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Bruno Mortara NORMALIZAÇÃO C hegamos quase à metade de 2008 e o ONS 27 tem muito a esperar desse segundo semestre. Se por um lado em 2007 o número de novas normas publicadas diminuiu em rela- ção ao ano anterior, por outro as que fo- ram publicadas (e as que estão em fase final de preparação) são de extrema im- portância para a indústria gráfica. En- tão por que a expectativa com relação aos próximos meses? Além de estarmos comemorando os 200 anos da indústria gráfica no Brasil e isso é motivo não só de celebração, mas também de reflexões sobre o papel dos livros, jornais e revistas na consti- tuição de uma sociedade e sua cultura , o ONS 27 e a ABTG estão intensifican- do a divulgação das normas gráficas, em especial da norma do processo gráfico, a família NBR ISO 12647. É, sem dúvida, um passo importante e demonstração de maturidade quando uma indústria de 200 anos decide adotar regras ou normas que contribuem para a redução do desperdício, a especifica- ção das matérias-primas, a padroniza- ção de seus equipamentos e produtos, a capacitação dos seus trabalhadores. Isso, como outros setores da indústria sabem há muito, gera mais qualidade, produ- tividade, segurança, eficiência e renta- bilidade. A adoção de normas técnicas pela indústria gráfica é o que confere van- tagem competitiva a muitas indústrias nos Estados Unidos e na Europa e certa- mente será assim também aqui no Bra- sil. Sempre que adotamos procedimentos registrados e testados deixamos de ser artesãos e nos tornamos industriais. Falando dessa passagem de artes grá- ficas para indústria gráfica, a maior re- sistência que ainda temos no Brasil é a falta de investimento em treinamento e capacitação dos profissionais gráficos e a bai xa adoção de procedimentos de boas práticas, também chamados de Normas Técnicas. A falta de treinamento pode ser creditada a uma visão ainda em voga no setor de que investir em um determinado equipamento gráfico extremamente caro (valioso) é bom, enquanto gastar com trei- namento que não seja algo rápido, barato e pontual, é dispendioso. Ora, já se sabe que o conhecimento disseminado é aqui- lo que faz muitas empresas se destacarem no mercado, sendo mais competitivas e lucrativas. Além disso, as indústrias grá- ficas estão fazendo o que outros ramos da indústria (a automobilística, por exem- plo) fizeram logo após a 2 ª Grande Guer- ra Mundial, isto é, a utilização de boas práticas nas atividades produtivas. As boas práticas são o registro das me- lhores maneiras de se executar um deter- minado produto ou serviço. A documen- tação desses procedimentos muitas vezes extrapola os muros de seus criadores e acaba por tornar-se uma especificação 44 TECNOLOGIA GRÁFICA TG61 - Normalizacao v3.indd 44 4/13/10 10:13:03 AM

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Bruno Mortara

NORMALIZAÇÃO

C hegamos quase à metade de 2008 e o ONS 27 tem mui to a esperar desse segundo semestre. Se por

um lado em 2007 o número de novas normas publicadas di mi nuiu em rela-ção ao ano an te rior, por ou tro as que fo-ram publicadas (e as que estão em fase final de preparação) são de extrema im-portância para a indústria gráfica. En-tão por que a expectativa com relação aos próximos meses?

Além de estarmos comemorando os 200 anos da indústria gráfica no Brasil — e isso é motivo não só de celebração, mas também de reflexões sobre o papel dos livros, jor nais e revistas na cons ti-tui ção de uma so cie da de e sua cultura —, o ONS 27 e a ABTG estão intensifican-do a divulgação das normas gráficas, em es pe cial da norma do processo gráfico, a família NBR ISO 12647.

É, sem dúvida, um passo importante e demonstração de maturidade quando

uma indústria de 200 anos decide adotar regras ou normas que con tri buem para a redução do desperdício, a especifica-ção das ma té rias-primas, a padroniza-ção de seus equipamentos e produtos, a capacitação dos seus trabalhadores. Isso, como ou tros setores da indústria sabem há mui to, gera mais qualidade, produ-tividade, segurança, efi ciên cia e renta-bilidade. A adoção de normas técnicas pela indústria gráfica é o que confere van-tagem competitiva a mui tas in dús trias nos Estados Unidos e na Europa e certa-mente será assim também aqui no Bra-sil. Sempre que adotamos procedimentos registrados e testados dei xa mos de ser artesãos e nos tornamos in dus triais.

Falando dessa passagem de artes grá-ficas para indústria gráfica, a maior re-sistência que ain da temos no Brasil é a falta de investimento em trei na men to e capacitação dos pro fis sio nais gráficos e a bai xa adoção de procedimentos de boas

práticas, também chamados de Normas Técnicas. A falta de trei na men to pode ser creditada a uma visão ain da em voga no setor de que investir em um determinado equipamento gráfico extremamente caro (va lio so) é bom, enquanto gastar com trei-na men to que não seja algo rápido, barato e pon tual, é dis pen dio so. Ora, já se sabe que o conhecimento disseminado é aqui-lo que faz mui tas empresas se destacarem no mercado, sendo mais competitivas e lucrativas. Além disso, as in dús trias grá-ficas estão fazendo o que ou tros ramos da indústria (a au to mo bi lís ti ca, por exem-plo) fizeram logo após a 2‒ª Grande Guer-ra Mun dial, isto é, a utilização de boas práticas nas atividades produtivas.

As boas práticas são o registro das me-lhores ma nei ras de se executar um deter-minado produto ou serviço. A documen-tação desses procedimentos mui tas vezes extrapola os muros de seus cria do res e acaba por tornar-se uma especificação

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da indústria. Alguns exemplos de es-pecificação da indústria são o formato JPEG (aquele utilizado pelas câmeras di gi tais para salvar as imagens fotogra-fadas) e a tomada USB (aquela porta do micro na qual conectamos o pen drive) e tantas ou tras.

Quan do uma especificação é adota-da amplamente, dizemos que ela se tor-na uma norma de fato. Isso não signifi-ca que o detentor dos di rei tos daquela especificação não possa plei tear ro yal-ties ou valores se esta for utilizada in-devidamente. Pelo contrário. De certa ma nei ra, todos pagamos um pouquinho quando utilizamos tec no lo gias produzi-das por empresas que compraram di rei-tos de utilização de uma certa especifi-cação. Podemos pensar no ingresso do cinema: daqueles R$ 16,00, alguns centa-vos irão para os cofres da empresa que de-tém os di rei tos sobre a tecnologia Dolby, um efei to sonoro utilizado freqüentemente no cinema e em áu dio.

São mui tas as boas práticas da indús-tria gráfica que se tornaram especifica-ção e, entre elas, podemos citar as tarjas de controle (UGRA/Fogra) para grava-ção de chapas e Cromalins; as especifi-cações norte-americanas SWOP, SNAP e GRACoL e a especificação eu ro péia Es-cala Europa. Mui tas dessas especifica-ções tentaram ajudar a indústria a obter consistência e repetibilidade, o princi-pal problema de produção da indústria gráfica. Para comprovarmos isso é mui-to fácil: basta levar um arquivo fechado em PDF para ser impresso em três gráfi-cas diferentes e com certeza teremos três impressos com resultados vi suais e es-pec trais diversos. O mesmo pode acon-tecer quando repetimos um determinado trabalho, com certo intervalo de tempo, numa mesma gráfica!

Onde foi que as especificações falha-ram? E por que falharam? Bem, uma das razões é que as especificações mui tas vezes estavam atreladas a um fabrican-te, não eram uni ver sais e nem de domí-

nio público. Além disso, há pou co tempo dispomos de tecnologia e recursos para segura aferição e controle de processos de pré-impressão e impressão. A evolu-ção se deu no campo teó ri co, nos soft-wares e no ba ra tea men to dos espectro-fotômetros e colorímetros.

Somente após os anos 1990 a indús-tria gráfica, os es pe cia lis tas e os institu-tos de pesquisa se sentaram ao redor de uma mesma mesa e ini cia ram um longo trabalho em direção à pavimentação de uma rodovia fei ta de padrões que permi-tiram o trânsito de novas tec no lo gias, abertas e públicas, fei tas sobre bases con fiá veis. Dentre as tec no lo gias que se be ne fi cia ram dessa rodovia de nor-mas in ter na cio nais podemos citar o PDF(ISO DIS 32000), o JDF (que não demo-rará mui to para se tornar norma ISO), as normas ISO para tintas (ISO 2846), as normas ISO para o processo gráfico (ISO 12647), o PDF-X (ISO 15930), sem contar com um sem número de normas de suporte e metrologia, cuja função é a aferição e medição de todas as normas citadas (densitometria, colorimetria, fí-sica de ma te riais, etc.). As prin ci pais ins ti tui ções envolvidas no processo foram a ISO, a CIE (Comissão In ter-na cio nal de Iluminação), o ICC (Con-sórcio In ter na cio nal de Cores), a ECI (Ini cia ti va Eu ro péia de Cores), a ANSI (órgão normalizador americano), a Fogra (as so cia ção alemã para o de-senvolvimento de tecnologia gráfi-ca) e ou tros. O Brasil participa desse esforço, através de representantes na ISO, desde o ano de 1995. Esse tra-balho constante de secretaria, es pe-cia lis tas, reu niões lo cais e via gens é patrocinado pelo Sistema Abigraf.

O resultado desse esforço foi um conjunto de boas práticas, sob a for-ma de normas in ter na cio nais da ISO. Finalmente, toda a gráfica que tra-balhar em conformidade com esses padrões (es pe cial men te a NBR ISO 12647) pode ter um padrão de qua-

lidade consistente e repetível, condição pri mei ra e indispensável para concorrer num mercado global e competitivo.

Como disse no início deste artigo, desde o início deste ano e sobretudo nos próximos meses, o ONS 27 e a ABTG es-tão se dedicando à divulgação da norma do processo gráfico, a família NBR ISO12647. Concentraremos um esforço so-bre esta que é o corpo central da ativida-de gráfica, o imprimir. Entre as atividades programadas estão cursos, trei na men-tos e em futuro breve poderemos cer-tificar aquelas empresas que adotaram e estão em conformidade com a norma NBR ISO 12647. Essas ações também se-rão reforçadas pela cria ção de um novo segmento no Prêmio de Excelência Gráfi-ca Fernando Pini, que garantirá reconhe-cimento àqueles que implementarem a NBR ISO 12647-2 de ma nei ra eficaz.

B M é superintendente do ONS 27 e coor de na dor da Comissão de Estudo de Pré-Impressão e Impressão Eletrônica e professor de pós-graduação da Faculdade Senai de Tecnologia Gráfica.

Fone/Fax (11) 5062 2415

M O T O R E S

www.famecmotores.com.br [email protected]

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