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A reinvenção do autor: Uma reflexão sobre a questão dos limites e direitos do Autor/Leitor dentro do espaço virtual. Não serei o poeta de um mundo caduco./Também não cantarei o mundo futuro./Estou preso à vida e olho meus companheiros./Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças./Entre eles, considere a enorme realidade./O presente é tão grande, não nos afastemos muito,vamos de mãos dadas./ /Não serei o cantor de uma mulher, de uma história./não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela,/não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,/não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins./O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,/a vida presente. formulação do problema a ser pesquisado Este pré-projeto tem como principal objetivo refletir sobre a questão dos limites e das relaçoes entre o autor o leitor/autor no ciberspaço, apontando para a hipótese de que é necessário repensar a dissolução desses limites, des- apropriando o texto e reafirmando a questão da autoria como CO-produção do atual- aqui e agora* e não como a substituição de algo pré-existente ou original. Victor Hugo, em O Corcunda de Notre-Dame, mostrou-nos um padre, Claude Frollo, apontando seu dedo primeiro para um livro e, então, para as torres e as imagens dessa amada catedral, dizendo "ceci tuera cela", isso matará aquilo. (O livro matará a catedral, alfabeto matará imagens). Na

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Pre Projeto

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2B or/not 2B: a reinveno do autor

A reinveno do autor: Uma reflexo sobre a questo dos limites e direitos do Autor/Leitor dentro do espao virtual.

No serei o poeta de um mundo caduco./Tambm no cantarei o mundo futuro./Estou preso vida e olho meus companheiros./Esto taciturnos mas nutrem grandes esperanas./Entre eles, considere a enorme realidade./O presente to grande, no nos afastemos muito,vamos de mos dadas./ /No serei o cantor de uma mulher, de uma histria./no direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela,/no distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,/no fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins./O tempo a minha matria, o tempo presente, os homens presentes,/a vida presente.formulao do problema a ser pesquisado

Este pr-projeto tem como principal objetivo refletir sobre a questo dos limites e das relaoes entre o autor o leitor/autor no ciberspao, apontando para a hiptese de que necessrio repensar a dissoluo desses limites, des-apropriando o texto e reafirmando a questo da autoria como CO-produo do atual- aqui e agora* e no como a substituio de algo pr-existente ou original.

Victor Hugo, em O Corcunda de Notre-Dame, mostrou-nos um padre, Claude Frollo, apontando seu dedo primeiro para um livro e, ento, para as torres e as imagens dessa amada catedral, dizendo "ceci tuera cela", isso matar aquilo. (O livro matar a catedral, alfabeto matar imagens). Na verdade, podemos observar atravs da histria do conhecimento que o Isso abre espao para a co-existncia de vrios Issos e vrios Aquilos. O texto e o conhecimento se multiplicam infinitamente atravs de vrias vozes representadas sobre novos suportes. O livro sobre Notre-Dame, o site de Arquitetura Medieval, o blog do viajante, a palestra assitida em Paris e transmitida em tempo real em qualquer cidade do mundo, a preservao da memria sob bibliotecas virtuais ou a educao distncia como ferramenta de transformao social. A RE-inveno da prensa mvel, a Internet. Isso matar aquilo?* McLuhan em A Galxia de Gutemberg coloca a questo da substituio da forma linear do pensamento criada pela invenso da prensa por outras formas, mais completas de percepo, como o advento da TV e de outros aparatos eletrnicos. Mas, o que podemos constatar foi no uma substituio e sim a continuidade da Galxia em conjunto com outras estruturas de informao possibilitadas pelas novas tecnologias. Sigo com a questo para a pesquisa, rastreando a idia de que, assim como a inveno da prensa no matou a galaxia teolgica, a galxia digital no matar o livro e o leitor/autor no matar o Autor. Resta-nos saber como pensar e garantir a coexistncia de mltiplas vozes e suportes diante da velocidade dessa transio.

O Leitor que parte de infinitas referncias disponveis na rede, e que produz um texto, disponibilizando-o sobre o mesmo suporte substituir o Autor? O que chamamos Autor no Cyberespao? Quem o Leitor, seu nome prprio, annimo, um ou so vrios? Se o autor morto e o texto subjetivado como nos diriam autores como Barthes e Foucault, ou, mais recentemente, Pierre Levy, no deveramos trazer discusso com maior rigor as questes autorais de direito? Como autentificar o pensamento coletivo? Suas CO-relaes e interdependncias: co-produes, co-autorias, a co-existncia de mltiplas vozes e nomes, possibilitando a ampliao do conhecimento, permitindo o livre-acesso em larga escala, aceitando o espao nmade flutuante (fsico e virtual) concebendo a idia dos internautas como transeuntes do enunciado vazio em ocupao e desocupao contnua e irrestrita, em recuo eterno do texto significante em busca de novos jogos. Como restituir o lugar do Leitor, ou melhor dizendo, como recriar o lugar do Leitor/Autor na ybercultura, livre do poder da propriedade e filiao, de um modelo castrador, mas que, ao mesmo tempo admita a necessidade de se dialogar com o mercado de produo e distribuio cultural, buscando uma nova organizao diante desse organismo em transformao constante.

A pesquisa sera realizada sob trs ngulos: a autoria/autenticidade do texto (quem o autor na internet, quem o Leitor na Internet? hipertexto, coletivo de autores sem nome, creativecommons, copyright, copyleft, direito autoral) - , o compartilhamento/a distribuicao (pq se faz, o que causa? Botes flutuantes de levy, bibliotecas virtuais, e-book, ensino, sites de relacionamento, blogs, wikipedia) a validao da editorao institucional. (editoria, mecenato, empresas de sites de pesquisa)

Tendo como o eixo para a pesquisa as transformaes tecnolgicas que nortearam o rumo da sociedade desde o sculo XV atravs da inveno da prensa mvel de Gutemberg at os dias atuais, com as constantes descobertas na rea da tecnologia digital, farei agora, um recorte histrico social um pouco anterior criao da prensa para contextualizarmos o objeto de estudo.

Da Antiguidade at o inicio da Idade Media, os textos considerados literrios, como epopias, comdias, narratives e tragdias circulavam livrevemente sem a preocupao de atribuio autoral, no havia nehuma preocupao em se fechar uma obra, com exceo dos testos cientficos da Idade Mdia, onde se reconhecia a validade do que estava sendo dito pela assinatura do autor. A grande maioria da produo literria era annima, a viso de um autor era muto diferente do que surge mais tarde com a idia de propriedade. Os autores medievais partiam das obras da Antiguidade Classica e da Literaratura Crist recontando histrias j existentes, a transcrio era muito utilizada, o que apagava a presena da importncia individual de um autor . Com o declnio do Imprio Romano e o advento do Renascimento, diversos fatores contribuem para o nascimento/ inveno do indivduo e de sua importncia.

Para esse projeto, ser colocado como afirmativa um marco sendo o grande agente de todas as transformaes da sociedade, no mbito da literatura e comunicao, a maior inveno de todos os tempos a criao da prensa mvel por Gutemberg, mudando o Pensamento Humano e conduzindo a sociedade, sua polltica, cultura, histria e seu comportamento, e que talvez possamos comparar com o surgimento da Internet e seus suportes digitais nos dias de hoje.

A inveno da imprensa o maior acontecimento da histria. a revoluo me... o pensamento humano que larga uma forma e veste outra... a completa e definitiva mudana de pele dessa serpente diablica, que, desde Ado, representa a inteligncia."

Victor Hugo, Nossa Senhora de Paris, 1831

A Biblia foi impressa em 1455, com 180 exemplares. A criao de Gutemberg barateou o livro, possibilitando seu acesso a um maior nmero de pessoas. Os livros manuscritos eram carssimos. A tipografia fez com que infinitas cpias pudessem ser tiradas com o aproveitamento da mesma mo-de-obra inicial, cujo custo vai se diluindo nos exemplares sucessivos. Alm disso, o aumento do nmero de exemplares, bem como a multiplicao dos ttulos, acelerou a circulao dos exemplars e por conseguinte do conhecimento. A academia nessa epoca preocupou-se com o fato dos livros substituirem o lugar dos professorses, temendo a extino do ensino como se o livro garantisse o conhecimento preservado de qualquer outro tipo de interferncia.

A estria de O Corcunda de Notre-Dame acontece no sculo XV, um pouco depois da inveno da imprensa. Antes disso, os manuscritos eram reservados a uma elite de pessoas letradas, mas as nicas formas de ensinar as massas sobre as estrias da Bblia, ,os princpios morais, feitos da histria nacional ou elementares noes de geografia e cincias naturais, eram supridos pelas imagens da catedral. Uma poca onde a voz era unssona, original, absoluta. Onde antes da distribuio ampla do conhecimento e da subjetivao do texto, o poder do autor era o poder Sagrado, o poder Absoluto.

Aps a impresso da Bblia por Gutemberg em 1455, com 180 exemplares (150 em papel e 30 em pergaminho) o livro comea a ser distribudo em larga escala e no incio do sculo XVI um movimento cristo 1111 falar dos valdeneses em rodap111 se inicia, atravs da publicao de 95 teses escritas por Martin Lutero, os 26 soldados de chumbo criados por Gutemberg agora estavam a servio de uma proposta de reforma da Igreja Catlica. O autor agora, estava sendo colocado em questo atravs da interpretao de sua obra. O Livro Sagrado, A Igreja Catlica e o poder indissolvel dos Reis, estavam ameaados pela subjetivao do texto. As 95 Teses foram logo traduzidas para o alemo e amplamente copiadas e impressas. Aps um ms se haviam espalhado por toda a Europa.

O conhecimento em ampla expanso, atravs da educao, de novos conceitos e idias, preocucava a Igreja, que, cria a censura, publicando, em 1564, o Index de Livros Proibidos. Surge a Contra-Reforma, livros como O Principe, de Maquiavel, estavam em seu Index. Para serem aceitos, os livros, aps passar por um conselho deveriam ser reformulados.

A Reforma Protestante (sec XVI) se difunde pelo mundo, a Revoluo Industrial explode (sec XVIII) o indivduo reafirma-se no centro de tudo, transformam-se todas as relaes socias, o poder aquisitivo, as relaes de trabalho. A novidade trazida pela prensa e depois reproduzida pelo acesso ao conhecimento trazem cada vez mais a idia do novo e do consumo do novo. O vapor, a eletricidade, a transio passado-futuro. O quarto poder e a opinio pblica. As nooes de distncia e velocidade se transformam. O capitalismo como modelo, Marx (sec XIX) escreve O Capital, Freud reconstri a idia de indivduo e coletivo atravs da psicanlise. Citar Foucalt sobre os fundadores da discursividade.Justificativa

Durante esse ano, pudemos acompanhar a discusso cada vez mais ampla e densa em torno da questo dos direitos autorais no Brasil, seja atravs da politica adotada pelo ministrio da cultura ou pela reao da opinio pblica envolvendo editoras, empresas, produtores, artistas e tericos sobre o assunto, buscando um caminho para legalizar o sistema de produo e reproduo dos bens culturais diante no espao digital. Nota-se a grande dificuldade de compreenso e definio dessas normas que devero reger novas prticas de relao entre a sociedade e os bens de consumo cultural, aqui analisados atravs da produo literria.

Mas o que o direito do autor?

Ao afirmarmos que, o texto livre de um nico sentido, e no possui linearidade. Se negamos a existncia de um autor Deus- pai - proprietrio, com plenos direitos sobre a obra: Se o que est em questo o texto como jogo, como dana, linguagem em performance, sem EU, sem NOME, se queremos restituir o lugar do leitor vendo como nica a possibilidade a existncia, de escritas mltiplas habitando vrias dimenses, de vrias vozes, se o autor morto e no acreditamos em um sentido original para o texto, de que forma podemos reinvindicar direitos sobre o fechamento de uma obra, (prtica, viva, de exprincia) onde o autor, cada vez mais se confunde com o leitor tendo agora este ultimo suporte amplo para registrar suas prrias impresses. Por que reinventarmos o Autor para responder s questes legais, e econmicas comocando em risco o prprio jogo da linguagem? H de se pensar em linhas de fuga para a co-existncia da produo criativa, o livre acesso e o estmulo editorial, sem que se torne nica sada essa e permitindo, cada vez mais livre, o espao entre linhas e o suporte entre linhas do Leitor.

Esta maior autonomia do autor/ leitor chegou com a world wide web, autor deixou de ter a importncia de outrora, a web instiga a criao de textos a partir de outros textos j existentes, no se criando um texto original. possvel introduzir, acrescentar, editar, enfim participar, num texto, resultando numa co-autoria, um devir bando, um devir-matilha. Deleuze e Guattari afirmam que preciso compreender em intensidade: o Lobo a matilha, quer dizer, a multiplicidade apreendida como tal (DELEUZE, 1995:45) O ato de reduzir a pluralidade de lobos em um lobo, como elemento singular, individualizado, problemtico pois desfigura todas as questes relacionadas ao sentido de tribo. O problema que ao pensarmos em coletivos, sempre vem a dvida com relao a perda de identidade. * Mas a partir dai que perseguindo a idia de multiplicidade, nos aproximamos do conceito de RIZOMA, o que nos permite enxergar a multiplicidade como substantivo com a capacidade de escapar da oposio abstrata entre o mltiplo e o uno.

O pensamento de que cada novo n da rede de redes em expanso constante pode tornar-se produtor ou emissor de novas informaes (LVY, 1999, p. 111) uma premissa a aglutinar a idia de individualidade e coletividade, no qual o primeiro pea para a existncia do segundo. Se o indivduo e seus instrumentos tcnicos de contato com a cibercultura esto cada vez mais personalizados, quando tratamos de contedo, observamos o compartilhamento de informaes e o desenvolvimento coletivo do conhecimento como bases para o seu crescimento.

Para Levy o"virtual" no pode ser visto como algo que se ope ao "real", o virtual o atual, o aqui e agora de Barthes. O virtual , portanto, o que existe potencialmente, como uma informao que se encontra em alguma parte da rede, podendo ser recuperada de qualquer ponto e a qualquer momento, ainda que num dado instante no faa parte do repertrio do leitor. A velocidade da mo do escritor colocada por Barthes pode nos remeter capacidade coletiva da produo em rede de trabalhar indefinidamente sobre pensamentos e paixes de um ou de vrios autores, coletivamente e ao mesmo tempo. Como exemplo, podemos tomar o que o terico chama de "dispositivos informacionais e comunicacionais" (mundos virtuais, informao em fluxo, comunicao todos a todos), considerando no a representao da informao, mas sim, o modo de relao entre as pessoas como impulso para as transformaes. Um espao de dimenses mltiplas onde se csam e se constestam escritas variadas, nenhuma dsa quias original> o texto um tecido de citaes, sadas dos mil focus da cultura. Barthes pg 52 A hipertextualizao, de documentos, por exemplo, conduz mistura e indissociao das funes de leitor e autor. "Tudo se passa como se o autor de um hipertexto constitusse uma matriz de textos potenciais), sendo o papel dos navegadores o de realizar alguns desses textos, fazendo funcionar, cada um sua maneira, a combinao entre os ns" (p.69).Por outro lado, o h de se pensar no leitor/autor e em sua produo Se um indivduo no fosse um autor, o que ele escreveu ou disse, o que ele deixou nos seus papis, o que dele se herdou, poderia chamar-se uma obra?(Foucault, 1969). Tudo o que escrito como texto texto? Como diferenciar os rastros da escritas do que no escrita? Foucalt falava do Autor, mas cabe agora falarmos tambm do leitor/ autor e do que ele publica no espao virtual.

Com a facilitao de reproduo em rede a industria cultural vem perdendo o controle dessa producao massiva. Habilidosamente podemos perceber a tentative de reinveno do Autor para que haja o fechamento da obra. Agora o Autor como POP Astro, atrao esperada em concorridas festas literarias, seminrios show trazendo a literatura para o show business criando alegoricamente novas formas de escoar a produo e seus sub-produtos. Podemos encontrar em Barthes uma reincidencia histrica: O autor uma personagem moderna, sem duvida produzida pela nossa sociedade, ma medida em que,ao terminar a Idade Mdia, com o emprirismo Ingls, o racionalismo francrs e a f pessoal da Reforma, ela descobriu o prestgio pessoal do indivduo () pois lgico que, em materia de literatura, tenha sido o positvismo, resumo e desfecho da ideologia capitalista, conceder maior importncia pessoa do autor. O autor reina ainda nos manuais de historia literria, nas biografias de escritores, nas entrevistas das revistas, e na prpria conscincia dos literatos, preocupados em juntar, graas ao seu dirio ntimo () a explicao da obra sempre procurada do lado de quem a produziu, como se, atravs da alegoria mais ou menos transparente da fico, fosse sempre afinal a voz de uma s e mesma pessoa, o autor, que nos entregasse a sua confidncia.Os direitos do autor devem ser revistos, reafirmando-o em seu lugar de possibilitador de subjetividade atravs da obra aberta e infinita, de mltiplas vozes. O problema se revela na medida em que se coloca o fechamento do texto como um mecanismo de defesa dos intereresses comercias da Indstria Cultural, por outro lado, percebe-se a extrema necessidade de compartilhar, dando abertura ao conhecimento e divulgao, permitindo a formao de novos discursos A proposta de criao de mecanismos que tornem os direitos autorais mais flexiveis e acessveis (copyleft, creativecommons) no pretende anular as prticas do Mercado editorial e sim ampliar de uma melhor/outra forma os ns do tecido da Rede.

Castells (2006) observa que hoje a tentativa de controle da propriedade intelectual sinnimo do controle da riqueza, razo pela qual o tema em questo to debatido atualmente. A lgica contempornea do copyright e da proteo de obras intelectuais simples: uma vez remunerado, o criador se sentiria reconhecido e estimulado pela atividade intelectual, e, por este motivo, provavelmente produziria mais uma vez. Mas a travs do compartilhamento de textos, crticas, anlise, releituras e citaes que na maioria das vezes o leitor entra em contato com determinado autor at ento desconhecido. O departamento de marketing das editoras vem dando lugar a essa propagao natural feita atravs dos suportes digitais e com isso vem perdendo o controle de suas estratgias de venda.Ainda seguindo o pensamento de que autor e leitor ocupam um papel de coproduo, a partir do esvaziamento da enunciao, podemos encontrar em Levy uma reafirmao para a proposio de Barthes: o scriptor moderno nsace ao mesmo tempo que seu texto; no est de modo algum provido de um ser que predeceria ou excederia a sua escrita, no de modo algum o sujeito de que seu livro seria o predicado; no existe outro tempo para alm do da enunciao, e todo o texto escrito aqui e agora () o Autor j no pode acreditar , Segundo a visao pattica de seua predecessores, que a sua mo dele demasiado lenta para o seu pensamento ou a sua paixo, e queem consequncia, fazendo uma lei da necessidade, deve acentuar e trabalhar indefinidamente sua forma; para ele ao contrario, a sua mo, desligada de toda a voz, levada por uma puro gesto de inscrio (e no de expresso), traa um campo sem origem.

OBJETIVOS

A investigao se desenvolver sob os seguintes apectos da producao textual no cyberespao: a autoria/autenticidade do texto (quem o autor na internet, quem o Leitor na Internet? hipertexto, coletivo de autores sem nome, creativecommons, copyright, copyleft, direito autoral) - , o compartilhamento/a distribuicao (pq se faz, o que causa? Botes flutuantes de levy, bibliotecas virtuais, e-book, ensino, sites de relacionamento, blogs, wikipedia) a validao da editorao institucional. (editoria, mecenato, empresas de sites de pesquisa)a autoria/autenticidade do textoQuem o Autor na Internet? Aquele que tem sua obra publicada por por editora e usa a rede como ferramenta de venda? Aquele produz seus textos utilizando como meio a Internet? O que quer retorno de seus leitores? Aquele que busca dialogar com o leitor, utilizando o novo suporte para esgarar de vez o tecido de signos da linguagem? O Autor que quer ser origem? Quer contar a sua histria, seu tempo e sua paixes ou quer ser habitado no prprio esgotamento do discurso? Quer fazer nascer a linguagem atravs das mltiplas vozes atravs de vrias dimenses que o cyberespao potencializa? E o Leitor? Estep pode partir de infinitas referncias disponveis na rede para produzir um texto, disponibilizando-o sobre o mesmo suporte? este ser sorrateiro que substituir o Autor e acabar matando a produo literria? Acabar ele com a tradio da Indstria Cultural, suas Editoras e Distribuidoras, aniquilando com o sistema capitalista de consumo? Como restituir o lugar do Leitor, ou melhor dizendo, como criar esse novo espao na ybercultura, livre do poder da propriedade e filiao e dialogando com o nicho do mercado de produo e distribuio editorial em torno da busca por uma nova organizao diante de um organismo transformado. Como autentificar o trabalho coletivo? O pensamento coletivo? Suas CO-relaes e interdependncias: co-autorias, a co-existncia de mltiplas vozes e nomes, possibilitando a ampliao do conhecimento, permitindo o livre-acesso em vrios suportes, em larga escala, aceitando o espao nmade flutuante (fsico e virtual) concebendo a idia dos internautas como transeuntes do enunciado vazio em ocupao e desocupao continua e irrestrita, em recuo eterno do texto significante em busca de novos jogos. O que creative commons, copyright, copyleft? Essas novas prticas vo ou no vo garantir o antigo ou o novo sistema? No deveramos trazer discusso com maior rigor as questes autorais de direito? possvel um caminho mais harmnico para as novas prticas tecnolgicas?

As vezes penso que as nossas sociedades, em breve,sero divididas (ou j oesto) em duas classes de cidados: que recebem definies pr-fabricadas do mundo, sem qualquer poder para escolher criticamente o tipo de informao que recebe, e os que sabem como trabalhar com o computador, que sero capazes de escolher e elaborar informao. Isso reestabelecer a diviso cultural que existia no tempo de Claude Frollo, entre aqueles que eram capazes de ler manuscritos e aqueles que eram educados apenas pelas imagens da catedral, escolhidas e produzidas por seus mestres, os poucos alfabetizados.* . Isso implica na necessidade de rever a questao do direito autoral, copyright, copyleft, creativecommons, para quue a sociedade possa continuar ocupando o espaco leitor-produtor de conhecimento critico. O carcere do texto se torna a pedra lapide de uma sequencia de revolucoes tecnologicas que estao apontando o caminho dos botes no diluvio do conhecimento. Benjamin (1990, p.210) destaca que em todas as pocas discpulos copiaram obras de arte a ttulo de exerccio; mestres as reproduziram para assegurar-lhes difuso; falsrios as imitaram para assim obter um ganho material. O novo no estaria na cpia em si, e sim na tcnica que assegura e aperfeioa a reprodutibilidade, apresentando a soluo para anseios que j existiam, reinventando novos usos. O texto pode comportar infinitas intervenes do leitor dentro do espao virtual e a partir da ser reproduzido como um novo texto. Essa liberdade no est apenas na navegao e na editorao de contedo, e sim, na facilidade de inscrio e subjetivao em outros suportes, recriando-os a partir do vazio enunciado sob uma galxia de informaes. A questo da autoria e da autenticidade trata-se mais de uma questo da forma com que se utiliza o espao de publicao, da disponibilizao, do compartilhamento e do acesso das informaes do que da prpria liberdade do leitor dentro do espao vazio. Isso j vem sendo feito desde a impresso dos primeiros textos, atravs da experincia da leitura, que d ao leitor naturalmente o direito interpretao, reinveno infinita da linguagem. u.e

Para Lvy (1993, p. 72 apud AQUINO, 2007, p. 2), dar sentido a um texto o mesmo que lig-lo, conect-lo a outros textos, e, portanto, o mesmo que construir um hipertexto.o compartilhamento/a distribuicao (Botes flutuantes, bibliotecas virtuais, e-books, o ensino, sites de relacionamento, blogs, wikipedia)A questo da subjetividade do texto/autor segundo Levy, onde afirma a inviabiliudade de se construir uma Arca diante de um novo dilvio. A hiptese de reunir amostras que sirvam como essncia do mundo, o extrato do conhecimento para ele invivel j que isso afrimaria a possibilidade de se totalizar o conhecimento. Afirmando um conhecimento nico. Encontramos nesse ponto a questo trazida por foucault e da impossibilidade de uma viso unssona do texto. Levy considera como sada para o fluxo de informaes espaos que seriam zonas apropriadas de siginificado. Zonas mveis, mutantes em devir. (ver deleuze)

Esses espaos flutuantes estariam habitados por botes, abertos e provisrios e segregados por filtragem ativas, essas mantm-se em infinita s retoamdasa pelos coletivos

inteligentes, que se cruzam, se chocam, e se disolvem nas guas desses novo dilvio (informacional).

Blogs, Wikipedias, Sites de Relacionamneto: As novas tecnologias intelectuais, memrias dinmicas, se disponibilizam em rede atravs de documentos digitais ou em softwares de fcil reproduo e transferncia, podendo ser partilhadas entre um grande nmero de indivduos, incrementando, assim, o potencial de inteligncia coletiva dos grupos humanos.

Como fazer uma anlise da mutao contempornea da relao com o saber, visando a renovao-flutuao do saber, ou, do saber como renovao?

Outro exmplo a ser investigado a a transio dos suportes de leitura que est provocando uma mudana radical nas tcnicas de produo e reproduo de textos, consequentemente o modo de leitura e aprendizagem acompanha essa transio. A nova prtica de leitura cada vez mais rpida e fragmentada, abrindo inmeras possibilidades para esse recontato, mas colocando desafios sobre uma nova formao, de educadores, leitores e autores.

a validao da editorao institucional.- Como podemos avaliar as informaes publicadas na Internet? Por mais que a viso do conhecimento livre e acessvel a todos seja um objetivo traado, tambm necessrio que esse conteudo possa ter instrumentos que nos capacitem a julgar sobre a veracidade da informao. Como exemplo, sites disponveis na Rede, especializados em literatura onde so encontrados contos, poesias, artigos e ensaios reunidos de vrios autores, criam insegurana quanto a sua autenticidade, em funo da facilidade e da velocidade de distribuio de qualquer tipo de informao. No caso das publicaes impressas, existe uma editora que ocupa o papel na legitimao de uma obra, mas, na Internet ainda no. Ser possvel diante desse saber-fluxo, atravs de uma inteligncia individual e coletiva operando simultanemente, criar algum tipo de controle sem que se caia em uma censura? Sob quais critrios? Sob que responsvel?

- Como hirarquizar a informao? Encontrar o que buscamos na Internet, muitas vezes, pode se tornar uma tarefa dificil 72 milhes de servidores conectados Rede em todo o mundo cerca de 3,3 milhes de novos sites por dia. Pesquisar atravs de ferramentas de busca torna-se muitas vezes redundante ou superficial.A garantia institucional estaria fazendo falta Rede, atribuindo maior rigor e qualidade s publicaes? Ou ser que so as empresas, os anunciantes que esto ditando esse ranking de acesso de acordo com a verba destinada a sites por elas patrocinados?

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