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ALINE DOS SANTOS OLIVEIRA ANA CAROLINA REZENDE PORTELA DANIELA ALVES COSTA LIMA PESSOAS CIVILMENTE RESPONSÁVEIS; RESPONSABILIDADE POR DANO CAUSADO POR ANIMAIS; PREFERÊNCIAS E PRIVILÉGIOS CREDITÓRIOS.

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ALINE DOS SANTOS OLIVEIRAANA CAROLINA REZENDE PORTELA

DANIELA ALVES COSTA LIMA

PESSOAS CIVILMENTE RESPONSÁVEIS; RESPONSABILIDADE POR DANO CAUSADO POR ANIMAIS; PREFERÊNCIAS E

PRIVILÉGIOS CREDITÓRIOS.

FACULDADE DE DIREITO DO SUL DE MINASPOUSO ALEGRE

2008

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ALINE DOS SANTOS OLIVEIRAANA CAROLINA REZENDE PORTELA

DANIELA ALVES COSTA LIMA

PESSOAS CIVILMENTE RESPONSÁVEIS; RESPONSABILIDADE POR DANO CAUSADO POR ANIMAIS; PREFERÊNCIAS E

PRIVILÉGIOS CREDITÓRIOS.

Seminário apresentado na disciplina de Direito Civil II, ministrada pelo Professor Adilson Ralf Santos, da Faculdade de Direito do Sul de Minas, para composição de nota para o 4º Bimestre.

FACULDADE DE DIREITO DO SUL DE MINASPOUSO ALEGRE

2008

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RESUMO

Este trabalho tem o objetivo de compor a apresentação de um

seminário da disciplina de Direito Civil II. Trata de três temas:

responsabilidade civil das pessoas, e especificamente por danos causados

por animais e também sobre preferências e privilégios creditórios.

À título de consulta para a construção do conteúdo deste trabalho

utilizamos doutrinadores como Sílvio de Salvo Venosa, Rui Stoco, Maria

Helena Diniz, entre outros. Para que desta forma obtivéssemos uma

pluralidade de visões sobre os temas para enfim dissertamos sobre, com

segurança e conhecimento.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 52. DAS PESSOAS CIVILMENTE RESPONSÁVEIS 62.1. Responsabilidade direta e indireta 62.2. Responsabilidade dos pais pelos filhos menores 112.3. Responsabilidade de tutores e curadores 152.4. Responsabilidade do empregador e assemelhado 162.5. Responsabilidade dos donos de hotéis e similares 172.6. Responsabilidade dos estabelecimentos de ensino 182.7. Responsabilidade pelo proveito do crime 182.8. Responsabilidade das pessoas jurídicas de Direito Público e de

Direito Privado19

3. A Responsabilidade por danos causados por animais 203.1 Relação entre o tema no Código Civil de 1916 e do Código Atual 203.2 Excludentes da responsabilidade do dono ou detentor do Animal 233.3. Responsabilidade pelos danos causados por animal sobre a

guarda de terceiros24

3.4. Da ação de indenização 264. Preferências e Privilégios Creditórios 285. CONCLUSÃO 326. BIBLIOGRAFIA 33

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1. INTRODUÇÃO

Para compreensão do que vem a ser a responsabilidade civil é

importante explicarmos a origem da responsabilidade. A palavra

responsabilidade vem do latim respondere que significa ter o poder de

responder por alguma coisa, adaptando o conceito, seria o dever de alguém

responder por um ato danoso que venha a ter cometido.

Ao longo do trabalho trataremos das pessoas civilmente

responsáveis, dentro deste tema abordaremos a responsabilidade direta e

indireta, a responsabilidade dos pais sobre os filhos menores, dos tutores e

curadores, do empregador e assemelhado, dos donos de hotéis e similares e

dos estabelecimentos de ensino. Além de decorrer sobre a responsabilidade

por danos causados por animais e sobre preferências e privilégios

creditórios.

O trabalho conta com exemplos claros para melhor visualização e

com jurisprudências que confirmam a doutrina pelo entendimento de juízes

nos casos concretos.

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2. DAS PESSOAS CIVILMENTE RESPONSÁVEIS

2.1. Responsabilidade por fato de outrem:

2.2. Responsabilidade direta e indireta

A primeira idéia de responsabilidade que aflora, dentro do conceito

de equidade e justiça, é fazer com que o próprio causador do dano

responda pela reparação do prejuízo. Trata- se da responsabilidade direta

do causador do dano ou responsabilidade por fato próprio.

Os ordenamentos admitem que, em situações descritas na lei,

terceiros sejam responsabilizados pelo pagamento do prejuízo, embora

não tenham concorrido diretamente pelo evento.

Para que outra pessoa possa ser responsabilizada, é necessário que

algumas regras e alguns vínculos sejam estabelecidos.

Admitem- se, em síntese, uma culpa in vigilando daquele que

responde pelos danos. Uma pessoa sem ter praticado o ato, responde

pelos prejuízos causados por outrem que efetivamente o praticou. A

vitima deve provar a culpa do agente causador do prejuízo.

A responsabilidade pelo fato de outrem constitui- se pela infração

do dever de vigilância. Não se trata, em outras palavras, de

responsabilidade por fato alheio, mas por fato próprio decorrente de

dever de vigilância.

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O atual Código Civil estabelece que os pais, o tutor e o curador, o

empregador e comitente responderão pelos atos dos filhos, pupilos e

empregados ou prepostos, “ainda que não haja culpa de sua parte”

(art. 933 CC).

Nessa modalidade existem duas responsabilidades: a do causador direto

do dano e a da pessoa também encarregada de indenizar. É necessário

que o agente direto tenha agido com culpa ou, no caso de incapazes, que

tenha ocorrido uma conduta contraria ao direito.

Se o inimputável, menor ou outro incapaz, agiu de acordo com o

direito, em conduta que se fosse capaz não seria culposa, não há o que

indenizar.

O atual Código trás no art. 932 as bases para a responsabilidade por

fato de terceiro:

“São também responsáveis pela reparação civil:

I- os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua

autoridade e em sua companhia;

II- o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se

acharem nas mesmas condições;

III- o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e

prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão

dele;

IV- os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos

onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus

hospedes, moradores e educandos;

V- os qye gratuitamente houverem participado nos produtos do

crime, ate a concorrente quantia. ”

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Os tribunais encarregaram-se prontamente de esclarecer que toda

pessoa jurídica é responsável pelos atos ilícitos de seus empregados.

Aplicada modernamente a teoria do órgão, a pessoa jurídica é

responsável pelos danos praticados por seus empregados ou preposto,

independentemente de lei que defina sua responsabilidade.

Sob o aspecto da teoria do enriquecimento sem causa, o terceiro,

que arca com o pagamento da indenização, tem ação regressiva contra o

causador direto do dano, para haver a importância que pagou.

Essa ação regressiva apenas não esta disponível para o ascendente

que paga por ato de descendente, absoluta ou relativamente incapaz.

Nesse caso, a obrigação fica restrita ao plano moral e constitui

obrigação natural.

É importante lembrar que, o novo ordenamento, sob certas

condições, permite a indenização pelo patrimônio do próprio incapaz.

2.3. Responsabilidade dos pais pelos filhos menores:

Os pais são responsáveis pela reparação civil decorrente de atos

ilícitos praticados pelos filhos menores que estiverem sob sua

autoridade, em sua companhia, o que nem sempre implica proximidade

física.

Trata- se do aspecto do dever de educar os filhos e os manter em

vigilância. Há dois fatores que configuram essa modalidade: a

menoridade e o fato de os filhos estarem sob o poder ou autoridade e

companhia dos pais.

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No caso de o menor não se encontrar sob a vigilância dos pais no

momento do dano, ou seja, se estiverem em escolas, clubes e

associações sob a vigilância de outras pessoas, nesse caso, têm que

verificar no caso concerto, de quem era efetivamente o dever de

vigilância. Porém, nem sempre os menores têm patrimônios próprios

para responder. Desse modo, a regra geral será a responsabilização dos

pais pelos atos danosos dos filhos menores de qualquer idade. A

responsabilidade dos pais não deve ser afastada por que o menor ainda

não tem capacidade de discernimento. Somente estará isento do dever de

indenizar se provar rigorosamente que não há nexo de causalidade.

Tratando-se de dever de vigilância, a culpa do genitor será, ao mesmo

tempo, in vigilando e in ommitendo.

O juiz observará a conduta sob a forma objetiva, e não sob o

aspecto da culpa dos menores e decidirá se, no caso, pode ser excluída a

responsabilidade dos pais, reconhecendo, então, o caso fortuito ou força

maior. Não se pode excluir, porém, a culpa do pai por ato do filho que

reside só, em local diverso do pai, sem conhecimento deste e longe de

sua companhia por motivos alheio a sua vontade.

Veja agora o art. 928 do novo Código Civil, que estabelece a

responsabilidade do próprio incapaz:

“O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas

por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não

dispuserem dos meios suficientes.”

Quanto a emancipação do menor, não elide a responsabilidade

dos pais. Irá desaparecer a responsabilidade dos pais quando a

emancipação decorrer de outras causas relacionadas no art. 5°, parágrafo

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único, que não dá iniciativa do pai ou tutor, como o casamento, por

exemplo. Um ato de vontade como a emancipação, não elimina a

responsabilidade provém da lei.

Se sob a guarda exclusiva de um dos conjugues se encontra o

menor por força de separação, divorcio ou regulamentação de guarda,

responderá apenas o pai ou a mãe que tem o filho em sua companhia.

Quando, porém, o menor é empregado de outrem, e pratica ato ilícito em

razão do emprego a responsabilidade é do empregador.

Os pais e demais ascendentes, não tem ação regressiva pelo que

pagarem contra os filhos. Os pais respondem primeiramente com seu

patrimônio, se não tiverem patrimônio suficiente, poderá ser atingido o

patrimônio do menor. A nova lei menciona que nesse caso a indenização

será eqüitativa e não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as

pessoas que dele dependem.

Ao mesmo tempo em que permitem a redução ou a exclusão da

indenização, o novo código introduz a responsabilidade objetiva dos

pais, tutores e curadores, e empregadores, fazendo cessar, portanto, as

diversões doutrinárias sobre a natureza da culpa dos terceiros sob a lei

atual.

Os pais adotivos não se excluirão da responsabilidade pelos atos

dos filhos adotivos, pois eles são detentores do poder familiar.

2.4.Responsabilidade de tutores e curadores

Tutor é o representante legal do menor cujos pais faleceram, foram

declarados ausentes ou perderam o poder familiar. O curador será

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também representante do incapaz maior, quando este não possui o

devido discernimento ou é considerado prodigo.

A responsabilidade dos tutores e curadores pelos atos do pupilo

carrega o mesmo principio da responsabilidade dos pais com os filhos

menores. Porém, nessa modalidade é permitida a ação regressiva do

tutor ou curador em relação ao pupilo, pelo que pagou em decorrência

da pratica desse ato ilícito.

“ser altamente recomendável que o juiz, ao analisar a hipótese de

dano causado por menor sobre tutela, deve ser muito mais benigno ao

examinar a posição do tutor do que seria com relação ao pai,

cumprindo-lhe exonerar aquele cada vez que não haja manifesta

negligencia de sua parte.”1

O novo código estabelece responsabilidade do incapaz pelos

prejuízos, de forma eqüitativa, se o responsável não dispuser de meio

para com eles arcar.

2.5. Responsabilidade do empregador e assemelhado

A responsabilidade do patrão ou comitente é decorrente do poder

hierárquico ou diretivo dessas pessoas em relação aos empregados. O

que interessa é verificar, na situação concreta, se o agente praticou a

conduta no exercício do trabalho ou por ocasião dele.1 - VENOSA, Silvio de Salvo, Direito Civil: Responsabilidade Civil. 3 ª.edição, vol.4, São Paulo, Saraiva,

2003.

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Em cada caso concreto é necessário estabelecer um elo de

submissão ou dependência de nexo de relação eventual referente ao ato

culposo, devendo ser analisado a conduta culposa do preposto. O dano

deverá ter ocorrido devido a relação entre o terceiro e o causador do

dano.

Assim, podemos colocar como exemplo se o empregado, mesmo

que não esteja trabalhando e seja feriado, causa dano a terceiro, no

sentido de que a sua atividade danosa esteja relacionada com o seu

emprego ou situação assemelhada, quem deverá assumira a

responsabilidade é a pessoa jurídica, não adiantando de nada o

empregador tentar provar o contrário; nesse tipo de sistema é adotada a

teoria do risco.

O STF em sua súmula n° 341, trouxe que:

“É presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do

empregado ou preposto”.

Modernamente a responsabilidade do patrão se encaixa melhor na

teoria do risco, seguindo a presunção que a culpa presumida esta a um

passo da responsabilidade objetiva, sendo esta questão consagrada pelo

art. 933 do CC.

Fica para o empregador a incumbência de provar que quem causou

o dano não é seu empregado ou preposto ou que o dano causado não foi

feito no exercício do trabalho ou em razão dele.

Se o nexo causal e a autoria forem provados o empregado deverá

indenizar terceiros, devendo ser analisado se a conduta do empregado se

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configurou em ato ilícito, ou seja, se houve culpa ou não por parte do

ofensor material, não se discutindo se ele abusou ou não de sua função.

O Código de defesa do Consumidor adotou a responsabilidade

objetiva do fornecedor de produtos e serviços, respondem pelos danos

de seus empregados e prepostos, causados ao consumidor, não

dependendo de ser avaliada a culpa. Fora dessa matéria referente ao

consumidor, a culpa do preposto ainda é exigida.

Em relação ao preposto, em que o vinculo de subordinação é mais

tênue, não é necessário que a relação seja onerosa, um exemplo disso

pode ser a pessoa que divide o carro de outrem, mesmo que seja de

favor.

Nesse caso a responsabilidade pode ser concebida de três maneiras

levando em conta a culpa do proponente:

Culpa in eligendo: quando se escolhe mal o preposto;

Culpa in instruendo: quando foram dadas as instruções devidas

ao preposto;

Culpa in vigilando: quando não houve a devida vigilância

sobre a conduta do agente.

Essa culpa lato sensu hoje em dia é a objetiva ( art. 933): não

incumbindo a vitima em prová- la, sendo necessário provar o evento

danoso.

O preponente se exonerará da indenização quando provar que o

dano foi causado por “caso fortuito ou força maior ou que o evento se

deu sem nexo de causalidade com relação a ele”.

Quando o dano é causado em relação ao automóvel, o seu dono não

será responsável por dano praticado por titular de oficina mecânica e

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nem por manobrista de estacionamento comercial ou de posto de

serviços para lavagem e lubrificação.

Em arrendamento mercantil, como no caso de aluguel de carro,

responde unicamente o arrendatário, pois o laço existente entre as partes

é muito mais do que uma locação de veiculo, mais se quiser a vitima, ela

pode acionar diretamente o causador do dano, tratando-se de

responsabilidade solidaria.

Também existe a possibilidade do arrendatário ingressar com uma

ação regressiva contar o causador do dano.

2.6. Responsabilidade dos donos de hotéis e similares

O hospedeiro tem a responsabilidade de garantir segurança não só

ao hóspede, mas também às suas bagagens. A responsabilidade dos

hospedeiros ou estalajadeiros está ao lado da obrigação de segurança aos

hóspedes, fregueses ou viajantes.

Tem o dono do estabelecimento responsabilidade pelos furtos e

roubos por conduta de seus funcionários ou pessoas admitidas na casa.

Esta idéia de indenização por danos e furtos praticados por prepostos

aos clientes teve origem romana, época na qual isso se aplicava aos

casos dos donos de hospedarias, estábulos e aos capitães de navios.

A responsabilidade é contratual ou envolve relações contratuais

entre hóspede e hospedeiro. Sendo assim, em caso de hospedagem

gratuita não se opera a culpa presumida. Os donos do estabelecimento

são sempre responsáveis por danos ou furtos aos pertences dos

hóspedes, a não ser que o contrato disponha em contrário. Neste sentido,

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nenhum aviso fixado nos hotéis que exima o dono da responsabilidade,

é válido.

Para afastar a responsabilidade do hospedeiro deve ser provado que

os fatos danosos não podiam ser evitados, ou que ocorreram por culpa

exclusiva da vítima ou em detrimento de caso fortuito ou de força maior.

À título de exemplo de danos pelos quais o dono do estabelecimento

responde estão: a queda de hóspede por falta de iluminação do hotel e

dependências, por roubo de veículo na garagem da propriedade e pelos

danos sofridos em conseqüência de mal funcionamento do elevador.

Não se pode ignorar a responsabilidade do hotel sobre os bens de

hóspedes colocados em cofres do estabelecimento, gratuitos ou

mediante remuneração. Por analogia, tem-se o mesmo entendimento em

relação aos cofres alugados pelos bancos, correspondendo meramente ao

aluguel, não havendo responsabilidade sobre o conteúdo. Ao menos que

fique comprovada culpa do hotel por falta de vigilância necessária ou

outra relevante.

2.7. Responsabilidade dos Estabelecimentos de Ensino

Semelhante à responsabilidade dos donos de hotéis está a

responsabilidade dos estabelecimentos de ensino. De forma pouco clara,

o art. 932, VI CC traz que o hospedeiro responde pelos atos do

educando.

O estabelecimento de ensino é responsável pela incolumidade física

do aluno, e pelos atos praticados por ele a terceiros ou a colegas, desde

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que o aluno se encontre no estabelecimento de ensino, ou sob sua

vigilância.

Na falta de dispositivo específico, devemos encarar o aluno como

consumidor e a instituição como fornecedora de serviços. Os deveres da

instituição decorrerão da responsabilidade objetiva do Código de Defesa

do Consumidor, salvo quando inexistente o defeito alegado ou, se

existente, o mesmo decorrer de culpa exclusiva do consumidor ou de

terceiro.

Verifica-se também a solidariedade entre a instituição prestadora de

serviços e os atos dos seus prepostos (professores, membros da diretoria,

e demais categorias profissionais ou representantes autônomos que

atuem em seu nome), assim a instituição pode ser acionada por atos

lesivos praticados por eles. Não obstante, é assegurada à escola ação de

regresso contra seus prepostos em caso destes agirem com dolo, ou

mesmo culpa.

A instituição de ensino tem o dever de vigilância ao aluno, desde o

momento de ingresso destes na instituição, incluindo as horas de

recreação e intervalos, até o momento da saída. Quanto a esta idéia,

apesar de não bem identificada pelo código civil de 1916, nem pelo

atual, pode-se entender a responsabilidade da instituição de ensino

equiparada à responsabilidade de pais e tutores:

“a idéia da vigilância é mais ampla do que a da educação, devendo

entender-se que essas pessoas respondem pelos atos dos alunos e

aprendizes durante o tempo em que sobre eles exercem vigilância e

autoridade. Os danos por que respondem são, ordinariamente, os

sofridos por terceiros, o que não quer dizer que os danos sofridos pelo

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próprio aluno ou aprendiz não possam acarretar a responsabilidade do

mestre ou diretor do estabelecimento”. 2

Nesta vertente não se faz distinção de responsabilidade da

instituição em face do estudante menor ou maior de 18 anos. A

responsabilidade se faz existente devido à importância de atribuir

segurança e incolumidade ao estabelecimento de ensino, não importando

assim o grau de responsabilidade dos alunos sobre seus atos, a

instituição será sempre responsável, desde que aqueles estejam sob

vigilância da instituição.

2.8. Responsabilidade pelo proveito do crime

O art. 932, V, trata da responsabilidade dos que houverem

gratuitamente participado nos produtos de crime. Irão responder

solidariamente pela quantia concorrente com a qual obtiveram proveito.

Não diz respeito à co- autoria, mas às pessoas que inocentemente

acabam auferindo proveito da pratica de um determinado crime. Trata-

se da aplicação do principio do injusto enriquecimento. A ação é de

enriquecimento ilícito. Essa ação objetiva reequilibrar um patrimônio.

O dispositivo comentado, apenas obriga o beneficiário inocente de

uma pratica delituosa a ressarcir a vitima no montante em que o crime

lhe houver aproveitado. Não se trata de hipótese de responsabilidade por

fato de terceiro, mas de cabimento de ação in rem verso (Carvalho

Souza Santos,Código, p 24)

2 José de Aguiar Dias(1979, v.2:200)

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Há, porém, uma importante distinção entre partição dos produtos

do crime e o proveito que esses produtos podem oferecer. Assim, um

objeto furtado que ainda se encontra com a família do ladrão são

produtos do crime, mas não será se for transformado em dinheiro para o

sustento dessa família. Nesse caso, não será possível a

responsabilização.

2.9. Responsabilidade das pessoas jurídicas de direito publico e de

direito privado.

A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito publico

não depende da prova de culpa, exigindo apenas a realidade do prejuízo,

a autoria e o nexo causal.

Quanto aos atos do poder judiciário, prevalece ainda a opinião de

que o estado não é responsável pelos atos jurisdicionas, sob a égide da

independência dos poderes. A idéia central é a de que, se o executivo

não pode interferir nas decisões judiciais, não pode também responder

por tais atos. No entanto, o estado deve ser responsabilizado pela falha

dos serviços judiciários, por aplicação da teoria da falta do serviço, de

origem francesa.

O juiz pode responder pessoal, civil e criminalmente por dolo ou

fraude, ou quando omite, retarda ou recusa, justificadamente,

providências que deva ordenar de oficio o a requerimento da parte.

Quanto à responsabilidade do estado por atos legislativos, não

pode ocorrer à responsabilização pelo ato típico, a lei, formal e abstrata

e de sentido geral.

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Quanto à responsabilidade das pessoas jurídicas de direito

privado, estabelecem que as empresas que exercem exploração

industrial estão equiparadas aos patrões, anos e comitentes. As pessoas

jurídicas de direito privado respondem pelos atos culposos de seus

empregados e prepostos. Subsiste a responsabilidade solidária: a vítima

pode acionar a pessoa jurídica ou o empregado.

Nos campos do direito do consumidor, a pessoa jurídica responde

de forma objetiva, independentemente da culpa de seus empregados.

A responsabilidade Aquilina da pessoa jurídica e conseqüência lógica de

sua capacidade real e ampla de agir no mundo jurídico, por intermédio

de seus órgãos, representantes, empregados e prepostos.

2.10.Ação Regressiva

Esse direito regressivo é de justiça cristalina. Trata- se de regra

genericamente aceita pelas legislações. Desse modo, os terceiros que,

suportarem a indenização, pode exigir do causador aquilo que pagou. O

que se busca é estabelecer o equilíbrio patrimonial. Porém, na pratica

esse ressarcimento nem sempre é possível, sobretudo por ausência de

patrimônio ou condições financeiras do ofensor.Trata- se de direito

inafastável do que indenizou, como dispõe o art. 934:

“Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o

que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano

for descendente seu,absoluta ou relativamente incapaz”.

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Como já dispôs o artigo, esse direito não se estende aos

ascendentes e descendentes, absoluta e relativamente incapazes.

Quanto ao direito de regresso dos empregadores com relação aos

empregados que ocasionarem prejuízo ao empregador por atos danosos,

o art. 462, § 1°, da CLT permite o desconto de salário somente quando

for acordado pelas partes ou no caso de culpa grave ou dolo, impedindo

na hipótese de culpa leve ou levíssima, se não houver acordo prévio.

3. RESPONSABILIDADE POR DANO CAUSADO POR ANIMAIS

3.1. Responsabilidades gerais por posse ou guarda de animais

Os cidadãos tem o direito de possuir animais como sua propriedade

e sob sua responsabilidade, seja por utilidade com fim financeiro ou

apenas para criação. A posse de animais domesticados é um direito por

muitos exercidos e que de modo geral não acarreta mal algum, pelo

contrário, muitas vezes é a companhia da qual ele goza, o protetor de

seu patrimônio ou até mesmo uma ferramenta que contribui para o

crescimento das crianças.

Porém, a posse, ou até mesmo a guarda destes seres animados

acarreta deveres e responsabilidades ao dono, não só os descritos em lei,

como também o uso do discernimento e do bom censo, diante da

importância de agir com certa previsibilidade.

O dano que vier a ser causado à esfera jurídica de outrem por

animais, obviamente deve ser ressarcido. A responsabilidade sobre o

ressarcimento recairá na pessoa que detém o poder de comando sobre o

animal causador do dano.

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Esta responsabilidade, por fato ou guarda de animais, se originou

no Direito Romano, segundo o qual o dominus era o responsável, mas

exonerava-se abandonando o animal.

Os danos causados por animais estão sempre presentes nas relações

em sociedade, seja esta na área urbana ou no meio rural. Na área urbana

podemos destacar os danos provocados por cães ferozes no ataque a

outras pessoas ou até mesmo a bens materiais, também o ataque de

insetos de origem em criadouro, como ao abelhas.

No meio rural, mais comum, situa-se os danos causados por gado ao

invadir propriedade alheia, normalmente destruindo plantações ou

pastagens.

O animal é objeto de guarda, de maneira que essa

responsabilidade pelo fato da coisa se baseia na obrigação de guardar.

Responderão pelos danos causados por animais o seu proprietário como

o seu detentor ou possuidor, pois o dever de indenizar decorre da

negligência na guarda ou na direção do animal.

3.2. Diferenças entre o dispositivo regulador da matéria entre

o Código Civil de 1916 e o Código Civil de 2002

O nosso ordenamento sobre a matéria sofreu alterações ao longo

do tempo, preceituando o art. 1527 do revogado Código Civil de 1916:

“Art.1527. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por

este causado, se não provar:

I- que o guardava e vigiava com cuidado preciso;

II- que o animal foi provocado por outro;

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III- que houve imprudência do ofendido;

IV- que o fato resultou de caso fortuito ou força maior. “

O Código Civil de 1916 estabelecia a presunção juris tantum3 de

responsabilidade do dono do animal, mas não dispensava a culpa como

pressuposto da responsabilidade, exonerando-se o dono do animal

somente se provasse um dos fatos descritos em lei. Assim na pretensão

bastava que a vítima provasse o dano e o nexo causal.

Assim, o dono do animal deveria demonstrar que o guardava e

vigiava com cuidado preciso, que o animal foi agredido, que houve

imprudência do ofendido ou que o fato resultou de caso fortuito ou força

maior.

Como requisito deveria haver a comprovação de que o animal

pertencia àquela pessoa, ou que ela o detinha. Estabelecendo confusão

entre a inversão do ônus da prova, a cargo do dono do animal.

Clóvis Beviláqua, defendia que a norma continha uma “presunção

de culpa do dono do animal ou de quem o guarda”, acreditando tratar-se

de culpa in vigilando, “que só pode ser iludida mediante a prova de

algum dos fatos exoneradores referidos nas alienas em que o artigo se

desdobra.”. (Código Civil Comentado. Rio de janeiro, 1919, comentário

ao art.1527).

Segundo este preceito, notava-se dificuldade em certas situações na

identificação do nexo causal, como em casos de colisão com animais em

rodovias (caso que será tratado posteriormente). De um animal vivo,

reclama-se a posse, porém, em regra geral, isto não acontece face a um

animal abatido por choque de veículo.A jurisprudência nestes casos 3 A expressão latina pode ser traduzida como direito que resulta de. Também diz respeito às presunções jurídicas. É presunção relativa, pois admite comprovação em contrário. Ao dano por animal, a presunção de culpa é do animal, admitindo-se comprovação em contrário. (Política para políticos, Glossário.)

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admite que seja atribuída responsabilidade ao administrador ou

concessionário da rodovia, e ação regressiva do dono do animal.

No entanto, o novo Código Civil assim estabelece:

“O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este

causado, se não provar culpa da vítima ou força maior”.

A matéria é tratada de forma sintética, para melhor entendimento,

podemos dividi-la em duas partes:

Primeira parte: O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano

por este causado. Desta forma, exclui-se qualquer indagação sobre a

diligência ou cuidado ao animal. Adota a teoria objetiva4, bastando que

o animal cause dano a outrem para existir a obrigação.

Segunda parte: “(...) Se não provar culpa da vítima ou força

maior.”

Esta parte significa que o dono ou detentor do animal se livra do

dever de reparar se comprovar uma das causas da responsabilidade.

O Código revogado invertia o ônus da prova, impondo ao dono ou

detentor do animal para se livrar da reparação a comprovação dos

requisitos expressos na lei. Devendo provar então que não imprudência

ou negligência, que exercia a vigilância e tomava cuidado com animal,

desta forma, não agindo com culpa.

No novo código a imputação é direta e incondicional, bastando o

dano para que surja a obrigação de reparar, não mais condicionando à

falta de vigilância do dono do animal.

Acerca do detentor da responsabilidade, a regra geral é que

responde o dono do animal ou quem dele se serve pelo tempo em que o

tem em uso. A responsabilidade no entanto não se restringe apenas ao

4 Esta teoria configura a responsabilidade sem culpa, bastando a existência de nexo de causalidade entre o comportamento do animal e o dano causado para que haja o dever de indenizar.

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dono, mas também ao seu preposto, já que esta se dá a quem compete a

guarda. No entanto, diz Caio Mário:

“Quando, porém o animal se encontra na detenção de outrem que

não o seu dono, mas fora de uma relação de preposição, cabe então

determinar se e até aonde vai a responsabilidade do dono, ou quando se

exime este,ela se desloca para aquele que o detém. “5

Portanto a responsabilidade entre o dono e o preposto pode ser

vezes solidária, dependendo do caso, não respondendo apenas o dono do

animal objetivamente.

3.3. Responsabilidade por danos causados por animal fugido

ou em guarda de terceiros

O dono responde também pelos danos causados por seu animal se

este tiver escapado ou fugido, pois é de sua responsabilidade guardar,

vigiar e manter o animal. Acerca da responsabilidade de guardar e vigiar

o animal estabelece-se o direito de tapagem. Dentre os casos de

responsabilidade o dono do animal responde pelo contágio de uma

enfermidade transmitida a outrem pelo animal enfermo, também pelos

danos causados a terceiros em sua pessoa, em objeto que lhe pertence ou

em sua lavoura por animais de pequeno ou de grande porte. Esta

segunda vertente se dá por este não ter cercado a sua propriedade para

deter os seus limites, não só aves domésticas e animais, tais como

cabritos, porcos e carneiros, como também gado que requer tapumes.

5 - VENOSA, Silvio de Salvo, Direito Civil: Responsabilidade Civil. 3 ª.edição, vol.4, São Paulo, Saraiva,

2003.

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Os tapumes6 se fazem necessários no meio rural para evitar a

transposição de seus animais em terras alheias, assim como de invasões

em terras próprias.

“O proprietário tem direito a cercar, murar, valar, ou tapar de

qualquer modo seu prédio urbano ou rural observada as proporções

regulamentares.”(art. 1297 Código Civil)

Juntamente à responsabilidade sobre a tapagem, existe também

pelos estragos causados a veículos, em estradas, por gado que lhe

pertence, mesmo se guiado por peões, por ter conservado o poder de

direção, pois como dono do animal, tem o dever de vigilância.

3.4. Indenização

Não obstante, é importante dissertar sobre a indenização, esta ocorre

por prejuízos morais e patrimoniais, e como já dito, independente de

culpa.

A indenização nestes casos tem o mesmo efeito de cálculo que

normalmente lhe é atribuída. Regulando o art. 402 do atual Código

Civil:

“Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e

danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente

perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.”

Como dispositivo regulador da medida da indenização, cita-se o

art. 944., Código Civil:

“Art 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

6Vedação de um terreno feita de madeiras ou silvas. Cerca, tapagem, vedação provisória feita de tábuas . Quando feito sobre a linha divisória entre uma propriedade e outra, os proprietários devem concorrer em partes iguais para as despesas da construção. O tapume especial acarreta obrigação somente a quem o constrói, pois é aquele com a intenção de vedar animais de pequeno porte.

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Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a

gravidade da culpa e o dano poderá o juiz reduzir equitativamente a

indenização.”

As jurisprudências comprovam que o entendimento dos

magistrados vem sendo pela culpa presumida ao dono do animal, de

acordo também com a teoria do risco que diz que ao assumir o risco de

possuir animais perigosos assume os riscos dele decorrentes.

Assim, exemplificando, casos em que foi concedida a

indenização:

Indenização. Danos causados a menor mordido por animal

durante estadia em hotel de veraneio – “Se o hotel mantinha os animais

sem as cautelas normais para proteção dos hóspedes, especialmente as

crianças, responde, pela sua negligência, pelos acidentes que

eventualmente aconteçam” (TJRJ – 8ª C. – AP. – Carpena Amorim – j.

14.04.94 – RT 713/205).

TJRJ - Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro - Acórdão: AC

8208/96 - Registro: 060398 - Código: 96.001.08208 - Câmara: 1ª C.Cív. -

Relator: Des. Marlan Marinho - Data de Julgamento: J. 11/11/1997

Ementa:

RESPONSABILIDADE CIVIL DE PROPRIETÁRIO DE ANIMAL -

LESÕES - CAUSADAS POR MORDIDA DE CÃO FEROZ -

RESSARCIMENTO DOS DANOS - ART. 1527 - CC -

RESPONSABILIDADE CIVIL - FATO DE ANIMAIS - CULPA

PRESUMIDA - Na responsabilidade por fato de animais, o dono ou

detentor deles, só se eximirá de culpa se comprovar existir, no caso,

quaisquer das circunstancias previstas no Art. 1 - 527, do Código Civil.

Recurso improvido. (TJRJ - AC 8208/96 - Reg. 060398 - Cód.

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96.001.08208 - 1ª C.Cív. - Rel. Des. Marlan Marinho - J. 11.11.1997)”

(Informa Jurídico. Vol. I. Ed. 32. Prolink Publicações).

4. PREFERÊNCIAS E PRIVILÉGIOS CREDITÓRIOS

O privilégio é uma vantagem que a qualidade do crédito dá a um

credor para ser preferido diante dos outros credores. Existem privilégios

de causa e de pessoas. Para os credores privilegiados a preferência está

regulamentada de acordo com as qualidades dos privilégios. A

preferência se deve em favor da causa, e não da anterioridade da data.

A obrigação é uma divida exigível, uma relação jurídica

transitória, que une duas ou mais pessoas, devendo uma (pólo passivo,

devedor) realizar prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, à

outra (pólo ativo, credor), garantindo-lhe o adimplemento da obrigação

através de seu patrimônio.

As obrigações na maioria das vezes advêm de declarações

unilaterais de vontade, de atos ilícitos e contratos. O direito civil devido

as suas variadas situações criou normas que resguardam e protegem o

adimplemento da obrigação, impondo inclusive que o devedor responda

pela obrigação com o seu patrimônio, garantindo assim o direito do

credor. Logo, se o patrimônio do devedor for menor que o valor das

dívidas, será declarado a sua insolvência, e com isso haverá o concurso

de credores (denominação utilizada pelo CC 1916), onde será feita a

correta divisão dos bens do devedor entre eles.

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Art.955 do Código Civil de 2002:

“Procede-se á declaração de insolvência toda vez que as dividas

excederam à importância dos bens do devedor.”

4.1. Igualdade de Direitos dos Credores

Os credores comuns são aqueles que não têm crédito

privilegiado ou real, assim todos concorreram igualmente, na proporção

de seu crédito, ao direito receber do devedor a prestação devida. No

entanto se algum deles possuir título legal à preferência terá o direito de

ser pago preferencialmente, e só depois de satisfeito o crédito deste é

que serão pagos os outros credores.

Quando todos os credores forem iguais, sem privilégios,

vantagens ou preferências, a divisão será proporcional ao crédito de

cada um.

Art. 957 do Código Civil de 2002:

“Não havendo título legal à preferência, terão os credores igual direito

sobre os bens do devedor comum.”

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4.2. Títulos Legais De Preferência

Art. 958 do Código Civil de 2002:

“Os títulos legais de preferência são os privilégios e os direitos reais.”

São aqueles títulos que a lei dá uma vantagem ao credor pela

natureza creditória, para reaver o bem e para preferir o credor no

recebimento do crédito. Esses títulos são os privilégios pessoais,

especiais, gerais e reais de garantia de coisa alheia.

O privilégio será o direito pessoal de preferência de o credor

receber em primeiro lugar, já o privilégio geral refere-se a todos os bens

do devedor e o privilégio especial refere-se só a certos bens do devedor,

sendo que todos estes decorrem de lei.

4.3. Créditos Alimentícios

Créditos alimentícios são os salários, créditos trabalhistas,

pensão alimentícia, etc. Os empregados e dependentes do devedor

insolvente recebem em primeiríssimo lugar, essa qualidade de crédito

tem preferência diante de qualquer outro crédito.

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STJ 144:

“Os créditos de natureza alimentícia gozam de preferência,

desvinculados os precatórios da ordem cronológica dos créditos de

natureza diversa”.

4.4. Créditos tributários

Depois de sanados os créditos alimentícios, devem ser pagos as

dívidas tributárias do insolvente, ou seja, os impostos e taxas devidos

pelo insolvente; satisfeito o poder público, sobrando dinheiro, pagam-se

os credores de créditos com garantia real.

Legislação – Código Tributário Nacional – CTN

“Art. 186. O crédito Tributário prefere a qualquer outro, seja qual for a

natureza ou o tempo da constituição deste, ressalvados os créditos

decorrentes da legislação do trabalho.”

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4.5. Direitos Reais

As obrigações são direitos relativos, enquanto os direitos reais

são direitos absolutos, ou seja, valem erga omnes, o direito real produz

eficácia real. O titular de um direito real dispõe sobre a coisa um título

legal que o dá a condição de credor real, e assim, preferencial. Somente

os direitos reais de garantia sobre coisa alheia, como penhor, hipoteca,

anticrese, caução de título de crédito, é que são títulos legais de

preferência.

4.6. Créditos Reais, Créditos de Privilégio Geral e Privilégio

Especial

O crédito real é decorrente de penhor, hipoteca, anticrese, tendo

preferência diante do crédito pessoal, exceto quando a dívida for de

salário de trabalhador agrícola, para ser pago pelo produto da colheita

com que tirou do seu trabalho.

O crédito privilegiado geral (pessoal) terá preferência em

relação ao crédito geral (pessoal) simples.

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Esse tipo de crédito recai sobre coisa determinada, tendo

preferência sobre o crédito com privilégio geral que decorre de dívida,

que por sua vez será preferencial aos créditos quirografários.

4.7. Privilégio Especial e Privilégio Geral

Os créditos especiais são aqueles do art. 964:

I - sobre a coisa arrecadada e liquidada, o credor de custas e despesas

judiciais feitas com a arrecadação e liquidação;

II - sobre a coisa salvada, o credor por despesas de salvamento;

III - sobre a coisa beneficiada, o credor por benfeitorias necessárias ou

úteis;

IV - sobre os prédios rústicos ou urbanos, fábricas, oficinas, ou

quaisquer outras construções, o credor de materiais, dinheiro, ou

serviços para a sua edificação, reconstrução, ou melhoramento;

V - sobre os frutos agrícolas, o credor por sementes, instrumentos e

serviços à cultura, ou à colheita;

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VI - sobre as alfaias e utensílios de uso doméstico, nos prédios rústicos

ou urbanos, o credor de aluguéis, quanto às prestações do ano corrente

e do anterior;

VII - sobre os exemplares da obra existente na massa do editor, o autor

dela, ou seus legítimos representantes, pelo crédito fundado contra

aquele no contrato da edição;

VIII - sobre o produto da colheita, para a qual houver concorrido com o

seu trabalho, e precipuamente a quaisquer outros créditos, ainda que

reais, o trabalhador agrícola, quanto à dívida dos seus salários.

Os créditos com privilégio geral são aqueles credores do art.

965:

“Art. 965. Goza de privilégio geral, na ordem seguinte, sobre os bens

do devedor:

I - o crédito por despesa de seu funeral, feito segundo a condição do

morto e o costume do lugar;

II - o crédito por custas judiciais, ou por despesas com a arrecadação e

liquidação da massa;

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III - o crédito por despesas com o luto do cônjuge sobrevivo e dos filhos

do devedor falecido, se foram moderadas;

IV - o crédito por despesas com a doença de que faleceu o devedor, no

semestre anterior à sua morte;

V - o crédito pelos gastos necessários à mantença do devedor falecido e

sua família, no trimestre anterior ao falecimento;

VI - o crédito pelos impostos devidos à Fazenda Pública, no ano

corrente e no anterior;

VII - o crédito pelos salários dos empregados do serviço doméstico do

devedor, nos seus derradeiros seis meses de vida;

VIII - os demais créditos de privilégio geral.”

O privilégio especial será para credores de custas e despesas

judiciais feitas com a arrecadação e liquidação sobre a coisa arrecadada

e liquidada, de despesas de salvamento sobre a coisa salvada, de

benfeitorias necessárias ou úteis sobre o bem beneficiado por elas, de

materiais, dinheiro ou serviços de edificação, reconstrução ou

melhoramento de prédios, sejam rústicos ou urbanos, de sementes,

instrumentos e serviços à cultura ou à colheita sobre os frutos agrícolas,

de aluguéis sobre as alfaias e utensílios de uso domésticos nos prédios

rústicos ou urbanos, de direitos autorais sobre os exemplares da obra

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existente na massa do editor, de dívida salarial sendo trabalhador

agrícola, sobre o produto da colheita para a qual utilizou de seu trabalho.

Esses credores terão preferência sobre os privilégios gerais ou

quirografários.

O privilégio geral está sobre os bens do devedor quando o

crédito for por despesas do seu funeral, feito conforme o costume local,

atendendo as condições do falecido, por custas judiciais, ou por

despesas com a arrecadação e liquidação da massa, por despesas com o

luto do cônjuge sobrevivente e dos filhos do finado devedor, desde que

moderadas, por despesas com a doença de que faleceu o devedor, no

semestre anterior a sua morte, pelos gostos necessários à mantença do

devedor falecido e sua família, no trimestre anterior ao óbito, pelos

impostos devidos à Fazenda Pública , no ano presente ou anterior.O

Código Tributário Nacional, em seu art. 186 trás que o crédito tributário

terá preferência sobre qualquer outro. Terão privilégio geral sobre os

bens do devedor também os créditos pelo salário dos empregados de

serviços domésticos do devedor, nos seus últimos seis meses de vida,

pelos demais créditos de privilégio geral. Somente depois de pagos esses

créditos é que serão pagos os créditos quirografários ou simples, pois

estes não possuem preferência alguma, só sendo atendidos os outros

créditos depois de atendidos os credores preferenciais ou privilegiados.

Para entendermos melhor vejamos duas jurisprudências

5. CONCLUSÃO

Por fim, podemos concluir acerca das pessoas civilmente

responsáveis.....................................................................................................

..................................................................................

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A responsabilidade por danos causados por animais de forma geral é

a objetiva, cabendo ao dono do animal ressarcir os danos causados.

Situações de posse ou guarda de animais são muito comuns no nosso

cotidiano aí reside a importância de conhecermos os casos de excludente de

responsabilidade e principalmente os cuidados que devemos ter para evitar

danos a outrem.

Sobre preferências e privilégios

creditórios.............................................. .