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ENGENHARIA 635 / 2017 22 WWW.BRASILENGENHARIA.COM Organograma divisão de estruturas coordenador: Natan Jacobsohn Levental vice-coordenador: Lúcio Martins Laginha divisão de engenharia sanitária e recursos hídricos coordenadora: Ana Carolina Russo divisão de geotecnia e mecânica dos solos e fundações coordenador: Francisco José Pereira de Oliveira divisão de segurança no trabalho coordenador: Jefferson Deodoro Teixeira da Costa vice-coordenador: Theophilo Darcio Guimarães divisão de geração e transmissão coordenador: Manoel Ribeiro de O. Neto divisão de construção sustentável e meio ambiente coordenador: José Manoel de Oliveira Reis vice-coordenador: Eng. Amir Hernandez Musleh secretário: Henrique Dias de Faria divisão de cadastro urbano e rural coordenadora: Fátima Tostes divisão de distribuição de energia coordenador: Carlos Costa departamento de tecnologia e ciências exatas divisão téc. de gerenciamento de empreendimentos coordenador: Sergio L. A. Rezende departamento de engenharia de produção diretor: Antonio Guilherme Menezes Braga vice-diretora: Debora Sanches de A. Marinello secretária: Flavia Maluza Braga divisão da qualidade e produtividade divisão técnica de avaliações e perícias coordenador: José Fiker vice-coordenador: José Marques secretário: Alfredo Vieira da Cunha divisão de manutenção divisão de equipamentos para transporte de carga e urbano de passageiros departamento engenharia de atividades industriais e de serviços departamento de engenharia de mobilidade e logística diretor: Ivan Metran Whately vice-diretor: Neuton Sigueki Karasawa divisão de transporte ativo coordenador: Reginaldo Assis de Paiva vice-coordenador: José Ignácio Sequeira de Almeida divisão de transportes metropolitanos coordenador: Fernando José de Campos Marsiglia divisão de trânsito coordenador: Maria da Penha Pereira Nobre vice-coordenador: Vanderlei Coffani divisão de logística coordenador: José Wagner Leite Ferreira divisão de telecomunicações coordenadora: Flavia Bartkevicius Cruz Secretário: Ogelson Dias da Fonseca divisão de instalações elétricas coordenador: Paulo Eduardo de Q. M. Barreto secretário: Oswaldo Boccia Junior divisão de controle e automação coordenador: Jorge Antônio Mariano Duarte divisão de materiais divisão de equipamentos para o agronegócio divisão de equipamentos automotores departamento de engenharia do habitat e infraestrutura diretor: Roberto Kochen vice-diretor: Habib Georges Jarrouge Neto departamento de engenharia química diretor: Maurílio Luiz Vieira Bergamini vice-diretor: Miguel Tadeu Campos Morata departamento de engenharia de agrimensura e geomática diretor: Miguel Prieto vice-diretor: Aristeu Zensaburo Nakamura secretário: Osiris Monteiro Blanco vice-presidente de atividades técnicas: JERÔNIMO CABRAL P. FAGUNDES NETO diretor programação: RICARDO HENRIQUE DE A. IMAMURA presidente: EDUARDO FERREIRA LAFRAIA divisão de acústica coordenador: Schaia Akkerman vice-coordenadora: Maria Luiza Rocha Belderrain secretário: Ricardo Santos Siqueira divisão de planejamento e engenharia econômica divisão de patologias das construções coordenador: Tito Lívio Ferreira Gomide vice-coordenadora: Stella Marys Della Flora secretário: Odair dos Santos Vinagreiro divisão de informática divisão de engenharia de incêndio coordenador: Carlos Cotta Rodrigues vice-coordenador: José Félix Drigo secretária: Ana Paula de Camargo Kinoshita divisão de preser. do patrimônio histórico e cultural da engenharia coordenador: Marcos Moliterno vice-coordenador: Fernando Bertoldi Corrêa secretária: Miriana Marques divisão de sistemas de informação geográfica coordenador: Aristeu Zensaburo Nakamura divisão de engenharia de sistemas e inovação departamento de engenharia de agronegócios departamento de engenharia de energia e telecomunicações diretor: Aléssio Bento Borelli departamento de arquitetura diretor: Antonio Guilherme Menezes Braga vice-diretora: Debora Sanches de A. Marinello secretária: Flavia Maluza Braga ENGENHARIA 635 / 2017 22 WWW.BRASILENGENHARIA.COM DIVISÕES TÉCNICAS diretoria de cursos diretor: Marco Antonio Gulllo vice-diretora: Ursula Martins Matheus diretoria da revista engenharia diretor: Rui Arruda Camargo secretário: Aléssio Bento Borelli editor da revista: Ricardo Pereira de Mello ENGENHARIA 635 / 2017 23 WWW.BRASILENGENHARIA.COM BRASIL: SEM ENGENHARIA NÃO HÁ DESENVOLVIMENTO engenharia nacional passa por um dos momentos mais difíceis da sua história re- cente. Tempo de desconfian- ças, em que toda a socie- dade parece ter passado a enxergá-la (mais acentuadamente as empresas e operadores desta ciência), com reservas e, não raras ve- zes, atribuindo a ela culpa pelos recorrentes desmandos nacionais e até pela crise por que passa o Brasil, em certa medida, consequên- cia do que estamos vivendo. Não é exagero. Nossos estudantes, que em outros tempos se orgulhavam ao ingressar em um dos cursos de engenharia oferecidos pelas melhores escolas públicas e privadas do país começam a ter certa dúvida com a escolha dessa carreira, em outros tempos tão promis- sora. Fato concreto, relatado por professor di- rigente da Universidade de São Paulo. Pior do que essa dúvida é o questiona- mento que já começa a aparecer na cabeça dos pais desse jovem aluno, que passam a colocar em cheque a seriedade e até a dig- nidade da profissão, principalmente se o so- nho do recente universitário for desenvolver carreira em grandes empresas de infraestru- tura. Está tudo errado. A engenharia nacional e seus profissio- nais foram responsáveis por grande parte do desenvolvimento brasileiro. Se nós temos alguma infraestrutura instalada a nos orgu- lhar, devemos isso aos nossos engenheiros, profissionais disputados internacionalmente através dos tempos. E não só a infraestrutura pública e as edi- ficações privadas devem muito aos profissio- nais desta carreira, mas os bons profissionais de engenharia foram contratados pelo mer- cado financeiro, por grandes indústrias, cha- mados a ocupar inúmeros cargos nas diversas administrações públicas pelo Brasil afora, nas três esferas de governo. Meu avô Plinio Antô- nio Branco, formado em engenharia pela Es- cola Politécnica da Universidade de São Paulo no início dos anos 1920, foi responsável pela condução dos assuntos de concessão da Pre- feitura Municipal de São Paulo nesse início do século passado, colaborando enormemen- te com a administração pública, como muitos outros de sua profissão. A escolha dos profissionais da engenharia pelas grandes empresas e conglomerados ban- cários deveu-se exatamente à tradicional boa formação do engenheiro e pela forma objetiva de pensar e resolver questões complexas, carac- terísticas dos profissionais de ciências exatas. Fica claro, portanto, pelo histórico mais amplo da profissão, que a responsabilidade por obras mal executadas, a preços inade- quados, não raras vezes sem qualquer utili- dade para a sociedade não é da engenharia e nem do engenheiro, muito pelo contrário. É de falta de engenharia. O Brasil habituou-se a contratar mal, principalmente na administração pública. O resultado final de falta de planejamento e de má qualidade na contratação de uma obra é, sem dúvida, uma obra ou serviço de má qualidade e, na maioria das vezes, com valor final acima do que seria possível contratar em condições adequadas de planejamento, projeto e execução. Não se projeta aquilo que não foi plane- jado e não se controla aquilo que não foi ade- quadamente projetado, orçado e planilhado. A boa obra (e aqui o raciocínio vale tam- bém para prestação de serviços de qualida- de) depende, inicialmente, de compreensão da real necessidade da sociedade, de plane- jamento, de contratação e elaboração de um bom (e completo) projeto, de gerenciamen- to e acompanhamento adequados. Pular ou abreviar alguma dessas etapas é receita cer- ta para o desastre, para o descontrole, para incertezas na obra, aditivos desnecessários, inadequados e exagerados. A partir desta contratação adequada, criam-se condições para a execução primo- rosa, para o acompanhamento e gerencia- mento adequados, para medições compatí- veis com o que era necessário fazer e que foi realmente executado, permitindo, assim, pagamento justo. Certamente, a atual lei de licitações con- tribui, em certa medida, para a falta de qua- lidade das obras e serviços, quando força a administração pública a valorizar o menor preço acima de qualquer característica téc- nica, o que interfere, sem qualquer sombra de dúvida, na sua qualidade final. O foco no preço certamente é louvável quando se está diante da necessidade de compra de um produto cujas características são mensuráveis e auditáveis, como papel, por exemplo. Mas não acredito que seja o melhor caminho para a contratação de um médico, advogado, engenheiro, onde a expe- riência, técnica e habilidade profissional são, certamente, tão relevantes quanto o preço. E nem para um projeto de engenharia, que vá definir uma solução e ditar a forma com que será feita uma determinada obra, o que direcionará o seu custo, definirá quantidade de materiais utilizados e, em última análise, poderá até orientar a qualidade urbanística de nossas cidades. Parece-me que a contra- tação por técnica e preço permite a compra de um melhor produto intelectual, como é o caso de um projeto. Mas essa forma de con- tratação tem sido cada vez mais questionada pelos organismos de controle da administra- ção pública a meu ver, inadequadamente. Há de se contratar bons projetos, completos, executados pela melhor técnica e natural- mente pelo menor preço possível, mas nessa ordem, e não o inverso. Mas a legislação de contratação está lon- ge de ser a única responsável pela contratação de obra inadequada, de soluções medíocres ou de projetos de má qualidade. Raramente temos notícia de uma contratação que tenha levado em consideração todos os aspectos de custo de uma solução, de um projeto, incluin- do aí os custos ambientais e sociais, tão ou mais importantes do que o preço raso pago ao contratado. Essa falta de visão de conjun- to na administração pública induz a socie- dade a erro, levando a acreditar que houve sucesso em uma contratação aparentemente de menor valor, quando comparada à uma solução de custo inicial maior, mas que traria benefícios ambientais, por exemplo, que, se valorados, poderiam ultrapassar em muito o valor gasto na contratação. O poder público, através de seus admi- nistradores, tem que ter clareza dos seus objetivos. Executar uma obra pelo menor valor possível é importante, sem dúvida. Mas fazer apenas isso é mediocridade. A en- genharia permite muito mais do que isso, e é preciso valorizá-la. Tomando como exemplo, um projeto de transportes públicos será, certamente, mais barato se utilizarmos veículos com tecno- logia ultrapassada inclusive nos padrões de emissão ambiental, abastecidos com diesel com alto teor de enxofre, circulando sem qualquer infraestrutura de corredores ex- clusivos. Aparentemente, sim. Os investimentos iniciais serão, certa- MARCELO CARDINALE BRANCO*

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divisão de estruturascoordenador: Natan Jacobsohn Levental vice-coordenador: Lúcio Martins Laginha

divisão de engenharia sanitária e recursos hídricoscoordenadora: Ana Carolina Russo

divisão de geotecnia e mecânica dos solos e fundações coordenador: Francisco José Pereira de Oliveira

divisão de segurança no trabalhocoordenador: Jefferson Deodoro Teixeira da Costa

vice-coordenador: Theophilo Darcio Guimarães

divisão de geração e transmissãocoordenador: Manoel Ribeiro de O. Neto

divisão de construção sustentável e meio ambientecoordenador: José Manoel de Oliveira Reis

vice-coordenador: Eng. Amir Hernandez Musleh secretário: Henrique Dias de Faria

divisão de cadastro urbano e ruralcoordenadora: Fátima Tostes

divisão de distribuição de energiacoordenador: Carlos Costa

departamento de tecnologia e ciências exatas

divisão téc. de gerenciamento de empreendimentoscoordenador: Sergio L. A. Rezende

departamento de engenharia de produçãodiretor: Antonio Guilherme Menezes Braga

vice-diretora: Debora Sanches de A. Marinellosecretária: Flavia Maluza Braga

divisão da qualidade e produtividade

divisão técnica de avaliações e períciascoordenador: José Fikervice-coordenador: José Marques secretário: Alfredo Vieira da Cunha

divisão de manutenção

divisão de equipamentos para transporte de cargae urbano de passageiros

departamento engenharia de atividades industriais e de serviços

departamento de engenharia de mobilidade e logísticadiretor: Ivan Metran Whately vice-diretor: Neuton Sigueki Karasawa

divisão de transporte ativocoordenador: Reginaldo Assis de Paiva

vice-coordenador: José Ignácio Sequeira de Almeida

divisão de transportes metropolitanoscoordenador: Fernando José de Campos Marsiglia

divisão de trânsitocoordenador: Maria da Penha Pereira Nobre

vice-coordenador: Vanderlei Coffani

divisão de logísticacoordenador: José Wagner Leite Ferreira

divisão de telecomunicaçõescoordenadora: Flavia Bartkevicius CruzSecretário: Ogelson Dias da Fonseca

divisão de instalações elétricascoordenador: Paulo Eduardo de Q. M. Barretosecretário: Oswaldo Boccia Junior

divisão de controle e automaçãocoordenador: Jorge Antônio Mariano Duarte

divisão de materiais

divisão de equipamentos para o agronegócio

divisão de equipamentos automotores

departamento de engenharia do habitat e infraestruturadiretor: Roberto Kochenvice-diretor: Habib Georges Jarrouge Neto

departamento de engenharia químicadiretor: Maurílio Luiz Vieira Bergamini vice-diretor: Miguel Tadeu Campos Morata

departamento de engenharia de agrimensura e geomática diretor: Miguel Prietovice-diretor: Aristeu Zensaburo Nakamura secretário: Osiris Monteiro Blanco

vice-presidente de atividades técnicas: JERÔNIMO CABRAL P. FAGUNDES NETO

diretor programação: RICARDO HENRIQUE DE A. IMAMURA

presidente: EDUARDO FERREIRA LAFRAIA

divisão de acústicacoordenador: Schaia Akkerman

vice-coordenadora: Maria Luiza Rocha Belderrainsecretário: Ricardo Santos Siqueira

divisão de planejamento e engenharia econômica

divisão de patologias das construçõescoordenador: Tito Lívio Ferreira Gomidevice-coordenadora: Stella Marys Della Flora secretário: Odair dos Santos Vinagreiro

divisão de informática

divisão de engenharia de incêndiocoordenador: Carlos Cotta Rodriguesvice-coordenador: José Félix Drigosecretária: Ana Paula de Camargo Kinoshita

divisão de preser. do patrimônio histórico e cultural da engenhariacoordenador: Marcos Moliterno vice-coordenador: Fernando Bertoldi Corrêa secretária: Miriana Marques

divisão de sistemas de informação geográficacoordenador: Aristeu Zensaburo Nakamura

divisão de engenharia de sistemas e inovação

departamento de engenharia de agronegócios

departamento de engenharia de energia e telecomunicaçõesdiretor: Aléssio Bento Borelli

departamento de arquiteturadiretor: Antonio Guilherme Menezes Braga

vice-diretora: Debora Sanches de A. Marinellosecretária: Flavia Maluza Braga

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diretoria de cursosdiretor: Marco Antonio Gulllo vice-diretora: Ursula Martins Matheus

diretoria da revista engenhariadiretor: Rui Arruda Camargosecretário: Aléssio Bento Borellieditor da revista: Ricardo Pereira de Mello

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BRASIL: SEM ENGENHARIANÃO HÁ DESENVOLVIMENTO

engenharia nacional passa por um dos momentos mais difíceis da sua história re-cente.

Tempo de desconfian-ças, em que toda a socie-

dade parece ter passado a enxergá-la (mais acentuadamente as empresas e operadores desta ciência), com reservas e, não raras ve-zes, atribuindo a ela culpa pelos recorrentes desmandos nacionais e até pela crise por que passa o Brasil, em certa medida, consequên-cia do que estamos vivendo.

Não é exagero. Nossos estudantes, que em outros tempos se orgulhavam ao ingressar em um dos cursos de engenharia oferecidos pelas melhores escolas públicas e privadas do país começam a ter certa dúvida com a escolha dessa carreira, em outros tempos tão promis-sora. Fato concreto, relatado por professor di-rigente da Universidade de São Paulo.

Pior do que essa dúvida é o questiona-mento que já começa a aparecer na cabeça dos pais desse jovem aluno, que passam a colocar em cheque a seriedade e até a dig-nidade da profissão, principalmente se o so-nho do recente universitário for desenvolver carreira em grandes empresas de infraestru-tura. Está tudo errado.

A engenharia nacional e seus profissio-nais foram responsáveis por grande parte do desenvolvimento brasileiro. Se nós temos alguma infraestrutura instalada a nos orgu-lhar, devemos isso aos nossos engenheiros, profissionais disputados internacionalmente através dos tempos.

E não só a infraestrutura pública e as edi-ficações privadas devem muito aos profissio-nais desta carreira, mas os bons profissionais de engenharia foram contratados pelo mer-cado financeiro, por grandes indústrias, cha-mados a ocupar inúmeros cargos nas diversas administrações públicas pelo Brasil afora, nas três esferas de governo. Meu avô Plinio Antô-nio Branco, formado em engenharia pela Es-cola Politécnica da Universidade de São Paulo no início dos anos 1920, foi responsável pela condução dos assuntos de concessão da Pre-feitura Municipal de São Paulo nesse início do século passado, colaborando enormemen-te com a administração pública, como muitos outros de sua profissão.

A escolha dos profissionais da engenharia pelas grandes empresas e conglomerados ban-

cários deveu-se exatamente à tradicional boa formação do engenheiro e pela forma objetiva de pensar e resolver questões complexas, carac-terísticas dos profissionais de ciências exatas.

Fica claro, portanto, pelo histórico mais amplo da profissão, que a responsabilidade por obras mal executadas, a preços inade-quados, não raras vezes sem qualquer utili-dade para a sociedade não é da engenharia e nem do engenheiro, muito pelo contrário. É de falta de engenharia.

O Brasil habituou-se a contratar mal, principalmente na administração pública. O resultado final de falta de planejamento e de má qualidade na contratação de uma obra é, sem dúvida, uma obra ou serviço de má qualidade e, na maioria das vezes, com valor final acima do que seria possível contratar em condições adequadas de planejamento, projeto e execução.

Não se projeta aquilo que não foi plane-jado e não se controla aquilo que não foi ade-quadamente projetado, orçado e planilhado.

A boa obra (e aqui o raciocínio vale tam-bém para prestação de serviços de qualida-de) depende, inicialmente, de compreensão da real necessidade da sociedade, de plane-jamento, de contratação e elaboração de um bom (e completo) projeto, de gerenciamen-to e acompanhamento adequados. Pular ou abreviar alguma dessas etapas é receita cer-ta para o desastre, para o descontrole, para incertezas na obra, aditivos desnecessários, inadequados e exagerados.

A partir desta contratação adequada, criam-se condições para a execução primo-rosa, para o acompanhamento e gerencia-mento adequados, para medições compatí-veis com o que era necessário fazer e que foi realmente executado, permitindo, assim, pagamento justo.

Certamente, a atual lei de licitações con-tribui, em certa medida, para a falta de qua-lidade das obras e serviços, quando força a administração pública a valorizar o menor preço acima de qualquer característica téc-nica, o que interfere, sem qualquer sombra de dúvida, na sua qualidade final.

O foco no preço certamente é louvável quando se está diante da necessidade de compra de um produto cujas características são mensuráveis e auditáveis, como papel, por exemplo. Mas não acredito que seja o melhor caminho para a contratação de um

médico, advogado, engenheiro, onde a expe-riência, técnica e habilidade profissional são, certamente, tão relevantes quanto o preço. E nem para um projeto de engenharia, que vá definir uma solução e ditar a forma com que será feita uma determinada obra, o que direcionará o seu custo, definirá quantidade de materiais utilizados e, em última análise, poderá até orientar a qualidade urbanística de nossas cidades. Parece-me que a contra-tação por técnica e preço permite a compra de um melhor produto intelectual, como é o caso de um projeto. Mas essa forma de con-tratação tem sido cada vez mais questionada pelos organismos de controle da administra-ção pública a meu ver, inadequadamente. Há de se contratar bons projetos, completos, executados pela melhor técnica e natural-mente pelo menor preço possível, mas nessa ordem, e não o inverso.

Mas a legislação de contratação está lon-ge de ser a única responsável pela contratação de obra inadequada, de soluções medíocres ou de projetos de má qualidade. Raramente temos notícia de uma contratação que tenha levado em consideração todos os aspectos de custo de uma solução, de um projeto, incluin-do aí os custos ambientais e sociais, tão ou mais importantes do que o preço raso pago ao contratado. Essa falta de visão de conjun-to na administração pública induz a socie-dade a erro, levando a acreditar que houve sucesso em uma contratação aparentemente de menor valor, quando comparada à uma solução de custo inicial maior, mas que traria benefícios ambientais, por exemplo, que, se valorados, poderiam ultrapassar em muito o valor gasto na contratação.

O poder público, através de seus admi-nistradores, tem que ter clareza dos seus objetivos. Executar uma obra pelo menor valor possível é importante, sem dúvida. Mas fazer apenas isso é mediocridade. A en-genharia permite muito mais do que isso, e é preciso valorizá-la.

Tomando como exemplo, um projeto de transportes públicos será, certamente, mais barato se utilizarmos veículos com tecno-logia ultrapassada inclusive nos padrões de emissão ambiental, abastecidos com diesel com alto teor de enxofre, circulando sem qualquer infraestrutura de corredores ex-clusivos. Aparentemente, sim.

Os investimentos iniciais serão, certa-

MARCELO CARDINALE BRANCO*

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A MORTE DO ENGº WALTER CORONADO ANTUNES

aleceu no dia 17 de agosto último o engenheiro Walter Coronado Antunes Ribeiro, aos 80 anos. De acordo com informações dos familiares, ele faleceu em São Paulo,

após passar alguns dias internado no Hospi-tal Albert Einstein. O engenheiro Walter foi vítima de parada cardíaca e deixou três filhos e três netos. O seu velório foi realizado na capital e ele foi cremado no dia 18 de agosto, no Horto da Paz, em São Paulo. Embora fosse natural de Ibirarema (SP), ele havia recebido o título de cidadão de Assis (SP), outorgado pela Câmara Municipal local.

O engenheiro Coronado foi presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) de 1979 a 1980 e secre-tário de Estado de Obras e do Meio Ambiente de 1980 a 1983, no Governo Paulo Maluf. Ele era formado em engenharia civil pela Escola Politécnica da USP (em 1962) e teve partici-pação ativa no salto de qualidade obtido após a criação do Plano Nacional de Saneamento (Planasa), cujo órgão orientador e financiador era o Banco Nacional de Habitação (BNH), extinto na segunda metade da década de 1980 sem nenhuma orientação federal que o substituísse posteriormente. No Instituto de Engenharia foi vice-presidente e exerceu dois

mandatos no Conselho Deliberativo. Foi um dos próceres da Divisão de Engenharia Sanitá-ria, a mais antiga do Instituto de Engenharia. Quando jovem, na década de 1950, ele jogou basquete e defendeu a Seleção de Assis nos Jogos Abertos de Botucatu de 1953.

Walter Coronado Antunes, que iniciou sua carreira na Cetenco Engenharia em 1963, durante a construção das usinas hi-drelétricas de Ibitinga e Júlio de Mesquita Filho (rios Chopim e Iguaçu) e da Elevatória Santa Inês, trabalhou a seguir na Companhia Paranaense de Eletricidade (Copel) como responsável pelo desenvolvimento do proje-to e construção das obras de desvio do Rio Iguaçu, para instalação da Usina Hidrelétrica de Santo Osório, no período de 1969 a 1971. De lá resolveu vir para o serviço público em São Paulo, onde iniciou como supervisor de obras da Companhia Metropolitana de Sane-amento do Estado (Sanesp), futura Sabesp.

Existiam várias empresas de saneamen-to em São Paulo na época – as principais eram a própria Sanesp, a Superintendência de Água e Esgoto da Capital (Saec) e a Com-panhia Metropolitana de Águas de São Paulo (Comasp), além da Saneamento da Baixada Santista (SBS). Elas foram todas fundidas, o que resultou na atual Sabesp, onde em 1974 ele passou a exercer a função de superinten-

dente de obras para a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), como responsável pela administração e fiscalização de obras con-tratadas no período de 1974 a 1979, quando então foi nomeado presidente da empresa.

Nos seus anos de superintendente de obras para a RMSP, Coronado Antunes se dedicou completamente à implantação do Sistema Can-tareira e à construção de redes de água em São Paulo, em conformidade com o programa do Sistema Adutor Metropolitano.

No ramo do agronegócio ele também se destacou, sendo um dos sócios da Usina Pau D’Alho, em Ibirarema.

mente, menores. Porém, não será difícil com-provar e medir (como já amplamente estu-dado, atestado e divulgado pelo Prof. Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina da Univer-sidade de São Paulo), os malefícios causados pela poluição atmosférica consequente da queima do diesel, principalmente pelos veí-culos que não possuem sistemas de redução de emissão de poluentes (tecnologias mais antigas) e particularmente em ambientes ur-banos, onde as fontes geradoras estão mais próximas das aglomerações de pessoas.

A implantação de infraestrutura de corre-dores exclusivos tem custo. Mas permite elevar a velocidade comercial do sistema de trans-porte, aumentando o índice de passageiros por quilômetro, reduzindo o custo de opera-ção, as emissões de poluentes e o custo social, ao permitir a redução do tempo de viagem e o aumento do conforto para o usuário.

Feitas as contas, certamente se mostra que o investimento em tecnologia, infra-estrutura e proteção ambiental será pago pelos benefícios socioambientais obtidos (volto a insistir, mensuráveis).

Voltando à proteção do meio ambiente,

podemos dizer que esse é outro tema ampla-mente discutido e igualmente ignorado pelo poder público. Reduzir emissões, reduzir im-pactos ambientais gerados pela construção de obras e pela sua operação, reciclar resídu-os custa e custa caro. Portanto é preciso ter clareza se esta é uma prioridade genuína, ou se cai na falácia da proteção simbólica. Caso seja prioridade, há que estruturar os projetos considerando essa prioridade e pagar o preço necessário. Se, não é, é preciso ter transpa-rência nas administrações públicas e mostrar para a sociedade o custo indireto que todos estamos pagando, em decorrência da degra-dação do ambiente e dos problemas de saúde da população. Custos ambientais e sociais. Se feita adequadamente a demonstração desses custos, certamente muitos projetos (ou alter-nativas melhores a um projeto) que seriam en-gavetados por uma análise simplória de custo direto passarão a ser considerados viáveis, pe-los benefícios indiretos gerados à sociedade.

Essa análise mais ampla de soluções e projetos nos leva novamente à necessidade de recorrer à boa engenharia.

Só se consegue implantar uma boa so-

lução (em qualquer área: civil, transportes, saneamento...) se a obra for precedida de um estudo adequado, de um bom projeto. O menor custo global só será conhecido avaliando alternativas de solução. Só con-seguimos adequação de custo conhecendo “o que e como” se deseja construir. E só se consegue medir e pagar adequadamente o que foi executado se soubermos “o que e como” deveria ser executado.

Ou seja, o que quero dizer aqui é que incentivar, apoiar e apostar na engenharia é, certamente, o melhor caminho para continu-armos progredindo, acreditando no futuro, implantando nossa ainda carente e tão neces-sária infraestrutura, de forma correta, saudá-vel, honesta. Acreditemos no futuro.

* Marcelo Cardinale Branco é administrador de empresas com mestrado em Engenharia pela Poli/USP. Consultor em Transportes, Urbanismo e Gestão. Professor convidado do curso de pós-graduação em Gestão de Cidades da Poli/USP, responsável pela matéria Meio Ambiente e Cidades. Atual-mente preside o Conselho Gestor de Transporte e Mobilidade do Município de São PauloE-mail: [email protected]

DIVISÕES TÉCNICAS

Engº Walter Coronado Antunes

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