press review page - clipquick · apesar de a sua família ter sido lide-rada por personalidades...
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A quarta geração da família Champallmaud revela
grande apetência pelos negócios. Mas em vez de seguiremrumos individuais, agruparam-se em torno de um projetofamiliar, onde privilegiam decisões colegiais e, sobretudo,procuram o consenso. Trata-se de quatro filhos de ManuelChampalimaud, bisnetos de Carlos Montez Champalimaud,que se uniram sob a égide da holding Gestmin. Todos, geremparticipações em redes de energia, definem estratégias paraa área das telecomunicações, preparam uma agressivaoferta no mercado de cereais e ainda querem reforçar ocrescimento no segmento do gás engarrafado. Na atualconjuntura recessiva, estão particularmente atentos aoportunidades de investimento porque sabem que os bons
negócios se fazem quando a economia está em baixa.
Quem visse Manuel Champalimaud, de
66 anos, a trazer pela mão um dos seus
filhos mais pequenos, durante uma visita
ao lugre Creoula - construído em 1937 nos
Estaleiros Navais de Lisboa, que pertence-ram à família da sua mãe, Maria CristinaJosé de Mello - facilmente entenderia
que o empresário tem todas as razões do
mundo para querer acreditar no futuro do
seu grupo.Apesar de a sua família ter sido lide-
rada por personalidades extremamentefortes, com "patriarcas" que se tornaramconhecidos na sociedade portuguesa ao
longo de todo o século xx - nos negócios
portugueses nacionais e internacionais,em África, no Brasil, e também na polí-tica -, o modelo de liderança empresarialdo quarto filho de António Champalimaudmostra-se radicalmente diferente: dá vozativa à geração mais nova, procurando o
consenso. E, assim, confirma que a verda-deira riqueza e diversidade de um homemestá nos seus filhos.
Manuel Carlos de Mello Champalimaudcompletou 66 anos, a 14 de abril. Sem qual-quer veleidade de pretender reconstituirum império igual ao do seu pai António de
Sommer Champalimaud - ou como a CUF,do seu bisavô materno, Alfredo da Silva -,admite, no entanto, que cada membro dasua família tem valências próprias que per-mitem alicerçar, com "prata da casa", umgrupo empresarial forte e unido.
Por isso, juntamente com quatro dos
seus nove filhos, decidiu levar mais longeo projeto da sua holding Gestmin, refor-
çando-lhe a matriz familiar. Com essa
estratégia, assume uma lógica de gestão
que vai além dos negócios de curto prazo.
Criar valor para a geração seguinte"Desenvolvo a atividade do grupo Gestmin
com o apoio de quatro filhos - Rodrigo,
que está nos Estados Unidos, e Duarte, Ana
e Tomás, que estão em Portugal -, porquetodos partilhamos a ideia de que há opor-tunidades de investimento que devem ser
aproveitadas a favor da criação de valorem negócios que não são exclusivamente
meus, nem dos meus filhos, mas perten-cem essencialmente às próximas gerações,
para que também elas possam vir a fazer o
mesmo em relação aos seus descendentes",defende Manuel Champalimaud.
Depois de ter herdado - o seu paiAntónio de Champalimaud deixou maisde 2 mil milhões de euros, dos quais 500milhões foram destinados à FundaçãoChampalimaud - Manuel Champalimaud
perguntou aos seus filhos o que queriamfazer: juntarem-se num projeto de conti-
nuidade, ou, em vez disso, "pegarem noseu quinhão para seguirem a sua vida".
Só há decisões em consenso"Eles disseram-me que se preferiam jun-tar num projeto de continuidade. Comoisso pressupõe a gestão profissional dos
ativos, foi esse o caminho que seguimos.Organizámos a gestão com colaboradores
cujas idades estão entre a minha e a dos
meus filhos. Mas os meus filhos estão noconselho de administração da Gestmin e
cada dia que passa conhecem melhor os
negócios, podendo ser mais correspon-sabilizados por aquilo que se passa. Hoje,estivemos toda a manhã num conselhode administração onde eles têm voz e as
decisões são tomadas por unanimidade,por consenso. Discutimos e enquantonão houver consenso a discussão não se
encerra. São todos livres e estimulados
para darem as suas opiniões", refere o
empresário."A estrutura do nosso grupo pressu-
põe agirmos debaixo da holding Gestmin,mas cada um dos meus filhos está livre
para, com o seu aforro, se dedicar às suas
start-ups ou às atividades que mais lhes
interessam", explica ainda o empresário,apresentando à EXAME o grupo de filhos
que trabalha consigo.
Rodrigo é o mais velho. Por questõesprofissionais não esteve presente no en-contro com a EXAME, atendendo a quetrabalha nos Estados Unidos, no sectorfinanceiro. Por isso, também tem acom-panhado a área financeira da Gestmin.
Segue-se, por ordem de idade, Duarte,
que é gestor, tem negócios próprios e lan-
çou uma start-up no sector da saúde. De-
pois está Ana, que, além do trabalho naGestmin, frequenta um mini MBA numcurso de joalharia no Porto e seguiu a pro-fissão de designer. Tomás é o mais novo do
grupo e tem um emprego em advocacia.
"Cada um tem a sua autonomia e emparalelo estamos todos ligados, a colaborar,
corresponsáveis no sucesso da Gestmin,
cujos ativos não são meus, nem são deles.
Todos temos obrigação de administrar bemestes ativos, fazê-los crescer, conservá-los
o melhor possível para podermos passá-los para as gerações que venham", refereManuel Champalimaud.
Gestão "democratizada"A Gestmin tem um historial ainda recente.Mesmo assim, conseguiu tornar-se numacionista de referência nas redes ibéricasde energia. Apostou forte na atividade
portuária e nos silos de cereais. Tem umamarca em crescimento no segmento do
gás engarrafado. E também está presentenas telecomunicações. Tudo isso - quejá não é pouco - é gerido "sem qualquerdúvida, de forma 'democratizada', o queobriga a apurar os raciocínios, levando à
clarificação das estratégias e das opções
que se tomam internamente", reconheceManuel Champalimaud. •••
Tem a seu cargo competências jurídicas, a
parte imobiliária e as comissões internas na
Cestmin. Reparte a vida profissional entre o
estágio de advocacia no escritório de Ricardo
Sá Fernandes - "ser advogado de barra,
onde se vive a vida como ela é, tem mais quever comigo do que o trabalho especializadoe repetitivo nas grandes sociedades de
advogados" - e as participações da Gestmin,sobretudo na área da energia. "Já fui a três
assembleias gerais da REN e acho que as
oportunidades da empresa têm vindo a
aumentar sempre. A internacionalização da
REN será muito importante para Portugal."
Além de integrar a comissão de remuneraçõesdo grupo Gestmin, Ana acompanha a atividade
dos Silos de Leixões, onde diz que há grandepotencial de crescimento. "É um mundo
diferente, duro, e pouco ou nada feminino,mas onde estamos muito focados no negócioda armazenagem de cereais", diz. Por isso,
acredita que "Leixões vai dar novas cartas nestaárea e espero ter novidades em breve. Importarcereais é fundamental para a alimentaçãohumana e para a indústria de rações. Só
posso dizer que não vamos parar. Há tantas
oportunidades por explorar. Vamos fazer
melhor, para sermos mais competitivos".
••• "O contributo dos meus filhos temsido importantíssimo. Criámos aqui umarelação causa/efeito e é inegável que so-mos mais fortes nas decisões que toma-mos, porque sempre que tomamos umadecisão fazemo-lo por consenso", diz.
Antecipa nacionalização na Bolívia
Foi o que aconteceu há pouco tempo coma participação na Red Eletrica de Espana(REE). "Desinvestimos substancialmente
na REE, antes do Presidente da Bolívia, Evo
Morales, se ter lembrado de nacionalizar a
Transportadora de Eletricidad da Bolívia,
que é uma participada da REE. Por isso,
atualménte, só fiquei com uma partici-pação residual na REE", comenta Manuel
Champalimaud.Depois do desinvestimento na REE,
a Gestmin precisa de aplicar a liquidez
excedentária com que ficou e procura al-ternativas com potencial para reinvestir
capital, sendo certo que continua inte-ressada em reforçar na Redes EnergéticasNacionais (REN) , a homóloga portuguesada REE.
"O investimento na REE foi puramentefinanceiro, e garantiu-nos estabilidade.Assistimos à desvalorização de ativos co-tados por todo o lado e, nessa perspetiva, o
investimento na REE revelou-se um refú-
gio. Foi uma escolha acertada", considera
o empresário.
Reinvestir com preços em descontoAlém da Gestmin ter desinvestido naREE com mais-valias, o reinvestimentobeneficiará da atual conjuntura, em queos preços dos ativos baixaram bastante,existindo grande variedade de alternativas
que refletem descontos elevados face aos
preços de há cinco ou seis anos.Manuel Champalimaud admite que a
Gestmin tomou a decisão acertada ao sairda REE, e no timing correto, porque, re-fere, "na REE não tínhamos voz no conse
lho de administração. A atividade da REE
está concentrada nas mãos do presidente,nomeado pelo Estado espanhol. E note-se
que não tínhamos lugar na administração,
apesar de na altura sermos o maior inves-tidor individual privado na REE".
Entre os restantes ativos mais impor-tantes do portefólio da Gestmin encon-tra-se a Oz Energia - detida a 100%. Esta
empresa de gás engarrafado continua a serconsiderada pelo acionista como um pro-jeto com grande potencial. Na REN, a Gest-
min não esconde o interesse em aumentara respetiva participação (arualménte de-
Tem experiência de gestão executiva emvários sectores na Gestmin e nos seus projetos
próprios, como o ConsultaClick.com, na área
da saúde, que já internacionalizou. Embora a
conjuntura seja difícil, diz que vivemos uma
época fantástica para o empreendedorismo:
"Hoje, tudo tem um valor muito mais ajustadoà realidade, além de que há compras que se
podem fazer a preço de saldo." Recusa a ideia
de ter aptidão para negócios por causa do perfilda sua família. "Não sou empreendedor porqueme chamo Champalimaud, mas porque gostodo que faço. Quem quiser começar, deve fazê-lo
agora e não quando o mundo sair da crise."
Aposta onde acredita. Energia, silos, portos,
telecomunicações. É um investidor atento.
Capta o fundamental e desenvolve as
potencíalidades identificadas. Vê grande
potencial na Oz Energia, que já detémuma quota de 10% do mercado de gás
engarrafado, e admite que pode crescerna logística de produtos petrolíferos. Queraumentara participação na REN, onde, direta
e indiretamente, controla 6% do capital. Como
está na REN porque investiu, aguarda que o
enquadramento legal dos administradores sejarevisto para retomar o cargo na REN sem serclassificado como gestor público.
tém 5,8% da REN). Também mantém 36%
na Oni. E acredita no crescimento da ativi-dade dos Silos de Leixões. É neste núcleode empresas que se concentra a atençãoda Gestmin.
Ou seja, o grupo de Manuel Champali-maud alicerça os seus principais ativos nosector da energia (gás engarrafado e redes
de energia), nas telecomunicações e nossilos de cereais.
Oni foi investimento fortuito
"A única participação que saiu fora da
lógica é a Oni, porque resulta de um in-vestimento fortuito de private equity, quemais tarde - por força das circunstâncias
e do mercado que deixou de ser favorávelàs operações de private equity -, fomos
obrigados a gerir e tomar o investimentode outra forma, com outro timeframe",
explica o empresário, garantindo queatualmente a Gestmin pretende que "a
gestão da Oni seja orientada para a suasustentabilidade e para o crescimento,como uma empresa normal".
A Oni mudou bastante nos últimos
tempos e "hoje não é conhecida", diz."Antes teve uma faceta residencial, muito
importante. Mas hoje a Oni afirma-se pelosegmento corporativo. Não está na boca do
grande público, que não a conhece. No en-tanto, as empresas conhecem a Oni porqueé uma concorrente da PT e é uma alter-nativa credível a empresas instaladas nomercado, para quem procure uma ofertade comunicações com uma solução corpo-rativa. A Oni tem uma faturação para cimade 100 milhões de euros e um Ebitda de
mais de 20 milhões. Portanto, tem o seu
espaço económico e tem condições para
encontrar uma viabilidade mais notória",considera Manuel Champalimaud.
Sobre o futuro, admite que a Oni "só
poderá crescer", porque "cada vez vai ha-ver mais telecomunicações. Recentemente,mudámos toda a gestão da Oni com vista a
adequá-la a uma filosofia diferente. Os po-tenciais clientes da Oni compram ou não
serviços à Oni exclusivamente pela qua-lidade da proposta que apresenta às em-
presas. Isso torna quase irrelevante a suanotoriedade junto de um grande público,
porque no segmento corpomte só interessa
a forma como está no mercado e o tipo de
serviços que disponibiliza".
Fibra da Oni é ativo importanteA Gestmin considera que a Oni tem bons
ativos - designadamente, diz que temuma rede de fibra importante -e ••*
Pedro Morais Leitão (ex-quadro da Media
Capital) é o novo CEO da Oni, substituindo
Xavier Rodríguez-Matín, que esteve na
empresa durante 14 anos. A Gestmin controla
36% da Oni e acredita na capacidade da nova
administração desenvolver a atividade da
empresa de telecomunicações, sobretudotirando maior partido da qualidade dos seus
ativos, em particular, do potencial da rede de
fibra. A Gestmin está empenhada em efetuaro levantamento de potenciais parcerias com
pequenos operadores especializados que, em
associação à Oni, possam criar sinergias paradesenvolver este negócio. A empresa deverá
apostar mais em soluções de nicho, tecnologiasespecializadas e novos conteúdos.
Rui Cartaxo, o CEO da Redes EnergéticasNacionais (REN) tem tido grande apoio porparte de Manuel Champalimaud. Os novos
parceiros estratégicos da REN, a chinesa StateGrid (que comprou 25% da REN), e os árabes daOman Oil (15% da REN) são tidos pela Gestmin
como elementos fundamentais no projeto de
crescimento e internacionalização da REN.
Neste sentido, Manuel Champalimaud continuamuito interessado em acompanhar rodos os
projetos externos da REN e tentará reforçar asua participação além dos atuais 6% detidos
na empresa gestora de redes de energia. Nosmercados externos, Moçambique é apontadocomo um dos países mais importantes para a
REN, a par de Angola e do Brasil.
David Faustino, diretor-geral da Oz Energia,continua a apresentar crescimentos anuais
regulares na atividade do gás engarrafado,consolidando uma quota de 10% deste
mercado. "Temos vindo a crescer a um ritmode 0,6% a 0,7% ao ano, o que confirma aestabilidade deste segmento de negócioe a fidelidade do nosso cliente", comenta
o diretor-geral. A Oz Energia é das poucasempresas do sector que dispõe de um terminal
fluvial próprio, viabilizando o abastecimentodas infraestruturas de tancagem de
combustíveis por via marítima. Neste sentido,a Oz Energia tem capacidade para concorrer
a novas oportunidades que apareçam nomercado dos combustíveis.
••* o acionista pretende tirar retornodisso. "Sabemos que temos de investir naOni e estamos a desenvolver um trabalhode levantamento de potenciais parceriascom pequenos operadores especializadose que em associação com a empresa pos-sam criar sinergias para irmos mais longe" ,
refere Manuel Champalimaud.
Há oportunidades nos silos
Sobre os Silos de Leixões, a Gestmin sabe
que este é um "negócio maduro". "Para nós
teve a grande novidade de entrarmos naárea das concessões e nos portos", conta o
empresário. "Estamos expostos ao sector
portuário à espera de oportunidades quea seu tempo hão de vir. O sector tem mui-tas ineficiências e, por isso, naturalmentehão de surgir oportunidades. Precisamosde uma concessão de longo prazo, de 25
anos, renováveis, e os Silos de Leixõesdão-nos essa estabilidade, que na ótica do
nosso grupo de família é importante, com
pouco risco." Nesta perspetiva as poten-cialidades de Sines são óbvias. Contudo,
apesar da Gestmin querer crescer no sec-tor portuário, é pouco provável que ceda à
tentação de entrar neste porto alentejano."Sines destina-se à operação de carga
em contentores e está nas mãos de umagrande multinacional. É um bom porto de
águas profundas, e a sua vocação é ser umaporta de entrada na Europa para concorrercom Roterdão. O seu principal problema é
que as suas vias de escoamento têm sido
esquecidas. Agora fala-se outra vez na li-gação ferroviária rápida a Madrid, e daí à
fronteira francesa. Acho que isso seria umgrande boost para Sines, cuja dimensão é
europeia. Devem estar instalados em Sines
os grandes operadores europeus e mun-diais", comenta.
Relativamente à salvaguarda dos in-teresses empresariais portugueses - a
questão dos centros de decisão nacionais,
que agora começa a entrar em desuso -,Manuel Champalimaud não alimenta ilu-sões, reconhecendo que o dinheiro acaba
sempre por falar mais alto. "Perante tan-tas dificuldades em acedermos a capitais,julgo que em Portugal não podemos recu-sar propostas de investimento estrangeiro,até de fora da Europa, que, aliás, têm sidobem sucedidas nas últimas operações devenda de participações estatais na EDP e
na REN."
Não há ações da REN à vendaTirando as operações de alienação de ca-pitais públicos, o mercado português está
cada vez mais rarefeito, sendo muito difícilinvestir em empresas através da comprade ações em Bolsa. "Só não reforçámosmais na REN porque o mercado ainda não
permitiu. Não há ações à venda. Há dias
que nem se conseguem comprar •••
«SUCESSÃO PREPARADA»
O guardiãoManuel Champalimaud defendeum modelo de organizaçãoempresarial que prepara e
agiliza a sucessão da liderançanos negócios. "O fundador de
um grupo empresarial familiarnão é mais que um 'guardião'do património que gere, e isso
implica que tenha consciência da
obrigação social de transmitir aosoutros, e nas melhores condições,o produto da sua realização." É
assim que pensa. E já amadureceueste conceito no seu grupo.Porque o empresário acredita
que a "sucessão prepara-se eesse trabalho só pode ser feito
por quem será sucedido". Diz que"os sucessores, por si, não têmnaturalmente a independêncianecessária para organizar asucessão com sucesso". O
que leva à inevitabilidade de
ter de preparar este passocom antecipação, "enquantoaquele que vai ser sucedido
tem independência para o
fazer". Refere igualmente quea complementaridade entre a
geração mais velha e a mais nova- "quando bem sucedida" -, "será
uma mais-valia importantíssimae um grande fator de
competitividade". O objetivodeste equilíbrio geracional é
manter a eficiência nos negócios."Quando somos ineficientes,estamos a empobrecer e
a contribuir para o sucessode alguém que é eficiente",considera. Por isso, "quando a
geração mais velha insiste em
governar a empresa de A a Z,
ou seja, do topo às operações,não deixando que uma geraçãomais nova cumpra o seu papel de
acordo com as suas capacidadesnaturais e no momento próprio,está a anular, sem qualquervantagem, o valor potencial das
gerações seguintes. Isto aconteceem casos conhecidos em queo líder, com mais de 75 anos,continua agarrado às operaçõesda sua empresa. Já anuloua geração que se lhe seguee estará também a anular a
seguinte. Será este um excelente
exemplo de ineficiência e um
indicador de falta de plano de
sucessão". A vontade de quemé sucedido, diz, "deve ficar
cingida à cultura e aos valores
na empresa que entrega,deixando para os sucessoresa responsabilidade da escolhado modelo que melhor garantaa continuação do sucesso
empresarial".
••• 1000 ações. O mercado portuguêsé muito limitado", refere.
Como a REN é uma das grandes apos-tas da Gestmin, a entrada de parceiros chi-neses - a gigante State Grid, com 25% daREN, e parceiros árabes - a Oman Oil, com15%, foi muito bem recebida pelo grupo de
Manuel Champalimaud.
Necessários como pão para a boca
"A associação à State Grid e à Oman Oiltraz muito valor acrescentado à REN. AState Grid vem com pacotes de financia-mento que não encontrámos na Europae que são necessários como de pão paraa boca para a REN. A Oman Oil é um in-vestidor financeiro de longo prazo e, dos
poucos contactos que mantive com eles,tive a satisfação de os ver como parceirosparticularmente atentos e construtivos na
gestão. Apesar de serem só investidoresfinanceiros, têm prática de negócios in-
ternacionais e uma grande bagagem de
gestão. São quadros de um fundo sobe-rano do Sultanato de Omã e estão bempreparados para acompanhar a vida deuma empresa. Integrar a disponibilidadede um grande grupo chinês e a capacidadefinanceira árabe é um desafio tremendo à
nossa organização. Não tenho dúvida de
que ambas vão melhorar a nossa organi-zação. Quer a associação à State Grid querà Oman Oil, são positivas para a REN",considera.
No entanto, a venda de capital da RENa investidores estatais estrangeiros conti-nua a ser um tema politicamente sensível.Tanto assim é, que vários jornais portugue-ses referiram que a área do planeamentoda REN tinha sido entregue a um gestorchinês, "quando a distribuição de pelou-ros ainda nem foi efetuada", nota Manuel
Champalimaud. "Essa questão não foi de-finida e o assunto é extemporâneo", diz.
Há desinformação sobre chineses"Até ao momento, a realidade não é essa.O planeamento não foi sequer atribuído a
qualquer administrador. Estamos a estu-dar toda a estratégia de médio e de longoprazos para a REN e só depois de encer-rarmos esse dossiê é que vamos pensarna organização interna. Não podemosdistribuir as competências antes de haver
um plano estratégico", explica. Atendendoa que "a REN é uma concessão e tem umregulador", a questão da "venda do seu
capital" não constitui qualquer ameaçapara a soberania portuguesa, consideraManuel Champalimaud. "A REN é a portade entrada mais barata para a State Gridinvestir na Europa e também é a porta maiseficiente para entrar em África. Duvidoque a State Grid tenha o mesmo sucesso
em África se não tiver à frente a REN. Te-mos visto ao longo do tempo que os paí-ses africanos de língua portuguesa •••
••• acolhem bem os portugueses, masnão têm dado o mesmo tratamento em
relação a investidores chineses. Pelo quesei, julgo que a State Grid está interessada
principalmente no mercado de Moçambi-que, onde as reservas de carvão e de gássão incalculáveis", comenta o empresário.
Impossível avançar com tudoSobre o ambicioso plano de investimentointernacional da REN, Manuel Cham-palimaud admite que "não será possível
avançar ao mesmo tempo com todos os
projetos pretendidos para os mercadosexternos. Para avançar com um projeto,é preciso ter as competências internas,ter a estrutura e ter capacidade de inves-timento". Quanto a Moçambique, diz que"ninguém tem dúvida de que o potencialestá lá e que nós, portugueses, somos os
parceiros ideais para estarmos a operar em
Moçambique".
Rede de gás natural não cresce mais
Finalmente, sobre a Oz Energia, Manuel
Champalimaud diz que se trata de um ne-gócio com uma base de crescimento muitosólida e que "o mercado do gás engarra-fado tem futuro garantido porque a redede gás natural não deverá crescer mais".
"O volume de vendas da Oz aumentou48% no último ano e o seu Ebitda cres-ceu 26%. Temos uma gestão agressiva e
estamos a ser bem sucedidos. Os grandesplayers internacionais da indústria petro-lífera estão a concentrar-se no upstreame a atividade retalhista do gás engarrafadoserá deixada a operadores locais, entre os
quais achamos que já temos um papel im-portante", diz.
Curiosamente, tinha acabado de serapresentada à Gestmin uma empresa ho-landesa familiar, com 15 500 funcionários,dedicada à comercialização de gás GPL.Em toda a Europa acabou a expansão das
redes de gás natural, o que viabiliza a ati-vidade de comercialização de outros tiposde gás. E em Portugal também já não existe
a diferenciação fiscal que privilegiava o
preço do gás natural. "A alteração fiscalem sede de IVA igualou os dois produtos,gás engarrafado e gás natural, o que tornao produto da Oz mais competitivo. Agoraenfrentamos o mercado de igual paraigual", refere. O
A "estrela" do Sea Lion
Com orla a negro, o pequeno galhardete triangular de pano do veleiro SeaLion tem no meio da sua bandeira distintiva uma estrela pentagonal verme-lha. Faz já 40 anos que o galhardete do Sea Lion não é visto em Portugal, maseste verão o veleiro deverá revisitar Cascais, pois será testado na regata Tran-sat Classique, que parte de Duarnenez, na Bretanha, e passará por Cascais.
Se não fosse Manuel Champalimaud ter encontrado o Sea Lion na Grécia,em 2008 - em péssimo estado -, muito provavelmente hoje já não existiria.Comprou-o em 2009 e esteve a ser recuperado até 2011. No ano passado, oSea Lion iniciou a sua segunda vida. Manuel Champalimaud refere que arecuperação deste veleiro "é um projeto de família", destinado a ser utilizadoconjuntamente por todos os seus filhos.
A história do Sea Lion começou há 60 anos. Trata-se de um veleiro dotipo cutter yawl (de dois mastros) com velas Marconi (triangulares) de 67 pés(20,4 metros) com casco de mogno, revestido a pranchas de carvalho e comdeck de teca. Foi construído na Alemanha, em 1952, no estaleiro Abeking &Rasmussen, por encomenda de Gilbert Verney, de Boston, Massachusetts,nos Estados Unidos. Os seus planos tiverem o desenho de Cari Alberg, dogabinete náutico Marblehead, também de Massachusetts.
Em 1952, o Sea Lion foi expedido da Alemanha para os Estados Unidos,onde foi acabado, tendo iniciado imediatamente a participação em regatasna costa leste. Provou logo excelentes qualidades como veleiro. Em 1954,distinguiu-se na regata de La Bermuda. No ano seguinte, conquistou os pri-meiros lugares nas taças Astor Cup e Queens Cup. Em 1957, quando ManuelChampalimaud tinha 11 anos, o Sea Lion foi comprado pela sua mãe, MariaCristina de Mello, para velejar com a família em Portugal e no Mediterrâneo.Vendeu-o em 1973, tinha então o seu filho Manuel 27 anos.
Depois de ser readquirido em 2009, levou dois anos a ser integralmenterecuperado no Reino Unido, na Southampton Yacht Services. Apesar dosseus 60 anos, o Sea Lion renasceu, dotado das mais modernas soluções parao aparelho vélico, utilizando componentes em fibra de carbono. ManuelChampalimaud diz que vai concluir em breve um livro sobre este veleiro.