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1ª Edição Câmara Brasileira de Jovens Escritores Eus Roni

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1ª Edição

Câmara Brasileira de Jovens Escritores

Eus

Roni

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Copyright©Roni Santos

Contatos com o autor:E-mail: [email protected]

Tel.: (34) 9974-9643

Câmara Brasileira de Jovens EscritoresRua Crundiúba 71/201F - Cep 21931-500

Rio de Janeiro - RJTel.: (21) 3393-2163

[email protected]

Abril de 2007

Primeira Edição

Coordenação editorial: Gláucia HelenaEditor: Georges Martins

Produção gráfica: Alexandre CamposRevisão: do autor

Livro registrado na Fundação Biblioteca NacionalNúmero: 394810

É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, porqualquer meio e para qualquer fim, sem a autorização

prévia, por escrito, do autor.Obra protegida pela Lei de Direitos Autorais

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Rio de Janeiro - Brasil

Abril de 2007

Eus

Roni

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PREFÁCIO

Eus é muito mais que a multiplicação dos sentimentos unilate-rais do jovem poeta Roni, em sua busca incessante. É a indivi-dualidade do poeta que nos fala, trilhando quase sempre seucaminho metafísico. Dono de um lirismo comportado, conci-so, pronto a envolver-nos em sua musicalidade que acaba porlegitimar sua empreitada poética. Parabéns, Roni, por sua belaestréia na nau constante que é o desafio das palavras.

Julio Cesar da CostaFevereiro de 2007

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I

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Roni

MUNDO COR-DE-ROSA

à Giovana P. Platinetti

Mundo cor-de-rosaFantasias coloridasNuma vida em preto e brancoMundo azulColorido artificialmentePor quem se permite sonhar...

Meu mundo tem todas as coresAzul, verde, vermelho...Sobre uma tela em brancoA tela é sempre a mesmaAs cores são fonte de vidaQue cor é seu mundo?

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CAMALEÃO

Ser sábio ao falar com um sábioSer leigo ao falar com um leigoCompreender a todos...E ser compreendidoCamaleonicamente

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Roni

à Giovana P. Platinetti

A belezaOculta no tempoRevela-se aos poucosE ainda mais bela

É o brotar da rosaNum galho espinhosoPara que rosa sejaAos olhos da platéia

É o belo inebriante...Que a tudo sobressaiQue tudo enfeitaE em tudo pode estar

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Eus

CONDIÇÕES

Não se é experiente sem ter experimentadoSó se chega ao topo começando por baixoNão existe saudade de quem está por pertoNão se amadurece sem nunca ter sofridoNada pode ser ruim sem que ninguém tenha provadoNada pode ser caro para quem nunca comprou

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OS DOIS LADOS

O lado direito do cérebro, emotivoSufoca o esquerdo, passivoE surge o ato, impulsivoMais tarde a conseqüência...arrependidoO lado esquerdo contra-ataca, vingativoAnalisa friamente a questão, calculistaMas abstém-se de sentir...desumano

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O EU

Em algumas artes, “empresta-se” o eu a outremA personagem sufoca o principalEm outras, o eu põe-se à mostraNem que se queira ocultá-lo

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VISÃO

Tudo, para o poeta, é poesiaSua vida, sua morteSeus amores, desencantosSuas dúvidas, certezas

Tudo aquilo que é seuE o que não lhe pertence (?)...São sempre senhoresDaquilo que podem ver

Tudo, para ele, é poesia...Nada mais lhe restaE nada parece ter fim...

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Eus

CONFUSO?

- Pronto, é isso...- Já resolveu?!- Sim, não o vê?- Vejo, mas...como chegou a esse resultado?- Como assim “como”?- Nada surge do nada...é preciso fazer uso de meios parase obter algum fim...- Quer dizer que não existe um fim sem meios?...- Exatamente.- Tudo bem...o que sei é que resolvi...

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JUDAS

O olhar “tão certo” do presentePouco enxerga, de fatoTudo é turvo, ou mesmo ocultoEstá sempre atrasado

Era Judas, não é mais...“E agora...que fizemos?E agora...que fazer?Será que ele aceita desculpas?

Já sei...ergueremos uma estátua!Redimiremos toda culpaNo mais nobre metalÉ isso!

Mas...espere...Se não foi Judas...Quem foi?Hmmm...”

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Eus

MATEMÁTICA

REAL

1 + 1 = 11 x 1 = 11 – 1 = 0,51 + 2 = Ø1 ÷ 1 = ?

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INSTINTIVO

O perfume naturalO suor ininterrupto...As palavras que impulsionamO olhar que se torna vagoO calor da respiração...O sincronismo dos afagos...O cenário em segundo planoO testemunho da escuridão

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PASSADO

Vai-se o passadoSeparado por horasPoucas horas...Mas o bastantePara torná-lo passado

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VIDA DE SONETO

Soneto com sono, cansadoTentava, em vão, repousarPoeta teimoso, inspiradoQueria em soneto versar:

“ – Só faltam dez linhas, soneto!Me deixa o poema escrever...”Soneto boceja e se irritaReplica sem volta temer:

“ – Dez linhas é muito, poeta!Mais cedo tivesse tentado!Não vê que é tarde da noite?!”

Poeta sorri descansadoEnquanto soneto cochilaEm versos, poema acabado...

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FELIZ

Tão feliz sentiu-seQue ser eterno quisQuis correr e gritarDizer a outro paísPrimavera permanenteProfessor e aprendiz

Tão feliz se viuQue, à toa, de tudo riaPassado, presente e futuroEscreveu em poesiaLançou seu sorriso ao ventoFez o que antes não podia

Tão feliz o viramQue uniram-se a eleA fim de saber o motivoDe tão insensata alegriaMas não pôde ou permitiu-se falarConter o riso não queria...

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Roni

ASPIRANDO...

Que cheguem às mulheresOs mais belos madrigaisQue as toquem suavementeNaquilo que têm de mais íntimo

Que as faça desejarem floresVioletas, rosas, carmesimQue as deixem inebriadasDo mais puro desejo feminino

Que as tornem menos homemE mantenham-se soberanasQue aspirem ao romantismoQue sejam mulheres, enfim...

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Eus

VIRAÇÃO

Trago, lá de dentro, um anseioSuor que sob a chuva não se mostraE oculto, o meu triste devaneioÉ a sina d’uma alma que se prostra

Trago, em meus olhos solitáriosA candura da esperança que confortaUm sofrer seria muito, e são váriosAté quando meu peito comporta?

Trago, no amor que por ti espreitaO aroma de uma aurora jamais vistaE, quem sabe, dentro de ti aceita...

Mas ando sobre ruas de algodãoE de tanta leveza, altruístaFlutuo, e faço da brisa meu chão

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Roni

ENIGMA 112

Passos sobre o piso de madeiraAo ritmo do seu caminharSuave bailar se aproxima...

Descendo as escadas, sozinhaParedes a te observarSilenciosamente...

E eu, instinto felinoNum ímpeto aguço os sentidosTentando desvendar você...

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Eus

SAFIRA

Olhos marcantes, cristalSeduzem a minha atençãoQuartzo vítreo azulado...

Emoções se revezam, safiraSob o prisma do azul céu e marNo semblante que expressa o quererNa dúvida que aflige o ser

Conta-me um conto sem palavrasMostra-me o enigma da tua almaLança teu olhar sobre si mesmaDesvenda-te e segue serena...

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RHODE

à Rhode Lucy

Corpo atentoMãos que suamNotas soam...

Poses váriasDançam luzesPés que sangramTons ecoam...

No teatroImanizadoRepresentaA tragédiaQue é limalha

Ou no espaçoReservadoDesprovidoDe olhares...

Palco é ondeBrote a artePalco é ondeRhode sejaEla mesma...

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Eus

TEU SILÊNCIO

à Geili

Sou eu quem compõe melodiasQuem diz frases difíceisAchando que sei o que digo...E você apenas ouve...

Sou eu quem te liga na noitePerguntando como se senteFalando de mim novamenteE você apenas ouve...

Eu que sempre vou ao seu encontroCom pretexto de amizadePra poder matar saudadePra falar tudo de novo...E você apenas ouve

Teu silêncio é meu tormento, mas diz tudoTeu olhar me diz que ainda não acabouTeu sorriso me renova, ilusão...Nos teus olhos há um brilho de desejoNos teus gestos há razão, não emoçãoQuando beijos podem trazer o passadoÉ sensato não ouvir o coração...

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REBIRTHING

to Breanna Gury

You make me smileI make you cryYou make me liveI make you dieYou make me standI make you bend

You please me so muchI beat you on faceYou beg me to stayI shout you to leaveYou hug me so strongI push you aside

You wait for me awakeWhile I sleep anywhereYou wake up alone by morningI pretend that really don’t care

You want to carry onAnd I prefer to breakYou say you still want meI cry for my mistake...

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SEM-FIM

à Giovana P. Platinetti

É sempre que penso em tiNas horas de solidãoQue as aves de arribaçãoNorteiam-se pelo seu cheiroE seja em outubro ou janeiroDepressa resolvem partir

À tua presença emudecemSabendo, fiéis, ocultarAs dores que sabem que sintoSem nunca, a ti, revelar

E quando em regresso revoamEvocam capriccis, prelúdiosE ouço tão belo cantar...É rouxinol que te achou lindaFoi bem-te-vi que te viu só...E a mim vieram anunciar

Mas, de todos, mais sombrioÉ o canto do sem-fimDiz endechas de distânciaD’um martírio sem esperançaSem-fim...sem-fim...

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Roni

DOIDOS VARRIDOS

De todo pensamentoEsquisito, turbulentoSurge algo de momento

SubconscientementeTodo o mundo fica ausenteNada é possível imaginarA não ser o que se sente

E o que se sente se transmitePara uns, sapiente...Para outros, sem sentido...

Mas somos todos loucosAnalisando um por umTemos um “que” de normaisMas somos doidos varridos

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PARADOXAL

E se ouvissem, na rua, meu grito?Seria o estertor de um insanoSeria um lamento profanoSeria por louco tomado

E se vissem minh’alma caída?Pedaços dispersos no chão?...À luz de um olhar indulgenteSeria mais triste visão

E como, afinal, há belezaNos versos que escreve o poeta?Se é dor tempo todo, tristeza...Se é chaga que nunca se fecha?...

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Roni

ENGANO

Malditos poemas de amorQue aos montes se encontram nos livrosAmor-devaneio, fictícioMedido por adjetivos

Quisera ser livre, vividoJamais confinado em versosQual pássaro mudo, cativo...

Malditos poetas que falamDo amor inefável, inaudito...

Mal sabe o leitor absortoNos áureos contornos das linhasQue o branco que resta ao redorDiz mais de amor verdadeiroQue o negro ilusório das frases

Mal sabe o leitor fascinadoQue o encanto que o verso irradiaNão é, nunca foi o amor...É só um sorriso trocistaZombando de um ser solitário

O autor...

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DESEJOS

As horas insistem em passarEnquanto quero que elas paremMais tarde resolvem pararSó porque as quero em movimentoEstou contra o tempo, ou é o contrário?

Desejo o calor do solEnquanto cai uma tempestadeO sol decide brilharMas agora já é tarde...

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Roni

MUNDO PARALELO

Duas retas caminhando lado a ladoParalelas que podem ou não se encontrarPartindo do mesmo ponto, ao mesmo tempoOnde o eu pode não ser tão eu assimMas pode procurar ser na medida do impossível

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A NOITE

A noite é tristeA noite é toda solidãoEmbriaga...Encerra o dia...A noite pede companhia

Bela como um rosto femininoA lua é falsa...A essência oculta na aparênciaAntes mal acompanhado do que sóA noite não terminaSempre é noite em algum lugar

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Roni

INVERNO VERNAL

à Chopin

Chopin é o inverno em si mesmoEspírito uivante do sulQue habita as tardes cinzentasE as noites de melancolia

Já ouço tua voz taciturnaEm dias sombrios e sem vidaDispersa nos pingos da chuvaMelodicamente caindo...

Agrada-me tua presençaE graças a tua existênciaPodemos sofrer em prelúdio...

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ÉBRIO

Embriaguez, mundo paraleloOnde a dor não existeMas é adiada...Onde surge a ousadiaÉ tudo ou nada...Mesmo sem destinoSe chega a algum lugarNinguém sente o mal-estarAnte o bem-estarDe não estar...

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ARENA

I

Adormecido em sono profundoIndiferente a tudo e a quase todosAssisto a sangrento conflitoPermaneço olhando, caladoTêm minh’alma como troféuEcoa um grito em forma de sussurro:“Acabe comigo ou acabo contigo.”E então o golpe finalAlguém venceu...O vencedor me olha insistenteO silêncio me leva a segui-lo...

E quando, enfim, acordoDe tão estranho pesadeloMeus olhos estão cansadosComo se eu tivesse lutadoEis que pressinto outra batalhaTendo o desconhecido como oponenteE sem poder perder tempoPreparo-me ao extremoE decido enfrentar

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Desfiro o primeiro golpe...Estou vencendo...No segundo, atinjo a mim mesmoEstou ferido...Algo me diz que o terceiro virá do desconhecidoE veio, com mais força que pensei...Não adormeço...mas estou confuso...O desconhecido me observa, calado...Desiste da luta...Simplesmente se vai, em passos lentos...Me pergunto a razão de não ter perecido frente atamanho golpeMas algo parece ter mudado...Vou atrás do desconhecidoQue caminha cabisbaixoUm vencedor de cabeça baixa?Me antecipo em seu caminho, e grito, extenuado:“Quem é você?”Nenhuma resposta...Questiono novamente, ainda mais angustiadoEis que me olha de frente, embora em silêncioEm seus olhos começo a compreender...Vejo sonhos...antigos...Que me tirou na batalhaCom aquele golpe estranho...

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Roni

Já sem forças pra outra lutaDecido voltar pra casaSem compreender o que houve...

O meu quarto ainda é o mesmoA guitarra sobre a cama nada me inspiraMas, sobre um banquinho, num cantoO violão tem algo a dizerO mesmo instrumento, amigo de sempre...Com o semblante abatido, quase em lágrimasPergunto o que devo fazerUm capricci de Paganini?A resposta é: “apenas toque...e sinta...”Sem nada a perder, obedeçoComponho uma melodia triste...A música me mantém vivoE mesmo sem querer lutarVou seguindo rumo a...A essência é imutável...mas adormece

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Eus

II

Um pouco distante da essênciaPoucos sabem da minha fragilidadeA surpresa são os que sabem...Agora são três...

O primeiro vem em minha direçãoAcho que já o conheçoPensei que já havia derrotadoMas ele se mostra mais forteE me acerta...Fragilizado, ouço uma contagem mental

5...Não!4...Malditos!3......2...Só há uma chance...1...Fujo...assim não preciso lutarMais vale um covarde vivo...

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Roni

O segundo, que de longe observavaSurge diante de mimNão consigo reagir...Sou dominado por instantesFisicamente preso

Como se não bastasseO terceiro se aproveitaConheço-o de algum lugar...Tendo vencido uma vez, voltouDois contra umMe entrego...

Já no fim surgem outrosAproximam-se...Afugentam o inimigo...Me abraçam, percebo minha essênciaMas desta vez não choroConvalescente, penso no que está por virDessa vez não estarei só...

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Eus

III

Eis que me encontro sóMas não aos seus olhosO sol a tudo iluminaCom seus mais intensos raiosHora tal em que vieste me inquietarMais uma vez não me deixaste falarCovardemente, como sempre...

Não pode ser senhora das trevasMuito menos algum representante divinoVocê não é homem nem mulherVocê não é bem nem malVocê não tem cor...É apenas uma voz friaUm grito em forma de sussurro...

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Roni

DISPUTA

Eu vi uma artista morrendoQuietinha, num canto escondidaE vi a tristeza nascendoTristeza na arte que é vida

Eu vi o poeta chorandoSofrendo por não ter saídaE vi as palavras sorrindoEm bocas com pouca comida

Eu vi Deus olhando confusoProcurando o tom da melodiaE vi os demônios no palcoTocando sem ter harmonia

Eu vi a bondade caindoNum poço sem fim, quem diriaE vi a maldade imergindoGritando sem ser agonia

Eu vi o empato no jogoUm a um nessa louca partidaE vi o placar se apagandoZero a zero no fim da corrida...

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PORQUÊS

Não devo minha existência aos deusesIncapazes de olharem a si mesmosA devo aos dedos de minhas mãosE à euforia dos paliativos

Não devo resposta aos porquêsConfusos em meio a sofismasFascina-me o silêncio verdade...E os assuntos que me fazem rir

Se tenho ofereço à arteQue nada, em retorno, me exigeQue dá e não quer sua parte

Se devo é àquilo que sintoNem que sejam simplesmenteDevaneios num labirinto

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Roni

AOS POUCOS

Vejo-os decairPresos em fatosHá muito consumadosE vão-se lentamente...Nas horas tormento

Sentimentos de agoraFragmentos emersosDe antigas mágoas

Na volúpia do instanteParecem ressurgirE mudar o rumoNatural e induzidoDo que possa vir

Mas foi tanta morteTanto “mas”De lá pra cá...

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Eus

GRITOS DO INCONSCIENTE

Madrugada tempestuosa...Relâmpagos em meio à ventaniaSem que possam testificarO silêncio sepulta meu grito...Há luzes sob a chuvaEstranhamente não se apagamCalafrios dispersos ao longeJunto à brisa da noite que sofreObserva e chora inconsolável...

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Roni

MORTO(-)VIVO

Morto vivoNuma linha insensataConcreta ou abstrata?Solidão coletiva é piorMaltrata...

Posso pagar qualquer preçoCompro vidas, ressuscitoE vocês nunca percebemSó conhecem uma morte

Vivo mortoPassando despercebidoMorto-vivoVagando em vários sentidos...Vivo morto-vivo

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MARCAS

A marca nos deixa uma marcaDifícil de cicatrizarA moda lançou outra modaNão nos deixam em paz

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Roni

NIETZSCHENIANDO

Avistei Zaratrusta a bailarAlegre em sua tristezaDançava de ouvidos tapadosZombava de tanta destreza

Mostrou-me a dança da morteMe vi a dançar a seu ladoSentindo mais vida que nuncaIsento de qualquer pecado

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Eus

PAREDES DO MEU QUARTO

No meu quarto as paredes têm ouvidoAbsorvem o que digo e o que sintoFecho a porta...não me vejo enclausuradoSou mais livre protegido em meu recinto

O relógio com seu ciclo interminávelE os quadros que me instigam prosseguirSão detalhes das paredes do meu quartoSerão lembranças permanentes no porvir

Sonhos, conquistas, fracassos...Solidão, saudade, tristezaAlegria, esperança, esperança...São o concreto das brancas paredesMinha doce e fiel vizinhança

As paredes não respondem, só me ouvemIsso é tudo pra que possam existirNecessito de ouvidos, não mais bocasPois quem fala quase nunca sabe ouvir

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Roni

AOS “FILÓSOFOS”

Não seria o sertanejo um sábio?Aliás, o senhor de todos eles?Um homem que fala pouco...Que nunca lê...

Livros...quem deles tanto precisa?Vamos, “filósofos”, retirem suas máscaras!Mostrem-me o que há por trás!Ou será que têm medo?...De verem surgir algo puro e simples?Quem sabe o sertanejo...

Não seria o silêncio a verdade tão buscada?Afinal, para quem tanto estudam?Por que tão acadêmicos?Se não se despem do mal tornado raiz?Se não sabem, calem-se!Não seríamos, na essência, sertanejos, e no mais, hipócritas?

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IV

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Roni

PROBLEMÁTICA

DO PROBLEMA

Temos um problema quando passamosa conhecê-lo e, principalmente,considerá-lo como tal.

AMBÍGUO

De tanto dizer verdades, espalhei mentiras...

LOQUACIDADE

Quem fala sobre o que nunca sentiunão sabe do que está falando...

SELF

Não falo de mim por orgulho...falo por não ser eu.

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Eus

ARDIL

Grande é aquele que consegueexpor suas habilidades e ocultarseus defeitos.

OLIGOFRENIA

Quem lança um olhar de desprezoa outrem despreza a si próprio semo saber...este, sim, precisa de ajuda.

HOW MUCH?

Toda beleza tem seu preço.

GÊNIO

O gênio sabe a medida de todas as coisas.

DISTÂNCIA

A ausência reforça a presença doque de perto estaria distante.

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Roni

SEM-VERGONHA

Algumas vezes, envergonhei-me com o queescrevi. Até que, lendo o que escreveram,não pude deixar de notar o quantosão sem-vergonha...

VINGANÇA

E quanto aos inimigos, o que fazer?Isto:.................................................

ÚLTIMAS PALAVRAS

Quanto às últimas palavras, servirãopara anunciar a morte da poesia...

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Livro produzido pelaCâmara Brasileira de Jovens Escritores

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