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Relatório Final de Estágio Mestrado Integrado em Medicina Veterinária PREVALÊNCIA DA DIROFILARIOSE CANINA E HUMANA NO DISTRITO DO PORTO Cátia Daniela Pereira da Cruz Orientadora: Prof. Doutora Ana Patrícia Fontes de Sousa (ICBAS-UP) Co-Orientadores: Prof. Doutor Luís Lima Lobo (Hospital Veterinário do Porto) Prof. Doutora Elena Carretón (Universidad de Las Palmas de Gran Canaria) Porto 2017

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Relatório Final de Estágio

Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

PREVALÊNCIA DA DIROFILARIOSE CANINA E HUMANA NO

DISTRITO DO PORTO

Cátia Daniela Pereira da Cruz

Orientadora:

Prof. Doutora Ana Patrícia Fontes de Sousa (ICBAS-UP)

Co-Orientadores:

Prof. Doutor Luís Lima Lobo (Hospital Veterinário do Porto)

Prof. Doutora Elena Carretón (Universidad de Las Palmas de Gran Canaria)

Porto 2017

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Relatório Final de Estágio

Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

PREVALÊNCIA DA DIROFILARIOSE CANINA E HUMANA NO

DISTRITO DO PORTO

Cátia Daniela Pereira da Cruz

Orientadora:

Prof. Doutora Ana Patrícia Fontes de Sousa (ICBAS-UP)

Co-Orientadores:

Prof. Doutor Luís Lima Lobo (Hospital Veterinário do Porto)

Prof. Doutora Elena Carretón (Universidad de Las Palmas de Gran Canaria)

Porto 2017

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Professora Doutora Ana Patrícia Fontes de Sousa, um muito

obrigada por toda a dedicação e empenho na orientação não só da minha tese de Mestrado

como também deste último ano. Foi graças à sua persistência, exigência e entusiasmo que

terminei o meu percurso académico da melhor forma possível. Muito obrigada!

À Professora Paula Proença, um obrigada por toda a ajuda e disponibilidade ao longo

destes anos, assim como a todos os professores, funcionários e colegas.

Um sincero obrigada a todos os amigos, familiares, proprietários, clínicas e hospitais

veterinários que contribuíram para as colheitas de sangue deste estudo: Hospital Veterinário

do Porto, Hospital Veterinário da Póvoa de Varzim, Clínica Veterinária de Valongo, Clínica

Veterinária do Tâmega, Clínica Veterinária Hora dos Bichos, Clínica Veterinária da Lagoa,

Clínica Veterinária de Canidelo, Centro Veterinário do Parque, Clínica Veterinária de

Ermesinde e Clínica Veterinária da Carvalha. Um agradecimento especial à Rita Maruco e a

toda a equipa do HVP, que continuaram as colheitas de sangue mesmo após o final do meu

estágio no HVP.

O meu muito obrigada ao Prof. Doutor Fernando Araújo, Diretor do Serviço de

Imunohemoterapia do Centro Hospitalar de S. João por ter permitido a realização das

colheitas de amostras de sangue de indivíduos dadores e um especial agradecimento à Dra.

Carolina Rocha por ter levado a cabo as referidas colheitas.

Ao Professor Niza Ribeiro, pela disponibilidade e prontidão com que ajudou nas

questões relacionadas com análise estatística e epidemiologia.

Ao Doutor Luís Lobo, por me ter recebido no Hospital Veterinário do Porto e por me

dar a oportunidade de o ver trabalhar e de aprender consigo. À Ana e à Sílvia, que foram as

minhas grandes companheiras de jornada, e a toda a grande equipa do HVP, auxiliares,

enfermeiras, veterinários e estagiários, um obrigada enorme por tudo o que me ensinaram e

por terem sido a minha família durante oito meses. Aprendi e cresci muito com todos.

Aos veterinários e internos da Universitat Autònoma de Barcelona, em especial aos

visitantes, por tudo o que aprendi com eles e pelos bons momentos que passamos.

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À equipa de Cardiologia da Universidad de Las Palmas de Gran Canaria, em particular

à Dra Elena Carretón e à Yaíza Falcón, pela forma como me receberam e integraram, pela

autonomia que me deram e por toda a ajuda e preocupação com o meu trabalho e comigo.

Foi, sem dúvida, a melhor forma de terminar o meu estágio curricular.

Ao meu pai e às minhas irmãs, o maior obrigada de todos, porque me apoiam sempre,

incondicionalmente, e porque fazem de mim uma privilegiada. Ao João e à Filipa, por serem

como irmãos e porque acreditam sempre em mim.

Ao carinho, às orações e às velinhas acesas da avó Teresinha e da avó Leninha, cujos

olhos só me veem qualidades. Devo-lhes muito. À minha família toda, pelo carinho gigante e

por estarem sempre por perto.

À Nelma e ao Victor, porque são os meus grandes amigos desta longa caminhada, e

com quem me sinto sempre preenchida. Obrigada pela amizade e por estarem sempre lá para

tudo. Aos meus queridos amigos que me acompanharam ao longo destes anos, Berta,

Jorginho, Sandrinha, Maria João, Xana, Daniel, Luís, Inês, André, Ricardo e Teresa, um

obrigada pela amizade e pelos anos inesquecíveis que vivemos todos juntos neste Porto. À

Natacha e à Margarida, porque trago sempre um bocadinho delas comigo, também. Ao Dinis,

pela ajuda nos cálculos da análise estatística.

Por fim, um agradecimento especial ao Tavi, não só pela ajuda e apoio que me deu na

realização da minha tese, mas também, e sobretudo, por estar comigo em todas as ocasiões

e por ser o melhor companheiro da viagem.

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iii

ABREVIATURAS

º C - Graus Celsius

% Percentagem

Ag - Antigénios

cm - Centímetros

D. immitis - Dirofilaria immitis

D. repens - Dirofilaria repens

EDTA - Ethylenediamine Tetraacetic Acid

ELISA - Enzyme-Linked Immunosorbent Assay

ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar

IM - Intramuscular

INE - Instituto Nacional de Estatística

IPMT - Instituto Português do Mar e da Terra

IV - Intravenoso

LM - Lactonas macrocíclicas

mg/Kg - Miligrama por quilograma

OMS - Organização Mundial de Saúde

ORBEA - Organismo Responsável pelo Bem-Estar Animal

PO - per os

PRM - Prevalência Real máxima

rpm - Rotações por minuto

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RESUMO

OBJETIVO: A dirofilariose cardiopulmonar canina, causada pelo nemátode Dirofilaria immitis, é

uma zoonose transmitida pela picada de mosquitos hematófagos, e os seus hospedeiros

definitivos são, principalmente, os cães. Esta doença apresenta uma distribuição mundial e

Portugal é considerado um país endémico para a referida parasitose. Assim, o principal

objetivo deste trabalho foi determinar a prevalência de dirofilariose causada por Dirofilaria

immitis em cães e humanos residentes no distrito do Porto.

MATERIAIS E MÉTODOS: O estudo incluiu 167 cães (88 machos e 79 fêmeas) de diversas raças

e provenientes de diversos concelhos do distrito do Porto, com idades entre os 6 meses e os

21 anos (média de 6 anos), com peso entre 1,5-61 Kg (média 18 Kg). Foram colhidas

amostras de sangue por venopunção da jugular ou cefálica, e posteriormente procedeu-se à

deteção de antigénios no plasma sanguíneo. Adicionalmente foram recolhidas 284 amostras

de soro de humanos (155 homens e 129 mulheres), em que 5 amostras foram obtidas de

indivíduos com idade inferior a 20 anos, 115 com idade entre 20 e 40 anos, 157 com idade

entre 40 e 60 e 7 indivíduos tinham idade superior a 60 anos.

RESULTADOS: No caso dos cães, em nenhuma amostra de plasma se detetou a presença de

antigénios do parasita. No entanto, relativamente à população humana, 9 homens e 8

mulheres obtiveram resultado positivo no teste de deteção de anticorpos anti-Dirofilaria

immitis, o que se traduziu numa prevalência de 5,99 %.

CONCLUSÃO: Os resultados apresentados demonstram uma ausência de infeção por

Dirofilaria immitis na população de cães residente no distrito do Porto que foi avaliada. Por

outro lado, demonstrou-se a presença de um risco de exposição na população humana

residente no mesmo distrito. Apesar deste resultado aparentemente paradoxal, importa

realçar o maior número de deslocações efetuadas pelas pessoas, quer para outros distritos

de Portugal, quer para outros países, sendo este um dos fatores que pode ter contribuído

para um maior risco de exposição a este agente patogénico. Ainda assim, seria interessante

aumentar a amostra e recorrer a outros métodos de diagnóstico para confirmar os resultados

obtidos em ambas as populações.

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ABSTRACT

OBJECTIVE: Canine cardiopulmonary dirofilariasis, caused by the nematode Dirofilaria immitis,

is a zoonosis transmitted by the bite of hematophagous mosquitoes, and its definitive hosts

are, mainly, dogs. This disease has a worldwide distribution and Portugal is considered an

endemic country for this parasitosis. Therefore, the aim of this work was to determine the

prevalence of dirofilariasis caused by D. immitis in dogs and humans from the district of Porto.

MATERIALS AND METHODS: This study includes 167 dogs (88 males and 79 females) of various

breeds from the district of Porto, between 6 months and 21 years old (average 6 years old),

weighting between 1,5-61 Kg (average 18 Kg). Samples were collected by the use of

venopuncture of jugular or cephalic and posteriorly detecting antigens in the blood plasma.

Additionally, 284 samples of human plasma (155 men and 129 women) were collected, in

which 5 samples were obtained from individuals with ages below 20 years old, 115 with ages

between 20-40, 157 between 40-60 years old and 7 individuals with ages above 60 years old.

RESULTS: In dogs´ case, in none of the plasma samples was detected the presence of the

parasite's antigenes. Regardless, concerning the human population, 9 men and 8 women

tested positive on the anti-D.immitis' antibodies detection tests, which corresponds to a

prevalence of 5.99%.

CONCLUSION: The results show an absence of D. immitis infection of the evaluated dogs´

population with residence in Porto. On the other hand, this study showed the presence of an

exposure risk of the human population of the same region. Regardless of this apparently

paradox result, it is important to take into account the frequency of movements done by

people, either between Portugal's regions or to other countries, this being one of the

contributing factors for a higher risk of exposure to this pathogen. Nevertheless, it would be

interesting to increase the sample and resort to another kind of diagnostic test to confirm the

results of both populations.

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ÍNDICE

I. INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………………….1

II. REVISÃO DA LITERATURA…………………………………………………………………….2

1. DIROFILARIOSE CANINA ............................................................................................... 2

1.1. Etiologia e ciclo de vida .......................................................................................... 2

1.1.1 Ciclo de vida no hospedeiro invertebrado………………………………………2

1.1.2 Ciclo de vida no hospedeiro vertebrado………………………………………...3

1.2. Epidemiologia e prevalência ................................................................................... 3

1.3. Fisiopatologia e sinais clínicos ............................................................................... 5

1.4. Diagnóstico ............................................................................................................ 6

1.5. Tratamento e profilaxia ........................................................................................... 8

2. DIROFILARIOSE PULMONAR HUMANA ........................................................................ 9

2.1. Definição e ciclo de vida ......................................................................................... 9

2.2. Epidemiologia ...................................................................................................... 10

2.3. Fisiopatologia e sinais clínicos ............................................................................. 11

2.4. Diagnóstico e tratamento ..................................................................................... 11

III . OBJETIVOS……………………………………………………………………………............12

IV. MATERIAIS E MÉTODOS…………………………………………………………………….13

1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA GEOGRÁFICA ............................................................. 13

2. CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE CÃES E HUMANOS .................................. 14

2.1. População de cães .................................................................................................. 14

2.2. População de humanos ........................................................................................... 14

3. AVALIAÇÃO DAS AMOSTRAS ..................................................................................... 15

3.1. População de cães .................................................................................................. 15

3.1.1. Colheita e armazenamento das amostras…………………………………........15

3.1.2. Teste de deteção de antigénios…………………………………...…………......15

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3.2. População de humanos ........................................................................................... 16

3.2.1. Colheita e armazenamento das amostras……………………………………....16

3.2.2. Teste de deteção de anticorpos……………………………………………….….16

4. ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................................................................ 17

V. RESULTADOS……………………………………….……………………………………..…..18

1. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA .............................................................................. 18

1.1. População de cães .................................................................................................. 18

1.1.1 Género, idade, peso corporal e raça……………………………………………..18

1.1.2 Distribuição geográfica e viagens realizadas…………………………………….19

1.1.3 Habitat e coabitantes………………………………………………………………..20

1.1.4 Hábitos alimentares………………………………………………………………....20

1.1.5 Profilaxia – vacinação e desparasitação………………………………………….20

1.1.6 Presença de sinais clínicos………………………………………………………...21

1.1.7 Deteção de antigénios de D. immitis no plasma…………………………………21

1.1.8 Deteção da probabilidade de falso-negativo……………………………………...22

1.2. População humana…………………………………………………………………………22

VI. DISCUSSÃO……………………………………………………………………………………25

VII. CONCLUSÃO………………………………………………………………………………….28

VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………………………………………..29

IX. ANEXOS………………………………………………………………………………………….I

Anexo I……………………………………………………………………………………….........I

Anexo II……………………………………………………………………………………...........II

Anexo III……………………………………………………………………………………...…...V

Anexo IV………………………………………………………………………………………...VII

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Expansão da dirofilariose na Europa na primeira década do século

XXI, até 2001 (A) e entre 2001-2011 (B) (adaptado de Morchón et al, 2012).

A vermelho estão representadas as áreas endémicas para dirofilariose em

cães; a rosa estão representadas as áreas onde foram descritos casos

esporádicos de D. immitis em cães.

4

Figura 2. Distribuição de D. immitis em cães no território português

(adaptado da Tabela do Anexo II). A vermelho estão representadas as

regiões com prevalências entre 2,1% e 40%; a azul estão representadas as

regiões estudadas com prevalências de 0%.

5

Figura 3. Localização do distrito do Porto no mapa de Portugal (assinalado a

cinzento escuro) e sua divisão nos diversos concelhos que o constituem.

13

Figura 4. Tipos de clima existentes em Portugal continental, de acordo com

a classificação de Köppen-Geiger (verde: clima Csb; amarelo: clima Csa)

(adaptado de IPMA).

13

Figura 5. Teste de diagnóstico para deteção de Ag no plasma do cão (Urano

test Dirofilaria®, Urano Vet SL, Barcelona, Spain) (imagem original)

15

Figura 6. Procedimento para a realização do teste de diagnóstico para

deteção de Ag no plasma do cão.

16

Figura 7. População de cães: representação do género (A) e do estado

reprodutivo (B).

18

Figura 8. Distribuição da população de cães pelas diferentes categorias de

idade (A) e peso corporal (B).

19

Figura 9. Distribuição das amostras de cães pelo distrito do Porto (imagem

original)

19

Figura 10. Distribuição dos cães avaliados (%) pelos diferentes coabitantes. 20

Figura 11. Representação gráfica dos cães avaliados (%) sujeitos a

vacinação e desparasitação.

21

Figura 12. Urano test Dirofilaria®: resultado negativo no teste (imagem

original).

21

Figura 13. População humana: distribuição da seroprevalência de acordo

com o género.

22

Figura 14. População humana: distribuição da seroprevalência de acordo

com a idade

23

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Figura 15. População humana: distribuição geográfica no distrito do Porto

das amostras obtidas. A vermelho estão indicados os concelhos onde foram

detetados casos positivos.

23

Tabela 1. Seroreatividade aos anticorpos anti-D. immitis em humanos

residentes no distrito do Porto, por concelho de residência.

24

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1

I. INTRODUÇÃO

O meu estágio curricular do Mestrado Integrado em Medicina Veterinária decorreu no

Hospital Veterinário do Porto e na Universitat Autònoma de Barcelona, onde pude participar

na atividade clínica hospitalar nas suas diferentes vertentes, nomeadamente consultas,

internamento, cirurgia, unidade de cuidados intensivos e serviço de urgências. O objetivo

deste estágio foi enriquecer o conhecimento teórico adquirido ao longo do curso e

desenvolver as capacidades práticas nas diversas áreas que a clínica de animais de

companhia envolve.

A par deste estágio integrei um trabalho de investigação cujo objetivo foi determinar a

prevalência da dirofilariose, uma zoonose causada pelo nemátode Dirofilaria immitis, em cães

e humanos residentes no distrito do Porto. A componente prática deste trabalho de

investigação culminou na Faculdade de Veterinária da Universidade de Las Palmas de Gran

Canaria, onde tive a oportunidade de realizar os testes serológicos nas amostras recolhidas

na população de cães e ainda participar nas consultas de Cardiologia do hospital veterinário

dessa mesma Instituição.

O trabalho que dá nome a este relatório de estágio – Prevalência da dirofilariose em

cães e humanos no distrito do Porto, é um contributo para o estudo da prevalência desta

parasitose em Portugal, considerado um país endémico para a dirofilariose. O objetivo foi

estimar o número de cães infetados com Dirofilaria immitis no Porto tendo em conta que, até

hoje, poucos estudos foram realizados nesta região, e os escassos resultados obtidos

apontam para uma prevalência de 0% (Vieira et al., 2015). Contudo, nos últimos anos, tem-se

verificado a nível mundial um aumento do número de casos e a expansão para regiões

anteriormente consideradas não-endémicas. Tal facto pode ser justificado por uma maior (i)

sensibilidade por parte dos Médicos Veterinários para a ocorrência desta parasitose; (ii)

expansão da atividade humana; (iii) aumento do deslocamento de animais entre regiões

endémicas e não endémicas; e (iv) alterações climáticas e variação na distribuição de

vetores. Estes factos são suportados por diversos estudos realizados por todo o Mundo

(Diosdado et al., 2016). O potencial zoonótico de Dirofilaria immitis e o crescente relato de

casos de dirofilariose em humanos, motivou a comparação dos resultados obtidos em cães

com os obtidos nesta população do mesmo distrito, de forma a avaliar o risco de exposição à

dirofilariose.

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II. REVISÃO DA LITERATURA

1. DIROFILARIOSE CANINA

1.1. Etiologia e ciclo de vida

A dirofilariose canina é causada pelo parasita nemátode Dirofilaria immitis (D. immitis),

pertencente ao género Dirofilaria, classe Secernentea, ordem Spirurida, subordem Spirurina,

superfamília Filarioidea, família Onchocercidae e subfamília Dirofilariinae (Bowman & Atkins,

2009). A dirofilariose foi considerada uma antropozoonose pela Organização Mundial de

Saúde (OMS) no final da década de 70, estando também descrita no Homem (Barbosa &

Alves, 2006). Dentro de todas as espécies de Dirofilaria, as mais relevantes são a D. immitis e

a D. repens, quer pela sua importância patológica quer pela sua ampla distribuição global. A

primeira é responsável pela dirofilariose cardiopulmonar e a segunda por manifestações a

nível ocular e subcutâneo. A distinção entre D. repens e D. immitis pode ser feita, também,

pelas diferenças morfológicas das respetivas microfilárias, sendo que, entre outras

características, as primeiras apresentam comprimento e espessura superiores aos das

segundas.

No que diz respeito à D. immitis, os parasitas adultos são finos, longos e de corpo

filiforme, com uma coloração esbranquiçada, sendo revestidos por uma cutícula que lhes

confere uma grande resistência (Bowman & Atkins, 2009). O dimorfismo sexual é

caracterizado, entre outros aspetos, pela maior dimensão da fêmea relativamente ao macho,

e a locomoção é realizada através de movimentos ondulantes alternados de contração e

relaxamento muscular, e podem chegar a viver 5 anos no hospedeiro. As fêmeas são

ovovivíparas, libertando as microfilárias para a circulação sanguínea (Hoch & Strickland,

2008a).

Para que se desenvolva até ao estádio de adulto maduro, o parasita sofre várias

mudas ao longo da sua vida. Estes ciclos evolutivos da D. immitis são indiretos, ou seja, é

necessária a existência de um hospedeiro intermediário para que a infeção seja possível. É

neste hospedeiro onde ocorrem as primeiras fases de desenvolvimento, ocorrendo as

seguintes no hospedeiro definitivo (Hoch & Strickland, 2008a).

1.1.1 Ciclo de vida no hospedeiro invertebrado

O ciclo de vida de D. immitis é relativamente longo (cerca de 7-9 meses), quando

comparado com o da maioria dos nemátodes. A sua transmissão depende de hospedeiros

intermediários, representados por cerca de 70 espécies de mosquitos dos géneros Aedes,

Anopheles e Culex que se infetam no momento em que se alimentam do sangue de um

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hospedeiro vertebrado microfilarémico. As microfilárias evoluem para o primeiro estado larvar

(L1) nos túbulos de Malpighi do mosquito, passando de seguida para a fase larvar 2 (L2) e

evolui, por fim, para o estado L3, a forma larvar infeciosa. As larvas do terceiro estado migram

para a cabeça e partes da boca do mosquito, onde se tornam infetantes. O tempo necessário

para que as microfilárias originem o terceiro estado larvar, dentro do mosquito, depende da

temperatura: a 27° C, com 80% de humidade relativa, o desenvolvimento demora cerca de 10

a 14 dias, sendo que a temperaturas menores, a maturação demora mais tempo (Kartman,

1953; Slocombe & McMillan, 1989).

1.1.2 Ciclo de vida no hospedeiro vertebrado

Como hospedeiros definitivos da doença destacam-se os cães, gatos, lobos, raposas,

coiotes, furões, ratos, leões-marinhos e o homem (Ettinger & Feldman, 2004). O cão,

juntamente com outros canídeos, é um dos principais reservatórios da doença, apresentando,

assim, um importante papel na manutenção de focos infeciosos por todo o mundo.

No decorrer da alimentação dos mosquitos previamente infetados ocorre a

transmissão de D. immitis para os hospedeiros definitivos, mediante a deposição da hemolinfa

que contém formas infetantes L3, na solução de continuidade criada pelas peças bucais do

mosquito. Em cada refeição podem ser transmitidas entre 10 a 12 formas L3 (AHS, 2011;

Ettinger & Feldman, 2005).

Já no hospedeiro definitivo, as formas infetantes L3 iniciam a migração por entre as

fibras musculares (Kotani & Powers, 1982) e o parasita sofre a muda para L4, que surge entre

o 3º e o 12º dia após a infeção. As formas adultas imaturas (estádio 5) surgem 50 a 69 dias

após o contacto com o mosquito infetado, dando-se esta transformação no tecido subcutâneo,

adiposo ou musculatura esquelética (Ettinger & Feldman, 2005). Os parasitas pré-adultos têm

um comprimento de 1 a 2 cm e migram pela corrente sanguínea até alcançarem a artéria

pulmonar e o ventrículo direito, entre os 70 e os 85 dias pós-infeção, sendo aqui que se

alojam e onde ocorre a maturação final (≈120 dias pós-infeção) (Ettinger & Feldman, 2005;

Kotani & Powers, 1982; Orihel, 1961). Aí permanecerão no seu estado adulto, atingindo

dimensões entro os 15 e os 35 cm. Os cães podem desenvolver infeções patentes, com

microfilárias em circulação, a partir dos 6 meses, mas geralmente ocorrem entre os 7 e os 9

meses pós-infeção (Simon et al., 2012).

1.2. Epidemiologia e prevalência

As regiões que apresentam um maior risco de dirofilariose são as regiões tropicais e

temperadas, com temperatura média anual elevada e valores elevados de humidade, por

proximidade a massas de água ou precipitação abundante (Simón et al., 2014).

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Na Europa, a dirofilariose é endémica nos países mediterrânicos, de onde provem a

maioria das informações epidemiológicas disponíveis. Ainda assim, com uma frequência

crescente, novos dados têm surgido em países onde a dirofilariose nunca tinha sito

documentada (Diosdado et al., 2016). Um estudo realizado por Morchón e colaboradores

comparou os dados epidemiológicos num período de 10 anos, e verificou a expansão da

infeção pela Europa (Figura 1) (Morchón et al., 2012).

Figura 1. Expansão da dirofilariose na Europa na primeira década do século XXI, até 2001 (A) e entre

2001-2011 (B) (adaptado de Morchón et al, 2012). A vermelho estão representadas as áreas

endémicas para dirofilariose em cães; a rosa estão representadas as áreas onde foram descritos casos

esporádicos de D. immitis em cães.

Vários fatores podem contribuir para esta expansão, nomeadamente o crescente

interesse da comunidade científica por esta doença. As alterações climáticas e o surgimento

de novas espécies de mosquitos capazes de atuar como vetores, a deslocação de animais

provenientes de zonas endémicas e o desenvolvimento da atividade humana em viagens e

ocupação de novas áreas, são as principais causas apontadas para o surgimento de novas

regiões com história de infeção (Cancrini et al., 2006; Simon et al., 2012).

Na Península Ibérica, o número de regiões analisadas tem aumentado, havendo

algumas zonas onde não foram detetadas infeções e outras ainda por estudar. Estes estudos

mostram que a prevalência canina de D. immitis é maior nas ilhas, nas zonas costeiras e em

regiões interiores próximas a massas de água ou áreas de regadio. Em geral, aglomerados

urbanos apresentam prevalências baixas, ao contrário do que acontece em zonas

periurbanas e rurais. Pode justificar-se pela presença de maior população canina, maior

exposição a vetores e profilaxia pouco generalizada (Diosdado et al., 2016) (ver Anexo I).

Em Portugal, a infeção por D. immitis é considerada endémica ou hiperendémica,

tendo como focos importantes as bacias fluviais do Tejo, Sado e Mondego e a ilha da Madeira

(Diosdado et al., 2016). A Figura 2 fornece uma perceção geral da epidemiologia da

A B

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5

dirofilariose em Portugal. Num estudo recente realizado em Portugal observou-se a maior

prevalência até hoje determinada de D. immitis em cães, tendo sido de 40% na ilha da

Madeira (Cardoso et al., 2012). Os mesmos autores estimaram, no território português, uma

prevalência global de D. immitis de 3,6% em cães aparentemente saudáveis, e de 8,9% nos

suspeitos de doenças caninas de transmissão vetorial (Cardoso et al., 2012). A prevalência

de dirofilariose nas várias regiões de Portugal e os testes utilizados no seu diagnóstico podem

ser consultados na tabela do Anexo II. Verifica-se, no mapa de Portugal, uma distribuição de

D. immitis tendencialmente para o sul e para a costa litoral. As últimas cidades a serem

adicionadas ao mapa de prevalências foram a Guarda e Castelo Branco, em 2014, e Viana do

Castelo, em 2015 (Alho et al., 2014a; Vieira et al., 2015).

Os animais silvestres também funcionam como

reservatórios da dirofilariose, desempenhando um

papel relevante na perpetuação e transmissão deste

parasita. Um estudo epidemiológico levado a cabo

entre 2008 e 2010 avaliou a prevalência de D. immitis

em carcaças de raposas vermelhas, sendo que em

8,4% foram detetados antigénios deste parasita. Os

casos positivos provinham de alguns distritos do norte

(Braga, Bragança, Porto, Viana do Castelo e Vila

Real), centro (Aveiro) e sul de Portugal (Évora e

Setúbal) (Alho et al., 2012).

Figura 2. Distribuição de D. immitis em cães no território

português. A vermelho estão representadas as regiões com

prevalências positivas (entre 2,1% e 40%); a azul estão

representadas as regiões estudadas com prevalências de 0% (adaptado da Tabela do Anexo II).

1.3. Fisiopatologia e sinais clínicos

A dirofilariose caracteriza-se por lesões inflamatórias nos pulmões e em outros órgãos,

devido à presença de parasitas adultos, bem como à presença de microfilárias na circulação

sanguínea. Além disso, a relação de simbiose existente entre D. immitis e a bactéria

Wolbachia pipientis parece ter um papel relevante no desencadeamento da patogenia e na

estimulação do sistema imunitário do hospedeiro (McCall et al., 2008).

O grau de lesão depende de fatores como a idade, resposta imunitária, exercício,

carga parasitária, duração da infeção e presença de doenças concomitantes (Bowman &

Atkins, 2009). As filárias que se alojam nos vasos vão libertar substâncias tóxicas e causar

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traumatismo pelo contacto com a túnica íntima do vaso, levando ao desenvolvimento de

inflamação e lesões endovasculares. Estas lesões conduzem a uma diminuição da resistência

da parede arterial, encurtamento do diâmetro do lúmen e, consequentemente, hipertensão

pulmonar (Bowman & Atkins, 2009; Gomes, 2009). Em resposta à hipertensão pulmonar

desenvolve-se hipertrofia do ventrículo direito, favorecendo o aparecimento de insuficiência

cardíaca direita congestiva. Por outro lado, a morte súbita de grande quantidade de parasitas

adultos, quer por causas naturais, quer secundariamente ao tratamento adulticida, estão na

origem do deslocamento de grandes massas parasitárias para o ventrículo direito e

ocorrência de tromboembolismo pulmonar. Estes sinais associados à hipertensão pulmonar já

existente podem predispor à síndrome da veia cava (AHS, 2013; Kassai, 1999).

Os cães com dirofilariose podem permanecer assintomáticos durante anos ou

apresentarem-se à consulta com uma história pregressa de tosse, perda de peso, intolerância

ao exercício, fraqueza, desmaios ou aumento do volume abdominal, por organomegalia e/ou

ascite. Durante o exame clínico podem ser observadas mucosas pálidas ou cianóticas, ascite,

sopros cardíacos mais percetíveis no lado direito do tórax (por regurgitação da válvula

tricúspide), ritmo cardíaco de galope, distensão e pulso jugular e outros sinais comuns de

insuficiência cardíaca, em especial insuficiência cardíaca direita (Hoch & Strickland, 2008a).

As migrações aberrantes de D. immitis estão descritas e envolvem, por exemplo, a migração

ocular e para o sistema nervoso central e o sistema arterial, estando descritas migrações para

a aorta abdominal (Grimes et al., 2016).

1.4. Diagnóstico

O diagnóstico de uma infeção por D. immitis pode ser sustentado em provas

serológicas e/ou parasitológicas. Relativamente aos testes serológicos, os testes baseados

em técnicas de imunocromatografia ou ELISA (enzyme-linked immunosorbent assay)

permitem a deteção de antigénios de dirofilárias em circulação, sendo de rápida e fácil

execução. Estes métodos, além de terem uma sensibilidade maior que os testes para deteção

de microfilárias, permitem identificar infeções ocultas, em que estão presentes parasitas

adultos, mas não existem microfilárias em circulação (AHS, 2013; Ettinger & Feldman, 2005;

Kassai, 1999).

Os testes de imunocromatografia são testes desenhados para a deteção qualitativa de

antigénios de D. immitis no soro, plasma ou sangue total. Ao contrário do que acontecia até

há uns anos, em que os testes detetavam apenas antigénios provenientes dos úteros das

fêmeas (AHS, 2013), hoje já são comercializados testes capazes de detetar péptidos

antigénicos 14 Kda da superfície de D. immitis. Estes testes já detetam infeções onde exista

em circulação, no mínimo, um parasita de qualquer género: macho, fêmea adulta ou fêmea

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imatura (ver anexo III). Os testes de ELISA, por sua vez, são testes quantitativos e adequados

para a avaliação da eficácia terapêutica, tendo em conta que 8 a 12 semanas após um

tratamento eficaz, os níveis de antigénios são indetetáveis (Ettinger & Feldman, 2005).

Embora o teste de deteção de antigénios seja o método de diagnóstico mais sensível

para testar uma população assintomática, é recomendado associar a este procedimento um

teste de identificação de microfilárias. Os resultados falsos-negativos podem ocorrer

principalmente quando a infeção é ligeira ou nos casos em que as instruções dos testes não

foram seguidas corretamente. Existem casos documentados em que a formação de

complexos anticorpo-antigénio interferem com a deteção de antigénios, levando a um

resultado falso-negativo (Simon et al., 2012; Velasquez et al., 2014).

No que respeita às provas parasitológicas, os testes para a deteção de microfilárias

devem ser realizados anualmente em cães que habitam zonas endémicas de D. immitis

(Ettinger & Feldman, 2004). O exame direto de sangue fresco consiste em colocar uma gota

de sangue diretamente sobre uma lâmina para ser avaliada no microscópio. O diagnóstico é

positivo caso sejam detetadas microfilárias de D. immitis em circulação (Smith et al., 2015). A

observação de movimento por baixo do buffy coat num tubo de hematócrito também é uma

forma comum de deteção de microfilárias (Ettinger & Feldman, 2004).

O teste modificado de Knott e a filtração por miliporos são métodos que concentram as

microfilárias existentes, aumentando as hipóteses de diagnóstico (Ettinger & Feldman, 2004).

O primeiro é o método preferencial para observação das microfilárias, permitindo uma melhor

caracterização da morfologia, dimensões e diferenciação de filárias de diferentes espécies. O

teste consiste numa formolização do sangue de modo a destruir os glóbulos vermelhos e

permitir a observação de microfilárias em extensão após centrifugação (AHS, 2011). A técnica

da coloração pela fosfatase ácida é outro teste que pode ser usado para diferenciar as

microfilárias de diferentes filárias (Gomes, 2009). Este teste evidencia a atividade da fosfatase

ácida nas microfilárias, cujo padrão de distribuição é variável consoante as espécies. No caso

de D. immitis, existem dois locais de atividade da enzima (o poro anal e o poro excretor),

enquanto que na D. repens apenas o poro anal revela atividade desta enzima (Maia et al.,

2016b). Se os resultados dos testes referidos forem incompatíveis com a história clínica e

sinais clínicos associados, a técnica de PCR pode ser relevante, já que tem uma elevada

especificidade e sensibilidade. A capacidade de diferenciar D. immitis de outras filárias é,

também, uma das grandes vantagens desta técnica (Aonuma et al., 2009; Latrofa et al.,

2012).

Para além destas provas laboratoriais é essencial a realização de exames de

diagnóstico por imagem. Embora a radiografia não permita o diagnóstico de dirofilariose,

trata-se de um importante método de diagnóstico na avaliação da evolução da doença

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cardiopulmonar secundária à infeção (McCall et al., 2008). As alterações radiográficas

associadas à dirofilariose incluem aumento do ventrículo direito e do tamanho e tortuosidade

de vasos pulmonares intra e interlobulares. Isto ocorre principalmente nos lobos caudais e

está associado a alterações no parênquima pulmonar, como infiltrações, nódulos, derrame

pleural e presença de padrão intersticial e alveolar (Losonsky & RE., 2012).

A ecocardiografia é um método de diagnóstico que, quando associado aos métodos

referidos anteriormente, permite sustentar a infeção por D. immitis (AHS, 2014). A imagem

ecográfica característica em caso de infeção por este parasita é a visualização de curtos

segmentos lineares paralelos a flutuar no ventrículo direito ou na artéria pulmonar que

representam os corpos dos parasitas adultos. Na ecocardiografia é também possível

confirmar a cardiomegalia direita, mediante o cálculo do rácio entre as dimensões do

ventrículo esquerdo e direito. Em cães saudáveis, o rácio varia entre 3 e 4, e em cães com

dirofilariose, o valor médio ronda 0,7 (Ettinger & Feldman, 2005). A regurgitação da válvula

tricúspide e a presença de hipertensão pulmonar podem ser avaliadas por ecocardiografia,

permitindo o rápido diagnóstico de síndrome de veia cava (Hoch & Strickland, 2008a; Nelson

et al., 2005). A avaliação eletrocardiográfica é usada para detetar a presença de arritmias e o

aumento das cavidades cardíacas, embora seja menos sensível do que a ecocardiografia na

avaliação das dimensões das cavidades cardíacas (Bowman & Atkins, 2009).

Recentemente foi sugerida a utilização da mioglobina e da troponina I como

biomarcadores de lesão cardíaca e do dímero D como biomarcador de tromboembolismo em

cães com dirofilariose (Carreton et al., 2011; Carreton et al., 2013). A proteína C sanguínea é

outro biomarcador cujos valores se encontram elevados em cães com dirofilariose e

correlacionam-se com a gravidade da lesão pulmonar e tromboembolismo (Venco et al.,

2014).

1.5. Tratamento e profilaxia

O tratamento da infeção por D. immitis depende do estádio da doença (ligeiro,

moderado, grave e síndrome da veia cava) em que se encontra o cão (AHS, 2014). O seu

objetivo prende-se com a eliminação de todas as fases de vida do parasita no cão, e que

acarrete o mínimo de complicações durante e após o tratamento. Deste modo, a terapêutica

médica assenta em três pilares fundamentais: (i) eliminação das microfilárias circulantes,

utilizando uma lactona macrocíclica; (ii) eliminação do simbionte Wolbachia pipientis e

esterilização das fêmeas adultas de D. immitis, através do uso do antibiótico doxiciclina; e (iii)

eliminação dos parasitas adultos, recorrendo ao dihidroclorato de melarsomina.

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A Sociedade Americana da Dirofilariose (AHS) sugeriu um guia de tratamento,

baseado nas últimas informações apresentadas no Triennial Symposium of the American

Heartworm Society em 2013 e revisto em Julho de 2014 (AHS, 2014).

No caso dos cães com elevada carga parasitária está indicada a remoção mecânica

das dirofilárias. O acesso cirúrgico é feito por venotomia jugular direita com recurso a fórceps

flexíveis para extração dos parasitas, guiada por fluoroscopia (Hoch & Strickland, 2008b;

Montoya-Alonso & Carreton, 2012). Com esta abordagem, a taxa de mortalidade

intraoperatória é baixa e a taxa de sobrevida está significativamente aumentada ao evitar o

risco de tromboembolismo pulmonar (Hoch & Strickland, 2008b).

No que respeita a profilaxia para a dirofilariose, esta deve ser uma prioridade em cães

que residem em zonas endémicas. Se administrada corretamente, esta profilaxia apresenta,

praticamente, 100% de eficácia (Hoch & Strickland, 2008b; McCall et al., 2008). A AHS

defende que a profilaxia deve ser realizada mensalmente, e todos os cães devem ser

reavaliados anualmente. Em regiões não endémicas, a profilaxia deve ser feita um mês antes

e um mês depois da época do mosquito (Ettinger & Feldman, 2004). As lactonas

macrocíclicas são o grupo farmacológico de eleição utilizado na profilaxia de dirofilariose,

tendo como exemplos a ivermectina, milbemicina oxima, moxidectina e selamectina, sendo as

duas primeiras de administração oral e as duas últimas de aplicação tópica. Estes fármacos

devem ser administrados mensalmente ou ainda menos frequentemente, pois levam à morte

das fases larvares do parasita em poucas semanas ou meses (AHS, 2014).

2. DIROFILARIOSE PULMONAR HUMANA

2.1. Definição e ciclo de vida

A dirofilariose pulmonar humana é uma infeção zoonótica esporádica causada por D.

immitis. Os seres humanos são hospedeiros acidentais e a dirofilariose pulmonar é

inicialmente assintomática em humanos, sendo o achado clínico mais comum a presença de

um granuloma pulmonar (McCall et al., 2008).

A primeira fase do ciclo de vida da dirofilariose ocorre igualmente no mosquito

culicídeo que, através da picada, inocula as larvas do estádio L3 através da pele do homem,

como acontece nos reservatórios animais. O parasita não é capaz de encontrar condições

necessárias à sobrevivência e maturação sexual, e o sistema imunitário elimina a maioria das

L3 e L4. No entanto, algumas destas formas imaturas conseguem migrar até à circulação

sanguínea e alcançar o coração direito, podendo atingir ramos das artérias pulmonares. É

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nessa localização que vão ocorrer as lesões características da dirofilariose pulmonar em

humanos (Simon et al., 2005).

2.2. Epidemiologia

A ideia-chave em que se baseiam os estudos epidemiológicos para infeção de D.

immitis em humanos é de que nos locais onde existe dirofilariose canina existe o risco

subjacente de exposição e infeção em humanos. As análises seroepidemiológicas e revisões

retrospetivas de caso publicados são os dois tipos de abordagem ao estudo da epidemiologia

em humanos (Montoya-Alonso & Carreton, 2012; Simon et al., 2005).

Em todo o mundo, aproximadamente 1,782 casos de dirofilariose humana foram

descritos, sendo que 372 destes eram casos de dirofilariose pulmonar e os restantes de

dirofilariose subcutânea ou ocular. A América representa cerca de 1/3 dos casos de infeção

por D. immitis relatados no mundo. Na Austrália e no Japão predominam, igualmente, os

casos de infeção por D. immitis. Na Europa, Ásia e África, as infeções por D. repens

prevalecem (Simon et al., 2005).

Na Europa, a dirofilariose animal e humana é endémica nos países mediterrânicos

(Genchi et al., 2009). A prevalência dos vetores para esta doença é significativa neste

continente e de grande importância no que diz respeito ao desenvolvimento e distribuição de

infeção. Pensa-se que um total de 45% da população humana apresenta um elevado risco de

exposição para estes vetores (Otranto et al., 2013).

Em Portugal, está descrito um caso de dirofilariose ocular em humanos no século XX,

tendo sido encontradas larvas de D. immitis em Culex theileri na área da Comporta, Alcácer

do Sal. Um outro caso foi relatado, desta vez com presença de nódulos pulmonares, sendo

que o diagnóstico só foi obtido após remoção cirúrgica e exame histopatológico. Em contraste

com outros países europeus, não têm sido divulgados casos de infeção humana por D.

immitis em Portugal, à parte destes dois casos (Almeida, 2011).

Em 2014, Belo e colaboradores realizaram um questionário online a médicos

portugueses para aferir os conhecimentos e as práticas dos clínicos face à dirofilariose.

Nestes questionários houve referência a 10 ocorrências de infeção em humanos em Portugal,

entre os quais apenas dois eram casos de dirofilariose pulmonar (um deles diagnosticado por

serologia). Dos restantes, sete eram cutâneos (quatro diagnosticados por histopatolologia e

três por serologia) e um oftálmico (diagnosticado por serologia) (Belo et al., 2014; Silva & Rey,

1995).

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2.3. Fisiopatologia e sinais clínicos

A dirofilariose pulmonar humana é caracterizada, essencialmente, pela formação de

granulomas no pulmão. Estes desenvolvem-se em torno das formas imaturas do parasita que,

ao chegarem aos ramos da artéria pulmonar, causam embolismo e uma reação inflamatória

localizada exuberante. As alterações são conhecidas como “lesões tipo moeda”, típicas na

imagem radiológica da dirofilariose pulmonar humana (Montoya-Alonso & Carreton, 2012).

Estas lesões, que envolvem zonas de necrose e fibrose, encontram-se com mais frequência

no pulmão direito, sem diferença na distribuição lobar. Há relatos de outros locais para onde

houve migração de D. immitis, como no tecido subcutâneo, região ocular, cavidade

abdominal, bexiga e mama (Silva & Rey, 1995).

Em 54-80% dos casos detetados, os pacientes infetados por D. immitis são

assintomáticos, porém, alguns podem desenvolver sintomatologia caracterizada por tosse,

dor torácica, hemoptise, expetoração purulenta e dispneia. Um quadro geral de febre, perda

de peso, fadiga, síncope e mialgia pode estar presente (Silva & Rey, 1995).

2.4. Diagnóstico e tratamento

Para pessoas que habitam zonas endémicas, onde há elevada prevalência de

dirofilariose, o recurso a testes serológicos é o método de diagnóstico ideal para a avaliação

do risco de exposição dos humanos a este agente patogénico. Como a presença do parasita

estimula fortemente a resposta imunitária do indivíduo, a pesquisa de anticorpos é o teste

eleito para averiguar se houve contacto do organismo com D. immitis. O PCR e a coloração

imuno-histoquímica são outros métodos diretos para identificar D. immitis e Wolbachia spp,

respetivamente (Theis, 2005).

Uma grande percentagem dos nódulos pulmonares é acidentalmente identificada nas

radiografias torácicas realizadas esporadicamente. Quando detetados, estes são

frequentemente associados a malignidade, sendo necessário garantir que o diagnóstico

realizado seja correto. Para isso, uma amostra significativa deve ser recolhida para se

proceder a uma biópsia e garantir a identificação do agente. A grande desvantagem deste

meio de diagnóstico é ser um processo muito invasivo e com alto potencial iatrogénico (Simon

et al., 2012).

Na dirofilariose humana não está aconselhada terapia farmacológica, sendo a

remoção cirúrgica dos nódulos pulmonares o procedimento utilizado (Simon et al., 2012).

Importa realçar que o controlo da incidência da dirofilariose em humanos passa pela

prevenção dos reservatórios animais. Maior informação e conhecimento desta doença por

parte dos médicos poderá facilitar o seu diagnóstico em casos de nódulos pulmonares,

evitando cirurgias desnecessárias (Montoya-Alonso & Carreton, 2012).

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III. OBJETIVOS

Com o aumento da prevalência de dirofilariose a nível mundial, e tendo em conta o

seu potencial zoonótico, tornou-se clara a necessidade de avaliar a prevalência de D. immitis

em cães residentes no distrito do Porto, sendo uma região que apresenta condições

climáticas com potencial para o desenvolvimento dos vetores e persistência da doença. As

informações relativas a esta região obtidas em estudos anteriores são escassas ou pouco

significativas, sendo que no estudo mais recente só foram analisadas amostras de sangue de

43 cães, sendo todos os resultados negativos (Vieira et al., 2015).

Assim, o presente estudo prospetivo teve como objetivo geral determinar a prevalência

da dirofilariose em cães e humanos residentes no distrito do Porto. Os objetivos específicos

traçados incluíram:

Deteção de antigénios de D. immitis nas amostras de plasma colhidas de cães;

Deteção de anticorpos contra D. immitis nas amostras de soro colhidas de humanos;

Correlação dos resultados obtidos com diversas variáveis (e.g. género, idade,

concelho de residência, entre outros);

Comparação dos resultados obtidos na população de cães e de humanos.

A aprendizagem de procedimentos e técnicas laboratoriais e o aprofundamento do

conhecimento sobre a infeção por D. immitis foram ainda objetivos secundários obtidos

durante a realização deste trabalho. Finalmente, os ensinamentos sobre o tratamento

estatístico e discussão dos resultados experimentais constituem uma etapa fundamental num

processo de aprendizagem científica.

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IV. MATERIAIS E MÉTODOS

1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA GEOGRÁFICA

O distrito do Porto situa-se no Litoral-Norte de Portugal. É delimitado a oeste pelo

oceano Atlântico e subdivide-se em dezoito concelhos: Amarante, Baião, Felgueiras,

Gondomar, Lousada, Maia, Marco de Canaveses, Matosinhos, Paços de Ferreira, Paredes,

Penafiel, Porto, Póvoa de Varzim, Santo Tirso, Trofa, Valongo, Vila do Conde, Vila Nova de

Gaia, que se distribuem pelas regiões do Grande Porto e Tâmega. Tem uma área de 2 395

Km², com uma população residente de 1 738 429 habitantes (Figura 3) (INE, 2011).

Figura 3. Localização do distrito do Porto no mapa de Portugal (assinalado a cinzento escuro) e sua

divisão nos diversos concelhos que o constituem (mapa à direita) (imagem original, com base na

informação do Instituto Nacional de Estatística (INE, 2011).

De acordo com a classificação de Köppen-Geiger, a maior

parte do território continental tem um clima temperado, do tipo C,

verificando-se o subtipo Cs (clima temperado com verão seco).

Dentro deste subtipo, podem considerar-se duas variedades – Csa

(clima temperado com Verão quente e seco) e Csb (clima temperado

com Verão seco e suave) (IPMA, 2011). Pela observação do mapa

apresentado na figura 4 podemos verificar que no distrito do Porto

existe maioritariamente um clima do tipo Csb, sendo que em algumas

das regiões interiores do vale do Douro está presente o tipo Csa.

Figura 4. Tipos de clima existentes em Portugal continental, de acordo com a classificação de Köppen-

Geiger (verde: clima Csb; amarelo: clima Csa) (IPMA, 2011).

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2. CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE CÃES E HUMANOS

2.1. População de cães

Entre Junho de 2016 e Janeiro de 2017 foram colhidas amostras de plasma de 167

cães (88 machos e 79 fêmeas), com idades compreendidas entre os 6 meses e os 17 anos.

As colheitas foram realizadas em animais que se apresentaram a consultas de rotina de

diversas clínicas e hospitais veterinários distribuídos pelos vários concelhos do distrito do

Porto. Os animais incluídos neste estudo cumpriram os seguintes critérios de inclusão: (i)

idade igual ou superior a 6 meses; (ii) exposição a pelo menos uma estação de mosquitos; (iii)

cães não sujeitos a tratamento profilático regular para a dirofilariose (e.g. milbemicina

administrada mensalmente); (iv) ausência de história clínica de infeção por D. immitis.

A cada centro veterinário solicitou-se o preenchimento de um questionário, de forma a

caracterizar a amostra de cães estudada. Os dados inseridos no questionário incluíam a

identificação do animal (idade, raça, peso, género e estado reprodutivo), os dados

demográficos (habitação e viagens), os hábitos alimentares, a existência ou não de profilaxia

(vacinação e desparasitação), incluindo a de dirofilariose, e a presença de sinais clínicos

associados (ver anexo IV). Ao proprietário foi solicitado que assinasse um consentimento

informado, onde constava a descrição do estudo e objetivos do mesmo. O projeto teve o

parecer favorável do ORBEA (Organismo Responsável pelo Bem-Estar Animal) do ICBAS-

UP.

2.2. População de humanos

Entre 14 de junho e 31 de julho de 2014 foram colhidas 284 amostras de soro de

pessoas residentes no distrito do Porto (155 homens e 129 mulheres). As colheitas foram

realizadas no Serviço de Imunohemoterapia do Centro Hospitalar de S. João EPE, Porto,

Portugal. Quando considerada a idade, 5 amostras foram obtidas de indivíduos com idade

inferior a 20 anos, 115 de indivíduos entre 20 e 40 anos, 157 de indivíduos entre 40 e 60 e 7

indivíduos tinham idade superior a 60 anos.

Os únicos dados recolhidos para cada individuo foram a idade, o género e o concelho

de residência. O processo incluiu um modelo de consentimento informado acompanhado de

uma folha de informação para o participante, esclarecedora sobre a natureza e objetivos do

estudo. Este estudo teve parecer favorável da Comissão de Ética para a Saúde do Centro

Hospitalar de S. João EPE.

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3. AVALIAÇÃO DAS AMOSTRAS

3.1. População de cães

3.1.1. Colheita e armazenamento das amostras

Após a colheita de 1 mL de sangue por venopunção jugular ou cefálica, a amostra foi

transferida para um tudo de EDTA e posteriormente centrifugada a 1500 rpm, durante 3

minutos, à temperatura ambiente. De seguida, o plasma foi transferido para um eppendorf

devidamente identificado, sendo congelado e armazenado a -20ºC até serem realizados os

testes de deteção de antigénios.

3.1.2. Teste de deteção de antigénios

As amostras foram recolhidas nas respetivas clínicas e hospitais veterinários e

enviadas congeladas para o Departamento de Medicina Interna da Universidade de Las

Palmas da Gran Canaria, Espanha. As amostras de plasma de cão foram descongeladas até

atingirem a temperatura ambiente e procedeu-se, posteriormente, à deteção de antigénios de

D. immitis. Para o procedimento, recorreu-se ao kit de diagnóstico imunocromatográfico

comercial Uranotest Dirofilaria® (Urano Vet SL, Barcelona, Espanha) (Figura 5), semelhante

ao utilizado em estudos anteriores (Montoya-Alonso et al., 2015). Trata-se de um teste que

contém anticorpos específicos para identificar antigénios de D. immitis no plasma, soro ou

sangue inteiro de cães. É de salientar que a deteção dos antigénios é qualitativa e apresenta

elevada sensibilidade e especificidade (ver anexo III).

Figura 5. Teste de diagnóstico para deteção de Ag no plasma do cão (Urano test Dirofilaria®, Urano

Vet SL, Barcelona, Spain) (imagem original).

O procedimento de deteção dos antigénios de D. immitis consistiu em colocar três

gotas da amostra de plasma no poço redondo que se encontrava na extremidade direita da

placa de teste (Figura 6A). Após a migração completa do plasma pela membrana, aguardou-

se 5-10 min e interpretou-se o resultado. A presença de duas bandas púrpura, tanto em “C”

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(linha de controlo) como em “T” (linha de teste), correspondia a um resultado positivo, como

indicado na figura 6B. A presença de uma única banda de cor púrpura na linha “C” (controlo)

correspondia a um resultado negativo.

Figura 6. Procedimento para a realização do teste de diagnóstico para deteção de Ag no plasma do

cão.

3.2. População de humanos

3.2.1. Colheita e armazenamento das amostras

Após a colheita de sangue por venopunção na fossa antecubital, a amostra foi

transferida para um tubo com sílica/gel e posteriormente centrifugada a 3500 rpm, durante 20

minutos, à temperatura ambiente (22ºC). De seguida, o soro foi transferido para um eppendorf

devidamente identificado, sendo congelado e armazenado a -80ºC até serem realizados os

testes de deteção de anticorpos.

3.2.2. Teste de deteção de anticorpos

Esta componente do trabalho foi efetuada em colaboração com o Laboratório de

Parasitologia, da Faculdade de Farmácia, da Universidade de Salamanca-Espanha. A infeção

por D. immitis foi identificada utilizando técnicas serológicas para deteção de anticorpos IgG

anti-D. immitis específicos, usando antigénios de adultos de D. immitis, como descrito

anteriormente (Montoya-Alonso et al., 2011). De forma breve, microplacas de 96 poços foram

revestidas com 0,8 μg de extrato de parasita adulto de D. immitis. Todas as amostras de soro

foram analisadas a uma diluição de 1:100 e foi utilizado IgG anti-humano (Sigma-Aldrich) a

uma diluição de 1:4000. A absorvância foi lida num espectrofotómetro Easy-Reader (Bio-Rad

Laboratories, Hercules, CA, USA) a 492 nm. O valor de cut-off (O.D = 0,8) foi estabelecido

usando a média O.D.± 3 (desvio padrão) de 20 amostras de soro de dadores clinicamente

saudáveis residentes em regiões livres de D. immitis.

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17

4. ANÁLISE ESTATÍSTICA

O tamanho da amostra da população de cães foi calculado usando a fórmula proposta

por Thrusfield (2013) para uma população grande, em que n representa a amostra

necessária, Pexp a prevalência estimada e d a precisão absoluta desejada:

𝑛 = 1,962 𝑥 𝑃𝑒𝑥𝑝 (1 − 𝑃𝑒𝑥𝑝)

𝑑2

Dado que a prevalência de dirofilariose obtida anteriormente em estudos para o distrito

do Porto foi zero, considerou-se, neste cálculo, uma prevalência esperada de 10%, tendo

como base as prevalências dos distritos vizinhos. A amostra total requerida, com um intervalo

de confiança de 95% e um nível de precisão absoluta de 5% foi de 139 animais.

Segundo a OMS, os cães representam cerca de 10% da população humana. Assim

sendo, tendo em conta que, de acordo com o Censos de 2011, o número de habitantes

residentes no distrito do Porto é de 1.738.429, consideramos que a população de cães é de

173.843 animais. Utilizando a fórmula de correção para populações finitas (ver em baixo), em

que N é o número de cães residentes no distrito do Porto e n o tamanho da amostra de cães

estimado na mesma região, com base na fórmula apresentada, obtivemos um 𝒏 de 139.

𝒏 = 1/ (1/𝑛) + (1/𝑁)

Com a cooperação dos vários centros veterinários que participaram no estudo, foi

possível obter um número de amostras superior ao calculado pela fórmula (167 amostras), o

que permitiu aumentar o grau de confiança dos resultados do estudo.

Os dados obtidos, quer da população de cães quer dos humanos, foram transferidos

para uma tabela de Microsoft Excel 2007 e representados em gráficos elaborados no

programa GraphPad Prism 7, que serão abordados ao longo da apresentação e discussão

dos resultados.

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V. RESULTADOS

1. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

1.1. População de cães

Apesar de se ter obtido um total de 178 amostras de plasma de cão, foi necessário

excluir 11 cães do estudo por não cumprirem com um dos critérios de inclusão, que era a

ausência de tratamento profilático para a dirofilariose.

1.1.1. Género, idade, peso corporal e raça

A população de cães avaliada (n=167) incluiu 88 machos (53 %) e 79 fêmeas (47 %),

dentro dos quais 39 e 41 animais eram castrados, respetivamente (Figura 7).

Figura 7. População de cães: representação do género (A) e do estado reprodutivo (B).

As idades dos cães estavam compreendidas entre os 6 meses e os 21 anos, e foram

agrupados em 5 faixas etárias (<4, 4-<8, 8-<12, 12-<16, 16-21 anos), sendo que 67,7 %

(n=113) dos cães tinham idades inferiores a 8 anos, estando inseridos nas duas primeiras

categorias (Figura 8A). O peso dos cães em estudo variou entre os 1,5 e os 61 Kg. O grupo

de animais foi dividido em várias categorias (<5 Kg, 5-14 Kg, 15-24 Kg, 25-34 Kg, 35-44 Kg,

>45 Kg), em que 68,5% (n=115) apresentavam pesos entre os 5 e os 24 Kg (Figura 8B).

Na amostra de cães do presente estudo (n=167) foram analisados animais de 34

raças diferentes, em que 90 dos cães (53,9 %) eram cruzados ou tinham raça indeterminada,

e 77 (46,1 %) eram de raça pura. Destes, as raças mais comuns foram o Galgo (14,3 %;

n=11), seguida do Boxer (11,7 %, n=9) e do Retriever do Labrador (10,4 %, n=8).

Total = 167

Machos

Fêmeas

47% 53%

Machos Fêmeas

0

20

40

60

cães

Inteiros

Castrados

A B

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19

Figura 8. Distribuição da população de cães pelas diferentes categorias de idade (A) e peso corporal

(B).

1.1.2. Distribuição geográfica e viagens realizadas

As amostras dos cães que integraram o estudo foram colhidas em vários centros

veterinários do distrito do Porto e, no total, as proveniências dos cães pertenciam a 12 dos 18

municípios. No mapa do distrito do

Porto (Figura 9) podemos verificar que

grande parte dos cães que constituem

a amostra provêm de cidades mais a

oeste da região, como é o caso da

cidade do Porto (n=48, 29 %),

Matosinhos (n=27, 16 %), Maia (n=18,

11 %) e Póvoa de Varzim (n=11, 6,5

%), com as exceções de Valongo

(n=11, 6,5 %) e Amarante (n=22, 13

%).

Figura 9. Distribuição das amostras de cães pelo distrito do Porto.

Do total de cães avaliados, apenas 35 realizaram viagens para outras regiões do país

que não o distrito do Porto, sendo que cinco cães fizeram mais do que uma viagem. A maioria

destes cães deslocou-se para algumas regiões do Norte, sendo que dez cães (6%) foram

para o Minho (Celorico de Basto, Famalicão, Moledo, Gerês, Viana do Castelo e Valença) e

dez (6%) para a região de Trás-os-Montes e Alto Douro. Outros cães realizaram viagens para

a zona Centro do país (n=9; 5,4 %; Aveiro, Coimbra, Viseu e Castelo Branco), Estremadura

(n=6; 3,6%), Alentejo (n=1; 0,6 %) e Algarve (n=4; 2,4 %). Apenas 3 (1,8%) dos cães que se

deslocaram para outras regiões do país viajaram também para o estrangeiro (Norte e Centro

de Espanha, Norte e Sul de Itália e Eslovénia). Além destes 35 cães, 3 viajaram

exclusivamente para o exterior (França, Espanha e Irlanda).

< 4 ≥ 4-<8 ≥8-<12 ≥12-<16 ≥16-<210

20

40

60

Idade (anos)

mero

de c

ães

<5 5 - 14 15 - 24 25 - 34 35 - 44 ≥450

20

40

60

80

Peso (Kg)

mero

de c

ães

A B

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20

1.1.3. Habitat e coabitantes

Dos 167 cães incluídos no estudo, somente sete permaneciam sempre no interior de

casa e os restantes tinham acesso ao exterior (n=126, 75,45%) ou eram mantidos

exclusivamente no exterior (n=34, 20,36%). Relativamente aos coabitantes, 118 cães (70,7

%) contactavam com outros cães ou com outros animais de diferentes espécies (Figura 10).

Figura 10. Distribuição dos cães avaliados (%) pelos diferentes coabitantes.

1.1.4. Hábitos alimentares

Relativamente ao tipo de alimentação, a maioria dos cães estudados comia ração

seca (n=103; 61,7 %), seguidos de cães que comiam, para além de ração seca também

comida caseira (n=39; 23,4%). Outros cães comiam somente comida caseira (n=6, 3,6 %) ou

ração húmida e seca (n=12; 7,1 %). Uma pequena percentagem de cães era alimentada com

ração húmida (n=3; 1,8 %), ração húmida e comida caseira (n=1; 0,6 %) ou com a conjugação

dos três tipos (n=3; 1,8 %).

1.1.5. Profilaxia – vacinação e desparasitação

A administração de vacinas verificou-se em 83,87 % (140/167) dos cães testados. A

administração de profilaxia contra endoparasitas foi realizada a 80,84 % (135/167) da

população alvo. De entre os fármacos utilizados pelos proprietários incluem-se, por ordem

decrescente de utilização: praziquantel (Zypiran®), milbemicina oxima (Milbemax®),

praziquantel e fenbendazole (Caniquantel®), praziquantel e pirantel (Dosalid®, Drontal®) e

selamectina (Strongold®). Quanto à profilaxia contra ectoparasitas, esta foi aplicada em 85,03

% (142/167) dos cães do estudo e dela fazem parte: imidaclopramide (Advantix®), fluralaner

(Bravecto®), deltametrina (Scalibor®), fipronil (Frontline®), indoxacarb (Actyvil®), permetrina

(Pulvex®), imidacloprid e flumetrina (Seresto®) e dinotefurano, permetrina e piriproxifeno

Cãe

s

Gat

os

Cãe

s e

gatos

Outr

os

Nen

hum

0

10

20

30

40

50%

Cães

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(Vectra 3D). De todos os cães que integraram o estudo, 12% (20/167) foram sujeitos a

tratamento anti-dirofilária com milbemicina, sendo que 7,8% dos cães (13/167) tinham

administrado este fármaco há 6 meses, 3,6% (6/167) há sensivelmente um ano e 0,6%

(1/167) há mais de cinco anos. A restante população, 14,97% (25/167) não foi sujeita a

qualquer tipo de desparasitação externa. Estes resultados estão apresentados na figura 11.

Figura 11. Representação gráfica dos cães avaliados (%) sujeitos a vacinação e desparasitação.

1.1.6. Presença de sinais clínicos

Dos 167 cães avaliados, 150 eram assintomáticos (89,8 %) e apenas 17 cães (10,17

%) manifestavam alguma sintomatologia, aquando da colheita das amostras de sangue. Um

total de 5,4% dos cães apresentavam perda de peso, tosse, fadiga ou dispneia, 2,4%

apresentavam sintomas digestivos, 1,2% sinais urinários e também 1,2% apresentavam

convulsões. Em 3,6% dos cães, a colheita de sangue foi feita aquando da venopunção para

realização de análises pré-anestésicas.

1.1.7. Deteção de antigénios de D. immitis no plasma

Das 167 amostras de plasmas dos cães que integraram o presente estudo, nenhuma

obteve resultado positivo para a presença de antigénios de D. immitis, confirmando, assim,

uma prevalência de zero já atribuída ao distrito do Porto num estudo anterior (Vieira et al.,

2015) (Figura 12).

Figura 12. Urano test Dirofilaria®: resultado negativo no teste (imagem original).

Vacinação Desparasitação Interna

Desparasitação Externa

0

20

40

60

80

100%

Cães

Sim

Não

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1.1.8. Deteção da probabilidade de falso-negativo

Após a obtenção dos resultados da população de cães, procedeu-se ao cálculo da

prevalência real máxima que pode estar presente quando o resultado é negativo,

𝑛 = [1 − (1 − 𝑝)1

𝑛] 𝑥 [𝑁 − (𝑛−1

𝑧)],

em que N representa os cerca de 170.000 cães estimados para o distrito do Porto e p a

prevalência aparente para um resultado nulo (1,67 %), dando uma prevalência real máxima

(n) de 1,78% no total da população de cães do Porto. Com este valor efetuou-se uma

correção de sensibilidade, tendo em conta os parâmetros de especificidade e sensibilidade do

teste utilizado na deteção de antigénios. Para a sensibilidade de 94% e a especificidade de

100% do teste, na amostra de 167 cães, a probabilidade de haver um falso-negativo no

presente trabalho é de (2)−5.

1.2. População humana

No que diz respeito à população humana que integrou o estudo (n=284), 9/155 (5,81

%) homens e 8/129 (6,20 %) mulheres obtiveram resultado positivo nos testes de deteção de

anticorpos anti-D. immitis. Deste modo, a seroprevalência estimada foi de 5,99 % (n=17/284),

em que 52,94 % dessas amostras positivas eram de indivíduos do género masculino e 47,06

% de indivíduos do género feminino (Figura 13).

Figura 13. População humana: distribuição da seroprevalência de acordo com o género.

Relativamente à faixa etária foram observados resultados positivos no teste de

deteção de anticorpos anti-D. immitis em 1/5 pessoas com menos de 20 anos, 8/115

indivíduos com idades compreendidas entre os 20 e os 40 anos, 7/157 entre 41 e 60 anos, e,

por fim, 1/7 dos indivíduos com mais de 60 anos. Comparando com o total de positivos, cerca

de 88 % dos indivíduos seropositivos tinham entre 20 a 60 anos (Figura 14).

Homem Mulher0

50

100

150

200Número total de amostras

Amostras positivas

0

1

2

3

4

% A

mo

str

as p

osit

ivas

Homem

Mulher

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Figura 14. População humana: distribuição da seroprevalência de acordo com a idade.

Relativamente à proveniência dos indivíduos que integraram a amostra da população

de humanos, apenas duas cidades não estão representadas no estudo (Póvoa de Varzim e

Baião). O mapa abaixo representado (Figura 15) mostra o local de residência dos 284

indivíduos e desvenda a área geográfica dos casos de seropositividade a D. immitis revelada

no presente estudo (assinalados a vermelho). Os 17 dos 284 participantes neste estudo que

apresentaram resultado positivo ao teste de deteção de anticorpos anti-D. immitis provêm de

sete cidades adjacentes, na metade mais

a oeste do distrito do Porto. Dentro do

concelho, a proporção mais elevada entre

resultados positivos e negativos foi

encontrada em Paços de Ferreira, sendo

que 2/12 indivíduos revelaram presença

de anticorpos nas amostras de soro. A

distribuição dos casos positivos pelos

respetivos concelhos está discriminada na

Tabela 1.

Figura 15. População humana: distribuição geográfica no distrito do Porto das amostras obtidas. A

vermelho estão indicados os concelhos onde foram detetados casos positivos.

Como foi referido antes, apenas foi autorizado o acesso à idade, género e local de

residência dos indivíduos, não havendo informações sobre, por exemplo, existência de

animais de estimação, deslocações dentro do país ou viagens ao estrangeiro.

<20 20-40 41-60 >600

20

40

60

80

100

120

140

160

Idade (anos)

Número total de amostras

Amostras positivas

0

1

2

3

% A

mo

str

as p

osit

ivas

<20 anos

20-40 anos

41-60 anos

>60 anos

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Tabela 1: Seroreatividade aos anticorpos anti-D. immitis nos humanos residentes no distrito do Porto

que foram incluídos no estudo, por concelho de residência.

Concelho de residência Amostras positivas

(%, IC 95%) %, IC 95 %

Amarante 0/1 0%

Felgueiras 0/4 0%

Gondomar 1/26 (3,85%, 1,15-6,55%) Lousada 0/12 (0%) Maia 2/27 (7,41%, 4,71-10,11%) Marco de Canaveses 0/2 (0%) Matosinhos 3/24 (12,50%, 9,8-15,2 %) Paços de Ferreira 2/12 (16,67%,13,97-19,37%) Paredes 3/44 (6,82%, 4,12-9,52%) Penafiel 0/16 (0%) Porto 0/21 (0%) Santo Tirso 0/10 (0%) Trofa 3/30 (10,00%, 7,3-12,7%) Valongo 3/32 (9,38%, 6,68-12,08%) Vila do Conde 0/10 (0%) Vila Nova de Gaia 0/13 (0%) Total 17/284 (5,99%, 3,29-8,69%)

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VI. DISCUSSÃO

A crescente incidência da dirofilariose humana e animal nos países mediterrânicos

considerados endémicos, bem como a emergência nas regiões da Europa Central e do Norte

(tradicionalmente consideradas não endémicas), fornecem evidências claras de que esta

doença zoonótica está a tornar-se uma séria ameaça para a saúde pública (Morchón et al.,

2012). Neste sentido, e tendo em conta o mapa de distribuição da D. immitis na Península

Ibérica, o presente trabalho prospetivo consistiu num estudo epidemiológico transversal cujo

objetivo foi determinar e comparar as prevalências de dirofilariose canina e humana no distrito

do Porto. As prevalências obtidas foram de 0% para a população de cães, e 5,99% para os

humanos.

O dimensionamento da amostra de cães e a incorporação de animais com diferentes

características permitiram obter, com um elevado grau de confiança, uma amostra

significativa e representativa, de forma a ser possível extrapolar os resultados para a

população de cães residente no distrito do Porto. Os critérios definidos para a inclusão no

estudo tiveram por base a seleção de animais que apresentassem risco de estarem

parasitados, não sendo sujeitos a profilaxia regular para dirofilariose, e que vivessem na zona

de estudo. Dos 18 concelhos que formam o distrito do Porto, apenas 6 não foram

representados neste estudo. Uma grande parte dos dados obtidos nos inquéritos preenchidos

pelos proprietários dos cães em estudo foram analisados com o objetivo de estudar vários

fatores de risco que pudessem estar bem representados neste grupo.

Neste estudo, 40 cães (23,95 %) tinham peso superior a 25 Kg, sendo que o peso é

considerado um fator de risco no desenvolvimento da infeção por D. immitis. Vários estudos

apontam para que os cães de porte grande estejam mais predispostos a serem parasitados

por D. immitis relativamente aos cães de porte pequeno, já que, por norma, cães de porte

grande passam mais tempo no exterior e têm uma maior superfície corporal exposta ao

mosquito (Traversa et al., 2010). Vários estudos constataram uma prevalência superior nos

cães que vivem no exterior, pois estão mais expostos à picada dos mosquitos. Foi

demonstrado que o risco de viver no exterior é 10 vezes superior ao risco de viver dentro de

casa (Byeon et al., 2007). No presente estudo, aproximadamente 75 % dos cães tinham

acesso ao exterior, e 20 % viviam exclusivamente no exterior. Relativamente à idade, alguns

autores admitem que este é um fator de risco importante. Cerca de metade (42 %) dos cães

do presente estudo tinham mais de 6 anos. A probabilidade de adquirir infeção por D. immitis

aumenta com o período de exposição ao mosquito. Logo, à medida que a idade aumenta, a

janela de oportunidade de serem infetados é maior (Montoya-Alonso et al., 2010).

É de salientar que uma grande parte dos cães que veio às consultas não pôde integrar

o estudo por não cumprir um dos critérios de inclusão e ter sido sujeito a profilaxia contra a

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dirofilariose. De facto, no distrito do Porto, o recurso a este tipo de fármacos é uma realidade

muito presente nos dias de hoje. A evidência, a partir de estudos anteriores, sugere que,

reduzindo a população reservatório através do aumento do número de cães que recebem

profilaxia, diminui proporcionalmente a prevalência da infeção em cães não protegidos. A

proteção colateral dissemina-se criando uma zona de proteção de quimioprofilaxia e é mais

eficaz em comunidades onde a prevalência de dirofilariose na população canina é baixa

(AHS, 2014; Hoch & Strickland, 2008b). Esta pode ser uma das justificações para uma

prevalência nula de dirofilariose canina no distrito do Porto.

Ao compararmos os dois estudos (humanos vs. cães), foram utilizados dois testes

diferentes que avaliam, nos primeiros, a presença de anticorpos (contacto com o agente), e

nos segundos, a presença de antigénios (infeção provocada pelo agente). Apesar de

processos diferentes, a escolha do método de diagnóstico de D. immitis feita em cada espécie

teve por base o conhecimento prévio das particularidades da parasitose e do seu diagnóstico

na espécie canina e humana.

Como já vimos, os cães são considerados a espécie reservatório de Dirofilaria spp,

porque os parasitas adultos podem sobreviver durante anos com altas cargas parasitárias,

produzindo microfilárias na maioria das infeções. Esta capacidade de sobrevivência das

filárias no cão está, muito provavelmente, relacionada com a capacidade de o parasita evitar

e modular o sistema imunitário do cão (Kramer et al., 2005). Partindo deste princípio, faz

sentido pesquisar antigénios para deteção de infeção por D. immitis no cão, e não recorrer a

testes de pesquisa de anticorpos.

Os seres humanos são considerados hospedeiros acidentais para a dirofilariose e,

normalmente, estes nemátodes não conseguem atingir a maturidade sexual no corpo

humano. A reação do sistema imunitário do hospedeiro é de tal modo exuberante que elimina

as formas larvares infetantes e, nos casos em que ocorre desenvolvimento, o parasita morre

muito precocemente, ao contrário do que acontece no hospedeiro definitivo, o cão. Sendo

assim, a deteção de anticorpos contra D. immitis é o método de diagnóstico adequado no

estudo desta doença em humanos. Este procedimento permite, por um lado, detetar

anticorpos originados pela exposição do organismo às filárias adultas, sem que haja

necessariamente infeção no momento da colheita. Por outro lado, os anticorpos detetados

podem advir de uma infeção com estádios imaturos ou formas larvares infetantes, ou, em

alguns casos, de infeções ectópicas. Contudo, a possibilidade de haver falsos positivos deve

ser sempre tida em conta, e é de extrema importância associar outros meios de diagnóstico

para que se aumente a probabilidade de um resultado verdadeiro (Bowman & Atkins, 2009;

Ettinger & Feldman, 2004; Hoch & Strickland, 2008a).

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Em suma, neste estudo, a escolha de métodos de diagnóstico diferentes para a

população de cães e para os humanos acaba por suscitar algumas questões relativamente à

comparação de duas situações diferentes. Contudo, no primeiro caso estamos a procurar a

prevalência da infeção ocorrida nos cães, e no segundo estamos a estudar a seroprevalência,

que dá informação acerca do risco de infeção em indivíduos expostos ao parasita.

Um fator interessante que pode justificar esta disparidade de resultados é o tipo de

deslocamento de cada espécie. Apenas 38 dos 167 cães (22,75 %) se deslocaram para

outras regiões fora do distrito do Porto. A grande maioria destes animais deslocou-se para

regiões do Minho e Trás-os-Montes, onde as prevalências estudadas de D. immitis são zero

(ver anexo II). Da mesma forma, ao estudarmos a seroprevalência humana numa só região,

devemos ter em conta que o homem se desloca para outras zonas do país ou mesmo para o

estrangeiro com mais facilidade e frequência do que os animais de estimação,

nomeadamente os cães. Dados relativos às viagens efetuadas por estes indivíduos seriam

uma informação muito útil e interessante neste estudo.

Apesar deste estudo ter sido elaborado com cuidado, e de a probabilidade estimada

de falsos-negativos ser muito baixa, esta possibilidade deve sempre ser tida em

consideração. Como foi referido anteriormente, a utilização de apenas um teste na pesquisa

de infeção por D. immitis nos cães pode ser um fator limitante. Foi relatado por Velasquez e

colaboradores um estudo numa região dos Estados Unidos em que todos os cães da

amostra, num primeiro teste de deteção de antigénios por D. immitis, obtiveram resultado

negativo. Depois da aplicação de um tratamento de calor ao mesmo conjunto de amostras,

repetiu-se o teste às mesmas amostras anteriormente negativas e 7,1 % tornaram-se

positivas à presença de antigénios de D. immitis. Os resultados deste estudo sugerem que

anticorpos ou outros fatores inibidores de antigénios de D. immitis possam estar presentes

nestes cães, e que a determinação da prevalência desta infeção pode beneficiar com o

aquecimento da amostra antes do teste (Velasquez et al., 2014). Assim sendo, seria

interessante recorrer a este método sempre que se pretende detetar a presença de

antigénios. A conjugação com outro tipo de testes (e.g. observação de microfilárias pelo Teste

de Knott) pode, de igual forma, ser efetuada sempre que haja resultados que suscitem

alguma dúvida (McCall et al., 2008).

Relativamente ao distrito do Porto, uma alternativa para averiguar a presença de

dirofilariose na região pode passar por distribuir inquéritos aos médicos veterinários dos

vários centros veterinários do distrito, para que possam relatar os diversos casos de

dirofilariose com que já se depararam. Isso daria uma outra perceção relativamente a esta

doença na região do Porto.

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VII. CONCLUSÃO

Apesar da prevalência negativa detetada na população de cães deste estudo, esta

parasitose não deve ser desvalorizada. A seropositividade em humanos, a crescente deteção

de novas áreas adjacentes ao distrito do Porto com prevalências positivas para D. immitis e a

localização geográfica e clima desta região, são fatores que sugerem condições muito

favoráveis ao desenvolvimento e propagação da dirofilariose, devendo esta continuar a

merecer atenção por parte da comunidade veterinária e também da população.

Por fim, dada a complexa interação entre os animais domésticos, os mosquitos, o

Homem e o território selvagem na região Norte do país, o risco de exposição a D. immitis é

uma realidade. Torna-se, portanto, essencial elaborar planos de rastreio e medidas de

divulgação e educação da sociedade, para que se criem estratégias multidisciplinares que

abranjam os vários grupos intervenientes desta doença, como dita o conceito “Uma só

saúde”.

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I

IX. ANEXOS

ANEXO I

Distribuição da dirofilariose por D. immitis em cães na Península Ibérica, com base nos últimos dados

de prevalências publicados (Adaptado de Diosdado et al, 2016). A castanho estão representadas as

áreas endémicas para dirofilariose por D. immitis em cães; a cinzento estão representadas as áreas

estudadas com prevalências de 0%; nas regiões a cor branca não foram realizados estudos de

prevalências para a dirofilariose.

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II

ANEXO II

Tabela de prevalência da infeção por D. immitis em cães residentes em Portugal e respetivo método de

diagnóstico (tabela original, baseada nos estudos mencionados). *Prevalência em cães saudáveis.

**Prevalência em cães com sintomatologia compatível com doenças transmitidas por vetores.

Regiões de Portugal

Estudo Prevalência % (n

Total) Método de

diagnóstico

REGIÃO NORTE (Cardoso et al.,

2012)

2,9 %* (n=137) /

3,4 %** (n=145) Deteção de Ag

Braga (Vieira et al.,

2015) 0 % (n=61) Deteção de Ag

Bragança (Alho et al.,

2014a) 0 % (n=47) Deteção de Ag/ Teste de Knott

Porto (Vieira et al.,

2015) 0 % (n=43) Deteção de Ag

Viana do Castelo (Vieira et al.,

2015) 2,1 % (n=48) Deteção de Ag

Vila Real (Vieira et al.,

2015) 0 % (n=48) Deteção de Ag

REGIÃO CENTRO (Cardoso et al.,

2012)

0,9 %* (n=113) / 7,4 %**

(n=122) Deteção de Ag

Aveiro

(Rendall-Rocha

et al., 2012)

9,3 %* (n=204) / 44,8

%** (n=67) Gota a fresco/ Deteção de Ag

(Vieira et al.,

2015) 6,8 % (n=59) Deteção de Ag

Castelo Branco (Alho et al.,

2014a) 2,5 % (n=40) Deteção de Ag/ Teste de Knott

Coimbra

(Sousa et al.,

2008) 20 % (n=40) Teste de Knott

(Alho et al.,

2014b)

13,8 % (n=224)

Deteção de Ag / Teste de Knott/

Coloração por Fosfatase ácida

(Vieira et al.,

2015) 8,8 % (n=34) Deteção de Ag

Figueira da Foz Gota a fresco,

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III

(Vieira et al.,

2014)

23,7 % (n=304) microhematócrito, ELISA, teste

de Knott e coloração por

fosfatase ácida

Viseu (Vieira et al.,

2015) 0 % (n=46) Deteção de Ag

Ribatejo (Araújo, 1996) 16,7 % Teste de Knott Modificado

REGIÃO SUL

Algarve

(Araújo, 1996) 12 % Teste de Knott Modificado

(Cardoso et al.,

2012)

5,1 %* (n=79) / 17,1 %**

(n=105) Deteção de Ag

(Maia et al.,

2015) 9,4 % (n=170) Deteção de Ag

(Maia et al.,

2016a) 10,4 % (n=230) PCR

Alentejo

(Araújo, 1996) 16,5 % Teste de Knott Modificado

(Cardoso et al.,

2012)

4,7 %* (n=85) / 14 %**

(n=114) Deteção de Ag

Beja (Alho et al.,

2014a) 8,9 % (n=45) Deteção de Ag/ Teste de Knott

Évora (Alho et al.,

2014a) 0 % (n=40) Deteção de Ag/ Teste de Knott

Faro (Alho et al.,

2014a) 2,7 % (n=37) Deteção de Ag/ Teste de Knott

Guarda (Alho et al.,

2014a) 6,7 % (n=15) Deteção de Ag/ Teste de Knott

Lisboa

(Cardoso et al.,

2012)

2,4 %* (n=126) / 5,8 %**

(139) Deteção de Ag

(Alho et al.,

2014a) 0 % (n=15) Deteção de Ag/ Teste de Knott

Portalegre (Alho et al.,

2014a) 0 % (n=46) Deteção de Ag/ Teste de Knott

Santarém

(Alho et al.,

2014b)

13,2 % (n=371)

Deteção de Ag/ Teste de

Knott/Coloração por Fosfatase

Ácida

Setúbal

(Alho et al.,

2014b)

24,8 % (n=101)

Deteção de Ag/ Teste de

Knott/Coloração por Fosfatase

Ácida

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IV

ILHAS

Açores (Cardoso et al.,

2012)

0 %* (n=7) /

0 %** (n=3) Deteção de Ag

Madeira

(Araújo, 1996) 30 % Teste de Knott Modificado

(Cardoso et al.,

2012) 40 %* (n=10) Deteção de Ag

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V

ANEXO III

Caracterização do teste de diagnóstico imunocromatográfico Uranotest Dirofilaria® (Urano Vet SL,

Barcelona, Espanha) e informação sobre a sua especificidade e sensibilidade.

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VII

ANEXO IV

Modelo do inquérito preenchido pelos proprietários de cada animal interveniente no estudo

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