poeta do lápis

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Poeta do Lápis

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Page 1: Poeta do Lápis

P O E TA D O L Á P I S

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Page 2: Poeta do Lápis

Comissão Editorial da Coleção Várias Histórias

Silvia Hunold Lara (coordenadora)Alcir Pécora – Claudio Henrique de Moraes Batalha

Margarida de Souza Neves – Sueann Caulfield

Conselho Consultivo da Coleção Várias Histórias

Sidney Chalhoub – Maria Clementina Pereira CunhaRobert Wayne Andrew Slenes – Michael HallJefferson Cano – Fernando Teixeira da Silva

Consultoria deste volume

Brodwyn Fischer – Ivana Stolze Lima

Universidade Estadual de Campinas

Reitor Fernando Ferreira Costa

Coordenador Geral da Universidade Edgar Salvadori de Decca

Conselho Editorial

PresidentePaulo Franchetti

Alcir Pécora – Arley Ramos MorenoEduardo Delgado Assad – José A. R. Gontijo

José Roberto Zan – Marcelo KnobelSedi Hirano – Yaro Burian Junior

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Page 3: Poeta do Lápis

Marcelo Balaban

P O E TA D O L Á P I S

S ÁT I R A E P O L Í T I C A N A T R A J E T Ó R I A D E A N G E LO AGO ST I N I N O B R A S I L I M P E R I A L ( 1 8 6 4 - 1 8 8 8 )

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Editora da UnicampRua Caio Graco Prado, 50 – Campus Unicamp

Caixa Postal 6074 – Barão Geraldocep 13083-892 – Campinas – sp – Brasil

Tel./Fax: (19) 3521-7718/7728www.editora.unicamp.br – [email protected]

Índices para catálogo sistemático:

1. Agostini, Angelo, 1843-1910 741.5 2. Caricatura 741.5 3. Imprensa 070 4. Brasil – História – Séc. XIX 981

Copyright © by Marcelo Balaban

Copyright © 2009 by Editora da Unicamp

Nenhuma parte desta publicação pode ser gravada, armazenada em sistema eletrônico, fotocopiada, reproduzida por meios mecânicos

ou outros quaisquer sem autorização prévia do editor.

isbn 978-85-268-0835-5

B18p Balaban, MarceloPoeta do lápis: sátira e política na trajetória de Angelo Agostini no Brasil Im-perial (1864-1888)/ Marcelo Balaban. – Campinas, sp: Editora da Unicamp, 2009.

1. Agostini, Angelo, 1843-1910. 2. Caricatura. 3. Imprensa. 4. Brasil – História – Séc. XIX. I. Título.

cdd 741.5 070 981

ficha catalográfica elaborada pelosistema de bibliotecas da unicamp

diretoria de tratamento da informação

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C O L E Ç Ã O V Á R I A S H I S T Ó R I A S

A Coleção Várias Histórias divulga pesquisas recentes sobre a diversi-dade da formação cultural brasileira. Ancoradas em sólidas pesquisas em pí-ricas e focalizando práticas, tradições e identidades de diferentes grupos sociais, as obras publicadas exploram os temas da cultura a partir da pers-pectiva da história social. O elenco resulta de trabalhos individuais ou coletivos ligados aos projetos desenvolvidos no Centro de Pesquisa em História Social da Cultura do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp (www.unicamp.br/cecult).

V O L U M E S P U B L I C A D O S

1 – Elciene Azevedo. Orfeu de carapinha. A trajetória de Luiz Gama na imperial

cidade de São Paulo.

2 – Joseli Maria Nunes Mendonça. Entre a mão e os anéis. A Lei dos Sexa-

ge nários e os caminhos da abolição no Brasil.

3 – Fernando Antonio Mencarelli. Cena aberta. A absolvição de um bilontra

e o teatro de revista de Arthur Azevedo.

4 – Wlamyra Ribeiro de Albuquerque. Al gazarra nas ruas. Come mo rações

da Independência na Bahia (1889-1923).

5 – Sueann Caulfield. Em defesa da honra. Moralidade, moder nidade e nação

no Rio de Janeiro (1918-1940).

6 – Jaime Rodrigues. O infame comércio. Propostas e experiên cias no final do

tráfico de africanos para o Brasil (1800-1850).

7 – Carlos Eugênio Líbano Soares. A capoeira escrava e outras tradições

rebeldes no Rio de Janeiro (1808-1850).

8 – Eduardo Spiller Pena. Pajens da casa imperial. Jurisconsul tos, es cravidão

e a Lei de 1871.

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9 – João Paulo Coelho de Souza Rodrigues. A dança das cadeiras. Literatura

e política na Academia Brasileira de Letras (1896-1913).

10 – Alexandre Lazzari. Coisas para o povo não fazer. Carnaval em Porto

Alegre (1870-1915).

11 – Magda Ricci. Assombrações de um padre regente. Diogo Antô nio Feijó

(1784-1843).

12 – Gabriela dos Reis Sampaio. Nas trincheiras da cura. As di fe rentes medi-

cinas no Rio de Janeiro imperial.

13 – Maria Clementina Pereira Cunha (org.). Carnavais e outras f(r)estas.

Ensaios de história social da cultura.

14 – Silvia Cristina Martins de Souza. As noites do Ginásio. Teatro e tensões

culturais na Corte (1832-1868).

15 – Sidney Chalhoub, Vera Regina Beltrão Marques, Gabriela dos

Reis Sam paio e Carlos Roberto Galvão Sobrinho (orgs.). Artes e ofícios

de curar no Brasil. Capítulos de história social.

16 – Liane Maria Bertucci. Influenza, a medicina enferma. Ciência e práticas

de cura na época da gripe espanhola em São Paulo.

17 – Paulo Pinheiro Machado. Lideranças do Contestado. A for mação e a

atuação das chefias caboclas (1912-1916).

18 – Claudio H. M. Batalha, Fernando Teixeira da Silva e Ale xan dre

Fortes (orgs.). Culturas de classe. Identidade e diversidade na formação do

operariado.

19 – Tiago de Melo Gomes. Um espelho no palco. Identidades sociais e massi-

ficação da cultura no teatro de revista dos anos 1920.

20 – Edilene Toledo. Travessias revolucionárias. Idéias e militantes sin dicalistas

em São Paulo e na Itália (1890-1945).

21 – Sidney Chalhoub, Margarida de Souza Neves e Leonardo Affonso

de Miranda Pereira (orgs.). História em cousas miúdas. Capítulos de história

social da crônica no Brasil.

22 – Silvia Hunold Lara e Joseli Maria Nunes Mendonça (orgs.). Direitos e justiças no Brasil. Ensaios de história social.

23 – Walter Fraga Filho. Encruzilhadas da liberdade: histórias de escravos e

libertos na Bahia (1870-1910).

24 – Joseli Maria Nunes Mendonça. Evaristo de Moraes, tribuno da Re-

pública.

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25 – Valéria Lima. J.-B. Debret, historiador e pintor: a viagem pitoresca e his-

tórica ao Brasil (1816-1839).

26 – Larissa Viana. O idioma da mestiçagem: as irmandades de pardos na América

Portuguesa.

27 – Fabiane Popinigis. Proletários de casaca: trabalhadores do comércio carioca

(1850-1911).

28 – Eneida Maria Mercadante Sela. Modos de ser, modos de ver: viajantes

europeus e escravos africanos no Rio de Janeiro (1808-1850).

29 – Marcelo Balaban. Poeta do lápis: sátira e política na trajetória de Angelo

Agostini no Brasil Imperial (1864-1888).

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Para Giulia

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A G R A D E C I M E N T O S

Livros são, em sua maioria, obra coletiva. Nascem do empenho, da competência, da atenção, da dedicação e do carinho de muita gente. Este, naturalmente, não é exceção. Muito ao contrário, ele só foi possível graças a um grupo de professores e colegas da pós-graduação da Unicamp reunidos no Cecult. O aprendizado do trabalho coletivo foi, com certeza, a grande lição dos anos como aluno de doutorado. Foi graças à rica e estimulante convivência acadêmica e à generosidade de tantas pessoas que, durante os anos de pesquisa e escrita da tese de doutorado que agora vira livro, este texto chegou a bom termo. O espaço reduzido de um agradecimento, aliado a minha memória fraca, faz com que muitas dessas pessoas não tenham seu nome citado aqui. Por isso, inicio lembrando e reconhecendo a dívida contraída. A todos vocês, meu muito obrigado.

Mais do que uma formalidade necessária, é preciso agradecer à Fapesp, que financiou esta e tantas outras pesquisas, e reconhecer sua importância. A atenção e a presteza dos funcionários dos ar-quivos e bibliotecas que consultei foram de grande ajuda, fazendo muitas vezes com que uma fonte difícil pudesse ser localizada e até descoberta, ou que novos caminhos de pesquisa pudessem ser seguidos. À Uli, à Flávia e à Luciana preciso mais uma vez agradecer a atenção, a competência e a paciência com que, sempre com muito bom humor, suportaram alguns atrasos e atenderam pedidos um tanto atrapalhados, pelos quais ainda preciso desculpar-me.

A banca de qualificação, formada pelas professoras Izabel Andrade Marson e Silvia Hunold Lara, ajudou na reescrita dos capítulos 1 e 3, bem como me fez entender melhor as possibilida-des da tese em elaboração, redirecionando a escrita dos capítulos restantes. As conhecidas competência e generosidade das duas e a

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atenção comigo e com meu texto preliminar foram fundamentais para que o trabalho pudesse atingir seus objetivos. O mesmo deve ser dito e acrescentado com relação à banca de defesa da tese, que, além das já citadas professoras, contou ainda com a participação do professor Elias Tomé Saliba e da professora Martha Abreu. O que foi discutido naquela tarde de dezembro de 2005 teve fundamental importância, tanto para a melhor compreensão das potencialidades da tese como para a revisão dela para publicação.

Os professores Robert W. Slenes e Claudio Batalha, em mo-mentos diferentes, contribuíram com sugestões e estímulo. Leo-nardo e Clementina, sempre muito rigorosos, apoiaram, criti-caram, leram uma e outra parte da tese, enfim, participaram de tudo e em tudo.

Em seguidos seminários temáticos na Anpuh, as professoras Iara Lis Schiavinatto Carvalho Souza e Cristina Meneguello me brindaram com comentários e críticas muito estimulantes. A pro-fessora Margarida de Souza Neves, sempre atenciosa e generosa, manteve um olho atento para o trabalho desde o princípio. O Sidney terá de me perdoar, mas a primeira orientadora, a gente nunca esquece.

No doutorado continuei acertando na escolha do orientador. Sidney Chalhoub, ao longo de cinco anos de trabalho, foi rígido quando preciso e preciso nos comentários pontuais e estrutu-rais, sempre muito interessado na pesquisa. Nos momentos das maiores dúvidas, quando os desenhos de Agostini pareciam não me dizer nada, Chalhoub, com sua inabalável crença na pesquisa empírica, sua tranqüilidade e sua sabedoria, indicou caminhos interpretativos sempre férteis. Além de fundamental para todo o trabalho, foi uma convivência profissional rica e instigante que, para minha sorte, marcou minha trajetória acadêmica. Isso para não falar na amizade e nas saborosas palestras sobre futebol, bem como nas peladas que, infelizmente, não sobreviveram tanto quanto gostaríamos.

Durante a transformação da tese em livro fui professor subs-tituto na Universidade de Brasília. Contei nesse período com o apoio e a ajuda dos professores com quem tive mais contato, mas

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agradeço a todo o departamento, no qual aprendi a ser professor. Os numerosos alunos com quem tive a chance de trabalhar sempre me olharam com desconfiança quando eu dizia que aprendia com eles tanto ou mais do que eu imaginava que eles poderiam apren-der comigo. Espero que este testemunho seja o bastante para con-vencê-los de que o ensino é troca, e é um processo longo, lento, rico e estimulante.

Os amigos, bem, o que faria sem eles? Apoiaram, riram co-migo e de mim, agüentaram momentos de cansaço e impaciência, enfim, lá estavam em todos os momentos. Ana, Eneida e Célio, colegas de turma e de inquietações. Saudades do primeiro ano do doutorado. Jorge Carreta continua sendo uma pessoa rara. Cris, com sua encantadora filha Daniela; Gabriela, Gino e Fabi, agora um tanto distantes, souberam manter-se por perto. Mariana, pes-soa das mais espirituosas que conheço, contribuiu com sugestões de leituras. Bráulio e Joana me abrigaram na volta para Campinas e o destino fez deles colegas no retorno para Brasília. São amigos muito queridos e companheiros cada vez mais próximos. A vocês, dedico minhas mais sinceras saudações tricolores. Claudia se tor-nou uma amiga especial, o que, tenha certeza, é muito impor tante para mim. Elciene é a minha amiga mais chic. Foi também interlo-cutora essencial, participando e melhorando o trabalho com rigor e carinho. Saudades de você, minha amiga. Não poderia esquecer a Paula, o Leo, o Fernando e a Gi, grupo que, nos bons tempos de Campinas, contumazmente se encontrava no bar do Jair. Não sei o que teria acontecido sem todos vocês.

A Nena, com seu jeito um pouco atabalhoado, esteve atenta a tudo, com o carinho e a generosidade de que só ela é capaz. Dona da risada mais solta e honesta que conheço, sua presença é conforto e alegria. Mariana, minha prima-irmã, conseguiu o que parecia impossível: tornar-se mais indispensável e mais amiga. Além disso, abrigou-me por longas temporadas de pesquisa em São Paulo, encarregando-se de tornar cada estada sempre muito divertida. Thiago foi outro que me deu pouso em temporadas de pesquisa, mas no caso dele no Rio de Janeiro. Enquanto ele próprio descobria o Rio, ajudou-me muito mais do que ele possa

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imaginar; coisa de melhor amigo. Claudinha, minha irmã-irmã, tratou de todas as imagens do livro, tornando-as mais limpas e claras. Também torceu, teimou e discutiu muito comigo. Foi, à sua maneira, essencial. Sergio, sempre às voltas com computadores e aparelhos eletrônicos mirabolantes, sempre torceu muito por mim. Sua grande obra, feita em momento de rara inspiração, foi a minha sobrinha, a quem dedico o livro. A Giulia está me ensinando a brincar novamente. Não há lição mais preciosa nesta vida. A vó Lygia é nossa força, nossa inspiração e nosso grande orgulho. Por meio dela agradeço a todo o resto da minha numerosa, generosa e barulhenta família.

No meio do percurso, uma surpresa. Surpresa que continua surpreendendo. Agora eu sei que coisas extraordinárias são pos-síveis e acontecem. Marília surgiu na minha vida e tudo ganhou sentido novo.

Meu pai encontrou Rosali e nela, com ela, descobriu o seu lugar no mundo; a esperança renovada.

Minha mãe, de novo e sempre, esteve e está lá com carinho e força, docemente. Por tudo que você fez por mim, e me ensinou nas últimas semanas, meses e anos, tenho certeza de que você, vovó Delith, entendeu, aprovou e, sobretudo, apoiou a mudança que fiz na dedicatória da tese.

Brasília, junho de 2008.

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S U M Á R I O

PREFÁCIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

1 A ARTE DO POETA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

2 CENAS LIBERAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

3 BANDIDOS DE ROUPETA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

4 ESCRAVIDÃO OU MORTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

FONTES E BIBLIOGRAFIA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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P R E F Á C I O

Os cronistas do século XIX, inventores de um gênero literário de história longa, alegavam muita vez falta de assunto para dar início gracioso, às vezes mal-ajambrado, ao texto que era a sua obrigação da semana, da quinzena. Arte difícil, a de puxar o fio da conversa sobre um cotidiano de mazelas sempre iguais, esperanças que tais, piadas de antanho. Versejador contumaz, o Malvólio de Machado de Assis, na Gazeta de Holanda, inicia assim a sua queixa: “Muito custa uma notícia! /Que ofício! E nada aparece. /Que canseira e que perícia! /Que andar desde que amanhece!”; na quadra seguinte, já vai direto às ventas do desavisado: “E tu, leitor sem entranhas, /Exige mais, e não vês /Como perdemos as banhas /Em te dar tudo o que lês”; e arremata: “És assim como um janota /De ma-neiras superfinas, /Que não sabe o preço à bota /Com que cativa as meninas” (segunda crônica da série, em 5 de novembro de 1886). O mesmo tema e o mesmíssimo jeito atrevido aparecem na Revista Illustrada de Angelo Agostini, primeiro número dela, em 1o

de janeiro de 1876. Ao se apresentar ao público, dom Beltrano, o narrador do periódico, encarregado “de ilustrar as suas páginas”, mostra um bando de “mariolas”, que “são meus repórteres, meninos um tanto malcriados mas muito ladinos”. Na gravura seguinte, logo abaixo, dom Beltrano despacha os tais mariolas: “Vão, corram; observem bem o que se passa por aí e voltem a dar-me notícias de tudo quanto viram. O público fluminense é muito curioso e quer novidades mesmo quando não as há”.

A imprensa ilustrada oitocentista é crônica híbrida, texto e imagem, que requer do leitor hodierno erudição pertinente a um tempo que não lhe pertence. Por conseguinte, uma personagem como Angelo Agostini, tema deste livro de Marcelo Balaban, só se torna inteligível a reboque de uma pesquisa minuciosa nos jornais

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S i d n e y C h a l h ou b |

e revistas da época, ilustrados ou não. A matéria dos desenhos de Agostini, e de outros profissionais como ele, era decerto a notícia perseguida por mariolas que perdiam as banhas ao seu encalço. Disso decorre um aspecto superlativo deste livro. Além da leitura atenta das revistas ilustradas por Agostini, Balaban nos oferece pesquisa minuciosa de temas escolhidos nelas abordados, dando a ver a interlocução intensa entre os desenhos do “poeta do lápis” e outros discursos do tempo, presentes em jornais diversos, anais parlamentares, obras políticas, almanaques etc.

Os periódicos de Agostini — quer dizer, tanto aqueles nos quais foi apenas membro da redação quanto aqueles dos quais foi proprietário — tinham estilo e repertório próprios, o que quer dizer apenas que criavam o estilo e o repertório deles em diálogo com as práticas correntes na imprensa do período. Assim, no Diabo Coxo, revista publicada em São Paulo nos anos 1860, na qual trabalhou também o grande Luiz Gama, o mote da narrativa, tirado a romance de Le Sage, consistia na conversa entre Asmodeu, o diabo, e um estudante, chamado Cleofas. O diabo tirara o teto às casas da cidade, pondo à mostra tudo que ia por dentro delas, maus costumes, corrupção, abusos de vária espécie. No Cabrião,outra folha paulistana da década de 1860, a inspiração vinha do popularíssimo folhetim de Eugène Sue, Os mistérios de Paris, no qual o pintor Cabrion azucrina a vida do casal Pipelet, a censurar costumes e a ver em tudo motivo para reproche. Esse processo de dar um mote inicial à narrativa, conferindo características definidas, ainda que flexíveis, a personagens incumbidos de co-mentar os eventos do momento, consistia em traço comum na imprensa da época, algo que aproximava bastante os periódicos ilustrados da crônica em prosa.

Além de características narrativas gerais, a imprensa ilus-trada mobilizava chistes e temas corriqueiros na sociedade da época. Veja-se, por exemplo, a sátira aguda presente na gravura de capa da Revista Illustrada de 4 de setembro de 1880. Nela, Martinho de Campos, escravocrata de truz, inimigo implacável do movimento abolicionista, que vivia então o seu primeiro grande momento, aparece tendo como montaria um escravo.

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P r e f á c i o |

Martinho segura um chicote, o escravo leva correntes em torno do pescoço, tudo organizado de modo a citar e meter à bulha a referência à estátua eqüestre de dom Pedro I, alusiva à indepen-dência, existente na Praça da Constituição (atual Tiradentes). Abaixo do senhor e do escravo, ao invés do lema “independência ou morte”, lia-se “escravidão ou morte”. Impossível apreciar tal gravura sem lembrar do capítulo XI das Memórias póstumas de Brás Cubas, romance publicado em folhetim naquele mesmo ano de 1880, de março a dezembro. Em tal capítulo, intitulado “O menino é pai do homem”, está a cena famosa na qual Brás conta hábitos de sua infância, sinhozinho em meio à escravaria da casa. Diz assim:

Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fusti-gava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia, — algu-mas vezes gemendo, — mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um — “ai, nhonhô!” — ao que eu retorquia: — “Cala a boca, besta!”.

O capítulo de Machado de Assis veio a lume semanas antes da gravura de Angelo Agostini. O que mais interessa talvez é notar um repertório comum, uma maneira compartilhada de satirizar o apego à instituição da escravidão num momento em que o Brasil já era, ao lado de Cuba, que todavia permanecia colônia de Espanha, um dos baluartes restantes da escravidão no mundo ocidental. Vanguarda da retaguarda, vexame nacional, cousa a parecer piada pronta para gente como Machado e Agostini.

Quanto aos temas, a gama é variada, apesar de Marcelo Ba-laban ter feito escolhas necessárias à economia narrativa do texto dele. Em sucessão, o leitor lerá análises densas de estampas sobre a Guerra do Paraguai, a questão religiosa, o problema da cidadania nos anos finais do regime monárquico. Não importa o assunto à baila, o intuito é vinculá-lo ao problema mais geral da crise da escravidão e seu significado para o desmonte do mundo senhorial escravista e da ideologia paternalista que o sustentava. Cada tema

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traz a sua coorte de assuntos “menores”, derivados do principal. Fascinante a galeria de imagens sobre as práticas do recrutamento forçado durante a Guerra do Paraguai. Magotes de “voluntários da pátria”, involuntários todos, apanhados a laço por recrutadores que varavam as matas atrás dos soldados precisos ao esforço de guerra. E a turma entrando na cidade, acorrentados uns aos outros pelo pescoço, como nos libambos, cidadãos tratados como escravos, nublando as fronteiras entre escravidão e liberdade numa sociedade em que não se podia estar livre em segurança fora da órbita da proteção dos grandes senhores — por conseguinte, o valor de tal liberdade permanece questão em aberto em nossa historiografia. Nas demais estampas, há o cidadão que busca a via da isenção garantida pelo casamento, para então ser agarrado como recruta ao arrepio da lei; o sujeito esquelético apanhado para soldado que aponta o pimpão ao lado, a vender saúde, porém declarado incapaz para o serviço militar; e há a gravura incrível, cheia de dramaticidade, do egresso da guerra, ex-escravo, que retorna ao local onde deixara a sua família para encontrar a mãe escrava no tronco, a receber açoites.

Ao contrário do cronista do século XIX, falto de assunto à moda dissimulada dele, o prefaciador desta obra sofre doutro mal, da precisão de ser breve quando haveria muito a dizer. Basta notar que a historiografia sobre o Brasil oitocentista se robustece com este estudo sobre Angelo Agostini e a imprensa ilustrada. O resto é com o leitor, de quem me despeço, chapéu à mão.

Sidney Chalhoub

Departamento de História, IFCH–Unicamp

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