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A vida profissional e pessoal do presidente da Impresa foi passada a pente fino por ordem do antigo director do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED). O empresário seria uma peça fundamental no "ataque" ao maior banco privado português. ¦ Carlos Tomás Francisco Pinto Balsemão será um dos "homens de mão de empre- sários angolanos e israelitas que criaram a InterOceânico para in- vestimentos estratégicos em Por- tugal, Angola, Brasil e China, na agro-indústria, energia, indústria transformadora e sector financeiro" e que terão como "principal alvo o BCP". Esta é uma das muitas infor- mações constantes do relatório de uma "espionagem" que foi feita ao patrão da SIC e ordenada pelo an- tigo director do Serviço de Informa- ções Estratégicas de Defesa Jorge Silva Carvalho, a que "o Crime" teve acesso. O ex-espião terá solicitado um relatório pormenorizado sobre o presidente da Impresa, a 4 de No- vembro de 2011, numa altura em que trabalhava na Ongoing. A ordem, segundo consta da acu- sação, foi dada a outro ex-espião, Paulo Félix, que na altura também integrava os quadros da empresa de Nuno Vasconcellos. O relatório vai das páginas 80 à 113 do processo 5481/1 1.4TDLSB, que corre na 9 a Secção do Departamento de Inves- tigação e Acção Penal de Lisboa, e nele consta informação de ordem pessoal, íntima e profissional re- lacionada com o dono da SIC, que mantém um conflito público com o presidente da Ongoing pelo con- trolo do grupo Impresa. A equipa de Jorge Silva Carvalho encarregava-se depois de atacar a imagem de Pinto Balsemão recorrendo a órgãos de Comunicação Social Internet. "Balsemão surge como um peão útil no xadrez angolano de controlo do maior banco privado português, o BCP. Esta utilidade permitiu-lhe fazer as "pazes" com o regime an- golano e ganhar uns cobres com isso. Balsemão ajuda os angolanos a ganhar o controlo do BCP e passa a ter acesso ao mercado dos media do país, como mostra a anunciada criação de um grupo de media an- golano em parceria com a Finicapi- tal - empresa muito ligada ao Ban- co Atlântico, em parte detido pela Sonangol, que está metido na Inte- roceânico. Em Angola este negócio é visto como uma normalização das relações entre Luanda e Balsemão", lê-se numa das páginas do relatório datada de 24 de Fevereiro de 201 1.

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A vida profissional e pessoal do presidente da

Impresa foi passada a pente fino por ordemdo antigo director do Serviço de InformaçõesEstratégicas de Defesa (SIED). O empresário seria

uma peça fundamental no "ataque" ao maiorbanco privado português.

¦ Carlos Tomás

Francisco Pinto Balsemão será umdos "homens de mão de empre-sários angolanos e israelitas quecriaram a InterOceânico para in-vestimentos estratégicos em Por-

tugal, Angola, Brasil e China, na

agro-indústria, energia, indústriatransformadora e sector financeiro"

e que terão como "principal alvo o

BCP". Esta é uma das muitas infor-

mações constantes do relatório de

uma "espionagem" que foi feita ao

patrão da SIC e ordenada pelo an-

tigo director do Serviço de Informa-

ções Estratégicas de Defesa JorgeSilva Carvalho, a que "o Crime" teve

acesso.

O ex-espião terá solicitado um

relatório pormenorizado sobre o

presidente da Impresa, a 4 de No-vembro de 2011, numa altura em

que já trabalhava na Ongoing. A

ordem, segundo consta da acu-

sação, foi dada a outro ex-espião,Paulo Félix, que na altura também

integrava os quadros da empresa de

Nuno Vasconcellos. O relatório vaidas páginas 80 à 113 do processo

5481/1 1.4TDLSB, que corre na 9 a

Secção do Departamento de Inves-

tigação e Acção Penal de Lisboa, e

nele consta informação de ordem

pessoal, íntima e profissional re-lacionada com o dono da SIC, quemantém um conflito público como presidente da Ongoing pelo con-trolo do grupo Impresa. A equipa de

Jorge Silva Carvalho encarregava-sedepois de atacar a imagem de PintoBalsemão recorrendo a órgãos de

Comunicação Social e à Internet."Balsemão surge como um peão

útil no xadrez angolano de controlodo maior banco privado português,o BCP. Esta utilidade permitiu-lhefazer as "pazes" com o regime an-

golano e ganhar uns cobres comisso. Balsemão ajuda os angolanosa ganhar o controlo do BCP e passaa ter acesso ao mercado dos mediado país, como mostra a anunciada

criação de um grupo de media an-golano em parceria com a Finicapi-tal - empresa muito ligada ao Ban-

co Atlântico, em parte detido pelaSonangol, que está metido na Inte-roceânico. Em Angola este negócioé visto como uma normalização das

relações entre Luanda e Balsemão",lê-se numa das páginas do relatóriodatada de 24 de Fevereiro de 201 1.

Brasileiros "passados"Outra questão abordada na espio-

nagem feita a Pinto Balsemão foi a

Impresa, a principal empresa de Pin-

to Balsemão. Em Julho de 2011, o

espião Paulo Félix escrevia: "Os nú-meros desastrosos da Impresa são a

explicação para o 'forcing' que Bal-semão fez, desde o início de 2011,

para se encontrar com os brasileirosda Globo em Lisboa (ir ele ao Brasil

daria má imagem e enfraqueceria a

sua posição negociai...) Balsemão

conseguiu que viessem a Lisboa,

mas o encontro não correu nadabem e os brasileiros não deixaramde mostrar a sua insatisfação. As

melhores fontes garantem que eles

ficaram 'passados' com a conver-sa que aconteceu. Mal ouviram, os

brasileiros recusaram a oferta deBalsemão: 49% sem acesso à ges-tão, por 187 milhões de euros, qua-se o dobro do valor bolsista da Im-

presa (pouco mais de 100 milhões,antes da apresentação dos resulta-dos semestrais)."

Segundo o relato do espião, "a

Globo não perdeu tempo a fazer

uma contra-proposta", e estava na

altura disposta "a negociar a com-

pra de 51% da Balseger". "Balsemãoé que parece não estar disposto a

uma OPA (Operação Pública de

Aquisição) sobre a Impresa e ago-ra vai fazer tudo para manter ocontrolo nas suas mãos e dos seusdescendentes (...) A alternativa aos

brasileiros são investidores ango-lanos, talvez os mesmos que têmusado Balsemão para preparar umaofensiva ao BCP através de um 'altovoo' InterOceânico", ironizou Paulo

Félix.

O prejuízo BPPDe acordo com o relatório apre-endido pelas autoridades a JorgeSilva Carvalho, a "Impresa tem ex-cesso de dívida para os resultados

que gera, que estão a ser agravadospela conjuntura económica, e preci-sa de um aumento de capital queBalsemão não pode acompanhar:está depauperado pelo escândaloBPP". Paulo Félix concretizou: "A de-bilidade da sua condição financeiraé conhecida e diz-se sem contem-

plações que o BPI que dá o respaldoa Balsemão que lhe permite pros-

seguir o controlo da sua empresa.A SIC tem sido nos últimos anos a

principal dor de cabeça da Impresa:perdeu a liderança para a TVI e mui-tas das suas apostas têm sido discu-

tíveis. A queda abrupta do mercado

publicitário e a eventualidade do

surgimento de um novo canal priva-do não são boas notícias para o gru-po. Menos dinheiro quer dizer mais

fragilidade. E mais tentação alheia."O relatório descreve depois os

prejuízos de Balsemão motivados

pelo escândalo BPP: "O Estado im-

pugnou os créditos que a famíliaBalsemão tinha no BPP (não recla-

mados, mas reconhecidos pela Co-missão Liquidatária do BPP) coma justificação de que Balsemão é

'accionista da Privado Holding, de-tendo 6,45% das acções desta so-ciedade que, por seu turno, detémna íntegra o capital social do BPP

1

.

A família Balsemão - Francisco, a

mulher e os filhos - tinha mais de

quatro milões de euros a receberdo BPP, mas estranhamente nin-

guém reclamou qualquer crédito.O valor estava dividido em sete

partes. Além deste montante, Bal-semão perdeu mais de 200 milhõesde euros, dinheiro seu. Balsemão

esteve até ao fim ao lado de João

Rendeiro, o líder do BPP. Antes ha-via funcionado como uma espéciede 'caução moral' de Rendeiro que

lhe terá permitido passar de Yider'

a banqueiro."Pinto Balsemão, descreve o es-

pião, terá mesmo tentado socorrer-se de dinheiro que tinha na Suíça,mas também aqui as coisas não te-rão corrido como desejava: "A rela-

ção familiar de Balsemão com ArturTorres Pereira (gestor de fortunas)degradou-se. Fontes fidedignas dis-

seram-nos que algumas reuniões na

Suíça não tinham corrido de formanada agradável para Balsemão, como gestor de fortunas a dizer-lhe quenão o deixava mexer na fortuna da

família para tapar buracos na sua

empresa. A acrescentar a isto e, re-sultado fatal de uma aventura ex-

tra-conjugal, Balsemão foi forçadopela actual mulher a alterar o tes-tamento com tratamento preferen-cial dos filhos mais novos, em pre-juízo dos filhos da anterior mulher e

da relação com Isabel Supico Pinto."

Amigos e inimigos¦ Uma parte do relatório é dedi-cada a analisar as relações de PintoBalsemão com algumas pessoascom quem se relacionava. O espiãoPaulo Félix dividiu essa análise porcategorias: amigos, aliados e inimi-

gos. Assim, como "amigos", Balse-

mão teria: "André Gonçalves Perei-

ra, velho amigo, foi seu ministro e

antes colega de advocacia, MiguelVeiga, fundador do PSD e vogal da

administração da Impresa, RobertoIrineu Marinho, presidente da Glo-

bo, filho de Roberto Marinho, outro

amigo (e financiador), Artur Santos

Silva, ex-presidente do BPI, amigo e

aliado de sempre, Fernando Ulrich,

ex-jornalista do Expresso, o presi-dente do BPI que é o pulmão finan-ceiro da Impresa, João Rendeiro, as

relações não romperam mesmocom o escândalo BPP, António Gu-

terres, o mais destacado amigo da

área socialista, José Galvão Telles,

advogado e vogal da Impresa, Da-niel Proença de Carvalho, advoga-do, velho conhecido e parceiro na

InterOceânico e João Valle e Azeve-

do, o ex-presidente do Benfica quetrabalhou no seu gabinete quandofoi primeiro-ministro.

Como aliados, revela o relatório,

Balsemão terá: "Pedro Norton, n° 2da Impresa e que lidera a adminis-

tração executiva (um nome forteda nova geração de gestores, Luís

Marques, recentemente promovi-do à administração da Impresa, Ca-

vaco Silva, nomeou-o conselheirode Estado, Paulo Portas, a oposiçãode Portas à privatização da RTP fa-lo aliado, Nogueira Leite, foi levadoeste ano por Balsemão ao grupode Bilderberg e está agora como

vice-presidente da Caixa Geral de

Depósitos, Zeinal Bava, fez várias

operações na SIC Notícias, João Lí-

bano Monteiro, estratega de comu-

nicação, ex-assessor de imprensade Ferreira do Amaral nos governosCavaco Silva e assessor do grupoBalsemão, Belmiro de Azevedo,

parteiro num negócio com inter-

mediação do BPI."

Finalmente, surgem os inimi-

gos, com Nuno Vasconcellos, líderda Ongoing, à cabeça: "Nuno Vas-

concellos, afilhado de casamento,filho do grande amigo Luiz e hojeo seu mais visível opositor, Rafa-el Mora, gestor espanhol sóciode Nuno Vasconcellos, José Maria

Ricardi, não lhe perdoou textos

publicados no Expresso que con-

siderou ofensivos, Joe Berardo,aliado de outras guerras, deixoude ser quando vendeu parte daSIC à Cofina, José Sócrates antigoprimeiro-ministro, não gostava do

tratamento editorial dos meios da

Impresa e não o esconde, MiguelRelvas, mentor do projecto de pri-vatização da RTP, Manuela Moura

Guedes, que viu vetada a sua en-trada na SIC por Balsemão, Emídio

Rangel, com quem se zangou devi-do à gestão da informação da SIC,

e Vasco Pulido Valente, de quemnão gosta pelas posições públicas

que assume contra os interessesde Balsemão."

Recorde que Francisco Pinto

Balsemão, quando soube do rela-tório apreendido a Jorge Silva Car-

valho, mostrou a sua indignação,lembrando que já fora alvo do inte-resse da PIDE, mas que ser espiadoem democracia é ainda mais grave.O empresário garantiu que iria pro-cessar todos os envolvidos na ac-

ção de espionagem de que foi alvo.

Jorge Silva Carvalho, Nuno Vascon-celos e outro ex-dirigente do SIED,

João Luís, são os únicos acusados

naquele que é agora conhecido

como o processo das secretas.

Vida privada de Pinto Balsemão foi vista à lupa pelo ex-espião

A cocaína e atraição da mulhercom Carlos Cruz¦ Carlos Tomás

0 relatório apreendido pelas autoridadesa Jorge Silva Carvalho contém pormenoressórdidos sobre o patrão da SIC.

"1970 - 1 a mulher inicia relação com

Carlos Cruz." Este é o título de mais

um capítulo do relatório apreendido

pelas autoridades ao ex-responsáveldo Serviço de Informações Estraté-

gicas de Defesa, Jorge Silva Carvalho,

no âmbito do processo das secretas,

cuja acusação foi deduzida recente-

mente, e onde são feitas considera-

ções sórdidas sobre a vida privada do

patrão da SIC.

"A 1 a mulher, Maria Isabel Sil-

va (Belixa) Lacerda Rebelo Pinto da

Costa Lobo inicia uma relação com

o apresentador Carlos Cruz (não é

claro se a mesma tinha começado

antes ou depois de Belixa se sepa-

rar de Balsemão). De assinalar que,durante o depoimento do processoCasa Pia sobre esse período, Carlos

Cruz tem o cuidado de nunca referir

nem o nome de Maria Isabel, nem de

Balsemão, nem dos filhos de ambos.

A relação entre Balsemão e Cruz não

era a melhor, dada a vontade deste

em levar a Mónica e Henrique paraNova lorque, ideia a que Balsemão se

opôs", escreveu o espião Paulo Félix,

a quem Jorge Silva Carvalho ordenou

que fizesse o relatório.

Segue-se uma nota feita pelo

próprio Paulo Félix, a que ele de-

nominou "coincidências": "Circula

na internet uma mensagem com o

título 'coincidências'. Refere que a

SIC foi a única estação que esteve

no Parlamento quando o juiz Rui

Teixeira ali entregou o pedido de le-

vantamento de imunidade a Paulo

Pedroso. Refere depois uma série de

relações pessoais ou profissionais de

pessoas da SIC: Daniel Cruzeiro, chefe

de redacção, é filho do advogado de

Paulo Pedroso e é casado com Rita

Ferro Rodrigues, também ela da SIC

e filha do secretário-geral do PS; So-

fia Pinto Coelho, jornalista, é casada

com Ricardo Sá Fernandes, da defesa

de Carlos Cruz; Ricardo Costa, editor

de política, é irmão de António Costa,

dirigente do PS. A que se somam es-

tes factos: Cruz era apresentador da

SIC até à eclosão do caso Casa Pia;

Marta Cruz, filha do apresentador,era presença constante num progra-ma da SIC; Herman José, arguido no

mesmo caso, era apresentador de um

programa da SIC."

E o espião cita outras fontes paracontinuar com as "coincidências": Odono da SIC, onde Carlos Cruz tra-balhava é Pinto Balsemão; o dono do

semanário Expresso, que denunciou o

caso, é Pinto Balsemão. O primeiro-ministro em 1982, altura em que a

secretária de Estado da Família, Teresa

Costa Macedo, teve acesso ao relató-

rio da Casa Pia com o nome de Carlos

Cruz, era Pinto Balsemão. Balsemão

é amigo e visita da Casa Redonda de

André Gonçalves Pereira, que era o

ministro dos Negócios Estrangeiros

naquele mesmo ano de 1982 em queforam descobertas crianças na casa

do embaixador Jorge Ritto. André Pe-

reira é sócio de Balsemão."

Outro episódio referido no relató-

rio "secreto" prende-se com o nasci-

mento de um filho de Isabel SupicoPinto, de nome Francisco Maria: "A

criança só foi reconhecida pelo pai

(Balsemão) após ordem do tribu-

nal", lê-se no documento elaborado

por Paulo Félix, que relata depois a

criação, em 1973, do semanário Ex-

presso, e as perseguições da PIDE a

Balsemão e ao falecido Sá Carneiro.

"Balsemão usou o Expresso para de-

fender as suas ideias políticas, usan-

do uma perspectiva puramente ins-

trumental e utilitária de um órgão de

Comunicação Social."

O relatório analisa ainda a su-

posta má relação de Balsemão com

Vasco Pulido Valente, que apelidou o

patrão da SIC como "Francisquinho,

o medíocre mensageiro", passa pela

fundação do PSD, pela admiração de

Balsemão por Mao Tse-Tung e pelavisão pessimista da entrada de Portu-

gal na então Comunidade Económica

Europeia (CEE). É igualmente aborda-

da uma possível ligação de Balsemão

e de jornalistas do Expresso à KGB, a

secreta da ex-URSS, em 1980 e a sua

nomeação para primeiro-ministro.

A TV da IgrejaUma parte extensa do relatório ela-

borado para Jorge Silva Carvalho

prende-se com a promessa de Pinto

Balsemão, em Janeiro de 1982, de

uma televisão para a Igreja: "Quan-do foi primeiro-ministro, Francisco

Pinto Balsemão prometeu um canal

de televisão à Igreja, mas mudou de

ideias quando regressou ao seu grupode comunicação, admitindo apenas a

concessão do canal 2 da RT, uma vez

que tinha então interesse na criação

do seu próprio canal. Actualmente,

o presidente da Impresa está contra

a criação de mais TV's, por temer os

efeitos de mais concorrentes em sinal

aberto." Pinto Balsemão, assegura o

relatório, terá mesmo impedido queCavaco Silva cumprisse a promessa

que ele próprio terá feito à Igreja.

"Já em 2009 Pinto Balsemão afir-

mou, perante deputados na Assem-

bleia da República, ter fortes dúvidas

sobre a existência de mercado publi-citário para todos os canais em sinal

aberto. Hoje, é um dos maiores opo-sitores à privatização da RTP, que vê

como séria ameaça à sobrevivência

da SIC, mergulhada em dificuldades

financeiras", acrescenta o relatório

agora na posse das autoridades.

A espionagem feita a Balsemão

fala igualmente da sua desavença

com Marcelo Rebelo de Sousa, tudo

porque o professor terá tratado Bal-

semão por Francisco e este exigidoa Marcelo que o chamasse primeiro-ministro. Apesar disso, lê-se no docu-

mento, Balsemão entregou o Expres-so a Marcelo e este acabou por se

revelar um crítico feroz do Governo.

"Talvez para afastar Marcelo do Ex-

presso, talvez por querer aproveitaro seu talento nas negociações par-

lamentares, talvez pelas duas coisas,

Balsemão chamou-o ao Governo.

Não demorou a arrepender-se. Na

semana das autárquicas de 1982, de-

cisivas para o futuro do moribundo

Governo, Marcelo comunicou ao seu

amigo Francisco que iria demitir-sedo Governo. O primeiro-ministro não

gostou de ver o seu protegido aban-

donar o barco que se estava a afundar,mas este prometeu manter a boca fe-chada. Dois dias depois a notícia es-

tava escarrapachada na capa do DN.Balsemão chamou-o logo a S. Bento e

deu-lhe um violento raspanete."

Grupo BilderbergO grupo de Bilderberg é outro as-

sunto tratado no relatório de espio-

nagem ao dono da Impresa: "Balse-

mão tem-se revelado, ao longo dos

anos, como um agente de influência,

sabe-se lá ao serviço de quê e con-trolado por quem. A sua participaçãoem encontros de Bilderberg é disso

exemplo. Trata-se de uma organiza-

ção nada transparente e que, por isso

mesmo, muitos rumores e teorias da

conspiração tem suscitado, mas que,

independentemente dos objectivos

específicos, é um concentrado de

gente com claras ambições de con-trolo de tudo o que de importantese passa no globo, sem que se conhe-

çam as suas motivações, nem obje-vctivos, sabendo-se apenas que são

os seus objectivos particulares queos movem. Aos encontros de Bilder-

berg, Balsemão, que funciona como

porteiro português do grupo, temlevado inúmeras personalidades por-

tuguesas. Ele escolhe o convidados do

grupo desde 1988."

O diferendo com Emídio Rangel

é igualmente abordado no relatório,ficando a saber-se que Balsemão

considerava o então director da es-

tação de Camaxide "um gastador".As críticas a Rangel terão motivado

uma cisão na SIC, que culminou com

o afastamento do director.

"Quando foiprimeiro-ministro,

Balsemão

prometeu umcanal de televisão

à Igreja, masmudou de ideias

quando regressouao seu grupo de

comunicação,admitindo apenas

a concessão docanal 2 da RT,

uma vez que tinhaentão interesse

na criação do seupróprio canal.

¦ As referências pouco abonató-

,rias no relatório mandado elaborar

por Jorge Silva Carvalho sobre Pinto

Balsemão surgem ainda referências

sobre os hábitos do empresário.Uma delas prende-se com o alega-do consumo de cocaína: "É pública a

Jiistória de que, depois de um voo deIÉ2 horas, vindo de Macau, Balsemãotíoi jogar golfe. Em 2001 , ao Expresso,

gustificou a proeza com a sua resis-

Tência física. Resistência que ainda

hoje é provada pelas horas que passaa trabalhar. Facto atribuível, segundo

bem informadas, a uma ope-, ração de Relações Públicas. Outras

ligam esta resistência física

ao consumo de cocaína."

E o relatório vai mesmo mais lon-

ge: "Associado ao caso Casa Pia sur-

gem rumores do consumo por Bal-

semão de cocaína." E Paulo Félix cita

um documento do GOVD - Grupo

Operacional de Vigilância Demo-crática: "As testemunhas são falsas,

mentirosas, treinadas e pagas com

o dinheiro da droga, as duas moedas

que também pagam Felícia Cabrita.

Ela é, como é público, alcoólica e

cocainómana em adiantado estado

de dependência. Daí as suas intimi-dades com Pinto Balsemão de quemtambém é fornecedora".

Outra nota da espionagem vai

para um alegado negócio de ges-tão danosa de Balsemão e que teve

alegadamente a ver, em 2009, com

o facto da Impresa ter perdido 5,8milhões de euros com a alienação da

Iplay por um curo: "Este é um negó-cio que configura, no mínimo, uma

situação de gestão danosa por partede Balsemão. 5,8 milhões de euros foi

quanto custou à Impresa a alienaçãoda editora discográfica Iplay (...). Ovalor resultou de perdas de impari-

dade de 1,7 milhões e prejuízos de

exercício de 4,1 milhões, montante

que foi registado em actividades des-

continuadas nas contas referentes a

31 de Dezembro de 2008 da Impre-sa". A Iplay acabou por ser alienada à

Fantasy Land e à Lemon por um curo.

A empresa tem, segundo o espião,

uma situação positiva, conforme re-

velaram os novos donos.

O relatório elaborado por ordem

de Jorge Silva Carvalho termina com

um perfil de Belmiro Azevedo, onde

se descrevem todos os cargos por ele

ocupados ao longo da vida, os seus

dados pessoais, as suas raízes bei-

ras, as suas características pessoais,onde se inclui o gosto pelo golfe e

por tocar bateria. E destaca-se umafrase do próprio Pinto Balsemão:

"Se obtive êxito como empresário,foi pelo facto de me sentir acima de

tudo jornalista."

IO consumo de cocaína