a volta do cipó

8
Junho/2015, Goiânia-GO #01 Saúde pede socorro: EBSERH e o Hospital das Clínicas pg 4 Greve docente e o sindicalismo colaboracionista pg 7 A construção da greve na regional de Goiânia pg 3 pg 3 DATA BASE ~ qUEM LUTA CONQUISTA 10 DO PIB PARA EDUCACAO ~ ~ % a volta do cipó D esde o inicio do ano a política que se desenhava era de cortes: o decreto (jan/15) instituindo o repas- se mensal de 1/18 do orça- mento anual previsto (em vez do usual 1/12) já projeta- va para a educação um corte de 7 bilhões de Reais. Com graves consequên- cias: redução de terceirizados, atrasos de pagamentos, ins- tituições que são obrigadas a fechar as portas por falta de recursos, etc. Nacionalmente a UFRJ tem demonstrado a situação de forma mais ex- plicita, mas na UFG os cortes estão presentes em todas as unidades — situação que está na origem da greve dos tercei- rizados de Jataí. Com o anúncio do “con- tingenciamento”, no dia 22/05, os cortes no orçamento da educação e da saúde jun- tos ultrapassam os R$ 20 bi- lhões. Na mesma semana em que o Ministro da Educação afirmava aos representantes da ANDIFES que não have- ria cortes para as universida- A mercanlização da educação e a desestruturação das Universidades Federais des, o anúncio do Ministério do Planejamento e Gestão MPOG, foi de um contingen- ciamento de R$ 9,4 bilhões (equivalente ao orçamento de 10 Universidades Federais do tamanho da UFG!). Impossível imaginar que tal política não represen- ta um retrocesso gigantes- co para a Educação e para a Saúde! Por outro lado, a pre- tendida “pátria educadora” será na verdade a pátria que vai mercantilizar ainda mais a educação. O caráter regres- sivo destas medidas está inti- mamente vinculado à inten- sificação das contrarreformas do Estado e do processo de privatização. A paralisação de ativida- des administrativas e acadê- micas decorrentes da redução do orçamento passa a fazer parte do cotidiano das Ins- tituições Federais de Ensino (IFE). Na UFG o aumento de demanda de serviços tercei- rizados é acompanhado pela redução de pessoal, reduzin- do as ações de conservação e segurança institucional. SECRETARIA Regional Planalto

Upload: a-volta-do-cipo

Post on 23-Jul-2016

233 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: A Volta do Cipó

Junho/2015, Goiânia-GO

#01

Saúde pede socorro: EBSERH e o Hospital das Clínicas

pg 4

Greve docente e o sindicalismo colaboracionista

pg 7

A construção da greve na regional de Goiânia

pg 3

pg 3

DATABASE

~

qUEM LUTA CONQUISTA

10 DO PIB PARA EDUCACAO~~

%

a volta do c i p ó

D esde o inicio do ano a política que se desenhava era de cortes: o decreto

(jan/15) instituindo o repas-se mensal de 1/18 do orça-mento anual previsto (em vez do usual 1/12) já projeta-va para a educação um corte de 7 bilhões de Reais.

Com graves consequên-cias: redução de terceirizados, atrasos de pagamentos, ins-tituições que são obrigadas a fechar as portas por falta de recursos, etc. Nacionalmente a UFRJ tem demonstrado a situação de forma mais ex-plicita, mas na UFG os cortes estão presentes em todas as unidades — situação que está na origem da greve dos tercei-rizados de Jataí.

Com o anúncio do “con-tingenciamento”, no dia 22/05, os cortes no orçamento da educação e da saúde jun-tos ultrapassam os R$ 20 bi-lhões. Na mesma semana em que o Ministro da Educação afi rmava aos representantes da ANDIFES que não have-ria cortes para as universida-

A mercanti lização da educação e a desestruturação das Universidades Federais

des, o anúncio do Ministério do Planejamento e Gestão MPOG, foi de um contingen-ciamento de R$ 9,4 bilhões (equivalente ao orçamento de 10 Universidades Federais do tamanho da UFG!).

Impossível imaginar que tal política não represen-ta um retrocesso gigantes-co para a Educação e para a Saúde! Por outro lado, a pre-tendida “pátria educadora” será na verdade a pátria que vai mercantilizar ainda mais a educação. O caráter regres-sivo destas medidas está inti-mamente vinculado à inten-sifi cação das contrarreformas do Estado e do processo de privatização.

A paralisação de ativida-des administrativas e acadê-micas decorrentes da redução do orçamento passa a fazer parte do cotidiano das Ins-tituições Federais de Ensino (IFE). Na UFG o aumento de demanda de serviços tercei-rizados é acompanhado pela redução de pessoal, reduzin-do as ações de conservação e segurança institucional.

SECRETARIARegional Planalto

a volta do c i p óa volta do c i p ó

Page 2: A Volta do Cipó

2 a volta do cipo

No lombo de quem mandou dar

No dia 12 de dezembro de 1968 a Rádio da UFG gravara o últi-mo show de Geraldo

Vandré no Brasil, realizado em Goiânia. Dois dias depois, o Correio Brasiliense anunciava em destaque mais um show seu, programado para acon-tecer às 21h no Iate Clube de Brasília; mas o destaque prin-cipal daquela edição do jornal era a decretação do AI-5. Nos anos anteriores o compositor se notabilizara por suas can-ções poderosas, de denúncia da opressão e da miséria, mas sobretudo de chamamento para a luta contra esses ma-les — motivo sufi ciente para colocá-lo na mira da repres-são. Já no carro rumo à capital federal, a prudência e os con-selhos dos amigos levaram o compositor a mudar irreversi-velmente o destino de sua via-gem: o que aconteceu depois não está claro, o que se sabe é que aqui no Planalto Central, no coração do Brasil, estava encerrado o capítulo Geraldo Vandré na história da música popular brasileira. Queremos relembrar essa história nesse momento de lançamento do jornal A volta do cipó, edita-do pela Secretaria Regional Planalto do ANDES—SN, porque seu projeto editorial é animado pelo mesmo espí-rito de chamamento e de crí-tica. Aqui, no mesmo Planalto Central em que Vandré pela última vez exortou os conter-râneos ao bom combate, pre-tendemos construir um es-paço de análise e de refl exão crítica, e de interlocução com

a base de nossa categoria do-cente em Goiás, em Tocantins e no Distrito Federal. O nome para o jor-nal nos veio dos versos de “Aroeira” (canção com que um ano antes Vandré con-correra num festival), ver-sos que expressam o em-penho combativo que nos defi ne também. Na canção, o compositor nos convida a “esperar” — sim — mas “escrevendo numa conta” que “junto a gente [vai] co-brar, no dia que já vem vin-do, em que esse mundo vai virar”; enquanto isso a gen-te segue trabalhando, assim como segue “o dono senhor de tudo, sentado, mandando dar”. Mas só por enquanto, pois, no dia em que a conta for apresentada, “madeira de dar em doido vai descer até quebrar: é a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar.” O fundamen-to da atitude proposta na canção é o de que há certos ímpetos que, quando a força bruta a seu arbítrio suprime, a história faz em tempo retor-nar. O silêncio e o isolamento em que Geraldo Vandré foi acabar não fará calar com ele as tantas outras vozes, que, acolhendo os ecos de seu an-tigo cantar, sentirem no ven-to a melodia dos tempos. Este número inau-gural de A volta do cipó foi dedicado à conjuntura atu-al do movimento docente, num quadro nacional de greve; todavia, embora não deixe de levar em conta o contexto nacional, elege

como foco privilegiado de observação a Universidade Federal de Goiás, pela situa-ção peculiar que vive. Nesse sentido, serão abordados al-guns aspectos específi cos de questões que são, nos seus aspectos gerais, comuns ao conjunto das IFES (Institui-ções Federais de Ensino Su-perior), ou a muitas delas. É o caso do problema da EBSERH, discutido aqui da perspectiva do Hospital das Clínicas da UFG, num artigo assinado da professora Jac-queline Lima, da Faculdade de Enfermagem da UFG. As motivações da greve em cur-so também são abordadas, inclusive em seus aspectos gerais, mas, dada a focaliza-ção escolhida, chegando à ex-posição de alguns elementos da pauta local da UFG. Finalmente, é pre-ciso dizer também que esta edição inaugural de A volta do cipó tem caráter experi-mental. Ela pretende ser um estímulo à ampliação do de-bate e da participação da ca-tegoria na refl exão sobre as questões mais decisivas para o nosso cotidiano, o cotidiano da Universidade e da socie-dade brasileira. No melhor dos casos, nossos leitores se envolverão na elaboração de um programa editorial mais defi nido, e mesmo na prepa-ração de cada edição. Nesse sentido, não se acanhem em entrar em contato, seja por e-mail, seja através da sede da Regional Planalto. Boa leitura.

editorial

Geraldo Vandré no Festi val da Canção em 1968 / Foto: Evandro Teixeira

[email protected]

Secretaria Regional Planalto / [email protected]

Alameda Botafogo, 68 - Setor CentralGoiânia - Goiás

Diretor responsável: Alexandre Aguiar dos Santos

Arti gos de opinião sob responsabilidade dos autores.

Junho/2015, Goiânia-GO | Junho de 2015

Tiragem: 3000Diagramação: Vinicius de Morais Pontes

Classe trabalhadora luta contra a ofensiva dos patrões e do estado

A crise internacional dissemina em to-dos os continentes a miséria e a reces-

são. No Brasil, os patrões e o Estado se esforçam para, em nome da manutenção da taxa de lucro do capital, transferir para a classe trabalhadora o ônus da crise, por meio de retirada de direitos, privati-zações, precarização e gene-ralização da terceirização. As medidas do desajuste fi scal (MP´s 664 e 665), da terceiri-zação (PLC 30), do aumento de tarifas públicas e das pri-vatizações tem um único ob-jetivo: garantir os lucros dos capitalistas em prejuízo dos salários e dos direitos sociais da população e em especial, dos trabalhadores da cidade e do campo. O Governo Federal adota uma política econô-mica de aumento dos juros (13,75% ao ano) e, para ga-rantir aos banqueiros os ga-nhos decorrentes, reserva, para 2015, o montante de R$ 1,4 trilhões. Com isso ga-rante ao sistema fi nanceiro a continuidade de seus lucros astronômicos — o Sistema

da Dívida Pública é, sem dúvida, o principal benefi ci-ário das políticas de arrocho e precarização da vida das classes trabalhadoras. As medidas contra os trabalhadores são ampla-mente implementadas em todos os espaços da socie-dade brasileira. O governo federal reduz os direitos dos trabalhadores ao seguro de-semprego e aos benefícios da seguridade social (MP´s 664 e 665); O congresso na-cional vem aprovando leis que precarizam ainda mais a vida da população. O PLC 30 (antigo PL 4330) que per-mite a terceirização ampla e irrestrita, representa um retrocesso de 100 anos na legislação trabalhista, im-pondo a retirada de direitos e os baixos salários em todos os ramos da produção. O judiciário legitima as Orga-nizações Sociais (inconsti-tucional) que privatizam os serviços públicos. Por fi m, os patrões pressionam para que a Caixa Econômica Fe-deral, os Correios, o Banco do Brasil e a Petrobras sejam totalmente privatizados.

a volta do c i p ó

Page 3: A Volta do Cipó

a volta do cipo 3´

A cultura sindical no movimento docente

Ilustra bem a vida sindical que levamos na UFG as opiniões expressas pelo presidente da Adufg, o professor Flávio Alves da Silva. Num debate realiza-do na Faculdade de Letras no último dia 17 de junho, o líder sindical declarou que a contratação de docentes ce-letistas para o magistério su-perior federal, terceirizados através de OS (Organizações Sociais), é hoje coisa prati-camente certa — tanto que, aliás, a Andifes já estaria conformada a encaminhar a contratação das OS. Não vem ao caso se essa informação acerca dos reitores é fato ou boato: o que chama a atenção é que esse dado seja apresentado como argumento probató-rio da irreversibilidade da terceirização da docência. O pressuposto que aí trans-parece, considerando que a existência do sindicato nem entra na equação, é o de que só os reitores (mas não o sindicato) podem fazer oposição à terceirização de nossa atividade profissional. Na verdade, o presidente da Adufg se mostrou desalenta-

A construção da greve na UFG —Regional GoiâniaReunidos em assembleia no dia 23 de junho de 2015, os professores da Regional Goiânia da UFG decidiram entrar em greve, mas não se sentiram em condições de fazê-lo ime-diatamente, fixando o início da greve para o dia 01 de agosto. No que segue procuramos avaliar o significado disso e os desafios que se colocam diante de nós nesse contexto.

do com os ataques correntes à universidade e à carreira docente, resumindo tudo nesta fórmula: “A educação no Brasil só melhora no dia que os políticos quiserem!” Seis dias depois, durante a assembleia, um professor do plenário pe-diu esclarecimentos à mesa, presidida pelo professor Flá-vio, sobre a situação das OS, perguntando ainda de que instrumento de luta podía-mos dispor para barrar esse processo de terceirização. A resposta foi: “O Proifes é contra… Eu sou contra”. Ou seja, não só não há, aparente-mente, caminhos, para além de ser contra, como também a chave do processo é a dire-ção e sua federação — não a base, não os professores cole-tivamente. Tanto que o indi-cativo de greve sobre o qual deliberávamos não nasceu no debate interno da catego-ria, mas na cúpula da refe-rida federação, reunida em Brasília poucos dias antes. De um lado, há uma hipervalorização da conci-liação via negociação resol-vida em cúpula, de outro um divórcio entre a direção executiva do sindicato e o conjunto dos professores. Esses dois componentes as-

sociados de nossa cultura sindical têm como consequ-ência, no lado da direção, a ausência de informação, de análise, de estratégia; e, no lado da base sindical, certa dose de apatia somente ven-cida nos momentos da mais grave indignação nascida es-pontaneamente no cotidiano — como vimos em 2012.

UFG em greve a partir do dia 01 de agosto de 2015

A assembleia do dia 23 de junho foi marcada por uma participação significa-tiva de docentes (mais de 210 professores a uma se-mana do fim do semestre), que debateram os motivos para a greve por mais de uma hora e compreenderam que a greve é o instrumento adequado para responder à conjuntura de ofensiva aos nossos direitos de profes-sores, trabalhadores e cida-dãos! Outro dado relevante para avaliar essa assembleia é o fato de ter sido o único momento em que a categoria foi convocada para debater o que fazer nessa conjuntu-ra. Isso explica a percepção dos presentes de que a greve não está madura e deve ser

construída, para só então ter início, no dia 01 de agosto. Curiosamente, a di-reção do sindicato esvazia o conteúdo da decisão, di-vulgando que foi aprovado um “indicativo” de greve. Mais uma vez a direção do sindicato não reconhece as decisões da assembleia: as votações foram claras no sentido de acolher o indi-cativo e aprovar o início da greve no dia 01 de agosto, com a convocação de uma nova assembleia para o dia 05 subsequente. Essas decisões de-vem ser entendidas como um gesto de recusa de um quadro político no qual se intensifica a adoção de po-líticas sociais regressivas, que ameaçam, entre outras coisas, o orçamento das IFE, seu caráter público e gratuito (PEC 395/2014) e a terceiri-zação da docência por meio de OS ou similares. Esta re-alidade se impôs no deba-te, contra as manifestações da maioria dos diretores do sindicato que foram contrá-rios à greve — nem mesmo a campanha de desinformação do sindicato foi capaz de im-pedir que a categoria optas-se pelo caminho da luta e da construção da greve.

Construir a greve

A greve do dia 01 de agosto há de ser construída pelos próprios trabalhado-res docentes da UFG. É de se esperar que direção do sindicato pouco faça para concretizar a decisão da ca-tegoria. Neste sentido, é fun-damental que a semana de planejamento pedagógico dos cursos seja marcada por uma ampla mobilização dos docentes preparando o ini-cio da greve. Essencial, en-tre outras medidas, o debate sobre as pautas e o acompa-nhamento das ações pare-distas nacionais; a indicação de representantes de cada unidade para a constituição de um Comando Local de Greve (CLG) a ser aprovado na assembleia do dia 05/08; a constituição de mesas de debate sobre condições de trabalho, carreira, salário e a conjuntura econômica e so-cial; a construção da unida-de entre os comandos locais de greve das regionais, com uma agenda comum ao con-junto dos docentes. Motivos não faltam para a luta, e isso a categoria já compreendeu. Agora trata-se de operacionalizar nossa deci-são, para que a greve se cons-titua numa realidade, que seja forte e cumpra seus objetivos.

Page 4: A Volta do Cipó

4 a volta do cipo

Perda da autonomia universitária: o caso da Ebserh no Hospital das Clínicas

O Sistema Único de Saúde (SUS), garan-tido no artigo 196 da Constituição Fe-

deral de 1988 como direito da população e dever do Estado, não tem sido implementado para assegurar de forma sus-tentável o acesso universal à população brasileira. A falta de recursos financeiros tem sido o principal entrave para o fortalecimento e consolida-ção deste sistema. A saúde movimenta aproximadamen-te 8% do PIB nacional, sendo alvo dos interesse do “mer-cado da doença”. Por este motivo, empresas de planos de saúde, indústrias farma-cêuticas e de equipamentos, entre outras, tem investido de forma progressiva nas cam-panhas eleitorais em todas as instâncias de poder . As doações das em-presas de planos de saúde para as campanhas eleitorais de 2014 somaram R$ 54,9 milhões para 131 candida-tos, auxiliando a eleição da presidenta da república, três senadores, três governado-res, 29 deputados federais e 24 deputados estaduais . O financiamento privado de campanha tem garantido o subfinanciamento do SUS e a aprovação de leis que am-pliam ainda mais a destina-ção de recursos públicos da saúde para a iniciativa pri-vada. Dessa forma, a retirada dos direitos da população está acontecendo de forma mais acelerada nos últimos

anos, principalmente, pela intervenção dos poderes le-gislativo e executivo, com o apoio do judiciário. A Lei 8.080/1990 que regulamenta o SUS foi altera-da em janeiro de 2015 pela Lei 13.097/2015 permitindo a participação a participação direta ou indireta, inclusive controle, de empresas de ca-pital estrangeiro na assistên-cia à saúde no Brasil, abrindo o mercado brasileiro às ope-radoras de planos de saúde internacionais que tem todo interesse no sucateamento e falência dos sistemas pú-blicos de saúde de países emergentes como o Brasil. A Proposta de Emenda Cons-titucional (PEC) 451/2014 do Deputado Federal Eduardo Cunha, ao propor que em-pregadores ofereçam planos de saúde aos trabalhadores representa um ataque ao SUS e também ilustra o papel que o legislativo tem assumido na defesa dos financiadores de campanha eleitoral. O Su-premo Tribunal Federal, que engavetou por quase 17 anos a Ação Direta de Inconstitu-cionalidade (ADI 1.923/98) sobre a Lei 9.637/98, que autoriza a terceirização de serviços públicos, incluindo educação e saúde por meio de organizações sociais, “su-bitamente” colocou a ADI em votação reconhecendo a constitucionalidade da Lei, na mesma semana em que os serviços públicos foram reti-rados do PL 4330/2004 sobre as terceirizações. É neste cenário, en-volvendo interesses merca-dológicos nacionais e inter-nacionais sobre a oferta de

serviços de saúde, que estão inseridos os hospitais públi-cos de ensino existentes no Brasil. Historicamente, ape-sar de sofrer com o subfinan-ciamento, a falta de recursos humanos e o descaso das sucessivas gestões governa-mentais, estes hospitais são reconhecidos pela qualidade da assistência, ensino e pes-quisa, oferecidos, com desta-que para o atendimento das populações mais vulneráveis, com necessidades de saúde que exigem conhecimento técnico científico diferenciado e alto custo. Antes da consti-tuição de 1988 que criou o Sistema Único de Saúde (SUS), com acesso universal à toda população brasileira e institucionalização da partici-pação da comunidade na sua gestão, eram estes hospitais que atendiam as pessoas que não tinham acesso ao sistema de previdência e assistência à saúde da época: os denomi-nados indigentes. Os hospitais de en-sino vinculados ao Minis-tério da Educação (MEC) foram submetidos nos anos 90, às adequações para a inserção no SUS, por meio

da contratualização com as secretarias municipais de saúde para a prestação de serviços. Com as políticas go-vernamentais instituídas nas últimas décadas de redução da responsabilidade do estado sobre saúde e educação, estes hospitais sofreram o “aban-dono” por parte do MEC que não queria continuar arcando com os custos para manuten-ção de um serviço de saúde e a “rejeição” pelo Ministério da Saúde (MS), que reconhecia estes hospitais pelo seu papel no ensino. A Universidade Fe-deral de Goiás (UFG) e o Hospital da Clínicas (HC/UFG), como a maioria dos hospitais federais de ensino, criaram “estratégias” para manter o funcionamento destes hospitais, principal-mente, na contratação de recursos humanos, por meio de fundações de direito pri-vado, sob o viés de atuarem como “instrumento gerencial e de apoio técnico, capaz de trazer agilidade às ações ad-ministrativas e, ao mesmo tempo, viabilizar recursos para a assistência, o fomen-to à pesquisa e ao ensino, no âmbito da área de saúde ”.

Desde os anos 90, a Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (FUN-DAHC) tem realizado a con-tratação de recursos huma-nos para o HC/UFG tanto para trabalhadores cumprin-do atividades meio, como para atividades fim. Estas contratações, como os de-mais trabalhos terceirizados, tem sido realizadas de forma precária com salários e carga horária diferenciados dos de-mais trabalhadores do hospi-tal admitidos por concurso público e pelo Regime Jurídi-co Único (RJU). As irregularidades constatadas para este tipo de contratação de recursos humanos, fez com que o Tri-bunal de Contas da União (TCU) exigisse que que todos os trabalhadores ter-ceirizados contratados irre-gularmente pelas entidades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional, incluindo os hospitais de ensino, fossem substituídos por concursa-dos pelo RJU até 2010. O governo federal não cumpriu essa exigência e criou a Empresa Brasilei-

Jacqueline Lima (FEN/UFG)

Estes hospitais sofreram o “abandono” do MEC e a “rejeição”

do Ministério da Saúde.

“”

Page 5: A Volta do Cipó

a volta do cipo 5´

ra de Serviços Hospitalares (Ebserh) de forma autoritá-ria como Medida Provisó-ria (MP) no último dia de mandato do então presiden-te Luís Inácio Lula da Silva (MP Nº 520, de 31 de dezem-bro de 2010). Não apreciada em período regimental, essa MP foi transformada em Projeto de Lei aprovado em dezembro de 2011 como Lei Nº 12.550 . Vinculada ao Mi-nistério da Educação, a Eb-serh é uma empresa pública com personalidade jurídica de direito privado da forma como definida no inciso II do art 5o inciso do Decreto-Lei no 200, de 25 de fevereiro de 1967 que prevê a exploração de atividade econômica. A Ebserh e demais es-tratégias de terceirização ado-tadas no Brasil para, teorica-mente, “modernizar” a gestão dos serviços públicos de saú-de, e torná-los mais eficientes e eficazes, desqualifica os ser-viços públicos, transforman-do princípios básicos como solidariedade, participação e humanização, que norteiam a assistência e o ensino de saú-de, em ideologias arcaicas e sem valor de mercado. Desde a criação da Ebserh, o governo federal está submetendo as univer-sidades à estratégias de con-vencimentos para a adesão à esta empresa que vão do su-cateamento voluntário, não reposição de recursos huma-

nos do hospital e da univer-sidade à retenção de recur-sos financeiros. A autonomia universitária torna-se fragi-lizada perante a chantagem ou promessa de liberação orçamentária e o processo de adesão da maioria dos hospi-tais universitários brasileiros está sendo realizada de for-ma autoritária ou unilateral.A UFG e a crise da democra-cia, autonomia e responsabi-lidade social A autonomia é uma conquista histórica da comu-nidade universitária, inscrita no artigo 207 da Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio-nal (LDB) de 1996 e represen-ta a auto gestão didático-pe-dagógica e administrativa, garantida por recursos pú-blicos, o que implica na sobe-rania das decisões democrá-ticas ocorridas no âmbito da universidade. Esta autonomia vem sendo desrespeitada ao lon-go dos anos com medidas governamentais, e a Ebserh é mais um desses ataques, visto que o Ministério da Educação (MEC) a impõe como “única solução” para a manutenção dos 47 hospitais federais de ensino do país. Ainda, alia-se ao discurso que fundamentou a criação da Ebserh a resolução dos problemas causados por aqueles que são considera-dos a escória do trabalho no

Brasil: o servidor público. Quando justificam que a Eb-serh vai finalmente resolver o problema da contratação de recursos humanos, acres-centam que o gestor terá mais condições de exigir o pleno cumprimento das fun-ções do trabalhador e mesmo demití-los com mais facili-dade. A mudança de regime de trabalho dos funcionários públicos tem ocasionado, além das perdas dos direitos trabalhistas, o aumento da carga de trabalho, a intensi-ficação do assédio moral, o adoecimento (principalmen-te afetando a saúde mental) e a redução salarial. Estudos realizados mundialmente tem destacado que as mu-lheres tem sido as principais vítimas com a mudança de regime de trabalho dos ser-viços públicos, pois são os serviços sociais de saúde e de educação, o principal alvo

das políticas de desmante-lamento do Estado. A perda salarial, de direitos e mesmo da estabilidade no trabalho tem contribuído para a piora de suas condições nas rela-ções sociais e familiares . Atualmente, aproxi-madamente metade dos tra-balhadores técnicos adminis-trativos da UFG estão lotados no Hospital das Clínicas. Des-de a gestão anterior, a Reitoria manifestou interesse em ade-rir à Ebserh, evitando colocar o tema em discussão para a comunidade universitária. O governo federal reduziu os repasses financeiros para o hospital, enquanto estraté-gia de pressão. A reitoria da UFG e a gestão do HC inicia-ram um processo de “retira-da” de trabalhadores do HC/UFG de diferentes maneiras: por meio da (re)distribuição de novas vagas e concursados destinados ao hospital e dos

trabalhadores do seu quadro permanente para outras uni-dades da UFG. Essa situação gerou insatisfação dos traba-lhadores, pela sobrecarga e falta de condições de traba-lho. A crise do HC/UFG era justificada pela demora em aderir à Ebserh e os gestores prometiam melhoras imedia-tas com a entrada da empresa no hospital, como (a) a contra-tação de pessoal para suprir as necessidades imediatas do serviço; (b) substituição dos trabalhadores terceirizados da FUNDACH, pelos traba-lhadores também terceiri-zados da Ebserh; (c) fim da carência de medicamentos e equipamentos médico hospi-talares, entre outras. Ainda, asseguraram, verbalmente, a manutenção da carga horária e demais direitos garantidos pelos trabalhadores do RJU lotados no HC.

Audiência pública realizada no dia 13 de novembro de 2014 em que a reitoria da Universidade Federal de Goiás se negou a participar

O foco nas metas financeiras e de gestão na lógica mercantil não corresponde

com a formação fundamentada na integralidade e humanização.

Page 6: A Volta do Cipó

6 a volta do cipo

No mandato da rei-toria anterior, foi realizado um evento para apresentar a Ebserh aos trabalhadores do HC/UFG, de forma unilate-ral, em que os hospitais de ensino foram caracterizados como de péssima qualidade, e gerando alto custo, necessi-tando adaptar-se ao modelo de gestão eficiente e eficaz. Na ocasião, foi demonstra-do o desrespeito do governo federal e da reitoria da UFG, por omitir que, apesar das condições precárias ofereci-das para o funcionamento do HC/UFG, o serviço oferecido e os recursos humanos ali formados eram de alta quali-dade, e que o problema real era a falta de alocação pelo governo federal de recursos financeiros e humanos. Em dezembro de 2013, sem alguma consulta à comunidade ou divulga-ção, o Reitor da UFG assinou uma carta de intenções com a Ebserh. Esta empresa, du-rante o ano de 2014, realizou um diagnóstico do hospital, também não o apresentando à comunidade. Em outubro de 2014, a Reitoria da UFG propôs ao Consuni a delibe-ração sobre a entrega da ad-ministração física, financeira, de pessoal e de ensino (gra-duação e pós-graduação) do Hospital das Clínicas (HC/

UFG) para a Ebserh. O Sindicato dos Trabalhado-res Técnico-Administrativos em Educação das Institui-ções Federais de Ensino Su-perior do Estado de Goiás (Sint-Ifes), o movimento es-tudantil e alguns professores iniciaram uma mobilização reivindicando que a reitoria promovesse debates quali-ficados sobre a adesão à Eb-serh, em todas as regionais. O Reitor recusou abertura para o diálogo, argumentan-do que tinha autonomia para assinar a adesão sem consul-ta, mas que optou por levar a decisão para o Consuni e que se o restante da comunidade universitária tivesse tido o interesse em se informar, já o teria feito. Na reunião do Con-suni do dia 14/11/2014, o Rei-tor argumentou que entregar o HC/UFG para esta em-presa seria a única solução para manter o hospital fun-cionando pois o Ministério da Educação iria extinguir a carreira de técnico em saúde, representando o fim do con-curso público para contratar servidores técnicos admi-nistrativos para os hospitais universitários. Nas falas do Reitor, e do Diretor do HC/UFG, percebeu-se uma gran-de pressão para esta adesão, como se não houvesse outra

alternativa para o hospital, numa clara tentativa de con-vencer os conselheiros sem apresentar qualquer postura crítica, inclusive, ignorando a autonomia universitária. Na reunião do Con-suni do dia 21/11/2014, o Rei-tor perguntou nominalmente aos conselheiros se estavam devidamente esclarecidos para votar. Na ocasião, per-cebeu-se que a maioria dos conselheiros não haviam consultado seus representa-dos sobre a decisão que iria impactar sobre a autonomia universitária, o tripé ensino, pesquisa e extensão (incluin-do a assistência), e a forma-ção profissional em saúde. Uma nova reunião foi agen-dada para 05/12/2014, quan-do os conselheiros deveriam apresentar o posicionamento de suas bases na comunida-de universitária.Neste período de tempo, ocorreu uma mobilização por parte dos contrários à Ebserh, principalmente nas reuniões de conselhos dire-tores, visando esclarecer so-bre a empresa e os impactos sobre a UFG e população. Alguns diretores de facul-dades, inicialmente contrá-rios à Ebserh na UFG foram “convencidos” à mudar seu voto pela promessa de mais trabalhadores técnicos admi-

nistrativos, reformas na es-trutura física, construção de laboratórios, ou mesmo, pela redução da carga de trabalho docente no acompanhamen-to dos estudantes em ativi-dades práticas no HC/UFG. Em 05/12/2014, o Reitor, ao iniciar a reunião do Consuni, fez a votação de uma proposta de um con-selheiro, e imediatamente, perguntou quem era favorá-vel à Ebserh. Sem contagem de votos, o mesmo disse que a proposta estava aprova-da e encerrou a reunião. Os presentes seguiram para a reitoria, e após quase duas horas de negociação, o Reitor concordou em colocar a vo-tação em pauta novamente em uma reunião na semana seguinte. No dia 10 de de-zembro, o Consuni reuniu-se para votar novamente a pos-sibilidade de adesão à Eb-serh, mas a reunião foi con-duzida no sentido de validar a reunião anterior. Assim, no dia 30 de dezem-bro de 2014, o Reitor da Uni-versidade Federal de Goiás, assinou contrato com a Em-presa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), entre-gando a gestão física, finan-ceira e de recursos humanos do Hospital das Clínicas (HC/UFG) para esta empre-sa. A contratação da Ebserh

retira dos cursos da área da saúde da UFG a autonomia e responsabilidade sobre as atividades de ensino-pes-quisa-extensão-assistência desenvolvidas no âmbito do HC. O contrato assinado pela UFG é omisso sobre estas atribuições e o papel dos cur-sos na formação em saúde. O foco nas metas financeiras e de gestão na lógica mercantil não corresponde com a for-mação fundamentada na in-tegralidade e humanização. Enquanto instituição federal de ensino superior, a UFG sempre assumiu seu compromisso com a socieda-de brasileira, principalmente contra a injustiça social e na defesa dos serviços públicos de qualidade, e precisará re-fletir criticamente sobre esta, e outras decisões que estão sendo impostas para des-monte da saúde e do ensino público no país, em benefício das empresas de planos de saúde, da indústria farma-cêutica, das universidades privadas com fins lucrativos e o capital estrangeiro. Motivos não faltam para lutar por uma UFG e universidade pública, autô-noma, democrática de qua-lidade e com potencial para contribuir para uma socieda-de mais justa e equânime!

Comunidade protesta no dia 14 de novembro de 2014 durante CONSUNI realizado na biblioteca do Campus Samambaia da UFG

Page 7: A Volta do Cipó

a volta do cipo 7´

O retrocesso gene-ralizado que as políticas do gran-de capital estão

impondo à população bra-sileira possuem um capítulo singular quanto aos traba-lhadores do Serviço Público Federal (SPF). Desde os anos 90, antes da era FHC (Fer-nando Henrique Cardoso) e depois de seus dois manda-tos a lógica governamental tem sido a retirada de Di-reitos, nos primeiros 90 dias do Governo Lula (2003), foi anunciada e implementada a 3ª contrarreforma da previ-dência, acabando com o di-reito à integralidade para os trabalhadores do serviço pú-blico das três esferas (União, estados [DF] e municípios), e na mesma legislação, in-centivando a lógica da pre-vidência complementar, ou seja, da mercantilização do direito à seguridade social. Após quase três dé-cadas de sucessivos ataques aos direitos dos trabalha-dores do serviço público, o aprofundamento do golpe sobre nossos direitos já está institucionalizado:

1Segundo anúncio do MPOG, o objetivo do governo Federal é re-duzir a Folha de Pa-

gamento, até 2019, dos atu-ais 4,8% do PIB para 4,2%;

2Está prevista nos documentos oficiais a continuação da ex-pansão das IFES;

Regime jurídico único — carreiras da educação e da saúde em extinção

3Foram considera-das constitucionais pelo STF as Orga-nizações Sociais

(OS´s), em todas as áreas consideradas “não exclusi-vas” do Estado.

Com efeito, a única possibilidade de concilia-ção das metas opostas dos dois primeiros itens acima é o uso do expediente legiti-mado conforme descrito no terceiro item. Ou seja, está pavimentado o caminho para a constituição da OS´s da educação — caminho, aliás, já anunciado pelo pre-sidente da Capes em 2014 e que tem sido reconhecido por muitos Reitores como a única saída para a continui-dade da “expansão conser-vadora”. Está em prospecto a mais ampla e irrestrita ter-ceirização das atividades do serviço público. Se para os trabalha-dores brasileiros o PL 4330 (atual PLC30) se constitui num recuo de 100 anos de legislação trabalhista, as OS´s representam o fim das principais carreiras do ser-viço público, submetendo a uma lógica privatizante os direitos sociais à saúde, à educação, à cultura etc. Os efeitos de tudo isso atingirão em cheio, é claro, as relações de traba-lho e as condições de traba-

Greve nas Instituições Federais de Ensino

A greve nacional dos Servidores Públicos Federais (SPF´s) co-meçou com grande

força nas Instituições Fede-rais de Ensino (IFE), greve de trabalhadores técnico-admi-nistrativos, docentes e estu-dantes. São mais de 50 insti-tuições que estão em Greve. No dia 22/06 os tra-balhadores do poder judici-ário decidiram deflagrar a greve imediatamente! No âmbito da mobi-lização docente a greve que teve início no dia 28 de maio atinge aproximadamente 40 instituições (a cada dia uma nova assembleia delibera pela deflagração da greve). A luta histórica do ANDES-SN em defesa do projeto de uni-versidade pública, gratuita e de qualidade é cada vez mais necessária, pois parte de uma concepção de educação co-erente com as necessidades das classes trabalhadoras.

O movimento docen-te na Universidade Federal de Goiás é marcado pela cons-

trução histórica de uma uni-versidade multicampi, que levou a configuração de três seções sindicais do ANDES-SN correspondente aos campi de Catalão, Jataí e de Goiânia. Ou seja, ADCAC, ADCAJ e ADUFG exercem a representação local dos docentes em cada um destes campi. Com a constituição do Campus Cidade de Goi-ás em 2009 (hoje Regional Goiás) os docentes iniciaram sua auto organização e hoje estão aglutinados em torno da Comissão de Mobilização Docente CMD. Esta composição he-terogênea faz com que os rit-mos do movimento docente na UFG sejam diferentes. Esta diferença se acirra na medida em que a diretoria

da ADUFG busca se consti-tuir em sindicato estadual (a irracionalidade desta ação será objeto de outro jornal) e insiste na deslegitimação do ANDES SN e das organiza-ções históricas dos docentes das cidades do interior. A construção da Greve em Jataí e Goiás foi precedida de várias assem-bleias em que foram deba-tidas as pautas e a oportu-nidade da deflagração da greve. A participação da ca-tegoria destas regionais foi significativa e a deflagração da greve motivou a cons-trução de comandos locais de greve com representa-ções das unidades e a cons-tituição de uma pauta local. A deflagração da Greve na Regional Goiás ocorreu no dia 02 de junho e na Regio-nal Jataí no dia 10. Mesmo com assembleias represen-tativas e com um amplo de-

Contradições do sindicalismo na UFGbate a Diretoria da ADUFG foi ao Reitor alegar que es-tes movimentos paredistas eram ilegais! Trata- se de uma postura política que coloca o sindicato contra a categoria, em que a organização sin-dical é submetida aos com-promissos políticos de sua diretoria com aadministra-ção universitária e/ou com o governo federal buscando impedir o exercício do direi-to de greve da categoria. Apesar das tentati-vas infrutíferas da direto-ria da ADUFG a greve nas regionais de Jataí e Goiás é uma realidade. O desafio atual é o fortalecimento da greve nacional e do mo-vimento docente da UFG com a deflagração da Gre-ve em Goiânia e em Cata-lão parabarrar os ataques a educação pública e aos nossos direitos.

Desta forma, nossas pautas se colocam em defesa deste projeto, o qual requer a garantia da autonomia e a ampliação do investimento público nas IFE com restrutu-ração da carreira, valorização salarial de ativos e aposenta-dos, melhores condições de trabalho e políticas de acesso e permanência estudantil. O inegável cresci-mento do movimento gre-vista pressiona o governo, forçando a SESu/MEC a agendar reunião neste dia 23 de junho com o Comando Nacional de Greve (CNG) do ANDES-SN, cuja pauta são as reivindicações da ca-tegoria docente. A greve, nesta con-juntura de ataque do capital contra os direitos dos tra-balhadores, tem como hori-zonte imediato a defesa da Educação Pública, Gratuita, Laica e de Qualidade!

Page 8: A Volta do Cipó

8 a volta do cipo

Nossa carreira de-sestruturada, arro-cho salarial, e cortes nas verbas da edu-

cação fazem parte da pauta nacional e possuem reflexos imedidatos sobre o cotidia-no do trabalho docente. Po-rém, as condições nos locais de trabalho se constituem num âmbito local e exigem a construção de uma pauta lo-cal de luta, pois este âmbito está diretamente relacionado com a forma acadêmica e ad-ministrativa que a Universi-dade Federal de Goiás tem se constituído nos últimos anos. Ao lado da “expan-são conservadora” do REUNI uma série de medidas institu-cionais tem levado a uma in-tensificação e ampliação das atividades docentes, a conti-nuidade de situações insalu-bres e periculosas, bem como a inexistência em muitas uni-dades das condições elemen-tares para o desenvolvimento indissociável do ensino, da pesquisa e da extensão. A luta por melhores condições de trabalho é tam-bém a defesa de uma uni-versidade pública, gratuita e de qualidade. Mas o termo condições de trabalho ainda é muito abstrato, é necessário precisar de forma mais ade-quada esta situação.

Instalações físicas: é do conhecimento de todos que a expansão do número de estudantes, professores e técnicos da UFG nos últimos anos não foi acompanhada de ampliação de suas insta-lações na mesma proporção. Além disso, a ampliação — insuficiente, vale ressal-tar, para acomodar todos os trabalhadores e estudantes — criou espaços de ensino separados das unidades (os

Precarização das condições de trabalho na UFG

centros de aula), o que inten-sifica a fragmentação entre ensino, pesquisa e extensão. A situação é grave nas uni-dades que estão abrigadas nas velhas estruturas físicas — aqui a deterioração das condições de trabalho estão mais evidentes: vazamentos hidráulicos; gabinetes, salas, secretarias construídas por divisórias sem isolamento acústico; instalações elétricas que não comportam a de-manda; prédios com necessi-dades de reformas e reparos estruturais. Esta situação é mais grave nas Regionais do interior: Ausência de salas de aula, laboratórios, e edifica-ções impõem um processo de trabalho que é obstáculo para um desenvolvimento indissociável do ensino da pesquisa e da extensão. Em muitos casos o próprio ensi-no é prejudicado em face das precárias condições prediais de unidades da UFG. Seria um erro afirmar que o espaço físico é um problema em to-das as unidades, não é. Exis-tem exemplos de instalações adequadas na UFG, mas elas não constituem regra geral na Universidade.

Regulamentos administrativos da atividade docente: Em consonância com a ló-gica da desestruturação da carreira, implementada pelo governo federal com a anu-ência do Proifes, os regula-mentos da atividade acadê-mica na UFG intensificam a precarização das condições de trabalho. Apenas como exemplo vamos citar a reso-lução para afastamento do docente para capacitação (Res. CEPEC 1286/2014), que impede a licença caso o do-

cente faça seu doutorado na própria UFG (regional em que está lotado). Tal medida não se justifica financeira-mente nem academicamente, pois o número de situações como esta é reduzido e não caracteriza a “endogenia” acadêmica; contudo, tal dis-positivo é coerente com a ló-gica da exploração do docen-te, que por fazer doutorado na mesma regional, deve se submeter ao exercício simul-tâneo de suas atividades de ensino, pesquisa e extensão! Mas esta resolução possui outros obstáculos à licença para capacitação que não fa-zem parte da lei da carreira, mas que seguem a lógica da interdição do desenvolvi-mento acadêmico institucio-nal: a licença para estágio pós-doutoral é subordinada a critérios que podem redun-dar em impedimento para o docente exercer este direito. Diga-se de passagem, a ad-ministração compreende que tais direitos não são dos do-centes, mas prerrogativas da instituição e que esta define como devem se concretizar tais licenças. Outro exemplo de regulamentação precarizante é o tratamento dado ao pro-cesso de ascensão na carreira (Res CONSUNI 32/2013): em clara sintonia com a lógica de quebra da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e ex-tensão, esta resolução pon-tua de forma desequilibrada as atividades docentes, reali-zando um ranqueamento de pontos ao estilo Capes. Des-taque para a intensificação das atividades de ensino que são francamente estimuladas pela resolução.

Banco de profes-sores equivalentes

e as mudanças de regime de 20 ho-ras para Dedica-ção Exclusiva: Nesta questão a transpa-rência da administração universitária fica ofuscada pela inércia em reconhecer a ampla possibilidade de mu-dança de regime de 20 horas para DE. O banco de profes-sores equivalentes da UFG é superavitário em 716,12 pontos (https://www.pro-dirh.ufg.br/n/47781-conhe-ca-o-corpo-docente-da-ufg), mais do que suficiente para a conversão dos 285 docentes em regime de 20h. Trata-se de disposição administrativa para implementar uma polí-tica de estímulo da dedica-ção exclusiva, sem tergiver-sações sobre impedimentos burocráticos.

A segurança na UFG: Esta questão afeta a toda a comunidade, trabalha-dores e estudantes que de forma permanente estão nos espaços da UFG, e constitui um dos “calca-nhares de aquiles” da uni-versidade. O crescimento da violência social por si já constitui uma impor-tante questão social a ser investigada, bem como as relações entre a insegu-rança social crescente e a universidade. Contudo são necessárias medidas preventivas que sejam amplamente debatidas. É preciso instituir um am-plo diálogo com a comuni-dade, ouvir as categorias e as suas demandas diante da questão da segurança e ao mesmo tempo bus-

car um comprometimen-to coletivo com medidas preventivas. É urgente a constituição de um sen-timento de comunidade acadêmica e isto só será possível com a ampla de-mocratização da universi-dade, suas instâncias de decisão e a ruptura com o atual padrão tecnocrático de administrar.

Periculosidade e Insalubridade:é urgente a adoção de medi-das para erradicar as situa-ções de risco para a atividade docente, técnico-administra-tiva e de estudantil, elabo-rando um plano urgente de ação. Nas situações em que tal erradicação não é possível de forma mediata, é funda-mental a garantia do direito ao adicional de periculo-sidade e insalubridade de acordo com os riscos a que estão submetidos os traba-lhadores. O não pagamento dos percentuais adequado aos riscos é desrespeito com os trabalhadores docentes e técnicos-administrativos e redunda em mais precariza-ção do trabalho. Nossas pautas locais são muitas e necessitam ser averiguadas cotidianamen-te, pois o âmbito de solução das mesmas está diretamen-te vinculado à capacidade organizativa e de pressão da comunidade diante da ad-ministração universitária. A greve nacional dos docentes das IFE em conjunto com os técnico-administrativos, com estudantes e demais servidores públicos federais é o momento oportuno para intensificarmos nossa luta por uma pauta local para a garantia de condições dignas de trabalho para todxs.