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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE QUÍMICA ORGÂNICA E INORGÂNICA PRECE – PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM CÉLULAS COOPERATIVAS: um movimento de educação para a autonomia. Elton Luz Lopes Fortaleza 2006

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Page 1: PRECE – PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM CÉLULAS …...Esse Programa nasceu na comunidade de Cipó, zona rural do município de Pentecoste, em 1994 e, ao longo de 11 anos de atuação,

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA ORGÂNICA E INORGÂNICA

PRECE – PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM CÉLULAS

COOPERATIVAS: um movimento de educação para a autonomia.

Elton Luz Lopes

Fortaleza

2006

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ELTON LUZ LOPES

DISCIPLINA: PRÁTICA DE ENSINO EM QUÍMICA

PROFESSORA: ELIANA MARIA ROMERO TEIXEIRA

EDUCAÇÃO EM CÉLULAS COOPERATIVAS: UMA ESTRATÉGIA DE

EDUCAÇÃO PARA A AUTONOMIA

Trabalho monográfico de conclusão do curso

apresentado ao Departamento de Química Orgânica e

Inorgânica da Universidade Federal do Ceará como

requisito parcial para obtenção do título de Licenciado

em Química.

Prof. Orientador : Dr. Manoel Andrade Neto

Fortaleza

2006

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Essa Monografia foi aprovada como parte dos requisitos necessários para a

obtenção do grau de Licenciado em Química, outorgado pela Universidade Federal do Ceará.

______________________________________________

Elton Luz Lopes

Monografia aprovada em: 06 de Março de 2006

Examinadores:

______________________________________________

Prof.: Dr. Manoel Andrade Neto

Departamento de Química Orgânica e Inorgânica - UFC

______________________________________________

Prof.: Dra. Sonia Pereira Barreto

Faculdade de Educação - UFC

______________________________________________

Prof.: Dra. Selma Elaine Mazzetto

Departamento de Química Orgânica e Inorgânica - UFC

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AGRADECIMENTOS

A DEUS, pela vida, e pela força para lutar.

A meu Pai, Elizeu e a minha Mãe, Ana Célia por todos os ensinamentos que eles

me deram para que eu me tornasse a pessoa que sou. E aos meus irmãos Helano, Alex,

Rennan e Ravena que me proporcionaram muitos momentos de alegria e descontração.

Aos meus tios Sergio e Antônio Célio que são como pais pra mim. E ao tio Paulo

que sempre esteve pronto para nos auxiliar na luta do dia-a-dia.

A tia Selma que me recebeu em sua casa para que eu continuasse os estudos.

A Marillia, minha namorada que tem me acompanhado e dado força desde 2002.

Ao professor Andrade pelo exemplo de ser humano que ele é, pela orientação

nesse trabalho e desde a preparação para o vestibular.

A professora Eliana Romero pela dedicação com que tratou a mim e todos da

turma, pelos seus conselhos e orientações que foram importantes para a conclusão do

trabalho.

A amiga Arneide Avendaño, pelas horas que dedicou a contribuir na elaboração

dessa monografia.

Aos colegas do laboratório, Glauber, Nirla, Noberto, Honório, Regivaldo e

Leôncio pela amizade.

Aos amigos do “Castelo” (Residência Universitária 2635), que são como mais

uma família para mim.

A todos que contribuíram de alguma forma para a realização dessa monografia e

que não tenham sido citados.

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RESUMO

O presente trabalho demonstra a eficácia da metodologia do Programa de Educação em Células (PRECE) não somente quantitativa mas, também qualitativamente, no qual por dados estatísticos se verificou o número de estudantes do Município de Pentecoste que ingressaram no Ensino Superior, tendo ou não participado do Programa e em que tempo e espaço ocorreu esse fato. O PRECE é uma ação educativa em desenvolvimento no sertão do Ceará desde 1994, iniciado na comunidade rural de Cipó, município de Pentecoste, situada a aproximadamente 100km de Fortaleza. O Programa surgiu quando sete estudantes fora da idade escolar e alguns fora da escola, reuniram-se para estudar em grupo e pelos livros doados, concluíram o ensino básico através do sistema supletivo e, posteriormente, ingressaram na UFC, retornando aos finais de semana para dar continuidade ao Programa. Este estudo foi desenvolvido através de: questionários sócio-econômicos que visam demonstrar a condição socioeconômica e educacional desses estudantes que através do Programa ingressaram no Ensino Superior e o conceito que os universitários oriundos do Programa têm da Metodologia do Estudo em Células; coleta de dados no Núcleo de Processamento de Dados da Universidade Federal do Ceará (UFC), para obter informações referentes ao número de estudantes universitários oriundos do Município de Pentecoste que ingressaram na UFC, nos últimos anos; A pesquisa foi feita com 85 estudantes universitários e 7 graduados oriundos do Programa de Educação em Células, no período de 1994 a 2006. Concluiu-se que o PRECE tem contribuído muito para o desenvolvimento de sua região de atuação, visto que, em 11 anos de existência já possibilitou que mais de 90 estudantes de baixa renda, e muitos destes da zona rural, ingressassem no ensino superior. Constatou-se que 55 % dos estudantes de Pentecoste que foram aprovados no vestibular da UFC a partir de 1996, passaram pelo Programa. Palavras-chaves: mútua educação; autonomia intelectual, protagonismo estudantil, educação

em células;

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .........................................................................................................................8

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................................13

2. HISTÓRICO DO PRECE...................................................................................................17

3. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS 3.1. O impacto do PRECE nos municípios Apuiarés e Pentecoste....................................21 3.2. Perfil dos estudantes do PRECE..................................................................................22 3.3. A importância do PRECE para estes estudantes..........................................................25 3.4. A eficácia da metodologia...........................................................................................27 3.5. O retorno às comunidades............................................................................................28

CONCLUSÕES........................................................................................................................30

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................31

ANEXOS I. Fotos............................................................................................................................33 II. Tabela com nome dos aprovados com ano e curso.....................................................34 III. Questionário utilizado na pesquisa.............................................................................35 IV. Memorial do Autor.....................................................................................................41

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 - Estudantes naturais de Pentecoste aprovados na UFC no período de 1996 a

2006.....................................................................................................................22

Gráfico 02 - Etnia dos estudantes do PRECE..........................................................................23

Gráfico 03 - Naturalidade dos universitários e graduados precistas........................................23

Gráfico 04 - Escolaridade dos pais ou responsáveis................................................................24

Gráfico 05 - Tipo de instituição onde concluíram o Ensino Médio.........................................25

Gráfico 06 - Ações que contribuíram para o ingresso no ensino superior...............................26

Gráfico 07 - Pessoas e instituições que ajudam os estudantes a permanecerem na

Universidade........................................................................................................27

Gráfico 08 - As vantagens da metodologia do estudo em células............................................28

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INTRODUÇÃO

Um novo modelo político-econômico foi adotado por muitos países a partir da década

de 70, e um pouco mais tarde no Brasil, sendo chamado de neoliberal. Esse modelo utiliza

como estratégia governamental, a redução de gastos do Estado com as políticas sociais, o que

vem fazendo com que os Estados diminuam o nível de proteção social às suas populações.

Na educação, o modelo neoliberal tem atacado a escola pública a partir de estratégias

privatizantes, tratando a escola como uma empresa (NASCIMENTO, 1999).

Assim, a Escola deixa de ser o caminho para uma vida melhor e passa a ser um

mecanismo de exclusão, pois:

O objetivo do projeto neoliberal de educação é o de,

gradualmente, retirar a responsabilidade pela educação

institucionalizada da esfera pública do controle do estado

e atrelá-la ao controle e à gerência das empresas

privadas. Nessa operação, a educação não apenas

passaria ao controle total de empresas privadas, mas

estaria orientada diretamente pelas necessidades e

exigências de mão-de-obra das empresas

capitalistas.(SILVA, 1996)

Esse modelo de educação atinge apenas as crianças e jovens de classes populares,

quer dizer, as pessoas pertencentes às classes dominantes continuam a ter acesso aos

conhecimentos que lhes garantam desenvolvimento intelectual e suas posições econômica,

social e política.

Podemos ver, através de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), como a população brasileira tem sofrido com esse modelo econômico excludente,

como uma boa parte da população não chega a ter acesso à educação, e como muitos dos que

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entram na escola não recebem amparo para que consigam concluir seus estudos e poder

sonhar com uma vida mais digna.

Devido às dificuldades tanto de acesso como de permanência na escola, as pessoas de

origem popular do nosso país não conseguem ascender na carreira acadêmica ou mesmo

concluir o ensino básico e entrar na universidade. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra

de Domicílios 1998/2003 (IBGE, 2006), 11,6% da população brasileira, ou, seja mais de 21

milhões de pessoas, com idade acima de 15 anos é analfabeta ou estudou menos de 01 ano, e

60,1% dos homens e 56,5% das mulheres não completaram o ensino fundamental.

No município de Pentecoste, interior do Estado do Ceará que, ,situado na Região

Nordeste do Brasil, o quadro educacional é ainda mais preocupante: existem 53

estabelecimentos de ensino fundamental e 3 escolas de ensino médio. Com exceção de uma

que é da Campanha Nacional de Escolas da Comunidades (CNEC), todas as escolas do

município são públicas. Com relação ao Sistema de Educação de Jovens e Adultos, o

município tem uma escola que oferece apenas o ensino fundamental com estrutura precária.

Segundo o IBGE, dos 32600 habitantes do município, 5818 pessoas com 10 anos ou mais de

idade não têm nenhuma instrução ou estudaram menos de 1 ano. Isso significa dizer que 17,8

% da população local é analfabeta.

No que diz respeito ao ensino superior, a grande maioria dos que concluem o Ensino

Básico na rede pública, não conseguem ingressar em uma universidade pública; e boa parte

desses desiste antes mesmo de tentar o vestibular. Os dados mostram que, entre os estudantes

mais pobres com idade entre 18 e 24 anos, apenas 2,1 % estão matriculados no ensino

superior contra 60,9 % dos mais ricos na mesma faixa etária. Em relação ao Estado do Ceará,

por situar-se no Nordeste do Brasil, uma região declaradamente mais pobre, a situação

agrava-se ainda mais, principalmente, quando se trata da situação educacional no interior do

Estado.

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A revista Universidade Pública (2005) mostrou que entre os estudantes aprovados no

vestibular, a grande maioria estudou a vida toda ou a maior parte dela em escolas particulares.

Segundo esses dados, no vestibular 2005, da Universidade Federal do Ceará (UFC), dos

estudantes oriundos da escola particular inscritos, 11,98 % foram aprovados, preenchendo um

total de 72,8 % das vagas disponíveis; enquanto que apenas 6,57 % dos estudantes oriundos

da escola pública inscritos obtiveram sucesso, ocupando 26,7 % das vagas.

Mesmo porcentagens tão baixas de estudantes oriundos das classes populares,

ingressando em uma instituição pública de ensino superior, já pode ser considerado como o

resultado da implantação de cursos pré-vestibulares populares, os quais buscam dar

oportunidade de acesso a um curso superior a estudantes de baixa renda.

Na UFC existem nove desses cursos registrados como projetos de extensão, funcionando nos

campi, em bairros da periferia de Fortaleza e interior do Estado. Esses cursos são de iniciativa

de departamentos, sindicatos, centros acadêmicos, professores ou de convênios institucionais.

O Programa de Educação em Células Cooperativas (PRECE) foi registrado na Pró-

Reitoria de Extensão a partir de 1998.

Esse Programa nasceu na comunidade de Cipó, zona rural do município de Pentecoste,

em 1994 e, ao longo de 11 anos de atuação, utilizando uma metodologia de ensino inovadora,

na qual os estudantes se ajudam mutuamente para construírem o conhecimento em comunhão,

conta com mais de 90 estudantes aprovados no vestibular da UFC. Hoje o Programa atua na

zona rural e na sede dos municípios de Apuiarés, Pentecoste e Paramoti, além da sua atuação,

desde 2003, no bairro do Pirambu, periferia de Fortaleza.

Essa monografia tem como objetivo geral, analisar a eficácia da metodologia do estudo

em células, desenvolvida pelo PRECE, na preparação para o vestibular e no desenvolvimento

da autonomia intelectual de estudantes de origem popular. Os objetivos específicos englobam:

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• Fazer um relato histórico sobre o Programa de Educação em Células Educacionais

(PRECE);

• Verificar o número de estudantes dos municípios de Apuiarés e Pentecoste, que

ingressaram na Universidade Federal do Ceará nos últimos 11 anos;

• Avaliar a contribuição do Programa nos últimos 11 anos, no que se refere ao

desenvolvimento educacional dos municípios de Apuiarés e Pentecoste;

• Analisar que motivações os estudantes de origem popular envolvidos no PRECE,

tiveram para ingressarem na universidade;

• Identificar as políticas de apoio ao estudante empreendidas pelo PRECE, e como

elas têm contribuído para o ingresso e permanência dos estudantes na

Universidade.

Para atingir esses objetivos adotou-se a seguinte metodologia:

Foi realizada uma pesquisa bibliográfica a fim de obter dados sobre educação, e a cerca

de ingresso no ensino superior. Também foram coletados dados junto ao Núcleo de

Processamento de Dados da Universidade Federal do Ceará para obter informações referentes

ao número de estudantes oriundos dos municípios de Pentecoste e Apuiarés que ingressaram

na UFC a partir de 1996.

Realizou-se também uma pesquisa exploratória e documental envolvendo 85 estudantes

universitários e 07 graduados: (1) em pedagogia, (2) em geografia, (1) em letras, (1) em

química e (2) em agronomia, da Universidade Federal do Ceará oriundos do PRECE.(ver

lista em anexos)

O levantamento dos dados junto aos estudantes foi realizado com a aplicação de

questionários, tendo sido assegurado o anonimato dos pesquisados. O tratamento dos dados

foi realizado utilizando o programa computacional Microsoft Excel.

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No capítulo 1 é feita uma fundamentação teórica do trabalho, utilizando como

referência as obras e trabalhos de Joseph Lancaster, Antonio Gramsci e Paulo Freire,

estabelecendo uma relação entre estes autores e a metodologia do PRECE.

É feito um relato da história do Programa no segundo capítulo, contando como tudo

começou e porque, até chegar aos dias de hoje.

No capítulo 3 são apresentadas e analisadas as informações coletadas junto aos

estudantes, mediante a aplicação dos questionários, sobre o trabalho desenvolvido pelo

referido Programa e sobre os estudantes que o integram.

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1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Por que existem tantos analfabetos no Brasil? Por que existem os movimentos sociais

educacionais? Porque desde a época da nossa colonização existe uma lacuna na educação que,

através do tempo, vem aumentando e nem o poder público, nem a sociedade, conseguem

preencher.

Percebemos que a educação foi pensada para poucos; embora a Constituição Federal

de 1988 assegure que “todos têm direito a uma educação de qualidade” na realidade, direito

previsto em leis não é assegurado na prática. Segundo Ceccon(1990)

Durante muito tempo a escola esteve reservada a uma

pequena minoria, aos filhos do pessoal que tinha posses,

aos filhos dos doutores que estudavam para se tornar, eles

também doutores. A grande maioria dos filhos de

operários e agricultores não tinha praticamente qualquer

oportunidade de estudar e ficava condenada ao

analfabetismo.

E essa dinâmica excludente vem se repetindo até hoje.

Nos séculos XVII e XVIII, período inicial do capitalismo industrial, na Europa, as

dificuldades de acesso e qualidade da educação foram semelhantes às nossas no Brasil

Contemporâneo. Pessoas e movimentos, tanto aqui, quanto em outros países levantaram-se

contra, opondo-se ao que vinha se repetindo ao longo dos anos. Joseph Lancaster, Gramsci e

Paulo Freire são referências importantes dessas lutas.

O Método Lancasteriano, de Joseph Lancaster (NARODOWSKI,1999), por exemplo,

surgiu na Inglaterra no final do século XVIII, e consistia na preparação de alunos mais

avançados em algumas disciplinas para atuarem como monitores e, assim, ensinarem e

coordenarem a aprendizagem de seus companheiros. Somente os monitores se comunicavam

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com os professores que lhes transmitiam os conhecimentos e as normas para a atividade

escolar.

Deste modo, cada monitor tinha seus discípulos, que variavam entre dez a vinte. As

aulas eram ministradas em espaços bastante grandes, em salas espaçosas, com os alunos

distribuídos de acordo com o aproveitamento e o mestre a encontrar-se na extremidade,

sentado em uma cadeira alta, a supervisionar as atividades.

Uma das vantagens atribuídas ao método de ensino mútuo está no fato de possibilitar a

instrução a um número maior de pessoas. Assim, estende-se o acesso à educação às classes

populares, pois um só professor poderia instruir um grande número de alunos. Um número

superior comparado com a metodologia de ensino tradicional.

O método de ensino mútuo expandiu-se muito por obra de Lancaster, ultrapassou as

fronteiras da Inglaterra e espalhou-se por toda a Europa e em outras partes do mundo.

Em 1806 já existiam centros de ensino mútuo em Nova Iorque, na Filadélfia, em

Boston e, em seguida, em Serra Leoa, na África do Sul, na Índia e na Austrália. França

(1814), Suécia (1817) e Rússia (1824) também adotaram o ensino mútuo, além de muitos

países da América do Sul, chegando ao Brasil no início do século XIX, através de um Decreto

Lei de Dom Pedro I, criando a Escola do Ensino Mútuo. Em 1811, na Inglaterra, existiam

quinze escolas com 30 mil alunos.

Outro trabalho a destacar é o do pensador italiano Antonio Gramsci, que lutou pela

igualdade de classes, estando sua teoria voltada para a transformação da sociedade. Gramsci

defendia uma escola que tivesse como objetivo a elevação da consciência das massas

subalternas e, acreditava que isso só seria possível através de uma elevação cultural aliada a

um processo de reforma cultural e moral dessas classes. Esta elevação seria organizada pelo

que ele chamou de “intelectuais orgânicos”, os representantes das classes populares a

trabalhar para a elevação de suas comunidades, as quais pertencem e se ligam organicamente.

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Para Gramsci “a escola deveria ser comum e única”; o que ele chamou de escola

unitária. Defendia uma escola inicial, de cultura geral, humanista e formativa, não

profissionalizante, mas que formasse jovens capazes de pensar, de estudar e dirigir ou

controlar quem dirige (MOCHCOVITCH,1988) .

Para Paulo Freire (1978), o objetivo maior da educação é a conscientização do aluno,

levando-o a entender a sua situação de oprimido e agir em favor da própria libertação. Freire

condenava o ensino oferecido pela maioria das escolas que ele chamava de “burguesas” e

qualificou esse tipo de educação como educação bancária, onde o saber é visto como uma

doação dos que se julgam seus detentores. Ele também acreditava que numa sala de aula não

somente os alunos aprendiam, mas que os professores também tinham algo a aprender com os

alunos.

O método de alfabetização de adultos desenvolvido pelo educador Paulo Freire parte

de uma pesquisa realizada na comunidade das pessoas a serem alfabetizadas, da qual se

seleciona as palavras mais recorrentes nas falas das pessoas, são as chamadas palavras

geradoras. Então, a partir do diálogo, utilizando as palavras geradoras, essas pessoas têm a

oportunidade de tomar consciência e discutir reflexivamente sobre sua situação no mundo e

na sociedade ao mesmo tempo em que estão sendo alfabetizados.

A metodologia de ensino do PRECE é semelhante ao Método Lancasteriano e tem por

princípio norteador o pensamento da Pedagogia Libertadora de Paulo Freire, assumindo a

proposta de promover uma educação reflexiva e questionadora, onde todos os envolvidos no

processo educativo assumam a condição de sujeitos históricos, vivenciando a condição de

protagonistas e construtores da própria realidade, na condição de atores sociais que recebem e

ao mesmo tempo influenciam o meio em que vivem. O estudo e o agir em células privilegiam

a construção do saber de modo interativo, coletivo e cooperativo, por intermédio do

compartilhamento de conhecimentos entre estudantes, proporcionando ao grupo a aquisição

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da autonomia intelectual, através de uma formação reflexiva e questionadora, produzindo,

deste modo, uma consciência político-social indispensável na construção de homens e

mulheres capazes de tomar decisões baseadas em suas próprias conclusões.

Ao chegar no PRECE os estudantes fazem uma avaliação diagnóstica para identificar

o nível de seus conhecimentos. A seguir, são organizados em grupos de no mínimo cinco, e

no máximo, dez pessoas, de acordo com esse nível e, com a ajuda de um monitor, passam a

estudar, inicialmente, as cinco disciplinas básicas (português, matemática, biologia, história e

geografia). Após esse período, chamado de revisão, os educandos passam a estudar conteúdos

direcionados para o ingresso no ensino superior.

Os professores, que são ex-estudantes do PRECE, ao mesmo tempo que compartilham

conhecimentos específicios sobre as disciplinas curriculares, também preparam os estudantes

para agirem como multiplicadores e monitores dessa estratégia de educação.

Faz parte do currículo, um Curso de Formação Política, onde os estudantes, através de

textos e debates discutem a sua realidade e o que fazer para transformá-la. Cada estudante,

após o ingresso no Ensino Superior, retorna à sua comunidade de origem para ajudar os que

ainda não conseguiram ser aprovados no vestibular, e, após a sua graduação, são estimulados

a desenvolver projetos que favoreçam o desenvolvimento sustentável da sua região.

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2. HISTÓRICO DO PRECE

Tudo começou no ano de 1994, em Cipó, uma comunidade rural do município de

Pentecoste-Ceará situado a 90 Km de Fortaleza, capital do Estado. Por iniciativa do Professor

Manoel Andrade Neto, que desde criança deixara sua família para estudar em Fortaleza e

agora era professor de Química da Universidade Federal do Ceará. A princípio, sete jovens

aceitaram o desafio de morar numa casa de fazer farinha abandonada (anexo I), para

estudarem juntos, com o objetivo de concluir o ensino básico e entrar na Universidade. Destes

sete, apenas um havia concluído o ensino básico através de sistema supletivo. Como não

havia escola de ensino médio na comunidade e alguns estavam fora da faixa etária escolar,

foram instruídos pelo professor a se matricularem no supletivo.

Eles se reuniam em grupos para estudar durante a semana e, os que detinham maior

conhecimento em determinadas disciplinas passavam a coordenar os respectivos grupos de

estudo. Nos finais de semana, tiravam suas dúvidas com o professor Manoel Andrade e por

ele eram estimulados a continuar.

Além de dar esperança aos estudantes e oportunizar-lhes uma nova visão sobre a

importância da educação, o projeto ajudou-os a vencer muitas dificuldades como,

alimentação, transporte para a realização das provas do supletivo em Fortaleza, além de livros

recebidos de doações. Para superar as dificuldades relacionadas com a aprendizagem, esses

jovens foram instruídos a se ajudarem mutuamente.

Em 1996 o primeiro estudante do PRECE foi aprovado no vestibular para o curso de

Pedagogia na Universidade federal do Ceará. Em 1997, mais uma aprovação, para o curso de

Engenharia de Pesca. A partir daí, até o ano de 2001, 8 estudantes ingressaram na UFC. Nesse

período, o PRECE já havia crescido e os universitários voltavam à comunidade de Cipó todos

os finais de semana para dar continuidade ao projeto. Esse fato era um indício de que a

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metodologia da mútua cooperação entre os estudantes estava dando certo. No vestibular para

o ano de 2002, 7 estudantes foram aprovados pela UFC, confirmando mais uma vez o êxito

do trabalho educativo do PRECE.

Nesse ano, aos finais de semana, 40 estudantes deslocavam-se da sede do município

de Pentecoste à comunidade de Cipó para estudarem no PRECE. Como não havia espaço

suficiente na casa de farinha, os estudantes formavam grupos de estudo, ao redor da casa,

embaixo das sombras de árvores; principalmente dos juazeiros, que têm folhas e fazem

sombras até durante o período de estiagem.(ver fotos em anexos)

Todos os estudantes aprovados no vestibular foram morar nas residências

universitárias da UFC, em Fortaleza, e retornavam todos os finais de semana para dar

continuidade ao projeto.

Esse ciclo fez com que um simples projeto se transformasse em um grande programa;

e, ainda que um grupo de estudantes fundasse uma instituição denominada Projeto

Educacional Coração de Estudante, que hoje se denomina Instituto Coração de Estudante.

Essa instituição foi organizada em 1998, pelos próprios estudantes e ela abriga atualmente o

Programa de Educação em Células Cooperativas (PRECE).

A partir do ano 2000, os precistas que estudavam através do sistema supletivo já não

precisavam mais ir a Fortaleza para realizar as provas, haja visto que o Instituto Coração de

Estudante já havia realizado uma parceria com uma escola governamental, o Centro de

Educação de Jovens e Adultos (CEJA), situado na cidade de Itapipoca-CE, que enviava os

professores para aplicar as provas na própria comunidade.

Posteriormente, a parceria foi ampliada e os próprios estudantes universitários do

Programa se encarregaram de dar a orientação e aplicar as provas para os estudantes do

supletivo, cabendo à escola do governo apenas dar a certificação.

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No ano 2003 aconteceu a primeira multiplicação do PRECE. Devido ao grande

número de estudantes interessados e com a certeza de que não seria possível atender a um

grande número de pessoas na comunidade de Cipó, a liderança do PRECE, junto com os

estudantes de Pentecoste que haviam estudado no Cipó, em 2002, decidiram implantar um

núcleo na sede do município.

Devido ao grande número de estudantes a serem atendidos no novo núcleo do PRECE,

surgiu a idéia de selecionar estudantes novatos, além dos que já tinham experiência com a

metodologia, para atuarem como monitores. cem estudantes foram selecionados para

participarem de um curso de preparação de monitores, o qual incluiu os conteúdos específicos

de cada matéria e conhecimentos pedagógicos sobre a estratégia a ser utilizada. Apenas 80

estudantes aceitaram participar do curso e, ao final, 60 destes concluíram essa etapa

preparatória. Após a preparação dos monitores, os demais estudantes foram chamados para o

inicio das atividades que aconteceram no prédio de uma escola da CNEC (Campanha

Nacional de Escolas da Comunidade), que foi alugada pelo PRECE.

As atividades funcionaram em duas etapas: em um primeiro momento, os

universitários, que tinham sido estudantes do Programa, e agiam como professores, se

deslocavam de Fortaleza para, durante o dia, se encontrarem com os monitores e orientá-los; e

durante a noite, juntamente com esses monitores, atendiam aos demais estudantes. Cada

monitor orientava um grupo de estudos que variava de 5 a 10 participantes, os quais eram

reunidos de acordo com o nível de compreensão de cada um, sempre evitando expô-los a

conteúdos acima da compreensão destes. A idéia era fazer com que o estudante caminhasse

no seu próprio ritmo de estudo, já que pela avaliação diagnóstica, muitos ainda apresentavam

o nível de 5ª série, apesar de terem concluído o ensino básico. Havia estudante que era

monitor de apenas uma disciplina; outros, porém, chegaram a sê-lo de até cinco disciplinas.

Assim, dizia-se que os estudantes que mais sabiam, em vez de privilégios, tinham

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responsabilidades. Ao final de cada encontro das células de estudo, os monitores se reuniam

para compartilhar as experiências e esse era um momento de grande emoção. Percebia-se não

somente ansiedade, mas uma grande euforia, que se expressava em suas palavras. Eles se

sentiam orgulhosos e emocionados por receberem um papel de protagonista do processo, ao

invés de serem meros expectadores.

Paralelamente, ao trabalho nos dois núcleos (Pentecoste e Cipó), foi iniciada uma

pequena experiência em uma comunidade de baixa renda em Fortaleza. Apesar das

insuficientes condições físicas do ambiente e da falta dos mínimos recursos necessários, esse

núcleo, com apenas um ano de funcionamento, conseguiu formar uma pequena liderança e

aprovar uma estudante no vestibular. E para não fugir à regra de sucesso do Programa, após a

aprovação, essa estudante ainda continua envolvida no projeto, inclusive, como coordenadora

engajada e comprometida.

Em 11 anos de existência, o Programa já possibilitou o ingresso de 91 estudantes na

Universidade Federal do Ceará (UFC) e três na Universidade de Fortaleza (UNIFOR), (anexo

II) e, dentre estes, 9 já estão graduados, incluindo 2 que estão cursando mestrado e 1 que foi

aprovado para o curso de Doutorado em química orgânica, todos na UFC.

Estes resultados são bastante significativos, principalmente, quando se considera que

eles são oriundos de comunidades de baixa renda do interior do estado, inclusive da zona

rural. No entanto, o mais importante é que a maioria aprendeu a lição de cooperação e

solidariedade e continua engajada voluntariamente, no programa, dando-lhe sustentabilidade.

Page 21: PRECE – PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM CÉLULAS …...Esse Programa nasceu na comunidade de Cipó, zona rural do município de Pentecoste, em 1994 e, ao longo de 11 anos de atuação,

ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

3.1 Impacto do PRECE nos municípios Apuiarés e Pentecoste

O PRECE atua hoje nas sedes dos municípios de Apuiarés, Paramoti, Pentecoste e no

bairro do Pirambu, em Fortaleza, e nas comunidades rurais de Cipó, Boa Vista, Providência e

Assentamento Estrela D’alva em Pentecoste além de Canafístula, localizada no município de

Apuiarés.

Durante os 11 anos de atuação, já foram aprovados 91 estudantes do PRECE no

vestibular da UFC em mais de 20 cursos. A maioria destes é natural do município de

Pentecoste, pois como é sabido, o Programa nasceu neste município, mas, há também

estudantes que são naturais de Apuiarés e de outros municípios.

Estudantes Naturais de Pentecoste aprovados na UFC

Foram coleados dados junto ao Núcleo de Processamento de Dados (NPD) da

Universidade Federal do Ceará acerca de estudantes que foram aprovados no vestibular da

UFC nos últimos 11 anos e que se declararam naturais de Pentecoste.

De acordo com as informações do NPD, 102 estudantes naturais de Pentecoste foram

aprovados pela UFC no período de 1996 até o vestibular de 2006 (gráfico 01), e ainda, dentre

estes, 56 se prepararam para o vestibular estudando nas Escolas Populares Cooperativas do

PRECE, ou seja, 55 % dos estudantes que ingressaram na UFC de 1996 a 2006, e que se

declararam naturais de Pentecoste, receberam ajuda do PRECE para isso.

Page 22: PRECE – PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM CÉLULAS …...Esse Programa nasceu na comunidade de Cipó, zona rural do município de Pentecoste, em 1994 e, ao longo de 11 anos de atuação,

55%

45%

PRECE DEMAIS

Gráfico 01: Estudantes naturais de Pentecoste aprovados na UFC no período de 1996 a

2006.

3.2 Perfil dos Estudantes do PRECE

Foi aplicado um questionário (anexo III) com todos os estudantes universitários e

graduados oriundos do PRECE, para obter informações tanto do perfil desses estudantes,

como para fazer uma avaliação do PRECE de acordo com a opinião dos mesmos. Foram

recebidos 89 dos 92 questionários aplicados.

Verificamos, através dos dados obtidos com os questionários, que 56 % dos estudantes

são do sexo masculino. No que se refere a etnia, 57 % se consideram pardos, ao passo que 31

% se consideram brancos, 9 % negros e 3 % amarelos (gráfico 02). Esses dados mostram que

há uma distribuição étnica semelhante à mostrada pelo Censo realizado pelo IBGE, em 2000.

De acordo com as informações coletadas durante o recenseamento, 57,51 % dos cearenses se

consideram pardos, enquanto 4,1 % se declararam negros.

Page 23: PRECE – PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM CÉLULAS …...Esse Programa nasceu na comunidade de Cipó, zona rural do município de Pentecoste, em 1994 e, ao longo de 11 anos de atuação,

31%

9%57%

0%

3%

BRANCO NEGRO PARDO INDÍGENA OUTROS

Gráfico 02: Etnia dos estudantes do PRECE.

A análise dos dados mostra que a maioria dos pesquisados (89,9 %) tem de 18 a 30

anos de idade. Observou-se que 60 % são naturais de Pentecoste, 17 % de Apuiarés e 23 % de

outros municípios (gráfico 03). E também que 43,8 % dos estudantes são oriundos da zona

rural destes municípios.

17%

60%

23%

APUIARÉS PENTECOSTE OUTROS

Gráfico 03: Naturalidade dos universitários e graduados precistas.

Ao analisarmos as condições sócio-educacionais dos universitários e graduados do

PRECE verificamos o quanto esses estudantes lutaram, quantas barreiras tiveram que quebrar

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e quanto são vitoriosos por terem conseguido ingressar na Universidade, pois muitos eram os

fatores que contribuíam para que eles não atingissem esse objetivo. Verificou-se que 73 % dos

pais e 49,4 % das mães desses estudantes não chegaram a concluir o ensino fundamental.

Observamos também, que 14,6 % das mães são graduadas. Esse percentual é alto e podemos

atribuí-lo ao fato de que há alguns anos vem surgindo em muitos municípios, cursos de

Pedagogia em regime especial, que em Pentecoste e Apuiarés são oferecidos pela

Universidade do Vale do Acaraú (UVA). (gráfico 04).

Gráfico 04: Escolaridade dos pais ou responsáveis.

O baixo nível de escolaridade é um fato comum na família da maioria desses

estudantes, que, morando no interior do estado e freqüentando as escolas públicas, teriam

poucas chances educacionais de conseguir uma vaga numa Instituição Pública de Ensino

Superior, pois concorreriam com estudantes que sempre estudaram em escolas particulares.

Estas afirmações se confirmam ao observarmos que 74 % concluíram o ensino Médio em

instituições públicas de ensino (gráfico 05), e também que mais de 70 % dos pesquisados não

tinham conhecimento de ninguém da família que tivesse sido aprovado para um curso

0

5

10

15

20

25

30

35

ANALFABETO

ALFABETIZ

ADO

FUNDAMENTAL

INCOM

PLEO

FUNDAMENTAL

COMPLE

O

MÉDIO

INCOM

PLETO

MÉDIO

COM

PLETO

SUPERIOR IN

COMPLE

TO

GRADUADO

PÓS-GRADUADO

%

(%) PAI (%) MÃE

Page 25: PRECE – PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM CÉLULAS …...Esse Programa nasceu na comunidade de Cipó, zona rural do município de Pentecoste, em 1994 e, ao longo de 11 anos de atuação,

superior na UFC; e que apenas 46 % deles tinham, antes de ingressarem no PRECE, a

perspectiva de fazer um curso superior.

Gráfico 05: Tipo de instituição onde concluíram o Ensino Médio.

Porém, esses jovens entraram no PRECE e aceitaram o desafio de lutar para mudar o

próprio destino, vencer todas as condições que concorriam para que eles não atingissem seus

objetivos. E tiveram muitas motivações para isso: 51 % dos pesquisados responderam que o

motivo que os levara a lutar pelo ingresso na universidade foi por não querer trabalhar

ganhando pouco e acreditar que quem é formado consegue melhores empregos.

3.3 A importância do PRECE para esses estudantes

O PRECE teve um papel importante para esses estudantes, na luta pela aprovação no

vestibular: 93 % responderam que o PRECE foi uma das instituições que mais contribuíram

para essa aprovação. E todos eles receberam algum tipo de ajuda do PRECE para ingressar na

Universidade (gráfico 06).

74%

3%

9%

2% 12%

ESCOLA PÚBLICA

MAIOR PARTE NA ESCOLA PÚBLICA

ESCOLA PARTICULAR

MAIOR PARTE NA ESCOLA PARTICULAR

CNEC

Page 26: PRECE – PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM CÉLULAS …...Esse Programa nasceu na comunidade de Cipó, zona rural do município de Pentecoste, em 1994 e, ao longo de 11 anos de atuação,

Gráfico 06: Ações que contribuíram para o ingresso mp ensino superior

I-Empréstimo de livros; II-Transporte escolar; III-Alimetação; IV-Hospedagem; V-Ambiente para estudar; VI-

Ajuda de custo; VII-Orientação sobre o vestibular; VIII-apoio para fazer a inscrição no vestibular; IX-Estímulo

para estudar; X-apoio para fazer as provas do vestibular; XI-Outros; XII-Não recebi nenhum apoio

Para permanecerem na Universidade eles receberam ou recebem ajuda de pessoas ou

instituições (gráfico 07). O PRECE aqui também foi citado como uma instituição que muito

tem contribuído para permanência desses estudantes na universidade. Um total de 67,4 %

responderam que recebem ajuda do PRECE para retornar às suas comunidades, e que isso é

muito importante para a sua permanência na Universidade porque lhes permite manter os

vínculos com suas comunidades, ver os pais , amigos e parentes dando-lhes apoio emocional,

além de lhes dar a oportunidade de colaborar com o desenvolvimento da sua região, dando

mais significado aos estudos na faculdade. Muitos estudantes recebem também ajuda

financeira do Programa, para que possam se manter e pagar passagens para se deslocar até a

faculdade. De todos os estudantes que ingressaram na universidade através do PRECE, apenas

uma trancou o curso, por conta de problemas pessoais. Posteriormente essa estudante fez um

curso superior em outra universidade.

0

20

40

60

80

100

I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII

% d

e re

spos

tas

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Gráfico 07: Pessoas e instituições que ajudam os estudantes a permanecerem na Universidade.

3.3 A eficácia da metodologia do PRECE

Quando perguntados sobre a eficácia da metodologia empregada nas Escolas

Populares Cooperativas, 88,8 % a consideram mais eficaz do que o método tradicional de

aulas expositivas.

A estratégia de estudo em células educacionais é eficiente no desenvolvimento da

autonomia intelectual dos estudantes, tornando-os protagonistas do seu processo de

aprendizagem e contribuindo para a construção de uma consciência solidária e crítica nos que

participam desse empreendimento social. Algumas das habilidades e aptidões desenvolvidas

pelos estudantes que passaram pelo processo são mostradas no gráfico 08:

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

1

% d

e re

spos

tas

PAI

MÃE

IRMÃOS

OUTROS PARENTES

AMIGOS

PRECE

UNIVERSIDADE

IGREJA

RECURSOS PRÓPRIOS

OUTROS

NINGUÉM

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Gráfico 08: As vantagens da metodologia do estudo em células.

I – estimula a estudar mais para poder compartilhar o que aprendeu com os colegas; II - melhora a capacidade

de compreensão dos conteúdos estudados; III – ajuda a sedimentar os conhecimentos; IV – contribui para a

desinibição; V – desenvolve a expressão verbal dos estudantes; VI – melhora a capacidade de leitura; VII –

estimula a produzir textos; VIII – dá oportunidade de compartilhar os medos e ansiedades; IX – oportunidade de

falar sobre planos e sonhos; X – faz se sentir responsável pelo aprendizado dos colegas; XI – ensina a ter mais

responsabilidade e compromisso com o próprio aprendizado; XII – ensina a ter mais compromisso com as

necessidades dos colegas; XIII – dá força para não desistir diante das dificuldades; XIV – nenhuma das

anteriores.

0

20

40

60

80

100

I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII XIII XIV

% d

e r

es

po

sta

s

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3.5 O retorno às comunidades

O espírito de cooperação e solidariedade adquirido por esses estudantes no PRECE vai

além da preocupação com a aquisição de conhecimentos. É possível identificar um sentimento

de responsabilidade pelo desenvolvimento da sua região: hoje 87,6 % dos estudantes que

passaram no vestibular através do PRECE continuam envolvidos no Programa atuando como

facilitadores educacionais e/ou como coordenadores das Escolas Populares Cooperativas e de

outros programas, além da Equipe de Apoio ao Estudante e do Núcleo de Apoio ao Produtor

Rural (NAPR) e o Grupo de Desenvolvimento Político e Ação comunitária(GDPAC); e 5,6 %

declararam que não estão envolvidos atualmente mas, pretendem voltar a participar.

Pretendem, com isso, contribuir para que, assim como eles, os outros tenham uma

perspectiva de vida digna; e não precisem mendigar um subemprego que só lhes dará

condições de subsistir, para que continuem sendo explorados pelos donos do capital; que

também possam lutar por um mundo mais justo onde todas as pessoas tenham uma vida

digna, onde não haja miseráveis e nem pessoas morrendo de fome.

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CONCLUSÕES

Concluímos que o PRECE, através da metodologia de estudo em células cooperativas

e das ações de apoio aos estudantes, tem contribuído muito para o desenvolvimento do

município de Pentecoste, visto que dos estudantes que foram aprovados na UFC, de 1996 a

2006, e que se declararam naturais de Pentecoste, 55 % são frutos do PRECE. Além disso,

também através do PRECE já ingressaram na UFC mais 36 estudantes naturais de Apuiarés e

de outros municípios.

Portanto, a metodologia do estudo em células é um empreendimento social de

sucesso, pois, ao longo de 11 anos de existência, tem contribuído para que estudantes de baixa

renda e muitos ainda da zona rural, que vivem num ambiente de profunda desvalorização da

educação pelos gestores públicos e até pela comunidade, possam aprender e vencer uma

injusta competição com estudantes da escola privada para o ingresso no ensino superior

público.

Esses estudantes vitoriosos aprenderam a cooperar e, solidariamente estão dando

continuidade e multiplicando a iniciativa, envolvendo-se voluntariamente, no programa.

Simples alunos estão sendo transformados em atores sociais de nível superior, profundamente

comprometidos com a transformação da realidade de suas comunidades.

Atualmente, além das Escolas Populares Cooperativas, existe no PRECE: O Núcleo de

Apoio ao Produtor Rural (NAPR), um grupo formado por dois agrônomos e alguns estudantes

de agronomia, todos oriundos do Programa, que prestam assistência técnica aos produtores

rurais de Pentecoste e Apuiarés; o Grupo de Desenvolvimento Político e Ação Comunitária

(GDPAC), formado por estudantes do Programa e o Núcleo de Psicologia Comunitária da

UFC (NUCOM), que está promovendo fóruns de discussão englobando os estudantes e a

população, além das autoridades municipais, para tratar da segurança em Pentecoste.

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Estudo sobre os Cursos Pré-Vestibulares Populares: Dissertação de Mestrado. Orientadora:

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STEIN, Susana A. POR UMA EDUCAÇÃO LIBERTADORA. Petrópolis: Editora Vozes,

1982.

Page 33: PRECE – PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM CÉLULAS …...Esse Programa nasceu na comunidade de Cipó, zona rural do município de Pentecoste, em 1994 e, ao longo de 11 anos de atuação,

ANEXOS

I. Fotos do PRECE.

Figura 01: Células de Estudo

Figura 02: antiga Casa de farinha Figura 03: Escola Popular

Cooperativa de Cipó,

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II. Estudantes do PRECE aprovados no vestibular

Tabela 01: Número de estudantes aprovados por curso e universidade

CURSO UNIVERSIDADE Nº DE ESTUDANTES ADMINISTRAÇÃO UNIFOR 1 AGRONOMIA UFC 12 BIBLIOTECONOMIA UFC 1 BIOLOGIA UFC 1 C. CONTÁBEIS UFC 1 CIÊNCIAS SOCIAIS UFC 3 DIREITO UNIFOR 1 ECON. DOMÉSTICA UFC 4 ECONOMIA UFC 4 EDUCAÇÃO FÍSICA UFC 2 ENFERMAGEM UFC 1 ENG. DE PESCA UFC 4 ENG. QUÍMICA UFC 1 FARMÁCIA UFC 1 FISIOTERAPIA UNIFOR 1 GEOGRAFIA UFC 6 HISTÓRIA UFC 2 JORNALISMO UFC 1 LETRAS UFC 11 MATEMÁTICA UFC 1 PEDAGOGIA UFC 7 PEDAGOGIA DA TERRA UFC 12 QUÍM. INDUSTRIAL UFC 2 QUÍMICA UFC 9 SECRETARIADO UFC 2 ZOOTECNIA UFC 2

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III. Questionário

QUESTIONÁRIO

AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS SOCIO-EDUCACIONAIS OBTIDOS ATRAVÉS

DA AÇÃO DO PRECE

1. Qual o seu sexo?

( ) Masculino ( ) Feminino

2. Com relação a etnia, como você se considera?

( ) Branco ( ) Negro ( ) Pardo ( ) Indígena ( ) Outras. Qual? ____________

3. Em qual das faixas de idade abaixo você se enquadra?

( ) menor que 18 anos ( ) 18 a 24 anos ( ) 25 a 30 anos ( ) 31 a 35 anos

( ) 36 a 40 anos ( ) 41 a 45 anos ( ) Mais de 45 anos

4. Você é natural de onde?

( ) Apuiarés ( ) Pentecoste ( ) Outro município. Qual? _____________

5. Como você classifica o local de moradia da sua família?

( ) Comunidade rural ( ) Zona urbana

6. Na casa de seus pais havia um espaço específico para você estudar com tranqüilidade?

( ) Sim ( ) Não ( ) Mais ou menos

7. Grau de escolaridade do pai ou responsável

( ) Analfabeto ( ) Alfabetizado ( ) Ensino Fundamental incompleto

( ) Ensino Fundamental completo ( ) Ensino Médio Incompleto

( ) Ensino Médio Completo ( ) Ensino Superior incompleto

( ) Graduado ( ) Pós-graduado

8. Grau de escolaridade da mãe ou responsável

( ) Analfabeto ( ) Alfabetizado ( ) Ensino Fundamental incompleto

( ) Ensino Fundamental completo ( ) Ensino Médio Incompleto

( ) Ensino Médio Completo ( ) Ensino Superior incompleto

( ) Graduado ( ) Pós-graduado

9. Que tipo de Ensino Médio você concluiu?

( ) Normal ( ) Educação de Jovens e Adultos (Supletivo)

( ) Técnico (Ensino profissionalizante)

10. Onde você cursou o Ensino Médio?

( ) Escola pública ( ) Escola particular ( ) Escola comunitária (CNEC)

( ) maior parte na escola pública ( ) Maior parte na escola particular

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11. Antes de você ingressar no PRECE, quais eram as suas perspectivas de futuro:

( ) Entrar na universidade

( ) Conseguir um emprego em sua cidade

( ) Conseguir um emprego em Fortaleza

( ) Trabalhar em outro estado

( ) Trabalhar com os pais

( ) Fazer um concurso para obter um emprego público

( ) Trabalhar em sua comunidade em negócio próprio

( ) Outra. Qual __________________________

( ) Nenhuma perspectiva

12. Antes de ingressar no PRECE, você já tinha alguém da família que fosse universitário ou graduado pela

UFC, SEM A AJUDA DO PRECE.

( ) Sim (pais e / ou irmãos)

( ) Sim (Tios e /ou primos)

( ) Sim (parentes distante)

( ) Não tenho conhecimento de ninguém.

13. Antes de ingressar no PRECE, você já tinha alguém da família que fosse universitário ou graduado pela

UFC, COM A AJUDA DO PRECE.

( ) Sim (pais e / ou irmãos)

( ) Sim (Tios e /ou primos)

( ) Sim (parentes distante)

( ) Não tenho conhecimento de ninguém.

14. Antes de ingressar no PRECE, você já tinha alguém da família universitário ou graduado em universidade

que NÃO SEJA A UFC.

( ) Sim (pais e / ou irmãos)

( ) Sim (Tios e /ou primos)

( ) Sim (parentes distante)

( ) Não tenho conhecimento de ninguém.

15. Que motivos lhe levaram a querer ingressar na universidade.

( ) Por não querer trabalhar ganhando pouco e acreditar que quem é formado ganha mais e consegue

melhores empregos

( ) Pelas simples vontade de aprender mais para ter mais conhecimentos

( ) Por necessidade de ser reconhecido na sociedade como alguém que tem muito conhecimento

( ) Por incentivo da família e de amigos

( ) Outras ________________________

16. Você considera que a estratégia do PRECE (sistema monitorial) é mais eficaz do que o método tradicional

de aulas expositivas utilizado nos cursinhos?

( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei

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17. Antes de ingressar na Universidade, no período em que participou do Pré-Vestibular Cooperativo do

PRECE, você atuou como monitor ou era responsável por alguma das disciplinas enumeradas abaixo?

Sim ( ) Não ( ) Quais?

( ) Português ( ) Matemática ( ) Geografia ( ) História ( ) Química

( ) Física ( ) Biologia ( ) Redação

18. Marque abaixo, as afirmações que você considera verdadeiras em relação a sua experiência de ter agido

como MONITOR EDUCACIONAL no Pré-Vestibular Cooperativo do PRECE.

(Só responda se tiver agido como monitor ou que tenha sido responsável por alguma disciplina)

1. ( ) Me estimulou a estudar mais para poder compartilhar com os meus colegas

2. ( ) Melhorou a minha capacidade de compreensão dos conteúdos estudados

3. ( ) Me ajudou a sedimentar os meus conhecimentos

4. ( ) Contribuiu para a minha desinibição

5. ( ) Contribuiu para desenvolver a minha expressão verbal

6. ( ) Melhorou a minha capacidade de leitura

7. ( ) Me estimulou a produzir textos

8. ( ) Tive oportunidade para falar sobre os meus medos e ansiedades com os meus colegas

9. ( ) Tive oportunidade para falar sobre os meus sonhos e planos com os colegas

10. ( ) Me senti responsável pelo aprendizado dos meus colegas

11. ( ) Aprendi a ter mais responsabilidade e compromisso com o meu aprendizado

12. ( ) Aprendi a ter mais compromisso com as necessidades de meus colegas

13. ( ) Me ajudou a não desistir dos estudos na hora das dificuldades

14. ( ) Nenhuma das opções acima

19. Marque abaixo, as afirmações que você considera verdadeiras em relação a sua experiência de TER

ESTUDADO EM GRUPO, no PRECE. (não precisa ter agido como monitor)

1. ( ) Me estimulou a estudar mais para poder compartilhar com os meus colegas

2. ( ) Melhorou a minha capacidade de compreensão dos conteúdos estudados

3. ( ) Me ajudou a sedimentar os meus conhecimentos

4. ( ) Contribuiu para a minha desinibição

5. ( ) Contribuiu para desenvolver a minha expressão verbal

6. ( ) Melhorou a minha capacidade de leitura

7. ( ) Me estimulou a produzir textos

8. ( ) Tive oportunidade para falar sobre os meus medos e ansiedades com os meus colegas

9. ( ) Tive oportunidade para falar sobre os meus sonhos e planos com os colegas

10. ( ) Me senti responsável pelo aprendizado dos meus colegas

11. ( ) Aprendi a ter mais responsabilidade e compromisso com o meu aprendizado

12. ( ) Aprendi a ter mais compromisso com as necessidades de meus colegas

13. ( ) Me ajudou a não desistir dos estudos na hora das dificuldades

14. ( ) Nenhuma das opções acima

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20. Em relação ao tempo que você está na universidade, qual o seu status?

( ) Universitário Iniciante ( ) Universitário Veterano ( ) Graduado

* Universitário iniciante - que ingressa em 2006.1

21. seu ingresso na universidade deve ter exigido muito esforço de sua parte, mas você também deve ter

recebido apoio de pessoas e instituições para isso. Assinale abaixo as pessoas e instituições que mais lhe

apoiaram na caminhada.

( ) Pai ( ) Mãe ( ) Irmãos ( ) Outros parentes ( ) Amigos ( ) PRECE ( ) Escola Pública (

) Professores do Ensino Básico ( ) Igreja ( ) Outros. Quem? _____________ ( )

Ninguém

22. Marque dentre os itens abaixo aquele (s) que você considera ajuda do PRECE para VOCÊ INGRESSAR

NA UNIVERSIDADE.

( ) Empréstimo de livro ( ) Orientação sobre o vestibular

( ) Transporte escolar ( ) Apoio para fazer a inscrição no Vestibular

( ) Alimentação ( ) Estímulo para estudar

( ) Hospedagem durante os finais de semana

( ) Ambiente para estudar

( ) Apoio para fazer as provas do vestibular

( ) Outros_______________________

( ) Ajuda de custo ( ) Não recebi nenhum apoio

23. Fazer um curso universitário implica em muitos custos e para permanecer na faculdade você precisa de

recursos. Assinale abaixo as pessoas e/ou instituições que mais lhe apoiaram ou apóiam nesse sentido.

( ) Pai ( ) Mãe ( ) Irmãos ( ) Outros parentes ( ) Amigos ( ) PRECE ( )

Universidade ( ) Igreja ( ) recursos próprios ( ) Outros. Quem? ____________ ( ) Ninguém

24. Marque dentre os itens abaixo aquele (s) que você considera como ajuda do PRECE para você SE

MANTER na universidade.

01. ( ) Empréstimo de livros; 05. ( ) Orientação sobre o seu curso;

02. ( ) Transporte; 06. ( ) Acesso a computador;

03. ( ) Alimentação; 07.( ) Acesso a Internet;

04. ( ) Ajuda de custo (bolsa) 08.( ) Fazer parte de um grupo;

09. ( ) Perspectiva de futuro, visão de sustentabilidade;

10. ( ) Oportunidade de retornar a comunidade;

11. ( ) Oportunidade de ajudar a sua comunidade

12. ( ) Não recebi nenhum apoio

13. ( ) Outra. Quais ____________________

25. Marque dentre os itens abaixo aquele(s) que você considera que mudou em você, após sua participação no

PRECE.

( ) Aumentou o espírito de solidariedade

( ) Aumentou a motivação para cooperar

( ) Ampliou a visão de mundo e me ajudou a compreender a minha realidade social

( ) Aumentou o compromisso com a minha comunidade

( ) Não influenciou em qualquer mudança na minha vida

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26. PRECE oferece oportunidade para que todos os estudantes retornem semanalmente, as suas comunidades

sem pagar passagem. Você usa esse benefício?

( ) Sim, retorno todos os finais de semana

( ) Sim, retorno quase sempre

( ) Sim, as vezes

( ) Sim, mas muito raramente

( ) Não retorno.

27. Qual a importância da oportunidade que o PRECE oferece para você retornar a sua comunidade aos finais

de semana? (só responda se você retorna)

( ) Me permite continuar pertencendo à minha comunidade

( ) Me permite ver os meus pais, regularmente, o que me dá apoio emocional

( ) Me permite ver os meus amigos, regularmente, o que me dá apoio emocional.

( ) Me permite colaborar com o desenvolvimento da minha comunidade dando mais significado aos meus

estudos.

( ) Não tem muita importância para mim

28. Você continua participando do PRECE após ter passado no vestibular?

( ) sim ( ) não ( ) não, mas pretendo participar

29. Se você respondeu sim, quantas horas semanais você dedica às suas atividades no PRECE?

( ) < 5 hs ( ) 5 a 10 hs ( ) 11 a 16 hs ( ) 17 a 22 hs ( ) > 23 de 23 hs.

30. Qual o seu envolvimento com o PRECE hoje?

( ) Participa da COORDENAÇÃO de uma das Escolas Populares Cooperativas do PRECE.

( ) Participa da COORDENAÇÃO de algum outro projeto ou programa do PRECE (EJA,

Desenvolvimento Político, Desenvolvimento Econômico, Apoio ao Estudante, Incubadora de

Células Educacionais, Formação de Estudante Ativo)

( ) Atua como facilitador nas Escolas Populares Cooperativas do PRECE

( ) Atua na Educação de Jovens e Adultos (EJA)

( ) Colabora na Equipe de Apoio ao Estudante

( ) Atua como facilitador na Incubadora de Células Educacionais do PRECE

( ) Atua como facilitador na Formação de Estudante Ativo

( ) Atua no Programa de Desenvolvimento Político,

( ) Atua no Programa de Desenvolvimento Econômico.

( ) É sócio do Instituto Coração de Estudante

( ) Participa Programa Conexões de Saberes

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31. Caso você esteja envolvido com algum dos projetos e programas acima apresentados? Marque os motivos

pelos quais você está envolvido com esses projetos.

( ) Eu quero ajudar a desenvolver minha comunidade

( ) Preciso ser útil para garantir uma ajuda de custo do Instituto

( ) Ter oportunidade de utilizar os conhecimentos adquiridos na Universidade na sua comunidade de

origem

( ) Não quero ser ingrato com o PRECE e preciso ajudá-lo a dar continuidade aos projetos

( ) Porque tenho oportunidade de aprender sobre liderança

( ) Porque não quero ficar sozinho aos finais de semana em Fortaleza.

( ) Outros. Quais?______________________________________________

32. Acerca das perspectivas de mudança da realidade da escola pública de sua comunidade:

( ) O PRECE está contribuindo e já é possível perceber essas mudanças

( ) Poderá contribuir muito mas as mudanças só serão perceptíveis depois de muitos anos

( ) Contribuirá muito pouco

( ) Não possibilitará qualquer mudança

33. Acerca das perspectivas de mudança da realidade política (organização comunitária) de sua comunidade:

( ) O PRECE está contribuindo e já é possível perceber essas mudanças

( ) Poderá contribuir muito mas as mudanças só serão perceptíveis depois de muitos anos

( ) Contribuirá muito pouco

( ) Não possibilitará qualquer mudança

34. Acerca das perspectivas de mudança nas questões de saúde de sua comunidade:

( ) O PRECE está contribuindo e já é possível perceber essas mudanças

( ) Poderá contribuir muito mas as mudanças só serão perceptíveis depois de muitos anos

( ) Contribuirá muito pouco

( ) Não possibilitará qualquer mudança

35. Acerca suas perspectivas de mudança nas questões de segurança de sua comunidade:

( ) O PRECE está contribuindo e já é possível perceber essas mudanças

( ) Poderá contribuir muito mas as mudanças só serão perceptíveis depois de muitos anos

( ) Contribuirá muito pouco

( ) Não possibilitará qualquer mudança

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IV. Memorial do autor

Elton Luz Lopes nasceu em Pentecoste-Ceará em 08 de janeiro de 1984, filho do

agricultor Elizeu Luz Lopes e da professora Ana Célia, foi criado na comunidade de

Canafistula, zona rural do município de Apuiarés com seu irmão mais velho, Helano e os mais

novos, Alex, Rennan e Ravena.

Concluindo o ensino fundamental na sua comunidade, em 1997, foi quando teve que

se mudar, aos 14 anos de idade, para a casa de sua tia na cidade de Pentecoste, para cursar o

ensino médio, pois este não funcionava em sua comunidade.

Após concluir o 2º ano do ensino médio, voltou a morar na casa dos pais e no ano

seguinte, 2000, se matriculou no colégio São Sebastião na sede do município de Apuiarés a

fim de terminar o ensino básico. Enfrentava todos os dias a dura viagem em um ônibus velho,

numa estrada esburacada, pelos 30 Km que separavam sua casa em Canafistula da Escola em

que se matriculara.

No final do ano havia concluído o ensino básico, era o fim da sua carreira estudantil,

pois seus pais não tinham condições financeiras de custear seus estudos em fortaleza. Mas

também não havia oportunidades de emprego na sua comunidade, e mesmo na sede dos

municípios próximos seria muito difícil, e ainda que conseguisse seria com salário muito

baixo e não valeria a pena.

Foi então que seus pais e familiares lhe incentivaram a estudar no PRECE, um projeto

na comunidade de Cipó, a 8 Km de Canafistula, que estava fazendo com que estudantes

pobres e da zona rural entrassem na universidade.

Sem saber direito o que era Universidade foi estudar no Cipó no ano 2001, estimulado

também porque da sua comunidade tinham dois jovens, inclusive um deles era seu primo, que

estavam fazendo curso superior na UFC com ajuda do PRECE.

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Esse ano estudando no PRECE foi marcante, tanto pelo contato com a metodologia do

estudo em células, que era diferente de todas as aulas que tinha tido durante a vida escolar,

quanto pelo espírito de família que se formou com os outros integrantes desse projeto. No

final do ano se submeteu aos exames vestibulares para o curso de Licenciatura em Química

com outros 17 estudantes do PRECE, entre eles o seu irmão Helano, com quem estudou junto

desde a alfabetização, passando pelo período em Pentecoste e o último ano do ensino médio

em Apuiarés.

Foi aprovado no vestibular, junto com seu irmão, que se inscreveu para o curso de

agronomia, e mais 5 estudantes do PRECE.

Desde a aprovação retorna todos os finais de semana à sua comunidade com os outros

universitários do PRECE, para dar continuidade ao trabalho do Programa e contribuir para

que outras pessoas também tenham a oportunidade de ter uma perspectiva de vida melhor

através da educação, assim como promover o desenvolvimento da sua região, elevando o

nível de cultura da população.

Atualmente está concluindo o curso de Licenciatura em Química pela Universidade

Federal do Ceará, durante o qual foi bolsista de iniciação à pesquisa no Laboratório de

Química Orgânica, sob orientação do Professor Manuel Andrade Neto, desenvolvendo estudo

químico de plantas do Nordeste. Recentemente foi aprovado na seleção para o Mestrado da

Pós-Graduação em química Orgânica da UFC, onde dará continuidade as atividades de

pesquisa sob a orientação do mesmo professor.