análise comparativa dos sistemas de colheitas de órgãos ... · órgãos por cadáveres e o...

52
Análise comparativa dos sistemas de colheitas de órgãos para transplantação humana: a realidade de vários países. Andreia Maria Póvoa Vicente Artigo de revisão bibliográfica Mestrado Integrado em Medicina Orientador: Professor Doutor Humberto Machado Porto, 2014

Upload: doanhuong

Post on 21-Nov-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Análise comparativa dos sistemas de colheitas de órgãos para

transplantação humana: a realidade de vários países.

Andreia Maria Póvoa Vicente

Artigo de revisão bibliográfica

Mestrado Integrado em Medicina

Orientador: Professor Doutor Humberto Machado

Porto, 2014

II

III

Agradecimentos

A Deus, por me ouvir e por nunca largar a minha mão.

Ao Professor Dr. Humberto Machado por gentilmente ter aceitado ser meu orientador, pelo

acompanhamento do trabalho, pelo apoio, generosidade e disponibilidade, pelas críticas e

correções. Por ser um exemplo da riqueza em competência científica e humana.

“Se vi mais longe foi por estar de pé sobre ombros de gigantes”.

À minha mãe, a luz que ilumina o meu caminho e a quem devo tudo. Pela sua força, por me

incentivar a nunca desistir dos meus sonhos, pelo sacrifício, pela paciência, perseverança,

carinho e segurança mesmo nos momentos em que tudo parece falhar.

À minha família e namorado pelo apoio e carinho.

IV

V

Resumo

Introdução: A transplantação é largamente aceite como um tratamento de sucesso que

oferece os melhores benefícios terapêuticos a centenas de milhares de doentes em todo o

mundo. A baixa disponibilidade global de órgãos desperta preocupações bioéticas e questões

acerca de que determinantes atualmente estão a influenciar estas taxas.

Métodos: Este trabalho baseou-se na pesquisa de artigos, obtenção de dados de fontes como

IROdAT (www.irodat.org), US CIA Factbook (www.cia.gov), World Bank Group

(www.worldbank.org) e seu processamento em Microsoft Excel 2007. Os países tratados foram

divididos em 9 regiões com o objetivo de se detetar potenciais diferenças entre agregados

culturais.

Resultados: O consentimento presumido parece ser favorável a maiores taxas de doação de

órgãos por cadáveres e o informado a maiores taxas de doação por dadores vivos.

No geral as religiões não se opõem à doação e transplantação salvo algumas exceções.

Parece haver uma forte correlação entre a doação de órgãos e as crenças religiosas

dominantes em certas regiões principalmente a Ásia e África.

Despender maior percentagem do seu PIB em saúde não reflete necessariamente um melhor

desempenho ao nível da recolha de órgãos. Contudo verifica-se que países com gastos muito

baixos tendem a apresentar taxas de doação menores.

Discussão: Para além da religião estão identificados muitos outros fatores que influenciam a

decisão de ser dador de órgãos, entre eles a taxa de recusa dos familiares. Relativamente a

este último, os dados são muito limitados e os valores devem ser interpretados com cuidado.

Conclusão: O tipo de consentimento ou a religião isoladamente não explicam a variação geral

de taxas de doação entre os países, sem dúvida que isto resulta da combinação de muitos

outros fatores.

É necessária uma abordagem multissetorial, uma vez que não existe uma única solução para

aumentar as taxas de doação.

VI

Palavras- chave:

Doação de órgãos, transplantação, dador cadáver, dador vivo, dador em paragem circulatória,

recusa de doação por familiares, atitudes face à morte, religião, consentimento informado e

presumido, gastos em saúde.

VII

Abstract

Introduction: The organ transplantation is widely known and accepted as one of the more

successful methods in which therapeutic benefits are improving the health of hundreds of

thousands of people worldwide. However the low availability of organs raises bioethical issues

and concerns about the questions behind the actual success rate.

Methods: The present work was based on scientific research articles, data from IROdAT

(www.irodat.org), US CIA Factbook (www.cia.gov), World Bank Group (www.worldbank.org)

and its further analysis was performed using Microsoft Excel 2007. The countries were grouped

in nine regions in order to detect potential differences among the cultural groups.

Results: The presumed consent seems to favour higher availability of organs from dead donors

and the increasing rate of living donors is strictly associated to countries with an informed

consent system.

In general, religions accept the organ donation and transplantation, with rare exceptions. There

is a strong correlation between organ donations and religious beliefs, which is more pronounced

in Asiatic and African countries.

In the majority of the countries studied a bigger percentage of the GPD in health does not reflect

necessarily a better performance in organ donation rates. However, countries which spend less

of their GPD with health, a smaller organ donation rate is observed.

Discussion: Many other factors beyond religion influence the decision of being organ donor, for

example the relatives’ refusal. These data are very restricted and their interpretation requires

some caution.

Conclusion: The different kind of consent or the religion alone is not able to explain the rates of

organ donation variation across countries, there are many other factors that altogether are

crucial to define its outcome.

Each country should maximise all the opportunities of organ harvesting. It is necessary a wide

approach because a single solution is not sufficient to increase the donation rates.

VIII

Keywords:

Organ donation, transplantation, deceased donor, living donor, non-heart beating donor, family

refusal, religious perspective on organ donation, attitudes toward death, religion, informed

consent, presumed consent, informed consent, health expediture.

IX

X

Índice

Agradecimentos ........................................................................................................... III

Resumo ........................................................................................................................ V

Índice…… ..................................................................................................................... X

Lista de gráficos ........................................................................................................... XI

1. Introdução ............................................................................................................... 13

2. Metodologia ............................................................................................................ 16

3. Resultados e Discussão.......................................................................................... 17

3.1. Dadores de coração parado ...................................................................... 27

3.1.1. Protocolos de doação após paragem cardiocirculatória. ........................ 27

3.2. Croácia ..................................................................................................... 29

3.3. Fatores que influenciam a decisão de ser dador de órgãos. ..................... 30

3.3.1. Religião ................................................................................................. 30

3.3.2. Crenças culturais e outros fatores demográficos ................................... 33

3.3.3. Influência da família .............................................................................. 34

3.3.4. Integridade corporal .............................................................................. 34

3.3.5. Interação com o sistema de saúde ........................................................ 34

3.3.6. Nível de conhecimento e informação sobre doação de órgãos ............. 35

3.3.7. O papel dos media ................................................................................ 35

3.3.8. Despesas em saúde .............................................................................. 35

3.3.9. Recusa da doação ................................................................................ 36

4. Conclusões ............................................................................................................. 38

5. Referências bibliográficas ....................................................................................... 39

Anexos ....................................................................................................................... 42

Anexo 1 - Classificação de Maastricht modificada de dadores em morte circulatória

............................................................................................................................ 43

Anexo 2 – Sistemas de registos, categorias de Maastricht e órgãos colhidos. ..... 44

Anexo 3 – Itens descritos em protocolos de doação relativos a alguns países. ... 45

Anexo 4 – Distribuição das religiões em vários países......................................... 46

Anexo 5 – Mapa com distribuição das religiões no mundo .................................. 49

Anexo 6 – Despesas em saúde per capita (dólares) e % do PIB – 2012 ............. 50

Anexo 7 – Taxas de recusa de doação pelas famílias de alguns países .............. 52

XI

Lista de gráficos

Gráfico 1 - Dadores cadáveres no Mundo 2012 (pmp) ............................................ 18

Gráfico 2 - Dadores vivos no Mundo 2012 (pmp) .................................................... 19

Dadores da Europa 2012 (pmp)

Gráfico 4 – Dadores vivos .................................................................................... 20

Gráfico 3 – Dadores cadáveres ........................................................................... 20

Dadores da Ásia 2012 (pmp)

Gráfico 6 – Dadores vivos .................................................................................... 21

Gráfico 5 – Dadores cadáveres ........................................................................... 21

Dadores da Oceânia 2012 (pmp)

Gráfico 8 – Dadores vivos .................................................................................... 24

Gráfico 7 – Dadores cadáveres ........................................................................... 24

Dadores de África 2012 (pmp)

Gráfico 9 – Dadores cadáveres ........................................................................... 24

Gráfico 10 – Dadores vivos .................................................................................. 24

Dadores América 2012 (pmp)

Gráfico 12 – Dadores vivos .................................................................................. 26

Gráfico 11 – Dadores cadáveres ......................................................................... 26

Gráfico 13 - Dadores de coração parado no mundo (pmp) ...................................... 27

XII

13

1. Introdução

Por volta do ano 1000 d.C foi descoberta uma misteriosa narrativa com cerca 2000 anos.

Boadicea, uma poderosa rainha Celta que liderou os icenos contra a ocupação romana na Grã-

Bretanha entre 60 e 61 d.C e capaz de gerar vários filhos de uma só vez, faleceu aos 30 anos.

A sua sorte ficou nas mãos de um Druida que, metodicamente e em primeiro lugar, a fez

respirar as brumas para que não sentisse dor, em seguida fez o mesmo com uma escrava. De

um corte no peito desta colheu o seu coração, fez o mesmo à rainha e implantou nesta o órgão

saudável, costurou a abertura com fios de ouro lavados no recipiente da vida e lançou

pequenos raios no coração que começou a bater novamente. O tórax foi fechado então com os

mesmos fios de ouro.

Um aspeto fantástico deste registo é a presença de alguns chavões que traduzem de forma

poética o que nos dias de hoje são premissas para esse ato cirúrgico: não sentir dor

(anestesia), a sutura com cuidados de higiene e a necessidade de “raios” (choque) para o

coração voltar a bater. A ideia da transplantação não terá emergido dos tempos modernos mas

sim desde muito cedo terá feito parte do imaginário e ambições do ser humano.

A transplantação de órgãos é o melhor e, por vezes, o único tratamento para muitas doenças

em fase terminal. Um dos problemas de saúde mais críticos dos dias de hoje é a sua escassez

persistente e a discrepância entre a sua necessidade e o seu provimento. Daqui resultam

longos períodos de espera para os doentes, sucumbindo muitos deles durante esse tempo.[1]

Efetivamente, vários países têm debatido as suas políticas, adotado e modificado legislações

com o objetivo de melhorar esse balanço e assegurar que os procedimentos se desenrolem

uma base firme em termos éticos e legais com igualdade e segurança.[2]

Entre 30 de abril e 2 de maio de 2008, mais de 150 participantes oriundos de esferas

científicas, médicas, governamentais, de todo o mundo, elaboraram a Declaração de Istambul.

Este documento assenta nos princípios da Declaração Universal dos Direitos do Homem e

recomenda o desenvolvimento e implementação de uma legislação ou jurisdição em cada país

que regule as atividades de doação e transplante de órgãos. Alerta para a necessidade de um

sistema de supervisão claro que garanta a segurança de doadores e recetores bem como a

aplicação de normas e a proibição de práticas sem ética.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), em Maio de 2010 elaborou o Guiding Principles on

Human Cell, Tissue and Organ Transplantation, 11 princípios orientadores referentes à doação

por cadáveres e vivos que fornecem princípios orientadores de ordem e ética para aquisição e

transplantação de células, órgãos e tecidos humanos para fins terapêuticos.

Há tipos diferentes de legislações e o primeiro aspeto é o sistema de registo e os 2 mais

comuns são o consentimento informado e o consentimento presumido. No primeiro, ninguém é

14

dador por defeito e para o ser o indivíduo deve registar-se como dador de órgãos assinando

um cartão de dador ou indicando o seu estatuto na licença de condução. Este sistema está

sujeito à desvantagem de depender da espontaneidade e do altruísmo de cada um, sendo a

procrastinação e a inércia fatores capazes de tornar a taxa de doação inferior à vontade de

doar. Aqui a recolha de órgãos também está dependente da permissão da família.

O consentimento presumido surge então como uma alternativa aparentemente capaz de

resolver alguns desses entraves: neste sistema todo o cidadão adulto é dador por defeito, a

menos que escolha não o ser e se registe como não dador. Contudo, este sistema também tem

desvantagens: os familiares do falecido podem objetar a doação e o governo pode ser visto

como um aproveitador da inércia e da falta de atenção dos cidadãos para dar

consentimento.[3,4]

Para além destes 2 sistemas há ainda um 3º que é praticado nos Estados Unidos da América e

que estabelece que deve ser ilegal, bem como irresponsável e imoral desligar um ventilador de

um indivíduo que é declarado morto após testes ao tronco cerebral sem primeiro fazer a

investigação adequada quanto à possibilidade de tecidos e órgãos serem usados para

transplante. Isto faz com que haja menos negligência nas oportunidades de doação, muitos

indivíduos podem não ser dadores porque os familiares não foram abordados e o familiar mais

próximo tem o direito moral e legal de saber que os órgãos e tecidos podem ser doados se ele

e a família o desejarem. Apesar da introdução deste sistema ter permitido um aumento inicial

das doações, ao longo do tempo os números foram diminuindo.[5]

Em 1995-1996, Spital sugere um novo sistema: escolha obrigatória. Desta forma se os

indivíduos forem forçados a escolher, os inconvenientes éticos tornar-se-ão eventualmente

menores, contudo é ainda incerto se isso levaria a uma taxa de doação de órgãos mais

elevada.[3]

Os órgãos doados são provenientes de dois tipos de dadores: cadáveres e vivos. O primeiro

caso, para além de não permitir suprir plenamente as necessidades em nenhum país, é

praticamente inexistente em alguns deles, fenómeno que leva ao aumento da dadores vivos

como uma fonte de recolha de rins e mais recentemente de fígado. Este aspeto é problemático

na medida em que muitas destas práticas em certas zonas assentam na exploração de

dadores vivos.[2]

Dentro dos dadores cadáveres existem 2 categorias: doação após morte cerebral – são usados

critérios neurológicos, há perda irreversível de todas as funções cerebrais incluindo o tronco

cerebral e doação após morte cardíaca – uma morte declarada com base em critérios

cardiopulmonares, são os “dadores de coração parado” (cessação irreversível das funções

circulatória e respiratória).[6] Esta última categoria surgiu com o intuito de expandir o número

de dadores mas é praticada apenas em apenas alguns países.

15

Em termos técnicos o envelhecimento da população e o aumento da incidência de diabetes

tipo 2 também poderão colocar alguma pressão na viabilidade dos órgãos.[7]

Vários estudos recentes estudaram fatores influentes na doação de órgãos, entre eles: o

altruísmo, vontade de salvar vidas, a integridade corporal e dignidade, medo de negligência

médica, atitudes da família e o seu envolvimento na decisão de recolher órgãos, religião do

dador, a definição da morte cerebral, tristeza e medo por parte da família do dador,

características demográficas, educação, informação, género e raça. [4,8,9]

Em termos organizacionais apresentam-se outros fatores tais como a riqueza do país e

investimento no sistema de cuidados de saúde, atitudes públicas, organização e infraestrutura

dos serviços de transplantação.

Embora a maioria das religiões em termos históricos se tenha oposto à doação de órgãos,

atualmente a doação de órgãos é aceite no geral como um ato de amor e generosidade desde

que o cadáver seja tratado com respeito. Contudo ainda há exceções e umas religiões são

mais positivas quanto a este aspeto do que outras.

Algumas das questões em estudo são: Quais as diferenças e semelhanças dos métodos de

colheita de órgãos para transplante humano em alguns dos vários países que fazem

transplante? Que fatores influenciam a doação de órgãos nos vários países e como isso se

traduz na quantidade de órgãos disponíveis?

16

2. Metodologia

Para a elaboração deste trabalho foram recolhidos dados de vários artigos pesquisados no

PubMed, Medline e no Google académico. As palavras-chave utilizadas nessa pesquisa foram

fundamentalmente “transplant”, “transplant societies”, “organ donation”, “transplantation

donation criteria”, “national transplantation organizations”, “family refusal organ donation”,

“countries organ donation”, “organ donation religion culture demographic”, “donation after

circulatory death”. Foram também consultados websites de Organizações Nacionais de

transplantação de vários países. Os dados para elaboração dos gráficos foram recolhidos do

IROdAT - International Registry of Organ Donation and Transplantation (www.irodat.org) e o

seu tratamento foi feito com recurso ao Microsoft Office Excel 2007.

A distribuição das religiões em cada país foi retirada do website da CIA (www.cia.gov) e os

dados relativos às despesas em saúde de cada país foram obtidos do website do World Bank

Group (http://www.worldbank.org).

Para criar uma distribuição lógica e comparável dos países, estes foram divididos em 9 regiões

baseadas nas 6 regiões mundiais definidas pela WHO, incluindo mais 3 para assim detetar

potenciais diferenças entre agregados culturais (Europa Leste, Europa Norte, Europa Sul,

América Norte, América Sul, Ásia Norte, Ásia Sul, África, Oceânia). Alguns países tais como

por exemplo México e Cuba foram incluídos na América do Sul devido às semelhanças em

termos de linguagem e cultura.

17

3. Resultados e Discussão

Nos Gráficos 1 e 2 estão representados dados de 73 países referentes aos dadores cadáveres

e dadores vivos, respetivamente, por milhão de população (pmp).

Analisando o Gráfico 1 verifica-se que em 2012 a Croácia com 36,5 dadores cadáveres pmp

ultrapassou a líder de anos anteriores Espanha (34,8 dadores cadáveres pmp). Observa-se

também a predominância de países onde se aplica o consentimento presumido nos lugares

cimeiros, o que parece indicar que este sistema é favorável a uma maior disponibilidade de

órgãos provenientes de cadáveres.

Apesar disso há que destacar entre os primeiros lugares Malta, Puerto Rico e EUA, países nos

quais se pratica o consentimento informado.

Em 1987 o Middle East Society for Organ Tranplantation (MESOT) foi criado com o objetivo de

promover a educação, investigação e cooperação entre vários países do Médio Oriente no

campo da transplantação. Alguns dos países constituintes e representados neste trabalho são:

Azerbeijão, Emiratos Árabes Unidos, Egipto, Síria, Líbia, Paquistão, Marrocos, Tunísia,

Ucrânia, Líbano, Irão, Arábia Saudita, Turquia e Chipre. Como se verifica no Gráfico 1, estes

possuem taxas de doação de cadáveres das mais baixas do mundo, sendo nulas nos 6

primeiros. Por sua vez no Gráfico 2 onde estão representadas as taxas de dadores vivos pmp

parece mesmo haver uma inversão, encontrando-se alguns deles nos lugares cimeiros com a

Turquia a liderar o ranking, acompanhada de perto pelo Chipre, Arábia Saudita, Líbano e Irão.

Aparentemente o sistema de consentimento informado parece favorecer maiores taxas de

dadores vivos.

No Médio Oriente o tipo de doação mais praticado é o de dadores vivos, o que inclui rim e parte

do fígado. A doação por cadáveres teria um grande potencial nesta zona em particular devido à

elevada taxa de acidentes. Embora a religião tenha a sua quota-parte de influência, as razões

da não utilização deste recurso vão muito para além desta. Prendem-se sobretudo com

debates acesos relativamente aos critérios de morte cerebral, com a pouca consciencialização

da população quanto à importância da doação de órgãos, transplantação e naturalmente o

empenho dos governos e entidades responsáveis. Campanhas públicas para educar e

sensibilizar para o problema coordenadas com líderes religiosos poderiam ser boas

abordagens nestes casos. [10]

Os países que apresentam valores nulos de doação por cadáveres, apenas permitem recolha

de órgãos de dadores vivos. É importante notar que muitos deles ou não possuem legislação

clara ou esta não está ainda implementada.

18

0 0 0 0 0 0 0 0 0,09 0,1 0,2 0,3 0,5 0,6 0,9

1,8 2

2,5 2,9 3,1 3,2 3,4 3,5 3,7

4,5 4,5 4,8

5,8 6,9 6,9 7 7,2 7,3

7,9 8,4 8,6

9 9,3

10,2 11,1

12 12,6 12,8 13,1 13,4 13,7

14,3 14,7 15 15,1

15,6 15,7

16,1 16,5

17 18,3

19 19,8 19,9

22,4 22,5

23 23,5

24 24,3

24,9 26 26,3

30 32,9

34,8 36,5

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Azerbeijão

Sudão

Arménia

Georgia

Líbia

Nicarágua

Moldávia

Singapura

Marrocos (2011)

Tunísia

Filipinas

Bulgária

Ucrânia (2011)

Malásia

Japão

República Dominicana

Trindade e Tobago

Líbano

Rússia

Arábia Saudita

Costa Rica

Roménia

México

Equador

Venezuela

Turquia

Chipre

Taiwan (2011)

Panamá

Irão

Grécia

Hong Kong (China)

Israel

Luxemburgo

Coreia do Sul

Nova Zelândia

Chile

Islândia

Colômbia

Bielorrússia

Suíça

Brasil

Alemanha

Eslováquia

Dinamarca

Lituânia

Hungria

Canadá

Suécia

Países Baixos

Austrália

Argentina

Polónia

Uruguai

Irlanda

Reino Unido

Letónia

República Checa

Finlândia

Itália

Áustria

Eslovénia

Noruega

Portugal

Estónia

França

EUA

Puerto Rico

Malta

Bélgica

Espanha

Croácia

Consentimento presumido

Consentimento informado

Presumido: Bulgária, Tunísia,

Singapura, Arménia,

Informado: Filipinas, Marrocos,

Macedónia, Geórgia

Lesgislação desconhecida

Gráfico 1 - Dadores cadáveres no Mundo 2012 (pmp)

19

0 0 0 0,4 0,6 0,6 0,8 0,9 1,2

1,7 1,7 1,7 1,7 1,7 1,8 1,8 1,9 2 2 2,1 2,5 2,7 2,76 3 3 3 3,3 3,3 3,7 3,8 4

4,5 4,6 4,9 5 5,3 5,3 5,4 5,7

6,8 6,8 7

7,7 7,7 8 8,2 8,4

9,2 10,4 10,8

11,3 12,6 12,9

13,5 14,1

14,6 14,6

15,4 16,3

16,8 16,9 17,2

18,6 19,8 20,1

22 22,1

25,8 28,57

29,3 39

43,3

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Eslovénia Chile

Luxemburgo

Marrocos Singapura

Eslováquia Puerto Rico

Uruguai

Moldávia Bulgária

Ucrânia (2011) Polónia Estónia

Equador Nicarágua

Malásia Filipinas

Finlândia

Colômbia Rússia

Letónia República Dominicana

Líbia Malta

Croácia Bielorrússia

Georgia Arménia

Grécia

Roménia Lituânia Portugal Panamá

Sudão

Azerbeijão Venezuela

Hungria Itália

França Hong Kong (China)

República Checa Irlanda Áustria

Argentina Bélgica

Espanha Brasil

Trindade e Tobago Alemanha

Austrália

Tunísia Suíça

Nova Zelândia Dinamarca

Japão Israel

Canadá EUA

Noruega México

Reino Unido

Suécia Islândia

Taiwan (2011) Irão

Líbano

Arábia Saudita Costa Rica

Chipre Países Baixos Coreia do Sul

Turquia

Consentimento presumido

Consentimento informado

Presumido: Luxemburgo,

Eslovénia

Informado: Chile, Marrocos

Legislação desconhecida

Gráfico 2 - Dadores vivos no Mundo 2012 (pmp)

20

7,9

9,3

12

12,8

13,4

15

15,1

17

18,3

19,9

22,5

23,5

32,9

22,4

24

24,9

30

34,8

0

0

0

0

0,3

0,5

2,9

3,4

4,5

4,8

7

11,1

13,1

13,7

14,3

16,1

19

19,8

23

24,3

36,5

0 10 20 30 40

Luxemburgo

Islândia

Suíça

Alemanha

Dinamarca

Suécia

Países Baixos

Irlanda

Reino Unido

Finlândia

Áustria

Noruega

Bélgica

Itália

Portugal

França

Malta

Espanha

Arménia

Azerbeijão

Geórgia

Moldávia

Bulgária

Ucrânia (2011)

Rússia

Roménia

Turquia

Chipre

Grécia

Bielorrússia

Eslováquia

Lituânia

Hungria

Polónia

Letónia

República Checa

Eslovénia

Estónia

Croácia

Dadores da Europa 2012 (pmp)

Europa

Leste

Europa

Sul

Europa

Norte

0

2

7

7,7

8

10,4

12,6

13,5

16,3

16,9

17,2

18,6

29,3

3

4,5

5,4

5,7

8,2

0

0,6

1,2

1,6

1,7

1,7

1,7

2,1

2,5

3

3

3,3

3,3

3,7

3,8

4

5

5,3

6,8

28,57

43,3

0 20 40 60

Luxemburgo

Finlândia

Irlanda

Austria

Bélgica

Alemanha

Suíça

Dinamarca

Noruega

Reino Unido

Suécia

Islândia

Países Baixos

Malta

Portugal

Itália

França

Espanha

Eslovénia

Eslováquia

Moldávia

Bulgária

Polónia

Estónia

Ucrânia (2011)

Rússia

Letónia

Croácia

Bielorrússia

Arménia

Georgia

Grécia

Roménia

Lituânia

Azerbeijão

Hungria

República Checa

Chipre

Turquia

Gráfico 3 – Dadores cadáveres

Gráfico 4 – Dadores vivos

21

Dadores da Ásia 2012 (pmp)

*Singapura: Consentimento presumido

Relativamente à Europa, a Turquia destaca-se por apresentar uma taxa de doação por

cadáveres bastante baixa e alcançar o 1º lugar do seu grupo na doação por vivos. Há que notar

que 99% da população segue o Islamismo, uma presença muito forte eventualmente capaz de

influenciar estes resultados.

Há ainda países com ausência de legislação ou esta não é clara, a destacar a Moldávia e

Ucrânia.

Analisando o grupo de países com 0 doações por cadáver, destaca-se o Azerbaijão cujos

93,4% da população seguem o Islamismo, um fator claramente influente embora não único. Por

outro lado a Moldávia, Geórgia e Arménia, também pertencentes a esse grupo, apresentam

uma forte prevalência de Cristianismo Ortodoxo assim como a maioria dos países no fundo do

ranking da Europa do Sul. Portanto, apesar dos mesmos resultados, nestes últimos a religião

Ásia

Norte

(Leste +

Central)

Ásia Sul

0

0

0

0

0,2

0,6

2,1

2,5

3,1

6,9

7,3

0,9

5,8

7,2

8,4

0 5 10

Paquistão (2006)

Singapura

Emiratos Árabes …

Síria

Filipinas

Malásia

Tailândia (2011)

Líbano

Arábia Saudita

Irão

Israel

Japão

Taiwan (2011)

Hong Kong

Coreia do Sul

0

0,6

1,8

1,9

3,26

11,7

14,6

15,1

20,1

22

22,1

6,8

14,1

19,8

39

0 20 40 60

Tailândia

Singapura

Malásia

Filipinas

Emiratos Árabes …

Síria

Israel

Paquistão (2006)

Irão

Líbano

Arábia Saudita

Hong Kong

Japão

Taiwan (2011)

Coreia do Sul

Gráfico 5 – Dadores cadáveres

Gráfico 6 – Dadores vivos

22

não pode ser apontada como barreira, uma vez que o Cristianismo não se opõe à doação. Mais

uma evidência que para além da religião há outros fatores tão ou mais poderosos em campo.

Na Ásia predomina o sistema de consentimento informado e aqui estão as mais baixas taxas

de doação por cadáveres do mundo. Por outro lado, de todas as regiões investigadas, é a

única que para além de concentrar das maiores taxas de doação por vivos, estas são múltiplas

vezes superiores às doações por cadáveres.

Sabe-se que poucos países nesta área têm legislações em efeito, para além disso um estudo

feito no Taiwan e China identificou mais fatores controversos: a dificuldade em apelar aos

sentimentos do público, o grau de competência e disponibilidade de profissionais de saúde,

questões acerca das motivações e da legitimidade da pena de morte de prisioneiros, medo da

discriminação pública e os desafios/receios para a família cuidar dos transplantados.

Na Coreia foram identificadas barreiras socioculturais atribuídas ao Confucionismo, critérios de

definição de morte cerebral e mitos sobre venda de órgãos que possivelmente contribuem para

a baixa taxa de doação por cadáveres que se verifica.

Já o Taiwan considera-se o exemplo de um país onde a legislação desempenhou um papel

importante na maturação da transplantação.[11]

Na Síria, Emiratos Árabes Unidos, Singapura e Paquistão apenas são recolhidos órgãos de

dadores vivos. No caso da primeira, os obstáculos à doação por cadáveres prendem-se com a

falta de consciência da sua importância por parte da população e dos profissionais de saúde,

falta de recursos financeiros, pessoais e de serviços. Não existe um organismo nacional de

transplantação que influencie a atitude pública, defina guidelines e supervisione as

atividades.[12]

O Paquistão é um país onde o comércio de órgãos é uma realidade, a taxa de literacia é

bastante baixa, portanto era importante despertar a consciência da população formulando

opiniões e reforçando leis relacionadas com a transplantação. Os líderes religiosos e médicos

deviam envolver-se nesse processo, os debates deviam ser difundidos através da imprensa e

há que investir na abordagem da bioética no ensino.[13]

Na Tailândia os dadores vivos devem ser familiares ou legalmente casados com o recetor por

pelo menos 2 anos. O primeiro transplante do género a ser feito no país foi em 2009, uma

doação de parte de fígado de filho para pai.

A Malásia frena o desenvolvimento da transplantação através das suas perspetivas

conservadoras predominantes, sistema de valores e cultura, passado histórico, convicções

religiosas e falta de legislação.

Na maioria dos países a doação por vivos inclui apenas familiares, conjugues ou familiares por

casamento e nos países mais a Oeste os amigos próximos já podem ser solicitados. Nas

Filipinas, Paquistão e Irão estas restrições não se colocam e a pobreza é a razão número 1 da

23

venda de órgãos com cerca de 25% da população do primeiro país a defender a doação

recompensada. O Irão era o único país onde, pelo menos em 2009, não existia lista de espera

para transplante de rins.

Apesar de tudo, mesmo os países mais desenvolvidos também têm os seus problemas. A

destacar aqui o Japão onde o conflito cultural está presente devido à falta de compreensão e

aceitação da doação, falha da formação específica dos profissionais de saúde, falta de

confiança no processo e não-aceitação dos critérios de morte cerebral. Também há que notar

que cerca de 71,4% da população crê no Budismo e 83,9% no Xintoísmo, duas religiões pouco

recetivas à transplantação.[11]

Na Ásia a religião influencia bastante os vários aspetos da vida, desde saúde à segurança e

moralidade, em oposição aos países do Oeste onde esta por norma desempenha um papel

mais secundário. Enquanto na Coreia do Sul há uma maior variedade de religiões, países

como o Irão, Arábia Saudita, Síria, Emiratos Árabes Unidos e Paquistão apresentam

prevalências de crença no Islamismo entre 87% a praticamente 100%. Taiwan e Tailândia

apresentam prevalência do Budismo superiores a 93% e Israel 75,1% de Judaísmo. De notar

que estas religiões não são das mais favoráveis à transplantação. Já nas Filipinas 83% da

população segue o Cristianismo, logo está fora de questão justificar seja em que grau for a sua

baixa taxa com a religião.

Singapura tem um sistema de consentimento presumido há mais de 20 anos, contudo mantém

taxas de doação muito baixas. Apesar das melhorias a nível da educação no país, ainda se

mantém uma antipatia geral no que toda à doação por cadáver. Isto prende-se com crenças

tradicionais dos diferentes grupos étnicos e a necessidade de preservar o corpo após a morte.

Há mesmo médicos que se negam a identificar potenciais dadores.

24

Dadores da Oceânia 2012 (pmp)

Estes dois grandes países da Oceânia estudados seguem o consentimento informado e

revelam taxas de doação por cadáver relativamente baixas. Há a destacar as altas taxas de

recusa de doação pelos familiares: 41,8% para a Austrália e mais de 50% na Nova Zelândia,

estes são sem dúvida fatores com impacto.[14]

Dadores de África 2012 (pmp)

12,9

10,8

9 10 11 12 13 14

Nova Zelândia

Austrália

15,6

8,6

0 5 10 15 20

Austrália

Nova Zelândia

0

0

0

0

0,09

0,1

0 0,05 0,1 0,15

Sudão

África do Sul

Líbia

Egípto (2003)

Marrocos (2011)

Tunísia

0

0,4

2,76

4,9

6,9

11,3

0 5 10 15

África do Sul

Marrocos (2011)

Líbia

Sudão

Egipto (2003)

Tunísia

Gráfico 7 – Dadores cadáveres

Gráfico 8 – Dadores vivos

Gráfico 9 – Dadores cadáveres

Gráfico 10 – Dadores vivos

25

Em África os gastos em saúde per capita são dos mais baixos do mundo e predomina o

consentimento informado.

A África do Sul é um país com legislações inexistentes ou pouco claras e embora não se colha

órgãos há registos de transplantes.

No Egipto, Líbia e Sudão apenas são recolhidos órgãos de dadores vivos e estes têm que ser

familiares. Nestes sente-se a forte influência da religião pois entre 90% a 100% da população

segue o Islamismo. O Sudão é o único país do mundo onde a comercialização de órgãos é

legal.

O tráfico de órgãos é uma realidade comum em muitos destes países, a referir também a

China, Colômbia e algumas partes da restante América Latina, Paquistão, Filipinas, Índia,

Rússia e Europa do Leste. Indivíduos de regiões pobres vendem rim em troca de recompensa

monetária e na China o corpo de um prisioneiro executado pode converter-se em dinheiro

através da venda dos seus órgãos.[15]

Imagens de vendedores de rins. [17] [18]

26

Dadores América 2012 (pmp)

O Perú não autoriza dadores vivos não familiares, já a Costa Rica e Paraguai permitem mas

com pré-requisitos.

Os Estados Unidos da América e Canadá, embora sejam potências que exibem gastos em

saúde per capita dos mais altos do mundo e maiores parcelas do PIB de investimento em

saúde não são os que apresentam as taxas de doação mais altas. É muito provável que o seu

sistema de doação tenha uma forte influência nisto.

América

Norte

América

Sul

0

0,2

1,8

2

2,9

3,2

3,2

3,5

3,7

4,5

6,9

9

9,9

10,2

12,6

15,7

16,5

26,3

14,7

26

0 10 20 30

Nicarágua

Guatemala (2006)

República Dominicana

Trindade e Tobago

Paraguai

Costa Rica

Perú (2010)

México

Equador

Venezuela

Panamá

Chile

Cuba (2010)

Colômbia

Brasil

Argentina

Uruguai

Puerto Rico

Canadá

EUA

0

0

0,5

0,8

0,9

1,7

1,8

2

2,7

2,83

4,6

5,3

6

7,7

8,4

9,2

16,8

25,8

14,6

15,4

0 10 20 30

Paraguai

Chile

Cuba (2010)

Puerto Rico

Uruguai

Equador

Nicarágua

Colômbia

República …

Perú (2010)

Panamá

Venezuela

Guatemala …

Argentina

Brasil

Trindade e …

México

Costa Rica

Canadá

EUA

Gráfico 11 – Dadores cadáveres

Gráfico 12 – Dadores vivos

27

3.1. Dadores de coração parado

De acordo com informações do Registry in Organ Donation and Transplantation (IRODAT),

para além dos países listados no Gráfico 13, também os seguintes reportaram atividade

ocasional de dadores de coração parado desde 2000, contudo sem atividade em 2012: Algéria,

Bolívia, Brasil, Croácia, Hong Kong, Associação Sul-Asiática para a Cooperação Regional

(constituída por Índia, Paquistão, Bangladesh, Sri Lanka , Nepal, Butão, Maldivas e

Afeganistão), Arábia Saudita, Singapura, Coreia do Sul, Turquia, Ucrânia, Israel, Nova Zelândia

e Colômbia.

Gráfico 13 - Dadores de coração parado no mundo (pmp)

3.1.1. Protocolos de doação após paragem cardiocirculatória.

A doação de órgãos após paragem circulatória é uma estratégia que pretende atenuar a

problemática da falta de órgãos e o seu uso e número de dadores varia entre os vários países.

Analisando os critérios de inclusão e de exclusão para doação, legislação, forma de

determinação da morte e métodos de preservação foi possível comparar protocolos praticados

em países europeus.

0,02

0,02

0,1

0,16

0,2

0,5

0,51

0,7

0,88

0,9

1,9

2,08

3,4

3,4

3,4

3,75

6,3

7,42

7,94

11,5

0 2 4 6 8 10 12 14

México

Coreia do Sul

Itália

Roménia

República Checa

Áustria

Japão

Irlanda

Suíça

Rússia

França

Canadá

EUA

Espanha

Austrália

Líbano

Bélgica

Países Baixos

Reino Unido

Letónia

28

Há 12 países europeus que trabalham com este tipo de doação: Áustria, Bélgica, Espanha,

França, Irlanda, Itália, Letónia, Países Baixos, Reino Unido, República Checa, Roménia e

Suíça. A Roménia e a Irlanda têm uma atividade bastante residual de apenas 3 intervenções

cada um daí a que será mais focada a atividade dos restantes 10. Desses 10, 8 têm protocolos

específicos excetuando a Letónia e a República Checa.

Outros países que estão a planear iniciar este programa são: Chipre, Estónia, Luxemburgo,

Noruega, Polónia, Portugal, Roménia, Eslováquia, Eslovénia e Suécia. A principal razão da não

adesão a este plano é a dificuldade organizacional que envolve.[16]

A recolha de órgãos em dadores com paragem cardiocirculatória (DPC) implica uma

coordenação cuidada entre o tempo de assistolia e o início da recolha de órgãos. Os resultados

de transplantes de órgãos de DCP por norma são piores do que os de dadores em morte

cerebral (DMC), excetuando os rins DPC que mostram uma sobrevida similar aos de DMC e os

pulmões chegam até a ter uma sobrevida maior nos DPC.

Em 1995 foi criada a Classificação de Maastricht definida por 4 categorias de DPC, em 2000

foi acrescentada uma 5ª pelo grupo de Madrid (Anexo 1).

Os tipos I, II e V são considerados “não controlados” porque o tempo de morte do potencial

dador não é conhecido. Os tipos III e IV são “controlados” porque há possibilidade de prever e

planear uma morte cardiorrespiratória iminente, normalmente sendo seguido de cuidados a

nível de cuidados intensivos. [19]

O Anexo 2 resume o sistema de registo de doação (consentimento), as categorias de

Maastricht praticadas e os órgãos colhidos de alguns países. Ter em atenção que esta fonte

não assume a categoria V.

A categoria III é de longe a mais praticada mas em Portugal optar-se-á por colher órgãos de

DPC na categoria II. [20, 21]

Alguns países focam-se na doação de coração parado não controlada (Espanha e França) e

outros na controlada (Países Baixos e Reino Unido) ou executam ambos. Esta diferença pode

ser explicada pela experiência das Unidades de Cuidados Intensivos e pela decisão de quando

suspender o tratamento de suporte de vida ou não. Nos países da Europa do Norte, suspender

um tratamento, se este for considerado fútil, é uma prática mais facilmente aceite do que na

Europa do Sul. Isto pode dever-se à disponibilidade e à experiência por parte dos cuidados

intensivos, médicos com menos expectativas face à situação tendem a suspender mais

facilmente tratamento médico inútil.

As razões para a ausência da prática dos tipos “não controlados” foram de natureza ética e

jurídica (França, Espanha, Letónia) e as dos tipos “controlados” foi por dificuldades em termos

de organização. Dos 10 países, 7 praticam ambos os tipos de controlo e 3 têm consentimento

informado.

29

A definição de quando a morte acontece varia bastante entre os protocolos e quando um

doente é elegível para ser dador de órgãos é importante que haja uma boa coordenação entre

a determinação de morte e os procedimentos imediatos para preservação e minimização de

danos nos órgãos. Na Tabela 3 de Anexos estão representados protocolos de doação de

alguns países.

Em termos de resultados verifica-se que há diferenças consideráveis no desempenho

consoante as categorias de DCD utilizadas, legislações e critérios de definição da morte. [22]

3.2. Croácia

A Croácia apresentou-se como o país com maior número de dadores cadáveres por milhão de

população com 36,5 dadores pmp em 2012 quando há uma década atrás tinha dos números

mais baixos da Europa (2,7 dadores pmp). Entre 2008 e 2011 a lista de espera para

transplante renal desceu 37,2% e o tempo de espera médio passou de 46 para 24 meses. O

modelo Croata é já internacionalmente reconhecido e há planos para a sua implementação

noutros países.

Ilustração 1 - Fatores chave para o aumento da doação e transplantação de órgãos na Croácia [23]

A equipa de secretariado funciona 24 sobre 24 horas apoiando as coordenações hospitalares e

equipas de recolha, a rede de coordenadores hospitalares é constituída por 30 coordenadores

Nomeação de coordenadores

hospitalares (1999)

Nomeação de coordenador nacional de transplantes com

equipa de secretariado ativa

24/24 horas (2000)

Adoção de nova legislação

Implementação de novo modelo

financeiro - Reembolso de hospitais dadores

Campanhas de consciencialização do público - Dia nacional

do dador, Dia do dador Europeu.

Cooperação internacional - Eurotransplant

Programa assegurador da qualidade dos

dadores

30

internos, especialistas em cuidados intensivos que trabalham em universidades e hospitais

gerais de todo o país. Estes reportam potenciais dadores ao serviço coordenador nacional, o

que facilita e controla o processo e cooperação interna, elimina muitos obstáculos e torna o

processo mais eficiente comparado com o sistema antigo e outros em que a equipa local de

transplante é responsável gerir toda a manutenção e alocação de órgãos.

O sistema vigente é o consentimento presumido e desde 1982 que a doação por cadáveres é

feita após determinação de morte cerebral. [23]

3.3. Fatores que influenciam a decisão de ser dador

de órgãos.

Vários estudos procuram explorar as atitudes das comunidades relativamente à doação de

órgãos por dador vivo ou cadáver cujo objetivo é obter informação e procurar estratégias para

melhorar essas taxas.

Ao longo do tempo foram sendo identificados vários fatores que influenciam a decisão de ser

dador de órgão tais como: proximidade com o recetor do órgão, crenças religiosas, influências

culturais, influências familiares, integridade do corpo, perspetiva relativamente ao sistema de

saúde, falta de confiança neste, mal- entendidos, validação de morte cerebral e medo da

recolha de órgãos precoce, o conhecimento individual acerca do processo de doação de

órgãos.

3.3.1. Religião

Na esfera religiosa, há os opostos: para uns a fé religiosa encoraja a doação de órgãos, o

órgão pode ser aproveitado para salvar outra pessoa não devendo ser desperdiçado revelando

assim uma atitude altruísta. Por outro lado há os que acreditam que a sua religião não o aceita.

Certo é que a doação de órgãos é uma temática a debater e os líderes religiosos deviam tomar

uma posição definitiva a seu respeito.

A ideia do “fazer de Deus” é frequentemente citada por alguns participantes dos estudos que

completam que ninguém deve intervir se alguém está destinado a morrer.

Curiosamente uma objeção frequente à doação de órgãos é a necessidade de manter a

integridade do corpo após a morte. Muitos creem que é necessário o corpo inteiro para poder

31

entrar na próxima vida, para outros este pertence ao seu Deus e como tal ninguém tem

soberania para doar órgãos (“Não quero metade do meu corpo enterrado e que a outra metade

vá para o céu”; “Depois de morrer, pode-se ir para o outro mundo. Se me faltar um olho não

posso ver”).

É importante criar estratégias que abranjam grupos minoritários reforçadas por líderes culturais

e religiosos e informar acerca do processo de doação e os seus resultados positivos. [8]

A tabela do Anexo 4 indica as percentagens de prevalência das religiões em cada país e o

mapa do Anexo 5 permite ter uma ideia da sua distribuição das várias religiões.

Nenhuma religião:

Proíbe ou obriga formalmente a doação ou receção de órgãos ou a transplantação. Há

ainda bastante ceticismo em algumas delas, prendendo-se com questões como critérios de

morte cerebral e todo o processo que se desenvolve em volta da morte. [9]

Considera a doação de órgãos como aproveitamento de “recursos da sociedade” ou

considera “um dever religioso” (excetuando alguns rabinos e alguns estudiosos muçulmanos e

cristãos).

Proíbe a recolha de órgãos de dador de coração parado ou a xenotransplantação.

Alguns ulemás/muftis muçulmanos e algumas religiões asiáticas preferem a doação de órgãos

em vida em vez da sua proveniência de cadáveres mas nenhuma religião prefere dadores

cadáveres em vez de vivos.

A igreja católica é contra a recolha de órgãos em indivíduos anencéfalos ou após eutanásia.

A doação de órgãos direcionada apenas para indivíduos da mesma religião foi proposta

somente por alguns judeus ortodoxos e alguns ulemás/muftis islâmicos. [24]

Alguns dos povos que desencorajam a doação de órgãos são os nativos dos EUA e ciganos,

em termos de religiões destacam-se o Xintoísmo e o Judaísmo Ortodoxo, determinados nichos

do Budismo e o Confucionismo bastante prevalente na China, que é mais uma filosofia do que

religião. Assim as perspetivas variam da quase completa oposição (Judaísmo ultra- ortodoxo)

ao ceticismo profundo de certas partes da comunidade Indo-Asiática Islâmica.

É importante notar que as escrituras nas quais cada religião se fundamenta não contêm

referências específicas relativamente à transplantação de órgãos: isto cria um terreno fértil à

subjetividade da sua interpretação. É, portanto, natural que se verifique variedade de

perspetivas dentro da mesma fé ou religião, entre estudiosos, comunidades e escolas do

pensamento religioso.[9]

32

Tabela 1 - Ideias-chave de várias perspetivas religiosas face à doação de órgãos

[9]:

Religiões mais favoráveis à doação de órgãos

Cristianismo

É um ato altruísta, a maioria das fés Cristãs apoiam ativamente e aprovam.

A decisão de o fazer deve ser deixada à consideração de cada indivíduo.

A Igreja da Inglaterra chegou mesmo a declarar a doação de órgãos um dever

Cristão.

Hinduísmo

Religião predominante no Sul da Ásia com cerca de 1 bilião de seguidores.

Crê na reincarnação e em meios através dos quais a vida possa ser prolongada

ou sustentada, logo a integridade física após a morte não é essencial. Isto

suporta facilmente a ideia da doação de órgãos.

Sikhismo

A religião deve ser praticada nas vivências do mundo através da forma como se

lida com problemas do dia-a-dia.

Crê na vida após a morte e no círculo contínuo do renascimento, logo a

integridade física não é essencial neste processo mas sim a prática de boas

ações.

Taoísmo

Tradição filosófica do Leste Asiático que acredita que as alterações feitas na

forma Humana não afetam a essência da vida, assim a doação de órgãos é uma

prática geralmente aprovada.

Religiões menos favoráveis à doação de órgãos

Judaísmo

O funeral deve ser realizado 24 horas após a morte e a profanação de um

cadáver mesmo que para obtenção de benefício a partir dele é reprovável.

A definição de morte cerebral é problemática pois a definição de morte pelo

Judaísmo requer a cessação das funções cerebrais, respiratórias e cardíacas.

Em Israel, 75% da população é Judaica mas apenas 10% possui o cartão de

dador de órgãos e a taxa de doação é extremamente baixa (7,3 pmp). Em 2008 o

governo tentou amenizar esta questão através da definição do tempo de morte e

disponibilizando benefícios a quem se registassem como dadore. Parte da

comunidade Ultra-Ortodoxa retaliou com cartões anti-doação.

A Halachic Organ Donor Society favorece a doação e permite que os indivíduos

optem entre doar após morte cerebral ou paragem cardíaca.

Islamismo

Segundo o Alcorão aquele que salva a vida de uma pessoa é como se salvasse

toda a humanidade, por outro lado, a violação do corpo humano é um ato

estritamente proibido. Estas duas ideias contraditórias têm sido o centro de

diversos debates.

Apesar de estudiosos do Islamismo tentarem promover a doação de órgãos,

muitos Muçulmanos não a aceitam, particularmente a doação por cadáveres.

A maioria dos órgãos colhidos em países predominantemente Muçulmanos é

proveniente de dadores vivos, contudo mantêm-se reservas se isto se deve

apenas a questões religiosas. Nestes países os problemas logísticos também são

entraves bastante comuns à instituição de sistemas nacionais de doação.

Muçulmanos Indo-Asiáticos manifestam uma maior oposição à doação por

cadáveres do que os de países Árabes. Também os Muçulmanos dos países do

Oeste reportam preocupações religiosas e apenas 39% destes acha que a

doação de órgãos está de acordo com o Islamismo.

33

Budismo

A morte é um processo e o tempo é importante de tal forma que alguma

consciência espiritual permanece no cadáver alguns dias após a morte. Por outro

lado destacam-se as ideologias fundamentais Budistas do altruísmo e dedicação

ao outro. Isto acarreta contradições entre a comunidade Budista juntando-se

ainda a problemática da aceitação de critérios de morte cerebral.

Testemunhas

de Jeová

A não-aceitação da transfusão de produtos derivados do sangue dificulta a

transplantação.

A decisão cabe a cada indivíduo desde que não haja transfusão de sangue.

Xintoísmo

Espiritualidade indígena do Japão. Crê que o corpo é puro e vai acumulando

impurezas ao longo da vida, o cadáver é, portanto, considerado algo muito

poderoso e que pode dar má sorte se profanado.

A colheita de órgãos após morte cerebral foi legalizada em 1997 e apesar de a

doação por cadáveres ser legal no Japão, a sua taxa continua a ser muito baixa.

Para ultrapassar este problema o país desenvolveu um dos primeiros sistemas de

transplantação ABO incompatível.

3.1.1. Crenças culturais e outros fatores demográficos

Algumas das crenças culturais encontram-se inerentes às religiosas mas em alguns casos

podem não ter qualquer ligação. Por norma giram em torno dos cuidados de saúde, da morte e

do morrer. Muitas vezes baseiam-se em superstições e crenças de que falar sobre a morte ou

registar-se como dador de órgãos pode levar a que isso ocorra mais rapidamente.

Os indivíduos de raça negra tendem a não gostar de falar acerca da morte e são muito

reservados acerca disso. Algumas das suas culturas acreditam que o espírito do dador

transfere-se para o recetor, outras defendem a necessidade da aprovação dos ancestrais antes

da doação de modo a que a família não perca a proteção espiritual do seu antepassado. Há

também as que alertam para a importância de rituais particulares relativamente ao processo de

luto eventualmente perturbados pela doação de órgãos.[8]

Um estudo envolvendo 452 participantes de Denver e San Francisco, cuidadores de candidatos

a transplante (CCT) e frequentadores de feiras de saúde (FFS), procurou ,através de um

questionário de 42 perguntas, avaliar e comparar os obstáculos à disponibilidade de se registar

como dador de órgãos. Em Denver 83% dos CCT e 68% dos FFS manifestaram vontade de se

registar, já em San Francisco as percentagens foram 58% dos CCT e 70% dos FFS. Em ambas

as cidades se verificou que os fatores preditores dessa vontade eram: ser de raça caucasiana,

com curso superior, casados e detentores de uma maior perceção positiva acerca da doação

de órgãos, acrescentando ainda em Denver o género feminino e em San Francisco indivíduos

mais informados acerca da doação de órgãos.[25]

34

Num outro estudo em 1652 indivíduos, conduzido em 2009 no Azerbaijão, verificou-se que

29,7% eram a favor da doação dos seus órgãos após a morte, 60,1% recusava e 10,2%

estavam indecisos. A vontade de doar estava associada de forma significativa ao género

masculino, jovens, com ensino superior e solteiros. As razões da recusa eram: falta de

informação sobre a importância da doação de órgãos (43,8%), incerteza quanto a implicações

religiosas (39,5%), preocupações éticas (37,9%), preferência por ser enterrado intacto (28%) e

inquietação relativamente à manipulação de cadáveres (33%).[26]

3.1.1. Influência da família

A família pode ter uma influência negativa ou positiva nas decisões individuais dos sujeitos.

Alguns participantes questionados revelaram necessidade de perguntar permissão aos

membros da família para ser dadores de órgãos, outros achavam que uma decisão definitiva

por parte dos entes queridos asseguraria que não seriam mais tarde sobrecarregados com

uma decisão difícil. Outros acharam que a doação de órgãos interfere com o processo do luto

para as famílias.

Muitos revelaram que aceitariam doar um rim em vida a um familiar ou amigo mas não em vida

ou após a morte a alguém que não conhecessem.

3.1.2. Integridade corporal

Há quem tenha crenças fortes relativamente ao corpo como um todo não relacionadas com

questões religiosas mas com o processo de remoção de órgãos e a preocupação do trauma

que a família possa sofrer perante o pensamento de que o seu corpo é “cortado”. Outro temor é

que isso impeça que o caixão permaneça aberto durante o funeral, principalmente se as

córneas forem doadas (medo de não ter olhos).

3.1.3. Interação com o sistema de saúde

A falta de confiança no sistema de doação de órgãos baseia-se muitas vezes em experiências

negativas anteriores com o sistema de saúde. A validade da morte cerebral é questionada e

caem suspeitas sobre os fornecedores dos cuidados de saúde. Alguns dos receios citados em

35

vários estudos foram que o interesse em colher órgãos leve à falta de prestação dos cuidados

de saúde necessários aos potenciais dadores. Há também receio que os cadáveres dadores

não sejam tratados com respeito e dignidade e que os órgãos vão para recetores que não o

merecem ou que sejam usados para investigação em vez de salvar vidas. É interessante notar

que este género de opiniões é maioritariamente recolhido em populações minoritárias

suscetíveis a uma maior marginalização por parte dos serviços de saúde.

3.1.4. Nível de conhecimento e informação

A falta de conhecimento sobre doação de órgãos é sem dúvida uma barreira ao sucesso da

doação de órgãos. Há indivíduos que acreditam que doação e transplantação não passam de

“mitos urbanos” ou associados a ficção em programas de televisão. Ao longo do tempo alguns

“mitos” foram tomados como corretos e traduziram-se em receios e falta de confiança no

sistema de doação e transplantação. Um número significativo de pessoas manifesta

preocupação pela falta de informação sobre a doação de órgãos. Por outro lado também há

quem defenda que não seria dador de órgãos mesmo estando melhor informado

fundamentando-se no seu sistema de crenças. [8]

3.1.5. O papel dos media

A 1 de Maio de 2012 a rede social Facebook™ permitiu que os membros se registassem

oficialmente no seu perfil como sendo dadores de órgãos. No primeiro dia dessa iniciativa

ocorreram 13054 novos registos versus o número médio de registos diários de 616. Os meios

de comunicação e redes sociais revelam-se, portanto, poderosas ferramentas com impacto no

aumento da doação de órgãos, podendo aplicar-se a outros problemas de saúde pública nos

quais a comunicação e educação é essencial.[27]

3.1.6. Despesas em saúde

Integrando os dados do Anexo 6 com os gráficos de dadores, verifica-se que não são os países

com maiores gastos em saúde per capita que lideram o ranking de doações, ou seja, no geral

ter maiores despesas não significa necessariamente maiores taxas de doação de órgãos ou

maior eficácia desse sistema. De qualquer forma há que notar que a generalidade dos países

36

com menores gastos per capita e normalmente associados a uma economia mais débil

apresentam taxas de doação mais baixas.

3.1.7. Recusa da doação

O grau de envolvimento dos familiares próximos na recolha de órgãos de cadáver a nível

mundial ainda é pouco claro.

Em todos os países em que o consentimento é presumido, o familiar mais próximo é informado

e em todos os países em que o consentimento é informado, é requerida a autorização do

familiar se a posição do dador é desconhecida. Isto irá refletir claramente padrões culturais, o

grau de consciência e informação de determinada população relativamente à doação e

transplantação.

Ao verificar o Anexo 7 percebe-se que independentemente do tipo de consentimento vigente na

maioria dos países, o familiar mais próximo é envolvido na decisão de recolher órgãos do

falecido e a sua decisão é respeitada.

A taxa de recusa dos familiares é considerada um fator major para a grande discrepância entre

a disponibilidade e a necessidade de órgãos. Esta ronda os 43% nas famílias abordadas no

Reino Unido e perto dos 50% nos Estados Unidos da América. Infelizmente há que notar que

estes dados são muito limitados e os valores devem ser interpretados com cuidado uma vez

que nem todos os países os disponibilizam. Há estudos que sugerem que uma abordagem

cuidada ao familiar próximo pode ter um efeito imediato e maior nas taxas de doação do que

alterar legislações. [28, 29, 30]

A seguir estão representados 2 estudos que investigaram causas para a recusa da família:

Ghorbani F et al (2011) [31]

Le Nobin J et al (2014) [32]

1º Negação e rejeição de critérios de morte cerebral – 44,4%

Desejo de manter o corpo intacto (46,3%)

2º Crença num milagre – 13,6% Crenças Religiosas (16,4%)

3º Receio da troca de órgãos e o seu destino desconhecido – 9,9%

Falta de confiança na comunidade médica (13,4%)

4º Crenças religiosas – 8,6% Revolta contra a sociedade (6%)

5º Insegurança em relação ao diagnóstico de morte cerebral – 6,2%

Ocorreu recusa da doação em 44,8% dos casos de mortes violentas e inesperadas, 23,9% de mortes em jovens, 17,9% em casos em que a família negava a morte e 11.9% em que a família se sentia culpada.

6ª Instabilidade emocional da família – 6,2%

7ª Vontade desconhecida do dador – 4,9%

8ª Crença na integridade corporal – 3,7%

9ª Medo que outros familiares objetem a doação – 2,5%

37

Os resultados fornecem uma base para os profissionais de saúde e responsáveis pelo

regulamento da doação de órgãos compreenderem o contexto no qual as famílias se

encontram e o que dá sentido à doação de órgãos e tecidos [33]:

Perspetivas da família do dador cadáver

Compreesão da morte súbita

(aceitar o fim da vida, ambiguidade da morte cerebral)

Encontrar um significado na

doação (altruísmo, deixar o dador "viver" noutro

corpo, obrigação moral, alívio do

sofrimento)

Medo e suspeita (motivações financeiras,

responsabilidade indesejada pela morte, falta de confiança nos

médicos)

Conflito nas decisões (pressão

da decisão, consenso familiar,

dissonância interna, crenças religiosas)

Vulnerabilidade (valor da

sensibilidade e respeito, oprimido

e sem poder)

Respeito para com o dador (honrar a

sua vontade, preservar a integridade

corporal)

Introspeção (reconhecimento,

arrependimento da recusa, incerteza

não resolvida)

38

4. Conclusões

Aparentemente o consentimento presumido é favorável a maiores taxas de doação por

cadáveres e o informado a maiores taxas de doação por vivos. Contudo há autores que ainda

duvidam se esta variação é justificada apenas com a legislação

Na Europa predomina o sistema de consentimento presumido principalmente nos países do sul

e leste, concentrando-se o consentimento informado nos do norte.

Na Ásia predomina o sistema de consentimento informado, concentra países com as maiores

taxas de doação por vivos e o padrão único de estas serem várias vezes superiores à taxa de

doação por cadáveres.

Os países da Oceânia seguem predominantemente o consentimento informado e apesar dos

altos gastos em saúde per capita revelam taxas de doação por cadáver aquém das

expectativas. Neste caso a legislação e a recusa dos familiares (em volta dos 50%) podem ser

alguns dos fatores limitantes.

Em África os gastos em saúde per capita são dos mais baixos do mundo, predomina o

consentimento informado e abunda a falta de legislação

O tráfico de órgãos é uma realidade comum em alguns países, sendo a pobreza a sua principal

percursora.

Sem dúvida que para além do sistema de doação outros fatores entram em jogo: legislação,

disponibilidade dos dadores, infraestruturas, riqueza e investimento nos cuidados de saúde,

atitudes das comunidades, sensibilização para a doação e transplantação, educação, empenho

dos governos, etc. A importância relativa de cada um ainda permanece pouco clara.

Apesar da doação por DPC ser uma estratégia bem estabelecida e aparentemente benéfica

para aumentar a quantidade de dadores e reduzir as listas de espera de transplantação, o seu

potencial não está ainda completamente explorado. A maioria dos países que trabalham com

DPC tem sistema de consentimento informado, a categoria III de Maastricht é a mais praticada

mas em Portugal optar-se-á por colher órgãos na categoria II.

A vontade de se registar como dador de órgãos parece ser melhor explicada por fatores

demográficos do que pelo facto de ter uma maior proximidade com candidatos a transplante.

A religião, sem dúvida, exerce uma forte influência na doação de órgãos em vários pontos do

mundo, contudo nem sempre é a explicação dessa variabilidade, colocando-se assim a

possibilidade que este fator não atue isolado. A influência da família e do parente mais próximo

é um aspeto que influencia fortemente a variação da doação de órgãos, uma vez que na

maioria dos países aqueles são consultados e têm poder de vetar a doação.

É importante partilhar experiências e obter consensos de forma a traduzir esta estratégia em

protocolos uniformes e sólidos, apoiados pelas autoridades competentes profissionais de

transplantação e cuidados intensivos.

39

5. Referências bibliográficas

[1] Johnson EJ, Goldstein D. Do defaults save lives? Science. 2003 Nov 21;302(5649):1338-9.

[2] Rudge C, Matesanz R, Delmonico FL, Chapman J. International practices of organ donation.

Br J Anaesth. 2012 Jan;108 Suppl 1:i48-55

[3] van Dalen HP, Henkens K. Comparing the effects of defaults in organ donation systems. Soc

Sci Med. 2014 Apr;106:137-42.

[4] Irving MJ, Jan S, Tong A, Wong G, Craig JC, Chadban S, et al. What factors influence

people’s decisions to register for organ donation? The results of a nominal group study. Transpl

Int. 2014 Jun;27(6):617-24.

[5] Dumea R, Gavrilovici C, Siriopol D, Hogas S, Blaj M, Donciu M,et al. Organ procurement

methods: A comparative approach of ethical issues in different centers. Revista Romana De

Bioetica, 11(4). Disponível em: http://www.bioetica.ro/index.php/arhiva-bioetica/article/view/715

[6] Steinbrook R. Organ Donation after Cardiac Death. N Engl J Med 2007; 357:209-213

[7] Rithalia A, McDaid C, Suekarran S, Norman G, Myers L, Sowden A. A systematic review of

presumed consent systems for deceased organ donation. Health Technol Assess. 2009

May;13(26):iii, ix-xi, 1-95

[8] Irving MJ, Tong A, Jan S, Cass A, Rose J, Chadban S, Allen RD, Craig JC, Wong G, Howard

K. Factors that influence the decision to be an organ donor: a systematic review of the

qualitative literature. Nephrol Dial Transplant. 2012 Jun;27(6):2526-33.

[9] Oliver M , Ahmed A, Woywodt A. Donating in good faith or getting into trouble? Religion and

organ donation revisited. World J Transplant. 2012 Oct 24;2(5):69-73.

[10] Shaheen FA. Organ donation in the Middle East countries. Ethn Dis. 2009 Spring;19(1

Suppl 1):S1-16-7.

[11] Concejero AM, Chen CL. Ethical perspectives on living donor organ transplantation in Asia.

Liver Transpl. 2009 Dec;15(12):1658-61.

[12] Saeed B, Derani R, Hajibrahim M, Roumani J, Al-Shaer MB, Saeed R, Damerli S, Al-Saadi

R, Kayyal B, Haddad M. Organ failure in Syria: initiating a national deceased donation program.

Saudi J Kidney Dis Transpl. 2007 Jun;18(2):270-6.

[13] Ilyas M, Alam M, Ahmad H. The islamic perspective of organ donation in Pakistan. Saudi J

Kidney Dis Transpl. 2009 Jan;20(1):154-6.

[14] Howard JJ. Fatal flaws: New Zealand’s human tissue act fails to provide an avenue for

individuals to give legally binding informed consent. Pacific Rim Law & Policy Journal, 2012;

22(1): 209–236.

40

[15] Danovitch GM, Chapman J, Capron AM, Levin A, Abbud-Filho M, Al Mousawi M, et al.

Organ Trafficking and Transplant Tourism: The Role of Global Professional Ethical Standards—

The 2008 Declaration of Istanbul. Transplantation. 2013 Jun 15;95(11):1306-12.

[16] Dominguez-Gil B, Haase-Kromwijk B, Van Leiden H, Neuberger J, Coene L, Morel P, et al.

Current situation of donation after circulatory death in European countries. Transpl Int. 2011

Jul;24(7):676-86.

[17] Bindel J. Organ trafficking: a deadly trade. The Telegraph 2013 Jul 01.

[18] Derbyshire D. Inside the transplant tourist trade: The desperate men of One Kidney Island.

Mail Online 2007 Dec 03.

[19] Sharp TA. The impact of trust study days on organ and tissue donation among critical care

staff. Journal of Intensive Care Society 2009; 10: 189-196.

[20] Bendorf A, Kelly PJ, Kerridge IH, McCaughan GW, Myerson B, Stewart C, et al. An

international comparison of the effect of policy shifts to organ donation following

cardiocirculatory death (DCD) on donation rates after brain death (DBD) and transplantation

rates. PLoS One. 2013 May 7;8(5):e62010.

[21] Portugal. Ministério da Saúde. Gabinete do Secretário de Estado Adjunto do Ministro da

Saúde. Despacho n.º 14341/2013. Diário da República, 2.ª série — N.º 215 — 6 de novembro

de 2013

[22] Wind J, Faut M, van Smaalen TC, van Heurn E L. Variability in protocols on donation after

circulatory death in Europe. Crit Care. 2013 Oct 3;17(5):R217.

[23] Živčić-Ćosić S, Bušić M, Župan Z, Pelčić G, Juričić MA, Jurčić Z, et al. Development of the

Croatian model of organ donation and transplantation. Croat Med J. Feb 2013; 54(1): 65–70.

[24] Bruzzone P. Religious aspects of organ transplantation. Transplant Proc. 2008

May;40(4):1064-7.

[25] Regalia K, Zheng P, Sillau S, Aggarwal A, Bellevue O, Fix OK, et al. Demographic factors

affect willingness to register as an organ donor more than a personal relationship with a

transplant candidate. Dig Dis Sci. 2014 Feb 12.

[26] Alashek WA, Ehtuish EF, Elhabashi A, Emberish W, Mishra A. Reasons for Unwillingness

of Libyans to Donate Organs after Death. Libyan J Med. 2009; 4(3): 110–113.

[27] Cameron AM, Massie AB, Alexander CE, Stewart B, Montgomery RA, Benavides NR, et al.

Social Media and Organ Donor Registration: The Facebook Effect. American Journal of

Transplantation 2013 Aug; 13 (8): 1941-2231.

[28] Simpkin AL, Robertson LC, Barber VS, Young JD. Modifiable factors influencing relatives’

decision to offer organ donation: systematic review. BMJ. 2009 Apr 21;338:b991.

41

[29] Rosenblum AM, Horvat LD, Siminoff LA, Prakash V, Beitel J, Garg AX. The authority of

next-of-kin in explicit and presumed consent systems for deceased organ donation: an analysis

of 54 nations. Nephrol. Dial. Transplant. 2011; 27(6):2533.

[30] Le Nobin J, Pruvot FR, Villers A, Flamand V, Bouye S. Organ donation, reasons for family

refusal: A retrospective study in a French organ harvesting center. Prog Urol. 2014

Apr;24(5):282-7.

[31] Ghorbani F, Khoddami-Vishteh HR, Ghobadi O, Shafaghi S, Rostami Louyeh A,

Najafizadeh K. Causes of Family Refusal for Organ Donation. Transplant Proc. 2011

Mar;43(2):405-6.

[32] Le Nobin J, Pruvot FR, Villers A, Flamand V, Bouye S. Organ donation, reasons for family

refusal: A retrospective study in a French organ harvesting center. Prog Urol. 2014

Apr;24(5):282-7

[33] Ralph A, Chapman JR, Gillis J, Craig JC, Butow P, Howard K, et al. Family perspectives on

deceased organ donation: thematic synthesis of qualitative studies. Am J Transplant. 2014

Apr;14(4):923-35.

[34] Ridley S, Bonner S, Bray K, Falvey S, Mackay J, Manara M. UK guidance for non-heart-

beating donation and the Intensive Care Society's Working Group on Organ and Tissue

Donation. Br J Anaesth 2005; 95: 592–5.

[35] The Atlas of Faiths 2002. Encyclopaedia Britannica 15ª ed. Chicago: Encyclopaedia

Britannica 2003.

[36] Vincent A, Logan L. Consent for organ donation. Br J Anaesth. 2012 Jan;108 Suppl 1:i80-7.

[37] Mizraji R, Alvarez I, Palacios RI, Fajardo C, Berrios C, Morales F, et al. Organ donation in

Latin America. Transplant Proc. 2007 Mar;39(2):333-5.

[38] Central Intelligence Agency. The World Factbook 2013-14. Washington, DC (atualizado em

2013, visto em 01/06/2014); disponível em https://www.cia.gov/library/publications/the-world-

factbook/index.html.

[39] The World Bank. World Development Indicators. (Atualizado em 09/04/2014, visto em

01/06/2014) disponível em http://wdi.worldbank.org/table/2.15.

[40] The Council of Europe European Comitee (Partial Agrement) on organ transplantation.

Transplant Newsletter 2013 - International figures on donation and transplantation – 2012.

[41] New South Wales. Ministry of Health. Increasing organ donation in NSW : discussion

paper. North Sydney, 2011.(citado em 02/06/2014). Disponível em

http://www0.health.nsw.gov.au/pubs/2011/pdf/increasing_organ_donation.pdf.

42

Anexos

43

Anexo 1 - Classificação de Maastricht modificada de dadores em morte circulatória.[34]

Categoria Descrição Tipo de controlo

I Morte à chegada Não controlado

II Ressuscitação não sucedida Não controlado

III Aguardando paragem cardíaca Controlado

IV Paragem cardíaca em morte cerebral Controlado (considerado não

controlado antes da modificação)

V Paragem cardíaca inesperada em doente

crítico Não controlado

44

Anexo 2 – Sistemas de registos, categorias de Maastricht e órgãos colhidos.[22]

País Consentimento Categorias de doação após paragem

circulatória Órgãos recolhidos

Austrália Informado III*

Áustria Presumido II, III Rim

Bélgica Presumido II, III, IV* Rim, fígado, pâncreas,

pulmão

Canadá Informado III*

Colômbia Presumido II*

República Checa

Presumido I, II, III, IV Rim

França Presumido I, II, IV Rim

Itália Presumido II, III, IV Rim

Letónia Presumido II, IV Rim

Países Baixos Informado II, III, IV Rim, fígado, pâncreas,

pulmão

Reino Unido Informado II, III, IV Rim, fígado, pâncreas,

pulmão

Espanha Presumido I, II, IV* Rim, fígado, pulmão

Suíça Informado I, II, III, IV Rim, fígado, pulmão

Israel Informado IV

Japão Informado II, III *

Nova Zelândia Informado II, III

Russia Presumido II, IV

EUA Informado III*

*Variação em protocolos regionais

45

Anexo 3 – Itens descritos em protocolos de doação relativos a alguns países.[22]

País Critérios e procedimentos

para determinação da morte Quem determina a

morte

Tempo em que não se toca no

cadáver (minutos)

Áustria Assistolia Médico que trata com jus

praticandi 10

Bélgica Critérios cardiorrespiratórios 3 médicos independentes 5

República Checa

Não descritos Médico independente,

não envolvido na doação 10

França Critérios cardiorrespiratórios,

perda de consciência e ausência de atividade do tronco cerebral

Médico independente, não envolvido na doação

5

Itália Assistolia, ECG isoelétrico para

confirmar Médico que trata 20

Letónia Não descritos Intensivista 15

Países Baixos Paragem cardiocirculatória Médico que trata 5

Reino Unido

Paragem cardiocirculatória, perda de consciência,

monitorizar pressão intra-arterial, ECG por 5 minutos. Após esse

tempo confirma ausência de atividade do tronco cerebral.

Médico que trata 5

Espanha Assístole, apneia, sem resposta

a estímulos, ECG para confirmar.

Médico que trata 5

Suíça

Lege artis de acordo com as guidelines e confirmar assistolia

com ecocardiograma transtorácico.

2 médicos independentes 10

46

Anexo 4 – Distribuição das religiões em vários países [35]

Sem

religião

Cristianismo Judaísmo Islamismo Budismo Hinduismo Sikhismo

Testemunhas de Jeová

Xintoísmo Taoísmo Outros Católica Protestante Ortodoxa Outros

Arábia Saudita ≈100%

Argentina 92% 2% 2% 4%

Arménia 1,1% 1% 92,6% 5,3%

Austrália 22,3% 25,3% 28,8% 2,6% 4,5% 2,2% 2,5% 1,3% 10,7%

Áustria 12% 73,6% 4,7% 4,2% 5,5%

Azerbeijão 4,8% 93,4% 1,8%

Bélgica 75% 25%

Bielorrússia 80% 20%

Brasil 8% 64,8% 22,2% 0,7% 4%

Bulgária 3,7% 59,4% 7,8% 29,1%

Canadá 23,9% 38,9% 20,3% 1,6% 6,3% 1% 3,2% 1,1% 1,5% 1,4% 0,6%

Chile 11,5% 66,7% 16,4% 1 4,5%

China 52,2% 5,1% < 0,1% 1,8% 18,2% < 0,1% 0,8%

Chipre 78% 18% 4%

Colômbia 90% 10%

Coreia do Sul 43,3% 7,6% 24% 24,2% 0,9%

Costa Rica 3,2% 76,3% 14,4% 1,3% 4,8%

Croácia 3,8% 86,3% 4,4% 1,5% 4%

Cuba 85% 15%

República Checa

34,5% 10,4% 1,1% 54%

Dinamarca 80% 4% 16%

Republica Dominicana

95% 5%

Equador 95% 5%

Egipto 10% 90%

Emiratos Árabes Unidos

9% 76% 15%

Estónia 54,1% 9,9% 16,2% 2,2% 17,6%

Filipinas 0,1% 82,9% 2,8% 4,5% 5% 4,7%

Finlândia 19,2% 78,4% 1,1% 1,1% 0,2%

França 85% 2% 1% 5-10% 4%

Georgia 0,7% 0,8% 87,8% 9,9%

Alemanha 34% 34% 3,7% 28,3%

Grécia 98% 1,3% 0,7%

Hong Kong ≈10% 3,1% 21,2% 0,25% 14,1% 50%

Hungria 18,2% 39% 13,8% 29,1%

Islândia 5,2% 3,4% 76,2% 15,3%

47

Irão 99,4% 0,7%

Irlanda 5,7% 84,7% 2,7% 2,7% 1,1% 3,2%

Israel 2% 75,1% 17,4% 5,5%

Itália 20% 80%

Japão 2% 71,4% 83,9% 7,8%

Letónia 19,6% 15,3% 1% 64,1%

Líbano 40% 54% 6%

Líbia 2,7% <1% 96,6% 0,3% <1% <1%

Lituânia 6,1% 77,2% 0,8% 4,1% 11,7%

Luxemburgo 87% 13%

Malásia 0,8% 9,2% 61,3% 19,8% 6,3% 2,7%

Malta 98% 2%

México 4,7% 82,7% 6,6% 1,4% 4,6%

Moldávia 98% 1,5% 0,5%

Marrocos 99% 1%

Países Baixos 42% 30% 20% 5,8% 2,2%

Nova Zelândia 44,3% 1,1% 1,4% 2,1% 2,7%

Nicarágua 15,7% 58,5% 23,2% 0,9% 1,6%

Noruega 1,8% 82,1% 3,9% 2,3% 9,9%

Panamá 85% 15%

Paquistão 96,4% 3,6%

Paraguai 1,1% 89,6% 6,2% 1,1% 1,9%

Perú 2,9% 81,3% 12,5% 3,3%

Polónia 87,2% 0,4% 1,3% 11,2%

Portugal 6,8% 81% 3,3% 8,9%

Puerto Rico 85% 15%

Roménia 0,2% 4,3% 6,4% 81,9% 7,2%

Rússia 15-20% 2% 10-15%

Singapura 16,4% 7,1% 11% 14,3% 33,9% 5,2% 11,3% 0,7%

Eslováquia 13,4% 62% 8,2% 3,8% 12,5%

Eslovénia 10,1% 57,8% 2,3% 0,9% 2,4% 26,4%

Espanha 94% 6%

Suécia 87% 13%

Sudão ≈100

Suíça 21,4% 38,2% 26,9% 5,7% 4,9% 2,9%

Síria 10% 87% 3%

Taiwan 4,5% 93% 93% 2,5%

Tailândia 0,1% 1,2% 4,9% 93,6% 0,2%

Trindade e Tobago

2,2% 21,6% 32,1% 5% 18,2% 1,5% 19,5%

Tunísia 99,1% 1%

48

Turquia 99,8% 0,2%

Ucrânia 67% 1% 1% 31%

Reino Unido 25,7% 59,5% 4,4% 1,3% 9,2%

EUA 4% 23,9% 51,3% 3,3% 1,7% 0,6% 0,7% 14,6%

Uruguai 17,2% 47,1% 11,1% 0,3% 24,3%

Venezuela 96% 2% 2%

49

Anexo 5 – Mapa com distribuição das religiões no mundo [35]

50

Anexo 6 – Despesas em saúde per capita (dólares) e % do PIB – 2012 [39]

País Despesas em saúde per capita (em dólares) Despesas em saúde (% do PIB)

1 Noruega 9055 9,0

2 Suíça 8980 11,3

3 EUA 8895 17,9

4 Luxemburgo 7452 6,9

5 Dinamarca 6304 11,2

6 Austrália 6140 8,9

7 Canadá 5741 10,9

8 Países Baixos 5737 12,4

9 Áustria 5407 11,5

10 Suécia 5319 9,6

11 Japão 4752 10,1

12 Bélgica 4711 10,8

13 França 4690 11,7

14 Alemanha 4683 11,3

15 Finlândia 4232 9,1

16 Islândia 3872 9,1

17 Irlanda 3708 8,1

18 Reino Unido 3647 9,4

19 Nova Zelândia 3292 10,3

20 Itália 3032 9,2

21 Espanha 2808 9,6

22 Singapura 2426 4,7

23 Israel 2289 7,5

24 Grécia 2044 9,3

25 Chipre 1949 7,3

26 Eslovénia 1942 8,8

27 Portugal 1905 9,4

28 Malta 1835 9,1

29 Coreia do Sul 1703 7,5

30 República Checa 1432 7,7

31 Emiratos Árabes Unidos 1343 2,8

32 Eslováquia 1326 7,8

33 Uruguai 1308 9,0

34 Chile 1103 7,2

35 Brasil 1056 9,3

36 Estónia 1010 5,9

37 Argentina 995 8,5

38 Hungria 987 7,8

39 Trindad e Tobago 972 5,4

40 Costa Rica 951 10,1

41 Croácia 908 6,8

42 Rússia 887 6,3

43 Lituânia 859 6,7

44 Polónia 854 6,7

45 Arábia Saudita 795 3,2

46 Letónia 792 6,0

47 Panamá 723 7,6

48 Líbano 675 7,6

49 Turquia 665 6,3

50 África do Sul 645 8,8

51 México 618 6,1

52 Venezuela 593 4,6

53 Líbia 578 3,9

54 Cuba 558 8,6

55 Colômbia 530 6,8

56 Bulgária 516 7,4

57 Irão 490 4,2

58 China 480 5,4

59 Roménia 420 5,1

60 Malásia 410 3,9

51

61 Azerbeijão 398 5,4

62 Paraguai 392 10,3

63 Equador 361 6,4

64 Bielorrússia 339 5,0

65 Perú 337 5,1

66 Georgia 333 9,2

67 República Dominicana 310 5,4

68 Tunísia 297 7,0

69 Ucrânia 293 7,6

70 Moldávia 239 11,7

71 Guatemala 226 6,7

72 Tailândia 215 3,9

73 Marrocos 190 6,4

74 Egipto 152 5,0

75 Arménia 150 4,5

76 Nicarágua 144 8,2

77 Filipinas 119 4,6

78 Sudão 115 7,2

79 Síria 105 3,4

80 Paquistão 39 3,1

81 Puerto Rico - - - - - -

52

Anexo 7 – Taxas de recusa de doação pelas famílias de alguns países [14, 30, 36, 37, 40, 41]

Consentimento presumido Consentimento informado

Familiar próximo

pode vetar

doação?

País Doações recusadas pela

família (%)

Consentimento do familiar é requerido

mesmo conhecendo a posição do

dador?

País Doações recusadas pela família

(%)

Não

Não

Não Não

Arménia Áustria

Bielorrússia Bélgica Bulgária

Chile Colômbia

Costa Rica Croácia Equador

Eslováquia Eslovénia Estónia

Espanha Finlândia França Itália

Luxemburgo Noruega Paraguai

Perú Polónia Portugal

República Checa Rússia

Singapura Suécia Tunísia Turquia

0 -

64,7 (2011) -

60-70% 48,1% 25,2%

20% (2011) -

16,5% 10,2% (2011) 13,9% (2011)

24,5% 15,6%

- 32%

26,1% -

17,9% 28,6% 70%

11,2% Sem dados

13,9%

0 ? -

96% 76,6%

Não

Não Não Não

África do Sul Alemanha

Arábia Saudita Austrália

Brasil Canadá

Coreia do Sul Cuba

Dinamarca Estados Unidos

da América Filipinas Islândia

Índia Irlanda Israel Japão

Lituânia Malásia Malta

México Nova Zelândia Países Baixos Reino Unido

Roménia Suíça

Tailândia Venezuela

? - ?

41,8 37,2 Sem

dados ?

8,3 -

≈ 50*

? - ? -

52,9 ?

40,2 ? -

45% ≈50 52,4

(2011) 42,5 29,2

-