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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP LOURIVALDO LOPES DA SILVA Preço de transferência no Brasil e os impactos nas demonstrações financeiras MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS SÃO PAULO 2008

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

LOURIVALDO LOPES DA SILVA

Preço de transferência no Brasil e os impactos

nas demonstrações financeiras

MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS

SÃO PAULO

2008

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

LOURIVALDO LOPES DA SILVA

Preço de transferência no Brasil e os impactos

nas demonstrações financeiras

MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS

SÃO PAULO

2008

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

LOURIVALDO LOPES DA SILVA

Preço de transferência no Brasil e os impactos

nas demonstrações financeiras

Dissertação apresentada à Banca Examinadora

como exigência parcial para obtenção do título

de Mestre em Ciências Contábeis pela

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

sob orientação do Prof.º Dr.º Roberto

Fernandes dos Santos.

SÃO PAULO

2008

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________

_______________________________________

_______________________________________

• A meu pai, José Antonio da Silva Filho, que

apesar de ter partido desta vida, continua

fortemente presente no meu interior.

• À minha mãe Dona Alexandrina, que através de

seu comportamento de fibra e determinação,

ensinou-me a lutar para alcançar meus objetivos.

• Aos meus Filhos: Susma Lira Silva, Loan Lopes

Fernandes e Beno Lopes Dias, razão de minha luta

e inspiração.

• A minha querida esposa Cassiane Dias Gomes,

que soube compreender a minha ausência na busca

dos meus objetivos.

AGRADECIMENTOS

Aos professores:

• Dr. Roberto Fernandes dos Santos, pela paciência, ensinamentos e orientações

transmitidos durante a execução do programa de pós-graduação;

• Dra. Neusa Maria Bastos F. Santos, pela austeridade nos seus ensinamentos,

críticas sempre valiosas, dedicação incansável e por seu espírito guerreiro na

transmissão de conhecimentos;

• Dr. Sérgio de Iudícibus, Dr. José Carlos Marion, Dr. Securato, professores de

profundo conhecimento técnico e humano que souberam com muita propriedade

transmitir valiosos conhecimentos que sem dúvida carregaremos para sempre em

todas as nossas vidas e jornadas laboriosas.

A todos os colegas e amigos, pela convivência durante toda a jornada acadêmica, pela

troca de experiência, idéias e em especial ao colega e amigo Amauri, pelas sugestões e

críticas que sempre serviram como alerta e pontos de reflexões.

RESUMO

Até o final de 1.996 a legislação brasileira não regulamentava as transações

relacionadas com importação e exportação, com pessoas vinculadas no exterior. Com a lei

9.430/96, a partir de 1º. de janeiro de 1.997, a legislação do imposto de renda regulou pela

primeira vez a questão dos preços de transferência internacionais de bens, serviços, direitos

e juros. Foi um grande passo no sentido de minimizar o superfaturamento nas importações

e o subfaturamento nas exportações.

Diversos países há muito já controlam os preços de transferência de seus bens,

serviços, direitos e juros nas operações com pessoas vinculadas no exterior. Para se ter uma

idéia, o controle nos Estados Unidos já ultrapassa os trinta anos.

Tendo em vista as diversas alterações ocorridas no cenário tributário brasileiro,

mormente no que diz respeito ao preço de transferência, este trabalho se propõe a estudar

as metodologias impostas pela legislação brasileira tanto na importação como exportação,

observar se as regras impostas contrariam os Princípios Fundamentais de Contabilidade e

fornecer sugestões de contabilização para o excesso de custos oriundos da importação de

mercadorias, serviços e juros com pessoas vinculadas no exterior.

Palavras-chave: preço de transferência; planejamento do preço de transferência;

métodos do preço de transferência; regras do preço de transferência.

ABSTRACT

Until the end of 1.996, the Brazilian legislation did not regulate the transactions of

importation and exportation related to companies from overseas. However, with the law

number 9.430/96, January 1st, 1.997, the legislation for tax return regulated for the first

time the issue about the cost for international transferring of goods, services, rights and

interests. It was a big step to minimize the over costs on the importations and the under

costs on the exportations.

Several countries have been controlling all transferring of goods, services, rights

and interests related to people from overseas for decades. In the United States of America

they have adopted this process over 40 yeas ago.

Several alterations have happened recently in the Brazilian Taxation scenario,

especially with respect to cost transferring. This work is about the methodologies imposed

by the Brazilian Legislation, for importation and exportation issues and to know if the

current rules go against the Accounting Fundamental Principles and supplies

recommendations to account the excess of costs from importing of goods, services and

interests with companies from overseas.

Key-words: transfer pricing; transfer pricing planning; transfer pricing methods;

transfer pricing rules.

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1

Introdução ..................................................................................................................1

1.1. Contextualização ................................................................................................1

1.2. Definição do Preço de Transferência .................................................................8

1.3. A Caracterização do Problema .........................................................................11

1.4. As Hipóteses .....................................................................................................12

1.5. Objetivos Propostos ..........................................................................................13

1.6. Justificativa do Tema ........................................................................................14

1.7. Metodologia da Pesquisa Utilizada ..................................................................15

1.8. Revisão da Literatura ........................................................................................16

1.9. Estrutura do Trabalho .......................................................................................21

1.10. Delimitação ......................................................................................................23

CAPITULO 2

Aspectos Gerais sobre o Preço de Transferência ..................................................24

2.1. A Legislação Brasileira ....................................................................................24

2.2. Preço de Transferência e a OCDE ....................................................................27

2.3. Conceitos Básicos .............................................................................................31

2.3.1. Conceito de Preço Parâmetro .................................................................31

2.3.2. Conceito de Operações Atípicas .............................................................32

2.3.3. Conceito de Comparação de Preço Praticado .........................................32

2.3.4. Conceito de Similaridade .......................................................................32

2.4. Paraíso Fiscal ou Cuja Legislação Interna Oponha Sigilo ...............................33

2.5. Conceito de Pessoa Jurídica Vinculada ............................................................36

2.5.1. Interposta Pessoa ....................................................................................38

2.5.2. Conceito de Exclusividade .....................................................................39

2.6. Objetivos do Preço de Transferência ................................................................39

2.7. Comprovação dos Preços .................................................................................41

2.8. Dispensa da Comprovação ...............................................................................42

2.8.1. Margem Líquida Equivalente a no Mínimo Cinco por Cento ................42

2.8.2. Receita Líquida não Excedente a Cinco por Cento ................................46

2.8.3. Margem de Divergência .........................................................................47

2.8.4. Preço Médio de Venda nas Exportações Maior ou Igual a

Noventa por Cento do Preço Médio das Vendas no Brasil ..............................48

2.8.5. Conquista de Novos Mercados ...............................................................49

2.9. Período de Apuração ........................................................................................49

2.10. Preço de Transferência e os Princípios Fundamentais de Contabilidade .........50

2.11. Métodos Utilizados na Importação e Exportação .............................................57

CAPITULO 3

Preço de Transferência na Importação de Bens, Serviços e Direitos ........59

3.1. Tratamento na Importação de Bens, Serviços e Direitos .................................59

3.2. Regras Comuns a Importação e Exportação .....................................................63

3.3. Desenvolvimento dos Cálculos na Importação ................................................64

3.3.1. PIC – Preços Independentes Comparados .............................................64

3.3.2. PRL – Preço de Revenda Menos Lucro .................................................72

3.3.3. CPL - Custo de Produção Mais Lucro ....................................................94

3.4. Tratamento Contábil e Fiscal do Excesso de Custo .........................................99

3.5. Ajustes pela Realização – Reflexos no JSPL .................................................103

3.6. Tributação do Lucro Presumido ou Arbitrado ...............................................109

CAPITULO 4

Preço de Transferência na Exportação de Bens, Serviços e Direitos ..110

4.1. Exportação de Bens, Serviços e Direitos ........................................................110

4.2. Normas Comuns às Receitas de Exportação ..................................................112

4.3. Apuração do Preço Médio ..............................................................................114

4.4. Operações Não Identificadas ..........................................................................115

4.5. Dispensa a Aplicação do Preço de Transferência ..........................................115

4.6. Conversão para a Moeda Nacional .................................................................116

4.7. Metodologia e Procedimentos na Exportação ................................................117

4.7.1. PVEx – Preço de Venda nas Exportações ............................................119

4.7.2. PVA – Preço de Venda por Atacado no País de Destino,

Diminuído do Lucro .......................................................................................123

4.7.3. PVV – Preço de Venda no Varejo no País de Destino,

Diminuído do Lucro .......................................................................................125

4.7.4. CAP – Custo de Aquisição ou Produção mais Tributos e Lucro ......126

4.8. Lucro Presumido / Arbitrado ..........................................................................130

4.9. Impactos Relativos à Moeda Nacional ...........................................................132

CAPITULO 5

Despesas e Receitas Financeiras nas Operações com Pessoas Vinculadas ......136

5.1. Juros de Contratos não Registrados pelo Banco Central ................................136

5.2. Mútuo Entre Pessoas Vinculadas ...................................................................137

5.3. Juros Ativos ....................................................................................................138

5.4. Juros Passivos .................................................................................................138

5.5. Pessoa Jurídica ou Física Assume o Ônus do Imposto ..................................140

5.6. Procedimentos Fiscais e Informações Prestadas ao Fisco ..............................140

CAPITULO 6

Considerações Finais .............................................................................................143

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................151

1

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

1.1. Contextualização

O direito tributário está fundamentado nos artigos de números 145 a 162 da

Constituição Federal. Esses artigos dispõem sobre o “Sistema Tributário Nacional”. Trata-

se de um sistema rígido, tendo em vista que a Constituição Federal relaciona de forma

sistemática tributo a tributo e quais pessoas políticas possuem direito para instituir e exigir.

Conforme o artigo 2º. da Lei 5.172 de 25 de outubro de 1.966, o sistema tributário

nacional é regido pelo disposto na Emenda Constitucional número 18, de 1º. De dezembro

de 1.965, em leis complementares, em resoluções do Senado Federal e, nos limites das

respectivas competências, em leis federais, nas Constituições e em leis estaduais, e em leis

municipais.

Com e edição da Lei 9.430, de 27.12.1996, foi introduzido no nosso cenário o

regime do preço de transferência, conhecido internacionalmente como Transfer Pricing. A

referida lei foi publicada no sentido de instituir e regular as operações de importação e

exportação realizadas entre pessoas sediadas no Brasil e pessoas vinculadas sediadas no

exterior.

Regulamenta ainda a citada lei, o controle do preço de transferência, nas operações

entre pessoas físicas ou jurídicas brasileiras com pessoas físicas ou jurídicas localizadas em

países de tributação favorecida (paraísos fiscais), bem como com países que não oponham

sigilo a composição societária, ainda que não tenha qualquer vínculo.

2

Para justificar a publicação desse ato normativo na legislação brasileira, assim se

manifestou o Ministro da Fazenda, Sr. Pedro Malan, na Exposição de Motivos do Projeto

da Lei 9.430/96:

“As normas contidas nos arts. 18 a 24 representam um significativo avanço da

legislação nacional face ao ingente processo de globalização experimentado pelas

economias contemporâneas. No caso específico, em conformidade com regras

adotadas nos países integrantes da OCDE, são propostas normas que possibilitam

o controle dos denominados “Preço de Transferência”, de forma a evitar a prática

lesiva aos interesses nacionais, de transferência de resultados para o exterior,

mediante a manipulação dos preços pactuados nas importações ou exportações de

bens, serviços e direitos, em operações com pessoas vinculadas, residentes e

domiciliadas no exterior”.

O Governo Federal, com a edição da Lei 9.430/96 e dispositivos legais posteriores,

instituiu as normas de preço de transferência, cujo objetivo é controlar os negócios

internacionais realizados entre pessoas jurídicas domiciliadas no Brasil e pessoas

vinculadas no exterior, bem como as operações com pessoas, ainda que não vinculadas,

localizadas em paraísos fiscais, com o objetivo de coibir assim, o superfaturamento nas

importações e o subfaturamento nas exportações.

Desde a publicação da Lei 9.430/96, diversas normas infralegais foram publicadas

para modificar, regulamentar ou interpretar as regras de preço de transferências

introduzidas pela referida lei. Abaixo discorremos sobre os atos normativos em vigor e

também revogados, bem como descrevendo qual é a abordagem dos referidos atos

normativos.

3

Quadro 1.1. Dispositivos legais do preço de transferência no Brasil

Ato legal Data Abordagem legal sobre preço de transferência Status

Lei 9.430/96 27.12.96 Introduziu as regras de preço de transferência–PT Em vigor IN-SRF 38/97 30.04.97 Regulamentou o preço de transferência no Brasil Revogada IN-SRF 164/99 23.12.99 Divulgou a lista negra de “paraísos fiscais” Revogada Lei 9.959/00 27.01.00 Regulamentou o método PRL na produção Em vigor IN-SRF 113/00 19.12.00 Estabeleceu as regras para o método PRL Revogada IN-SRF 32/01 30.03.01 Regulamentou o preço de transferência no Brasil Revogada Lei 10.451/02 10.05.02 Ampliou o conceito de pessoa vinculada Em vigor AD-SRF 37/02 26.07.02 Desqualificou pesquisa técnica realizada por PJ Em vigor IN-SRF 243/02 11.11.02 Consolidou e regulamentou o preço de transferência Em vigor IN-SRF 31/03 14.04.03 Estabeleceu regras para a conversão em reais Em vigor Lei 10.833/03 29.12.03 Conferiu à SRF estabelecer simplificação do PT Em vigor IN-SRF 382/03 30.12.03 Ampliou o período para a apuração da margem Em vigor

Os referidos atos normativos têm como meta modernizar as regras tributárias

brasileiras, buscando alternativas para minimizar ou eliminar as transferências de resultado

para o exterior, através de operações de importações ou exportações com pessoas

vinculadas de bens, serviços ou direitos com valores diferentes daqueles praticados no

mercado livre.

O conceito de preço de transferência está intimamente ligado ao Princípio do Preço

Sem Interferência “Arm’s Length Principle”.

Traduzido literalmente, arm´s length significa na extensão do braço. No entanto,

em toda a literatura sobre preço de transferência à expressão está associada à equiparação

das condições em que são realizadas as transações entre partes vinculadas, como se estas

fossem efetivadas entre partes independentes, em mercados de livre concorrência e,

portanto, sem a interferência de vínculos econômicos, societários e de qualquer outra

natureza existentes entre partes relacionadas. Neste sentido, a melhor tradução para arm´s

length seria a conotação de que estas transações estivessem sendo conduzidas de forma

4

neutra, imparcial, isenta de outras interferências que não as forças de mercado (ROSSETO,

2003: 8).

O preço de transferência corresponde à determinação dos preços a serem cobrados

entre empresas vinculadas (relacionadas), particularmente pelas empresas multinacionais,

com referência às operações entre as várias unidades do grupo, tais como: venda de bens,

venda de serviços, transferência e uso de patentes e tecnologia, contratos de mútuos e

outras operações. Como os valores das operações não são livremente negociados, os

mesmos poderiam eventualmente ser praticados diferentemente daqueles determinados

pela força livre de mercado, nas negociações entre as partes relacionadas.

Uma das mais importantes considerações negociais e tributárias para qualquer

corporação multinacional, independentemente de sua matriz ser localizada nos Estados

Unidos, Japão, Alemanha, Inglaterra, França, ou qualquer outro lugar, é o meio pelo qual

determina os preços de produtos, serviços e intangíveis, como resultado de pesquisa e

capital transferido para suas afiliadas internacionais.

As políticas de preço de transferência e práticas adotadas em conexão com a

transferência de tais bens de uma afiliada para uma companhia relacionada localizada em

outra jurisdição tem maior impacto tributário sobre as rendas geradas internacionalmente

do que qualquer outro aspecto da legislação tributária. A importância do preço de

transferência e seus impactos sobre a arrecadação tributária (nacional) colocaram este

assunto à frente dos debates tributários internacionais.

Segundo Matos (1999: 18) no caso específico da legislação brasileira, as normas

adotadas estão fundamentadas nas Organizações de Cooperação e Desenvolvimento

Econômico – OCDE e são normas que possibilitam o controle dos denominados Preços de

Transferência, de forma a evitar a prática de transferência de resultados para o exterior,

5

mediante a manipulação dos preços pactuados nas importações ou exportações de bens,

serviços ou direitos, em operações com pessoas vinculadas, residentes ou domiciliadas no

exterior, que é lesiva aos interesses nacionais.

As administrações tributárias não devem assumir automaticamente que empresas

relacionadas têm procurado manipular os seus lucros. Pode haver uma genuína dificuldade

em determinar de forma acurada um preço de mercado ante a ausência de forças de

mercado ou quando adotada uma particular estratégia comercial.

É importante ter a clareza de que a necessidade de promover ajustes para aproximar

das negociações sem interferência (arm’s length dealings) nasce da relação, quando

aplicável, da contratação entre partes vinculadas para pagar um preço em particular, com o

objetivo de redução de tributos.

Assim, um ajuste tributário sob o princípio do preço sem interferência (arm’s

length principle) não deve afetar as subjacentes obrigações contratuais de propósitos não

tributários entre as empresas relacionadas, e podem ser apropriadas mesmo onde não há

intenção de minimizar ou evitar imposto.

A consideração do preço de transferência (transfer pricing) não deve ser

confundida, com a consideração de problemas de evasão fiscal ou elisão fiscal, embora

políticas de preço de transferência possam ser usadas para esse propósito.

O Brasil não é país membro da OECD, mas adotou, nos tratados internacionais para

evitar a bitributação que firmou, a Convenção Modelo da OECD. É oportuno lembrar aqui,

que a metodologia estabelecida para o preço de transferência adotada pela OECD não deve

ser aplicada no Brasil, visto que o Brasil possui sua própria legislação com metodologia

própria estabelecida.

6

Segundo explica Shoueri (2006: 22) o princípio do arm’s length é o parâmetro

escolhido pelos países integrantes da OCDE a ser empregado por grupos multinacionais e

pelas Administrações Tributárias para a transformação das citadas moedas de grupo em

moedas de mercado. Dentro dessa linha de raciocínio, pode se inferir que o texto citado

acima significa:

Moeda de grupo: O valor das transações efetuadas dentro de uma mesma

corporação, sem se levar em consideração o preço do livre mercado;

Moedas de Mercado: O valor das transações dentro da corporação, praticando-se o

preço do mercado livre.

A doutrina tributária apropriou-se do conceito de preços de transferência, passando

a comentá-lo e analisá-lo como uma expressão jurídica, ou, ao menos, do âmbito da

tributação.

O conceito de preço de transferência está relacionado a transações entre parte que

compõem um mesmo grupo econômico empresarial e, dentro da ótica fiscal devem ser

controlados, porque, em regra geral, não são formados com base nas práticas do livre

mercado. Assim, para se evitar que haja manipulações dos preços praticados dentro de um

grupo econômico, gerando distorções em nível tributário, se comparado ao livre mercado,

a legislação fiscal prevê formas de controle dos preços de transferência, objetivando ajustar

o preço praticado entre o grupo, dentro do possível, ao preço de mercado, que é

denominado, preço comparado.

Quando se fala em controle fiscal de preço de transferência, nos referimos a preços

comparados, no sentido de uma exigência fiscal de tratamento tributário isonômico entre

transações comerciais, particularmente entre as empresas multinacionais. Esse

comportamento fiscal está previsto na Constituição Federal, dentro do nosso Sistema

7

Tributário Nacional, pois vejamos o que estabelece o artigo 150, II da Constituição Federal

de 1.988:

“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedada

á União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

(...)

II – instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação

equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou

função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos

rendimentos, títulos ou direitos”.

Como prega a Constituição Federal, a igualdade de tributação deve ser entendida

como uma via de mão dupla e de ninguém se pode exigir mais ou menos, em termos de

carga tributária, do que dos contribuintes que estejam na mesma situação econômica,

aplicando assim o Princípio Constitucional da isonomia tributária.

A vinculação entre pessoas jurídicas, não deve ser adotada para permitir a distorção

de valores nas importações e exportações de bens, direitos e serviços e o eventual

tratamento distorcido daquele que seria o preço ideal de mercado é inaceitável.

O princípio do “arm`s length” consiste, em síntese, em tratar os membros de um

grupo multinacional como se eles atuassem como entidades separadas, não como partes

inseparáveis de determinado negócio e a aplicação desse princípio, no que diz respeito ao

preço de transferência é de ampla aceitação doutrinária no Brasil e também no exterior.

Dentro do nosso sistema jurídico podemos sintetizar a incidência tributária sob três

aspectos: Tributos que incidem sobre o faturamento, é o caso do ICMS, PIS, Cofins, etc;

tributos que incidem sobre o patrimônio, é o caso do IPTU, IPVA e dois tributos que

incidem sobre o lucro das empresas, a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL

e o Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica – IRPJ.

8

Nosso escopo nesse trabalho é a abordagem dos tributos incidentes sobre o lucro

das empresas (Contribuição Social e Imposto sobre a Renda), no que diz respeito ao preço

de transferência.

1.2. Definição do Preço de Transferência

Com a globalização a tendência é a liberação do comércio e pode-se notar na

atualidade que mesmo as pequenas empresas encontram-se fazendo operações fora de seus

países de origem. O perfil econômico globalizado atual gera a internacionalização das

cadeias de valores, trazendo preocupações cada vez mais acirradas para as autoridades

tributárias e maiores dores de cabeça para os executivos de empresas multinacionais. Com

base em pesquisa efetuada pela empresa Ernst & Young (Transfer Pricing 2003 Global

Survey, p. 8), fornecida ao curso “Aspectos Práticos de Preços de Transferência”,

maio/2005, empresa pertencente ao grupo das maiores empresa de auditoria do planeta, a

quantidade de países que adotam tal prática contado a partir de 1994 é:

Quadro 1.2. Países que utilizam preço de transferência

Ano Quantidade de países 1.994 2 países 1.995 2 países 1.996 3 países 1.997 5 países 1.998 7 países 1.999 10 países 2.000 12 países 2.001 16 países 2.002 20 países 2.003 27 países 2.004 Em diante, maior adesão

9

As normas que regulam o preço de transferência objetivam coibir a prática de

transferência de resultados para o exterior mediante a manipulação dos preços pactuados

nas importações ou exportações de bens, serviços ou direitos.

As diferenças entre os preços considerados na operação comercial e os preços

apurados por um dos métodos permitidos pela legislação tributária de preços de

transferência, que representam o custo máximo de importação ou a receita mínima de

exportação, serão adicionadas ao lucro, para fins de apuração do lucro tributável.

Um levantamento efetuado pela empresa Ernst & Young em 2003 (Transfer Pricing

2003 Global Survey, p. 7) com 641 matrizes de empresas multinacionais e 20 subsidiárias

em 22 países mostra que:

• 86% das empresas entrevistadas vêem o Preço de Transferência como o assunto

de impostos internacionais mais significativos;

• 93% das subsidiárias entrevistadas vêem o preço de transferência como o

assunto de impostos internacionais mais significativos;

• 76% de todos os entrevistados esperam uma fiscalização do preço de

transferência nos próximos dois anos;

• 40% dos ajustes de preço de transferência resultam em bitributação.

Se levarmos em consideração que as operações com empresas estrangeiras

vinculadas também estão obrigadas à sistemática do preço de transferência, dentro das

regras impostas em seus países de origem, e, partindo do pressuposto que houve lá, um

excesso de faturamento na exportação, havendo aqui, um excesso de custo na importação,

podemos inferir, que o tributo está sendo cobrado duas vezes, no país de origem, pelo

superfaturamento e também, pelo excesso de custo apurado aqui no Brasil. Assim, estamos

diante do fenômeno da bitributação.

10

As multinacionais podem organizar suas operações internacionais por intermédio

de estratégias comerciais relacionadas com a compra e venda de mercadorias, serviços e

ainda através de financiamentos estabelecendo para tanto taxas de juros nas referidas

operações. A legislação do preço de transferência não determina quais são os valores que

devem constar dos documentos correspondentes às operações comerciais entre empresas

vinculadas, entretanto essas empresas podem utilizar, como preço da operação comercial, o

valor determinado pela metodologia do preço de transferência, com o objetivo de evitar ou

reduzir os ajustes futuros nos cálculos dos tributos incidentes sobre o lucro.

De acordo com Emmanuel e Mehadfi, apud Vicente Rosseto (Emmanuel e

Mehadfi, 1994, prefácio), o preço de transferência existe em função das transações

realizadas entre unidades de uma mesma organização e mencionam que:

“Talvez a definição mais completa do que seja um preço de transferência é a de

que ele é a expressão monetária da movimentação de bens e serviços entre

unidades organizacionais de uma mesma empresa (Wells, 1968). Dessa forma, o

estudo do preço de transferência pode incluir aspectos domésticos e/ou

internacionais de bens e serviços... Em nenhum lugar se encontra mais

complexidade do que quando se analisa os preços de transferência internacionais.

Os objetivos dos governos, dos órgãos reguladores de Contabilidade e das

autoridades fiscais não coincidem, necessariamente, com os das empresas

multinacionais, elas mesmas apresentando pontos de vista conflitantes sobre as

regras que um sistema de preço de transferência pode desempenhar”.

Segundo Schoueri (2006: 10), por preço de transferência entende-se o valor

cobrado por uma empresa na venda ou transferência de bens, serviços ou propriedade

intangível, a empresa a ela relacionada.

11

Conceito de preço de transferência na legislação brasileira

De acordo com o projeto Lei, convertido na Lei 9.430, de 27.12.96 artigos 18 ao

24 e IN-SRF 38 de 29.04.97, preço de transferência, é a prática de transferência de

resultados para o exterior, mediante a manipulação dos preços pactuados nas importações

ou exportações de bens, serviços ou direitos, em operações com pessoas vinculadas,

residentes ou domiciliadas no exterior, ou residentes em países de tributação favorecida,

que sejam ou não vinculadas.

A SRF – Secretaria da Receita Federal dá o seguinte significado para o Preço de

Transferência (resposta à pergunta número 805 enviada à SRF):

“O termo ‘preço de transferência’ tem sido utilizado para identificar os controles

a que estão sujeitas as operações comerciais ou financeiras realizadas entre partes

relacionadas, sediadas em diferentes jurisdições tributárias, ou quando uma das

partes está sediada em paraísos fiscal. Em razão das circunstâncias peculiares

existentes nas operações realizadas entre essa pessoas, o preço praticado nessas

operações pode ser artificialmente estipulado e, conseqüentemente, divergir do

preço de mercado negociado por empresas independentes, em condições análogas

– preço com base no princípio arm`s lenght.”

1.3. A Caracterização do Problema

Há mais de dez anos de vigência das regras impostas pela legislação brasileira, no

que diz respeito a tributação do preço de transferência nas transações internacionais

intercompanhias e ainda pairam dúvidas sobre a sistemática imposta pela legislação, com

relação aos métodos estabelecidos, e, se de fato atinge a neutralidade desejada pela RFB –

Receita Federal do Brasil, ou se são injustos com os contribuintes nas operações de

importações e exportações de bens e serviços entre partes relacionadas. Em 2.002, a até

então SRF – Secretaria da Receita Federal, através de dispositivo legal traçou regras de

12

contabilização do preço de transferência relacionadas com o excesso de custo na

importação de bens e serviços com pessoas vinculadas.

A legislação brasileira estabeleceu diversos critérios para a apuração do preço de

transferência tanto na importação como na exportação com pessoas vinculadas. Dessa

forma, tendo em vista que de maneira genérica a sistemática imposta tem como objetivo

neutralizar os impactos causados pelo preço de transferência e que os demonstrativos

contábeis devem evidenciar fidedignamente a posição das sociedades em um dado

momento, tendo em vista ainda, que as transações entre as partes relacionadas podem ser

manipuladas com o objetivo de se cometer a evasão fiscal, questiona-se:

a) Os métodos fixados pela legislação, estabelecidos para o preço de transferência

são adequados e suportáveis para as empresas importadoras?

b) Ao determinar sobre a destinação do excesso de custo na importação, de

produtos importados realizados ou não dentro do próprio período de apuração do

preço de transferência, registrando contra a conta de “Lucros ou Prejuízos Acumu-

lados – Patrimônio Líquido”, não cria distorções nas Demonstrações Contábeis?

1.4. As Hipóteses

Os percentuais estabelecidos para a quantificação dos preços parâmetros e o

tratamento do excesso de custo, bem como insuficiência de receitas nas exportações e as

regras de contabilização são impostas pela legislação brasileira. Então:

a) O estabelecimento dos percentuais fixados resultou em ajustes não adequados e

suportáveis para algumas indústrias que necessitam da matéria prima oriunda do

exterior, em razão de mudança de percentuais pela edição da IN-SRF 243/02

comparativamente com a IN-SRF 32/01;

13

b) A imposição de regras contábeis, em alguns casos, contraria os Princípios

Fundamentais de Contabilidade, inclusive com significativas distorções nos

Demonstrativos Contábeis, quando os ajustes efetuados tiverem cunho

essencialmente fiscal, sem qualquer comparabilidade com o valor do livre

mercado.

A legislação brasileira, em determinadas situações, obriga que se faça o ajuste do

excesso de custo ou via contabilidade, ou vila LALUR – Livro de Apuração do Lucro

Real, ainda que comparativamente com o mercado não haja de fato custo excedente. Isso

se dá, pelo simples fato do contribuinte não conseguir a prova documental de que o preço

pago na importação com vinculado, seja menor ou igual ao praticado no mercado livre e o

ajuste imposto pela legislação fiscal, que é meramente fiscal acaba por distorcer as

demonstrações contábeis.

1.5. Objetivos Propostos

A legislação brasileira trás regras para o estabelecimento do preço de transferência

nas operações de importação e exportação de bens, serviços e despesas financeiras com

empresas vinculadas no exterior. Além de estabelecer os valores aceitos nas operações,

máximos e mínimos na importação e exportação respectivamente, dita regras sobre a

escrituração do excesso de custo nas importações de mercadorias e serviços, o que defronta

com os consagrados Princípios Fundamentais de Contabilidade adotados no Brasil. É

também missão da Receita Federal do Brasil - RFB estabelecer o controle na órbita

tributária, inclusive com relação às operações externas mas, no entanto, não faz parte do

seu escopo traçar normas contábeis, visto que já possuem órgãos especializados nesse

segmento, mesmo com a sistemática do preço de transferência.

14

A Contabilidade como um sistema de informações tem seus méritos na apuração ou

mensuração dos resultados, e, não seria diferente na sistemática do preço de transferência,

por mais complexo que seja a legislação que regulamenta a sua apuração.

Neste contexto, pretendemos estudar algumas questões acerca das imposições da

legislação brasileira no que diz respeito à escrituração contábil das operações externas com

empresas vinculadas, tendo em mente os seguintes objetivos:

1. Avaliar os métodos utilizados tanto na importação como na exportação, para a

tomada de decisão a respeito da metodologia que causa o menor impacto na

carga tributária das empresas importadoras e exportadoras, localizadas no

território nacional;

2. Propor um modelo de escrituração do preço de transferência, para o excesso de

custo nas importações, objetivando tornar as Demonstrações Contábeis dentro

dos padrões e normas contábeis aceitas, sem agredir os Princípios Fundamentais

de Contabilidade.

1.6. Justificativa do Tema

A globalização é sem dúvida um processo irreversível, e conforme a Ernst &

Young, em seu boletim “Transfer Pricing 2003 Global Suvey”, de todas as operações de

empresas brasileiras com empresas estrangeiras, o percentual de operações com empresas

vinculadas está dentro de um patamar de 60% do todo o universo de transações feitas.

Assim, a gestão do preço de transferência é uma ferramenta imprescindível para benefícios

das organizações, pois os métodos determinados pela legislação brasileira podem gerar

desde ajustes que causam impactos significativos na carga tributária ou a ausência de

quaisquer ajustes e, dessa forma, o tema passou a ser muito interessante, levando maiores

preocupações para os executivos bem como para as empresas multinacionais.

15

Interessante por diversos motivos: (1) o percentual de transações pode aumentar

significativamente dentro dos próximos anos, haja vista o fenômeno da globalização e o

estreitamento notório das relações de empresas nacionais com empresas estrangeiras; (2) A

fiscalização tem se intensificado nos últimos anos para as empresas multinacionais.

Pesquisa publicada no D.C.I, edição de 12.07.07, vem com a seguinte manchete; “Fisco

fecha cerco sobre o preço de transferência e aumentará o número de empresas a serem

fiscalizadas”; (3) No mercado brasileiro a demanda por profissionais capazes de gerir de

forma eficiente a questão do preço de transferência é maior que a oferta, haja visto os

anúncios publicados nos melhores jornais do país na busca desses profissionais; (4) Trata-

se de uma legislação que precisa sofrer alguns ajustes e possui pontos que requer

questionamentos jurídicos, como veremos no capítulo 3 deste trabalho.

A legislação de preços de transferência tem a difícil missão de, em cada país,

calcular o lucro que seria auferível em uma transação independente, para fins de tributação.

Veja que essa missão é de garantir um mínimo de lucro, mas ela só pode ser justificada em

razão do próprio conceito de renda1.

1.7. Metodologia da Pesquisa Utilizada

A partir da formulação da hipótese apresentada na seção 1.4, este trabalho propõe a

buscar dados e produzir informações sobre os métodos utilizados na legislação brasileira,

para a anulação do excesso ou insuficiência de preços praticados pelas empresas

brasileiras, com suas vinculadas no exterior.

Dada a importância do assunto e a atual intensificação na órbita fiscal para o tema

em questão, optou-se pelo método de estudo de caso exploratório onde procuramos reunir

o maior número de material possível, e, dividimos a pesquisa em 4 (quatro) partes, a saber: 1 Fernandes, Edison Carlos. Preços de Transferência, São Paulo: Quartier Latin, 2007.

16

1. Pesquisa Bibliográfica: – nesta fase foi selecionado todo o material que pudesse ser

útil à pesquisa. Esta pesquisa incluiu a legislação fiscal brasileira, Princípios

Fundamentais de Contabilidade, Dissertações de Mestrados, Teses de Doutorados,

Livros, periódicos, relatórios da OCDE, bem como material de treinamento e

pesquisas brasileiras efetuadas por empresas de consultoria tributária de renome

internacional. Tentou-se buscar elementos que fornecessem informações sobre a

legislação de preço de transferência em outros países, especialmente os Estados

Unidos, Austrália e Japão. Esse complemento auxiliou no entendimento de como é

tratado o preço de transferência na órbita internacional;

2. Pesquisa Bibliográfica Seletiva: nesta fase realizou-se a triagem material coletado,

buscando o aproveitamento daquele que fosse de interesse para o desenvolvimento

do estudo, arquivando em pasta com divisão por assunto ou tema abordado;

3. Revisão da Literatura – Com o tema definido e colocada à questão da pesquisa, foi

efetuada a revisão bibliográfica sobre o assunto, onde foi feita leitura crítica e

efetuada a seleção do material a ser utilizado no desenvolvimento do trabalho.

Nessa fase, após a primeira revisão do professor orientador, foram feitas as

adaptações e/ou modificações julgadas necessárias. Nessa fase houve necessidade

de bibliografia complementar, com o objetivo de aprofundamento do estudo.

1.8. Revisão da Literatura

O plano de trabalho aqui desenvolvido foi conduzido levando em consideração as

questões que o tema propõe, sempre apresentando as regras estabelecidas na legislação

vigente e sua extensão através dos atos normativos que a seguiram. Buscou-se nesse

trabalho fornecer subsídios às questões teóricas e práticas no sentido de colaborar no

entendimento da aplicação do princípio do não favoritismo.

17

Para discorrer sobre o tema aqui tratado, buscamos literaturas correlatas e

exclusivamente pertinentes ao assunto, as quais discorremos a seguir:

1 Material fornecido pela Ernst & Young no curso de Preço de

Transferência: Esse material, editado em 2.003, discorre sobre a prática,

percepção e a aplicação do preço de transferência em 44 países,

demonstrando através de quadros comparativos as regras adotadas em cada

um desses países, inclusive o Brasil;

2 Preço de Transferência no Brasil – Pricewaterhouse & Coopers: Esse

livro foi publicado no ano de 2.000, pela Editora Atlas, discorre sobre a

legislação do preço de transferência aplicado no Brasil, principalmente

sobre a lei introdutora, Lei 9.430/96;

3 Dissertação para a obtenção do Título de Mestre – Vicente Rosseto:

Essa dissertação foi entregue à PUC – SP, no ano de 2.003 e trata-se de

Preço de Transferência nas exportações do setor de celulose – um estudo de

caso no aspecto tributário;

4 Dissertação para a obtenção do Título de Mestre – José Cláudio dos

Santos: Essa dissertação foi entregue à PUC – SP, no ano de 2.005 e trata-

se de Preço de Transferência – uma contribuição à eficácia do

gerenciamento dos negócios em empresas internacionais;

18

5 Livro: Preço de Transferência – autor F. Nepomuceno: Trata-se de um

livro, editado em 2.006, pela Editora IOB, que discorre sobre a legislação do

preço de transferência no Brasil, destacando cada artigo da Instrução

Normativa 243/02, com exemplos práticos e comentários. Vale lembrar que

a referida Instrução Normativa é reguladora da Lei 9.430/96;

6 Livro: Preço de Transferência no Brasil: autor Fernando Matos: Trata-

se de um livro editado pela Atlas, em 1.999, onde o autor faz a interpretação

à luz da lei 9.430/96, enriquecendo as referidas interpretações com

exemplos práticos;

7 Livro: Contabilidade Avançada e Tributária: autor Lourivaldo Lopes

da Silva: Trata-se de um livro com 10 capítulos de contabilidade, com

abordagem de tópicos avançados, onde o capítulo 9 refere-se a preço de

transferência, com abordagem teórica e prática e exemplos ilustrativos para

cada um dos métodos determinados pela legislação brasileira, na

importação, bem como na exportação;

8 Livro: Imposto sobre a Renda e Preço de Transferência – autor: Paulo

Ayres Barreto: Trata-se de um livro editado em 2.001 pela Editora

Dialética, onde o autor enfrenta a temática dos preços de transferência,

reconhecendo o caráter antielisivo das normas que regem a matéria. O autor

discorre sobre as presunções legais e ficções erigidas pela legislador

ordinário e a sua compatibilidade com princípios de superior hierarquia;

19

propõe critérios para a solução de antinomias entre as normas constantes dos

acordos de bitributação sobre preços de transferência e o direito interno e

identifica os vícios materiais da Lei 9.430/96, concluindo que o padrão

arm`s lenght não foi por ela positivado;

9 Livro: Preço de Transferência no Direito Tributário Brasileiro – autor:

Luis Eduardo Schoueri: Trata-se de um livro editado em 2.006 pela

Editora Dialética, com abordagem teórica bastante abrangente, das regras de

preço de transferência no Brasil e no exterior, inclusive comparativamente

com a metodologia de apuração de preços parâmetros entre o Brasil e a

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico;

10 Livro: Preço de Transferência – Coordenador: Edison Carlos

Fernandes: Trata-se de um livro editado em 2.007, onde o coordenador

reuniu diversos autores, nacionais e internacionais, para discorrer sobre

tópicos distintos sobre preço de transferência, com uma abordagem teórica

bastante aprofundada, que vai desde a discussão sobre a constitucionalidade

das regras brasileiras sobre o preço de transferência, procedimentos fiscais

até os julgamentos do Conselho de Contribuintes.

Além do material acima, buscou-se pesquisar outros diversos materiais

relacionados ao tema, com o objetivo de responder as questões propostas no trabalho e

também às questões encontradas na prática profissional, quando se enfrenta o problema do

preço de transferência. A literatura citada acima, foi na verdade a maior fonte de

20

concentração de pesquisa e aprofundamento do estudo, dessa forma achou-se

desnecessário a citação de outras fontes pesquisadas.

O trabalho aqui apresentado versa sobre a transferência de valores para o exterior

entre partes vinculadas. Procurou-se abordar as regras estabelecidas pela legislação

brasileira, no seu sentido lato, a fim de se demonstrar tópicos polêmicos e considerados

ilegais e a abordagem da metodologia estabelecida na legislação brasileira, tanto na

importação como na exportação.

Pode-se afirmar que a literatura, que serviu de base para o desenvolvimento deste

trabalho é bastante abrangente, pois discorre sobre as regras internacionais sobre o preço

de transferência, regras nacionais, inconstitucionalidades, exemplos práticos nos métodos

estabelecidos no Brasil, tanto na importação como na exportação.

Nosso trabalho segue a mesma linha de raciocínio dos trabalhos citados

anteriormente, limitado à legislação brasileira. Procurou-se dar uma contribuição no

sentido de facilitar a vida dos profissionais, no que diz respeito aos cálculos dos diversos

métodos estabelecidos tanto na importação como na exportação. Diferencia nossos

exemplos, pela experiência empírica vivida na área e procuramos também elucidar de

forma bastante prática, as ilegalidades trazidas pela Instrução Normativa 243/02, resumidas

em quadro sinótico, que muito contribuirá para esclarecimentos imediatos do pesquisador.

O plano de trabalho aqui traçado teve como enfoque, na medida do possível, não

apenas um confronto crítico da legislação, mas elucidar o conteúdo das normas postas, de

maneira clara e prática com exemplos elucidativos capaz de preparar o pesquisador para

que o mesmo possa praticar as regras estabelecidas e tirar as suas próprias conclusões. O

esforço foi no sentido de esclarecer dúvidas sobre o tema aqui abordado, e para tanto, para

cada tópico abordado, procurou-se ilustrar com o maior número de exemplos possíveis,

21

focando inclusive, quando a empresa estar dispensada da elaboração do preço de

transferência.

1.9. Estrutura do Trabalho

Com relação à estrutura do trabalho, foi dividido em cinco capítulos mais a

conclusão, apresentados de forma resumida a seguir:

Capítulo 1 – Introdução

Procurou-se dar uma visão do trabalho, tecendo comentários sobre o sistema

tributário internacional, a definição e conceito do preço de transferência, a caracterização

do problema, as hipóteses, objetivos propostos, justificativa do tema e a metodologia de

pesquisa que foi utilizada para desenvolver o trabalho.

Capítulo 2 – Aspectos gerais sobre preço de transferência

Neste capítulo discorremos sobre os diversos aspectos relacionados ao Preço de

Transferência, mormente sobre as regras estabelecidas sobre a legislação brasileira que

trata do assunto. Discorremos também sobre a fundamentalização sobre preços de

transferência, objetivando analisar os principais aspectos do assunto em nível nacional e

internacional, como o princípio do arm`s length (princípio do não favoritismo) e outros

aspectos como a conceituação de pessoa jurídica vinculada, interposta pessoa e pessoas

jurídicas dispensadas da elaboração dos cálculos do preço de transferência e citado quais

métodos devem ser utilizados na apuração do preço parâmetro tanto na importação como

na exportação, com pessoas jurídicas vinculadas, residentes e domiciliadas no exterior.

22

Capitulo 3 – Preço de transferência na importação de bens, serviços e direitos

Neste capítulo é destacada a importância da contabilidade de custo. Destaca-se

também qual é o limite máximo de custo na importação de bens, serviços e direitos, com

pessoa vinculada que é dedutível para fins de apuração da Contribuição Social sobre o

Lucro, bem como apuração do lucro real. Demonstramos também, o que é considerado

custo dentro da ótica fiscal, para fins de apuração de preço de transferência e dentro da

pesquisa, é oportuno lembrar, que foram encontradas algumas ilegalidades que afrontam o

nosso sistema tributário nacional, majorando a carga tributária. Foram criados quadros

comparativos nos exemplos que foram desenvolvidos, utilizando todos os métodos

determinados, para fins de comparabilidade. Aqui também foi demonstrada a

contabilização do excesso de custo na importação, determinada pela legislação, que em

alguns casos, podem distorcer significativamente os demonstrativos contábeis.

Capítulo 4 – Preço de transferência na exportação de bens, serviços e direitos

Neste capítulo abordamos também, com exemplos práticos para cada método

determinado na legislação, as regras comuns às exportações de bens, serviços e direitos.

Foi demonstrada qual é a receita mínima a ser tributada nas operações de exportação à

pessoas vinculadas no exterior, tanto para as pessoas jurídicas tributadas com base no lucro

real, presumido ou arbitrado, bem como a atualização da receita de exportação, para o ano-

calendário de 2.005 e 2.006, em razão do impacto da valorização da moeda nacional com

relação à moeda estrangeira.

Capitulo 5 – Receitas e despesas financeiras nas operações vinculadas

Este capítulo trata dos juros pagos ou creditados a pessoa jurídica vinculada,

domiciliada no exterior, bem como juros recebidos ou creditados. A legislação brasileira

23

determina o limite máximo, pago ou debitado; e o mínimo recebido ou creditado, de juros

em operações financeiras, para os contratos firmados com vinculados no exterior, que não

tenha sido registrado no Banco Central do Brasil. Em complemento deste capítulo,

procuramos também fazer abordagem sobre quais são os procedimentos que devem ser

adotados pela fiscalização, tratado no item 5.6 do referido capítulo, bem como

conseqüências com relação a dados omissão ou dados incorretos prestados na DIPJ –

Declaração de Imposto de Renda da Pessoa Jurídica.

Capitulo 6 – Considerações finais

Diante dos objetivos propostos, este capítulo apresenta a conclusão dos diferentes

aspectos abordados relacionado com o preço de transferência, na importação, exportação e

juros nas operações com pessoas vinculadas no exterior, discorrendo também sobre os

procedimentos fiscais e informações prestadas na DIPJ – Declaração das Informações das

Pessoas Jurídicas..

1.10. Delimitação

O presente trabalho limita-se ao estudo contábil-tributário da sistemática de preço

de transferência das empresas brasileiras com suas vinculadas no exterior, bem como com

operações com não vinculadas, mas localizadas em paraísos fiscais ou países que não

oponham sigilo à composição societária. Limitamos a avaliar a metodologia imposta pela

legislação brasileira, que tem como meta neutralizar o superfaturamento na importação e

subfaturamento nas exportações de bens, direitos, serviços e operações financeiras.

24

CAPITULO 2

ASPECTOS GERAIS SOBRE O PREÇO DE

TRANSFERÊNCIA

2.1. A Legislação Brasileira

Conforme G. Eccles, apud Schoueri (2006: 15):

“a importância da fixação de preços de transferência adequados é matéria que

deve interessar até mesmo ao próprio grupo: uma eventual cobrança a maior ou a

menor implicará desvio de lucros, distorcendo os resultados globais do grupo. A

conseqüência poderá criar empecilhos à administração central, que pode vir a

entender como pouco produtiva uma unidade que, a preço de mercado, seria

altamente competitiva, enquanto poderá estar mantendo em atividade uma empresa

cujos resultados contábeis se apresentem satisfatórios, mas cujas demonstrações

financeiras – se fossem descontados os desvios provocados na fixação dos preços

de transferência – revelariam a necessidade de profunda intervenção, senão até

mesmo o fechamento da unidade”.

Em um mercado onde as partes independentes relacionam-se de forma a praticar o

preço do mercado livre, é razoável admitir que partes vinculadas adotem a mesma prática,

no objetivo de se evitar distorções em seus resultados e evitar com essa postura distorções

também nos cálculos dos tributos incidentes sobre o lucro (CSLL e IRPJ).

Com a Lei 9.430 de 27 de dezembro de 1.996, foi instituída pela primeira vez a

questão dos preços de transferências em operações internacionais de bens, serviços,

direitos, juros e outras operações. A publicação da referida Lei foi um avanço dentro

sistema tributário nacional, no sentido de coibir a evasão fiscal.

25

É oportuno lembrar que, no que diz respeito a legislação do imposto sobre a renda

da pessoa jurídica, nosso ordenamento jurídico já contemplava disposições de caráter

geral, com o intuito de inibir a prática de transferência dissimulada de resultados entre

pessoas vinculadas (coligada, controlada, interligada, parentes até o 1º. Grau, etc) nas

disposições relativas ao nosso conhecido “Distribuição Disfarçada de Lucros – DDL”,

prevista no atual regulamento do imposto sobre a renda – RIR/99 (Decr. 3.000/99), em

combinação com outras normas legais de caráter punitivas, inclusive a Lei 8.137/90 que

define os chamados “Crimes Conta a Ordem Tributária”.

Conforme Schoueri (2006: 11):

“Compreende-se, assim, por que razão o lucro contábil deixa de ser um parâmetro

necessariamente confiável para a apuração da riqueza gerada pela pessoa

jurídica: sendo ele o resultado aritmético das transações efetuadas, apenas servirá

ele de medida da renda se os negócios se celebrarem entre partes independentes.

Assim, a idéia de que o lucro contábil serviria para apurar a renda ganha uma

condicionante: desde que o lucro reflita preços de mercado”.

O conceito de pessoa ligada previsto na legislação societária (Lei 6.404/76) foi

substancialmente alterado pela Lei 9.430/96, para fins de determinação da relação de

dependência. No item 2.5, será demonstrado através de quadro comparativo o conceito de

pessoas vinculadas pela legislação societária, Lei 6.404/76 e Lei 9.430/96.

Diversos países há muito já controlam os preços de transferência de seus bens,

serviços e direitos nas operações com pessoas vinculadas no exterior. Para se ter uma idéia,

o controle nos Estados Unidos já ultrapassa os quarenta anos. É notório que o Brasil não é

pioneiro no que diz respeito à legislação do preço de transferência e assim conclui Matos

(Matos, 1999: 21):

26

“A legislação sobre Preços de Transferência não trata meramente de estabelecer

um arbitramento dos custos das importações ou das receitas de exportações, nas

operações com empresas vinculadas, mas procura, com respaldo de acordos

internacionais, negociados no âmbito da OCDE, posicionar o Brasil no cenário

internacional de globalização da economia e em sintonia com todos os países mais

desenvolvidos economicamente que já possuem em suas legislações nacionais

mecanismos de proteção das suas economias locais, para evitar transferência de

resultados para países com tributação favorecida ou para suas matrizes de origem

no exterior.

Nesse sentido, a legislação tributária brasileira sobre os Preços de Transferência

definiu, de acordo com as normas da OCDE, um padrão mínimo ético de

comportamento das empresas nas operações de importações, exportações e de

empréstimos ou mútuos não registrados no Banco Central do Brasil – Bacen,

realizadas com empresas vinculadas localizadas no exterior, através da

determinação de valores máximos de custos das mercadorias, bens e serviços e de

valores mínimos de receitas para exportação e dos encargos financeiros máximos

para fins de apuração dos tributos sobre os lucros”.

As regras de Preço de Transferência introduzidas no Brasil tiveram a sua origem

nos princípios existentes no modelo da Organização de Cooperação e Desenvolvimento

Econômico – OCDE. A OCDE é um órgão internacional que procura disciplinar o

comércio entre os países que dele participam.

O Brasil não é membro da OCDE, mas é inegável a aproximação dos métodos

utilizados na legislação brasileira para se calcular o preço de transferência com os métodos

adotados pela OCDE. Vale lembrar que por não ser membro dessa organização, o Brasil

não é obrigado a seguir quaisquer de suas resoluções e, quanto a metodologia da apuração

do preço de transferência, somente é permitida a determinada pela legislação brasileira.

27

2.2. Preço de Transferência e a OCDE

Podemos entender o arm´s lenght principle (princípio do não favoritismo) como o

princípio da concorrência plena, pois verifica-se no item 1.6 do artigo 9º. do Modelo de

Convenção Tributária da OCDE, como base fiscal tributária nas convenções bilaterais

celebradas entre os países-membros e também países não-membros a seguinte regra:

“Quando (...) as duas empresas (associadas), nas suas relações comerciais ou

financeiras, estiverem ligadas por condições aceitas ou impostas que difiram das

que seriam estabelecidas entre empresas independentes, os lucros que, se não

existissem essas condições, teriam sido obtidos por uma das empresas, mas não o

foram por causa dessas condições, podem ser incluídos nos lucros dessa empresa e

tributados em conformidade” (OCDE, 1995: 1-3).

Em outras palavras, prega a OCDE que, quando empresas independentes operam

entre elas, as condições de suas relações são determinadas pelas forças do livre mercado,

mas quando empresas dependentes operam entre elas, as condições podem não ser as do

livre mercado.

Conforme OCDE apud Schoueri (2006: 28) define o preço arm´s length como

aquele que teria sido acordado entre partes não relacionadas, envolvidas nas mesmas

transações ou em transações similares, nas mesmas condições ou em condições

semelhantes, no mercado aberto.

Ainda de acordo com a OCDE, citado pelo mesmo autor (Schoueri, 2006: 28) da

definição proposta pela OCDE, podem-se extrair seis características fundamentais para a

compreensão do princípio:

1. Análise Transacional: o preço arm´s length deve ser estabelecido a partir de

uma transação identificada (ou de um grupo de transações relacionadas) – neste

28

sentido, não se podem considerar conformes ao princípio do arm´s length

aqueles métodos que deixem de lado as transações, propriamente ditas, partindo

para rateios de resultados globais; por outro lado, a idéia de “transação” é mais

ampla do que a de “operação”, sendo possível que uma série de operações (por

exemplo: peças importadas separadamente para formar um único produto – kit)

constitua uma única transação;

2. Comparação (ou similaridade): a transação identificada (ou o grupo de

transações identificado) deve ser comparada com outra transação, similar ou

idêntica, hipotética ou real, com características idênticas ou similares – a

similaridade ou identidade deve ser suficiente para que se entenda que, afastada

a relação entre as partes, na transação controlada, ausente na transação utilizada

como parâmetro, inexistam outras diferenças significativas, seja nos produtos

propriamente ditos, seja nas condições comerciais;

3. Contrato de direito privado: o preço arm´s length deve levar em conta

quaisquer obrigações legais assumidas pelas partes contratantes e, portanto, os

efeitos jurídicos da transação não podem (em princípio) ser desconsiderados;

4. Características de mercado aberto: o preço arm´s length deve se basear em

condições de mercado, refletindo, assim, práticas comerciais normais. Como

corolário, o preço arm´s length somente pode ser estabelecido com base em

informações que sejam disponíveis ou acessíveis ao contribuinte no momento

em que ocorre a transação. Este é o elemento que implica críticas à prática de

diversas Administrações Tributárias – inclusive a brasileira – de utilizar-se de

dados desconhecidos do contribuinte – secret comparables: se o que se espera

das partes vinculadas é que elas atuem como partes independentes, então devem

29

elas fixar seus preços segundo às práticas correntes no mercado (tal qual um

terceiro independente agiria). Havendo práticas no mercado que não são (ou não

poderiam ser) conhecidas,então elas não influenciariam decisão de terceiros

independentes na fixação de seus preços. De igual modo, não se pode exigir que

tais práticas influenciem a decisão de preços das partes relacionadas;

5. Características subjetivas: o preço arm´s length deve levar em conta as

circunstâncias particulares que caracterizam a transação. Por esta razão, por

exemplo, haverá casos em que não se poderá comparar o preço arm´s length

com o preço de mercado, pois o primeiro deve levar em conta, dentre outros

fatores, que um fornecedor pode estar tentando aumentar sua participação no

mercado e por isso estabelece preços inferiores aos do mercado;

6. Análise funcional: a determinação do preço do arm´s length deve levar em

conta as funções desempenhadas pelas empresas associadas. A análise funcional

é importante para estabelecer se uma transação entre partes independentes é

efetivamente comparável; tal análise é ainda mais importante quando não se

encontram transações comparáveis, sendo necessário que o contribuinte ou as

autoridades fiscais desenvolvam outros métodos para encontrar um preço arm´s

length.

A OCDE dedica todo o capítulo II da sua obra sobre preços de transferência aos

três métodos tradicionais de verificação dos preços pactuados por partes relacionadas,

quais sejam: CUP – Comparable Uncontrolled Price Method; RPM – Resale Price Method

– e CPM – Cost Plus Method

Caso a pessoa jurídica localizada no Brasil tenha informações para efetuar o cálculo

comparado por mais de um método, a orientação vai no sentido da escolha pelo método

30

que não causa qualquer ajuste, ou que cause o menor ajuste, com o objetivo de redução da

carga tributária.

Abaixo serão demonstrados em quadro, de forma resumida, os métodos

determinados pela legislação brasileira, tanto na exportação como na exportação:

Quadro 2.1. Métodos determinados pela legislação brasileira

IMPORTAÇÃO EXPORTAÇÃO 1. PIC 1. PVEx 2. PRL-20% (revenda) 2. PVA 3. PRL-60% (produção) 3. PVV 4. CPL 4. PVA

Pelo exame e comparação dos métodos eleitos pelo Brasil com aqueles previstos

pela OCDE e na legislação norte-americana, pode-se constatar extrema semelhança entre

eles, como se vê no quando seguinte (PriceWaterHouseECoopers, 2000: 69):

Quadro 2.2.

BRASIL OCDE EUA PIC CUP CUP PRL RPM RPM

IMPORTAÇÃO

CPL CPM CPM PVEX CUP CUP

PVV / PVA RPM RPM

EXPORTAÇÃO CAP CPM CPM

Legendas: PIC – Preços Independentes Comparados; PRL – Preço de Revenda Menos Margem de Lucro; CPL – Custo de Produção mais Lucro; PVEx – Preço de Venda nas Exportações; PVA – Preço de Venda no Atacado no País de Destino; PVV – Preço de Venda no Varejo no País de Destino; CAP – Custo de Aquisição ou Produção mais Lucro; CUP – Comparaable Uncontrolled Price Method; RPM – Retail Price Method; CPM – Cost Plus Method (método usado tanto nas operações de importação quanto nas exportações).

31

Ainda, conforme PriceWaterHouseECoopers (2000: 70), comente-se, por fim, que

os Estados Unidos e a OCDE prevêem outros dois métodos não adotados na legislação

brasileira a saber: (i) PSM (Profit Split Method); e (ii) TNPM (Transation Net Profit

Method).

Não faz parte do objetivo deste trabalho o estudo dos métodos acima, bem como

outros métodos estabelecidos pela OCDE, pois está limitado apenas a metodologia

estabelecida pela legislação brasileira, com foco nos aspectos tributários e contábeis.

2.3. Conceitos Básicos

Serão fornecidos a seguir, alguns conceitos básicos, que contribuirão para o

entendimento e aplicação da sistemática de cálculo do preço de transferência:

2.3.1. Conceito de Preço Parâmetro

É o custo ou preço médio calculado por meio dos métodos fixados pela legislação

brasileira a fim de servir de referência na comparação com o preço de importação ou

exportação efetivamente praticado pela pessoa jurídica.

Deve ser calculado, obrigatoriamente, produto a produto, e corresponder à média

aritmética ponderada de preços coletados e ajustados, conforme o método de apuração

escolhido pelo contribuinte. Os métodos de apuração de preços-parâmetro estão

examinados adiante.

Segundo a Receita Federal do Brasil - RFB, “entende-se como operação um

conjunto de transações de um determinado bem, serviço ou direito executados no decorrer

do ano-calendário. Nesta hipótese, os ajustes de preços deverão ser efetuados operação

32

por operação do mesmo bem, serviço ou direito considerado, não se admitindo a

compensação dos preços considerados se a operação envolver bens, serviços ou direitos

diferentes (resposta à pergunta 695 direcionada à RFB). Grifo nosso.

2.3.2. Conceito de Operações Atípicas

Conforme art. 31 da IN-SRF 243/02, em nenhuma hipótese será admitido o uso,

como parâmetro, de preço de bens, serviços e direitos praticados em operações de compra

e venda atípicas, tais como nas liquidações de estoque, nos encerramentos de atividades ou

nas vendas com subsídios governamentais. Entendemos que aplica-se aqui também, as

operações forjadas, com o objetivo de se estabelecer um preço parâmetro para fins de

comparação, o que configuraria nesse caso, crime de evasão fiscal.

2.3.3. Conceito de Comparação de Preço Praticado

A legislação vigente estabelece procedimentos de comparação entre os preços

constantes dos documentos de importação ou de exportação, nas operações realizadas entre

pessoas vinculadas, com médias de preços praticados em operações idênticas realizadas

entre empresas independentes.

2.3.4. Conceito de Similaridade

Dois ou mais bens, em condições de uso na finalidade a que se destinam, serão

considerados similares quando, simultaneamente:

• Tiverem a mesma natureza e a mesma função;

• Puderem substituir-se simultaneamente, na função a que se destinem;

• Tiverem especificações equivalentes.

33

2.4. Paraíso Fiscal ou Cuja Legislação Interna Oponha Sigilo

Não há um único conceito sobre paraísos fiscais, pois depende da fonte que o

conceitua e principalmente do grau de facilidade ou isenções fiscais que cada um oferece,

sendo seu principal atrativo a economia tributária.

O artigo 39 e seus incisos da IN-SRF 243/02 trata dos países que não tributa a renda

ou que tributa a uma alíquota máxima inferior a vinte por cento (paraísos fiscais) e também

dos países cuja legislação interna não oponha sigilo (países onde a legislação interna não

obriga a identificação dos sócios nos seus estatutos sociais), conforme comentários a

seguir.

Na legislação brasileira, chamamos de paraísos fiscais os países com tributação

favorecida, ou seja, aquele que não tributa a renda, ou tributa a uma alíquota máxima

inferior a vinte por cento.

Nota: Na aplicação da alíquota máxima inferior a vinte por cento, a alíquota efetiva

de tributação, no país de residência da pessoa física ou jurídica, será determinada

comparando-se a soma do imposto pago sobre o lucro, na pessoa jurídica e na sua

distribuição, com o lucro apurado de conformidade com a legislação brasileira, antes

dessas incidências (art. 39, parágrafo 3o. IN-SRF 243/02).

Para entendimento, será demonstrado a seguir exemplo de paraíso fiscal: tomando

os dados a seguir, onde uma empresa localizada em paraíso fiscal, apura um lucro antes do

imposto de renda no montante de R$ 1.000.000 e na distribuição do mesmo, desconta do

beneficiário o montante de R$ 55.000.

34

Quadro 2.3. Descobrindo paraíso fiscal

Notamos que trata-se de um paraíso fiscal, visto que a tributação é inferior a 20%

(19,50%).

Os Atos Declaratórios nr. 32/98, 110/98 e IN-SRF 164/99 e 68/2000, traz a lista

negra dos territórios ou países considerados paraísos fiscais, a saber:

A lista dos paraísos fiscais no Quadro 2.4 a seguir, é apenas exemplificativa, e não

exaustiva, pois qualquer país que não tribute a renda ou que a tribute à alíquota máxima

inferior a vinte por cento, é legalmente considerado como de tributação favorecida (paraíso

fiscal), independentemente de constar ou não da lista da Receita Federal. Ao contrário,

todo o país que, embora incluído na referida lista, passe a tributar a renda a alíquota igual

ou superior a vinte por cento, deixa de ser considerado “paraíso fiscal”.

Os paraísos fiscais apresentam as seguintes características:

• Sistema tributário mais suave;

• Informações financeiras, bancárias e comerciais protegidas;

• Estabilidade política, etc.

As normas sobre preço de transferência de bens, serviços e direitos, aplicam-se

também às operações efetuadas, por pessoa física ou jurídica, residente ou domiciliada no

Imposto de Renda pago no Exterior Valor R$

Sobre o Lucro da pessoa jurídica 140.000

Sobre o Lucro distribuído aos sócios 55.000

TOTAL DO IMPOSTO DE RENDA PAGO 195.000

Lucro apurado pela Legislação Brasileira antes do IRPJ 1.000.000

Paraíso Fiscal – tributação menor que 20% 19,50%

35

Brasil, com qualquer pessoa física ou jurídica, ainda que não vinculada, residente ou

domiciliada em país que não tribute a renda ou que a tribute à alíquota máxima inferior a

vinte por cento (paraísos fiscais), ou ainda, países cuja legislação interna oponha sigilo

relativo à composição societária de pessoas jurídicas ou a sua titularidade, observado o

seguinte:

• Para o disposto acima, será considerada a legislação do referido país, aplicável

às pessoas físicas ou às pessoas jurídicas, conforme natureza do ente com o qual

houver sido praticada a operação;

• A alíquota efetiva de tributação, no país de residência da pessoa física ou

jurídica, será determinada comparando-se a soma do imposto pago sobre o

lucro, na pessoa jurídica e na sua distribuição, com lucro apurado de

conformidade com a legislação brasileira, antes dessas incidências.

Quadro 2.4. Lista de paraísos fiscais

P A R A I S O S F I S C A I S ÁSIA ÁFRICA OCEANIA CARIBE EUROPA

Bahrein Djibouti Ilhas Cook Anguila Andorra Chipre I. Maurício Ilha Marshal Antigua Gibraltar Labuan I. Seychelles

Libéria Vanuatu Ilha Samoa

Ant.Holandesas Bahamas

I. da Madeira Ilhas do Canal

Nieu Barbados Mônaco Nauru Barbuda Liechtenstein Beliza San Marin Bermuda Ilha de Man Dominica Granada Ilhas Cayman Ilhas Turcos Ilhas Caicos Ilhas V. Americanas I.Virgens Britânicas Montserrat Nevis Panamá Saint Kitt Saint Vicent Santa Lúcia

36

2.5. Conceito de Pessoa Jurídica Vinculada

Conforme art. 2o. da IN-SRF 32 de 30.03.2.001, consideram-se vinculadas à

pessoa jurídica domiciliada no Brasil:

1. a matriz desta, quando domiciliada no exterior;

2. a sua filial ou sucursal, domiciliada no exterior;

3. a pessoa física ou jurídica, residente ou domiciliada no exterior, cuja

participação societária no seu capital social a caracterize como sua controlada

ou coligada, na forma definida pela Lei 6.404/76;

4. a pessoa jurídica domiciliada no exterior que seja caracterizada como sua

controlada ou coligada, na forma definida pela Lei 6.404/76;

5. a pessoa jurídica domiciliada no exterior, quando esta e a empresa domiciliada

no Brasil estiverem sob controle societário ou administrativo comum ou quando

pelo menos dez por cento do capital social de cada uma pertencer a uma mesma

pessoa física ou jurídica;

Observação: Considera-se que a empresa domiciliada no Brasil e a domiciliada

no exterior estão sob controle:

• Societário comum: quando uma mesma pessoa física ou jurídica,

independentemente da localidade de sua residência ou domicílio, seja titular

de direitos de sócio em cada uma das referidas empresas, que lhe assegurem,

de modo permanente, preponderância nas deliberações sociais daquelas e o

poder de eleger a maioria dos seus administradores;

• Administrativo Comum quando:

i. Cargo de presidente do conselho de administração ou de diretor-

presidente de ambas tenha por titular a mesma pessoa;

37

ii. O cargo de presidente do conselho de administração de uma e o de

diretor-presidente de outra sejam exercidos pela mesma pessoa;

iii. Uma mesma pessoa exercer o cargo de direção, com poder de decisão,

em ambas as empresas.

6. a pessoa física ou jurídica, residente ou domiciliada no exterior, que, em

conjunto com a pessoa jurídica domiciliada no Brasil, tiverem participação

societária no capital social de uma terceira pessoa jurídica, cuja soma as

caracterize como controladas ou coligadas desta, na forma definida pela Lei

6.404/76;

7. a pessoa física ou jurídica, residente ou domiciliada no exterior, que seja sua

associada, na forma de consórcio ou condomínio, conforme definido na

legislação brasileira, em qualquer empreendimento;

Observação: as empresas serão consideradas vinculadas somente durante o

período de duração do consórcio ou condomínio no qual ocorrer a associação.

8. a pessoa física residente no exterior que for parente ou afim até o terceiro grau,

cônjuge ou companheiro de qualquer de seus diretores ou de seu sócio ou

acionista controlador em participação direta ou indireta;

Observação: considera-se companheiro de diretor, sócio ou acionista

controlador da empresa domiciliada no Brasil, a pessoa que com ele conviva em

caráter conjugal, conforme o disposto na Lei 9.278, de 10 de maio de 1.996.

9. a pessoa física ou jurídica, residente ou domiciliada no exterior, que goze de

exclusividade, como seu agente, distribuidor ou concessionário, para a compra

e venda de bens, serviços ou direitos;

38

10. a pessoa física ou jurídica, residente ou domiciliada no exterior, em relação à

qual a pessoa jurídica domiciliada no Brasil goze de exclusividade, como

agente, distribuidora ou concessionária, para a compra e venda de bens, serviços

ou direitos.

Observação: Nas hipóteses dos itens 9 e 10 acima, considerar:

• A vinculação somente se aplica em relação às operações com os bens,

serviços ou direitos para os quais se constatar a exclusividade;

• Será considerado distribuidor ou concessionário exclusivo, a pessoa física

ou jurídica titular desse direito relativamente a uma parte ou a todo o

território do país, inclusive do Brasil;

• A exclusividade será constatada por meio de contrato escrito ou, na

inexistência deste, pela prática de operações comerciais, relacionadas a um

tipo de bem, serviço ou direito, efetuadas exclusivamente entre as duas

empresas ou exclusivamente por intermédio de uma delas.

Interposta Pessoa

Às operações efetuadas por meio de interposta pessoa, não caracterizadas como

vinculada à empresa no Brasil, por meio da qual esta opera com outra no

exterior, caracterizada como vinculada, aplicam-se, também, as normas sobre

preços de transferências de que trata a IN-SRF n º 243/02.

2.5.1. Interposta Pessoa

Considera-se interposta pessoa àquela não caracterizada como vinculada à empresa

domiciliada no Brasil, através da qual esta opere com outra, no exterior, caracterizada

como vinculada.

39

Exemplo

Quadro 2.5.

Sociedade A – exterior Sociedade C – Brasil ou exterior

Sociedade B - Brasil

(vinculada à Sociedade B) não vinculada às Sociedades A e B

compra mercadorias de A e

vende para B

(Vinculada à Sociedade A)

Neste caso, para efeito da obrigatoriedade das normas de Preço de Transferência,

ficará caracterizado que a operação foi realizada através de interposta pessoa aplicando-se

então, o preço de transferência.

2.5.2. Conceito de Exclusividade

A vinculação somente se aplica em relação às operações com os bens, serviços ou

direitos para os quais se constatar exclusividade.

Distribuidor ou concessionário exclusivo é a pessoa física ou jurídica titular desse

direito relativamente a uma parte ou a todo o território do país, inclusive do Brasil. A

exclusividade será constatada por meio de contrato escrito ou, na inexistência deste, pela

prática de operações comerciais, relacionadas a um tipo de bem, serviço ou direito,

efetuadas exclusivamente entre duas empresas ou exclusivamente por intermédio de uma

delas (art. 2o. § 4o. da IN-SRF 243/02).

2.6. Objetivos do Preço de Transferência

Apesar de já citadas anteriormente, nada custa enfatizar que as normas que regulam

os preços de transferência, conforme artigos 18 a 24 da Lei 9.430/96, objetivam coibir a

40

prática de transferência de resultados para o exterior mediante a manipulação dos preços

pactuados nas importações ou exportações de bens serviços, ou direitos. Após a

comparação entre o preço de transferência e o preço parâmetro, a empresa brasileira

procederá o ajuste fiscal da eventual diferença para efeito de apuração das bases de cálculo

da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL e do Imposto de Renda Pessoa

Jurídica.

As diferenças apuradas entre preço parâmetro e preço praticado terão o seguinte

tratamento (IN-SRF 243/02):

1. Na importação: preço praticado superior ao parâmetro, a diferença será

ajustada para fins de apuração do lucro real e base de cálculo da Contribuição

Social sobre o Lucro. O excesso de custo praticado na importação não será

ajustado no período em que a pessoa jurídica for tributada com base no lucro

presumido ou arbitrado.

2. Na exportação: a parcela das receitas apurada com base nos preços parâmetros,

que exceder ao preço de exportação praticado, deverá ser adicionada ao lucro

líquido, para fins de determinação do lucro real, e do lucro presumido e do lucro

arbitrado e da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro.

A sistemática de preço de transferência não se aplica aos casos de royalties, e

assistência técnica, científica, administrativa ou assemelhada (IN-SRF 243/02).

As operações, objeto de controle fiscal são:

• Importação de bens, serviços e direitos;

• Exportações de bens, serviços e direitos;

• Pagamento ou crédito de juros decorrentes de operações financeiras cujos

contratos não estejam registrados no Banco Central do Brasil;

41

• Juros auferidos decorrentes de operações financeiras cujos contratos não

estejam registrados no BACEN;

• Qualquer uma das operações acima relacionadas, mesmo quando realizadas por

intermédio de interposta pessoa.

2.7. Comprovação dos Preços

Conforme artigo 29 da IN-SRF 243/02, além dos documentos emitidos

normalmente pelas empresas, nas operações de compra e venda, a comprovação dos preços

poderá ser efetuada, também com base em:

• Publicação ou relatórios oficiais do governo do país comprador ou vendedor ou

declaração da autoridade fiscal desse mesmo país, quando com ele o Brasil

mantiver acordo para evitar a bitributação ou para intercâmbio de informações;

• Pesquisas efetuadas por empresa ou instituição de notório conhecimento técnico

ou publicações técnicas, onde se especifique o setor, o período, as empresas

pesquisadas e a margem encontrada, bem assim identifiquem, por empresa, os

dados coletados e trabalhados.

As publicações, as pesquisas e os relatórios oficiais aqui tratados, somente serão

admitidas como prova se houverem sido realizados com observância de métodos de

avaliação internacionalmente adotados e se referirem a período contemporâneo com o de

apuração da base de cálculo do imposto de renda da empresa brasileira.

Alguns cuidados com a fiscalização

As publicações técnicas, pesquisas e relatórios aqui tratados, poderão ser

desqualificados por ato do Secretário da Receita Federal, quando considerados inidôneos

ou inconsistentes.

42

2.8. Dispensa da Comprovação

A empresa não está sujeita à sistemática do Preço de Transferência, conforme IN-

SRF 243/02, quando se enquadrar em uma das situações a seguir. Nesse caso, poderá ser

comprovada a adequação dos preços praticados, com a própria documentação que deu

origem à operação.

1. Quando o lucro líquido do exercício, antes da CSLL e do IRPJ for no mínimo cinco

por cento da receita de exportação;

2. Quando a receita líquida das exportações, no ano-calendário, não exceder a cinco

por cento do total da receita líquida no mesmo período;

3. Quando o preço ajustado, a ser utilizado como parâmetro, divirja, em até cinco por

cento, para mais ou para menos, daquele constante dos documentos de importação

ou exportação;

4. Conquista de novos mercados.

Vale lembrar que caso a pessoa jurídica se enquadre em qualquer uma das situações

de dispensa acima, deverá elaborar “memória de cálculo” demonstrando que está

dispensada, para exibição ao fisco, se solicitada.

A seguir serão elaborados exemplos numéricos para cada uma das situações acima,

que dispensa a pessoa jurídica da prática do preço de transferência.

2.8.1. Margem Líquida Equivalente a no Mínimo Cinco por Cento

Conforme artigo 1º. Da IN-SRF 382 de 20.12.03, a pessoa jurídica que comprovar

haver apurado lucro líquido, antes da CSLL e do IRPJ, decorrente das receitas de vendas

43

nas exportações para empresas vinculadas, em valor equivalente a, no mínimo, cinco por

cento do total dessas receitas, considerando a média anual do período de apuração e

dos dois anos precedentes, poderá comprovar a adequação dos preços praticados nas

exportações do período de apuração, exclusivamente com documentos relacionados com a

própria operação.

Nesse caso, o lucro líquido correspondente às exportações para empresas

vinculadas será apurado segundo a legislação comercial (art. 187 da Lei 6.404/76). Na

apuração do lucro líquido correspondente a essas exportações, os custos e despesas comuns

às vendas serão rateados em função das respectivas receitas líquidas (§ 2º. Do art. 35 da

IN-SRF 243/02).

Nota-se que a legislação, para a apuração da margem mínima de lucro de cinco por

cento, para a dispensa do preço de transferência, determina que os custos e despesas,

constantes da DRE – Demonstração do Resultado do Exercício, devem ser rateados em

função da receita líquida. Entendemos que trata-se de um equívoco da legislação, pois não

é perceptível que a empresa ao vender o seu produto não conheça qual é o custo do produto

vendido.

Entendemos que o § 2º. do art. 35 da IN-SRF 243/02 ficaria melhor com a seguinte

redação: “para a apuração da margem mínima de cinco por cento, o custo da mercadoria

vendida deve ser apurado diretamente, ou na impossibilidade, por meio de rateio com base

na receita líquida”.

De qualquer maneira, no exemplo a seguir, será demonstrado o cálculo da margem

líquida de 5% através de rateio e através do custo apurado via contabilidade de custo.

44

Exemplo 2.1 – do período: Faturamento total : $ 1.000.000 Exportação para vinculada no exterior : $ 200.000

Quadro 2.6.

CUSTO APURADO POR MEIO DE RATEIO CONTABILIDADE DE

CUSTO DESCRIÇÃO FATURAM EXPORT MARGEM EXPORT MARGEM Receita Bruta 1.000.000 200.000 100,00% 200.000 100.00%( - ) Deduções Vendas (200.000) -o- -o- -o- -o-Receita Líquida 800.000 200.000 100,00% 200.000 100,00%(-)Custo M. Vendidas (300.000) (75.000) 37,50% (90.000) 45,00%Lucro Bruto 500.000 125.000 62,50% 110.000 55,00% ( - ) Despesas Gerais (320.000) (80.000) 40,00% 80.000) 40,00%( - ) Receitas Gerais 40.000 -o- -o- -o- -o-LL antes CSLL / IRPJ 280.000 45.000 22,50% 30.000 15,00% Rateio: custo e despesa Custo Custo total - 300.000 x 200.000 = 75.000 Receita Líquida total - 800.000 Despesa Despesa total - 320.000 x 200.000 = 80.000 Receita líquida total - 800.000 Nota: A pessoa jurídica acima não está sujeita ao preço de transferência, visto que possui

margem de lucro superior a cinco por cento, em ambos os casos. É de nosso entendimento,

que caso a margem pelo rateio não atinja os 5% e pelo custo apurado via escrituração

contábil (contabilidade de custo) venha a atingir, não é plausível o não aceite da dispensa

pela autoridade fiscal.

45

Exemplo 2.2 – média trienal

Como já citado anteriormente, a margem líquida mínima de cinco por cento poderá ser

verificada tomando-se o resultado do período de apuração e de dois anos precedentes. Para

se apurar a média trienal, conforme Solução de Consulta número 9 de 22.10.07 da Receita

Federal do Brasil, soma-se o resultado antes da CSLL e do IRPJ e o resultado apurado

divide pela somatória da receita líquida apurada no triênio, conforme demonstramos

abaixo:

Custos e despesas já devidamente apurados conforme legislação

Quadro 2.7.

EXPORTAÇÃO PARA VINCULADA Descrição Ano 01 Ano 02 Ano 03 Vendas de Mercadorias 6.000.000 5.000.000 7.000.000( - ) Deduções de Vendas -o- -o- -o-RECEITA LÍQUIDA 6.000.000 5.000.000 7.000.000( - ) Custo das Mercadorias (2.000.000) (3.000.000) (4.500.000)LUCRO BRUTO 4.000.000 2.000.000 2.500.000( - ) Despesas (3.700.000) (1.850.000) (2.450.000)(+ ) Receitas 200.000 50.000 200.000LUCRO ANTES CSLL/IRPJ 500.000 200.000 250.000MARGEM DE LUCRO 8,33% 4,00% 3,57%$ 950.000 ($500.000 + $200.000 + $ 250.000) / $18.000.000 x 100 5,27%

A pessoa jurídica acima está dispensada do preço de transferência, visto que a

margem média dos três anos é superior a cinco por cento.

Na sistemática do preço de transferência, o cálculo deve ser feito produto a produto,

como orienta a Secretaria da Receita Federal. Para o exemplo acima, caso a empresa

exporte mais de um produto, a nosso ver deverá ser elaborada a memória de cálculo acima,

produto a produto. Em algumas situações o cálculo é deveras amargo, pois se imaginarmos

que algumas empresas exportam, em alguns casos, mais de cem produtos distintos,

significa dizer que teremos que elaborar mais de cem memórias de cálculos como a aqui

demonstrada.

46

Essa exigência se justifica, pois o excesso de receita de determinado produto

cobrado de pessoa vinculada na exportação, não poderá ser compensada com a

insuficiência de receita na exportação com vinculado, de um outro produto.

Observação: Conforme artigo 37 da IN-SRF a dispensa tratada aqui neste tópico não se

aplica quando a operação é efetuada com empresas que estão localizadas em paraísos

fiscais bem como países que se oponha sigilo a composição societária.

2.8.2. Receita Líquida não Excedente a Cinco por Cento

As pessoas jurídicas, cuja receita líquida das exportações, em qualquer ano-

calendário, não exceder a cinco por cento do total da receita líquida no mesmo período,

poderá comprovar a adequação dos preços praticados nessas exportações, no mesmo

período, exclusivamente com os documentos relacionados com a própria operação (art. 36

da IN-SRF 243/02).

Exemplo 2.3

Quadro 2.8.

VERIFICAÇÃO SE SUJEITA AO PTDESCRIÇÃO Caso 01 Caso 02 Receita líquida total 1.000.000 1.000.000Receita líquida de exportação para vinculada 100.000 45.000RELAÇÃO PERCENTUAL 10,00% 4,50%Sujeita ao preço de transferência? Sim Não

No caso 01, estará sujeita, pois a receita líquida de exportação para vinculada

supera cinco por cento do total da receita líquida. No caso 02, não. A receita líquida é

inferior a cinco por cento do total da receita líquida.

47

Observação: A dispensa tratada aqui neste tópico não se aplica quando a operação é

efetuada com empresas que estão localizadas em paraísos fiscais bem como países que

se oponha sigilo a composição societária.

2.8.3. Margem de Divergência

Conforme art. 38 da IN-SRF 243/02, será considerada satisfatória a comprovação,

nas operações com empresas vinculadas, quando o preço ajustado, a ser utilizado como

parâmetro, divirja, em até cinco por cento, para mais ou para menos, daquele constante dos

documentos de importação ou exportação. Nesse caso nenhum ajuste será exigido da

empresa, seja no cálculo do IRPJ, seja na base de cálculo da CSLL.

DIVERGÊNCIA = 5,00% DADOS Importação Exportação Preço Médio Praticado 7.500 7.500Preço Parâmetro (valor hipotético) 7.200 7.875Mais 5,00% 360 -o-Menos 5,00% -o- (394)Preço Parâmetro 2 – acrescido / diminuído de 5,00% 7.560 7.481

Dispensado do Preço de Transferência Exemplo 2.4

Importação: O preço praticado foi de $ 7.500 e o máximo que o contribuinte poderia

praticar era $ 7.200. Assim teria que ser feito um ajuste a fazer no lucro de $ 300

multiplicado pela quantidade vendida no período de apuração. O contribuinte sairá do

ajuste, visto que está dentro da margem de divergência permitida pela legislação fiscal.

Veja:

Preço parâmetro – 1 = 7.200

Mais 5% = $ 7.200 x 1,05 = 7.560 (Parâmetro 2) – máximo permitido

Preço praticado = 7.500

48

Exportação: O preço praticado foi de $ 7.500 e o mínimo que o contribuinte poderia

praticar era de $ 7.875. Assim teria que ser feito um ajuste de $ 375 para cada unidade

exportada. O contribuinte saiu do ajustes, visto que está dentro da margem de divergência

permitida pela legislação fiscal. Veja:

Preço parâmetro - 1 = 7.875

Menos 5% = 95% = 7.481 (Parâmetro 2) – mínimo permitido

Preço praticado = 7.500

2.8.4. Preço Médio de Venda nas Exportações Maior ou Igual a Noventa por Cento do

Preço Médio das Vendas no Brasil

As receitas auferidas nas operações efetuadas com pessoa vinculada, ficam sujeitas

a arbitramento quando o preço médio de venda dos bens, serviços ou direitos, nas

exportações efetuadas durante o respectivo período de apuração da base de cálculo do

imposto de renda, for inferior a noventa por cento do preço médio praticado na venda dos

mesmos bens, serviços ou direitos, no mercado brasileiro, durante o mesmo período, em

condições de pagamento semelhantes.

Exemplo 2.5

Quadro 2.9. Descrição Caso 01 Caso 02 Preço Médio de Venda no Brasil 1.650 5.000 Margem de 90,00% (preço mínimo a ser praticado) 1.485 4.500 Praticado – exportação para vinculado 1.500 4.490 Sujeito ao Preço de Transferência ? Não sim

49

2.8.5. Conquista de Novos Mercados

As exportações para empresa vinculada, com o objetivo de conquistar novos

mercados, em outro país, para os bens, serviços ou direitos de produção no território

brasileiro, poderão ser efetuados a preços médios inferiores a noventa por cento dos

preços médios praticados no Brasil, independentemente de arbitramento das respectivas

receitas, desde que (art. 32 da IN-SRF 243/02):

1. Os bens, serviços ou direitos, objeto da exportação, não tenham sido

comercializados no país de destino, pela própria empresa exportadora ou por

qualquer outra a ela vinculada, localizada em qualquer parte do mundo;

2. Os bens, serviços ou direitos sejam revendidos aos consumidores, por preço

inferior ao de qualquer bem, serviço ou direito, idêntico ou similar,

comercializado no país de destino;

3. Efetuadas com observância das condições fixadas em plano específico de

exportação, previamente aprovado pela Coordenação-Geral de Tributação

(COSIT) da SRF;

4. Fique demonstrado no plano de exportação, que a empresa vinculada,

domiciliada no país de destino, não terá lucro com as operações e, se houver

previsão de prejuízos para a empresa no Brasil, em virtude do preço a ser

praticado, o prazo previsto para a sua recuperação (somente serão aprovados

planos com prazo de execução igual ou inferior a doze meses).

2.9. Período de Apuração

Conforme artigo 41 da IN-SRF 243/02, as verificações dos preços de transferência

praticados entre empresas vinculadas, serão efetuadas por períodos anuais, exceto nas

hipóteses de inicio e encerramento de atividades e de suspeita de fraude.

50

As normas sobre preço de transferência aplicam-se exclusivamente, em relação às

operações com empresas vinculadas, praticadas a partir de 1o. de janeiro de 1.997. O

momento do ajuste ao lucro líquido será:

• Lucro Real Trimestral: 4o. trimestre ou na data de encerramento de atividade;

• Lucro Real Anual: No balanço de suspensão / redução levantado no mês de

dezembro, no balanço de dezembro ou na data do encerramento da atividade;

• Lucro Arbitrado: 4º. Trimestre ou na data de encerramento de atividade.

Assim, independentemente da forma de tributação, salvo os casos previsto em lei, o

ajuste de preço de transferência somente deverá ser efetuado no mês de dezembro de cada

ano, ainda que a pessoa jurídica tenha período de tributação trimestral.

A aplicação do preço de transferência se dá, em dezembro de cada ano nos

seguintes casos:

1. Ajustes por Insuficiência de receita na exportação;

2. Ajustes por excesso de Custo das Mercadorias / Produtos Vendidos;

3. Ajustes por excesso de despesas de depreciação, amortização e exaustão;

4. Ajustes por insuficiência ou excesso de receitas ou despesas de juros.

2.10. Preço de Transferência e os Princípios Fundamentais de Contabilidade

Como estudaremos no capítulo 3, o excesso de custo apurado na importação de

bens, produtos e serviços, deverá ser ajustado por ocasião do encerramento do período de

apuração, registrando contra a conta de “Lucros ou Prejuízos Acumulados”, segundo

normas estabelecidas pela Receita Federal do Brasil. Essa regra poderá distorcer os

51

resultados de exercícios anteriores, bem como contrariar os Princípios Fundamentais de

Contabilidade.

Os princípios fundamentais de contabilidade representam a essência das doutrinas e

teorias relativas à ciência da contabilidade consoante o entendimento predominante nos

universos científico e profissional de nosso país. Concernem pois a contabilidade, no seu

sentido mais amplo de ciência social, cujo objeto é o patrimônio das entidades.

Reproduzimos aqui o seu significado mais apropriado que é o de norma, preceito,

regra, alicerce, requisitos primordiais, pois diz o artigo 1º. § 1º. da Resolução 750/93 do

Conselho Federal de Contabilidade – CFC, que:

“A observância dos Princípios Fundamentais de Contabilidade é

obrigatória no exercício da profissão e constitui condição de legitimidade nas

Normas Brasileiras de Contabilidade”.

São Princípios Fundamentais de Contabilidade – Resolução 750/93 do CFC –

Conselho Federal de Contabilidade:

I - O da Entidade

II - O da Continuidade

III - O da Oportunidade

IV - O do Registro Pelo Valor Original (Custo Histórico)

V - O da Atualização Monetária

VI - O da Prudência ou Conservadorismo

VII - O da Competência

Os Princípios Fundamentais de Contabilidade representam o núcleo central da

própria Contabilidade, na sua condição de ciência social, sendo a ela inerentes. Os

52

princípios constituem sempre as vigas-mestras de uma ciência, revestindo-se dos

atributos de universalidade e veracidade, conservando validade em qualquer circunstância.

No caso da contabilidade, presente seu objeto, seus Princípios Fundamentais de

Contabilidade valem para todos os patrimônios, independentemente das Entidades a que

pertencem, as finalidades para as quais são usados, a forma jurídica da qual estão

revestidos, sua localização, expressividade e quaisquer outros qualificativos, desde que

gozem da condição de autonomia em relação aos demais patrimônios existentes.

Nos princípios científicos jamais pode haver hierarquização formal, dado que eles

são os elementos predominantes na constituição de um corpo orgânico, e são deduzidos de

outras dentro do sistema. Nas ciências sociais, os princípios se colocam como axiomas,

premissas universais e verdadeiras, assim admitidas sem necessidade de demonstração,

ultrapassando pois a condição de simples conceitos.

O atributo da universalidade permite concluir que os princípios não exigiram

adjetivação, pois sempre, por definição, se referem à Ciência da Contabilidade no seu todo.

Dessa forma, o qualificativo “fundamentais” visa, tão-somente, a enfatizar sua magna

condição. Esta igualmente elimina a possibilidade de existência de princípios identificados,

nos seus enunciados, com técnicas ou procedimentos específicos, com o resultado obtido

na aplicação dos princípios propriamente ditos a um patrimônio particularizado. Assim,

não podem existir princípios relativos aos registros, às demonstrações ou à terminologia

contábeis, mas somente ao objeto desta, o Patrimônio. Os princípios, na condição de

verdades primeiras de uma ciência, jamais serão diretivas de natureza operacional,

característica essencial das normas - expressões de direito positivo, que a partir dos

princípios estabelecem ordenamentos sobre o “como fazer”, isto é, técnicas,

procedimentos, métodos, critérios, etc., tantos nos aspectos substantivos, quanto nos

53

formais. Dessa maneira, alcança-se um todo organicamente integrado, em que, com base

nas verdades gerais, se chega ao detalhe aplicado, mantidas a harmonia e coerência do

conjunto.

Demonstramos a seguir, de forma resumida, o núcleo de cada um dos princípios

acima comentados, com comentários adicionais:

I - O Princípio da Entidade:

Reconhece o patrimônio como objeto da contabilidade e afirma a autonomia

patrimonial à necessidade da diferenciação de um patrimônio particular no universo dos

patrimônios existentes, independentemente de pertencer a uma pessoa, um conjunto de

pessoas, uma sociedade ou instituição de qualquer natureza ou finalidade, com ou sem fins

lucrativos. Por conseqüência, nesta acepção, o patrimônio não se confunde com aqueles

dos seus sócios ou proprietários, no caso de sociedade ou instituição.

Comentário:

Significa dizer que bem de patrimônio não se confunde com bens de sócios ou

proprietários. O que é do sócio é do sócio e o que é da empresa é da empresa.

Exemplo: O sócio não pode pagar a escola do seu filho com dinheiro da entidade, caso

isso ocorra, está contrariando ao princípio da entidade; O sócio poderá ter um honorário

(pró-labore), pelo serviço que presta a entidade, isso não contraria ao princípio.

II - O Princípio da Continuidade:

A continuidade ou não da Entidade, bem como sua vida estabelecida ou provável,

devem ser consideradas quando da classificação e avaliação das mutações patrimoniais,

quantitativas e qualitativas.

54

Comentário:

A empresa não pode ser criada com prazo estabelecido para o seu encerramento.

Ao se criar uma empresa, parte se do pressuposto que a mesma operará

indefinidamente no futuro. Ao se constituir uma empresa, é como se nascesse uma

criança, não tem prazo estabelecido para a sua morte.

III - Princípio da Oportunidade:

Refere-se simultaneamente à tempestividade à integridade do registro das mutações

patrimoniais, determinando que esse seja feito no tempo certo e com a extensão correta.

Desde que tecnicamente estimável, o registro das variações patrimoniais deve ser feito

mesmo na hipótese de somente existir razoável certeza de sua ocorrência.

Comentário:

A preocupação é com a integridade patrimonial. Através da tempestividade dos

fenômenos contábeis recomenda-se a efetuar o registro (mesmo que não se tenha

certeza absoluta), esse comportamento fará com que o patrimônio (entidade) seja

o mais integro possível.

IV - Princípio do Registro Pelo Valor Original:

Os componentes do patrimônio devem ser registrados pelos valores originais das

transações com o mundo exterior, expressos a valor presente na moeda do país, que serão

mantidos na avaliação das variações patrimoniais posteriores, inclusive quando

configurarem agregações ou decomposições no interior da Entidade.

55

Comentário:

Não cabe a Contabilidade estudar a formação de preços nos mercados, bem como

defini-los. O preço de determinado bem em um lugar pode ser diferente, para o

mesmo bem, em outro lugar e muitas vezes com diferenças expressivas. Como é

possível se ter diversos preços para um mesmo bem em lugares diferentes, o

registro pelo Valor Original (também conhecido como custo histórico), vem nos

mostrar o valor do custo patrimonial em moeda do país (e não o valor real de

mercado do patrimônio), para assim evitar a mensurar a cada momento, o valor da

transação patrimonial.

V - Princípio da Atualização Monetária:

Os efeitos da alteração do poder aquisitivo da moeda nacional, devem ser

reconhecidos nos registros contábeis através do ajustamento da expressão formal dos

valores dos componentes patrimoniais. A moeda embora aceita universalmente como

medida de valor, não representa unidade constante em termos de poder aquisitivo.

Comentário:

A moeda vai sofrendo variações patrimoniais em razão da mudança da expressão

monetária. Para se manter o Custo Pelo Valor Original, há a necessidade de

atualização do custo histórico. Isso não representa o acréscimo de valor,

representa apenas uma atualização do referido custo.

VI - Princípio da Prudência (Conservadorismo):

Determina a adoção do menor valor para os componentes do Ativo e do maior valor

para os do Passivo, sempre que se apresentem alternativas igualmente válidas para a

quantificação das mutações patrimoniais que alterem o Patrimônio Líquido.

56

Comentário:

A aplicação da Prudência ganha ênfase quando, para definição dos valores

relativos às variações patrimoniais, devem ser feitas estimativas que envolvem

incertezas de grau variável. A prudência impõe a escolha da hipótese de que

resulte menor patrimônio líquido. Assim com alternativas igualmente válidas a

postura é a seguinte: atribuição de maior valor para os elementos do passivo;

menor valor para os elementos do ativo, maior valor para as despesas e menor

valor para as receitas; conseqüência = menor patrimônio líquido (riqueza).

VII - O Princípio da Competência:

As receitas e despesas devem ser incluídas na apuração do resultado do período em

que ocorrerem, sempre simultaneamente quando se correlacionarem, independentemente

de recebimento ou pagamento. O reconhecimento simultâneo das receitas e despesas,

quando correlatas, é conseqüência natural do respeito ao período em que ocorrer sua

geração.

Comentário:

As receitas e despesas farão parte do resultado do exercício, quando efetivamente

realizadas, independentemente do recebimento ou pagamento. Isso nos diz que: se

a empresa receber no ano 1 (um) por um serviço que só prestará no ano 2 (dois),

só podemos reconhecer a receita no ano 2 (dois), pela efetiva realização da

receita; por outro lado, se a empresa prestar um serviço no ano 10 e só receber

por esse serviço prestado no ano 11 (onze), a receita será reconhecida no ano 10

(dez) pela efetiva prestação dos serviços. Esse mesmo raciocínio aplica-se também

a despesa. Para o reconhecimento da receita e despesa, leva-se em consideração a

realização, independentemente do envolvimento financeiro.

57

2.11. Métodos Utilizados na Importação e Exportação

Pelo método dos preços independentes comparados, as importações realizadas com

pessoas vinculadas consideram-se em limites adequados, para efeito de dedutibilidade para

fins de cálculo da CSLL, bem como do IRPJ, pelo contribuinte. No caso das exportações,

considera-se que o exportador deve obter receita suficiente, dentro de operações com a

aplicação do arm´s length principle.

Segundo Carvalho (Carvalho, 2003: 702) para apurar o preço em operações

independentes, a OCDE indica “métodos para verificação de tais montantes. Esses

métodos são meros instrumentos para concretizar-se o princípio arm´s length, não

configurando um fim sem si mesmos”. Ele acrescenta que “a comparação entre o preço de

transferência acordado num dado negócio e aquele apurado mediante um dos métodos

estabelecidos objetiva exatamente verificar se o preço fixado corresponde ao valor de

mercado, estabelecendo independentemente e, portanto, livre de transferências indiretas de

lucros”.

A legislação brasileira determinou a metodologia a ser aplicada na apuração dos

preços parâmetros tanto na importação como na exportação, quais sejam:

NA IMPORTAÇÃO:

1. PIC – Preços Independentes Comparados;

2. PRL – Preço de Revenda menos Lucro de 20% - (revenda de bens)

3. PRL – Preço de Revenda menos Lucro de 60% - (produção)

4. CPL – Custo de Produção mais Lucro de 20%.

58

NA EXPORTAÇÃO:

1. PVEx – Preço de Venda nas Exportações;

2. PVA – Preço de Venda por Atacado no País de Destino Diminuído do Lucro;

3. PVV – Preço de Venda a Varejo no País de Destino Diminuído do Lucro;

4. CAP – Custo de Aquisição ou de Produção Mais Tributos e Lucro.

Adiante serão abordados cada um dos métodos acima, para fins de preço

comparado, com exemplos práticos, demonstrados nos seguintes capítulos:

• Capítulo 3 – métodos da importação;

• Capitulo 4 – métodos da exportação;

• Capítulo 5 – Receitas e Despesas Financeiras.

59

CAPITULO 3

PREÇO DE TRANSFERÊNCIA NA IMPORTAÇÃO

DE BENS, SERVIÇOS E DIREITOS

3.1. Tratamento na Importação de Bens, Serviços e Direitos

Os custos, despesas e encargos relativos a bens, serviços e direitos, constantes dos

documentos de importação ou de aquisição, nas operações efetuadas com pessoa

vinculada, somente serão dedutíveis na determinação do lucro real e da base de cálculo da

CSLL, até o valor que não exceda aos preços de transferências, determinados adiante.

Para efeito de apuração do preço a ser utilizado como parâmetro, nas importações

de empresa vinculada, não residente, de bens, serviços ou direitos, a pessoa jurídica

importadora poderá optar por qualquer dos métodos abaixo descritos, independentemente

de prévia comunicação à Secretaria da Receita Federal.

Valor dedutível para fins da CSLL e IRPJ

Na hipótese de utilização de mais de um método, será considerado dedutível o

maior valor apurado, devendo o método adotado pela empresa ser aplicado,

consistentemente, por bem, serviço ou direito, durante todo o período de apuração.

Serão adicionado à base de cálculo da CSLL e do IRPJ, o valor resultante do

excesso de custo, computado nos resultados da empresa, decorrente da diferença entre os

preços comparados.

60

Custo de Importação

Para efeito de apuração do preço a ser utilizado como parâmetro, calculado como

base no método PRL, serão integrados ao preço os valores de transporte e seguro, cujo

ônus tenha sido da empresa importadora, e os de tributos não recuperáveis, devidos na

importação. Nos preços apurados com base nos métodos PIC e CPL, os valores de

transporte e seguro, cujo ônus tenha sido da empresa importadora, poderão ser

adicionados ao custo dos bens adquiridos no exterior, desde que sejam, da mesma forma,

considerados no preço praticado, para efeito de comparação (art. 4 º § 4o. e 5o. da IN-SRF

243/02).

Em outras palavras, caso a pessoa jurídica venha adotar a metodologia PIC – Preços

Independentes comparados ou CPL – Custo de Produção mais Lucro, com relação aos

valores de transportes e seguros pagos na importação, o comportamento deve ser o

seguinte:

PIC e CPL – Transportes e seguros poderão ser integrado ao preço praticado

Questiona-se: PIC e CPL – contemplam transporte e seguro?

Resposta 1: Sim. Nesse caso devo considerar no custo de importação praticado;

Resposta 2: Não. Nesse caso, posso ou não considerar no custo de importação

praticado.

PRL – Transporte e seguro serão integrados ao preço praticado

A exigência para a inclusão dos transportes e seguro ao preço praticado se dá em

razão do repasse dos referidos encargos no momento da venda. Isso aumenta a

possibilidade de ajustes para fins tributários.

61

Considera-se custo de importação – art. 289 do RIR/99

• Custo de aquisição do produto;

• Tributos não recuperáveis devidos na importação;

• Gastos com desembaraço aduaneiro;

• Os custos de transporte e seguro até o estabelecimento do contribuinte;

Estão aqui compreendidos, os desembolsos do porto ou aeroporto até o

estabelecimento da pessoa jurídica.

Figura 3.1

Exemplo 3.1

$ 300 $ 1.000 Custo para fins de preço de transferência = $ 1.300

Esse mesmo conceito de custo de importação está consolidado no MAJUR (Manual

do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica), divulgado anualmente pela Receita Federal do

Brasil - RFB, mas entendemos que essa exigência se dá em razão de um aumento de custo

na “importação com vinculados”, ainda que parte do custo seja em operação doméstica,

aumentando assim a possibilidade de ajustes ao lucro e conseqüentemente aumentando

também a carga tributária no que diz respeito à CSLL e IRPJ.

Encargo de depreciação – dedutibilidade

A dedutibilidade dos encargos de depreciação ou amortização dos bens e direitos

fica limitada, em cada período de apuração, ao montante calculado com base no preço

Estrangeiro

Preço FOBEstabeleci-mento Brasil

62

determinado pelos métodos PIC, PRL, e CPL, vedada à utilização do PRL, se não houver

revenda.

Para a importação do ativo permanente, sem revenda, os critérios que podem ser

adotados são (além de relatórios oficiais, pesquisas, etc):

• PIC – Preços Independentes Comparados;

• CPL – Custo de Produção mais Lucro.

Essa exigência fiscal dificultará o trabalho do profissional na busca destes preços

parâmetros, pois depende de informações de terceiros para se conseguir os referidos

preços.

Conversão da Taxa de Câmbio

O valor expresso em moeda estrangeira, na importação de bens, serviços e direitos

será convertida em reais pela taxa de câmbio de venda, fixada pelo boletim de abertura do

Banco Central do Brasil, para a moeda correspondente ao segundo dia útil imediatamente

anterior ao da ocorrência dos seguintes fatos (IN-SRF 321/03):

1. Do registro da declaração de importação de mercadoria submetida a despacho

para consumo, nos casos de bens;

2. Do reconhecimento do custo ou despesa correspondente à prestação do serviço

ou à aquisição do direito, em observância ao regime de competência.

Não há necessidade de preocupação com relação a conversão, para os profissionais

responsáveis pela elaboração do preço de transferência, visto que por ocasião da

elaboração, toda a operação de importação já está convertida para a nossa moeda.

63

3.2. Regras Comuns a Importação e Exportação

Adiante, será demonstrada a sistemática de cálculo dos preços parâmetros tanto

para importação como para exportação. Porém, como já citado anteriormente, o objetivo

do preço de transferência é coibir a remessa de recursos sem a incidência da CSLL e IRPJ,

para as pessoas jurídicas domiciliadas no exterior e vinculadas à companhia no Brasil,

através de dois procedimentos:

• Superfaturamento nas importações;

• Subfaturamento nas exportações.

Para facilitar o entendimento, criaremos a seguir duas situações, onde deverão ser

ajustadas, para o cálculo da CSLL e IRPJ, as diferenças apuradas entre os preços

praticados, e os que deveriam ser praticados:

Quadro 3.1.

DESCRIÇÃO IMPORT. EXPORT. Preço praticado na operação – pessoa vinculada 80.000 750.000 Preço parâmetro para fins de comparação 50.000 900.000 Ajustes para fins de CSLL e IRPJ 30.000 150.000

Em resumo, o ajuste é obrigatório quando:

Quadro 3.2.

Métodos na Importação Métodos na Exportação PREÇO SINAL PREÇO AJUSTE PREÇO SINAL PREÇO AJUSTE Praticado > Parâmetro Sim Praticado > Parâmetro Não Praticado < Parâmetro Não Praticado < Parâmetro Sim

Método que causa o menor ajuste Método que causa o menor ajuste

64

3.3. Desenvolvimento de Cálculos na Importação

Os custos, despesas e encargos relativos a bens, serviços e direitos, constantes dos

documentos de importação ou de aquisição, nas operações efetuadas com pessoa

vinculada, somente serão dedutíveis na determinação do lucro real e da base de cálculo da

CSLL, até o valor que não exceda ao preço determinado pelos métodos:

1. PIC – Preços Independentes Comparados;

2. PRL – 20% - Preço de Revenda menos Margem de 20%;

3. PRL – 60% - Preço de Revenda menos Margem de 60%.;

4. CPL – Custo de Produção mais lucro de 20%.

Iniciaremos nossos exemplos de cálculo pela metodologia PIC – Preços

Independentes Comparados e na seqüência estudaremos as outras metodologias.

3.3.1. PIC – Preços Independentes Comparados

Os valores dos bens, serviços ou direitos serão ajustados de forma a minimizar os

efeitos provocados sobre os preços a serem comparados, por diferenças nas condições de

negócio, de natureza física e de conteúdo.

No caso de bens, serviços e direitos idênticos, somente será permitida a efetivação

de ajustes quando relacionados com:

Prazo de pagamento: taxa praticada pela própria empresa fornecedora,

quando comprovada.

• Taxa Selic: quando ambas as empresas forem domiciliadas no Brasil.

65

• Taxa Libor: para depósitos em dólares americanos pelo prazo de seis meses,

acrescida de três por cento anuais a título de spread, proporcionalizada para o

intervalo, quando uma das partes for domiciliada no exterior.

Quantidades Negociadas: os ajustes serão efetuados com base em documentos

da emissão da empresa vendedora, que demonstrem a prática de preços menores

quanto maiores as quantidades adquiridas por um mesmo comprador.

Obrigação pela Promoção, junto ao público, do bem, serviço ou direito, por

meio de propaganda e publicidade: o valor do preço em operações entre

vinculadas, quando a empresa exportadora, domiciliada no exterior, suportar o

ônus da promoção do bem, serviço ou direito no Brasil, poderá exceder o de

outra que não suporte o mesmo ônus, até o montante despendido por unidade

do produto, pela empresa exportadora, com a referida obrigação. Se a

finalidade for a promoção do nome ou marca da empresa, os gastos serão

rateados para todos os itens, proporcionalizados em função das quantidades e

respectivos valores de cada tipo de bem, serviço ou direito.

Obrigação pelos custos de fiscalização de qualidade, do padrão dos serviços

e das condições de higiene: o valor do preço em operações entre vinculadas,

quando a empresa exportadora, domiciliada no exterior, suportar o ônus destes

custos no Brasil, poderá exceder o de outra que não suporte o mesmo ônus,

até o montante dispendido por unidade de produto, pela empresa exportadora,

com a referida obrigação.

Custos de Intermediação, nas operações de compra e venda praticadas

pelas empresas não vinculadas, consideradas para efeitos de comparação

dos preços: o preço do bem, serviço ou direito praticado na operação de

66

compra de uma empresa vinculada, que não suportar o encargo, poderá exceder

ao da empresa não vinculada, que suportar o referido encargo, cujo preço

seja parâmetro para comparação, até o montante correspondente a esse encargo.

Acondicionamento: Serão procedidos os ajustes, em função de diferenças de

custos dos materiais utilizados no acondicionamento.

Frete e Seguro: os preços serão ajustados em função do frete e seguro

incidente em cada caso.

Nota – Operações não Identificadas no Período

Quando não for possível identificar operações de compra ou venda no mesmo

período a que se referirem os preços sob investigação, a comparação poderá ser feita com

preços praticados em operações efetuadas em períodos anteriores ou posteriores, desde que

ajustados por eventuais variações nas taxas de câmbio das moedas de referência, ocorridas

entre a data de uma e de outra operação. Nessa hipótese, serão consideradas, também, as

variações acidentais de preços de commodities, quando comprovados mediante

apresentação de cotações de bolsa, de âmbito nacional, verificadas durante o período.

Para efeito de comparação, o preço médio ponderado dos bens, serviços e

direitos adquiridos pela empresa vinculada, domiciliada no Brasil, será apurado

considerando-se as quantidades e valores correspondentes a todas as operações de compra

praticadas durante o período de apuração sob exame.

Apuração do preço PIC

É a média aritmética ponderada dos preços de bens, serviços ou direitos, idênticos

ou similares, apurados no mercado brasileiro ou de outros países, em operações de compra

67

e venda, em condições de pagamento semelhantes, com pessoas não vinculadas, durante

todo o período de apuração da CSLL e do IRPJ.

Por esse método, os preços dos bens, serviços ou direitos, adquiridos no exterior, de

uma empresa vinculada, serão comparados com os preços de bens, serviços ou direitos,

idênticos ou similares:

1. Vendidos pela mesma empresa exportadora, a pessoas jurídicas não vinculadas,

residentes ou não residentes;

2. Adquiridos pela mesma importadora, de empresas não vinculadas, residentes ou

não residentes;

3. Em operações de compra e venda praticadas entre outras pessoas jurídicas não

vinculadas, residentes ou não residentes.

Quadro 3.3. Esquema – PIC

MÉTODO DOS PREÇOS INDEPENDENTES COMPARADOS – PIC Bens, Serviços e Direitos Idênticos ou Similares Adquiridos no Exterior.

Média Aritmética ponderada dos preços de compra e venda entre empresas não vinculadas apurados:

• No mercado brasileiro ou de outros países durante todo o período de apuração do IRPJ em condições de compra e venda, em condições de pagamentos semelhantes.

CONSIDERAR NA MÉDIA ACIMA OS PREÇOS: 1. Vendidos pela mesma empresa exportadora, a pessoas jurídicas não vinculadas,

residentes ou não-residentes; 2. Adquiridos pela mesma importadora, de empresas não vinculadas, residentes ou

não-residentes; 3. Em operações de compra e vendas praticadas entre outras pessoas jurídicas não

vinculadas, residentes ou não-residentes.

68

Através do gráfico a baixo, demonstramos quais operações podem ser efetuadas

entre não vinculadas, que podem ser utilizadas como preço parâmetro, para fins de

comparação com o preço praticado

= Pessoas jurídicas vinculadas. = Pessoas jurídicas não vinculadas

Figura 3.2

Notas:

1. Pode-se comparar o preço praticado entre as empresas A e B com todos os demais

preços praticados com as demais empresas, por não serem vinculadas;

2. Não é admitida lista de preços para fins de comparação.

Caso prático: - PIC

Empresa A - domiciliada no Brasil – atividade: compra, venda e locação de máquinas

Empresa B - domiciliada nos Estados Unidos

Empresa A - participação de 80% no capital social de B

A C E

B D F

B R A S I L

E X T E R I O R

V I N C

69

Empresa A adquiriu de sua coligada B no exterior a vista, em 01 de agosto de 2.006, 300

máquinas de Tear marca Touch The Gold. Das máquinas importadas acima, 250 são para

revenda e 50 para uso da própria empresa (ativo imobilizado). O custo total da importação,

já considerado os custos com tributos não recuperáveis, fretes, seguros e desembaraço

aduaneiro está abaixo demonstrado:

Em 1º. De agosto/2006 = U$ 1,00 = R$ 1,50

Preço unitário da máquina = U$ 4.500 x R$ 1,50 = R$ 6.750

Gastos Adicionais de importação = R$ 750

Gasto total com importação------------------------------------ = R$ 7.500

Dados adicionais no final de dezembro/ 2.006

• 300 máquinas importadas

• 50 máquinas imobilizadas – 01.08.06 – vida útil de cinco anos

• 180 máquinas vendidas no período de ago/06 até dez/06 – 120 nov/06 e 60 dez/06

Quadro 3.4.

Ficha de Movimentação de Estoque 2.006 ENTRADA SAÍDA SALDO

Data Histórico Qt. $U $ total QT. $U $ total QT $U $total 01/08 Aquis. 300 7.500 2.250.000 300 7.500 2.250.00030.09 Transferência 50 7.500 375.000 250 7.500 1.875.00030.11 Baixa p/venda 120 7.500 900.000 130 7.500 975.00031.12 Idem 60 7.500 450.000 70 7.500 525.000 31.12. Saldo 70 7.500 525.000 Dados complementares para resolução do Exemplo 3.1

70

PIC : Preço Médio – art. 8º. da IN-SRF 243/02:

“....... média aritmética ponderada dos preços de bens, serviços ou direitos

idênticos ou similares, apurados no mercado brasileiro ou de outros países, em

operações de compra e venda, em condições de pagamento semelhantes”.

Foi possível identificar as operações de compra e venda do mesmo bem no ano-

calendário de 2.006, conforme abaixo (também a vista):

Empresa Alfa - vende 300 máquinas a R$ 5.800

Empresa Alfa - vende 30 máquinas a R$ 5.100

Empresa Beta - vende 50 máquinas a R$ 5.200

Empresa Gama - vende 90 máquinas a R$ 5.500

Quadro 3.5.

DESCRIÇÃO QUANTIDADE R$ UNITÁRIO R$ TOTAL Cia Alfa 300 5.557 1.667.130Cia Alfa 30 5.100 153.000Cia Beta 50 5.200 260.000Cia Gama 90 5.500 495.000TOTAL GERAL 470 2.575.130

PREÇO MÉDIO.................................................................................. 5.479 Observação: Lembramos que a legislação fiscal não quantifica qual é o volume de

operações que deve ser tomada para suportar o preço médio PIC.

Verificação da margem de divergência:

Descrição Valor R$

Preço médio praticado................ 7.500

Preço parâmetro 1........................ 5.479

Margem de divergência – 5,00%. 274

Preço parâmetro 2....................... 5.753 = Máximo permitido

71

Preço comparado Quadro 3.6.

Preço comparado DESCRIÇÃO Praticado Parâmetro Preço médio praticado e parâmetro 7.500 5.479Juros cobrados pela importadora (U$1.000 x R$ 1,50) a vista A vistaValor importação a prazo 7.500 5.479Excesso de custo – preço de transferência (7.500 – 5.479) 2.021

Resumo do excesso de custo:

Custo das Mercadorias Vendidas

Praticado 180 x 7.500 = 1.350.000

Parâmetro 180 x 5.479 = 986.220 363.780

Despesas com Depreciaçao

Praticado 50 x $ 7.500 = 375.000 / 60 x 5 meses = 31.250

Parâmetro 50 x $ 5.479 = 273.950 / 60 x 5 meses = 22.829 8.421

Excesso de custo.............................................................................................. 372.201

Admitindo agora que no exemplo aqui explanado, a pessoa jurídica tem um lucro

de R$ 100.000 antes da CSLL e não possui outros ajustes além do Preço de Transferência e

CSLL, teremos:

Quadro 3.7.

DESCRIÇÃO LACOS LALUR Resultado antes dos Tributos 100.000 57.502Adições Custo de mercadoria vendida – PT 363.780 363.780Depreciação – PT 8.421 8.421Provisão para CSLL -o- 42.498Exclusões Não houve -o- -o-LUCRO REAL 472.201 472.201

$ 42.498 = (472.201 x 9%) – indedutível para o cálculo do IRPJ

72

Com os ajustes acima, após o cálculo da CSLL e do IRPJ, a DRE ficará assim

demonstrada:

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO

Descrição Valor R$ RESULTADO ANTES DA CSLL 100.000 ( - ) Provisão para CSLL (42.498) RESULTADO ANTES DO IRPJ 57.502 ( - ) Provisão para IRPJ (94.050) RESULTADO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO (36.548)

94.050 = (15% x 472.201 x 10% x 232.201) Nota:

Todas às vezes que o lucro real anual exceder de $ 240.000, o

excedente terá um adicional de 10% de imposto de renda.

3.3.2. PRL – Preço de Revenda Menos Lucro

A determinação do custo de bens, serviços ou direitos, adquiridos no exterior,

dedutível da determinação do lucro real, poderá, também, ser efetuada pelo método do

Preço de Revenda menos Lucro – PRL, definido como a média aritmética dos preços de

revenda dos bens ou direitos, diminuídos:

• Dos descontos incondicionais concedidos;

• Dos impostos e contribuições incidentes sobre as vendas;

• Das comissões e corretagens pagas;

73

• De margem de lucro de:

1. 20%, na hipótese de revenda de bens;

2. 60%, na hipótese de bens importados aplicados na produção (Lei 9.959/00).

PRL – diminuído da margem de lucro de 60% - questionamento jurídico

Com relação ao PRL diminuído da margem de 60%, tivemos alterações no texto

original da Lei introdutora do Preço de Transferência no Brasil que é a 9.430/96, como

reproduziremos o enunciado dos textos legais que foram acrescentados e/ou modificados:

Inciso II – artigo 18 – Lei 9.430/96

“Método do Preço de Revenda menos Lucro – PRL: definido como a média aritmética

dos preços de revenda dos bens ou direitos, diminuídos:

a) dos descontos incondicionais concedidos;

b) dos impostos e contribuições incidentes sobre as vendas;

c) das comissões e corretagens pagas;

d) de margem de lucro de vinte por cento, calculada sobre o preço de revenda”;

Nota:

Percebemos que a Lei criadora do Preço de Transferência não faz qualquer referência ao

PRL diminuído da margem de lucro de 60%.

74

Art. 2º. Da Lei 9.959/2.000

“Método do Preço de Revenda menos Lucro – PRL: definido como a média aritmética dos

preços de revenda dos bens ou direitos, diminuídos:

a) dos descontos incondicionais concedidos;

b) dos impostos e contribuições incidentes sobre as vendas;

c) das comissões e corretagens pagas;

d) da margem de :

1) sessenta por cento, calculada sobre o preço de revenda após deduzidos os

valores referidos na alíneas anteriores e do valor agregado no País, na

hipótese de bens importados aplicados à produção;

2) vinte por cento, calculada sobre o preço de revenda, nas demais hipóteses”

Nota:

No PRL – 60% o enunciado da Lei diz que será diminuído de 60% (sessenta por cento),

calculado sobre os itens de a a d e do valor agregado no País. È notório também, que

somente a partir da Lei 9.959/2.000 é que foi possível a utilização do PRL – 60%. A

referida Lei foi regulamentada pela IN-SRF nr. 32/01, sem alteração da redação original.

Posteriormente, em 11 de novembro de 2.002, com o advento da Instrução Normativa -

SRF 243, a metodologia do cálculo do PRL 60% foi alterada e essa alteração trouxe

significativo aumento da carga tributária (CSLL e IRPJ), conforme demonstraremos a

seguir:

75

§ 10 e 11 do art. 12 da IN-SRF Nr. 32/2.001

§ 10. “Para efeito da aplicação do método de sessenta por cento, será utilizado na hipótese de bens aplicados à produção”; § 11. Na hipótese do parágrafo anterior, o preço a ser utilizado como parâmetro de comparação será a diferença entre o preço líquido de venda e a margem de lucro de sessenta por cento, considerando-se, para esse fim: I – preço líquido de venda, a média aritmética dos preços de venda do bem produzido, diminuído dos descontos incondicionais concedidos, dos impostos e contribuições sobre as vendas e das comissões e corretagens pagas; II – margem de lucro, o resultado da aplicação de sessenta por cento sobre a média aritmética dos preços de venda do bem produzido, diminuído dos descontos incondicionais concedidos, dos impostos e contribuições sobre as vendas, das comissões pagas e do valor agregado ao bem produzido no País. Com base na redação acima, o esquema para se encontrar o preço parâmetro com base na Instrução Normativa é o seguinte (exemplo): Dados

• Custo importado - 2.000 • Custo Agregado - 1.000 • Custo do produto acabado - 3.000 • Preço de venda unitário - 5.000 - quantidade vendida = 100 unidades

________________________________________________________________________ • Preço líquido na venda (100 unidades x $ 5.000)....................... 500.000 • ( - ) Descontos Incondicionais (hipótese)................................... (8.000) • ( - ) Impostos sobre Vendas (27,25% x 480.000)....................... (130.800) • ( - ) Comissões pagas (hipótese)................................................. ( 5.200)

Sub-total...................................................................................... 356.000 Valor agregado no país ($ 1.000 x 100 unidades)........................ (100.000) BASE PARA A MARGEM........................................................ 256.000 Margem de 60% x $ 256.000....................................................... 153.600 Preço Parâmetro ($356.000 - $ 153.600)...................................... 202.400 Preço Parâmetro unitário ($ 202.400 / 100).................................. 2.024 Preço praticado na importação...................................................... 2.000 Ajuste Inexistente - preço parâmetro > praticado.................. –o-

76

§ 10 e 11 da IN-SRF 243/2.002

§ 10. “Para efeito da aplicação do método de sessenta por cento, será utilizado na hipótese

de bens, serviços ou direitos importados aplicados à produção”;

§ 11. Na hipótese do parágrafo 10, o preço parâmetro dos bens, serviços ou direitos

importados será apurado excluindo-se o valor agregado no País e a margem de lucro de

sessenta por cento, conforme metodologia a seguir:

I – preço líquido de venda: a média aritmética ponderada dos preços de venda do bem

produzido, diminuído dos descontos incondicionais concedidos, dos impostos e

contribuições sobre as vendas e das comissões e corretagens pagas;

II – percentual de participação dos bens, serviços ou direitos importados no custo total do

bem produzido: a relação percentual entre o valor do bem, serviço ou direito importado e

o custo total to bem produzido, calculada em conformidade com a planilha de custos da

empresa;

III – participação dos bens, serviços ou direitos importados no preço de venda do bem

produzido: a aplicação do percentual de participação do bem, serviço ou direito importado

no custo total, apurado conforme inciso II, sobre o preço líquido de venda calculado de

acordo com o inciso I;

IV – margem de lucro: a aplicação do percentual de sessenta por cento sobre a

“participação do bem, serviço ou direito importado no preço de venda do bem produzido”,

calculado de acordo com o inciso III;

V – preço parâmetro: a diferença entre o valor da “participação do bem, serviço ou direito

importado no preço de venda do bem produzido” calculado conforme o inciso III, e a

margem de lucro de sessenta por cento, calculada de acordo com o inciso IV.

77

Com base na redação acima, o esquema para se encontrar o preço parâmetro com base na

Instrução Normativa é o seguinte (exemplo):

Dados

• Custo importado - 2.000 = 67%

• Custo Agregado - 1.000 = 33%

• Custo do produto acabado - 3.000 = 100%

• Preço de venda unitário - 5.000 = quantidade vendida = 100 unidades

________________________________________________________________________

• Preço líquido na venda (100 unidades x $ 5.000)........ 500.000

• ( - ) Descontos Incondicionais (hipótese).................... (8.000)

• ( - ) Impostos sobre Vendas (27,25% x 480.000)......... (130.800)

• ( - ) Comissões pagas (hipótese).................................. ( 5.200)

Sub-total ( I )............................................................... 356.000

Percentual de participação do bem importado ( II )...... 67%

Venda proporcional do bem importado ( III )................. 238.520

Margem de Lucro de 60% ( IV ).................................... 143.112

Preço parâmetro( V ) = ( $ 238.520 - $ 143.112).......... 95.408

Preço parâmetro unitário ( $ 95.408 / 100).................... 954,08

Preço praticado (aplicado na produção)........................ 2.000,00

Ajuste unitário ( $ 2.000,00 – 954,08).......................... 1.045,92

Tomando como dados os elementos acima, a seguir será comparado o cálculo do

preço parâmetro com base na IN-SRF 32/01 e 243/02:

78

Quadro comparativo

Quadro 3.8.

Descrição IN-SRF 32/01 Lei 9959/00

IN-SRF 243/02

Venda (100 unidades x $ 5.000) 500.000 500.000( - ) Descontos incondicionais (8.000) (8.000)( - ) Impostos e contribuições sobre vendas (130.800) (130.800)( - ) Comissões pagas (5.200) (5.200)SUB – TOTAL 356.000 356.000Percentual de participação bem importado 67%Valor proporcional do bem importado 238.520( - )Valor agregado no Brasil (100 x $ 1.000) (100.000) Base para a Margem dos 60% 256.000 238.520Margem dos 60% (60% x $256.000) ou (60% x $ 238.520) (153.600) 143.112Preço parâmetro ($ 356.000 – $ 153.600) ou ($ 238.520 – 143.112) 202.400 95.408Preço parâmetro unitário ($ 202.400 / 100) ou ($ 95.408 / 100) 2.024 954Preço praticado (importação da matéria prima) 2.000 2.000AJUSTE AO LUCRO ($ 2.000 - $ 954) -o- 1.046

Observamos que o ajuste unitário no valor de R$ 1.046 no cálculo efetuado pela IN-

SRF 243/02, se dá em razão da mudança na forma se efetuar o cálculo do preço parâmetro. A

nova metodologia introduzida pela referida IN-SRF gera uma considerável distorção na forma de

se apurar o preço parâmetro, conforme foi demonstrado no quadro acima.

A nova sistemática eleva a base de cálculo dos tributos sobre o lucro, e

consequentemente aumento da carga tributária. Vale dizer que estamos diante de uma

inconstitucionalidade, visto que com a sistemática de cálculo anunciada pela referida

Instrução Normativa, alterou o enunciado da IN-SRF 32/01 que regulamentou a Lei

9.959/2000. No nosso ordenamento jurídico, não se permite que uma Instrução Normativa

altere base de cálculo de tributos, tendo como conseqüência a majoração da carga

tributária.

79

Vejamos o que diz a Constituição Federal no seu artigo 146 inciso III letra a:

“Cabe a lei complementar: ...III – estabelecer normas gerais em matéria de

legislação tributária, especialmente sobre: a) definição de tributos e de suas espécies, bem

como, em relação aos impostos discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos

geradores, bases de cálculo e contribuintes” – grifo nosso.

Dentro dessa linha de raciocínio prega o Código Tributário Nacional - CTN, em seu

artigo 97, incisos II e IV:

Art. 97

Somente a lei pode estabelecer:

........................................................................................................................

II – a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos arts. 21, 26,

39, 57 e 65;

........................................................................................................................

IV – a fixação da alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto

nos arts. 21, 26, 39, 57 e 65.

§ 1º. – Equipara-se à majoração do tributo a modificação de sua base de cálculo,

que importe em torná-lo mais oneroso.

Assim, a mudança na forma de cálculo estabelecida pela IN-SRF 243/02 para o

método PRL diminuído da margem de lucro de 60% representa uma afronta aos diplomas

legais citados acima.

Comentários à parte, a respeito da inconstitucionalidade, seguiremos com a

metodologia do PRL diminuído de vinte por cento e PRL diminuído de 60%, conforme

determina a Instrução Normativa – SRF 243/02.

80

Os preços de revenda, a serem considerados, serão os praticados pela própria

empresa importadora, em operações de venda a varejo e no atacado, com compradores,

pessoa físicas ou jurídicas, que não sejam a ela vinculadas.

Os preços médios de aquisição e revenda serão ponderados em função das

quantidades negociadas.

Na determinação da média ponderada dos preços, serão computados os valores e as

quantidades relativas aos estoques existentes no início do período de apuração.

Para efeito desse método, a média aritmética ponderada do preço será determinada

computando-se as operações de revenda praticadas desde a data da aquisição até a data do

encerramento do período de apuração.

Se as operações consideradas para determinação do preço médio contiverem vendas

à vista e a prazo, os preços relativos a estas últimas deverão ser escoimados dos juros neles

incluídos, calculados à taxa praticada pela própria empresa, quando comprovada a sua

aplicação em todas as vendas a prazo, durante o prazo concedido para o pagamento. Neste

caso, não sendo comprovada a aplicação consistente de uma taxa, o ajuste será efetuado

com base na taxa:

• Selic, para títulos federais, proporcionalizada para o intervalo, quando comprador e

vendedor forem domiciliados no Brasil;

• Libor, para depósitos em dólares americanos pelo prazo de seis meses, acrescida de

três por cento anuais a título de spread, proporcionalizada para o intervalo, quando

uma das partes for domiciliada no exterior.

81

Considera-se:

Descontos incondicionais: os descontos concedidos que não dependa de eventos

futuros, ou seja, os que forem concedidos no ato de cada revenda e constar da

respectiva nota fiscal;

Impostos, contribuições: e outros encargos cobrados pelo poder público,

incidentes sobre vendas, aqueles integrantes do preço, tais como: ICMS, ISS,

PIS/PASEP, e COFINS;

Comissões e Corretagens: os valores pagos e os que constituírem obrigação de

pagar, a esse título, relativamente às vendas dos bens, serviços ou direitos, objeto

em análise.

No caso de margem de lucro de vinte por cento, na hipótese de revenda de bens,

será aplicada sobre o preço de revenda, constante da nota fiscal excluídos,

exclusivamente, os descontos incondicionais concedidos.

O método do Preço de Revenda menos Lucro - PRL mediante a utilização da

margem de lucro de vinte por cento somente será aplicado nas hipóteses em que não haja

agregação de valor no País ao custo dos bens, serviços ou direitos importados,

configurando, assim, simples processo de revenda dos mesmos bens, serviços ou direitos

importados.

O método do Preço de Revenda menos Lucro – PRL mediante a utilização da

margem de lucro de sessenta por cento somente será utilizado na hipótese de bens,

serviços ou direitos importados aplicados à produção. Segundo pergunta nr. 712 da

Secretaria da Receita Federal, o acondicionamento ou reacondicionamento não implica a

produção de outro bem, serviço ou direito. Para esses casos deve ser aplicado o PRL-20%.

82

Preço de revenda menos margem de lucro de 60%

A Lei 9.959 de 27.01.00 alterou a metodologia do cálculo do PRL- 60%, que entrou

em vigor a partir de 1º. de janeiro de 2.000, onerando consideravelmente as pessoas

jurídicas que importam matéria-prima para a aplicação no processo produtivo.

O preço parâmetro dos bens, serviços ou direitos importados será apurado

excluindo-se o valor agregado no País e a margem de lucro de sessenta por cento,

conforme metodologia a seguir:

Preço Líquido de Venda: média aritmética ponderada dos preços de venda do

bem produzido, diminuídos dos descontos incondicionais concedidos, dos impostos

e contribuições sobre as vendas e das comissões e corretagens pagas;

Percentual de participação dos bens, serviços ou direitos importados no custo

total do bem produzido: a relação percentual entre o valor do bem, serviço ou

direito importado e o custo total do bem produzido, calculada em conformidade

com a planilha de custos da empresa;

Participação dos bens, serviços ou direitos importados no preço de venda do

bem produzido: a aplicação do percentual de participação do bem, serviço ou

direito importado no custo total, apurado conforme o item 2 retro, sobre o preço

líquido de venda calculado de acordo com o item 1 retro;

Margem de Lucro: a aplicação do percentual de sessenta por cento sobre a

“participação do bem, serviço ou direito importado no preço de venda do bem

produzido”, calculado de acordo com o item 3 retro;

Preço parâmetro: a diferença entre o valor da “participação do bem, serviço ou

direito importado no preço de venda do bem produzido”, calculado de acordo com

o item 4 retro.

83

Em outras palavras, pode-se afirmar que a inovação trazida pela IN-SRF 243/02, no

que diz respeito aos bens importados aplicados na produção na metodologia do PRL

diminuído de 60% de margem de lucro, é que tomamos a relação percentual do custo de

importação sobre o custo total do bem produzido e aplicamos sobre a venda líquida total

(venda diminuída dos descontos incondicionais, impostos sobre vendas e comissões e

corretagens). Sobre esse valor encontrado aplicamos os 60% de margem, que diminuída do

cálculo anterior nos fornecerá o preço parâmetro.

Quadro 3.9. Esquema PRL

MÉTODO DO PREÇO DE REVENDA MENOS LUCRO – PRL Bens, Serviços e Direitos Idênticos ou Similares

Média Aritmética dos Preços de Revenda para pessoas não vinculadas praticados pela importadora no varejo e no atacado

( - ) Descontos Incondicionais Concedidos ( - ) Impostos e Contribuições Incidentes sobre Vendas

( - ) Comissões e Corretagens pagas, relativas às vendas dos bens, serviços ou direitos

( - ) Margem de Lucro ( 60% para bens de consumo e 20% para os demais)

CÁLCULO DA MARGEM DE LUCRO BENS APLICADOS NA PRODUÇÃO DEMAIS BENS, SERVIÇÓS E DIREITOS

Venda do produto Revenda do Produto ( - ) Descontos Incondicionais ( - ) Descontos Incondicionais ( - ) Impostos sobre Vendas ( - ) Comissões e Corretagens

1 – SUB – TOTAL

% do custo importado x sub-total

Margem para a aplicação dos 60% Margem para a aplicação dos 20%

Margem de Lucro de 60% Margem de Lucro de 20%

PREÇO PARAMETRO PREÇO PARÂMETRO

Para melhores esclarecimentos, vide exemplo numérico a seguir:

84

Exemplo 3.2 (exemplo numérico) Custo de importação - $ 200; custo agregado = 300;

custo final = $ 500; média de venda produto final $ 1.000 por unidade; venda de

importado = $ 600. O produto utilizado na produção também é revendido.

Quadro 3.10. Cálculo da Margem

DESCRIÇAO PRODUÇAO REVENDA Média de venda / revenda 1.000 600 Descontos Incondicionais (80) (40) Impostos sobre vendas / revendas (220) (132) Comissões e corretagens 100 (10) SUB TOTAL 600 418 Proporção do custo importado 40% Não se aplica Base para a aplicação da margem 240 560 Margem de 60% / 20% 144 112 PREÇO PARÂMETRO 96 306 Praticado 200 200 Excesso de custo – ajuste ao lucro 104 -o-

Exemplo 3.3 (exemplo com mais de uma matéria prima) A Cia ABC importou as

seguintes matérias primas que foram utilizados no processo produtivo no ano-calendário

de 2.006, já considerado todos os custos de importação e convertido em reais, a saber:

Produto Unitário R$ participação

matéria prima A - 20,00 25,00% matéria prima B - 30,00 37,50% custo Brasil - 30,00 37,50% Total...................................... - 80,00 100,00%

A mercadoria acima foi vendida a um preço médio de R$ 150

Custo importado = 62,50%

85

Quadro 3.11.

DESCRIÇAO TOTAL PROD. A PROD. B

Preço Médio de venda 150,00 150.00 150.00

Descontos Incondicionais (3,00) (3,00) (3,00)

Impostos sobre vendas (40,00) (40,00) (40,00)

Juros, comissões e corretagens (7,00) (7,00) (7,00)

SUB TOTAL 100,00 100,00 100,00

Proporção do custo importado 62,50% 25,00% 37,50%

Base para a aplicação da margem 62,50 25,00 37,50

Margem de 60% 37,50 15,00 22,50

PREÇO PARÂMETRO 25,00 10,00 15,00

Praticado 50,00 20,00 30,00

AJUSTE AO LUCRO 25,00 10,00 15,00

O exemplo acima demonstra que, caso a pessoa jurídica venha utilizar mais de uma

matéria prima no processo produtivo, não há necessidade de calcular matéria-prima à

matéria-prima, pois o ajuste total do preço de transferência relativo ao percentual de

importado aplicado no produto final é igual ao ajuste, se calculado produto a produto.

Para a importação de Matéria-prima para a aplicação no processo produtivo,

recomenda-se tomar as seguintes providências:

• Ter controle rigoroso da participação de produto importado no produto final;

• Para os produtos acabados, evidenciar no controle (ficha de estoque, mapas, etc)

qual é a proporção do custo importado no custo total;

A legislação não trata, pelo menos até hoje, de procedimentos a serem adotados na

aplicação do preço de transferência no caso de arbitramento de estoque, mas entendemos

86

que aplica-se a mesma regra, segregando do produto acabado o percentual do custo de

importação, para fins de apuração do preço parâmetro, conforme demonstrado

anteriormente.

As providências acima muito contribuirão para o cálculo do preço de transferência,

e caso o contribuinte trabalha com estoque arbitrado, recomenda-se a implantação do custo

integrado, evitando assim, sobrecarga tributária.

Preço de revenda menos margem de lucro de 20%

O método do Preço de Revenda menos Lucro - PRL mediante a utilização da

margem de lucro de vinte por cento somente será aplicado nas hipóteses em que não haja

agregação de valor no País ao custo dos bens, serviços ou direitos importados,

configurando, assim, simples processo de revenda dos mesmos bens, serviços ou direitos

importados.

Esse método, bastante utilizado no Brasil (diria que é o mais utilizado), por

dificuldades em conseguir dados para a utilização do PIC e CPL. Em certas situações, pode

ser um tanto injusto, pois ainda que a importação seja praticada com preço subfaturado, a

legislação exige, generalizando, uma margem mínima de lucro de vinte por cento. Veja o

exemplo a seguir:

87

Exemplo 3.4 Dados:

Um determinado produto x é negociado no mercado por R$ 1.000 a unidade.

A importadora importa esse produto de sua vinculada por R$ 800.

Revende o referido produto por R$ 950

Comparação PRL – 20% e PIC

Quadro 3.12.

DESCRIÇÃO PIC PRL

Preço praticado na importação 800 800 Preço de revenda -o- 950 ( - ) margem de Lucro – 20% -o- (190)

Preço parâmetro 1.000 760

Ajuste ($ 800 – $ 760) -o- 40

Mesmo praticando um preço na importação inferior ao de mercado, a empresa

ainda estará sujeita ao ajuste para fins tributário. Naturalmente que se o contribuinte

conseguir informações do preço PIC, a opção deixaria de ser o PRL, saindo do referido

ajuste.

No exemplo acima, supondo que a pessoa jurídica não obtivesse o preço parâmetro

PIC, no valor de $ 1.000, a aceitação do PRL – 20% poderá colocar o contribuinte numa

situação de descontinuidade, visto que terá prejuízo no período e um ajuste ao lucro da

ordem de $ 40, o que aumentará ainda mais o prejuízo com o possível aumento da carga

tributária (CSLL e IRPJ).

Com base nos dados do exemplo da metodologia PIC, desenvolveremos a seguir

um exemplo tomando como base o método PRL diminuído de margem de lucro de 20%:

88

Exemplo 3.5 Dados

Data da importação – 01.08.06 – 300 máquinas – USA.

Valores já convertidos em reais;

Importação a vista.

Custo de aquisição - R$ 2.025.000

Frete mais seguro - R$ 100.000

Impostos não Recuperáveis - R$ 125.000 2.250.000 já convertido

Máquinas adquiridas - 300;

Máquinas imobilizadas - 50;

Máquinas vendidas - 180;

Estoque Final de máquinas - 70.

Quadro 3.13.

Ficha de Movimentação de Estoque

2006 ENTRADA SAÍDA SALDO Data Histórico Qt. $U $ total QT. $U $ total QT $U $total 01/08 Importação 300 7.500 2.250.000 300 7.500 2.250.00030.09 Transferência 50 7.500 375.000 250 7.500 1.875.00030.11 Baixa p/venda 120 7.500 900.000 130 7.500 975.00031.12. Idem 60 7.500 450.000 70 7.500 525.000 31.12. Saldo 70 7.500 525.000

Preço médio praticado na venda para não vinculados

Venda a vista no período:

Cliente A.................................... 30 x $ 10.101 = 303.030

Cliente B.................................... 70 x $ 8.700 = 609.000

Cliente C.................................... 20 x $ 11.000 = 220.000

Cliente D.................................... 60 x $ 12.168 = 730.080

Total........................................... 180 x $ 10.345 = 1.862.110 Preço médio ($1.862.110 / 180)..................................... = 10.345

89

Busca do preço parâmetro

DESCRIÇÃO VALOR R$ Preço de Revenda Médio 10.345 ( - ) Descontos incondicionais (345) ( - ) ICMS sobre vendas – 18,00% (1.800) ( - ) Cofins sobre Vendas – 7,60% (760) ( - ) Pis sobre Vendas – 1,65% (165) ( - ) Juros Selic – mercado nacional (vide abaixo) (106) ( - ) Comissões e Corretagens (vide abaixo) (54) ( - ) Margem de Lucro de 20% (2.000) PREÇO PARÂMETRO 5.115

Conforme determina a legislação, para aplicar-se à margem de 20%, toma-se o valor das vendas, deduzido dos descontos incondicionais. Assim, para o exemplo acima, temos que: Venda...................................................... 10.345 ( - ) Descontos Incondicionais................ ( 345) Base para aplicação da margem de 20%. 10.000 Margem de 20%.................................... 2.000 Verificação da margem de divergência: DESCRIÇÃO Valor R$

Preço médio parâmetro – 1 5.115Margem de divergência – 5,00% 256Preço parâmetro – 2 5.371Preço praticado 7.500

Sujeito ao ajuste do preço de transferência

Ajuste unitário (R$ 7.500 – R$ 5.115) 2.385

Resumo do excesso de custo:

Custo das Mercadorias Vendidas

Praticado 180 x 7.500 = 1.350.000

Parâmetro 180 x 5.115 = 920.700 429.300

90

A pessoa jurídica poderá elaborar o cálculo dentro da própria ficha de estoque. Isso

facilitará a visualização e controle, conforme demonstrado a seguir:

Quadro 3.14.

Ficha de Movimentação de Estoque

2006 ENTRADA SAÍDA SALDO Data Histórico Qt. $U $ total QT. $U $ total QT $U $total 01/08 Importação 300 7.500 2.250.000 300 7.500 2.250.00030.09 Transferência 50 7.500 375.000 250 7.500 1.875.00030.11 Baixa p/venda 120 7.500 900.000 130 7.500 975.00031.12. Idem 60 7.500 450.000 70 7.500 525.000

Cálculo do Preço de Transferência VALOR

R$ Preço de Revenda Médio 10.345 ( - ) Descontos incondicionais (345) ( - ) ICMS sobre vendas – 18,00% (1.800) ( - ) Cofins sobre Vendas – 7,60% (760) ( - ) Pis sobre Vendas – 1,65% (165) ( - ) Juros Selic – mercado nacional (vide abaixo) (106) ( - ) Comissões e Corretagens (vide abaixo) (54) ( - ) Margem de Lucro de 20% (2.000) Preço parâmetro – 1 5.115 Mais margem de lucro de 5% 256 Preço parâmetro – 2 5.371 Praticado 7.500 Ajuste 180 x $ 2.385 (7.500 – 5.115) 429.300

31.12. Saldo 70 7.500 525.000

Despesas com Depreciação

O excesso de despesa com depreciação fica limitado ao montante calculado com base nos

critérios PIC e CPL, havendo revenda poderá também ser utilizado o PRL.

91

Comissões e Corretagens:

Na venda de diversos produtos, dificilmente o profissional incumbido de elaborar o

preço de transferência terá segregado o quanto de comissão e corretagens estão

relacionados com cada produto, ou seja, qual é o valor cobrado sobre cada operação de

venda produto a produto. Nesse caso, como o cálculo deve ser feito produto a produto,

recomenda-se ratear as comissões e corretagens proporcionalmente o volume de vendas de

cada produto no período de apuração, conforme demonstrado a seguir:

Consta no balancete de verificação um valor de comissão no valor de R$ 400.000,

para um volume de venda do período de R$ 60.000.000, distribuído entre produtos A, B e

C. Assim o rateio será feito da seguinte forma:

Quadro 3.15.

Comissões

Descrição Valor da venda Participação % Total Por produto

Venda produto A 15.000.000 25% 400.000 100.000

Venda produto B 18.000.000 30% 400.000 120.000

Venda produto C 27.000.000 45% 400.000 180.000

Total 60.000.000 100% 400.000

Como para se apurar o preço parâmetro toma-se o valor por unidade, para se

descobrir o valor da comissão de corretagens basta dividir o valor das comissões pela

quantidade de produtos vendidos no período de apuração.

92

Juros nas Operações a Prazo

Devem ser deduzidos para a apuração do preço parâmetro, os juros praticados nas

vendas a prazo. Os juros a serem deduzidos são os fixados pela empresa, e caso, não haja

uma política de juros estabelecida, toma-se:

• A taxa selic, para títulos federais, proporcionalizada para o intervalo, quando

comprador e vendedor forem domiciliados no Brasil;

• Libor mais spread de 3% ao ano, quando uma das partes for domiciliada no

exterior.

No exemplo acima, tivemos duas operações de venda, uma no dia 30.11.06 e outra

no dia 31.12.06, ambas com prazo de trinta dias para recebimento. Como a empresa não

possui uma política definida para juros, que os juros selic da primeira operação foi de

1,02% e da segunda de 1,10% (hipóteses). Assim tomamos a selic média para os dois

períodos que é de 1,06 (1,02 + 1,10)/2 e deduzimos do preço, conforme nossa memória de

cálculo demonstrada dentro da ficha de estoque retro, totalizando um juros de R$ 106,00 =

(1,06% x $ 10.000).

Admitindo agora que no exemplo aqui explanado, a pessoa jurídica tem um lucro

de R$ 100.000 antes da CSLL, teremos:

93

Quadro 3.16.

DESCRIÇÃO LACOS LALUR

Resultado antes dos Tributos 100.000 52.363 Adições Custo de mercadoria vendida – PT 429.300 429.300 Depreciação – PT (sem revenda método não permitido) -o- -o- Provisão para CSLL 47.637 Exclusões Não houve -o- -o-

LUCRO REAL 529.300 529.300

Quadro 3.17.

D.R.E

DESCRIÇÃO VALOR R$

RESULTADO OPERACIONAL X

Venda do ativo permanente Y

( - ) Custo do ativo permanente vendido Z

RESULTADO ANTES DA CSLL 100.000

( - ) Provisão para CSLL (47.637)

RESULTADO ANTES DO IRPJ 52.363

( - ) Provisão para IRPJ (108.325)

LUCRO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO (55.962)

Memória de cálculo

CSLL 47.637 = ($ 529.300 x 9%)

IRPJ 79.395 = (529.300 x 15%) + 28.930 = ($289.300 x 10%)

Contabilização:

Débito - Provisão para CSLL (resultado) - 47.637

Débito - Provisão para IRPJ (resultado) - 108.325

Crédito - Provisão para CSLL (passivo circulante) - 47.637

Crédito - Provisão para IRPJ (passivo circulante) - 108.325

94

LACOS

Livro de Apuração da Contribuição Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. Este livro

foi instituído pela IN-SRF 390/04. Ele tem o mesmo formato do LALUR – Livro de

Apuração do Lucro Real, instituído pela IN-SRF 28/78 e tem como objetivo efetuar os

ajustes ao lucro que não devem ser tributados ou deduzidos da base de cálculo da CSLL.

3.3.3. CPL – Custo de Produção Mais Lucro

Essa sistemática tem como objetivo determinar um custo de aquisição, para o

importador brasileiro, que remunere o exportador no exterior com uma margem bruta

máxima de vinte por cento sobre o custo médio dos bens, direitos e serviços antes da

incidência dos impostos e taxas do país de origem.

Na determinação do Método do Custo de Produção mais Lucro – CPL,

determinado pela IN-SRF 243/02, a sistemática de apuração do preço parâmetro foi

regulamentada pelo artigo 13 da referida IN-SRF, que será reproduzido a seguir:

Art. 13 – IN-SRF 243 de 11.11.2.002:

“Art. 13 – A determinação do custo de bens, serviços e direitos adquiridos no exterior

dedutível na determinação do lucro real, poderá, ainda, ser efetuada pelo método do Custo

de Produção mais Lucro (CPL), definido como o custo médio de produção de bens,

serviços ou direitos, idênticos ou similares, no país onde tiverem sido originariamente

produzidos, acrescido dos impostos e taxas cobrados pelo referido país, na exportação, e

de margem de lucro de vinte por cento, calculada sobre o custo apurado”.

§ 1o. – Na apuração do preço por esse método serão considerados exclusivamente os custos

a que se refere o § 4o., incorridos na produção do bem, serviço ou direito, excluídos

quaisquer outros, ainda que ser refira a margem de lucro de distribuidor atacadista.

95

§ 2o. – Os custos de produção deverão ser demonstrados discriminadamente, por

componente, valores e respectivos fornecedores.

§ 3o. – Poderão ser utilizados dados da própria unidade fornecedora ou de unidades

produtoras de outras empresas, localizadas no país de origem do bem, serviço ou direito.

§ 4o. – para efeito de determinação do preço por esse método, poderão ser computados

como integrantes do custo:

1. O custo de aquisição das matérias-primas, dos produtos

intermediários e dos materiais de embalagem utilizados na produção

do bem, serviço ou direito;

2. O custo de quaisquer outros bens, serviços ou direitos aplicados ou

consumidos na produção;

3. O custo do pessoal, aplicado no produção, inclusive de supervisão

direta, manutenção e guarda das instalações de produção e os

respectivos encargos sociais incorridos, exigidos ou admitidos pela

legislação do país de origem;

4. Os custos de locação, manutenção e reparo e os encargos de

depreciação, amortização ou exaustão dos bens, serviços ou direitos

aplicados na produção;

5. Os valores das quebras e perdas razoáveis, ocorridas no processo

produtivo, admitidas pela legislação fiscal do país de origem do bem,

serviço ou direito.

96

§ 5o. – Na determinação do custo do bem, serviço ou direito, adquirido pela empresa no

Brasil, os custos referidos no parágrafo anterior, incorridos pela unidade produtora no

exterior, serão considerados proporcionalmente às quantidades destinadas à empresa no

Brasil.

§ 6o. – No caso de utilização de produto similar, para aferição do preço, o custo de

produção deverá ser ajustado em função das diferenças entre o bem, serviço ou direito

adquirido e o que estiver sendo utilizado como parâmetro.

§ 7o. – A margem de lucro a que se refere o caput será aplicada sobre os custos apurados

antes da incidência dos impostos e taxas incidentes, no país de origem, sobre o valor dos

bens, serviços e direitos adquiridos pela empresa no Brasil”.

Ajustes CPL

• Custos diretos de produção no exterior;

• Custos indiretos de produção no exterior;

• Valores de quebras e perdas razoáveis;

• Custo proporcional, enviado ao Brasil;

Quadro 3.18. Esquema básico de apuração do CPL

MÉTODO DO CUSTO DE PRODUÇÃO MAIS LUCRO – CPL Bens, Serviços e Direitos idênticos ou similares.

Custo médio de Produção no País de Origem (+) Impostos e Taxas cobrados pelo referido país, na exportação (+) Margem de Lucro de 20% sobre o custo apurado, antes da incidência dos impostos e taxas, no país de origem, sobre o valor dos bens, serviços e direitos adquiridos pela empresa no Brasil.

97

Documentos hábeis para a comprovação dos custos de produção no exterior

Os documentos hábeis para a comprovação dos custos de produção dos bens e

serviços importados poderão ser as cópias dos documentos que embasaram os registros

constantes dos livros contábeis, tais como (resposta à questão 710 enviada a SRF nr. 710):

• Faturas comerciais de aquisição das matérias primas e outros bens ou serviços

utilizados na produção;

• Planilhas de rateio do custo de mão de obra;

• Cópias da folha de pagamento;

• Comprovantes com custo de locação, manutenção e reparo dos equipamentos

aplicados na produção;

• Demonstrativos dos percentuais e dos encargos de depreciação, amortização ou

exaustão utilizados;

• Quebras e perdas alocadas;

• Cópia da declaração do imposto sobre a renda entregue ao fisco do outro país,

equivalente a DIPJ do Brasil.

A SRF vai além: diz que qualquer documento de procedência estrangeira, para

produzir efeitos legais no País e para valer contra terceiros e em repartições da União, dos

Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios ou em qualquer instância,

juízo ou tribunal, deve ser vertido em vernáculo. Além disso, dever ser legalizado em seu

país de origem, ou seja, notarizado, consularizado e registrado em Cartório de Registro de

Títulos e Documentos e traduzidos por tradutor juramentado.

98

Esquema básico

Custo de produção - 1.000

Tributos na importação - 400

Margem de lucro – 20% - 200

PREÇO PARÂMETRO - 1.600

Exemplo 3.6 Caso prático: CPL

Empresa A – estabelecida nos Estados Unidos, que fabrica máquinas de Tear, teve

aplicado na produção o seguinte (já convertido para reais)

Descrição Valor R$

Fornecedor Alfa - matéria prima................... 1.101.000

Fornecedor Beta - Materiais indiretos........... 495.000

Mão de Obra aplicado na Produção...................... 165.000

Fornecodor Gama – outros.................................... 120.000

Custo de importação.............................................. 193.500

Custo total aplicado na produção....................... 2.074.500

Quantidade produzida............................................ 300

Valor unitário....................................................... 6.915

Custo CAP............................................................. 6.915

Margem de 20%..................................................... 1.383

PREÇO PARÂMETRO...................................... 8.298

Quadro 3.19. Verificação da margem de divergência

DESCRIÇÃO Valor R$ Preço médio parâmetro – 1 8.298Margem de divergência – 5,00% DesnecessárioPreço parâmetro – 2 8.298Preço praticado 7.500

Sem ajuste do preço de transferência praticado < parâmetro

99

Abaixo será mostrado um quadro comparativo para as três metodologias utilizadas

na importação do produto – Máquina Tear Touch the Gold.

Quadro 3.20.

A J U S T E S Qtde. Método Praticado Parâmetro Diferença C M V Depreciação 180 PIC 7.500 5.479 2.021 363.780 8.421180 PRL 7.500 5.115 2.385 429.300 -o-180 CPL 7.500 8.298 -o- -o- -o-

Ajustes ao lucro a ser efetuado – método CPL............. Não Não

Escolha do método:

Analisando o quadro acima, percebemos que dos três métodos o mais adequado é o

CPL, pois é o que mais se aproxima do princípio do arms lenght (princípio do não

favoritismo). Caso a pessoa jurídica tivesse a possibilidade de apurar os três métodos, não

estaria sujeito a ajustar o lucro. Mas na ausência do CPL, a opção deverá ser pelo PIC

(menor ajuste).

3.4. Tratamento Contábil e Fiscal do Excesso de Custo

Conforme artigo 5o. da IN-SRF 243/02, após apurados por um dos métodos de

importação, os preços a serem utilizados como parâmetro, nos casos de importação de

empresas vinculadas ou equiparadas (paraísos fiscais, interposta pessoa), serão comparados

com os constantes dos documentos de aquisição.

Se o preço praticado na aquisição, pela empresa vinculada, domiciliada no Brasil,

for superior àquele utilizado como parâmetro, decorrente da diferença entre os preços

comparados, o valor resultante do excesso de custo, despesas ou encargos, considerado

100

indedutível na determinação do lucro real e da base de cálculo da CSLL, seja ajustado

contabilmente por meio dos lançamentos contábeis abaixo:

1. Ativo que permanecem no balanço até o final do período de apuração:

Débito : Lucro ou Prejuízo Acumulado (Patrimônio Líquido)

Crédito : Próprio ativo que registra o Bem

2. Já baixado como custo ou despesa no período:

Débito : Lucro ou Prejuízo Acumulado (Patrimônio Líquido)

Crédito : Custo ou despesa do período de apuração

3. Quotas de Depreciação, Amortização ou Exaustão já realizadas:

Débito : Lucro ou Prejuízo Acumulado (Patrimônio Líquido)

Crédito : Depreciação, Amortização ou Exaustão (período-base).

4. Bens integrantes do ativo permanente – não baixados:

Débito : Lucro ou Prejuízo Acumulado (Patrimônio Líquido)

Crédito : Do próprio ativo permanente que deu origem

Entende-se que a partir do ano-calendário de 2002, a pessoa jurídica sujeita as

regras do preço de transferência devem adotar essa nova forma de contabilização do

excesso de custo na importação.

101

Tomando como base o exemplo desenvolvido anteriormente (escolhido o método

PIC), teremos os seguintes ajustes:

Máquinas adquiridas - 300

Máquinas imobilizadas - 50

Máquinas vendidas - 180

Máquinas em estoque - 70

Preço praticado - $ 7.500

Preço Parâmetro - $ 5.479

Ajuste unitário ao lucro - $ 2.021

O registro contábil fica assim:

Quadro 3.21.

Preço praticado = $ 7.500; preço parâmetro = $ 5.479 = ajuste unitário = $ 2.021 DESTINO PRATICADO PARÂMETRO DIFERENÇA

CMV – 180 vendidas 1.350.000 986.220 363.780Estoque – 70 – saldo 525.000 383.530 141.470Imobilizado – 50 – 375.000 273.950 101.050Despesas com Depreciação 31.250 22.829 8.421

C O N T A B I L I Z A Ç Ã O

CONTA CMV ESTOQUE IMOBILIZ. DEPREC.

Déb. Lucro / Prej.Acumulado 363.780 141.470 101.050 8.421Créd. Custo Merc. Vendidas 363.780 Créd. Estoque 141.470 Créd. Imobilizado 101.050 Créd. Despesas de Depreciação 8.421

RESULTADO AJUSTADO 986.220 383.530 273.950 22.829 Nota-se que os valores que devem figurar no CMV ($ 986.220), Estoque ($

383.530) , Imobilizado ($ 273.950), e despesa com depreciação ($ 22.829), são os

efetivamente determinados pela legislação fiscal, conforme mostrado acima. Todavia, há

um valor que está incorreto - Depreciação Acumulada (ativo permanente), pois a

102

contabilização se deu pelo valor praticado, quando na verdade deveria ser pelo preço

parâmetro. A diferença é de R$ 8.421 (31.250 – 22.829). Para que o valor da depreciação

acumulada fique compatível com o ativo imobilizado, devemos fazer o seguinte ajuste:

Debito - Depreciação Acumulada (ativo permanente) - 8.421

Crédito - Lucros / Prejuízos Acumulados (patrimônio líquido) - 8.421

Com os lançamentos acima teremos: Ativo permanente

Máquinas - 273.950

( - ) Depreciação Acumulada - (22.829)

A partir do exercício seguinte, as operações são consideradas para fins contábeis e

fiscais da seguinte maneira:

• Não haverá mais ajuste no CMV – o estoque já está com o valor parâmetro;

• Não haverá mais ajuste na despesa com depreciação – a máquinas já está

ajustada;

Para a adequação da ficha de estoque, o valor ajustado na contabilidade deverá

também ser ajustado na ficha de estoque, conforme veremos a seguir:

Quadro 3.22.

Ficha de Movimentação de Estoque 2006 ENTRADA SAÍDA SALDO Data Histórico Qt. $U $ total QT $U $ total QT $U $total 01/08 Importação 300 7.500 2.250.000 300 7.500 2.250.00030.09 Transferência 50 7.500 375.000 250 7.500 1.875.00030.11 Baixa p/venda 120 7.500 900.000 130 7.500 975.00031.12 Idem 60 7.500 450.000 70 7.500 525.00031.12 Ajuste PT. 141.470 70 5.479 383.530 31.12 Saldo 70 5.479 383.530

103

No ano de 2.007, somente será aplicado o preço de transferência para os produtos

importados no referido ano, tendo em vista que o excesso de custo de 2.006, tanto no

estoque como no ativo imobilizado já foi expurgado.

Caso a empresa proceda conforme determinado acima. Deve-se atentar para o

seguinte:

1. O Lucro ou Prejuízo Acumulado ficará distorcido, pois o excesso de custo na

importação foi transferido para resultado de anos anteriores, em alguns casos,

mesmo antes da realização do ativo que deu origem ao referido excesso;

2. Dispensa o controle na base de cálculo da CSLL (LACOS), bem como na

apuração do Lucro real (LALUR), visto que por ocasião da realização o excesso

de custo tanto no estoque como no imobilizado já foi transferido para a conta de

Lucros ou Prejuízos Acumulados;

3. Na determinação da média ponderada dos preços, serão computados os valores

e as quantidades relativas aos estoques existentes no início do período de

apuração (art. 12 da IN-SRF 243/02). Entendemos que caso o ajuste do excesso

de custo seja feito no final do período de apuração, o enunciado aqui (cômputo

do estoque no início do período de apuração) não se aplica, pois todo o excesso

de custo já foi expurgado contra a conta de “Lucros ou Prejuízos Acumulados”.

Assim o preço de transferência somente será apurado com relação às aquisições

do próprio período de apuração da CSLL bem como do IRPJ.

3.5. Ajustes Pela Realização – Reflexos no JSPL

Caso a pessoa jurídica opte por adicionar, na determinação do lucro real e da base

de cálculo da CSLL, o valor do excesso apurado em cada período de apuração somente

104

por ocasião da realização por alienação ou baixa a qualquer título do bem, direito ou

serviço adquirido, o valor total do excesso apurado no período de aquisição deverá ser

excluído do patrimônio líquido, para fins de determinação da base de cálculo dos juros

sobre o capital próprio de que trata o artigo 9o. da Lei 9.249/95.

Nesse caso, a pessoa jurídica deverá registrar o valor total do excesso de preço na

aquisição em subconta própria da que registre o valor do bem, serviço ou direito

adquirido no exterior (art. 5o. § 3o. e 4o. da IN-SRF 243/02).

No nosso exemplo acima, se o excesso de custo for baixado somente pela

realização do ativo, deve ser registrado em conta distinta, conforme mostramos abaixo:

Quadro 3.23.

CONTAS PRATICADO PARÂMETRO DIFERENÇA Estoque – 70 – saldo 525.000 383.530 141.470Imobilizado – 50 – 375.000 273.950 101.050

C O N T A B I L I Z A Ç Ã O CONTAS ESTOQUE IMOBILIZADO Débito – Estoque – P.T 141.470 Crédito – Estoque 141.470 Débito – Máquinas – P.T. 101.050 Crédito – Máquinas 101.050

ajuste ao patrimônio líquido para fins de pagamento de JSPL.

No balanço patrimonial as contas acima serão apresentadas da seguinte maneira:

Ativo Circulante

Estoque - 383.530

Estoque – P.T. - 141.470

Ativo Permanente

Máquinas - 273.950

Máquinas – P.T. - 101.050

105

No exemplo anterior, caso a pessoa jurídica venha vender a metade do seu estoque

e depreciar 20% da máquina, os lançamentos contábeis deverão ser:

1. Pela baixa de 35 unidades do estoque.

Débito: Custo das Mercadorias Vendidas (resultado) - 191.765

Crédito: Mercadorias (ativo circulante) - 191.765

Baixa p/ venda (35 x $5.479)

Baixa do Estoque – P.T. (preço de transferência). Débito: Custo da Mercadoria Vendida – PT (resutlado) - 70.735

Crédito: Estoque – P.T. (ativo circulante) - 70.735

Baixa proporcional n/ período;

2. Despesas com Depreciação

Débito: Despesas com Depreciação (resultado) - 54.790

Crédito: Depreciação Acumulada – Máquinas - 54.790

Depreciação no período

Despesas com Depreciação Máquinas – PT

Débito: Despesas com Depreciação – PT - 20.210

Crédito: Deprec. Acumulada – Máquina – PT - 20.210

Depreciação no período

Os valores de Custo de Mercadorias Vendidas – PT e Despesas com Depreciação –

PT em $ 70.735 e $ 20.210, respectivamente, devem ser oferecidos à tributação, através de

ajustes na base de cálculo da CSLL, bem como na determinação do Lucro Real.

Os ajustes acima ou serão feitos nos Livros Fiscais LACOS e LALUR ou

entendemos, que podem ser feitos contra a conta de “Lucros ou Prejuízos Acumulados”,

dentro do patrimônio líquido. A primeira alternativa nos parece mais razoável, pois não

afetará o resultado de anos anteriores.

106

A Receita Federal do Brasil – RFB estabeleceu normas sobre como registrar

contabilmente o excesso de custo na importação, por encerramento do período-base. É do

conhecimento dos profissionais da área contábil, de que órgãos competentes para legislar

em matéria contábil no Brasil são:

1. CFC – Conselho Federal de Contabilidade;

2. CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis;

3. Ibracon – Instituto Brasileiro dos Contadores;

4. CVM – Comissão de Valores Mobiliários;

5. Bacen – Banco Central do Brasil.

6. etc.

A Receita Federal do Brasil, órgão incumbido de legislar sobre matéria tributária,

bem como fiscalizar a arrecadação dos tributos, vem dando a sua contribuição em matéria

contábil, ainda que às vezes, determinadas normas por ela publicada contrariam os

Princípios Fundamentais de Contabilidade.

Entende-se que o ajuste do preço de transferência somente deveria ser efetuado,

quando, efetuado estudo minucioso e devidamente comprovado de que o praticado excede

de fato o valor do livre mercado.

Não podemos entender que a metodologia determinada pela legislação brasileira

representa na sua plenitude uma verdade absoluta. Uma coisa é comparar o preço praticado

com o preço do mercado livre; outra coisa é, não ter o preço do mercado livre e ter como

preço comparado o preço calculado com base na margem de lucro, conforme estabelece a

legislação brasileira e exemplificada no exemplo 3.4 do título 3.3.2.

107

Com o objetivo de melhor esclarecer sobre essa problemática enfrentada pelos

contribuintes, demonstraremos abaixo mais um exemplo da injusta majoração da carga

tributária, bem como das distorções nos demonstrativos contábeis:

Quadro 3.24.

Descrição Valor R$

Preço praticado na importação – vinculado 1.000,00

Preço de revenda 1.200,00

( - ) impostos sobre vendas – 27,25% (327,00)

( - ) margem de 20% sobre $ 1.200,00 (240,00)

Preço parâmetro 633,00

Preço praticado 1.000,00

Excesso de custo – ajuste 367,00

Notamos que para o exemplo acima, o contribuinte terá que fazer um ajuste ao

lucro líquido para fins tributários, para cada unidade importada e revendida no valor de R$

367,00. Terá que fazer também um ajuste contábil tanto no custo do produto vendido, bem

como no saldo de estoque, caso haja unidade não baixada no período, conforme determina

o artigo 5º. Da IN-SRF 243/02, demonstrado no quadro 3.2.1, do título 3.3.3.

Imaginando que o preço do mercado livre, para o mesmo produto fosse da ordem

de R$ 1.100,00, não teríamos qualquer ajuste a fazer ao lucro, visto que o preço praticado

($ 1.000,00) é menor que o preço parâmetro (R$ 1.100,00).

Como a importadora não possui documentos que comprove o preço do livre

mercado, o método de maior facilidade para aplicação é o PRL – 20%, ocasionando dessa

forma o seguinte:

108

1. Ajuste indevido ao lucro na ordem de R$ 367,00 por unidade importada e

realizada;

2. Distorções de resultados de anos anteriores e futuros pelo ajuste contábil

efetuado e consequentemente nas demonstrações contábeis.

Essa prática representa uma afronta aos Princípios Fundamentais de Contabilidade

tratados na Resolução CFC 750/93 e comentados no capítulo 3 deste trabalho.

Concluindo, entendemos que o artigo 5º. Da IN-SRF ao determinar que seja feito o

ajuste do excesso de: custo, estoque e imobilizado contra a conta de lucros ou prejuízos

acumulados (patrimônio líquido), representa uma afronta a boa técnica contábil e aos

Princípios da:

• Continuidade: é distorcido o lucro/prejuízos de períodos anteriores, com

excesso de custo / despesas do período presente e futuro;

• Oportunidade: ausência da aplicação da integridade e tempestividade, por

diminuição de resultados de anos anteriores, com custo / despesa do período

atual e futuro;

• Da Prudência: não há excesso de custo reconhecido no ativo, quando

comprovadamente o valor da importação é igual ou inferior ao de mercado;

• Da Competência: pois se baixa custo ou despesa indevida, ainda que não

tenham sido realizadas.

109

3.6. Tributação Pelo Lucro Presumido ou Arbitrado

No caso de pessoa jurídica tributada com base no lucro presumido ou arbitrado, não

há o que se falar em ajuste de preço de transferência na importação, visto que nessas

modalidades de tributação, não se tributa o lucro, e sim, o faturamento e dessa forma, o

excesso de custo não trará qualquer reflexo no cálculo da CSLL bem como do IRPJ.

110

CAPITULO 4

PREÇO DE TRANSFERÊNCIA NA EXPORTAÇÃO

DE BENS, SERVIÇOS E DIREITOS

4.1. Exportação de Bens, Serviços e Direitos

As receitas auferidas nas operações efetuadas com pessoa vinculada, ficam sujeitas

a arbitramento quando o preço médio de venda dos bens, serviços ou direitos, nas

exportações efetuadas durante o respectivo período de apuração da base de cálculo do

imposto de renda, for inferior a noventa por cento do preço médio praticado na venda dos

mesmos bens, serviços ou direitos, no mercado brasileiro, durante o mesmo período, em

condições de pagamento semelhantes.

O preço médio aqui referido, será obtido pela multiplicação dos preços praticados,

pelas quantidades relativas a cada operação e os resultados apurados serão somados e

divididos pela quantidade total, determinando-se, assim o preço médio ponderado.

Como exemplo, se uma pessoa jurídica vende um determinado produto no Brasil

para não vinculada, pelo valor unitário médio de $ 850, observem quais das operações

abaixo estão sujeitas ao preço de transferência.

111

Quadro 4.1. Exportação para vinculadas – Preço de venda unitário no mercado interno.

Nota:

Preço de venda no mercado interno para não vinculado - $ 850

Valor mínimo a exportar para vinculado – 90% x $ 850 - $ 765

Preço de venda para a Kim Moan & Co – Usa - $ 700

Sujeito ao ajuste visto que o preço mínimo de exportação é- $ 765

Para as demais empresas o preço praticado foi superior a R$ 765, assim, não caberá

ajuste ao lucro.

Caso a pessoa jurídica não efetue operações de venda no mercado interno, a

determinação dos preços médios aqui referidos será efetuada com dados de outras

empresas que pratiquem a venda de bens, serviços ou direitos, idênticos ou similares, no

mercado brasileiro. Somente serão consideradas as operações de compra e venda

praticadas, no mercado brasileiro, entre compradores e vendedores não vinculados.

Comparação de preços

Para efeito de comparação, o preço de venda:

• No mercado brasileiro: deverá ser considerado líquido dos descontos

incondicionais concedidos, do ICMS, do ISS, das contribuições Cofins e

PIS/Pasep, de outros encargos cobrados pelo Poder Público e do frete e seguro,

suportados pela empresa vendedora;

Exportação p/vinculada Qtde. Unidade $ unitário $ total Ajuste

Kim Moan & Co – USA 2.000 Peças 700 1.400.000 Sim

Hylnil Lt – Inglaterra 1.500 Peças 820 1.230.000 Não

PKL Gylin Inc - França 800 Peças 780 624.000 Não

112

• Nas exportações: será tomado pelo valor depois de diminuído dos encargos de

frete e seguro, cujo ônus tenha sido da empresa exportadora.

4.2. Normas Comuns às Receitas de Exportação

Os valores dos bens, serviços ou direitos serão ajustados de forma a minimizar os

efeitos provocados sobre os preços a serem comparados, por diferenças nas condições de

negócio, de natureza física e de conteúdo.

Nos casos de bens, serviços ou direitos idênticos, somente será permitida a

efetivação de ajustes relacionados com:

1. Prazo de pagamento

As diferenças nos prazos de pagamento serão ajustadas pelo valor dos juros

correspondentes ao intervalo entre os prazos concedidos para o pagamento das

obrigações sob análise, com base na taxa praticada pela própria empresa, quando

comprovada a sua aplicação de forma consistente para todas as vendas a prazo. Caso

não se comprove a aplicação consistente de uma taxa, o ajuste será efetuado com base

na taxa:

• Referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic), para títulos

federais, proporcionalizada para o intervalo, quando uma das partes for domiciliada

no exterior;

• Libor, para depósitos em dólares americanos, pelo prazo de seis meses, acrescida

de três por cento anuais a título de spread, proporcionalizada para o intervalo,

quando uma das partes for domiciliada no exterior.

113

2. Quantidades negociadas

Os ajustes em função de diferenças de quantidades negociadas serão efetuados com

base em documento da emissão da empresa vendedora, que demonstre a prática de

preços menores quanto maiores as quantidades adquiridas por um mesmo comprador;

3. Obrigação por garantia de funcionamento do bem ou da aplicabilidade do serviço

ou direito

O valor integrante do preço, a esse título, não poderá exceder o resultado da divisão do

total dos gastos efetuados, no período de apuração anterior, pela quantidade de bens,

serviços ou direitos em uso, no mercado nacional, durante o mesmo período. Caso o

bem ou serviço não houver, ainda, sido vendido no Brasil, será admitido o custo, em

moeda nacional, correspondente à mesma garantia praticada em outro país;

4. Obrigação pela promoção, junto ao órgão público, do bem, serviço ou direito, por

meio de propaganda e publicidade e pelos custos de fiscalização de qualidade, do

padrão dos serviços e das condições de higiene, bem como custos de intermediação

nas operações de compras e vendas praticadas pelas empresas não vinculadas,

consideradas para comparação dos preços

O preço do bem, serviço ou direito vendido a uma empresa que suporte o ônus dos

referidos dispêndios, para ser comparado com o de outra que não suporte o mesmo

ônus, será escoimado do montante despendido, por unidade do produto, relativamente

a referido dispêndio. Essa norma aplica-se, também, aos encargos de intermediação,

incidentes na venda do bem, serviço ou direito;

114

5. Acondicionamento, frete e seguro

Os preços dos bens, serviços e direitos serão, também, ajustados em função de

diferenças de custo dos materiais utilizados no acondicionamento de cada um e do frete

e seguro incidente em cada caso;

6. Riscos de créditos

Os ajustes por riscos de créditos serão:

a) Admitidos exclusivamente em relação às operações praticadas entre comprador

e vendedor domiciliados no Brasil;

b) Efetuados com base no percentual resultante da comparação dos totais de

perdas e de créditos relativos ao ano anterior.

4.3. Apuração do Preço Médio

O preço médio praticado na exportação e o preço parâmetro serão obtidos pela

multiplicação dos preços pelas quantidades relativas a cada operação e os resultados

apurados serão somados e divididos pela quantidade total, determinando-se, assim, o preço

médio ponderado.

Exemplo 4.1 (praticado ou parâmetro)

Operação Preço unitário Quantidade R$ Total

Operação 01 $ 5.000 100 500.000

Operação 02 $ 4.800 150 720.000

Operação 03 $ 5.600 130 728.000

Total -o- 380 1.948.000

Preço médio ($ 1.948.000 / 380)....................... 5.126

115

No caso de bens, serviços e direitos similares, além dos ajustes inerentes às

condições comerciais da operação anteriormente mencionados, os preços serão ajustados

em função das diferenças de natureza física e de conteúdo.

Para tanto, deverão ser considerados os custos relativos à produção do bem, à

execução do serviço ou à constituição do direito, exclusivamente nas partes pertinentes às

diferenças entre os modelos objeto de comparação.

4.4. Operações Não Identificadas

Não sendo possível identificar operações de compra e venda no mesmo período a

que se referirem os preços sob investigação, a comparação poderá ser feita com preços

praticados em operações efetuadas em períodos anteriores ou posteriores, desde que

ajustados por eventuais variações nas taxas de câmbio das moedas de referência, ocorridas

entre a data de uma e de outra operação (art. 18 da IN-SRF 243/02)

Nesse caso, serão consideradas, também, as variações acidentais de preços de

commodities, quando comprovadas mediante apresentação de cotações de bolsa, de âmbito

nacional, verificadas durante o período.

4.5. Dispensa e Aplicação do Preço de Transferência

As receitas auferidas nas operações efetuadas com pessoa vinculada, ficam sujeitas

a arbitramento quando o preço médio de venda dos bens, serviços ou direitos, nas

exportações efetuadas durante o respectivo período de apuração da base de cálculo do

imposto de renda, for inferior a noventa por cento do preço médio praticado na venda dos

mesmos bens, serviços ou direitos, no mercado brasileiro, durante o mesmo período, em

condições de pagamento semelhantes.

116

É oportuno enfatizar que no caso de exportações, temos diversas situações que tira

o contribuinte do preço de transferência, conforme estudamos no capítulo 2, item 2.8.

È bom lembrar que antes da empresa iniciar os cálculos do preço de transferência,

vale a pena recorrer às condições de dispensa, aplicadas principalmente nas exportações,

mas lembramos que caso a empresa incorra em qualquer situação de dispensa, há a

necessidade de preparar a memória de cálculo para exibição ao fisco, justificando a

referida dispensa.

4.6. Conversão para a Moeda Nacional

A receita de vendas nas exportações de bens, com o valor expresso em moeda

estrangeira, será convertida em reais à taxa de câmbio fixada no boletim de abertura pelo

Banco Central do Brasil, para compra, em vigor, na data de embarque dos bens para o

exterior. Considera-se como data de embarque dos bens para o exterior àquela averbada no

Sistema Integrado de Comércio Exterior – Siscomex.

Nas variações cambiais verificadas nas operações de exportação, bem com de

importações, a regra a ser observada é a seguinte:

1. Exportações:

Entre a data da emissão da nota fiscal e o embarque da mercadoria:

Variação Cambial positiva: Receita da Exportação;

Variação Cambial negativa: Custo de exportação

Após a data do efetivo embarque:

Variação cambial positiva: Variação Cambial (receita financeira)

Variação cambial negativa: Variação Cambial (despesa financeira)

117

2. Nas importações:

Até o desembaraço aduaneiro

Toda a variação cambial (ativa ou passiva) é considerada custo do produto;

Após o desembaraço aduaneiro

Toda a variação cambial será considera receita financeira, se positiva ou despesas

financeira, se negativa.

4.7. Metodologia e Procedimentos na Exportação

O objetivo das regras de Preços de Transferências, no que se refere às exportações,

é fazer com que as empresas que praticam subfaturamento em operações com pessoas a ela

vinculadas no exterior ou com residentes em paraísos fiscais, ajustem as suas bases de

cálculo do IRPJ e da CSLL pelas diferenças detectadas através de arbitramento, evitando,

assim, a perda de arrecadação de tributos.

Os preços parâmetros na exportação, para fins de comparação com os praticados são:

PEVEx – Método do Preço de Vendas nas Exportações;

PVA – Método do Preço de Venda por Atacado no País de Destino, Diminuído do

Lucro;

PVV – Método do Preço de Venda a Varejo no País de Destino, Diminuído do

Lucro;

CAP – Método do Custo de Aquisição ou Produção mais Tributos e Lucros.

Para facilitar a vida do leitor, esboçaremos o esquema abaixo para a apuração do

preço de venda determinado pela legislação fiscal (art. 14 da IN-SRF 243/02):

118

Quadro 4.2. Regras de vendas no mercado brasileiro e estrangeiro

No Mercado Brasileiro Nas Exportações Preço de Venda Preço de Venda Menos

Menos

• Descontos Incondicionais Concedidos • ICMS sobre faturamento • ISS sobre faturamento

• Encargos de fretes e seguros, cujo ônus tenha sido da empresa exportadora.

• Cofins sobre faturamento • Pis / Pasep sobre faturamento • Frete e Seguro suportados pela

vendedora

• Outros encargos cobrados pelo poder público

PREÇO DE VENDA PARA COMPARAÇÃO

PREÇO DE VENDA PARA COMPARAÇÃO

Os valores dos bens, serviços e direitos idênticos ou similares devem ser ajustados

de forma a minimizar os efeitos provocados sobre os preços a serem comparados.

A receita de venda de exportação de bens, serviços e direitos será determinada pela

conversão em reais à taxa de câmbio de compra, fixada no boletim de abertura do Banco

Central do Brasil, em vigor na data:

• De embarque, no caso de bens;

• Da efetiva prestação de serviço ou transferência do direito.

A data da efetiva prestação do serviço ou transferência de direito é a data do

auferimento da receita, assim considerada o momento em que, nascido o direito à sua

percepção, a receita deva ser contabilizada em observância ao regime de competência.

119

Escolha do método de arbitramento

O método de arbitramento é de livre escolha do contribuinte, podendo ser adotado o

que resulte no preço-parâmetro de menor valor, ou seja, aquele que mais se aproxime do

preço de venda efetivamente praticado, devendo o método adotado pela empresa ser

aplicado, consistentemente, por bem, serviço ou direito, durante todo o período de

apuração.

Caso o valor apurado segundo os métodos acima apresentados for inferior aos

preços de venda constantes dos documentos de exportação, prevalecerá o montante da

receita reconhecida conforme os referidos documentos.

4.7.1. PVEx – Preço de Venda nas Exportações

A receita de venda nas exportações poderá ser determinada com base no método do

Preço de Vendas nas Exportações – PVEx, definido como a média aritmética dos preços

de venda nas exportações efetuadas pela própria empresa, para outros clientes (não

vinculado), ou por outra exportadora nacional de bens, serviços ou direitos, idênticos ou

similares, durante o mesmo período de apuração da base de cálculo do imposto de renda e

em condições de pagamento semelhantes.

Quadro 4.3. Método do preço de venda nas exportações – PVEx

Média Aritmética dos preços de vendas das exportações realizadas

• Pela própria empresa para pessoas não vinculadas;

• Por outra exportadora nacional.

120

Serão consideradas apenas as vendas para outros clientes não vinculados à

empresa no Brasil.

Figura 4.1.

= Pessoas jurídicas vinculadas. = Pessoas jurídicas não vinculadas

È oportuno lembrar, que no caso de bens, serviços ou direitos idênticos, somente

será permitida a efetivação de ajustes relacionados com:

• Prazo de pagamento;

• Quantidades negociadas;

• Obrigação por garantia de funcionamento e promoção;

• Acondicionamento;

• Frete e seguro;

• Riscos de créditos, etc.

A E

B F

B R A S I L

E X T E R I O R

121

Exemplo 4.2

Quadro 4.4. Operação a vista no mercado externo

CIA. NAOL – DRE PERÍODO DE 1O. JANEIRO ATÉ 31 DE DEZEMBRO DE 2.000

DESCRIÇÃO – VENDA DE PRODUTO X Mercado Interno (não vinculado)

Mercado externo Vinculado

Vendas de mercadorias 1.000.000 571.200

( - ) Descontos Incondicionais (20.000) -o-

( - ) Impostos s/ Vendas (ICMS, PIS, Cofins) (216.500) -o-

( - ) Encargos referente a Fretes e Seguros (50.000) (180.000)

( - ) ajustes relativos a prazo de recebimentos (40.500) -o-

( - ) Encargos cobrados pelo Poder Público -o- -o-

VENDAS AJUSTADAS 673.500 361.200

Quantidade de mercadorias vendidas 1.000 600

Preço Médio de venda do Produto X 674 602

VERIFICAÇÃO SE ESTÁ SUJEITO OU NÃO AO AJUSTE

DESCRIÇÃO VALOR R$

Preço médio praticado no mercado interno – não vinculado 674

Verificação dos 90% ( 90% x R$ 674) 607

Preço praticado na exportação para pessoa jurídica vinculada. 602

O preço praticado é inferior ao mínimo permitido pela legislação brasileira. Assim a empresa deverá efetuar o cálculo do preço de transferência de acordo com um dos seguinte métodos: PVEx, PVA, PVV ou CAP.

Quando o preço de exportação é inferior a 90% do preço médio praticado no

mercado brasileiro, deve ser feito o ajuste para fins de cálculo da CSLL bem como do

IRPJ.

122

Caso prático

A Cia EBOLUS exportou durante o ano de 2.006, 50.000 ferros de passar roupa

para empresa vinculada no exterior, a vista – nas seguintes condições:

Valor da receita de exportação - 1.200.000

Frete assumido pela exportadora - 120.000

Seguro assumido pela exportadora - 80.000

A DRE parcial demonstrada abaixo evidencia o mesmo produto negociado com não

vinculado no mercado brasileiro, com vinculado no exterior e com não vinculado no

exterior.

Quadro 4.5. Dados levantados no ano

R E C E I T A S

Mercado Venda no Mercado Externo

DESCRIÇÃO Interno Vinculada Não vinculada

Vendas de Mercadorias 9.000.000 1.200.000 6.900.000

( - ) Descontos Incondicionais Concedidos (100.000) -o-

( - ) ICMS s/ Faturamento (1.400.000) -o-

( - ) PIS s/ Faturamento (57.850) -o-

( - ) Cofins s/ Faturamento (267.000) -o-

( - ) Fretes incidentes sobre vendas (80.000) (120.000) (460.000)

( - ) Seguros incidentes vendas (130.000) (80.000) (115.000)

( - ) Juros Cobrados nas vendas a prazo (65.150) -o- (110.000)

TOTAL......................................................... 6.900.000 1.000.000 6.215.000

Quantidade vendida...................................... 300.000 50.000 282.500

Valor Unitário............................................... 23 20 22

Verificação dos 90% (90% x $ 23 = $ 20,70) 20,70

Preço praticado na exportação – vinculado 20,00

Sujeito ao ajuste – comparação: exportação para vinculada e exportação p/ não vinculada

Ajuste para fins tributário $ 2,00 (22,00 – 20,00) por unidade x 50.000 100.000

123

Sujeito ao arbitramento, pois:

Praticado p/ vinculado = R$ 20 90% do praticado no mercado interno = R$ 20,70

mínimo;

Praticado p/ vinculado = R$ 20 margem de divergência = $ 22 x 95% = R$ 20,90

mínimo;

Comparação:

Preço de venda unitário no mercado interno para não vinculado - $ 23,00

Preço de venda unitário mercado externo para não vinculado - $ 22,00

Preço de venda unitário no mercado externo para vinculado - $ 20.00

Ajuste por unidade = ($ 22,00 - $ 20,00) - PVEx - $ 2,00

4.7.2. PVA – Preço de Venda por Atacado no País de Destino, Diminuído do Lucro

A receita de vendas nas exportações poderá ser determinada com base no método

do Preço de Venda por Atacado no País de Destino, Diminuído do Lucro - PVA, definido

como a média aritmética dos preços de Venda de bens, idênticos ou similares,

praticados no mercado atacadista do país de destino, em condições de pagamento

semelhantes, diminuídos dos tributos incluídos no preço, cobrados no referido país, e de

margem de lucro de quinze por cento sobre o preço de venda no atacado. Consideram-se

tributos incluídos no preço, aqueles que guardem semelhança com o ICMS e o ISS e com

as contribuições Cofins e Pis/Pasep.

A conversão das vendas no país de destino deve ser feita para a moeda nacional, na

data em que a venda foi efetuada.

124

Quadro 4.6. Esquema para apuração do PVA

MÉTODO DO PREÇO DE VENDA POR ATACADO NO PAÍS DE DESTINO, DIMINUIDO DO LUCRO- PVA

Média Aritmética dos preços de venda praticados no mercado atacadista do país de destino. ( - ) Tributos incluídos no preço, cobrados no país de destino, que guardem semelhança com o ICMS, ISS, PIS e COFINS; ( - ) Margem de lucro de 15% sobre o preço bruto de venda no atacado

Exemplo 4.3 A mercadoria abaixo foi exportada para pessoa vinculada por $860 e o

quadro de venda no país de destino, já convertido para a moeda nacional é o seguinte (não

há venda no mercado interno):

Quadro 4.7.

Descrição Valor R$

Venda no atacado no país de destino 890.000,00

Imposto sobre vendas (país de destino) (89.000,00)

Vendas líquidas 801.000,00

Quantidade vendida 750

Preço de venda unitário 1.068,00

( - ) margem de 15% (160,20)

Preço parâmetro 1 907,80

Margem de divergência de 5% (45,39)

Preço parâmetro 2 862,41

Praticado 860,00

Sujeito ao preço de transferência? Sim

Ajuste $ 47,80 (907,80 – 860,00) x 750 35.850,00

125

4.7.3. PVV – Preço de Venda a Varejo no País de Destino, Diminuído do Lucro

A receita de venda nas exportações poderá ser determinada com base no método do

Preço de Venda a Varejo no País de Destino, Diminuído do Lucro – PVV, definido como a

média aritmética dos preços de venda de bens, idênticos ou similares, praticados no

mercado varejista do país de destino, em condições de pagamento semelhantes, diminuídos

dos tributos incluídos no preço, cobrados no referido país, e de margem de trinta por cento

sobre o preço de venda no varejo.

Consideram-se, nesse caso, tributos incluídos no preço, aqueles que guardem

semelhança com o ICMS, ISS, PIS e COFINS.

Quadro 4.8. Esquema para apuração do PVV

MÉTODO DO PREÇO DE VENDA A VAREJO NO PAÍS DE DESTINO, DIMINUIDO DO LUCRO- PVV

Média Aritmética dos preços de venda praticados no mercado varejista do país de destino. ( - ) Tributos incluídos no preço, cobrados no país de destino, que guardem semelhança com o ICMS, ISS, PIS e COFINS; ( - ) Margem de lucro de 30% sobre o preço bruto de venda no atacado

Exemplo 4.4 A mercadoria abaixo foi exportada para pessoa vinculada por $860 e o

quadro de venda no país de destino, já convertido para a moeda nacional é o seguinte (não

há venda no mercado interno).

126

Quadro 4.9.

Descrição Valor R$

Venda no atacado no país de destino 890.000,00 Imposto sobre vendas (país de destino) (89.000,00)

Vendas líquidas 801.000,00

Quantidade vendida 750 Preço de venda unitário 1.068,00 ( - ) margem de 30% (320,40)

Preço parâmetro 747,60

Praticado maior que o parâmetro. 860,00

Sujeito ao preço de transferência? Não

4.7.4. CAP – Custo de Aquisição ou de Produção mais Tributos e Lucro

A receita de venda nas exportações poderá ser determinada com base no método do

Custo de Aquisição ou Produção mais Tributos e Lucros – CAP, definido como a média

aritmética dos custos de aquisição ou de produção dos bens, serviços ou direitos,

exportados, acrescidos dos impostos e contribuições cobrados no Brasil e de margem de

lucro de quinze por cento sobre a soma dos custos mais impostos e contribuições. Esse

método é muito utilizado no Brasil, por se tratar de um método de fácil aplicação.

Para a aplicação deste método, deve ser observado o seguinte:

• Integram o custo de aquisição, os valores de frete e seguro pagos pela empresa

adquirente, relativamente aos bens, serviços e direitos exportados;

• Será excluída dos custos de aquisição e de produção a parcela do crédito

presumido do IPI, como ressarcimento das contribuições COFINS e

PIS/PASEP, correspondente aos bens exportados. A margem de lucro será

aplicada sobre o valor que restar após excluída a parcela do referido crédito

presumido, aqui referenciado;

127

• O preço determinado por este método, relativamente às exportações diretas,

efetuadas pela própria empresa produtora, poderá ser considerado parâmetro

para o preço praticado nas exportações por intermédio de empresa comercial

exportadora, não devendo ser considerado o novo acréscimo a título de margem

de lucro da empresa comercial exportadora.

Quadro 4.10. Esquema para apuração do CAP

MÉTODO DO CUSTO DE AQUISIÇÃO OU DE PRODUÇÃO MAIS TRIBUTOS E LUCRO – CAP

Média Aritmética dos Custos de Aquisição ou de Produção ( + ) Fretes e Seguros pagos pela adquirente; ( - ) Crédito Presumido do IPI; ( + ) Impostos e Contribuições Cobrados no Brasil (que integram o custo de produção); ( + ) Margem de Lucro de 15% sobre a soma dos custos mais impostos e contribuições.

Exemplo 4.5 Uma pessoa jurídica produziu ou adquiriu mercadorias conforme abaixo:

Custo de produção ou de aquisição - 5.600.000

( + ) fretes e seguro na aquisição - 100.000

( + ) Tributos não recuperáveis (custo) - 1.270.000

Total do custo de aquisição / produção - 6.970.000

Quantidade produzida / adquirida - 1.025

Custo Unitário - 6.800

Quantidade exportada para vinculado - 1.025

Dados complementares

• Venda do mesmo produto no mercado interno para não vinculado - R$ 8.200

• Preço praticado na exportação para pessoa jurídica vinculada - R$ 7.400

128

Quadro 4.11.

COMPARAÇÃO Descrição Margem de Lucro Venda no mercado interno Preço de custo CAP 6.800( + ) Margem de lucro de 15% 1.020Preço parâmetro 1 7.820Preço parâmetro 2 (7.820 x 0,95) 7.429Preço praticado 7.400Sujeito ao ajuste SimVenda no mercado interno 8.200Verificação dos 90% 7.380Preço praticado 7.400Sujeito ao ajuste? Não

Observações:

1. Se a comparação for feita com a margem de lucro de 15% o contribuinte estará sujeito

ao ajuste, visto que o preço parâmetro é maior que o preço efetivamente praticado na

exportação com vinculado. O ajuste seria da ordem de R$ 430.500 1.025 x $420 ($

7.820 - $ 7.400);

2. Como o contribuinte também opera no mercado interno, a venda no mercado nacional

para não vinculado deixou a empresa fora do ajuste acima para fim tributário.

Como na importação, o melhor método é o que não causa qualquer ajuste ou o que

causa o menor ajuste (arm´s length principle).

Quando verificado que o preço de venda nas exportações para empresas vinculadas

é inferior aos 90% do preço praticado para não vinculado no mercado interno, as receitas

de exportações serão arbitradas tomando-se por base o valor apurado com base nos preços

parâmetros apurados com base no PVEx, PVA, PVV e CAP.

A seguir, para fins de comparação será criado um exemplo com a possibilidade de

utilização dos métodos da exportação e escolha do melhor (o que não causa ou que causa o

menor ajuste):

129

Caso prático: A Cia EBOLUS exportou durante o ano de 2.006, 50.000 ferros de passar

roupa para empresa vinculada no exterior, a vista – nas seguintes condições:

Valor da receita de exportação - 1.200.000

Frete assumido pela exportadora - 120.000

Seguro assumido pela exportadora - 80.000

A DRE parcial demonstrada abaixo evidencia o mesmo produto negociado com não

vinculado no mercado brasileiro, com vinculado no exterior e com não vinculado no exterior.

Quadro 4.12.

R E C E I T A S Venda no mercado externo DESCRIÇÃO Mercado

Interno Vinculada Não

vinculada No atacado No varejo

Venda de mercadorias 9.000.000 1.200.000 7.000.000 4.000.000 1.988.000Custo do produto vendido 21 -o- -o- -o- -o-( - ) Desc. Inc. Concedidos (100.000) -o- -o- -o- ( - ) Impostos sobre vendas (1.724.850) -o- -o- (400.000) (198.800)( - ) Fretes s/ Vendas (80.000) (120.000) (460.000) -o- ( - ) Seguros sobre Vendas (130.000) (80.000) (115.000) -o- ( - ) Juros – vendas Prazo (65.150) -o- (210.000) -o- ( - ) margem de 30% -o- -o- -o- (1.200.000) -o-( - ) margem de 15% -o- -o- -o- -o- (298.200)TOTAL................................ 6.900.000 1.000.000 6.215.000 2.400.000 1.491.000Quantidade vendida 300.000 50.000 282.500 100.000 71.000Preço unitário 23 20 22 24 21

QUADRO COMPARATIVO DESCRIÇÃO / MÉTODO S. harbor CAP PVEx PVA PVV Preço de venda merc. Interno 23,00 90% preço venda merc.interno 20,70 Sujeito ao ajuste – Método escolher Preço de custo do produto 21,00 Margem mínima exigida– 15% 3,15 Preço parâmetro – CAP 24,15 Preço praticado 20,00 Ajuste ao lucro 4,15 Exportação para vinculada 20,00 Preço parâmetro – PVEx 22,00 Ajuste ao lucro 2,00 Exportação para vinculada 20,00 Preço parâmetro – PVA 24,00 Ajuste ao lucro 4,00 Exportação para vinculada 20,00Preço parâmetro PVV – 1 21,00Margem de divergência – 5% 1,05Preço parâmetro PVV – 2 19,95Ajuste ao lucro Zero

130

Como se nota acima, o melhor método comparando os quatro da exportação para

vinculado é o PVV, não gera qualquer ajuste ao lucro líquido.

4.8. Lucro Presumido / Arbitrado

Na hipótese em que o contribuinte seja optante pelo lucro presumido, com base no

regime de caixa, considerar-se-á auferida a receita segundo o regime de competência.

A sistemática de preço de transferência também se aplica às empresas tributadas

com base no lucro presumido ou que, por qualquer motivo tenha o seu lucro arbitrado,

exclusivamente nas exportações, por insuficiência de receitas.

Se a empresa brasileira verificar que está obrigada ao arbitramento das receitas de

exportação deverá proceder à apuração do preço-parâmetro, para fins de comparação com

o preço de transferência praticado, utilizando para isso um dos métodos que foi estudado

anteriormente.

Os valores de ajustes apurados no decorrer do ano-calendário devem ser

adicionados à base de cálculo do lucro presumido, bem como do lucro arbitrado no 4º.

Trimestre de cada ano-calendário de apuração, observado o seguinte:

a) O valor resultante da aplicação dos percentuais de determinação do lucro

presumido ou arbitrado (vide legislação específica) sobre a parcela das receitas

auferidas nas exportações às pessoas vinculadas ou aos países com tributação

favorecida que exceder ao valor já apropriado na escrituração da empresa

decorrente dos ajustes dos métodos de preços de transferência;

b) O valor dos encargos suportados pela mutuaria que exceder ao limite calculado

com base na taxa libor, para depósitos em dólares dos Estados Unidos da

América, pelo prazo de seis meses, acrescido de 3% anuais a título de spread,

131

proporcionalizada em função do período a que se referirem os juros, quando

pagos ou creditados a pessoa vinculada no exterior e o contrato não for

registrado pelo Banco Central do Brasil;

c) A diferença de receita, auferida pela mutuante, correspondente ao valor

calculado com base na taxa a que se refere a letra b retro e o valor contratado,

quando este for inferior, caso o contrato, não registrado no Banco Central do

Brasil, seja realizado com mutuaria definida como pessoa vinculada

domiciliada no exterior.

Os percentuais de presunção do lucro, de forma resumida são:

Quadro 4.13.

Presunção do Lucro Atividade CSLL IRPJ Revenda de combustíveis e derivados de petróleo 12,00% 1,60% Venda de mercadorias e produtos, transporte de cargas, serviços hospitalares, atividade rural, atividade de construção civil com fornecimento de materiais, etc.

12,00% 8,00%

Serviços de transporte de passageiros 12,00% 16,00% Prestação de serviços em geral 32,00% 32,00%

Exemplo 4.6 Exportação de mercadoria para vinculado no exterior

• Preço unitário praticado na exportação - $ 10,00

• Preço parâmetro - $ 14,00

• Ajuste unitário - $ 4,00

• Quantidade exportada - 100.000

132

Ajuste 100.000 x $ 4,00 = $ 400.000.

Adicionar à base de cálculo (lucro presumido) os valores abaixo:

• CSLL 400.000 x 12% = $ 48.000

• IRPJ 400.000 x 8% = $ 32.000

4.9. Impactos Relativos à Moeda Nacional

Conforme artigo 36 da Lei 11.196/05, fica o Ministro da Fazenda autorizado a

instituir, por prazo certo, mecanismo de ajuste para fins de determinação de preços de

transferência, relativamente ao que dispõe a Lei 9.430/96, bem como aos métodos de

cálculo que especificar, aplicáveis à exportação, de forma a reduzir impactos relativos à

apreciação da moeda nacional em relação a outras moedas.

As receitas de vendas nas exportações auferidas em reais no ano-calendário de

2.005, nas operações com pessoas vinculadas poderão ser multiplicadas pelo fator de 1,35,

conforme disciplinado pela Portaria MF 436/05, para efeito de apuração da média

aritmética ponderada trienal do lucro liquido, de que trata o artigo 35 da IN-SRF 243/02.

Os fatores de multiplicação das receitas de vendas nas exportações, foram

estabelecidos conforme abaixo:

Ano Base Fator de Multiplicação Base Legal

2.005 1,35 Portaria 436/05

2.006 1,29 Portaria 425/06

2.007 1,28 Portaria 329/07

133

Para os anos-calendários acima, a pessoa jurídica poderá ajustar mediante a

multiplicação dos fatores acima:

1. As receitas de vendas de exportações, para efeito do cálculo de comparação

com as vendas do mesmo bem no mercado interno;

2. O preço praticado pela pessoa jurídica nas exportações para pessoa vinculada,

para efeito de comparação com o preço parâmetro calculado pelo método CAP.

Acreditamos que a Receita Federal do Brasil divulgará outros fatores de

multiplicação para os anos-calendário seguintes, dependendo da oscilação da

moeda nacional com relação a outras moedas, com o objetivo de redução do

impacto causado pela variação cambial.

Exemplo 4.7 – ano-base de 2.005

Venda de um produto para vinculada no exterior - $ 7.000

Preço praticado no mercado interno – não vinculado - $ 8.000

Preço CAP – custo de aquisição ou produção mais lucro - $ 7.820

Quadro 4.14.

COMPARAÇÃO – ANO BASE DE 2.005 Descrição Margem de Lucro Venda no mercado interno Preço de custo CAP 6.800( + ) Margem de lucro de 15% 1.020Preço parâmetro 1 7.820Preço praticado 7.000Sujeito ao ajuste SimVenda no mercado interno 8.000Verificação dos 90% 7.200Preço praticado 7.000Sujeito ao ajuste? Sim

134

Resumo:

Parâmetro pela margem de lucro CAP - 7.820

Parâmetro pela venda mercado interno - 7.200

Praticado = $ 7.000 x 1,35 - 9.450

O contribuinte estaria sujeito ao ajuste, se não fosse a correção pelo fator de 1,35

para a redução do impacto da moeda nacional, em relação a outras moedas.

Ano-calendário de 2006 -

Exemplo 4.8 CAP e venda no mercado interno

Preço praticado na exportação para vinculado – R$ 7.000

Quadro 4.15.

COMPARAÇÃO – ANO BASE DE 2.006 Descrição Margem de Lucro Venda no mercado interno Preço de custo CAP 6.800( + ) Margem de lucro de 15% 1.020Preço parâmetro 1 7.820Preço praticado 7.000Sujeito ao ajuste SimVenda no mercado interno 8.000Verificação dos 90% 7.200Preço praticado 7.000Sujeito ao ajuste? Sim

Resumo:

Parâmetro pela margem de lucro CAP - 7.820

Parâmetro pela venda mercado interno - 7.200

Praticado = $ 7.000 x 1,29 - 9.030

O contribuinte estaria sujeito ao ajuste, se não fosse a correção pelo fator de 1,29

para a redução do impacto da moeda nacional, em relação a outras moedas.

135

Exemplo 4.9 Margem de Lucro mínima de 5%

Quadro 4.16. Exportação de mercadorias para vinculada

Descrição 2.006 2.006 x 1,29 Venda de Mercadorias – exportação 7.000.000 9.030.000( - ) Deduções -o- -o-RECEITA LÍQUIDA 7.000.000 9.030.000( - ) Custo da Mercadoria Vendida (4.500.000) (4.500.000)LUCRO BRUTO 2.500.000 4.530.000( - ) Despesas Gerais (2.250.000) (2.250.000)LUCRO ANTES DA CSLL E IRPJ 250.000 2.280.000Margem de lucro 3,57% 25,25%

Notamos que a pessoa jurídica estaria sujeita ao preço de transferência no ano-

calendário de 2.006, pois a margem de lucro antes da CSLL é inferior a 5%, no entanto,

multiplicando a receita pelo fator de 1,29, autorizado pela IN-SRF 703 de 28 de dezembro

de 2.006 e 1,28 , conforme portaria 329/07 fica fora, visto que a nova margem supera a

margem mínima exigida.

Esse procedimento, de aplicação de um fator de 1,35, 1,29 e 1,28 nos anos

calendários de 2.005, 2.006 e 2.007 respectivamente, fez com que um grande número de

empresas saísse do ajuste do preço de transferência nos respectivos anos-calendário, e,

deverá ser repetido em anos posteriores em fatores a ser determinados pelo Ministério da

Fazenda.

136

CAPITULO 5

DESPESAS E RECEITAS FINANCEIRAS NAS

OPERAÇÕES COM PESSOAS VINCULADAS

5.1. Juros de Contratos não Registrados Pelo Banco Central

O artigo 27 da Instrução Normativa 243/02 estabeleceu as regras dos juros pagos,

recebidos ou creditados a pessoas vinculadas, residentes no exterior.

A Convenção-Modelo da OCDE apud Schoueri (2006: 209), versando sobre o tema

dos juros entre as pessoas ligadas, prevê em seu parágrafo 6, a aplicabilidade do princípio

arm´s length aos juros, determinando:

“Se, em conseqüência de relações especiais existentes entre o devedor e o

beneficiário efetivo, ou entre ambos e terceiros, o montante dos juros, tendo em

conta o crédito pelo qual são pagos, exceder o que teria sido acordado entre o

devedor e o credor na ausência de tais relações, o disposto neste Artigo só se

aplica a este último. Neste caso, a parte excedente dos pagamentos é tributável nos

termos das leis de cada Estado Contratante, observada as demais disposições desta

Convenção”.

Os juros pagos ou creditados a pessoa vinculada, quando decorrentes de contrato

não registrado no Banco Central do Brasil, somente serão dedutíveis para fins de

determinação do lucro real até o montante que não exceda ao valor calculado com base na

taxa Libor, para depósitos em dólares americanos pelo prazo de seis meses, acrescida de

137

três por cento anuais a título de spread, proporcionalizados em função do período a que

se refere os juros (art. 27 da IN-SRF 243/02).

Deverá ser utilizada a taxa Libor vigente na data do termo inicial do contrato,

devendo ser alterada a cada 183 dias, até a data do termo final do cálculo dos juros.

São consideradas operações financeiras aquelas decorrentes de contratos, inclusive

os de aplicação de recursos e os de capitalização de linha de crédito, celebrado com pessoa

física ou jurídica residente ou domiciliado no exterior não registrado pelo Banco Central

do Brasil, cuja remessa ou ingresso de principal tenha sido conduzido em moeda

estrangeira ou por meio de transferência internacional em moeda nacional.

5.2. Mútuo Entre Pessoas Vinculadas

A pessoa jurídica domiciliada no Brasil, que realizar operações financeiras com

pessoa vinculadas no exterior ou, ainda que não vinculadas, localizadas em paraísos

fiscais, cujos contratos não estejam registrados no Banco Central do Brasil, estão sujeitas

às normas de Preços de Transferência. Caso o contrato esteja registrado no BACEN, serão

admitidos os juros determinados com base na taxa registrada no referido contrato.

Conversão em Reais

Os juros serão calculados com base no valor da obrigação ou do direito, expresso

na moeda objeto do contrato, e convertidos em reais pela taxa de câmbio, divulgada pelo

Banco Central do Brasil, para a data do termo final do cálculo dos juros (art. 27 parágrafo

2o. da IN-SRF 243/02).

138

5.3. Juros Ativos

A receita financeira com juros recebidos de pessoa vinculada, ou de pessoa

residentes ou domiciliados em país com tributação favorecida, referente a contrato não

registrado pelo BACEN, obedecerá as seguintes regras:

Receita Mínima: calculada com base na Taxa Libor para depósitos em dólares

pelo prazo de seis meses + spread de 3,00% ao ano, proporcionalizada em função do

período.

A insuficiência de receita de juros, calculada com base na sistemática acima, será

adicionada ao lucro real, presumido ou arbitrado e a base de cálculo da CSLL.

5.4. Juros Passivos

A despesa financeira com juros pagos ou creditados a pessoa vinculada, ou de

pessoa residente ou domiciliada em país com tributação favorecida, referente a contrato

não registrado pelo BACEN, obedecerá as seguintes regras:

Excesso de Despesa: a dedutibilidade é permitida até o valor que não exceda a

Taxa Libor, para depósitos em dólares pelo prazo de 6 meses + spread de 3,00% ao ano,

proporcionalizada em função do período.

O excesso de despesa deverá ser adicionado ao lucro real, presumido ou arbitrado e

a base de cálculo da CSLL.

139

Quadro 5.1.

CÁLCULO DOS JUROS (ATIVO/PASSIVO)

TAXA LIBOR PARA DEPÓSITO EM U$ DOS EUA PELO PRAZO DE 6 MESES ( + ) Spread 3,00% a.a. proporcionalizada pelo período a que se referirem os juros

( = ) VALOR MÁXIMO PARA DESPESA E MÍNIMO PARA RECEITA

Exemplo 5.1

Quadro 5.2.

J U R O S DESCRIÇÃO Pagos/creditados Auferidos Preço parâmetro – calculado conforme acima 230.000 470.000 Juros pagos ou creditados / auferidos 300.000 350.000 AJUSTE (Lucro Real, Presumido, Arbitrado) 70.000 120.000

Excesso de despesas

Insuficiência de receitas.

Exemplo 5.2 Supondo que uma empresa tomou emprestado, de pessoa vinculada,

estabelecida no exterior o valor de U$ 100.000,00 (contrato não registrado no Banco

Central do Brasil), na seguinte condição:

Data do empréstimo = 01.01.01 U$ 1,00 = R$ 1,00;

Data do pagamento = 30.04.00 U$ 1,00 = R$ 1,20;

Juros contratuais = 10,00% no período;

Libor Semestral = 8,00% (hipótese)

Spread anual = 3,00%.

140

Quadro 5.3.

NATUREZA PERÍODO TAXA QUADRIMESTAL EQUIVALENTE

LIBOR Semestral 8,00% 5,26% (1,08) 4/6 - 1 x 100 = 5,26% SPREAD Anual 3,00% 0,99% (1,03)4/12 - 1 x 100 = 0,99%

TAXA MÁXIMA DE JUROS DEDUTÍVEL 6,25%

Cálculo dos Juros

Descrição Valor R$

Valor do empréstimo............................................... 100.000,00

Empréstimo mais variação cambial....................... 120.000,00

Juros pagos (10,00% x 120.000,00)....................... 12.000,00

Juros Máximos permitidos (6,25% x 120.000,00).... 7.500,00

Adição para fins de CSLL e IRPJ.......................... 4.500,00

5.5. Pessoa Jurídica ou Física Assume o Ônus do Imposto

Conforme parágrafo 5o. do artigo 27 da IN-SRF 243/02, nos pagamentos de juros

em que a pessoa física ou jurídica remetente assuma o ônus do imposto, o valor deste não

será considerado para efeito do limite de dudutibilidade.

O cálculo dos juros sujeito ao preço de transferência poderá ser efetuado por

contrato ou conjunto de operações financeiras com datas, taxas e prazos idênticos.

5.6. Procedimentos Fiscais e Informações Prestadas ao Fisco A IN-SRF 243/02, em seu artigo 40 dispõe sobre Procedimentos de Fiscalização,

conforme discorremos a seguir:

No art. 40 – a empresa submetida a procedimentos de fiscalização deverá fornecer

aos Auditores-Fiscais da Receita Federal (AFRF), encarregados da verificação:

141

I. a indicação do método por ela adotado;

II. a documentação por ela utilizada como suporte para determinação do preço

praticado e as respectivas memórias de cálculo para apuração do preço

parâmetro e, inclusive, para as dispensas de comprovação, de que tratam os

artigos 35 e 36 da mesma Instrução Normativa;

Parágrafo único: Não sendo indicado o método, nem apresentados os

documentos a que se refere o item II, ou, se apresentados, forem

insuficientes ou imprestáveis para formar a convicção quanto ao preço, os

AFRF encarregados da verificação poderão determina-lo com base em

outros documentos de que dispuserem, aplicando um dos métodos referidos

nesta Instrução Normativa.

No art. 41, da mesma Instrução Normativa, vem o enunciado de que “as verificações

dos preços de transferência, serão efetuadas por períodos anuais, em 31 de dezembro, exceto nas

hipóteses de início e encerramento de atividades e de suspeita de fraude”.

Anualmente as empresas devem entregar ao Fisco Federal, Declarações de da

pessoa jurídica, contendo todas as informações a respeitos dos resultados apurados e de

apuração dos tributos federais, inclusive sobre a movimentação de importação e exportação

de bens, serviços e direitos com empresas vinculadas no exterior.

Com relação às informações sobre o preço de transferência, devem ser prestadas de

conformidade com os cálculos elaborados de acordo com os métodos estabelecidos na

legislação.

Omitir informações ou prestá-las de forma imprecisa na DIPJ pode constituir crime

contra a ordem tributária, com multa de até 150% do valor do tributo devido.

142

De acordo com o artigo 1º. Da Lei 8.137/90, “constitui crime contra a ordem

tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante

as seguintes condutas”:

I. omitir informação, ou prestar declaração falsa à autoridades

fazendárias;

II. fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou

omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro

exigido pela lei fiscal;

III. ........;

IV. Elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documentos que

saiba ou deva saber ser falso ou inexato.

143

CAPITULO 6

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Preço de Transferência é o valor cobrado por uma empresa, na venda de bens,

serviços ou direitos a uma subsidiária ou a empresa a ela vinculada.

Com a publicação da Lei 9.430/96, foram introduzidas no ordenamento jurídico

brasileiro regras que dispõem acerca do controle dos preços de transferência.

Os artigos 18 a 24 do referido diploma legal formam um complexo de normas que

determinam métodos de arbitramento do valor de operações de importação, de exportação

e de despesas e receitas financeiras, entre pessoas jurídicas domiciliadas no Brasil com

pessoas vinculadas residentes ou domiciliadas no exterior. A referida lei tem como

objetivo determinar o controle dos preços de custos e despesas máximos aceitos nas

importações e a receita mínima a ser auferida nas exportações, para efeito de se determinar

o lucro tributável das pessoas jurídicas.

Ao longo do trabalho, buscou-se demonstrar os vários métodos para a apuração do

preço parâmetro, tanto na importação como na exportação. Foi adotado inclusive, por força

da legislação brasileira de método de lucratividade que não refletem a realidade do

contribuinte, para fins de comparação – preço parâmetro ou arm´s length, de forma que a

comparação com o preço efetivamente praticado perdeu completamente seu objeto e assim,

qualquer ajuste feito com base em métodos fora da realidade não atende aos princípios que

norteiam a legislação do preço de transferência, contrariando desta forma o princípio

consagrado do não-favoritismo (arm´s length).

144

Discorremos sobre todos os métodos de apuração do preço parâmetro, tanto na

importação, como na exportação, e na sistemática brasileira, o contribuinte está livre para

escolher quaisquer dos métodos para a apuração de um preço parâmetro, desde que

previsto na nossa legislação.

O trabalho foi desenvolvido dentro de cada capítulo, conforme comentários a

seguir:

No capítulo 1 discorremos sobre as normas introduzidas no Brasil sobre o Preço de

Transferência, fazendo abordagem sobre o número de normas contábeis publicadas até os

dias atuais para a normatização da matéria; Foi também discorrido sobre a definição do

termo “Preço de Transferência”, a caracterização do problema, as hipóteses os objetivos

propostos e suas justificativas e qual foi a metodologia aplicada na pesquisa.

Embora chegou-se a conclusão no capítulo I de que existem fundamentos

constitucionais que legitimam o controle fiscal, para efeito de tributação sobre a renda no

Brasil, foi demonstrado também, que na legislação brasileira, encontramos algumas

ilegalidades que podem inviabilizar as empresas colocando-as em um processo de

descontinuidade.

Vimos também, que diversos diplomas legais, em conjunto, podem servir para o

desempenho de uma determinada lei, para se criar o desenho da hipótese da incidência

tributária, porém, não é permitido no nosso sistema tributário, que um deixe para um

diploma menor em hierarquia, que modifique aquilo que está em um diploma maior.

Ainda no Capítulo I foi destacado o conceito de Preço de Transferência na sua

essência e a definição dada pela legislação brasileira, com a sua aplicação prática.

145

No capitulo 2 foi feita a abordagem geral sobre a legislação brasileira, a

conceituação de preço parâmetro, situações em que a pessoa jurídica fica dispensada da

apuração do preço de transferência, o conceito de pessoas vinculadas para fins de preço de

transferência e quais são os métodos utilizados na importação e exportação de bens,

serviços e direitos entre pessoas vinculadas.

No capítulo 3 foi apresentado, com exemplos práticos todos os métodos utilizados

na importação, quais sejam: PIC, PRL-20, PRL-60, CPL. Discorremos também sobre

procedimentos normatizados pela IN-SRF 243/02, mas que julgamos ilegais, pois não

respeita a hierarquia das normas constitucionais tratadas no capítulo II. Dentro dessa

apresentação, também foi apresentada qual deve ser o tratamento do excesso de custo

apurado pela empresa: se ajustes no LACOS / LALUR ou reconhecimento contábil

conforme determina o artigo 5º. Da IN-SRF 243/02, inclusive com comentários sobre os

reflexos do referido registro contábil, no tocante aos Princípios Fundamentais de

Contabilidade.

A partir da caracterização do problema que foi descrito no Capítulo 1, item 1.3, o

objetivo deste trabalho foi estudar a metodologia para a apuração do preço parâmetro, para

fins de comparação com o preço praticado, nas importações e exportações e juros

pago/recebidos com pessoas jurídicas vinculadas, domiciliadas no exterior.

Respostas às questões da caracterização do problema

A caracterização do Problema

A legislação brasileira estabeleceu diversos critérios para a apuração do preço de

transferência tanto na importação como na exportação com pessoas vinculadas. Dessa

146

forma, tendo em vista que de maneira genérica a sistemática imposta tem como objetivo

neutralizar os impactos causados pelo preço de transferência e que os demonstrativos

contábeis devem evidenciar fidedignamente a posição das sociedades em um dado

momento, tendo em vista ainda, que as transações entre as partes relacionadas podem ser

manipuladas com o objetivo de se cometer a evasão fiscal, questiona-se:

1. Os métodos fixados pela IN-SRF 243/02, estabelecidos para o preço de

transferência são aceitáveis pelas empresas de importações?

2. Ao determinar, a Receita Federal do Brasil sobre a destinação do excesso de

custo na importação, de produtos importados realizados ou não dentro do

próprio período de apuração do preço de transferência, registrando contra a

conta de “Lucros ou Prejuízos Acumulados – Patrimônio Líquido”, não estaria

assim distorcendo às Demonstrações Contábeis?

Resposta a questão 1

Os métodos adotados no Brasil são muito semelhantes aos métodos adotados pela

OCDE, conforme demonstrado no 4.18 do capitulo 2.2, porém, vale lembrar, que muitas

vezes, por falta de elementos para se adotar outros métodos, o contribuinte se ver forçado a

utilizar os métodos PRL e CAP, métodos esses que trabalham com margem de lucro.

Isso poderá criar um aumento na carga tributária, pois se apura ajustes nestas

metodologias e o preço praticado tanto na importação como na exportação está abaixo e

acima, respectivamente, se comparado com métodos do mercado livre.

No caso específico do PRL-60%, analisado no título 3.3.2, quadro 3.8, que além

da inconstitucionalidade da IN-243/02, a margem de lucro imposta pela referida Instrução

Normativa foge completamente do princípio do arm´s length (não favoritismo).

147

A mudança na forma de se efetuar o cálculo do preço parâmetro em detrimento à

Lei 9.959/00, acarretará um aumento expressivo na carga tributária das empresas e poderá

levá-las a um processo de descontinuidade, visto que mesmo praticando um preço inferior

ao mercado (na importação) o contribuinte, na maioria das vezes é obrigado a efetuar o

ajuste para fins tributário. Esse comportamento afronta o nosso ordenamento jurídico, visto

que uma Instrução Normativa não tem poder para alterar uma Lei ordinária (Lei

9.959/2.000).

Alguns autores entendem que o preço de transferência baseado no mercado livre é o

mais adequado e assim o resultado passa a ser imparcial nas transações de bens, direitos e

serviços, objeto da negociação. Notoriamente que a carga tributária poderá sofrer

aumentos significativos, quando ao invés de se utilizar o livre mercado utiliza-se outras

metodologias incompatíveis com a realidade mercadológica.

Resposta à questão 2

Uma outra situação que faz com que o haja distorção nos Demonstrativos

Contábeis é a redação dada pelo artigo 45 da Lei 10.637/02, corroborado pelo artigo 5º.

Da IN-SRF 243/02, que determina que o excesso de custo, em dezembro de cada período

de apuração, deve ser tratado da seguinte forma:

Se está ainda no Ativo

Débito - Lucro ou Prejuízo Acumulado (patrimônio líquido)

Crédito - Ativo Correspondente

148

Se já foi realizado

Débito - Lucro ou Prejuízo Acumulado (patrimônio líquido)

Crédito - Resultado do Exercício (resultado).

Notamos que a exigência para o lançamento acima distorcerá o resultado de anos

anteriores. Essa distorção fica mais evidente, caso o preço parâmetro encontrado não reflita

a realidade.

Por outro lado, se o balanço de uma empresa possui determinado ativo e esse, está

super-avaliado, vejamos o que diz o princípio da Prudência (Conservadorismo):

Princípio do Conservadorismo

“Determina a adoção do menor valor para os componentes do Ativo e do maior

valor para os do Passivo, sempre que se apresentem alternativas igualmente válidas para a

quantificação das mutações patrimoniais que alterem o Patrimônio Líquido”.

Assim, caso uma empresa importe uma mercadoria e observa que o custo estocado

supera ao de mercado, caberia tão somente uma provisão para perda de estoque, em

atendimento ao princípio da Prudência, e não a baixa do excesso de custo contra a conta

de lucros ou prejuízos Acumulados, no patrimônio líquido.

Com o procedimento acima, notamos que ao registrar o excesso de custo na

importação contra Lucros ou Prejuízos Acumulados, dentro do Patrimônio Líquido,

notamos também que fere o princípio da oportunidade, pois o registro não atende a

integridade e tempestividade do fenômeno patrimonial; e competência, pois reconhece

custo ou despesa, sem a devida realização do ativo.

149

No capítulo 4 discorremos sobre as regras estabelecidas nos casos se exportação de

bens, serviços e direitos para pessoas vinculadas domiciliadas no exterior. Foi

demonstrada a forma como deve ser calculado o preço parâmetro dentro das metodologias

estabelecidas pela legislação, com abordagem comparativa entre os métodos e

comparabilidade com os métodos estabelecidos pela OCDE e Estados Unidos da América.

Abordamos também o ajuste das receitas de exportações, em função da valorização da

moeda nacional frente às demais moedas de outros países.

No capítulo 5 discorremos sobre as operações os juros pagos/recebidos ou

creditados a pessoa vinculada no exterior. Abordamos qual é o mínimo de receita aceitável

e o máximo de despesas permitidas pela legislação fiscal, inclusive com um exemplo

elucidando como deve ser procedido o cálculo e oferecimento à tributação o excesso de

despesa ou a insuficiência de receita.

Na sistemática determinada pela legislação brasileira, o contribuinte está livre para

escolher qualquer método para a apuração de um preço parâmetro, mas em razão das

dificuldades encontradas para se ter um preço comparável extraído de transações com

pessoas independentes, muitas vezes apura-se o parâmetro dentro da metodologia imposta

pela legislação, mormente pela margem de lucro. Isso se dá, em razão da dificuldade de se

conseguir elementos para se poder utilizar outras metodologias.

A grande maioria das empresas que é submetida ao preço de transferência,

normalmente trabalha com o PRL (Preço de Revenda menos lucro) na importação e CAP

(Custo de Aquisição ou Produção mais lucro) na exportação, visto que os referidos

métodos fornecem uma facilidade no cálculo. Essa facilidade é percebida, pois a própria

documentação do contribuinte que importa ou exporta possibilita a descoberta do

parâmetro para fins de comparação.

150

Sugestões para novas pesquisas

Nosso trabalho foi limitado à pesquisar o Preço de Transferência na Legislação

Brasileira. Outros tópicos não abordados aqui neste trabalho devem merecer análise mais

aprofundada, assim destacamos alguns abaixo:

1. Investimentos no exterior;

2. A tributação dos lucros auferidos no Exterior;

3. Acordos para evitar a bitributação;

4. Custos e Preços – Formação e Análise;

5. Operação back to back;

6. Operação de Drawback;

7. Tratamento dos tributos na importação de ativo permanente;

8. Contrato de mútuo com moeda estrangeira.

151

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