser explicada pelas divergecircncias no criteacuterio

utilizado para definir a constipaccedilatildeo intestinal pelo delineamento do estudo realizado e pela

faixa etaacuteria considerada

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo especificamente em lactentes foi determinada em

apenas nove desses estudos2313-151927-29

Desses autores apenas um adotou criteacuterio

internacional na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo13

Os demais empregaram princiacutepio

19

proacuteprio2313-1527-29

sendo que nos estudos de Ludvigsson28

e Souza15

o criteacuterio utilizado

para diagnosticar os lactentes constipados foi a percepccedilatildeo das matildees

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias

A literatura mostra a ocorrecircncia de constipaccedilatildeo entre os familiares das crianccedilas

constipadas3031

Na Espanha em 2005 foi realizado um estudo de caso-controle para avaliar os

fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo infantil Foram incluiacutedas crianccedilas

com idades entre quatro meses e 15 anos e que apresentavam quadro de constipaccedilatildeo

crocircnica Seus controles eram as crianccedilas imediatamente atendidas sem histoacuteria preacutevia de

constipaccedilatildeo No grupo-controle 351 das crianccedilas apresentavam histoacuteria familiar com

quadro de constipaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com 542 do grupo em estudo cuja diferenccedila foi

significativa entre os grupos (plt0001) Na situaccedilatildeo pais separados a matildee apresentou mais

frequecircncia de constipaccedilatildeo no grupo de crianccedilas constipadas em relaccedilatildeo ao grupo-controle

956 e 286 respectivamente (plt0001)30

Na investigaccedilatildeo de Roma et al (1999)31

que avaliou a presenccedila de constipaccedilatildeo em

crianccedilas de dois a 14 anos identificou-se histoacuteria familiar positiva para o distuacuterbio (pais ou

irmatildeos) em 625 das crianccedilas constipadas e em 303 dos familiares dos indiviacuteduos

controles (p lt0000001) A prevalecircncia de constipaccedilatildeo crocircnica em crianccedilas foi de 34 se

nenhum dos pais manifestava o problema 103 se um dos pais estava constipado e

485 se ambos (p lt00001)31

152 Aleitamento materno

Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno constitui-se em fator

de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal na crianccedila314

Iacono et al (2005)3 desenvolveram uma pesquisa para avaliar a frequecircncia dos

sintomas gastrintestinais mais comuns durante os primeiros seis meses de vida e avaliar a

influecircncia de algumas variaacuteveis sobre o aparecimento dos sintomas Foram acompanhadas

20

2879 crianccedilas do nascimento ateacute os seis meses de vida A constipaccedilatildeo esteve presente em

507 e foi diagnosticada em idades entre 27 e 33 dias Os lactentes constipados natildeo

apresentaram diferenccedila na comparaccedilatildeo com aqueles sem a morbidade em relaccedilatildeo ao peso

ao nascer idade gestacional idade e niacutevel de ensino da matildee e do pai No entanto o nuacutemero

foi significativamente mais baixo na frequecircncia do aleitamento materno em relaccedilatildeo agraves

crianccedilas sem constipaccedilatildeo (763 versus 849 p=0007)3

A relaccedilatildeo entre o tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal foi

analisada em 275 lactentes atendidos consecutivamente no periacuteodo de dezembro de 1996 a

dezembro de 1997 concluindo-se que o aleitamento natural predominante eacute um fator de

proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo no primeiro semestre de vida14

Em um estudo de caso-controle realizado em um ambulatoacuterio de pediatria no

periacuteodo de outubro de 1997 a abril de 1999 foram acompanhados dois grupos de crianccedilas

com idades entre dois e 12 anos O primeiro grupo foi constituiacutedo de crianccedilas com

diagnoacutestico de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional e o segundo de crianccedilas com haacutebito

intestinal normal (grupo-controle) pareadas ao primeiro de acordo com o gecircnero e a faixa

etaacuteria Nos dois grupos foi aplicado um questionaacuterio padronizado para obter informaccedilotildees

sobre as caracteriacutesticas do haacutebito intestinal iniacutecio dos sintomas e o periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo Os autores concluiacuteram que houve tendecircncia ao periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo ser mais longo no grupo de crianccedilas sem constipaccedilatildeo32

153 Aleitamento artificial

No primeiro ano de vida satildeo frequentes as reaccedilotildees adversas ao leite de vaca Aleacutem

de sintomas respiratoacuterios e dermatoloacutegicos tambeacutem foram verificados sintomas

gastrintestinais como a constipaccedilatildeo intestinal e sangue nas fezes33-37

Em 2008 foram avaliadas durante um ano 555 crianccedilas nascidas consecutivamente

em um hospital Apenas 27 delas apresentaram reaccedilatildeo aleacutergica ao leite de vaca e somente

uma manifestou como sintoma a constipaccedilatildeo33

Na Turquia foi realizado um estudo retrospectivo com dois grupos de 30 crianccedilas

com idades compreendidas entre quatro meses e trecircs anos O grupo I foi constituiacutedo de

crianccedilas com fissura anal e constipaccedilatildeo crocircnica e que natildeo apresentavam necessidade de

cirurgia e o grupo II incluiu crianccedilas normais O consumo diaacuterio de leite de vaca a

duraccedilatildeo do aleitamento materno e outras caracteriacutesticas cliacutenicas das crianccedilas foram

21

investigadas O consumo meacutedio diaacuterio de leite de vaca foi maior (plt0001) e o tempo de

amamentaccedilatildeo foi mais curto no grupo I (plt0001 e plt0006 respectivamente) O risco

(odds ratio) de constipaccedilatildeo quando presentes cada um desses fatores foi de 86 (intervalo

de confianccedila - IC95 023-074 p=00005) e 57 (IC 95 037-066 p=0007)

respectivamente As crianccedilas que consumiam mais quantidade de leite de vaca

apresentaram risco oito vezes mais alto de desenvolver constipaccedilatildeo e fissura anal assim

como naqueles com duraccedilatildeo mais curta do aleitamento materno o risco foi cinco vezes

mais alto Os pesquisadores preconizam atraso na introduccedilatildeo do leite de vaca e o

consequente aumento no tempo do aleitamento materno34

Em outra pesquisa 27 crianccedilas com idades entre cinco e 36 meses e com

constipaccedilatildeo intestinal crocircnica idiopaacutetica foram investigadas na possiacutevel relaccedilatildeo entre

constipaccedilatildeo e alergia agrave proteiacutena do leite de vaca Inicialmente elas foram observadas

consumindo dieta sem restriccedilotildees e registrava-se o nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias

Posteriormente receberam dieta sem a proteiacutena do leite de vaca por dois periacuteodos de um

mecircs separados por dois desafios com a proteiacutena do leite de vaca Durante a dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca 21 apresentaram melhora dos sintomas e durante os dois desafios

consecutivos a constipaccedilatildeo reapareceu no periacuteodo de 48 a 72 horas A dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca natildeo melhorou a constipaccedilatildeo em seis pacientes Apenas quatro que

melhoraram com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca manifestaram sintomas de

alergia ao leite de vaca Histoacuteria meacutedica de alergia ao leite de vaca foi encontrada em 15

dos 21 pacientes curados e em apenas um dos seis que natildeo melhoraram (plt005) Ainda

nos 15 dos 21 curados os resultados de um ou mais testes laboratoriais (dosagem de

imunoglobulinas E e G ndash IgE IgG antiβ lactoglobulina e eosinoacutefilos circulantes) foram

positivos no momento do diagnoacutestico indicando hipersensibilidade comparados com um

dos seis pacientes que natildeo tinham melhorado (plt 0005) Os resultados encontrados na

endoscopia e histologia no momento do diagnoacutestico mostraram proctite monociacutetica com

infiltraccedilatildeo em duas crianccedilas curadas com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca depois

de um mecircs da dieta eles estavam completamente normais A conclusatildeo foi que a

constipaccedilatildeo pode ter patogecircnese aleacutergica35

Em 1995 Hyams et al desenvolveram um estudo prospectivo duplo-cego para

avaliar o efeito das foacutermulas nas caracteriacutesticas das fezes de lactentes Foram selecionadas

crianccedilas saudaacuteveis com um mecircs de idade e acompanhadas por 14 dias Os autores

demonstraram que aquelas alimentadas com leite materno apresentaram maior frequecircncia

22

evacuatoacuteria (p lt 0001) e fezes mais macias (p lt 00001) do que as alimentadas com

foacutermulas laacutecteas36

154 Fibra alimentar

As fibras alimentares satildeo habitualmente consideradas importantes para a prevenccedilatildeo

da constipaccedilatildeo Acredita-se que a sua introduccedilatildeo na alimentaccedilatildeo complementar de forma

equilibrada certamente contribuiraacute para a pouca ocorrecircncia desse distuacuterbio no primeiro ano

de vida37

poreacutem existem poucos trabalhos sobre o consumo de fibras por lactentes Os

resultados encontrados demonstram que a fibra alimentar desempenha papel ainda natildeo

comprovado25

No jaacute mencionado estudo de Aguirre et al (2002) que avaliou a relaccedilatildeo entre o

tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal em 275 lactentes descreveu-se a

implicaccedilatildeo do uso de fibra alimentar Para os lactentes de seis a 24 meses a comparaccedilatildeo

do consumo de fibra alimentar por aqueles com constipaccedilatildeo (mediana=90g percentis 25 e

75 69-131g) e pelos demais com haacutebito intestinal normal natildeo demonstrou diferenccedilas

significativas (mediana=88 percentis 25 e 75 61-129g) (p=057)14

Em trecircs localidades da Greacutecia foi considerada uma amostra randomizada de

crianccedilas (291 com constipaccedilatildeo e 1602 controles) com idades entre dois e 14 anos

Realizou-se o registro alimentar de trecircs dias e a histoacuteria dieteacutetica para avaliar a ingestatildeo

alimentar A ingestatildeo da fibra alimentar foi estatisticamente menor na dieta das crianccedilas

constipadas em todas as faixas etaacuterias quando comparadas com o grupo-controle Os

autores salientaram que a baixa ingestatildeo de fibras na dieta de crianccedilas constipadas

independentemente da idade dos sintomas que acompanham a disfunccedilatildeo e da idade de

iniacutecio sustenta a hipoacutetese causal da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica em crianccedilas31

Segundo a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e

Nutriccedilatildeo (NASPGHAN) o uso de fibras pela crianccedila constipada ainda eacute contraditoacuterio e ateacute

que novos estudos demonstrem a eficaacutecia do tratamento com esse produto os resultados

atuais satildeo fracos para apoiar a recomendaccedilatildeo definitiva de sua suplementaccedilatildeo no

tratamento dessa morbidade25

Pesquisas mais especiacuteficas quanto ao consumo de fibras por lactentes satildeo escassas

na literatura cientiacutefica14

A aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos alimentares e a escolha de tabelas

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 10: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

LISTA DE TABELAS

Artigo de revisatildeo

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees 16

Tabela 2 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008) 18

Artigo original

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas 34

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento)

dependente do tempo

34

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal 34

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de

fezes nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

36

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida do lactente

39

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semana avaliada trimestralmente 40

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros 41

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e tipo de fezes

41

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes 42

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes 42

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

43

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs 44

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno 45

SUMAacuteRIO1

1 ARTIGO DE REVISAtildeO - PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM LACTENTES

13

11 Introduccedilatildeo 15

12 Metodologia 15

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo 16

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes 18

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal 19

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias 19

152 Aleitamento materno 19

153 Aleitamento artificial 20

154 Fibra alimentar 22

16 Consideraccedilotildees finais 23

Referecircncias 23

2 ARTIGO ORIGINAL - PREVALEcircNCIA DE CONSTIPACcedilAtildeOINTESTINAL NO

PRIMEIRO ANO DE VIDA UM ESTUDO LONGITUDINAL

27

21 Introduccedilatildeo 29

22 Casuiacutestica e meacutetodos 30

221 Local do estudo 30

222 Populaccedilatildeo estudada 30

223 Meacutetodos 30

2231 Delineamento do estudo 30

2232 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo 30

2233 Caacutelculo da amostra 31

2234 Coleta de dados 31

2235 Variaacuteveis coletadas 31

2236 Anaacutelise estatiacutestica 32

2237 Aspecto eacutetico 33

1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortograacuteficas

23 Resultados 33

24 Discussatildeo 45

25 Conclusatildeo 49

Referecircncias 48

Anexo A - Parecer da Cacircmara do Departamento de Pediatria da UFMG 50

Anexo B - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFMG 51

Anexo C - Parecer da Secretaria Municipal de Itauacutena 52

Apecircndice A - Questionaacuterio estruturado 53

Apecircndice B - Esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitaccedilatildeo de autorizaccedilatildeo

Apecircndice C - Escala de consistecircncia de fezes

Apecircndice D - Termo de consentimento livre e esclarecido

1 ARTIGO DE REVISAtildeO _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM

LACTENTES

14

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em

lactentes

A constipaccedilatildeo intestinal eacute um problema comum em lactentes Foi realizada revisatildeo

sistemaacutetica da literatura nos sites do PUBMED BIREME e SCIELO utilizando os

descritores constipation infant breastfeeding risk factores Para limitar os assuntos

estabeleceu-se All Infant birth-23 months A prevalecircncia da constipaccedilatildeo variou de 07 a

48 Apesar de existirem criteacuterios para diagnosticar esse distuacuterbio em lactentes muitos

autores adotam criteacuterios proacuteprios o que pode fazer com que a prevalecircncia varie muito de

um trabalho para outro Quanto aos fatores de risco observou-se que os componentes

constitucionais e hereditaacuterios estatildeo presentes em pais irmatildeos e tios das crianccedilas

constipadas Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno se constitui em

um fator de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo Pesquisas demonstram que

o consumo do leite de vaca e de foacutermulas contribui para o surgimento desse evento no

primeiro ano de vida Existem poucas investigaccedilotildees sobre o consumo de fibras alimentares

em lactentes e em crianccedilas constipadas sua utilizaccedilatildeo como suplemento ainda eacute

controversa Estudos sobre prevalecircncia com caracterizaccedilatildeo especiacutefica para lactentes com

fatores de risco associados agrave constipaccedilatildeo poderatildeo trazer melhor compreensatildeo do impacto

da morbidade dessa doenccedila e favorecer melhor tratamento e prevenccedilatildeo

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with chronic functional constipation in infants

Infant intestinal constipation is a common problem A non-systematic literature

review was performed on PUBMED BIREME and SCIELO using the following key

concepts constipation infant epidemiology and risk factors The term All Infant birth-23

months was selected for the specific search The prevalence of constipation varied from 07

to 48 Criteria for the diagnosis of this disorder in infants are available but many authors

adopt their own criteria which may result in a large prevalence variation between the

several studies conducted With regards to the risk factors it was observed that parents

brothers and uncles of the constipated children present the constitutional and hereditary

components Some studies have shown that the maternal breastfeeding is a protection

factor against the constipation development Researches have confirmed that the

consumption of cowrsquos milk and formulas favor the occurrence of this event in the first year

of life There are few investigations made regarding the consumption of alimentary fibers

by infants and therefore the utilization as a nutritional supplement is still controversial

The development of prevalence studies oriented specifically to infants with risk factors

associated to constipation may provide a better comprehension of the morbosity impact of

this disease as well as an improved treatment and prevention

Key-words Constipation Infant Epidemiology Risk factors

15

11 Introduccedilatildeo

Em todo o mundo a constipaccedilatildeo intestinal (CI) em lactentes eacute uma morbidade de

significativa relevacircncia Na literatura cientiacutefica existe ampla variaccedilatildeo na prevalecircncia dessa

doenccedila em crianccedilas o que revela a existecircncia de fatores que alteram a sua distribuiccedilatildeo ou

problemas relacionados agrave sua definiccedilatildeo ou nomenclatura

Geralmente pais de lactentes satildeo muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e qualquer

modificaccedilatildeo do haacutebito intestinal os leva a buscar assistecircncia meacutedica1

Estudos demonstram que importante proporccedilatildeo de crianccedilas com constipaccedilatildeo

intestinal inicia o quadro no primeiro ano de vida2-4

Durante os dois primeiros anos de

vida a constipaccedilatildeo intestinal pode ser causada por fatores orgacircnicos ou funcionais Entre

os fatores orgacircnicos a doenccedila de Hirschsprung as anomalias anorretais as doenccedilas

metaboacutelicas e as doenccedilas endocrinoloacutegicas como o hipotireoidismo devem sempre ser

lembradas5 Entretanto os quadros funcionais satildeo muito mais frequentes

6

As pesquisas realizadas ateacute o momento identificam a baixa ingestatildeo hiacutedrica os

fatores constitucionais e o desmame precoce como marcadores envolvidos no

desenvolvimento dessa morbidade7 O aleitamento artificial que se segue ao desmame

parece ser o principal deles8 Contudo mais estudos satildeo necessaacuterios natildeo apenas para

confirmar essa associaccedilatildeo mas tambeacutem para avaliar como os outros aspectos alimentares

relativos ao desmame participam das mudanccedilas do haacutebito alimentar protegendo ou

precipitando o surgimento dos transtornos evacuatoacuterios9

12 Meacutetodo

Realizou-se levantamento bibliograacutefico mediante consulta agrave base de dados

PUBMED BIREME e SCIELO considerando-se preferencialmente artigos na liacutengua

inglesa publicados nos uacuteltimos 10 anos entre 1998 e 2008 As publicaccedilotildees eram referentes

agrave prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em lactentes Para a busca foram

consideradas as palavras-chave constipation epidemiology infant breastfeeding risk

factors Esses termos foram determinados apoacutes consulta aos descritores em sauacutede (DeCs)

disponiacuteveis na BIREME Foram estabelecidos ainda os seguintes limites estudos com

humanos artigos referentes a ensaios cliacutenicos metanaacutelises ensaios randomizados

controlados e artigos de revisatildeo faixa etaacuteria de zero a dois anos

16

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo

A adequada definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal eacute importante para identificar de

forma precoce o paciente que apresenta a morbidade diminuindo o risco de complicaccedilotildees

e o custo do tratamento10

Em estudos cientiacuteficos epidemioloacutegicos a dificuldade na definiccedilatildeo da morbidade eacute

facilmente percebida As diferentes taxas epidemioloacutegicas relatadas na literatura ressaltam

que a identificaccedilatildeo do problema natildeo eacute tatildeo faacutecil quanto possa parecer1112

Assim alguns

autores tecircm adotado criteacuterios proacuteprios para identificar pacientes constipados incluindo

defecaccedilatildeo infrequente fezes duras dificuldade ou passagem de fezes dolorosas sem

uniformizaccedilatildeo na definiccedilatildeo e na caracterizaccedilatildeo desses sintomas13-19

A preocupaccedilatildeo em encontrar um consenso para a definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal existe haacute algumas deacutecadas20

Um dos conceitos mais adotados em pesquisas

cientiacuteficas estabelece como criteacuterio a frequecircncia evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por

semana315

Esse criteacuterio eacute adotado para a populaccedilatildeo adulta poreacutem eacute falho para crianccedilas

principalmente para as menores de quatro anos21

A Tabela 1 apresenta a frequecircncia

evacuatoacuteria da crianccedila estabelecida por Fontana et al (1989)22

Observa-se que existe

acentuada variaccedilatildeo desse paracircmetro nas diversas faixas etaacuterias No primeiro ano de vida a

amplitude da frequecircncia evacuatoacuteria eacute tatildeo vasta que maior valorizaccedilatildeo do paracircmetro pode

levar a erros no diagnoacutestico da morbidade22

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees

Idade Evacuaccedilotildees

por semana

Evacuaccedilotildees

por dia

0-3 meses

Aleitamento materno 5-40 29

Foacutermulas 5-28 20

6-12 meses 5-28 18

1-3 anos 4-21 14

Mais de 3 anos 3-14 10

Fonte Fontana et al (1989)22

17

A partir do consenso ROMA I o qual ofereceu definiccedilotildees iniciais para doenccedilas

funcionais do trato digestivo de adultos muito se evoluiu em termo de nomenclatura

criteacuterios e definiccedilotildees para as doenccedilas digestivas23

Esse consenso forneceu importantes definiccedilotildees para as alteraccedilotildees funcionais

pediaacutetricas23

Em relaccedilatildeo agrave constipaccedilatildeo intestinal da crianccedila as contribuiccedilotildees do Consenso

de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT)24

da Sociedade Norte-

Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo (NASGHAN)1 e de ROMA III

8

passaram a ser adotadas nos estudos que se seguiram No entanto entre eles satildeo notaacuteveis

as diferenccedilas nos criteacuterios conforme se segue

Roma II - em lactentes e crianccedilas preacute-escolares por pelo menos duas semanas fezes

em ciacutebalos com rachaduras duras na maioria das evacuaccedilotildees ou duas ou menos

evacuaccedilotildees de fezes firmes por semana natildeo havendo evidecircncia de doenccedila

estrutural endoacutecrina ou metaboacutelica23

Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT) - um

periacuteodo de oito semanas com pelo menos dois dos seguintes sintomas frequecircncia

evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por semana incontinecircncia fecal acima de uma vez

por semana passagem de fezes grandes que podem entupir o vaso sanitaacuterio massa

fecal palpaacutevel no abdocircmen ou no reto comportamento de retenccedilatildeo de fezes ou

defecaccedilatildeo dolorosa24

Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo

(NASPGHAN) - atraso ou dificuldade de evacuar presente por duas ou mais

semanas e suficiente para causar desconforto ao paciente25

Roma III - em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade no periacuteodo de 30

dias pelo menos dois dos seguintes itens duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao

menos um episoacutedio de incontinecircncia por semana apoacutes a habilidade para utilizar o

banheiro histoacuteria de retenccedilatildeo excessiva de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis

presenccedila de grande massa fecal no reto e fezes com grande diacircmetro e que podem

obstruir o vaso sanitaacuterio A esses sintomas associam-se a irritabilidade a falta de

apetite eou a saciedade precoce Todos podem desaparecer apoacutes a eliminaccedilatildeo das

fezes8

18

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes

A real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal em lactentes natildeo foi ateacute o momento

adequadamente estabelecida De acordo com as pesquisas mais recentes os iacutendices variam

de 0726

a 4825

Para ilustrar essas divergecircncias na prevalecircncia da morbidade foi demonstrada no

Tabela 1 uma seacuterie de estudos realizados entre os anos de 1998 e 2008

Tabela 1 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008)

Estudo Paiacutes

Ano

Delineamento N Idade Criteacuterio

definido por

Prevalecircncia

Motta et al13

Brasil 1998 Transversal 536 0ndash11 a Autor 218 0-239 m

Aguirre et al14

Brasil 2000 Transversal 275 0ndash25 a Autor 251

Souza et al15

Brasil 2001 Transversal 289 1m-4 a Percepccedilatildeo matildee 153 0-239 m

Del Ciampo et al16

Brasil 2002 Transversal 313 1ndash10 a Autor 268

Miele et al 26

Itaacutelia 2004 Longitudinal 9660 0ndash12 a Roma II 07

Corazziari et al 27

Itaacutelia 2005 Longitudinal 2680 0ndash12 a Autor 52 0-239 m

Iacono et al3 Itaacutelia 2005 Longitudinal 2879 0ndash05 a Autor 176

Loening-Bauke2 EUA 2005 Transversal 4157 0ndash2 a NASPGHAN

ou Roma II

29 1 a

101 2 a

Ludvigsson et al28

Sueacutecia 2006 Longitudinal 8431 0ndash25 a Percepccedilatildeo matildee 65

Boccia et al25

Itaacutelia 2007 Longitudinal 126 0ndash18 a Roma II e

PACCT

Roma II15-lt4a

PACCT48-lt4a

Medeiros et al19

Brasil 2007 Transversal 561 0ndash19 a Autor 191 0-239 m

Pina et al29

Espanha2008 Transversal 3487 0ndash4 m Autor 61

A = ano m = mecircs

A grande diferenccedila encontrada pode ser explicada pelas divergecircncias no criteacuterio

utilizado para definir a constipaccedilatildeo intestinal pelo delineamento do estudo realizado e pela

faixa etaacuteria considerada

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo especificamente em lactentes foi determinada em

apenas nove desses estudos2313-151927-29

Desses autores apenas um adotou criteacuterio

internacional na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo13

Os demais empregaram princiacutepio

19

proacuteprio2313-1527-29

sendo que nos estudos de Ludvigsson28

e Souza15

o criteacuterio utilizado

para diagnosticar os lactentes constipados foi a percepccedilatildeo das matildees

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias

A literatura mostra a ocorrecircncia de constipaccedilatildeo entre os familiares das crianccedilas

constipadas3031

Na Espanha em 2005 foi realizado um estudo de caso-controle para avaliar os

fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo infantil Foram incluiacutedas crianccedilas

com idades entre quatro meses e 15 anos e que apresentavam quadro de constipaccedilatildeo

crocircnica Seus controles eram as crianccedilas imediatamente atendidas sem histoacuteria preacutevia de

constipaccedilatildeo No grupo-controle 351 das crianccedilas apresentavam histoacuteria familiar com

quadro de constipaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com 542 do grupo em estudo cuja diferenccedila foi

significativa entre os grupos (plt0001) Na situaccedilatildeo pais separados a matildee apresentou mais

frequecircncia de constipaccedilatildeo no grupo de crianccedilas constipadas em relaccedilatildeo ao grupo-controle

956 e 286 respectivamente (plt0001)30

Na investigaccedilatildeo de Roma et al (1999)31

que avaliou a presenccedila de constipaccedilatildeo em

crianccedilas de dois a 14 anos identificou-se histoacuteria familiar positiva para o distuacuterbio (pais ou

irmatildeos) em 625 das crianccedilas constipadas e em 303 dos familiares dos indiviacuteduos

controles (p lt0000001) A prevalecircncia de constipaccedilatildeo crocircnica em crianccedilas foi de 34 se

nenhum dos pais manifestava o problema 103 se um dos pais estava constipado e

485 se ambos (p lt00001)31

152 Aleitamento materno

Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno constitui-se em fator

de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal na crianccedila314

Iacono et al (2005)3 desenvolveram uma pesquisa para avaliar a frequecircncia dos

sintomas gastrintestinais mais comuns durante os primeiros seis meses de vida e avaliar a

influecircncia de algumas variaacuteveis sobre o aparecimento dos sintomas Foram acompanhadas

20

2879 crianccedilas do nascimento ateacute os seis meses de vida A constipaccedilatildeo esteve presente em

507 e foi diagnosticada em idades entre 27 e 33 dias Os lactentes constipados natildeo

apresentaram diferenccedila na comparaccedilatildeo com aqueles sem a morbidade em relaccedilatildeo ao peso

ao nascer idade gestacional idade e niacutevel de ensino da matildee e do pai No entanto o nuacutemero

foi significativamente mais baixo na frequecircncia do aleitamento materno em relaccedilatildeo agraves

crianccedilas sem constipaccedilatildeo (763 versus 849 p=0007)3

A relaccedilatildeo entre o tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal foi

analisada em 275 lactentes atendidos consecutivamente no periacuteodo de dezembro de 1996 a

dezembro de 1997 concluindo-se que o aleitamento natural predominante eacute um fator de

proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo no primeiro semestre de vida14

Em um estudo de caso-controle realizado em um ambulatoacuterio de pediatria no

periacuteodo de outubro de 1997 a abril de 1999 foram acompanhados dois grupos de crianccedilas

com idades entre dois e 12 anos O primeiro grupo foi constituiacutedo de crianccedilas com

diagnoacutestico de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional e o segundo de crianccedilas com haacutebito

intestinal normal (grupo-controle) pareadas ao primeiro de acordo com o gecircnero e a faixa

etaacuteria Nos dois grupos foi aplicado um questionaacuterio padronizado para obter informaccedilotildees

sobre as caracteriacutesticas do haacutebito intestinal iniacutecio dos sintomas e o periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo Os autores concluiacuteram que houve tendecircncia ao periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo ser mais longo no grupo de crianccedilas sem constipaccedilatildeo32

153 Aleitamento artificial

No primeiro ano de vida satildeo frequentes as reaccedilotildees adversas ao leite de vaca Aleacutem

de sintomas respiratoacuterios e dermatoloacutegicos tambeacutem foram verificados sintomas

gastrintestinais como a constipaccedilatildeo intestinal e sangue nas fezes33-37

Em 2008 foram avaliadas durante um ano 555 crianccedilas nascidas consecutivamente

em um hospital Apenas 27 delas apresentaram reaccedilatildeo aleacutergica ao leite de vaca e somente

uma manifestou como sintoma a constipaccedilatildeo33

Na Turquia foi realizado um estudo retrospectivo com dois grupos de 30 crianccedilas

com idades compreendidas entre quatro meses e trecircs anos O grupo I foi constituiacutedo de

crianccedilas com fissura anal e constipaccedilatildeo crocircnica e que natildeo apresentavam necessidade de

cirurgia e o grupo II incluiu crianccedilas normais O consumo diaacuterio de leite de vaca a

duraccedilatildeo do aleitamento materno e outras caracteriacutesticas cliacutenicas das crianccedilas foram

21

investigadas O consumo meacutedio diaacuterio de leite de vaca foi maior (plt0001) e o tempo de

amamentaccedilatildeo foi mais curto no grupo I (plt0001 e plt0006 respectivamente) O risco

(odds ratio) de constipaccedilatildeo quando presentes cada um desses fatores foi de 86 (intervalo

de confianccedila - IC95 023-074 p=00005) e 57 (IC 95 037-066 p=0007)

respectivamente As crianccedilas que consumiam mais quantidade de leite de vaca

apresentaram risco oito vezes mais alto de desenvolver constipaccedilatildeo e fissura anal assim

como naqueles com duraccedilatildeo mais curta do aleitamento materno o risco foi cinco vezes

mais alto Os pesquisadores preconizam atraso na introduccedilatildeo do leite de vaca e o

consequente aumento no tempo do aleitamento materno34

Em outra pesquisa 27 crianccedilas com idades entre cinco e 36 meses e com

constipaccedilatildeo intestinal crocircnica idiopaacutetica foram investigadas na possiacutevel relaccedilatildeo entre

constipaccedilatildeo e alergia agrave proteiacutena do leite de vaca Inicialmente elas foram observadas

consumindo dieta sem restriccedilotildees e registrava-se o nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias

Posteriormente receberam dieta sem a proteiacutena do leite de vaca por dois periacuteodos de um

mecircs separados por dois desafios com a proteiacutena do leite de vaca Durante a dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca 21 apresentaram melhora dos sintomas e durante os dois desafios

consecutivos a constipaccedilatildeo reapareceu no periacuteodo de 48 a 72 horas A dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca natildeo melhorou a constipaccedilatildeo em seis pacientes Apenas quatro que

melhoraram com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca manifestaram sintomas de

alergia ao leite de vaca Histoacuteria meacutedica de alergia ao leite de vaca foi encontrada em 15

dos 21 pacientes curados e em apenas um dos seis que natildeo melhoraram (plt005) Ainda

nos 15 dos 21 curados os resultados de um ou mais testes laboratoriais (dosagem de

imunoglobulinas E e G ndash IgE IgG antiβ lactoglobulina e eosinoacutefilos circulantes) foram

positivos no momento do diagnoacutestico indicando hipersensibilidade comparados com um

dos seis pacientes que natildeo tinham melhorado (plt 0005) Os resultados encontrados na

endoscopia e histologia no momento do diagnoacutestico mostraram proctite monociacutetica com

infiltraccedilatildeo em duas crianccedilas curadas com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca depois

de um mecircs da dieta eles estavam completamente normais A conclusatildeo foi que a

constipaccedilatildeo pode ter patogecircnese aleacutergica35

Em 1995 Hyams et al desenvolveram um estudo prospectivo duplo-cego para

avaliar o efeito das foacutermulas nas caracteriacutesticas das fezes de lactentes Foram selecionadas

crianccedilas saudaacuteveis com um mecircs de idade e acompanhadas por 14 dias Os autores

demonstraram que aquelas alimentadas com leite materno apresentaram maior frequecircncia

22

evacuatoacuteria (p lt 0001) e fezes mais macias (p lt 00001) do que as alimentadas com

foacutermulas laacutecteas36

154 Fibra alimentar

As fibras alimentares satildeo habitualmente consideradas importantes para a prevenccedilatildeo

da constipaccedilatildeo Acredita-se que a sua introduccedilatildeo na alimentaccedilatildeo complementar de forma

equilibrada certamente contribuiraacute para a pouca ocorrecircncia desse distuacuterbio no primeiro ano

de vida37

poreacutem existem poucos trabalhos sobre o consumo de fibras por lactentes Os

resultados encontrados demonstram que a fibra alimentar desempenha papel ainda natildeo

comprovado25

No jaacute mencionado estudo de Aguirre et al (2002) que avaliou a relaccedilatildeo entre o

tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal em 275 lactentes descreveu-se a

implicaccedilatildeo do uso de fibra alimentar Para os lactentes de seis a 24 meses a comparaccedilatildeo

do consumo de fibra alimentar por aqueles com constipaccedilatildeo (mediana=90g percentis 25 e

75 69-131g) e pelos demais com haacutebito intestinal normal natildeo demonstrou diferenccedilas

significativas (mediana=88 percentis 25 e 75 61-129g) (p=057)14

Em trecircs localidades da Greacutecia foi considerada uma amostra randomizada de

crianccedilas (291 com constipaccedilatildeo e 1602 controles) com idades entre dois e 14 anos

Realizou-se o registro alimentar de trecircs dias e a histoacuteria dieteacutetica para avaliar a ingestatildeo

alimentar A ingestatildeo da fibra alimentar foi estatisticamente menor na dieta das crianccedilas

constipadas em todas as faixas etaacuterias quando comparadas com o grupo-controle Os

autores salientaram que a baixa ingestatildeo de fibras na dieta de crianccedilas constipadas

independentemente da idade dos sintomas que acompanham a disfunccedilatildeo e da idade de

iniacutecio sustenta a hipoacutetese causal da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica em crianccedilas31

Segundo a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e

Nutriccedilatildeo (NASPGHAN) o uso de fibras pela crianccedila constipada ainda eacute contraditoacuterio e ateacute

que novos estudos demonstrem a eficaacutecia do tratamento com esse produto os resultados

atuais satildeo fracos para apoiar a recomendaccedilatildeo definitiva de sua suplementaccedilatildeo no

tratamento dessa morbidade25

Pesquisas mais especiacuteficas quanto ao consumo de fibras por lactentes satildeo escassas

na literatura cientiacutefica14

A aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos alimentares e a escolha de tabelas

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 11: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

SUMAacuteRIO1

1 ARTIGO DE REVISAtildeO - PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM LACTENTES

13

11 Introduccedilatildeo 15

12 Metodologia 15

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo 16

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes 18

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal 19

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias 19

152 Aleitamento materno 19

153 Aleitamento artificial 20

154 Fibra alimentar 22

16 Consideraccedilotildees finais 23

Referecircncias 23

2 ARTIGO ORIGINAL - PREVALEcircNCIA DE CONSTIPACcedilAtildeOINTESTINAL NO

PRIMEIRO ANO DE VIDA UM ESTUDO LONGITUDINAL

27

21 Introduccedilatildeo 29

22 Casuiacutestica e meacutetodos 30

221 Local do estudo 30

222 Populaccedilatildeo estudada 30

223 Meacutetodos 30

2231 Delineamento do estudo 30

2232 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo 30

2233 Caacutelculo da amostra 31

2234 Coleta de dados 31

2235 Variaacuteveis coletadas 31

2236 Anaacutelise estatiacutestica 32

2237 Aspecto eacutetico 33

1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortograacuteficas

23 Resultados 33

24 Discussatildeo 45

25 Conclusatildeo 49

Referecircncias 48

Anexo A - Parecer da Cacircmara do Departamento de Pediatria da UFMG 50

Anexo B - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFMG 51

Anexo C - Parecer da Secretaria Municipal de Itauacutena 52

Apecircndice A - Questionaacuterio estruturado 53

Apecircndice B - Esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitaccedilatildeo de autorizaccedilatildeo

Apecircndice C - Escala de consistecircncia de fezes

Apecircndice D - Termo de consentimento livre e esclarecido

1 ARTIGO DE REVISAtildeO _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM

LACTENTES

14

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em

lactentes

A constipaccedilatildeo intestinal eacute um problema comum em lactentes Foi realizada revisatildeo

sistemaacutetica da literatura nos sites do PUBMED BIREME e SCIELO utilizando os

descritores constipation infant breastfeeding risk factores Para limitar os assuntos

estabeleceu-se All Infant birth-23 months A prevalecircncia da constipaccedilatildeo variou de 07 a

48 Apesar de existirem criteacuterios para diagnosticar esse distuacuterbio em lactentes muitos

autores adotam criteacuterios proacuteprios o que pode fazer com que a prevalecircncia varie muito de

um trabalho para outro Quanto aos fatores de risco observou-se que os componentes

constitucionais e hereditaacuterios estatildeo presentes em pais irmatildeos e tios das crianccedilas

constipadas Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno se constitui em

um fator de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo Pesquisas demonstram que

o consumo do leite de vaca e de foacutermulas contribui para o surgimento desse evento no

primeiro ano de vida Existem poucas investigaccedilotildees sobre o consumo de fibras alimentares

em lactentes e em crianccedilas constipadas sua utilizaccedilatildeo como suplemento ainda eacute

controversa Estudos sobre prevalecircncia com caracterizaccedilatildeo especiacutefica para lactentes com

fatores de risco associados agrave constipaccedilatildeo poderatildeo trazer melhor compreensatildeo do impacto

da morbidade dessa doenccedila e favorecer melhor tratamento e prevenccedilatildeo

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with chronic functional constipation in infants

Infant intestinal constipation is a common problem A non-systematic literature

review was performed on PUBMED BIREME and SCIELO using the following key

concepts constipation infant epidemiology and risk factors The term All Infant birth-23

months was selected for the specific search The prevalence of constipation varied from 07

to 48 Criteria for the diagnosis of this disorder in infants are available but many authors

adopt their own criteria which may result in a large prevalence variation between the

several studies conducted With regards to the risk factors it was observed that parents

brothers and uncles of the constipated children present the constitutional and hereditary

components Some studies have shown that the maternal breastfeeding is a protection

factor against the constipation development Researches have confirmed that the

consumption of cowrsquos milk and formulas favor the occurrence of this event in the first year

of life There are few investigations made regarding the consumption of alimentary fibers

by infants and therefore the utilization as a nutritional supplement is still controversial

The development of prevalence studies oriented specifically to infants with risk factors

associated to constipation may provide a better comprehension of the morbosity impact of

this disease as well as an improved treatment and prevention

Key-words Constipation Infant Epidemiology Risk factors

15

11 Introduccedilatildeo

Em todo o mundo a constipaccedilatildeo intestinal (CI) em lactentes eacute uma morbidade de

significativa relevacircncia Na literatura cientiacutefica existe ampla variaccedilatildeo na prevalecircncia dessa

doenccedila em crianccedilas o que revela a existecircncia de fatores que alteram a sua distribuiccedilatildeo ou

problemas relacionados agrave sua definiccedilatildeo ou nomenclatura

Geralmente pais de lactentes satildeo muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e qualquer

modificaccedilatildeo do haacutebito intestinal os leva a buscar assistecircncia meacutedica1

Estudos demonstram que importante proporccedilatildeo de crianccedilas com constipaccedilatildeo

intestinal inicia o quadro no primeiro ano de vida2-4

Durante os dois primeiros anos de

vida a constipaccedilatildeo intestinal pode ser causada por fatores orgacircnicos ou funcionais Entre

os fatores orgacircnicos a doenccedila de Hirschsprung as anomalias anorretais as doenccedilas

metaboacutelicas e as doenccedilas endocrinoloacutegicas como o hipotireoidismo devem sempre ser

lembradas5 Entretanto os quadros funcionais satildeo muito mais frequentes

6

As pesquisas realizadas ateacute o momento identificam a baixa ingestatildeo hiacutedrica os

fatores constitucionais e o desmame precoce como marcadores envolvidos no

desenvolvimento dessa morbidade7 O aleitamento artificial que se segue ao desmame

parece ser o principal deles8 Contudo mais estudos satildeo necessaacuterios natildeo apenas para

confirmar essa associaccedilatildeo mas tambeacutem para avaliar como os outros aspectos alimentares

relativos ao desmame participam das mudanccedilas do haacutebito alimentar protegendo ou

precipitando o surgimento dos transtornos evacuatoacuterios9

12 Meacutetodo

Realizou-se levantamento bibliograacutefico mediante consulta agrave base de dados

PUBMED BIREME e SCIELO considerando-se preferencialmente artigos na liacutengua

inglesa publicados nos uacuteltimos 10 anos entre 1998 e 2008 As publicaccedilotildees eram referentes

agrave prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em lactentes Para a busca foram

consideradas as palavras-chave constipation epidemiology infant breastfeeding risk

factors Esses termos foram determinados apoacutes consulta aos descritores em sauacutede (DeCs)

disponiacuteveis na BIREME Foram estabelecidos ainda os seguintes limites estudos com

humanos artigos referentes a ensaios cliacutenicos metanaacutelises ensaios randomizados

controlados e artigos de revisatildeo faixa etaacuteria de zero a dois anos

16

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo

A adequada definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal eacute importante para identificar de

forma precoce o paciente que apresenta a morbidade diminuindo o risco de complicaccedilotildees

e o custo do tratamento10

Em estudos cientiacuteficos epidemioloacutegicos a dificuldade na definiccedilatildeo da morbidade eacute

facilmente percebida As diferentes taxas epidemioloacutegicas relatadas na literatura ressaltam

que a identificaccedilatildeo do problema natildeo eacute tatildeo faacutecil quanto possa parecer1112

Assim alguns

autores tecircm adotado criteacuterios proacuteprios para identificar pacientes constipados incluindo

defecaccedilatildeo infrequente fezes duras dificuldade ou passagem de fezes dolorosas sem

uniformizaccedilatildeo na definiccedilatildeo e na caracterizaccedilatildeo desses sintomas13-19

A preocupaccedilatildeo em encontrar um consenso para a definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal existe haacute algumas deacutecadas20

Um dos conceitos mais adotados em pesquisas

cientiacuteficas estabelece como criteacuterio a frequecircncia evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por

semana315

Esse criteacuterio eacute adotado para a populaccedilatildeo adulta poreacutem eacute falho para crianccedilas

principalmente para as menores de quatro anos21

A Tabela 1 apresenta a frequecircncia

evacuatoacuteria da crianccedila estabelecida por Fontana et al (1989)22

Observa-se que existe

acentuada variaccedilatildeo desse paracircmetro nas diversas faixas etaacuterias No primeiro ano de vida a

amplitude da frequecircncia evacuatoacuteria eacute tatildeo vasta que maior valorizaccedilatildeo do paracircmetro pode

levar a erros no diagnoacutestico da morbidade22

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees

Idade Evacuaccedilotildees

por semana

Evacuaccedilotildees

por dia

0-3 meses

Aleitamento materno 5-40 29

Foacutermulas 5-28 20

6-12 meses 5-28 18

1-3 anos 4-21 14

Mais de 3 anos 3-14 10

Fonte Fontana et al (1989)22

17

A partir do consenso ROMA I o qual ofereceu definiccedilotildees iniciais para doenccedilas

funcionais do trato digestivo de adultos muito se evoluiu em termo de nomenclatura

criteacuterios e definiccedilotildees para as doenccedilas digestivas23

Esse consenso forneceu importantes definiccedilotildees para as alteraccedilotildees funcionais

pediaacutetricas23

Em relaccedilatildeo agrave constipaccedilatildeo intestinal da crianccedila as contribuiccedilotildees do Consenso

de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT)24

da Sociedade Norte-

Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo (NASGHAN)1 e de ROMA III

8

passaram a ser adotadas nos estudos que se seguiram No entanto entre eles satildeo notaacuteveis

as diferenccedilas nos criteacuterios conforme se segue

Roma II - em lactentes e crianccedilas preacute-escolares por pelo menos duas semanas fezes

em ciacutebalos com rachaduras duras na maioria das evacuaccedilotildees ou duas ou menos

evacuaccedilotildees de fezes firmes por semana natildeo havendo evidecircncia de doenccedila

estrutural endoacutecrina ou metaboacutelica23

Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT) - um

periacuteodo de oito semanas com pelo menos dois dos seguintes sintomas frequecircncia

evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por semana incontinecircncia fecal acima de uma vez

por semana passagem de fezes grandes que podem entupir o vaso sanitaacuterio massa

fecal palpaacutevel no abdocircmen ou no reto comportamento de retenccedilatildeo de fezes ou

defecaccedilatildeo dolorosa24

Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo

(NASPGHAN) - atraso ou dificuldade de evacuar presente por duas ou mais

semanas e suficiente para causar desconforto ao paciente25

Roma III - em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade no periacuteodo de 30

dias pelo menos dois dos seguintes itens duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao

menos um episoacutedio de incontinecircncia por semana apoacutes a habilidade para utilizar o

banheiro histoacuteria de retenccedilatildeo excessiva de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis

presenccedila de grande massa fecal no reto e fezes com grande diacircmetro e que podem

obstruir o vaso sanitaacuterio A esses sintomas associam-se a irritabilidade a falta de

apetite eou a saciedade precoce Todos podem desaparecer apoacutes a eliminaccedilatildeo das

fezes8

18

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes

A real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal em lactentes natildeo foi ateacute o momento

adequadamente estabelecida De acordo com as pesquisas mais recentes os iacutendices variam

de 0726

a 4825

Para ilustrar essas divergecircncias na prevalecircncia da morbidade foi demonstrada no

Tabela 1 uma seacuterie de estudos realizados entre os anos de 1998 e 2008

Tabela 1 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008)

Estudo Paiacutes

Ano

Delineamento N Idade Criteacuterio

definido por

Prevalecircncia

Motta et al13

Brasil 1998 Transversal 536 0ndash11 a Autor 218 0-239 m

Aguirre et al14

Brasil 2000 Transversal 275 0ndash25 a Autor 251

Souza et al15

Brasil 2001 Transversal 289 1m-4 a Percepccedilatildeo matildee 153 0-239 m

Del Ciampo et al16

Brasil 2002 Transversal 313 1ndash10 a Autor 268

Miele et al 26

Itaacutelia 2004 Longitudinal 9660 0ndash12 a Roma II 07

Corazziari et al 27

Itaacutelia 2005 Longitudinal 2680 0ndash12 a Autor 52 0-239 m

Iacono et al3 Itaacutelia 2005 Longitudinal 2879 0ndash05 a Autor 176

Loening-Bauke2 EUA 2005 Transversal 4157 0ndash2 a NASPGHAN

ou Roma II

29 1 a

101 2 a

Ludvigsson et al28

Sueacutecia 2006 Longitudinal 8431 0ndash25 a Percepccedilatildeo matildee 65

Boccia et al25

Itaacutelia 2007 Longitudinal 126 0ndash18 a Roma II e

PACCT

Roma II15-lt4a

PACCT48-lt4a

Medeiros et al19

Brasil 2007 Transversal 561 0ndash19 a Autor 191 0-239 m

Pina et al29

Espanha2008 Transversal 3487 0ndash4 m Autor 61

A = ano m = mecircs

A grande diferenccedila encontrada pode ser explicada pelas divergecircncias no criteacuterio

utilizado para definir a constipaccedilatildeo intestinal pelo delineamento do estudo realizado e pela

faixa etaacuteria considerada

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo especificamente em lactentes foi determinada em

apenas nove desses estudos2313-151927-29

Desses autores apenas um adotou criteacuterio

internacional na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo13

Os demais empregaram princiacutepio

19

proacuteprio2313-1527-29

sendo que nos estudos de Ludvigsson28

e Souza15

o criteacuterio utilizado

para diagnosticar os lactentes constipados foi a percepccedilatildeo das matildees

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias

A literatura mostra a ocorrecircncia de constipaccedilatildeo entre os familiares das crianccedilas

constipadas3031

Na Espanha em 2005 foi realizado um estudo de caso-controle para avaliar os

fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo infantil Foram incluiacutedas crianccedilas

com idades entre quatro meses e 15 anos e que apresentavam quadro de constipaccedilatildeo

crocircnica Seus controles eram as crianccedilas imediatamente atendidas sem histoacuteria preacutevia de

constipaccedilatildeo No grupo-controle 351 das crianccedilas apresentavam histoacuteria familiar com

quadro de constipaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com 542 do grupo em estudo cuja diferenccedila foi

significativa entre os grupos (plt0001) Na situaccedilatildeo pais separados a matildee apresentou mais

frequecircncia de constipaccedilatildeo no grupo de crianccedilas constipadas em relaccedilatildeo ao grupo-controle

956 e 286 respectivamente (plt0001)30

Na investigaccedilatildeo de Roma et al (1999)31

que avaliou a presenccedila de constipaccedilatildeo em

crianccedilas de dois a 14 anos identificou-se histoacuteria familiar positiva para o distuacuterbio (pais ou

irmatildeos) em 625 das crianccedilas constipadas e em 303 dos familiares dos indiviacuteduos

controles (p lt0000001) A prevalecircncia de constipaccedilatildeo crocircnica em crianccedilas foi de 34 se

nenhum dos pais manifestava o problema 103 se um dos pais estava constipado e

485 se ambos (p lt00001)31

152 Aleitamento materno

Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno constitui-se em fator

de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal na crianccedila314

Iacono et al (2005)3 desenvolveram uma pesquisa para avaliar a frequecircncia dos

sintomas gastrintestinais mais comuns durante os primeiros seis meses de vida e avaliar a

influecircncia de algumas variaacuteveis sobre o aparecimento dos sintomas Foram acompanhadas

20

2879 crianccedilas do nascimento ateacute os seis meses de vida A constipaccedilatildeo esteve presente em

507 e foi diagnosticada em idades entre 27 e 33 dias Os lactentes constipados natildeo

apresentaram diferenccedila na comparaccedilatildeo com aqueles sem a morbidade em relaccedilatildeo ao peso

ao nascer idade gestacional idade e niacutevel de ensino da matildee e do pai No entanto o nuacutemero

foi significativamente mais baixo na frequecircncia do aleitamento materno em relaccedilatildeo agraves

crianccedilas sem constipaccedilatildeo (763 versus 849 p=0007)3

A relaccedilatildeo entre o tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal foi

analisada em 275 lactentes atendidos consecutivamente no periacuteodo de dezembro de 1996 a

dezembro de 1997 concluindo-se que o aleitamento natural predominante eacute um fator de

proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo no primeiro semestre de vida14

Em um estudo de caso-controle realizado em um ambulatoacuterio de pediatria no

periacuteodo de outubro de 1997 a abril de 1999 foram acompanhados dois grupos de crianccedilas

com idades entre dois e 12 anos O primeiro grupo foi constituiacutedo de crianccedilas com

diagnoacutestico de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional e o segundo de crianccedilas com haacutebito

intestinal normal (grupo-controle) pareadas ao primeiro de acordo com o gecircnero e a faixa

etaacuteria Nos dois grupos foi aplicado um questionaacuterio padronizado para obter informaccedilotildees

sobre as caracteriacutesticas do haacutebito intestinal iniacutecio dos sintomas e o periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo Os autores concluiacuteram que houve tendecircncia ao periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo ser mais longo no grupo de crianccedilas sem constipaccedilatildeo32

153 Aleitamento artificial

No primeiro ano de vida satildeo frequentes as reaccedilotildees adversas ao leite de vaca Aleacutem

de sintomas respiratoacuterios e dermatoloacutegicos tambeacutem foram verificados sintomas

gastrintestinais como a constipaccedilatildeo intestinal e sangue nas fezes33-37

Em 2008 foram avaliadas durante um ano 555 crianccedilas nascidas consecutivamente

em um hospital Apenas 27 delas apresentaram reaccedilatildeo aleacutergica ao leite de vaca e somente

uma manifestou como sintoma a constipaccedilatildeo33

Na Turquia foi realizado um estudo retrospectivo com dois grupos de 30 crianccedilas

com idades compreendidas entre quatro meses e trecircs anos O grupo I foi constituiacutedo de

crianccedilas com fissura anal e constipaccedilatildeo crocircnica e que natildeo apresentavam necessidade de

cirurgia e o grupo II incluiu crianccedilas normais O consumo diaacuterio de leite de vaca a

duraccedilatildeo do aleitamento materno e outras caracteriacutesticas cliacutenicas das crianccedilas foram

21

investigadas O consumo meacutedio diaacuterio de leite de vaca foi maior (plt0001) e o tempo de

amamentaccedilatildeo foi mais curto no grupo I (plt0001 e plt0006 respectivamente) O risco

(odds ratio) de constipaccedilatildeo quando presentes cada um desses fatores foi de 86 (intervalo

de confianccedila - IC95 023-074 p=00005) e 57 (IC 95 037-066 p=0007)

respectivamente As crianccedilas que consumiam mais quantidade de leite de vaca

apresentaram risco oito vezes mais alto de desenvolver constipaccedilatildeo e fissura anal assim

como naqueles com duraccedilatildeo mais curta do aleitamento materno o risco foi cinco vezes

mais alto Os pesquisadores preconizam atraso na introduccedilatildeo do leite de vaca e o

consequente aumento no tempo do aleitamento materno34

Em outra pesquisa 27 crianccedilas com idades entre cinco e 36 meses e com

constipaccedilatildeo intestinal crocircnica idiopaacutetica foram investigadas na possiacutevel relaccedilatildeo entre

constipaccedilatildeo e alergia agrave proteiacutena do leite de vaca Inicialmente elas foram observadas

consumindo dieta sem restriccedilotildees e registrava-se o nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias

Posteriormente receberam dieta sem a proteiacutena do leite de vaca por dois periacuteodos de um

mecircs separados por dois desafios com a proteiacutena do leite de vaca Durante a dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca 21 apresentaram melhora dos sintomas e durante os dois desafios

consecutivos a constipaccedilatildeo reapareceu no periacuteodo de 48 a 72 horas A dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca natildeo melhorou a constipaccedilatildeo em seis pacientes Apenas quatro que

melhoraram com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca manifestaram sintomas de

alergia ao leite de vaca Histoacuteria meacutedica de alergia ao leite de vaca foi encontrada em 15

dos 21 pacientes curados e em apenas um dos seis que natildeo melhoraram (plt005) Ainda

nos 15 dos 21 curados os resultados de um ou mais testes laboratoriais (dosagem de

imunoglobulinas E e G ndash IgE IgG antiβ lactoglobulina e eosinoacutefilos circulantes) foram

positivos no momento do diagnoacutestico indicando hipersensibilidade comparados com um

dos seis pacientes que natildeo tinham melhorado (plt 0005) Os resultados encontrados na

endoscopia e histologia no momento do diagnoacutestico mostraram proctite monociacutetica com

infiltraccedilatildeo em duas crianccedilas curadas com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca depois

de um mecircs da dieta eles estavam completamente normais A conclusatildeo foi que a

constipaccedilatildeo pode ter patogecircnese aleacutergica35

Em 1995 Hyams et al desenvolveram um estudo prospectivo duplo-cego para

avaliar o efeito das foacutermulas nas caracteriacutesticas das fezes de lactentes Foram selecionadas

crianccedilas saudaacuteveis com um mecircs de idade e acompanhadas por 14 dias Os autores

demonstraram que aquelas alimentadas com leite materno apresentaram maior frequecircncia

22

evacuatoacuteria (p lt 0001) e fezes mais macias (p lt 00001) do que as alimentadas com

foacutermulas laacutecteas36

154 Fibra alimentar

As fibras alimentares satildeo habitualmente consideradas importantes para a prevenccedilatildeo

da constipaccedilatildeo Acredita-se que a sua introduccedilatildeo na alimentaccedilatildeo complementar de forma

equilibrada certamente contribuiraacute para a pouca ocorrecircncia desse distuacuterbio no primeiro ano

de vida37

poreacutem existem poucos trabalhos sobre o consumo de fibras por lactentes Os

resultados encontrados demonstram que a fibra alimentar desempenha papel ainda natildeo

comprovado25

No jaacute mencionado estudo de Aguirre et al (2002) que avaliou a relaccedilatildeo entre o

tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal em 275 lactentes descreveu-se a

implicaccedilatildeo do uso de fibra alimentar Para os lactentes de seis a 24 meses a comparaccedilatildeo

do consumo de fibra alimentar por aqueles com constipaccedilatildeo (mediana=90g percentis 25 e

75 69-131g) e pelos demais com haacutebito intestinal normal natildeo demonstrou diferenccedilas

significativas (mediana=88 percentis 25 e 75 61-129g) (p=057)14

Em trecircs localidades da Greacutecia foi considerada uma amostra randomizada de

crianccedilas (291 com constipaccedilatildeo e 1602 controles) com idades entre dois e 14 anos

Realizou-se o registro alimentar de trecircs dias e a histoacuteria dieteacutetica para avaliar a ingestatildeo

alimentar A ingestatildeo da fibra alimentar foi estatisticamente menor na dieta das crianccedilas

constipadas em todas as faixas etaacuterias quando comparadas com o grupo-controle Os

autores salientaram que a baixa ingestatildeo de fibras na dieta de crianccedilas constipadas

independentemente da idade dos sintomas que acompanham a disfunccedilatildeo e da idade de

iniacutecio sustenta a hipoacutetese causal da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica em crianccedilas31

Segundo a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e

Nutriccedilatildeo (NASPGHAN) o uso de fibras pela crianccedila constipada ainda eacute contraditoacuterio e ateacute

que novos estudos demonstrem a eficaacutecia do tratamento com esse produto os resultados

atuais satildeo fracos para apoiar a recomendaccedilatildeo definitiva de sua suplementaccedilatildeo no

tratamento dessa morbidade25

Pesquisas mais especiacuteficas quanto ao consumo de fibras por lactentes satildeo escassas

na literatura cientiacutefica14

A aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos alimentares e a escolha de tabelas

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 12: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

23 Resultados 33

24 Discussatildeo 45

25 Conclusatildeo 49

Referecircncias 48

Anexo A - Parecer da Cacircmara do Departamento de Pediatria da UFMG 50

Anexo B - Parecer do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFMG 51

Anexo C - Parecer da Secretaria Municipal de Itauacutena 52

Apecircndice A - Questionaacuterio estruturado 53

Apecircndice B - Esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitaccedilatildeo de autorizaccedilatildeo

Apecircndice C - Escala de consistecircncia de fezes

Apecircndice D - Termo de consentimento livre e esclarecido

1 ARTIGO DE REVISAtildeO _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM

LACTENTES

14

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em

lactentes

A constipaccedilatildeo intestinal eacute um problema comum em lactentes Foi realizada revisatildeo

sistemaacutetica da literatura nos sites do PUBMED BIREME e SCIELO utilizando os

descritores constipation infant breastfeeding risk factores Para limitar os assuntos

estabeleceu-se All Infant birth-23 months A prevalecircncia da constipaccedilatildeo variou de 07 a

48 Apesar de existirem criteacuterios para diagnosticar esse distuacuterbio em lactentes muitos

autores adotam criteacuterios proacuteprios o que pode fazer com que a prevalecircncia varie muito de

um trabalho para outro Quanto aos fatores de risco observou-se que os componentes

constitucionais e hereditaacuterios estatildeo presentes em pais irmatildeos e tios das crianccedilas

constipadas Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno se constitui em

um fator de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo Pesquisas demonstram que

o consumo do leite de vaca e de foacutermulas contribui para o surgimento desse evento no

primeiro ano de vida Existem poucas investigaccedilotildees sobre o consumo de fibras alimentares

em lactentes e em crianccedilas constipadas sua utilizaccedilatildeo como suplemento ainda eacute

controversa Estudos sobre prevalecircncia com caracterizaccedilatildeo especiacutefica para lactentes com

fatores de risco associados agrave constipaccedilatildeo poderatildeo trazer melhor compreensatildeo do impacto

da morbidade dessa doenccedila e favorecer melhor tratamento e prevenccedilatildeo

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with chronic functional constipation in infants

Infant intestinal constipation is a common problem A non-systematic literature

review was performed on PUBMED BIREME and SCIELO using the following key

concepts constipation infant epidemiology and risk factors The term All Infant birth-23

months was selected for the specific search The prevalence of constipation varied from 07

to 48 Criteria for the diagnosis of this disorder in infants are available but many authors

adopt their own criteria which may result in a large prevalence variation between the

several studies conducted With regards to the risk factors it was observed that parents

brothers and uncles of the constipated children present the constitutional and hereditary

components Some studies have shown that the maternal breastfeeding is a protection

factor against the constipation development Researches have confirmed that the

consumption of cowrsquos milk and formulas favor the occurrence of this event in the first year

of life There are few investigations made regarding the consumption of alimentary fibers

by infants and therefore the utilization as a nutritional supplement is still controversial

The development of prevalence studies oriented specifically to infants with risk factors

associated to constipation may provide a better comprehension of the morbosity impact of

this disease as well as an improved treatment and prevention

Key-words Constipation Infant Epidemiology Risk factors

15

11 Introduccedilatildeo

Em todo o mundo a constipaccedilatildeo intestinal (CI) em lactentes eacute uma morbidade de

significativa relevacircncia Na literatura cientiacutefica existe ampla variaccedilatildeo na prevalecircncia dessa

doenccedila em crianccedilas o que revela a existecircncia de fatores que alteram a sua distribuiccedilatildeo ou

problemas relacionados agrave sua definiccedilatildeo ou nomenclatura

Geralmente pais de lactentes satildeo muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e qualquer

modificaccedilatildeo do haacutebito intestinal os leva a buscar assistecircncia meacutedica1

Estudos demonstram que importante proporccedilatildeo de crianccedilas com constipaccedilatildeo

intestinal inicia o quadro no primeiro ano de vida2-4

Durante os dois primeiros anos de

vida a constipaccedilatildeo intestinal pode ser causada por fatores orgacircnicos ou funcionais Entre

os fatores orgacircnicos a doenccedila de Hirschsprung as anomalias anorretais as doenccedilas

metaboacutelicas e as doenccedilas endocrinoloacutegicas como o hipotireoidismo devem sempre ser

lembradas5 Entretanto os quadros funcionais satildeo muito mais frequentes

6

As pesquisas realizadas ateacute o momento identificam a baixa ingestatildeo hiacutedrica os

fatores constitucionais e o desmame precoce como marcadores envolvidos no

desenvolvimento dessa morbidade7 O aleitamento artificial que se segue ao desmame

parece ser o principal deles8 Contudo mais estudos satildeo necessaacuterios natildeo apenas para

confirmar essa associaccedilatildeo mas tambeacutem para avaliar como os outros aspectos alimentares

relativos ao desmame participam das mudanccedilas do haacutebito alimentar protegendo ou

precipitando o surgimento dos transtornos evacuatoacuterios9

12 Meacutetodo

Realizou-se levantamento bibliograacutefico mediante consulta agrave base de dados

PUBMED BIREME e SCIELO considerando-se preferencialmente artigos na liacutengua

inglesa publicados nos uacuteltimos 10 anos entre 1998 e 2008 As publicaccedilotildees eram referentes

agrave prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em lactentes Para a busca foram

consideradas as palavras-chave constipation epidemiology infant breastfeeding risk

factors Esses termos foram determinados apoacutes consulta aos descritores em sauacutede (DeCs)

disponiacuteveis na BIREME Foram estabelecidos ainda os seguintes limites estudos com

humanos artigos referentes a ensaios cliacutenicos metanaacutelises ensaios randomizados

controlados e artigos de revisatildeo faixa etaacuteria de zero a dois anos

16

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo

A adequada definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal eacute importante para identificar de

forma precoce o paciente que apresenta a morbidade diminuindo o risco de complicaccedilotildees

e o custo do tratamento10

Em estudos cientiacuteficos epidemioloacutegicos a dificuldade na definiccedilatildeo da morbidade eacute

facilmente percebida As diferentes taxas epidemioloacutegicas relatadas na literatura ressaltam

que a identificaccedilatildeo do problema natildeo eacute tatildeo faacutecil quanto possa parecer1112

Assim alguns

autores tecircm adotado criteacuterios proacuteprios para identificar pacientes constipados incluindo

defecaccedilatildeo infrequente fezes duras dificuldade ou passagem de fezes dolorosas sem

uniformizaccedilatildeo na definiccedilatildeo e na caracterizaccedilatildeo desses sintomas13-19

A preocupaccedilatildeo em encontrar um consenso para a definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal existe haacute algumas deacutecadas20

Um dos conceitos mais adotados em pesquisas

cientiacuteficas estabelece como criteacuterio a frequecircncia evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por

semana315

Esse criteacuterio eacute adotado para a populaccedilatildeo adulta poreacutem eacute falho para crianccedilas

principalmente para as menores de quatro anos21

A Tabela 1 apresenta a frequecircncia

evacuatoacuteria da crianccedila estabelecida por Fontana et al (1989)22

Observa-se que existe

acentuada variaccedilatildeo desse paracircmetro nas diversas faixas etaacuterias No primeiro ano de vida a

amplitude da frequecircncia evacuatoacuteria eacute tatildeo vasta que maior valorizaccedilatildeo do paracircmetro pode

levar a erros no diagnoacutestico da morbidade22

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees

Idade Evacuaccedilotildees

por semana

Evacuaccedilotildees

por dia

0-3 meses

Aleitamento materno 5-40 29

Foacutermulas 5-28 20

6-12 meses 5-28 18

1-3 anos 4-21 14

Mais de 3 anos 3-14 10

Fonte Fontana et al (1989)22

17

A partir do consenso ROMA I o qual ofereceu definiccedilotildees iniciais para doenccedilas

funcionais do trato digestivo de adultos muito se evoluiu em termo de nomenclatura

criteacuterios e definiccedilotildees para as doenccedilas digestivas23

Esse consenso forneceu importantes definiccedilotildees para as alteraccedilotildees funcionais

pediaacutetricas23

Em relaccedilatildeo agrave constipaccedilatildeo intestinal da crianccedila as contribuiccedilotildees do Consenso

de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT)24

da Sociedade Norte-

Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo (NASGHAN)1 e de ROMA III

8

passaram a ser adotadas nos estudos que se seguiram No entanto entre eles satildeo notaacuteveis

as diferenccedilas nos criteacuterios conforme se segue

Roma II - em lactentes e crianccedilas preacute-escolares por pelo menos duas semanas fezes

em ciacutebalos com rachaduras duras na maioria das evacuaccedilotildees ou duas ou menos

evacuaccedilotildees de fezes firmes por semana natildeo havendo evidecircncia de doenccedila

estrutural endoacutecrina ou metaboacutelica23

Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT) - um

periacuteodo de oito semanas com pelo menos dois dos seguintes sintomas frequecircncia

evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por semana incontinecircncia fecal acima de uma vez

por semana passagem de fezes grandes que podem entupir o vaso sanitaacuterio massa

fecal palpaacutevel no abdocircmen ou no reto comportamento de retenccedilatildeo de fezes ou

defecaccedilatildeo dolorosa24

Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo

(NASPGHAN) - atraso ou dificuldade de evacuar presente por duas ou mais

semanas e suficiente para causar desconforto ao paciente25

Roma III - em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade no periacuteodo de 30

dias pelo menos dois dos seguintes itens duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao

menos um episoacutedio de incontinecircncia por semana apoacutes a habilidade para utilizar o

banheiro histoacuteria de retenccedilatildeo excessiva de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis

presenccedila de grande massa fecal no reto e fezes com grande diacircmetro e que podem

obstruir o vaso sanitaacuterio A esses sintomas associam-se a irritabilidade a falta de

apetite eou a saciedade precoce Todos podem desaparecer apoacutes a eliminaccedilatildeo das

fezes8

18

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes

A real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal em lactentes natildeo foi ateacute o momento

adequadamente estabelecida De acordo com as pesquisas mais recentes os iacutendices variam

de 0726

a 4825

Para ilustrar essas divergecircncias na prevalecircncia da morbidade foi demonstrada no

Tabela 1 uma seacuterie de estudos realizados entre os anos de 1998 e 2008

Tabela 1 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008)

Estudo Paiacutes

Ano

Delineamento N Idade Criteacuterio

definido por

Prevalecircncia

Motta et al13

Brasil 1998 Transversal 536 0ndash11 a Autor 218 0-239 m

Aguirre et al14

Brasil 2000 Transversal 275 0ndash25 a Autor 251

Souza et al15

Brasil 2001 Transversal 289 1m-4 a Percepccedilatildeo matildee 153 0-239 m

Del Ciampo et al16

Brasil 2002 Transversal 313 1ndash10 a Autor 268

Miele et al 26

Itaacutelia 2004 Longitudinal 9660 0ndash12 a Roma II 07

Corazziari et al 27

Itaacutelia 2005 Longitudinal 2680 0ndash12 a Autor 52 0-239 m

Iacono et al3 Itaacutelia 2005 Longitudinal 2879 0ndash05 a Autor 176

Loening-Bauke2 EUA 2005 Transversal 4157 0ndash2 a NASPGHAN

ou Roma II

29 1 a

101 2 a

Ludvigsson et al28

Sueacutecia 2006 Longitudinal 8431 0ndash25 a Percepccedilatildeo matildee 65

Boccia et al25

Itaacutelia 2007 Longitudinal 126 0ndash18 a Roma II e

PACCT

Roma II15-lt4a

PACCT48-lt4a

Medeiros et al19

Brasil 2007 Transversal 561 0ndash19 a Autor 191 0-239 m

Pina et al29

Espanha2008 Transversal 3487 0ndash4 m Autor 61

A = ano m = mecircs

A grande diferenccedila encontrada pode ser explicada pelas divergecircncias no criteacuterio

utilizado para definir a constipaccedilatildeo intestinal pelo delineamento do estudo realizado e pela

faixa etaacuteria considerada

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo especificamente em lactentes foi determinada em

apenas nove desses estudos2313-151927-29

Desses autores apenas um adotou criteacuterio

internacional na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo13

Os demais empregaram princiacutepio

19

proacuteprio2313-1527-29

sendo que nos estudos de Ludvigsson28

e Souza15

o criteacuterio utilizado

para diagnosticar os lactentes constipados foi a percepccedilatildeo das matildees

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias

A literatura mostra a ocorrecircncia de constipaccedilatildeo entre os familiares das crianccedilas

constipadas3031

Na Espanha em 2005 foi realizado um estudo de caso-controle para avaliar os

fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo infantil Foram incluiacutedas crianccedilas

com idades entre quatro meses e 15 anos e que apresentavam quadro de constipaccedilatildeo

crocircnica Seus controles eram as crianccedilas imediatamente atendidas sem histoacuteria preacutevia de

constipaccedilatildeo No grupo-controle 351 das crianccedilas apresentavam histoacuteria familiar com

quadro de constipaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com 542 do grupo em estudo cuja diferenccedila foi

significativa entre os grupos (plt0001) Na situaccedilatildeo pais separados a matildee apresentou mais

frequecircncia de constipaccedilatildeo no grupo de crianccedilas constipadas em relaccedilatildeo ao grupo-controle

956 e 286 respectivamente (plt0001)30

Na investigaccedilatildeo de Roma et al (1999)31

que avaliou a presenccedila de constipaccedilatildeo em

crianccedilas de dois a 14 anos identificou-se histoacuteria familiar positiva para o distuacuterbio (pais ou

irmatildeos) em 625 das crianccedilas constipadas e em 303 dos familiares dos indiviacuteduos

controles (p lt0000001) A prevalecircncia de constipaccedilatildeo crocircnica em crianccedilas foi de 34 se

nenhum dos pais manifestava o problema 103 se um dos pais estava constipado e

485 se ambos (p lt00001)31

152 Aleitamento materno

Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno constitui-se em fator

de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal na crianccedila314

Iacono et al (2005)3 desenvolveram uma pesquisa para avaliar a frequecircncia dos

sintomas gastrintestinais mais comuns durante os primeiros seis meses de vida e avaliar a

influecircncia de algumas variaacuteveis sobre o aparecimento dos sintomas Foram acompanhadas

20

2879 crianccedilas do nascimento ateacute os seis meses de vida A constipaccedilatildeo esteve presente em

507 e foi diagnosticada em idades entre 27 e 33 dias Os lactentes constipados natildeo

apresentaram diferenccedila na comparaccedilatildeo com aqueles sem a morbidade em relaccedilatildeo ao peso

ao nascer idade gestacional idade e niacutevel de ensino da matildee e do pai No entanto o nuacutemero

foi significativamente mais baixo na frequecircncia do aleitamento materno em relaccedilatildeo agraves

crianccedilas sem constipaccedilatildeo (763 versus 849 p=0007)3

A relaccedilatildeo entre o tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal foi

analisada em 275 lactentes atendidos consecutivamente no periacuteodo de dezembro de 1996 a

dezembro de 1997 concluindo-se que o aleitamento natural predominante eacute um fator de

proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo no primeiro semestre de vida14

Em um estudo de caso-controle realizado em um ambulatoacuterio de pediatria no

periacuteodo de outubro de 1997 a abril de 1999 foram acompanhados dois grupos de crianccedilas

com idades entre dois e 12 anos O primeiro grupo foi constituiacutedo de crianccedilas com

diagnoacutestico de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional e o segundo de crianccedilas com haacutebito

intestinal normal (grupo-controle) pareadas ao primeiro de acordo com o gecircnero e a faixa

etaacuteria Nos dois grupos foi aplicado um questionaacuterio padronizado para obter informaccedilotildees

sobre as caracteriacutesticas do haacutebito intestinal iniacutecio dos sintomas e o periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo Os autores concluiacuteram que houve tendecircncia ao periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo ser mais longo no grupo de crianccedilas sem constipaccedilatildeo32

153 Aleitamento artificial

No primeiro ano de vida satildeo frequentes as reaccedilotildees adversas ao leite de vaca Aleacutem

de sintomas respiratoacuterios e dermatoloacutegicos tambeacutem foram verificados sintomas

gastrintestinais como a constipaccedilatildeo intestinal e sangue nas fezes33-37

Em 2008 foram avaliadas durante um ano 555 crianccedilas nascidas consecutivamente

em um hospital Apenas 27 delas apresentaram reaccedilatildeo aleacutergica ao leite de vaca e somente

uma manifestou como sintoma a constipaccedilatildeo33

Na Turquia foi realizado um estudo retrospectivo com dois grupos de 30 crianccedilas

com idades compreendidas entre quatro meses e trecircs anos O grupo I foi constituiacutedo de

crianccedilas com fissura anal e constipaccedilatildeo crocircnica e que natildeo apresentavam necessidade de

cirurgia e o grupo II incluiu crianccedilas normais O consumo diaacuterio de leite de vaca a

duraccedilatildeo do aleitamento materno e outras caracteriacutesticas cliacutenicas das crianccedilas foram

21

investigadas O consumo meacutedio diaacuterio de leite de vaca foi maior (plt0001) e o tempo de

amamentaccedilatildeo foi mais curto no grupo I (plt0001 e plt0006 respectivamente) O risco

(odds ratio) de constipaccedilatildeo quando presentes cada um desses fatores foi de 86 (intervalo

de confianccedila - IC95 023-074 p=00005) e 57 (IC 95 037-066 p=0007)

respectivamente As crianccedilas que consumiam mais quantidade de leite de vaca

apresentaram risco oito vezes mais alto de desenvolver constipaccedilatildeo e fissura anal assim

como naqueles com duraccedilatildeo mais curta do aleitamento materno o risco foi cinco vezes

mais alto Os pesquisadores preconizam atraso na introduccedilatildeo do leite de vaca e o

consequente aumento no tempo do aleitamento materno34

Em outra pesquisa 27 crianccedilas com idades entre cinco e 36 meses e com

constipaccedilatildeo intestinal crocircnica idiopaacutetica foram investigadas na possiacutevel relaccedilatildeo entre

constipaccedilatildeo e alergia agrave proteiacutena do leite de vaca Inicialmente elas foram observadas

consumindo dieta sem restriccedilotildees e registrava-se o nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias

Posteriormente receberam dieta sem a proteiacutena do leite de vaca por dois periacuteodos de um

mecircs separados por dois desafios com a proteiacutena do leite de vaca Durante a dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca 21 apresentaram melhora dos sintomas e durante os dois desafios

consecutivos a constipaccedilatildeo reapareceu no periacuteodo de 48 a 72 horas A dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca natildeo melhorou a constipaccedilatildeo em seis pacientes Apenas quatro que

melhoraram com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca manifestaram sintomas de

alergia ao leite de vaca Histoacuteria meacutedica de alergia ao leite de vaca foi encontrada em 15

dos 21 pacientes curados e em apenas um dos seis que natildeo melhoraram (plt005) Ainda

nos 15 dos 21 curados os resultados de um ou mais testes laboratoriais (dosagem de

imunoglobulinas E e G ndash IgE IgG antiβ lactoglobulina e eosinoacutefilos circulantes) foram

positivos no momento do diagnoacutestico indicando hipersensibilidade comparados com um

dos seis pacientes que natildeo tinham melhorado (plt 0005) Os resultados encontrados na

endoscopia e histologia no momento do diagnoacutestico mostraram proctite monociacutetica com

infiltraccedilatildeo em duas crianccedilas curadas com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca depois

de um mecircs da dieta eles estavam completamente normais A conclusatildeo foi que a

constipaccedilatildeo pode ter patogecircnese aleacutergica35

Em 1995 Hyams et al desenvolveram um estudo prospectivo duplo-cego para

avaliar o efeito das foacutermulas nas caracteriacutesticas das fezes de lactentes Foram selecionadas

crianccedilas saudaacuteveis com um mecircs de idade e acompanhadas por 14 dias Os autores

demonstraram que aquelas alimentadas com leite materno apresentaram maior frequecircncia

22

evacuatoacuteria (p lt 0001) e fezes mais macias (p lt 00001) do que as alimentadas com

foacutermulas laacutecteas36

154 Fibra alimentar

As fibras alimentares satildeo habitualmente consideradas importantes para a prevenccedilatildeo

da constipaccedilatildeo Acredita-se que a sua introduccedilatildeo na alimentaccedilatildeo complementar de forma

equilibrada certamente contribuiraacute para a pouca ocorrecircncia desse distuacuterbio no primeiro ano

de vida37

poreacutem existem poucos trabalhos sobre o consumo de fibras por lactentes Os

resultados encontrados demonstram que a fibra alimentar desempenha papel ainda natildeo

comprovado25

No jaacute mencionado estudo de Aguirre et al (2002) que avaliou a relaccedilatildeo entre o

tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal em 275 lactentes descreveu-se a

implicaccedilatildeo do uso de fibra alimentar Para os lactentes de seis a 24 meses a comparaccedilatildeo

do consumo de fibra alimentar por aqueles com constipaccedilatildeo (mediana=90g percentis 25 e

75 69-131g) e pelos demais com haacutebito intestinal normal natildeo demonstrou diferenccedilas

significativas (mediana=88 percentis 25 e 75 61-129g) (p=057)14

Em trecircs localidades da Greacutecia foi considerada uma amostra randomizada de

crianccedilas (291 com constipaccedilatildeo e 1602 controles) com idades entre dois e 14 anos

Realizou-se o registro alimentar de trecircs dias e a histoacuteria dieteacutetica para avaliar a ingestatildeo

alimentar A ingestatildeo da fibra alimentar foi estatisticamente menor na dieta das crianccedilas

constipadas em todas as faixas etaacuterias quando comparadas com o grupo-controle Os

autores salientaram que a baixa ingestatildeo de fibras na dieta de crianccedilas constipadas

independentemente da idade dos sintomas que acompanham a disfunccedilatildeo e da idade de

iniacutecio sustenta a hipoacutetese causal da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica em crianccedilas31

Segundo a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e

Nutriccedilatildeo (NASPGHAN) o uso de fibras pela crianccedila constipada ainda eacute contraditoacuterio e ateacute

que novos estudos demonstrem a eficaacutecia do tratamento com esse produto os resultados

atuais satildeo fracos para apoiar a recomendaccedilatildeo definitiva de sua suplementaccedilatildeo no

tratamento dessa morbidade25

Pesquisas mais especiacuteficas quanto ao consumo de fibras por lactentes satildeo escassas

na literatura cientiacutefica14

A aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos alimentares e a escolha de tabelas

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 13: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

1 ARTIGO DE REVISAtildeO _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL CROcircNICA FUNCIONAL EM

LACTENTES

14

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em

lactentes

A constipaccedilatildeo intestinal eacute um problema comum em lactentes Foi realizada revisatildeo

sistemaacutetica da literatura nos sites do PUBMED BIREME e SCIELO utilizando os

descritores constipation infant breastfeeding risk factores Para limitar os assuntos

estabeleceu-se All Infant birth-23 months A prevalecircncia da constipaccedilatildeo variou de 07 a

48 Apesar de existirem criteacuterios para diagnosticar esse distuacuterbio em lactentes muitos

autores adotam criteacuterios proacuteprios o que pode fazer com que a prevalecircncia varie muito de

um trabalho para outro Quanto aos fatores de risco observou-se que os componentes

constitucionais e hereditaacuterios estatildeo presentes em pais irmatildeos e tios das crianccedilas

constipadas Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno se constitui em

um fator de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo Pesquisas demonstram que

o consumo do leite de vaca e de foacutermulas contribui para o surgimento desse evento no

primeiro ano de vida Existem poucas investigaccedilotildees sobre o consumo de fibras alimentares

em lactentes e em crianccedilas constipadas sua utilizaccedilatildeo como suplemento ainda eacute

controversa Estudos sobre prevalecircncia com caracterizaccedilatildeo especiacutefica para lactentes com

fatores de risco associados agrave constipaccedilatildeo poderatildeo trazer melhor compreensatildeo do impacto

da morbidade dessa doenccedila e favorecer melhor tratamento e prevenccedilatildeo

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with chronic functional constipation in infants

Infant intestinal constipation is a common problem A non-systematic literature

review was performed on PUBMED BIREME and SCIELO using the following key

concepts constipation infant epidemiology and risk factors The term All Infant birth-23

months was selected for the specific search The prevalence of constipation varied from 07

to 48 Criteria for the diagnosis of this disorder in infants are available but many authors

adopt their own criteria which may result in a large prevalence variation between the

several studies conducted With regards to the risk factors it was observed that parents

brothers and uncles of the constipated children present the constitutional and hereditary

components Some studies have shown that the maternal breastfeeding is a protection

factor against the constipation development Researches have confirmed that the

consumption of cowrsquos milk and formulas favor the occurrence of this event in the first year

of life There are few investigations made regarding the consumption of alimentary fibers

by infants and therefore the utilization as a nutritional supplement is still controversial

The development of prevalence studies oriented specifically to infants with risk factors

associated to constipation may provide a better comprehension of the morbosity impact of

this disease as well as an improved treatment and prevention

Key-words Constipation Infant Epidemiology Risk factors

15

11 Introduccedilatildeo

Em todo o mundo a constipaccedilatildeo intestinal (CI) em lactentes eacute uma morbidade de

significativa relevacircncia Na literatura cientiacutefica existe ampla variaccedilatildeo na prevalecircncia dessa

doenccedila em crianccedilas o que revela a existecircncia de fatores que alteram a sua distribuiccedilatildeo ou

problemas relacionados agrave sua definiccedilatildeo ou nomenclatura

Geralmente pais de lactentes satildeo muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e qualquer

modificaccedilatildeo do haacutebito intestinal os leva a buscar assistecircncia meacutedica1

Estudos demonstram que importante proporccedilatildeo de crianccedilas com constipaccedilatildeo

intestinal inicia o quadro no primeiro ano de vida2-4

Durante os dois primeiros anos de

vida a constipaccedilatildeo intestinal pode ser causada por fatores orgacircnicos ou funcionais Entre

os fatores orgacircnicos a doenccedila de Hirschsprung as anomalias anorretais as doenccedilas

metaboacutelicas e as doenccedilas endocrinoloacutegicas como o hipotireoidismo devem sempre ser

lembradas5 Entretanto os quadros funcionais satildeo muito mais frequentes

6

As pesquisas realizadas ateacute o momento identificam a baixa ingestatildeo hiacutedrica os

fatores constitucionais e o desmame precoce como marcadores envolvidos no

desenvolvimento dessa morbidade7 O aleitamento artificial que se segue ao desmame

parece ser o principal deles8 Contudo mais estudos satildeo necessaacuterios natildeo apenas para

confirmar essa associaccedilatildeo mas tambeacutem para avaliar como os outros aspectos alimentares

relativos ao desmame participam das mudanccedilas do haacutebito alimentar protegendo ou

precipitando o surgimento dos transtornos evacuatoacuterios9

12 Meacutetodo

Realizou-se levantamento bibliograacutefico mediante consulta agrave base de dados

PUBMED BIREME e SCIELO considerando-se preferencialmente artigos na liacutengua

inglesa publicados nos uacuteltimos 10 anos entre 1998 e 2008 As publicaccedilotildees eram referentes

agrave prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em lactentes Para a busca foram

consideradas as palavras-chave constipation epidemiology infant breastfeeding risk

factors Esses termos foram determinados apoacutes consulta aos descritores em sauacutede (DeCs)

disponiacuteveis na BIREME Foram estabelecidos ainda os seguintes limites estudos com

humanos artigos referentes a ensaios cliacutenicos metanaacutelises ensaios randomizados

controlados e artigos de revisatildeo faixa etaacuteria de zero a dois anos

16

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo

A adequada definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal eacute importante para identificar de

forma precoce o paciente que apresenta a morbidade diminuindo o risco de complicaccedilotildees

e o custo do tratamento10

Em estudos cientiacuteficos epidemioloacutegicos a dificuldade na definiccedilatildeo da morbidade eacute

facilmente percebida As diferentes taxas epidemioloacutegicas relatadas na literatura ressaltam

que a identificaccedilatildeo do problema natildeo eacute tatildeo faacutecil quanto possa parecer1112

Assim alguns

autores tecircm adotado criteacuterios proacuteprios para identificar pacientes constipados incluindo

defecaccedilatildeo infrequente fezes duras dificuldade ou passagem de fezes dolorosas sem

uniformizaccedilatildeo na definiccedilatildeo e na caracterizaccedilatildeo desses sintomas13-19

A preocupaccedilatildeo em encontrar um consenso para a definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal existe haacute algumas deacutecadas20

Um dos conceitos mais adotados em pesquisas

cientiacuteficas estabelece como criteacuterio a frequecircncia evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por

semana315

Esse criteacuterio eacute adotado para a populaccedilatildeo adulta poreacutem eacute falho para crianccedilas

principalmente para as menores de quatro anos21

A Tabela 1 apresenta a frequecircncia

evacuatoacuteria da crianccedila estabelecida por Fontana et al (1989)22

Observa-se que existe

acentuada variaccedilatildeo desse paracircmetro nas diversas faixas etaacuterias No primeiro ano de vida a

amplitude da frequecircncia evacuatoacuteria eacute tatildeo vasta que maior valorizaccedilatildeo do paracircmetro pode

levar a erros no diagnoacutestico da morbidade22

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees

Idade Evacuaccedilotildees

por semana

Evacuaccedilotildees

por dia

0-3 meses

Aleitamento materno 5-40 29

Foacutermulas 5-28 20

6-12 meses 5-28 18

1-3 anos 4-21 14

Mais de 3 anos 3-14 10

Fonte Fontana et al (1989)22

17

A partir do consenso ROMA I o qual ofereceu definiccedilotildees iniciais para doenccedilas

funcionais do trato digestivo de adultos muito se evoluiu em termo de nomenclatura

criteacuterios e definiccedilotildees para as doenccedilas digestivas23

Esse consenso forneceu importantes definiccedilotildees para as alteraccedilotildees funcionais

pediaacutetricas23

Em relaccedilatildeo agrave constipaccedilatildeo intestinal da crianccedila as contribuiccedilotildees do Consenso

de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT)24

da Sociedade Norte-

Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo (NASGHAN)1 e de ROMA III

8

passaram a ser adotadas nos estudos que se seguiram No entanto entre eles satildeo notaacuteveis

as diferenccedilas nos criteacuterios conforme se segue

Roma II - em lactentes e crianccedilas preacute-escolares por pelo menos duas semanas fezes

em ciacutebalos com rachaduras duras na maioria das evacuaccedilotildees ou duas ou menos

evacuaccedilotildees de fezes firmes por semana natildeo havendo evidecircncia de doenccedila

estrutural endoacutecrina ou metaboacutelica23

Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT) - um

periacuteodo de oito semanas com pelo menos dois dos seguintes sintomas frequecircncia

evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por semana incontinecircncia fecal acima de uma vez

por semana passagem de fezes grandes que podem entupir o vaso sanitaacuterio massa

fecal palpaacutevel no abdocircmen ou no reto comportamento de retenccedilatildeo de fezes ou

defecaccedilatildeo dolorosa24

Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo

(NASPGHAN) - atraso ou dificuldade de evacuar presente por duas ou mais

semanas e suficiente para causar desconforto ao paciente25

Roma III - em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade no periacuteodo de 30

dias pelo menos dois dos seguintes itens duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao

menos um episoacutedio de incontinecircncia por semana apoacutes a habilidade para utilizar o

banheiro histoacuteria de retenccedilatildeo excessiva de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis

presenccedila de grande massa fecal no reto e fezes com grande diacircmetro e que podem

obstruir o vaso sanitaacuterio A esses sintomas associam-se a irritabilidade a falta de

apetite eou a saciedade precoce Todos podem desaparecer apoacutes a eliminaccedilatildeo das

fezes8

18

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes

A real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal em lactentes natildeo foi ateacute o momento

adequadamente estabelecida De acordo com as pesquisas mais recentes os iacutendices variam

de 0726

a 4825

Para ilustrar essas divergecircncias na prevalecircncia da morbidade foi demonstrada no

Tabela 1 uma seacuterie de estudos realizados entre os anos de 1998 e 2008

Tabela 1 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008)

Estudo Paiacutes

Ano

Delineamento N Idade Criteacuterio

definido por

Prevalecircncia

Motta et al13

Brasil 1998 Transversal 536 0ndash11 a Autor 218 0-239 m

Aguirre et al14

Brasil 2000 Transversal 275 0ndash25 a Autor 251

Souza et al15

Brasil 2001 Transversal 289 1m-4 a Percepccedilatildeo matildee 153 0-239 m

Del Ciampo et al16

Brasil 2002 Transversal 313 1ndash10 a Autor 268

Miele et al 26

Itaacutelia 2004 Longitudinal 9660 0ndash12 a Roma II 07

Corazziari et al 27

Itaacutelia 2005 Longitudinal 2680 0ndash12 a Autor 52 0-239 m

Iacono et al3 Itaacutelia 2005 Longitudinal 2879 0ndash05 a Autor 176

Loening-Bauke2 EUA 2005 Transversal 4157 0ndash2 a NASPGHAN

ou Roma II

29 1 a

101 2 a

Ludvigsson et al28

Sueacutecia 2006 Longitudinal 8431 0ndash25 a Percepccedilatildeo matildee 65

Boccia et al25

Itaacutelia 2007 Longitudinal 126 0ndash18 a Roma II e

PACCT

Roma II15-lt4a

PACCT48-lt4a

Medeiros et al19

Brasil 2007 Transversal 561 0ndash19 a Autor 191 0-239 m

Pina et al29

Espanha2008 Transversal 3487 0ndash4 m Autor 61

A = ano m = mecircs

A grande diferenccedila encontrada pode ser explicada pelas divergecircncias no criteacuterio

utilizado para definir a constipaccedilatildeo intestinal pelo delineamento do estudo realizado e pela

faixa etaacuteria considerada

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo especificamente em lactentes foi determinada em

apenas nove desses estudos2313-151927-29

Desses autores apenas um adotou criteacuterio

internacional na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo13

Os demais empregaram princiacutepio

19

proacuteprio2313-1527-29

sendo que nos estudos de Ludvigsson28

e Souza15

o criteacuterio utilizado

para diagnosticar os lactentes constipados foi a percepccedilatildeo das matildees

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias

A literatura mostra a ocorrecircncia de constipaccedilatildeo entre os familiares das crianccedilas

constipadas3031

Na Espanha em 2005 foi realizado um estudo de caso-controle para avaliar os

fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo infantil Foram incluiacutedas crianccedilas

com idades entre quatro meses e 15 anos e que apresentavam quadro de constipaccedilatildeo

crocircnica Seus controles eram as crianccedilas imediatamente atendidas sem histoacuteria preacutevia de

constipaccedilatildeo No grupo-controle 351 das crianccedilas apresentavam histoacuteria familiar com

quadro de constipaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com 542 do grupo em estudo cuja diferenccedila foi

significativa entre os grupos (plt0001) Na situaccedilatildeo pais separados a matildee apresentou mais

frequecircncia de constipaccedilatildeo no grupo de crianccedilas constipadas em relaccedilatildeo ao grupo-controle

956 e 286 respectivamente (plt0001)30

Na investigaccedilatildeo de Roma et al (1999)31

que avaliou a presenccedila de constipaccedilatildeo em

crianccedilas de dois a 14 anos identificou-se histoacuteria familiar positiva para o distuacuterbio (pais ou

irmatildeos) em 625 das crianccedilas constipadas e em 303 dos familiares dos indiviacuteduos

controles (p lt0000001) A prevalecircncia de constipaccedilatildeo crocircnica em crianccedilas foi de 34 se

nenhum dos pais manifestava o problema 103 se um dos pais estava constipado e

485 se ambos (p lt00001)31

152 Aleitamento materno

Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno constitui-se em fator

de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal na crianccedila314

Iacono et al (2005)3 desenvolveram uma pesquisa para avaliar a frequecircncia dos

sintomas gastrintestinais mais comuns durante os primeiros seis meses de vida e avaliar a

influecircncia de algumas variaacuteveis sobre o aparecimento dos sintomas Foram acompanhadas

20

2879 crianccedilas do nascimento ateacute os seis meses de vida A constipaccedilatildeo esteve presente em

507 e foi diagnosticada em idades entre 27 e 33 dias Os lactentes constipados natildeo

apresentaram diferenccedila na comparaccedilatildeo com aqueles sem a morbidade em relaccedilatildeo ao peso

ao nascer idade gestacional idade e niacutevel de ensino da matildee e do pai No entanto o nuacutemero

foi significativamente mais baixo na frequecircncia do aleitamento materno em relaccedilatildeo agraves

crianccedilas sem constipaccedilatildeo (763 versus 849 p=0007)3

A relaccedilatildeo entre o tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal foi

analisada em 275 lactentes atendidos consecutivamente no periacuteodo de dezembro de 1996 a

dezembro de 1997 concluindo-se que o aleitamento natural predominante eacute um fator de

proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo no primeiro semestre de vida14

Em um estudo de caso-controle realizado em um ambulatoacuterio de pediatria no

periacuteodo de outubro de 1997 a abril de 1999 foram acompanhados dois grupos de crianccedilas

com idades entre dois e 12 anos O primeiro grupo foi constituiacutedo de crianccedilas com

diagnoacutestico de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional e o segundo de crianccedilas com haacutebito

intestinal normal (grupo-controle) pareadas ao primeiro de acordo com o gecircnero e a faixa

etaacuteria Nos dois grupos foi aplicado um questionaacuterio padronizado para obter informaccedilotildees

sobre as caracteriacutesticas do haacutebito intestinal iniacutecio dos sintomas e o periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo Os autores concluiacuteram que houve tendecircncia ao periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo ser mais longo no grupo de crianccedilas sem constipaccedilatildeo32

153 Aleitamento artificial

No primeiro ano de vida satildeo frequentes as reaccedilotildees adversas ao leite de vaca Aleacutem

de sintomas respiratoacuterios e dermatoloacutegicos tambeacutem foram verificados sintomas

gastrintestinais como a constipaccedilatildeo intestinal e sangue nas fezes33-37

Em 2008 foram avaliadas durante um ano 555 crianccedilas nascidas consecutivamente

em um hospital Apenas 27 delas apresentaram reaccedilatildeo aleacutergica ao leite de vaca e somente

uma manifestou como sintoma a constipaccedilatildeo33

Na Turquia foi realizado um estudo retrospectivo com dois grupos de 30 crianccedilas

com idades compreendidas entre quatro meses e trecircs anos O grupo I foi constituiacutedo de

crianccedilas com fissura anal e constipaccedilatildeo crocircnica e que natildeo apresentavam necessidade de

cirurgia e o grupo II incluiu crianccedilas normais O consumo diaacuterio de leite de vaca a

duraccedilatildeo do aleitamento materno e outras caracteriacutesticas cliacutenicas das crianccedilas foram

21

investigadas O consumo meacutedio diaacuterio de leite de vaca foi maior (plt0001) e o tempo de

amamentaccedilatildeo foi mais curto no grupo I (plt0001 e plt0006 respectivamente) O risco

(odds ratio) de constipaccedilatildeo quando presentes cada um desses fatores foi de 86 (intervalo

de confianccedila - IC95 023-074 p=00005) e 57 (IC 95 037-066 p=0007)

respectivamente As crianccedilas que consumiam mais quantidade de leite de vaca

apresentaram risco oito vezes mais alto de desenvolver constipaccedilatildeo e fissura anal assim

como naqueles com duraccedilatildeo mais curta do aleitamento materno o risco foi cinco vezes

mais alto Os pesquisadores preconizam atraso na introduccedilatildeo do leite de vaca e o

consequente aumento no tempo do aleitamento materno34

Em outra pesquisa 27 crianccedilas com idades entre cinco e 36 meses e com

constipaccedilatildeo intestinal crocircnica idiopaacutetica foram investigadas na possiacutevel relaccedilatildeo entre

constipaccedilatildeo e alergia agrave proteiacutena do leite de vaca Inicialmente elas foram observadas

consumindo dieta sem restriccedilotildees e registrava-se o nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias

Posteriormente receberam dieta sem a proteiacutena do leite de vaca por dois periacuteodos de um

mecircs separados por dois desafios com a proteiacutena do leite de vaca Durante a dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca 21 apresentaram melhora dos sintomas e durante os dois desafios

consecutivos a constipaccedilatildeo reapareceu no periacuteodo de 48 a 72 horas A dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca natildeo melhorou a constipaccedilatildeo em seis pacientes Apenas quatro que

melhoraram com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca manifestaram sintomas de

alergia ao leite de vaca Histoacuteria meacutedica de alergia ao leite de vaca foi encontrada em 15

dos 21 pacientes curados e em apenas um dos seis que natildeo melhoraram (plt005) Ainda

nos 15 dos 21 curados os resultados de um ou mais testes laboratoriais (dosagem de

imunoglobulinas E e G ndash IgE IgG antiβ lactoglobulina e eosinoacutefilos circulantes) foram

positivos no momento do diagnoacutestico indicando hipersensibilidade comparados com um

dos seis pacientes que natildeo tinham melhorado (plt 0005) Os resultados encontrados na

endoscopia e histologia no momento do diagnoacutestico mostraram proctite monociacutetica com

infiltraccedilatildeo em duas crianccedilas curadas com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca depois

de um mecircs da dieta eles estavam completamente normais A conclusatildeo foi que a

constipaccedilatildeo pode ter patogecircnese aleacutergica35

Em 1995 Hyams et al desenvolveram um estudo prospectivo duplo-cego para

avaliar o efeito das foacutermulas nas caracteriacutesticas das fezes de lactentes Foram selecionadas

crianccedilas saudaacuteveis com um mecircs de idade e acompanhadas por 14 dias Os autores

demonstraram que aquelas alimentadas com leite materno apresentaram maior frequecircncia

22

evacuatoacuteria (p lt 0001) e fezes mais macias (p lt 00001) do que as alimentadas com

foacutermulas laacutecteas36

154 Fibra alimentar

As fibras alimentares satildeo habitualmente consideradas importantes para a prevenccedilatildeo

da constipaccedilatildeo Acredita-se que a sua introduccedilatildeo na alimentaccedilatildeo complementar de forma

equilibrada certamente contribuiraacute para a pouca ocorrecircncia desse distuacuterbio no primeiro ano

de vida37

poreacutem existem poucos trabalhos sobre o consumo de fibras por lactentes Os

resultados encontrados demonstram que a fibra alimentar desempenha papel ainda natildeo

comprovado25

No jaacute mencionado estudo de Aguirre et al (2002) que avaliou a relaccedilatildeo entre o

tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal em 275 lactentes descreveu-se a

implicaccedilatildeo do uso de fibra alimentar Para os lactentes de seis a 24 meses a comparaccedilatildeo

do consumo de fibra alimentar por aqueles com constipaccedilatildeo (mediana=90g percentis 25 e

75 69-131g) e pelos demais com haacutebito intestinal normal natildeo demonstrou diferenccedilas

significativas (mediana=88 percentis 25 e 75 61-129g) (p=057)14

Em trecircs localidades da Greacutecia foi considerada uma amostra randomizada de

crianccedilas (291 com constipaccedilatildeo e 1602 controles) com idades entre dois e 14 anos

Realizou-se o registro alimentar de trecircs dias e a histoacuteria dieteacutetica para avaliar a ingestatildeo

alimentar A ingestatildeo da fibra alimentar foi estatisticamente menor na dieta das crianccedilas

constipadas em todas as faixas etaacuterias quando comparadas com o grupo-controle Os

autores salientaram que a baixa ingestatildeo de fibras na dieta de crianccedilas constipadas

independentemente da idade dos sintomas que acompanham a disfunccedilatildeo e da idade de

iniacutecio sustenta a hipoacutetese causal da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica em crianccedilas31

Segundo a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e

Nutriccedilatildeo (NASPGHAN) o uso de fibras pela crianccedila constipada ainda eacute contraditoacuterio e ateacute

que novos estudos demonstrem a eficaacutecia do tratamento com esse produto os resultados

atuais satildeo fracos para apoiar a recomendaccedilatildeo definitiva de sua suplementaccedilatildeo no

tratamento dessa morbidade25

Pesquisas mais especiacuteficas quanto ao consumo de fibras por lactentes satildeo escassas

na literatura cientiacutefica14

A aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos alimentares e a escolha de tabelas

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 14: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

14

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em

lactentes

A constipaccedilatildeo intestinal eacute um problema comum em lactentes Foi realizada revisatildeo

sistemaacutetica da literatura nos sites do PUBMED BIREME e SCIELO utilizando os

descritores constipation infant breastfeeding risk factores Para limitar os assuntos

estabeleceu-se All Infant birth-23 months A prevalecircncia da constipaccedilatildeo variou de 07 a

48 Apesar de existirem criteacuterios para diagnosticar esse distuacuterbio em lactentes muitos

autores adotam criteacuterios proacuteprios o que pode fazer com que a prevalecircncia varie muito de

um trabalho para outro Quanto aos fatores de risco observou-se que os componentes

constitucionais e hereditaacuterios estatildeo presentes em pais irmatildeos e tios das crianccedilas

constipadas Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno se constitui em

um fator de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo Pesquisas demonstram que

o consumo do leite de vaca e de foacutermulas contribui para o surgimento desse evento no

primeiro ano de vida Existem poucas investigaccedilotildees sobre o consumo de fibras alimentares

em lactentes e em crianccedilas constipadas sua utilizaccedilatildeo como suplemento ainda eacute

controversa Estudos sobre prevalecircncia com caracterizaccedilatildeo especiacutefica para lactentes com

fatores de risco associados agrave constipaccedilatildeo poderatildeo trazer melhor compreensatildeo do impacto

da morbidade dessa doenccedila e favorecer melhor tratamento e prevenccedilatildeo

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with chronic functional constipation in infants

Infant intestinal constipation is a common problem A non-systematic literature

review was performed on PUBMED BIREME and SCIELO using the following key

concepts constipation infant epidemiology and risk factors The term All Infant birth-23

months was selected for the specific search The prevalence of constipation varied from 07

to 48 Criteria for the diagnosis of this disorder in infants are available but many authors

adopt their own criteria which may result in a large prevalence variation between the

several studies conducted With regards to the risk factors it was observed that parents

brothers and uncles of the constipated children present the constitutional and hereditary

components Some studies have shown that the maternal breastfeeding is a protection

factor against the constipation development Researches have confirmed that the

consumption of cowrsquos milk and formulas favor the occurrence of this event in the first year

of life There are few investigations made regarding the consumption of alimentary fibers

by infants and therefore the utilization as a nutritional supplement is still controversial

The development of prevalence studies oriented specifically to infants with risk factors

associated to constipation may provide a better comprehension of the morbosity impact of

this disease as well as an improved treatment and prevention

Key-words Constipation Infant Epidemiology Risk factors

15

11 Introduccedilatildeo

Em todo o mundo a constipaccedilatildeo intestinal (CI) em lactentes eacute uma morbidade de

significativa relevacircncia Na literatura cientiacutefica existe ampla variaccedilatildeo na prevalecircncia dessa

doenccedila em crianccedilas o que revela a existecircncia de fatores que alteram a sua distribuiccedilatildeo ou

problemas relacionados agrave sua definiccedilatildeo ou nomenclatura

Geralmente pais de lactentes satildeo muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e qualquer

modificaccedilatildeo do haacutebito intestinal os leva a buscar assistecircncia meacutedica1

Estudos demonstram que importante proporccedilatildeo de crianccedilas com constipaccedilatildeo

intestinal inicia o quadro no primeiro ano de vida2-4

Durante os dois primeiros anos de

vida a constipaccedilatildeo intestinal pode ser causada por fatores orgacircnicos ou funcionais Entre

os fatores orgacircnicos a doenccedila de Hirschsprung as anomalias anorretais as doenccedilas

metaboacutelicas e as doenccedilas endocrinoloacutegicas como o hipotireoidismo devem sempre ser

lembradas5 Entretanto os quadros funcionais satildeo muito mais frequentes

6

As pesquisas realizadas ateacute o momento identificam a baixa ingestatildeo hiacutedrica os

fatores constitucionais e o desmame precoce como marcadores envolvidos no

desenvolvimento dessa morbidade7 O aleitamento artificial que se segue ao desmame

parece ser o principal deles8 Contudo mais estudos satildeo necessaacuterios natildeo apenas para

confirmar essa associaccedilatildeo mas tambeacutem para avaliar como os outros aspectos alimentares

relativos ao desmame participam das mudanccedilas do haacutebito alimentar protegendo ou

precipitando o surgimento dos transtornos evacuatoacuterios9

12 Meacutetodo

Realizou-se levantamento bibliograacutefico mediante consulta agrave base de dados

PUBMED BIREME e SCIELO considerando-se preferencialmente artigos na liacutengua

inglesa publicados nos uacuteltimos 10 anos entre 1998 e 2008 As publicaccedilotildees eram referentes

agrave prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em lactentes Para a busca foram

consideradas as palavras-chave constipation epidemiology infant breastfeeding risk

factors Esses termos foram determinados apoacutes consulta aos descritores em sauacutede (DeCs)

disponiacuteveis na BIREME Foram estabelecidos ainda os seguintes limites estudos com

humanos artigos referentes a ensaios cliacutenicos metanaacutelises ensaios randomizados

controlados e artigos de revisatildeo faixa etaacuteria de zero a dois anos

16

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo

A adequada definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal eacute importante para identificar de

forma precoce o paciente que apresenta a morbidade diminuindo o risco de complicaccedilotildees

e o custo do tratamento10

Em estudos cientiacuteficos epidemioloacutegicos a dificuldade na definiccedilatildeo da morbidade eacute

facilmente percebida As diferentes taxas epidemioloacutegicas relatadas na literatura ressaltam

que a identificaccedilatildeo do problema natildeo eacute tatildeo faacutecil quanto possa parecer1112

Assim alguns

autores tecircm adotado criteacuterios proacuteprios para identificar pacientes constipados incluindo

defecaccedilatildeo infrequente fezes duras dificuldade ou passagem de fezes dolorosas sem

uniformizaccedilatildeo na definiccedilatildeo e na caracterizaccedilatildeo desses sintomas13-19

A preocupaccedilatildeo em encontrar um consenso para a definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal existe haacute algumas deacutecadas20

Um dos conceitos mais adotados em pesquisas

cientiacuteficas estabelece como criteacuterio a frequecircncia evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por

semana315

Esse criteacuterio eacute adotado para a populaccedilatildeo adulta poreacutem eacute falho para crianccedilas

principalmente para as menores de quatro anos21

A Tabela 1 apresenta a frequecircncia

evacuatoacuteria da crianccedila estabelecida por Fontana et al (1989)22

Observa-se que existe

acentuada variaccedilatildeo desse paracircmetro nas diversas faixas etaacuterias No primeiro ano de vida a

amplitude da frequecircncia evacuatoacuteria eacute tatildeo vasta que maior valorizaccedilatildeo do paracircmetro pode

levar a erros no diagnoacutestico da morbidade22

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees

Idade Evacuaccedilotildees

por semana

Evacuaccedilotildees

por dia

0-3 meses

Aleitamento materno 5-40 29

Foacutermulas 5-28 20

6-12 meses 5-28 18

1-3 anos 4-21 14

Mais de 3 anos 3-14 10

Fonte Fontana et al (1989)22

17

A partir do consenso ROMA I o qual ofereceu definiccedilotildees iniciais para doenccedilas

funcionais do trato digestivo de adultos muito se evoluiu em termo de nomenclatura

criteacuterios e definiccedilotildees para as doenccedilas digestivas23

Esse consenso forneceu importantes definiccedilotildees para as alteraccedilotildees funcionais

pediaacutetricas23

Em relaccedilatildeo agrave constipaccedilatildeo intestinal da crianccedila as contribuiccedilotildees do Consenso

de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT)24

da Sociedade Norte-

Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo (NASGHAN)1 e de ROMA III

8

passaram a ser adotadas nos estudos que se seguiram No entanto entre eles satildeo notaacuteveis

as diferenccedilas nos criteacuterios conforme se segue

Roma II - em lactentes e crianccedilas preacute-escolares por pelo menos duas semanas fezes

em ciacutebalos com rachaduras duras na maioria das evacuaccedilotildees ou duas ou menos

evacuaccedilotildees de fezes firmes por semana natildeo havendo evidecircncia de doenccedila

estrutural endoacutecrina ou metaboacutelica23

Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT) - um

periacuteodo de oito semanas com pelo menos dois dos seguintes sintomas frequecircncia

evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por semana incontinecircncia fecal acima de uma vez

por semana passagem de fezes grandes que podem entupir o vaso sanitaacuterio massa

fecal palpaacutevel no abdocircmen ou no reto comportamento de retenccedilatildeo de fezes ou

defecaccedilatildeo dolorosa24

Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo

(NASPGHAN) - atraso ou dificuldade de evacuar presente por duas ou mais

semanas e suficiente para causar desconforto ao paciente25

Roma III - em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade no periacuteodo de 30

dias pelo menos dois dos seguintes itens duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao

menos um episoacutedio de incontinecircncia por semana apoacutes a habilidade para utilizar o

banheiro histoacuteria de retenccedilatildeo excessiva de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis

presenccedila de grande massa fecal no reto e fezes com grande diacircmetro e que podem

obstruir o vaso sanitaacuterio A esses sintomas associam-se a irritabilidade a falta de

apetite eou a saciedade precoce Todos podem desaparecer apoacutes a eliminaccedilatildeo das

fezes8

18

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes

A real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal em lactentes natildeo foi ateacute o momento

adequadamente estabelecida De acordo com as pesquisas mais recentes os iacutendices variam

de 0726

a 4825

Para ilustrar essas divergecircncias na prevalecircncia da morbidade foi demonstrada no

Tabela 1 uma seacuterie de estudos realizados entre os anos de 1998 e 2008

Tabela 1 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008)

Estudo Paiacutes

Ano

Delineamento N Idade Criteacuterio

definido por

Prevalecircncia

Motta et al13

Brasil 1998 Transversal 536 0ndash11 a Autor 218 0-239 m

Aguirre et al14

Brasil 2000 Transversal 275 0ndash25 a Autor 251

Souza et al15

Brasil 2001 Transversal 289 1m-4 a Percepccedilatildeo matildee 153 0-239 m

Del Ciampo et al16

Brasil 2002 Transversal 313 1ndash10 a Autor 268

Miele et al 26

Itaacutelia 2004 Longitudinal 9660 0ndash12 a Roma II 07

Corazziari et al 27

Itaacutelia 2005 Longitudinal 2680 0ndash12 a Autor 52 0-239 m

Iacono et al3 Itaacutelia 2005 Longitudinal 2879 0ndash05 a Autor 176

Loening-Bauke2 EUA 2005 Transversal 4157 0ndash2 a NASPGHAN

ou Roma II

29 1 a

101 2 a

Ludvigsson et al28

Sueacutecia 2006 Longitudinal 8431 0ndash25 a Percepccedilatildeo matildee 65

Boccia et al25

Itaacutelia 2007 Longitudinal 126 0ndash18 a Roma II e

PACCT

Roma II15-lt4a

PACCT48-lt4a

Medeiros et al19

Brasil 2007 Transversal 561 0ndash19 a Autor 191 0-239 m

Pina et al29

Espanha2008 Transversal 3487 0ndash4 m Autor 61

A = ano m = mecircs

A grande diferenccedila encontrada pode ser explicada pelas divergecircncias no criteacuterio

utilizado para definir a constipaccedilatildeo intestinal pelo delineamento do estudo realizado e pela

faixa etaacuteria considerada

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo especificamente em lactentes foi determinada em

apenas nove desses estudos2313-151927-29

Desses autores apenas um adotou criteacuterio

internacional na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo13

Os demais empregaram princiacutepio

19

proacuteprio2313-1527-29

sendo que nos estudos de Ludvigsson28

e Souza15

o criteacuterio utilizado

para diagnosticar os lactentes constipados foi a percepccedilatildeo das matildees

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias

A literatura mostra a ocorrecircncia de constipaccedilatildeo entre os familiares das crianccedilas

constipadas3031

Na Espanha em 2005 foi realizado um estudo de caso-controle para avaliar os

fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo infantil Foram incluiacutedas crianccedilas

com idades entre quatro meses e 15 anos e que apresentavam quadro de constipaccedilatildeo

crocircnica Seus controles eram as crianccedilas imediatamente atendidas sem histoacuteria preacutevia de

constipaccedilatildeo No grupo-controle 351 das crianccedilas apresentavam histoacuteria familiar com

quadro de constipaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com 542 do grupo em estudo cuja diferenccedila foi

significativa entre os grupos (plt0001) Na situaccedilatildeo pais separados a matildee apresentou mais

frequecircncia de constipaccedilatildeo no grupo de crianccedilas constipadas em relaccedilatildeo ao grupo-controle

956 e 286 respectivamente (plt0001)30

Na investigaccedilatildeo de Roma et al (1999)31

que avaliou a presenccedila de constipaccedilatildeo em

crianccedilas de dois a 14 anos identificou-se histoacuteria familiar positiva para o distuacuterbio (pais ou

irmatildeos) em 625 das crianccedilas constipadas e em 303 dos familiares dos indiviacuteduos

controles (p lt0000001) A prevalecircncia de constipaccedilatildeo crocircnica em crianccedilas foi de 34 se

nenhum dos pais manifestava o problema 103 se um dos pais estava constipado e

485 se ambos (p lt00001)31

152 Aleitamento materno

Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno constitui-se em fator

de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal na crianccedila314

Iacono et al (2005)3 desenvolveram uma pesquisa para avaliar a frequecircncia dos

sintomas gastrintestinais mais comuns durante os primeiros seis meses de vida e avaliar a

influecircncia de algumas variaacuteveis sobre o aparecimento dos sintomas Foram acompanhadas

20

2879 crianccedilas do nascimento ateacute os seis meses de vida A constipaccedilatildeo esteve presente em

507 e foi diagnosticada em idades entre 27 e 33 dias Os lactentes constipados natildeo

apresentaram diferenccedila na comparaccedilatildeo com aqueles sem a morbidade em relaccedilatildeo ao peso

ao nascer idade gestacional idade e niacutevel de ensino da matildee e do pai No entanto o nuacutemero

foi significativamente mais baixo na frequecircncia do aleitamento materno em relaccedilatildeo agraves

crianccedilas sem constipaccedilatildeo (763 versus 849 p=0007)3

A relaccedilatildeo entre o tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal foi

analisada em 275 lactentes atendidos consecutivamente no periacuteodo de dezembro de 1996 a

dezembro de 1997 concluindo-se que o aleitamento natural predominante eacute um fator de

proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo no primeiro semestre de vida14

Em um estudo de caso-controle realizado em um ambulatoacuterio de pediatria no

periacuteodo de outubro de 1997 a abril de 1999 foram acompanhados dois grupos de crianccedilas

com idades entre dois e 12 anos O primeiro grupo foi constituiacutedo de crianccedilas com

diagnoacutestico de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional e o segundo de crianccedilas com haacutebito

intestinal normal (grupo-controle) pareadas ao primeiro de acordo com o gecircnero e a faixa

etaacuteria Nos dois grupos foi aplicado um questionaacuterio padronizado para obter informaccedilotildees

sobre as caracteriacutesticas do haacutebito intestinal iniacutecio dos sintomas e o periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo Os autores concluiacuteram que houve tendecircncia ao periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo ser mais longo no grupo de crianccedilas sem constipaccedilatildeo32

153 Aleitamento artificial

No primeiro ano de vida satildeo frequentes as reaccedilotildees adversas ao leite de vaca Aleacutem

de sintomas respiratoacuterios e dermatoloacutegicos tambeacutem foram verificados sintomas

gastrintestinais como a constipaccedilatildeo intestinal e sangue nas fezes33-37

Em 2008 foram avaliadas durante um ano 555 crianccedilas nascidas consecutivamente

em um hospital Apenas 27 delas apresentaram reaccedilatildeo aleacutergica ao leite de vaca e somente

uma manifestou como sintoma a constipaccedilatildeo33

Na Turquia foi realizado um estudo retrospectivo com dois grupos de 30 crianccedilas

com idades compreendidas entre quatro meses e trecircs anos O grupo I foi constituiacutedo de

crianccedilas com fissura anal e constipaccedilatildeo crocircnica e que natildeo apresentavam necessidade de

cirurgia e o grupo II incluiu crianccedilas normais O consumo diaacuterio de leite de vaca a

duraccedilatildeo do aleitamento materno e outras caracteriacutesticas cliacutenicas das crianccedilas foram

21

investigadas O consumo meacutedio diaacuterio de leite de vaca foi maior (plt0001) e o tempo de

amamentaccedilatildeo foi mais curto no grupo I (plt0001 e plt0006 respectivamente) O risco

(odds ratio) de constipaccedilatildeo quando presentes cada um desses fatores foi de 86 (intervalo

de confianccedila - IC95 023-074 p=00005) e 57 (IC 95 037-066 p=0007)

respectivamente As crianccedilas que consumiam mais quantidade de leite de vaca

apresentaram risco oito vezes mais alto de desenvolver constipaccedilatildeo e fissura anal assim

como naqueles com duraccedilatildeo mais curta do aleitamento materno o risco foi cinco vezes

mais alto Os pesquisadores preconizam atraso na introduccedilatildeo do leite de vaca e o

consequente aumento no tempo do aleitamento materno34

Em outra pesquisa 27 crianccedilas com idades entre cinco e 36 meses e com

constipaccedilatildeo intestinal crocircnica idiopaacutetica foram investigadas na possiacutevel relaccedilatildeo entre

constipaccedilatildeo e alergia agrave proteiacutena do leite de vaca Inicialmente elas foram observadas

consumindo dieta sem restriccedilotildees e registrava-se o nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias

Posteriormente receberam dieta sem a proteiacutena do leite de vaca por dois periacuteodos de um

mecircs separados por dois desafios com a proteiacutena do leite de vaca Durante a dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca 21 apresentaram melhora dos sintomas e durante os dois desafios

consecutivos a constipaccedilatildeo reapareceu no periacuteodo de 48 a 72 horas A dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca natildeo melhorou a constipaccedilatildeo em seis pacientes Apenas quatro que

melhoraram com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca manifestaram sintomas de

alergia ao leite de vaca Histoacuteria meacutedica de alergia ao leite de vaca foi encontrada em 15

dos 21 pacientes curados e em apenas um dos seis que natildeo melhoraram (plt005) Ainda

nos 15 dos 21 curados os resultados de um ou mais testes laboratoriais (dosagem de

imunoglobulinas E e G ndash IgE IgG antiβ lactoglobulina e eosinoacutefilos circulantes) foram

positivos no momento do diagnoacutestico indicando hipersensibilidade comparados com um

dos seis pacientes que natildeo tinham melhorado (plt 0005) Os resultados encontrados na

endoscopia e histologia no momento do diagnoacutestico mostraram proctite monociacutetica com

infiltraccedilatildeo em duas crianccedilas curadas com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca depois

de um mecircs da dieta eles estavam completamente normais A conclusatildeo foi que a

constipaccedilatildeo pode ter patogecircnese aleacutergica35

Em 1995 Hyams et al desenvolveram um estudo prospectivo duplo-cego para

avaliar o efeito das foacutermulas nas caracteriacutesticas das fezes de lactentes Foram selecionadas

crianccedilas saudaacuteveis com um mecircs de idade e acompanhadas por 14 dias Os autores

demonstraram que aquelas alimentadas com leite materno apresentaram maior frequecircncia

22

evacuatoacuteria (p lt 0001) e fezes mais macias (p lt 00001) do que as alimentadas com

foacutermulas laacutecteas36

154 Fibra alimentar

As fibras alimentares satildeo habitualmente consideradas importantes para a prevenccedilatildeo

da constipaccedilatildeo Acredita-se que a sua introduccedilatildeo na alimentaccedilatildeo complementar de forma

equilibrada certamente contribuiraacute para a pouca ocorrecircncia desse distuacuterbio no primeiro ano

de vida37

poreacutem existem poucos trabalhos sobre o consumo de fibras por lactentes Os

resultados encontrados demonstram que a fibra alimentar desempenha papel ainda natildeo

comprovado25

No jaacute mencionado estudo de Aguirre et al (2002) que avaliou a relaccedilatildeo entre o

tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal em 275 lactentes descreveu-se a

implicaccedilatildeo do uso de fibra alimentar Para os lactentes de seis a 24 meses a comparaccedilatildeo

do consumo de fibra alimentar por aqueles com constipaccedilatildeo (mediana=90g percentis 25 e

75 69-131g) e pelos demais com haacutebito intestinal normal natildeo demonstrou diferenccedilas

significativas (mediana=88 percentis 25 e 75 61-129g) (p=057)14

Em trecircs localidades da Greacutecia foi considerada uma amostra randomizada de

crianccedilas (291 com constipaccedilatildeo e 1602 controles) com idades entre dois e 14 anos

Realizou-se o registro alimentar de trecircs dias e a histoacuteria dieteacutetica para avaliar a ingestatildeo

alimentar A ingestatildeo da fibra alimentar foi estatisticamente menor na dieta das crianccedilas

constipadas em todas as faixas etaacuterias quando comparadas com o grupo-controle Os

autores salientaram que a baixa ingestatildeo de fibras na dieta de crianccedilas constipadas

independentemente da idade dos sintomas que acompanham a disfunccedilatildeo e da idade de

iniacutecio sustenta a hipoacutetese causal da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica em crianccedilas31

Segundo a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e

Nutriccedilatildeo (NASPGHAN) o uso de fibras pela crianccedila constipada ainda eacute contraditoacuterio e ateacute

que novos estudos demonstrem a eficaacutecia do tratamento com esse produto os resultados

atuais satildeo fracos para apoiar a recomendaccedilatildeo definitiva de sua suplementaccedilatildeo no

tratamento dessa morbidade25

Pesquisas mais especiacuteficas quanto ao consumo de fibras por lactentes satildeo escassas

na literatura cientiacutefica14

A aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos alimentares e a escolha de tabelas

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 15: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

15

11 Introduccedilatildeo

Em todo o mundo a constipaccedilatildeo intestinal (CI) em lactentes eacute uma morbidade de

significativa relevacircncia Na literatura cientiacutefica existe ampla variaccedilatildeo na prevalecircncia dessa

doenccedila em crianccedilas o que revela a existecircncia de fatores que alteram a sua distribuiccedilatildeo ou

problemas relacionados agrave sua definiccedilatildeo ou nomenclatura

Geralmente pais de lactentes satildeo muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e qualquer

modificaccedilatildeo do haacutebito intestinal os leva a buscar assistecircncia meacutedica1

Estudos demonstram que importante proporccedilatildeo de crianccedilas com constipaccedilatildeo

intestinal inicia o quadro no primeiro ano de vida2-4

Durante os dois primeiros anos de

vida a constipaccedilatildeo intestinal pode ser causada por fatores orgacircnicos ou funcionais Entre

os fatores orgacircnicos a doenccedila de Hirschsprung as anomalias anorretais as doenccedilas

metaboacutelicas e as doenccedilas endocrinoloacutegicas como o hipotireoidismo devem sempre ser

lembradas5 Entretanto os quadros funcionais satildeo muito mais frequentes

6

As pesquisas realizadas ateacute o momento identificam a baixa ingestatildeo hiacutedrica os

fatores constitucionais e o desmame precoce como marcadores envolvidos no

desenvolvimento dessa morbidade7 O aleitamento artificial que se segue ao desmame

parece ser o principal deles8 Contudo mais estudos satildeo necessaacuterios natildeo apenas para

confirmar essa associaccedilatildeo mas tambeacutem para avaliar como os outros aspectos alimentares

relativos ao desmame participam das mudanccedilas do haacutebito alimentar protegendo ou

precipitando o surgimento dos transtornos evacuatoacuterios9

12 Meacutetodo

Realizou-se levantamento bibliograacutefico mediante consulta agrave base de dados

PUBMED BIREME e SCIELO considerando-se preferencialmente artigos na liacutengua

inglesa publicados nos uacuteltimos 10 anos entre 1998 e 2008 As publicaccedilotildees eram referentes

agrave prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional em lactentes Para a busca foram

consideradas as palavras-chave constipation epidemiology infant breastfeeding risk

factors Esses termos foram determinados apoacutes consulta aos descritores em sauacutede (DeCs)

disponiacuteveis na BIREME Foram estabelecidos ainda os seguintes limites estudos com

humanos artigos referentes a ensaios cliacutenicos metanaacutelises ensaios randomizados

controlados e artigos de revisatildeo faixa etaacuteria de zero a dois anos

16

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo

A adequada definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal eacute importante para identificar de

forma precoce o paciente que apresenta a morbidade diminuindo o risco de complicaccedilotildees

e o custo do tratamento10

Em estudos cientiacuteficos epidemioloacutegicos a dificuldade na definiccedilatildeo da morbidade eacute

facilmente percebida As diferentes taxas epidemioloacutegicas relatadas na literatura ressaltam

que a identificaccedilatildeo do problema natildeo eacute tatildeo faacutecil quanto possa parecer1112

Assim alguns

autores tecircm adotado criteacuterios proacuteprios para identificar pacientes constipados incluindo

defecaccedilatildeo infrequente fezes duras dificuldade ou passagem de fezes dolorosas sem

uniformizaccedilatildeo na definiccedilatildeo e na caracterizaccedilatildeo desses sintomas13-19

A preocupaccedilatildeo em encontrar um consenso para a definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal existe haacute algumas deacutecadas20

Um dos conceitos mais adotados em pesquisas

cientiacuteficas estabelece como criteacuterio a frequecircncia evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por

semana315

Esse criteacuterio eacute adotado para a populaccedilatildeo adulta poreacutem eacute falho para crianccedilas

principalmente para as menores de quatro anos21

A Tabela 1 apresenta a frequecircncia

evacuatoacuteria da crianccedila estabelecida por Fontana et al (1989)22

Observa-se que existe

acentuada variaccedilatildeo desse paracircmetro nas diversas faixas etaacuterias No primeiro ano de vida a

amplitude da frequecircncia evacuatoacuteria eacute tatildeo vasta que maior valorizaccedilatildeo do paracircmetro pode

levar a erros no diagnoacutestico da morbidade22

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees

Idade Evacuaccedilotildees

por semana

Evacuaccedilotildees

por dia

0-3 meses

Aleitamento materno 5-40 29

Foacutermulas 5-28 20

6-12 meses 5-28 18

1-3 anos 4-21 14

Mais de 3 anos 3-14 10

Fonte Fontana et al (1989)22

17

A partir do consenso ROMA I o qual ofereceu definiccedilotildees iniciais para doenccedilas

funcionais do trato digestivo de adultos muito se evoluiu em termo de nomenclatura

criteacuterios e definiccedilotildees para as doenccedilas digestivas23

Esse consenso forneceu importantes definiccedilotildees para as alteraccedilotildees funcionais

pediaacutetricas23

Em relaccedilatildeo agrave constipaccedilatildeo intestinal da crianccedila as contribuiccedilotildees do Consenso

de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT)24

da Sociedade Norte-

Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo (NASGHAN)1 e de ROMA III

8

passaram a ser adotadas nos estudos que se seguiram No entanto entre eles satildeo notaacuteveis

as diferenccedilas nos criteacuterios conforme se segue

Roma II - em lactentes e crianccedilas preacute-escolares por pelo menos duas semanas fezes

em ciacutebalos com rachaduras duras na maioria das evacuaccedilotildees ou duas ou menos

evacuaccedilotildees de fezes firmes por semana natildeo havendo evidecircncia de doenccedila

estrutural endoacutecrina ou metaboacutelica23

Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT) - um

periacuteodo de oito semanas com pelo menos dois dos seguintes sintomas frequecircncia

evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por semana incontinecircncia fecal acima de uma vez

por semana passagem de fezes grandes que podem entupir o vaso sanitaacuterio massa

fecal palpaacutevel no abdocircmen ou no reto comportamento de retenccedilatildeo de fezes ou

defecaccedilatildeo dolorosa24

Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo

(NASPGHAN) - atraso ou dificuldade de evacuar presente por duas ou mais

semanas e suficiente para causar desconforto ao paciente25

Roma III - em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade no periacuteodo de 30

dias pelo menos dois dos seguintes itens duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao

menos um episoacutedio de incontinecircncia por semana apoacutes a habilidade para utilizar o

banheiro histoacuteria de retenccedilatildeo excessiva de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis

presenccedila de grande massa fecal no reto e fezes com grande diacircmetro e que podem

obstruir o vaso sanitaacuterio A esses sintomas associam-se a irritabilidade a falta de

apetite eou a saciedade precoce Todos podem desaparecer apoacutes a eliminaccedilatildeo das

fezes8

18

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes

A real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal em lactentes natildeo foi ateacute o momento

adequadamente estabelecida De acordo com as pesquisas mais recentes os iacutendices variam

de 0726

a 4825

Para ilustrar essas divergecircncias na prevalecircncia da morbidade foi demonstrada no

Tabela 1 uma seacuterie de estudos realizados entre os anos de 1998 e 2008

Tabela 1 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008)

Estudo Paiacutes

Ano

Delineamento N Idade Criteacuterio

definido por

Prevalecircncia

Motta et al13

Brasil 1998 Transversal 536 0ndash11 a Autor 218 0-239 m

Aguirre et al14

Brasil 2000 Transversal 275 0ndash25 a Autor 251

Souza et al15

Brasil 2001 Transversal 289 1m-4 a Percepccedilatildeo matildee 153 0-239 m

Del Ciampo et al16

Brasil 2002 Transversal 313 1ndash10 a Autor 268

Miele et al 26

Itaacutelia 2004 Longitudinal 9660 0ndash12 a Roma II 07

Corazziari et al 27

Itaacutelia 2005 Longitudinal 2680 0ndash12 a Autor 52 0-239 m

Iacono et al3 Itaacutelia 2005 Longitudinal 2879 0ndash05 a Autor 176

Loening-Bauke2 EUA 2005 Transversal 4157 0ndash2 a NASPGHAN

ou Roma II

29 1 a

101 2 a

Ludvigsson et al28

Sueacutecia 2006 Longitudinal 8431 0ndash25 a Percepccedilatildeo matildee 65

Boccia et al25

Itaacutelia 2007 Longitudinal 126 0ndash18 a Roma II e

PACCT

Roma II15-lt4a

PACCT48-lt4a

Medeiros et al19

Brasil 2007 Transversal 561 0ndash19 a Autor 191 0-239 m

Pina et al29

Espanha2008 Transversal 3487 0ndash4 m Autor 61

A = ano m = mecircs

A grande diferenccedila encontrada pode ser explicada pelas divergecircncias no criteacuterio

utilizado para definir a constipaccedilatildeo intestinal pelo delineamento do estudo realizado e pela

faixa etaacuteria considerada

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo especificamente em lactentes foi determinada em

apenas nove desses estudos2313-151927-29

Desses autores apenas um adotou criteacuterio

internacional na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo13

Os demais empregaram princiacutepio

19

proacuteprio2313-1527-29

sendo que nos estudos de Ludvigsson28

e Souza15

o criteacuterio utilizado

para diagnosticar os lactentes constipados foi a percepccedilatildeo das matildees

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias

A literatura mostra a ocorrecircncia de constipaccedilatildeo entre os familiares das crianccedilas

constipadas3031

Na Espanha em 2005 foi realizado um estudo de caso-controle para avaliar os

fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo infantil Foram incluiacutedas crianccedilas

com idades entre quatro meses e 15 anos e que apresentavam quadro de constipaccedilatildeo

crocircnica Seus controles eram as crianccedilas imediatamente atendidas sem histoacuteria preacutevia de

constipaccedilatildeo No grupo-controle 351 das crianccedilas apresentavam histoacuteria familiar com

quadro de constipaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com 542 do grupo em estudo cuja diferenccedila foi

significativa entre os grupos (plt0001) Na situaccedilatildeo pais separados a matildee apresentou mais

frequecircncia de constipaccedilatildeo no grupo de crianccedilas constipadas em relaccedilatildeo ao grupo-controle

956 e 286 respectivamente (plt0001)30

Na investigaccedilatildeo de Roma et al (1999)31

que avaliou a presenccedila de constipaccedilatildeo em

crianccedilas de dois a 14 anos identificou-se histoacuteria familiar positiva para o distuacuterbio (pais ou

irmatildeos) em 625 das crianccedilas constipadas e em 303 dos familiares dos indiviacuteduos

controles (p lt0000001) A prevalecircncia de constipaccedilatildeo crocircnica em crianccedilas foi de 34 se

nenhum dos pais manifestava o problema 103 se um dos pais estava constipado e

485 se ambos (p lt00001)31

152 Aleitamento materno

Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno constitui-se em fator

de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal na crianccedila314

Iacono et al (2005)3 desenvolveram uma pesquisa para avaliar a frequecircncia dos

sintomas gastrintestinais mais comuns durante os primeiros seis meses de vida e avaliar a

influecircncia de algumas variaacuteveis sobre o aparecimento dos sintomas Foram acompanhadas

20

2879 crianccedilas do nascimento ateacute os seis meses de vida A constipaccedilatildeo esteve presente em

507 e foi diagnosticada em idades entre 27 e 33 dias Os lactentes constipados natildeo

apresentaram diferenccedila na comparaccedilatildeo com aqueles sem a morbidade em relaccedilatildeo ao peso

ao nascer idade gestacional idade e niacutevel de ensino da matildee e do pai No entanto o nuacutemero

foi significativamente mais baixo na frequecircncia do aleitamento materno em relaccedilatildeo agraves

crianccedilas sem constipaccedilatildeo (763 versus 849 p=0007)3

A relaccedilatildeo entre o tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal foi

analisada em 275 lactentes atendidos consecutivamente no periacuteodo de dezembro de 1996 a

dezembro de 1997 concluindo-se que o aleitamento natural predominante eacute um fator de

proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo no primeiro semestre de vida14

Em um estudo de caso-controle realizado em um ambulatoacuterio de pediatria no

periacuteodo de outubro de 1997 a abril de 1999 foram acompanhados dois grupos de crianccedilas

com idades entre dois e 12 anos O primeiro grupo foi constituiacutedo de crianccedilas com

diagnoacutestico de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional e o segundo de crianccedilas com haacutebito

intestinal normal (grupo-controle) pareadas ao primeiro de acordo com o gecircnero e a faixa

etaacuteria Nos dois grupos foi aplicado um questionaacuterio padronizado para obter informaccedilotildees

sobre as caracteriacutesticas do haacutebito intestinal iniacutecio dos sintomas e o periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo Os autores concluiacuteram que houve tendecircncia ao periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo ser mais longo no grupo de crianccedilas sem constipaccedilatildeo32

153 Aleitamento artificial

No primeiro ano de vida satildeo frequentes as reaccedilotildees adversas ao leite de vaca Aleacutem

de sintomas respiratoacuterios e dermatoloacutegicos tambeacutem foram verificados sintomas

gastrintestinais como a constipaccedilatildeo intestinal e sangue nas fezes33-37

Em 2008 foram avaliadas durante um ano 555 crianccedilas nascidas consecutivamente

em um hospital Apenas 27 delas apresentaram reaccedilatildeo aleacutergica ao leite de vaca e somente

uma manifestou como sintoma a constipaccedilatildeo33

Na Turquia foi realizado um estudo retrospectivo com dois grupos de 30 crianccedilas

com idades compreendidas entre quatro meses e trecircs anos O grupo I foi constituiacutedo de

crianccedilas com fissura anal e constipaccedilatildeo crocircnica e que natildeo apresentavam necessidade de

cirurgia e o grupo II incluiu crianccedilas normais O consumo diaacuterio de leite de vaca a

duraccedilatildeo do aleitamento materno e outras caracteriacutesticas cliacutenicas das crianccedilas foram

21

investigadas O consumo meacutedio diaacuterio de leite de vaca foi maior (plt0001) e o tempo de

amamentaccedilatildeo foi mais curto no grupo I (plt0001 e plt0006 respectivamente) O risco

(odds ratio) de constipaccedilatildeo quando presentes cada um desses fatores foi de 86 (intervalo

de confianccedila - IC95 023-074 p=00005) e 57 (IC 95 037-066 p=0007)

respectivamente As crianccedilas que consumiam mais quantidade de leite de vaca

apresentaram risco oito vezes mais alto de desenvolver constipaccedilatildeo e fissura anal assim

como naqueles com duraccedilatildeo mais curta do aleitamento materno o risco foi cinco vezes

mais alto Os pesquisadores preconizam atraso na introduccedilatildeo do leite de vaca e o

consequente aumento no tempo do aleitamento materno34

Em outra pesquisa 27 crianccedilas com idades entre cinco e 36 meses e com

constipaccedilatildeo intestinal crocircnica idiopaacutetica foram investigadas na possiacutevel relaccedilatildeo entre

constipaccedilatildeo e alergia agrave proteiacutena do leite de vaca Inicialmente elas foram observadas

consumindo dieta sem restriccedilotildees e registrava-se o nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias

Posteriormente receberam dieta sem a proteiacutena do leite de vaca por dois periacuteodos de um

mecircs separados por dois desafios com a proteiacutena do leite de vaca Durante a dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca 21 apresentaram melhora dos sintomas e durante os dois desafios

consecutivos a constipaccedilatildeo reapareceu no periacuteodo de 48 a 72 horas A dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca natildeo melhorou a constipaccedilatildeo em seis pacientes Apenas quatro que

melhoraram com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca manifestaram sintomas de

alergia ao leite de vaca Histoacuteria meacutedica de alergia ao leite de vaca foi encontrada em 15

dos 21 pacientes curados e em apenas um dos seis que natildeo melhoraram (plt005) Ainda

nos 15 dos 21 curados os resultados de um ou mais testes laboratoriais (dosagem de

imunoglobulinas E e G ndash IgE IgG antiβ lactoglobulina e eosinoacutefilos circulantes) foram

positivos no momento do diagnoacutestico indicando hipersensibilidade comparados com um

dos seis pacientes que natildeo tinham melhorado (plt 0005) Os resultados encontrados na

endoscopia e histologia no momento do diagnoacutestico mostraram proctite monociacutetica com

infiltraccedilatildeo em duas crianccedilas curadas com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca depois

de um mecircs da dieta eles estavam completamente normais A conclusatildeo foi que a

constipaccedilatildeo pode ter patogecircnese aleacutergica35

Em 1995 Hyams et al desenvolveram um estudo prospectivo duplo-cego para

avaliar o efeito das foacutermulas nas caracteriacutesticas das fezes de lactentes Foram selecionadas

crianccedilas saudaacuteveis com um mecircs de idade e acompanhadas por 14 dias Os autores

demonstraram que aquelas alimentadas com leite materno apresentaram maior frequecircncia

22

evacuatoacuteria (p lt 0001) e fezes mais macias (p lt 00001) do que as alimentadas com

foacutermulas laacutecteas36

154 Fibra alimentar

As fibras alimentares satildeo habitualmente consideradas importantes para a prevenccedilatildeo

da constipaccedilatildeo Acredita-se que a sua introduccedilatildeo na alimentaccedilatildeo complementar de forma

equilibrada certamente contribuiraacute para a pouca ocorrecircncia desse distuacuterbio no primeiro ano

de vida37

poreacutem existem poucos trabalhos sobre o consumo de fibras por lactentes Os

resultados encontrados demonstram que a fibra alimentar desempenha papel ainda natildeo

comprovado25

No jaacute mencionado estudo de Aguirre et al (2002) que avaliou a relaccedilatildeo entre o

tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal em 275 lactentes descreveu-se a

implicaccedilatildeo do uso de fibra alimentar Para os lactentes de seis a 24 meses a comparaccedilatildeo

do consumo de fibra alimentar por aqueles com constipaccedilatildeo (mediana=90g percentis 25 e

75 69-131g) e pelos demais com haacutebito intestinal normal natildeo demonstrou diferenccedilas

significativas (mediana=88 percentis 25 e 75 61-129g) (p=057)14

Em trecircs localidades da Greacutecia foi considerada uma amostra randomizada de

crianccedilas (291 com constipaccedilatildeo e 1602 controles) com idades entre dois e 14 anos

Realizou-se o registro alimentar de trecircs dias e a histoacuteria dieteacutetica para avaliar a ingestatildeo

alimentar A ingestatildeo da fibra alimentar foi estatisticamente menor na dieta das crianccedilas

constipadas em todas as faixas etaacuterias quando comparadas com o grupo-controle Os

autores salientaram que a baixa ingestatildeo de fibras na dieta de crianccedilas constipadas

independentemente da idade dos sintomas que acompanham a disfunccedilatildeo e da idade de

iniacutecio sustenta a hipoacutetese causal da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica em crianccedilas31

Segundo a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e

Nutriccedilatildeo (NASPGHAN) o uso de fibras pela crianccedila constipada ainda eacute contraditoacuterio e ateacute

que novos estudos demonstrem a eficaacutecia do tratamento com esse produto os resultados

atuais satildeo fracos para apoiar a recomendaccedilatildeo definitiva de sua suplementaccedilatildeo no

tratamento dessa morbidade25

Pesquisas mais especiacuteficas quanto ao consumo de fibras por lactentes satildeo escassas

na literatura cientiacutefica14

A aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos alimentares e a escolha de tabelas

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 16: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

16

13 Constipaccedilatildeo intestinal do lactente definiccedilatildeo

A adequada definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal eacute importante para identificar de

forma precoce o paciente que apresenta a morbidade diminuindo o risco de complicaccedilotildees

e o custo do tratamento10

Em estudos cientiacuteficos epidemioloacutegicos a dificuldade na definiccedilatildeo da morbidade eacute

facilmente percebida As diferentes taxas epidemioloacutegicas relatadas na literatura ressaltam

que a identificaccedilatildeo do problema natildeo eacute tatildeo faacutecil quanto possa parecer1112

Assim alguns

autores tecircm adotado criteacuterios proacuteprios para identificar pacientes constipados incluindo

defecaccedilatildeo infrequente fezes duras dificuldade ou passagem de fezes dolorosas sem

uniformizaccedilatildeo na definiccedilatildeo e na caracterizaccedilatildeo desses sintomas13-19

A preocupaccedilatildeo em encontrar um consenso para a definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal existe haacute algumas deacutecadas20

Um dos conceitos mais adotados em pesquisas

cientiacuteficas estabelece como criteacuterio a frequecircncia evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por

semana315

Esse criteacuterio eacute adotado para a populaccedilatildeo adulta poreacutem eacute falho para crianccedilas

principalmente para as menores de quatro anos21

A Tabela 1 apresenta a frequecircncia

evacuatoacuteria da crianccedila estabelecida por Fontana et al (1989)22

Observa-se que existe

acentuada variaccedilatildeo desse paracircmetro nas diversas faixas etaacuterias No primeiro ano de vida a

amplitude da frequecircncia evacuatoacuteria eacute tatildeo vasta que maior valorizaccedilatildeo do paracircmetro pode

levar a erros no diagnoacutestico da morbidade22

Tabela 1 Frequecircncia normal das evacuaccedilotildees

Idade Evacuaccedilotildees

por semana

Evacuaccedilotildees

por dia

0-3 meses

Aleitamento materno 5-40 29

Foacutermulas 5-28 20

6-12 meses 5-28 18

1-3 anos 4-21 14

Mais de 3 anos 3-14 10

Fonte Fontana et al (1989)22

17

A partir do consenso ROMA I o qual ofereceu definiccedilotildees iniciais para doenccedilas

funcionais do trato digestivo de adultos muito se evoluiu em termo de nomenclatura

criteacuterios e definiccedilotildees para as doenccedilas digestivas23

Esse consenso forneceu importantes definiccedilotildees para as alteraccedilotildees funcionais

pediaacutetricas23

Em relaccedilatildeo agrave constipaccedilatildeo intestinal da crianccedila as contribuiccedilotildees do Consenso

de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT)24

da Sociedade Norte-

Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo (NASGHAN)1 e de ROMA III

8

passaram a ser adotadas nos estudos que se seguiram No entanto entre eles satildeo notaacuteveis

as diferenccedilas nos criteacuterios conforme se segue

Roma II - em lactentes e crianccedilas preacute-escolares por pelo menos duas semanas fezes

em ciacutebalos com rachaduras duras na maioria das evacuaccedilotildees ou duas ou menos

evacuaccedilotildees de fezes firmes por semana natildeo havendo evidecircncia de doenccedila

estrutural endoacutecrina ou metaboacutelica23

Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT) - um

periacuteodo de oito semanas com pelo menos dois dos seguintes sintomas frequecircncia

evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por semana incontinecircncia fecal acima de uma vez

por semana passagem de fezes grandes que podem entupir o vaso sanitaacuterio massa

fecal palpaacutevel no abdocircmen ou no reto comportamento de retenccedilatildeo de fezes ou

defecaccedilatildeo dolorosa24

Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo

(NASPGHAN) - atraso ou dificuldade de evacuar presente por duas ou mais

semanas e suficiente para causar desconforto ao paciente25

Roma III - em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade no periacuteodo de 30

dias pelo menos dois dos seguintes itens duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao

menos um episoacutedio de incontinecircncia por semana apoacutes a habilidade para utilizar o

banheiro histoacuteria de retenccedilatildeo excessiva de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis

presenccedila de grande massa fecal no reto e fezes com grande diacircmetro e que podem

obstruir o vaso sanitaacuterio A esses sintomas associam-se a irritabilidade a falta de

apetite eou a saciedade precoce Todos podem desaparecer apoacutes a eliminaccedilatildeo das

fezes8

18

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes

A real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal em lactentes natildeo foi ateacute o momento

adequadamente estabelecida De acordo com as pesquisas mais recentes os iacutendices variam

de 0726

a 4825

Para ilustrar essas divergecircncias na prevalecircncia da morbidade foi demonstrada no

Tabela 1 uma seacuterie de estudos realizados entre os anos de 1998 e 2008

Tabela 1 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008)

Estudo Paiacutes

Ano

Delineamento N Idade Criteacuterio

definido por

Prevalecircncia

Motta et al13

Brasil 1998 Transversal 536 0ndash11 a Autor 218 0-239 m

Aguirre et al14

Brasil 2000 Transversal 275 0ndash25 a Autor 251

Souza et al15

Brasil 2001 Transversal 289 1m-4 a Percepccedilatildeo matildee 153 0-239 m

Del Ciampo et al16

Brasil 2002 Transversal 313 1ndash10 a Autor 268

Miele et al 26

Itaacutelia 2004 Longitudinal 9660 0ndash12 a Roma II 07

Corazziari et al 27

Itaacutelia 2005 Longitudinal 2680 0ndash12 a Autor 52 0-239 m

Iacono et al3 Itaacutelia 2005 Longitudinal 2879 0ndash05 a Autor 176

Loening-Bauke2 EUA 2005 Transversal 4157 0ndash2 a NASPGHAN

ou Roma II

29 1 a

101 2 a

Ludvigsson et al28

Sueacutecia 2006 Longitudinal 8431 0ndash25 a Percepccedilatildeo matildee 65

Boccia et al25

Itaacutelia 2007 Longitudinal 126 0ndash18 a Roma II e

PACCT

Roma II15-lt4a

PACCT48-lt4a

Medeiros et al19

Brasil 2007 Transversal 561 0ndash19 a Autor 191 0-239 m

Pina et al29

Espanha2008 Transversal 3487 0ndash4 m Autor 61

A = ano m = mecircs

A grande diferenccedila encontrada pode ser explicada pelas divergecircncias no criteacuterio

utilizado para definir a constipaccedilatildeo intestinal pelo delineamento do estudo realizado e pela

faixa etaacuteria considerada

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo especificamente em lactentes foi determinada em

apenas nove desses estudos2313-151927-29

Desses autores apenas um adotou criteacuterio

internacional na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo13

Os demais empregaram princiacutepio

19

proacuteprio2313-1527-29

sendo que nos estudos de Ludvigsson28

e Souza15

o criteacuterio utilizado

para diagnosticar os lactentes constipados foi a percepccedilatildeo das matildees

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias

A literatura mostra a ocorrecircncia de constipaccedilatildeo entre os familiares das crianccedilas

constipadas3031

Na Espanha em 2005 foi realizado um estudo de caso-controle para avaliar os

fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo infantil Foram incluiacutedas crianccedilas

com idades entre quatro meses e 15 anos e que apresentavam quadro de constipaccedilatildeo

crocircnica Seus controles eram as crianccedilas imediatamente atendidas sem histoacuteria preacutevia de

constipaccedilatildeo No grupo-controle 351 das crianccedilas apresentavam histoacuteria familiar com

quadro de constipaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com 542 do grupo em estudo cuja diferenccedila foi

significativa entre os grupos (plt0001) Na situaccedilatildeo pais separados a matildee apresentou mais

frequecircncia de constipaccedilatildeo no grupo de crianccedilas constipadas em relaccedilatildeo ao grupo-controle

956 e 286 respectivamente (plt0001)30

Na investigaccedilatildeo de Roma et al (1999)31

que avaliou a presenccedila de constipaccedilatildeo em

crianccedilas de dois a 14 anos identificou-se histoacuteria familiar positiva para o distuacuterbio (pais ou

irmatildeos) em 625 das crianccedilas constipadas e em 303 dos familiares dos indiviacuteduos

controles (p lt0000001) A prevalecircncia de constipaccedilatildeo crocircnica em crianccedilas foi de 34 se

nenhum dos pais manifestava o problema 103 se um dos pais estava constipado e

485 se ambos (p lt00001)31

152 Aleitamento materno

Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno constitui-se em fator

de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal na crianccedila314

Iacono et al (2005)3 desenvolveram uma pesquisa para avaliar a frequecircncia dos

sintomas gastrintestinais mais comuns durante os primeiros seis meses de vida e avaliar a

influecircncia de algumas variaacuteveis sobre o aparecimento dos sintomas Foram acompanhadas

20

2879 crianccedilas do nascimento ateacute os seis meses de vida A constipaccedilatildeo esteve presente em

507 e foi diagnosticada em idades entre 27 e 33 dias Os lactentes constipados natildeo

apresentaram diferenccedila na comparaccedilatildeo com aqueles sem a morbidade em relaccedilatildeo ao peso

ao nascer idade gestacional idade e niacutevel de ensino da matildee e do pai No entanto o nuacutemero

foi significativamente mais baixo na frequecircncia do aleitamento materno em relaccedilatildeo agraves

crianccedilas sem constipaccedilatildeo (763 versus 849 p=0007)3

A relaccedilatildeo entre o tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal foi

analisada em 275 lactentes atendidos consecutivamente no periacuteodo de dezembro de 1996 a

dezembro de 1997 concluindo-se que o aleitamento natural predominante eacute um fator de

proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo no primeiro semestre de vida14

Em um estudo de caso-controle realizado em um ambulatoacuterio de pediatria no

periacuteodo de outubro de 1997 a abril de 1999 foram acompanhados dois grupos de crianccedilas

com idades entre dois e 12 anos O primeiro grupo foi constituiacutedo de crianccedilas com

diagnoacutestico de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional e o segundo de crianccedilas com haacutebito

intestinal normal (grupo-controle) pareadas ao primeiro de acordo com o gecircnero e a faixa

etaacuteria Nos dois grupos foi aplicado um questionaacuterio padronizado para obter informaccedilotildees

sobre as caracteriacutesticas do haacutebito intestinal iniacutecio dos sintomas e o periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo Os autores concluiacuteram que houve tendecircncia ao periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo ser mais longo no grupo de crianccedilas sem constipaccedilatildeo32

153 Aleitamento artificial

No primeiro ano de vida satildeo frequentes as reaccedilotildees adversas ao leite de vaca Aleacutem

de sintomas respiratoacuterios e dermatoloacutegicos tambeacutem foram verificados sintomas

gastrintestinais como a constipaccedilatildeo intestinal e sangue nas fezes33-37

Em 2008 foram avaliadas durante um ano 555 crianccedilas nascidas consecutivamente

em um hospital Apenas 27 delas apresentaram reaccedilatildeo aleacutergica ao leite de vaca e somente

uma manifestou como sintoma a constipaccedilatildeo33

Na Turquia foi realizado um estudo retrospectivo com dois grupos de 30 crianccedilas

com idades compreendidas entre quatro meses e trecircs anos O grupo I foi constituiacutedo de

crianccedilas com fissura anal e constipaccedilatildeo crocircnica e que natildeo apresentavam necessidade de

cirurgia e o grupo II incluiu crianccedilas normais O consumo diaacuterio de leite de vaca a

duraccedilatildeo do aleitamento materno e outras caracteriacutesticas cliacutenicas das crianccedilas foram

21

investigadas O consumo meacutedio diaacuterio de leite de vaca foi maior (plt0001) e o tempo de

amamentaccedilatildeo foi mais curto no grupo I (plt0001 e plt0006 respectivamente) O risco

(odds ratio) de constipaccedilatildeo quando presentes cada um desses fatores foi de 86 (intervalo

de confianccedila - IC95 023-074 p=00005) e 57 (IC 95 037-066 p=0007)

respectivamente As crianccedilas que consumiam mais quantidade de leite de vaca

apresentaram risco oito vezes mais alto de desenvolver constipaccedilatildeo e fissura anal assim

como naqueles com duraccedilatildeo mais curta do aleitamento materno o risco foi cinco vezes

mais alto Os pesquisadores preconizam atraso na introduccedilatildeo do leite de vaca e o

consequente aumento no tempo do aleitamento materno34

Em outra pesquisa 27 crianccedilas com idades entre cinco e 36 meses e com

constipaccedilatildeo intestinal crocircnica idiopaacutetica foram investigadas na possiacutevel relaccedilatildeo entre

constipaccedilatildeo e alergia agrave proteiacutena do leite de vaca Inicialmente elas foram observadas

consumindo dieta sem restriccedilotildees e registrava-se o nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias

Posteriormente receberam dieta sem a proteiacutena do leite de vaca por dois periacuteodos de um

mecircs separados por dois desafios com a proteiacutena do leite de vaca Durante a dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca 21 apresentaram melhora dos sintomas e durante os dois desafios

consecutivos a constipaccedilatildeo reapareceu no periacuteodo de 48 a 72 horas A dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca natildeo melhorou a constipaccedilatildeo em seis pacientes Apenas quatro que

melhoraram com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca manifestaram sintomas de

alergia ao leite de vaca Histoacuteria meacutedica de alergia ao leite de vaca foi encontrada em 15

dos 21 pacientes curados e em apenas um dos seis que natildeo melhoraram (plt005) Ainda

nos 15 dos 21 curados os resultados de um ou mais testes laboratoriais (dosagem de

imunoglobulinas E e G ndash IgE IgG antiβ lactoglobulina e eosinoacutefilos circulantes) foram

positivos no momento do diagnoacutestico indicando hipersensibilidade comparados com um

dos seis pacientes que natildeo tinham melhorado (plt 0005) Os resultados encontrados na

endoscopia e histologia no momento do diagnoacutestico mostraram proctite monociacutetica com

infiltraccedilatildeo em duas crianccedilas curadas com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca depois

de um mecircs da dieta eles estavam completamente normais A conclusatildeo foi que a

constipaccedilatildeo pode ter patogecircnese aleacutergica35

Em 1995 Hyams et al desenvolveram um estudo prospectivo duplo-cego para

avaliar o efeito das foacutermulas nas caracteriacutesticas das fezes de lactentes Foram selecionadas

crianccedilas saudaacuteveis com um mecircs de idade e acompanhadas por 14 dias Os autores

demonstraram que aquelas alimentadas com leite materno apresentaram maior frequecircncia

22

evacuatoacuteria (p lt 0001) e fezes mais macias (p lt 00001) do que as alimentadas com

foacutermulas laacutecteas36

154 Fibra alimentar

As fibras alimentares satildeo habitualmente consideradas importantes para a prevenccedilatildeo

da constipaccedilatildeo Acredita-se que a sua introduccedilatildeo na alimentaccedilatildeo complementar de forma

equilibrada certamente contribuiraacute para a pouca ocorrecircncia desse distuacuterbio no primeiro ano

de vida37

poreacutem existem poucos trabalhos sobre o consumo de fibras por lactentes Os

resultados encontrados demonstram que a fibra alimentar desempenha papel ainda natildeo

comprovado25

No jaacute mencionado estudo de Aguirre et al (2002) que avaliou a relaccedilatildeo entre o

tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal em 275 lactentes descreveu-se a

implicaccedilatildeo do uso de fibra alimentar Para os lactentes de seis a 24 meses a comparaccedilatildeo

do consumo de fibra alimentar por aqueles com constipaccedilatildeo (mediana=90g percentis 25 e

75 69-131g) e pelos demais com haacutebito intestinal normal natildeo demonstrou diferenccedilas

significativas (mediana=88 percentis 25 e 75 61-129g) (p=057)14

Em trecircs localidades da Greacutecia foi considerada uma amostra randomizada de

crianccedilas (291 com constipaccedilatildeo e 1602 controles) com idades entre dois e 14 anos

Realizou-se o registro alimentar de trecircs dias e a histoacuteria dieteacutetica para avaliar a ingestatildeo

alimentar A ingestatildeo da fibra alimentar foi estatisticamente menor na dieta das crianccedilas

constipadas em todas as faixas etaacuterias quando comparadas com o grupo-controle Os

autores salientaram que a baixa ingestatildeo de fibras na dieta de crianccedilas constipadas

independentemente da idade dos sintomas que acompanham a disfunccedilatildeo e da idade de

iniacutecio sustenta a hipoacutetese causal da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica em crianccedilas31

Segundo a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e

Nutriccedilatildeo (NASPGHAN) o uso de fibras pela crianccedila constipada ainda eacute contraditoacuterio e ateacute

que novos estudos demonstrem a eficaacutecia do tratamento com esse produto os resultados

atuais satildeo fracos para apoiar a recomendaccedilatildeo definitiva de sua suplementaccedilatildeo no

tratamento dessa morbidade25

Pesquisas mais especiacuteficas quanto ao consumo de fibras por lactentes satildeo escassas

na literatura cientiacutefica14

A aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos alimentares e a escolha de tabelas

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 17: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

17

A partir do consenso ROMA I o qual ofereceu definiccedilotildees iniciais para doenccedilas

funcionais do trato digestivo de adultos muito se evoluiu em termo de nomenclatura

criteacuterios e definiccedilotildees para as doenccedilas digestivas23

Esse consenso forneceu importantes definiccedilotildees para as alteraccedilotildees funcionais

pediaacutetricas23

Em relaccedilatildeo agrave constipaccedilatildeo intestinal da crianccedila as contribuiccedilotildees do Consenso

de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT)24

da Sociedade Norte-

Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo (NASGHAN)1 e de ROMA III

8

passaram a ser adotadas nos estudos que se seguiram No entanto entre eles satildeo notaacuteveis

as diferenccedilas nos criteacuterios conforme se segue

Roma II - em lactentes e crianccedilas preacute-escolares por pelo menos duas semanas fezes

em ciacutebalos com rachaduras duras na maioria das evacuaccedilotildees ou duas ou menos

evacuaccedilotildees de fezes firmes por semana natildeo havendo evidecircncia de doenccedila

estrutural endoacutecrina ou metaboacutelica23

Consenso de Paris na Terminologia da Constipaccedilatildeo na Infacircncia (PACCT) - um

periacuteodo de oito semanas com pelo menos dois dos seguintes sintomas frequecircncia

evacuatoacuteria inferior a trecircs vezes por semana incontinecircncia fecal acima de uma vez

por semana passagem de fezes grandes que podem entupir o vaso sanitaacuterio massa

fecal palpaacutevel no abdocircmen ou no reto comportamento de retenccedilatildeo de fezes ou

defecaccedilatildeo dolorosa24

Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e Nutriccedilatildeo

(NASPGHAN) - atraso ou dificuldade de evacuar presente por duas ou mais

semanas e suficiente para causar desconforto ao paciente25

Roma III - em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade no periacuteodo de 30

dias pelo menos dois dos seguintes itens duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao

menos um episoacutedio de incontinecircncia por semana apoacutes a habilidade para utilizar o

banheiro histoacuteria de retenccedilatildeo excessiva de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis

presenccedila de grande massa fecal no reto e fezes com grande diacircmetro e que podem

obstruir o vaso sanitaacuterio A esses sintomas associam-se a irritabilidade a falta de

apetite eou a saciedade precoce Todos podem desaparecer apoacutes a eliminaccedilatildeo das

fezes8

18

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes

A real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal em lactentes natildeo foi ateacute o momento

adequadamente estabelecida De acordo com as pesquisas mais recentes os iacutendices variam

de 0726

a 4825

Para ilustrar essas divergecircncias na prevalecircncia da morbidade foi demonstrada no

Tabela 1 uma seacuterie de estudos realizados entre os anos de 1998 e 2008

Tabela 1 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008)

Estudo Paiacutes

Ano

Delineamento N Idade Criteacuterio

definido por

Prevalecircncia

Motta et al13

Brasil 1998 Transversal 536 0ndash11 a Autor 218 0-239 m

Aguirre et al14

Brasil 2000 Transversal 275 0ndash25 a Autor 251

Souza et al15

Brasil 2001 Transversal 289 1m-4 a Percepccedilatildeo matildee 153 0-239 m

Del Ciampo et al16

Brasil 2002 Transversal 313 1ndash10 a Autor 268

Miele et al 26

Itaacutelia 2004 Longitudinal 9660 0ndash12 a Roma II 07

Corazziari et al 27

Itaacutelia 2005 Longitudinal 2680 0ndash12 a Autor 52 0-239 m

Iacono et al3 Itaacutelia 2005 Longitudinal 2879 0ndash05 a Autor 176

Loening-Bauke2 EUA 2005 Transversal 4157 0ndash2 a NASPGHAN

ou Roma II

29 1 a

101 2 a

Ludvigsson et al28

Sueacutecia 2006 Longitudinal 8431 0ndash25 a Percepccedilatildeo matildee 65

Boccia et al25

Itaacutelia 2007 Longitudinal 126 0ndash18 a Roma II e

PACCT

Roma II15-lt4a

PACCT48-lt4a

Medeiros et al19

Brasil 2007 Transversal 561 0ndash19 a Autor 191 0-239 m

Pina et al29

Espanha2008 Transversal 3487 0ndash4 m Autor 61

A = ano m = mecircs

A grande diferenccedila encontrada pode ser explicada pelas divergecircncias no criteacuterio

utilizado para definir a constipaccedilatildeo intestinal pelo delineamento do estudo realizado e pela

faixa etaacuteria considerada

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo especificamente em lactentes foi determinada em

apenas nove desses estudos2313-151927-29

Desses autores apenas um adotou criteacuterio

internacional na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo13

Os demais empregaram princiacutepio

19

proacuteprio2313-1527-29

sendo que nos estudos de Ludvigsson28

e Souza15

o criteacuterio utilizado

para diagnosticar os lactentes constipados foi a percepccedilatildeo das matildees

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias

A literatura mostra a ocorrecircncia de constipaccedilatildeo entre os familiares das crianccedilas

constipadas3031

Na Espanha em 2005 foi realizado um estudo de caso-controle para avaliar os

fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo infantil Foram incluiacutedas crianccedilas

com idades entre quatro meses e 15 anos e que apresentavam quadro de constipaccedilatildeo

crocircnica Seus controles eram as crianccedilas imediatamente atendidas sem histoacuteria preacutevia de

constipaccedilatildeo No grupo-controle 351 das crianccedilas apresentavam histoacuteria familiar com

quadro de constipaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com 542 do grupo em estudo cuja diferenccedila foi

significativa entre os grupos (plt0001) Na situaccedilatildeo pais separados a matildee apresentou mais

frequecircncia de constipaccedilatildeo no grupo de crianccedilas constipadas em relaccedilatildeo ao grupo-controle

956 e 286 respectivamente (plt0001)30

Na investigaccedilatildeo de Roma et al (1999)31

que avaliou a presenccedila de constipaccedilatildeo em

crianccedilas de dois a 14 anos identificou-se histoacuteria familiar positiva para o distuacuterbio (pais ou

irmatildeos) em 625 das crianccedilas constipadas e em 303 dos familiares dos indiviacuteduos

controles (p lt0000001) A prevalecircncia de constipaccedilatildeo crocircnica em crianccedilas foi de 34 se

nenhum dos pais manifestava o problema 103 se um dos pais estava constipado e

485 se ambos (p lt00001)31

152 Aleitamento materno

Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno constitui-se em fator

de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal na crianccedila314

Iacono et al (2005)3 desenvolveram uma pesquisa para avaliar a frequecircncia dos

sintomas gastrintestinais mais comuns durante os primeiros seis meses de vida e avaliar a

influecircncia de algumas variaacuteveis sobre o aparecimento dos sintomas Foram acompanhadas

20

2879 crianccedilas do nascimento ateacute os seis meses de vida A constipaccedilatildeo esteve presente em

507 e foi diagnosticada em idades entre 27 e 33 dias Os lactentes constipados natildeo

apresentaram diferenccedila na comparaccedilatildeo com aqueles sem a morbidade em relaccedilatildeo ao peso

ao nascer idade gestacional idade e niacutevel de ensino da matildee e do pai No entanto o nuacutemero

foi significativamente mais baixo na frequecircncia do aleitamento materno em relaccedilatildeo agraves

crianccedilas sem constipaccedilatildeo (763 versus 849 p=0007)3

A relaccedilatildeo entre o tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal foi

analisada em 275 lactentes atendidos consecutivamente no periacuteodo de dezembro de 1996 a

dezembro de 1997 concluindo-se que o aleitamento natural predominante eacute um fator de

proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo no primeiro semestre de vida14

Em um estudo de caso-controle realizado em um ambulatoacuterio de pediatria no

periacuteodo de outubro de 1997 a abril de 1999 foram acompanhados dois grupos de crianccedilas

com idades entre dois e 12 anos O primeiro grupo foi constituiacutedo de crianccedilas com

diagnoacutestico de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional e o segundo de crianccedilas com haacutebito

intestinal normal (grupo-controle) pareadas ao primeiro de acordo com o gecircnero e a faixa

etaacuteria Nos dois grupos foi aplicado um questionaacuterio padronizado para obter informaccedilotildees

sobre as caracteriacutesticas do haacutebito intestinal iniacutecio dos sintomas e o periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo Os autores concluiacuteram que houve tendecircncia ao periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo ser mais longo no grupo de crianccedilas sem constipaccedilatildeo32

153 Aleitamento artificial

No primeiro ano de vida satildeo frequentes as reaccedilotildees adversas ao leite de vaca Aleacutem

de sintomas respiratoacuterios e dermatoloacutegicos tambeacutem foram verificados sintomas

gastrintestinais como a constipaccedilatildeo intestinal e sangue nas fezes33-37

Em 2008 foram avaliadas durante um ano 555 crianccedilas nascidas consecutivamente

em um hospital Apenas 27 delas apresentaram reaccedilatildeo aleacutergica ao leite de vaca e somente

uma manifestou como sintoma a constipaccedilatildeo33

Na Turquia foi realizado um estudo retrospectivo com dois grupos de 30 crianccedilas

com idades compreendidas entre quatro meses e trecircs anos O grupo I foi constituiacutedo de

crianccedilas com fissura anal e constipaccedilatildeo crocircnica e que natildeo apresentavam necessidade de

cirurgia e o grupo II incluiu crianccedilas normais O consumo diaacuterio de leite de vaca a

duraccedilatildeo do aleitamento materno e outras caracteriacutesticas cliacutenicas das crianccedilas foram

21

investigadas O consumo meacutedio diaacuterio de leite de vaca foi maior (plt0001) e o tempo de

amamentaccedilatildeo foi mais curto no grupo I (plt0001 e plt0006 respectivamente) O risco

(odds ratio) de constipaccedilatildeo quando presentes cada um desses fatores foi de 86 (intervalo

de confianccedila - IC95 023-074 p=00005) e 57 (IC 95 037-066 p=0007)

respectivamente As crianccedilas que consumiam mais quantidade de leite de vaca

apresentaram risco oito vezes mais alto de desenvolver constipaccedilatildeo e fissura anal assim

como naqueles com duraccedilatildeo mais curta do aleitamento materno o risco foi cinco vezes

mais alto Os pesquisadores preconizam atraso na introduccedilatildeo do leite de vaca e o

consequente aumento no tempo do aleitamento materno34

Em outra pesquisa 27 crianccedilas com idades entre cinco e 36 meses e com

constipaccedilatildeo intestinal crocircnica idiopaacutetica foram investigadas na possiacutevel relaccedilatildeo entre

constipaccedilatildeo e alergia agrave proteiacutena do leite de vaca Inicialmente elas foram observadas

consumindo dieta sem restriccedilotildees e registrava-se o nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias

Posteriormente receberam dieta sem a proteiacutena do leite de vaca por dois periacuteodos de um

mecircs separados por dois desafios com a proteiacutena do leite de vaca Durante a dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca 21 apresentaram melhora dos sintomas e durante os dois desafios

consecutivos a constipaccedilatildeo reapareceu no periacuteodo de 48 a 72 horas A dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca natildeo melhorou a constipaccedilatildeo em seis pacientes Apenas quatro que

melhoraram com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca manifestaram sintomas de

alergia ao leite de vaca Histoacuteria meacutedica de alergia ao leite de vaca foi encontrada em 15

dos 21 pacientes curados e em apenas um dos seis que natildeo melhoraram (plt005) Ainda

nos 15 dos 21 curados os resultados de um ou mais testes laboratoriais (dosagem de

imunoglobulinas E e G ndash IgE IgG antiβ lactoglobulina e eosinoacutefilos circulantes) foram

positivos no momento do diagnoacutestico indicando hipersensibilidade comparados com um

dos seis pacientes que natildeo tinham melhorado (plt 0005) Os resultados encontrados na

endoscopia e histologia no momento do diagnoacutestico mostraram proctite monociacutetica com

infiltraccedilatildeo em duas crianccedilas curadas com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca depois

de um mecircs da dieta eles estavam completamente normais A conclusatildeo foi que a

constipaccedilatildeo pode ter patogecircnese aleacutergica35

Em 1995 Hyams et al desenvolveram um estudo prospectivo duplo-cego para

avaliar o efeito das foacutermulas nas caracteriacutesticas das fezes de lactentes Foram selecionadas

crianccedilas saudaacuteveis com um mecircs de idade e acompanhadas por 14 dias Os autores

demonstraram que aquelas alimentadas com leite materno apresentaram maior frequecircncia

22

evacuatoacuteria (p lt 0001) e fezes mais macias (p lt 00001) do que as alimentadas com

foacutermulas laacutecteas36

154 Fibra alimentar

As fibras alimentares satildeo habitualmente consideradas importantes para a prevenccedilatildeo

da constipaccedilatildeo Acredita-se que a sua introduccedilatildeo na alimentaccedilatildeo complementar de forma

equilibrada certamente contribuiraacute para a pouca ocorrecircncia desse distuacuterbio no primeiro ano

de vida37

poreacutem existem poucos trabalhos sobre o consumo de fibras por lactentes Os

resultados encontrados demonstram que a fibra alimentar desempenha papel ainda natildeo

comprovado25

No jaacute mencionado estudo de Aguirre et al (2002) que avaliou a relaccedilatildeo entre o

tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal em 275 lactentes descreveu-se a

implicaccedilatildeo do uso de fibra alimentar Para os lactentes de seis a 24 meses a comparaccedilatildeo

do consumo de fibra alimentar por aqueles com constipaccedilatildeo (mediana=90g percentis 25 e

75 69-131g) e pelos demais com haacutebito intestinal normal natildeo demonstrou diferenccedilas

significativas (mediana=88 percentis 25 e 75 61-129g) (p=057)14

Em trecircs localidades da Greacutecia foi considerada uma amostra randomizada de

crianccedilas (291 com constipaccedilatildeo e 1602 controles) com idades entre dois e 14 anos

Realizou-se o registro alimentar de trecircs dias e a histoacuteria dieteacutetica para avaliar a ingestatildeo

alimentar A ingestatildeo da fibra alimentar foi estatisticamente menor na dieta das crianccedilas

constipadas em todas as faixas etaacuterias quando comparadas com o grupo-controle Os

autores salientaram que a baixa ingestatildeo de fibras na dieta de crianccedilas constipadas

independentemente da idade dos sintomas que acompanham a disfunccedilatildeo e da idade de

iniacutecio sustenta a hipoacutetese causal da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica em crianccedilas31

Segundo a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e

Nutriccedilatildeo (NASPGHAN) o uso de fibras pela crianccedila constipada ainda eacute contraditoacuterio e ateacute

que novos estudos demonstrem a eficaacutecia do tratamento com esse produto os resultados

atuais satildeo fracos para apoiar a recomendaccedilatildeo definitiva de sua suplementaccedilatildeo no

tratamento dessa morbidade25

Pesquisas mais especiacuteficas quanto ao consumo de fibras por lactentes satildeo escassas

na literatura cientiacutefica14

A aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos alimentares e a escolha de tabelas

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 18: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

18

14 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo em lactentes

A real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal em lactentes natildeo foi ateacute o momento

adequadamente estabelecida De acordo com as pesquisas mais recentes os iacutendices variam

de 0726

a 4825

Para ilustrar essas divergecircncias na prevalecircncia da morbidade foi demonstrada no

Tabela 1 uma seacuterie de estudos realizados entre os anos de 1998 e 2008

Tabela 1 Prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal (1998 e 2008)

Estudo Paiacutes

Ano

Delineamento N Idade Criteacuterio

definido por

Prevalecircncia

Motta et al13

Brasil 1998 Transversal 536 0ndash11 a Autor 218 0-239 m

Aguirre et al14

Brasil 2000 Transversal 275 0ndash25 a Autor 251

Souza et al15

Brasil 2001 Transversal 289 1m-4 a Percepccedilatildeo matildee 153 0-239 m

Del Ciampo et al16

Brasil 2002 Transversal 313 1ndash10 a Autor 268

Miele et al 26

Itaacutelia 2004 Longitudinal 9660 0ndash12 a Roma II 07

Corazziari et al 27

Itaacutelia 2005 Longitudinal 2680 0ndash12 a Autor 52 0-239 m

Iacono et al3 Itaacutelia 2005 Longitudinal 2879 0ndash05 a Autor 176

Loening-Bauke2 EUA 2005 Transversal 4157 0ndash2 a NASPGHAN

ou Roma II

29 1 a

101 2 a

Ludvigsson et al28

Sueacutecia 2006 Longitudinal 8431 0ndash25 a Percepccedilatildeo matildee 65

Boccia et al25

Itaacutelia 2007 Longitudinal 126 0ndash18 a Roma II e

PACCT

Roma II15-lt4a

PACCT48-lt4a

Medeiros et al19

Brasil 2007 Transversal 561 0ndash19 a Autor 191 0-239 m

Pina et al29

Espanha2008 Transversal 3487 0ndash4 m Autor 61

A = ano m = mecircs

A grande diferenccedila encontrada pode ser explicada pelas divergecircncias no criteacuterio

utilizado para definir a constipaccedilatildeo intestinal pelo delineamento do estudo realizado e pela

faixa etaacuteria considerada

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo especificamente em lactentes foi determinada em

apenas nove desses estudos2313-151927-29

Desses autores apenas um adotou criteacuterio

internacional na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo13

Os demais empregaram princiacutepio

19

proacuteprio2313-1527-29

sendo que nos estudos de Ludvigsson28

e Souza15

o criteacuterio utilizado

para diagnosticar os lactentes constipados foi a percepccedilatildeo das matildees

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias

A literatura mostra a ocorrecircncia de constipaccedilatildeo entre os familiares das crianccedilas

constipadas3031

Na Espanha em 2005 foi realizado um estudo de caso-controle para avaliar os

fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo infantil Foram incluiacutedas crianccedilas

com idades entre quatro meses e 15 anos e que apresentavam quadro de constipaccedilatildeo

crocircnica Seus controles eram as crianccedilas imediatamente atendidas sem histoacuteria preacutevia de

constipaccedilatildeo No grupo-controle 351 das crianccedilas apresentavam histoacuteria familiar com

quadro de constipaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com 542 do grupo em estudo cuja diferenccedila foi

significativa entre os grupos (plt0001) Na situaccedilatildeo pais separados a matildee apresentou mais

frequecircncia de constipaccedilatildeo no grupo de crianccedilas constipadas em relaccedilatildeo ao grupo-controle

956 e 286 respectivamente (plt0001)30

Na investigaccedilatildeo de Roma et al (1999)31

que avaliou a presenccedila de constipaccedilatildeo em

crianccedilas de dois a 14 anos identificou-se histoacuteria familiar positiva para o distuacuterbio (pais ou

irmatildeos) em 625 das crianccedilas constipadas e em 303 dos familiares dos indiviacuteduos

controles (p lt0000001) A prevalecircncia de constipaccedilatildeo crocircnica em crianccedilas foi de 34 se

nenhum dos pais manifestava o problema 103 se um dos pais estava constipado e

485 se ambos (p lt00001)31

152 Aleitamento materno

Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno constitui-se em fator

de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal na crianccedila314

Iacono et al (2005)3 desenvolveram uma pesquisa para avaliar a frequecircncia dos

sintomas gastrintestinais mais comuns durante os primeiros seis meses de vida e avaliar a

influecircncia de algumas variaacuteveis sobre o aparecimento dos sintomas Foram acompanhadas

20

2879 crianccedilas do nascimento ateacute os seis meses de vida A constipaccedilatildeo esteve presente em

507 e foi diagnosticada em idades entre 27 e 33 dias Os lactentes constipados natildeo

apresentaram diferenccedila na comparaccedilatildeo com aqueles sem a morbidade em relaccedilatildeo ao peso

ao nascer idade gestacional idade e niacutevel de ensino da matildee e do pai No entanto o nuacutemero

foi significativamente mais baixo na frequecircncia do aleitamento materno em relaccedilatildeo agraves

crianccedilas sem constipaccedilatildeo (763 versus 849 p=0007)3

A relaccedilatildeo entre o tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal foi

analisada em 275 lactentes atendidos consecutivamente no periacuteodo de dezembro de 1996 a

dezembro de 1997 concluindo-se que o aleitamento natural predominante eacute um fator de

proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo no primeiro semestre de vida14

Em um estudo de caso-controle realizado em um ambulatoacuterio de pediatria no

periacuteodo de outubro de 1997 a abril de 1999 foram acompanhados dois grupos de crianccedilas

com idades entre dois e 12 anos O primeiro grupo foi constituiacutedo de crianccedilas com

diagnoacutestico de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional e o segundo de crianccedilas com haacutebito

intestinal normal (grupo-controle) pareadas ao primeiro de acordo com o gecircnero e a faixa

etaacuteria Nos dois grupos foi aplicado um questionaacuterio padronizado para obter informaccedilotildees

sobre as caracteriacutesticas do haacutebito intestinal iniacutecio dos sintomas e o periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo Os autores concluiacuteram que houve tendecircncia ao periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo ser mais longo no grupo de crianccedilas sem constipaccedilatildeo32

153 Aleitamento artificial

No primeiro ano de vida satildeo frequentes as reaccedilotildees adversas ao leite de vaca Aleacutem

de sintomas respiratoacuterios e dermatoloacutegicos tambeacutem foram verificados sintomas

gastrintestinais como a constipaccedilatildeo intestinal e sangue nas fezes33-37

Em 2008 foram avaliadas durante um ano 555 crianccedilas nascidas consecutivamente

em um hospital Apenas 27 delas apresentaram reaccedilatildeo aleacutergica ao leite de vaca e somente

uma manifestou como sintoma a constipaccedilatildeo33

Na Turquia foi realizado um estudo retrospectivo com dois grupos de 30 crianccedilas

com idades compreendidas entre quatro meses e trecircs anos O grupo I foi constituiacutedo de

crianccedilas com fissura anal e constipaccedilatildeo crocircnica e que natildeo apresentavam necessidade de

cirurgia e o grupo II incluiu crianccedilas normais O consumo diaacuterio de leite de vaca a

duraccedilatildeo do aleitamento materno e outras caracteriacutesticas cliacutenicas das crianccedilas foram

21

investigadas O consumo meacutedio diaacuterio de leite de vaca foi maior (plt0001) e o tempo de

amamentaccedilatildeo foi mais curto no grupo I (plt0001 e plt0006 respectivamente) O risco

(odds ratio) de constipaccedilatildeo quando presentes cada um desses fatores foi de 86 (intervalo

de confianccedila - IC95 023-074 p=00005) e 57 (IC 95 037-066 p=0007)

respectivamente As crianccedilas que consumiam mais quantidade de leite de vaca

apresentaram risco oito vezes mais alto de desenvolver constipaccedilatildeo e fissura anal assim

como naqueles com duraccedilatildeo mais curta do aleitamento materno o risco foi cinco vezes

mais alto Os pesquisadores preconizam atraso na introduccedilatildeo do leite de vaca e o

consequente aumento no tempo do aleitamento materno34

Em outra pesquisa 27 crianccedilas com idades entre cinco e 36 meses e com

constipaccedilatildeo intestinal crocircnica idiopaacutetica foram investigadas na possiacutevel relaccedilatildeo entre

constipaccedilatildeo e alergia agrave proteiacutena do leite de vaca Inicialmente elas foram observadas

consumindo dieta sem restriccedilotildees e registrava-se o nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias

Posteriormente receberam dieta sem a proteiacutena do leite de vaca por dois periacuteodos de um

mecircs separados por dois desafios com a proteiacutena do leite de vaca Durante a dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca 21 apresentaram melhora dos sintomas e durante os dois desafios

consecutivos a constipaccedilatildeo reapareceu no periacuteodo de 48 a 72 horas A dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca natildeo melhorou a constipaccedilatildeo em seis pacientes Apenas quatro que

melhoraram com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca manifestaram sintomas de

alergia ao leite de vaca Histoacuteria meacutedica de alergia ao leite de vaca foi encontrada em 15

dos 21 pacientes curados e em apenas um dos seis que natildeo melhoraram (plt005) Ainda

nos 15 dos 21 curados os resultados de um ou mais testes laboratoriais (dosagem de

imunoglobulinas E e G ndash IgE IgG antiβ lactoglobulina e eosinoacutefilos circulantes) foram

positivos no momento do diagnoacutestico indicando hipersensibilidade comparados com um

dos seis pacientes que natildeo tinham melhorado (plt 0005) Os resultados encontrados na

endoscopia e histologia no momento do diagnoacutestico mostraram proctite monociacutetica com

infiltraccedilatildeo em duas crianccedilas curadas com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca depois

de um mecircs da dieta eles estavam completamente normais A conclusatildeo foi que a

constipaccedilatildeo pode ter patogecircnese aleacutergica35

Em 1995 Hyams et al desenvolveram um estudo prospectivo duplo-cego para

avaliar o efeito das foacutermulas nas caracteriacutesticas das fezes de lactentes Foram selecionadas

crianccedilas saudaacuteveis com um mecircs de idade e acompanhadas por 14 dias Os autores

demonstraram que aquelas alimentadas com leite materno apresentaram maior frequecircncia

22

evacuatoacuteria (p lt 0001) e fezes mais macias (p lt 00001) do que as alimentadas com

foacutermulas laacutecteas36

154 Fibra alimentar

As fibras alimentares satildeo habitualmente consideradas importantes para a prevenccedilatildeo

da constipaccedilatildeo Acredita-se que a sua introduccedilatildeo na alimentaccedilatildeo complementar de forma

equilibrada certamente contribuiraacute para a pouca ocorrecircncia desse distuacuterbio no primeiro ano

de vida37

poreacutem existem poucos trabalhos sobre o consumo de fibras por lactentes Os

resultados encontrados demonstram que a fibra alimentar desempenha papel ainda natildeo

comprovado25

No jaacute mencionado estudo de Aguirre et al (2002) que avaliou a relaccedilatildeo entre o

tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal em 275 lactentes descreveu-se a

implicaccedilatildeo do uso de fibra alimentar Para os lactentes de seis a 24 meses a comparaccedilatildeo

do consumo de fibra alimentar por aqueles com constipaccedilatildeo (mediana=90g percentis 25 e

75 69-131g) e pelos demais com haacutebito intestinal normal natildeo demonstrou diferenccedilas

significativas (mediana=88 percentis 25 e 75 61-129g) (p=057)14

Em trecircs localidades da Greacutecia foi considerada uma amostra randomizada de

crianccedilas (291 com constipaccedilatildeo e 1602 controles) com idades entre dois e 14 anos

Realizou-se o registro alimentar de trecircs dias e a histoacuteria dieteacutetica para avaliar a ingestatildeo

alimentar A ingestatildeo da fibra alimentar foi estatisticamente menor na dieta das crianccedilas

constipadas em todas as faixas etaacuterias quando comparadas com o grupo-controle Os

autores salientaram que a baixa ingestatildeo de fibras na dieta de crianccedilas constipadas

independentemente da idade dos sintomas que acompanham a disfunccedilatildeo e da idade de

iniacutecio sustenta a hipoacutetese causal da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica em crianccedilas31

Segundo a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e

Nutriccedilatildeo (NASPGHAN) o uso de fibras pela crianccedila constipada ainda eacute contraditoacuterio e ateacute

que novos estudos demonstrem a eficaacutecia do tratamento com esse produto os resultados

atuais satildeo fracos para apoiar a recomendaccedilatildeo definitiva de sua suplementaccedilatildeo no

tratamento dessa morbidade25

Pesquisas mais especiacuteficas quanto ao consumo de fibras por lactentes satildeo escassas

na literatura cientiacutefica14

A aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos alimentares e a escolha de tabelas

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 19: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

19

proacuteprio2313-1527-29

sendo que nos estudos de Ludvigsson28

e Souza15

o criteacuterio utilizado

para diagnosticar os lactentes constipados foi a percepccedilatildeo das matildees

15 Fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal

151 Caracteriacutesticas constitucionais e hereditaacuterias

A literatura mostra a ocorrecircncia de constipaccedilatildeo entre os familiares das crianccedilas

constipadas3031

Na Espanha em 2005 foi realizado um estudo de caso-controle para avaliar os

fatores associados ao desenvolvimento da constipaccedilatildeo infantil Foram incluiacutedas crianccedilas

com idades entre quatro meses e 15 anos e que apresentavam quadro de constipaccedilatildeo

crocircnica Seus controles eram as crianccedilas imediatamente atendidas sem histoacuteria preacutevia de

constipaccedilatildeo No grupo-controle 351 das crianccedilas apresentavam histoacuteria familiar com

quadro de constipaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com 542 do grupo em estudo cuja diferenccedila foi

significativa entre os grupos (plt0001) Na situaccedilatildeo pais separados a matildee apresentou mais

frequecircncia de constipaccedilatildeo no grupo de crianccedilas constipadas em relaccedilatildeo ao grupo-controle

956 e 286 respectivamente (plt0001)30

Na investigaccedilatildeo de Roma et al (1999)31

que avaliou a presenccedila de constipaccedilatildeo em

crianccedilas de dois a 14 anos identificou-se histoacuteria familiar positiva para o distuacuterbio (pais ou

irmatildeos) em 625 das crianccedilas constipadas e em 303 dos familiares dos indiviacuteduos

controles (p lt0000001) A prevalecircncia de constipaccedilatildeo crocircnica em crianccedilas foi de 34 se

nenhum dos pais manifestava o problema 103 se um dos pais estava constipado e

485 se ambos (p lt00001)31

152 Aleitamento materno

Alguns estudos tecircm demonstrado que o aleitamento materno constitui-se em fator

de proteccedilatildeo contra o desenvolvimento da constipaccedilatildeo intestinal na crianccedila314

Iacono et al (2005)3 desenvolveram uma pesquisa para avaliar a frequecircncia dos

sintomas gastrintestinais mais comuns durante os primeiros seis meses de vida e avaliar a

influecircncia de algumas variaacuteveis sobre o aparecimento dos sintomas Foram acompanhadas

20

2879 crianccedilas do nascimento ateacute os seis meses de vida A constipaccedilatildeo esteve presente em

507 e foi diagnosticada em idades entre 27 e 33 dias Os lactentes constipados natildeo

apresentaram diferenccedila na comparaccedilatildeo com aqueles sem a morbidade em relaccedilatildeo ao peso

ao nascer idade gestacional idade e niacutevel de ensino da matildee e do pai No entanto o nuacutemero

foi significativamente mais baixo na frequecircncia do aleitamento materno em relaccedilatildeo agraves

crianccedilas sem constipaccedilatildeo (763 versus 849 p=0007)3

A relaccedilatildeo entre o tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal foi

analisada em 275 lactentes atendidos consecutivamente no periacuteodo de dezembro de 1996 a

dezembro de 1997 concluindo-se que o aleitamento natural predominante eacute um fator de

proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo no primeiro semestre de vida14

Em um estudo de caso-controle realizado em um ambulatoacuterio de pediatria no

periacuteodo de outubro de 1997 a abril de 1999 foram acompanhados dois grupos de crianccedilas

com idades entre dois e 12 anos O primeiro grupo foi constituiacutedo de crianccedilas com

diagnoacutestico de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional e o segundo de crianccedilas com haacutebito

intestinal normal (grupo-controle) pareadas ao primeiro de acordo com o gecircnero e a faixa

etaacuteria Nos dois grupos foi aplicado um questionaacuterio padronizado para obter informaccedilotildees

sobre as caracteriacutesticas do haacutebito intestinal iniacutecio dos sintomas e o periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo Os autores concluiacuteram que houve tendecircncia ao periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo ser mais longo no grupo de crianccedilas sem constipaccedilatildeo32

153 Aleitamento artificial

No primeiro ano de vida satildeo frequentes as reaccedilotildees adversas ao leite de vaca Aleacutem

de sintomas respiratoacuterios e dermatoloacutegicos tambeacutem foram verificados sintomas

gastrintestinais como a constipaccedilatildeo intestinal e sangue nas fezes33-37

Em 2008 foram avaliadas durante um ano 555 crianccedilas nascidas consecutivamente

em um hospital Apenas 27 delas apresentaram reaccedilatildeo aleacutergica ao leite de vaca e somente

uma manifestou como sintoma a constipaccedilatildeo33

Na Turquia foi realizado um estudo retrospectivo com dois grupos de 30 crianccedilas

com idades compreendidas entre quatro meses e trecircs anos O grupo I foi constituiacutedo de

crianccedilas com fissura anal e constipaccedilatildeo crocircnica e que natildeo apresentavam necessidade de

cirurgia e o grupo II incluiu crianccedilas normais O consumo diaacuterio de leite de vaca a

duraccedilatildeo do aleitamento materno e outras caracteriacutesticas cliacutenicas das crianccedilas foram

21

investigadas O consumo meacutedio diaacuterio de leite de vaca foi maior (plt0001) e o tempo de

amamentaccedilatildeo foi mais curto no grupo I (plt0001 e plt0006 respectivamente) O risco

(odds ratio) de constipaccedilatildeo quando presentes cada um desses fatores foi de 86 (intervalo

de confianccedila - IC95 023-074 p=00005) e 57 (IC 95 037-066 p=0007)

respectivamente As crianccedilas que consumiam mais quantidade de leite de vaca

apresentaram risco oito vezes mais alto de desenvolver constipaccedilatildeo e fissura anal assim

como naqueles com duraccedilatildeo mais curta do aleitamento materno o risco foi cinco vezes

mais alto Os pesquisadores preconizam atraso na introduccedilatildeo do leite de vaca e o

consequente aumento no tempo do aleitamento materno34

Em outra pesquisa 27 crianccedilas com idades entre cinco e 36 meses e com

constipaccedilatildeo intestinal crocircnica idiopaacutetica foram investigadas na possiacutevel relaccedilatildeo entre

constipaccedilatildeo e alergia agrave proteiacutena do leite de vaca Inicialmente elas foram observadas

consumindo dieta sem restriccedilotildees e registrava-se o nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias

Posteriormente receberam dieta sem a proteiacutena do leite de vaca por dois periacuteodos de um

mecircs separados por dois desafios com a proteiacutena do leite de vaca Durante a dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca 21 apresentaram melhora dos sintomas e durante os dois desafios

consecutivos a constipaccedilatildeo reapareceu no periacuteodo de 48 a 72 horas A dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca natildeo melhorou a constipaccedilatildeo em seis pacientes Apenas quatro que

melhoraram com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca manifestaram sintomas de

alergia ao leite de vaca Histoacuteria meacutedica de alergia ao leite de vaca foi encontrada em 15

dos 21 pacientes curados e em apenas um dos seis que natildeo melhoraram (plt005) Ainda

nos 15 dos 21 curados os resultados de um ou mais testes laboratoriais (dosagem de

imunoglobulinas E e G ndash IgE IgG antiβ lactoglobulina e eosinoacutefilos circulantes) foram

positivos no momento do diagnoacutestico indicando hipersensibilidade comparados com um

dos seis pacientes que natildeo tinham melhorado (plt 0005) Os resultados encontrados na

endoscopia e histologia no momento do diagnoacutestico mostraram proctite monociacutetica com

infiltraccedilatildeo em duas crianccedilas curadas com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca depois

de um mecircs da dieta eles estavam completamente normais A conclusatildeo foi que a

constipaccedilatildeo pode ter patogecircnese aleacutergica35

Em 1995 Hyams et al desenvolveram um estudo prospectivo duplo-cego para

avaliar o efeito das foacutermulas nas caracteriacutesticas das fezes de lactentes Foram selecionadas

crianccedilas saudaacuteveis com um mecircs de idade e acompanhadas por 14 dias Os autores

demonstraram que aquelas alimentadas com leite materno apresentaram maior frequecircncia

22

evacuatoacuteria (p lt 0001) e fezes mais macias (p lt 00001) do que as alimentadas com

foacutermulas laacutecteas36

154 Fibra alimentar

As fibras alimentares satildeo habitualmente consideradas importantes para a prevenccedilatildeo

da constipaccedilatildeo Acredita-se que a sua introduccedilatildeo na alimentaccedilatildeo complementar de forma

equilibrada certamente contribuiraacute para a pouca ocorrecircncia desse distuacuterbio no primeiro ano

de vida37

poreacutem existem poucos trabalhos sobre o consumo de fibras por lactentes Os

resultados encontrados demonstram que a fibra alimentar desempenha papel ainda natildeo

comprovado25

No jaacute mencionado estudo de Aguirre et al (2002) que avaliou a relaccedilatildeo entre o

tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal em 275 lactentes descreveu-se a

implicaccedilatildeo do uso de fibra alimentar Para os lactentes de seis a 24 meses a comparaccedilatildeo

do consumo de fibra alimentar por aqueles com constipaccedilatildeo (mediana=90g percentis 25 e

75 69-131g) e pelos demais com haacutebito intestinal normal natildeo demonstrou diferenccedilas

significativas (mediana=88 percentis 25 e 75 61-129g) (p=057)14

Em trecircs localidades da Greacutecia foi considerada uma amostra randomizada de

crianccedilas (291 com constipaccedilatildeo e 1602 controles) com idades entre dois e 14 anos

Realizou-se o registro alimentar de trecircs dias e a histoacuteria dieteacutetica para avaliar a ingestatildeo

alimentar A ingestatildeo da fibra alimentar foi estatisticamente menor na dieta das crianccedilas

constipadas em todas as faixas etaacuterias quando comparadas com o grupo-controle Os

autores salientaram que a baixa ingestatildeo de fibras na dieta de crianccedilas constipadas

independentemente da idade dos sintomas que acompanham a disfunccedilatildeo e da idade de

iniacutecio sustenta a hipoacutetese causal da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica em crianccedilas31

Segundo a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e

Nutriccedilatildeo (NASPGHAN) o uso de fibras pela crianccedila constipada ainda eacute contraditoacuterio e ateacute

que novos estudos demonstrem a eficaacutecia do tratamento com esse produto os resultados

atuais satildeo fracos para apoiar a recomendaccedilatildeo definitiva de sua suplementaccedilatildeo no

tratamento dessa morbidade25

Pesquisas mais especiacuteficas quanto ao consumo de fibras por lactentes satildeo escassas

na literatura cientiacutefica14

A aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos alimentares e a escolha de tabelas

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 20: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

20

2879 crianccedilas do nascimento ateacute os seis meses de vida A constipaccedilatildeo esteve presente em

507 e foi diagnosticada em idades entre 27 e 33 dias Os lactentes constipados natildeo

apresentaram diferenccedila na comparaccedilatildeo com aqueles sem a morbidade em relaccedilatildeo ao peso

ao nascer idade gestacional idade e niacutevel de ensino da matildee e do pai No entanto o nuacutemero

foi significativamente mais baixo na frequecircncia do aleitamento materno em relaccedilatildeo agraves

crianccedilas sem constipaccedilatildeo (763 versus 849 p=0007)3

A relaccedilatildeo entre o tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal foi

analisada em 275 lactentes atendidos consecutivamente no periacuteodo de dezembro de 1996 a

dezembro de 1997 concluindo-se que o aleitamento natural predominante eacute um fator de

proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo no primeiro semestre de vida14

Em um estudo de caso-controle realizado em um ambulatoacuterio de pediatria no

periacuteodo de outubro de 1997 a abril de 1999 foram acompanhados dois grupos de crianccedilas

com idades entre dois e 12 anos O primeiro grupo foi constituiacutedo de crianccedilas com

diagnoacutestico de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional e o segundo de crianccedilas com haacutebito

intestinal normal (grupo-controle) pareadas ao primeiro de acordo com o gecircnero e a faixa

etaacuteria Nos dois grupos foi aplicado um questionaacuterio padronizado para obter informaccedilotildees

sobre as caracteriacutesticas do haacutebito intestinal iniacutecio dos sintomas e o periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo Os autores concluiacuteram que houve tendecircncia ao periacuteodo de aleitamento

materno exclusivo ser mais longo no grupo de crianccedilas sem constipaccedilatildeo32

153 Aleitamento artificial

No primeiro ano de vida satildeo frequentes as reaccedilotildees adversas ao leite de vaca Aleacutem

de sintomas respiratoacuterios e dermatoloacutegicos tambeacutem foram verificados sintomas

gastrintestinais como a constipaccedilatildeo intestinal e sangue nas fezes33-37

Em 2008 foram avaliadas durante um ano 555 crianccedilas nascidas consecutivamente

em um hospital Apenas 27 delas apresentaram reaccedilatildeo aleacutergica ao leite de vaca e somente

uma manifestou como sintoma a constipaccedilatildeo33

Na Turquia foi realizado um estudo retrospectivo com dois grupos de 30 crianccedilas

com idades compreendidas entre quatro meses e trecircs anos O grupo I foi constituiacutedo de

crianccedilas com fissura anal e constipaccedilatildeo crocircnica e que natildeo apresentavam necessidade de

cirurgia e o grupo II incluiu crianccedilas normais O consumo diaacuterio de leite de vaca a

duraccedilatildeo do aleitamento materno e outras caracteriacutesticas cliacutenicas das crianccedilas foram

21

investigadas O consumo meacutedio diaacuterio de leite de vaca foi maior (plt0001) e o tempo de

amamentaccedilatildeo foi mais curto no grupo I (plt0001 e plt0006 respectivamente) O risco

(odds ratio) de constipaccedilatildeo quando presentes cada um desses fatores foi de 86 (intervalo

de confianccedila - IC95 023-074 p=00005) e 57 (IC 95 037-066 p=0007)

respectivamente As crianccedilas que consumiam mais quantidade de leite de vaca

apresentaram risco oito vezes mais alto de desenvolver constipaccedilatildeo e fissura anal assim

como naqueles com duraccedilatildeo mais curta do aleitamento materno o risco foi cinco vezes

mais alto Os pesquisadores preconizam atraso na introduccedilatildeo do leite de vaca e o

consequente aumento no tempo do aleitamento materno34

Em outra pesquisa 27 crianccedilas com idades entre cinco e 36 meses e com

constipaccedilatildeo intestinal crocircnica idiopaacutetica foram investigadas na possiacutevel relaccedilatildeo entre

constipaccedilatildeo e alergia agrave proteiacutena do leite de vaca Inicialmente elas foram observadas

consumindo dieta sem restriccedilotildees e registrava-se o nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias

Posteriormente receberam dieta sem a proteiacutena do leite de vaca por dois periacuteodos de um

mecircs separados por dois desafios com a proteiacutena do leite de vaca Durante a dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca 21 apresentaram melhora dos sintomas e durante os dois desafios

consecutivos a constipaccedilatildeo reapareceu no periacuteodo de 48 a 72 horas A dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca natildeo melhorou a constipaccedilatildeo em seis pacientes Apenas quatro que

melhoraram com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca manifestaram sintomas de

alergia ao leite de vaca Histoacuteria meacutedica de alergia ao leite de vaca foi encontrada em 15

dos 21 pacientes curados e em apenas um dos seis que natildeo melhoraram (plt005) Ainda

nos 15 dos 21 curados os resultados de um ou mais testes laboratoriais (dosagem de

imunoglobulinas E e G ndash IgE IgG antiβ lactoglobulina e eosinoacutefilos circulantes) foram

positivos no momento do diagnoacutestico indicando hipersensibilidade comparados com um

dos seis pacientes que natildeo tinham melhorado (plt 0005) Os resultados encontrados na

endoscopia e histologia no momento do diagnoacutestico mostraram proctite monociacutetica com

infiltraccedilatildeo em duas crianccedilas curadas com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca depois

de um mecircs da dieta eles estavam completamente normais A conclusatildeo foi que a

constipaccedilatildeo pode ter patogecircnese aleacutergica35

Em 1995 Hyams et al desenvolveram um estudo prospectivo duplo-cego para

avaliar o efeito das foacutermulas nas caracteriacutesticas das fezes de lactentes Foram selecionadas

crianccedilas saudaacuteveis com um mecircs de idade e acompanhadas por 14 dias Os autores

demonstraram que aquelas alimentadas com leite materno apresentaram maior frequecircncia

22

evacuatoacuteria (p lt 0001) e fezes mais macias (p lt 00001) do que as alimentadas com

foacutermulas laacutecteas36

154 Fibra alimentar

As fibras alimentares satildeo habitualmente consideradas importantes para a prevenccedilatildeo

da constipaccedilatildeo Acredita-se que a sua introduccedilatildeo na alimentaccedilatildeo complementar de forma

equilibrada certamente contribuiraacute para a pouca ocorrecircncia desse distuacuterbio no primeiro ano

de vida37

poreacutem existem poucos trabalhos sobre o consumo de fibras por lactentes Os

resultados encontrados demonstram que a fibra alimentar desempenha papel ainda natildeo

comprovado25

No jaacute mencionado estudo de Aguirre et al (2002) que avaliou a relaccedilatildeo entre o

tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal em 275 lactentes descreveu-se a

implicaccedilatildeo do uso de fibra alimentar Para os lactentes de seis a 24 meses a comparaccedilatildeo

do consumo de fibra alimentar por aqueles com constipaccedilatildeo (mediana=90g percentis 25 e

75 69-131g) e pelos demais com haacutebito intestinal normal natildeo demonstrou diferenccedilas

significativas (mediana=88 percentis 25 e 75 61-129g) (p=057)14

Em trecircs localidades da Greacutecia foi considerada uma amostra randomizada de

crianccedilas (291 com constipaccedilatildeo e 1602 controles) com idades entre dois e 14 anos

Realizou-se o registro alimentar de trecircs dias e a histoacuteria dieteacutetica para avaliar a ingestatildeo

alimentar A ingestatildeo da fibra alimentar foi estatisticamente menor na dieta das crianccedilas

constipadas em todas as faixas etaacuterias quando comparadas com o grupo-controle Os

autores salientaram que a baixa ingestatildeo de fibras na dieta de crianccedilas constipadas

independentemente da idade dos sintomas que acompanham a disfunccedilatildeo e da idade de

iniacutecio sustenta a hipoacutetese causal da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica em crianccedilas31

Segundo a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e

Nutriccedilatildeo (NASPGHAN) o uso de fibras pela crianccedila constipada ainda eacute contraditoacuterio e ateacute

que novos estudos demonstrem a eficaacutecia do tratamento com esse produto os resultados

atuais satildeo fracos para apoiar a recomendaccedilatildeo definitiva de sua suplementaccedilatildeo no

tratamento dessa morbidade25

Pesquisas mais especiacuteficas quanto ao consumo de fibras por lactentes satildeo escassas

na literatura cientiacutefica14

A aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos alimentares e a escolha de tabelas

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 21: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

21

investigadas O consumo meacutedio diaacuterio de leite de vaca foi maior (plt0001) e o tempo de

amamentaccedilatildeo foi mais curto no grupo I (plt0001 e plt0006 respectivamente) O risco

(odds ratio) de constipaccedilatildeo quando presentes cada um desses fatores foi de 86 (intervalo

de confianccedila - IC95 023-074 p=00005) e 57 (IC 95 037-066 p=0007)

respectivamente As crianccedilas que consumiam mais quantidade de leite de vaca

apresentaram risco oito vezes mais alto de desenvolver constipaccedilatildeo e fissura anal assim

como naqueles com duraccedilatildeo mais curta do aleitamento materno o risco foi cinco vezes

mais alto Os pesquisadores preconizam atraso na introduccedilatildeo do leite de vaca e o

consequente aumento no tempo do aleitamento materno34

Em outra pesquisa 27 crianccedilas com idades entre cinco e 36 meses e com

constipaccedilatildeo intestinal crocircnica idiopaacutetica foram investigadas na possiacutevel relaccedilatildeo entre

constipaccedilatildeo e alergia agrave proteiacutena do leite de vaca Inicialmente elas foram observadas

consumindo dieta sem restriccedilotildees e registrava-se o nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias

Posteriormente receberam dieta sem a proteiacutena do leite de vaca por dois periacuteodos de um

mecircs separados por dois desafios com a proteiacutena do leite de vaca Durante a dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca 21 apresentaram melhora dos sintomas e durante os dois desafios

consecutivos a constipaccedilatildeo reapareceu no periacuteodo de 48 a 72 horas A dieta livre de

proteiacutena do leite de vaca natildeo melhorou a constipaccedilatildeo em seis pacientes Apenas quatro que

melhoraram com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca manifestaram sintomas de

alergia ao leite de vaca Histoacuteria meacutedica de alergia ao leite de vaca foi encontrada em 15

dos 21 pacientes curados e em apenas um dos seis que natildeo melhoraram (plt005) Ainda

nos 15 dos 21 curados os resultados de um ou mais testes laboratoriais (dosagem de

imunoglobulinas E e G ndash IgE IgG antiβ lactoglobulina e eosinoacutefilos circulantes) foram

positivos no momento do diagnoacutestico indicando hipersensibilidade comparados com um

dos seis pacientes que natildeo tinham melhorado (plt 0005) Os resultados encontrados na

endoscopia e histologia no momento do diagnoacutestico mostraram proctite monociacutetica com

infiltraccedilatildeo em duas crianccedilas curadas com a dieta livre de proteiacutena do leite de vaca depois

de um mecircs da dieta eles estavam completamente normais A conclusatildeo foi que a

constipaccedilatildeo pode ter patogecircnese aleacutergica35

Em 1995 Hyams et al desenvolveram um estudo prospectivo duplo-cego para

avaliar o efeito das foacutermulas nas caracteriacutesticas das fezes de lactentes Foram selecionadas

crianccedilas saudaacuteveis com um mecircs de idade e acompanhadas por 14 dias Os autores

demonstraram que aquelas alimentadas com leite materno apresentaram maior frequecircncia

22

evacuatoacuteria (p lt 0001) e fezes mais macias (p lt 00001) do que as alimentadas com

foacutermulas laacutecteas36

154 Fibra alimentar

As fibras alimentares satildeo habitualmente consideradas importantes para a prevenccedilatildeo

da constipaccedilatildeo Acredita-se que a sua introduccedilatildeo na alimentaccedilatildeo complementar de forma

equilibrada certamente contribuiraacute para a pouca ocorrecircncia desse distuacuterbio no primeiro ano

de vida37

poreacutem existem poucos trabalhos sobre o consumo de fibras por lactentes Os

resultados encontrados demonstram que a fibra alimentar desempenha papel ainda natildeo

comprovado25

No jaacute mencionado estudo de Aguirre et al (2002) que avaliou a relaccedilatildeo entre o

tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal em 275 lactentes descreveu-se a

implicaccedilatildeo do uso de fibra alimentar Para os lactentes de seis a 24 meses a comparaccedilatildeo

do consumo de fibra alimentar por aqueles com constipaccedilatildeo (mediana=90g percentis 25 e

75 69-131g) e pelos demais com haacutebito intestinal normal natildeo demonstrou diferenccedilas

significativas (mediana=88 percentis 25 e 75 61-129g) (p=057)14

Em trecircs localidades da Greacutecia foi considerada uma amostra randomizada de

crianccedilas (291 com constipaccedilatildeo e 1602 controles) com idades entre dois e 14 anos

Realizou-se o registro alimentar de trecircs dias e a histoacuteria dieteacutetica para avaliar a ingestatildeo

alimentar A ingestatildeo da fibra alimentar foi estatisticamente menor na dieta das crianccedilas

constipadas em todas as faixas etaacuterias quando comparadas com o grupo-controle Os

autores salientaram que a baixa ingestatildeo de fibras na dieta de crianccedilas constipadas

independentemente da idade dos sintomas que acompanham a disfunccedilatildeo e da idade de

iniacutecio sustenta a hipoacutetese causal da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica em crianccedilas31

Segundo a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e

Nutriccedilatildeo (NASPGHAN) o uso de fibras pela crianccedila constipada ainda eacute contraditoacuterio e ateacute

que novos estudos demonstrem a eficaacutecia do tratamento com esse produto os resultados

atuais satildeo fracos para apoiar a recomendaccedilatildeo definitiva de sua suplementaccedilatildeo no

tratamento dessa morbidade25

Pesquisas mais especiacuteficas quanto ao consumo de fibras por lactentes satildeo escassas

na literatura cientiacutefica14

A aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos alimentares e a escolha de tabelas

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 22: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

22

evacuatoacuteria (p lt 0001) e fezes mais macias (p lt 00001) do que as alimentadas com

foacutermulas laacutecteas36

154 Fibra alimentar

As fibras alimentares satildeo habitualmente consideradas importantes para a prevenccedilatildeo

da constipaccedilatildeo Acredita-se que a sua introduccedilatildeo na alimentaccedilatildeo complementar de forma

equilibrada certamente contribuiraacute para a pouca ocorrecircncia desse distuacuterbio no primeiro ano

de vida37

poreacutem existem poucos trabalhos sobre o consumo de fibras por lactentes Os

resultados encontrados demonstram que a fibra alimentar desempenha papel ainda natildeo

comprovado25

No jaacute mencionado estudo de Aguirre et al (2002) que avaliou a relaccedilatildeo entre o

tipo de aleitamento e a presenccedila de constipaccedilatildeo intestinal em 275 lactentes descreveu-se a

implicaccedilatildeo do uso de fibra alimentar Para os lactentes de seis a 24 meses a comparaccedilatildeo

do consumo de fibra alimentar por aqueles com constipaccedilatildeo (mediana=90g percentis 25 e

75 69-131g) e pelos demais com haacutebito intestinal normal natildeo demonstrou diferenccedilas

significativas (mediana=88 percentis 25 e 75 61-129g) (p=057)14

Em trecircs localidades da Greacutecia foi considerada uma amostra randomizada de

crianccedilas (291 com constipaccedilatildeo e 1602 controles) com idades entre dois e 14 anos

Realizou-se o registro alimentar de trecircs dias e a histoacuteria dieteacutetica para avaliar a ingestatildeo

alimentar A ingestatildeo da fibra alimentar foi estatisticamente menor na dieta das crianccedilas

constipadas em todas as faixas etaacuterias quando comparadas com o grupo-controle Os

autores salientaram que a baixa ingestatildeo de fibras na dieta de crianccedilas constipadas

independentemente da idade dos sintomas que acompanham a disfunccedilatildeo e da idade de

iniacutecio sustenta a hipoacutetese causal da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica em crianccedilas31

Segundo a Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia Hepatologia e

Nutriccedilatildeo (NASPGHAN) o uso de fibras pela crianccedila constipada ainda eacute contraditoacuterio e ateacute

que novos estudos demonstrem a eficaacutecia do tratamento com esse produto os resultados

atuais satildeo fracos para apoiar a recomendaccedilatildeo definitiva de sua suplementaccedilatildeo no

tratamento dessa morbidade25

Pesquisas mais especiacuteficas quanto ao consumo de fibras por lactentes satildeo escassas

na literatura cientiacutefica14

A aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos alimentares e a escolha de tabelas

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 23: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

23

confiaacuteveis satildeo fundamentais na conduccedilatildeo de estudos com objetivos de esclarecer a relaccedilatildeo

entre a constipaccedilatildeo intestinal de lactentes e a fibra alimentar

16 Consideraccedilotildees finais

As queixas evacuatoacuterias do lactente carecem de melhor caracterizaccedilatildeo O padratildeo

evacuatoacuterio normal pode ser confundido com um comportamento alterado Melhor

configuraccedilatildeo do limite entre o normal e o anormal traraacute importantes subsiacutedios para a

definiccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal dos lactentes

A identificaccedilatildeo de casos leves ou iniciais tem repercussatildeo sobre a sauacutede do

indiviacuteduo e sobre aspectos importantes da sauacutede puacuteblica tal como o gasto com a doenccedila

Estudos sobre prevalecircncia conduzidos a partir de definiccedilotildees mais claras sobre o que

eacute a doenccedila em lactentes traratildeo melhor compreensatildeo do impacto da morbidade na

populaccedilatildeo Fatores de risco ainda natildeo conhecidos poderatildeo ser identificados Esse deve ser

o caminho para a formulaccedilatildeo de novas accedilotildees terapecircuticas e principalmente profilaacuteticas no

cuidado agrave sauacutede do indiviacuteduo

Referecircncias

1- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Clinical Practice Guideline Evaluation

and treatment of constipation in infants and children recommendations of the North

American Society for Pediatric Gastroenteroly Hepatology and Nutrition J Pediatr

Gastroenterol Nutr 2006 43e1- e13

2- Loening-Baucke V Prevalence symptoms and outcome of constipation in infants and

toddlers J Pediatr 2005 146 359-63

3- Iacono G Merolla R DAmico D Bonci E Cavataio F Di Prima L et al Paediatric

study group on gastrointestinal symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in

infancy a population-based prospective study Dig Liver Dis 2005 37432-8

4- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 200814(2)248-54

5- Biggs WS Dery WH Am Fam Physician Evaluation and treatment of constipation in

infants and children Am Fam Physician 2006 73 469-477

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 24: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

24

6- Baker SS Liptak GS Colletti RB Croffie JM Di Lorenzo C Ector W et al

Constipation in infants and children evaluation and treatment A medical position

statement of the North American Society for Pediatric Gastroenterology and Nutrition

J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999 Nov 29(5)612-26

7- Maffei HV Moreira FL Kissimoto M Chaves SM Faro SE Aleixo AM Histoacuteria

cliacutenica e alimentar de crianccedilas atendidas em ambulatoacuterio de gastroenterologia

pediaaacutetrica (GEP) com constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional (CICF) e suas possiacuteveis

complicaccedilotildees J Pediatr (Rio J) 199470 280-6

8- Hyman P Milla PJ Benninga MA Davidson GP Fleisher DF Taminiau J Childhood

functional gastrointestinal disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-

26

9- Iacomo G Cavataio F Montalto G Florena A Tumminello M Soresi M et al

Intolerance of cowrsquos milk and chronic constipation in children N Engl J Med 1998

3391100-4

10- Voskuijl WP Heijmans J Heijmans HS Taminiau JA Benninga MA Use of Rome II

criteria in childhood defecation disorders applicability in clinical and research

practice J Pediatr 2004 145213-7

11- van den Berg MM Benninga MA Di Lorenzo C Epidemiology of childhood

constipation a systematic review Am J Gastroenterol 2006 1012401-9

12- Morais MB Maffei HVL Constipaccedilatildeo intestinal J Pediatr (R J) 2000 76 supl2 147-

155

13- Motta MEFA Silva GAP Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica funcional na infacircncia

diagnoacutestico e prevalecircncia em uma comunidade de baixa renda J Pediatr (Rio J) 1998

74451-454

14- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF Morais MB Constipaccedilatildeo em lactentes

influecircncia do tipo de aleitamento e da ingestatildeo de fibra alimentar J Pediatr (R J) 2002

78202-08

15- Souza MFT Silva GAP Constipaccedilatildeo crocircnica prevalecircncia no ambulatoacuterio do Hospital

Geral de Pediatria do Instituto Materno Infantil de Pernambuco Rev Bras Sauacutede

Matern Infant 2001 159-63

16- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA Fernandes MIM Prevalecircncia de constipaccedilatildeo

intestinal crocircnica em crianccedilas atendidas em unidade baacutesica de sauacutede J Pediatr (Rio J)

2002 78497-502

17- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005 31101-6

18- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 25: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como

25

19- Medeiros LC Morais MB Tahan S Fukushima E Motta ME Fagundes-Neto U

Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo

com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol 2007 44340-4

20- Drossman DA Thompson WG Talley NJ et al Identification of subgroups of

functional bowel disorders Gastroenterol Int 19903159ndash72

21- Martiacutenez-Costa C Palao Ortuntildeo MJ Alfaro Ponce B Nuacutentildeez Goacutemez F Martiacutenez-

Rodriacuteguez L Ferreacute Franch I et al Functional constipation prospective study and

treatment response An Pediatr (Barc) 2005 Nov63(5)418-25

22- Fontana M Bianchi C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Paediatr Scand 1989 78682-4

23- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S Fleisher DR Hyams JS Milla PJ et al

Childhood functional gastrointestinal disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

24- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG Clayden G Loening-Baucke V Di Lorenzo

C et al The Paris Consensus on Childhood Constipation Terminology (PACCT)

Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005 40273-75

25- Boccia G Manguso F Coccorullo P Masi P Pensabene L Staiano A Functional

defecation disorders in children PACCT Criteria versus Rome II Criteria J Pediatr

2007 151394-98

26- Miele E Simeone D Marino A Greco L Auricchio R Novek SJ et al Functional

gastrointestinal disorders in children An italian prospective survey Pediatrics 2004

11473-8

27- Corazziari E Staiano A Miele E Greco L Italian Society of Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Bowel frequency and defecatory patterns

in children a prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 2005

111101-6

28- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 2006 95573-580

29- Pina DI Llach BX Arintildeo-Armengol B Iglesias VV Prevalence and dietetic

management of mid gastrointestinal disorders in milk-fed infants World J

Gastroenterol 2008 14248-54

30- Comas Vives A Polanco Allueacute I Grupo de trabajo espantildeol para el estudio del

estrentildeimiento en la poblacioacuten infantil The FREI Study An Pediatr (Barc) 2005

62340-345

31- Roma E Adamidis D Nikolara R Constantopoulos A Messaritakis J Diet and

chronic constipation and children The role of fiber J Pediatr Gastroenterol Nutr 1999

28169-74

26

32- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC Morais MB Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40 181-187

33- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 2008 97196-200

34- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

35- lacono G Carroccio A Cavataio F Montalto G Cantarero MD Notarbartolo A

Chronic constipation as a symptom of cow milk allergy J Pediatr 1995 12634-9

36- Hyams JS Treem WR Etienne NL Weinerman H MacGilpin D Hine P et al Effect

of infant formula on stool characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan

95(1)50-4

37- Slavin JL Position of the American Dietetic Association health implications of dietary

fiber J Am Diet Assoc 2008 1081716-31

2 ARTIGO ORIGINAL _________________________________________________________________________

PREVALEcircNCIA E FATORES ASSOCIADOS Agrave

CONSTIPACcedilAtildeO INTESTINAL E AOS OUTROS

TRANSTORNOS EVACUATOacuteRIOS

NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

28

Resumo

Prevalecircncia e fatores associados agrave constipaccedilatildeo intestinal e aos outros transtornos

evacuatoacuterios no primeiro ano de vida

Introduccedilatildeo a constipaccedilatildeo intestinal eacute queixa comum nos distuacuterbios

gastrintestinais na infacircncia Objetivou-se determinar sua real prevalecircncia no primeiro ano

de vida Populaccedilatildeo e meacutetodos estudaram-se longitudinalmente crianccedilas (n=151) desde o

nascimento ateacute um ano de vida na cidade de Itauacutena-MG Foram analisados os sintomas

evacuatoacuterios como dor esforccedilo dificuldade tipo de fezes e aleitamento Resultados a

prevalecircncia de crianccedilas com fezes duras em pelo menos um mecircs foi de 64 e por dois ou

mais meses consecutivos foi de 45 Os lactentes que mostraram dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar tiveram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias As crianccedilas sem dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio

dor ao evacuar e sem fezes duras tiveram mais frequecircncia evacuatoacuteria (valor-p le 005) O

aleitamento (artificial misto e predominante) eacute uma caracteriacutestica associada agrave existecircncia de

fezes duras por pelo menos dois meses consecutivos (p le 005) Nas crianccedilas com

aleitamento artificial a chance de fezes duras foi de 250 vezes mais do que as com

aleitamento predominante A constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo periacuteodo

de dois meses Conclusatildeo a constataccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de

constipaccedilatildeo intestinal de lactentes Sua prevalecircncia definida pelo periacuteodo de dois meses

consecutivos foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute fator de risco para o

desenvolvimento da constipaccedilatildeo no primeiro ano de vida

Palavras-chave Constipaccedilatildeo intestinal Lactente Epidemiologia Fatores de risco

Abstract

Prevalence and factors associated with constipation and other disorders evacuatory

the first year of life

Introduction the intestinal constipation is a common complaint in the

gastrointestinal disorders of the childhood The aim of this study is to determine the actual

prevalence in the first year of life Population and methods children (n=151) were

evaluated longitudinally from the birth up to the first year of life in the city of Itauacutena-

MG The evacuation symptoms like pain effort difficulty type of feces and breastfeeding

were analyzed Results the prevalence of children with hard feces in at least one month

was of 64 and for two or more consecutive months was of 45 The infants that have

shown pain effort and difficulty to evacuate had a higher probability to present hard feces

(OR = 27) in comparison to those with soft feces The children with no difficulty effort

and pain to evacuate and hard feces presented a higher evacuative frequency (value-p le

005) The breastfeeding (artificial mixed and predominant) is a characteristic associated

to the presence of hard feces for at least two consecutive months (p le 005) For the

children submitted to artificial breastfeeding the probability of hard feces was 25 times

higher than those submitted to predominant breastfeeding The chronic intestinal

constipation must be defined as the presence of hard feces associated to the effort pain or

difficulty to evacuate during a period of two months Conclusion the verification of hard

feces must be included in the definition of the intestinal constipation of infants A

prevalence of 45 was observed in a period of two consecutive months The mixed and

artificial breastfeeding is a risk factor for the development of constipation in the first year

of life

29

Key-words Intestinal constipation Infant Epidemiology Risk factors

21 Introduccedilatildeo

A constipaccedilatildeo intestinal (CI) eacute a queixa mais comum em relaccedilatildeo aos distuacuterbios

funcionais gastrintestinais na infacircncia (1-3) Eacute responsaacutevel por 25 milhotildees de visitas

anuais ao meacutedico nos Estados Unidos e por gastos de milhotildees de doacutelares com medicaccedilatildeo

(4) Os pais de lactentes estatildeo sempre muito atentos ao padratildeo evacuatoacuterio e na vigecircncia

de qualquer anormalidade eles os encaminham agrave consulta meacutedica (5) Nos consultoacuterios a

assistecircncia agrave crianccedila constipada chega a representar 3 dos atendimentos pediaacutetricos e 10

a 25 das consultas gastrenteroloacutegicas (6)

Atualmente vaacuterias definiccedilotildees de constipaccedilatildeo na infacircncia tecircm sido propostas para a

investigaccedilatildeo cliacutenica (57-9) Os criteacuterios estabelecidos pelo consenso de Roma III para a

identificaccedilatildeo da CI em lactentes e crianccedilas ateacute os quatro anos de idade tecircm sido os mais

utilizados Por ele a CI ocorre quando no periacuteodo de 30 dias acontecem pelo menos dois

dos seguintes eventos duas ou menos defecaccedilotildees por semana ao menos um episoacutedio de

incontinecircncia por semana (apoacutes o treinamento para o uso do banheiro) retenccedilatildeo excessiva

de fezes evacuaccedilotildees dolorosas ou difiacuteceis presenccedila de muita massa fecal no reto e fezes

com grande diacircmetro e que podem obstruir o vaso sanitaacuterio Em associaccedilatildeo podem ocorrer

irritabilidade e falta de apetite ou saciedade precoce que normalmente desaparecem apoacutes a

eliminaccedilatildeo das fezes (9)

Estudos epidemioloacutegicos internacionais apresentam variaccedilatildeo na prevalecircncia da

constipaccedilatildeo intestinal em lactentes de 07 (10) a 48 (11)

No Brasil as pesquisas

realizadas em ambulatoacuterios de pediatria unidades baacutesicas de sauacutede e comunidades

mostram que as prevalecircncias da constipaccedilatildeo em lactentes variam de 218 a 251 (12-16)

Natildeo foi possiacutevel em nosso conhecimento encontrar na literatura um estudo

especiacutefico que avalie a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal desde o nascimento ateacute o

primeiro ano de vida e os fatores que se associam ao seu surgimento Assim o presente

trabalho tem por objetivo estabelecer a real prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal nessa

faixa etaacuteria

30

22 Casuiacutestica e meacutetodos

221 Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Itauacutena-MG localizada a 72 km de Belo

Horizonte no periacuteodo de 29 de marccedilo de 2007 a 30 de outubro de 2008 (17)

222 Populaccedilatildeo estudada

Com o intuito de incluir na pesquisa todos os nascidos vivos na referida cidade

naquele periacuteodo o teste do pezinho foi escolhido como ponto de partida para coleta dos

endereccedilos e telefones dos participantes

No municiacutepio de Itauacutena esse programa apresenta cobertura de 98 da populaccedilatildeo

Foram incluiacutedos 151 participantes dos quais sete tiveram o acompanhamento

interrompido um por mudanccedila de municiacutepio e seis por perda do contato telefocircnico e

residencial A amostra final foi composta de 144 crianccedilas sendo 73 do gecircnero feminino

223 Delineamento do estudo

Refere-se a um estudo longitudinal no qual eram elegiacuteveis todos os lactentes

nascidos no periacuteodo de marccedilo de 2007 a setembro de 2007 Os incluiacutedos foram

acompanhados mensalmente por 12 meses

224 Criteacuterios de inclusatildeo e exclusatildeo

Os lactentes nascidos e residentes no municiacutepio de Itauacutena cujos pais ou responsaacuteveis

tivessem telefone fixo ou celular e aceitassem participar da pesquisa foram incluiacutedos no

estudo Foram excluiacutedos do estudo os lactentes que tinham alguma doenccedila ou os

responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo possuiam telefone para contato

31

225 Caacutelculo da amostra

Foi considerada uma amostra de conveniecircncia

226 Coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de um questionaacuterio estruturado (APEcircNDICE A)

A pesquisadora realizava perguntas diretas e objetivas ao cuidador da crianccedila representado

mais frequentemente pela matildee O objetivo era obter respostas curtas do tipo sim ou natildeo

Constituiu-se um grupo para coleta de dados composto da pesquisadora e seis

acadecircmicos do Curso de Nutriccedilatildeo da Universidade de Itauacutena devidamente treinados O

grupo visitou os lactentes em suas residecircncias no primeiro mecircs de vida quando foram

fornecidos esclarecimentos sobre a pesquisa e solicitado o consentimento (APEcircNDICE B)

Nessa ocasiatildeo a escala de consistecircncia de fezes (APEcircNDICE C) foi anexada agrave uma carta

explicativa (APEcircNDICE D) que ressaltava a importacircncia de tecirc-la sempre em matildeos quando

recebessem o contato por telefone e demais orientaccedilotildees sobre a pesquisa foram fornecidas

As avaliaccedilotildees subsequentes foram realizadas mensalmente por telefone ateacute a crianccedila

completar 12 meses de vida Os pais dos lactentes que foram diagnosticados com fezes

duras acompanhadas de dor esforccedilo ou dificuldade para evacuar foram orientados a

procurar assistecircncia meacutedica e nutricional

2235 Variaacuteveis coletadas

Aleacutem dos dados de identificaccedilatildeo as seguintes informaccedilotildees foram buscadas

mensalmente data do contato tipo de aleitamento e alimentos introduzidos no uacuteltimo mecircs

(biscoitos patildees massas farinhas cereais frutas vegetais cereais leguminosas carnes

leite foacutermulas laacutecteas chaacute aacutegua accediluacutecar e doces) manifestaccedilatildeo de dor esforccedilo e

dificuldade ao evacuar e tipo das fezes com base na escala de consistecircncia (APEcircNDICE

C) O aleitamento materno foi classificado em trecircs categorias a) aleitamento

predominante lactentes que recebiam exclusivamente aleitamento materno ou que

recebiam aleitamento materno aacutegua eou chaacute b) aleitamento misto a crianccedila recebia leite

materno e outros alimentos complementares que poderiam ser leite de vaca foacutermula laacutectea

32

ou qualquer outro alimento c) aleitamento artificial a crianccedila natildeo recebia leite materno

(18)

Foi criada uma escala de consistecircncia das fezes contendo seis opccedilotildees de fotografias

dos dejetos em fraldas As fotografias eram acompanhadas pelas seguintes descriccedilotildees

Tipo 1 fezes malformadas com pouca massa de cor amarela semelhante agrave

diarreacuteia do adulto

tipo 2 fezes malformadas com massa e liacutequido que sujam a fralda

tipo 3 fezes malformadas com massa e muito pouco liacutequido que sujam a fralda

tipo 4A fezes formadas com massa sem liacutequido que natildeo se desprende da fralda

tipo 4B fezes formadas com massa sem liacutequido que se desprende da fralda natildeo

deixando sujidades na mesma

tipo 5 fezes endurecidas em bolinhas unidas formando fezes grossas que natildeo

sujam a fralda

tipo 6 fezes endurecidas em bolinhas separadas que natildeo sujam a fralda

(APEcircNDICE C)

Foram consideradas ldquofezes durasrdquo as dos tipos 4B 5 e 6 conforme escala visual

2236 Anaacutelise estatiacutestica

Para a construccedilatildeo do banco de dados foi utilizado o programa Microsoft Office

Excelreg versatildeo 2003 e a anaacutelise estatiacutestica dos dados foi realizada com o software R versatildeo

271 de domiacutenio puacuteblico (19)

No banco de dados foram incluiacutedos inicialmente os 151 lactentes que seriam

acompanhados durante os 12 meses estabelecidos totalizando 1812 mediccedilotildees Entretanto

dos 151 sete natildeo puderam ser avaliados ateacute a conclusatildeo do trabalho Desse modo

obtiveram-se 1751 medidas Os resultados descritivos foram alcanccedilados a partir da

frequecircncia e de porcentagens das caracteriacutesticas das diversas variaacuteveis categoacutericas e de

medidas de tendecircncia central (meacutedia e mediana) e de dispersatildeo (desvio-padratildeo) de todas as

variaacuteveis quantitativas presentes no estudo

As variaacuteveis respostas encontradas foram dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar tipo de fezes e frequecircncia evacuatoacuteria Elas foram comparadas

entre si por meio do teste do qui-quadrado de Pearson para comparaccedilatildeo de proporccedilotildees Na

33

presenccedila de pelo menos uma frequecircncia esperada inferior a cinco foi empregado o teste

exato de Fisher Nas anaacutelises de odds ratio (OR) a categoria considerada como referecircncia

estaacute indicada nas tabelas com o valor 10

Na comparaccedilatildeo entre as variaacuteveis respostas e as covariaacuteveis contiacutenuas foi adotado o

teste t-student quando as suposiccedilotildees usuais do modelo (normalidade e homocedasticidade)

foram atendidas Caso contraacuterio usou-se o teste de Mann-Whitney As suposiccedilotildees do

teste-t foram verificadas com base no teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e o

de Levene para homocedasticidade (20)

2237 Aspectos eacuteticos

Este estudo foi aprovado pela Cacircmara do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (ANEXO A) Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o parecer nordm ETIC 34807 em 099

de outubro de 2007 (ANEXO B) e pelo Secretaacuterio Municipal de Sauacutede da Prefeitura de

Itauacutena (ANEXO C) O consentimento livre e esclarecido foi obtido pelos pais ou

responsaacuteveis (APEcircNDICE D)

23 Resultados

Os dados relativos agraves frequecircncias das covariaacuteveis categoacutericas fixas e dependentes

do tempo incluiacutedas no estudo e ainda o nuacutemero de pacientes segundo o nuacutemero de medidas

estatildeo apresentados nas Tabelas 1 e 2

34

Tabela 1 Descriccedilatildeo da amostra segundo gecircnero e nuacutemero de medidas realizadas

Variaacutevel Frequecircncia

N

Gecircnero

Masculino 73 483

Feminino 78 517

Nuacutemero de medidas por pacientes

1 medida 3 20

4 medidas 1 07

5 medidas 2 13

6 medidas 1 07

12 medidas 144 953

Tabela 2 Descriccedilatildeo da amostra segundo a covariaacutevel categoacuterica (aleitamento) dependente

do tempo

Variaacutevel Frequecircncia

n

Aleitamento

Predominante 403 230

Misto 829 473

Artificial 519 296

A frequecircncia de evacuaccedilatildeo estaacute apresentada na Tabela 3

Tabela 3 Frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacuteveis n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana

Frequecircncia de evacuaccedilatildeo

(semanal) 1751

168

105 05 700 140

DP = desvio-padratildeo

35

A Figura 1 apresenta o perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

nas diversas idades Observa-se que a frequecircncia parece diminuir ateacute aproximadamente o

quinto mecircs mantendo-se estaacutevel ateacute o nono mecircs e voltando a diminuir com menos

intensidade ateacute o 12ordm mecircs

Figura 1 Perfil com alisamento da frequecircncia de evacuaccedilatildeo semanal

A medida da frequecircncia para as variaacuteveis dificuldade para evacuar esforccedilo

evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras durante todo o periacuteodo de acompanhamento estaacute

demonstrada na Tabela 4

36

Tabela 4 Dificuldade para evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor para evacuar e tipo de fezes

nos lactentes na avaliaccedilatildeo longitudinal

Variaacutevel Frequecircncia

N

Dificuldade para evacuar

Sim 308 176

Natildeo 1442 824

Sem informaccedilatildeo 1 -

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 339

Natildeo 1157 661

Dor ao evacuar

Sim 265 151

Natildeo 1486 849

Fezes duras

Sim 325 186

Natildeo 1426 814

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas em estudo eacute mostrada nas Figuras 2 a

5 Verifica-se que as trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas mensalmente ou

seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida em

relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes constatou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

37

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dificuldade

de evacuar

Natildeo

Sim

Figura 2 Frequecircncia da dificuldade de evacuaccedilatildeo

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Esforccedilo

evacuatoacuterio

Natildeo

Sim

Figura 3 Frequecircncia do esforccedilo evacuatoacuterio

por idade do lactente (meses)

38

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Dor ao

evacuar

Natildeo

Sim

Figura 4 Frequecircncia de dor ao evacuar

por idade do lactente (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

Idade (meses) 121110987654321

160

140

120

100

80

60

40

20

0

Tipos de fezes

1 2 3 ou 4A

4B 5 ou 6

Figura 5 Frequecircncia de fezes duras

por idade do lactente (meses)

A Tabela 5 auxilia na visualizaccedilatildeo dessas frequecircncias e das porcentagens relativas

para dificuldade ao evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e fezes duras para as

crianccedilas aos trecircs seis nove e 12 meses A dificuldade ao evacuar o esforccedilo evacuatoacuterio e

a dor na evacuaccedilatildeo foram se tornando menos frequentes com o passar dos meses

ocorrendo o contraacuterio com as fezes duras que foram aparecendo mais frequentemente

39

Tabela 5 Dificuldade de evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes aos 3

6 9 e 12 meses de vida do lactente

Variaacuteveis

Idade (meses)

3 6 9 12

n n n n

Dificuldade de evacuar

Sim 38 253 25 177 24 167 20 138

Natildeo 112 747 116 823 120 833 125 862

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 57 380 51 362 42 292 40 276

Natildeo 93 620 90 638 102 708 105 724

Dor ao evacuar

Sim 27 180 22 156 17 118 15 103

Natildeo 123 820 119 844 127 882 130 897

Fezes

Duras 7 47 19 135 43 299 45 310

Natildeo duras 143 953 122 865 101 701 100 690

O graacutefico da frequecircncia evacuatoacuteria semanal considerando as crianccedilas com idades

de trecircs seis nove e doze meses eacute apresentado na Figura 6 Eacute possiacutevel perceber uma

caracteriacutestica semelhante da frequecircncia evacuatoacuteria semanal no terceiro e no sexto meses

de vida Ambos representam respectivamente o primeiro segundo e terceiro quartil igual

a sete 14 e 21 evacuaccedilotildees por semana No nono mecircs nota-se a elevaccedilatildeo do primeiro quartil

para 125 sem alteraccedilatildeo no terceiro quartil que continua representando 75 das crianccedilas

com frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a 21 vezes por semana (trecircs vezes ao dia)

Nessa idade comeccedila-se a evidenciar reduccedilatildeo na dispersatildeo dos dados No 12o mecircs 25 das

crianccedilas apresentaram frequecircncia evacuatoacuteria semanal inferior a sete vezes por semana e

75 abaixo de 14 vezes revelando que a queda mais acentuada dessa frequecircncia ocorreu

no terceiro para o quarto trimestre de vida

40

Idade (meses)

Fre

qu

ecircn

cia

ev

acu

atoacute

ria

12963

70

60

50

40

30

20

10

0

Figura 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

aos 3 6 9 e 12 meses de vida

A Tabela 6 disponibiliza os valores desses resultados

Tabela 6 Frequecircncia evacuatoacuteria semanal avaliada trimestralmente

Meses n Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo P 25 Mediana P 75

3 150 174 117 10 630 70 140 210

6 141 154 83 10 560 70 140 210

9 144 199 70 10 350 125 140 210

12 145 145 71 10 420 70 140 140

Das 151 crianccedilas do estudo a prevalecircncia de fezes duras em pelo menos um mecircs

foi de 64 No gecircnero feminino essa taxa foi de 64 e no masculino de 63 68 (45)

apresentaram fezes duras por dois ou mais meses consecutivos Essa prevalecircncia foi de

42 para o gecircnero feminino e 48 para o masculino

A Tabela 7 demonstra a prevalecircncia dos outros sintomas evacuatoacuterias quando

apresentados por pelo menos um mecircs

41

Tabela 7 Prevalecircncia de sintomas evacuatoacuterios na amostra total e para os gecircneros

Dor () Esforccedilo () Dificuldade ()

Geral 59 85 65

Gecircnero feminino 67 83 72

Gecircnero masculino 51 86 58

A prevalecircncia de crianccedilas com as trecircs caracteriacutesticas conjuntamente por pelo menos

um mecircs foi de 52 62 nas do gecircnero feminino e 43 nas do gecircnero masculino

Sete lactentes perderam acompanhamento no estudo ao longo do ano natildeo chegando

a ser avaliados por 12 meses como os demais

As comparaccedilotildees entre a dificuldade de evacuar e esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes satildeo apresentadas na Tabela 8 Salienta-se diferenccedila com

significacircncia estatiacutestica em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram

dificuldade de evacuaccedilatildeo tiveram mais chances de apresentarem esforccedilo evacuatoacuterio dor

ao evacuar e fezes duras (OR=284 188 e 28 respectivamente) do que aquelas que natildeo

exibiam essas caracteriacutesticas

Tabela 8 Comparaccedilatildeo entre a dificuldade de evacuar com esforccedilo evacuatoacuterio dor ao

evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dificuldade de evacuaccedilatildeo

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N N

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 274 890 319 221 lt0001 284 192 a 422

Natildeo 34 110 1123 779 10

Dor ao evacuar

Sim 191 620 74 51 lt0001 188 131 a 270

Natildeo 117 380 1368 949 10

Fezes duras

Sim 103 334 222 154 lt0001 28 21 a 37

Natildeo 205 666 1220 846 10

42

As comparaccedilotildees entre o esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes satildeo

apresentadas na Tabela 9 Constatou-se diferenccedila com significacircncia estatiacutestica (valor-p le

005) em todas as comparaccedilotildees As crianccedilas que apresentaram esforccedilo evacuatoacuterio tiveram

mais chances de apresentarem dor ao evacuar e fezes duras (OR=778 e 30

respectivamente) do que as que natildeo tinham essas caracteriacutesticas

Tabela 9 Comparaccedilatildeo entre esforccedilo evacuatoacuterio com dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Esforccedilo evacuatoacuterio

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

N n

Dor ao evacuar

Sim 254 428 11 10 lt0001 778 409 a 1520

Natildeo 340 572 1146 990 10

Fezes duras

Sim 180 303 145 125 lt0001 30 24 a 39

Natildeo 414 697 1012 875 10

Na Tabela 10 encontra-se a comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes cuja

diferenccedila foi estatisticamente significante (valor-p le 005) Os lactentes que apresentaram

dor ao evacuar revelaram mais chances de apresentarem fezes duras (OR=27) do que

aqueles com fezes macias

Tabela 10 Comparaccedilatildeo entre dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel

Dor ao evacuar

Valor-

p

OR

IC95 Sim Natildeo

n n

Fezes duras

Sim 89 336 236 159 lt0001 27 20 a 36

Natildeo 176 664 1250 841 10

Teste Exato de Fisher

43

Na Tabela 11 observa-se que as crianccedilas que natildeo apresentaram dificuldade de

evacuar esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e natildeo tiveram fezes duras evacuaram mais

frequentemente (valor-p le 005)

Tabela 11 Comparaccedilatildeo entre frequecircncia evacuatoacuteria semanal com dificuldade de evacuar

esforccedilo evacuatoacuterio dor ao evacuar e tipo de fezes

Covariaacutevel n Frequecircncia evacuatoacuteria semanal

Meacutedia DP Miacutenimo Maacuteximo Mediana Valor-p

Dificuldade de evacuar

Sim 308 104 80 05 560 70 lt0001

Natildeo 1442

2222

2222

2

181 105 12 700 140

Esforccedilo evacuatoacuterio

Sim 594 148 110 05 700 140 lt0001

Natildeo 1157 178 100 12 630 140

Dor ao evacuar

Sim 265 130 112 05 700 70 lt0001

Natildeo 1486

666

174 102 10 700 140

Fezes duras

Sim 325 134 67 05 420 140 lt0001

Natildeo 1426 175 110 10 700 140

Os resultados das anaacutelises univariadas que consistiram em ajustar modelos

contendo separadamente uma covariaacutevel (aleitamento) e o indicador do tempo neste

estudo representado pela idade da crianccedila estatildeo demonstrados nas Tabelas 12 e 13 A

Tabela 12 considera como variaacutevel resposta ter fezes duras por apenas um mecircs e na

Tabela 13 esse mecircs satildeo por dois meses consecutivos

O tipo de aleitamento natildeo apresentou diferenccedila com significacircncia estatiacutestica na

anaacutelise da crianccedila constipada por apenas um mecircs Na Tabela 13 poreacutem a idade da crianccedila

foi um fator relacionado com fezes duras (p lt 0001) cuja chance de elevar-se com o

aumento da idade foi de 24 Nota-se que o aleitamento (artificial misto e predominante)

eacute uma caracteriacutestica associada agrave presenccedila de fezes duras por pelo menos dois meses

consecutivos (p le 005) Ao avaliar os paracircmetros da covariaacutevel aleitamento a parte

inferior da Tabela 13 registra valor-p menor que 0001 para aleitamento misto indicando

que haacute diferenccedila no tipo de fezes em relaccedilatildeo aos que fazem uso de aleitamento

44

predominante A OR enfatiza que as crianccedilas com aleitamento misto manifestaram 120

vezes mais chances de terem fezes duras por pelo menos dois meses do que aquelas com

aleitamento predominante Jaacute para as crianccedilas com aleitamento artificial a chance dessa

ocorrecircncia foi 250 vezes mais na comparaccedilatildeo com as que receberam aleitamento

predominante

Tabela 12 Modelo com tipo de aleitamento para fezes duras por apenas um mecircs

Covariaacutevel Aleitamento 2

Idade (meses)

Valor ndash p 0274

Coeficiente 0003

OR 1003

IC 95 0998 a 1007

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor - p 1) 0246 2) 0104

Coeficiente 1292 1849

OR 3641 6352

IC 95 0411 a 32266 0683 a 59054

45

Tabela 13 Associaccedilatildeo entre tipo de fezes e aleitamento materno

Covariaacutevel Aleitamento

Idade (meses)

Valor ndash p lt0001

Coeficiente 0212

OR 124

IC 95 116 a 131

Paracircmetros da covariaacutevel

Muda com o tempo Sim

Codificaccedilatildeo 2 se artificial

1 se misto

0 se predominante

Valor ndash p 1) lt0001 2) lt0001

Coeficiente 2486 3204

OR 1201 2463

IC 95 431 a 3350 789 a 7688

24 Discussatildeo

O presente estudo envolveu 1471 dos receacutem-nascidos de Itauacutena (MG-Brasil)

nascidos no periacuteodo de marccedilo a setembro de 2007 (17) Eles foram avaliados

longitudinalmente por 12 meses consecutivos Apenas aqueles que tinham alguma doenccedila

ou cujos responsaacuteveis natildeo quiseram participar do estudo ou natildeo tinham telefone para

contato natildeo foram analisados Entre os que foram incluiacutedos apenas 463 natildeo cumpriram

o periacuteodo de 12 meses da pesquisa (Tabela 1)

Optou-se por um desenho longitudinal com a finalidade de se obter a prevalecircncia

real dos sintomas evacuatoacuterios ao longo do primeiro ano de vida visto que o tempo de

duraccedilatildeo desses transtornos e o percentual de resoluccedilatildeo dos sintomas no mesmo periacuteodo

ainda natildeo foram suficientemente estabelecidos Durante o estudo em apenas 296 das

observaccedilotildees realizadas (total de 1751) as crianccedilas encontravam-se em aleitamento

artificial (Tabela 2)

46

A caracterizaccedilatildeo da constipaccedilatildeo intestinal no primeiro ano de vida carece de

discussotildees aprofundadas As tentativas de criar definiccedilotildees dessa morbidade natildeo

contemplaram adequadamente essa faixa etaacuteria Os sintomas habitualmente usados para

caracterizaacute-la satildeo falhos quando avaliados isoladamente ou mesmo conjuntamente Assim

a alta prevalecircncia das queixas e a heterogeneidade da descriccedilatildeo de sintomas evacuatoacuterios

tornam confusa a interpretaccedilatildeo dos trabalhos publicados ateacute o momento Poreacutem o

comportamento evacuatoacuterio habitual dos lactentes jaacute foi descrito por vaacuterios autores

A frequecircncia evacuatoacuteria de lactentes jaacute foi demonstrada em algumas pesquisas

Fontana et al (1989) ressaltaram reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal dos lactentes

ao longo do primeiro ano de vida (21) Os que eram amamentados apresentavam do

nascimento aos trecircs meses de vida 5-40 evacuaccedilotildees por semana e os que recebiam

foacutermulas 5-28 evacuaccedilotildees por semana Dos seis aos 12 meses de vida a frequecircncia

evacuatoacuteria foi de 5-28 por semana independentemente do tipo de aleitamento

Na investigaccedilatildeo de Corazziari et al (2005) a meacutedia da frequecircncia evacuatoacuteria por

semana para os dois primeiros anos de vida foi de 87 (DP=428) sem diferenccedila

significativa entre os quatro primeiros semestres de vida No entanto apoacutes o segundo ano

de vida ateacute os 12 anos a frequecircncia evacuatoacuteria reduziu-se significativamente (p=000001)

(22)

Resultado semelhante foi encontrado por Tunc et al (2008) que realizaram

avaliaccedilatildeo transversal de 1021 crianccedilas no 15o dia de vida segundo quarto sexto nono

12o e 18ordm meses de vida Verificou-se elevado nuacutemero de evacuaccedilotildees diaacuterias no primeiro

mecircs (mediana = 6) que diminuiu com o aumento da idade (p=0001) A porcentagem de

crianccedilas com menos de uma evacuaccedilatildeo por dia foi de 09 mas esta taxa aumentou

acentuadamente no segundo mecircs (393) Apoacutes 4-6 meses ela voltou a diminuir para 256

e depois para 211 e 122 aos 9-12 meses e 18-24 meses respectivamente (23)

Observamos uma reduccedilatildeo da frequecircncia evacuatoacuteria semanal agrave medida que as

crianccedilas ficavam mais velhas (Figura 1) Embora o percentil 25 da frequecircncia evacuatoacuteria

tivesse permanecido praticamente inalterado nos quatro primeiros trimestres de vida o

percentil 75 sofreu reduccedilatildeo bem como os valores maacuteximos dessa frequecircncia (Figura 6 e

Tabela 6) Os sintomas dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar foram observados (Tabela 4)

respectivamente em 176 339 e 151 das avaliaccedilotildees O esforccedilo evacuatoacuterio eacute uma

descriccedilatildeo habitual do ato evacuatoacuterio do lactente nos primeiros trecircs meses de vida sendo

descrito nessa idade por aproximadamente 38 dos cuidadores (Tabela 5)

47

A avaliaccedilatildeo visual das fezes confrontada com uma escala visual auxilia no

diagnoacutestico da constipaccedilatildeo intestinal Barbieri (2002) destacou que a avaliaccedilatildeo visual das

fezes realizada pelos pais das crianccedilas em confronto com um quadro ilustrativo com as

diferentes formas de fezes mostrou que eacute possiacutevel estabelecer um diagnoacutestico de

constipaccedilatildeo intestinal quando associado agrave informaccedilatildeo de alteraccedilotildees sensoriais durante o ato

evacuatoacuterio (24) Vaacuterios autores empregaram esse meacutetodo para auxiliar no diagnoacutestico

desse distuacuterbio (1325-28)

Tunc et al (2008) realccedilaram que a consistecircncia das fezes alterava-se de acordo com

a idade No primeiro mecircs de vida 804 das crianccedilas avaliadas apresentavam fezes mais

liacutequidas enquanto que em 24 meses 614 tinham fezes mais duras (p=0001) (23) No

presente estudo fezes duras foram constatadas em 47 dos lactentes aos trecircs meses de

vida em 135 aos seis meses 299 aos nove meses e 31 aos 12 meses

Pelo criteacuterio do PACCT Boccia et al (2007) referiram que 48 das crianccedilas com

idade inferior a quatro anos eram consideradas constipadas Os mesmos autores

acompanharam as crianccedilas utilizando o criteacuterio de Roma II e registraram prevalecircncia de

31 (11)

Com a colaboraccedilatildeo de 150 pediatras distribuiacutedos por toda a Itaacutelia Iacono et al

(2005) pesquisaram 2879 crianccedilas no momento da primeira consulta apoacutes o parto ateacute o

sexto mecircs de vida para investigar a frequecircncia dos sintomas gastrintestinais mais comuns

desenvolvidos nessa faixa etaacuteria A conclusatildeo foi que 176 das crianccedilas apresentaram

constipaccedilatildeo de acordo com o criteacuterio estabelecido retenccedilatildeo fecal caracterizada por uma

evacuaccedilatildeo a cada trecircs dias ou mais muitas vezes associada a choro ao evacuar (29)

Outro estudo tambeacutem na Itaacutelia seguiu crianccedilas desde o nascimento ateacute os 12 anos

de idade constatando que 52 delas com idades de zero a dois anos apresentavam quadro

de constipaccedilatildeo (22)

A pesquisa de Ludvigsson (2006) analisou crianccedilas nascidas no periacuteodo de outubro

de 1997 a outubro de 1999 Os pais das crianccedilas responderam a um questionaacuterio

padronizado nos primeiros dias apoacutes o nascimento e dois anos e meio apoacutes o nascimento

A prevalecircncia da constipaccedilatildeo na visatildeo das matildees foi de 65 (30)

Por fim com base no criteacuterio de Roma II para estudar a constipaccedilatildeo em lactentes

acompanhados em ambulatoacuterios pediaacutetricos distribuiacutedos na regiatildeo de Campania na Itaacutelia

pelos periacuteodos de um trecircs e 12 meses Miele et al (2004) registraram prevalecircncia de 68

(10)

48

A evoluccedilatildeo da dificuldade de evacuar do esforccedilo evacuatoacuterio da dor ao evacuar e

do tipo de fezes ao longo dos meses para as crianccedilas desta pesquisa estaacute representada nas

Figuras 2 a 5 As trecircs primeiras caracteriacutesticas foram sendo reduzidas ao longo do tempo

ou seja mais crianccedilas tinham dificuldade esforccedilo e dor ao evacuar com um mecircs de vida

em relaccedilatildeo agravequelas com 12 meses Quanto ao tipo de fezes observou-se aumento da

frequecircncia de fezes duras ateacute o oitavo mecircs e estabilidade nessa frequecircncia ateacute o 12ordm mecircs

O tempo de duraccedilatildeo da queixa evacuatoacuteria estaacute presente em todas as definiccedilotildees

atuais de constipaccedilatildeo intestinal A determinaccedilatildeo da cronicidade do sintoma eacute uacutetil na

avaliaccedilatildeo do prognoacutestico e na determinaccedilatildeo de estrateacutegias terapecircuticas Os periacuteodos de um

dois e trecircs meses satildeo adotados para definir constipaccedilatildeo crocircnica No presente trabalho a

prevalecircncia de fezes duras por um mecircs foi de 64 reduzindo-se para 45 quando se

considerou a caracteriacutestica por dois meses consecutivos Assim 19 dos lactentes que

desenvolveram fezes duras a apresentaram de forma transitoacuteria (por menos de dois meses)

Quando se avaliaram as outras queixas evacuatoacuterias (Tabela 7) a prevalecircncia de

dor esforccedilo e dificuldade por um mecircs foi muito elevada (59 85 e 65 respectivamente) e

das trecircs conjuntamente por um mecircs foi um pouco mais baixa (52) A elevada prevalecircncia

desses sintomas (dor dificuldade e esforccedilo) sugere que para muitos lactentes este eacute o

padratildeo evacuatoacuterio normal Assim a questatildeo como caracterizar a constipaccedilatildeo diante dessas

queixas torna-se imperativa Fezes duras satildeo menos prevalentes que essas queixas poreacutem

se associam a elas As Tabelas 8 9 e 10 demonstram a existecircncia de associaccedilatildeo com

significacircncia estatiacutestica entre dificuldade evacuatoacuteria esforccedilo dor e fezes duras A relaccedilatildeo

de risco entre as trecircs primeiras eacute bem mais elevada que o risco de fezes duras quando o

lactente apresenta qualquer um dos sintomas anteriores Essa observaccedilatildeo confirma as

afirmaccedilotildees anteriores

Assim neste estudo a constipaccedilatildeo intestinal crocircnica deve ser definida como

presenccedila de fezes duras associadas a esforccedilo dor ou dificuldade evacuatoacuteria pelo

periacuteodo de dois meses ou mais sendo a prevalecircncia entatildeo de 45 42 no gecircnero

feminino e 48 no gecircnero masculino

A proteccedilatildeo contra a constipaccedilatildeo intestinal produzida pelo aleitamento materno tem

sido relatada em diversos trabalhos (1329) Aqui se verificou que o tipo de aleitamento

natildeo influenciou significativamente a consistecircncia das fezes por um mecircs de vida do lactente

(Tabela 12) Entretanto houve diferenccedila significativa (plt0001) em relaccedilatildeo ao tipo de

fezes quando os lactentes recebiam aleitamento misto e natildeo predominante (Tabela 13)

Mais atenccedilatildeo foi dispensada agrave OR Por essa anaacutelise percebeu-se claramente que os

49

lactentes em aleitamento misto e artificial tiveram chances importantes de apresentarem

fezes duras na comparaccedilatildeo com os lactentes em aleitamento predominante Interessante

analogia foi feita por Hyams et al (1995) que detectaram fezes mais macias em crianccedilas

que recebiam leite materno (27) Os resultados descritos foram semelhantes aos

encontrados em outros estudos nos quais os pesquisadores mostraram que as crianccedilas em

aleitamento materno tiveram menos constipaccedilatildeo intestinal (132931)

O leite de vaca tem sido relacionado agrave constipaccedilatildeo intestinal (32-35) Agrave sua

proteiacutena B-lactoglobulina foi atribuiacuteda a capacidade de produzir reaccedilatildeo aleacutergica seguida

por processos inflamatoacuterios intestinais capazes de desencadear sintomas como a

constipaccedilatildeo (34) Assim na maioria das pesquisas indicam-se sempre a manutenccedilatildeo do

aleitamento materno e o retardo na introduccedilatildeo de outros alimentos em especial o leite de

vaca e foacutermulas laacutecteas ainda que as reaccedilotildees a esse alimento natildeo tenham sido comuns a

todos os lactentes

25 Conclusatildeo

A caracterizaccedilatildeo de fezes duras deve ser incluiacuteda na definiccedilatildeo de constipaccedilatildeo

intestinal de lactentes A cronicidade do quadro deve ser definida com base em um periacuteodo

de dois meses No estudo atual a prevalecircncia da constipaccedilatildeo intestinal crocircnica lactentes

menores de um ano foi de 45 O aleitamento misto e artificial eacute importante fator de risco

para o desenvolvimento de constipaccedilatildeo intestinal crocircnica no primeiro ano de vida

Referecircncias

1- Benninga MA Voskuijil WP Taminiau JAJM Childhood Constipation Is There New

Light in The Tunnel J Pediatr Gastroenterol Nutr 200439448-64

2- Arce DA Ermocilla CA Costa H Evaluation of constipation Am Fam Physician

2002652283-90

3- Youssef NN Di Lorenzo C Childhood constipation evaluation and treatment J Clin

Gastroenterol 200133199-205

4- Sonnenberg A Koch TR Physican visits in the United States for constipation 1958 to

1986 Dig Dis Sci 198934606-11

50

5- Constipation Guideline Committee of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition Evaluation and treatment of constipation

in infants and children recommendations of the North American Society for Pediatric

Gastroenterology Hepatology and Nutrition J Pediatr Gastroenterol Nutr 2006

43e1-13

6- Loening-Baucke V Chronic constipation in children Gastroenterology 19931051557-

64

7- Rasquin-Weber A Hyman PE Cucchiara S et al Childhood functional gastrointestinal

disorders Gut 1999 45 Suppl 2II60-8

8- Benninga M Candy DC Catto-Smith AG et al The Paris Consensus on Childhood

Constipation Terminology (PACCT) Group J Pediatr Gastroenterol Nutr 2005

40273-75

9- Hyman P Milla PJ Benninga MA et al Childhood functional gastrointestinal

disorders neonate-toddler Gastroenterol 2006 1301519-26

10- Miele E Simeone D Marino A et al Functional gastrointestinal disorders in children

an italian prospective survey Pediatrics 200411473-8

11- Boccia G Manguso F Coccorullo P et al Functional defecation disorders in children

PACCT Criteria Versus Rome II Criteria J Pediatr 2007151394-98

12- Medeiros LCS Morais BM Morais MB et al Caracteriacutesticas cliacutenicas de pacientes

pediaacutetricos com constipaccedilatildeo crocircnica de acordo com o grupo etaacuterio Arq Gastroenterol

20074340-344

13- Aguirre ANC Vitolo MR Puccini RF et al Constipation in infants influence of type

of feeding and dietary fiber intake J Pediatr (R J) 200278202-08

14- Del Ciampo IR Galvatildeo LC Ciampo LA et al Prevalence of chronic constipation in

children at a primary health care unit J Pediatr (Rio J) 200278497-502

15- Motta MEFA Silva GAP Chronic functional constipation in children diagnosis and

prevalence in a low-icome community J Pediatr (Rio J) 1998 74 451-454

16- Souza MFT Silva GAP Chronic constipation prevalence in the pediatric outpatient

department of the General Pediatric Hospital of the Instituto Materno Infantil de

Pernanmbuco Rev Bras Sauacutede Matern Infant 2001159-63

17- Itauacutena Secretaria Municipal de Sauacutede Dados do SINAC (Sistema de Informaccedilatildeo de

nascidos vivos no ano de 2007

18- Organizacion Panamericana de la Salud Organizacion Mundial de la Salud

Indicadores para evacuar las praticas de lactancia materna Genebra OMS 1991

51

19- Chambers JM Software for data analysis programming with R (statistics and

computing) Springer 2008 XIV 498 p

20- Triola MF Introduccedilatildeo agrave estatiacutestica 7 ed Rio de Janeiro LTC 1999 410 p

21- Fontana M Bach C Cataldo F et al Bowel frequency in healthy children Acta

Pediatr Scand 198778682-4

22- Corazziari E Staiano A Miele E Bowel frequency and defecatory patterns in children

A prospective nationwide survey Clin Gastroenterol Hepatol 200531101-6

23- Tunc VT et al Factors associeted with defecation patterns in 0-24-month-old children

Eur J Pediat 20081671357-1362

24- Barbieri D Constipaccedilatildeo intestinal crocircnica inespeciacutefica do lactente um problema a ser

explorado J Pediatr (Rio J) 200278185-6

25- Bongers Marloes Ejerm et al The clinical effect of a new infant formula in infants

with constipation a double-blid randomized cross-over trial Nutrition Journal 2007

6-8

26- Loening-Baucke V Krishna R Pashankar DS Polyethylene Glycol 3350 without

eletrolytes for the tratament of functional Constipation in infants and toddlers J

Pediatr Gastroenterol Nutr 200443536-539

27- Hyams JS et al Effect of infant formula on stool characteristics of young infants

Pediatrics 19959550-4

28- Quilan PT Lockton S Irwin J et al The realationship between stool hardness and

stool composition in breast-and Formula-fed infants J Pediatr Gastroenterol Nutr

19952081-90

29- Iacono G Merolla R DAmico D et al paediatric study group on gastrointestinal

symptoms in infancy Gastrointestinal symptoms in infancy a population-based

prospective study Dig Liver Dis 200537432-8

30- Ludvigsson JF Epidemiological study of constipation and other gastrointestinal

symptons in 8000 children Act Paediat 200695573-580

31- Gomes RC Maranhatildeo H Pedrosa LFC et al Consumo de fibra alimentar e

macronutrientes por crianccedilas com constipaccedilatildeo crocircnica funcional Arq Gastroenterol

2003 40181-187

32- Kvenshagen B Halvorsen R Jacobsen M Adverse reactions to milk in infants Acta

Pediatric 200897196-200

33- Andiran F Dayi S Mete E Cows milk consumption in constipation and anal fissure in

infants and young children J Paediatr Child Health 2003 Jul39(5)329-31

34- lacono G Carroccio A Cavataio F et al Chronic constipation as a symptom of cow

milk allergy J Pediatr 199512634-9

52

35- Hyams JS Treem WR Etienne NL et al Effect of infant formula on stool

characteristics of young infants Pediatrics 1995 Jan95(1)50-4

Page 26: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 27: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 28: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 29: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 30: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 31: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 32: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 33: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 34: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 35: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 36: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 37: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 38: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 39: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 40: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 41: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 42: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 43: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 44: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 45: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 46: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 47: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 48: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 49: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 50: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 51: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como
Page 52: PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À ......os fatores orgânicos, a doença de Hirschsprung, as anomalias anorretais, as doenças metabólicas e as doenças endocrinológicas, como