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COMO UM REMÉDIO DA DIABETES PODE COMBATER A MALÁRIA INVESTIGAÇÃO PÁGS. 12 E 13

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Page 1: Press Review page - ULisboa · Essa provavelmente poderia ser uma fórmula vencedora", consi- dera, ressalvando estarmos "só ainda na hipótese teórica". O cer-to é que a equipa

COMO UM REMÉDIO

DA DIABETES

PODE COMBATER

A MALÁRIA

INVESTIGAÇÃO

PÁGS. 12 E 13

Page 2: Press Review page - ULisboa · Essa provavelmente poderia ser uma fórmula vencedora", consi- dera, ressalvando estarmos "só ainda na hipótese teórica". O cer-to é que a equipa

COMO UMREMÉDIO DADIABETES PODECOMBATERA MALÁRIAInvestigação e inovação em Portugal. . . MaláriaEquipa de Maria Mota, no Instituto de Medicina Molecular, descobriu"interruptor" que dita virulência do parasita. E fármaco que o afeta

> Testes Equipa de bolseiros e

alunos recém-licenciados tra-balha para conseguir descobriras fragilidades do parasita queprovoca a doença. De forma a

poder combatê-lo

TextoPEDRO SOUSA TAVARESFotosSARA MATOS/GLOBAL IMAGENS

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O combate ao Plasmodium, para-sita causador da malária, é um dos

principais desafios do planeta emtermos de saúde pública. Apesardos progressos alcançados nestemilénio, com quebras significativasno número de casos e de mortes, o

balanço desta doença continua aser assustador: em 2012, mais de200 milhões pessoas tinham a

doença e cerca de 627 mil morre-ram. Sobretudo naÁfrica subsaria-na e no Sul daÁsia e entre as crian-ças com menos de 5 anos. Nãoexiste outro ser vivo no planeta- à

exceção do próprio ser humano -tão eficaz a matar a nossa espécie.

Para alguns, a guerra contra esteminúsculo inimigo, transmitidopor mosquitos, tem de ser comba-tida sem quartel e até às últimasconsequências. É o caso da Funda-ção Bill & Melinda Gates, que já as-sumiu compromissos da ordemdos dois mil milhões de euros parao combate direto à doença, acres-cidos de cerca de 1,5 mil milhõespara a luta combinada contra oHIV tuberculose e malária.

O multimilionário casal de nor-te-americanos, donos da Micro-soft, - responsável por cerca de50% de todo o investimento nestaárea-, só aceita um desfecho: ummundo livre da malária.

Mas também há quem tenhadúvidas de que uma doença espa-lhada por cerca de cem países, quetem relevado grande resiliênciaapós décadas de combate, possasimplesmente ser erradicada daface da terra. Maria Mota, direto -

ra-executivado Instituto de Medi-cina Molecular (IMM) e uma dasmaiores especialistas mundiaisnesta doença, está entre os cientis-tas que acreditam que as hipótesesde sucesso estão mais em tentardominar o parasita do que em con-seguir exterminá-10.

No laboratório que lidera, naFaculdade de Medicina da Uni-versidade de Lisboa, investigado-res portugueses e estrangeiros,alunos recém-licenciados e bol-seiros de pós-doutoramento, tra-balham unidos pelo objetivo deprocurar fragilidades no Plasmo-dium que possam ser utilizadaspara o enfraquecer e controlar.

"Tudo o que trabalhamos aquié só malária e o nosso objetivonunca foi desenhar uma vacina ouum fármaco contra a malária, por-que o nosso projeto não é nes-se sentido", explica Maria Mota."O nosso objetivo é, no fundo, per-ceber melhor o inimigo, com-preendê-lo melhor."

Afrase poderia ser uma citaçãode A Arte da Guerra, de Sun Tzu, ea investigadora não tem proble-mas em assumir a analogia mili-tar. "Se temos um exército quequeremos atacar, se o entender-mos, o ataque pode ser feito deforma mais funcional".

No caso concreto, explica, "o ob-

jetivo é compreender como é queo parasita da malária vive dentrode nós, e como é que vive tão bem,o que é que ele usa de nós - porqueé um parasita. Se percebermos o

que é que lhe fornecemos, sim-plesmente podemos tratar isso".

A dieta e o remédio da diabetesMaria Mota não fala em abstrato.Muitas das descobertas que a suaequipa tem feito ao longo dos anosbaseiam-se nesta abordagem.E uma das mais recentes, ainda emfase de investigação, poderá contera chave para que a doença venha fi-nalmente a ser dominada.

"Compreendemos que um pa-rasita como a malária tem a capa-cidade de perceber o seu ambien-te, nomeadamente o estado dohospedeiro", conta.

Os diferentes regimes alimenta-res das populações afetadas e a for-ma como estes se relacionam coma intensidade dos casos de maláriasão um dos principais focos da in-vestigação. "Ele [parasita] adaptaa sua replicação e a sua virulênciade acordo com o que o hospedeirocome", conta.

Esta é uma conclusão que temmotivado alguma polémica. "Re-cebi um e-mail de uma pessoa adizer: como é que é possível estar

apropor que as pessoas emÁfricapassem fome", conta a investiga-dora. "Obviamente" não é isso

que pretendem os investigadores."O objetivo é perceber qual é o in-terruptor que permite que o para-sitapasseareplicar-semenos", ex-plica. "Se o manipularmos, conse-

guimos fazer que o parasita sejamenos virulento e passe a ser maisatenuado".Unir remédios para ter sucessoAssociada a esta descoberta estáoutra, que deu origem a um proje-to de investigação autónomo, inti-tulado "Reuse4malaria", que foi re-centemente apoiado com uma bol-sa avançada do Conselho Europeude Investigação. A equipa de MariaMota já descobriu uma forma de in-terferir com esse interruptor. E a

boa notícia é que os meios para o fa-zer já existem, em larga escala. "Omais engraçado é que este inter-ruptor ou esta molécula no parasi-ta- chamemos-lhe assim- é afeta-da por uma droga que já é utilizadapara a diabetes, que é a metformi-na." O objetivo do projeto de inves-

tigação não é usar este fármacopara eliminar a malária e sim des-cobrir a melhor forma de o utilizarde modo a que o parasita "se repli-que menos" e que, "provavelmenteassociado a outras terapias, acabe

por matá-lo mais rapidamente".Aideia de não matar diretamen-

te o parasita poderá não ser tão po-pular como outras abordagensmais radicais. Mas, do ponto de vis-ta da investigadora, tem melhoreshipóteses de sucesso: "O parasitaprovavelmente nem vai criar resis-

tência, não vai por ali para tentar'fugir' a isto. Simplesmente vai sen-tir que está num ambiente diferen-te e vai viver de uma forma diferen-te, o que para nós é mais agradável."

No entanto, a expectativa é queesta abordagem, combinada comoutras terapias, possa mesmo serum passo decisivo para eliminar adoença. "No fundo, vamos precisardas várias ferramentas que esta-mos a desenvolver", diz Maria Motaao DN. Se para a Fundação Gates o

objetivo é encontrar a.magicbulletque extermine o parasita de umavez, no laboratório do Instituto deMedicina Molecular procura-seum ataque em várias frentes.

"Sabemos que este fármacoem si não vai matar o parasita. Te-rão de ser dadas combinações.Este fármaco com outros que ma-tem o parasita", assume. "Estebaixa o número, não cria resis-tência e temos outro a seguir.

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Essa provavelmente poderia seruma fórmula vencedora", consi-dera, ressalvando estarmos "sóainda na hipótese teórica". O cer-to é que a equipa de Maria Motajá está a testar combinações, nal-guns casos utilizando fármacosda mesma linha do que combatea diabetes e, noutros, recorrendoa medicamentos já existentes nomercado para combater a doen-ça. O desafio é encontrar "a com-binação perfeita".

Equipa de MariaMota está a testarcombinações demedicamentos paratentar encontrar"a combinaçãoperfeita" na lutacontra a doença

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A investigadora

Naturalde Vila Nova de

Gaia, Maria Mota é, aos46 anos, uma das refe-

rências mundiais no estudo damalária. A sua carreira científica

já lhe valeu, por exemplo, umacomenda da ordem do InfanteD. Henrique, que lhe foi atribuí-da quando tinha apenas 34anos e, mais recentemente, em2013,0 Prémio Pessoa. Foi amais jovem vencedora dahistó-ria deste galardão. Licenciadaem Biologia, em 1992, cedo as-sumiu o objetivo de fazer "bio-logia de microscópio" - talcomo a definiu numa entrevistaao jornal i, em 2013. E com umaformação dividida entre Portu-gal e o estrangeiro rapidamenteatingiu esse objetivo. Em 1994concluiu o mestrado em imu-nologia e, dois anos depois, aos25 anos, doutorou-se empara-sitologia molecular.É há vários anos investigadoraprincipal na Unidade de Malá-ria do Instituto de Medicina Mo-lecular, da Faculdade de Medi-cina da Universidade de Lisboa.Àforça da notoriedade que temalcançado, o espaço que lidera émuitas vezes referido - tanto nauniversidade como fora dela- ,

por "Laboratório Maria Mota",mas faz sempre questão de usaro "nós" quando refere o que estáa ser feito. A sua equipa combi-na investigadores e alunos aconcluírem a formação ao níveldo mestrado e do doutoramen-to, portugueses e estrangeiros,"residentes" e cientistas ligadosa outras instituições.

> Líder > Maria Manuel Dias da Mota usa sempre o "nós" quan-do se refere ao trabalho feito na Unidade de Malária do

Instituto de Medicina Molecular. Mas o seu trabaLho, peLo qualjá foi várias vezes premiada, faz dela uma referência mundial

Conhecendo o inimigo

Umenxame de pequenos

mosquitos fervilha den-tro do pequeno cubo

que a investigadora Ana segurana mão. São Anophelesstephensi- o principal vetor damalária nas áreas urbanas naíndia- e, mesmo depois de sa-bermos que se trata de inofen-sivos machos, que não picam,a visão mete respeito. Na reali-dade, mesmo se as fêmeas nãotivessem já sido separadas, es-taríamos sempre seguros. Os

mosquitos que transmitem amalária que contagia o ser hu-mano são mantidos em gran-des condições de segurança.Aqueles só constituem umaameaça para os ratos brancosutilizados nos testes das tera-

pias contra a doença. O cuida-do nunca é pouco. É por isso

que todo o trabalho feito comos parasitas acontece em am-biente estéril. Um dos equipa-mentos indispensáveis, paraproteger as amostras de "inva-sores" externos, como as bac-térias, é uma câmara de fluxolaminar, protegida do exteriorporumaondadevento cons-tante num sentido. Fialho, téc-nico responsável pelo equipa-mento, retira cuidadosamenteuma amostra de tecido hepáti-co humano, que mostra para acâmara. É na fase hepática dadoença que os testes realizadoscom o medicamento para adiabetes tem obtido resultadosmais interessantes.