os desafios da escola pÚblica paranaense na perspectiva do ... · o conhecimento científico deve...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
BIODIVERSIDADE EM UMA ABORDAGEM ECOLÓGICA: UMA PROPOSTA
PARA O ENSINO FUNDAMENTAL COM A UTILIZAÇÃO DE TEXTOS DE
DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
RAUBER, Janete da Silva Souza1
DELLA JUSTINA, Lourdes Aparecida2
Resumo
O objeto de estudo desta intervenção pedagógica foi a construção de conhecimentos na disciplina de ciências tendo como instrumento de aprendizagem a utilização de textos de divulgação científica a respeito da biodiversidade. Há dificuldade em construir conhecimentos sobre a necessidade de valorizar a biodiversidade pela dificuldade em se reelaborar conceitos preservação e conservação do meio e sobre todas as formas de vida que nele habitam. O objetivo desse estudo foi investigar o desenvolvimento de uma alternativa de aprendizagem envolvendo textos de divulgação científica, com a intenção de familiarizar o educando aos termos usuais desta modalidade textual e promover o hábito de leitura na apreensão de conceitos biológicos. Os objetivos específicos foram: construir um referencial teórico sobre o tema biodiversidade, diagnosticar as concepções que os estudantes envolvidos possuem sobre biodiversidade e alguns conceitos relacionados à ecologia, coletar e analisar dados, mediante diferentes instrumentos de coleta, para evidenciar a reconstrução das percepções dos estudantes envolvidos durante o desenvolvimento da unidade didática e elaborar o artigo final. Os estudos propostos levaram os alunos a desenvolver a percepção de que os textos de divulgação científica são importantes instrumentos de aprendizagem do conteúdo de ecologia.
Palavras-chaves: Literatura científica. Conhecimento ecológico. Biodiversidade. Ilha de
Racionalidade.
1. Introdução
Este artigo apresenta os resultados da implementação de uma proposta
didático-pedagógica voltada para a construção de conhecimentos na disciplina de
ciências durante a realização do Programa de Desenvolvimento da Educação
(PDE/PR) que foi realizado nos anos de 2013/2014 e teve como campo de atuação
o Colégio Estadual Dr. Arnaldo Busatto localizado na cidade de Foz do Iguaçu – PR.
O tema abordado para a realização do projeto foi biodiversidade, tomando
como instrumento de aprendizagem o uso de textos de divulgação científica. Esse
tema é um dos conteúdos estruturantes previstos nas diretrizes curriculares, mas
1 Professora da Rede Pública Estadual de Ensino do Estado do Paraná. E-mail de contato:
[email protected] 2 Orientadora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Cascavel. E-mail
que é tratado de maneira superficial não construindo os conhecimentos necessários
para formar uma concepção sólida a respeito de ecologia e biodiversidade. O estudo
procurou desvelar as respostas ao problema investigando se no contexto do ensino
de ciências, se o uso de textos de divulgação científica contribui para o
entendimento de conteúdos estruturantes, como a biodiversidade.
Nas diretrizes curriculares de Ciências do estado do Paraná, esclarece-se que
tão importante quanto selecionar conteúdos específicos para o ensino de ciências, é
escolher abordagens, estratégias e recursos pedagógicos que satisfaçam a
mediação didática, devendo ser valorizados alguns elementos da prática
pedagógica, entre eles a leitura científica.
Acredita-se que uma alternativa é a introdução de texto de divulgação
científica no ensino de ciências, podendo não somente estimular o gosto pela leitura,
assim como promover o interesse quanto às descobertas e contribuições da ciência
para a vida em sociedade. Espera-se com isso, colaborar para a transformação
pedagógica e promover a cultura científica na relação do ensino e aprendizagem.
Ao longo dos meus anos de trabalho, já foi percebido que os alunos não
possuem o hábito de desenvolver a leitura científica, exceto quando é exigido para a
realização de atividades solicitadas pelo professor. Dessa forma eles atêm-se ao
saber exposto no livro didático sem analisar criticamente os conteúdos por não
encontrar parâmetros de comparação para promover a discussão sobre o assunto.
O objetivo da pesquisa foi investigar o desenvolvimento de uma alternativa de
aprendizagem envolvendo textos de divulgação científica, com a intenção de
familiarizar o educando aos termos usuais desta modalidade textual, com o intuito de
promover o hábito de leitura na apreensão de conceitos biológicos. Para tanto foram
desenvolvidos como objetivos específicos: a construção de um referencial teórico
sobre o tema biodiversidade, bem como os indicativos da literatura para a sua
abordagem no ensino fundamental; o desenvolvimento de uma unidade didática,
envolvendo diferentes textos de divulgação científica, entre outros recursos didáticos
sobre o tema abordado; o diagnóstico das concepções que os alunos envolvidos
possuem sobre biodiversidade e alguns conceitos relacionados à ecologia mediante
a coleta e análise dos dados, por meio de diferentes instrumentos de coleta durante
o processo de desenvolvimento da unidade didática, para evidenciar a reconstrução
das percepções dos estudantes envolvidos.
2. O tema biodiversidade no Ensino Fundamental
A biodiversidade deve ser entendida como um termo que se refere à
variedade de vida, existente no planeta, seja na terra ou na água. Compreende a
variedade de espécies de um ecossistema e o conjunto de todas as espécies de
plantas e animais e de seus ambientes naturais existentes em uma determinada
área. Também, a biodiversidade compreende a variedade de genótipos, espécies,
populações, comunidades, ecossistemas e processos ecológicos existentes em uma
determinada região. A variedade pode ser medida em diferentes níveis: genes,
espécies, níveis taxonômicos mais altos, comunidades e processos biológicos,
ecossistemas, biomas e em diferentes escalas temporais e espaciais (WILSON,
1997).
As diretrizes curriculares para o estado do Paraná estabelecem a
biodiversidade como conteúdo estruturante por entender que pensar o conceito de
biodiversidade implica em ampliar o entendimento de que se vive num ambiente que
possui diversidade de espécies, que necessitam ser consideradas em seus
diferentes níveis de complexidade, pois habitam diferentes ambientes, sem deixar de
manter suas inter-relações de dependência e se mantém inserida num contexto
evolutivo (PARANÁ, 2008).
A biodiversidade é um termo derivado da expressão diversidade biológico e
trata de nomear os genes, as espécies e o ecossistema de uma determinada região.
Segundo Torres (2001) ainda não se conhece todas as espécies que convivem na
terra, sendo estimada a convivência de cerca de 10 milhões de espécies vivas no
planeta e somente 1,4 milhão estão classificadas cientificamente.
É necessário considerar que os seres vivos provocam alterações e ao mesmo
tempo se adaptam às condições do meio criando um sistema de equilíbrio entre o
conjunto dos seres vivos e os que não possuem vida. Assim pode-se considerar o
ecossistema uma entidade viva capaz de reproduzir as condições de vida das
diversas espécies que a compõem. Isto implica em desenvolver conhecimento para
preservar as espécies e as unidades ambientais denominadas de ecossistemas. A
humanidade depende diretamente da biodiversidade, retira seu alimento e matérias-
primas industriais a partir de espécies silvestres ou domesticadas. No entanto, é o
ser humano que mais agride o ecossistema introduzindo novas espécies e
desenvolvendo cruzamento de genes que podem provocar destruição da
biodiversidade.
As Diretrizes Curriculares trazem as considerações a respeito da leitura
científica como recurso pedagógico que permite a aproximação entre os estudantes
e o professor, pois permite que o aluno aprofunde os seus conceitos em relação às
publicações analisadas. No entanto, é papel do professor identificar o material que
pode ser utilizado no trabalho, considerando, principalmente o grau de dificuldade
que cada conteúdo apresenta, verificando se os conceitos são válidos e se a
linguagem utilizada é adequada ao conhecimento dos alunos (PARANÁ, 2008).
A busca pela qualidade de vida, pelo domínio e uso das tecnologias são
atualmente uma busca constante na população como um todo, porém, nem sempre
as pessoas se dão conta de que tais buscas necessitam estar embasadas em
publicações das ciências. Isso se deve à ausência de conhecimento em relação às
publicações científicas que podem ser dominadas a partir de uma leitura de
manuais, revistas e publicações afins.
Seria fácil argumentar a importância de possuirmos domínio sobre o conhecimento científico e tecnológico como um dos instrumentos para garantia de uma vida melhor para todos. Sem descartar essa importância, podemos, contudo, problematizá-la. Debates relacionados à forma pela qual o conhecimento científico deve ser apreendido pela população – de maneira a não simplesmente acumular informações, mas efetivamente poder usá-las para tomar decisões – vem sendo colocados (KRASILCHIK, 2007, p. 15).
O que a autora propõe é a alfabetização científica, superando as práticas que
determinam o excesso de informações às quais os alunos encontram dificuldades
em reconhecer sentido por serem lidas de maneira superficial.
Existem diversas razões para objetar firmemente a extensão das técnicas de memorização para o ensino de ciências. Não que elas sejam intrinsecamente negativas ou mesmo perniciosas para o ensino, afinal, precisamos memorizar muitas informações em nosso dia a dia, como: nomes de pessoas, números de identificação, etc. No entanto, a questão se refere ao objetivo mais profundo do ensino de ciências. Saber nomes de etapas da mitose é apenas parte de um processo mais amplo e profundo, que nos permite compreender muitos outros fenômenos e elaborar raciocínios complexos. Em tese o ensino de ciências deve ser formativo e não apenas informativo (BIZZO, 2009, p. 26).
Assim, é necessário que o professor ao cumprir as determinações das DCE’s
prepare o material selecionado leituras que possam impulsionar a aprendizagem e
motivar o desejo de descobrir cada vez mais a partir das informações e formações
realizadas. As próprias diretrizes indicam recursos para realização de leitura
científica especialmente as Revistas Ciência Hoje, publicadas pela Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência. Para explicar a importância da alfabetização
científica na atualidade, Bizzo (2000, p.12), ressalta que o conhecimento científico
deve ser compreendido por todos, pois desde realizar tarefas mais comuns do
cotidiano, as mais complexas como aquelas as que exigem, escolhas e tomadas de
decisões, necessitam dos domínios da ciência.
Para o Neurocientista Roberto Lent (apud Esteves, 2010), a difusão da
ciência nas universidades e núcleos de pesquisas deveria se constituir como
elemento indispensável. Salienta ainda que o desenvolvimento científico tem
ganhado destaques nos últimos anos. Contudo, toda essa produção se dá de forma
desarticulada à educação, principalmente com o ensino de base, e define essa
relação entre as produções científicas e a educação, como o grande “paradoxo”.
Para Esteves (2010, s/p): “Enquanto a ciência cresce, a educação patina”, sintetiza
Lent: “Isso põe em risco um ciclo virtuoso de produção científica a que temos
assistido. Quantos cérebros talentosos são perdidos porque não tiveram acesso à
escola?”A articulação entre a ciência e a educação não se apresenta apenas
necessária, mas acima de tudo, fundamental para o desenvolvimento da própria
ciência, uma vez que a escola vem formando pessoas que memorizam termos
científicos sem compreende-los, sem ter o cuidado de preparar pesquisadores e
cidadãos alfabetizados cientificamente.
Neste contexto, uma alternativa para a realização de leitura científica é usar
como estratégia a formação de ilhas de racionalidade, que representa uma
integração do conteúdo com outras áreas do currículo compondo um trabalho
interdisciplinar, isso representa poder conduzir os alunos a identificar as bases
sociais dos conteúdos de ciências a serem desenvolvidos na escola (NEHRING et
al., 2002).
A construção de uma ilha de racionalidade é preparada em etapas que
permitam desenvolver o trabalho de maneira delimitada a fim de atingir seu objetivo,
As ilhas de racionalidade são propostas flexíveis e abertas, podendo ser
replanejadas quantas vezes a equipe desejar, uma vez que é a equipe que
determina o tempo de cada atividade, de acordo com os objetivos, disponibilidades e
necessidades. Elas servem como um esquema de trabalho, de modo a evitar que
ele se torne tão abrangente que não se consiga chegar ao final (ZYLBERSZTAJN,
1998 apud NEHRING et al, 2002).
A situação que serve de base a ser expressa em forma de ilha de
racionalidade deve ser uma questão ou uma situação descrita de forma precisa. O
projeto vai torná-la uma proposta concreta construindo uma ilha de racionalidade.
Segundo Nehring et al. (2002), as etapas a serem trabalhadas para a construção da
ilha de racionalidade são:
Etapa 1 – Fazer um clichê da situação: Esta etapa tem por objetivo fazer os
alunos expressarem como eles entendem espontaneamente o assunto
tratado sem construir uma representação crítica e rigorosa. É uma descrição
espontânea semelhante à problematização inicial, é o ponto de partida da
pesquisa.
Etapa 2 – Elaborar o panorama espontâneo: É uma etapa na qual se busca
ampliar o clichê através da formulação, pelo professor e pelos alunos, de
outras questões relevantes relacionadas com o projeto a ser desenvolvido e
que, ou não foram levantadas no primeiro clichê ou foram abandonadas.
Etapa 3 – Consulta aos especialistas e às especialidades: Quando entre
os membros do grupo que desenvolve o projeto não há quem possa
esclarecer ou discutir a respeito de determinado assunto envolvido na
situação, pode haver a necessidade de consultar especialistas.
Etapa 4 – Indo à prática: É uma etapa de aprofundamento, definido pelo
projeto e pelos produtores da ilha de racionalidade, na qual ocorre o confronto
entre a própria experiência e as situações concretas.
Etapa 5 – Abertura aprofundada de algumas caixas-pretas e descoberta
de princípios disciplinares que são base de uma tecnologia: É neste
momento da proposta que se pode trabalhar o rigor de uma disciplina
específica, a base original de tratamento do assunto que se pretende
examinar, e até mesmo estudar, rapidamente, tópicos clássicos do programa
escolar.
Etapa 6 – Esquematização global da tecnologia: Esta etapa é uma síntese
da ilha de racionalidade produzida. Esta síntese pode ser uma figura ou um
resumo com os principais pontos da ilha de racionalidade e especificando as
caixas-pretas que podem ser abertas pelo professor, dependendo da
conveniência.
Etapa 7 – Abrir algumas caixas-pretas sem a ajuda de especialistas:
Todos nós construímos intuitivamente explicações para situações do
cotidiano, mesmo sem dispormos de todos os conceitos científicos e técnicos
envolvidos.
Etapa 8 – Síntese da ilha de racionalidade produzida: Para sintetizar a ilha
de racionalidade é necessário cruzar elementos variados de maneira objetiva
(NEHRING et al., 2002).
Por tudo isso, o ensino de ciências desenvolvido a partir de projetos de ilhas
de racionalidade tem como característica considerar o conhecimento que o aluno já
possui e desenvolver novos conceitos a partir da reflexão, da pesquisa e dos novos
conhecimentos que devem ser colocados em contato com a sua realidade. Neste
contexto racionalizar o conhecimento que o aluno já possui significa colocá-lo em
contato com maneiras de diferenciadas de ampliar e desmistificar a ciência
convencional construída de fora para dentro. A objetividade de um projeto construído
nesta metodologia amplia a visão do próprio professor sobre a racionalidade que
deve permear a construção do conhecimento científico.
3. O desenvolvimento do projeto
A intervenção pedagógica foi realizada no Colégio Estadual Dr. Arnaldo
Busatto – Ensino Fundamental, médio e EJA, região de Três Lagoas em Foz do
Iguaçu, um dos bairros mais populosos da cidade. O nível socioeconômico das
famílias vai de baixo a médio. Nesse bairro, os problemas afloram com mais
intensidade que em outras áreas da cidade. A unidade educacional conta em média
com 89 professores atuando em sala de aula e 2775 alunos matriculados
distribuídos em três períodos. Nesse ano tentou-se reduzir o número de alunos por
sala, mas infelizmente não foi possível. São poucas as turmas com um número
abaixo de 40 alunos, com algumas exceções para as séries iniciais do Ensino
Fundamental. No Ensino Médio este número ultrapassa a faixa de 45 em algumas
turmas. O lado positivo disso é que a escola é bem quista pela comunidade, é um
ambiente limpo e bem cuidado, onde se trabalha muito para desenvolver educação
com qualidade. As exigências em relação ao trabalho docente são muitas, porém os
resultados não são a contento. Diante disso, ao iniciar minha pesquisa no PDE,
busquei na escola o problema a ser investigado, constatando que a questão da
leitura é importante para o desenvolvimento social dos escolares. Assim, o projeto
foi elaborado e compartilhado com os outros educadores que atuam na mesma
escola. A turma de implementação foi o 7º ano C do período matutino, composta por
34 alunos (A1-A34), com faixa etária entre 11 a 12 anos, durante o primeiro bimestre
de 2014, totalizando 32 horas.
A metodologia adotada é a formação de conhecimento por meio do
desenvolvimento de ilhas de racionalidade, dividida em etapas que tem início com a
Etapa 0 que estabeleceu a biodiversidade como assunto a ser estudado enquanto
acervo da vida.
A Etapa 1 compreende a realização de leituras de textos científicos e
interpretação dos mesmos com a intenção de refletir sobre o tema. Após as leituras
os alunos assistiram ao filme ‘ICMBIO’ (2011). Em seguida foi realizada uma
investigação de textos da internet sobre a biodiversidade.
A Etapa 2 elaborou uma panorama da situação para que os alunos
formassem uma concepção e compreendessem a importância da leitura científica,
pois para formar um conceito consistente outros textos foram lidos usando as
publicações da revista Ciência Hoje, ao todo foram utilizados 19 textos e
desenvolvida uma ficha de leitura sobre os aspectos da biodiversidade observado
em cada um. O assunto sobre cadeia alimentar foi estudado e comparado com a
biodiversidade, utilizando técnicas de leitura e vídeos para ampliar os conceitos.
A Etapa 3 foi uma consulta ao especialista biólogo para palestrar sobre
animais em extinção, espécies exóticas, legislação ambiental, proteção da fauna e
flora, biopirataria e outros. Nessa fase houve uma roda de diálogos envolvendo as
curiosidades dos alunos sobre tráfico de animais, como esses são recuperados e
quais os locais de destino dos mesmos. Além disso, também houve uma atividade
lúdica com jogo da memória.
Na Etapa 4 levou-se os alunos para conhecer na prática o cuidado com a
preservação da biodiversidade por meio de uma visita ao Refúgio Biológico de
Itaipu, instituição incumbida de preservar a flora e a fauna após a inundação do Lago
de Itaipu. Após a saída de campo os alunos preencheram uma ficha representando
com desenhos o roteiro feito por eles no refúgio.
A Etapa 5 necessitava de ajuda de fontes especializadas, contou com
pesquisa no laboratório de informática utilizando a ferramenta google maps,
informações de textos e mapas ilustrativo das espécies em extinção. No momento
da pesquisa os alunos realizaram registros da localização geográfica relacionados
aos biomas brasileiros, extinção local para contextualizar ao conceito global.
A Etapa 6 foi desenvolvida com a intenção de compreender a
esquematização global e foram discutidos os conceitos da evolução das espécies,
envolvendo depois atividades sobre os traços evolutivos da comunidade animal.
Este processo de aprendizagem contribuiu para formar conceitos reflexivos e de
opinião sobre o assunto.
A Etapa 7 foi desenvolvida com a abertura de caixas pretas envolvendo a
leitura e o debate sobre a biopirataria, mediante estratégias didáticas com jogos e
atividades lúdicas, como caça palavras.
A Etapa 8 iniciou com a apresentação da declaração dos direitos dos animais,
utilizando textos e um vídeo relacionado a temática. A atividade realizada envolveu
os artigos da lei, com produção de resumo e ilustrações sobre o material estudado,
para posteriormente compor um mural. O assunto gerou debates e serviu para
desenvolver valores e atitudes de respeito e preservação a vida dos animais.
As figuras (1, 2 e 3) e imagens (produções 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10) demonstram e
representam alguns momentos das atividades desenvolvidas na intervenção
pedagógica:
Figura1- Leitura Figura 2 - Socialização Figura 3 - Ficha de leitura Fonte: Acervo pessoal da primeira autora deste trabalho.
Figura 4 - Trilha ecológica Figura 5 - Recinto dos animais Figura 6 - Recinto dos animais Autor: A11 Autor: A6 Autor: A13
Figura 7 - Atividade roteiro da trilha Figura 8 – Construção do texto Autor: A22 Autor: A7
Figura 9 – Direito dos animais Figura 10 – Amostra dos trabalhos
Autora: A16 Fonte: Acervo pessoal da primeira autora
Enfim, no final da intervenção pedagógica foi realizada uma mostra na escola
com intuito de divulgar o trabalho realizado, estimular a criatividade, o progresso
individual e coletivo, oportunizando o trabalho com materiais diversos, observado na
figura 10. Desta forma, o item a seguir descreve os resultados apresentados pelos
alunos durante a intervenção.
4. Análise dos resultados
A coleta de dados realizada teve como instrumentos de análise um
questionário no início e outro no final da implementação, que tiveram as respostas
analisadas, o primeiro em percentual e o segundo em síntese, apresentadas nas
tabelas a seguir.
No questionário inicial percebeu-se nos alunos a existência de conhecimentos
relevantes que necessitam ser desenvolvidos por meio de leituras que possam
contribuir para a realização de ações que levem o indivíduo a perceber como a
biodiversidade se faz presente na sua vida, bem como a sua importância para a
manutenção da vida no planeta. Conhecer esses aspectos é essencial para
promover o respeito e à conscientização sobre o meio ambiente e os outros seres
vivos.
Pelas respostas apresentadas na tabela 1, os alunos demonstram ter pouca
familiaridade com as leituras que informam sobre a ciência. No entanto, não
parecem alheios às informações relacionadas à biodiversidade, visto que
conseguem por meio de alguns termos usuais da ciência, refletir e relacionar aos
assuntos que lhes é de conhecimento, mesmo sem uma visão mais complexa
acerca do tema correspondente ao questionário1.
Tabela 1 - Análise do questionário inicial Questão /tema Síntese das respostas e percentual resultante
Quanto tempo você dedica à leitura?
68,7% 30 minutos; 21,8% uma hora; 9,37% mais de duas horas.
Qual material de leitura você mais utiliza?
50% livros; 40,62% gibis; 3,12% revista; 6,25% outros.
Leituras que informam sobre animais e plantas e dos lugares onde eles vivem.
96,8% consideram muito importantes, ajudam a compreender melhor os problemas da natureza; 3,12% consideram pouco importante.
Você já ouviu falar em biodiversidade? O que esta palavra representa para você?
6,25% representa os animais; 18,75% os ambientes: florestas, água , solo, ar ; 71,87% a natureza em geral com todas as formas de vida; 3.13% não souberam responder.
A floresta localizada na sua região/estado é considerada uma das mais importantes do mundo. Você saberia dizer que floresta é essa?
100% designaram a mata atlântica.
Dos animais e árvores “símbolos” quais destes representam sua região?
100% reconheceram o Pinheiro-do-Paraná e a Gralha azul.
No Brasil muitos animais já constam na lista de extinção, como por exemplo: jaguatirica, lobo-guará (...), entre outros. Quais são as causas que mais contribuem para esta realidade?
9,37% consideram a caça ilegal; 90,62% tráfico de animais, queimada, desmatamento e poluição.
São considerados animais silvestres:
100% nomearam o mico-leão- dourado, papagaio e jabuti.
Se uma determinada espécie animal sofresse redução em sua população, poderia acontecer aos demais, que compartilham o mesmo ambiente?
87,5% salientam que poderá haver desequilíbrio na cadeia alimentar; 3,12% responderam que sobraria mais alimento para os demais consumidores; 9,37% não responderam.
Fonte: A Autora.
Após o desenvolvimento do projeto de intervenção os alunos apresentaram
novamente as suas considerações a respeito dos assuntos trabalhados conforme
apresentado na tabela 2.
Tabela 2 - Análise do questionário final
Questão/tema Resposta em síntese e resultados das observações
Exemplos de falas significativas
Biodiversidade
Representa: todos os seres vivos do planeta Terra; o acervo da vida; a grande variedade de animais, plantas, bactérias e fungos; todos os tipos de vida de uma floresta; natureza e habitat que animais e plantas vivem; são as plantas, insetos, nós e as bactérias.
A8 - “É parte da biodiversidade a variedade de vidas existente numa região, floresta, rios e mares, exemplos, aves mamíferos, insetos e tudo que tem vida”.
Habitat e nicho ecológico
Para a maioria, habitat é o lugar onde o animal vive no ambiente de uma floresta, rio, lago, mar; exemplos dados: o urso panda vive na floresta de bambu, o leão e elefante na floresta africana; é o lugar na mata onde os animais convivem com
A24 - “A mata araucária é o habitat da gralha azul [...]”. A9 - “[...] é o mesmo que
outros animais, encontra alimento e abrigo; são os rios, os mares onde vivem peixes como tubarões, baleias, estrela-do-mar e outros. Nicho é o jeito como o animal vive, como se relaciona com outras espécies, como caça sua presa, onde põem seus ovos, como se reproduz, quantos filhotes eles têm; é a condição de vida de cada animal na natureza.
o endereço dos animais, onça pintada vive na floresta amazônica, o mico- leão-dourado da mata atlântica e a sucuri no pantanal”. A7 - “Nicho tem haver com o que o animal faz, para fugir do perigo, ou atacar a presa e como acasala e cuida dos filhotes [...]”.
Cadeia alimentar Representação: Planta – minhoca – peixe – homem; Planta aquática – peixe pequeno – tilápia – eu; Algas – caramujo – peixe- ave – homem; Planta aquática, camarão, eu.
A26 – “Pasto – boi – queijo – eu”. A13 – “Milho – lagarta – porco – homem”.
Qual a origem da energia utilizada pelas plantas? E a relação com a produção de alimento dos demais seres vivos?
Os alunos no geral reconheceram a energia proveniente da luz do sol, onde a planta utiliza para a produção de alimento. Outros mencionaram o processo como sendo à fotossíntese responsável pela fabricação de alimento. Houve aqueles que citaram que para a planta realizar a fotossíntese é necessário, junto com a luz, água, sais minerais e gás carbônico.
A18 - “A energia vem do sol, a planta usa para fazer um açúcar especial que se transforma em alimento, assim os animais também se alimentam passando de um grupo para outro”.
Como a biodiversidade está presente em nossas vidas?
Está presente em muitos lugares: ruas, praças, jardins, hortas; zoológicos, museus empalhados; presente também nas coisas que comemos, (carne, fruta, legumes e verduras) e que usamos como, perfumes, remédios e até nas vacinas.
A22 - “A biodiversidade está em várias coisas, nos alimentos, nos remédios e nos produtos que são feito de plantas e de tudo que é retirado da natureza”.
Você se considera parte da biodiversidade? Como você pode contribuir para preservá-la?
Sim, plantando árvores, jogando lixo no lugar certo; preservando a vida dos pássaros; economizando água, energia, separando melhor o lixo da minha casa: latinha, plásticos garrafas pet, não queimando o lixo do quintal e nem no mato; cuidando para não deixar água parada; não jogar entulho no rio; usando sacola biodegradável; não deixando o óleo de cozinha cair no ralo da pia; fazendo cartaz na escola sobre os crimes cometidos contra os animais; não usar veneno nas plantas; não comprar animais silvestres, não caçar e não pescar na época de reprodução dos peixes.
A13 - “Plantando árvores na margem do rio Vitória” A31 - “[...] criando horta e jardim na minha casa e plantando árvores para abrigar os pássaros”. A25 - “Cuidando da água e da mata, sem elas, os animais irão desaparecer e nós também”.
O acesso à informação contribui para a
Sim, nos ajuda a conhecer melhor os problemas; sim a gente fica sabendo dos crimes contra a natureza, mostra como
A18 - “Sim, porque você aprende como ajudar a reduzir os crimes contra
redução de crimes como: tráfico de animais, da pesca ilegal poluição das águas e etc?
agem os traficantes de animais; ensina como podemos ajudar a preservar a biodiversidade e denunciar os crimes contra a natureza; deixa as pessoas mais informadas e conscientes do seu dever em cuidar do meio ambiente; aprendemos que é dever de todas as preservar a mata e os animais; por que as informações mostram o que esta acontecendo com o meio ambiente e estimula as pessoas a cuidar melhor da natureza.
os animais”. A22 - “A aprendemos sobre as leis; e como os animais sofrem nas mãos dos traficantes”.
Fatores que contribuem para a perda da biodiversidade.
Destruição das florestas, contrabando de madeira e animais; poluição do ar, da água, do solo; bioprataria; uso de pele de animais, queimadas, desmatamento, caça e pesca ilegal.
A18 -“Usar a pele de para fabricar produtos: casaco, sapato e outros objetos”.
As leituras nas aulas de ciências contribuíram para o seu conhecimento a respeito da biodiversidade?
Sim, através das leituras aprendi sobre animais que não conhecia; sobre os tipos de ameaças à biodiversidade; como vivem os bichos; sobre os biomas dos animais ameaçados de extinção; sobre o desmatamento que vem acabando com os habitat dos animais em quase todo mundo; sobre animais que já foram extintos, como o pássaro Dodô, dos problemas causado pelo homem e que afetam a biodiversidades como, pesca, caça ilegal e o tráfico de animais.
A23 - “Sim, com a leitura aprendi sobre os biomas do Brasil, o habitat e nicho ecológico dos bichos”. A3 - “Sim, lendo aprendi que temos que ajudar a cuidar dos rios e das florestas”.
Você gostou das leituras e atividades desenvolvidas sobre a temática?
Sim, porque fiquei sabendo coisas
importantes sobre a biodiversidade;
porque percebi que a biodiversidade está
a em todo lugar, aprendi que existem
muitos grupos de animais e plantas;
conheci sobre a locomoção dos animais.
A4- “Sim, porque aprendi o jeito de ser de muitos animais, o tipo de locomoção, forma do corpo e lugar onde vivem”.
Fonte: A Autora.
Percebemos nas respostas dos alunos que eles descobriram que fazem parte
da natureza, que esta não se refere apenas aos animais e plantas e que as ações
humanas colocam em risco a vida de todos os seres vivos, principalmente os
humanos.
Os alunos demonstraram que adquiriram conhecimento a respeito da
biodiversidade e do que acontece quando há interferência no meio natural, que isto
contribui para deteriorar e romper com a cadeia natural que mantém a
biodiversidade no planeta. O posicionamento dos alunos a respeito da preservação
da biodiversidade ficou claro nas respostas apresentadas na tabela 2.
5. Considerações finais
A realização deste projeto de intervenção PDE teve como objetivo investigar o
desenvolvimento de uma alternativa de aprendizagem envolvendo textos de
divulgação científica, com a intenção de familiarizar o educando aos termos usuais
desta modalidade textual, com o intuito de promover o hábito de leitura na
apreensão de conceitos biológicos.
Assim, foram desenvolvidas atividades de leitura científica que contribuíram
para construir conhecimentos sobre a biodiversidade sem deixar de provoca-los na
busca da informação, assim como no desenvolvimento da criatividade e
sociabilidade dos conhecimentos adquiridos. No desenvolvimento das atividades
pelos alunos, observou-se, a tomada de consciência de preservação da
biodiversidade.
A temática abordando a biodiversidade estimulou a busca por conhecimentos
relevantes em relação aos animais em extinção, à deterioração do meio ambiente
destruindo espécies da flora e da fauna, à caracterização dos biomas brasileiros
como especiais e essenciais para a vida dos animais que neles vivem e que na
natureza, tudo deve estar em seu lugar específico. Importante para os alunos
perceberem, que a perda da biodiversidade compromete a dinâmica da vida no
planeta.
Uma das grandes contribuições para realização deste tipo de atividade é a
Revista Ciência Hoje, que com informações relevantes e científicas ajudam a formar
conhecimento no ambiente escolar, no entanto o projeto não se restringiu à leitura,
foi mais longe ao corroborar as informações das leituras na prática por meio de visita
ao Refúgio Biológico, realização de palestra com biólogo, pesquisas na internet,
apresentação de vídeos sobre o tema em estudo.
Assim, o desenvolvimento da ilha de racionalidade com o projeto de
biodiversidade contribuiu para evidenciar que a construção dos conhecimentos
científicos devem transpor os conteúdos do livro didático como ferramenta da prática
educativa. É necessário, buscar outras fontes de informações, como: jornais,
revistas, internet e diretamente com especialistas. Deste modo, estabelecer relações
entre os conhecimentos científicos aos do cotidiano, contribui com o objetivo maior
da educação científica.
Referências
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