pressupostos para uma educaÇÃo … · o fato de escolhê-lo como modelo para uma reflexão...

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PRESSUPOSTOS PARA UMA EDUCAÇÃO EVANGÉLICO-LIBERTADORA DIEIKSON DE CARVALHO LAVRAS MINAS GERAIS – BRASIL 2008

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PRESSUPOSTOS PARA UMA EDUCAÇÃO EVANGÉLICO-LIBERTADORA

DIEIKSON DE CARVALHO

LAVRAS MINAS GERAIS – BRASIL

2008

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DEIKSON DE CARVALHO

PRESSUPOSTO PARA UMA EDUCAÇÃO EVANGÉLICO - LIBERTADORA

Monografia apresentada ao Departamento de Educação da Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Educação para a obtenção do título de especialização.

Orientador Prof. Ângelo Constâncio Rodrigues

LAVRAS MINAS GERAIS – BRASIL

2008

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DIEIKSON CUSTÓDIO DE CARVALHO

PRESSUPOSTOS PARA UMA EDUCAÇÃO EVANGÉLICO-LIBERTADORA

Monografia apresentada ao Departamento de Educação da Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Educação para a obtenção do título de especialização.

Aprovada em 16 de maio de 2008. Prof. Elenildo Menezes do Nascimento Profa. Telsuíta Laudomira Pereira Santos

Prof. Ângelo Constâncio Rodrigues

UFLA (Orientador)

LAVRAS MINAS GERAIS – BRASIL

2008

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“Para ensinar sempre é necessário amar e saber;

porque quem não ama não quer

e quem não sabe não pode”.

Pe. Antônio Vieira

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DEDICO

A minha querida esposa Andréa Salgado, pelo carinho, compreensão e amor

que tem me dedicado a cada dia, ajudando-me a superar as dificuldades e fazer

a experiência de amar e ser amado.

Ao meu filho Raul Salgado de Carvalho que veio para trazer luz, paz e amor aos

nossos corações e encher de alegria a minha vida e a vida da minha esposa.

Aos meus grandes amigos Hajime Kiyota e Maria Lúcia, juntamente com os

seus filhos (Marcelo, Débora e Erick), que sempre se fizeram presentes na

minha vida, tanto nos momentos difíceis como nos momentos mais felizes.

Aos meus alunos de hoje, de ontem e de amanhã que foram, são e continuarão

sendo os responsáveis pela minha realização profissional como professor nestes

tempos de desafios.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo dom da arte de ensinar e aprender que move o meu espírito

e me faz ser um educador repleto da esperança e do amor que vem do seu

Sagrado Coração.

A minha mãe Denízia de Lima que sempre esteve do meu lado fazendo

com que eu acreditasse cada vez mais no meu potencial e na minha capacidade

de fazer a diferença como professor.

Aos meus irmãos – Márcio Custódio de Carvalho e Izonel Custódio de

Carvalho Júnior – que com amor e dedicação tem dado parte das suas vidas a

educação, através da Empresa Sesi Escola-Técnica, preparando profissionais

conscientes e comprometidos para o mercado de trabalho de Lavras e região.

Ao meu sogro Paulo Ribeiro Salgado e a minha sogra Ernesta Maria

Salgado (Dona Nenêm), pelo apoio e carinho durante todo este tempo de estudo

e dedicação a esta pesquisa.

Aos professores e professoras do Departamento de Educação da

Universidade Federal de Lavras que não mediram esforços para nos

proporcionar um conhecimento crítico e um ensino de qualidade.

Ao professor, orientador e amigo Ângelo Constâncio Rodrigues que

aceitou o desafio de ajudar-me a construir este trabalho acadêmico pela ótica do

amor de Deus.

A educadora Telsuíta Laudomira Pereira Santos que colaborou com a

leitura e observações pertinentes a esse trabalho e, principalmente, pelo seu

amor, competência e dedicação à arte de ensinar.

Ao meu querido amigo e irmão Elenildo Menezes do Nascimento que

muito contribuiu para uma reflexão mais profunda e uma visão mais crítica

sobre o assunto aqui desenvolvido, como também, por ser um grande pregador

da Palavra de Deus.

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A minha grande amiga Rossana Helena Rodrigues Caldeira que faz da

sua profissão de educadora uma forma de ser presença do amor de Deus entre os

alunos e professores com quem trabalha.

A Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, de modo

especial, a todos os padres que foram sinais da presença da misericórdia de Deus

em minha vida.

Ao Ministério de Evangelização Tom de Deus, principalmente nas

pessoas do Denis do Nascimento Silva, Ênia Oliveira Borges e Carlos Antônio

Flôr, que trilham comigo o grande desafio de levar o amor do Cristo

Ressuscitado aos corações dos jovens da nossa cidade.

Ao Instituto Presbiteriano Gammon que me possibilita a ação do ensino-

aprendizagem e pelo carinho e respeito que tem para comigo como professor e

cidadão.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................1

2 EXIGÊNCIAS DE UMA EDUCAÇÃO EVANGÉLICO-LIBERTADORA....7

2.1 Uma realidade desafiadora..............................................................................7

2.2 Um breve olhar sobre a história da educação no Brasil ................................11

2.3 Uma nova proposta educativa: a educação evangélico-libertadora ..............20

2.3.1 O que se entende por Educação Evangélica?.............................................24

2.3.2 O que se entende por Educação Libertadora?............................................27

3 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DA TEORIA DA EDUCAÇÃO

EVANGÉLICO-LIBERTADORA .....................................................................32

3.1 Objetivos da Educação Evangélico-Libertadora...........................................32

3.2 Características de uma Antropologia a partir de Jesus Cristo.......................33

3.2.1 Dimensão da autonomia - A Pessoa Humana ............................................34

3.2.2 Dimensão Relacional - O amor-opção como fundamento da pessoa humana

............................................................................................................................38

3.2.3 Dimensão Intelectual - A Perseidade.........................................................42

3.2.4 Dimensão ética – A práxis como ação libertadora.....................................45

3.2.5 Dimensão sócio-política - Um ser no mundo ............................................46

3.2.6 Dimensão transcendental - A espiritualidade como afirmação do humano

............................................................................................................................49

3.3 Profissão e mística: Perfil do educador evangélico-libertador......................52

4 CONCLUSÃO.................................................................................................55

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................59

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1 INTRODUÇÃO

A educação situa-se dentro de um contexto histórico, em um tempo e

lugar definidos, condicionado pela realidade social e pelo jeito de ser e pensar de

uma sociedade. A educação sofre influência do meio em que está inserida e

influencia também o próprio meio social. É uma ação que trás em si mesma a

própria reação. Não dá para pensar em educação como algo parado, estático e

imóvel que em nada modifica ao seu redor. Toda ação que veio por meio da

educação vai rescindir na própria sociedade e no indivíduo como sujeito da ação.

Essa é uma das verdades que os educadores e educadoras não podem deixar de

refletir e tomar consciência a cada dia de suas vidas.

A realização deste trabalho visa propor uma reflexão e uma discussão

sobre a Educação Evangélico-Libertadora1 como forma de superar alguns

desafios apresentados hoje na educação. Esta proposta de educação está baseada

nas atitudes de um “Homem”, nos episódios marcantes da sua vida e nos relatos

que os evangelhos fazem sobre o seu modo de ser e de agir no mundo: Jesus de

Nazaré.

O fato de escolhê-lo como modelo para uma reflexão metodológica

sobre a educação não foi por acaso, está intimamente ligado com a minha

história de vida e com aquilo que acredito que seja relevante para melhorar a

qualidade do ensino em nosso país.

Aproveitando a oportunidade de concluir um curso de especialização em

educação, senti-me na liberdade de abordar este tema como trabalho de pesquisa

monográfica. Em primeiro lugar porque acredito na ação pedagógica do Cristo

1 A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil organizou estudos sobre a educação e publicou o Documento 47 para orientar as escolas católicas. Pela primeira vez se usa o termo “Educação Evangélico-Libertadora”

1

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histórico2, do homem de Nazaré, que com atitudes diferenciadas mudou o modo

de pensar e de agir da sociedade de sua época. Em segundo lugar, porque senti

dos educadores e das educadoras do Departamento de Educação da Universidade

Federal de Lavras - UFLA -, a abertura e o acolhimento para debater sobre este

conteúdo.

Neste trabalho, Jesus é apresentado como “afirmação do humano”,

expressão utilizada por Leonardo Boff que define o modo como Cristo assumiu

a natureza humana. Por isso, esta reflexão não se dará em torno de uma religião

específica, mas sim da pessoa de Jesus. É claro que o fato de ter sido seminarista

durante onze anos e ser um católico praticante até hoje, influencia no meu modo

de pensar e de olhar para a figura histórica de Jesus. Mas não se trata aqui de

defender ou de elaborar um conceito de educação voltado apenas para uma

religião, mas para todos aqueles que se deixam influenciar pelas idéias e pelas

atitudes inovadoras e revolucionárias de Jesus.

Através do estudo da Teologia, pode-se perceber que a ação do Jesus

histórico possibilita uma reflexão onde Ele torna-se o referencial, o centro da

ação educativa transformadora.

Portanto, as questões levantadas para a reflexão e que não podemos

deixar de indagar são: as atitudes do Cristo histórico teriam algo a dizer ou a

acrescentar ao processo educacional brasileiro hoje? As práticas pedagógicas de

Jesus não estariam ultrapassadas e fora da realidade atual? Pode alguém ter

vivido há dois mil anos atrás e possibilitar ainda alguma novidade para essa

sociedade pós-moderna? Suas atitudes e suas ações, reinterpretadas e lidas a

2 Quando se fala em Jesus está se referindo ao homem, a pessoa humana que viveu há mais de 2000 anos atrás. Quando se usa o termo Cristo, está se referindo mais a questão teológica de vê-lo como “Messias”, “Enviado de Deus”, ou seja, o próprio “Filho de Deus”. Para diferenciar, usarei nesta pesquisa o termo Jesus de Nazaré ou Cristo histórico, para se referir ao homem e não a sua condição divina somente.

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partir do contexto social em que se está inserido ainda é capaz de contribuir de

alguma forma para a educação do Brasil?

Todos estes questionamentos tornaram-se os grandes desafios para este

trabalho. A pedagogia de Cristo foi uma ação diferenciada, Ele foi alguém que

ousou assumir na radicalidade a nossa humanidade, como afirmou João no seu

evangelho: “E o verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). João mostra

que Jesus não foi uma invenção da mente humana, mas existiu verdadeiramente

e sua ação transformou para sempre o mundo ocidental. Ele passou a ser a

referência da nossa sociedade, não porque era divino, mas porque assumiu e

vivenciou a natureza humana de forma incondicional.

Não raras vezes, vemos que muitos profissionais da educação reclamam

que está difícil educar os adolescentes, jovens, adultos e crianças. Na época de

Cristo não era diferente. O preconceito, a taxa de analfabetismo, o machismo, a

segregação religiosa eram fatores muito mais agressivos do que os dos nossos

dias. Mas Ele soube despertar a atenção dos seus ouvintes, ensinar os seus

discípulos (maioria iletrados) e arrancar aplausos e admiração dos escribas e

doutores da lei. Jesus ensinava a partir da realidade dos seus “alunos”. As

pessoas que o ouviam sentiam o coração pegar fogo e a mente se abrir. Jesus

tocava e ensinava a partir das questões existenciais e a partir da

intelectualidade3. Por isso que Celito Méier afirma:

A pedagogia do Mestre Jesus faz as pessoas acreditarem em si mesmas, acreditarem no poder da vida que pode sempre transcender o momento presente. Faz ver que nenhum poder ou império deste mundo é para sempre. Eis o desafio e o jeito de ser e atuar de Jesus: possibilitar à tomada de consciência dessa realidade e ao mesmo tempo desalinear as consciências, promovendo o reconhecimento do poder que carregam em si (Celito Méier, 2006, p. 37).

3 “Muitos foram os samaritanos daquela cidade que creram nele por causa da palavra daquela mulher, que lhes declarara: Ele me disse tudo que eu tenho feito”(Jo 4, 39).

3

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Não há dúvida de que a educação se destina à pessoa humana na sua

individualidade como sujeito único e específico. Mas não se pode deixar de

perceber que o homem e a mulher vivem em sociedade, sendo assim, todo o

trabalho adquirido pela pessoa individualmente resultará numa prática social.

Daí a necessidade de que o ser humano atinja a sua maturidade, ou seja, que

assuma sua formação integral na direção de um contínuo desenvolvimento e

crescimento pessoal. Em cada processo pedagógico se encerra uma visão de ser

humano e de sociedade.

Neste sentido, falar da educação pautada na práxis libertadora de Cristo

é falar de uma Educação Evangélico-Libertadora. Pois é isso que a Educação

Evangélico-Libertadora vem propor, uma ação que transforma, liberta e faz com

que cada pessoa assuma a sua autenticidade a partir da pedagogia de Jesus.

Para isso precisamos refletir sobre a educação de Jesus a partir de dois

pontos fundamentais, necessários para qualquer teoria educacional: para qual

sociedade estamos falando em educação e qual a visão de ser humano que esta

teoria traz implícita em si mesma? Sem definir para qual sociedade está se

falando em educação e sem definir qual a visão de ser humano que se tem, a

práxis educacional de qualquer pensamento sobre educação fica comprometida.

É neste sentido que vai trilhar este trabalho. O segundo capítulo é uma

tentativa de refletir sobre a situação atual da educação no Brasil e algumas de

suas principais dificuldades. Para isso, propomos um breve olhar para história

para tentarmos entender o que se vive no presente. A partir daí, é preciso definir

o que se entende por Educação Evangélica e o que se entende por Educação

Libertadora, sob a ótica da práxis de Jesus Cristo.

Já no terceiro capítulo, a reflexão caminha sobre a visão cristã do ser

humano. Qual a visão de homem e de mulher que se pode apreender a partir das

atitudes de Cristo durante a sua vida aqui na terra? Sem uma reflexão sobre a

4

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antropologia cristã, a prática ficará comprometida e o resultado pode ser

contrário daquele que é proposto quando cada educador4 entra na sala de aula.

Aqui está o ponto central da Educação Evangélico-Libertadora: a visão

que Jesus tem do ser humano e que rompeu com todos os preconceitos e com

todas as estruturas vigentes de dominação de sua época. Jesus educou para a

transformação e para a libertação, através do amor. Um amor que superou o

mero sentimentalismo e se transformou numa opção radical pela vida humana.

Jesus foi o mestre dos mestres, porque soube como ninguém ensinar o

povo de seu tempo. Ele fez uma grande revolução no mundo através de sua

práxis educadora.

Esse é um trabalho acadêmico que tem como metodologia uma revisão

de literatura a partir da ótica de uma Educação Evangélico-Libertadora. Os

referenciais teóricos deste trabalho estão assentados sobre dois pensadores de

nosso tempo: Paulo Freire e Leonardo Boff.5 É claro que a discussão aqui

realizada não se resume somente no pensamento desses dois teóricos, mas seus

pensamentos são evidenciados na problematização aqui discutida.

Por isso, quando se fala da pedagogia de Cristo, a primeira coisa que

devemos conscientizar que os alunos são os sujeitos do seu próprio processo

educacional. Eles são os autores do seu próprio conhecimento que vão se

fundamentar na ação mediadora do educador comprometido com práxis de

Cristo.

Nesse trabalho entendemos ser importante discutir a pedagogia de Jesus

na perspectiva de que os educadores aceitem rever seus conceitos e suas formas

4 Para que a leitura do texto não fique pesada, será usado o termo educador, professor ou aluno referindo-se tanto a educador e educadora, professor e professora e aluno e aluna, sem qualquer intenção de privilegiar o masculino sobre o feminino, mas no intuito de tornar a leitura mais agradável e leve, sobre o ponto de vista dos leitores. 5 O pedagogo Paulo Freire foi um dos grandes pensadores sobre a pedagogia da libertação. Leonardo Boff é teólogo e filósofo e baseia seus escritos na práxis libertadora de Jesus, enquanto afirmação do humano, sendo uma das referências da Teologia da Libertação no Brasil e na América Latina.

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de trabalhar com os alunos de hoje. Educar a partir de Jesus Cristo é deixar-se

moldar pelo seu jeito transformador e libertador de ser. Jesus educava mais pela

sua personalidade e pela confiança que obtinha dos seus ouvintes do que pelo

simples conhecimento intelectual que transmitia.

Em Jesus, o ser humano tem o seu valor inquestionável e é para Ele que

se volta toda a ação de qualquer educador que assume o desafio de amar os seus

alunos como Jesus amou a humanidade. A pedagogia de Cristo não permite que

tenhamos educadores apenas envolvidos com o projeto educacional, ela por si

só, exige mais. É preciso comprometimento. Por isso que a profissão do

educador cristão - nessa perspectiva da Educação Evangélico-Libertadora -

precisa estar envolta de uma mística libertadora.

Sem a mística, jamais o profissional da educação conseguirá imitar a

ação de Jesus, pois é Nele que se concentra toda a reflexão e toda a ação que vai

pautar o nosso jeito de ser e de agir com cada aluno que encontrarmos em sala

de aula. Esta é uma proposta para educadores que não tem medo de arriscar e

nem vergonha de ousar, pois como diz Padre Dehon: “quem quer mudar a

sociedade, não pode ter idéias tímidas”.6

6 Padre Dehon foi um sacerdote francês que viveu no final do século XIX e início do século XX, Ele é o fundador da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus.

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2 EXIGÊNCIAS DE UMA EDUCAÇÃO EVANGÉLICO-LIBERTADORA

2.1 Uma realidade desafiadora

Quando se fala em educação, precisa ficar definido de que educação se

fala e “para qual” sociedade esta educação se coloca a serviço. Atualmente vive-

se uma sociedade que apresenta uma realidade desafiadora, tanto para a

educação quanto para as relações sócio-político-culturais e espiritual-religiosa.

Pereira (1992, p.15), nos chama atenção para essa realidade quando afirma que

estamos vivenciando um mundo em transformação:

“Vivemos num mundo que sofre constantes mudanças. A evolução da informática, os avanços cibernéticos, científicos e tecnológicos, os avanços no campo da comunicação social, a rapidez das informações que advém da internet, a globalização, o aumento do número de favelas nos grandes e médios centros urbanos, a violência, a exclusão social, a alta competição no mercado de trabalho e a alienação são as principais características deste mundo em transformação”.

Aparentemente tudo isso significa desenvolvimento e parece facilitar a

vida humana. O desenvolvimento da técnica e das máquinas industriais ajuda a

facilitar os trabalhos mais duros e árduos que até então eram realizados pelos

homens e mulheres, tanto na cidade quanto no campo. Tudo isso tem se tornado

um grande desafio para essa sociedade contemporânea e, consequentemente,

para a educação, enquanto mecanismo de objetificação do ser humano. Não se

trata aqui de condenar os avanços da humanidade nas suas mais variadas áreas,

mas de questionar quais os impactos que esses avanços trazem na vivência da

cultura e dos valores sociais. É preciso olhar para essa realidade com prudência e

ao mesmo tempo com criticidade para não correr o risco de uma leitura

superficial desses acontecimentos. A transcendentalidade que pode ser vista

como uma das características da dimensão humana precisa ser refletida a partir

7

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deste contexto histórico. Por isso, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

(CNBB, 2003, p.35) também aponta para essa realidade quando afirma que:

“trata-se de uma transição carregada de potencialidades positivas para o ser humano e para as sociedades. Ao mesmo tempo, porém, ela se caracteriza por tensões, rupturas e desmoronamento de valores fundamentais como os de respeito mútuo, da hospitalidade, da religiosidade, trazendo conseqüências negativas que se fazem sentir, com particular vigor, na família, na educação e na escola”.

Pereira (1992, p. 15), seguindo a mesma linha de raciocínio, também

aponta para esta reflexão ao dizer que “a tecnologia gera também uma certa

desvalorização da dignidade da pessoa humana porque prioriza a eficiência e a

eficácia em detrimento de valores humanos e fundamentais: amor, amizade,

fraternidade, convivência e respeito.” Paulo Freire (2007, p.131), também

condena essa massificação do humano quando afirma que:

“a aplicação de avanços tecnológicos com o sacrifício de milhares de pessoas é um exemplo a mais de quanto podemos ser transgressores da ética universal do ser humano e o fazemos em favor de uma ética pequena, a do mercado, a do lucro”.

O que se questiona não é o avanço da tecnologia e nem o seu uso, mas o

modo como tem sido utilizada para se chegar a um objetivo apenas utilitário: o

acúmulo de riqueza em detrimento do valor do sujeito. A tecnologia,

infelizmente, quando se torna instrumento de opressão, gera também a

desvalorização da dignidade da pessoa humana. E isso, sem dúvida, empobrece

muito o ser humano, que vai, pouco a pouco, deixando de assumir a sua

identidade de sujeito da sua história para ser massificado e mecanizado pelas

estruturas vigentes e pela classe dominante. Paulo Freire (2007, p. 50), afirma

que para a classe dominante, os menos favorecidos não têm a mesma dignidade

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e o mesmo valor de pessoa humana, pois “para eles, a pessoa humana são

apenas eles. Os outros, estes são coisas”.

O tecnicismo moderno favorece para que aconteça na sociedade e

também na educação a despersonalização e alienação do ser humano. Tudo pode

ser comprado. Tudo pode ser adquirido. A felicidade e a dignidade humana

estreita os seus laços com o consumismo e passa a ser dependentes dos bens

materiais que cada um possui. O ser perde o seu valor diante do ter. Contudo, o

ser humano acaba perdendo a sua subjetividade e individualidade e se

objetificando dentro desta sociedade mecanicista. Paulo Freire (2007, p.51),

chega a afirmar que:

“nesta ânsia irrefreada de posse, desenvolvem em si a convicção de que lhes é possível transformar tudo a seu poder de compra. Daí a sua concepção estritamente materialista da existência. O dinheiro é a medida de todas as coisas. E o lucro o seu objetivo principal. Por isto é que, para os opressores, o que vale é ter mais e cada vez mais, à custa, inclusive, do ter menos ou do nada ter dos oprimidos”.

Portanto, são os valores humanos, sociais, culturais e espirituais

desrespeitados e desvalorizados pela sociedade moderna que se tornam grandes

desafios para a educação, principalmente a educação a qual se propõe aqui a

Evangélico-Libertadora, enquanto quer considerar o ser humano um ser

integrado em suas várias dimensões: física, social, cultural, econômica, política,

histórica e transcendental. Porém, na realidade em que se está inserida a

educação no Brasil, neste início do século XXI, vê-se apresentar uma pequena

melhora no quadro de exclusão social, mas mesmo assim estamos longe de

alcançar um padrão de qualidade de vida melhor para todos:

“o sistema sócio político e econômico vigente no Brasil é considerado pela grande maioria dos sociólogos como ‘capitalismo selvagem e dependente’, no qual jogam-se milhões de brasileiros a subviverem como miseráveis” (Parron, 2002, p. 83).

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O reflexo do modelo econômico e social brasileiro tem uma incidência

também na educação, pois esta é fruto da sociedade e do modo de pensar e agir

das pessoas que a compõe. Assim, esta realidade apresenta-se mais desafiadora

para a educação, pois a escola acaba funcionando como um mecanismo de

reprodução desta estrutura ou, se tiver coragem, de transformação da mesma,

“daí o caráter desesperançoso, fatalista, antiutópico de uma ideologia em que

se forja uma educação friamente tecnicista e se requer um educador exímio na

tarefa de acomodação e não na de sua transformação” (Freire, 2007, p.143).

Não se pode esquecer que educação se faz com pessoas específicas, numa

sociedade determinada e num período concreto da história. As variantes sociais

exercem um grande impacto na educação e no modo de se agir em sociedade.

Em razão deste situar-se, é preciso perguntar sempre qual a função

específica da educação, ou ainda, que tipo de pessoas humanas estamos

ajudando a formar nas escolas públicas, privadas e confessionais. Portanto, a

educação muitas vezes é apresentada como um dos grandes mecanismos de

libertação, porém quando colocada a serviço da manutenção da classe

dominante, é efetivamente um instrumento poderoso para a dominação e

opressão dos que não encontram espaço nesta sociedade capitalista-exclusivista.

A saber, os direitos de uns a que deviam corresponder os deveres de outros não

realmente direitos, mas usurpação, dominação, opressão. Essa reflexão ainda

não aflorava. A educação orientava-se nesse sentido para a conservação da

Ordem Social vigente. “Funcionava como alimentadora do ‘consenso social’,

amaciadora dos conflitos” (Libânio, 1981, p. 18).

A educação precisa caminhar por um objetivo de assumir-se como um

processo crítico do contexto em que vive. Somente assim poderá ajudar o ser

humano a sair da alienação e trabalhar para a transformação da realidade. Neste

sentido, baseando-se no pensamento de Paulo Freire a educação precisa ser ação

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para transformação, ação para libertação. “A práxis, porém, é reflexão e ação

dos homens sobre o mundo para transformá-lo. Sem ela, é impossível a

superação da contradição opressor-oprimidos” (Freire, 2007, p42). E isso

precisa estar muito claro na mente e na consciência de cada educador, visto que

o processo educacional jamais é neutro: educa-se sempre para uma determinada

sociedade. Pode-se partir do princípio de que a educação é condicionada pela

sociedade, porém, neste mesmo sentido, pode se atribuir à educação o processo

inverso: a de condicionar a sociedade para a liberdade e a justiça social.

Este é o um dos principais desafios da educação na sociedade pós-

moderna do século XXI: tomar uma postura decisiva, certa e coerente que

busque promover a libertação no processo de ensino-aprendizagem.

Para ter uma idéia mais clara da situação em que se está inserida a

educação no Brasil, faz-se necessário olhar para o contexto sócio-cultural e para

a história da educação em nosso país, com o objetivo de buscar compreender

melhor esta realidade.

2.2 Um breve olhar sobre a história da educação no Brasil

A educação não pode ser vista e compreendida como um apêndice

dentro da história. Ela sempre está situada dentro de um contexto específico,

sendo guiada por pessoas com ideologias e objetivos determinados. Quando se

propõe uma nova visão de educação, tem que se analisar para que lugar e em

qual contexto ela vai ser apresentada. Por isso, faz-se necessário um breve

retrospecto da história da educação em nosso país. De modo algum se tem a

pretensão de esgotar o tema ou aprofundá-lo, apenas apontar alguns aspectos

relevantes que nos ajudará a inserir dentro do seu contexto e da sua realidade.

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Podemos compreender a história da educação no Brasil a partir de cinco

momentos específicos7:

* 1º Momento: Compreende o período de 1549 até 17598, onde os promotores

da educação brasileira foram os jesuítas. Portugal buscava na sua colônia

americana uma produtora e uma fornecedora de matéria prima ou de metais

preciosos que pudessem enriquecê-lo com rapidez e segurança. Junto com os

colonizadores chegaram os jesuítas com uma dupla missão: a pregação da fé

católica e o trabalho educativo com os povos que aqui viviam. Os educadores,

que no caso eram padres e religiosos, estavam intimamente ligados aos

exploradores portugueses. A intenção tinha um caráter nobre, mas sua prática

estava comprometida com a manutenção do “status quo” dominante,

“o ensino jesuítico, se, de um lado, no nível elementar era democrático, humano e universalizado, uma vez que se dirigiam aos índios, mamelucos e brasileiros, porque visava salvar-lhes a alma, de outro lado, já no nível médio começava a se tornar aristocrático, de uma elite endinheirada, só de alguns, só daqueles que se designavam às escolas superiores. Assim foi aparecendo o ensino superior brasileiro, cuja finalidade era formar o padre” (Tobias, 1986. p. 42).

* 2º Momento: Compreende os anos 1759 a 1930 que passa a ter um caráter

mais aristocrático. Marques de Pombal impõe no Brasil um sistema de cunho

utilitarista que visava apenas o crescimento da classe dominante. A partir deste

7 Esses momentos aqui apresentados é uma reflexão realizada pelos autores Claudino Pilleti e Nelson Pilleti, porém não está sendo usada uma citação direta, apenas a utilização da forma como foi apresentada pelos autores. 8 1759 marca o fim da presença dos jesuítas no Brasil quando Marquês de Pombal, ministro plenipotenciário do Rei D. José e representante em Portugal do despotismo esclarecido, expulsa os jesuítas do país – cerca de duzentos anos depois de sua chegada [...]. Ao deixarem a colônia já havia no Brasil 25 residências, 36 missões e 17 colégios e seminários, sem contar as escolas de ler e escrever (Vieira e Freitas, 2003. p. 36).

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momento a educação passa a ter um objetivo bem definido: capacitar pessoas

para trabalhar em favor dos interesses da metrópole e da classe elitista.

“Como se vê, o período pombalino demarca um momento importante na história da educação brasileira, quando entra em cena o poder público estatal como agente responsável pela definição de rumos nesse campo” (Vieira e Freitas, 2003 p.37).

Com a vinda da família real para o Brasil em 1808, a educação é

realizada para formar as elites e os militares governamentais. Passa a ser

exclusivamente imperial, ou seja, a educação fica reduzida a um grupo e uma

classe privilegiada, dominante e exclusivista. É claro que não se tinha neste

período uma visão do Brasil como nação, por isso, o incentivo educacional fica

reduzido as Capitanias do Rio de Janeiro e da Bahia.

Em virtude das necessidades mais urgentes são criados, a princípio,

cursos ligados à defesa militar e à saúde: A Academia Real da Marinha (1808), a

Academia Real Militar (1810), os cursos de cirurgia na Bahia e no Rio de

Janeiro e o curso de anatomia, também no Rio. Logo em seguida, organiza-se o

curso de medicina. “Tais cursos têm por finalidade formarem médicos e

cirurgiões para a Marinha e para o Exército” (Viera e Freitas, 2003 p. 43-44).

Após a Independência do Brasil, começam as idéias educacionais

gestadas no contexto da realidade brasileira. A Constituição outorgada de 1824

já começa a sinalizar um avanço para a educação. Vieira & Freitas (2003, p. 58),

mostra que mesmo assim a importância dada a educação é muito pequena, pois

na Constituição a educação está restrita a dois parágrafos de um único artigo, o

artigo 179:

“A inviolabilidade dos direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros (...) é garantida pela constituição do Império pela maneira seguinte: §32 - A instrução primária é gratuita a todos os cidadãos. § - Colégios

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e universidades, onde serão ensinados os elementos das ciências, belas letras e artes”.

Durante o 2º Reinado destaca-se a volta dos Jesuítas ao Brasil em 1842.

Porém o Brasil enfrentava sérios problemas com relação à falta de estrutura das

Províncias que remuneravam mal os professores o que dificultava o incentivo

profissional desta área.

Em 1889, quando o Brasil se tornou república, é que foi implantado,

condicionada pelos ideais positivista de Benjamim Constante, a separação ente

Igreja e Estado. Porém não houve significativas mudanças para a educação. Os

republicanos não se mostravam interessados em alfabetizar a população, mas

apenas aqueles a quem precisava saber assinar o nome para manter o sistema do

“voto de cabresto”.

As professoras muitas vezes eram filhas dos grandes coronéis que não

precisavam receber salários, mas alfabetizava os funcionários da fazenda e a

população local, incentivando o voto em todos os candidatos dos coronéis. Por

isso, pode perceber que:

“no final da primeira república, em matéria educacional, pouco ou nada se avançou em relação ao final do Império. Continuávamos sem um sistema nacional de educação: o Governo Federal nada fazia em termos de ensino primário, que ficava ao encargo dos reduzidos recursos do Estado” (Piletti e Pilleti, 1995, p.175).

Até 1930 é predominante a educação tradicional, particular e destinada a

um pequeno número de pessoas. O religioso é marcadamente expresso, bem

como o peso do autoritarismo do professor desse período.

* 3º Momento: Compreende os anos de 1930 a 1964, com o surgimento da

chamada Escola Nova. Pereira (1992, p. 10), afirma que este estágio é “marcado

pelo populismo governamental no país, onde métodos novos procuram centrar o

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processo na pessoa do aluno”. A partir da Constituição de 1934, o Governo

Federal começa a assumir algumas responsabilidades educacionais. Esta

Constituição estabelecia alguns pontos importantes como: a educação como

direito de todos, a obrigatoriedade da escola primária integral, a gratuidade do

ensino primário, a assistência aos estudantes carentes, e etc.

Dos anos de 1946 a 1964, houve um grande avanço da participação

popular e, consequentemente, da educação popular. Neste período foram

organizadas numerosas campanhas visando à ampliação e à melhoria do

atendimento escolar. No final da década de 50 e início da década de 60 tem-se a

grande contribuição do educador e pedagogo Paulo Freire, que vinha

acumulando grandes experiências no campo da alfabetização, tanto nas cidades

como nos campos, utilizando novos métodos, técnicas e processos de

comunicação. É a proposta de educar a partir da realidade, ou seja, a partir do

meio onde cada grupo se encontra. Contudo o trabalho de Paulo Freire e de seus

colaboradores é interrompido com o golpe militar de 1964, onde ele e tantos

outros são obrigados a deixar o Brasil e se exilar em outros países.

* 4º Momento: Compreende os anos de 1964 a 1984, pois tem sua gênese

justamente no golpe militar. Com os militares no poder o povo deixa de exercer

a sua democracia. A educação continua como alvo de interesses políticos,

exatamente condicionada a reproduzir os ideais militares, favorecer os seus

interesses e conservar o seu poder, principalmente na luta contra as idéias

comunistas.

Porém aconteceram avanços significativos neste período, principalmente

através das reformas de 1968 e de 1971. A reforma universitária ocorrida neste

período vem ao encontro das necessidades da demanda do Brasil. Já a reforma

do ensino no 1º e 2º Graus, pretende atingir um duplo objetivo, como explica

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Vieira & Ferreira (2003, p. 123): “de um lado conter a crescente demanda sobre

o ensino superior; de outro, promover a profissionalização de nível médio”.

Ao final do regime militar, a educação no Brasil estava desfigurada. Não

havia educação básica de qualidade, o que era direito de todos, afirmado na

Constituição Brasileira. Por isso pode se afirmar que durante o governo militar:

“os resultados são os que vemos em quase todas as nossas escolas: elevados índices de repetência e evasão escolar, escolas com deficiências de recursos materiais e humanos, professores pessimamente remunerados e sem motivação para trabalhar, elevadas taxas de analfabetismo” (Piletti & Pilleti, 1995, p.200).

* 5º Momento: de 1984 até hoje. Com o fim do regime militar, o Brasil inicia-se,

historicamente falando, o seu momento mais democrático. Esta democracia

também atinge a educação que passa a ter um caráter universal e de

responsabilidade do governo. Uma grande conquista foi a nova implantação da

LDB (Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), sancionada pelo

Presidente da República em 20 de dezembro de 1996, sob o nº 9394/96. E foi

também no ano de 1996 que o Congresso brasileiro promulgou uma emenda

Constitucional determinando um gasto mínimo de 15% da receita dos estados e

dos municípios destinados à educação. É certo que o país todo vivia uma séria

crise econômica, mas é certo também que a crise era muito mais política.

É diante desta realidade que se percebe porque a educação nunca foi

tratada com seriedade e responsabilidade. Desde o governo de José Sarney – o

primeiro após o regime militar – até o Governo atual do Presidente Luís Inácio

Lula da Silva, a educação ainda não foi totalmente tratada com a devida

seriedade e com o valor merecido. Os resultados que o Brasil obtém nas

avaliações internacionais sobre o desenvolvimento educacional de cada país

revela exatamente a crise pela qual estamos nos arrastando há décadas. Por isso

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que o Cláudio Moura de Castro, no seu artigo na Veja, denuncia essa triste

realidade:

“Há cada vez mais brasileiros sabendo que tiramos os últimos lugares no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), um pavor internacional de compreensão de leitura e de outras competências vitais para uma economia moderna. [...]. Vejamos uma constatação surpreendente e assustadora: o Pisa mostrou que os alunos das famílias brasileiras mais ricas entendem menos um texto escrito do que os filhos de operários da Europa e de outros países com educação séria. Portanto, não é a pobreza dos alunos ou das escolas que explica o vexame” (Castro, 2007, p16).

A prova do Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica)

realizada a cada dois anos nos alunos de 4ª e 8ª séries do Ensino Fundamental,

comprova essa dificuldade. Em 2003, a média dos alunos da 4ª série na prova de

português foi de 169,4 pontos, onde o nível considerado satisfatório seria de 200

pontos. “Os resultados mostram também que 55,4% desses estudantes não

conseguem entender textos completos e 51,6% são incapazes de resolver

questões de matemáticas adequadas para a sua idade” (Almanaque Abril Brasil

2006 p. 128).

Fica claro que o processo educativo no Brasil ainda é marcado por uma

visão utilitarista, sem uma preocupação clara com a formação integral do

educando. Seus métodos e conteúdos pouco tem contribuído para o exercício da

cidadania, entendida como a participação consciente e ativa de todos no

processo solidário de convivência e trabalho que visem ao encaminhamento de

soluções para o bem comum. Com isso, a educação como um todo fica

comprometida, tanto para a classe alta como para as classes menos favorecidas.

É claro que a classe baixa é a mais atingida, mas se tratando de

qualidade, o resultado do Pisa mostra uma grande deficiência da elite da

sociedade brasileira, advinda da rede particular, onde os ensinos fundamental e

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médio, estão voltados para a camada mais alta, criando uma dicotomia cada vez

maior, como podemos perceber:

“Infelizmente, em muitos lugares, tem se criado certa tensão entre os setores ‘engajados’ nos meios populares e aqueles que trabalham com as ‘elites’. Facilmente esses grupos se excluem, com epítetos depreciativos, numa atitude maniqueísta dicotômica. Cria-se uma atitude do ‘aut aut’ (ou ou), do preto e branco. Esquecem-se as complexidades de um processo histórico e as diversidades dos itinerários pessoais e comunitários. Com isso, dividem-se forças, que a partir de um ideal comum, poderiam unir-se” (Libânio, 1981, p.35).

Um dos caminhos já percorrido foi o da universalização do ensino,

porém agora precisa de um empenho maior na qualidade deste ensino. Não basta

quantidade, é preciso oferecer uma educação de base sólida que venha ao

encontro da necessidade de todos, principalmente, das classes menos

favorecidas. Desde a Constituição de 1988, que se retoma novamente o debate, a

reflexão e afirmação de que todos os cidadãos têm direito a uma educação básica

e de qualidade (art. 205). Mas na realidade em que vivemos, infelizmente, esse

direito ainda não acontece na íntegra. Melhoramos muito, mas ainda permanece

alguns problemas como o índice de analfabetismo, repetência e evasão escolar.

O processo educativo é marcado pelo pragmatismo sem uma

preocupação clara com a formação integral do educando. Seus métodos e

conteúdos pouco têm contribuído para o exercício da cidadania, entendida como

a participação consciente e ativa de todos no processo solidário de convivência e

trabalho que visem ao encaminhamento de soluções para o bem comum (CNBB,

2003, p 16).

O analfabetismo no Brasil apresenta algumas melhorias, mas ainda

permanece bem abaixo do esperado, pois “o Brasil está entre as sete nações

latino-americanas com taxa de analfabetismo superior a 10%, ao lado de

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Honduras, El Salvador, República Dominicana, Bolívia, Guatemala e Haiti”

(Almanaque Abril Brasil, 2006. p 131).

As análises desses problemas escolares revelam uma grande

inadequação da escola à realidade dos alunos, famílias e grupos sociais. Revela

ainda a inadequação de metodologias e padrões de avaliação que acabam, quase

sempre, discriminando os alunos mais pobres ou de minorias culturais. O grande

desafio agora se encontra na qualidade do ensino brasileiro. Educação é

qualidade. Educação sem qualidade não é educação. O acesso à educação tem

crescido muito e se tornado uma grande vitória do povo brasileiro, porém a

qualidade e a eficiência desse ensino é que está cada vez mais comprometido,

como revela os dados.

“Em cinco anos aumentou em quase 1 milhão o número de matrículas no ensino médio, e o ensino fundamental já atende 97% dos brasileiros entre 7 e 14 anos de idade, índice equivalente ao de países desenvolvidos. O número de matriculados no ensino superior aumentou em mais de 100%. A questão fundamental agora é a qualidade. A maioria dos que estudam na 4ª série não sabe ler adequadamente, há falta de profissionais em alguns setores e boa parte dos professores não possui a qualificação exigida por lei” (Almanaque Abril Brasil, 2006, p. 120).

Outro fator que pode ser percebido e que influencia diretamente na

qualidade do ensino brasileiro são o despreparo e a desvalorização dos

professores como profissionais da educação. A sobrecarga de trabalho, o baixo

salário e a falta de dignidade do qual estão submetidos, são fatores

determinantes da má qualidade do ensino público e, na maioria dos casos,

também da rede particular. Os professores por mais que se esforcem para dar o

melhor de si, trabalhar com seriedade e amor, sentem-se desmotivado diante da

dura realidade que enfrenta no dia a dia. O Brasil conta com um grande número

de professores, cerca de 2,5 milhões no ensino básico, tanto das escolas públicas

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como das particulares, porém o apoio necessário para que eles se desenvolvam e

se atualizem, é dificultado por vários empecilhos, quando não, até negado pelo

governo e pela sociedade.

Diante deste quadro é que se faz necessário a busca de uma referência

teórica que possa contribuir no sentido que oriente a educação da qual desejamos

e acreditamos ser a melhor ou que se apresenta como tal para superar as nossas

dificuldades e os problemas acima citados.

Trata-se aqui também de uma aprendizagem, que no caso representa

uma verdadeira mudança de comportamento e mesmo de padrões de julgamento.

Enquanto falamos em educação, não o fazemos apenas de uma maneira

puramente intelectual e racional, mas também moral e ética, ou de decisão e

ação, isto é, pretendemos que as pessoas, os leitores, tomem uma atitude

consciente, pessoal e atuante perante as idéias. Mas esta atitude deve

corresponder a uma opção refletida e consciente (Schmitz, 1984, p. 12).

É neste sentido que a proposta pedagógica de uma Educação

Evangélico-Libertadora possa ser vista como uma possibilidade de melhoria da

qualidade educacional do Brasil. Assumida com responsabilidade e coerência,

pode ser muito útil para superar esses velhos e novos desafios.

2.3 Uma nova proposta educativa: a educação evangélico-libertadora

Boff (2003, p. 9), parte do princípio de que “todo ponto de vista é a vista

a partir de um ponto”. E a Educação Evangélico-Libertadora surge nesse cenário

de dominação, opressão e exclusão social para gerar uma profunda e verdadeira

transformação desta realidade. É uma nova leitura e releitura da realidade

brasileira, pois “ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com

os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam” (Boff, 2003, p.

09). A realidade educacional brasileira apresentada acima, vem para corroborar

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com a importância de se adequar o referencial teórico à realidade a qual será

inserida, caso contrário, será apenas mais uma das mais variadas teorias que sai

do nada para se chegar a lugar nenhum.

“Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiências tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças os animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação. Sendo assim fica evidente que cada leitor é co-autor. Porque cada um lê e relê com os olhos que tem. Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita” (Boff, 2003, p 9-10).

Essa nova proposta educacional não pode ser uma mera reprodução dos

sistemas existentes. Ela precisa nascer da tomada de consciência das injustiças

sociais geradas pelo capitalismo especialmente a partir do pensamento e da

práxis pedagógica do Cristo histórico, do homem chamado Jesus de Nazaré.

Assumir a Educação Evangélico-Libertadora é assumir o compromisso

de educar para a justiça, para a ética, para a fraternidade e para a liberdade. E

isso implica também numa nova postura do educador, pois “nenhum mestre

educa sem saber para que educa e em que direção educa. Há um projeto de

homem encerrado em todo o projeto educativo; e este projeto vale ou não,

segundo construa ou destrua o educando9” (CELAM, 1993, p. 129). Neste

mesmo sentido, Paulo Freire dá um enfoque especial no compromisso do

educador e da educadora em fazer da práxis pedagógica uma opção consciente,

quando afirma:

9 O texto citado acima é da conclusão da IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano que se reuniram na cidade de Santo Domingo, capital da República Dominicana, em 1992, ano da celebração do descobrimento dos 500 anos da descoberta do Continente americano. Por isso esse documento é popularmente conhecido como “Documento de Santo Domingo”, onde a Igreja Católica na América Latina reafirma sua “opção preferencial pelos pobres”.

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não posso ser professor se não percebo cada vez melhor que, por não poder ser neutra, minha prática exige de mim uma definição. Uma tomada de posição. Decisão. Ruptura. Exige de mim escolha entre isto e aquilo. “Não posso ser professor a favor de quem quer que seja e a favor de não importa o quê. Não posso ser professor a favor simplesmente do Homem ou da Humanidade, frase de uma vaguidade demasiado contrastante com a concretude da prática educativa” (Freire, 2007, p102).

Por isso, ao assumir essa educação pressupõe um projeto consciente e a

coragem de reestruturação da Instituição de Ensino. Isto se fundamenta numa

visão cristã da realidade, ou seja, ver e interpretar o mundo com os olhos de

Jesus, a partir da sua compreensão de mundo, sociedade e pessoa humana. É

uma educação que busca ser humanizadora e personificadora. O centro do

processo é o ser humano. É a educação que gesta a libertação que vai se

realizando na história e abrange as diversas dimensões da existência humana.

É claro que ao propor a Educação Evangélico-Libertadora como um

caminho transformador do processo educacional no Brasil, parte-se de um ponto

de vista baseado na pessoa do Cristo histórico.

Ao se falar de uma Educação Evangélico-Libertadora um dos desafios

que saltam aos nossos olhos é o rompimento da visão puramente eclesial de

educação. Não se trata de uma visão de educação reproduzida pelas escolas

confessionais de ontem e, de um certo modo, também de hoje.

A Educação Evangélico-Libertadora é uma proposta da Igreja Católica,

mas que não se apega ao passado e nem a metodologia excludente do período

colonial, imperial e republicano, no qual por séculos, dominou a educação no

Brasil. A própria Igreja Católica reconhece as suas limitações e os seus erros no

passado quando afirma:

Não foi fácil, em primeiro lugar, para a Igreja, romper com uma certa auto-suficiência institucional que orientava com certa unilateralidade a

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sua percepção do quadro educacional brasileiro. Levava também um relativo fechamento ante as possibilidades de uma honesta cooperação e diálogo com outras forças sociais e religiosas atuantes na defesa da educação e na democratização do ensino. Nesse contexto, preocupada com o possível monopólio escolar pelo Estado, não foi fácil a Igreja reconhecer a importância histórica da defesa de uma escola da rede oficial de boa qualidade e da ação do Estado nesse campo, salvaguardados os direitos legítimos da pessoa, da família e das organizações intermediárias. Há que confessar, especialmente, a demora em captar as aspirações educativas das classes sociais marginalizadas pelo nosso processo histórico. Em um país que saía do regime oficial da escravidão, exatamente quando a Igreja compreendia seu maior esforço na área da educação formal, essa não se abriu suficientemente para as necessidades desse imenso contingente da população brasileira até hoje, não sem culpa nossa, excluído do acesso a educação e consequentemente à participação na vida social e política do país. Apesar dos esforços e das boas intenções, as escolas da Igreja não conseguiram, no geral, formar em seus alunos uma consciência crítica em função da construção mais justa da nossa sociedade. (CNBB, 2003, p.26).

Isso ocorreu porque se apegaram ao tradicionalismo e esqueceram de

agir de modo revolucionário e transformador como fez o Jesus de Nazaré.

A opção pela Educação Evangélico-Libertadora é a opção pela educação

da grande massa marginalizada e excluída da sociedade; é a opção pelo mais

fraco, pelo indefeso que não tem voz e nem vez.

Para entender o significado e o objetivo do que é uma Educação

Evangélico-Libertadora, faz-se necessário entendê-la na sua radicalidade, no

sentido de cada conceito que a define como Educação Evangélico-Libertadora.

Por isso, torna-se pertinente analisar o que se entende por “Evangélico” e o que

se entende por “Libertação”, dentro dessa nova metodologia educacional.

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2.3.1 O que se entende por Educação Evangélica?

A Educação Evangélico-Libertadora é uma proposta que brotou dos

estudos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil sobre a educação. Porém,

a proposta deste trabalho é analisar os fundamentos e os pressupostos desta nova

teoria educacional dentro do contexto brasileiro, não referindo única e

exclusivamente as escolas católicas presentes em nosso país.

Quando se fala de Educação Evangélica não se está referindo a nenhuma

religião ou denominação religiosa como tal. A palavra evangélica vem do latim

“envangelius” que significa boa nova, boa notícia. Mas também não é este o

significado literal que se quer utilizar neste trabalho.

A definição que se quer utilizar quando se fala em Educação Evangélica

é aquela que expressa as atitudes de Jesus, narradas nos Evangelhos que são os

livros que contam à vida, as atitudes, as falas, as intenções e o modo de agir de

um jovem que nasceu na Galiléia e marcou profundamente a sociedade

ocidental, chamado Jesus, apelidado de Nazareno, Cristo ou Jesus de Nazaré. É

Ele próprio o significado. É sobre este homem e suas atitudes pedagógicas que

se estabelecem as bases da Educação Evangélico-Libertadora, pois como afirma

BOFF (1998, p. 74): “Jesus Cristo não ensinou apenas verdades. Caminhou

uma senda no qual assumiu a totalidade da vida em suas positividades e

negatividades como uma vida vivida, suportada e assumida”.

É bom salientar que esta visão de Educação Evangélico-Libertadora não

se assenta sobre o Cristo da fé, sobre o dogmatismo religioso que apresenta a

verdade revelada, não podendo ser questionada ou interpelada pelos seus

interlocutores. Não se trata de catequese. Mas de uma análise do modo de ser e

de agir do Homem de Nazaré. Se esta reflexão ficasse presa ao Cristo da fé,

corria-se o risco de gerar um certo pessimismo de achar que todas as suas

atitudes só foram possíveis devido a sua divindade, não cabendo aos homens e

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mulheres, simples mortais, aprender de sua pedagogia. Não é esta posição de

passividade que se pauta esta nova concepção educacional. É claro que uma

coisa não exclui a outra, mas o olhar aqui proposto paira mais sobre o Jesus

humano, o homem concreto e real que nasceu numa determinada cultura, que fez

parte de uma sociedade e que se comunicou, interagiu, viveu e conviveu com as

pessoas dentro de uma certa estrutura social, política, econômica, cultural e

religiosa. Por isso, “Jesus, em seu agir, em seu relacionar-se e em suas palavras,

abre-nos caminho e nos indica uma pedagogia necessária para um processo

educativo e realmente libertador” (Méier, 2006, p. 35).

A compreensão da realidade e da dignidade humana ganha uma

conotação especial quando vista a partir da humanidade de Cristo. Jesus foi tão

humano, mas tão humano que só poderia ser divino. E esta realidade fica

evidenciada quando Boff afirma:

“o que seja homem em sua radicalidade e verdadeira humanidade nós cristãos aprendemos meditando a vida humana de Jesus Cristo. Não é, portanto, da análise abstrata do que seja Deus e homem que nós entendemos quem é Jesus Homem-Deus. Mas foi convivendo, vendo imitando e decifrando Jesus que viemos conhecer a Deus e ao homem. O Deus em que por Jesus se revela é humano. E o homem que em Jesus emerge é divino” (Boff, 1972, p.195).

Jesus foi um dos homens mais influente e revolucionário que já passou

por esse planeta. “A religião com o maior número de adeptos do mundo é o

cristianismo – são quase dois bilhões de fiéis, sendo a segunda religião o

islamismo com 1,2 bilhões” (Almanaque Abril Mundo 2006 p.76). Ainda hoje

1/3 da população mundial admira e aceita Jesus como símbolo de homem e de

Deus. Ser cristão significa comungar das idéias e dos valores pregados e vividos

pelo Jovem Galileu que marcou para sempre a história da humanidade e foi o

divisor de águas na compreensão de tempo no mundo ocidental. Como afirma o

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jornalista Reinaldo Azevedo, na sua matéria “Somos todos cristãos” da Revista

Veja (1988, p.66):

“Cristo é e seguirá sendo a principal referência do que reconhecemos no Ocidente como a nossa ‘cultura’, porque somos todos cristãos. Se não formos pela fé, seremos pela história; se não formos porque devotos da Revelação, seremos porque caudatários de uma revolução”.

Se a proposta é a de trilhar o caminho dessa nova leitura e releitura da

ação pedagógica dos atos de Jesus, a fonte de pesquisa não pode ser outra a não

ser os evangelhos, ou seja, a narração da vida de Jesus feita pelos quatro

evangelistas: Mateus, Marcos, Lucas e João10. Para isso, teremos como

referência a Bíblia de Jerusalém11 que vai pautar esta nova visão, este novo olhar

sobre a pedagogia de Jesus na sua missão de educar os seus discípulos.

Quando perguntamos pelo significado libertador de Jesus para o

processo de libertação em que estão inseridos os homens na América Latina, já

encaminhamos a resposta numa certa direção significativa e já estabelecemos

uma ótica pela qual iremos ler as palavras, a vida e o caminho histórico de Jesus

Cristo (Boff, 1998, p 198).

Nesta mesma linha de pensamento, Pereira, citando parte do documento

do CELAM (1992, p.15), afirma que:

“a educação libertadora deve ser entendida como um método e como conteúdo. Entendida como método, ela contem uma profunda verdade: o educando não é objeto da educação em quem o educador deposita

10 É bom salientar que Mateus escreveu seu evangelho voltado para os judeus. Já Marcos escreveu tendo como público alvo a evangelização dos romanos. Lucas, um médico e companheiro de Paulo, escreveu o seu evangelho para os gregos e João escreveu para o mundo inteiro. 11 A Bíblia de Jerusalém é a tradução que mais se aproxima do hebraico e do grego usado na época de Cristo. Além disso, ela traz comentários pertinentes das questões teologias nas suas notas de rodapés e nas introduções de cada livro bíblico. É a Bíblia mais adotada no Brasil pelos católicos quando se refere ao estudo de Teologia.

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seus conhecimentos. O Educando é o sujeito da educação. O papel do educador é ajudar a fazer emergir a personalidade do educando. Personalidade única e irrepetível, que merece o respeito das outras pessoas”.

Para que isto ocorra é preciso perceber que o caráter educacional está

centrado na pessoa de Jesus Cristo. Ele é o centro dessa concepção. Ele é o novo

paradigma de uma antropologia evangélica, onde se busca aflorar a

personalidade de cada educando, tendo o próprio agir de Cristo como o centro da

ação educativa. Daí a necessidade de se entender que Educação Evangélica não

se faz sem o caminho da Libertação. Uma exige a outra, pois “a educação

evangélica assume e completa a noção de educação libertadora, porque deve

contribuir para uma transformação do homem total” (Libânio, 1981, p.118).

Isto ficará mais claro e visível no próximo capítulo onde será abordado os

fundamentos da Educação Evangélico-Libertadora.

2.3.2 O que se entende por Educação Libertadora?

A Educação Libertadora compreende a pessoa humana a partir do seu

contexto histórico, social, político e cultural e a exigência que se faz de

liberdade. Este modo de pensar leva a uma práxis libertadora, pela qual cada um

afirma a sua alteridade, busca o bem comum, constrói o projeto de uma nova

sociedade embasada na justiça, no amor, na fraternidade e na solidariedade.

“Num pensar dialético, ação e mundo, mundo e ação, estão intimamente

solidários. Mas ação só é humana quando, mais do que um puro fazer, é um

quefazer, isto é, quando não se dicotomiza da reflexão” (Freire, 2007, p. 44).

É da própria realidade de opressão e de exclusão que surge a

necessidade de uma pedagogia libertadora, pois a “pedagogia praticada tem sido

uma constante em reproduzir o que os grandes centros têm formulado de

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exclusão e opressão” (Parron, 2002. p.27). Essa é uma triste realidade brasileira

que revela a grande distancia entre o discurso oficial e a prática.

A Educação Libertadora não é um reducionismo da pedagogia do ponto

de vista apenas do oprimido. A proposta libertadora adquire uma nova

perspectiva, onde a práxis não acontece de maneira linear dentro do sistema de

dominação, ela é a superação de tudo aquilo que se torna escravidão e opressão

ao desenvolvimento da potencialidade humana e do resgate da sua identidade:

“A práxis da libertação levará a revelação do outro enquanto outro diante do mesmo, surgindo assim a procriação de uma ordem nova, pois o projeto libertador não quer gerar uma anarquia, mas gestar fundamentos de uma estrutura onde o outro e o mesmo tenha sua identidade construída e respeitada, sendo uma sociedade inédita, em que não haverá opressor e oprimido, mas infinito misturado pela eticidade” (Parron, 2002 p. 34).

Não existe nenhuma pedagogia libertadora que não entenda o ser

humano a partir da sua totalidade e integralidade. A fragmentação e a

dicotomização do que seja verdadeiramente humano é a própria expressão da

opressão. Educar é uma ação para liberdade. É a possibilidade de potencializar

todas as capacidades e habilidades individuais que garantem a autonomia de

cada pessoa diante da vida, do outro e da sociedade. Neste sentido, Libânio

(1981 p.29), estabelece uma relação profunda entre Educação, Libertação e

Justiça quando afirma que a “Educação para a libertação exige uma concepção

evangélica pautada no que se entende por justiça, num processo fundamental de

participação e socialização dos menos favorecidos”.

A Educação para ser realmente libertadora precisa percorrer o caminho

da transformação e da mudança. Não existe verdadeira libertação se o ser

humano não for colocado como centro das atenções, não ganhar a dimensão vital

de todo o processo reflexão-ação-reflexão dentro do sistema educacional. A

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valorização do que seja humano e das suas potencialidades é o que define

qualquer pedagogia que se intitula como libertadora:

“A pedagogia do oprimido, como pedagogia humana e libertadora, terá dois momentos distintos. O primeiro em que os oprimidos vão desvelando o mundo da opressão e vão comprometendo-se na práxis, com a sua transformação; o segundo, em que, transformada a realidade opressora, esta pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em processo de permanente libertação” (Freire, 2007, p 46).

Para a Educação Evangélico-Libertadora a práxis é uma das condições

principais determinante para a liberdade. A práxis é a reflexão e ação dos

homens sobre o mundo para transformá-lo. Sem ela é quase impossível a

superação do que seja opressão. Por isso, ela exige de cada educador um

comprometimento com os valores humanos e com as atitudes de justiça, ética e

solidariedade. Existe uma pequena mas profunda diferença entre ato e atitude. A

Educação Evangélico-Libertadora não exige apenas um ato libertador, mas sim

uma atitude libertadora. O ato é sempre concreto e fechado em si mesmo. Já a

atitude é sempre aberta a todas as possibilidades da vida. Isto é que se exige de

um verdadeiro educador, uma práxis embasada numa verdadeira atitude de

libertação. Por isso podemos afirmar que práxis é atitude:

“a práxis libertadora exige, por seu lado, uma racionalidade que lhe seja adequada. Deve procurar aquelas mediações sociais e políticas que tornem eficiente o amor e a transformadora fé. Falar de libertação sem aderência contínua de práxis, de mediações, de passos táticos pode parecer abstrato. Ela tem de ser como o povo. Este não fala palavras, mas coisas; tem terra nos pés, terra nos gestos, terra na língua. Caso não se procure à práxis – e com isso uma opção pelos oprimidos – pode se falar com os mesmos signos lingüísticos, mas sem pensar e visualizar a mesma coisa” (Boff, 1998 p. 67).

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A ação sem a reflexão leva sempre a repetição. Mesmo com o ideal da

libertação em vista, se não houver a reflexão, acaba reproduzindo aquilo que se

tenta superar. Por isso, faz-se necessário para qualquer agente educacional

confrontar a pedagogia libertadora com a pedagogia que impera em nosso país:

o confronto, entre a ética pedagógica da libertação e a pedagogia vigente, tem

como finalidade construir uma superação ontológica pedagógica da dominação e

afirmar a meta-física da alteridade, que tenha na sua raiz o homem integrado e

não apenas a lógica do capital, que é basicamente utilitarista e desumana –

enxergar o produto mas não a pessoa humana (Parron, 2002 p. 64).

A Educação deveria ser por si só um ato libertador, como Jesus mesmo

afirma: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8, 32). A palavra

educação vem do latim “educere” que significa colocar para fora, deixar sair,

atualizar o que está potencializado. Nada tem a ver com agregação ou com

acúmulo de informação. É o realizar-se da maiêutica. A visão de que o aluno era

uma tábua rasa em que o educador infringia e depositava o seu conhecimento já

está ultrapassada. Porém na prática isto é mais comum do que se imagina. O

educador libertador é aquele que extrai, que atualiza e que faz surgir do aluno

todo o seu conhecimento e sua capacidade de reflexão e crítica da sua

compreensão de mundo. É a capacidade de levá-lo a uma tomada de consciência

do seu ser agente no processo de ensino-aprendizagem. Se o aluno não for o

centro do seu processo educacional significa que essa práxis não é libertadora.

E não há ninguém que tivesse uma atitude e uma postura mais

libertadora do que Jesus Cristo. É Nele que o significado de uma Educação

Evangélico-Libertadora ganha uma conotação profundamente atual para o nosso

sistema educacional brasileiro. Não temos como falar de Jesus sem falar de

liberdade, assim como não podemos falar de liberdade sem mencionar o homem

mais livre da história da humanidade. Este é o colorido e a novidade de todo o

referencial teórico da Educação Evangélico-Libertadora, onde o próprio Cristo

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faz esta provocação: “aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”

(cf. Mt 11,29). É neste sentido que Jesus se torna modelo de pedagogo para

todos os que nele aceita o desafio:

“a fé cristã ousa apresentar Jesus Cristo como aquele que exatamente rompeu o círculo vicioso ao fazer da própria opressão caminho de libertação e da própria catividade vai para o êxodo definitivo da condição humana. Enquanto Servo Sofredor ele é crido e anunciado como libertador. Enquanto fraco e sem poder ele é proclamado Senhor de todo o cosmos” (Boff, 1998, p.199.).

Na busca e na tentativa de consolidar a Educação Evangélico-

Libertadora como uma proposta nova e atual para romper com os velhos

paradigmas educacionais, faz-se necessário aprofundar os conceitos e embasar-

se nos elementos fundamentais que compõe a Educação Evangélico-Libertadora.

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3 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DA TEORIA DA EDUCAÇÃO

EVANGÉLICO-LIBERTADORA

3.1 Objetivos da Educação Evangélico-Libertadora

A principal preocupação quando se analisa uma proposta educacional é a

relação do referencial teórico com a sua práxis. Não basta conhecer bem o

conteúdo a ser ensinado e os métodos pedagógicos mais apropriados. Na

educação faz-se necessário saber para que e por que se está ensinando, senão ela

acaba se esvaindo no decorrer do tempo e na sua inadequação com o mundo em

que se encontra.

Uma teoria sem práxis muitas vezes torna-se vazia. Porém a práxis sem

uma profunda reflexão da teoria não tem identidade e nem autonomia. Por isso

que a verdadeira Educação Evangélico-Libertadora exigirá de seus educadores e

educadoras uma profunda consciência da sua práxis pautada numa

fundamentação teórica. E, de modo especial, para a Educação Evangélico-

Libertadora tanto a práxis quanto o embasamento teórico tem seu ponto de

partida e de chegada na pessoa de Jesus Cristo. É preciso delinear quais são os

objetivos, as características e os elementos fundamentais que compõe o universo

da Educação Evangélico-Libertadora, para que o trabalho a que se quer chegar

não se perca no meio do caminho.

“A questão da origem e dos objetivos da educação é muito importante. Como se sabe, os objetivos nascem primariamente das características dos fins do homem. Tudo o que de alguma forma entra na vida humana, positiva ou negativamente, pode ser fonte de objetivos da educação. Sendo assim os objetivos da educação são praticamente ilimitados e indefiníveis” (Schmitz, 1984, p. 42).

Neste sentido, faz-se necessário analisar e abordar os elementos

primordiais da vida humana e do processo educativo à luz dos ensinamentos de

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Cristo Jesus, para que clareiem quais são os verdadeiros objetivos da Educação

Evangélico-Libertadora.

3.2 Características de uma Antropologia a partir de Jesus Cristo

Toda e qualquer definição educacional carrega na sua essência uma

visão de homem, sociedade e mundo. PEREIRA afirma que

“como a concepção que temos de pessoa humana é fundamental no processo educativo, se for falha esta concepção, será deturpada também a organização social, as leis serão injustas e a educação não passará de mera reprodutora do sistema” (1992, p.17).

Por isso, é preciso que a Educação Evangélico-Libertadora tenha clareza

dessas definições, apresente as suas características, revele o seu perfil e

estabeleça os fundamentos pela qual se busca criar uma nova sociedade. A

educação por ser uma ação intrinsecamente humana volta-se sempre para o

humano e para a realidade que o cerca, como aponta Paulo Freire (2007, p. 143-

144):

“O educador progressista precisa estar convencido como de suas conseqüências é o de ser o seu trabalho uma especificidade humana. [...] Nada que diga respeito ao ser humano, à possibilidade de seu aperfeiçoamento físico e moral, de sua inteligência sendo produzida e desafiada, os obstáculos a seu crescimento, o que possa fazer em favor da boniteza do mundo como de seu enfeamento, a dominação a que esteja sujeito, a liberdade por que deve lutar, nada que diga respeito aos homens e as mulheres pode passar desapercebido pelo educador progressista. Não importa com que faixa etária trabalhe o educador ou a educadora. O nosso é um trabalho realizado com gente miúda, jovem ou adulta, mas gente em permanente processo de busca”.

A Educação Evangélico-Libertadora deve partir de uma visão existencial

do ser humano e não de abstrações teóricas vazias e falsas filosofias que em

nada contribui para o processo de humanização na educação. Porém essa

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educação caminha junto com outras definições que se tem de ser humano e de

educação, como afirma a CNBB (2003, p. 33):

“A visão cristã do homem, da sociedade, da educação, certamente encontrará pontos de afinidades com outras leituras antropológico-sociais em que a pessoa humana assume um valor inquestionável e a sociedade é pensada numa linha de justiça, solidariedade e igualdade fundamental”.

A Educação Evangélico-Libertadora tem por natureza uma antropologia

evangélica, ou seja, baseada na visão de ser humano do Jesus histórico. Isto não

pode ser confundido com catequese e nem reduzido às aulas de religião. A

antropologia evangélica tem que estar presente em todo o processo educacional,

essa realidade é ressaltado por Pereira (1992, p. 17) quando afirma:

“em primeiro lugar deve ser vivida pelo educador; em seguida caracterizar o método de ensino e depois iluminar todas as relações pessoais de todas as pessoas envolvidas no processo educacional. É um prisma a partir do qual vemos o mundo e especificamente a educação”.

A pessoa humana precisa ser vista na sua totalidade e globalidade, desde

a dimensão física e social, até a dimensão espiritual, passando pelos elementos

emocionais, sentimentais, afetivos e intelectuais.

Neste momento é preciso olhar para a educação com os olhos de Cristo,

com sua interpretação de mundo e sua leitura do que seja humano. Para isso é

necessário aprofundar as características dessa antropologia cristã.

3.2.1 Dimensão da autonomia - A Pessoa Humana

Como a concepção que temos de pessoa humana é fundamental no

processo educativo, é necessário aprofundar o conceito de pessoa humana em

Jesus Cristo. A educação tem o papel de ajudá-la no desenvolvimento das suas

potencialidades, de suas qualidades e do seu ser pessoa. Por isso, a educação não

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pode fazer uma leitura do ser humano visando apenas algumas áreas de sua

existência, compartimentando-o. A visão holística do ser humano ajuda a

compreender a sua autonomia: “o respeito à autonomia e à dignidade de cada

um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos

outros” (Freire, 2007, p.59). Em Jesus Cristo, vemos que:

“o ser pessoa ganha uma dimensão toda especial de individualidade. Assumir o seu ser pessoa significa assumir a sua autonomia, a sua identidade, ser aquilo que o difere dos outros, pois o indivíduo “deve se tornar-se cada vez mais, uma pessoa, alguém consciente da sua realidade, das suas potencialidades e carências e também da possibilidade de se tornar mais e melhor” (Schmitz, 1984. p.64).

Uma das coisas que se percebe da antropologia de Jesus é que a pessoa

humana não é um ser acabado, pronto e definido. Jesus a vê na perspectiva do

vir a ser, do desenvolvimento das suas potencialidades e habilidades humanas.

Jesus é o modelo de plenitude humana que se colocou na busca da sua perfeição,

como nos afirma Boff (1998, p.192):

“Cristo Salvador nos provoca a realizarmos aquilo que Ele realizou. Só somos redimidos e satisfeitos na medida em que estamos nos empenhando da satisfação da nossa vocação humana fundamental. Ele mostrou que a busca insaciável da nossa derradeira identidade (que implica Deus) não é sem sentido (mito de Sísifo e de Prometeu): ela desemboca em algo e o homem tem a chance de ser aquilo que deve ser”.

Essa busca pela plenitude daquilo que é verdadeiramente humana não

permite contemplar a pessoa humana como um ser fragmentado. Neste mesmo

sentido, Freire (2007, p.53) ajuda esclarecer esta questão:

“Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele. Esta é a diferença profunda entre o ser condicionado e o ser

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determinado. [...] Gosto de ser gente porque, como tal, percebo afinal que a construção de minha presença no mundo, que não se faz no isolamento, isenta da influência das forças sociais, que não se compreende fora da tensão entre o que herdo geneticamente e o que herdo social, cultural e historicamente, tem muito a ver comigo mesmo”.

Jesus vê na afirmação do humano a realização plena do ser pessoa. E

essa consciência tem que estar bem clara para o educador evangélico-libertador:

“a pessoa, sendo um ser no mundo, um ser em sociedade (animal político), é

portadora de consciência utópica. Descobre-se sempre como não sendo ainda

aquilo que deve ser. O eu possível é sempre maior do que o eu atual” (Méier,

2006, p.15).

O primeiro capítulo da Bíblia mostra a criação do mundo e do ser

humano de maneira positiva e fundamental. A narração começa falando das

coisas criadas, sendo que após o relato de cada criação o autor do texto sagrado

termina afirmando que “Deus via que era bom”, como se fosse uma auto-

aprovação daquilo que ele sonhava e desejava para o mundo: “Deus disse: ‘haja

luz’ e houve luz. Deus viu que a luz era boa”. (Gn 1,3). Esta afirmação de que

Deus viu que era bom, vai perpassar cada ato criativo. Porém quando chega na

hora de criar o ser humano essa afirmação não aparece: “Deus disse: ‘façamos o

homem a nossa imagem, como nossa semelhança’ [...] Deus criou o homem à

sua imagem, a imagem de Deus ele o criou, homem e mulher ele os criou”. (Gn

1, 26-27). É notório que a afirmação de que “Deus viu que era bom” não está

contido na origem da criação humana. Mas é de propósito, pois cada coisa que

Deus criava, ele verificava que era bom para o ser humano. É a pessoa humana o

centro de toda a criação. É para ela que todas as coisas foram criadas. Sendo

assim, o homem e a mulher constituem algo de original e único no mundo. A

pessoa humana é o ápice da criação, nada tem mais valor do que ela. Por isso,

foi criada a imagem e semelhança de Deus. Na antropologia judaico-cristã

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nenhuma criatura é preenchida de mais valor e dignidade do que o próprio ser

humano.

Jesus também reafirma isso quando discute com os fariseus sobre a

importância do sábado e da lei. As leis e as tradições de seu tempo oprimiam e

desumanizavam a pessoa humana, elas estavam acima de qualquer sentimento e

valor pessoal. Para os fariseus o sábado era sagrado e não poderia se fazer

nenhuma ação, pois isso consistiria num grande pecado e numa terrível

desobediência ao sagrado. Jesus ao curar um homem no dia de sábado rompe

com qualquer tipo de reducionismo do valor da pessoa na sociedade e na

religião.

Em outro sábado, entrou ele na sinagoga e começou a ensinar. Estava ali

um homem com a mão direita atrofiada. Os escribas e os fariseus observavam-

no para ver se ele o curava no sábado. Ele, porém, percebeu os seus

pensamentos e disse ao homem da mão atrofiada: “levanta-te e fica de pé no

meio de todos”. Ele se levantou e ficou de pé. Jesus lhe disse: “eu vos pergunto

se, no sábado, é permitido fazer o bem ou o mal, salvar uma vida ou arruiná-

la”. Correndo os olhos por todos eles, disse ao homem: “estende a mão”. Ele o

fez, e a mão voltou ao estado normal (Lc 6, 6-10).

Jesus rompe com um velho paradigma religioso e quebra uma estrutura

sócio-culural que colocava o ser humano em segundo plano. Para Cristo o centro

de todo o processo educativo não pode ser outro a não ser a própria pessoa

humana. Jesus amou tanto a humanidade que, sendo Deus, dignou-se a assumir a

natureza humana (Cf. Jo 1, 14).

A práxis de Jesus sempre foi valorizar o ser humano acima de toda e

qualquer ideologia, seja ela social, política ou religiosa. Toda a teoria que não

coloca o ser humano como centro do seu processo, não pode ser libertadora e

muito menos evangélica.

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No mundo encontrado por Jesus havia absolutizações que escravizavam

o homem: absolutização da religião, da tradição e da lei. A religião não era mais

uma forma como o homem exprimia sua abertura para Deus, mas se

substantivara num mundo em si de ritos e sacrifícios. Jesus liga-se a tradição

profética (Mc 7, 6-8) e diz que mais importante do que o culto é o amor, a

justiça e a misericórdia. “Os critérios de salvação (libertação) não passam pelo

âmbito do culto, mas pelo amor ao próximo” (Boff, 1998, p. 209).

Essa realidade de se romper com as estruturas e com os tipos de poderes

que subestimam o valor da pessoa humana, torna-se um freqüente desafio à

educação. A visão cristã do homem, da sociedade e da educação faz com que a

pessoa humana assuma um valor inquestionável, onde a sociedade é pensada na

linha do resgate do valor humano.

Por isso, podemos afirmar que a pessoa humana, na visão de Jesus

Cristo, pode ser vista num plano horizontal e vertical. Por isso, a Educação

Evangélico-Libertadora tem que percorrer esse caminho de colocar o aluno

como centro pedagógico do processo de ensino-aprendizagem. Eis o grande

desafio para se dar um salto qualitativo no sistema educacional do Brasil.

3.2.2 Dimensão Relacional - O amor-opção como fundamento da pessoa

humana

Na visão antropológica de Jesus Cristo “o amor” ganha uma dimensão

essencial. É na expressão e no agir do amor que a pessoa humana vai

descobrindo a razão última da sua existência. “Na perspectiva de uma educação

libertadora cristã prevalece a opção por uma ética do respeito ao outro, do

diálogo e da fraternidade, pois o ser humano é essencialmente um ser

comunitário e o relacionamento social é um fator básico do processo educativo”

(CNBB, 2003, p.42-43). O ser humano é um ser aberto ao diálogo e as trocas de

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experiências. É nessa troca de experiência e de partilha de vida que o ser

humano vive a maior e mais profunda relação: o amor. A própria Bíblia parte

deste princípio, pois João, na sua primeira carta, dá a única definição de Deus

que existe: “Deus é amor” (1Jo. 4,8). Ora se nós somos a imagem e semelhança

de Deus e Deus é amor, significa que somos a imagem e semelhança do próprio

amor. Não a outro caminho para a realização pessoal do que a vivência do amor.

É na concretização e na experiência do dia a dia do que seja amar que a pessoa

vai se realizando e se definindo como um ser autônomo dentro do seu contexto

social.

Cristo amou tanto a humanidade que assumiu a sua natureza (Jo 1, 14).

Em Jesus o amor não é um simples sentimento, mas uma opção. A opção de vida

que Jesus fez em amar a humanidade levou-o até as últimas conseqüências, até a

morte na cruz. O amor-opção é um assumir a condição do outro. Compromisso

significa fidelidade às escolhas, às opções feitas. Esta opção por amar leva a

uma práxis que está acima do mero sentimentalismo. Por isso que novamente

Cristo rompe com a estrutura desumana da sua época afirmando que o

verdadeiro cristão não pode deixar de amar, mesmo que seja até o seu inimigo

(Cf. Lc 6, 27-35).

O amor foi e continua sendo uma das principais condições para uma

práxis de respeito, ética, fraternidade e solidariedade, independente se essas

atitudes são correspondidas ou não. Esta foi a constante práxis educacional de

Jesus, pois “seus discípulos não são educados ao fanatismo de sua doutrina,

mas ao respeito até dos inimigos e daqueles que se lhes opõem. Nunca usa da

violência para fazer vingar seus ideais. Apela e fala às consciências” (Boff,

1998, p. 212). Podemos perceber isso claramente num dos encontros que Jesus

teve com um jovem que queria segui-lo:

Um jovem aproximou-se dele perguntando: “Bom Mestre, o que farei

para herdar a vida eterna?” [...] Fitando-o, Jesus o amou e disse: “Uma só

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coisa te falta: vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no

céu. Depois vem e segue-me”. Ele, porém, contristado com essas palavras, saiu

pesaroso, pois era possuidor de muitos bens (Mc 10, 17-22).

“Fitando-o, Jesus o amou”, diz o texto acima. O amor de Jesus por esse

jovem precedeu a qualquer atitude, mostrando que o amor não pode se limitar

apenas a troca de favores e atos cordiais entre algumas pessoas que se gostam.

Antes mesmo de responder a proposta que Jesus tinha feito, esse jovem foi

amado. E sua atitude de recusa não influenciou na experiência de sentir-se

amado por Cristo.

Para vivenciar essa nova proposta de amor exige-se uma vivência do que

seja libertação. Por isso que:

“a conversão que Jesus pede e a libertação que nos conquistou são para o amor sem qualquer discriminação. Fazer do amor a norma de vida e da conduta moral é impor ao homem algo dificílimo. É mais fácil viver dentro de leis e prescrições que tudo prevêem e determinam” (Boff, 2003, p. 52).

A finalidade última do ser humano é se realizar como pessoa, porém,

isto exige um ambiente e uma atmosfera de amor. Revelado na visão

antropológica de Cristo, o amor-opção, impulsiona o ser humano para sua auto-

realização, conforme sua realidade pessoal. Assim, o educador evangélico-

libertador precisa ter um profundo amor pela sua profissão e pelos seus alunos.

Não é o amor baseado no sentimento, pois este é oscilante, inconstante e às

vezes contraditório. Deixar-se guiar pelo sentimentalismo barato e superficial

tem sido uma das características dessa sociedade pós moderna, como nos afirma

Méier (2006. p. 320).

“Ao deixar-se guiar preferencialmente pelo sentimento, o individuo pós moderno obedece à lógica múltiplas e contraditórias entre si; vagueia por trilhas perdidas e só há lugar para um pensamento débil e fragmentário: “eu, aqui e agora, digo isto”. Em lugar de um eu integrado, o que aparece é a pluralidade dionisíaca de personagens.

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Um indivíduo fragmentado, com pensamentos fragmentados, com ações desconexas. [...] Essa ideologia, no campo das relações pessoais, faz o indivíduo pós-moderno renunciar aos compromissos profundos”.

O amor-opção de Jesus não nega o sentimento, mas vai além do

sentimentalismo para se tornar uma opção, uma decisão que liberta da

mediocridade e da superficialidade e direciona aos aspectos fundamentais do ser

humano. A afetividade, o carinho e a emoção continuam sendo características

fundamentais do amor, inclusive do amor-opção pregado por Jesus, mas não fica

só nisso. Ele vai mais além. É a superação do “oba-oba”, do “fogo de palha” e

do “amor à primeira vista”, para um amor refletido, buscado, sonhado, desejado

e comprometido. O cristianismo exige, pois, um amor concreto que não significa

gostar afetivamente do outro, mas amar do mesmo modo que Jesus amou.

Pereira (1992, p.25) nos diz que,

“Cristo amou o homem todo e procurou concretamente melhorar a sua vida: não se preocupou somente com o lado espiritual mas deu pão aos famintos, água aos sedentos, saúde aos enfermos, vida aos mortos, liberdade aos oprimidos e valorização e dignidade aos marginalizados pela sociedade do seu tempo”.

Para amar precisa-se do outro, livre e diferente, com sua autonomia e

identidade de pessoa. É no relacionamento, no contato com outro, que esse

amor-opção ganha forma, conteúdo e práxis educacional. O amor educa e

liberta. O ser humano é um ser que nasceu para se relacionar consigo mesmo,

com os outros, com Deus e com o mundo que o cerca. É, portanto, um ser

dialógico. Por isso mesmo, a verdadeira educação precisa estar embasada nesta

dimensão. E isto não é questão só de conteúdo programático, é, antes de tudo,

questão de práxis pedagógica, de didáticas e de métodos. Freire (2007, p.136),

diz que “seria impossível saber-se inacabado e não se abrir ao mundo e aos

outros à procura de explicação, de respostas a múltiplas perguntas. O

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fechamento ao mundo e aos outros se torna transgressão ao impulso natural da

incompletude”.

A educação Evangélico-Libertadora busca ser, em si mesma, uma

experiência dialógica e relacional de amor. É neste amor que acontece a partilha

de vida, de conhecimento, onde cada um passa a sentir e experimentar a alegria

de viver dentro de uma sociedade livre e justa. As relações de todos os

envolvidos neste processo precisam ser marcadas pela experiência do amor que

se faz opção. Pessoa gera pessoa quando há respeito, compreensão,

entendimento e amor. É isso que a Educação Evangélico-Libertadora precisa

resgatar na realidade brasileira, essa valorização do outro, como experiência e

possibilidade de amar, na busca de se construir uma sociedade mais solidária e

fraterna.

3.2.3 Dimensão Intelectual - A Perseidade

Aqui entra em cena uma outra dimensão da antropologia de Cristo: a

perseidade. Na filosofia escolástica, perseidade é definida como “a qualidade do

que existe por sí” (Dicionário Aurélio, 1986, p.1316). Porém, Pereira (1992,

p.16), ao falar da perseidade afirma que:

“o único ser da natureza que é capaz de pensar e saber-se situado, o ser humano precisa, urgentemente, assumir a construção de sua história. Responsável por si mesmo, a pessoa humana também é responsável pelo mundo. Esta responsabilidade pela sua vida e pela sua história se enraíza na liberdade. A educação integral e libertadora precisa estar a serviço da liberdade”.

Pode-se então estabelecer uma relação entre a perseidade – qualidade do

que existe por si – com a capacidade de pensar e ter consciência de sua

existência. Diante disso, a pessoa humana pode ser vista como a única criatura

do mundo capaz de pensar e refletir sobre a sua práxis e o seu modo de vida. A

capacidade de pensar garante ao ser humano a liberdade de construir a sua

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história, de assumir as suas atitudes e de reavaliar os seus procedimentos e tomar

consciência da sua existência. A posse e o uso da razão é que o torna

responsável por si mesmo, pelo mundo e pela sociedade na qual está inserido. O

pensar é o grande fator que o distingue dos outros animais, pois “sendo racional

o homem é livre, sua liberdade o eleva acima do mero agir e existir instintivo,

daí ele se torna responsável, tendo condições de viver e conviver com os outros”

(Schmitz, 1984, p. 26).

Não existiria liberdade e nem autonomia humana se a pessoa não fosse

capaz de decidir sobre a sua própria vida, fazer suas escolhas, ser protagonista

da sua existência e tomar as suas decisões a partir de suas próprias reflexões.

Sem isso seria condenada a ser escrava do próprio instinto. Portanto, afirmar que

o ser humano é racional significa não dicotomizá-lo, pois através de sua

perseidade ele transcende a si mesmo e aos outros. Jesus agia exatamente nesta

dimensão para colocar em prática a pedagogia de Deus. Cristo libertava as

pessoas do seu mundinho, do seu fechamento intelectual para compreender a

vida a partir de um outro prisma. Jesus fazia as pessoas pensarem e refletirem

sobre a sua existência, as suas atitudes e os seus comportamentos, tanto pessoais

como sociais. Mais do que refletir, Jesus fomentava uma tomada de decisão,

sempre precedida de uma profunda reflexão. Jesus educava a partir da realidade

e para a liberdade, valorizando cada pessoa na sua individualidade, no modo

como raciocinava sobre o mundo e a sociedade que o cercava, tornando-a centro

de suas atenções. Podemos ver isso no diálogo entre Jesus e um grande líder

judeu chamado Nicodemos. As propostas e os esclarecimentos da espiritualidade

e da transcendência humana que Jesus fazia eram constantemente interpelados

pela consciência e pela “perseidade” de Nicodemos. Nicodemos não aceitou de

Jesus as verdades prontas e acabadas e Jesus não hesitou em dar razão à sua fé.

Mesmo se tratando de um conhecimento abstrato (transcendente) Jesus não

deixou de usar a razão e levar Nicodemos a perceber a importância do seu

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argumento. Jesus educou Nicodemos pela lógica da razão e pela veracidade dos

argumentos. Ganhou um grande admirador (Cf. Jo 3, 1-21).

Despertando a capacidade de pensar, a educação Evangélico-Libertadora

precisa possibilitar aos alunos a busca por razões da sua existência, a dar sentido

as suas vidas e a se questionar sobre a razão última do seu ser. Freire (2007, p.

41), abordando esta questão explica que:

“uma das tarefas mais importante da prática educativo-crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a experiência profunda do assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar. A assunção de nós mesmos não significa a exclusão dos outros. É a ‘outredade’ do “não eu”, ou do tu, que me faz assumir a radicalidade de meu eu”.

Jesus não vinha com verdades absolutas, de cima para baixo, ele sempre

levava as pessoas à reflexão, onde cada um era convidado a assumir a

responsabilidade do seu processo de ensino-aprendizagem. Os discípulos se

questionavam e questionavam a Jesus após ouvir suas parábolas e seus

ensinamentos: “seus discípulos perguntavam-lhe o que significaria tal parábola.

Ele respondeu: a vós foi dado conhecer os mistérios do Reino de Deus; aos

outros, porém, em parábolas, a fim de que vejam sem ver e ouçam sem

entender” (Lc 8, 9-10).

As parábolas eram um recurso pedagógico utilizado por Jesus, pois

quem não se abria para os questionamentos da vida, não se permitia pensar sobre

o mundo e não desenvolvia uma consciência crítica da sua realidade, não

entendia a sua mensagem. É da capacidade de pensar que Jesus refletia e fazia

refletir sobre a realidade do “ser no mundo” e da sua transcendência. Antunes

(2001, p. 23), ressalta essa necessidade para a educação no Brasil hoje: “toda

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releitura deve se constituir em um estimulo à dúvida, um desenvolvimento do

raciocínio intuitivo e dedutivo, uma exploração de caráter convergente ou

divergente”. Ensinar a pensar é o objetivo de uma educação pautada na práxis do

Jesus histórico. Pereira (1992, p.15), aponta o caminho pelo qual a Educação

Evangélico-Libertadora deverá trilhar, quando diz que:

“a educação precisa ajudar as pessoas a crescerem como tais, livres e inteligentes. Seu objetivo é a plenitude do homem. Educar é tentar fazer emergir a personalidade humana, ajudando-a a ser humana no sentido mais pleno da palavra”.

Nunca foi tão necessária para a realidade brasileira a educação para o

pensar. O pensar geralmente significa transformar. Nada é modificado ou

transformado senão vem precedido de um pensar sobre. Por isso que a Educação

Evangélico-Libertadora não pode se furtar de levar educadores e educandos a

uma reflexão profunda sobre a dimensão sóico-política e sua implicação dentro

de cada contexto e realidade cultural.

3.2.4 Dimensão ética – A práxis como ação libertadora.

A pessoa humana para ser autônoma precisa ser livre. Assim o educador

que busca ter uma práxis libertadora precisa experienciar essa liberdade nas suas

atividades docentes. Porém essa liberdade tem que levar a uma ação pautada

pela ética. Existe uma ligação entre liberdade e ética:

“Na raiz dessa responsabilidade pela qualidade de sua vida e de sua história está a liberdade do ser humano. Liberdade de escolher não tanto entre fazer isso e aquilo, mas principalmente a liberdade pessoal de agir em conformidade com sua consciência, iluminada pelos valores objetivos de uma vida humana, numa ação em que se realiza plenamente como pessoa” (CNBB, 2003, p.39).

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Na Educação Evangélico-Libertadora a dimensão ética tem o seu valor

evidenciado, pois o educador ou a educadora não pode furtar-se de agir de

acordo com a sua consciência e com os ideais em que acredita. A ética aqui é

uma dimensão em relação à opção, a decisão de agir corretamente com aquilo

que acredita, mesmo diante das contradições e dificuldades do dia-a-dia. Freire

(2007, p.56), chama a atenção para essa realidade quando afirma:

“O mundo da cultura que se alonga em um mundo da história é um mundo de liberdade, de opção, de decisão, mundo de possibilidade em que a decência pode ser negada, a liberdade ofendida e recusada. Por isso mesmo a capacitação de homens e mulheres em torno de saberes instrumentais jamais pode prescindir de sua formação ética. A radicalidade desta exigência é tal que não deveríamos necessitar sequer de insistir na formação ética do ser ao falar de sua preparação técnica e científica”.

Para o educador, o agir é sempre uma decisão consciente de ação

transformadora no mundo. Para que ela não se esvazie de significado é

necessário ter em mente sempre as massas marginalizadas da sociedade.

“A Educação Evangélico-Libertadora precisa também ter presente uma verdadeira opção ética. A partir de Jesus Cristo, a educação precisa optar pela ética da valorização do outro, do respeito, do diálogo, da fraternidade, solidariedade e justiça” (Pereira, 1992, p.17).

A ética cristã faz sua opção pelas massas marginalizadas desse novo

mundo globalizado. A ética é uma dimensão que o educador cristão precisa estar

consciente para que o seu ser no mundo não reproduza a alienação.

3.2.5 Dimensão sócio-política - Um ser no mundo

Pereira (1992, p.18) afirma que “pela sua busca do bem comum, a

educação é uma atividade eminentemente política com profundo impacto social:

ou gera transformação ou ajuda a manter o ‘status quo’ dominante”. Como

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atividade política ela é uma força de intervenção no mundo, como explica Freire

(2007, p.98):

“Outro saber de que não posso duvidar um momento se quer na minha prática educativo-críitca é o de que, como experiência especificamente humana, a educação é uma forma de intervenção no mundo. Intervenção que além do conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou aprendidos implica tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante quanto o seu desmascaramento”.

Se quer ser libertadora, a educação precisa vivenciar experiências de

liberdade, pois a pessoa como um ser no mundo, sofre as influências da

sociedade como também influencia. Justamente por estar numa determinada

sociedade, habitar uma determinada região e conviver com pessoas diferentes

que fazem com que o homem seja um ser naturalmente político. Libânio (1981,

p. 116), também se preocupa com essa realidade que não pode ser tratada com

descaso pela educação, afirmando que:

“A dimensão sócio-política é imprescindível à educação libertadora. Esta não pode ser reduzida a uma personalização do ensino, mesmo quando esta associa aspectos de individualização e socialização educativa. Exige todo um posicionamento sócio-econômico e cultural, o desenvolvimento de uma consciência crítica e de uma prática educativa e social comprometida com a transformação da sociedade”.

Negar a importância da atividade política na sociedade e na educação é

um dos mais poderosos instrumentos de alienação e de exclusão social que se

pode ter. “As instituições educativas devem ter consciência da dimensão política

de sua ação pedagógica e posicionar-se através de seus objetivos e práticas a

favor da humanização e da construção da nova sociedade” (CNBB, 2003, p.45).

Jesus foi um homem a frente do seu tempo, por isso mesmo nunca se

negou a discutir a realidade em que vivia e a propor mudanças reais e

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libertadoras. A práxis de Cristo foi uma luta no sentido de tentar romper com as

ideologias dominantes de seu tempo. Essa também tem que ser a atitude desses

novos educadores que têm Cristo como modelo de uma pedagogia libertadora e

de uma práxis consciente e crítica da realidade em que estão inseridos. Nesse

sentido, Semeraro (2004, p.58), afirma que não se pode contentar com uma

educação que não venha sanar os problemas da educação brasileira:

“uma das características comum a todos é a recusa de uma educação abstrata, elitista e alheia a um projeto de sociedade e de Estado que deveriam ser re-fundados sobre a formação política e a participação ativa das classes subjugadas”.

O educador evangélico-libertador precisa ter clara a urgência de educar

os seus alunos para o exercício pleno da sua cidadania e do seu ser político.

Precisa refletir a partir da sua própria práxis e da influência política que muitas

vezes sofre na sua profissão. Pois a educação constantemente tem sido usada

para manter os interesses políticos de uma classe elitista: “a educação concreta

do homem real está sujeita às influências das decisões políticas sobre este

mesmo homem e sua educação” (Schmitz, 1984, p.19).

Assim a Educação Evangélico-Libertadora precisa visualizar um projeto

educativo-social para cada comunidade local, fruto de um consenso sobre as

questões mais vitais para o bem da comunidade como um todo, sendo esta

atividade eminentemente política. A CNBB (2003, p.18), chama a atenção dos

educadores e educadoras para esta realidade:

“A educação frequentemente foi submetida a uma ação política imediatista e discriminatória. Falta uma política educacional coerente e democraticamente elaborada, capaz de dar mais consistência, organicidade e unidade à administração da educação nacional, que fica, às vezes, à mercê de decisões pessoais e tendências pedagógicas alheias à realidade e às culturas de nosso povo”.

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Assim a política é uma das dimensões primordiais da educação, pois

através dela se estabelece uma sociedade baseada na fraternidade, na justiça e na

solidariedade, com o intuito de se vencer a gritante desigualdade social em nosso

país e a absurda cultura da corrupção. Não existe meio de transformação social

mais eficiente e eficaz do que a própria educação. Jesus acreditava nisso e fazia

da sua práxis uma libertação e uma inserção do ser no mundo como um ato

genuinamente político.

3.2.6 Dimensão transcendental - A espiritualidade como afirmação do

humano

A Educação Evangélico-Libertadora para superar o processo de

fragmentação e dicotomização que muitas vezes domina o sistema educacional

brasileiro precisa contemplar também a dimensão transcendental do ser humano.

“O ser humano é uno e complexo, constituído de corpo e alma. Ele não tem

corpo e alma. Ele é corpo e alma. Pertence o lado trágico da nossa sociedade

ocidental ter separado corpo e alma” (Boff, 2003, p.84). Romper com esta

dualidade tem que ser um dos principais desafios da Educação Evangélico-

Libertadora. Enfatizar o material sobre o espiritual é reproduzir esta cultura

consumista e materialista que se assenta exclusivamente sobre a idolatria do

corpo. Por outro lado, valorizar o espiritual em decorrência da aniquilação do

material é fabricar uma sociedade alienada, utópica e sem consciência do seu ser

no mundo.

A liberdade é a marca de que a atividade humana é capaz de transcender

os limites de ordem material, corporal, sexual, psicológica, social, econômica e

cultual que envolve as pessoas. Capaz de se assumirem, mulher e homem são

chamados pela liberdade, a transcender todos os condicionamentos e a dar um

sentido à sua atividade e, por conseguinte, a sua vida “[...]. Pode se dizer

portanto, que é através dessa abertura que o homem transcende a si mesmo e

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descobre o Ser Supremo que dá sentido à sua existência e, ao estabelecer com

Ele uma relação vital, aprende a lhe ser fiel em todos os momentos da sua

existência e de sua atividade” (CNBB, 2003, p. 40-41).

A criação é um convite de Deus para que o ser humano se relacione com

Ele. Este impulso da pessoa humana em busca de Deus é que imprime o seu

caráter transcendental e espiritual, tão humano quanto qualquer outra realidade

humana. Deus criou o homem e mulher aberto ao relacionamento com o mundo,

com as pessoas e com o próprio Deus. Portanto, o relacionamento do Criador-

criatura (e vice-versa) deve ser livre e dialogal. Um relacionamento onde a

criatura deve dar a sua resposta. E o ser humano pode inclusive responder

negativamente ou não responder a este apelo do Criador. Essa abertura do

homem ao transcendente tem que inspirar a Educação Evangélico-Libertadora a

buscar seu modelo no Homem de Nazaré. Ele é a fonte inspiradora e a mola

propulsora deste novo e transformador jeito de educar.

A encarnação de Deus em Jesus Cristo não foi um passeio metafísico, na

qual permanecia provisoriamente e por pouco tempo. Foi uma humanização

irreconhecível a olho nu, reconhecida somente pela capacidade de fé que Ele

mesmo nos dá. Jesus de Nazaré, homem da nossa história e de nossa raça, é

aquele impossível tornado possível e real. Jesus assumiu ontologicamente a

natureza humana (Pereira, 1992, p.24).

Por isso, pode-se afirmar que a transcendência é uma dimensão de

afirmação do humano e não sua negação. Somente o humano pode se

transcender, buscar um sentido último para sua vida. Jesus é a encarnação de

Deus e o próprio processo de libertação, enquanto que o Reino pregado por ele

se coloca como afirmação do humano, como nos afirma Boff (2003, p.41):

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“Cristo se entende como libertação porque prega, presencializa e já está inaugurando o Reino de Deus. Reino de Deus é a transfiguração total, global e estrutural desta realidade, do homem e do cosmos, purificados de todos os males e repletos da realidade de Deus”.

A Educação Evangélico-Libertadora só consegue cumprir o seu objetivo

último quando adota em todos os seus seguimentos uma postura evangélica. É

uma profunda adesão ao Projeto de Jesus Cristo que sempre valorizou o impulso

transcendental do homem em direção a Deus.

O educador que assume essa missão tem que possibilitar aos alunos a se

abrirem ao transcendente não no sentido de submissão a Deus ou de negação do

seu humano, mas como atualização do seu ser espiritual, aberto ao diálogo e a

um relacionamento de amor com o Criador. A dimensão da fé é de suma

importância para a realização pessoal de qualquer indivíduo, para a vivência da

totalidade do seu ser no mundo e para compreensão da sua insaciável busca pela

superação do que seja meramente material.

Esta transcendência realizada por meio do amor faz o homem ultrapassar

o ciclo material, animal e mesmo racional, lançando-se também no mundo

espiritual. Com isso ele alcança a perfeição, porque não é mais apenas um

indivíduo de uma espécie, mas integra-se no mundo transcendente, do absoluto,

sem perder nada de suas características individuais, pessoais e sociais. Entrando

em relação direta com o mundo do ser, suas possibilidades de educação e auto-

realização se tornam limitadas. Suas limitações são constituídas pela sua

materialidade e pela imanência e contingência, mas elas são ultrapassadas pela

transcendência e pelo amor, lançando-o na esfera do absoluto e do infinito

(Schmitz, 1984, p 29).

Não se pode confundir uma educação voltada para o transcendente com

uma educação de ideologias religiosas. A religião deve ser uma escolha e uma

decisão pessoal de cada aluno que assumiu ser o sujeito do seu próprio processo

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educativo. Já a transcendência é uma dimensão universal e uma realidade

presente em toda a pessoa humana e que, por isso mesmo, precisa ser trabalhada

e desenvolvida pela Educação Evangélico-Libertadora.

Portanto, a postura crítica e a práxis libertadora do educador que assume

a proposta de Cristo é educar para uma espiritualidade livre e consciente, capaz

de realizá-lo como pessoa e de despertá-lo para as vivências dos valores da fé.

3.3 Profissão e mística: Perfil do educador evangélico-libertador

O educador que opte por trilhar por este novo modelo educacional não

pode ter outra práxis que não seja a buscada nos evangelhos – atos de Jesus – e a

comprometida com a libertação. A Educação Evangélico-Libertadora tem como

centro de todo o processo de ensino-aprendizagem o próprio aluno. Porém, para

que esse fim seja atingido na sua essência o educador evangélico-libertador tem

que assumir a missão de ser o grande agente transformador. Ele não é o centro e

nem o fim último, mas sem a sua ação o objetivo a qual se busca fica seriamente

comprometido. É o educador a mola propulsora de um movimento que visa

tornar o aluno sujeito do seu processo educativo. Sem a sua ação determinante,

consciente e crítica não tem como fazer acontecer essa realidade, por isso, ele

precisa estar ciente do seu papel e da sua função dentro da escola. Sua prática

não é e nunca foi neutra, essa consciência precisa se fazer presente em todo o

momento na vida do educador libertador. Freire (2007, p 66), chama a atenção

para essa realidade.

“O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum desses passa pelos alunos sem deixar sua marca. Daí a importância do exemplo que o professor ofereça de sua lucidez e de seu engajamento na

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peleja em defesa de seus direitos, bem como na exigência das condições para o exercício de seus deveres”.

Se a ação de qualquer educador nunca é neutra, por outro lado, isso

exigirá dele não só comprometimento, mas a preparação profissional. Esse novo

educador pautado pela orientação evangélico-libertadora não poderá se eximir

de sua qualidade, responsabilidade e preparação profissional, pois “da parte do

educador, é necessário que haja uma disposição para o estudo, um sério

compromisso com a competência e a realimentação contínua de seu

compromisso profissional” (CNBB, 2003, p. 76). Esta é uma questão séria, pois,

não raras vezes, constata-se que alguns educadores “dizem” trabalhar em suas

aulas a cidadania, a transcendência, os valores, a afetividade e etc, mas na

verdade, isso apenas é usado como desculpa para encobrir a sua falta de

formação e o seu domínio sobre o conteúdo a ser lecionado. Freire (2007, p.

142-143), experiente no seu trabalho de formação de professores constatou essa

realidade e fornece pista para superá-la.

“É preciso por outro lado, reinsistir em que não se pense que a prática educativa vivida com afetividade e alegria, prescinda da formação científica séria e da clareza política de educadores e educadoras. A prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria, capacidade científica, domínio técnico a serviço da mudança ou, lamentavelmente, da permanência do hoje”.

Por isso que esse novo educador não pode buscar outro modelo de

pedagogo e mestre senão o Cristo histórico. É em Jesus - na sua práxis e na sua

visão de mundo e sociedade - que o educador renovado vai pautar a sua ação

educacional para transformação e libertação a partir dos métodos pedagógicos de

Jesus.

Crer em Jesus como ato existencial e forma de viver é confrontar a

totalidade da vida pessoal, social, cultural e global com a realidade que Jesus

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veio nos ensinar. A fé se realiza no encontro entre a vida e seus problemas que

se deixa questionar e interrogar por Cristo e sua mensagem. Por outro lado nós

interrogamos a Cristo e vamos a ele com nossas preocupações e buscamos nele

uma resposta para a condição humana (Boff, 2003, p. 169).

Por isso que exige do educador evangélico-libertador uma profunda

mística da sua profissão de educar. A fé em Jesus é uma necessidade que se

impõe ao profissional que tem Cristo como modelo de vida e de ação

libertadora. Não se entende mística como uma alienação da realidade e do

compromisso sócio-político do educador, mas como uma experiência pessoal de

se educar a partir do amor-opção de Jesus. Essa mística apresenta-se como uma

realidade eminente do seu ser de educador e educadora que visa superar a

desesperança da sua realidade profissional no Brasil para trilhar o caminho da

mudança, da transformação e da libertação:

“Só a mística, como experiência de Deus presente no professor, consegue ultrapassar o horizonte doentio do masoquismo e transformar a ação educativa, apesar de toda sua dureza e dificuldade, em tarefas realizantes, gratificantes. A mística consegue também combinar dor com prazer, o sofrimento com alegria, a labuta com o gozo. Só quem alguma vez experimentou o imenso prazer de um dia de trabalho, de luta e sofrimento, vivido por amor, pode entender a força vitalizante da mística” (Libânio & Hengemule, 1998, p.45).

A fé e a mística mantém aceso na vida e na consciência do professor a

esperança que precisa despontar mesmo diante da crise social e política que

enfrenta essa profissão nos dias de hoje: um professor, possuído da mística da

missão, pode e deve ser um profissional na competência, mas acrescenta a ela

algo mais. “A mística quer traduzir este algo mais” (Libânio & Hengemule,

1998, p.40).

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4 CONCLUSÃO

Investir na educação significa olhar com esperança para o futuro de

nossa nação. A educação no Brasil é uma questão de urgência nacional, de

compromisso com os mais pobres e excluídos da nossa sociedade. Infelizmente

não é vista assim pelas nossas autoridades, mas isso não faz perder a questão

emergencial. Neste trabalho vimos que a qualidade da educação poderá ser

melhorada através de uma práxis libertadora e de uma formação que privilegie a

igualdade, o respeito, a solidariedade e a justiça social, sem, contudo, deixar de

lado a competência do ensino disciplinar.

Neste sentido, dois aspectos precisam ser ressaltados: visar a educação e

a formação integral do ser humano e gestar em cada aluno a esperança de um

mundo melhor. A transformação social é um desafio que se faz presente na

realidade educacional do Brasil.

Somente quando a educação propicia uma libertação interior e um

desenvolvimento integral da pessoa humana, é que o aluno tem condição de

tornar-se responsável e sujeito do seu próprio conhecimento. Daí a proposta da

educação trabalhar a formação da pessoa humana na sua totalidade e

globalidade.

O valor de uma educação pautada na pessoa de Jesus de Nazaré é que

sua implicação pedagógica consiste em educar na liberdade, por meio da

liberdade e para a liberdade. Foi Jesus mesmo quem disse “conhecereis a

verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8, 32). O Cristo que educa para liberdade

nos ensina, ainda hoje, que a pessoa humana só é capaz de assumir a sua

identidade e ser sujeito da sua própria história pessoal, quando ela fizer a

experiência do verdadeiro amor que é libertação. Esse amor que se transforma

em opção, que se faz esperança e que por isso não desiste nunca de acreditar que

é possível fazer a diferença.

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Quando se assume a proposta de uma Educação Evangélico-Libertadora

se assume também o compromisso de educar para a uma transformação pessoal

e social. O humano passa a ser valorizado e respeitado acima de qualquer outro

aspecto educacional. O encontro de Jesus com as pessoas sempre foram

respaldadas em ações transformadoras e libertadoras. Jesus despertava a

confiança das pessoas no seu modo de ser e de pensar sobre o mundo em que

viviam.

É claro que se torna impossível – dentro do contexto aqui refletido - à

práxis da pedagogia de Cristo sem a vivência dos valores pessoais que Ele

primeiro experimentou na sua própria vida. O exemplo foi uma das marcas mais

fortes e mais impactante de sua estratégia educacional. O educador de hoje

também tem que assumir esse compromisso de educar a partir do exemplo, do

testemunho pessoal de justiça, serenidade, solidariedade e cidadania. É a

educação humanizadora e personificadora. É a educação que estabelece o aluno

como sujeito de sua própria identidade e que vai trilhando o caminho da

consciência social ao longo da história, nas mais diversas dimensões da

existência humana.

A Educação Evangélico-Libertadora tem como ponto de partida e de

chegada a própria pessoa de Jesus Cristo. Ele é o referencial teórico e o

referencial prático desta ação, baseada na pedagogia de Deus na pessoa de

Cristo.

Ao analisar o conteúdo deste trabalho, é possível perceber que a

Educação Evangélico-Libertadora pode representar uma proposta de educação

que venha a contribuir para a transformação da nossa realidade brasileira.

Porém, não é fácil educar como Jesus educou. Não dá para educar sem uma

profunda reflexão da práxis vigente de cada educador. Essa tem que ser uma

atividade constante, senão acaba reproduzindo o que tanto se condena.

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Jesus foi capaz de influenciar de tal modo à vida das pessoas que muitos

aceitaram morrer em defesa do seu nome. O Cristo histórico, o Homem de

Nazaré não foi uma invenção humana e nem um herói criado a partir de

interesses de grupos dominantes. Ele foi alguém que amou o que fazia e que

despertava nas pessoas a busca pela sua autonomia e auto-estima que as faziam

acreditar em si mesmas.

Precisamos compreender mais a pessoa de Cristo como Mestre e

educador por excelência. Mesmo que para isso tenhamos que nos libertar de

falsas ideologias ou do reducionismo religioso que prega um Jesus fora da

realidade do nosso tempo. Jesus ainda tem muito o que dizer e ensinar ao

homem e a mulher dos tempos de hoje. Suas atitudes e suas ações despertam

interesses e respondem algumas das maiores indagações existenciais que cada

um traz dentro de si.

Através da experiência de educador é possível perceber que a práxis

educacional de Jesus é mais necessária do que nunca, tanto para os alunos,

quanto para todo o corpo docente da escola. Jesus precisa ser visto como

pedagogo e não somente como uma ideologia que precisa ser pregada para atrair

adeptos religiosos. Sua ação jamais foi neutra, porque Jesus sabia da

responsabilidade e do compromisso assumido com a humanidade. É a vivência

daquilo que é humano que desperta o fascínio neste “Homem” que com ternura e

com vigor, mudou a história da humanidade.

Ser um educador cristão não é fácil e nunca será, mas dá sentido e traz

desafios à arte de ensinar e aprender. Ser professor sem propor desafios é roubar

dos alunos o interesse pela vida e pela busca do conhecimento.

Como proposta educacional, percebe-se que esse trabalho é o início de

um longo processo de reflexão, onde será preciso aprofundar o seu conteúdo e

abordar outras questões que não foram levantadas nesta pesquisa. Este é o

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desafio que se apresenta diante de cada pessoa que vê na Educação Evangélico-

Libertadora uma possibilidade de atuação pedagógica em sala de aula.

Entende-se que na Educação Evangélico-Libertadora o pensar e o agir

libertador se dá de forma simples e concreta na sala de aula, onde o professor é o

mediador entre o aluno e objeto de estudo, dando a ele a oportunidade de se

posicionar e a liberdade de construir o seu próprio processo educacional, sem ter

que reproduzir o conhecimento e o jeito de pensar do professor em si. É algo

extremamente motivador quando o professor possibilitar o próprio pensar do

aluno e este o faz buscando responder as indagações que vem do seu próprio ato

de pensar sobre um determinado conteúdo.

Ao terminar este trabalho tenho no coração e na alma a convicção de

que uma Educação Evangélico-Libertadora pode proporcionar um novo jeito de

educar. Por isso, neste momento, sinto a mesma experiência de Jeremias, o

profeta mais jovem do Antigo Testamento: “seduziste-me Senhor; e eu me deixei

seduzir!!!” (Jr 20, 7).

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