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CDU: 343.3(81)

A EDITORA FORENSE se responsabiliza pelos vícios do produto no que concerne à sua edição(impressão e apresentação a fim de possibilitar ao consumidor bem manuseá-lo e lê-lo). Nem aeditora nem o autor assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoa oubens, decorrentes do uso da presente obra.Todos os direitos reservados. Nos termos da Lei que resguarda os direitos autorais, é proibida areprodução total ou parcial de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusiveatravés de processos xerográficos, fotocópia e gravação, sem permissão por escrito do autor e doeditor.

Impresso no Brasil – Printed in Brazil

Direitos exclusivos para o Brasil na língua portuguesaCopyright © 2017 byEDITORA FORENSE LTDA.Uma editora integrante do GEN | Grupo Editorial NacionalRua Conselheiro Nébias, 1384 – Campos Elíseos – 01203-904 – São Paulo – SPTel.: (11) 5080-0770 / (21) [email protected] / www.grupogen.com.br

O titular cuja obra seja fraudulentamente reproduzida, divulgada ou de qualquer forma utilizada poderárequerer a apreensão dos exemplares reproduzidos ou a suspensão da divulgação, sem prejuízo daindenização cabível (art. 102 da Lei n. 9.610, de 19.02.1998).Quem vender, expuser à venda, ocultar, adquirir, distribuir, tiver em depósito ou utilizar obra oufonograma reproduzidos com fraude, com a finalidade de vender, obter ganho, vantagem, proveito,lucro direto ou indireto, para si ou para outrem, será solidariamente responsável com o contrafator, nostermos dos artigos precedentes, respondendo como contrafatores o importador e o distribuidor emcaso de reprodução no exterior (art. 104 da Lei n. 9.610/98).

Capa: Danilo Oliveira

Fechamento desta edição: 20.01.2017

Produção Digital: Equiretech

CIP – Brasil. Catalogação-na-fonte.Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

M372p

Masson, Cleber, 1972-

Prática penal – Ministério Público / Cleber Masson, Ernani de Menezes Vilhena Junior. – 3. ed. rev.e atual. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.

Inclui bibliografia

ISBN 978-85-309-7517-3

1. Direito penal – Brasil. 2. Brasil. Ministério Público. I. Vilhena Junior, Ernani de Menezes. II. Título.

13-02166

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À Carol, minha linda e amada esposa, por termudado minha vida e pela felicidade infinita

que me proporciona.

À Maria Luísa e à Rafaela, filhas abençoadas e luzes da minhacaminhada, com o amor mais puro e sincero que pode existir.

Aos meus pais, sempre.

Ao amigo Ernani de Menezes Vilhena Junior,por aceitar o convite para escrever esta obra,

e por compartilhar sua genialidade com osatuais e futuros integrantes do Parquet.

Ao Ministério Público de São Paulo, que me proporcionoua experiência e a coragem indispensáveis

para a produção deste trabalho.

Aos nossos leitores e alunos, a quem sempre emprestomeu apoio, pelo incentivo a mais este desafio.

Cleber Masson

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À Carla, minha mulher, pelo incentivo, dedicação,por acreditar nos meus sonhos e por me

fazer feliz todos os dias.

Ao meu tetravô, Desembargador João BráulioMoinhos de Vilhena, que deu início a uma

tradição de seis gerações de amor ao Direito.

Aos meus amigos, Promotores de JustiçaAndré Luís de Souza, Cleber Rogério Masson e

José Lourenço Alves, com quem aprendi econtinuo aprendendo lições de Direito e de vida.

Aos meus pais, Ernani e Eliana; às minhas irmãs,Cris e Fabiana; e ao meu sobrinho, Christiam,

pelo carinho que sempre dedicaram a mim.

E a todos aqueles que acreditam noMinistério Público como instrumento de

transformação da sociedade.

Ernani de Menezes Vilhena Junior

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Esta 3ª edição do nosso Prática Penal – Ministério Público foi integralmente revista eaperfeiçoada para atender às pertinentes sugestões dos nossos leitores.

Agradecemos pela confiança depositada em nosso trabalho, bem como pela inestimável ajuda dosestudiosos de todo o Brasil, futuros integrantes do Parquet.

Esperamos ter contribuído para o aprendizado e o aperfeiçoamento da prática penal, no âmbitodo Ministério Público, de forma a colaborar com a sua aprovação no almejado concurso público.

Um grande abraço.

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O objetivo deste livro é abordar os principais pontos da atuação do Ministério Público na áreapenal, mediante a análise de manifestações, que tiveram sua estrutura dissecada, para proporcionar aoleitor o conhecimento e o domínio de todas as etapas das peças práticas.

Mais do que apresentar um simples repertório de modelos práticos, nosso propósito foi transmitiro know-how, a técnica do “como fazer”, e não somente copiar manifestações do Parquet no âmbitocriminal. Buscou-se acompanhar o leitor no desenvolvimento de cada parte, de cada parágrafo dasdiversas formas de atuação do Ministério Público.

Com efeito, esta obra é estritamente prática. Explicações doutrinárias e citações jurisprudenciaisforam efetuadas de maneira instrumental, com o único objetivo de auxiliar na atividade prática.

Nosso intento foi oferecer um trabalho capaz de proporcionar o conhecimento específico do dia adia dos membros da instituição no campo penal, assimilado em muitos anos de exercício nessa nobrecarreira. Para afastar equívocos, consultamos (e citamos) os Manuais de Atuação Funcional dediversos Ministérios Públicos.

Especial atenção foi dispensada aos candidatos de concursos públicos, futuros colegas deParquet. Além da visão prática, a experiência conquistada em cursos preparatórios permitiu aidentificação das dificuldades na elaboração de peças práticas e redação de dissertações, responsáveismuitas vezes pela eliminação de candidatos com excelente conteúdo jurídico. Essa atenção foiestendida para o oferecimento de conselhos práticos, os quais vão desde a apresentação pessoal até aexpressão verbal e escrita do candidato (ou candidata), que fazem toda a diferença na busca pelaaprovação.

Contudo, o livro também atende aos anseios daqueles que iniciam a trajetória no MinistérioPúblico, que terão neste manual um paradigma seguro para o período de estágio probatório, bemcomo para os estagiários, que encontrarão conceitos básicos relacionados às manifestaçõesprocessuais.

Os capítulos iniciam-se com a questão sobre a necessidade de se reinventar a redação forensepara adaptá-la à eficiência que se espera do sistema de Justiça. Na sequência, são analisadas asdiferentes espécies de manifestações processuais e são oferecidas, também, dicas para concursos.

Assim, no capítulo “Peça Prática em Concursos”, selecionamos algumas questões já cobradas emconcursos do Ministério Público, demonstrando aos candidatos os “macetes” e as maneiras maiseficientes para elaborar uma peça de qualidade e apta à aprovação.

Esperamos ter contribuído para o Ministério Público do presente e, notadamente, para o seufuturo. É fundamental a incorporação de ideias em que o conteúdo supere a fórmula e a comunicaçãoseja uma manifestação de eficiência.

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São Paulo, março de 2014.

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2.1

2.2

2.32.4

2.5

2.6

2.7

2.82.9

2.10

2.10.1

2.10.2

1 – A REDAÇÃO JURÍDICAA nova redação jurídica

Síntese, clareza e objetividade

Orações intercaladas

Introdução, desenvolvimento e conclusão

Redação impessoalCopiar e colar

Grifado, negrito e destaques

Tópicos

Doutrina e julgados

ModelosExpressões indesejáveis

Abreviaturas

Grafia de data e hora

Latim

Alguns conceitos básicos

2 – FASE PRÉ-PROCESSUAL

Requisição para instauração de inquérito policial

Procedimento Investigatório Criminal (PIC)

Manifestação no auto de prisão em flagranteManifestação em pedido de prazo para conclusão do inquérito policial

Manifestação em pedido de busca domiciliar

Manifestação em pedido de interceptação telefônica

Manifestação em pedido de prisão temporária

Pedido de suspensão de CNH – Carteira Nacional de HabilitaçãoMedidas protetivas de urgência em situações de violência doméstica

Arquivamento do inquérito policial

Previsão legal

Natureza jurídica

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3.53.6

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3.8

3.9

3.9.13.9.1.1

3.9.1.1.1

3.9.1.1.2

3.9.1.1.3

3.9.23.9.3

3.9.4

3.9.4.1

3.9.4.2

3.103.10.1

3.10.2

3.10.3

3.10.4

3.10.4.13.10.4.2

3.11

3.12

Terminologia

Estrutura

2.10.4.1 Relatório2.10.4.2 Análise da prova

2.10.4.3 Conclusão

Peças de informação e outros procedimentos investigatórios

3 – DENÚNCIAConceito

Autor da denúncia

Objetivo

Terminologia

ConteúdoJusta causa

Limites

Estrutura

O concurso de agentes

Coautoria:O uso do art. 29, caput, do Código Penal

Crimes unissubjetivos, unilaterais ou de concurso eventual

Crimes plurissubjetivos, plurilaterais ou de concurso necessário

Crimes acidentalmente coletivos

ParticipaçãoCoautoria ou participação de pessoa desconhecida ou inimputável

Autoria mediata

Conceito

Terminologia

Concurso de crimesConcurso material

Concurso formal

Crime continuado

Combinação de concursos de crimes na mesma denúncia

Crime continuado + crime continuadoConcurso material + concurso formal + crime continuado

Tentativa

O elemento subjetivo

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3.15.2

3.15.3

3.15.43.16

3.16.1

3.16.2

3.16.3

3.16.4

O dolo

O dolo eventual

A culpaO crime preterdoloso

Crimes omissivos impróprios

Detalhes importantes sobre os principais crimes do Código Penal

Homicídio

Lesão corporal (violência doméstica)Crimes contra a honra

Furto

Roubo

Dano

Apropriação indébitaEstelionato

Estelionato na modalidade de fraude no pagamento por meio de cheque

Receptação dolosa

Receptação qualificada

EstuproAssociação criminosa

Falsidade ideológica

Uso de documento falso

Desacato

Falso testemunhoAlguns crimes da legislação penal extravagante

Código de Trânsito: homicídio e lesão corporal na direção de veículo automotor

Código de Trânsito: embriaguez ao volante

Tráfico de drogas

Estatuto do Desarmamento: posse e porte de arma de fogoA cota de oferecimento da denúncia

Esclarecimentos sobre a denúncia

Proposta de suspensão condicional do processo (crimes de médio potencial ofensivo)

Arquivamento do inquérito policial em relação a outro indiciado ou a outra infraçãopenal

Apreciação de pedidos de prisão preventiva e sua revogação, e de restituição de coisaapreendida

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3.16.6

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5.4.3.2

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5.4.3.7

5.4.3.8

6.1

6.2

6.3

6.4

6.56.6

6.7

6.8

Diligências complementares

Dicas finais para a elaboração da cota de oferecimento da denúncia

4 – A FASE PROCESSUAL

Suspensão do processo após a citação por edital

Suspensão condicional do processo

Resposta à defesa escrita

Aditamento da denúnciaO incidente de insanidade mental ou de dependência química do acusado

5 – MEMORIAL

Conceito

Previsão legalTerminologia

Estrutura

Relatório

Análise da prova e do direito

PedidoA pena-base

Agravantes e atenuantes

As causas de aumento e diminuição da pena

O regime inicial de cumprimento da pena

A indicação da pena adequadaAs penas de caráter pecuniário

Os efeitos da condenação

A conversão da pena privativa de liberdade

6 – RECURSOSConceito

Espécies

Terminologia

Juízo de retratação

DesistênciaPetição de interposição

As razões recursais

Os recursos em espécie

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6.8.1.1

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6.8.2.16.8.2.2

6.8.2.3

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6.8.5.3

6.8.5.4

6.8.5.56.8.5.6

6.8.6

Apelação

Objeto

CabimentoJuízo de retratação

Petição de interposição e razões de recurso

Abrangência

Recurso em sentido estrito

ObjetoCabimento

Formação

Juízo de retratação

Petição de interposição e razões de recurso

Razões de recursoAgravo em execução

Objeto

Cabimento

Processamento

Efeito suspensivoJuízo de retratação

Petição de interposição e razões de recurso

Carta testemunhável

Objeto

CabimentoFormação e processamento

Juízo de retratação

Petição de interposição e razões de recurso

Razões de recurso

Embargos de declaraçãoObjeto

Cabimento

Interposição

Interrupção do prazo para recurso

Juízo de retrataçãoPetição

Correição parcial

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6.8.6.2

6.8.6.36.8.6.4

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6.8.7

6.8.7.1

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6.8.7.4

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6.9.1

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6.9.4

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7.1.2

7.1.3

7.1.4

7.1.57.2

7.2.1

7.2.1.1

7.2.1.2

7.2.1.2.17.2.1.2.1.1

7.2.1.2.2

7.2.1.2.2.1

Objeto e cabimento

Processamento

Juízo de retrataçãoPetição de interposição

Razões de recurso

Mandado de segurança

Objeto

CabimentoInterposição

Natureza e legitimidade

Petição

Habeas corpus

ObjetoCabimento e legitimidade

Petição

Contrarrazões

Conceito

TerminologiaOferecimento

Estrutura

7 – CRIMES DE COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI

DenúnciaConteúdo

Utilização de expressões do questionário

Qualificadoras

Homicídio privilegiado

Rito processual e pedidoMemorial

Estrutura

Relatório

Análise da prova

PronúnciaPedido

Impronúncia

Pedido

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7.2.1.2.3.1

7.2.1.2.47.2.1.2.4.1

7.3

7.3.1

7.3.2

7.3.2.17.3.2.2

7.3.2.3

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7.4.1

7.4.2

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8.1.1

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8.3.1

8.3.1.1

8.3.1.2

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8.3.2

8.4

8.4.18.4.2

8.4.3

8.5

8.6

8.6.18.6.2

8.7

Absolvição sumária

Pedido

DesclassificaçãoPedido

Plenário

Três verdades fundamentais

Debates

Função de cada um dos personagens do júriAssimilação das ideias

Sequência lógica

Recursos

Recurso em sentido estrito

Apelação

8 – JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL

Termo Circunstanciado (TC)

Análise do TC

RepresentaçãoProposta de transação penal

Adequação

Possibilidade de cumprimento

Condições financeiras do autor do fato

Destinatário da prestação pecuniáriaPertinência com a infração

Interdição temporária de direitos

Carta precatória

Arquivamento

Previsão legalTerminologia

Conclusão

Denúncia

Memorial

Previsão legalRelatório

Recursos

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10.210.2.1

10.2.1.1

10.2.1.2

10.2.1.3

10.310.4

10.5

10.6

9 – A PEÇA PRÁTICA EM CONCURSOS

Tema

Limitações de tempo e fontes de consultaOrganização

Objetivos do examinador

Análise de provas

Prova da 2ª fase do 89º Concurso de Ingresso à Carreira do Ministério Público doEstado de São Paulo, em 2012

Prova escrita especializada da banca de Direito Penal, Direito Processual Penal eDireito Eleitoral. XXXI Concurso para Ingresso na Classe Inicial da Carreira doMinistério Público do Estado do Rio de Janeiro – 15.11.2009Prova da 2ª fase do 85º Concurso de Ingresso à Carreira do Ministério Público doEstado de São Paulo, em 2006

10 – DICAS PARA O CONCURSO

A boa comunicação

Comunicação escrita (a dissertação)Estrutura

Introdução

Desenvolvimento

Conclusão

Comunicação verbal (a prova oral)A apresentação pessoal

Não é preciso saber tudo

Por onde começar o estudo

BIBLIOGRAFIA

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1.1 A nova redação jurídica: foi-se o tempo em que uma redação prolixa, com palavras difíceis efrases de efeito fazia sucesso entre os profissionais destacados no mundo do Direito.

A Justiça do Século XXI terá que buscar caminhos para ser mais eficiente. Um desses caminhospassa obrigatoriamente por uma mudança de postura na redação jurídica.

1.2 Síntese, clareza e objetividade: quando redigir uma peça jurídica, antes de pensar no que sequer escrever, deve-se pensar no que o destinatário daquela peça quer ler.

Experimente ler uma petição inicial extensa, cheia de citações óbvias, parágrafos repetitivos epouca organização. Você provavelmente vai ler as primeiras palavras de cada parágrafo e passará apular para o parágrafo seguinte, numa tentativa de captar apenas o que interessa, mas correndo o riscode pular algo importante.

A redação perfeita deve pautar-se pela síntese, clareza e objetividade. Síntese para dizer onecessário com o mínimo de palavras possível. Clareza, para que essas palavras traduzam tudo que épreciso dizer de uma forma fácil de entender. E finalmente objetividade, para que a redação fiquerestrita a demonstrar o que se pretende com aquela peça jurídica.

1.3 Orações intercaladas: para que se obtenha uma boa redação, deve-se dar preferência a oraçõescurtas e não intercaladas com extensas informações, como no exemplo:

Decidindo matar a vítima, o acusado, que há mais de três anos não conversava coma vítima devido ao desentendimento que culminou com a separação de ambos 1 ,pegou o machado e dirigiu-se à casa de sua ex-mulher, que havia sido destinada aela na separação 1 , e lá chegando passou a desferir golpes na cabeça de Irene.

Orações intercaladas

Veja como ficaria a mesma informação, sem as orações intercaladas:

Há mais de três anos o acusado não conversava com a vítima devido aodesentendimento que culminou com a separação de ambos, ocasião em que foidestinada à esposa a casa em que residiam. No dia do fato, o acusado, decidindomatar sua ex-mulher, pegou o machado e dirigiu-se à sua casa. Lá chegando, passou

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a desferir golpes na cabeça de Irene.

1.4 Introdução, desenvolvimento e conclusão: a elaboração de uma peça jurídica está estruturadanessas três etapas.

A introdução consiste na identificação do fato: aquilo que aconteceu ou que está acontecendo eque constitui o motivo de uma providência do Ministério Público ou do pedido de tutela jurisdicional.Exemplos de fato são: a ocorrência de um dano ambiental, a prática de um crime etc. A identificaçãodo fato é feita na fase denominada relatório.

Após a descrição do fato, passa-se à fase de desenvolvimento, que é a análise, a demonstraçãode como aquele fato é disciplinado pela lei e dos elementos probatórios que se dispõe. Tem-se aí afase da fundamentação. A partir dos exemplos acima, irá ser indicado como a lei disciplina aocorrência do dano ambiental, ou como aquela conduta se enquadra em determinado tipo penal.

Finalmente, após analisar o fato, é preciso demonstrar como a lei se aplica àquele fato. Cuida-seda conclusão, na qual será necessário adotar ou pedir uma providência para a aplicação da lei ao casoconcreto. Com amparo nos mesmos exemplos, a providência a ser adotada no caso do dano ambientalpode ser a instauração de um inquérito civil. Para o crime a providência pode ser o pedido decondenação. Em se tratando de atuação perante o Judiciário, a providência materializa a fase dopedido.

1.5 Redação impessoal: é a narrativa que se caracteriza por distanciar o autor do pensamentoexpresso no texto.

Deve-se ter em conta que o representante do Ministério Público, ao se manifestar, age em nomeda instituição a que pertence, e não em nome próprio. Por consequência, a redação impessoal reforçaa ideia de atuação institucional.

A redação impessoal é obtida pela conjugação do verbo na terceira pessoa do singular, e secontrapõe à redação pessoal, na qual o verbo é conjugado na primeira pessoa:

Redação pessoal:

Entendo 1 perfeitamente provada a imputação da denúncia, motivo pelo qualrequeiro 1 a condenação do acusado.

Verbo na 1ª pessoa do singular

Redação impessoal:

O Ministério Público entende 1 perfeitamente provada a imputação da denúncia,motivo pelo qual requer 1 a condenação do acusado.

Ou

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1

2

1

1

2

Estando perfeitamente provada a imputação da denúncia, requer-se 2 a condenaçãodo acusado.

Verbo na 3ª pessoa do singular

Verbo na 3ª pessoa do singular

É possível também a utilização do chamado plural majestático ou plural de modéstia, obtidocom a conjugação do verbo na 1ª pessoa do plural:

Entendemos 1 perfeitamente provada a imputação da denúncia, motivo pelo qualrequeremos 1 a condenação do acusado.

Verbo na 1ª pessoa do plural

Qualquer que seja o estilo escolhido, o texto deve adotá-lo do início ao fim, nãosendo adequado mesclar estilos, ora utilizando a redação impessoal, ora o pluralmajestático, como no exemplo:

A prova dos autos é farta e não deixa qualquer dúvida acerca da necessidade decondenação do acusado.

Vejamos: 1

(…)

Pelo exposto, pleiteia 2 o Ministério Público a condenação do acusado nos termosda denúncia.

Verbo na 1ª pessoa do plural – plural majestático

Verbo na 3ª pessoa do singular – redação impessoal

Em manifestações curtas (cotas), que expressam simples requerimento ou concordância para oandamento processual, é comum a conjugação do verbo na primeira pessoa do singular:

MM. Juíza,

Ciente do cálculo de fls. 32.

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1

Observo 1 que para o termo inicial do prazo prescricional foi considerada data quenão corresponde ao recebimento da denúncia, razão pela qual requeiro 1 novaanálise do caso.

Cidade, dia, mês e ano.

Verbo na 1ª pessoa do singular

1.6 Copiar e colar: antes da invasão do universo jurídico pelos computadores e editores de texto, nostempos da máquina de escrever, as petições e manifestações eram bem mais sucintas, diante dasdificuldades de produção de um texto longo.

A despeito do inegável avanço trazido pelos editores de texto, não é possível negar que o vício decopiar e colar acabou contribuindo para um indesejável “inchaço” nas manifestações, com textoslongos, repletos de citações doutrinárias e jurisprudenciais que tomam do leitor um tempo que via deregra ele não dispõe. E o que é pior: muitas vezes as longas manifestações, adaptadas como ummodelo, não estão adequadas ao caso concreto e não conduzem ao resultado desejado.

Por isso, o copiar e colar há de ser um recurso que facilite o trabalho do redator, mas também eprincipalmente, seja útil ao destinatário daquela peça jurídica, ficando restrito aos limites da síntese,clareza e objetividade.

1.7 Grifado, negrito e destaques: a função dos recursos de destaque no texto é chamar a atençãopara um ponto específico e importante. Se em uma multidão de mil pessoas vestindo camisetasbrancas duas estiverem vestindo camisetas vermelhas, certamente irão chamar a atenção doobservador. Mas, se na mesma multidão as pessoas vestidas de vermelho forem 150, ou 200, aatenção do observador será mais dispersa, dando menos importância às pessoas de vermelho.

Assim, o efeito do destaque de palavras, expressões, frases ou parágrafos inteiros, serádiretamente proporcional à sua quantidade no texto. Quanto menos destaques, maior será a atençãodo leitor para as palavras ou texto destacado.

1.8 Tópicos: não há dúvida de que trabalhos de maior complexidade podem exigir a elaboração de umtexto mais longo para abordar todos os aspectos da questão tratada. Nesses casos, a divisão do textoem tópicos e subtópicos facilitará sobremaneira a compreensão do leitor. Para peças curtas, comouma denúncia simples, não haverá necessidade de identificar tópicos, como se verá a seguir. Masquanto maior a peça, maior será a necessidade de tópicos, sendo mesmo útil, em caso demanifestações muito extensas, a colocação de um sumário logo de início, para que o leitor possa teruma visão panorâmica do texto e, eventualmente, direcionar a leitura para um tópico de seu interesse.

A numeração dos tópicos e subtópicos seguindo o sistema adotado neste livro (1, 1.1, 1.2, 1.2.1,etc.), facilita a organização dos tópicos e o entendimento do tema exposto.

1.9 Doutrina e julgados: quando se escreve um texto dirigido a alguém com a intenção de

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convencer, informar ou requerer, quanto mais o texto estiver adaptado às necessidades e preferênciasdo leitor, maiores serão as chances de sucesso. Via de consequência, a inserção de informaçõesóbvias tornará o texto cansativo e desinteressante.

Imagine, por exemplo, uma petição inicial de uma ação de alimentos que se inicia com areprodução do artigo de lei que estabelece a obrigação do ascendente em prestar alimentos ao filhomenor, e prossegue com uma infindável citação de julgados dizendo exatamente a mesma coisa. Éevidente que qualquer leitor com conhecimento jurídico do assunto (o que é o caso de alguémaprovado em um concurso para a Magistratura), irá simplesmente ignorar e “pular” a leitura dascitações, transmitindo para seu subconsciente a mensagem “isto não é importante”, que pode acabarcontaminando todo o trabalho do profissional.

Portanto, a citação doutrinária e/ou jurisprudencial somente deve abordar o que se presume nãoser do pleno domínio do leitor, como quando se trata de matéria nova, rara, ou em caso de matériacontrovertida, em que se pretenda defender posição minoritária.

É evidente que a obviedade do tema varia de pessoa para pessoa. Por isso mesmo este livro,destinado a acadêmicos de Direito, concursandos e também para profissionais, contém informaçõesque podem parecer óbvias para os últimos, mas soarão como novidades para os primeiros.

1.10 Modelos: todos nós, operadores do Direito, aprendemos a trabalhar copiando modelos, o que,aliás, é um dos propósitos deste livro. Mas é importante ter a consciência de que o modelo é apenasum esboço, que deve ser adaptado não só às variáveis circunstâncias do caso concreto, mas tambémao próprio estilo e personalidade do autor.

O Direito, felizmente, não é compatível com o preenchimento automático de formulários. Aocontrário, trata-se de matéria dinâmica, e que exige do profissional adaptação e inovação constantespara a adequação da lei, dos princípios e do bom senso ao caso concreto.

Ao partir dos modelos fornecidos, cada leitor poderá criar e adaptar o próprio estilo, que deve serconstantemente revisto, a fim de buscar a maior eficiência possível, com o emprego da síntese,clareza e objetividade.

1.11 Expressões indesejáveis: existem algumas expressões cujo uso, a despeito de eventualmente nãoviolarem regras gramaticais, tornam o texto cansativo:

Ex.: o mesmo ou este em substituição ao sujeito:

O acusado deixou o quarto da vítima correndo. Quando o mesmo percebeu que apolícia havia chegado, pulou o muro.

Neste caso, para não repetir a expressão “acusado”, “o mesmo” pode ser substituído pelo nomedo réu, ou pelo pronome “ele ”, mesmo que implícito:

O acusado deixou o quarto da vítima correndo. Quando percebeu que a polícia haviachegado, pulou o muro.

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Também são indesejáveis expressões como: a nível de , no sentido de e por contade .

1.12 Abreviaturas: a sua utilização deve ser evitada, limitando-se ao emprego daquelas jáconsagradas pelo uso, tais como:

art. = artigo: como incurso no art. 155, § 4º, inciso I, do Código Penal .

fls. = folhas: o laudo de fls. 32 . Pode-se utilizar a expressão a fls. 20 cujo significado é a 20 folhasdo início.

ss. = seguintes: fls. 44 e ss .

c.c. = combinado com: como incurso no art. 304, c.c. art. 297 .

MM. = Meritíssimo(a): MM. Juíza .

f.a. = folha de antecedentes: Requer-se f.a. e certidões .

STF , STJ , TRF , TJSP : Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça, TribunalRegional Federal, Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, entre outras.

As abreviaturas de legislações como CP (Código Penal), CC (Código Civil),CDC (Código de Defesa do Consumidor), devem ser evitadas no corpo dotexto, mas podem ser utilizadas em referências no próprio texto ou em notasde rodapé:

como incurso no art. 147 do Código Penal

agindo em concurso material (CP, art. 69)

1.13 Grafia de data e hora: deve-se prestar atenção na grafia correta de data e hora.Na data, o dia, mês e ano podem vir separados por “/”, “.” ou “-”:

21/04/2017

21.04.2017

21-04-2017

Quanto ao ano, é interessante (mas não obrigatório) representá-lo por quatrodígitos: 21/04/2017 , mas não deve conter “.” entre milhar e centena: 2017

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e não 2.017 .

O primeiro dia do mês deve ser apresentado em número ordinal: 1º/04/2017 .A hora inteira pode ser escrita por extenso: 7 horas , 2 horas , ou abreviada: 7h , 2h (não há “.”

depois do “h”).Na hora não inteira, os minutos são assim grafados: 7h30min ou 7h30 .

No texto jurídico hora não deve ser grafada com “:”separando hora e minutos: 22:51

1.14 Latim: há algumas expressões latinas que já se incorporaram ao vocabulário jurídico de maneiraque sua tradução para o Português soaria estranha:

art. 121, caput e não art. 121, cabeça

Nesses casos, o latim é indispensável.As expressões latinas devem ser usadas com certa moderação. O emprego exagerado de

expressões que fogem àquelas mais usuais tornará o texto cansativo e muitas vezes de difícilcompreensão.

Deve-se evitar o uso do latim na denúncia, cuja linguagem deve ser acessível também aodenunciado. Assim, na denúncia relativa ao crime de homicídio o animus necandi deverá sertraduzido para “vontade de matar” ou “intenção homicida”.

As expressões latinas devem ser grafadas em itálico, e sem aspas. Quando o texto trabalhado jáestiver em itálico, como por exemplo, uma citação doutrinária ou jurisprudencial, então a palavra ouexpressão latina deverá ser grafada na forma tradicional para se diferenciar do vernáculo, como nesteexemplo: art. 121, caput .

1.15 Alguns conceitos básicos:Cota: é a manifestação do Ministério Público lançada abaixo de um termo de vista. Pode ser

manuscrita, desde que legível, e, em regra, não deve se estender além da página da vista. No processodigital, quando é disponibilizado para o Ministério Público se manifestar, a cota é digitada ou copiada ecolada no espaço próprio.

Termo de vista: ou simplesmente “vista” é o termo aberto nos autos que autoriza a manifestaçãoescrita da parte logo abaixo.

VISTA

Aos 02 dias do mês de maio de 2017, faço estes autos com vista ao 1

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1

2

Promotor de Justiça, Doutor Fulano de Tal. Eu, _________, Escrevente, digitei.

Autos nº XXX/ANO

MM. Juiz, 2

O pedido do Nobre Defensor, de substituição das testemunhas arroladas na defesaescrita, deve ser indeferido por falta de amparo legal.

O prazo para arrolar testemunhas já se esgotou, não tendo a defesa indicadoqualquer motivo excepcional que justifique a pretendida substituição.

Pelo exposto, aguarda o Ministério Público o indeferimento do pedido.

Cidade, dia, mês e ano.

Fulano de Tal

Promotor de Justiça

Termo de vista

Cota

Em caso de manifestações mais extensas, a cota deverá introduzir a manifestação, indicando, sefor o caso, do que se trata (memorial, contrarrazões), ou efetuando esclarecimentos e requerimentos,como é o caso da cota de oferecimento da denúncia, que será detalhada em capítulo posterior. Emqualquer caso, a cota deverá indicar o número de folhas da manifestação:

VISTAAos 02 dias do mês de junho de 2017, faço estes autos com vista aoPromotor de Justiça, Doutor Fulano de Tal. Eu, _________, Escrevente, digitei.

Autos nº XXX/ANO

MM. Juiz,

Contrarrazões de apelação em separado, em 03 laudas.

Cidade, dia, mês e ano.

Fulano de Tal

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1

Promotor de Justiça

No processo digital não há cota introdutória, sendo a manifestação lançada diretamente quando oprocesso é disponibilizado.

Caso os autos não estejam com vista aberta para o Ministério Público, e houver necessidade demanifestação, por qualquer motivo, esta deverá ocorrer por meio de petição. Na verdade, além daciência, que será explicada em seguida, só existem três meios de manifestação das partes nos autos:quando há vista aberta; por petição; ou no termo de audiência.

Ciência: é o ato pelo qual o Ministério Público toma conhecimento de alguma decisão judicial ouda juntada de algum documento. Algumas vezes a ciência ocorre mediante vista nos autos, mas omais comum é o encaminhamento dos autos ao Ministério Público sem vista aberta para que umcarimbo de “ciência” seja colocado no documento ou na decisão, assinado pelo Promotor de Justiça:

CONCLUSÃO

Aos 10 dias do mês de abril de 2017, faço estes autos Conclusos ao

MM. Juiz de Direito, Doutor Beltrano de Tal. Eu, _________, Escrevente, digitei.

Autos nº XXX/ANO

Defiro o requerimento do Ministério Público (fls. 112).

Providencie-se o necessário.

Cidade, dia, mês e ano.

Ciente o MP.Cidade, dia, mês e ano. 1

Beltrano de Tal

Juiz de Direito

Fulano de TalPromotor de Justiça 1

Carimbo de ciência

No processo digital, a ciência ocorrerá com a disponibilização do processo para o MinistérioPúblico, quando deverá ser lançada a manifestação do tipo “Ciente da decisão de fls. xx”, que,dependendo do sistema utilizado pode até já vir digitada, bastando a assinatura digital do membro doMinistério Público.

Termo de audiência: durante as audiências o magistrado poderá conceder a palavra ao Promotorde Justiça para formular requerimento ou manifestação, que será digitada pelo escrevente para que

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fique constando no termo (relatório ou ata), que será juntado aos autos, ou gravada em meio digital.Conclusão: é o termo aberto nos autos pela serventia abaixo do qual a autoridade que preside o

procedimento lançará sua manifestação. No caso do processo judicial, a conclusão destina-se àsmanifestações do Juiz, no inquérito policial, às manifestações do Delegado de Polícia, e no inquéritocivil, às manifestações do Promotor de Justiça.

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2.1 Requisição para instauração de inquérito policial: o Ministério Público pode requisitar àAutoridade Policial a instauração de inquérito policial para a investigação de infração penal (art. 5.º,inciso II, do CPP).

Requisição é ordem, e por isso não pode ser indeferida pela Autoridade Policial, como no casodo requerimento (pedido) do ofendido.

A requisição é feita por meio de ofício dirigido à Autoridade Policial com atribuição parainvestigar o fato.

Em geral, a requisição do Ministério Público ocorre a partir de um início de prova, comodocumentos, cópias extraídas de algum procedimento, ou declarações colhidas na Promotoria deJustiça, que devem acompanhar o ofício requisitório.

Antes de expedir ofício requisitório é conveniente certificar-se da inexistência de procedimentoinvestigatório já instaurado, bem como, em se tratando de informação anônima1 ou notícia daimprensa, verificar junto à suposta vítima sobre a veracidade da informação2.

Na requisição, o Promotor de Justiça pode já indicar as diligências que pretende sejam levadas aefeito pela Autoridade Policial para a investigação do fato:

Cidade, dia, mês e ano.

Ofício n.º XXX/ANO

Senhor Delegado,

Encaminho a Vossa Excelência as declarações prestadas nesta Promotoria 1 por “A”,“B”, “C” e “D”, e requisito a instauração de inquérito policial 2 para apurar a práticado crime previsto no art. 299 do Código Eleitoral 3 .

Chegou ao conhecimento do Ministério Público que diversas pessoas têm sidotrazidas da zona rural até o bairro de Coophavila transportadas por candidatos àspróximas eleições, ou por pessoas de qualquer forma ligadas a candidatos, parafazerem compras, com evidente propósito de dar vantagem para a obtenção do voto 4 .

Como esta situação que pode caracterizar o crime acima mencionado, e considerando

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a necessidade de investigação da ocorrência, deverá ser mantido contato com osproprietários dos supermercados da região para que comuniquem à Delegaciaqualquer situação que venha a despertar suspeita, para a imediata qualificação eoitiva dos envolvidos, inclusive prisão em flagrante, se for o caso 5 .

Sem mais para o momento, aproveito a oportunidade para externar meus protestos deestima e consideração.

Promotor de Justiça

Excelentíssimo Senhor

Doutor ________________

DD. Delegado de Polícia do __ Distrito Policial de _____ – __.

Início de prova que dá suporte à requisição

Requisição do inquérito

Objeto da investigação

Indicação da conduta a ser investigada

Indicação de diligências investigatórias

Caso a requisição não esteja acompanhada de documentos que constituam iníciode prova, será necessária a indicação de elementos capazes de tornar o fatodeterminado ou determinável. Por exemplo, não será possível requisitar inquéritopolicial para “investigar o tráfico de drogas na comarca”, sem que haja indicaçõesda suposta autoria ou local mais específico onde o apontado crime venhaocorrendo. É possível a requisição indicando as características do suposto autor,como, por exemplo, “um homem alto, loiro, que costuma ficar em frente à EscolaMunicipal Dona Ingnácia ao fim do tuno da noite onde pratica o tráfico”. Ou mesmopelo local, com maior determinação: “para que seja investigada a prática do tráficopor morador do início da Rua Adolfo Olinto, que costuma vender drogas aconsumidores que estacionam em frente à sua residência”.

É conveniente que os documentos instrutórios da requisição, quando se tratarde prova produzida na Promotoria de Justiça, como termos de declarações,

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por exemplo, tenham cópias arquivadas para se prevenir a possibilidade deextravio.

2.2 Procedimento Investigatório Criminal (PIC): determinados tipos de ilícitos penais,notadamente os praticados no âmbito de organizações criminosas, ou circunstâncias especiais, aexemplo da suspeita de envolvimento de policiais, tornam conveniente a investigação da infraçãopenal diretamente pelo Ministério Público. Para tanto, é necessária a instauração de procedimentoinvestigatório criminal, o qual será presidido pelo representante do Ministério Público. Oprocedimento, que tem início por uma portaria, está disciplinado pela Resolução n.º 13/2006, doConselho Nacional do Ministério Público, e por atos normativos editados pelos variados MinistériosPúblicos.

PORTARIA

Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado – GAERCO – Regionalde (cidade/estado)

Procedimento Investigatório Criminal n.º XXX/ANO

INVESTIGADOS: “A”, “B”, “C” e “D”.

OBJETO: Apuração de formação de cartel para fraudar licitações.

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado – GAERCO –Regional de (cidade/estado), usando das atribuições conferidas pelos arts. 129, incs. I,VI e VII, da Constituição Federal, 26, incs. I e V, da Lei n.º 8.625/1993 – Lei OrgânicaNacional do Ministério Público, art. ___ da Lei Complementar Estadual nº/ano – LeiOrgânica do Ministério Público do Estado de _____ 1 , e das disposições aplicáveis daResolução n.º 13/2006, do CNMP, e do Ato Normativo nº/ano 1 , tendo em vista asdeclarações prestadas junto ao Ministério Público de ______ por “T”, brasileiro,casado, funcionário público municipal, portador do RG 00.000.000 e inscrito no CPFsob o n.º 000.000.000-00, denunciando a formação de cartel e fraudes em licitações,bem como os documentos por ele apresentados, e

CONSIDERANDO que de acordo com os documentos apresentados pelodenunciante há fortes indícios de que os investigados têm participado, em conjunto, dediversas licitações promovidas por municípios e órgãos públicos da região, nos quaissempre se sagra vencedora com a melhor proposta a empresa ”A”; 2

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CONSIDERANDO o fato de ter sido constatado que por vários produtos vendidospela referida empresa ao Município de (cidade/estado) eram pagos preços superioresaos praticados no mercado; 2

CONSIDERANDO que tais condutas caracterizam crimes previstos nos art. 288 doCódigo Penal, e também no art. 90 da Lei n.º 8.666/1993 – Lei de Licitações 3 , semprejuízo de outros que venham a ser apurados no decorrer das investigações;

CONSIDERANDO que o Procedimento Investigatório Criminal é meio procedimentaladequado para a coleta de elementos probatórios destinados a instruir eventual açãopenal;

O MINISTÉRIO PÚBLICO resolve instaurar PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIOCRIMINAL com a finalidade de apurar os fatos acima descritos em todas as suascircunstâncias, determinando, desde logo, as seguintes providências:

1. Registre-se no sistema informatizado, observando-se as disposições do AtoNormativo nº/ano, fazendo constar como investigados “A”, “B”, “C” e “D”; e os tipospenais: art. 288 do Código Penal e art. 90 da Lei n.º 8.666/1993; 4

2. Autue-se, rubrique-se e numere-se a presente portaria, arquivando-se cópia empasta própria; 4

3. Junte-se aos autos as declarações do denunciante bem como os documentos porele fornecidos; 4

4. Providencie a juntada da ficha cadastral das empresas investigadas; 4

5. Diligencie nos endereços das sedes das empresas para constatar sua existência efuncionamento; 5

6. Oficie-se aos Senhores Prefeitos dos municípios indicados nas declarações dodenunciante, requisitando informações sobre a existência de algum contrato com asreferidas empresas, sendo que, em caso positivo, deverá ser enviada cópia dosprocedimentos licitatórios ou de dispensa de licitação que geraram a contratação,bem como relatórios referentes aos pagamentos efetuados às citadas empresasnos últimos 02 anos; 5

7. Oficie-se às empresas investigadas, dando-lhes ciência da instauração do presenteprocedimento, remetendo-se cópia da portaria; 5

8. Fica designado a Oficial de Promotoria Fulana de Tal dos Santos para secretariar

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3

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os trabalhos.

Cidade, dia, mês e ano.

Promotores de Justiça

Normas estaduais

Fatos

Tipos penais

Procedimentos de instauração

Diligências de investigação

É fundamental que a portaria delimite de maneira clara e objetiva o(s) fato(s) a ser(em)investigado(s), não sendo recomendável a investigação, no mesmo procedimento, de fatos que nãoguardem conexão probatória.

2.3 Manifestação no auto de prisão em flagrante: o art. 310 do Código de Processo Penalestabelece:

Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá fundamentadamente:I – relaxar a prisão ilegal; ou

II – converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantesdo art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelaresdiversas da prisão; ou

III – conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.

Nada obstante o silêncio da lei, é recomendável seja a decisão judicial precedida de manifestaçãodo Ministério Público, titular da ação penal, que irá fazer opção por uma das três alternativas postaspelo legislador. Para aquelas previstas nos incisos I e III, bastará a indicação da ilegalidade que vicia aprisão (relaxamento), ou a ausência dos pressupostos da prisão preventiva, para justificar a concessãoda liberdade provisória, quando for o caso, manifestando-se sobre o arbitramento da fiança e aaplicação de alguma medida cautelar.

Autos n.º XXX/ANO

MM. Juiz,

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“A” foi autuado em flagrante pela prática do crime de disparo de arma de fogo (art. 15da Lei 10.826/2003 – Estatuto de Desarmamento). 1

De acordo com o auto de prisão em flagrante, o autuado, pessoa conhecida no bairroonde reside pelo fanatismo pelo seu time de futebol, estava assistindo o jogo dedecisão do campeonato, quando o árbitro marcou pênalti em desfavor de seu time. Oautuado, inconformado, sacou uma arma de fogo que trazia consigo e efetuou trêsdisparos para o alto, razão pela qual foi preso em flagrante por Policiais Militares.

O autuado não registra antecedentes, sendo pessoa conhecida nesta cidade emrazão de sua atividade de catador de papelão para reciclagem, tido como pessoaordeira e pacífica. 2

Ausentes os pressupostos da prisão preventiva, é o caso de concessão de liberdadeprovisória.

Com efeito, estando demonstrado que o autuado, apesar de seu temperamentopacífico, é pessoa que perde a razão quando se trata de assuntos relacionados aoseu time de futebol, necessária a aplicação da medida cautelar prevista no art. 319,inc. II, do Código de Processo Penal, para que seja proibido seu acesso e frequênciaao estádio em questão, bem como a qualquer local público ou privado em que estejaocorrendo qualquer evento relacionado ao Sport Club Corinthians Paulista, para evitara prática de novas infrações penais. 3

Não é o caso de arbitramento de fiança, até porque o autuado é pessoareconhecidamente pobre (art. 350), devendo, entretanto, sujeitar-se às condições dosarts. 327 e 328 do Código de Processo Penal. 4

Cidade, dia, mês e ano.

Capitulação legal e descrição resumida do fato

Condições subjetivas do autuado

Requerimento de medida cautelar adequada

Manifestação sobre a fiança

A hipótese do inc. II (conversão em prisão preventiva) exigirá a indicação de quais requisitos daprisão preventiva estão presentes, bem como do motivo que justifica a não aplicação das medidascautelares:

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Autos n.º XXX/ANO

MM. Juiz,

“B” foi autuado em flagrante pela prática do crime de roubo qualificado pelo empregode arma de fogo 1 .

De acordo com o auto de prisão em flagrante, o autuado abordou a vítima eapontando-lhe um revólver, ordenou que lhe entregasse sua bolsa, na qual estava aquantia de R$ 5.000,00, que havia acabado de sacar no banco.

O autuado registra duas condenações em primeira instância pela prática de furtos,sendo pessoa sem ocupação lícita, que faz do crime seu meio de vida. 2

Presentes os pressupostos da prisão preventiva, é o caso de conversão da prisão emflagrante.

É indiscutível que a liberdade do autuado representa risco à garantia da ordempública 3 , sendo certo que a sensação de impunidade gerada pelo fato de ainda nãoterem sido executadas as penas aplicadas em razão da prática dos furtos, (já que asdecisões ainda não transitaram em julgado), acabou por incentivá-lo à prática de crimemais grave.

Como se não bastasse, a vítima, vizinha do autuado, que já o conhecia como pessoaviolenta, mostrou-se apavorada com a possibilidade de ele voltar ao convívio social,aventando a probabilidade de ser por ele ameaçada para mudar seu depoimento emjuízo 3 .

Presente, portanto, a necessidade de manutenção da ordem pública e também aconveniência para a instrução criminal, que autorizam a decretação da prisãopreventiva, nos termos do art. 312 do Código de Processo Penal, e também do art.313, inciso I 4 , já que se trata de crime doloso no qual a pena máxima cominadasupera 04 anos.

Diante da imprescindibilidade do afastamento do autuado do convívio social, mostra-se inviável a aplicação de qualquer das medidas cautelares, incompatíveis com aconduta social do agente e com a ameaça que oferece à sociedade e à vítima. 5

Cidade, dia, mês e ano.

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Capitulação legal e descrição resumida do fato

Condições subjetivas do autuado

Motivos que inviabilizariam a liberdade

Fundamento legal da prisão preventive

Impossibilidade de medidas cautelares

Quando for o caso de arbitramento de fiança, a manifestação do Ministério Públicodeverá indicar as situações a serem consideradas pelo Juiz para a correta fixaçãodo valor, observados os parâmetros definidos no art. 325 do Código de ProcessoPenal:

(…)

O autuado é Cirurgião Dentista, reside em bairro nobre desta cidade, e quando de suaprisão dirigia um veículo de luxo cujo preço de mercado gira em torno de R$100.000,00.

Nos termos do art. 325, inc. II, do Código de Processo Penal, e considerando ascondições financeiras do agente, requer-se o arbitramento da fiança em valor nãoinferior a 150 salários mínimos.

2.4 Manifestação em pedido de prazo para conclusão do inquérito policial: De acordo com oart. 10 do Código de Processo Penal, o inquérito policial deverá ser concluído no prazo de 10 dias,estando o investigado preso, ou no prazo de 30 dias, caso ele esteja solto. Na prática, estando oinvestigado solto, grande parte dos inquéritos policiais não é concluída em 30 dias, situação que obrigaa remessa dos autos ao Poder Judiciário para solicitar a realização de ulteriores diligências, nostermos do art. 10, § 3.º, do Código de Processo Penal.

O inquérito policial é então encaminhado com vista ao Ministério Público, para concordar ou nãocom o pedido de dilação de prazo. Muitos manuais de atuação funcional3 recomendam uma análisedas diligências já realizadas no inquérito policial, bem como a indicação de novas diligências que serevelem necessárias antes da devolução dos autos do inquérito à polícia. Na prática, a profundidadedessa análise dependerá do volume de trabalho a ser enfrentado pelo Promotor de Justiça e doconhecimento da estrutura policial. Não resta dúvida de que se trata de importante meio para oexercício do controle externo da atividade policial, disciplinado pelo art. 129, inc. VII, da ConstituiçãoFederal.

Ainda que não seja possível uma aprofundada análise das diligências já realizadas, sucessivas

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concordâncias com a dilação de prazo sem que nenhuma diligência tenha sido realizada pelaAutoridade Policial demandariam uma justificativa nos autos para que fique constando o efetivoexercício do controle externo da atividade policial:

Autos n.º XXX/ANO

MM. Juíza,

De acordo com o pedido de dilação de prazo 1 (fls. 219).

É importante destacar que, muito embora nenhuma diligência tenha sido realizada nosúltimos 90 dias, a situação foi justificada pela Autoridade Policial em ofício aoMinistério Público, demonstrando a impossibilidade de regular andamento dasinvestigações devido ao desfalque no quadro de funcionários da Delegacia de Polícia.O fato já foi objeto de comunicação ao Procurador Geral de Justiça e ao Secretário deSegurança Pública, solicitando providências para a regular retomada dos serviços.

Cidade, dia, mês e ano.

Não havendo outras intercorrências, apenas esta frase basta para concordar com adilação de prazo.

O pedido de dilação de prazo, em geral, é feito para mais 30 dias. É possível solicitar ao Juiz aconcessão de prazo inferior, desde que suficiente para o cumprimento da diligência faltante,atentando-se sempre que a fixação de prazo exíguo sem que haja possibilidade de cumprimento,observadas as condições de trabalho da Autoridade Policial demandada, não contribuirá para o bomandamento das investigações.

O estabelecimento de um canal de diálogo com a Autoridade Policial poderáser um facilitador para um trabalho eficiente.

2.5 Manifestação em pedido de busca domiciliar: o art. 240, § 1.º, do Código de Processo Penalenumera as situações que autorizam a busca domiciliar. O requerimento de busca domiciliar poderáser efetuado pelo Ministério Público ou pela Autoridade Policial, caso em que o Ministério Públicodeverá manifestar-se antes da apreciação do pedido pelo Poder Judiciário, acerca da sua pertinência eda sua legalidade.

Autos n.º XXX/ANO

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MM. Juiz,

Peticiona a digna Autoridade Policial pela expedição de mandado de busca eapreensão na residência de pessoa identificada como “ A” 1 , sita na Rua JulioOsmany Barbin, 625 2 , nesta cidade e comarca.

De acordo com as declarações de “T”, há fortes indícios de que o requerido esteja naposse de arma de fogo, uma vez que referida pessoa disse ter visto o investigado naposse de um revólver, ameaçando sua companheira.

Com fundamento no artigo 240 do Código de Processo Penal, opina-se pelaexpedição do competente mandado de busca e apreensão na residência mencionada,para cumprimento no prazo de 10 dias. 3

Cidade, dia, mês e ano.

Identificação, tanto quanto possível, da pessoa investigada

Endereço da busca

Indicar prazo para a realização da busca

Os pedidos de busca devem estar respaldados em um mínimo de indícios queapontem para a viabilidade da empreitada. Pedidos do tipo “Chegou aoconhecimento desta Autoridade que pessoa de vulgo ‘Totó’, residente na RuaAlfredo Vannucci, n.º 4 ‚estaria vendendo drogas” não atendem ao dispositivo legalque fala em “fundadas razões”, devendo ser solicitada à Autoridade Policial arealização de diligências capazes de fornecer elementos de veracidade àinformação.

2.6 Manifestação em pedido de interceptação telefônica: a interceptação telefônica vemdisciplinada pela Lei n.º 9.296/1996, podendo ser requerida pelo Ministério Público ou pelaAutoridade Policial. É importante que o pedido ou a manifestação do Ministério Público analise aausência das situações enumeradas no art. 2.º da referida lei, e, no caso de pedido da autoridadepolicial, a manifestação repita o nome do investigado, o n.º do telefone e o prazo necessário4.

Na hipótese de pedido de interceptação formulado pelo Ministério Público, devem ser observadosos requisitos elencados pela Resolução n.º 36/2009 do CNMP, especialmente em seu art. 2.º.

Autos n.º XXX/ANO

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MM. Juiz,

Pleiteia a digna Autoridade Policial a interceptação do telefone n.º 19 9999-0009 1 ,atribuído a “ A” 1 , devidamente qualificado no requerimento, pessoa sob a qualexistem fortes indícios de relacionamento com os crimes de roubo e formação deorganização criminosa.

Presentes estão os requisitos da Lei n.º 9.296/1996. As investigações do inquéritopolicial, em especial as oitivas realizadas e os relatórios do Senhor Investigador, bemdemonstram a existência de fundados indícios do envolvimento do averiguado com oscrimes em investigação. Esgotou-se a possibilidade de produção de outros meios deprova para o avanço das investigações, sendo imprescindível a interceptaçãotelefônica para a produção de provas. E, finalmente, os crimes investigados sãopunidos com pena de reclusão, estando afastadas as hipóteses do art. 2.º do citadodiploma legal. 2

Ressalva-se, porém, a impossibilidade de autorização para fornecimento de senhapara que se tenha acesso a quaisquer informações de outros telefones detectadosdurante a interceptação, o que deverá ser objeto de pedido justificado ao Juízo.

Pelo exposto, o Ministério Público concorda com o deferimento do pedido deinterceptação telefônica pelo prazo de 15 dias 3 .

Cidade, dia, mês e ano.

Indicação da pessoa investigada e do número do telephone

Análise da ausência das hipóteses do art. 2.º

Prazo

Para os crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no § 3º do art. 158 e no art. 159 do CódigoPenal, e no art. 239 do Estatuto da Criança e do Adolescente, deve ser observado o disposto nos arts.13-A e 13-B do Código de Processo Penal.

2.7 Manifestação em pedido de prisão temporária: a prisão temporária vem disciplinada pela Lein.º 7.960/1989, podendo ser requerida pelo Ministério Público ou pela Autoridade Policial. Éimportante que o pedido ou a manifestação do Ministério Público analise a pertinência da prisãotemporária e sua adequação ao rol dos crimes em que é possível sua decretação (art. 1.º, inc. III). Aprisão temporária poderá ser prorrogada “em caso de extrema e comprovada necessidade”, de acordo

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com o art. 2.º. Assim, o pedido de prorrogação deverá analisar qual seria a necessidade que motiva aprorrogação.

Autos n.º XXX/ANO

MM. Juiz,

Pleiteia a digna Autoridade Policial a decretação da prisão temporária de “ A” 1 , vulgo“L” devidamente qualificado no requerimento, pessoa sob a qual existem fortesindícios de estar envolvido com prática do tráfico de drogas.

Segundo consta, o investigado estaria auxiliando “B” na entrega de cocaína,utilizando-se de uma motocicleta 2 .

O pedido veio instruído com transcrições de diálogos obtidos em interceptaçãotelefônica que bem demonstram a necessidade da prisão temporária do investigado 3 .

Estão presentes os pressupostos do art. 1.º, incs. I e III, alínea “n”, da Lei 7.960/1989,já que o tráfico de drogas insere-se no rol dos crimes que autorizam a medida 4 e aprisão temporária revela-se imprescindível para as investigações, inclusive para sedescobrir a identidade dos demais comparsas 5 .

Assim, o Ministério Público concorda com o pedido para a decretação da prisãotemporária, pelo prazo de 30 dias 6 .

Cidade, dia, mês e ano.

Indicação da pessoa investigada

Conduta imputada a ser investigada

Fundadas razões da participação do investigado

Pertinência do tipo penal

Imprescindibilidade

Prazo

2.8 Pedido de suspensão de CNH – Carteira Nacional de Habilitação: o art. 294 da Lei9.503/1997 – Código de Trânsito Brasileiro prevê interessante medida cautelar consistente na

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suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor, ainda na fase deinvestigação, “havendo necessidade para a garantia da ordem pública”. Uma mais ampla utilizaçãoda medida certamente iria contribuir para a diminuição de graves problemas no trânsito, especialmenteda embriaguez. A necessidade de garantia da ordem pública pode ser inferida pela gravidade daconduta, ou pela reiteração de condutas danosas.

Autos n.º XXX/ANO

MM. Juiz,

“A” está sendo investigado pela prática do delito previsto no art. 306 da Lei9.503/1997 – Código de Trânsito Brasileiro. 1

Requer-se a juntada aos autos de cópia da sentença que condenou o investigado pelomesmo crime no ano passado.

Como pode ser notado, o investigado, a despeito de não ser reincidente, já foicondenado em primeira instância pela prática do mesmo crime 2 e, nada obstante,continuou a praticar a mesma conduta, dirigindo veículos automotores em estado deembriaguez, gerando grave risco à população, pois desta vez chegou a quaseatropelar uma senhora que atravessava na faixa de pedestres. 2

Caracterizada a grave ameaça à segurança viária e, consequentemente, à ordempública, necessária se faz, nos termos do art. 294 do Código de Trânsito, a suspensãocautelar do direito de dirigir veículos do investigado, até final decisão do presenteprocesso, expedindo-se mandado de busca e apreensão de sua Carteira Nacional deHabilitação. 3

Cidade, dia, mês e ano.

Indicação do crime investigado

Elementos de convicção da ameaça à ordem pública

A expedição de mandado de busca irá garantir a efetividade e rapidez da medida

2.9 Medidas protetivas de urgência em situações de violência doméstica: as medidas protetivas

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de urgência previstas na Lei n.º 11.340/2006 – Lei Maria da Penha podem ser requeridas pelaofendida ou pelo Ministério Público (art. 19). Muito embora a lei não condicione a concessão dasmedidas protetivas à prévia oitiva do Ministério Público (art. 19, § 1.º), em regra o Promotor deJustiça é chamado a se manifestar quando a Autoridade Policial encaminha pedido de medidaprotetiva ao juízo.

Não coabitando o agressor com a ofendida, medidas que não implicam significativa restrição dedireitos fundamentais, como as previstas no art. 22, inciso III, da Lei 11.340/2006, proibitivas daaproximação e do contato entre as partes, normalmente são deferidas sem a exigência de maioreselementos, até porque podem ser revistas a qualquer tempo. No caso, havendo requerimento daofendida, a manifestação do Ministério Público poderia ser:

Autos nº XXX/ANO

MM. Juíza,

“T” 1 , vítima do crime de ameaça em situação de violência doméstica, pleiteia aconcessão de medidas protetivas de urgência previstas no art. 22, inciso III, “a” e“b” 2 , para impedir que seu ex-companheiro “ B” 1 se aproxime ou mantenha qualquercontato com ela e seus familiares.

Como a ofendida voluntariamente deixou o lar em que convivia com o supostoagressor, sem intenção de retorno, mostrando-se a medida saudável para evitar novosatritos entre as partes, e não havendo grave restrição a direitos fundamentais, oMinistério Público concorda com a concessão da medida nos termos do pleiteado,para impedir “B” de aproximar-se da ofendida e seus familiares a uma distância de200 metros 3 , ou com eles manter contato por qualquer meio de comunicação.

Cidade, dia, mês e ano.

Identificação da ofendida e do aggressor

Medidas pretendidas

Sugestão da distância

A distância de aproximação deverá levar em consideração os locais de residência e trabalho doagressor, bem como as restrições de uma cidade de pequeno porte. Deve-se ter a cautela de verificarse as partes não coabitam, situação que inviabiliza as medidas do inc. III, se não forem cumuladascom a do inc. II (afastamento do lar), a qual exige a apreciação mais segura do ocorrido. Se o pedidoda ofendida estiver lastreado somente em suas declarações contra o agressor, sem maiores elementos

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capazes de formar o convencimento do Ministério Público e do juízo, pode ser conveniente solicitar àAutoridade Policial a realização de diligências:

Autos nº XXX/ANO

MM. Juíza,

Prescreve o art. 22 da Lei nº 11.340/2006 que “Constatada a prática de violênciadoméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, deimediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidasprotetivas de urgência”.

Como se pode notar, o deferimento de medidas protetivas de urgência pressupõe aformação de um juízo de valor a partir de prova pré-constituída que proporcione aoJuiz a constatação, ainda que precária, da prática da violência doméstica.

A referida lei, em seu art. 12, determina a adoção “imediata”, após o registro daocorrência, de vários procedimentos, dentre os quais se destaca o previsto no inc. II:“colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suascircunstâncias”.

É cediço que nem sempre, nos casos de violência doméstica contra a mulher, épossível contar com prova testemunhal esclarecedora, mas torna-se difícil a formaçãodo convencimento se o pedido vem instruído exclusivamente com as declarações davítima, mormente quando a medida protetiva pretendida é o afastamento docompanheiro do lar conjugal, situação extrema e que envolve o sacrifício de direitosfundamentais do suposto agressor.

Assim, faz-se imprescindível seja o pedido de medida protetiva de urgência(principalmente em sendo requerido o afastamento do agressor do lar) instruído antesde sua remessa ao juízo, com os elementos probatórios possíveis, como a oitiva deuma ou mais testemunhas (vizinhos, familiares etc.), a oitiva do agressor, e também,sempre que permitido, um relatório do setor de investigações noticiando eventualconhecimento de contendas anteriores envolvendo o agressor, sua personalidade, equaisquer outros elementos que possam subsidiar, em apreciação sumária, oconvencimento do Juiz, havendo, obviamente, conciliação com a necessáriaceleridade.

Pelo exposto, requer-se tornem os autos à Delegacia de Polícia.

Cidade, dia, mês e ano.

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2.10 Arquivamento do inquérito policial: a manifestação do Ministério Público para oarquivamento do inquérito policial é a peça que deve exprimir o motivo pelo qual não será intentada aação penal.

2.10.1 Previsão legal: art. 28 do Código de Processo Penal.

2.10.2 Natureza jurídica: o arquivamento, como ato de determinar a remessa dos autos aoarquivo, encerrando a investigação criminal, é decisão judicial cuja natureza jurídica não possuiconsenso no âmbito doutrinário. A natureza jurídica ora em análise é a da manifestação doMinistério Público, que fundamenta o arquivamento determinado pelo Juiz. Trata-se de decisãoadministrativa5 do exercício da titularidade da ação penal. Sobre essa decisão, o PoderJudiciário exerce atípico controle, com a possibilidade de provocar uma revisão pelo ProcuradorGeral de Justiça (CPP, art. 28),6 que dará a palavra final.

2.10.3 Terminologia: na verdade o que realmente interessa é o conteúdo da manifestação e não onome que é colocado em seu cabeçalho. O art. 28 do Código de Processo Penal fala em“requerer o arquivamento”, motivo pelo qual a peça tradicionalmente é chamada de “Pedido deArquivamento”. A nomenclatura em relação à pessoa que está sendo investigada deve ser“investigado”, “indiciado” (caso tenha de fato ocorrido o indiciamento) ou “averiguado”.

2.10.4 Estrutura: a estrutura da manifestação para arquivamento é formada basicamente por trêspartes: relatório, análise da prova e conclusão.

2.10.4.1 Relatório: é o breve resumo do fato investigado e das provas coligidas durante ainvestigação.

Não há necessidade de ser um relatório detalhado com data, hora e local,como ocorre com a denúncia, bastando a identificação do investigado e adescrição superficial da conduta a ele imputada.

2.10.4.2 Análise da prova: é a parte discursiva da manifestação, equivalente à fundamentação nasentença.

É imprescindível ter em mente que o objetivo principal da análise dos elementos de informação

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não é cumprir uma formalidade, mas justificar o motivo pelo qual o Ministério Público está deixandode intentar a ação penal, regida pelo princípio da obrigatoriedade, para que tanto o Magistrado,encarregado do controle da decisão, quanto o Procurador Geral de Justiça (em caso de provocaçãonos termos do art. 28), fiquem convencidos de seu acerto.

Evidentemente o conteúdo da parte discursiva irá variar de acordo com a complexidade dainvestigação. No caso, por exemplo, de permanecer ignorada a autoria, após indicar no relatório asdiligências levadas a efeito nos autos, bastará uma simples frase para demonstrar a necessidade doarquivamento e atender ao anseio de síntese, clareza e objetividade.

2.10.4.3 Conclusão: a conclusão poderá obedecer a um padrão, já que o objetivo não irá discreparda necessidade de dar por encerrada a fase investigatória sem dar início à ação penal.

PEDIDO DE ARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL

Autos n.º XXX/ANO

MM. Juiz, 1

Instaurou-se o presente inquérito policial para a investigação das 2 circunstânciasque geraram a morte 3 de “T” e “U” 2

Segundo consta, “T” conduzia o veículo “K” pela rodovia BR 344, quando, pormotivos não bem determinados, o automóvel deixou o leito carroçável, bateu em umapedra, sendo o motorista e a passageira “U” arremessados para fora, tendo ambosvindo a ó bito no local 2 .

Inexistem testemunhas presenciais 4 .

A perícia realizada no local não conseguiu determinar a causa do acidente, não tendosido constatado nenhum fator externo que pudesse ter levado o motorista a deixar oleito carroçável. 4

Laudo de exame químico toxicológico constatou estar o motorista embriagado, tendosido encontrada uma lata de cerveja no interior do veículo. 4

Pelo que foi constatado, ambos trafegavam sem o uso de cinto de segurança. 4

Não há qualquer indício da existência de crime cuja punibilidade já não tenha sidoextinta pela morte do agente (CP, art. 107, inc. I). 4

Ante o exposto, o Ministério Público requer o arquivamento do inquérito policial, sem

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prejuízo do disposto no art. 18 do Código de Processo Penal 5 .7

Cidade, dia, mês e ano.

Promotor de Justiça

Dirigida ao Juiz

Relatório

Qual seria o crime? Doloso? Culposo?

Análise da prova

Conclusão

Embora seja bastante usual a menção do art. 18 do Código de ProcessoPenal nas manifestações de arquivamento, para lembrar a possibilidade dedesarquivamento, caso novas provas surjam, a indicação do referidodispositivo não é necessária para autorizar novas investigações no futuro.Cuida-se, entretanto, de formalidade de utilização prática consagrada entre osmembros do Ministério Público.

2.10.5 Peças de informação e outros procedimentos investigatórios: como se sabe, oinquérito policial não constitui pressuposto para a ação penal, que poderá vir embasada emelementos de prova colhidos por outros meios, como uma investigação do próprio MinistérioPúblico, representada por um procedimento investigatório criminal (PIC); o relatório de umaComissão Parlamentar de Inquérito; ou um procedimento investigatório de uma Delegacia RegionalTributária, por exemplo.

No caso do inquérito policial, como existe gestão oficial do Poder Judiciário, sendo o inquéritoencaminhado pela polícia diretamente ao órgão judicante, a manifestação para arquivamento é lançadaa partir de vista nos autos. Situação semelhante não irá ocorrer quando o objeto do arquivamento forpeças de informação, PICs ou procedimentos investigatórios remetidos diretamente ao MinistérioPúblico, e que tanto quanto o inquérito policial, também se submetem ao controle do Judiciário parafins de arquivamento.8 Em tais casos, não existindo autos com vista para o Ministério Público, amanifestação para arquivamento será veiculada por petição, podendo ser uma simples petição deencaminhamento da peça, ou o texto da peça pode integrar o corpo da própria petição, como noexemplo:

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Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da __ Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado) 1

O Ministério Público do Estado de __________ vem à presença de Vossa Excelênciaencaminhar as presentes peças de informação, passando a expor o seguinte: 2

Versa o expediente encaminhado pela 23.ª Delegacia Regional Tributária sobre aocorrência de eventual crime de sonegação fiscal atribuído à empresa “A”. 3

Segundo consta do auto de infração e imposição de multa, a referida empresa noperíodo de abril a novembro de 1999 creditou-se indevidamente de ICMS em valorescorrespondentes às diferenças entre o montante do imposto creditado em seusregistros fiscais a título de transferência de mercadorias remetidas de sua filial comsede no Estado e Goiás, e o efetivamente cobrado pelo Estado de origem, em razãode tratar-se de incentivo fiscal. 3

A análise da conduta imputada aos administradores da empresa vítima não revelasubmissão a qualquer das figuras típicas elencadas nos arts. 1º e 2º da Lei nº8.137/1990. 4

De fato, não houve omissão de informação ou prestação de informação falsa, nãohouve fraude à fiscalização tributária, nem alteração de documento fiscal, ou utilizaçãode documento fiscal falso, e, por fim, não houve negativa no fornecimento dedocumento fiscal, excluindo-se assim as condutas tipificadas pelo art. 1º. 4

O que ocorreu foi que a empresa, dolosa ou culposamente, considerou incentivo fiscalpara creditar-se de valor de imposto, operação vedada pela legislação, não havendo,porém, notícia de que tal conduta tivesse ocorrido mediante qualquer artifício utilizadopara alterar os valores escriturados ou fraudar a fiscalização. 4

No que diz respeito às condutas previstas no art. 2º, que comina pena de 06 meses a02 anos de detenção, o que se infere da análise da representação fiscal é que ascondutas imputadas foram praticadas até o mês de dezembro de 2010, portanto, hámais de 04 anos (art. 109, inciso V, do Código Penal). 5

Não houve qualquer interrupção do prazo prescricional. 5

Pelo exposto, o Ministério Público requer o arquivamento do feito, sem prejuízo daregra contida no art. 18 do Código de Processo Penal. 6

Cidade, dia, mês e ano.

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Formato de petição

Introdução

Relatório

Análise da prova

Análise da prescrição

Conclusão

Enunciado n.º 24 da 2.ª Câmara Criminal de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal: “A notitiacriminis anônima é apta a desencadear investigação penal sempre que contiver elementos concretos queapontem para a ocorrência de crime”.PITOMBEIRA, Sheila (Coordenadora). Manual Básico para a Atuação do Promotor de Justiça. Fortaleza:Ministério Público do Estado do Ceará, 2011. p. 44.Manual de Atuação Funcional do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (Capítulo VIII – B.9); Manual deAtuação Funcional do Ministério Público do Estado de São Paulo (art. 18).Art. 4.º da Resolução n.º 036/2009 do CNMP.TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. Vol. 1, 20. ed., São Paulo: Saraiva. p. 402. JARDIM,Afrânio Silva. Direito Processual Penal. 9. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 166-167.Como o Ministério Público é o titular da ação penal (CF, art. 129, inc. I), há vozes sustentando a não recepção doart. 28 do Código de Processo Penal pela Lei Suprema, razão pela qual o controle da legalidade do arquivamentodo inquérito policial deveria ser realizado pelo próprio Parquet, assim como se verifica no tocante ao inquérito civil(Lei 7.347/1985 – Lei da Ação Civil Pública, art. 9.º, § 1.º).Art. 15, parágrafo único da Resolução n.º 013/2006 do CNMP.“Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para adenúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia.”

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3.1 Conceito: é a petição inicial da ação penal pública (CPP, art. 24).

3.2 Autor da denúncia: somente o Ministério Público tem legitimidade para o seu oferecimento (CF,art. 129, inc. I, e CPP, arts. 24 e 257, inc. I).

3.3 Objetivo: instaurar a ação penal, levando ao conhecimento do Poder Judiciário a imputação deuma ou mais infrações penais a determinada ou determinadas pessoas físicas ou jurídicas, na hipótesede crimes ambientais (CF, art. 225, § 3º, e Lei 9.605/1998, art. 3º).

3.4 Terminologia: a pessoa a quem se atribui o envolvimento (autor, coautor, partícipe ou autormediato) na prática de uma infração penal deve ser referida na denúncia como “denunciado”,“indiciado” (quando tiver sido indiciado no inquérito policial) ou “autor do fato” (nomenclaturautilizada pela Lei 9.099/1995). “Réu” ou “acusado” é a terminologia adequada para utilizaçãosomente após o recebimento da denúncia.

Atenção: não devem ser usadas expressões vulgares como “larápio”, “elemento”,“meliante” etc.

3.5 Conteúdo: a denúncia deve conter a descrição da conduta típica com todas as suascircunstâncias; a qualificação ou individualização do denunciado; a classificação do crime; e, quandonecessário, o rol de testemunhas (art. 41 do CPP).

Deve-se ter em mente que, como a denúncia irá traçar os limites da acusaçãopara propiciar a defesa, seu conteúdo deve ser objetivo e claro, quasecomparável ao preenchimento de um formulário.

O texto da denúncia deve responder às seguintes indagações:

Quando?

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Dia, mês, ano e horário. Em se tratando de período de tempo, data inicial e final. Não sendopossível saber a data ou horário exato, especificar o período aproximado. Ex.: “No início do anode 2017…”.

Onde?

Indicar o lugar (endereço) com a maior precisão possível. Quando for relevante, indicar inclusive ocômodo da casa. Não sendo possível saber o lugar exato, indicar ao menos a cidade (oumunicípio)1 onde o fato ocorreu.

Quem?

A identificação do denunciado com todos os nomes que utiliza e apelidos. Não é necessáriotranscrever sua qualificação, bastando a referência às folhas dos autos onde está ele qualificado.

Nos crimes que demandem o reconhecimento do agente, havendo fotografianos autos, a indicação do número da folha em que está a foto na denúnciaagilizará o reconhecimento em juízo, na hipótese de revelia.

O quê?

Descrição da conduta. A conduta deve ser descrita, em um primeiro momento, repetindo-se tantoquanto possível o núcleo, as elementares e as circunstâncias do tipo penal: Exemplo: No crime defurto simples (CP, art. 155, caput), é fundamental utilizar a fórmula “subtraiu, para si, coisa alheiamóvel”.

Como?

Descrição dos detalhes e circunstâncias da conduta: o modus operandi. Ex.: “mediante rompimentode obstáculo consistente no arrombamento da porta, ingressou na residência e subtraiu para si…”.Algumas vezes, como no exemplo acima, a descrição dos detalhes e circunstâncias da condutaabrange a indicação de uma qualificadora (rompimento de obstáculo, prevista no art. 155, § 4º,inc. I, do Código Penal).

Por quê?

A indicação do motivo que levou o agente à prática da infração penal. O porquê da ação deveráser indicado quando relevante ou imprescindível para a tipicidade da conduta (elemento subjetivoespecífico). Exemplo: “sequestrou Fulano com o fim de obter, para si, qualquer vantagem, comopreço do resgate”. Também é imprescindível a indicação do motivo do crime, para evidenciar apresença de qualificadora, causa de aumento da pena ou circunstância agravante, tais como omotivo fútil e o motivo torpe.

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3.6 Justa causa: a existência ou mesmo a conclusão de inquérito policial não constitui pressupostopara o oferecimento de denúncia, que pode vir respaldada em procedimento investigatório do próprioMinistério Público, de outro órgão, ou peças de informação2.

3.7. Limites: a denúncia limita-se a apresentar a imputação do fato, com todas as suas circunstâncias,incluindo o pedido de condenação e a indicação das eventuais vítimas e testemunhas a serem ouvidasem juízo. Todos os demais pedidos, a exemplo da prisão preventiva, do arquivamento do inquéritopolicial ou da extinção da punibilidade em relação a outro crime ou a outro agente, devem serformulados na cota de oferecimento.

3.8 Estrutura: em se tratando de peça objetiva, a denúncia, em regra, pode ser estruturada em trêspartes, cada qual com características próprias:

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado) 1

Autos nº XXX/ANO 2

Inquérito policial nº XXX/ANO 3

A primeira parte transcreve o tipo penal, fornecendo quase todos os elementosnecessários

Consta dos inclusos autos do termo circunstanciado que, no dia 18 de fevereiro de2017, por volta das 17h00min 3 , na Rua Eder Latrônico, nº10, nesta cidade 4 , “ A” 5 ,qualificado a fls. 03, ofendeu a integridade corporal 6 de “T”, pessoa maior de 60anos 7 , dando causa às lesões corporais de natureza grave descritas no laudo deexame de corpo de delito de fls. 10 8 .

Na segunda parte, a conduta é detalhada com todas as circunstâncias.

Segundo consta, o indiciado dirigiu-se até a casa da vítima, seu ex-sogro, para falarcom sua ex-mulher que ali estava residindo. Quando a vítima disse a “A” que ele alinão era bem vindo 9 , o indiciado, enfurecido, desferiu um soco 10 no rosto da vítima,fraturando seu maxilar inferior, lado esquerdo, gerando incapacidade para asocupações habituais por mais de 30 dias 11 .

A terceira parte deve conter a capitulação legal, a indicação do rito processual, ospedidos de recebimento da denúncia e citação, o pedido de produção de provas

(oral) e finalmente o pedido condenatório.

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Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 129, § 1º,inc. I, do Código Penal 12 , requerendo que, após o recebimento desta, seja ele citado,interrogado, processado e ao final condenado, nos termos dos arts. 394 a 405 doCódigo de Processo Penal 13 , ouvindo-se durante a instrução criminal a vítima e astestemunhas abaixo arroladas.

Vítima: “T” – fls. 07. 14

Rol de Testemunhas: 15

1 – “U” – PM (fls. 05); 15

2 – “V” – (fls. 16) 15 .

Cidade, dia, mês e ano

Promotor de Justiça

Como qualquer petição inicial, o órgão Judiciário ao qual é dirigida.

Os nºs dos autos

Quando?

Onde?

Quem?

O quê?

Circunstância agravante – art. 61, II, h

Referência à prova

Por quê?

Como?

Causa de aumento de pena

Capitulação legal

Rito processual

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Havendo vítima, esta deverá ser indicada antes do rol de testemunhas.

O rol de testemunhas, com as fls. dos depoimentos, indicando-se o fato de ser policialmilitar.

Como se pode observar, enquanto o primeiro parágrafo responde a quase todas as questõesacima indicadas, o segundo parágrafo detalha as circunstâncias da conduta, enquanto o terceiro (eúltimo) parágrafo contém a indicação da capitulação legal e o pedido.

A inclusão na denúncia de elementos de prova, como o fato de ter o réu confessado (quandonão for importante para a indicação da tipicidade) ou a versão apresentada pela vítima outestemunhas, é perfeitamente dispensável, muito embora, se incluídos, não prejudicam a peça.Importante, porém, é a referência a laudos e documentos relacionados à infração, indicando as folhasdos autos em que estão juntados.

Na prática, muitos representantes do Ministério Público utilizam, no endereçamento da denúncia,a fórmula “Excelentíssimo Senhor Doutor”. Esta opção, embora consagrada entre os operadores doDireito, não se afigura como tecnicamente correta, pois a palavra “doutor”, a despeito de ter sepopularizado no meio jurídico como um “pronome de tratamento”, é na verdade um títuloacadêmico, que faz referência à pessoa do magistrado (exemplo: Doutor João da Silva), e não aoórgão Judiciário ao qual a denúncia é dirigida (exemplo: Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal de RioBranco – Acre, independentemente da pessoa física ocupante deste cargo). Assim, é correto referir-sea Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito .

Devem ser indicadas todas as circunstâncias agravantes, causas de aumento dapena e qualificadoras, em sequência lógica. Mas é recomendável evitar descreverou capitular circunstância atenuante ou causa de diminuição de pena (exceto atentativa), cuja incidência deverá ser objeto de prova em juízo.4

O exemplo acima mostra a estrutura de denúncia mais frequentemente utilizada. Alguns membrosdo Ministério Público optam por uma estrutura um pouco diferente, como se vê abaixo:5

Excelentíssima Senhora Juíza de Direito da 2ª Vara do Juizado Especial Criminal daComarca de (cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Introdução

O Ministério Público do Estado de __________, pelo Promotor de Justiça abaixoassinado, vem DENUNCIAR 1 “ A” 2 , qualificado a fls. 03, como incurso no art. 28

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caput da Lei nº 11.343/06 3 , pela prática da seguinte infração penal:

Em data de 18 de fevereiro de 2017, por volta de 15h00 4 , na Rua Antonia RiveraPeres, nº 89, centro nesta cidade 5 , o indiciado foi surpreendido quando trazia comele 7 , para consumo pessoal 6 , cerca de 0,8g de Cannabis sativa l 7 ., popularmenteconhecida como “maconha”, sem autorização ou em desacordo com determinaçãolegal ou regulamentar.

Consta do inquérito policial que policiais militares realizavam patrulhamento de rotinaquando abordaram “A”. Em revista pessoal, acabaram localizando no bolso dabermuda que trajava 8 a porção de maconha acima mencionada que, segundo admitiuaos policiais, destinava-se a seu próprio consumo.

Pelo exposto, “A” incorreu no tipo penal previsto no artigo acima mencionado, pelo quedeverá ser citado 9 , para que, querendo, apresente defesa, atendido o ritoprocessual previsto no art. 77 e ss. da Lei 9.099/1995 10 , e, recebida a denúncia,sejam ouvidas as pessoas abaixo relacionadas e, ao final, observados os trâmites eformalidades legais, seja ele condenado 11 .

Rol de Testemunhas:

1 – “T” – PM (fls. 05);

2 – “U” – PM (fls. 06).

Cidade, dia, mês e ano

Promotor de Justiça

A introdução com a indicação do nome do denunciado e da capitulação legal logo noprimeiro parágrafo facilita a visualização do Juiz durante a audiência.

Quem?

Capitulação legal

Quando?

Onde?

Por quê?

O quê?

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Como?

Pedido de citação

Rito processual

Pedido de condenação

3.9 O concurso de agentes: quando duas ou mais pessoas praticarem o crime em concurso(coautoria ou participação), a conduta de cada um deles deve ser detalhadamente descrita nadenúncia:

3.9.1 Coautoria:

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 30 de abril de 2017, porvolta de 20h30, “A”, vulgo “L”, qualificado a fls. 30, e “B”, qualificado a fls. 37, agindoem concurso 1 e mediante grave ameaça exercida com o emprego de arma de fogo 2 ,dirigiram-se ao depósito de bebidas sito na Av. Reinaldo Amarante, 147, nesta cidade,de onde subtraíram para eles cerca de R$ 850,00 em dinheiro, além de uma garrafade uísque Old Night, descrito e avaliado em R$ 50,00 (fls. 21).

Segundo consta, os indiciados planejaram a prática do roubo e dirigiram-se aomencionado estabelecimento, que já estava fechado, batendo à porta e dizendo quepretendiam adquirir gelo. Quando a porta foi aberta, eles anunciaram o assalto, sendoque “ A”, empunhando uma arma de fogo, ameaçava as vítimas dizendo que queriadinheiro e se não conseguisse iria matá-las. Obrigou então “T” a deitar-se no chão,apontando a arma para sua cabeça 3 , enquanto “ B” tratou de subtrair o dinheiro docaixa, mirando sua arma na direção da funcionária “U” 4 . Em seguida, os indiciadospegaram a garrafa de uísque e deixaram o local.

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” e “B” como incursos no art. 157,§ 2º, incisos I e II, do Código Penal, requerendo que, após o recebimento desta, sejameles citados, interrogados, processados e ao final condenados, nos termos dos arts.

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a)

b)

394 a 405 do Código de Processo Penal, ouvindo-se durante a instrução criminal asvítimas abaixo indicadas.

Causa de aumento da pena (art. 157, § 2º, inciso II do Código Penal). A expressão,indispensável, mostra que os denunciados não estavam agindo cada um por si.

Causa de aumento da pena (art. 157, § 2º, inciso I do Código Penal)

Conduta de “A”

Conduta de “B”

Como se pode notar, a conduta de cada um dos agentes deve ser minuciosamente descrita,indicando exatamente quem fez o que, sob pena de inépcia e consequente rejeição. Quando isso nãofor possível (imagine-se que ambos estivessem mascarados, não se sabendo qual dos dois empunhavaa arma e qual arrecadou o dinheiro), deve-se descrever a conduta de cada um afirmando, porexemplo: “ enquanto um dos denunciados apontava a arma, ameaçando as vítimas, o outro subtraíao dinheiro do caixa” .

3.9.1.1 O uso do art. 29, caput, do Código Penal: em caso de concurso de agentes nem sempre acapitulação legal da denúncia deve vir combinada com o art. 29, caput, do Código Penal. Porexemplo: art. 121 caput c.c. 1 o art. 29, ambos do Código Penal .

combinado com

O raciocínio é muito simples: só haverá necessidade de inserir o “c.c. o art. 29, caput”, quando,caracterizado o concurso de pessoas, a conduta de algum agente não se “encaixar” diretamente notipo penal, ou seja, em caso de adequação típica mediata ou de subordinação mediata, pois omencionado dispositivo legal constitui-se em norma de extensão pessoal da tipicidade. Éfundamental recordar da seguinte distinção:

3.9.1.1.1 Crimes unissubjetivos, unilaterais ou de concurso eventual: são os praticados porum único agente, mas que admitem o concurso entre pessoas culpáveis. É o caso do homicídio.

“A” e “B” desferiram pauladas na cabeça de “T” até matá-lo. “A” matou alguém? Sim(encaixou). “B” matou alguém? Sim (encaixou). Crimes unissubjetivos + coautoria entreagentes culpáveis = NÃO se usa o c.c. o art. 29, caput.

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” e “B” como incursos no art. 121, caput,do Código Penal (…)

“B” trancou o portão impedindo a saída de “T” para que “A” pudesse matá-lo a pauladas.“A” matou alguém? Sim (encaixou). “B” matou alguém? Não (não encaixou). Mas “B” auxiliou

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“A” e por isso concorreu “de qualquer modo” para o crime. Nesse caso a conduta de “B”, paraencaixar-se no art. 121 precisa do “concorreu de qualquer modo” que está no art. 29, caput.Crimes unissubjetivos + participação de agente culpável = c.c. o art. 29, caput.

Nesse caso, havendo participação, o tipo penal DEVE SER combinado com o art. 29, caput:

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” e “B” como incursos no art. 121, caput,c.c. o art. 29 caput, ambos do Código Penal (…)

3.9.1.1.2 Crimes plurissubjetivos, plurilaterais ou de concurso necessário: são aqueles emque a pluralidade de agentes é indispensável à sua caracterização. Exemplificativamente, o crime deorganização criminosa (CP, art. 288) reclama a existência de ao menos 4 (quatro) pessoas.

Seguindo o raciocínio do tópico anterior: “A”, “B”, “C” e “D” decidiram se unir, de modoestável e permanente, para a prática de furtos de veículos automotores”. “A” se associou a três oumais pessoas para a prática de furtos? Sim (encaixou). “B” se associou a três ou mais pessoas para aprática de furtos? Sim (encaixou). “C” e “D” também? Sim (encaixou).

Se a conduta de cada um dos agentes já se encaixou no tipo penal NÃO se usa o c.c. o art. 29,caput:

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A”, “B”, “C” e “D” como incursos no art.288, caput, do Código Penal (…)

A propósito, seria risível imaginar a imputação de um crime de organização criminosa do seguintemodo: “art. 288, caput, c.c. art. 29, caput, ambos do Código Penal”.

3.9.1.1.3 Crimes acidentalmente coletivos: são aqueles que podem ser praticados por umaúnica pessoa. Contudo, o concurso de agentes faz surgir uma modalidade mais grave do delito,mediante a caracterização de uma qualificadora (ex: furto qualificado – CP, art. 155, § 4º, inc. IV)ou de uma causa de aumento da pena (ex: roubo circunstanciado ou agravado – CP, art. 157, § 2º,inc. II). Nesses casos, o concurso de pessoas está disciplinado no próprio tipo penal,dispensando a incidência da regra geral contida no art. 29, caput, do Código Penal.6 Note-se queo legislador fala em concurso, gênero do qual são espécies a coautoria e a participação.

O exemplo: “A”, “B” e “C” decidiram furtar a loja de “T”. “A” e “B” entraram por uma janelanos fundos do estabelecimento e subtraíram o dinheiro do caixa, enquanto “C” ficou na rua,esperando-os na direção do veículo, para garantir uma fuga rápida”.

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“A” concorreu 1 para a subtração? Sim (encaixou).

“B” concorreu 2 para a subtração? Sim (encaixou).

“C” concorreu 3 para a subtração? Sim (encaixou).

Concurso: coautoria

Concurso: coautoria

Concurso: participação

Como nas qualificadoras e nas causas de aumento da pena o legislador fala em concurso, queabrange coautoria e participação, tanto a conduta do autor quanto a do partícipe irão se encaixar aotipo penal, razão pela qual NÃO se usa o c.c. o art. 29, caput:

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A”, “B” e “C” como incursos no art. 155, §4º, inc. IV, do Código Penal (…)

3.9.2 Participação: em caso de participação, a conduta do partícipe deve ser descrita de maneiraa demonstrar de que forma contribuiu ele com a conduta do autor, sendo conveniente indicar nadenúncia a forma de participação: induzimento, instigação ou auxílio:

A participação de Moacir, mediante auxílio , consistiu em aguardar seus comparsas sentado aovolante do veículo, em frente ao estabelecimento furtado, para garantir-lhes uma fuga segura eimediata.

3.9.3 Coautoria ou participação de pessoa desconhecida ou inimputável: é comum que umou mais coautores ou partícipes do crime não sejam identificados ou sejam penalmenteinimputáveis (CP, arts. 26, caput, 27 e 28, § 1º). Também nesses casos a conduta dodesconhecido ou do inimputável deve ser descrita na denúncia:

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

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Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 30 de abril de 2017, porvolta de 20h30, “A”, vulgo “L” qualificado a fls. 30, agindo em concurso com pessoanão identificada e mediante grave ameaça exercida com o emprego de arma de fogo,dirigiram-se ao depósito de bebidas sito na Rua Maria Margarida Correio, nº 267,nesta cidade, de onde subtraíram para eles cerca de R$ 850,00 em dinheiro, além deuma garrafa de uísque Old Night, descrito e avaliado a fls. 21 em R$ 50,00.

Segundo consta, o indiciado e seu comparsa planejaram a prática do roubo edirigiram-se até o mencionado estabelecimento, que já estava fechado, batendo àporta e dizendo que pretendiam adquirir gelo. Quando a porta foi aberta, odenunciado e seu comparsa anunciaram o assalto, sendo que “ A”, empunhandouma arma de fogo, ameaçava as vítimas dizendo que queria dinheiro e se nãoconseguisse iria matá-las. Obrigou então a vítima “T” a deitar-se no chão, apontandoa arma para sua cabeça 1 , enquanto seu comparsa tratou de subtrair o dinheiro docaixa, mirando seu revólver na direção da funcionária “U” 2 . Em seguida, elespegaram a garrafa de uísque e deixaram o local.

Conduta de “A”

Conduta do desconhecido

Utilizando o mesmo exemplo, em caso de agente menor de idade, a denúncia traria a seguintedescrição:

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 30 de abril de 2017, porvolta de 20h30, “A” vulgo “L” qualificado a fls. 30, agindo em concurso com oadolescente “D” e mediante grave ameaça exercida com o emprego de arma de fogo,dirigiram-se até o depósito de bebidas sito na Av. João Pinheiro, 267, nesta cidade, deonde subtraíram para eles cerca de R$ 850,00 em dinheiro, além de uma garrafa deuísque Old Night, descrito e avaliado a fls. 21 em R$ 30,00.

De acordo com o que foi apurado, o indiciado e o adolescente planejaram a práticado roubo e dirigiram-se até o mencionado estabelecimento, que já estava fechado,

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batendo à porta e dizendo que pretendiam adquirir gelo. Quando a porta foi aberta,eles anunciaram o assalto, sendo que “ A”, empunhando uma arma de fogo, ameaçavaas vítimas dizendo que queria dinheiro e se não conseguisse iria matá-las. Obrigouentão a vítima “T” a deitar-se no chão, apontando a arma para sua cabeça 1 ,enquanto o adolescente tratou de subtrair o dinheiro do caixa, mirando seu revólverna direção da funcionária “U” 2 . Em seguida, eles pegaram a garrafa de uísque edeixaram o local.

Conduta de “A”

Conduta do adolescente

3.9.4 Autoria mediata:

3.9.4.1 Conceito: espécie de autoria em que alguém se utiliza de uma pessoa inculpável ou que atuasem dolo ou culpa para a execução da infração penal. Ex.: O médico, com a intenção de matar seupaciente, entrega à enfermeira, que de nada desconfiava, uma seringa com veneno, dizendo que setratava de remédio, para que o aplique no doente. Neste caso, a enfermeira, não agindo com dolo ouculpa, não responde pelo crime de homicídio.

3.9.4.2 Terminologia: autor mediato: quem planeja, conduz ou ordena a prática do crime. Autorimediato: quem executa a conduta criminosa.

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 20 de março de 2017, porvolta das 02h30, na UTI da Santa Casa de Misericórdia, sita à Av. Brasil, 239, nestacidade, “A”, qualificado a fls. 30, agindo de forma mediata, por intermédio de terceirapessoa 1 , matou “T”.

De acordo com o que foi apurado, o indiciado, médico no exercício de suas funções,estava de plantão no referido hospital quando constatou que a vítima, seu inimigofigadal, ali estava internada para recuperar-se de um acidente vascular cerebral.Como existia a necessidade de prescrever um medicamento ao paciente, “ A”, agindocom intenção de matá-lo, preparou uma solução de estricnina e a entregou à

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enfermeira “U”, dizendo-lhe que se tratava do medicamento Alteplase, que deveria serinserido no soro do paciente 1 .

A enfermeira, acreditando que ministrava um medicamento adequado, aplicou asubstância no soro da vítima 2 , que veio a óbito pouco depois, em razão da ação daestricnina, conforme laudo de exame necroscópico de fls. 36.

Conduta do autor mediato

Conduta da autora imediata

3.10 Concurso de crimes: pode acontecer de a denúncia abranger mais de uma infração penalpraticada pelo mesmo agente, ou por mais de uma pessoa, em concurso material (CP, art. 69), emconcurso formal (CP, art. 70), em continuidade delitiva (CP, art. 71), ou ainda em qualquer dessastrês modalidades combinadas entre si. Nesses casos, a denúncia deve descrever cada uma dascondutas, identificando cada qual no tempo e no espaço, com a indicação das datas, locais e horários.

3.10.1 Concurso material: o concurso material pode ocorrer com infrações da mesmacapitulação legal – concurso material homogêneo (exemplo: dois crimes de furto), ou cominfrações de capitulação legal diversas – concurso material heterogêneo, como se vê no exemploabaixo:

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 15 de janeiro de 2017, noperíodo noturno, no interior da residência situada na Rua Otto Rudolf Jordan, 62,nesta cidade, “A”, vulgo “L”, qualificado as fls. 29, ameaçou “T”, sua ex-companheira,por palavras, de causar a ela e a seus familiares a morte, mal injusto e grave. 1

Na mesma oportunidade, “A”, vulgo “L”, desobedeceu ordem legal de funcionáriopúblico. 2

Finalmente, no dia 28 de fevereiro de 2017, por volta das 14h00, no mesmo local, “A”,vulgo “L”, ameaçou “T”, por palavras, de causar-lhe a morte 3 .7

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De acordo com o que foi apurado, o indiciado estava afastado por ordem judicial dacasa da vítima (mandado de fls. 71) e apesar disso instalou-se no referido imóvel,onde continua residindo, desobedecendo assim à ordem judicial. 4

No dia 15 de janeiro, “A”, após discutir com o companheiro de uma das filhas davítima, ameaçou a todos de morte, dizendo à vítima que “vou matar todo mundo nestacasa”. 5

No dia 28 de fevereiro, ao ser intimado para comparecer à Delegacia de Polícia, oindiciado novamente ameaçou a vítima, dizendo que “se eu for preso vou matar você equem tentar te defender”. 6

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A”, vulgo “L”, como incurso nosarts. 147, por duas vezes, em concurso material, e 330, também em concursomaterial, ambos do Código Penal 7 , requerendo que, após o recebimento desta, sejaele citado, interrogado, processado e ao final condenado, nos termos dos arts. 77 eseguintes da Lei 9.099/95, ouvindo-se durante a instrução criminal a vítima e astestemunhas abaixo arroladas.

Vítima: “T” – fls. 09.

Rol de Testemunhas:

1) “U” – fls. 26;

2) “V” – fls. 28.

Cidade, dia, mês e ano

Promotor de Justiça

1ª ameaça – descrição típica

Desobediência – descrição típica

2ª ameaça – descrição típica

Desobediência – detalhamento

1ª ameaça – detalhamento

2ª ameaça – detalhamento

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7 Combinação dos tipos penais com o concurso material (art. 69)

3.10.2 Concurso formal: é muito comum nos crimes de trânsito quando, mediante uma só açãoou omissão, o agente pratica dois ou mais crimes, como, por exemplo, homicídio culposo e lesãocorporal culposa na direção de veículo automotor (arts. 302 e 303 do CTB). Neste caso como setrata de conduta única, basta a descrição da conduta e a indicação de cada resultado:

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que em data de 10 de março de 2017,por volta de 03h10, na Rodovia BR 320, altura do Km 56, neste município e comarca,“A”, qualificado as fls. 10, pessoa não legalmente habilitada 1 , agindo culposamentepor imprudência 2 , praticou homicídio culposo e lesões corporais na direção deveículo automotor 3 .

De acordo com o apurado, o indiciado conduzia o veículo GM Chevette placa XXX-XXXX em velocidade incompatível com o local, um trecho bastante sinuoso da rodovia,quando ao entrar em uma curva fechada à direita, devido à alta velocidade, acabouperdendo o controle do veículo que saiu do leito carroçável, e capotou várias vezesantes de ficar imobilizado com as rodas para cima conforme se vê do laudo efotografias de fls. 35/40. 4

“T”, que ocupava o banco dianteiro, experimentou traumatismo craniano em razão doacidente e morreu no local (laudo de exame necroscópico fls. 47). 5

“U” e “V”, que viajavam no banco traseiro, em razão do acidente sofreram diversaslesões de natureza leve, todas descritas nos laudos de exames de corpo de delito defls. 49 e 50. 6

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso nos arts. 302, § 1º,inc. I, e 7 303, parágrafo único, c.c. art. 302, § 1º, inc. I 9 , por duas vezes 8 , todos daLei 9.503/1997 – Código de Trânsito Brasileiro e em concurso formal (CP, art. 70) 10 ,requerendo que, após o recebimento desta, seja ele citado, interrogado, processado eao final condenado, nos termos dos arts. 531 e seguintes do Código de Processo

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Penal, ouvindo-se durante a instrução criminal as vítimas e as testemunhas abaixoarroladas.

Vítimas:

“U” – fls. 09; e

“V” – fls. 17.

Rol de Testemunhas:

1) “X” – PM – fls. 26; e

2) “Z” – fls. 28.

Cidade, dia, mês e ano

Promotor de Justiça

Qualificadora

Modalidade de culpa

Descrição dos tipos penais

Detalhamento da conduta

1º resultado = homicídio

2º e 3º resultados = lesões corporais

Homicídio

Indicação do nº de condutas referents ao crime do art. 303

Lesões corporais, com a referência da qualificadora aplicável

Referência ao concurso formal

3.10.3 Crime continuado: nas denúncias de crimes continuados, pode ser feita uma descriçãogenérica do crime seguida por vários parágrafos com os detalhes de cada conduta:8

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de

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(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Descrição típica genéricaConsta dos inclusos autos de inquérito policial que “A”, qualificado a fls. 38, nas datasabaixo relacionadas, em seu escritório de contabilidade sito na Rua Expedicionários,nº 10, nesta cidade, valendo-se de meio fraudulento 1 e agindo em continuidade 2 ,nas mesmas condições de tempo, lugar e maneira de execução, induziu a erro 1 cadauma das pessoas abaixo indicadas e em razão disso, obteve vantagens ilícitas emprejuízo de cada uma das vítimas 1 .

Descrição individualizada de cada condutaEm data de 04 de abril de 2016, o indiciado firmou contrato com a vítima “T”, paraprestação de serviços de despachante previdenciário, prometendo obter junto ao INSSsua aposentadoria no prazo de quatro meses. Iludindo a vítima, o denunciado disse-lhe que para a obtenção de tal benefício seria necessário o recolhimento à previdênciado valor de R$ 12.930,00. A vítima então, acreditando em suas palavras, efetuou umatransferência bancária para a conta indicada por “A”, no referido valor, conformecomprova o documento de fls. 77.

Em data de 14 de abril de 2016, o indiciado firmou contrato com a vítima “U”, paraprestação de serviços de despachante previdenciário, prometendo obter junto ao INSSsua aposentadoria no prazo de seis meses. Iludindo a vítima, o denunciado disse-lheque para a obtenção de tal benefício seria necessário o recolhimento à previdência dovalor de R$ 4.320,00. A vítima então, acreditando em suas palavras, entregou-lhe umcheque no referido valor, conforme comprova o documento de fls. 79.

Em data não bem determinada, sabendo-se que no início do mês de maio de 2016, oindiciado foi contratado verbalmente pela vítima “V”, para prestação de serviços dedespachante previdenciário, prometendo obter junto ao INSS sua aposentadoria emalguns meses. Iludindo a vítima, “A” disse-lhe que para a obtenção de tal benefícioseria necessário o recolhimento à previdência do valor de R$ 1.942,00. A vítima então,acreditando em suas palavras, conseguiu a referida quantia emprestada com umaamiga e efetuou o pagamento em pecúnia ao denunciado, conforme comprova orecibo de fls. 89.

Em data 15 de maio de 2016, o indiciado firmou contrato com a vítima “X”, para

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prestação de serviços de despachante previdenciário, prometendo obter junto ao INSSsua aposentadoria no prazo de seis meses. Iludindo a vítima, “A” disse-lhe que para aobtenção de tal benefício seria necessário o recolhimento à previdência do valor deR$ 14.158,00. A vítima então, acreditando em suas palavras, efetuou umatransferência bancária para a conta por ele indicada, no referido valor, conformecomprova o documento de fls. 91.

Detalhamento referente às 4 condutas: “como?”Para induzir as vítimas em erro, o indiciado mostrava-lhes folhas com cálculoscomplexos feitos por computador, cujo resultado seria o valor do suposto benefício aoqual elas teriam direito caso recolhessem à previdência os valores indicados. Asvítimas, todas pessoas humildes, acreditavam em “A” principalmente diante de suaalegação de que seus honorários só seriam pagos após o recebimento do primeirobenefício da aposentadoria.

Não houve recolhimento aos cofres da previdência por parte do indiciado de quaisquerdos valores que lhe foram entregues pela vítimas, usufruindo ele dos numerários emproveito próprio, induzindo tais pessoas em erro e obtendo vantagem ilícita emprejuízo delas, pois ficaram sem o dinheiro e tiveram seus benefícios negados peloINSS, uma vez que não reuniam os pressupostos necessários à obtenção daaposentadoria.

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 171, caput,c.c. art. 71, caput, por quatro vezes 3 , ambos do Código Penal, requerendo que, apóso recebimento desta, seja ele citado, interrogado, processado e ao final condenado,nos termos dos arts. 394 a 405 do Código de Processo Penal, ouvindo-se durante ainstrução criminal as vítimas e as testemunhas abaixo arroladas.

Tipo penal

Indicação da continuidade

O art. 71 com o número de condutas

3.10.4 Combinação de concursos de crimes na mesma denúncia: é possível que em uma sódenúncia haja a imputação de diversos delitos relacionados entre si em concurso material, formalou em continuidade.

3.10.4.1 Crime continuado + crime continuado: usando o exemplo acima, imagine-se que o

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denunciado tenha aplicado outros golpes que em razão da conexão temporal não possam ser tidoscomo continuidade dos primeiros: as quatro primeiras condutas foram perpetradas entre abril e maiode 2016, mas em dezembro do mesmo ano ele praticou mais duas condutas idênticas. Seria o casoentão de considerar crime continuado as quatro primeiras condutas (praticadas entre abril e maio) e asduas últimas (praticadas em dezembro). Desta forma, a continuidade seria interrompida entre oprimeiro grupo de condutas (abril/maio) e o último (dezembro), havendo a soma da pena aplicada aoprimeiro grupo com a pena aplicada ao segundo grupo:

A pena aplicada ao 1° grupo será somada (concurso material) á pena aplicada ao 2° grupo

Neste caso, a denúncia ficaria assim:

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Descrição típica genéricaConsta do incluso inquérito policial que “A”, qualificado a fls. 38, nas datas infrarelacionadas, em seu escritório de contabilidade sito na Rua Expedicionários, 10,nesta cidade e comarca, valendo-se de meio fraudulento 2 , e agindo emcontinuidade 1 , nas mesmas condições de tempo, lugar e maneira de execução,induziu a erro 2 cada uma das pessoas abaixo indicadas e, em razão disso, obtevevantagens ilícitas em prejuízo de cada uma das vítimas 2 .

Descrição individualizada de cada condutaEm data de 04 de abril de 2016, o indiciado firmou contrato com a vítima “T”, paraprestação de serviços de despachante previdenciário, prometendo obter junto ao INSSsua aposentadoria no prazo de quatro meses. Iludindo a vítima, “A” lhe disse que paraa obtenção de tal benefício seria necessário o recolhimento à previdência do valor deR$ 12.930,00. A vítima, acreditando em suas palavras, efetuou uma transferênciabancária para a conta indicada, no referido valor, conforme comprova o documento defls. 77.

Em data de 14 de abril de 2016, o indiciado firmou contrato com a vítima “U”, paraprestação de serviços de despachante previdenciário, prometendo obter junto ao INSSsua aposentadoria no prazo de seis meses. Iludindo a vítima, “A” lhe disse que para a

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obtenção de tal benefício seria necessário o recolhimento à previdência do valor deR$ 4.320,00. A vítima, acreditando em suas palavras, entregou-lhe um cheque noreferido valor, conforme comprova o documento de fls. 79.

Em data não bem determinada, sabendo-se que no início do mês de maio de 2016, oindiciado foi contratado verbalmente pela vítima “V”, para prestação de serviços dedespachante previdenciário, prometendo obter junto ao INSS sua aposentadoria emalguns meses. Iludindo a vítima, “A” lhe disse que para a obtenção de tal benefícioseria necessário o recolhimento à previdência do valor de R$ 1.942,00. A vítima,acreditando em suas palavras, conseguiu a referida quantia emprestada com umaamiga e efetuou o pagamento em pecúnia ao indiciado, conforme comprova o recibode fls. 89.

Em data 15 de maio de 2016 o indiciado firmou contrato com a vítima “X”, paraprestação de serviços de despachante previdenciário, prometendo obter junto ao INSSsua aposentadoria no prazo de seis meses. Iludindo a vítima, o “A” lhe disse que paraa obtenção de tal benefício seria necessário o recolhimento à previdência do valor deR$ 14.158,00. A vítima, acreditando em suas palavras, efetuou uma transferênciabancária para a conta indicada, no referido valor, conforme comprova o documento defls. 91.

Após a interrupção do período de continuidade delitiva 3 , em data 02 de dezembro de2016, o indiciado firmou contrato com a vítima “Z”, para prestação de serviços dedespachante previdenciário, prometendo obter junto ao INSS sua aposentadoria noprazo de seis meses. Iludindo a vítima, “A” lhe disse que para a obtenção de talbenefício seria necessário o recolhimento à previdência do valor de R$ 11.192,00.Avítima, acreditando em suas palavras, efetuou uma transferência bancária para aconta indicada, no referido valor, conforme comprova o documento de fls. 104.

Em data 10 de dezembro de 2016, o indiciado firmou contrato com a vítima “W”, paraprestação de serviços de despachante previdenciário, prometendo obter junto ao INSSsua aposentadoria no prazo de seis meses. Iludindo a vítima, o “A” lhe disse que paraa obtenção de tal benefício seria necessário o recolhimento à previdência do valor deR$ 8.129,00. A vítima então, acreditando em suas palavras, entregou-lhe um chequeno referido valor, conforme comprova o documento de fls. 140.

Detalhamento referente às 6 condutas: “como?”Para induzir as vítimas em erro, o indiciado mostrava-lhes folhas com cálculoscomplexos feitos por computador, cujo resultado seria o valor do suposto benefício ao

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qual elas teriam direito caso recolhessem à previdência o valor por ele indicado. Asvítimas, pessoas humildes, acreditavam em “A”, principalmente diante de sua alegaçãode que seus honorários só seriam pagos após o recebimento do primeiro benefício daaposentadoria.

Não houve recolhimentos aos cofres da previdência por parte do indiciado dequaisquer dos valores que lhe foram entregues pela vítimas, usufruindo ele dosnumerários em proveito próprio, induzindo os ofendidos em erro e obtendo vantagensilícitas em prejuízos alheios, pois tais pessoas ficaram sem seus valores e tiveramseus benefícios negados pelo INSS, uma vez que não reuniam os pressupostosnecessários à obtenção da aposentadoria.

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 171, caput,c.c. art. 71, caput, por quatro vezes 4 , e no art. 171, caput, c.c. art. 71, caput, porduas vezes 5 , todos do Código Penal e em concurso material, requerendo que, após orecebimento desta, seja ele citado, interrogado, processado e ao final condenado,nos termos dos arts. 394 a 405 do Código de Processo Penal, ouvindo-se durante ainstrução criminal as vítimas e as testemunhas abaixo arroladas.

Indicação da continuidade

Tipo penal

Interrupção da continuidade

1º grupo de condutas: art. 71 com o número de condutas

2º grupo de condutas: art. 71 com o número de condutas

3.10.4.2 Concurso material + concurso formal + crime continuado: na mesma denúncia podeocorrer de diversas infrações estarem combinadas com os três tipos de concurso: material, formal ecrime continuado. Deve-se lembrar que as penas aplicadas a cada um dos grupos de infração emconcurso serão somadas:

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

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Inquérito policial nº XXX/ANO

Descrição típica genérica – art. 157Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 30 de janeiro de 2017, porvolta de 20h30, “A”, vulgo “L”, qualificado a fls. 30, mediante grave ameaça 1

exercida com o emprego de arma de fogo 2 , dirigiu-se até o estabelecimentocomercial denominado “Bar W”, situado na Rua Silviano Brandão, 26, Bairro Solares,nesta cidade, de onde subtraiu, para si, 3 aproximadamente R$ 450,00 em dinheiro.

Detalhamento – art. 157Ao que se apurou, o indiciado entrou no referido estabelecimento e, apontando a armade fogo para o proprietário, anunciou o assalto. Após mandar a vítima deitar no chão,“A” dirigiu-se ao caixa, e de lá subtraiu todo o dinheiro que ali estava, na posse doqual deixou o local.

Descrição típica genérica – art. 163Ao alcançar a rua, percebendo que havia uma viatura da guarda municipalestacionada quase em frente ao bar, cujos agentes haviam ingressado na casavizinha, o indiciado deteriorou e inutilizou 4 dois pneus da referida viatura,danificando o patrimônio do Município 5 de (cidade), que experimentou prejuízoavaliado em R$ 720,00 (fls. 67).

Detalhamento – art. 163Imaginando que poderia ter sua fuga impedida ou dificultada pelos guardas municipais,o indiciado sacou o revólver que trazia com ele e efetuou dois disparos, um em cadapneu dianteiro da viatura, fazendo com que murchassem.

Descrição típica genérica – art. 155 caput c.c. 14, II.Em seguida 6 , “A” tentou subtrair, para si, uma bicicleta 7 marca Superbike, queestava estacionada em frente ao bar, pertencente a “T”, descrita e avaliada a fls. 29em R$ 710,00.

O furto só não atingiu a consumação por circunstâncias alheias à sua vontade, umavez que logo que começou a pedalar, a corrente da bicicleta rompeu-se e alguémpassou a gritar “ pega ladrão” 8 , o que fez com que o indiciado abandonasse abicicleta e saísse correndo.

Na sequência 9 , ao atingir a Rua Antônio Andare, em frente ao número 51 9 , oindiciado, com o emprego de chave falsa 10 , subtraiu, para si, o veículo 11 Ford Del

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Rey placa XXX-XXXX, pertencente a “U”, descrito e avaliado a fls. 47 em R$ 3.800,00.

Detalhamento – art. 155, §4º, IIIDurante sua fuga, o indiciado, valendo-se de uma micha, abriu a porta do referidoveículo e, com o mesmo instrumento, conseguiu dar partida no motor e saiu dirigindo ocarro da vítima em direção ao centro da cidade.

Alguns minutos depois 12 o indiciado, agindo culposamente por imprudência 13 ,dirigindo o citado veículo em velocidade incompatível 14 com o local, ignorandosinalização de parada obrigatória 14 , entrou na Rua Dom Assis e, na altura do nº53 15 , interceptou a trajetória 16 da motocicleta Honda CG 125 placa YYY-YYYY,conduzida por “V”, que trazia na garupa sua esposa “X”, causando a morte docondutor 17 e lesões corporais de natureza leve em sua acompanhante 17 .

Detalhamento – arts. 302 e 303 CTBSegundo consta, quando o veículo conduzido pelo indiciado ingressou na mencionadavia pública, o condutor da motocicleta que por ali trafegava regularmente em viapreferencial, não teve tempo hábil para frear ou dele desviar, acabando por colidircontra seu para-lamas dianteiro esquerdo. A vítima fatal foi projetada cerca de dezmetros à frente e apesar do uso regular do capacete, teve traumatismo craniano queacabou dando causa à sua morte horas depois conforme laudo de examenecroscópico de fls. 57. Já a passageira “W” experimentou apenas lesões de naturezaleve no braço e perna esquerda, conforme comprova o laudo de exame de corpo dedelito de fls. 59.

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso nos arts. 157, § 2º,inc. I; 163, parágrafo único, inc. III, em concurso material, na forma do art. 69, caput 18 ,todos do Código Penal; no art. 155, caput, c.c. art. 14, inc. II; e no art. 155, § 4º, inc.III, na forma do art. 71, “caput” 19 , todos do Código Penal; e finalmente nos arts. 302,caput, e 303, caput, da Lei 9.503/1997 – Código de Trânsito Brasileiro, c.c. art. 70,caput, 1ª parte, do Código Penal (duas vezes) 20 , requerendo que, após orecebimento desta, seja ele citado, interrogado, processado e ao final condenado,nos termos dos arts. 394 a 405 do Código de Processo Penal, ouvindo-se durante ainstrução criminal as vítimas e as testemunhas abaixo arroladas.

Tipo penal

Qualificadora – art. 157, § 2º, inciso II

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Tipo penal

Tipo penal

Qualificadora – 163, parágrafo único, III

Quando

Tipo penal – tentative

Indicação dos fatos impeditivos da consumação

Quando e onde

Qualificadora – art. 155, § 4º, III

Tipo penal

Quando

Modalidade de culpa

Imprudência

Onde

Conduta única

Condutaúnica Dois resultados em concurso formal

Arts. 157 e 163 em concurso material

Art. 155 (2 vezes) em continuidade delitiva

Na ordem lógica da narrativa não é necessária a repetição do local dos crimesseguintes (onde), quando não houve alteração do local do primeiro crime.Também em relação ao tempo (quando), havendo uma sequência imediata,basta a utilização de expressões como “na sequência”, “logo em seguida”,“alguns minutos após” etc.

3.11 Tentativa: quando o agente, por circunstâncias alheias à sua vontade, não atingir a consumaçãodo crime (CP, art. 14, inc. II), tais circunstâncias devem ser expressamente indicadas na denúncia:

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Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca do(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta do inquérito policial que em data de 07 de janeiro de 2017, por volta de 01h20,“A”, vulgo “L”, qualificado a fls. 10, no estabelecimento comercial denominado “BarW”, sito na Rua Humberto Avancini, 388, nesta cidade, tentou subtrair, para si 1 , aimportância de R$ 320,00 em dinheiro, somente não se consumando o delito porcircunstâncias alheias à sua vontade.

Detalhamento da condutaAo que se apurou, o indiciado bebia uma cerveja junto ao balcão do referido bar eaproveitando-se que a vítima, proprietário do estabelecimento, deu-lhe as costas parasocorrer um outro freguês que passava mal, abriu a gaveta do caixa e pegou um maçode notas que estavam atadas com um elástico, somando a importância supraindicada.

O furto só não atingiu a consumação por circunstâncias alheias à vontade dodenunciado, uma vez que a vítima foi alertada por seu cunhado 2 que entrava no bare notou que “A” pegou o maço de notas, o que fez com que a vítima resgatasse odinheiro 2 que já estava no bolso da jaqueta do denunciado.

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A”, como incurso no art. 155, caput,c.c. art. 14, inc. II3 , ambos do Código Penal, requerendo que, após o recebimentodesta, seja ele citado, interrogado, processado e ao final condenado, nos termos dosarts. 394 a 405 do Código de Processo Penal, ouvindo-se durante a instrução criminala vítima e as testemunhas abaixo arroladas.

Indicação da tentative

Indicação da Circunstância que impediu a consumação

O artigo do tipo penal combinado com o art. 14, II

3.12 O elemento subjetivo:

3.12.1 O dolo: com relação ao crime doloso, a descrição da conduta na denúncia não exige maioresesforços, bastando a simples transcrição das palavras do tipo penal e seu detalhamento.

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Nos crimes em que o dolo inclui um especial fim de agir, um elemento subjetivo específico, quepara a teoria clássica da conduta seria o “dolo específico”, a finalidade deve ser expressamentemencionada na denúncia:

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta do inquérito policial que em data de 27 de fevereiro de 2017, por volta de18h20, na sala de recuperação da Clínica Santo Agostinho, sita na Rua Alberto Cabre,nº 62, nesta cidade, “A”, qualificado a fls. 15, com o fim de transmitir a outrem moléstiagrave de que estava contaminado 1 , praticou ato capaz de produzir o contágio 2 .

Detalhamento da condutaAo que se apurou, o indiciado, funcionário da referida clínica, aproveitando-se que suasogra estava ainda sob os efeitos da anestesia, após deixar a sala de cirurgia, cientede que era portador do vírus da Hepatite C (moléstia grave, de acordo com o laudo defls. 22), colheu um pouco do próprio sangue com uma seringa e injetou-o na veia davítima, praticando assim ato capaz de produzir o contágio, o que de fato ocorreu.

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 131, c.c. art.61, inciso II, “c” (impossibilidade de defesa) e “h” (maior de 60 anos e enferma), ambosdo Código Penal, requerendo que, após o recebimento desta, seja ele citado,interrogado, processado e ao final condenado, nos termos dos arts. 394 a 405 doCódigo de Processo Penal, ouvindo-se durante a instrução criminal a vítima e astestemunhas abaixo arroladas.

Elemento subjetivo do tipo – especial fim de agir

Conduta típica

3.12.2 O dolo eventual: quando o agente assume o risco da produção do resultado, a denúnciadeve evidenciar a consciência do denunciado da possibilidade de ocorrência do resultado e o fatode ter ele assumido o risco de produzi-lo:

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da Vara do Júri da Comarca de (cidade/estado)

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Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 21 de fevereiro de 2017,por volta das 16h20, no parque de diversões instalado no recinto de exposiçõessituado na Travessa Soares Neto, nº 479, nesta cidade e comarca, “A”, qualificado afls. 35, agindo com dolo eventual 1 , provocou em “T” os ferimentos descritos noexame necroscópico de fls. 41 2 , os quais foram a causa da sua morte.

Ao que se apurou, o indiciado, proprietário do parque de diversões que se achavainstalado no local do fato, estava operando o brinquedo denominado “ChapéuMexicano” quando a vítima decidiu utilizá-lo.

“A”, encarregado de checar as condições de segurança dos usuários antes de colocaro brinquedo em funcionamento, ciente de que a trava de segurança da cadeiraocupada pela vítima estava danificada; ciente de que poderia soltar-se a qualquermomento com a força centrífuga exercida sobre o ocupante daquela cadeira quandoem funcionamento o brinquedo; e, portanto, ciente de que a vítima poderia ser lançadapara fora do brinquedo em alta velocidade e morrer 3 ; assumiu o risco da produçãodo resultado morte 4 e, a despeito de ter sido questionado pelo namorado de “T”sobre o não funcionamento da trava de segurança, permitiu que ela ocupasse amencionada cadeira e colocou o brinquedo em funcionamento.

Quando o brinquedo começou a girar com velocidade, a trava de segurança dacadeira da vítima soltou-se e ela foi lançada a uma distância de 20 metros, sofrendotraumatismo craniano que gerou sua morte.

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 121, caput,do Código Penal, requerendo que, após o recebimento desta, seja ele citado,interrogado, processado e ao final condenado, nos termos dos arts. 406 a 497 doCódigo de Processo Penal, ouvindo-se durante a instrução criminal as testemunhasabaixo arroladas.

Indicação do dolo eventual

Conduta típica

Consciência da possibilidade do resultado

Descrição do resultado

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3.12.3 A culpa: a denúncia por crime culposo deve indicar a modalidade de culpa incidente(imprudência, negligência ou imperícia), descrevendo explicitamente o ato de imprudência,negligência ou imperícia. Deve ser também indicado o nexo causal e o resultado naturalístico:

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 30 de janeiro de 2017, porvolta de 20h30, “A”, vulgo “L”, qualificado a fls. 30, agindo por imprudência 1 ,consistente na condução do veículo Ford Del Rey de placas XXX-XXXX em velocidadeincompatível 2 com o local, ignorando sinalização de parada obrigatória 2 , entrou naRua Capitão Nunes, nesta cidade e comarca e, na altura do nº 50, interceptou atrajetória 3 da motocicleta Honda CG 125 placas YYY-YYYY, conduzida por “T”,causando-lhe a morte 4 .

Ao que se apurou, quando o veículo conduzido pelo indiciado ingressou namencionada via pública, em velocidade acima do limite permitido, o motorista damotocicleta, que por ali trafegava regularmente em via preferencial, não teve tempohábil para frear ou dele desviar, acabando por colidir contra seu para-lamas dianteiroesquerdo. A vítima foi projetada cerca de dez metros à frente e, apesar do uso docapacete, suportou traumatismo craniano que provocou sua morte horas depois,conforme laudo de exame necroscópico de fls. 57.

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 302, caput,da Lei nº 9.503/1997 – Código de Trânsito Brasileiro, requerendo que, após orecebimento desta, seja ele citado, interrogado, processado e ao final condenado,nos termos dos arts. 394 a 405 do Código de Processo Penal, ouvindo-se durante ainstrução criminal as pessoas abaixo arroladas.

Indicação da Modalidade de culpa

Especificação da imprudência

Nexo causal

Resultado

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3.12.4 O crime preterdoloso: na verdade, o crime preterdoloso é somente a combinação de umcrime doloso com um resultado final culposo. Assim, basta descrever a conduta dolosa, amodalidade de culpa e o resultado culposo, demonstrando o nexo causal:

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, em data de 12 de maio de 2017,por volta de 18h25, no interior da residência sita na Rua Jacintho Libânio, nº 53, Jd.Pouso Alegre, nesta cidade e comarca, “A”, qualificado a fls. 35, ofendeu aintegridade corporal 1 de seu primo “T”, e deu causa, por imprudência, à morte davítima 2 .

Ao que se apurou, o indiciado, durante uma discussão com a vítima, desferiu um socoem seu rosto 3 , dando causa a um pequeno corte no lábio superior 4 , classificadopelo laudo de exame de corpo de delito de fls. 23 como lesão corporal de naturezaleve. Ao ser atingida pelo soco, a vítima, que estava em pé próxima ao patamarsuperior de uma escada, acabou desequilibrando-se e caiu 5 escada abaixo, batendocom a cabeça e experimentando ferimentos cerebrais que resultaram em sua morte 6 ,de acordo com o laudo de exame necroscópico de fls. 55.

Detalhamento da conduta culposaO indiciado, embora não tivesse desejado o resultado morte, agiu com imprudênciapelo fato de ser previsível que a vítima, estando próxima à escada, poderia sedesequilibrar e cair em razão do soco, rolando escada abaixo, lesionando-se commaior gravidade ou morrendo, como de fato aconteceu.

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 129, § 3º, doCódigo Penal, requerendo que, após o recebimento desta, seja ele citado, interrogado,processado e ao final condenado, nos termos dos arts. 394 a 405 do Código deProcesso Penal, ouvindo-se durante a instrução criminal as testemunhas abaixoarroladas.

Conduta dolosa

Conduta culposa

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Conduta dolosa

Resultado doloso

Nexo causal

Resultado culposo

3.13 Crimes omissivos impróprios: nos crimes omissivos impróprios, espúrios ou comissivos poromissão, a denúncia deve especificar a ação que o agente estava obrigado a praticar, indicando ahipótese do dever de agir (art. 13, § 2º do CP):

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da Vara do Júri da Comarca de (cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, em data de 1º de maio de 2017,em horário não bem determinado, provavelmente no fim da tarde, na residênciasituada na Rua Des. João Bráulio, nº 345, Vila Valentim, nesta cidade e comarca, “A”,qualificado a fls. 13, mediante omissão penalmente relevante 1 , deu causa à morte 2

da criança “T”.

Ao que consta, o denunciado, pai da vítima, criança de apenas 15 dias de idade, ficouincumbido de tomar conta de sua filha enquanto a mãe estava hospitalizada. Portanto,a ele foi atribuída, na condição de pai, a obrigação legal de cuidado e proteção (CP,art. 13, § 2º, “a”) 3 , razão pela qual deveria estar o tempo todo presente, alimentando,cuidando e agasalhando a recém-nascida 4 .

No dia do fato, por volta de 08h00, “A” saiu de casa para jogar futebol e lá deixou apequena “T”, sem alimentação e cuidados necessários, estando desagasalhada 5 , sóretornando às 21h00, assumindo o risco de matá-la. Por volta das 20h00 a avópaterna esteve na residência e encontrou a criança já sem vida, ficando constatadoque a morte ocorreu em virtude de desidratação, conforme faz prova o laudo de examenecroscópico de fls. 44.

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 121, caput,c.c. o art. 61, inciso II, “e” (descendente) 6 e “h” (criança) 6 , nos termos do art. 13, §2º, “a”, todos do Código Penal, requerendo que, após o recebimento desta, seja elecitado, interrogado, pronunciado e ao final condenado pelo E. Tribunal do Júri, nos

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termos dos arts. 406 a 497 do Código de Processo Penal, ouvindo-se durante ainstrução criminal as testemunhas abaixo arroladas.

Indicação da conduta omissiva

Resultado morte

Dever legal de agir

Ação que estava obrigado a praticar

Conduta omissiva

Havendo mais de uma hipótese de incidência na alínea da agravante, indicar qual seaplica

3.14 Detalhes importantes sobre os principais crimes do Código Penal: as denúncias a seguirrelacionam-se aos crimes mais importantes do Código Penal, por serem os mais frequentes na práticaforense, ou então por apresentares características específicas.

3.14.1 Homicídio: vide capítulo sobre Tribunal do Júri.

3.14.2 Lesão corporal (violência doméstica): diante da regra contida no art. 41 da Lei nº11.340/2006 – Lei Maria da Penha, e também da Súmula 536 do Superior Tribunal de Justiça (“Asuspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitossujeitos ao rito da Lei Maria da Penha”), aos casos de violência doméstica ou familiar contra amulher não é aplicável a transação penal (nem os demais benefícios da Lei 9.099/1995), devendo sero crime objeto de denúncia. É necessário fazer constar da denúncia a conclusão do laudo pericial, asede da lesão, demonstrando, se o caso, a compatibilidade entre a agressão perpetrada pelodenunciado e a lesão experimentada pela vítima. A Lei Maria da Penha deve ser expressamentemencionada na denúncia, com a finalidade de facilitar eventual pesquisa estatística.

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, em data de 12 de janeiro de 2017,por volta de 21h45, no interior da residência sita na Rua José Fanuchi, nº 31, Jardim

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Dracena, nesta cidade e comarca, “A”, vulgo “L”, qualificado a fls. 15, ofendeu aintegridade corporal 1 de “T”, sua esposa, dando causa às lesões corporais denatureza leve 2 descritas no laudo de exame de corpo de delito de fls. 26.

Segundo consta, o denunciado chegou em casa embriagado e passou a ofender suamulher, chamando-a de “puta, biscate, vadia”. Quando a vítima disse que queria aseparação, “A” desferiu um soco em seu rosto 3 , dando causa a um hematoma naregião orbital esquerda 4 , classificado pelo laudo de exame de corpo de delito de fls.26 como lesão corporal de natureza leve e perfeitamente compatível com a agressãopor ele perpetrada.

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A”, como incurso no art. 129, § 9º,do Código Penal, com as disposições aplicáveis da Lei nº 11.340/2006 5 , requerendoque, após o recebimento desta, seja ele citado, interrogado, processado e ao finalcondenado, nos termos dos arts. 531 e seguintes do Código de Processo Penal,ouvindo-se durante a instrução criminal a vítima e as testemunhas abaixo arroladas.

Conduta típica

Classificação da lesão

Descrição da conduta

Descrição e sede da lesão

Fazer referência à Lei Maria da Penha

3.14.3 Crimes contra a honra: são de ação penal pública condicionada à representação doofendido os crimes contra a honra quando a vítima é funcionário público, e a ofensa é proferidaem razão das suas funções (CP, art. 141, inc. II, c.c. art. 145, parágrafo único),9 e também a injúriapraticada com a utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condiçãode pessoa idosa ou portadora de deficiência (CP, art. 140, § 3º, c.c. art. 145, parágrafo único).

Nos crimes contra a honra, a denúncia deve reproduzir as expressões utilizadas pelo agente e, emcaso de calúnia, indicar o tipo penal do crime imputado ao funcionário público. Se existir possibilidadede exceção da verdade, deve-se indicar a prova da falsidade da imputação:

Excelentíssimo Senhor Juiz da 1ª Vara Criminal da Comarca de (cidade/estado)

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Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 10 de abril de 2017, nosalão de eventos do Clube Recreativo, sito na Av. Dr. Lisboa, nº 548, nesta cidade ecomarca, “A”, qualificado a fls. 21, caluniou “V”, atual Prefeito de (cidade), noexercício do cargo 1 , imputando-lhe falsamente fato definido como crime deresponsabilidade tipificado no art. 1º, inc. I, do Decreto-lei nº 201/1967 2 .

Segundo consta, o indiciado, ao proferir discurso em cerimônia comemorativa noreferido clube, e ciente da falsidade da imputação, disse que “o prefeito estádesviando dinheiro da prefeitura para o próprio bolso. Ele pagou quase um milhãopara a empresa “T” por um serviço que nunca foi feito”.

De acordo com o que foi apurado, não houve qualquer pagamento do erário para aempresa “T” e, portanto, o propalado desvio de dinheiro público não ocorreu. 3

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 138, caput,c.c. arts. 141, inc. II, e 145, parágrafo ú nico 4 , todos do Código Penal, requerendoque, após o recebimento desta, seja ele citado, interrogado, processado e ao finalcondenado, nos termos dos arts. 531 e seguintes do Código de Processo Penal,ouvindo-se durante a instrução criminal a vítima e as testemunhas abaixo arroladas.

Tipo penal

Crime imputado

Falsidade da imputação

Incidência penal + causa de aumento (141) + ação penal (145)

3.14.4 Furto: no crime de furto, a denúncia deve demonstrar que, ainda que por breve tempo, oagente teve a livre disponibilidade do bem subtraído, ou, em se tratando de tentativa, os atospraticados que tornam inequívoca a intenção da subtração.

Nos crimes contra o patrimônio, o objeto deve ser indicado acompanhado do valoratribuído, mencionando-se as fls. da avaliação, além de ser indicada a pessoa físicaou jurídica titular do bem subtraído.Na hipótese de subtração de vários objetos, não há necessidade de descrevertodos, bastando a indicação dos principais. Ex.: (…) “subtraiu, para si, um anel debrilhantes, uma pulseira de ouro e outras jóias descritas e avaliadas a fls. 23 em

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R$ 12.300,00”.

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, em data de 07 de março de 2017,por volta de 10h20, “A”, vulgo “L” qualificado a fls. 10, ingressou na residência sita naRua Comendador José Garcia, nº 239, nesta cidade e comarca, e subtraiu, para si,uma máquina fotográfica marca Sony, um aparelho de DVD marca Philco, umacorrente de ouro, dois anéis de ouro, além de outras joias e peças de roupa, descritase avaliadas a fls. 49 no importe de R$ 1.830,00, e pertencentes a “ T” 1 .

Segundo consta, o indiciado passava pelo local e, percebendo que a janela que davapara a rua estava aberta e a casa aparentemente desvigiada, ali ingressou. Emseguida, arrecadou os objetos mencionados e colocou-os em uma sacola que traziaconsigo, evadindo-se na posse dos bens 2 .

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 155, caput,do Código Penal, requerendo que, após o recebimento desta, seja ele citado,interrogado, processado e ao final condenado, nos termos dos arts. 394/405 doCódigo de Processo Penal, ouvindo-se durante a instrução criminal a vítima e astestemunhas abaixo arroladas.

Indicação dos objetos subtraídos, valor total e auto de avaliação.

Detalhamento da conduta

3.14.5 Roubo: a denúncia pelo crime de roubo deve descrever, com a maior precisão possível,em que consistiu a grave ameaça ou a violência empregada contra a vítima, observadas, no quecouber, as recomendações pertinentes à denúncia por furto:

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

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Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, em data de 30 de março de 2017,por volta de 20h30, na Rua Cândido Garcia Machado, nº 490, nesta cidade ecomarca, “A”, vulgo “L” qualificado a fls. 30, e “C”, qualificado a fls. 37, agindo emconcurso 1 , subtraíram aproximadamente R$ 850,00 em dinheiro, além de umtelefone celular marca Nokia e diversos produtos eletrônicos, descritos e avaliados afls. 21 em R$ 830,00 2 , pertencentes à “T”, para proveito comum, mediante graveameaça exercida com emprego de armas de fogo 3 contra “U”.

Ao que se apurou, os indiciados planejaram a prática do roubo e dirigiram-se aoestabelecimento comercial, que já estava fechado, batendo à porta e dizendo queestavam em busca de informações. Quando a porta foi aberta, “A” e “C” anunciaram oassalto e, fazendo uso de revólveres, exigiram de “ U” a entrega dos bens acimadescritos, pois caso contrário iriam matá-lo. Em seguida, fugiram levando consigo osobjetos subtraídos. 4

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” e “C” como incursos no art. 157,§ 2º, incs. I e II, do Código Penal, requerendo que, após o recebimento desta, sejameles citados, interrogados, processados e ao final condenados, nos termos dos arts.394 a 405 do Código de Processo Penal, ouvindo-se durante a instrução criminal avítima e as testemunhas abaixo arroladas.

Qualificadora

Indicação dos objetos subtraídos, valor total e auto de avaliação

Qualificadora

Detalhamento da grave ameaça

3.14.6 Dano: a denúncia, sempre que possível, deve indicar o valor do dano e descrever no queconsistiu o dano, e qual a ação do agente que lhe deu causa.

Lembrar que no crime de dano, somente são de ação penal pública, e portantopassíveis de denúncia, as condutas descritas nos incs. I, II e III do art. 163,parágrafo único, do Código Penal.

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de

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(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, em data de 30 de abril de 2017,por volta de 23h30, na esquina das ruas Jacintho Libânio e Alberto Bauch, nestacidade e comarca, “A”, vulgo “L”, qualificado a fls. 13, destruiu um telefone público queali se achava instalado, patrimônio da “V”, (nome fantasia “W”), empresaconcessionária de serviço público 1 , provocando prejuízo patrimonial no importe deR$ 235,00 2 (fls. 45).

Segundo consta, o indiciado não conseguia completar uma ligação telefônica domencionado aparelho, razão pela qual pegou uma pedra e passou a golpeá-lo 3 ,destruindo o teclado e o display. 4

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 163,parágrafo único, inc. III, do Código Penal, requerendo que, após o recebimento desta,seja ele citado, interrogado, processado e ao final condenado, nos termos dos arts.531 e seguintes do Código de Processo Penal, ouvindo-se durante a instruçãocriminal as testemunhas abaixo arroladas.

Qualificadora

Valor do dano

Conduta

Descrição do dano

3.14.7 Apropriação indébita: no crime de apropriação indébita a denúncia deve descrever o fatode ter o agente a posse inicialmente lícita do objeto apropriado, bem como o fato indicativo dainversão do animus da posse para a apropriação. Como todo crime contra o patrimônio, deve serindicado também o valor do objeto da apropriação.

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

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Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, em data imprecisa, porém no mêsde maio de 2017, na oficina situada na Rua Leon Denis Netto, nº 110, nesta cidade ecomarca, “A”, qualificado a fls. 61, apropriou-se de coisa alheia móvel, consistente emuma máquina de cortar grama da marca Sender, pertencente a “T” e avaliada em R$290,00 1 (fls. 23), da qual tinha a posse em razão de seu ofício 2 .

Segundo consta, o indiciado é proprietário de uma oficina para conserto demáquinas 3 agrícolas, e recebeu a apontada referida máquina para um pequenoconserto 4 no início do mês de maio de 2017, prometendo entregá-la pronta 15 diasdepois. Entretanto, a vítima compareceu várias vezes à oficina de “A”, dele sempreouvindo que a peça de que precisava para o conserto não estava disponível.

No dia 10 de junho, “ T” constatou que a máquina de cortar grama estava na possede um vizinho e, indagando-o sobre a procedência do bem, constatou que ele o haviacomprado do indiciado. 4

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 168, §1º,inc. III, do Código Penal, requerendo que, após o recebimento desta, seja ele citado,interrogado, processado e ao final condenado, nos termos dos arts. 394 a 405 doCódigo de Processo Penal, ouvindo-se durante a instrução criminal a vítima e astestemunhas abaixo arroladas.

Valor do objeto

Qualificadora

Indicação da posse

Indicação da apropriação

3.14.8 Estelionato: a denúncia por crime de estelionato deve descrever o meio utilizado peloagente para induzir a vítima a erro, e indicar a vantagem ilícita obtida, com a sua avaliação, se for ocaso:

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

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Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 04 de abril de 2017, na RuaDom Nery, nº 48, nesta cidade e comarca, “A”, qualificado a fls. 38, obteve, par si,vantagem ilícita 1 , consistente na quantia de R$ 12.930,00, em prejuízo de “ T”,induzindo-lhe em erro 1 , mediante o emprego de meio fraudulento 1 .

Ao que se apurou, o indiciado, na condição de contabilista, firmou contrato com avítima para prestação de serviços de despachante previdenciário, prometendo obterjunto ao INSS sua aposentadoria, no prazo máximo de quatro meses 2 . “A”, iludindo“T”, disse-lhe que para a obtenção de tal benefício seria necessário o recolhimento àprevidência do valor de R$ 12.930,00 2 . A vítima, acreditando na palavra doindiciado 3 , efetuou transferência bancária para a conta por ele indicada 4 , noreferido valor (fls. 77).

Para induzir “T” em erro, “ A” mostrou-lhe uma folha com cálculos complexos feitos porcomputador, cujo resultado seria o valor do suposto benefício ao qual a vítima teriadireito caso recolhesse à previdência o valor por ele indicado 5 . A vítima, pessoahumilde, acreditou em suas palavras, principalmente diante de sua alegação de queseus honorários só seriam pagos após o recebimento da primeira parcela daaposentadoria 6 .

Não houve qualquer recolhimento aos cofres da previdência por parte do indiciado, notocante ao valor que lhe foi entregue pela vítima. Ele usufruiu do numerário emproveito próprio 7 , induzindo a vítima em erro e obtendo vantagem ilícita em seuprejuízo. “T” ficou sem o dinheiro e teve seu benefício negado pelo INSS, pois nãoreunia os pressupostos necessários à obtenção da aposentadoria 8 .

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 171, caput,do Código Penal, requerendo que, após o recebimento desta, seja ele citado,interrogado, processado e ao final condenado, nos termos dos arts. 394 a 405 doCódigo de Processo Penal, ouvindo-se durante a instrução criminal a vítima e astestemunhas abaixo arroladas.

Tipo penal

Artifício ardiloso

Induzimento em erro

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Obtenção de vantagem

Artifício ardiloso

Induzimento em erro

Obtenção de vantagem

Prejuízo da vítima

3.14.9 Estelionato na modalidade de fraude no pagamento por meio de cheque: como o inc.VI do art. 171 do Código Penal apresenta implicitamente em seu enunciado o artifício fraudulento,o induzimento em erro, bem como a obtenção de vantagem ilícita, basta que a denúncia indique aconduta de sustar o pagamento (ou emissão de cheque sem fundos), e o fato de ter a vítimaexperimentado prejuízo econômico:

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 04 de janeiro de 2017, naagência do Banco do Brasil, situada na Rua Rodolfo Troppmair, nº 62, nesta cidade ecomarca, “A”, qualificado a fls. 31, frustrou o pagamento do cheque 1 que havia dadoem pagamento de um veículo VW Gol, adquirido junto a “T”.

Segundo consta, o indiciado adquiriu de “T” o mencionado veículo automotor,efetuando o pagamento com o cheque nº 100356, da conta corrente nº 3455-6, daagência local do Banco do Brasil, no valor de R$ 5.200,00. Entretanto, ao deixar aresidência da vítima na posse do automóvel, “A” dirigiu-se ao banco e providenciou asustação do pagamento da cártula 2 , preenchendo o documento de fls. 49 com ainformação falsa de que o cheque havia sido furtado.

A vítima experimentou efetivo prejuízo econômico, pois além de ficar sem o veículo,teve o cheque devolvido pela instituição financeira, em razão da sustação do seupagamento 3 .

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 171, § 2º,

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inc. VI, do Código Penal, requerendo que, após o recebimento desta, seja ele citado,interrogado, processado e ao final condenado, nos termos dos arts. 394 a 405 doCódigo de Processo Penal, ouvindo-se durante a instrução criminal a vítima e astestemunhas abaixo arroladas.

Tipo penal

Fraude

Prejuízo da vítima

3.14.10 Receptação dolosa: a denúncia pelo crime de receptação dolosa (CP, art. 180, caput)deve indicar a existência do crime antecedente, e o motivo pelo qual o agente tinha ciência daorigem criminosa da coisa. No exemplo a seguir, a conclusão da existência do dolo é extraída apartir do fato de ter sido o denunciado surpreendido na posse da coisa subtraída logo após ofurto, apresentando versão incongruente, e não haver indícios de sua participação na subtração:

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 09 de maio de 2017, porvolta de 03h10, na Rua Cristóvam Chiaradia, altura do nº 230, Bairro Assunção, nestacidade e comarca, “A”, qualificado a fls. 06, conduzia, em proveito próprio 1 , o veículoGM Monza SL/E de placas XXX-XXXX, pertencente a “T” e avaliado em R$ 9.000,00(fls. 39), sabendo que se tratava de produto de crime .

Segundo consta, o mencionado veículo foi furtado do seu proprietário naquele mesmodia, cerca de uma hora antes de ser apreendido em poder do indiciado 2 , por umapessoa cujas características físicas descritas pela vítima não coincidiam com ascaracterísticas de “A” 3 , conforme se extrai da cópia do boletim de ocorrência juntadaa fls. 19.

Na data e local do fato, o indiciado foi abordado por Policiais Militares que já possuíama informação do furto, e alegou que havia adquirido o bem de um indivíduo queidentificou apenas como “B”, pelo valor de R$ 2.000,00, dois dias antes 4 , e não

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apresentou a documentação do automóvel.

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 180, caput,do Código Penal, requerendo que, após o recebimento desta, seja ele citado,interrogado, processado e ao final condenado, nos termos dos arts. 394 a 405 doCódigo de Processo Penal, ouvindo-se durante a instrução criminal a vítima e astestemunhas abaixo arroladas.

Tipo penal

Indicação do crime antecedente (furto)

Indicação de que o denunciado não participou do furto

Versão Incongruente que confirma o dolo

3.14.11 Receptação qualificada: na denúncia pelo crime de receptação qualificada (CP, art. 180,§ 1º), é preciso recordar que o delito deve ser cometido no exercício de atividade comercial ouindustrial, com a amplitude conferida pelo § 2º:

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 20 de maio de 2017, porvolta de 19h30, na Rua Manoel Torres de Aquino, nº 74, nesta cidade e comarca, “A”,vulgo “L”, qualificado a fls. 05, desmontou o veículo 1 GM Blazer de placas XXX-XXXX, pertencente a “T” e avaliado em R$ 19.000,00 (fls. 15), no exercício deatividade comercial 1 , coisa que devia saber que se tratava de produto de crime 2 .

Segundo consta, o referido veículo foi furtado no dia 15 de abril de 2017, na cidadede (cidade) 3 , conforme se vê do boletim de ocorrência juntado a fls. 48.

No dia 20 de maio, policiais civis, investigando uma denúncia anônima, dirigiram-se àoficina do indiciado, instalada nos fundos da sua casa, e o surpreenderamdesmontando o automóvel, que já estava sem o motor, rodas e portas, e tambémapresentava o número do chassi raspado.

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Indagado pelos policiais, “A” alegou que um cliente cujo nome não se recordavadeixou o veículo ali sem qualquer documento e pediu-lhe que o desmanchasse, poispretendia utilizar as peças para reparar outro automóvel que possuía. Diante destascondições, o indiciado devia saber que a coisa se tratava de produto de crime.

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 180, § 1º, doCódigo Penal, requerendo que, após o recebimento desta, seja ele citado, interrogado,processado e ao final condenado, nos termos dos arts. 394 a 405 do Código deProcesso Penal, ouvindo-se durante a instrução criminal a vítima e as testemunhasabaixo arroladas.

Tipo penal

Dolo eventual

Indicação do crime antecedente (furto)

3.14.12 Estupro: na denúncia por crime de estupro é preciso descrever exatamente em queconsistiu a violência à pessoa ou grave ameaça, indicando qual o ato libidinoso praticado, nãosendo suficiente a simples menção de “praticou ato libidinoso”. Quando se tratar de conjunçãocarnal (cópula vagínica), basta a menção da “conjunção carnal”. Caso a infração tenha deixadovestígios, descrever quais foram estes, mencionando o laudo pericial. Sempre que possível,transcrever trechos do relato da vítima que demonstre não só o dolo do agente, mas também oemprego da violência ou grave ameaça.

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 10 de janeiro de 2017, porvolta de 06h30, no interior de um imóvel em construção situado na Rua Antônio PeresFilho, nº 12, Jardim Ilma, nesta cidade e comarca, “A”, vulgo “L”, qualificado a fls. 05,constrangeu “T” (representação fls. 10), mediante grave ameaça, a permitir que comele fosse praticado ato libidinoso 1 .

Segundo consta, “A”, vizinho da vítima, recém-egresso do sistema prisional, voltava de

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um bar onde esteve bebendo na companhia desta, homossexual, passando a insistirpara que ambos mantivessem um relacionamento sexual. Diante da recusa de “T”, oindiciado, ao chegar próximo da construção, sacou uma faca que trazia na cintura, epressionando a lâmina contra o pescoço da vítima 2 , disse: “ Sua bicha! Você deupara o “V”, vai ter que dar para mim também” 3 . Em seguida, forçou “T” a entrar naconstrução e, despindo-o, introduziu seu pênis no ânus do ofendido, até aejaculação 4 .

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 213, caput,do Código Penal, requerendo que, após o recebimento desta, seja ele citado,interrogado, processado e ao final condenado, nos termos dos arts. 394 a 405 doCódigo de Processo Penal, ouvindo-se durante a instrução criminal a vítima e astestemunhas abaixo arroladas.

Tipo penal

Grave ameaça

Transcrever narrativa da vítima

Descrição do ato libidinoso

3.14.13 Associação criminosa: a denúncia pela associação criminosa normalmente inclui aimputação atinente ao crime objeto, ou seja, do delito que constitui a atividade da associação.Dificilmente será possível indicar a data em que ocorreu a associação, mas, tratando-se de crimepermanente, basta citar na denúncia que os agentes permaneciam associados. Na hipótese de odelito objeto da associação não ser objeto da denúncia, deverá ainda assim ser indicado,mostrando qual era a atividade criminosa à qual os indivíduos se dedicavam.

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado).

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 30 de março de 2017, porvolta das14h30, na agência local do Banco do Brasil, sita na Praça Hervê de CamposVargas, nº 21, nesta cidade e comarca,

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3

“A” 1 ,

“B” 1 ,

“C” 1 e

“D” 1 , vulgo “L”, qualificados a fls. 12, 15, 19 e 20, respectivamente, foramsurpreendidos quando, em concurso, faziam uso de documento público falso epermaneciam 2 associados para o fim específico de cometer crimes 3 deestelionato 4 .

Segundo consta, os indiciados, em data não determinada 5 , associaram-se para o fimespecífico de cometer crimes 6 de estelionato. Para tanto, providenciavam a aberturade contas em bancos, com o uso de documentos falsos, valendo-se dos talões decheques para efetuarem compras no comércio.

Na data acima descrita, e para dar prosseguimento ao propósito criminoso daassociação, dirigiram-se a esta cidade, onde pretendiam abrir uma conta corrente naagência do Banco do Brasil. Nessa ocasião, “B”, na companhia dos demais, fez usode documento falso 7 , apresentando ao gerente do banco, entre outros documentos,uma cédula de identidade falsa (documento público) 8 , montada com uma parte doespelho do Estado de (estado) e outra parte do espelho do Estado de (estado) (fls.134).

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A”, “B”, “C” e “D” como incursos nosart. 288, caput, bem como no art. 304 c.c. art. 297 9 , na forma do art. 69, caput, todosdo Código Penal, requerendo que, com o recebimento desta, sejam eles citados,interrogados, processados e ao final condenados, nos termos dos arts. 394 a 405 doCódigo de Processo Penal, ouvindo-se durante a instrução criminal as testemunhasabaixo arroladas.

Havendo vários denunciados, a colocação de um nome em cada linha ajuda avisualização

Indicação de crime permanente

Tipo penal

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Crime objeto

Dificilmente será possível determiner a data da associação

Tipo penal

Crime de uso de documento falso – tipo penal

Indicação se o documento é público ou particular

Indicação de documento público

3.14.14 Falsidade ideológica: na denúncia pelo crime de falsidade ideológica deve-se indicarqual seria a declaração que devia constar do documento, ou a declaração falsa ou diversa da quedevia ser escrita que nele foi inserida, e o que motivou o sujeito a agir desta forma. Também épreciso indicar qual o direito que se buscava prejudicar, a obrigação criada ou o fato juridicamenterelevante sobre o qual recaiu a alteração da verdade.

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 27 de abril de 2017, porvolta das 04h30, na Delegacia de Polícia desta cidade e comarca, situada na PraçaLeonor Peres Libânio, nº 64, “A”, qualificado a fls. 39, fez inserir em documentopúblico informação falsa, com o fim de alterar a verdade sobre fato juridicamenterelevante 1 .

Segundo consta, o indiciado ocupava seu veículo Fiat Palio de placas XXX-XXXX, queera conduzido por “B” 2 , pessoa não habilitada para a condução de automóveis.Quando entrou no citado cruzamento, devido a uma falha mecânica, o veículo acabouchocando-se contra um poste. A Polícia Militar compareceu ao local e conduziu osenvolvidos no acidente à Delegacia de Polícia.

Ciente que a seguradora não indenizaria o prejuízo se a verdade fosse revelada 3 , oindiciado fez constar informação falsa no boletim de ocorrência, no sentido de que eraele quem dirigia o veículo 4 (fls. 41), alterando assim a verdade sobre fato

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5

juridicamente relevante, com o fim de criar para a seguradora a obrigação de repararo dano 5 .

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 299, caput,do Código Penal, requerendo que, após o recebimento desta, seja ele citado,interrogado, processado e ao final condenado, nos termos dos arts. 394 a 405 doCódigo de Processo Penal, ouvindo-se durante a instrução criminal as testemunhasabaixo arroladas.

Tipo penal

Fato verdadeiro

Motivo da falsidade

Indicar em que consiste a falsidade

Indicação da obrigação criada

3.14.15 Uso de documento falso: a denúncia pelo crime de uso de documento falso deve indicarse o documento utilizado era público ou particular, para fins de aplicação da pena.

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 03 de março de 2017, porvolta das 18h30, na Rua Julieta Dias de Menezes, altura do nº 340, nesta cidade ecomarca, “A”, vulgo “L”, qualificado a fls. 10, fez uso de documento público falso 1 .

Segundo consta, o denunciado foi abordado por policiais militares em fiscalização detrânsito. Em atendimento à solicitação dos seus documentos, o indiciado apresentouuma Carteira Nacional de Habilitação falsa (apreendida a fls. 30), que havia adquiridona cidade de (cidade) após ser reprovado em diversos exames para a obtenção dahabilitação para dirigir veículo automotor.

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 304 c.c. art.

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297 2 , ambos do Código Penal, requerendo que, após o recebimento desta, seja elecitado, interrogado, processado e ao final condenado, nos termos dos arts. 394 a 405do Código de Processo Penal, ouvindo-se durante a instrução criminal as testemunhasabaixo arroladas.

Tipo penal

Referência ao art. 297 (documento público)

3.14.16 Desacato: é importante destacar o fato de estar o funcionário no exercício de suasfunções, quando isso não decorrer da própria narrativa, ou explicar que o desacato se deu emrazão da função pública. Conveniente também é a transcrição das palavras utilizadas para odesacato.

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito do Juizado Especial Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Termo circunstanciado nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos do termo circunstanciado que, no dia 11 de janeiro de 2017,por volta das 10h20, no interior da Santa Casa de Misericórdia, situada na Rua DoutorSamuel Libânio, nº 132, nesta cidade e comarca, “A”, qualificado a fls. 05, desacatoufuncionário público no exercício da função 1 .

Segundo consta, o indiciado foi ao hospital visitar seu filho, que estava internado, erepentinamente começou a provocar desordem no local. A Polícia Militar foi acionadae, no momento em que o soldado “T” foi conversar com “A”, este passou a chamá-lode “ idiota” e “vagabundo” 2 , com o inequívoco propósito de menosprezar a relevantefunção pública por ele exercida.

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 331 doCódigo Penal, requerendo seja ele citado, interrogado, processado e ao finalcondenado, nos termos dos arts. 77 e seguintes da Lei nº 9.099/1995, ouvindo-sedurante a instrução criminal as testemunhas abaixo arroladas.

Tipo penal

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2 Desacato

3.14.17 Falso testemunho: a denúncia pelo crime de falso testemunho deve indicar oprocedimento em que o crime ocorreu e a qualidade em que o indiciado prestou depoimento, ouseja, como testemunha de acusação, da defesa, do autor, do demandado ou do juízo.

Na denúncia deve ser indicada com precisão qual a afirmação falsa, ou em que consistiu anegativa da verdade, indicando também qual foi a verdade negada, calada ou falseada. Também épreciso indicar, quando possível, quais elementos de convicção levaram à conclusão da falsidade.

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 19 de fevereiro de 2017,por volta das 13h20, na sala de audiências deste fórum, sita na Rua Dr. MarçalEtienne Arreguy, nº 12, nesta cidade e comarca, “A”, qualificado a fls. 07, fezafirmação falsa 1 , como testemunha arrolada pela acusação 3 , nos autos da açãopenal nº 229/2011 2 .

Segundo consta, “B”, “C” e “D” respondiam a processo pelo crime de tráfico dedrogas, e o indiciado foi arrolado pela acusação como testemunha.

Quando ouvido no inquérito policial que deu origem à ação penal mencionada (fls. 26),o indiciado disse o seguinte: “ sempre entrava na casa de ‘B’ ‘para ir buscar drogas,maconha e crack’, por ser dependente de substâncias tóxicas e ‘B’ vendia tais tiposde substâncias. Por algumas vezes – duas – ‘B’ mandou um ‘moleque’ de nome ‘D’lhe entregar tanto maconha, quanto crack, mas em pequenas quantidades e para seuuso próprio. Certa feita recebeu também drogas dessa espécie que lhe foramentregues ‘a mando de B’ a qual fora efetuada por um tal de ‘T’. Pagava normalmenteR$ 10,00 por pedras de crack pequenas, e R$ 20,00 por pedras maiores, enquanto amaconha ‘era mais barata’. (…) A droga apreendida lhe fora entregue pelo menor ‘E’a mando da mulher de ‘B’, dona ‘C’, juntamente com uma pequena pedra de crack.Informa que a droga por ele comprada era mantida escondida por ’B’ em um pequenomatagal existente na beira da estrada” 4 .

Entretanto, na audiência em juízo, mesmo advertido sobre o conteúdo de seu

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depoimento prestado no inquérito policial, “A” fez declaração falsa, dizendo que nuncaadquiriu drogas de “B” e “ C”, pessoas que alegou sequer conhecer 5 , contrariando orelato das testemunhas “U” (fls. 32), “V” (fls. 43) e “X” (fls. 45), que confirmaram o fatode o indiciado ter sido visto inúmeras vezes entrando e saindo da residência de “B” 6 .

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A”, como incurso no art. 342, § 1º,do Código Penal, requerendo que, após o recebimento desta, seja ele citado,interrogado, processado e ao final condenado, nos termos dos arts. 531 e seguintesdo Código de Processo Penal, ouvindo-se durante a instrução criminal as testemunhasabaixo arroladas.

Tipo penal

Processo em que o crime ocorreu

Origem do depoimento

Fato considerado verdadeiro

Afirmação falsa

Fato que concorre para a conclusão da falsidade

3.15 Alguns crimes da legislação penal extravagante: a escolha dos tipos penais da legislaçãoextravagante seguiu o mesmo critério dos tipos do Código Penal: recorrência e característicasespecíficas.

3.15.1 Código de Trânsito: homicídio e lesão corporal na direção de veículo automotor: adenúncia por crimes culposos cometidos na direção de veículo automotor deve indicar a modalidadede culpa em que incidiu o agente, descrevendo detalhadamente qual a conduta caracterizadora daimprudência, da negligência ou da imperícia.

Também é preciso reproduzir a dinâmica do acidente para demonstrar o nexo causal entre aconduta culposa e o(s) resultado(s). Finalmente, o(s) resultado(s) deve(m) ser indicado(s) mediante aidentificação do ferimento que produziu a morte, ou das lesões corporais descritas no laudo de examede corpo de delito, cujas folhas dos autos devem ser mencionadas.

Prescinde-se da menção a todas as lesões indicadas no laudo. Basta citar a(s) principal(is), asmais graves, e fazer referência ao laudo. Exemplo: “além de outras lesões descritas no laudo de fls.36”.

É importante mencionar na denúncia as folhas dos autos em que estão o laudopericial do local e eventuais fotografias.

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Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 10 de março de 2017, porvolta das 03h10, na Rodovia BR 320, altura do Km 56, neste município e comarca, “A”,qualificado as fls. 10, agindo por imprudência 1 , praticou homicídio culposo e lesõescorporais na direção de veículo automotor 2 .

De acordo com o apurado, o indiciado dirigia o veículo GM Chevette de placas XXX-XXXX em velocidade incompatível com o local 3 , um trecho bastante sinuoso darodovia, quando ao entrar em uma curva fechada à direita, devido à alta velocidade,acabou perdendo o controle do veículo, que saiu do leito carroçável, e capotou váriasvezes 4 antes de ficar imobilizado com as rodas para cima, conforme se extrai daanálise do laudo e das fotografias de fls. 35/40.

“T”, que ocupava o banco dianteiro, sofreu traumatismo craniano em razão doacidente e morreu no local 5 (exame necroscópico fls. 47). Se não bastasse, “U” e“V”, que viajavam no banco traseiro, em razão do acidente sofreram diversas lesõesde natureza leve 6 , todas descritas nos exames de corpo de delito de fls. 49 e 50.

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 302,parágrafo único, inc. I 7 ; e no art. 303, parágrafo ú nico (c.c. art. 302, parágrafo único,inc. I) 8 , por duas vezes 9 , na forma do art. 70, caput, do Código Penal, requerendoque, após o recebimento desta, seja ele citado, interrogado, processado e ao finalcondenado, nos termos dos arts. 531 e seguintes do Código de Processo Penal,ouvindo-se durante a instrução criminal as vítimas e as testemunhas abaixo arroladas.

Modalidade de culpa

Descrição dos tipos penais

Indicação da imprudência

Dinâmica do acidente

Resultado: homicídio

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Resultados lesões corporais

Homicídio

Lesões corporais, com a referência da qualificadora aplicável

Indicação do nº de condutas referents ao crime do art. 303

3.15.2 Código de Trânsito: embriaguez ao volante: a denúncia pelo crime de embriaguez aovolante deve indicar o meio de prova pelo qual foi detectada a embriaguez do condutor: etilômetro(o popular “bafômetro”), exame químico-toxicológico (exame de sangue), exame clínico (vistoriamédica) etc.

A descrição precisa apontar que o agente efetivamente conduziu veículo automotor com acapacidade psicomotora alterada. Não basta dizer que ele foi encontrado embriagado após ter sedirigido ao local com seu veículo, pois nessa hipótese a embriaguez pode ser posterior à condução doautomóvel.

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da ____ Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 20 de maio de 2017, porvolta das 23h10, na Rua Lael Santiago, altura do nº 26, nesta cidade e comarca, “A”,vulgo “L”, qualificado a fls. 09, conduziu o veículo VW Saveiro de placas XXX-XXXXcom capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool 1 , estandocom concentração superior a 6 (seis) decigramas de álcool por litro de sangue (laudopericial de fls. 08) 2 .

Detalhamento da condutaAo que se apurou, o indiciado conduzia seu veículo automotor em estado deembriaguez, levando com ele seu filho de 04 anos de idade, chegando inclusive aperder o controle e chocar-se contra uma caçamba que se achava no local. Levado aohospital, e submetido a exame de dosagem químico-toxicológica, constatou-se aconcentração de álcool acima mencionada. 2

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 306 da Lei9.503/1997 – Código de Trânsito Brasileiro, requerendo que, após o recebimento

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desta, seja ele citado, interrogado, processado e ao final condenado, nos termos dosarts. 531 e seguintes do Código de Processo Penal, ouvindo-se durante a instruçãocriminal as testemunhas abaixo arroladas.

Tipo penal

Referência à prova da embriaguez

3.15.3 Tráfico de drogas: na prática, o núcleo do tipo mais frequente é “trazer consigo”, e estaconduta também existe no delito de porte de droga para consumo pessoal (Lei nº 11.343/2006, art.28). Por corolário, é preciso indicar os elementos de convicção capazes de traduzir a intenção daentrega da droga ao consumo de terceiros, circunstância reveladora do tráfico. Destarte,informações sobre o fato de ser o agente já conhecido nos meios policiais pela prática docomércio ilícito de drogas, confissão ou imputação de usuários são de fundamental importância.

O peso da droga, normalmente extraído do auto de exibição e apreensão e do auto de constataçãoda natureza da substância, deve ser indicado como aproximado, já que muitas vezes a ausência deequipamentos mais precisos nas Delegacias de Polícia pode gerar alguma diferença do peso apuradono laudo pericial (exame químico toxicológico).

Na nomenclatura da droga, é preciso lembrar que no nome científico da substância, destacado emitálico, somente a primeira letra da primeira palavra será grafada em letra maiúscula: Cannabis satival. O “crack”, na verdade, é “cocaína sob a forma de pedra de ‘crack’”.

Quando da apreensão de mais de uma porção em locais diferentes, é válido descrever ascaracterísticas da embalagem (saquinhos, invólucros, papelotes etc.).

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Tipo penalConsta dos inclusos autos de inquérito policial que no dia 11 de maio de 2017, porvolta das 17h50, na esquina da Rua João Francisco Bellegarde com a Rua RaimundoMattiuzo, Ponte Rasa, nesta cidade e comarca, “A”, qualificado a fls. 14/17, traziaconsigo, para fins de tráfico, 15,98g (quinze gramas e noventa e oito decigramas) 1

de cocaína 2 , bem como 11,2g (onze gramas e dois decigramas) 1 de Cannabissativa L., popularmente conhecida como maconha 2 , sem autorização e em desacordocom determinação legal ou regulamentar.

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Ao que se apurou, policiais militares efetuavam patrulhamento de rotina pelo local dosfatos, quando avistaram o indiciado e decidiram abordá-lo. Em revista pessoal,encontraram no bolso de “A” 34 (trinta e quatro) papelotes de cocaína e 5 (cinco)trouxinhas de maconha, totalizando a quantidade acima mencionada.

A elevada quantidade das drogas, a forma de armazenagem e o local em que se deu aprisão em flagrante evidenciam que tais produtos se destinavam ao 3 comércio ilícito.

Auto de exibição e apreensão e auto de constatação da natureza da substânciaencontram-se a fls. 11 e 12.

Ante o exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 33, caput, daLei n.11.343/2006, com as disposições aplicáveis da Lei n. 8.072/1990, requerendoque, após o recebimento desta, seja ele citado, interrogado, processado e ao finalcondenado, nos termos dos arts. 55 e seguintes da Lei de Drogas, ouvindo-sedurante a instrução criminal as testemunhas abaixo arroladas.

Peso aproximado das drogas

Espécies de droga apreendida

Elemento de convicção

3.15.4 Estatuto do Desarmamento: posse e porte de arma de fogo: a denúncia pelos crimesde posse e porte de arma de fogo, de uso permitido ou de uso restrito, deve descrever a armaportada ou possuída com suas principais características, como calibre e marca, indicandotambém a existência, ou não, de munição.

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 14 de maio de 2017, porvolta das 22h30, na Rua Formariz, Jardim Elba, nesta cidade e comarca, “A”,qualificado a fls. 10, portava o revólver Taurus calibre 38, cano de 5 polegadas, decapacidade para 6 tiros e municiado com 3 cartuchos, com numeração suprimida 1 .

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a)

b)

b.1.

b.2.

Ao que se apurou, policiais militares abordaram o indiciado em via pública, poisperceberam a presença de um objeto estranho sob sua camisa, momento em queconstataram que ele portava a arma de fogo acima descrita, cuja numeração haviasido suprimida.

Auto de exibição e apreensão encontra-se a fls. 09.

Ante o exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 16, parágrafoúnico, inc. IV, da Lei 10.826/2003 – Estatuto do Desarmamento, requerendo que, apóso recebimento desta, seja ele citado, interrogado, processado e ao final condenado,nos termos dos arts. 394 a 405 do Código de Processo Penal, ouvindo-se durante ainstrução criminal as testemunhas abaixo arroladas.

Tipo penal

3.16 A cota de oferecimento da denúncia: a denúncia é uma petição inicial. Em regra, seuoferecimento tem como base um inquérito policial levado à apreciação do Ministério Público. Esseprocedimento investigatório é remetido pela Polícia Civil ao Poder Judiciário, que então promove aabertura de vista ao Parquet.

Quando do oferecimento da denúncia (que será autuada junto à “capa” do inquérito policial), orepresentante do Ministério Público lançará sua manifestação (cota), logo abaixo do termo de vista.

A cota de oferecimento da denúncia possui um formato básico e poderá abranger uma série desituações variáveis de acordo com o caso concreto.

O formato básico de uma cota de oferecimento da denúncia inclui:

A notícia do oferecimento da denúncia e o número de laudas (folhas);

O requerimento de:

folha de antecedentes; e

certidões dos inquéritos policiais e ações penais em que o agente figure comoinvestigado ou réu.

Formato básico:

1ª Vara Criminal da Comarca de (cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito policial nº XXX/ANO

MM. Juiz,

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1

2

3

1) Denúncia em separado, em 02 laudas 1 ;

2) Requer-se a vinda aos autos de folha de antecedentes 2 e certidões do queconstar 3 .

Ver item “a”, acima

Ver item “b.1”, acima

Ver item “b.2”, acima

A não ser que tais documentos (folha de antecedentes e certidões) já tenham sidopreviamente juntados aos autos, toda cota de oferecimento de denúncia deveráincluir estes requerimentos, sem prejuízo de outros pedidos.

3.16.1 Esclarecimentos sobre a denúncia: a denúncia constitui-se em peça objetiva, pois nãocomporta análises doutrinárias ou jurisprudenciais. Mas sempre que se faça necessário algumesclarecimento adicional, como, por exemplo, o motivo da classificação da conduta emdeterminado tipo penal, esta manifestação poderá ser lançada na cota de oferecimento.

Na cota também é cabível esclarecer o motivo pelo qual foram eventualmente arroladastestemunhas além da quantidade legalmente permitida, bem como as circunstâncias que levaram a nãoinclusão de pessoa ouvida na fase investigatória.

2ª Vara Criminal da Comarca de (cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito Policial nº XXX/ANO

MM. Juiz,

Requerimentos do formato básico

A criança “T”, vítima do crime de estupro de vulnerável, não foi arrolada para serouvida em juízo, pois o laudo de exame psicológico concluiu que sua nova exposição ànarrativa dos fatos poderia ensejar o fenômeno conhecido como “revitimização”, comgraves prejuízos à sua formação psicológica e mental.

Se não bastasse, o laudo encartado aos autos já colheu todos os elementos de provanecessários, constando do referido documento a narrativa da vítima à psicóloga dojuízo com riqueza de detalhes de todo o ocorrido, obtido não só em razão da confiança

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depositada pela vítima na profissional, mas confirmado pelos recursos técnicosaplicados.

Vale lembrar que a defesa técnica, se assim desejar, poderá solicitar à perita todos osesclarecimentos que reputar imprescindíveis, exercendo seu pleno direito aocontraditório.

3.16.2 Proposta de suspensão condicional do processo (crimes de médio potencialofensivo): a proposta de suspensão condicional do processo, quando adequada, em geral éefetuada em fase posterior, tendo em vista a necessidade da análise preliminar da folha deantecedentes e certidões respectivas, com o escopo de verificar a presença de todos os requisitoselencados pelo art. 89 da Lei 9.099/1995. Portanto, na cota de oferecimento da denúncia, bastaque se faça menção à possibilidade de proposta:

1ª Vara Criminal de (cidade/estado)

Autos nº XXX/ANOInquérito Policial nº XXX/ANO

MM. Juiz,

Requerimentos do formato básico

Após a juntada da folha de antecedentes e certidões, requer-se nova vista dos autospara apreciar a possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo, nostermos do art. 89 da Lei 9.099/1995.

Se no momento de oferecimento da denúncia já estiverem juntadas aos autos a folha de antecedentese certidões, ou se a questão do concurso público indicar a presença de todos os requisitos legais,viabilizando a apreciação da proposta, basta incluí-la na cota.

3.16.3 Arquivamento do inquérito policial em relação a outro indiciado ou a outrainfração penal: pode ocorrer de um inquérito policial investigar a conduta de mais de umapessoa, mas entender o Ministério Público que apenas uma delas deve ser denunciada, nãohavendo indícios suficientes em relação à(s) outra(s). Nesse caso, se o outro investigado tiver sidoindiciado, ou se seu nome tiver sido registrado como averiguado nos registros judiciais, seránecessária a manifestação pelo arquivamento do inquérito policial em relação a ele. Talmanifestação poderá ser feita na cota de oferecimento da denúncia, seguindo o mesmo padrão da

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manifestação para arquivamento de inquérito policial:

1ª Vara Criminal de (cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito Policial nº XXX/ANO

MM. Juiz,

Requerimentos do formato básico

Em relação ao indiciado “A”, requer-se o arquivamento do inquérito policial, semprejuízo da regra contida no art. 18 do Código de Processo Penal, em face daausência de indícios no tocante ao seu envolvimento no roubo.

A própria vítima, ao efetuar o reconhecimento na Delegacia de Polícia, disse apenasque ele era muito parecido com o rapaz que apontava a arma enquanto o “B” pegavasuas joias.

Se não bastasse, a testemunha “T” afirmou que “A” estava prestando serviços em seusítio na data e horário do fato, distante 250 km desta cidade (fls. 12).

3.16.4 Apreciação de pedidos de prisão preventiva e sua revogação, e de restituição decoisa apreendida: no ato do oferecimento da denúncia deve ser apreciada a representação peladecretação da prisão preventiva, formulada pela autoridade policial, ou então da sua revogação (sejá foi decretada), bem como a restituição de coisas apreendidas.

No caso da representação pela prisão preventiva, após o formato básico da cota de oferecimentoda denúncia, é preciso lançar parecer sobre o seu conteúdo:

2ª Vara Criminal de (cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito Policial nº XXX/ANO

MM. Juiz,

Requerimentos do formato básico

Pleiteia a digna Autoridade Policial a decretação da prisão preventiva de “A”

Trata-se de crime de roubo agravado pelo emprego de arma de fogo, e o indiciado foi

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a.1.

reconhecido pessoalmente pela vítima. Além disso, o produto do crime foi encontradoem sua residência.

“A” possui antecedentes pela prática de inúmeros roubos, conforme se vê de fls. 39.

Há prova da existência do crime e indícios suficientes de autoria.

Destarte, não resta dúvida de que o indiciado, em liberdade, representa risco efetivo àgarantia da ordem pública, em razão da probabilidade de voltar a delinquir.

Ante o exposto, o Ministério Público opina pela decretação da prisão preventiva, emconsonância com a representação lançada pela ilustre autoridade policial.

3.16.5 Diligências complementares: sempre que o inquérito policial já reunir elementos quepermitam a formação do convencimento para o início da ação penal, a denúncia deverá seroferecida, requisitando-se à autoridade policial a realização das diligências complementares, o quetambém deverá ser feito na cota de oferecimento da denúncia:

1ª Vara Criminal da Comarca de (cidade/estado)

Autos nº XXX/ANOInquérito Policial nº XXX/ANO

MM. Juiz,

Requerimentos do formato básico

Considerando que a vítima “T” indicou a pessoa de “U” como testemunha do fato,requer-se a expedição de ofício ao Doutor Delegado de Polícia para que, em autoscomplementares, providencie a identificação e oitiva desta pessoa.

3.16.6 Dicas finais para a elaboração da cota de oferecimento da denúncia: é impossívelprever todas as situações que possam surgir nas provas de concursos públicos ou na práticaforense. Mas, para facilitar a atuação do candidato ou do profissional do Direito, merecemdestaque as situações doravante elencadas:

DICAS PARA A ELABORAÇÃO DE COTASa) Não se esquecer dos dois itens obrigatórios:

Denúncia em separado, em __ laudas; e

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a.2.Requer-se a vinda aos autos de folha de antecedentes e certidões do que constar.

b) Crimes com pena mínima até 1 ano – médio potencial ofensivo – e manifestação quanto àsuspensão condicional do processo (Lei nº 9.099/1995, art. 89);

c) Formal indiciamento: se o caso concreto assim recomendar;d) Presença de criança ou adolescente na prática do crime: extração de cópia do procedimentoinvestigatório e remessa à Vara da Infância e da Juventude, para conhecimento e adoção dasprovidências eventualmente cabíveis;

e) Crime cometido pelo pai ou pela mãe contra filho ou filha menor de idade: extração de cópias eremessa à Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude, para análise de cabimento da destituiçãodo poder familiar;

f) Pedido de arquivamento em relação a outro crime ou outro agente: fundamentação sucinta,apresentando o fundamento e utilizando a fórmula do art. 18 do CPP. Exemplo: “No tocante aonoticiado crime de furto, o Ministério Público requer o arquivamento do inquérito policial, em face daausência de justa casa para propositura de ação penal, sem prejuízo da regra contida no art. 18 doCódigo de Processo Penal”;

g) Extinção da punibilidade no tocante a outro agente ou a fato diverso: não há falar emarquivamento do inquérito policial. Exemplo: “Em relação ao crime de dano simples, de ação penalprivada (CP, art. 167), e levando em conta o decurso do prazo decadencial sem ajuizamento dequeixa-crime, requer-se seja declarada a extinção da punibilidade, com fundamento no art. 107, inc.IV, do Código Penal”;

h) Investigações suplementares no tocante a outro crime ou outro agente: “Em relação ao crimede ___ (ou “em relação à conduta de X”), requer-se a extração de cópias dos autos e remessa àDelegacia de Polícia, para investigação em autos apartados”;i) Prisão preventiva: requer sua decretação, se cabível, ou manifestar-se sobre sua revogação oumanutenção, caso já tenho sido decretada;

j) No Estado de São Paulo, observar o Provimento nº 32/2000 da Corregedoria-Geral de Justiça,o qual autoriza a ocultação dos nomes das vítimas e testemunhas, nos crimes que admitem a prisãotemporária;

k) Em se tratando de crime hediondo, requerer prioridade na tramitação do processo, nos termos doart. 394-A do Código de Processo Penal.

CRIMES EM ESPÉCIE – COTAS E CUIDADOS NA DENÚNCIA:Homicídio – Art. 121 do Código Penal

a) exame necroscópico;

b) não colocar o privilégio, ainda que esteja descrito no problema; e

c) no homicídio culposo, indicar a modalidade da culpa, descrevendo minuciosamente no que estaconsistiu.

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Furto – Art. 155 do Código Penal

a) avaliação do bem, se não existir;

b) a agravante do repouso noturno só se aplica à modalidade simples, prevista no caput;c) não colocar o privilégio, ainda que esteja em tese caracterizado;

d) se aplicável o § 3º (norma penal explicativa ou complementar), mencionar no pedido;

e) destruição ou rompimento de obstáculo – esta qualificadora exige prova pericial;

f) fraude – explicar no que consistiu;

g) escalada – é recomendável a prova pericial; eh) chave falsa – exige perícia no objeto.

Roubo – Art. 157 do Código Penal

a) Emprego de arma: se a arma foi apreendida, deve ser periciada;

b) A identificação do art. 157, § 2º, V: distinção entre restrição e privação da liberdade da vítima.

Estelionato – Art. 171 do Código Penal

É preciso descrever a fraude, detalhadamente, e apresentar o duplo resultado, ou seja, a vantagemilícita obtida pelo agente e o prejuízo patrimonial causado à vítima.

Sendo a vítima idosa (art. 171, § 4º), requerer a juntada de documento comprobatório da idade, casonão instrua o inquérito policial.

Receptação – Art. 180 do Código Penal

a) Prova da origem criminosa do bem: deve ser indicada na denúncia; e

b) Receptação culposa é infração penal de menor potencial ofensivo.

Estupro – Art. 213 do Código Penala) se qualificado pela lesão grave ou morte, exige perícia;

b) Regra geral: a ação penal é pública condicionada à representação do ofendido. Portanto, énecessário fazer menção, na denúncia, à condição de procedibilidade, indicando a folha dos autos emque se encontra.

Crimes de falso

A falsidade documental exige perícia para comprovação da materialidade do fato, ao contrário dafalsidade ideológica.

Lei de Drogas – Lei nº 11.343/2006

a) Cuidado com o exame químico-toxicológico: na cota, é preciso requerer sua remessa a juízo, se jáfoi requisitado pela autoridade policial. Em caso contrário, o Ministério Público deve pleitear pela suaelaboração e posterior juntada aos autos da ação penal;

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b) Não colocar a causa de diminuição do art. 33, § 4º;

c) Possibilidade de concurso material entre o tráfico de drogas (art. 33, caput) e a associação para otráfico (art. 35); e

d) Verificar a incidência das causas de aumento da pena previstas no art. 40, e mencioná-las nadenúncia.

Código de Trânsito Brasileiro – Lei 9.503/1997

Atenção nas agravantes específicas previstas no art. 298, as quais devem ser mencionadas nadenúncia, quando presentes.

Estatuto do Desarmamento – Lei 10.826/2003a) Perícia na arma, acessório ou munição;

b) Distinção no tratamento penal entre armas de fogo de uso permitido ou de uso restrito; e

c) Atenção nos arts. 19 e 20: reflexos penais, em determinados crimes, nas armas de fogo de usorestrito, bem como na qualidade do sujeito ativo.

Utiliza-se “cidade” quando a infração penal foi cometida na zona urbana, e “município” na hipótese de sua realizaçãona área rural.STF: Inq. 2245, rel. Min. Joaquim Barbosa, Plenário, j. 09.11.2007.No momento da sua instauração, o inquérito policial recebe um número. Posteriormente, ao ser distribuído em juízo,o procedimento investigatório recebe uma nova numeração, que irá acompanhá-lo até o seu arquivamento, ou entãodurante o tramite da ação penal dele resultante.Manual de Atuação Funcional do Ministério Público do Estado de São Paulo. Art. 47, inciso VII.Hidejalma Muccio (Prática de Processo Penal. 5.ª ed. São Paulo: Método, 2009. p. 352) considera errônea aindicação do tipo penal no início da denúncia sob o argumento de que “soa sem sentido lógico algum”. Naverdade a indicação do tipo penal logo no primeiro parágrafo constitui facilitador do entendimento da narrativa quese segue, uma vez que proporciona ao juiz uma imediata visão panorâmica e integral da conduta, funcionando maisou menos como a ementa que precede o julgado. A opção pelo primeiro modelo, que apresenta a imputação ao finalestá mais calcada na tradição, do que em qualquer fundamento lógico ou jurídico.Art. 155, § 4º, inciso IV: “mediante concurso de duas ou mais pessoas”. – Art. 157, § 2º, inciso II: “se há oconcurso de duas ou mais pessoas” (grifado).Não se aplicam as disposições da Lei 9.099/1995, em face da violência doméstica ou familiar contra a mulher, nostermos do art. 41 da Lei 11.340/2006 – Lei Maria da Penha. A propósito, estatui a Súmula 536 do SuperiorTribunal de Justiça: “A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitossujeitos ao rito da Lei Maria da Penha”.Em concursos do Ministério Público, é importante destacar que o crime continuado, pelo fato de constituir-se eminstituto afeto às teses defensivas, somente deve ser utilizado quando o problema apresentar categoricamente todosos requisitos exigidos pelo art. 71 do Código Penal. Na dúvida, recomenda-se a opção pelo concurso material. Comefeito, a continuidade delitiva nada mais é do que uma forma especial de concurso material, repleto de diversasimposições legais.É importante recordar da legitimidade concorrente consagrada na Súmula 714 do Supremo Tribunal Federal: “Éconcorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, condicionada à representação do

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ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções”.

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4.1 Suspensão do processo após a citação por edital: de acordo com o art. 366 do Código deProcesso Penal: “Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarãosuspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produçãoantecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nostermos do disposto no art. 312”.

É importante frisar que a suspensão reclama a presença de 3 (três) requisitos cumulativos:

Nesse caso, aberta vista dos autos ao Ministério Público a manifestação ficaria assim:

VISTA

Aos 10 dias do mês de junho de 20__ faço estes autos com vista ao Promotor deJustiça Doutor Fulano de Tal. Eu, _________, Escrevente, digitei.

Autos nº XXX/ANO

MM. Juiz,

O réu “A” foi citado por edital (fls.132), não compareceu em juízo e nem constituiudefensor, de acordo com a certidão de fls. 149.

Inicialmente, requer-se seja certificado pela zelosa serventia se já foi tentada a citaçãodo acusado “A” em todos os endereços indicados nos autos. 1 Caso positivo, nostermos do art. 366 do Código de Processo Penal, desde já fica pleiteada a suspensãodo processo e do prazo prescricional, desmembrando-se os autos em relação aeste acusado.1

O processo deverá ficar suspenso pelo prazo prescricional previsto no art. 109, inc.(__), do Código Penal, e só a partir de então a prescrição da pretensão punitivavoltará a fluir 2 .2

Não há necessidade de produção antecipada de provas, uma vez que os fatos

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descritos na denúncia encontram-se demonstrados pela farta documentaçãoencartada aos autos. 3

De igual modo, não há razão legítima para a decretação de prisão preventiva, poisnão se vislumbra a presença dos requisitos e pressupostos elencados pelo art. 312 doCódigo de Processo Penal. 4

Por fim, requer-se a vinda aos autos, semestralmente, de folha de antecedentes doréu, com o escopo de verificar a existência de novos procedimentos que possam levarao seu paradeiro. 5

Cidade, dia, mês e ano.

Promotor de Justiça

Verificar se foi procurado em todos os endereços

Requerer cálculo do prazo de suspensão

Manifestar sobre produção antecipada de prova

Manifestar sobre prisão preventive

Mecanismo de busca do paradeiro do réu

No que diz respeito à produção antecipada de provas, de acordo com a Súmula nº 455 doSuperior Tribunal de Justiça: “A decisão que determina a produção antecipada de provas com baseno art. 366 do CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o merodecurso do tempo”. Como se vê, faz-se necessária a incidência de probabilidade de perecimento ouprejuízo da prova para fundamentar o pedido de antecipação, como por exemplo, o fato detestemunha importante estar com idade avançada e/ou saúde prejudicada, o que tornaria provável suaimpossibilidade de prestar depoimento em futuro não muito distante.

4.2 Suspensão condicional do processo: a suspensão condicional do processo encontra-se previstano art. 89 da Lei nº 9.099/1995:

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano,abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderápropor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não estejasendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demaisrequisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).

§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a

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denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob asseguintes condições:

I – reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;

II – proibição de frequentar determinados lugares;III – proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz;

IV – comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificarsuas atividades.

§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desdeque adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.

(…)

Para que haja proposta de suspensão condicional do processo deve haver a cumulação dosseguintes requisitos:

Quando o legislador fez referência ao art. 77 do Código Penal, que trata do sursis, basicamentese referiu às circunstâncias subjetivas, “culpabilidade, os antecedentes, a conduta social epersonalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias”.

A condição do inc. I – reparação do dano –, não estará presente em todos os crimes edependerá das condições financeiras do acusado. Na proposta do Ministério Público bastará aindicação da condição (reparação do dano). Em audiência, sendo fixada, deverá ser líquida (indicar ovalor da reparação) ou a forma de apurá-lo, como a obtenção de três orçamentos. Deverá ser fixadotambém um prazo para seu cumprimento. Em caso de parcelamento, será necessário indicar as datasde vencimento. Finalmente, o modo de comprovação de seu cumprimento, tudo constando do termo.

Tanto quanto a reparação do dano, a condição do inc. II – proibição de frequentardeterminados lugares – estará diretamente relacionada ao tipo de crime e às condições pessoais doacusado. Em delitos contra a pessoa, a proibição pode recair sobre lugares frequentados pela vítima.Em crimes relacionados a lugares específicos, como os praticados nas torcidas de futebol, a proibiçãopoderá recair sobre a frequência ao estádio, ou frequência aos bailes de determinado clube, onde oacusado envolveu-se em brigas. Dependendo da situação do acusado, a proibição de frequência abares em geral pode ser também desejável. De qualquer modo, a efetividade da medida dependerá daeficiência e interesse na fiscalização, seja por parte da própria vítima, da polícia, ou do responsávelpelo local, que deverá ser intimado da proibição.

No caso do inc. III – proibição de ausentar-se da comarca – a condição, adequada a qualquertipo de infração penal, deverá adaptar-se a eventuais circunstâncias pessoais do acusado. Não seriarazoável exigir do acusado, caminhoneiro e que viaja corriqueiramente para destinos longínquos, quepedisse autorização judicial para cada viagem. Deve-se considerar também que a lei fala em“ausentar-se” e não em sair da comarca. Assim, não se pode acusar de ausentar-se o réu que viajou àcomarca vizinha para fazer compras, retornando em seguida. Na prática, é estabelecido um prazo paraa ausência, do tipo “não se ausentar da comarca por mais de uma semana, sem autorização do

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juiz”. De qualquer forma, as dificuldades de fiscalização tornam a medida quase inócua.O comparecimento pessoal a juízo, entre as condições legais, normalmente é a mais efetiva.

Aplica-se a qualquer tipo de infração penal e seu cumprimento prescinde de fiscalização externa.Também nesse caso, as condições pessoais do acusado poderão influenciar na frequência, como, porexemplo, o caso de réu morador na zona rural, muito distante da sede da comarca, quecomprovadamente não disponha de condições ou meios para comparecer mensalmente a juízo.

O § 2º traz interessante permissão para ampliação do rol de condições, a qual possibilita oadequado tratamento do caso concreto. Muito embora na dicção do § 2º “o juiz poderá especificaroutras condições”, nada obsta que estas outras condições venham indicadas na proposta doMinistério Público. Exemplos de condições possíveis é a obrigação de frequência a grupos de apoio,como Alcoólicos Anônimos, Neuróticos Anônimos, etc., frequência a projetos sociais, ou submissão atratamento psicológico ou psiquiátrico, custeado ou não pelo acusado. Em qualquer caso, érecomendável um contato prévio com a entidade para que, não só seja ajustado um meio de controlede frequência, mas também para a discussão de mecanismos visando a não criação de problemas parao bom andamento dos trabalhos em face da presença do réu.

A proposta de suspensão condicional do processo ficaria assim:

Autos nº XXX/ANO

MM. Juíza,

Presentes os requisitos do art. 89 da Lei 9.099/95, bem como os do art. 77 do CódigoPenal, o Ministério Público propõe a suspensão do processo pelo prazo de 02 (dois)anos 1 , e requer a designação de audiência específica 2 para a proposta desuspensão do processo.

Requer-se também a intimação do acusado e seu defensor, ficando a critério dadefesa técnica, caso entenda viável a absolvição sumária, o oferecimento de defesaescrita 3 (art. 396 do Código de Processo Penal), antes da audiência de proposta desuspensão, visando tornar prejudicada a proposta.

A suspensão poderá ser efetivada mediante o cumprimento das seguintes condições:

1 – proibição de frequentar, entrar ou permanecer em bares e suas dependências,incluindo as mesas postas na calçada ; 4

2 – proibição de ausentar-se da comarca onde residir por mais de uma semana 5 ,sem autorização judicial;

3 – comparecer pessoalmente ao Fórum todos os meses para informar e justificar suasatividades;

4 – reparação do dano no prazo fixado em audiência 6 , que será comprovado

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mediante a juntada de recibo aos autos firmado pela vítima ou seus sucessores ; 7

5 – entrega da Carteira Nacional de Habilitação em cartório, com sua apreensão peloprazo de 60 dias; 8

6 – frequência obrigatória às sessões do projeto “Escola da Vida” pelo períodomáximo de 26 semanas, com reuniões semanais. 8

Prazo da suspensão

Antes da audiência de instrução, que ficará prejudicada

Isso evitará a realização da audiência se não houver interesse da defesa

Especificar o lugar

Prazo de ausência

Prazo

Prova

Desde que adequadas ao crime

4.3 Resposta à defesa escrita: a defesa escrita vem definida pelo art. 396-A do Código de ProcessoPenal, como a oportunidade para “arguir preliminares e alegar tudo o que interesse à sua defesa,oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas”.

O primeiro objetivo da defesa escrita é a obtenção da absolvição sumária, e para isso seránecessário demonstrar a presença de uma das hipóteses do art. 397 do CPP.

O segundo objetivo é a apresentação de provas ou teses que, por algum motivo, interessem àdefesa que o Juiz as conheça antes do início da instrução.

Finalmente, o terceiro objetivo é a especificação das provas que a defesa pretende produzir.Muito embora o Código de Processo Penal silencie sobre a oitiva do Ministério Público após a

defesa escrita, em obediência ao princípio do contraditório os autos deverão seguir com vista aorepresentante do Parquet, sempre que, em razão da defesa escrita, o Juiz tiver que adotar algumadecisão, mesmo que seja a simples admissão da prova especificada pela defesa. Caberá então aoMinistério Público manifestar-se sobre a pretensão da defesa:

Autos nº XXX/ANO

MM. Juiz,

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O denunciado ofereceu defesa escrita, alegando não ter sido o autor do delito a eleimputado.

1 – A IMPOSSIBILIDADE DE ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA

Os elementos de informação constantes do inquérito policial são suficientes pararespaldar a denúncia. Como é cediço, não se exige prova absoluta para o seurecebimento, vigorando neste estágio o princípio in dubio pro societate.

Ao que se verifica, estão ausentes as situações previstas no art. 395 do Código deProcesso Penal, já que é típica a conduta descrita na denúncia 1 ; não incide no casonenhuma causa extintiva da punibilidade; presente a legitimidade da parte e as demaiscondições exigidas para o exercício da ação penal, não havendo falar em inépcia dainicial acusatória.

Destarte, demonstrada a tipicidade da conduta e diante dos elementos reunidos noinquérito policial, há justa causa para a ação penal.

A antecipação de mérito, por óbvio não será cabível, só podendo ocorrer em casos deflagrante imprestabilidade dos elementos informativos já produzidos, situação queensejaria a rejeição da denúncia, o que não é o caso dos autos.

2 – A PROVA DOCUMENTAL APRESENTADA

Instruiu a defesa prévia uma declaração impressa, supostamente subscrita por “A”,atestando que na data do fato o acusado estaria trabalhando em seu sítio, distante120 Km do local do crime. 2

Curioso é que a defesa não arrolou o subscritor da declaração como testemunha,pretendendo provar a ausência do réu do local do crime com uma declaração cujocerne não foi submetido ao crivo do contraditório, pretendendo com isso privar oMinistério Público de inquirir o declarante. 2

A prova, tal como apresentada, não pode ser aceita, ficando desde já impugnada peloMinistério Público, podendo seu subscritor ser ouvido como testemunha do juízo, seassim entender Vossa Excelência. 2

3 – A PROVA TESTEMUNHAL

Se, por um lado, a defesa não se deu ao trabalho de arrolar uma testemunha cujorelato poderia eventualmente comprovar a tese da negativa de autoria, indicou duastestemunhas residentes em distantes estados da Federação, sendo uma no Estado

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(estado) e outra no Estado (estado). 3

Em nenhum momento explicou o Nobre Defensor o que pretende provar com a oitivade tais pessoas, o que pode levar à presunção de que se trata de prova meramenteprotelatória. 3

Na reforma processual penal de 2008, o legislador, com nítida intenção de tornar oprocesso mais racional e célere, dispôs no art. 396-A que em sua resposta deverá oacusado “ especificar provas”. 3

“Especificar”, como se sabe, é mais do que simplesmente “indicar”. Não basta,portanto, simplesmente dizer que pretende a produção de prova testemunhal eapresentar o rol, uma vez que “ especificar” é “descrever com minúcias”. 3

O dispositivo tem sua razão de ser, uma vez que a nova redação do art. 400 doCódigo de Processo Penal faculta ao Juiz o indeferimento de provas que considerar“ irrelevantes, impertinentes ou protelatórias”. Ora, só será possível ao Juiz apreciara relevância, pertinência ou o caráter protelatório de provas que forem devidamenteespecificadas. A celeridade que pretendeu o legislador imprimir ao rito certamente nãose coaduna com um indeferimento póstumo, após a produção da prova, quando o bomandamento do feito já houver sido protelado. 3

E uma das provas mais irrelevantes e protelatórias que o processo penal conhece é achamada testemunha de antecedentes. A chamada a juízo de parentes e amigosíntimos do réu para narrarem a apreciação pessoal sobre seus antecedentes, paracrimes como o presente, é absolutamente irrelevante para o julgamento da causa,constituindo expediente flagrantemente protelatório. E a intenção de protelar oandamento do feito é ainda reforçada pelo fato de terem sido arroladas pessoasresidentes em locais muito distantes da comarca, que dificilmente teriam algumconhecimento relevante sobre o fato em julgamento. 3

Imprescindível se faz que a defesa especifique suas provas, esclarecendo o quepretende provar com o relato das testemunhas arroladas, sob pena de indeferimentoda prova. 3

Pelo exposto, aguarda-se a designação de audiência de instrução e julgamento. 3

Afastando as hipóteses de absolvição sumária

Impugnando a prova apresentada

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3 Analisando a especificação de provas

É evidente que a manifestação acima abrangeu diversas hipóteses não tão corriqueiras nocotidiano forense. Em regra, a defesa escrita não adianta provas ou teses, e, inexistindo prova inútil ouprotelatória, a resposta à defesa prévia poderá ficar restrita à primeira parte.

4.4 Aditamento da denúncia:Conceito: é a modificação da denúncia para o acréscimo, supressão ou modificação de dado,

fato ou circunstância, para a inclusão de outro denunciado, ou ainda para a adequação da capitulaçãolegal.3 O aditamento pode ocorrer tanto para a correção de erro, quanto para a adaptação da denúnciaà situação que só veio ao conhecimento do Ministério Público após a sua elaboração.

Momento: a qualquer momento, antes da prolação da sentença, lembrando que a modificação daimputação implicará em nova dilação probatória (art. 384 do CPP). A mera correção de errosmateriais que não alterem a acusação não enseja alterações no curso processual. Pode-se citar comoexemplos a correção da grafia do nome do réu, ou a mera adequação do artigo correspondente àdescrição fática, quando, por hipótese, a denúncia descreve um crime de roubo, com todos os seuselementos, mas indica o art. 155, ao invés do art. 157 do Código Penal.

Forma: o aditamento à denúncia pode ser feito por meio de cota, estando os autos com vistapara o Ministério Público, por meio de petição, ou no termo de audiência. Não há fórmula especial,bastando a indicação daquilo que se pretende modificar, acrescentar ou suprimir:

Autos nº XXX/ANO

MM. Juiz,

“A” foi denunciado e está sendo processado como incurso no art. 180, § 3º do CódigoPenal, por ter adquirido de um adolescente, um telefone celular ( smartphone) produtode furto, avaliado em R$ 1.000,00, pagando por ele a quantia de R$ 600,00. 1

Durante a instrução foi constatado que “A” sabia da origem ilícita do objeto adquirido,já que a testemunha “T” afirmou ter presenciado quando o denunciado indagou doadolescente sobre a procedência do aparelho, ouvindo dele que havia arrumado emuma “fita”. O acusado tanto estava ciente da origem criminosa que ainda perguntou aoadolescente se “ não ia dar rolo”. 2

Considerando a prova existente nos autos de elemento da infração penal não contidona acusação, nos termos do art. 384 do Código de Processo Penal, o MinistérioPúblico adita a denúncia para que dela fique constando o seguinte:

“o denunciado adquiriu e recebeu o telefone celular descrito a fls. 23, coisa quesabia ser produto de crime de furto, razão pela qual incorreu no disposto no art. 180,

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1

2

3

caput, do Código Penal”. 3

Ficam mantidos os demais termos da denúncia que não estejam em contradição com opresente aditamento.

Pelo exposto, após cumprido o previsto pelo art. 384, § 2º, do Código de ProcessoPenal, aguarda-se o recebimento do presente aditamento e prosseguimento até finalcondenação.

Breve relatório

Indicação do motivo do aditamento

Aditamento

4.5 O incidente de insanidade mental ou de dependência química do acusado:Conceito: é o procedimento utilizado para verificar se o acusado possui algum distúrbio mental

ou dependência químico-toxicológica capaz de afastar ou atenuar sua responsabilidade pela prática docrime.

Objetivo: afastar ou não a aplicação da pena, aplicar medida de segurança, em caso deinimputabilidade (CP, art. 26, caput), ou reduzir a pena, com eventual substituição por medida desegurança, em caso de semi-imputabilidade (CP, art. 26, p. único).

Fundamento legal: arts. 149 e ss. do Código de Processo Penal. Especificamente para os casosde dependência de drogas, a questão é disciplinada pelos arts. 45 e ss. da Lei nº 11.343/2006.

Legitimidade para provocar a instauração: os familiares do réu indicados no art. 149 doCódigo de Processo Penal, as partes (defesa e acusação) além da Autoridade Policial. O incidentetambém pode ser instaurado, de ofício, pelo magistrado.

Requisitos para instauração: a existência de dúvida razoável sobre a insanidade oudependência do réu, capaz de comprometer sua capacidade de entendimento do fato criminosoimputado, ou determinar-se de acordo com esse entendimento. Neste contexto, a simples alegação doacusado ou da defesa acerca da dependência, ou insanidade, desacompanhada de outros elementos deconvicção não será suficiente para embasar a instauração do incidente:

Autos nº XXX/ANO

MM. Juiz,

“A” foi denunciado e está sendo processado como incurso no art. 33, caput, da Lei nº11.343/2006, por ter sido surpreendido quando tinha em depósito 21g de cocaína. 1

Na petição de fls. 59 a defesa requereu a instauração de incidente de constatação dedependência químico toxicológica, alegando ser usuário de cocaína, sendo que a

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1

2

3

4

droga apreendida destinava-se ao seu uso. 1

O pedido deve ser indeferido.

A simples admissão pelo réu de que é usuário de cocaína e que a droga encontradaem seu poder era destinada ao seu próprio consumo não autoriza a instauração doincidente de dependência. 2

Além da palavra do acusado, não existe nenhum outro elemento nos autos a indicarque seja ele efetivamente dependente de substância entorpecente. 2

Para a instauração do incidente de insanidade mental ou de dependência químico-toxicológica é fundamental a existência de dúvida razoável sobre a higidez mental doagente ou de sua dependência química, incompatível com uma simples alegação deque a cocaína apreendida destinava-se ao uso próprio. 2

Como já decidido pelo Supremo Tribunal Federal, não constitui constrangimento ilegalo indeferimento de pedido da instauração de incidente de insanidade quando não hádúvida razoável sobre a higidez mental do acusado (HC 97.098/GO, rel. Min. JoaquimBarbosa, 2ª Turma, j. 28.4.2009, noticiado no Informativo 544). 3

Diante do exposto, aguarda o Ministério Público o indeferimento do pedido deinstauração do incidente de constatação de dependência químico-toxicológica. 4

Breve relatório

Argumentação

Jurisprudência

Conclusão pedido

Atuação do Ministério Público: requerer a instauração do incidente, caso haja indícios deinimputabilidade ou semi-imputabilidade penal, e zelar para que a constatação pericial seja condizentecom a real condição do acusado, mediante o oferecimento de quesitos e análise do laudo. Se ainstauração do incidente for pleiteada pela defesa, verificar a existência de elementos que ajustifiquem, ou eventual caráter protelatório.

Quando não houver óbice na instauração do incidente, a manifestação do Ministério Públicodeverá incluir os quesitos:

Autos nº XXX/ANO

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MM. Juiz,

“A” foi denunciado e está sendo processado como incurso no art. 33, caput, da Lei nº11.343/2006, por ter sido surpreendido quando mantinha em depósito 12g decocaína. 1

A defesa requereu a instauração de incidente de constatação de dependência químicotoxicológica, alegando ser o acusado dependente de cocaína, e por esta razão adroga apreendida destinava-se ao seu consumo pessoal. 1

O pedido deve ser deferido.

A petição veio instruída com farta documentação demonstrando que o acusado jáesteve internado por três vezes em clínicas especializadas no tratamento do vício dadroga, apresentando também atestado subscrito por seu médico, o qual contémminucioso relatório fundamentando a conclusão da dependência. 2

Se por um lado a documentação trazida aos autos pela defesa por si só não é capazde comprovar a dependência, é certo que constitui prova suficiente para gerar adúvida razoável necessária à formação do incidente. 2

Pelo exposto, o Ministério Público concorda com a instauração do incidente,oferecendo desde já os seguintes quesitos: 3

1º Quesito: O réu usa drogas? Em caso positivo, qual o tipo de droga por eleutilizada e desde quando vem ele fazendo uso desta substância? 4

2º Quesito: O réu é dependente de drogas? 4

3º Quesito: Em sendo positiva a resposta ao quesito anterior, indaga-se: o que fazconcluir a sua dependência (quais sintomas, efeitos ou consequências dadependência)? 4

4º Quesito: O réu, em razão da dependência, ao tempo dos fatos, era inteiramenteincapaz de entender o caráter ilícito de sua conduta ou de determinar-se de acordocom esse entendimento? 4

5º Quesito: O réu, em razão da dependência, ao tempo dos fatos, possuía a plenacapacidade de entender o caráter ilícito de sua conduta ou de determinar-se deacordo com esse entendimento? 4

6º Quesito: (quando for pertinente): Em sendo positiva a resposta ao 2º Quesito,

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4

indaga-se: é o réu, em razão da dependência, incapaz para os atos da vida civil. Aincapacidade é absoluta ou relativa? 4

7º Quesito: (quando for pertinente): Se positiva a resposta para incapacidade relativa(6º quesito), indaga-se: Quais atos não pode praticar? 4

8º Quesito: O réu necessita de tratamento especializado? Em que consistiria essetratamento? Qual o tempo de duração desse tratamento? 4 4

Breve relatório

Argumentação

Conclusão

Quesitos

No caso de incidente de insanidade mental, e não de dependência química, os quesitos ficariamassim:

1º Quesito: O acusado, ao tempo da ação (ou da omissão), por motivo de doençamental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era inteiramente incapazde entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esseentendimento?

2º Quesito: O acusado, ao tempo da ação (ou da omissão), por motivo de perturbaçãoda saúde mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, estava privadoda plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se deacordo com esse entendimento?

3º Quesito (se afirmativa a resposta ao quesito anterior): Está presente apericulosidade apta a justificar a imposição de internação ou de tratamentoambulatorial? Justificar.

4º Quesito: Qual o prazo mínimo necessário da medida de segurança de internaçãoou tratamento ambulatorial?

5º Quesito: (quando for pertinente): Em sendo positivas as respostas aos Quesitos 1ºe 2º, indaga-se: é o acusado, em razão de sua doença mental ou desenvolvimentomental incompleto ou retardado, incapaz para os atos da vida civil? A incapacidade éabsoluta ou relativa?

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6º Quesito: (quando for pertinente): Se positiva a resposta para incapacidade relativa(Quesito 5º), quais atos não pode praticar?5

Manual de Atuação Funcional das Promotorias de Justiça Criminais. Ministério Público do Estado do Rio deJaneiro. Item 3.9, p. 80.Súmula 415 do Superior Tribunal de Justiça: “O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelomáximo da pena cominada”.Manual Básico para a Atuação do Promotor de Justiça. Ministério Público do Estado do Ceará. Item 1.2.2.4, p.56/57.Manual de Atuação Funcional dos Promotores de Justiça do Estado de São Paulo – Anexo III.Manual de Atuação Funcional dos Promotores de Justiça do Estado de São Paulo – Anexo I.

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5.1 Conceito: é a manifestação escrita que analisa a prova produzida na ação penal e forma aconclusão do que o Ministério Público pretende como resultado.

5.2 Previsão legal: o memorial está previsto como forma de exceção às alegações orais do MinistérioPúblico (CPP, art. 403, § 3º), pois a regra consiste na realização de debates em audiência (CPP, art.403, caput). Na prática a utilização do memorial vai depender da preferência do Magistrado e domembro do Ministério Público, da pauta de audiências e do volume de serviço da vara.

A análise do processo antes da audiência proporcionará ao representante doParquet não apenas a maior eficiência na produção da prova, mas tambémmaior facilidade para as alegações em audiência, evitando o memorial, queexigirá maior dispêndio de tempo e novo estudo dos autos.

Quando dos debates, as alegações orais, em regra, são ditadas aoescrevente, para que constem do termo. Mas é possível, nos debates, quandoo Juiz for sentenciar na sequência, que os argumentos das partes, deduzidosoralmente ao Juiz, constem do termo como um “breve resumo dos fatosrelevantes”, conforme preceitua o art. 405 do Código de Processo Penal,1 emhomenagem ao princípio da oralidade.

Nesse caso, constando do termo o resumo, deverá necessariamente ser inserida atese deduzida (Exemplo: O Ministério Público sustentou a condenação,entendendo comprovados os fatos imputados pela denúncia), e o pedido comtodos os seus detalhes: fixação da pena-base, incidência de agravantes eatenuantes, causas de aumento e de diminuição, especificando, se for o caso, afração pleiteada (1/2, 2/3 etc.), e o regime inicial para cumprimento da pena. Ouseja, mesmo que se admita que conste do termo apenas um resumo da análise daprova, o pedido para a fixação da pena terá que ser detalhado.

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1

2

O correto é “memorial”, no singular. Só é possível falar em “memoriais” quando setem mais de um. Quando o art. 403, § 3º, do Código de Processo Penal fala em“memoriais” está utilizando o plural: “conceder às partes o prazo de 5 (cinco) diassucessivamente para a apresentação de memoriais”.

5.3 Terminologia: como já explicado acima, a terminologia adequada para denominar o autor docrime no memorial é “réu” ou “acusado”.

5.4 Estrutura: a estrutura do memorial é formada basicamente por três partes: relatório, análise daprova e do direito e pedido. Com efeito, o memorial deve constitui-ser em um “esboço” dasentença almejada pelo Ministério Público.

5.4.1 Relatório: é o breve resumo do crime e dos atos do procedimento, que dá início àredação do memorial.

MEMORIAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Autos nº XXX/ANO 1

MM. Juíza, 2

“A”, vulgo “L”, e “B” foram denunciados e estão sendo processados como incursos noart. 157 § 2º, incs. I e II, do Código Penal. 3

Narra a denúncia que os acusados, agindo em concurso e mediante grave ameaçaexercida com o emprego de arma de fogo, dirigiram-se ao depósito de bebidas “T”, deonde subtraíram para eles cerca de R$ 850,00 em dinheiro, além de uma garrafa deuísque Old Night, avaliado em R$ 30,00. 4

Os acusados foram citados (fls. 39 e 40) e ofereceram defesas escritas (fls. 45 e46). 5

Em audiência foram ouvidas a vítima, duas testemunhas de acusação e uma dedefesa. Em seguida, procedeu-se aos interrogatórios. 5

(…)

Número dos autos

Autoridade a quem é dirigida

125

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3

4

5

Nome(s) do(s) réu(s) e imputação penal

Breve resumo da imputação

Principais ocorrências

5.4.2 Análise da prova e do direito: é a parte discursiva do memorial, equivalente àfundamentação na sentença.

Se necessário, antes de iniciar a análise da prova e do direito devem serapreciadas as questões levantadas em preliminar pela defesa em audiência ou emdefesa escrita, sobre as quais não tenha havido manifestação do Ministério Públicoe/ou decisão do magistrado.

É imprescindível ter em mente que o objetivo principal da análise da prova não é cumprir umaformalidade, mas convencer o julgador. Em alguns casos, bastará a mera indicação da prova:

(…)

A materialidade vem comprovada pelo auto de exibição e apreensão e pelo laudo deexame químico-toxicológico que constatou ser cocaína a substância apreendida naresidência do réu.

O acusado admitiu a propriedade da droga encontrada na cozinha de sua casa,dizendo que havia adquirido de uma pessoa que conhece apenas como “T”, pagandoa importância de R$ 300,00. Admitiu ter dividido o pó em pequenas embalagens para acomercialização, tendo vendido apenas duas trouxinhas antes da apreensão da drogapela Polícia Militar.

A confissão do acusado vem secundada pelo coerente relato dos dois policiais ouvidosem juízo, sob o crivo do contraditório. Ambos confirmaram a existência de reiteradasdenúncias de que o réu dedicava-se ao tráfico. Confirmaram também que do alto deum morro, nas imediações da residência do acusado, com a ajuda de um binóculo,puderam constatar a ocorrência do tráfico, com o frequente acesso de conhecidosusuários à residência do réu, chegando a visualizar a troca de dinheiro por pequenosobjetos que os usuários colocavam nos bolsos. Por fim, confirmaram a apreensão dadroga, estando cinco trouxinhas em uma gaveta e o restante, 122, escondidas em umasacola sobre o forro da cozinha. (…)

126

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Mas, em casos de maior complexidade, a análise da prova consistirá na concatenação de ideias eformulação de conclusões, como se vê no exemplo abaixo, em um caso de crime de fraude emprocedimento licitatório (Lei nº 8.666/1993, art. 90).

O texto abaixo está repleto de conclusões resultantes da análise dos dados que compunham aprova documental. Tais ilações não estavam escritas diretamente nas provas, mas foram extraídas apartir da comparação dos números, preços e características dos materiais objeto da licitaçãofraudulenta.

Em geral, crimes cuja prova é baseada em documentos demandam a análise mais elaborada doque situações de flagrante, em que a prova é basicamente testemunhal. No caso em análise, verídico,não foram arroladas testemunhas, mas simplesmente incluída na denúncia a tabela que demonstrava avariação de preços superfaturados exatamente nos mesmos lotes de cortinas da licitação, e com amesma proporção nas propostas das três empresas. Bastou a análise dos dados para demonstrar afraude.

(…)

Os três acusados, interrogados, negaram a ocorrência de qualquer combinação depreços.

Na verdade, a prova é exclusivamente documental, e a simples análise da planilhaimpressa na denúncia será suficiente para demonstrar a existência do ajuste entre oslicitantes.

Inicialmente, é importante ressaltar que na referida planilha constam preços obtidos detrês outras empresas, obtidas mediante solicitações por e-mails, conforme se vê dosautos, sendo certo que o objetivo principal não é demonstrar que o preço total dacontratação teria sido superior, e sim que os preços das três empresas cotadasguardam entre si certa coerência que reflete os preços do mercado. 1 Por outro lado,a análise comparativa entre os preços das empresas licitantes entre si e entre aslicitantes e as outras três empresas cotadas revelará a existência de curvas devariação de preços idênticas entre as três empresas licitantes, que não seriampassíveis de existência caso não tivesse existido a combinação entre elas. 1

Em apenas um único item (item nº 7 do Lote IV) o valor unitário da proposta daempresa “A” é superior ao das outras duas licitantes. Em todos os outros itens ospreços das outras duas licitantes são artificialmente superiores. 1 Até então a questãopoderia ser tratada como simples contingência de mercado, já que a análisecomparativa dos preços das outras três empresas que apresentaram orçamento irárevelar que os preços unitários do “B” são em sua maioria – e não na quase totalidade– superiores ao das duas concorrentes “C” e “E”.

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Mas o que bem revela a artificialidade dos preços e a combinação entre as trêslicitantes é a aberrante distorção que se nota em superfaturamento dos preços doslotes IV e V. 1

Enquanto as licitantes “D” e “A” apresentam para o Lote IV os preços totais de R$17.559,00, R$ 16.335,00 e R$ 15.362,00, respectivamente, o que perfaz uma médiade R$ 16.418,66, os preços das empresas cotadas “B”, “C” e “E” foram de R$7.652,90, 5.315,00 e R$ 5.291,86, o que representa uma média de R$ 6.086,58, ouseja, um superfaturamento na ordem de 269,75%. 1

No caso do Lote V a situação se repete. Enquanto as licitantes “D” e “A” apresentampara o Lote V os preços totais de R$ 10.870,00, R$ 9.910,00 e R$ 9.358,00,respectivamente, o que perfaz uma média de R$ 10.046,00, os preços das empresascotadas “B”, “C” e “E” foram de R$ 2.971,00, 2.069,00 e R$ 2.019,11, o querepresenta uma média de R$ 2.353,03, ou seja, um superfaturamento na ordem de426,93%. 1

O superfaturamento desses dois lotes não é inferido simplesmente pela comparaçãocom os preços das outras três empresas consultadas, mas em comparação com ospreços praticados pela própria empresa “A”. Como se pode constatar do orçamentofornecido pelo próprio acusado “E” (fls. 119), o superfaturamento ocorreu em relaçãoao próprio preço que a empresa “A” pratica no mercado. 2 Como se pode ver databela abaixo:

Lote / Item nº “A”Orçamentofornecido àPromotoria

Superfaturamento

Lote IV – EscolaBase

1 - 2,50 x 1,00 18 R$ 7.560,00 R$ 2.520,00 300%

2 - 1,70 x 1,00 1 R$ 398,00 R$ 90,00 442,22%

3 - 1,20 x 1,80 2 2 R$ 440,00

4 - 2,30 x 1,50 2 R$ 796,00 R$ 240,00 331,66%

5 - 2,50 x 1,50 2 R$ 840,00 R$ 280,00 300%

6 - 2,10 x 1,00 6 R$ 2.388,00 R$ 600,00 398%

7 - 2,30 x 1,50 2 R$ 1.216,00

8 - 2,20 x 1,50 2 R$ 680,00

9 - 3,30 x 1,50 1 R$ 504,00

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1

2

10 - 2,30 x 1,50 1 R$ 340,00 R$ 130,00 261,53%

11 - 1,30 x 0,90 1 R$ 200,00 R$ 70,00 285,71%

Lote V – Préescola– Base

1 - 1,70 x 1,50 15 R$ 8.970,00 R$ 1.350,00 664,44%

E mais, para que não reste qualquer dúvida sobre o superfaturamento dos lotes IV e V,basta comparar os valores dos itens constantes nas próprias propostas. Tome-secomo exemplo o item nº 1 do Lote III, em comparação com o item nº 2 do Lote IV.Ambos são cortinas em tecido tergal verão, franzidas em duas vezes o volume dotecido, argola grossa e varão grosso. Só existem duas variações entre os dois itens: oprimeiro é a cor do varão, sendo o primeiro padrão imbuia e o segundo padrão tabaco,o que não poderia alterar o preço de forma substancial; e o segundo a medida, 1,70mx 1,20m do lote III, enquanto a do Lote IV mede 1,70m x 1,00m, concluindo-se que a dolote IV teria que ser mais barata, pois é menor. Não obstante, enquanto a cortina doLote III teve valor unitário de R$ 90,00, à do Lote IV (item 2), foi atribuído o valor de R$398,00. Ambas têm exatamente o mesmo tecido, o mesmo material, mas a segundaque por ser menor deveria ser mais barata, tem preço 442,22% mais caro! 2

Esse item foi utilizado apenas como exemplo, mas, repita-se, os dois lotes, IV e V,estão com todos os preços superfaturados em comparação não só com os orçamentosdas empresas cotadas, mas com a cotação oferecida pelo próprio acusado “E” àPromotoria de Justiça (fls. 119) e ainda, inacreditavelmente, em comparação com osdemais lotes das próprias propostas ofertadas por cada um dos acusados. 3

A pergunta que se faz, e que consolida de uma vez por todas a prova acusatória é aseguinte: Seria possível aos três licitantes, sem combinarem preços, apresentarempropostas com idêntico superfaturamento em apenas dois lotes específicos? 3

Obviamente, não.

Nesse contexto e diante da flagrante distorção constatada nas propostas das trêslicitantes, a prova da combinação restou indiscutível.

Note-se que a prova documental juntada aos autos em nenhum momento foicontraditada pela defesa.

Conclusões

Conclusões

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3 Conclusões

Também em casos que envolvam escutas telefônicas será preciso trazer para os memoriais ostrechos dos diálogos interceptados que constituem o cerne do que se pretende provar, traduzindoexpressões e gírias em regra utilizadas para ocultar o objeto do diálogo, e também extraindoconclusões dos fatos em análise, não sendo suficiente a mera referência à prova. No texto abaixo serápossível identificar a indicação de fatos (provas consistentes em trechos da interceptação telefônica eprova testemunhal), mas também de conclusões advindas da análise dos fatos e das regras deexperiência comum.

As regras da experiência comum decorrem da reiteração de determinadas condutas como práticascorriqueiras, que permitem a presunção de que no caso concreto também ocorreram daquela forma.Um exemplo típico é o fato de o traficante não armazenar grande quantidade de droga em casa paraevitar o flagrante por tráfico, situação que se tornou usual em diversos casos e, por isso, diante de umdeterminado contexto, autoriza a presunção.

(…)

3. A INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA:

A simples apreensão da droga em poder do acusado poderia não ser suficiente para acaracterização do tráfico, havendo margem para a dúvida sobre o propósito mercantildo acusado, não fosse a farta prova obtida com a interceptação de suascomunicações telefônicas, a qual comprova, além da participação de cada um notráfico, também a associação do grupo para a prática ilícita.

O que chama a atenção nos diálogos transcritos é que são característicos deatividade criminosa, falando os interlocutores por códigos ou em meias palavras, masnão deixando dúvidas de que se tratava de comércio ilícito de drogas. 1

A fls. 60 vê-se um diálogo entre o acusado “A” e seu fornecedor “B” de (cidade), noqual aquele faz uma encomenda de “40” para o dia seguinte. Na data avençada, “A”retorna a ligação para “B”, reclamando da qualidade do produto e dizendo que está“úmida”.

Em outro diálogo (fls. 61), o fornecedor reclama com “A” que o rapaz responsávelpor buscar a droga lhe entregou dinheiro a menos, tendo sido combinado R$ 350,00pelos “40”, mas entregues apenas R$ 300,00. Tal fato comprova que “A” valia-se deterceira pessoa para o transporte da droga. 1 O que se nota do referido diálogo é autilização de gírias características da atividade ilícita como “fita” e “baguio”. 1

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A venda da droga por “A” também é revelada no diálogo transcrito a fls. 63 e 230/231,quando ele liga para um cliente, a testemunha “T”, oferecendo a venda doentorpecente.

Também a fls. 64 e 229, transcreveu-se um diálogo em que “A” oferece droga a umcliente, no caso a testemunha “U”, indagando se ele não queria pegar o “cd”. Não háqualquer dúvida de que se trata de droga, tanto que o consumidor alega que teria quereceber antes de estar com sua esposa, bem revelando a situação ilícita da transação,o que não ocorreria com a simples entrega de um “cd”. 1

A fls. 65 e 233, outro cliente liga para “A” em busca de droga, dizendo que queria dar“uns tirinhos”. “A” diz não possuir nada no momento, mas promete arrumar para o diaseguinte. Revela também que “E” teria algo, mas naquele momento ele estava nafaculdade. O cliente naquele momento está participando de uma “janta” com amigosem um pesqueiro.

No diálogo transcrito a fls. 228 é possível notar a intimidade existente entre osparceiros “ A” e “ F”, e o comprovado envolvimento deste último na associação 2 ,inclusive indagando “A” se “G”, o fornecedor da droga, teria uma arma de fogo paravender.

A fls. 66, 234 e 235, “A” conversa com “H” sobre a entrega de droga e recebimentode dinheiro proveniente da venda de drogas. Mais uma vez é utilizado o código “cd”para designar o objeto que, no contexto, não deixa qualquer dúvida que se trata dedrogas, restando também clara a participação de “ H” no tráfico. 2

Nos diálogos transcritos a fls. 68/70 “A” é solicitado a entregar drogas a um usuárioem (cidade) e para lá se dirige.

A fls. 71 e 238, em conversa com seu fornecedor, “A” solicita a entrega da droga,ouvindo dele que “pra mim ficá levano esse barato é embaçado, veio. Eu num gosto,véio. Eu num faço isso pra ninguém, tio”. Diante da recusa do fornecedor, “A” fica dearrumar alguém para buscar a droga de “motinha”. Logo em seguida, a fls. 239, “A”diz ao fornecedor que o rapaz da motinha, que no caso é o acusado “I”, irá buscar adroga.

A fls. 81 nota-se o diálogo de “A” com seu fornecedor, indagando sobre a qualidadeda droga a ser entregue.

A fls. 82 e 241, “I” liga para “A” para combinar a entrega da droga, dizendo que “já

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pegou o negócio”. Essa mesma situação é confirmada por “I” em seu interrogatório noinquérito policial.

A fls. 83 e 84, “A” conversa com alguns clientes oferecendo a droga (sempre pormeias palavras e códigos), sendo que no terceiro diálogo (fls. 84) combina de fazer aentrega da droga a um dos clientes.

A partir da interceptação telefônica foi identificado o fornecedor de “A” como sendo “J”,vulgo “L”, residente em (cidade), que utiliza o celular nº 0000-0000, cujo número eapelido estavam cadastrados na agenda do telefone celular de “A”.

O minucioso relatório subscrito pelo policial “V” (fls. 224 e ss.) descreve com precisãoas condutas dos acusados.

Deve-se ter em conta que o fato de nada ter sido encontrado em buscas realizadasem relação aos acusados “H”, “E” e “I” não os isenta de responsabilidade, uma vezque restou demonstrado que a venda era centralizada no acusado “A”, participando osdemais em condutas acessórias. 3 Deve-se considerar ainda o fato de que ostraficantes atualmente quase nunca guardam drogas em suas residências, sendocomum, principalmente em cidades do interior, a manutenção da droga emesconderijos em terrenos baldios, de onde somente tiram no momento da venda. 4

A prova da defesa ficou restrita à tentativa de demonstrar que seriam os acusadosusuários de drogas, situação que em nada interfere na prova do tráfico, tendo em vistaque é bastante comum a coexistência das duas figuras, pois muitas vezes o usuáriose vale do tráfico para sustentar o próprio vício. 4 Assim, mesmo se demonstrado quea situação financeira de alguns réus não fosse positiva, evidenciando o lucro pelotráfico, tal fato não pode servir para descaracterizar a prova da traficância, uma vezque, como já frisado, é comum que o traficante, mormente em associação, receba peloseu trabalho em espécie, ou seja, em drogas para uso pessoal, situação que nãodescaracteriza a conduta de participação nas atividades do tráfico. 4

A própria testemunha de defesa “X” confirmou a existência de comentários de que “E”era traficante.

A testemunha “Z” confirmou a entrega de drogas para “E” durante um churrasco,dizendo que a droga foi entregue por alguém que parou um carro em frente ao local.Disse que “E” chegou a fazer uso de drogas durante o churrasco, o que mais uma vezconfirma o fato de ser ele usuário, mas não afasta a imputação de tráfico e associaçãopara o tráfico.

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Conclusões

Conclusões

Conclusões

Regras de experiência comum

5.4.3 Pedido: o pedido deve conter uma prévia do que se espera do dispositivo da sentença. Emse tratando de pedido condenatório, é necessário esmiuçar cada uma das etapas da fixação dapena, definindo inicialmente a sua quantidade. Em seguida, é preciso estabelece como a pena serácumprida (regime prisional). Se as penas foram cominadas alternativas (exemplo: reclusão oumulta) exige-se a indicação de qual é a pena mais adequada ao caso concreto. Para as penas decaráter pecuniário deverá ser analisado o valor condizente com a situação financeira do réu. Deve-se opinar sobre a possibilidade e maneira de conversão da pena (substituição da pena privativa deliberdade por penas restritivas de direitos ou de multa). Posteriormente, é necessário tambémanalisar a incidência de algum efeito da condenação. Por último, se a medida mostra-seimprescindível, o Ministério Público deve manifestar-se sobre a decretação da prisão preventiva.

Fixação da pena privativa de liberdade:

5.4.3.1 A pena-base: é calculada levando em conta as circunstâncias judiciais (ou inominadas)previstas no art. 59 do Código Penal. Diante da presença de alguma destas circunstâncias, oMinistério Público deve indicar qual (ou quais) delas está caracterizada, fundamentando a suaincidência, para então indicar a pena aplicável e a sua quantidade. A quantidade não precisa sernecessariamente calculada ou indicada em fração acima do limite mínimo. Na maioria das vezes ésuficiente o emprego de expressões do tipo “a pena base deve ser fixada acima do mínimo legal”, ou“a pena base deverá se aproximar do limite máximo”. Mas também pode ser utilizada uma fórmuladeste jaez: “a pena base não poderá ser inferior a 05 anos de reclusão”.

5.4.3.2 Agravantes e atenuantes: diante da sua posição de “parte imparcial” no processo penal, oMinistério Público pode e deve pleitear, em favor do réu, as atenuantes eventualmente presentes nocaso concreto. No tocante às agravantes, a manifestação deverá indicar a prova dos autos quefundamenta sua incidência, quando não expressamente apreciada durante a análise da prova. Emambos os casos, agravantes e atenuantes, poderá ser sugerida a fração de aumento ou diminuição dapena, levando-se em consideração o disposto no art. 67 do Código Penal.2

5.4.3.3 As causas de aumento e diminuição da pena: é preciso indicar o quantum desejado para

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aumento ou diminuição da pena, não necessariamente indicando a fração, como por exemplo: “diantedo iter criminis percorrido, a causa de diminuição da pena prevista no art. 14, parágrafo único, doCódigo Penal poderá ser aplicada em fração máxima ou próxima ao máximo”. Nos termos do art.68, parágrafo único, do Código Penal, se presente mais de uma causa de aumento, ou mais de umacausa de diminuição, disciplinadas na Parte Especial (ou na legislação extravagante) poderá haver umsó aumento, ou uma só diminuição, “prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente oudiminua”, a qual deverá ser expressamente indicada no memorial.

Indicando o regime inicial de cumprimento de pena:

5.4.3.4 O regime inicial de cumprimento da pena: se houver necessidade de fixação de regimemais rigoroso, em situação que fuja à regra do art. 33, § 2º, do Código Penal,3 será necessário indicaras circunstâncias que justificam o regime pretendido. Do contrário, ou seja, quando o regime adequar-se à regra do art. 33, § 2º do Código Penal, basta a simples indicação do regime adequado àquantidade de pena pretendida.4

5.4.3.5 A indicação da pena adequada: alguns tipos penais permitem a opção entre a pena privativade liberdade e a multa,5 ou a cumulação de penas específicas, como é o caso da suspensão ou aproibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor, previstas no art. 292da Lei 9.503/1997 – Código de Trânsito Brasileiro. Em tais casos deve haver manifestação expressasobre a possibilidade, ou não, de opção pela pena alternativa, ou sobre a cumulação da penaespecífica, manifestando-se sobre sua dosimetria.

5.4.3.6 As penas de caráter pecuniário: a aplicação de pena de multa obedece a um sistemabifásico: (a) em primeiro lugar, o juiz fixa a quantidade de dias-multa; e (b) em seguida, será definidoo valor de cada dia-multa.É imprescindível a manifestação sobre a quantidade de dias-multa (mormente quando superior aomínimo legal). A quantidade de dias-multa (de 10 a 360 – CP, art. 49) deve ser definida a partir dautilização das mesmas etapas incidentes na aplicação da pena privativa de liberdade: circunstânciasjudiciais (art. 59) + agravantes e atenuantes + causas de aumento e de diminuição. Já para o cálculodo valor unitário do dia-multa, que pode variar de 1/30 do salário mínimo até 05 salários mínimos(CP, art. 49, § 1º), deverá ser considerada a condição econômica do réu, indicando-se a prova nosautos dessa condição, ou como se extraiu a conclusão de que o acusado deve arcar com um dia-multaem patamar superior ao mínimo legal. Igual raciocínio é aplicável à pena de prestação pecuniária,muitas vezes fixada de forma indiscriminada em “uma cesta básica”.

5.4.3.7 Os efeitos da condenação: os efeitos da condenação (arts. 91 e 92 do CP) incidentes nocaso concreto devem ser expressamente indicados, sendo, sempre que possível, indicado o valor dodano a ser ressarcido (art. 387, inciso IV do CPP).

Conversão da pena privativa de liberdade:

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5.4.3.8 A conversão da pena privativa de liberdade: se possível a conversão da pena privativa deliberdade por alguma pena alternativa (restritivas de direitos ou multa), o memorial deve expressar aconveniência ou não da conversão, indicando, no caso de conversão, qual(is) a(s) pena(s) maisadequada(s) ao caso concreto. Para tanto é preciso ter em conta o mandamento do art. 59 do CP, nosentido de que a fixação e escolha das penas deverá ocorrer “conforme seja necessário e suficientepara reprovação e prevenção do crime”. Assim, aplicar uma pena pecuniária a pessoa desempregadae de poucos recursos poderá incentivá-la à prática de novos crimes para obter dinheiro, sendo maisadequada para tais casos a prestação de serviços à comunidade. Já em relação a uma pessoa influentee abonada, a prestação de serviços à comunidade em uma entidade sem força e independênciasuficientes para fazer cumprir a pena, poderá significar impunidade, sendo mais adequada a aplicaçãode pena pecuniária compatível com sua situação financeira.

No caso de réu jovem, de família abastada, que não exerça atividadeprofissional, a opção por pena pecuniária viola o disposto no art. 5º, inc. XLV,da Constituição Federal (princípio da personalidade da pena)6 e não atingeuma das suas finalidades, qual seja, a retribuição do delito praticado.

Conversão da pena privativa de liberdade

Na prática, o pedido em um memorial, tratando-se de crime de homicídio culposo na direção deveículo automotor (CTB, art. 302), ficaria assim:

(…)

A PENA

1ª Fase: Considerando as circunstâncias judiciais do art. 59, caput, do Código Penal,verifica-se que a personalidade do agente 1 revela sua dedicação à utilização doautomóvel de maneira irresponsável, sem se importar com os limites da lei 2 , tantoque conforme revela a documentação de fls. 56, somente no último ano ele somou152 pontos em sua carteira de habilitação, com infrações diversas, sendo a maioriapor dirigir em velocidade superior à permitida e efetuar ultrapassagens em localproibido 3 , todas infrações classificadas como “gravíssimas” pelo Código de Trânsito.

Nesse contexto, para que atinja sua finalidade de reprovação e prevenção do crime, apena privativa de liberdade deverá ser fixada próximo ao limite superior de 04 anos de

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detenção. 4 Pelos mesmos motivos, a pena de suspensão da habilitação para dirigirveículo deverá igualmente ser fixada próximo ao limite superior de 05 anos. 4 A penade multa reparatória (CTB, art. 297) deverá ser calculada de acordo com ascondições financeiras do réu, empresário bem sucedido que dirigia um carroimportado, de sua propriedade, recentemente adquirido zero quilômetro, semfinanciamento, cujo valor de mercado gira em torno de R$ 130.000,00, 5 como severifica de fls. 94. Tais circunstâncias, aliadas ao fato de terem os sucessores davítima apresentado comprovantes de danos materiais (remoção aérea e internaçãoem UTI no valor de R$ 47.658,00), autorizam a fixação de multa reparatória emmontante suficiente para cobrir o referido valor, que deverá ser objeto de depósitojudicial em favor da genitora da vítima. 4

2ª Fase: De acordo com o que restou demonstrado, o acusado, ao perder o controlede seu veículo devido à alta velocidade imprimida, invadiu a calçada muito próximo aum ponto de ônibus onde estavam 04 pessoas 6 , que por pouco não foram atingidaspelo veículo (fls. 31 e 54), mas foram expostas a indiscutível dano potencial 6 ,caracterizando-se assim a circunstância agravante prevista no art. 298, inc. I, doCódigo de Trânsito Brasileiro 7 . Fica sugerido o incremento da pena base em 1/6, 8

observando-se o limite máximo cominado.

3ª Fase: O acusado, ao invadir a calçada 9 na direção de seu veículo, incidiu nacausa especial de aumento de pena prevista no art. 302, parágrafo único, inc. II, doCódigo de Trânsito Brasileiro 9 . Considerando tratar-se de calçada em avenidacentral da cidade 10 , com grande movimentação de pedestres, situação que em muitoaumentou o risco de atropelamento de mais pessoas 11 , fica pleiteado o aumento dapena em metade. 12

Regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade: Diante dagravidade do caso concreto, do fato de demonstrar o acusado flagrante desrespeitoàs leis de trânsito, sendo reincidente em inúmeras infrações administrativas 13 , econsiderando que o montante da pena pleiteada supera 04 anos de detenção 13 ,requer-se a fixação do regime semiaberto 14 para o início do cumprimento da pena.

Conversão da pena: Presentes os pressupostos do art. 44 do Código Penal, ficarequerida a conversão da pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos.Pleiteia-se a aplicação da prestação pecuniária 15 , adequada à infração penal e àscondições pessoais do acusado. A fixação da prestação pecuniária, observadas ascondições financeiras do acusado, poderá dar-se em 100 salários mínimos 16 , embenefício dos sucessores da vítima 17 , valor que poderá ser deduzido de eventual

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condenação civil. À prestação pecuniária deverá ser cumulada a prestação deserviços à comunidade 15 , nos termos do art. 46, § 3º, do Código Penal.

Efeito da condenação: Sem prejuízo da fixação de multa reparatória, nos termos dosarts. 91, inc. I, do Código Penal, e 387, inc. IV, do Código de Processo Penal, deve-setornar certa a obrigação de reparar o dano causado, fixando-se o valor mínimo de R$47.658,00 18 conforme documentação apresentada pelos sucessores da vítima.

Pelo exposto, pleiteia o Ministério Público a condenação do acusado, nos termos dadenúncia.

Circunstância judicial – art. 59

Personalidade do agente

Prova da personalidade

Pedidos de pena base

Condições financeiras do réu

Circunstância agravante

Capitulação da agravante

Sugestão de aumento

Causa de aumento de pena

Justificativa do quantum do aumento

Justificativa do quantum do aumento

Sugestão de aumento

Justificativas para a fixação de regime mais severo

Regime pretendido

Penas sugeridas

Quantum

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Valor mínimo para a reparação do dano

Neste caso tomou-se como exemplo um tipo de crime que comporta diversas variáveis na fixaçãoda pena, o que não ocorreria na fixação da pena de tipos penais mais simples, como um crime deameaça, por exemplo.Decretação da prisão preventiva: se a situação prática exigir a custódia cautelar do réu então emliberdade, o representante do Ministério Público deverá requerer, fundamentadamente, a decretaçãoda prisão preventiva, com amparo nos arts. 312 e 313 do Código de Processo Penal.

No Manual de Atuação Funcional das Promotorias de Justiça Criminais do Ministério Público do Estado do Rio deJaneiro consta a seguinte recomendação, a fls. 62: “cuidar, nas manifestações orais, para que seja realizado seufiel registro no termo, ainda que resumidamente”.Art. 67 – No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstânciaspreponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade doagente e da reincidência.§ 2º As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito docondenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso:a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado;b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde oprincípio, cumpri-la em regime semiaberto;c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-laem regime aberto.Vale destacar os enunciados das súmulas 718 e 719 do Supremo Tribunal Federal: Súmula 718 – “A opinião dojulgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime maissevero do que o permitido segundo a pena aplicada”; e Súmula 719 – “A imposição do regime de cumprimento maissevero do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea”.Como, por exemplo, os arts. 130, 135, 136, 137, 140, 146, 147, 150, 151, 153, 154, 155, § 2º, 156, 163, 164,166, 169, 175, 176, 179, 180, § 3º, 184, 205, 208, 209, 233, 234, 246, 247, 248, 259, 280, 286, 287, 292, 293,§ 4º, 307, 315, 316, § 1º, 317, 320, 321, 323, 324, 325, 331, 335, 336, 340, 341, 345, 351, 358 e 359, todos doCódigo Penal.XLV – nenhuma pena passará da pessoa do condenado (...).

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6.1 Conceito: recurso é o instrumento processual destinado a buscar a modificação de uma decisãojudicial de qualquer modo desfavorável a quem o utiliza.

6.2 Espécies: na esfera penal, no âmbito de atuação do Ministério Público em primeira instância,existem os seguintes os recursos:

RECURSO PREVISÃO LEGAL PRAZO

Apelação Arts. 593 e 416 do CPP, e Art. 82 da Lei nº 9.099/199505 (CPP) ou10 dias Lei9.099/1995

Recurso emSentido Estrito

Art. 581 do CPP1 05 dias2

Agravo emExecução

Art. 197 da Lei nº 7.210/84 – LEP 05 dias3

CartaTestemunhável

Art. 639 do CPP 48 horas

CorreiçãoParcial4

Lei Orgânica da Justiça Federal (art. 6º, inc. I); Lei OrgânicaNacional do MP (art. 32); Leis de Organização Judiciária dos

Estados5 e Regimentos Internos dos Tribunais6

05 dias

Embargos deDeclaração

Art. 382 do CPP 02 dias

Além dos recursos, existem as ações autônomas de impugnação, cujo objeto é tambémmodificar os efeitos de uma decisão judicial. As ações de impugnação que podem ser ajuizadas peloMinistério Público são o mandado de segurança (CF, art. 5º, inc. LXIX) e o habeas corpus (CF, art.5º, inc. LXVIII).

AÇÃO PREVISÃO LEGAL PRAZOMandado de Segurança Lei nº 12.016/2009 120 dias

Habeas Corpus Art. 647 do CPP Não há

6.3 Terminologia: nos recursos e nas ações de impugnação as partes são tratadas por terminologias

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próprias, que variam de acordo com o recurso:

RECURSO ou AÇÃO TERMINOLOGIAApelação Apelante – Apelado

Recurso em Sentido Estrito Recorrente – Recorrido

Agravo em Execução Agravante – Agravado

Carta Testemunhável Testemunhante7 – Testemunhado

Correição Parcial8 Corrigente – Corrigido

Embargos de Declaração Embargante – Embargado

Mandado de Segurança Impetrante – Impetrado

Habeas Corpus Paciente9 – Impetrante – Impetrado – Coator – Detentor

Em relação ao juízo é comum a utilização das expressões latinas juízo a quo, para designar oórgão autor da decisão objeto do recurso, e juízo ad quem, para se referir ao órgão judicialencarregado da apreciação do recurso.

6.4 Juízo de retratação: na esfera penal, o recurso em sentido estrito e o agravo em execução – quesegue o rito do recurso em sentido estrito – autorizam o juízo a quo a apreciar as razões do recorrentee modificar a própria decisão, obstando o prosseguimento do recurso, salvo possibilidade de recursopela parte agora sucumbente.

6.5 Desistência: de acordo com o art. 576 do Código de Processo Penal, o Ministério Público nãopode desistir de recurso por ele interposto.

6.6 Petição de interposição: com exceção dos embargos de declaração, cuja natureza recursal édiscutida pela doutrina, e, por óbvio, das ações autônomas de impugnação a interposição dos recursosé feita mediante a petição dirigida ao juízo responsável pela decisão atacada.10

Nada obstante as particularidades terminológicas, a petição de interposição tem a mesmaestrutura e conteúdo para todos os recursos.

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado) 1

Autos nº XXX/ANO 2

O Ministério Público do Estado de (estado), pelo seu representante ao finalassinado 3 , não se conformando com a r. sentença que absolveu 4 “ A” 5 daimputação de crime de furto qualificado pela destruição de obstáculo (CP, art. 155, §4º, inc. I) 6 , vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência interpor

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APELAÇÃO 9 , nos termos do art. 593, inc. I, do Código de Processo Penal 8 ,aguardando o recebimento e processamento do presente apelo, e oferecendo desdejá as razões de inconformismo 7 .

Cidade, dia, mês e ano.

Promotor de Justiça

Como qualquer petição, o órgão Judiciário ao qual é dirigida (o juízo que deu origem àdecisão recorrida)

O nº dos autos

O recorrente (apelante)

Sucumbência

Recorrido (apelado)

Imputação penal

Indicar o fato das razões acompanharem, ou não a petição.

Previsão legal do recurso

Indicação do recurso

Caso as razões de recurso não acompanhem a petição de interposição, deverá ser requerida aabertura posterior de vista dos autos para seu oferecimento, desde que no recurso interposto não sejaexigida a apresentação simultânea das razões, a exemplo da apelação disciplinada pela Lei dosJuizados Especiais (Lei nº 9.099/95, art. 82, § 1º).

Não se tratando de vara que adote o processo digital, é imprescindível oarquivamento de cópia impressa da petição de interposição do recurso, com ocomprovante do protocolo, como prova do ajuizamento no prazo legal.

Expressões do tipo: “Nestes termos, p. deferimento” são dispensáveis e nãofazem muito sentido na proposta de uma moderna redação jurídica, pautadapela síntese, pela clareza e pela objetividade.

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6.7 As razões recursais: muito do que já foi dito para o memorial aplica-se à redação das razões.No geral, todas as razões têm a mesma estrutura, e desenvolvem-se nas seguintes etapas:

– Relatório– Indicação da sucumbência11

– Fundamentação

– Pedido de reforma da decisão

RAZÕES DE APELAÇÃO 1

2ª Vara Criminal de (cidade/estado) 2

Autos nº XXX/ANO 3

Apelante: Ministério Público do Estado de (estado) 4

Apelado: “A” 4

Egrégio Tribunal de Justiça, 5

Colenda Câmara, 5

Douta Procuradoria de Justiça, 5

“A” 6 foi denunciado e está sendo processado como incurso no art. 157 § 2º, incs. I eII, do Código Penal. 6

Pela r. sentença de fls. 93, o réu foi absolvido , 7 com fundamento no art. 386, inc. VII,do Código de Processo Penal.

Narra a denúncia que o apelado 8 , agindo em concurso com “ B” e mediante graveameaça exercida com o emprego de arma de fogo, dirigiu-se até a olaria “T”, de ondesubtraiu para si e para seu comparsa aproximadamente R$ 550,00 em dinheiro. 9

O MM. Juiz, analisando o conjunto probatório, entendeu pela insuficiência de provasda autoria.

Merece reforma a r. decisão.

Ao contrário do argumentado pelo MM. Juiz, a prova dos autos forma conjuntoharmônico e coerente, capaz de afastar a dúvida da autoria e respaldar o decretocondenatório.

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De acordo com a r. sentença, a incerteza para a condenação estaria respaldada nofato de que, em juízo, a vítima “U” acabou não confirmando o reconhecimento pessoallevado a efeito no inquérito policial, dizendo não estar bem certa se era mesmo oapelado o comparsa de “B” que ingressou em seu estabelecimento comercial naquelatarde. Disse que o rapaz usava um boné e óculos escuros, não sendo possívelvisualizar sua fisionomia. Alegou, contudo, que as demais características – porte físico,altura e cor da pele – coincidiam com as do rapaz que acompanhava “B” naempreitada. 10

O comparsa “B”, preso em flagrante, tentando ajudar o amigo não reconhecido, disseque quem o acompanhava naquela tarde era a pessoa de alcunha “C”, não sabendoindicar seu nome ou lugar em que reside. Limitou-se a dizer que se conheceramnaquela tarde e resolveram “fazer a fita”, tendo “ C” conseguido fugir quando a políciachegou. 10

O apelado alegou que naquela tarde, embora não tivesse ido trabalhar na lavoura,passou a tarde em um bar, bebendo, versão que não foi confirmada por nenhumatestemunha. 11

A parcial retratação da vítima, no que se refere ao reconhecimento, deve serinterpretada com cautela. Com efeito, respondendo a questionamento do MinistérioPúblico, ela confirmou estar bastante nervosa pelo fato de ter visto o apelado nocorredor do fórum naquela data da audiência. Muito embora tenha afirmado que nãose sentiu ameaçada, disse que precisou tomar um remédio para se acalmar, pois nãosabia que o apelado havia saído da cadeia. Não resta dúvida de que tal situaçãoinfluenciou seu relato, estando temerosa de imputar ao apelado a prática do roubo eser vítima de sua vingança. Mas mesmo assim, acabou admitindo a coincidência dascaracterísticas físicas do apelado com as do autor do roubo. 12

A simples confirmação por parte da vítima em relação à coincidência decaracterísticas físicas já se revela suficiente para o convencimento da autoria, já quetal prova acha-se aliada a outras que afastam por completo a hipótese de não ter sidoo apelado o coautor do delito. 12

De fato, ele não se preocupou em comprovar seu álibi, arrolando ao menos uma únicatestemunha que pudesse confirmar que teria passado a tarde em um bar, bebendo. 12

Não há qualquer indício da existência do suposto “C” que, segundo “B”, teria sido seuparceiro na empreitada. 12

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E, principalmente, o apelado e “B” eram já antigos parceiros no mundo do crime,sendo que ambos ostentam condenações pela prática de dois crimes de furto e umcrime de roubo, todos praticados em coautoria. 12

Não é razoável acreditar que justo no crime ora em questão “B” estivesse agindo nacompanhia de outra pessoa, da qual não se tem qualquer informação, e que possuiidênticas características físicas de seu parceiro “A”, que não conseguiucomprovar onde estaria no momento do crime. 13

Pelo exposto, o Ministério Público requer a condenação do apelado, nos termos dadenúncia, tomando-se por base a pena aplicada ao corréu “B”.

Cidade, dia, mês e ano.

Promotor de Justiça

Título da peça

Vara

Nº dos autos

Indicação das partes

Os destinatários das razões

Dados de identificação do caso

Resultado

Terminologia

Breve resumo da imputação

Narrativa da prova

Narrativa da prova

Análise da prova

Análise da prova

Prazo para o oferecimento das razões:

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RECURSO PRAZOApelação 08 dias

Recurso em Sentido Estrito 02 dias

Agravo em Execução 02 dias

Carta Testemunhável 02 dias

Correição Parcial (?)12

Embargos de Declaração (-)13

É fundamental que o(s) ponto(s) da sucumbência esteja(m) bem delimitado(s), de maneira apermitir que a análise do recurso fique a ele(s) restrita. Não faz sentido discutir nas razões recursaispontos sobre os quais a reforma da decisão não é pretendida, como por exemplo, no caso acimaabordado, a pena fixada para o corréu condenado.

O emprego de expressões costumeiras do tipo “não agiu o MM. Juiz com ocostumeiro acerto” devem guardar relação com a realidade da vara. Se defato as decisões do magistrado são em regra acertadas, na ótica do MinistérioPúblico, a expressão demonstra que o recurso constitui situação excepcional.Não sendo esse o caso, se os recursos são frequentes e reiterados, parecenão haver motivo para a manutenção de um “chavão” sem nenhum propósito.

É conveniente o oferecimento das razões juntamente com a petição deinterposição do recurso. Dessa forma, a opção de recorrer já estaráamadurecida pelo estudo da decisão judicial. Quando da elaboração dasrazões, se uma análise mais acurada da prova ou dos fundamentos jurídicosem debate vier a convencer o Parquet do acerto da decisão judicial, nãopoderá haver desistência do recurso (CPP, art. 576), caso já protocolizada apetição de interposição.

6.8 Os recursos em espécie:

6.8.1 Apelação:

6.8.1.1 Objeto: cuida-se de recurso cujo objetivo é a reforma de decisões definitivas, ou com forçade definitivas.14

6.8.1.2 Cabimento: o art. 593 do Código de Processo Penal15 apresenta as hipóteses de cabimento

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da apelação. O inc. III versa sobre decisões atinentes ao Tribunal do Júri, e tratadas em capítulopróprio. O inc. I trata das sentenças condenatórias ou absolutórias proferidas pelo juiz singular,enquanto o inc. II cuida das decisões definitivas16 ou com força de definitivas17 não abrangidas pelorecurso em sentido estrito.

6.8.1.3 Juízo de retratação: não existe na apelação.

6.8.1.4 Petição de interposição e razões de recurso: vide itens 6.6 e 6.7.

6.8.1.5 Abrangência: o inconformismo manifestado na apelação pode referir-se à decisão em suaplenitude, ou apenas a uma parte dela. (Ex.: o réu foi condenado, atendendo ao pleito do MinistérioPúblico, mas a pena foi fixada aquém do pretendido. A apelação irá discutir tão somente a fixação dapena). De qualquer modo, a indicação da sucumbência (parte da decisão com a qual o apelante não seconforma) na petição de interposição vinculará as razões. Ou seja, caso na petição de interposiçãoconste: não se conformando com a r. sentença de fls. 92, no tocante ao regime prisional fixadopara início de cumprimento da pena privativa de liberdade, nas razões de apelação só será possíveldiscutir o regime inicial para a execução da reprimenda.

6.8.2 Recurso em sentido estrito:

6.8.2.1 Objeto: o recurso em sentido estrito tem por objeto a impugnação de decisões interlocutórias,ou seja, aquelas tomadas no curso da ação penal e que não solucionam a lide.

6.8.2.2 Cabimento: o art. 581 do Código de Processo Penal contém, em seus 24 (vinte e quatro)incisos, um extenso rol de hipóteses de cabimento do recurso em sentido estrito. Prevalece nadoutrina e na jurisprudência o entendimento de que este rol é taxativo, não sendo possível o empregode analogia para ampliá-lo. Em outras palavras, as decisões interlocutórias não indicadas no art. 581do Código de Processo Penal ou na legislação extravagante como passíveis de reforma via recurso emsentido estrito não comportam este instrumento processual.

Admite-se, contudo, a interpretação extensiva. Destarte, hipóteses que não foram expressamenteprevistas pelo legislador podem ser reconhecidas como integrantes do rol taxativo, por estaremimplícitas na vontade da lei.18 O exemplo típico é a possibilidade de utilização do recurso em sentidoestrito para impugnar a decisão que rejeita o aditamento à denúncia. A partir da interpretaçãoextensiva, entendeu-se que a hipótese estaria abrangida pelo inc. I do art. 581 do Código de ProcessoPenal, o qual contempla a possibilidade do recurso da decisão que não receber a denúncia.

O rol do art. 581 do Código de Processo Penal abrange as seguintes decisões recorríveis:

I – que não receber a denúncia ou a queixa ; 1

II – que concluir pela incompetência do juízo;

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III – que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição; 1

IV – que pronunciar o réu; 1

V – que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferirrequerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisóriaou relaxar a prisão em flagrante;

VI – (revogado);

VII – que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor;

VIII – que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta apunibilidade; 2

IX – que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causaextintiva da punibilidade;

X – que conceder ou negar a ordem de habeas corpus; 2

XI – que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena;

XII – que conceder, negar ou revogar livramento condicional;

XIII – que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte; 3

XIV – que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir;

XV – que denegar a apelação ou a julgar deserta;

XVI – que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial;

XVII – que decidir sobre a unificação de penas; 3

XVIII – que decidir o incidente de falsidade;

XIX – que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado;

XX – que impuser medida de segurança por transgressão de outra;

XXI – que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774; 3

XXII – que revogar a medida de segurança;

XXIII – que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a

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revogação;

XXIV – que converter a multa em detenção ou em prisão simples.

Subirá nos próprios autos

Subirá nos próprios autos

Hpóteses de agravo em execução

Muito embora o Ministério Público possa recorrer em favor do réu, os incisos IV, VII, IX, X,XXIII e XXIV revelam hipóteses típicas de recursos da defesa. De seu turno, os incisos I, V e VIIIrepresentam hipóteses mais recorrentes.

6.8.2.3 Formação: o recurso em sentido estrito poderá ser formado por instrumento, ou subir aotribunal nos próprios autos. Nas hipóteses previstas nos incs. I, III, IV, VIII e X, o recurso serájuntado aos autos do processo, que será remetido ao tribunal para apreciação, uma vez que, nessescasos, o prosseguimento do processo dependerá da decisão do recurso. Nas demais hipóteses, seránecessária a formação de instrumento (CPP, art. 587), ou seja, autos formados com cópias de peçasdos autos principais, indicadas pelas partes, dentre as quais deverão figurar, obrigatoriamente, adecisão recorrida, a certidão de sua intimação e o termo de interposição (CPP, art. 587, parágrafoúnico).

6.8.2.4 Juízo de retratação: o recurso em sentido estrito admite a possibilidade de o juiz retratar-seda decisão proferida, revendo seu posicionamento (CPP, art. 589).

6.8.2.5 Petição de interposição e razões de recurso: a petição de interposição segue o modelopadrão já apresentado, devendo ser consignado o inc. do art. 581 do Código de Processo Penal quelegitima a interposição, bem como a expressa menção ao juízo de retratação:

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado) 1

Autos nº XXX/ANO 2

O Ministério Público do Estado do (estado) 3 , não se conformando com a r. decisãode fls. 48, a qual rejeitou a denúncia 4 ofertada em face de “ A” 8 , pela prática docrime de furto qualificado (CP, art. 155, § 4º, incs. II (escalada) e IV) 5 , vemrespeitosamente à presença de Vossa Excelência interpor RECURSO EM SENTIDOESTRITO 6 , nos termos do art. 581, inc. I, do Código de Processo Penal. 7

Desde já ficam oferecidas as razões de inconformismo [ ou protestando desde já pelo

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oportuno oferecimento das razões de inconformismo] 9 , e aguarda-se o recebimento eprocessamento do presente recurso, observada a oportunidade de retratação 10 e,caso mantida a r. decisão atacada, a devolução dos autos à apreciação da superiorinstância.

Cidade, dia, mês e ano.

Promotor de Justiça

Como qualquer petição, o órgão Judiciário ao qual é dirigida (o juízo que deu origem àdecisão recorrida).

O nº dos autos

Recorrente

Sucumbência

Imputação penal

Indicação do recurso

Previsão legal do recurso

Recorrido

Indicar o fato de as razões acompanharem, ou não a petição.

Juízo de retratação

6.8.2.6 Razões de recurso: com relação às razões, sua estrutura também é a mesma do exemplo jádado, como se vê do modelo:

RAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

1ª Vara Criminal de (cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

RECORRENTE: Ministério Público do (estado)

RECORRIDO: “A”

Egrégio Tribunal de Justiça,

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Colenda Câmara,

Douto Procurador de Justiça,

“A” foi denunciado como incurso no art. 155 § 4º, incs. II (escalada) e IV, do CódigoPenal, tendo o MM. Juiz rejeitado a denúncia 1 , com fulcro no art. 395, inc. III, doCódigo de Processo Penal. 2

Segundo consta, o recorrido, agindo em concurso com o adolescente “B”, e medianteescalada, entrou no estabelecimento comercial denominado “T”, de onde subtraiupara si e para seu comparsa diversas peças de roupa, consistentes em calças,camisas, bermudas, bonés, todos descritos e avaliados a fls. 10 no importe de R$4.068,00, além de R$ 240,00 em dinheiro. 3

Extrai-se do inquérito policial que o recorrido, na companhia do adolescente, apósplanejarem a prática do furto, ingressaram no local mediante escalada, subindo ummuro no terreno vizinho ao estabelecimento, galgando o telhado, de ondedesprenderam uma telha de cimento amianto, descendo em seguida até o interior daloja, e então passaram a arrecadar as referidas mercadorias, na posse das quaisdeixaram o local pelo mesmo acesso. 4

Entendeu por bem o digno Magistrado em rejeitar a denúncia, alegando estar“ ausente o fumus boni juris pela falta de qualquer elemento investigatório que, aindaque de maneira superficial, corroborasse os fatos descritos na denúncia”. 5

Merece reforma a r. decisão.

Com o devido respeito, agiu o Magistrado de maneira açodada, julgando a causa,apreciando o mérito, sendo certo ainda que embasou sua conclusão em premissaerrônea. 6

Iniciou o eminente juiz sua decisão consignando que “ da atenta leitura do inquéritopolicial, chega-se à conclusão de inexistência de qualquer elemento investigatórioque possa embasar a peça acusatória”. E, mais adiante, assevera: “ o denunciadonegou a prática do ato (fls. 22)”. 6

A leitura efetuada pelo MM. Juiz do inquérito policial não chegou a ser tão atenta. Aocontrário do consignado na r. decisão, em nenhum momento, nem a fls. 22, nem emqualquer outra oportunidade, o recorrido teria negado a prática do ato, como quis fazercrer o digno julgador. 7

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Nem é necessária uma leitura tão atenta do interrogatório do recorrido para verificarque a única constatação possível é a de que se utilizou ele do seu direitoconstitucional de permanecer calado, e pronunciar-se somente em juízo. O que não sepode é, do nada, presumir que o simples silêncio do indiciado deva ser interpretadocomo negativa de autoria. Portanto, a r. decisão vem fundada em equivocadapremissa, já que em nenhum momento o denunciado negou a prática do furto. É atémesmo possível que, perante o Juiz, decida-se o recorrido por admitir o envolvimentono delito. 8

E mais, uma leitura mais atenta do inquérito policial teria revelado ao MM. Juiz que apostura do recorrido deveria conduzir à confissão do crime. Como muito bemobservado pelo Doutor Delegado de Polícia em seu relatório lançado a fls. 17, orecorrido “ confessou a prática do delito nas informações sobre sua vida pregressano item ‘Praticou o delito quando estava alcoolizado, este respondeu: sim, estavaalcoolizado”. De fato, nas informações sobre a vida pretérita, subscritas pelo acusado(fls. 12), vê-se ainda que respondeu ele estar arrependido da prática do crime,admitindo mais uma vez a autoria. 8

A res foi apreendida na residência da avó do adolescente “ B”, onde também seachava o recorrido, tendo o policial consignado em seu relatório (fls. 06) que nomomento da apreensão, tanto “B” quanto o recorrido “A” manifestaram-se no sentidode reivindicar as peças de roupa objeto de furto, demonstrando assim a posse deambos sobre tais objetos e, mais uma vez, fornecendo veementes indícios daautoria. 8

O recorrido e “B” integram uma organização criminosa que praticou inúmeros furtosnesta cidade, já tendo sido ele denunciado pela prática de outras subtrações, inclusivena companhia de “B” (fato confessado por este último a fls. 44), sendo que naquelaoportunidade, agindo com idêntico modus operandi, esconderam o produto dasubtração na residência da avó de “ B” (cópia em anexo). A situação já era,evidentemente, do conhecimento do digno Magistrado, pois o processo anterior foi porele sentenciado. 9

Veja-se, portanto, que não se tratou de uma ação eventual, isolada, mas de mais umadas diversas empreitadas da dupla, integrantes da referida organização criminosa, fatoque confere maior verossimilhança à imputação, com a consequente presença dofumus boni juris. 9

Assim, a despeito de ter o recorrido admitido a prática do furto quando prestou

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informações sobre sua vida pregressa; a despeito do fato de já ter ele antecedentespela prática de furtos, integrando uma organização criminosa juntamente com oadolescente “B”; a despeito de o produto do furto ter sido apreendido na casa da avóde “B”, e na presença do recorrido, tendo ele, nessa oportunidade, reclamado a possedos bens; a despeito da flagrante evidência da culpa; preferiu o Magistrado interpretaro silêncio do recorrido como negativa de autoria e, desconsiderando tudo o mais,obstar a ação penal. 10

Ao Juiz é reservada a relevante missão de julgar, despontando a cautela, o bomsenso e a lógica como cruciais para o fiel desempenho de seu mister. Ainda que,eventualmente, vislumbre a possibilidade de absolvição quando da apreciação dadenúncia, não pode ele ignorar o princípio da obrigatoriedade da ação penal e,suprimindo o exercício desta, antecipar o mérito, como na verdade ocorreu, impedindoo Ministério Público da produção de provas sob a égide do contraditório. 10

Como é cediço, para o recebimento da denúncia vigora o princípio in dubio prosocietate: basta a mera possibilidade de procedência do pedido formulado na açãopenal. Nesta fase, o juízo de recebimento tem o caráter eminentemente perfunctório,não podendo o magistrado invadir o mérito, prejulgando a questão. A inadmissívelantecipação de julgamento importaria em indisfarçável supressão das garantiasconstitucionais do contraditório e do devido processo legal. 10

Muito embora não se olvide do necessário e salutar controle jurisdicional no ato derecebimento da inicial acusatória, é imprescindível que o juiz se atenha a uma análisedos requisitos do art. 41 e das hipóteses do art. 395, ambos do Código de ProcessoPenal, e não se arvore na apreciação precoce do mérito. 10

Pelo exposto, o Ministério Público requer, após o parecer da Culta Procuradoria deJustiça, seja este recurso conhecido e provido, com o recebimento da inicialacusatória.

Cidade, dia, mês e ano.

Promotor de Justiça

Decisão

Fundamentação legal da decisão

Resumo da imputação

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Resumo da imputação

Transcrição da decisão

Analise da decisão

Análise da prova

Análise da prova

Análise dos antecedents

Conclusão sobre o erro da decisão

6.8.3 Agravo em execução:

6.8.3.1 Objeto: o agravo em execução, previsto no art. 197 da 7.210/1984 – Lei de Execução Penal,tem por objeto a reforma de decisões proferidas no âmbito da execução penal.

6.8.3.2 Cabimento: são impugnáveis, via agravo em execução, as manifestações de conteúdodecisório do juízo das execuções penais, dentre as elencadas no art. 66 da Lei de Execução Penal.

6.8.3.3 Processamento: a doutrina diverge quanto ao rito do agravo em execução, pois Lei deExecução Penal e o Código de Processo Penal silenciaram a respeito do assunto. A polêmicarelaciona-se à adoção das regras do agravo de instrumento, disciplinado pelo Código de ProcessoCivil, diante da identidade de nomenclatura e função, ou do recurso em sentido estrito, em razão dodisposto no art. 2º, caput, da Lei de Execução Penal: “A jurisdição penal dos Juízes ou Tribunais daJustiça ordinária, em todo o Território Nacional, será exercida, no processo de execução, naconformidade desta Lei e do Código de Processo Penal”.

Para resolver este impasse, o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula 700: “É de cinco dias oprazo para interposição de agravo contra decisão do juiz da execução penal”. Em face do prazo, oPretório Excelso optou pelas regras inerentes ao recurso em sentido estrito.

6.8.3.4 Efeito suspensivo: o art. 197 da Lei de Execução Penal declara expressamente a inexistênciade efeito suspensivo no agravo em execução. Se houver necessidade, deverá ser impetrado mandadode segurança para conferir efeito suspensivo à decisão (confira o item 6.8.7).

6.8.3.5 Juízo de retratação: é admitido no agravo em execução, pois adota-se o rito do recurso emsentido estrito, podendo o julgador retratar-se antes de devolver o agravo à apreciação do tribunal.

6.8.3.6 Petição de interposição e razões de recurso: a petição de interposição segue o modelo dorecurso em sentido estrito, adaptando-se apenas a nomenclatura e dispositivo legal (LEP, art. 197). Notocante às razões, a estrutura também não varia:

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1ª Vara Criminal da Comarca de (cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO.

AGRAVANTE: 1 Ministério Público de (estado)

AGRAVADO: 1 “A”

RAZÕES DE AGRAVO EM EXECUÇÃO

Egrégio Tribunal de Justiça,

Colenda Câmara,

Douto Procurador de Justiça,

Relatório“A” foi condenado à pena de 08 anos e 09 meses de reclusão, no regime inicialfechado, pela prática do crime tipificado pelo art. 157, § 2º, incs. I e II, do CódigoPenal. 2

Indicação da sucumbênciaPela r. decisão de fls. 128, entendeu por bem a MM. Juíza em deferir a progressão dosentenciado ao regime semiaberto 3 , fundamentando sua decisão no atendimento aorequisito objetivo, consistente no cumprimento, no regime fechado, de mais de 1/6 dapena imposta. Em relação ao requisito subjetivo, a despeito de ter reconhecido seunão preenchimento, pelo fato de ter sido o sentenciado um dos líderes da rebeliãoocorrida há pouco mais de um mês na penitenciária local, argumentou a magistradaque a superpopulação carcerária estaria atentando contra a dignidade da pessoahumana, que, sendo preponderante, deverá prevalecer sobre o interesse estatal damanutenção da custódia. Não havendo vaga em estabelecimento adequado,concedeu-lhe a prisão albergue domiciliar. 4

A r. decisão merece reforma.

FundamentaçãoA decisão agravada contraria não apenas a Lei 7.210/1984 – Lei de Execução Penal,mas também os direitos fundamentais elencados na Constituição Federal.

FundamentaçãoO art. 112 da LEP prevê como requisitos da progressão de regime prisional o

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cumprimento de 1/6 da pena e ostentar bom comportamento carcerário. Como se vê,os dois requisitos são intermediados pela conjunção aditiva “e”, o que significa quesão cumulativos, e não alternativos, só sendo possível a progressão se ambosestiverem presentes. 5

A própria julgadora admitiu a ausência do requisito subjetivo, tendo o diretor doestabelecimento prisional atestado possuir o agravado mau comportamento carcerário,envolvendo-se em brigas com outros detentos e sendo um dos líderes da rebeliãoocorrida recentemente em que três agentes penitenciários foram feitos reféns. 6

O argumento de que a progressão se justifica pela preponderância da dignidade dapessoa humana não pode prevalecer. Primeiro porque após as transferênciasefetuadas na semana passada o número de reclusos supera em apenas 30% onúmero de vagas, situação que para os padrões brasileiros pode ser consideradaconfortável. O documento que ora se junta aos autos bem demonstra que foramadquiridos colchões em número suficiente para o atendimento de toda a populaçãocarcerária, sendo a comida de boa qualidade e em quantidade adequada. Como se vê,a distância que separa a situação real da situação ideal é sem dúvida alguma muitomenor da que separa a realidade da ausência de dignidade, considerados os padrõescarcerários do país.

Em segundo lugar, não se pode perder de vista que em ponderação de interesses, osdireitos do preso devem ser confrontados com o direito à segurança da sociedade. 7

Em relação à dignidade da pessoa humana, a lição de Alexy explica que a reunião deum grupo de condições de precedência acabam por conferir “ altíssimo grau decerteza de que, sob essas condições, o princípio da dignidade humana prevalecerácontra os princípios colidentes”, o que não significa, em absoluto, a superioridadejurídica do referido princípio, mas, algumas vezes, uma superioridade fática. Aexplicação é muito simples: a admissão de que um direito fundamental fossenecessariamente superior aos demais implicaria em esvaziamento do conteúdo dosdemais direitos fundamentais, impedindo a justa valoração das circunstâncias do casoconcreto para determinar qual princípio e em que proporção deveria incidir parasolucionar a hipótese de colisão, atendendo, da maneira mais adequada possível, aaplicação dos direitos fundamentais. 7

No caso concreto, a manutenção do sentenciado no cárcere, diante do nãoatendimento do requisito subjetivo à progressão não só não atenta contra seu direito àdignidade, como representa grave atentado ao direito à segurança pública da

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sociedade em geral. 7

A possibilidade de sacrifício do direito fundamental do indivíduo guarda estreitarelação com o comportamento do titular desse direito em relação à coletividade. Se porum lado é certo que os direitos fundamentais são dotados de universalidade paraabranger a todos, por outro lado mais razoável se mostrará o sacrifício de um direitofundamental do indivíduo em benefício da sociedade, quando o exercício desse direitosurgir a partir de um comportamento do indivíduo em prejuízo da sociedade. Não sepode ignorar o fato de que a restrição à dignidade do sentenciado pelas condições doencarceramento decorre do comportamento antissocial do próprio agravado. 7

De fato, tanto quanto os direitos fundamentais do cidadão, os direitos fundamentaisda sociedade, assim entendidos como o conjunto de direitos fundamentais de seusintegrantes, não podem ser sacrificados em virtude de uma concepção simplesmenteindividualista, já que todo direito fundamental está dotado de flexibilidade para agarantia da própria efetividade de outros direitos fundamentais. É a posição de AntonioScarance Fernandes, Antonio Magalhães Gomes Filho e Ada Pellegrini Grinover: 7

Os direitos do homem, segundo a moderna doutrina constitucional, não podem serentendidos em sentido absoluto, em face da natural restrição resultante do princípioda convivência das liberdades, pelo que não se permite que qualquer delas sejaexercida de modo danoso à ordem pública e às liberdades alheias 8 26

A r. decisão, além de ilegal, afronta claramente princípios basilares do DireitoConstitucional.

Pelo exposto, aguarda-se o exercício da retratação, e, se eventualmente optar-se pelamanutenção da r. Decisão 9 , o Ministério Público requer o conhecimento e … oprovimento do presente agravo, para que seja reformada a r. decisão, obstando-se aprogressão de regime prisional em favor do sentenciado.

Cidade, dia, mês e ano.

Promotor de Justiça

Nomenclatura

Resumo da situação do agravado

Decisão

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Fundamentação da decisão

Análise da decisão

Análise da prova

Argumentação juridical

Citação doutrinária

Juízo de retratação

Em casos como este, que claramente viola direito líquido e certo da sociedade, éimperiosa a impetração de mandado de segurança para dar efeito suspensivo àdecisão, como será adiante demonstrado.

6.8.4 Carta testemunhável:

6.8.4.1 Objeto: dar andamento a um outro recurso já interposto, e cujo processamento foi negadopelo juiz encarregado de recebê-lo.

6.8.4.2 Cabimento: o art. 539 do Código de Processo Penal prevê duas hipótses de cabimento: a) emcaso de decisão do juiz que denega (não recebe) recurso interposto; ou b) caso seja obstada aexpedição e seguimento do recurso para a superior instância. Em ambos os casos o recurso denegadoou que tem seu seguimento ou expedição obstado deve ser o recurso em sentido estrito, ou então oagravo em execução. De fato, se obstada a apelação, há expressa previsão legal para a interposiçãode recurso em sentido estrito (CPP, art. 581, inc. XV).

6.8.4.3 Formação e processamento: a interposição da carta testemunhável se faz com petiçãodirigida ao escrivão. Na petição o recorrente deverá indicar as peças que pretende sejam trasladadaspara a formação do instrumento (CPP, art. 640).

6.8.4.4 Juízo de retratação: com a interposição de carta testemunhável o juiz poderá retratar-se,recebendo e dando seguimento ao recurso original (recurso em sentido estrito ou agravo emexecução). O juízo de retratação na carta testemunhável tem respaldo no art. 643 do Código deProcesso Penal, o qual remete aos arts. 588 a 592 desse diploma legal.

6.8.4.5 Petição de interposição e razões de recurso: a petição de interposição segue igualmente omodelo padrão já apresentado, com a particularidade de ser endereçada ao escrivão, que deveráfornecer recibo ao recorrente (CPP, art. 641):

Ilustríssimo 1 Senhor Escrivão Diretor da 1ª Vara Criminal da Comarca de

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(cidade/estado) 2

Autos nº XXX/ANO

O Ministério Público do Estado de (estado) 3 , não se conformando com a r. decisãoque denegou recurso em sentido estrito 4 interposto contra a decisão que rejeitou adenúncia ofertada em face de “A”, sob o argumento de ser intempestivo , 5 vemrespeitosamente interpor CARTA TESTEMUNHÁVEL , 6 nos termos do art. 639, inc.I, do Código de Processo Penal. 7

Aguarda a entrega da carta nesta Promotoria de Justiça, devidamente conferida econsertada, e indica para traslado as seguintes peças:

1) esta petição; 8

2) a decisão recorrida; 8

3) a denúncia; 8

4) o auto de prisão em flagrante; 8

5) o auto de exibição e apreensão; 8

6) a certidão de intimação do Ministério Público da decisão recorrida e da decisão querejeitou a denúncia. 8

Oferecendo desde já as razões de inconformismo, [ ou protestando desde já pelooportuno oferecimento das razões de inconformismo,] 9 aguarda-se o recebimento eprocessamento do presente recurso, observada a oportunidade de retratação pelaMM. Juíza , 10 e caso mantida a r. decisão atacada, a devolução dos autos àapreciação da superior instância.

Cidade, dia, mês e ano.

Promotor de Justiça

Tratamento adequado

Dirigida ao escrivão

Recorrente

Sucumbência

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Fundamento da decisão

Indicação do recurso

Previsão legal do recurso

Peças que deverão formar o instrumento, incluindo todas as peças que permitam aapreciação do mérito do recurso denegado.

Indicar o fato de as razões acompanharem, ou não, a petição.

Juízo de retratação

6.8.4.6 Razões de recurso: com relação às razões, sua estrutura não varia muito em relação aosdemais recursos, exceto pelo fato de abranger também as razões do recurso original (recurso emsentido estrito ou agravado em execução) denegado pelo juízo. Tal ocorre por força do art. 644 doCódigo de Processo Penal, que permite ao tribunal a decisão do recurso denegado “se estiversuficientemente instruída” a Carta Testemunhável. Daí o porquê de ser requerido o traslado de todasas peças dos autos que viabilizem a apreciação do mérito. As razões recursais assim ficariam:

1ª Vara Criminal da Comarca de (cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

RECORRENTE: O Ministério Público

RECORRIDO: “A”

RAZÕES DE CARTA TESTEMUNHÁVEL

Egrégio Tribunal de Justiça,

Colenda Câmara,

Douto Procurador de Justiça,

Relatório”A” foi denunciado como incurso no art. 155 § 4º, incs. II (escalada) e IV, do CódigoPenal, tendo o MM. Juiz rejeitado a denúncia 1 , com fulcro no art. 395, inc. III, doCódigo de Processo Penal .

Segundo consta, o recorrido, agindo em concurso com o adolescente “B”, e medianteescalada, entrou no estabelecimento comercial denominado “W”, de onde subtraiu

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para si e para seu comparsa diversas peças de roupa, consistentes em calças,camisas, bermudas, bonés, todos descritos e avaliados a fls. 10 em R$ 4.068,00, alémde R$ 240,00 em dinheiro. 2

Extrai-se do inquérito policial que o recorrido, juntamente com o adolescente, apósplanejarem a prática do furto, ingressaram no local mediante escalada, subindo em ummuro construído no terreno vizinho ao estabelecimento, galgando o telhado de ondedesprenderam uma telha de cimento amianto, descendo em seguida até o interior daloja. Depois da subtração das citadas mercadorias, deixaram o local pelo mesmoacesso. 2

O digno Magistrado rejeitou a denúncia alegando estar “ ausente o fumus boni jurispela falta de qualquer elemento investigatório que, ainda que de maneira superficial,corroborasse os fatos descritos na denúncia”. 1

Indicação da SucumbênciaInterposto o Recurso em Sentido Estrito, a MM. Juíza em exercício na vara entendeupor bem denegá-lo 4 sob o argumento de ser intempestivo. 5

A r. decisão, entretanto, deve ser reformada.

1. O NÃO RECEBIMENTO DO RECURSO EM SENTIDO ESTRITOAo não receber o recurso em sentido estrito interposto pelo Ministério Público, a MM.Juíza incidiu em grave erro, não efetuando a correta contagem do prazo de 05 dias(CPP, art. 586).

Fundamentação da Carta TestemunhávelO termo inicial do prazo foi o dia 12 de maio, segunda-feira, tendo em vista que oMinistério Público tomou ciência da r. decisão que rejeitou a denúncia em 09 de maio,sexta-feira. A contagem, como é cediço, inicia-se no primeiro dia útil subsequente àintimação. O quinto e último dia do prazo seria 16 de maio, sexta-feira, não fosse o fatode ter sido feriado municipal, o que transferiu o termo final do prazo para a segunda-feira, dia 19 de maio, primeiro dia útil subsequente.

A MM. Juíza, assumindo a comarca no dia 20, não tendo conhecimento do feriadomunicipal do dia 16 de maio, presumiu ser o recurso intempestivo, denegando-o.

Esclarecida a tempestividade do recurso, demonstrado o desacerto da r. decisão,aguarda-se o seguimento e apreciação do recurso em sentido estrito até finalprovimento.

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2. AS RAZÕES DO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO21

Fundamentação do recurso em sentido estrito

Decisão primária

Fundamentação legal da decisão primária

Resumo da imputação

Decisão objeto da Carta Testemunháve

Fundamento da decisão objeto desta Carta Testemunhável

6.8.5 Embargos de declaração:

6.8.5.1 Objeto: corrigir obscuridade, ambiguidade, contradição ou omissão.

6.8.5.2 Cabimento: os embargos de declaração em primeira instância, com previsão no art. 382 doCódigo de Processo Penal, são cabíveis em relação às sentenças que encerrem obscuridade,ambiguidade, contradição ou omissão.

6.8.5.3 Interposição: por simples petição. Não há formação de instrumento, razões (que sãosucintamente expostas na própria petição) ou manifestação da parte contrária, uma vez que seu objetonão é a modificação da decisão, mas simples esclarecimento.

6.8.5.4 Interrupção do prazo para recurso: a interposição dos embargos de declaração interrompeo prazo para a interposição de outro recurso. A interrupção não tem previsão legal e deriva de analogiacom o art. 1.026, caput, do Código de Processo Civil. Na Lei nº 9.099/1995 consta previsão expressano art. 83, § 2º, de embargos de declaração que suspendem (não interrompem) o prazo para orecurso.

6.8.5.5 Juízo de retratação: não há falar em juízo de retratação, pois não haverá modificação dasentença, mas simples esclarecimento ou suprimento de omissão.

6.8.5.6 Petição: a petição, dirigida ao juiz, deve indicar apenas qual a obscuridade, ambiguidade,contradição ou omissão que se pretende ver declarada ou suprida:

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

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O Ministério Público do Estado do (estado) 1 , nos autos da ação penal em que figuracomo réu “A”, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fulcro noart. 382 do Código de Processo Penal 2 , oferecer EMBARGOS DEDECLARAÇÃO 3 , a fim de que seja esclarecida contradição 4 e declaradaomissão 5 na r. sentença condenatória, no seguintes termos:

“A” foi condenado pela prática do crime de roubo com emprego de arma (CP, art. 157,§ 2º, inc. I) à pena de 06 anos de reclusão, conforme consta no dispositivo dasentença. 5

Quando do cálculo da reprimenda, fixando a pena base no mínimo legal (04 anos dereclusão), foi aplicada a causa de aumento da pena prevista no inc. I do § 2º, commajoração de um terço, resultando na pena de 05 anos e 04 meses de reclusão. 5

Encerrada a dosimetria, e não tendo sido aplicada qualquer outra causa de aumento,a pena calculada revela-se em contradição com a pena constante no dispositivo. 6

Ocorreu também omissão na medida em que não foi fixado o regime inicial decumprimento da pena. 7

Pelo exposto, o Ministério Público requer a declaração da r. sentença, para o fim deser suprida a omissão e esclarecida a contradição acima apontadas. 8

Cidade, dia, mês e ano.

Promotora de Justiça

Embargante

Fundamento legal dos embargos

Indicação do recurso

Defeitos da decisão

Partes contraditórias

Contradição

Omissão

Pedido

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6.8.6 Correição parcial:22

6.8.6.1 Objeto e cabimento: a impugnação da decisão que configure abuso ou erro do juiz,provocando inversão tumultuária da ordem do processo e para a qual não haja previsão de recursoespecífico. As decisões impugnáveis via correição parcial ensejam o chamado error in procedendo, enão envolvem o mérito, tais como o despacho judicial que indefere o pedido de intimação de umatestemunha tempestivamente arrolada, o indeferimento do pedido de instauração de incidente deinsanidade mental, a decisão de indeferimento de pedido do Ministério Público para o retorno dosautos de inquérito à polícia para realização de diligências complementares etc.

6.8.6.2 Processamento: a doutrina vacila quanto ao rito a ser observado na correição parcial. Hávozes sustentando o cumprimento das regras atinentes ao recurso em sentido estrito, e tambémopiniões pela adoção do procedimento do agravo de instrumento, disciplinado pelo Código deProcesso Civil.

6.8.6.3 Juízo de retratação: se adotado o rito do recurso em sentido estrito, será possível aretratação pelo juízo a quo (CPP, art. 589). Esta opção também estará reservada ao magistrado nahipótese de filiação ao procedimento do agravo de instrumento (CPC, art. 1.018, § 1º).

6.8.6.4 Petição de interposição: em se tratando do rito do agravo de instrumento, a petição deveráser protocolada ou remetida diretamente ao tribunal (CPC, art. 1.017, § 2º), já com as razões derecurso (CPC, art. 1.016, inc. III).

A adoção do procedimento do recurso em sentido estrito autoriza a interposição perante o juízo ea possibilidade de oferecimento das razões em dois dias. Adota-se, para fins de modelo e de didática,o procedimento do agravo. De fato, para o rito do recurso em sentido estrito basta adaptar a peça jáestudada com a nomenclatura pertinente.

Excelentíssimo Senhor Desembargador Presidente do Egrégio Tribunal do Estado de(estado) 1

Autos nº XXX/ANO 2

O Ministério Público do Estado de (estado) 3 , nos autos da ação penal movida emface de “ A” 4 , não se conformando com a r. decisão de fls. 158, a qual indeferiu opedido de diligência para a intimação da testemunha 5 “T”, vem respeitosamente àpresença de Vossa Excelência interpor CORREIÇÃO PARCIAL 6 , nos termos do art.93 do Código Judiciário do Estado de São Paulo (Decreto-Lei Complementar nº3/1969) 7 c. c. os arts. 1.016 e ss. do Código de Processo Civil 8 , aguardando orecebimento e processamento da presente, e apresentando as razões deinconformismo. 9

Instruem a presente petição cópias da decisão agravada, da certidão da respectiva

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intimação, da procuração outorgada ao advogado do corrigido, do mandado expedidopara a intimação da testemunha “ B” e respectiva certidão do Oficial de Justiça e dotermo de declarações da testemunha no inquérito policial. 10

Cidade, dia, mês e ano.

Promotor de Justiça

Dirigida ao Presidente do TJ

O nº dos autos

Corrigente

Corrigido

Sucumbência

Indicação do recurso

Previsão legal

Processamento

Indicar o fato de as razões acompanharem a petição.

Instruir com cópias necessárias à formação do instrument (art. 1.017 do CPC)

6.8.6.5 Razões de recurso:

2ª Vara Criminal da Comarca de (cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

CORRIGENTE: 1 Ministério Público de (estado)

CORRIGIDO: 1 “A”

RAZÕES DE CORREIÇÃO PARCIAL 1

Egrégio Tribunal de Justiça,

Colenda Câmara,

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Douto Procurador de Justiça,

“A” foi denunciado e está sendo processado como incurso no art. 157 § 2º, incs. I e II,do Código Penal.

RelatórioRecebida a denúncia, apreciada a defesa escrita e designada data para audiência deinstrução e julgamento, expediu-se mandado para a intimação da testemunha “T”,tendo o Senhor Oficial de Justiça certificado que “encontrou a residência fechada”,motivo pelo qual deixou de intimá-la.

Indicação da sucumbênciaAbriu-se vista dos autos ao Ministério Público, ocasião em que foi reiterada anecessidade de oitiva da testemunha, requerendo nova diligência para sua intimação.O MM. Juiz indeferiu o requerimento de nova diligência para intimação da testemunhasob o argumento de que a tentativa de intimação já ocorreu, estando o Judiciáriosobrecarregado e cabendo agora o Promotor de Justiça, se entender necessária aoitiva, apresentar a testemunha, independentemente de intimação.

A r. decisão deve ser reformada.

FundamentaçãoTrata-se de inegável error in procedendo, pois a decisão recorrida exime o PoderJudiciário de função que lhe é inerente, cerceando a acusação e subvertendo a ordemdo processo. A decisão, alheia ao mérito, não é impugnável por recurso específico, oque justifica a utilização desta correição parcial 2 .

Como se pode constatar da certidão do Senhor Oficial de Justiça, esteve ele umaúnica vez na residência da testemunha, limitando-se a certificar que a encontroufechada. Nada mais consta da certidão, o que leva a crer que não diligenciou oSenhor Oficial no sentido de certificar-se junto aos vizinhos se a testemunha de fato alireside, se estava em horário de trabalho, e quando ou onde poderia ser encontrada. 3

Desta forma, o meirinho não esgotou os termos da ordem, deixando de cumpri-la coma eficiência que se exige de um agente público, em flagrante detrimento ao objetivo doato. Por tal motivo, teria que ser repetido o ato, diligenciando novamente o SenhorOficial ao local, buscando informações sobre o paradeiro da testemunha caso nãoconseguisse encontrá-la. 3

Trata-se de testemunha cujo depoimento é imprescindível para o Ministério Público,

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não tendo a decisão judicial efetuado qualquer apreciação sobre a necessidade eutilidade da prova.

A afirmação de que incumbiria ao Ministério Público providenciar a apresentação datestemunha independentemente de intimação carece de amparo legal. Primeiroporque, como é notório, cuida-se de obrigação do Poder Judiciário; e segundo porque,ainda que notificada a testemunha pelo Parquet, sua ausência ao ato implicariapreclusão, impedindo a prova acusatória. 4

Igual sorte merece a alegação de sobrecarga do Judiciário, que jamais pode serutilizada para justificar a ilegalidade e a ineficiência. Caso considerasse inútil a prova,o ilustre magistrado poderia indeferi-la, fundamentadamente, mas nunca afastar apossibilidade de sua produção sob o argumento da sobrecarga, que parece ser maisum problema da vara do que da comarca, uma vez que as outras varas criminaisencontram-se com pauta a curto prazo e regular andamento dos processos. 4

PedidoPelo exposto, o Ministério Público requer o deferimento da presente correição parcial,a fim de que seja determinada a realização da diligência para a intimação datestemunha e sua oitiva em audiência.

Cidade, dia, mês e ano.

Promotor de Justiça

Nomenclatura específica

Cabimento

Análise do fato

Análise da decisão

6.8.7 Mandado de segurança:

6.8.7.1 Objeto: assegurar a proteção de direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ouhabeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ouagente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público (CF, art. 5º, inc. LXIX).

6.8.7.2 Cabimento: o mandado de segurança, na esfera penal, é cabível em caso de decisão contra aqual não se admita recurso específico23 ou, na hipótese de existência deste, para proporcionar-lhe

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efeito suspensivo, impedindo que a decisão produza efeitos.Em comparação com a correição parcial, que somente ataca o error in procedendo, o mandado desegurança é utilizado para impugnar a ilegalidade do error in judicando, relativo a questões de mérito.

6.8.7.3 Interposição: o mandado de segurança, embora possa atuar como verdadeiro recurso, é açãoautônoma de impugnação, devendo ser impetrado por petição inicial. Desta forma, não há razões,haja vista que o fato, a causa de pedir e o pedido são expostos na inicial.

6.8.7.4 Natureza e legitimidade: muito embora verse sobre matéria criminal, o mandado desegurança é uma ação de natureza civil para a qual o Ministério Público tem legitimidade por força delei24.

6.8.7.5 Petição: o mandado de segurança contra ato judicial deve ser impetrado no tribunal, competição dirigida ao seu presidente. Se tiver por objeto a busca do efeito suspensivo, deve ser pleiteadaa concessão de liminar. No caso concreto, já tendo sido o mérito objeto de agravo em execução (item6.8.3.6), no mandado de segurança a análise estará mais focada na violação de direito líquido e certoe na necessidade da concessão de liminar:

Excelentíssimo Senhor Desembargador Presidente do Egrégio Tribunal de Justiça doEstado de ____

O Ministério Público do Estado de ____ 1 , pelo Promotor de Justiça em exercícionesta Promotoria de Justiça da Comarca de (cidade), com fulcro no art. 32, inc. I, daLei nº 8.625/1993 – Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, no art. 5º, inc. LXIX,da Constituição Federal, e na Lei nº 12.016/2009 2 , vem respeitosamente à presençade Vossa Excelência impetrar MANDADO DE SEGURANÇA 3 , com pedido deliminar 4 , contra ato abusivo e ilegal da MM. Juíza de Direito da Vara das ExecuçõesCriminais da comarca de (cidade) 5 , que em afronta aos ditames legais concedeu aprogressão de regime ao sentenciado “A” e permitiu-lhe cumprir pena em prisãoalbergue domiciliar 6 , passando a expor para ao final requerer o seguinte:

Relatório1. O Fato

“A” foi condenado à pena de 08 anos e 09 meses de reclusão, fixado o regime fechadopara o início do cumprimento da pena, pela prática do crime tipificado pelo art. 157, §2º, incs. I e II, do Código Penal.

Pela r. decisão de fls. 128 entendeu por bem a MM. Juíza em deferir a progressão dosentenciado ao regime semiaberto. A magistrada fundamentou sua decisãoargumentando ter o sentenciado satisfeito o requisito objetivo, cumprindo mais de 1/6

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da pena imposta em regime fechado. Em relação ao requisito subjetivo, a despeito deter reconhecido seu não preenchimento, pelo fato de ter sido o sentenciado um doslíderes da rebelião ocorrida há pouco mais de um mês na penitenciária local,argumentou que a superpopulação carcerária estaria atentando contra a dignidade dapessoa humana, a qual, sendo preponderante, deverá prevalecer sobre o interesseestatal da manutenção da custódia. Não havendo vaga em estabelecimentoadequado, determinou o cumprimento da pena em prisão albergue domiciliar.

Nesta data o Ministério Público interpôs agravo em execução contra a r. decisão,buscando com o presente mandado de segurança proporcionar efeito suspensivo aocitado recurso, obstando a soltura do sentenciado. 7

Fundamentação2. O direito líquido e certo

O Ministério Público, titular da ação penal, agindo em defesa dos interesses dasociedade, possui direito líquido e certo em que seja assegurada a obediência à leipelo Juízo das Execuções. No caso concreto, a obediência à lei implicaria em obstar aconcessão de regime menos rigoroso e principalmente obstar o retorno dosentenciado ao convívio social.

O art. 112 da Lei de Execução Penal prevê como requisitos da progressão ocumprimento de 1/6 da pena e ostentar bom comportamento carcerário. Como se vê,os dois requisitos são intermediados pela conjunção aditiva “e”, o que significa quesão cumulativos, e não alternativos, só sendo possível a progressão se ambosestiverem presentes. 8

A própria julgadora admitiu a ausência do requisito subjetivo, tendo o diretor doestabelecimento prisional atestado possuir o agravado mau comportamento carcerário,envolvendo-se em brigas com outros detentos e sendo um dos líderes da rebeliãoocorrida recentemente em que três agentes penitenciários foram feitos reféns. 9

O argumento de que a progressão se justifica pela preponderância da dignidade dapessoa humana não pode prevalecer. Primeiro porque após as transferênciasefetuadas na semana passada o número de reclusos supera em apenas 30% onúmero de vagas, situação que para os padrões brasileiros pode ser consideradaconfortável. O documento que ora se junta aos autos bem demonstra que foramadquiridos colchões em número suficiente para o atendimento de toda a populaçãocarcerária, sendo a comida de boa qualidade e em quantidade adequada. Como se vê,a distância que separa a situação real da situação ideal é sem dúvida alguma muito

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menor da que separa a realidade da ausência de dignidade, considerados os padrõescarcerários do país. 9

Em segundo lugar, não se pode perder de vista que em ponderação de interesses, odireito à dignidade do preso deve ser confrontado com o direito à segurança dasociedade. 10

Em relação à dignidade da pessoa humana, a lição de Alexy explica que a reunião deum grupo de condições de precedência acabam por conferir “ altíssimo grau decerteza de que, sob essas condições, o princípio da dignidade humana prevalecerácontra os princípios colidentes”,25 o que não significa, em absoluto, umasuperioridade jurídica do referido princípio, mas, algumas vezes, uma superioridadefática. A explicação é muito simples: a admissão de que um direito fundamental fossenecessariamente superior aos demais implicaria em esvaziamento do conteúdo dosdemais direitos fundamentais, impedindo a justa valoração das circunstâncias do casoconcreto para determinar qual princípio e em que proporção deveria incidir parasolucionar a hipótese de colisão, atendendo, da maneira mais adequada possível, aaplicação dos direitos fundamentais. 10

No caso concreto, a manutenção do sentenciado no cárcere, diante do nãoatendimento do requisito subjetivo à progressão não só não atenta contra seu direito àdignidade, como representa grave atentado ao direito à segurança pública dasociedade em geral. 10

A possibilidade de sacrifício do direito fundamental do indivíduo guarda estreitarelação com o comportamento do titular desse direito em relação à sociedade. Se porum lado é certo que os direitos fundamentais são dotados de universalidade paraabranger a todos, por outro lado mais razoável se mostrará o sacrifício de um direitofundamental do indivíduo em benefício da sociedade, quando o exercício desse direitofundamental surgir a partir de um comportamento do indivíduo em prejuízo dasociedade. Não se pode ignorar o fato de que a restrição à dignidade do sentenciadopelas condições do encarceramento decorre do comportamento antissocial do próprioagravado. 10

De fato, tanto quanto os direitos fundamentais do cidadão, os direitos fundamentaisda sociedade, assim entendidos como o conjunto de direitos dos seus integrantes, nãopodem ser sacrificados em virtude de uma concepção simplesmente individualista, jáque todo direito fundamental está dotado de flexibilidade para a garantia da própriaefetividade de outros direitos fundamentais. É a posição de Antonio Scarance

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Fernandes, Antonio Magalhães Gomes Filho e Ada Pellegrini Grinover: 10

Os direitos do homem, segundo a moderna doutrina constitucional, não podem serentendidos em sentido absoluto, em face da natural restrição resultante do princípioda convivência das liberdades, pelo que não se permite que qualquer delas sejaexercida de modo danoso à ordem pública e às liberdades alheias 11 .20

A r. decisão, além de ilegal, afronta claramente princípios basilares do DireitoConstitucional.

3. O cabimento

O recurso de agravo em execução não possui efeito suspensivo. Destarte, inexisteoutro meio de obstar os efeitos da decisão atacada a não ser pela impetração dopresente mandado de segurança.

4. A necessidade de liminar

Com a r. decisão, a autoridade coatora determinou a designação de audiênciaadmonitória para o próximo dia 12 de junho, quando deverá o sentenciado, aceitandoas condições impostas, ser colocado em liberdade.

A r. decisão, em flagrante afronta ao texto legal, irá gerar dano irreparável à sociedade,exposta à convivência com pessoa violenta e não recuperada, sem a mínima condiçãode retorno à vida em coletividade.

Portanto, está presente o periculum in mora, representado pela impossibilidade deaguardar-se a decisão a ser proferida no agravo em execução, bem como o fumusboni juris, representado pelo flagrante desrespeito aos ditames do art. 112 da Lei7.210/1984 - Lei de Execução Penal.

5. O pedido

Pelo exposto, o Ministério Público requer a concessão de medida liminar parasuspender os efeitos da decisão atacada, obstando a expedição de alvará de solturaem favor do sentenciado até a apreciação definitiva do recurso de agravo emexecução já interposto, notificando-se a digna magistrada 12 para prestar informaçõesno prazo de 10 dias e, ao final, seja concedida definitivamente a segurança com aconfirmação do conteúdo da medida liminar.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 13 .

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Cidade, dia, mês e ano

Promotor de Justiça

Impetrante

Fundamento legal

Indicação da ação

Menção à liminar

Autoridade coatora

Decisão illegal

Menção à interposição de recurso para o qual se busca o efeito suspensivo

Repetir fundamentação do agravo

Análise da prova

Argumentação jurídica

Citação doutrinária

Notificação da autoridade

Valor simbólico

Nesse exemplo, a petição inicial deve ser instruída com cópias do recurso de agravo emexecução, da decisão e dos demais documentos mencionados no recurso.

6.8.8 Habeas corpus:

6.8.8.1 Objeto: assegurar o direito à liberdade de alguém.

6.8.8.2 Cabimento e legitimidade: o habeas corpus será cabível quando alguém “sofrer ou se acharameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abusode poder” (CF, art. 5º, inc. LXVIII).

A legitimidade do Ministério Público para impetrar habeas corpus, prevista no art. 654 do Códigode Processo Penal, será sempre concorrente, ou seja, havendo indevido cerceamento à liberdade dealguém, qualquer pessoa poderá impetrá-lo, inclusive o próprio paciente. Em razão disso, a atuação do

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Ministério Público será na maioria das vezes supletiva, e rara. O membro do Parquet tem legitimidadepara impetrar este remédio constitucional tanto em primeira como em segunda instâncias (Lei8.625/1993 – LONMP, art. 32, inc. I, e LC 75/1993 – LOMPU, art. 6º, inc. VI).

6.8.8.3 Petição: a petição do habeas corpus é simples, bastando a exposição do fato que caracteriza aocorrência ou ameaça de violência ou coação da liberdade de locomoção, bem como indicar ailegalidade ou abuso de poder. Tome-se por base a petição do mandado de segurança, com a ressalvade não se falar em atribuição de valor à causa.

6.9 Contrarrazões:

6.9.1 Conceito: é a manifestação que tem por objetivo responder a um recurso interposto. Nemsempre as contrarrazões irão contrariar o recurso, já que ao Ministério Público é possível aderir,ou seja, concordar com as razões recursais.

6.9.2 Terminologia: é a mesma indicada para as razões, obviamente invertidas as posições.

6.9.3 Oferecimento: as contrarrazões são oferecidas mediante cota exarada abaixo de um termode vista, não havendo petição de interposição.

6.9.4 Estrutura: as contrarrazões têm a mesma estrutura das razões, e desenvolvem-se pelasseguintes etapas:

– Relatório;

– Indicação do inconformismo do recorrente27 e pedido de reforma;

– Fundamentação;

– Pedido de manutenção ou reforma da decisão.

Se as razões contemplarem preliminares, a fundamentação das contrarrazõesdeve ser iniciada pela apreciação destas, a exemplo da prescrição ou de nulidadesprocessuais. Em síntese, a análise das preliminares, como o próprio nome indica,antecede o exame do mérito.

1ª Vara Criminal da Comarca de (cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO 1

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Apelante: “A” 2

Apelado: Ministério Público de (estado) 2

CONTRARRAZÕES DE APELAÇÃO 3

Egrégio Tribunal de Justiça, 4

Colenda Câmara, 4

Douto Procurador de Justiça, 4

Relatório“A” 5 foi denunciado e está sendo processado como incurso no art. 157, § 2º, incisosI e II, do Código Penal 5 , tendo sido condenado ao cumprimento da pena de 05 anose 04 meses de reclusão em regime inicial semiaberto. 6

Narra a denúncia que o apelante 7 , agindo em concurso com “B” e mediante graveameaça exercida com o emprego de arma de fogo, dirigiu-se até a olaria “T”, de ondesubtraiu para si e para seu comparsa cerca de R$ 550,00 em dinheiro . 8

Sucumbência e pedido de reformaInconformado, pleiteia a absolvição por insuficiência de provas da autoria e,alternativamente, a redução da pena imposta.

A r. sentença atacada não comporta reforma.

Ao contrário do argumentado pelo apelante, a prova dos autos forma conjuntoharmônico e coerente, capaz de afastar a dúvida da autoria e respaldar um decretocondenatório. 9

Argumentou o apelante que a vítima “U”, em juízo, acabou não confirmando oreconhecimento pessoal levado a efeito no inquérito policial, dizendo não estar bemcerta se era mesmo o apelante o comparsa de “B” que entrou em seu estabelecimentocomercial naquela tarde. Disse que o rapaz usava um boné e óculos escuros, nãosendo possível visualizar sua fisionomia. Alegou, contudo, que as demaiscaracterísticas - porte físico, altura e cor da pele - coincidiam com as do rapaz queacompanhava “B” na empreitada. 9

FundamentaçãoO comparsa “B”, preso em flagrante, tentando ajudar o amigo não reconhecido, disse

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que quem o acompanhava naquela tarde era a pessoa de alcunha “L”, não sabendoindicar seu nome ou lugar em que reside. Limitou-se a dizer que se conheceramnaquela tarde e resolveram “fazer a fita”, tendo “ L” conseguido fugir quando a políciachegou. 9

O apelante alegou que naquela tarde, embora não tivesse ido trabalhar na lavoura,passou a tarde em um bar, bebendo, versão que não foi confirmada por nenhumatestemunha.

A parcial retratação da vítima no que se refere ao reconhecimento deve ser vista comcautela. Ao responder a questionamento do Ministério Público, ela confirmou estarbastante nervosa pelo fato de ter visto o apelante no corredor do fórum na data daaudiência. Muito embora tenha afirmado que não se sentiu ameaçada, disse queprecisou tomar um remédio para se acalmar, pois não sabia que o apelante haviasaído da cadeia.

Não resta dúvida de que tal situação influenciou seu relato, estando temerosa deimputar ao apelante a prática do roubo e ser vítima de sua vingança. Mas mesmoassim, acabou admitindo a coincidência das características físicas do apelante com asdo autor do roubo. 10

A simples confirmação por parte da vítima em relação à coincidência decaracterísticas físicas já se revela suficiente para o convencimento da autoria, já quetal prova acha-se aliada a outras que afastam por completo a hipótese de não ter sidoo apelante o coautor do roubo. 11

Além disso, ele não se preocupou em comprovar seu álibi, arrolando uma únicatestemunha que pudesse confirmar que teria passado a tarde em um bar, bebendo. 11

Não há qualquer indício da existência do suposto “L” que, segundo “B”, teria sido seuparceiro na empreitada. 11

E, principalmente, o apelante e “B” eram antigos parceiros no mundo do crime, sendoque ambos já foram condenados pela prática de furtos e um roubo, todos praticadospor eles, em coautoria. 11

Não é razoável acreditar que justo no crime ora em questão “ B” estivesse agindo emcoautoria com outra pessoa, da qual não se tem qualquer informação, e que possuiidênticas características físicas de seu parceiro “A”, que não conseguiucomprovar onde estaria no momento do crime. 11

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No que diz respeito à fixação da pena, o inconformismo do apelante não mereceamparo, uma vez que a pena base foi fixada no patamar raso, sendo a causa especialde aumento de pena prevista no § 2º também aplicada no mínimo legal, não havendoassim possibilidade de redução. 12

PedidoPelo exposto, o Ministério Público requer o não provimento da apelação, para que sejamantida a condenação do apelante, nos termos da r. sentença.

Cidade, dia, mês e ano.

Promotor de Justiça

Nº dos autos

Indicação das partes

Título da peça

Os destinatários das contrarrazões

Dados de identificação do caso

Resultado

Terminologia

Breve resumo da imputação

Narrativa da prova

Análise da prova

Análise da prova

Manifestação sobre pedido de redução da pena

A legislação extravagante também prevê hipóteses de cabimento de recurso em sentido estrito, como no caso do art.294, parágrafo único, da Lei 9.503/1997 – Código de Trânsito Brasileiro.O art. 586, parágrafo único, do Código de Processo Penal contempla uma hipótese de prazo diferenciado: “Nocaso do art. 581, XIV, o prazo será de vinte dias, contado da data da publicação definitiva da lista dejurados”.Súmula 700 do Supremo Tribunal Federal: “é de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra decisão de

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juiz da execução penal”.Em alguns Estados a Correição Parcial é denominada “Reclamação”: art. 238 do Regi-mento Interno do Tribunal deJustiça do Ceará.Art. 195 do Código de Organização Judiciária do Estado do Rio Grande do Sul.Art. 290 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.Embora o Código de Processo Penal utilize a terminologia “testemunhante” para se referir ao recorrente, parte dadoutrina entende mais adequada a utilização de “recorrente”, alegando que testemunhante seria o escrivão a quem orecurso é dirigido (vide MUCCIO, Hidejalma. Prática de Processo Penal. São Paulo: Editora Método, 2009. p.878).Em alguns estados, a Correição Parcial é denominada “Reclamação”: art. 238 do Regimento Interno do TJCE.Paciente é o sujeito passivo do constrangimento ilegal, que será beneficiado com a ordem de habeas corpus.Impetrante é quem subscreve a petição de habeas corpus, que pode ser o próprio paciente. Autoridadeimpetrada é o órgão jurisdicional responsável pela decisão do habeas corpus. Coator é o autor doconstrangimento ou ameaça. E detentor é aquele que de fato detém o paciente.Existe a possibilidade de interposição de recurso em audiência, fazendo-se constar do termo (CPP, art. 578). Nessecaso, não há necessidade de petição de interposição.Desconformidade entre o que foi pedido e o que foi decidido.O trâmite da correição parcial normalmente é disciplinado por normas estaduais.As razões de inconformismo integram a própria petição de interposição.Apelação e recurso em sentido estrito por vezes têm previsão legal para a reforma de decisões que contrariam anatureza do recurso, a exemplo da situação em que o recurso em sentido estrito pode ser utilizado para amodificação de uma decisão terminativa (CPP, art. 581, inc. VIII); ou no caso da apelação interposta para a reformade decisão interlocutória que autoriza o levantamento de sequestro.Quanto à apelação no Juizado Especial Criminal, remetemos ao estudo do capítulo 08.Exemplo: decisão de ofício que reconhece a exceção de coisa julgada.Exemplo: indeferimento do pedido de sequestro (CPP, art. 127).STJ: RMS 15.470-SP, 6ª Turma, rel. Min. Hamilton Carvalhido, j. 09.11.2004.ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Tradução de Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros,2008. p. 111/112.FERNANDES, Antonio Scarance; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; GRINOVER, Ada Pelegrini. Asnulidades do Processo Penal. 7 ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 129.Utiliza-se a fundamentação exposta no modelo contido no item 6.8.2.6.Em alguns estados a correição parcial é denominada de “Reclamação”: art. 238 do Regimento Interno do Tribunalde Justiça do Ceará.Súmula 267 do Supremo Tribunal Federal: “Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recursoou correição”.Lei nº 8.625/1993 – Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, art. 32, inc. I: “Art. 32. Além de outras funçõescometidas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica e demais leis, compete aos Promotores de Justiça,dentro de suas esferas de atribuições: I – impetrar habeas corpus e mandado de segurança e requerer correçãoparcial, inclusive perante os Tribunais locais competentes”. No âmbito do Ministério Público da União, a legitimidadeé conferida pelo art. 6º, inc. VI, da Lei Complementar 75/1993: “Art. 6º. Compete ao Ministério Público da União:(...) VI – impetrar habeas corpus e mandado de segurança”.ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Tradução de Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros,2008. p. 111/112.FERNANDES, Antonio Scarance; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; GRINOVER, Ada Pelegrini. Asnulidades do Processo Penal. 7 ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 129.

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27 Os pontos da decisão com os quais o recorrente não concordou e pleiteia a reforma.

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7.1 Denúncia:

7.1.1 Conteúdo: quase tudo o que já foi dito sobre a denúncia é aplicável à denúncia para crimesde competência do Tribunal do Júri. Algumas peculiaridades devem ser observadas em razão dofato de os jurados serem leigos, situação que estabelece um enfoque diferenciado sobre as provase os atos do procedimento. Se a denúncia dirigida ao Magistrado deve ser pautada pela síntese,clareza e objetividade, a denúncia dos crimes dolosos contra a vida deve-se dar especial atençãoà clareza, de maneira a não deixar margem para que expressões dúbias possam ensejarquestionamentos da defesa e gerar confusão para os integrantes do Conselho de Sentença.Exemplificativamente, se na denúncia constar que o denunciado mirou na direção da vítima eatirou , a defesa poderá tentar conduzir os jurados à interpretação de que a intenção do réu eraapenas de atirar na direção da vítima para assustá-la, “já que o próprio Promotor de Justiçaadmitiu que ele atirou na direção da vítima, e não contra ela”. Para evitar esta espécie deartifício, que pode levar o jurado a conclusão errônea, melhor seria se a frase fosse assim escrita:o denunciado apontou o revólver para a vítima e atirou para matá-la .

7.1.2 Utilização de expressões do questionário: é conveniente que a descrição da conduta dodenunciado amolde-se, tanto quanto possível, à redação usual do questionário, mostrando sintoniaentre a imputação e o julgamento: o denunciado efetuou um disparo de arma de fogo contra avítima Maria do Rosário, produzindo-lhe os ferimentos descritos no exame necroscópico de fls.31, que causaram a sua morte .

7.1.3 Qualificadoras: para o jurado, a credibilidade do representante do Ministério Público ou daDefesa faz toda a diferença na decisão da causa. E a credibilidade é conquistada com coerência everdade. Inserir na denúncia qualificadoras que não contam com um respaldo probatório mínimonos autos irá comprometer a credibilidade do Parquet. Por isso, só devem integrar a denúncia asqualificadoras cuja presença seja de fato verificada, sendo preferível um aditamento posterior,caso a prova em juízo demonstre sua real incidência.1

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A descrição de cada qualificadora deve ocorrer de maneira destacada uma da outra para a suafácil identificação.

7.1.4 Homicídio privilegiado: a caracterização do homicídio privilegiado não deve ser inseridana denúncia.2

7.1.5 Rito processual e pedido: a denúncia deve incluir o pedido de pronúncia, de julgamentopelo júri e final condenação, bem como a indicação do rito processual destinado aos processos decompetência do Tribunal do Júri.

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da Vara do Júri da Comarca de (cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Inquérito Policial nº XXX/ANO

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 07 de junho de 2012, porvolta das 02h20, na residência situada na Rua Leopoldo de Albuquerque Salgado, nº322, Vila Germânica, nesta cidade e comarca, “A”, qualificado a fls. 81, com intençãohomicida e emprego de meio cruel 1 , efetuou golpes de arma branca 2 contra “T”,produzindo-lhe os ferimentos3 descritos no exame necroscópico de fls. 52, os quaisderam causa à sua morte.

Ao que consta, o indiciado e a vítima eram casados, mas estavam em processo deseparação e há bom tempo já não residiam sob o mesmo teto. No dia do fato, odenunciado, pretendendo matar a vítima 3 , dirigiu-se até a casa dela na posse deuma arma branca 4 e, depois de ingressar no imóvel, desferiu diversos golpes defaca contra o pescoço dela, os quais provocaram a sua morte. 5

O denunciado, agindo com requintes de crueldade, golpeou a vítima no pescoço,dando causa à sua morte por hemorragia, com grande sofrimento 6 , conformedemonstra o exame pericial encartado a fls. 52.

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso no art. 121, § 2º,inc. III, c.c. art. 61, inc. II, “e” (cônjuge), ambos do Código Penal, com as disposiçõesaplicáveis da Lei nº 8.072/1990, requerendo que, autuada e recebida esta, seja elecitado, interrogado, pronunciado e ao final condenado 7 , com fundamento nos arts.406 a 497 do Código de Processo Penal 8 , ouvindo-se durante a instrução criminal astestemunhas abaixo arroladas.

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Qualificadora

Conduta

Intenção de matar

Se a arma não foi apreendida, descrevê-la como gênero (arma branca e não faca)

Expressões do questionário

Detalhamento da qualificadora

Requerer pronúncia e julgamento pelo júri

Rito do júri

7.2 Memorial:

7.2.1 Estrutura: a estrutura do memorial nos processos de crimes dolosos contra a vida, tantoquanto nos delitos de competência do juízo singular, é formada pelo relatório, análise da provae pedido. Mas se para o relatório tudo o que foi dito no capítulo que trata do memorial pode seraqui aproveitado, a análise da prova e o pedido trazem diferenciais importantes que serão agoraanalisados.

7.2.1.1 Relatório: é o breve resumo do crime e dos atos do procedimento, que dá início à redaçãodo memorial.

MEMORIAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO 1

Autos nº XXX/ANO 2

MM. Juiz, 3

“A” foi denunciado e está sendo processado como incurso no art. 121, § 2º, inc. III,c.c. art. 61, inc. II, “e” (cônjuge), ambos do Código Penal. 4

Narra a denúncia que o acusado, com o emprego de meio cruel, desferiu diversosgolpes de arma branca contra o pescoço de “B”, produzindo-lhe os ferimentosdescritos no exame necroscópico de fls. 52, os quais causaram a sua morte. 5

O acusado foi citado (fls. 69) e ofereceu defesa escrita (fls. 75). 6

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Em audiência foram ouvidas duas testemunhas de acusação e uma de defesa, e o réufoi interrogado. 6

(…)

Título da peça

Nº dos autos

Autoridade a quem é dirigida

Nome do réu e imputação penal

Breve resumo da imputação

Principais ocorrências

7.2.1.2 Análise da prova: é a parte discursiva do memorial, equivalente à fundamentação nasentença.

A análise da prova no memorial dos crimes de competência do tribunal do júri irá variar deacordo com a pretensão do Ministério Público: pronúncia, impronúncia, desclassificação ouabsolvição sumária.

7.2.1.2.1 Pronúncia: ao contrário do que ocorre no memorial dos crimes da competência do Juizsingular, o objetivo do memorial nos casos em que se pretende a pronúncia não é convencer ojulgador para uma decisão condenatória, mas para uma decisão que encerra mero juízo deadmissibilidade e submete a causa ao julgamento pelo Tribunal do júri. Cuida-se de situação quealtera por completo o enfoque de análise da prova, já que se para a condenação há necessidade deconvencimento do julgador acerca da autoria e da materialidade do fato, para a pronúncia basta ademonstração da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou departicipação (CPP, art. 413). Em síntese, na pronúncia basta a ponderação de que:

Neste contexto, não é necessário nem conveniente que se proceda a uma minuciosa análise daprova, deixando transparecer à defesa todos os argumentos que poderão ser utilizados em plenáriopara o convencimento dos jurados. Por exemplo, imagine-se que no caso ora tratado a principal teseda defesa seja a negativa de autoria. O réu alega não ter sido ele o autor do crime. Imagine-se que asede dos ferimentos seja o lado esquerdo do pescoço da vítima, o que conduz à conclusão de que oautor dos golpes era canhoto. O fato de ser o réu canhoto está anotado em seu boletim de

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identificação criminal, mas não foi explorado pelas partes durante a instrução. A análise dessa provaem memorial iria prevenir a defesa que, se de má fé, poderia instruir o réu para treinar sua assinaturacom a mão direita, alegando ser destro. Não sendo essa a única prova da autoria, não é recomendávelabordá-la em memorial:

(…)

A materialidade vem comprovada pelo laudo de exame necroscópico de fls. 52, o qualcomprovou ter a vítima vindo a óbito por hemorragia, em razão dos ferimentosperfurocortantes encontrados na face esquerda de seu pescoço. 1

O acusado negou a autoria do crime, dizendo que naquela data e horário estavadormindo em sua residência, cerca de dois quilômetros do local. 2

Sua negativa não foi capaz de comprometer a prova acusatória, uma vez que atestemunha “T”, vizinha da vítima, confirmou ter visto da janela de seu quarto omomento em que o acusado deixava a casa da vítima na madrugada do fato, por voltado horário em que foi ela morta. A testemunha conhecia o réu de longa data, já queforam vizinhos por muitos anos, não havendo possibilidade de ter se enganado, atéporque saiu ele com seu veículo Chevette, também reconhecido pela testemunha. 2

A prova da incidência da qualificadora é igualmente satisfatória, uma vez que o laudode exame necroscópico confirmou o fato de ter a vítima agonizado por algum tempoantes de vir a óbito, experimentando grande sofrimento pela dor causada pelosferimentos e sem ter condições de gritar por socorro, já que seu aparelho fonador foidanificado com os golpes. 3

A certidão de casamento juntada a fls. 42 demonstra que acusado e vítima eramcasados ao tempo do fato, comprovando a incidência da agravante prevista no art. 61,inc. II, “e”, do Código Penal. 4

(…)

Materialidade

Indícios / provas da autoria

Qualificadora

Agravante

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Como se vê, a análise da prova ficou restrita à menção das conclusões da perícia e daconstatação da testemunha acerca da autoria, além da demonstração da qualificadora e da provadocumental acerca da agravante.

7.2.1.2.1.1 Pedido: ao contrário do memorial nos crimes de competência do juiz singular, em queo pedido deve conter uma prévia do que se espera do dispositivo da sentença, com detalhes dapena almejada, o pedido de pronúncia restringe-se ao seu pleito, com a consequente submissão doréu ao julgamento pelo Tribunal do júri. Simples assim:

(…)

Pelo exposto, o Ministério Público requer a PRONÚNCIA do acusado, nos termos dadenúncia, para que seja ele submetido a julgamento pelo Egrégio Tribunal do Júri.

No memorial com pedido de pronúncia pode haver pedido para a exclusão de qualificadoraindicada na denúncia, cuja prova produzida em juízo revelou sua não incidência. O inverso não éverdadeiro: não é possível, em memorial, requerer a inclusão de qualificadora, exceto se estiverdescrita de forma implícita na denúncia, tendo propiciado ao réu o exercício da ampla defesa.

7.2.1.2.2 Impronúncia : a impronúncia terá lugar nos casos em que a prova não for conclusiva,nem para a admissibilidade da acusação e possível condenação (prova da existência do crime eindícios da autoria), nem para uma pronta absolvição ou desclassificação. São situações que emcrimes de competência do juiz singular demandariam a absolvição com base no preceito jurídicodo in dubio pro reu. Em se tratando de crimes da competência do Tribunal do júri, o legisladordecidiu pela criação de uma decisão terminativa sem análise do mérito, e que por esta razão nãogera coisa julgada material, permitindo o ajuizamento de outra ação penal, com base em novasprovas.

No memorial que pede a impronúncia do réu a fundamentação é, basicamente, a de um memorialque pleiteia a absolvição por insuficiência de provas:

(…)

A materialidade vem comprovada pelo laudo de exame necroscópico de fls. 52,demonstrando ter a vítima vindo a óbito por hemorragia, em razão dos ferimentosperfurocortantes encontrados na face esquerda de seu pescoço. 1

O acusado negou a autoria do crime, dizendo que naquela data e horário estavadormindo em sua residência, situada a dois quilômetros do local.

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A prova da autoria é bastante precária e não reúne indícios suficientes parasubmissão do caso ao Tribunal do júri. 2

O relato da vizinha da vítima, que afirmou ter visto da janela de seu quarto umapessoa deixando a residência da ofendida na madrugada do fato, em um veículo VWGol branco, é insuficiente para incriminar o réu. O acusado, proprietário de um veículoda mesma marca e modelo, comprovou ter sido vítima de acidente que gerou perdatotal em seu veículo, três dias antes do crime. A testemunha não viu as característicasfísicas de tal pessoa, sequer sabendo dizer se era homem ou mulher. 2

Muito embora exista a possibilidade de ter sido o acusado o autor do crime 3 , não háindícios suficientes do seu envolvimento no fato. De acordo com a prova produzidapela defesa, a vítima era agiota e costumava ameaçar seus devedores inadimplentes,tendo inclusive mandado surrar um deles, fato objeto do inquérito policial nº 49/2012. 4

Portanto, existiam outras pessoas com motivos para cometer o crime, não sendosuficientes os indícios que pesam sobre o acusado. 5

(…)

Materialidade (provada)

Indícios insuficientes da autoria

Ressalvar a possibilidade de ser o réu o autor

Possibilidade de ser outro o autor

7.2.1.2.2.1 Pedido: o pedido do memorial, na hipótese de impronúncia, é bastante simples:

(…)

Pelo exposto, o Ministério Público requer a IMPRONÚNCIA do acusado, nos termos doart. 414 do Código de Processo Penal.

7.2.1.2.3 Absolvição sumária: ao contrário da impronúncia, respaldada na dubiedade da prova,insuficiente e não conclusiva, a absolvição sumária ocorrerá quando a prova dos autos apontarpara situações que de plano possam desconstituir a imputação da denúncia, como a prova dainexistência do fato, sua atipicidade, a prova de que não foi o réu o autor, ou ainda haver prova

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inequívoca da incidência de causas excludentes da ilicitude ou de culpabilidade.O memorial que pede a absolvição sumária do réu deve dedicar-se à análise das provas que

afastam a responsabilidade do agente sobre o crime:

(…)

A materialidade vem comprovada pelo laudo de exame necroscópico de fls. 52, o qualdemonstrou o óbito da vitima por hemorragia, em razão dos ferimentosperfurocortantes encontrados na face esquerda do seu pescoço. 1

O acusado negou a autoria do crime, dizendo que naquela data e horário estavadormindo em sua residência, distante aproximadamente dois quilômetros do local.

De acordo com a prova produzida em juízo, restou demonstrado não ter sido o réu oautor do crime. 2

A análise da gravação de uma câmera de vídeo instalada no prédio vizinho revelouque a pessoa que saiu da residência da vítima logo após o crime foi “G”, seu amante,o qual fugiu do Brasil no dia seguinte (fls. 198/199). 2

Como se não bastasse, a cunhada da vítima apresentou em juízo gravação de umaligação que recebeu de “G”, admitindo ter matado “Z”, a qual mandou “queimar noinferno”. A voz de Evaristo foi reconhecida na gravação pelas testemunhas “T” e “U”(fls. 211 e 212).

(…)

Materialidade (provada)

Provas de que outro foi o autor

7.2.1.2.3.1 Pedido: o pedido do memorial, na hipótese de absolvição sumária, deve indicar omotivo da absolvição, com a menção ao inciso do art. 415 do Código de Processo Penal:

(…)

Pelo exposto, o Ministério Público requer a ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA do acusado, porestar provado não ter sido ele o autor do crime, nos termos do art. 415, inc. II, doCódigo de Processo Penal.

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7.2.1.2.4 Desclassificação: a desclassificação é decisão reservada para a as situações em que aprova produzida na instrução demonstra que o crime praticado não se insere entre os dolososcontra a vida4, e sim um delito de competência do juiz singular. A consequência, no caso dedesclassificação própria, é a modificação da competência, passando o crime a ser processado ejulgado pelo juiz singular.

O memorial que pede a desclassificação deve analisar a prova no sentido de demonstrar aausência do dolo contra a vida:

(…)

O laudo de exame de corpo de delito de fls. 52 comprova ter a vítima experimentadoum ferimento resultante da penetração de um projétil de arma de fogo em suapanturrilha esquerda. 1

O acusado negou a intenção de matar a vítima, alegando que seu revólver possuíaainda cinco projéteis intactos, os quais poderiam ter sido eficazmente disparados.Disse que assim agiu com o intuito de assustar a vítima e afastá-la de sua casa e doconvívio com sua filha, com quem namorava. 2

De fato, a prova produzida não aponta para a presença da intenção homicida (animusnecandi ou animus occidendi).

Dois fatores bem evidenciam a ausência da vontade de matar: o local em que a vítimafoi atingida 3 e a possibilidade de prosseguir com a execução 3 para o resultadomorte.

A defesa fez prova no sentido de que o acusado possuía habilidade para o manejo dearmas de fogo, chegando a fazer parte de um curso de tiro anos atrás, situação quelhe proporcionaria habilidade suficiente para acertar a vítima em região vital, mormenteconsiderando-se que no momento do disparo a vítima estava parada, de costas para oacusado e em curta distância, ou seja, era um alvo fixo, e bem visível, que comfacilidade poderia ser atingido na região do abdome, do tórax ou mesmo da cabeçapara viabilizar o resultado morte. 4

O auto de exibição e apreensão demonstrou estar a arma municiada com outros 05cartuchos intactos, o que propiciaria ao acusado prosseguir na execução, atingindo avítima em região vital com outros disparos. Só estavam os dois no local, de maneiraque ninguém poderia impedir o réu na sequência de seu intento, caso realmentequisesse matar a vítima. 4

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a)

b)

c)

Nessas circunstâncias, a competência do tribunal do júri deve ser afastada.

(…)

Materialidade da lesão

Alegação do réu

Evidências da ausência do animus necandi

Provas

7.2.1.2.4.1 Pedido: o pedido do memorial, em se tratando de desclassificação, deve indicar ocrime subsistente e requerer a remessa dos autos ao juízo singular:

(…)

Pelo exposto, o Ministério Público requer a DESCLASSIFICAÇÃO do crime dehomicídio simples (CP, art. 121, caput) para lesão corporal de natureza grave (CP, art.129, § 1º, inc. I), por ter resultado em incapacidade para as ocupações habituais pormais de 30 dias (laudo fls. 52), remetendo-se os autos ao juízo competente para ojulgamento do caso.

7.3 Plenário:

7.3.1 Três verdades fundamentais:

O jurado, em regra, é leigo. Ele não entenderá conceitos jurídicos se não forem bemtraduzidos para a linguagem comum. Pode parecer óbvio, mas no plenário é comum verprofissionais falar em imputação, concurso material, dolo eventual, diante de juradosatônitos ou sonolentos.

O jurado será leal a quem lhe demonstrar lealdade. Lealdade tem a ver com verdade. Oprofissional que for pego em contradição com a prova dos autos (por má fé oudesconhecimento) não merecerá a confiança do jurado, que se sentirá enganado, feito debobo. Nesse aspecto o representante do Ministério Público levará a vantagem de ter aliberdade de optar entre acusação e pedido de absolvição. Citar as folhas dos autos a cadaprova apresentada demonstrará conhecimento do processo e compromisso com a verdade.

O jurado nem sempre irá julgar considerando apenas argumentos jurídicos. Circunstânciaspessoais, emocionais, sociais e políticas não raro influenciam na decisão e por isso não

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devem ser desconsideradas. Quanto mais o jurado se identificar com a vítima, maiores serãoas chances de condenação, e quanto mais ele se identificar com o réu, maiores as chancesde absolvição. Por isso o trabalho do Parquet, optando pela condenação, deverá ser buscarpontos que aproximem o jurado da vítima e sua família e o distanciem do réu, quando issofor possível.

7.3.2 Debates: prender a atenção do jurado é uma arte. Muitos não gostariam de estar ali, e nãoestão interessados no que vai se passar.

7.3.2.1 Função de cada um dos personagens do júri: iniciar a fala com uma breve explicação dopapel de cada um dos personagens do júri fará com que os jurados assimilem três verdadesestratégicas:

O MP não está vinculado à acusação: se o Promotor é livre para optar entre acusação,desclassificação e pedido de absolvição, isso lhe confere credibilidade.O defensor está vinculado à defesa: o fato de não ter o defensor a liberdade de contrariar osinteresses do réu diminui a sua credibilidade.

O Jurado, ao julgar, só deve explicações à própria consciência (sistema da íntima convicção):o Jurado é tão livre quanto o Promotor, e isso cria uma empatia entre ambos. Quando se falaem consciência, cria-se uma ideia de responsabilidade, o que vai fazer com que o Juradopreste maior atenção aos debates e procure julgar melhor. E finalmente, ao demonstrar quenem os juízes togados podem julgar sem fundamentação, está-se reforçando a ideia deimportância da função de Jurado. Como já dizia Abraham Lincoln, “o mais profundoprincípio da natureza humana é a ânsia de ser apreciado”.

7.3.2.2 Assimilação das ideias: a preponderância dos sentidos varia de pessoa a pessoa. Háindivíduos que assimilam melhor as ideias pela visão (visuais), outros pela audição (auditivos), eoutros das sensações (cinestésicos). A boa comunicação, que prenderá a atenção do espectador,dependerá da adequada exploração desses três tipos de recursos. Não basta só falar, é precisomostrar (fotos da reconstituição do crime, do local do crime, do cadáver, dos ferimentos, vídeos,croquis, etc.). E é preciso também fazer o jurado sentir. Perguntas retóricas do tipo: “Como você sesentiria se estivesse sendo esfaqueada no pescoço?”. Ou exercícios do tipo: “Feche os olhos algunssegundos e tente imaginar que você recebeu facadas no pescoço e não consegue gritar porsocorro”. Colocações como estas ajudam o jurado a sentir a situação e a colocar-se no lugar davítima.

7.3.2.3 Sequência lógica: será mais fácil prender a atenção dos jurados se a explanação obedecer auma sequência lógica, com tópicos bem divididos nos quais os anteriores constituam premissas parafacilitar o entendimento dos subsequentes. Sugere-se a elaboração de um esquema com tópicos para aconsulta em plenário, que obedeça a seguinte ordem:

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Saudação: breves e honestos cumprimentos ao Juiz Presidente, Advogados, Serventuários,Policiais e público. Enaltecer qualidades inexistentes de qualquer um dos personagens do júripara depois, durante os debates imputar-lhes mazelas irá comprometer a credibilidade doPromotor. Se não houver motivos verdadeiros para elogios (breves), a saudação deverá ficarrestrita à menção do nome e função: “Excelentíssimo Senhor Doutor Fulano de Tal,digníssimo Advogado de Defesa”.

Introdução: é a oportunidade para um breve esclarecimento das funções dos personagens dojúri e sobre os mecanismos para se alcançar a decisão final, com enfoque para o sigilo dasvotações, a incomunicabilidade e a restrição à prova dos autos: “o que não está nosautos, não está no mundo”. É a oportunidade também de orientar os jurados sobre apossibilidade de solicitarem ao Juiz para que o orador indique as folhas dos autos onde seencontra a prova citada (CPP, art. 480), mormente quando houver antagonismo entre ascitações, o que servirá para eventual deslealdade da defesa, principalmente na tréplica.

Breve relatório: ao Jurado não interessa o relatório das etapas procedimentais, já feito peloJuiz Presidente. O relatório nesse caso é a sumária narrativa, com palavras simples, de comoocorreu o crime. Por exemplo: “ Acusado e vítima eram casados e estavam se divorciando, játendo o réu deixado o lar conjugal. No dia do crime, o acusado, com a intenção de matar avítima, dirigiu-se até sua casa empunhando uma arma branca e, lá chegando, desferiudiversos golpes no pescoço dela. Posteriormente, ele abandonou a vítima caída no interiorda casa e deixou o local na posse da arma branca. A ofendida morreu de hemorragia, semcondições de gritar por socorro” .

Análise da prova: a atenção do jurado ao orador pode estar presa por uma linha bastantetênue, o que significa que qualquer pausa, de alguns segundos que seja, pode provocar orompimento dessa linha. Deixar o jurado aguardando enquanto se folheia os autos paraprocurar o trecho do depoimento de uma testemunha pode ser o suficiente para ele perder aatenção. O ideal é que trechos interessantes de cada depoimento, interrogatório, oudocumentos sejam transcritos no roteiro do orador, evitando-se assim a procura, como noexemplo:

O réu, interrogado, disse (fls. 203):

Porque e como golpeou a vítima: “tomou a faca da mão da vítima e para sedefender riscou-a no pescoço”. (…) “Indagado quanto aos ferimentos sofridospela vítima, informa que passou a faca no pescoço dela e também o furou com afaca. Assim o sangue começou a sair”. (…) “riscou o pescoço da vítima por umaúnica vez e o furou também por uma única vez”.

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Por que o réu mentiu:

Como golpeou a vítima: laudo incompatível com quem riscou e furou uma únicavez (fls. 52): “Diversos ferimentos perfurocortantes, alguns sobrepostos,espalhados por toda a face anterior esquerda do pescoço com enfisemasubcutâneo estendendo-se até mediastino com perfuração da traqueia e esôfago”.Testemunha Pedro (fls. 201): “Confirma seu depoimento de fls. 39 no sentido deque as lesões ‘picadas’ verificadas no pescoço da vítima demonstravam aintenção de matar por parte do réu, e também muito sadismo. Picadas quer dizerreiterados golpes. O depoente viu vários buracos no pescoço da vítima, daí ter-sereferido a picadas”. Testemunha Maria Aparecida (fls. 200): “No pescoço davítima saíam bolhas de sangue e ela estava coberta de sangue pelo corpo todo”.

Porque golpeou a vítima: homicídio premeditado. Testemunha Alice (fls. 208):“Ele me procurou no sábado, pedindo que eu desse um recado à vítima, que seela não fosse dele, não seria de mais ninguém”.

É fundamental identificar as questões controvertidas, indicando o ponto de vista da defesa edemonstrando sua dissonância com a prova.

Teses da defesa: o Ministério Público deve rebater, por antecedência, as possíveis ouprováveis teses da defesa, sob pena de não dispor de tempo hábil para fazê-lo na réplica.Negativa de autoria, legítima defesa, desclassificação para lesão corporal, desistênciavoluntária, homicídio privilegiado, tudo o que for possível de alegação pela defesa deve serobjeto de explanação com a demonstração da impertinência.

Consequências de cada decisão: o jurado com um mínimo de responsabilidade estarápreocupado com as consequências da sua decisão. Informações da mídia de que o crime dehomicídio prevê pena de até 30 anos de prisão podem conduzir o jurado à ideia de que o réuque está sendo por ele julgado poderá ficar preso por 30 anos, o que, para o caso concreto(uma tentativa branca, por exemplo), pode lhe parecer injusto. Por isso é importante explicarque a pena, na maioria das vezes é fixada se não no limite mínimo, bem próxima a ele,analisando a provável pena do caso concreto. Analisar a incidência de causas de diminuição,como a tentativa, e discorrer sobre o sistema progressivo atinente à execução da pena privativade liberdade, demonstrando em números quanto tempo o réu deverá ficar encarcerado sefor condenado. Analisar por fim qual seria a pena em caso de desclassificação.

Questionário: o questionário deve ser explicado em plenário, pelo representante do MinistérioPúblico. Todo o trabalho do Parquet ou da defesa pode ser desfeito na sala secreta caso o

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Magistrado não seja eficiente na explicação dos quesitos. Cabe ao Ministério Público traduziros quesitos para uma linguagem leiga:

1º – No dia 07 de junho de 2012, por volta das 02h20, na residência situada na RuaLeopoldo de Albuquerque Salgado, nº 322, Vila Germânica, nesta cidade e comarca,“T” sofreu os ferimentos descritos no laudo de exame necroscópico de fls. 52, quederam causa à sua morte? TRADUÇÃO: “T” morreu em razão das facadas desferidasem seu pescoço? SIM (é o que diz o laudo).

2º – O réu “A” desferiu golpes de arma branca contra “T”, produzindo-lhe osferimentos descritos no laudo? TRADUÇÃO: Foi “A” quem deu as facadas em “T”?SIM (foi visto saindo da casa da vítima logo após o crime).(…)

É usual que os Magistrados, na explicação dos quesitos, orientem os jurados no sentido de que aresposta “SIM” está de acordo com a tese da defesa, e a “NÃO”, com a tese do Promotor, ou vice-versa, o que facilita bastante o entendimento.

7.4 Recursos:

Recurso Prazo Interposição Prazo RazõesApelação 05 dias 08 dias

Recurso em Sentido Estrito 05 dias 02 dias

É recomendável que as razões recursais já sejam apresentadas juntamentecom a petição de interposição.

7.4.1 Recurso em sentido estrito: no tribunal do júri o recurso em sentido estrito é possível,além das hipóteses comuns aos processos penais em geral, da decisão que pronunciar o réu (CPP,art. 581, inc. IV). Cuida-se basicamente de recurso cujo objeto será a análise da suficiência daprova para a submissão do caso ao tribunal do júri. Exemplos e maiores explicações estão nocapítulo referente aos recursos em geral.

7.4.2 Apelação: a apelação no Tribunal do júri só é admissível nas hipóteses previstas pelo art.593, inc. III, do Código de Processo Penal:

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a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;

b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados;

c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança;d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.

Como se pode notar, apenas na alínea “d”, em condições específicas, é possível discutir o méritoda decisão. As demais hipóteses referem-se a questões processuais, legais, ou relativas à aplicação dapena.

Na petição de interposição será necessário declinar o motivo da interposição e sua vinculação auma das alíneas do art. 593, inc. III, do Código de Processo Penal, estando também as razões deapelação vinculadas às hipóteses legais indicadas.

Para maiores informações, recomenda-se nova leitura do capítulo dedicado aos recursos.

É o entendimento de Edilson Mougenot Bonfim (Júri: do inquérito ao plenário. 2.ª ed. São Paulo: Saraiva, 1996.p. 62); e de Walfredo Cunha Campos (O Novo Júri Brasileiro. São Paulo: Primeira Impressão, 2008. p. 499).Em se tratando de peça prática de concurso, o privilégio não deve ser colocado, ainda que esteja descrito noenunciado da questão.Nos crimes dolosos contra a vida, é válido não utilizar a expressão “lesões corporais” para evitar argüições acercado dolo do agente. Desta forma, afastam-se alegações defensivas, por ocasião do plenário, no sentido de que opróprio Ministério Público indica um crime de lesão corporal seguida de morte, e não de homicídio dolosoconsumado, ou de lesão corporal, ao invés de eventual tentativa de homicídio.Esta é a chamada desclassificação própria (art. 419 do CPP). Desclassificação imprópria é aquela na qual o juizdesclassifica um crime doloso contra a vida para outro crime doloso contra a vida, não modificando a competênciado tribunal do júri. Por exemplo: desclassificação de homicídio para aborto.

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8.1 Termo Circunstanciado (TC): também conhecido como termo circunstanciado de ocorrência,é lavrado pela Autoridade Policial e deve conter um breve relato da infração penal, da versão do autordo fato e da vítima (quando for o caso), assim como um breve relato dos depoimentos dastestemunhas.

8.1.1 Análise do TC: para a análise do TC deve-se ter em conta os limites da colheita dos elementosda informação, inferiores àqueles produzidos em um inquérito policial. O objetivo do TC é aformação de um convencimento inicial, que poderá ser aperfeiçoado na audiência preliminar com arápida oitiva dos envolvidos no fato.

8.2 Representação: grande parte das infrações penais levadas ao Juizado Especial Criminal é formadapor crimes de ação penal pública condicionada à representação, principalmente ameaças e lesõescorporais leves (salvo quando cometidas com violência doméstica ou familiar contra a mulher).1 Amaioria das vítimas dispostas a representar deseja um “resultado” da Justiça. Essa pretensão muitasvezes poderá ser satisfeita com um simples pedido de desculpas, ou promessa de que o fato não irá serepetir. A simples inserção de tais manifestações no termo da audiência pode ser o suficiente para quea vítima desista da representação. Uma estratégia igualmente pacificadora é propor à vítima que seaguarde o termo final do prazo de representação, dizendo que se o problema se repetir, basta amanifestação de interesse no prosseguimento; caso contrário, ocorrerá a decadência. Vale lembrar quea finalidade precípua da Lei 9.099/1995 consiste em evitar a imposição das penas privativas deliberdade.

8.3 Proposta de transação penal:2

8.3.1 Adequação: é fundamental que haja uma perfeita adequação da proposta não só à natureza dainfração penal, mas também às condições pessoais do autor do fato (CP, arts. 59 e 60).

8.3.1.1 Possibilidade de cumprimento: as condições pessoais do autor do fato poderão tornarimprovável o cumprimento de determinadas penas, como no exemplo em que se aplica a pena deprestação pecuniária ou multa a pessoa pobre e desempregada; ou uma pena de prestação de serviçosà comunidade a alguém que trabalha de dia e estuda a noite, ou que reside muito distante do localonde deverá prestar serviços.

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8.3.1.2 Condições financeiras do autor do fato: é fundamental uma perfeita adequação do valor damulta ou prestação pecuniária às condições financeiras do autor do fato. Em se tratando de pessoacom poucos recursos econômicos, o parcelamento da pena, em não muitas parcelas, pode viabilizar aadimplência. Se o autor for pessoa mais abastada, a pena deverá ter peso representativo, não sendopossível a fixação de duas ou três “cestas básicas”.

8.3.1.3 Destinatário da prestação pecuniária: é necessário ter cautela antes de indicar a vítimacomo destinatária da prestação pecuniária. Primeiro porque isso pode tornar difícil a aceitação daproposta pelo autor do fato, e segundo porque pode criar na vítima a sensação de que está “lucrandocomo crime”. Em regra, a prestação pecuniária deve ser destinada à vítima em situações em quetenha ela experimentado dano indenizável, deixando claro ao autor do fato a possibilidade deabatimento em caso de indenização cível (CP, art. 45, § 1º).

8.3.1.4 Pertinência com a infração: algumas penas como a multa, a prestação pecuniária e aprestação de serviços à comunidade são aplicáveis a qualquer tipo de infração, mas outras, como asde interdição temporária de direitos (art. 47 do CP), devem guardar uma relação de pertinência com ainfração, não havendo sentido em aplicar a pena de suspensão da habilitação para dirigir veículos aoautor de crime de ameaça, por exemplo.

8.3.1.5 Interdição temporária de direitos: pouco utilizada como objeto de propostas de transaçãopenal, a interdição temporária de direitos pode ser muito útil em determinados delitos. Nos crimes detrânsito passíveis de transação penal, a suspensão da habilitação (CP, art. 47, inc. III) é medidabastante adequada, podendo ser agendada para ser cumprida durante o período de férias dosmotoristas profissionais, nada impedindo seja a proposta cumulada com outra pena. Igualmente aproibição de frequentar determinados lugares (art. 47, inciso IV do CP) é muito adequada em crimesque envolvam relacionamentos interpessoais, ou mesmo como proibição para frequentar bares,estádios de futebol, etc., quando a prática delitiva está relacionada a esses locais. A pena, além dereprimir, passa a ser um eficaz instrumento de prevenção.

A formação do convencimento do Ministério Público para a formulação de propostade transação penal, salvo fato novo, vincula o dominus litis ao oferecimento dedenúncia, caso recusada a proposta de transação. Não é razoável propor atransação penal, e diante da recusa do autor do fato, propor o arquivamento. Se háelementos para a transação penal, tem que haver para a denúncia também. É o quese extrai da expressão “não sendo caso de arquivamento”, contida no art. 76,caput, da Lei 9.099/1995.

Uma estratégia que costuma facilitar a aceitação da proposta e o própriocumprimento da pena é permitir que o autor do fato escolha, entre duasalternativas, a pena objeto da proposta. Por exemplo, pode-se oferecer a

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opção entre 04 meses de prestação de serviços à comunidade ou pagamentode prestação pecuniária no valor de 01 salário mínimo. A opção (em regrapela prestação pecuniária) dará ao autor a sensação de ter feito uma escolhavantajosa, o que não só facilitará a aceitação da proposta, mas o próprioadimplemento da pena.

8.3.2 Carta precatória: se a realização de audiência preliminar for deprecada, a proposta detransação penal deve ser formulada pelo representante do Parquet em exercício perante o juízodeprecante, permitindo a ele a formulação de proposta em sintonia com as condições pessoais doautor do fato. Pode-se inserir na proposta a possibilidade de opção entre duas ou mais espéciesde pena, e, em relação às penas pecuniárias, nada obsta deixar a critério do membro do MinistérioPúblico presente na audiência a sua quantificação, adequada à situação financeira do autor do fato:

Autos nº XX/ANO

MM. Juiz,Requer-se seja deprecada a realização de audiência preliminar. Fica formuladaproposta de transação penal consistente no pagamento de prestação pecuniária aentidade beneficente designada pelo Juízo deprecado, no valor de um saláriomínimo, sendo certo que tal valor poderá ser alterado para adaptar-se às condiçõesfinanceiras do autor do fato, apreciadas em audiência pelo ilustre representante doParquet em exercício perante o Juízo deprecado, bem como ser objeto deparcelamento.

Cumulativamente à prestação pecuniária, formula-se proposta de suspensão dahabilitação para dirigir veículo pelo prazo de 30 dias, devendo o documento serrecolhido pelo Juízo deprecado.

8.4 Arquivamento: tudo o que foi dito sobre o arquivamento de inquérito policial pode seraproveitado em relação ao arquivamento do Termo Circunstanciado, com as seguintes observações:

8.4.1 Previsão legal: art. 76 da Lei nº 9.099/1995.

8.4.2 Terminologia: a nomenclatura em relação à pessoa a quem foi imputada a prática da infraçãopenal deve ser “investigado”, “averiguado”, ou “autor do fato”.

8.4.3 Conclusão: a conclusão da manifestação deverá incluir também a abstenção da proposta detransação penal:

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PEDIDO DE ARQUIVAMENTO DE TERMO CIRCUNSTANCIADOAutos nº XXX/ANO

Termo circunstanciado XXX/ANO

MM. Juiz1,

O presente termo circunstanciado 2 foi lavrado para a verificação 3 da ocorrência decrime de ameaça atribuído a “A”.

RelatórioDe acordo com o relato da vítima, o autor do fato a teria ameaçado de morte caso nãoabaixasse o som de sua televisão.

O autor do fato negou a prática da ameaça, dizendo que normalmente assistetelevisão com o volume um pouco mais elevado por estar ficando surdo. Disse que avítima foi bastante grosseira quando bateu em seu apartamento, dizendo que iriaacionar a polícia. Negou tê-la ameaçado, limitando-se a dizer que era para a vítimaprocurar seus direitos.

Não há testemunhas presenciais.

Análise da provaPelo relato dos envolvidos foi possível verificar que as desavenças entre ambos sãoantigas.

Os elementos de informação ficaram restritos à palavra da suposta vítima, contrapostaà palavra do apontado autor do fato, o que, nessas circunstâncias, não oferecesubsídio suficiente para a formação da opinio delicti.

Conclusão

Pelo exposto, o Ministério Público deixa de formular proposta de transação penal 4

bem como de oferecer denúncia, requerendo o arquivamento do termocircunstanciado, sem prejuízo da regra contida no art. 18 do Código de Processo

Penal.

Cidade, dia, mês e ano.

Promotora de Justiça

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Dirigida ao Juiz

Ao invés de inquérito policial

Terminologia mais adequada

Abstenção da proposta

8.5 Denúncia: as explicações lançadas no tocante à denúncia no juízo criminal aplicam-se ao JuizadoEspecial Criminal. Em regra, a denúncia baseada na Lei 9.099/1995 deve ser oferecida oralmente naaudiência preliminar, e reduzida a termo, quando houver rejeição da proposta de transação penal(Lei 9.099/1995, art. 77), formulando-se no ato proposta de suspensão condicional do processo, secabível. Apenas em relação ao juízo a quem é dirigida e ao rito processual, deve-se observar:

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito do Juizado Especial Criminal 1 da Comarca de(cidade/estado)

Autos nº XXX/ANO

Termo circunstanciado XXX/ANO

Consta do incluso termo circunstanciado que “A”, qualificado a fls. 05, no dia 11 defevereiro de 2012, por volta de 10h20, no interior da Santa Casa de Misericórdia, sitana Rua Doutor Samuel Libânio, nº 132, nesta cidade e comarca, opôs-se à execuçãode ato legal, mediante violência e ameaça a funcionário competente para executá-lo.

Consta também que nas mesmas condições de tempo e local acima mencionadas, “A”desacatou funcionários públicos no exercício da função.

Segundo consta, o denunciado teve uma desavença com seu filho e estava no referidohospital gritando com os funcionários, motivo pelo qual a Polícia Militar foi acionada.Os milicianos “T” e “U” compareceram ao local e procederam à abordagem de “A”,solicitando que deixasse o local. Nesse momento, o denunciado passou a resistirmediante violência à ação policial, agredindo os policiais com socos, chegando a feriro dedo de “U”. Na oportunidade o denunciado ainda desacatou os milicianoschamando-os de “bostas” e “vagabundos”.

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia “A” como incurso nos arts. 329,caput, e 331, na forma do art. 69, caput, todos do Código Penal, e requer que autuadaesta, instaure-se o devido processo, observado o procedimento sumaríssimo

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previsto nos arts. 77 e ss. da Lei nº 9.099/1995 , 2 citando-se o denunciado para sedefender, recebendo a denúncia, ouvindo-se as pessoas abaixo indicadas eprosseguindo-se até final decisão condenatória.

Dirigida ao Juiz do JECrim

Procedimento sumaríssimo

No caso da denúncia no termo, não haverá necessidade do “cabeçalho” com a indicação dojuízo, iniciando-se a fala simplesmente com “MM. Juiz”. Também não se menciona o número dosautos, a data do oferecimento da peça e o nome do Promotor de Justiça subscritor, por serem dadosque já constam do termo. O texto será idêntico.

8.6 Memorial: no Juizado Especial Criminal o memorial tem as seguintes peculiaridades:

8.6.1 Previsão legal: não há previsão legal. O art. 81 da Lei nº 9.099/1995 limita-se à menção aosdebates orais, sem haver previsão para a conversão em memoriais. Na prática, a conversão é feitapara atender eventuais necessidades das partes ou do juízo.

8.6.2 Relatório: é dispensado para a sentença (Lei 9.099/1995, art. 81, § 3º). Também é possívelsuprimi-lo do memorial, ou substituí-lo pela menção do nome do réu, e indicação da imputaçãopenal (artigo e lei): “Fulano de Tal foi denunciado e está sendo processado como incurso no art.147 do Código Penal”.

8.7 Recursos: a Lei 9.099/1995 menciona apenas dois recursos:3 apelação (art. 82) e embargos dedeclaração (art. 83).

A apelação pode ser interposta da sentença que julgar a ação penal (art. 82) ou da sentença queaplicar pena restritiva de direitos ou multa em transação penal (art. 76, §§ 4º e 5º). Em todos os casos,a petição de interposição deve vir acompanhada das razões de apelação.

Recurso Prazo InterposiçãoApelação 10 dias

Embargos de Declaração 05 dias

Além do prazo de interposição e do fato de que as razões devem acompanhar a petição deinterposição, o que difere a apelação do Juizado Especial Criminal da apelação prevista no Código deProcesso Penal e manejada perante o juízo criminal comum é o órgão a quem é dirigida as razões deapelação, que no caso do Juizado Especial Criminal pode ser o Colégio Recursal ou Turma Recursal.

Deve-se atentar para o fato de que ao contrário dos embargos previstos no art. 382 do Código de

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Processo Penal, os embargos de declaração do art. 83, § 2º, da Lei nº 9.099/1995 apenas suspendemo prazo para recurso, que não é interrompido, ou seja, com a apreciação dos embargos o prazorecursal recomeça a fluir a partir do dia em que havia parado.

Nos termos da Súmula 542 do Superior Tribunal de Justiça: “A ação penal relativa ao crime de lesão corporalresultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada”.Art. 76 da Lei nº 9.099/1995.Doutrina e jurisprudência têm admitido a utilização de recurso em sentido estrito no Juizado Especial Criminal.

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NOÇÕES GERAIS

9.1 Tema: em regra, nos concursos do Ministério Público, a peça prática tem como tema o DireitoPenal e Direito Processual Penal.

9.2 Limitações de tempo e fontes de consulta: deve-se ter em conta que o tempo disponível para aelaboração da questão e as fontes de consulta são limitados obrigando à redação de uma peça objetivana qual não será possível a transcrição de doutrina ou de julgados. Mais uma vez destaca-se aimportância da síntese, clareza e objetividade.

9.3 Organização: a divisão em tópicos facilita a redação, a organização das ideias e a compreensão.Os tópicos podem seguir ou não a ordem das questões levantadas, devendo a análise ser iniciada pelaspreliminares. Mesmo quando não haja a divisão em tópicos, é fundamental que, esgotado determinadoassunto e passando-se para o assunto seguinte, não se volte mais ao tema anteriormente tratado.

9.4 Objetivos do examinador: em muitas peças práticas as questões jurídicas colocadas nãoapresentam maiores dificuldades. O objetivo maior do examinador nesse tipo de questão é avaliar acapacidade de redação do candidato, sua facilidade para identificar pontos importantes noconjunto probatório e nas questões jurídicas, e de organizar as ideias em uma sequência lógica.

Sendo a prova manuscrita, é fundamental que o candidato apresente umacaligrafia legível e se possível de boa estética. Se necessário, deve-se treinar aescrita em letra de forma, ou caligrafia.

Fazer ou não um rascunho é uma opção pessoal que envolve uma série devariáveis sendo a principal delas o tempo. Uma simulação cronometrada emcasa poderá ajudar na decisão.

9.5 Análise de provas:

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9.5.1 Prova da 2ª fase do 89º Concurso de Ingresso à Carreira do Ministério Público doEstado de São Paulo, em 2012: Foi requerida a elaboração da seguinte peça prática:

II) Peça prática:

JOÃO DA SILVA foi denunciado, perante a 1ª. Vara Criminal desta Capital, comoincurso no artigo 157, § 2.º, incisos I e II, do Código Penal, acusado da subtração – emconcurso com JOSÉ DOS SANTOS e com outro indivíduo não identificado – doautomóvel VW-Gol pertencente a Antonio Silveira, mediante grave ameaça exercidacom emprego de arma de fogo.

Aponta a denúncia, em suma, que, no dia 15 de maio de 2011, por volta de 10 horas,na Rua Augusta, 2000, nesta Capital, ele e os comparsas aproximaram-se do veículoda vítima, que acabara de estacioná-lo na frente de sua casa. Ameaçaram-na demorte; exibindo-lhe o desconhecido um revólver que empunhava ; e obrigaram-na a dele descer. Apossaram-se do automóvel e com ele deixaram o local. Meia horadepois, alertados pelo ofendido, policiais militares avistaram o veículo roubado,ocupado por três indivíduos. Após breve perseguição, conseguiram interceptá-lo. Odesconhecido empreendeu fuga a pé, tendo efetuado dois disparos contra ospoliciais. JOÃO e JOSÉ foram detidos.

A ação penal tramitou regularmente. De relevante, foram ouvidos o ofendido – sem apresença dos acusados, aos quais reconheceu com segurança através de uma frestada porta da sala de audiências – e os policiais que prenderam os agentes, queconfirmaram as circunstâncias da prisão. Interrogados, JOÃO negou sua participaçãono roubo e JOSÉ confessou e disse ter agido em conluio com JOÃO e com o outroindivíduo. Foram juntadas certidões que informam que JOÃO respondeu avários processos, tendo sido condenado em dois deles: o primeiro (furto privilegiado)cometido em 10 de maio de 2006, pelo qual foi condenado a multa, tendo a decisãotransitado em julgado em 15 de abril de 2008; e o último (furto simples, praticado em12 de fevereiro de 2006), pelo qual recebeu pena de prestação de serviços àcomunidade, em condenação que se tornou definitiva em 15 de janeiro de 2007, tendoiniciado o cumprimento da sanção em 18 de julho de 2008.

Ao final, JOÃO foi condenado, nos termos da denúncia, ao cumprimento de 7 (sete)anos, 7 (sete) meses e 14 (quatorze) dias de reclusão, em regime inicial fechado, bemcomo ao pagamento de 16 (dezesseis) dias-multa, no valor unitário mínimo. A penabase foi estipulada em 4 (quatro) anos e 8 (oito) meses de reclusão e 11 (onze) dias-multa, considerados os maus antecedentes e as circunstâncias do crime. Foi

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aumentada de 1/6 (um sexto), pelo reconhecimento da reincidência e em 2/5 pelapresença de duas causas de aumento do roubo. Negado o direito de recorrer emliberdade, foi mantida sua prisão.

Inconformado, interpôs tempestiva apelação. Em suas razões, argui, em preliminar, anulidade do processo. Aponta atuação que reputa deficiente do defensor queoficiou anteriormente e cerceamento de defesa diante do não deferimento dediligência (exame pericial do veículo subtraído) requerida em seu memorial.

Quanto à questão de fundo, alega que a prova é insuficiente para a

condenação, não devendo ser considerada a palavra do corréu em Juízo ,

porque a ele – menor de 21 anos – não foi dado curador no interrogatório .

Sustenta, ainda, que o reconhecimento pela vítima não observou as disposiçõeslegais. Subsidiariamente, requer a expedição de alvará de soltura porque não

foi o flagrante convertido em preventiva (art. 310, II, do CPP) ; pleiteia a

exclusão da qualificadora do emprego de arma (que não foi apreendida e submetida àperícia) e a atenuação de suas reprimendas (exclusão do acréscimo pelos

maus antecedentes porque – reconhecida a reincidência – caracterizaria “ bis inidem” e majoração de apenas um sexto pelas causas de aumento) ;

assim como o abrandamento do regime inicial de cumprimento da privativa de

liberdade.

Como Promotor de Justiça que oficia junto àquele Juízo, ELABORE AMANIFESTAÇÃO ADEQUADA.

Pontos relevantes da prova (ver item I após o modelo e respectivos subitens 1 a 5)

Mérito (ver item III após o modelo)

Preliminares (ver item II após o modelo e respectivos subitens 1 a 5)

Pena (ver item IV após o modelo e respectivos subitens 1 a 4)

Antes de começar a redigir: grife os pontos mais importantes da questão, numerando-os eseparando-os por tema:

I – Prova:a arma foi exibida à vítima;

efetuou disparos contra os policiais;

apelante e seu comparsa José presos em flagrante;

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vítima reconheceu apelante em audiência;

comparsa confessou e admitiu ter agido em conluio com apelante.

II – Preliminares:atuação deficiente do defensor (dado não fornecido – foi deficiente?);

não deferimento de exame pericial do veículo;

ausência de curador ao corréu menor de 21 anos;

ausência de formalidades legais para o reconhecimento feito pela vítima;ausência de decisão convertendo a prisão em flagrante em prisão preventiva (dado nãofornecido – detalhes da decisão).

III – Mérito:prova insuficiente;

imputação do corréu inválida.

IV – Pena:exclusão da qualificadora do emprego de arma, porque não apreendida;

antecedentes + reincidência = bis in idem;

pede majoração de 1/6 pelas causas de aumento;pede abrandamento do regime inicial.

O relatório: o relatório pode ser feito copiando-se o enunciado da questão, adaptando-se onecessário.

A indicação da sucumbência: também a indicação da sucumbência pode ser copiada doenunciado da questão, basicamente indicando os tópicos dos itens II, III e IV supra.

A fundamentação: na fundamentação o candidato deve rebater cada um dos tópicosenumerados na indicação da sucumbência. Havendo vários itens, revela-se conveniente a separaçãopor tópicos.

Dados não fornecidos: a partir do problema colocado, deve-se ter em conta que o examinador,não especificando alguns dos detalhes da prova e atos processuais, dá ao candidato liberdade de criarem cima de questões como a obediência ou não das formalidades do reconhecimento na polícia; ou oteor do despacho judicial que apreciou a prisão em flagrante. Obviamente essa liberdade de criaçãodeve obedecer aos limites do que ocorre no cotidiano forense.

CONTRARRAZÕES DE APELAÇÃO 1

Autos nº XXX/ANO

Apelante: João da Silva 2

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Apelado: O Ministério Público 2

Egrégio Tribunal, 3

Colenda Câmara, 3

Douto Procurador de Justiça , 3

JOÃO DA SILVA foi denunciado, processado e condenado 4 como incurso no artigo157, § 2.º, incisos I e II, do Código Penal, em razão 4 da subtração – em concursocom JOSÉ DOS SANTOS e com outro indivíduo não identificado – do automóvel VW-Gol pertencente a Antonio Silveira, mediante grave ameaça exercida com emprego dearma de fogo. 5

RelatórioCopiar da questão, adaptando o necessário

Narra a denúncia que no dia 15 de maio de 2011, por volta de 10 horas, na RuaAugusta, 2000, nesta Capital, o apelante e seus comparsas aproximaram-se doveículo da vítima, que acabara de estacioná-lo na frente de sua casa. Ameaçaram-nade morte; exibindo-lhe o desconhecido um revólver que empunhava; e obrigaram-na adele descer. Apossaram-se do automóvel e com ele deixaram o local. Meia horadepois, alertados pelo ofendido, policiais militares avistaram o veículo roubado,ocupado por três indivíduos. Após breve perseguição, conseguiram interceptá-lo. Odesconhecido empreendeu fuga a pé, tendo efetuado dois disparos contra os policiais.JOÃO e JOSÉ foram detidos. 5

A ação penal tramitou regularmente. Foram ouvidos o ofendido e os policiais queprenderam os agentes, sendo por fim interrogados o apelante e seu comparsa. Foramjuntadas certidões. 6

Ao final, o apelante 7 foi condenado, nos termos da denúncia, ao cumprimento de 7(sete) anos, 7 (sete) meses e 14 (quatorze) dias de reclusão, em regime inicialfechado, bem como ao pagamento de 16 (dezesseis) dias-multa, no valor unitáriomínimo. Negado o direito de recorrer em liberdade, foi mantida sua prisão. 8

Indicação do inconformismo (copiar, adaptando)Inconformado, João da Silva interpôs tempestiva apelação. Em suas razões, argui, empreliminar, a nulidade do processo. Aponta atuação que reputa deficiente do defensorque oficiou anteriormente e cerceamento de defesa diante do não deferimento de

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diligência (exame pericial do veículo subtraído) requerida em seu memorial. Quanto àquestão de fundo, alega que a prova é insuficiente para a condenação, não devendoser considerada a palavra do corréu em Juízo, porque a ele – menor de 21 anos – nãofoi dado curador no interrogatório. Sustenta, ainda, que o reconhecimento pela vítimanão observou as disposições legais. Subsidiariamente, requer a expedição de alvaráde soltura porque não foi o flagrante convertido em preventiva (art. 310, II, do CPP);pleiteia a exclusão da qualificadora do emprego de arma (que não foi apreendida esubmetida à perícia) e a atenuação de suas reprimendas (exclusão do acréscimopelos maus antecedentes porque – reconhecida a reincidência – caracterizaria “bis inidem” e majoração de apenas um sexto pelas causas de aumento); assim como oabrandamento do regime inicial de cumprimento da privativa de liberdade.

Não merece provimento o apelo. 9

Fundamentação1. A alegação de nulidade do processo

Ao contrário do que sustenta o apelante, não houve qualquer prejuízo para a defesacapaz de motivar a decretação da pretendida nulidade. 10

Argumentando sobre uma deficiente atuação do defensor que oficiou no início doprocesso, o apelante o fez de forma genérica, não indicando qual teria sido a omissãoou imperícia do profissional geradora de prejuízo à sua defesa. O referido defensorapresentou defesa escrita satisfatória, não arrolou testemunhas porque não existiam,tendo praticado todos os atos que lhe eram possíveis na defesa do apelante, nãohavendo qualquer deficiência em seu trabalho que pudesse dar ensejo à alegadanulidade. 11

O não deferimento de exame pericial do veículo subtraído não implica cerceamento dedefesa, por tratar-se de prova irrelevante, impertinente e protelatória, que deveria sermesmo indeferida, nos termos do art. 400, §1º do Código de Processo Penal. 12

Qualquer que fosse a constatação pericial, não haveria alteração na caracterizaçãodo crime de roubo imputado ao apelante. 13

2. Ausência de curador ao corréu

Afirmou o apelante serem insuficientes as provas para a condenação pelo fato de nãoter sido nomeado curador ao corréu em seu interrogatório. 14

O art. 194 do Código de Processo Penal, que determinava a nomeação de curadorpara o interrogatório judicial do acusado foi revogado pela Lei nº 10.792, de

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1º.12.2003. E se não há mais obrigação de curador, não há que se falar em nulidade,devendo a imputação feita pelo corréu ser recebida como a fiel expressão daverdade. 15

Mesmo se assim não fosse, quando interrogado o corréu José estava acompanhadode seu advogado que lhe garantiu a liberdade de expressão e a defesa de seusinteresses, o que por si só já confere credibilidade ao ato, afastando a hipótese denulidade. 16

3. O reconhecimento pessoal

A alegação do apelante de que seu reconhecimento pela vítima não obedeceu aosditames legais, não invalida ou desqualifica a prova produzida. 17

Na Delegacia de Polícia o apelante foi formalmente reconhecido, observadas asexigências do art. 226 do Código de Processo Penal, conforme se vê do auto juntadono inquérito policial a fls. __. 18

Em juízo ocorreu o chamado “reconhecimento informal”, tendo a vítima reconhecido oapelante ao visualizá-lo através de uma fresta da porta da sala de audiências. Trata-sede prova válida, que constitui desdobramento da prova oral e que não sustentouisoladamente a condenação do apelante. Não se pode perder de vista que o apelantefoi preso por policiais logo em seguida ao roubo, no interior do carro roubado, tendosido apontado pelo corréu como coautor do crime em questão. Como se vê, oreconhecimento informal levado a efeito pela vítima apenas corroborou a farta provada autoria. 19

4. A não conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva

Pleiteia o apelante a expedição de alvará de soltura alegando que a prisão emflagrante não foi convertida em prisão preventiva, nos termos do art. 310, inciso II, doCódigo de Processo Penal. 20

Pelo que se nota do respeitável despacho lançado na cópia do auto de prisão emflagrante, a conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva ocorreu de formaimplícita. De fato não fez constar a MM. Juíza do plantão Judiciário, que estava“convertendo a prisão em flagrante em prisão preventiva”, mas após a análise dospressupostos do art. 312 do Código de Processo Penal, concluiu pela necessidade da“manutenção da custódia”. Com a decisão de “manter a custódia”, decidiu o Judiciáriopelos efeitos da prisão preventiva, o que foi reiterado pelo Juiz da causa quando daapreciação dos dois pedidos de revogação da prisão preventiva formulados pela

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defesa. 21

Tratando-se de mero erro formal, não há que se falar em prejuízo capaz de justificar aexpedição de alvará de soltura, como pleiteia o apelante. 22

5. A causa de aumento de pena relativa ao emprego de arma

O argumento do apelante de que a majorante do art. 157, § 2º, inciso I não podeincidir no presente caso pelo fato de não ter sido a arma apreendida e periciada deveser de pronto afastado. 23

A arma só não foi apreendida porque estava de posse do comparsa que conseguiufugir, mas sua existência e eficácia são inquestionáveis. A vítima narrou com clareza oemprego de arma, afirmando que ao ser abordada foi-lhe apontado um revólver. E nãose tratava de simulacro de arma de fogo, já que, quando da perseguição policial, ocomparsa fugitivo chegou a efetuar dois disparos na direção dos policiais, atestandoassim a eficácia da arma de fogo. 24

Comprovada assim a eficácia da arma de fogo, a qualificadora deve subsistir. 24

6. A fixação da pena

Pleiteia por fim o apelante a exclusão do acréscimo pelos maus antecedentes porque– reconhecida a reincidência – caracterizaria “bis in idem” e majoração de apenas umsexto pelas causas de aumento; assim como o abrandamento do regime inicial decumprimento da privativa de liberdade. 25

Como já decidiu o Supremo Tribunal Federal, não há que se falar em bis in idem emcaso de consideração de maus antecedentes e reincidência para a fixação da pena,desde que, como é o caso dos autos, trate-se de fatos distintos. 26

Sem fundamento legal o inconformismo do apelante ao pleitear a majoração da penaem 1/6 na aplicação da causa de aumento prevista no § 2º. A simples leitura doreferido dispositivo revela que a majoração mínima permitida é de 1/3. Em razão daincidência de duas qualificadoras, houve por bem o julgador em aplicar a fração de2/5, perfeitamente adequada ao caso concreto. 26

A fixação do regime fechado para o início do cumprimento da pena foi muito bemjustificada na r. sentença. A despeito de o montante da pena comportar o regimesemiaberto, o fato é que, sendo o acusado reincidente, torna-se obrigatória a fixaçãodo regime fechado, nos termos do art. 33, § 2º do Código Penal. Mesmo se assim nãofosse, o acusado mostrou-se pessoa que representa efetivo perigo para a sociedade,

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já tendo praticado vários crimes, fazendo do patrimônio alheio seu meio de vida, o querecomenda seu afastamento do meio social. 27

PedidoPelo exposto, opina o Ministério Público pelo não provimento da apelação, para queseja mantida a condenação do apelante, nos termos da r. sentença. 28

Cidade, dia, mês e ano.

Promotor de Justiça 29

Título da peça

Indicação das partes\

Destinatários das contrarrazões

Adaptações

Resumo da imputação

Copiar da questão apenas a indicação dos atos processuais

Copiar, adaptando

Resultado da sentence

Frase de transição para a fundamentação

Breve indicação da alegação

Fatos criados pelo candidate

Análise do direito

Análise da prova

Breve indicação da alegação

Análise do direito

Análise doa prova

Breve indicação da alegação

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Fato criado pelo candidate

Análise do fato e do direito

Breve indicação da alegação

Análise do fato (criado pelo candidato)

Análise do direito

Breve indicação da alegação

Análise da prova

Breve indicação da alegação

Análise do direito

Análise do direito

Pedido

Nunca ponha seu nome ou assine a peça

9.5.2 Prova escrita especializada da banca de Direito Penal, Direito Processual Penal eDireito Eleitoral. XXXI Concurso para Ingresso na Classe Inicial da Carreira doMinistério Público do Estado do Rio de Janeiro – 15.11.2009: Foi requerida a elaboração daseguinte peça prática:

01ª questão: Direito Penal (Valor – 60 pontos)

TÍCIO, indivíduo do sexo masculino, perfeitamente sadio, com 25 anos de idade, étransexual assumido, manifestando desde a infância, para todos os que o conheciam,o desejo de eliminar os genitais masculinos e perder todas as características

primárias e secundárias de seu sexo anatômico natural, para adquirir as do sexooposto. Tal insatisfação com suas características sexuais sempre causou a TÍCIOgrande sofrimento psíquico, apresentando constantes quadros de depressão e fortedesejo de automutilação. Através da indicação de amigos, TÍCIO procurou o

cirurgião MÉVIO para consultá-lo a respeito de cirurgia de mudança de sexo e ocirurgião propôs a TÍCIO a realização de procedimento cirúrgico denominadoneocolpovulvoplastia, consistente na amputação do pênis, retirada dos testículos e

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posterior criação, através de técnicas de cirurgia plástica, de uma cavidade comaparência de órgão sexual feminino. Após assinatura de termo de concordânciaexpressa do paciente, a cirurgia foi realizada em 23 de março de 2009, no HospitalXXX, com absoluto sucesso, sendo certo que TÍCIO ficou extremamente satisfeito comsua nova condição anatômica. Outrossim, cessaram inteiramente os problemaspsíquicos decorrentes de sua insatisfação com o sexo masculino.

Tomando conhecimento do fato, determinada associação religiosa, através de seuadvogado, ofereceu notícia de crime perante a Autoridade Policial, imputando aocirurgião MÉVIO, a FÚLVIO, médico assistente, a SEMPRÔNIO, médico anestesista ea NEIDE e PERLA, respectivamente instrumentadora e enfermeira, a prática do crimecapitulado no art. 129, parágrafo 2º, III, do Código Penal, ressaltando ser o

corpo humano dádiva divina e a integridade corporal protegida pela Constituição daRepública. Instaurado inquérito policial, os fatos foram integralmente

comprovados e o laudo de exame de corpo de delito a que TÍCIO foi submetidoconstatou a existência de lesão à integridade física e perda da função reprodutorapela retirada da bolsa escrotal, dos testículos e do pênis.

Relatado, o inquérito foi encaminhado ao Ministério Público para a “opinio delicti”.

Na qualidade de Promotor de Justiça, analise os fatos sob o aspecto jurídico-penal eredija a peça que entender cabível.

OBS: A PEÇA NÃO DEVERÁ SER ASSINADA, SOB PENA DE ELIMINAÇÃO DOCONCURSO.

Prova (ver item I após o modelo e respectivos subitens 1 e 2)

Prova (ver item I após o modelo e respective subitem 3)

Argumentos da representante (ver item II após o modelo e respectivos subitens 1 a 3)

Antes de começar a redigir: grife os pontos mais importantes da questão, numerando-os eseparando-os por tema:

I – Prova:era transexual assumido desde a infância, com desejo de eliminar os órgãos genitaismasculinos;

a situação gerava grande sofrimento físico, com constantes quadros de depressão e desejo deautomutilação;cessaram inteiramente os problemas psíquicos decorrentes de sua insatisfação com o sexo

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masculino.

II – Argumentos da representante:conduta típica (art. 129, § 2º, III do CP) – perda da função reprodutora;

integridade corporal protegida pela Constituição;

existência de lesão à integridade física e perda da função reprodutora pela retirada da bolsaescrotal, dos testículos e do pênis.

O relatório: o relatório pode ser feito copiando-se o enunciado da questão, adaptando-se onecessário.

A fundamentação: na fundamentação, tratando-se de manifestação para arquivamento doinquérito policial o candidato deve esclarecer o motivo pelo qual a conduta não se adequa ao tipopenal indicado, e não ofende o direito á integridade física. Havendo vários itens, revela-se convenientea separação por tópicos.

Dados não fornecidos: a partir do problema colocado, deve-se ter em conta que o examinador,não especificando alguns dos detalhes da prova, dá ao candidato liberdade de criar em cima dequestões como a existência de laudo psicológico atestando a situação de sofrimento e histórico dopaciente. Obviamente essa liberdade de criação deve obedecer aos limites do que ocorre no cotidianoforense.

PEDIDO DE ARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL 1

Autos XXX/ANO 2

IP XXX/ANO 3

MM. Juiz, 4

Relatório – Copiar do enunciado com as devidas alteraçõesInstaurou-se o presente inquérito policial para a investigação da prática de um crimede lesão corporal de natureza gravíssima, previsto no art. 129, §2º, inciso III do CódigoPenal. 5

Segundo consta do inquérito policial, TÍCIO, indivíduo do sexo masculino,perfeitamente sadio, com 25 anos de idade, transexual assumido, foi submetido pelocirurgião MÉVIO a uma cirurgia de mudança de sexo denominadaneocolpovulvoplastia, consistente na amputação do pênis, retirada dos testículos eposterior criação, através de técnicas de cirurgia plástica, de uma cavidade comaparência de órgão sexual feminino, tudo com a concordância expressa do paciente. 6

A associação religiosa XXX, através de seu advogado, ofereceu notícia de crime

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perante a Autoridade Policial, imputando ao cirurgião MÉVIO, a FÚLVIO, médicoassistente, a SEMPRÔNIO, médico anestesista e a NEIDE e PERLA, respectivamenteinstrumentadora e enfermeira, a prática do crime capitulado no art. 129, parágrafo 2º,III, do Código Penal, ressaltando ser o corpo humano dádiva divina e a integridadecorporal protegida pela Constituição da República. 7

FundamentaçãoO laudo de exame de corpo de delito a que TÍCIO foi submetido constatou a existênciade lesão à integridade física e perda da função reprodutora pela retirada da bolsaescrotal, dos testículos e do pênis.

O inquérito policial deve ser arquivado. 8

A despeito de formalmente o ato cirúrgico praticado caracterizar lesão corporal comperda de função, as circunstâncias do caso concreto revelam a atipicidade daconduta.

O laudo de exame e acompanhamento psicológico juntado aos autos (fls. __) bemcomo a prova testemunhal produzida revelam que TÍCIO vem manifestando desde ainfância, para todos os que o conheciam, o desejo de eliminar os genitais masculinos eperder todas as características primárias e secundárias de seu sexo anatômiconatural, para adquirir as do sexo oposto. Tal insatisfação com suas característicassexuais sempre causou a TÍCIO grande sofrimento psíquico, apresentando constantesquadros de depressão e forte desejo de automutilação. Tais circunstânciascaracterizam o indivíduo classificado como “transexual” que é considerado pelaOrganização Mundial de Saúde como uma espécie de transtorno de identidade degênero, em que a pessoa apresenta sensação de grande desconforto e inadequaçãoao seu próprio sexo anatômico, almejando fazer a transição de seu sexo denascimento para o sexo oposto.

A doutrina tem admitido a inexistência de crime em casos de cirurgias para mudançade sexo realizadas em transexuais. De acordo com o Professor Cleber Masson (DireitoPenal – Volume 2, Editora Método) em análise ao art. 129 do Código Penal, faltaria emtais casos ao cirurgião o dolo de lesionar. Ao contrário, trata-se sim de intervençãoterapêutica, destinada a trazer ao paciente a serenidade psíquica, tanto que de acordocom o laudo médico juntado aos autos (fls. __), após a cirurgia “cessaraminteiramente os problemas psíquicos decorrentes de sua insatisfação com o sexomasculino”.

Não por outro motivo, a cirurgia para mudança de sexo em transexuais foi

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regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina, legitimando assim a conduta dosprofissionais ora investigados.

Mesmo se assim não fosse, uma interpretação constitucional do caso concreto,revelaria a perfeita incidência do princípio da dignidade da pessoa humana, já quediante do enorme sofrimento experimentado pelo paciente, plenamente justificada estáa atuação dos investigados, efetuando procedimento adequado e eficiente para trataro paciente, com o seu consentimento, sendo difícil falar em ofensa à ordem jurídica e àlei penal.

A conduta imputada aos investigados é, portanto, atípica, por ausência de dolo.

ConclusãoAnte o exposto, o Ministério Público requer o arquivamento do inquérito policial, semprejuízo do disposto no art. 18 do Código de Processo Penal.

Cidade, dia, mês e ano.

Promotor de Justiça 9

Título da peça

Nº dos autos e do IP

Dirigida ao Juiz

Imputação Jurídica

Descrição fática

Representação

Frase de transição para a fundamentação

Nunca ponha seu nome ou assine a peça

9.5.3 Prova da 2ª fase do 85º Concurso de Ingresso à Carreira do Ministério Público doEstado de São Paulo, em 2006: A Peça Prática 1 (não sorteada) foi a seguinte:

Redigir, com o acréscimo dos dados necessários, denúncia pelo fato resumidamenteexposto a seguir: Roubos consumados por quatro agentes, mediante grave ameaça a

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empregados e à cliente de joalheria , exercida com uso de armas de fogo ;

três ladrões subtraíram 50 colares de pérola pertencentes à casa

comercial e o telefone celular da referida freguesa enquanto o quarto

apenas permaneceu em um automóvel estacionado nas proximidades para dar fugaaos comparsas.

Formular em apartado requerimentos pertinentes, entre os quais o de prisãopreventiva, que considere: 1) haver prova da existência dos crimes e indíciossuficientes de autoria; 2) a habitual prática de graves crimes contra o

patrimônio pelos acusados, os quais não tinham (Joaquim) , condenado por

cinco roubos à mão armada – certidões de folhas 32 a 36 do inquérito policial; Mário,, condenado por dois latrocínios e cinco roubos, certidões de folhas 37 a 43 do

inquérito policial; Lúcio , condenado por três roubos qualificados-certidões de

folhas 44 a 46; Carlos , condenado por quatro roubos qualificados – certidão

de folhas 47 a 50 do inquérito policial) vínculos com o distrito da culpa e eramdesocupados.

Informações (ver item I após o modelo e respectivos subitens 1 a 6)

Antes de começar a redigir: grife os pontos mais importantes da questão:

I – Informações dadas:foram duas as vítimas de subtração: a joalheria e a cliente;

houve utilização de armas de fogo;

eram três coautores e um partícipe;objetos subtraídos: 50 colares (joalheria) 01 celular (cliente);

nomes dos agentes;

elementos para o pedido de prisão preventiva.

II – Informações não fornecidas:data horário e local do fato, nome das vítimas e sobrenomes dos agentes;

valores e descrições dos objetos subtraídos;

conduta individualizada de cada um dos três autores.

Dados não fornecidos: os dados não fornecidos devem ser criados pelo candidato obedecendoaos limites do que ocorre no cotidiano forense.

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 15º Vara Criminal da Comarca de São Paulo

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– Capital. 1

Autos nº XXX/ANO

IP nº XXX/ANO

A primeira parte transcreve o tipo penal, fornecendo quase todos os elementosnecessários à identificação da conduta.

Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 10 de agosto, de 2012, porvolta das 15h00 2 , no interior do Shopping “X” Avenida “Y”, nesta cidade 3 ecomarca, JOAQUIM, MÁRIO e LÚCIO 4 , qualificados a fls. 10, 11 e 12,respectivamente, (autos de reconhecimentos pessoais a fls. 40/50) 5 , agindo emconcurso 6 , subtraíram para eles e seu comparsa 7 , mediante grave ameaçaexercida com emprego de armas de fogo 8 , 50 colares de pérolas 9 , pertencentes àempresa “ W” 11 . e avaliados em R$ __ (fls. 25) 10 , bem como um aparelho detelefonia celular 9 da marca XY, modelo XZ, de propriedade de “ A” 11 e avaliado emR$ __ (fls. 26). 10

Consta também que nas mesmas condições de tempo e local acima descritas,CARLOS 4 , qualificado a fls. 13, concorreu para a prática dos crimes. 6

Na segunda parte, a conduta é detalhada com todas as circunstâncias.

Ao que se apurou, JOAQUIM, MÁRIO e LÚCIO ingressaram no estabelecimentocomercial e, com a utilização de armas de fogo, ameaçaram de morte “B”, “C” e “D”,funcionários da joalheria, exigindo a entrega de 50 colares de pérolas que estavamguardados no cofre, no que foram prontamente atendidos. Em seguida, e tambémmediante grave ameaça, subtraíram o aparelho de telefonia celular de “A”, a qualacabara de ingressar na loja para compras.

CARLOS concorreu para os roubos mencionados, mediante auxílio, pois permaneceuem via pública, na direção de automóvel, aguardando seus comparsas para fugirem dolocal, tarefa em que obteve êxito. 12

A terceira parte deve conter a capitulação legal, a indicação do rito processual, ospedidos de recebimento da denúncia e citação, o pedido de produção de provas

(oral) e finalmente o pedido condenatório.

Diante do exposto, o Ministério Público denuncia JOAQUIM, MÁRIO, LÚCIO eCARLOS, como incursos no art. 157, § 2º, incisos I e II, por duas vezes, na forma do

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3

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8

9

art. 70, caput, parte final, ambos do Código Penal 13 , e requer que autuada esta,instaure-se o devido processo, observado o observado o rito ordinário previsto nosarts. 394 a 405 do Código de Processo Penal 14 , citando-se os denunciados para sedefenderem, recebendo a denúncia, ouvindo-se as pessoas abaixo indicadas eprosseguindo-se até final decisão condenatória.

Vítimas:

1. “A” – fls. 10; 15

2. “B” – fls. 11; 15

3. “C” – fls. 12; 15

4. “D” – fls. 13. 15

Rol de testemunhas:

1. “E” (representante da empresa “W”) – fls. 14; 16

2. “F” – fls. 15. 16

Cidade, dia, mês e ano.

Promotor de Justiça 17

Como qualquer petição inicial, o órgão Judiciário ao qual é dirigida.

Quando?

Onde?

Quem?

Referência à prova

Concurso

O quê?

Como?

Coisas subtraídas

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a)

b)

c)

Avaliações

Vítimas

Participação

Capitulação legal

Rito processual

Havendo vítimas, estas deverão ser indicadas antes do rol de testemunhas.

Rol de testemunhas, com as fls. dos depoimentos

Nunca ponha seu nome ou assine a peça

Cota de oferecimento da denúncia:

Autos nº ___

Inquérito policial nº____

MM. Juiz,

1. Denúncia em separado, em 02 (duas) laudas impressas somente no anverso;

2. Requer-se:

folhas de antecedentes e certidões do que constar;

seja dado cumprimento ao Provimento nº 32/2000, editado pela E. Corregedoria-Geral deJustiça do Estado de São Paulo; e

a decretação da PRISÃO PREVENTIVA de JOAQUIM, MÁRIO, LÚCIO e CARLOS.

Os elementos de informações contidos no inquérito policial revelam a prática de crimesdolosos punidos com pena privativa de liberdade superior a 04 (quatro) anos, além deindícios suficientes de autoria (JOAQUIM, MÁRIO e LÚCIO) ou participação(CARLOS), e prova da materialidade dos fatos. Estão atendidos, portanto, osrequisitos elencados pelos arts. 312, caput, e 313, inc. I, do Código de ProcessoPenal.

Se não bastasse, as prisões cautelares mostram-se necessárias para a GARANTIADA ORDEM PÚBLICA. Os indiciados são reincidentes, e fazem da prática de crimes

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contra o patrimônio – notadamente roubos com emprego de arma e inclusivelatrocínios – seus meios de vida, a teor das certidões de fls. 32/36, 37/43, 44/46 e47/50. Diante de tamanho descaso com as regras da sociedade e com os bensjurídicos alheios, e também do desprezo frente à autoridade do Estado, se ficarem emliberdade certamente continuarão a perpetrar crimes de igual natureza, especialmentedepois da constatação do tratamento benevolente dispensado pelo Poder Judiciário.

Mas não é só. Os indiciados conhecem o local de trabalho de várias vítimas e jáestiveram com elas. É fácil imaginar que, se permanecerem livres, tentarão no mínimointimidá-las, em busca da impunidade durante a instrução processual. Desta forma, amedida mostra-se imprescindível à CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL.

Finalmente, os indiciados não têm empregos fixos – salvo os de ladrões – e nãopossuem qualquer vinculação com o distrito da culpa. Se livres, e em brevecondenados, a decisão judicial será inócua, pois terão fugido para evitar ocumprimento das severas penas que merecem suportar. Portanto, a prisão preventivade JOAQUIM, MÁRIO, LÚCIO e CARLOS é igualmente necessária para assegurar aAPLICAÇÃO DA LEI PENAL.

Cidade, dia, mês e ano.

Promotor de Justiça

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10.1 A boa comunicação: não basta ao candidato o domínio da matéria, o conhecimento decorrentes doutrinárias e jurisprudenciais, se não souber transmitir aos examinadores esse conteúdo.

A organização das ideias, de maneira a tornar clara a comunicação faz toda a diferença.A capacidade de bem comunicar é uma qualidade não necessariamente inata, e que pode ser

treinada e aprendida. E para ter sucesso no concurso o candidato terá que comunicar-se bem, pelaescrita e verbalmente.

Mais uma vez, ressalta-se a importância da síntese, clareza e objetividade, tanto na linguagemescrita quanto na oral.

Um ponto importante para uma boa comunicação é a organização de ideias em uma sequêncialógica.

Teste o seu poder de comunicação: Estude um tema não muito complexo. Após entendê-lo bem,tente explicá-lo para um leigo. Depois peça a ele que diga o que entendeu e veja o resultado. Parecedifícil? O Promotor depende do sucesso dessa comunicação no plenário do júri. Repita o teste naforma escrita.

10.2 Comunicação escrita (a dissertação): regras da boa redação já foram expostas nos capítulosanteriores.

É muito importante que tanto a dissertação quanto a peça prática sejam treinadas pelo candidatoantes das provas. A partir desses treinos será possível não só aprender a desenvolvê-las, mas tambémaprender a controlar o tempo necessário e optar pela utilização ou não do rascunho, recurso cada vezmais difícil em face da complexidade das provas e do exíguo tempo para realizá-las.

Tão importante quanto fazer uma boa dissertação ou peça prática é apresentar uma caligrafialegível. A boa vontade do examinador ao ler a prova será proporcional à facilidade de assimilação dacaligrafia do candidato. Escrever em letra de fôrma ou praticar em um caderno de caligrafia podemser soluções necessárias.

10.2.1 Estrutura: tanto quanto uma peça prática, a dissertação pode ser estruturada em trêspartes básicas: introdução, desenvolvimento e conclusão, cujos objetivos e estrutura sãobastante similares ao relatório, análise da prova e do direito, e pedido de um memorial.

10.2.1.1 Introdução: é a parte inicial de uma dissertação cuja função é apresentar ao leitor o assuntoque será tratado, e a forma como será feita a sua abordagem.

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1)

2)

3)

4)5)

10.2.1.2 Desenvolvimento: é a análise do tema abordado com a explicitação de cada um dos tópicospropostos, demonstrando como eles se inter-relacionam, como a doutrina e/ou a jurisprudência têmabordado a questão, e finalmente conceituando cada um dos elementos que compõem o texto.

10.2.1.3 Conclusão: é o fechamento do que foi dito, concatenando as ideias expostas nodesenvolvimento. Em se tratando de dissertação para concurso público, salvo se for expressamentesolicitada, não deve ser exposta a opinião pessoal do candidato, devendo a conclusão expressar apenasa opinião da doutrina ou jurisprudência dominantes. Lembre-se: as provas são informativas – asbancas avaliam informações –, e não opinativas.

Apresentada a questão da dissertação, antes de começar a escrever é conveniente anotar asideias, palavras-chave que compõem cada um dos tópicos dados, ou os próprios tópicos que devemcompor o tema, caso não tenham sido apresentados com a questão. No exemplo abaixo sãomostrados os tópicos dados na questão e as palavras-chave que podem ser anotadas pelo candidatoantes de iniciar o desenvolvimento do texto:

Tema: “Direitos Fundamentais em Colisão”.

Analisar os seguintes tópicos:

Existência de direitos fundamentais absolutos: direitos de igual teor contrapostos

Princípios e regras: princípios = gradação – regras = incidência ou não

Colisão entre princípios: coexistência dos princípios na proporção certa

Conflito entre regras: afastamento da regra não aplicável – exceçãoSolução de conflitos e composição de colisões: ponderação de interesses,razoabilidade e proporcionalidade

A confluência de diversos princípios e valores de diferentes raízes, característico dosordenamentos jurídicos democráticos, aliado à diversidade de situações do cotidianode uma sociedade, pode dar ensejo a um conflito, aparente ou real, de princípios.

IntroduçãoOs direitos fundamentais formam um conjunto harmônico de regras e princípios que seinteragem, se completam e se excepcionam uns aos outros, e como tratam desituações de diferentes matizes, é comum que a incidência de um direito apresente-semuitas vezes em oposição à incidência de outro.

A harmonia do ordenamento jurídico é sempre mantida com a utilização de fórmulascapazes de dar a correta solução à colisão entre princípios e ao conflito de regras querepresentam direitos fundamentais.

A doutrina, de um modo geral, partindo da premissa de que não existe hierarquia entre

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direitos fundamentais, repudia a ideia de emprestar caráter absoluto a qualquer direitofundamental, sob o argumento de que, a priori, sempre será possível afastar ou limitara incidência de um princípio para garantir a incidência ou coincidência de outro. Defato, por mais absoluto que possa parecer um direito fundamental, por proteger bensjurídicos de imensurável relevância, será ele sempre relativo quando em confrontocom direito fundamental idêntico ou que, para o caso concreto, represente valor igualou superior.

A despeito de o direito à vida, por exemplo, constituir condição para o exercício dosdemais direitos fundamentais, será possível exigir seu sacrifício em prol de outrodireito fundamental, como a própria vida, bem demonstrando a ausência de qualquerescalonamento hierárquico entre os direitos fundamentais. 1

A estrutura das normas atinentes a direitos fundamentais é dividida pela doutrina emprincípios e regras. Toda norma (gênero) é uma regra ou um princípio (espécies). 2

Princípios são normas dotadas de mandamentos de otimização, ou seja, suaincidência na situação real poderá ser graduada de acordo com as possibilidadesjurídicas e fáticas do caso concreto, devendo, porém, ocorrer no grau máximopermitido pelas referidas limitações. 2

Em contrapartida, a incidência da regra para a disciplina do caso concreto não admitegradação. Ou a hipótese de incidência está presente e a regra é aplicada, ou, ausentea correspondência da norma com o caso concreto, a regra não incidirá.Diferentemente do princípio, a aplicação da regra não permite gradação. 2

DesenvolvimentoSe princípios permitem gradação, isso significa que quando houver uma colisão entreo direito fundamental à liberdade, de um lado, e o direito fundamental à segurança, deoutro, não havendo hierarquia entre os direitos fundamentais e revelando-senecessária a restrição da liberdade, o princípio (o direito à liberdade), deverá incidir nograu máximo possível, para que a liberdade só fique restringida na dosagem certapara garantir o direito à segurança que, naquele caso concreto, entendeu-se quedeveria ser priorizado. Em contrapartida, a segurança irá atuar no caso concretoapenas o suficiente para a garantia desse direito fundamental, sem exigir umadesproporcional restrição da liberdade. 3

Na colisão entre princípios não ocorre a invalidação de um princípio pelo outro, nem aaplicação de uma exceção à regra de incidência. Simplesmente cada um dosprincípios em colisão irá incidir ou deixar de incidir para regular o caso concreto na

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medida e na proporção em que ficar reconhecida essa necessidade. 3

Ao contrário do que ocorre com os princípios, as regras não dispõem de gradaçãopara incidir no caso concreto: serão integralmente aplicadas, ou então totalmenteafastadas da disciplina da questão. 4

Por isso o conflito entre regras, para alcançar a solução, terá duas alternativas: aidentificação de uma cláusula de exceção em uma das regras que elimine o conflito, oua declaração de invalidade de uma das regras. 4

Fator que não pode ser desconsiderado é que muitas vezes regras constitucionaisrepresentam a materialização normativa de um princípio constitucional. Existe aí umarelação de dependência da regra para com o princípio que a gerou. Em situaçõescomo estas, a análise do conflito poderá ocorrer a partir da colisão entre o princípioque a concebeu e outro princípio constitucional e, neste caso, poderá ser possível oafastamento da regra, que não incidirá no caso concreto, estabelecendo-se então aponderação dos princípios em choque. 4

Não sendo possível a aplicação de regras contraditórias, ou a atuação de princípioscolidentes com a mesma intensidade, há que se buscar um método para fazer valer oordenamento jurídico, aplicando para cada caso concreto a norma adequada pararegular a situação. 5

O método utilizado para atingir-se a solução é a ponderação de interesses, e seusinstrumentos, a razoabilidade e a proporcionalidade. Com a ponderação dos princípiosem conflito será possível inferir a proporção da incidência de cada um no casoconcreto; e com a ponderação das regras em conflito é que se poderá chegar àconclusão de qual delas incide no caso concreto. 5

O Direito não se coaduna com equações matemáticas ou tabelas estritas, pois asvariáveis do comportamento humano e das relações sociais exigem uma moldagem danorma à realidade.

ConclusãoEssa moldagem, essa adaptação ocorre a partir de uma minuciosa análise das normasem conflito e da justa incidência de cada uma para a disciplina da situação, análisefeita a partir da utilização de valores que conduzam a um perfeito equilíbrio entre asituação concreta e a atuação da norma para a pacificação social.

Caráter não absolute

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Princípios e regras

Colisão entre princípios e conflito entre regras

Colisão entre princípios e conflito entre regras

Solução

10.3 Comunicação verbal (a prova oral): juridicamente falando, a prova oral não costuma ser aetapa mais difícil do concurso.

A grande dificuldade da prova oral é enfrentar os examinadores cara a cara, é ter que responderimediatamente a pergunta feita, é sentar-se diante de uma banca, tendo um auditório às costas e ummicrofone à frente.

Na prova oral, mais do que em qualquer outra etapa, há uma avaliação pessoal do candidato, enão só do seu conhecimento, por isso, cada detalhe é muito importante.

Um teste para autoavaliação pode ser interessante. O candidato pode sentar-se a uma mesa emfrente a alguém que faça o papel do examinador para formular perguntas. Filmar a simulação e assistiro vídeo posteriormente será muito útil para avaliar a própria postura, a maneira de sentar-se, osgestos, o jeito de falar, as expressões faciais. Tudo que não estiver adequado pode ser corrigido epraticado.

É importante corrigir gestos mecânicos repetitivos, como o passar repetidas vezes as mãos noscabelos, no caso das mulheres.

O mesmo se aplica aos vícios de oratória. É necessário corrigir aqueles sons emitidos entre umpensamento e outro, do tipo “an”, “é”; aqueles usados inútil e inadequadamente para concluir a frase:“tá?”, “né” “entendeu?”; ou para iniciar uma oração: “veja bem”, “bom”, “olha”.

Problemas de pronúncia devem ser corrigidos, se necessário com a ajuda de profissional dafonoaudiologia.

A dicção deve ser aprimorada com a correção de exageros de sotaque.É importante falar em um ritmo que o examinador entenda, corrigindo problemas como um

discurso muito rápido que suprima sílabas e dificulte o entendimento do interlocutor.O tom de voz deve ser normal, nem alto, nem baixo, com naturalidade.A fisiologia, a postura corporal merece especial atenção. A comunicação daquele candidato que se

sentar na ponta da cadeira, ficar meio curvado, colocar as mãos sob as pernas não será satisfatória. Éimportante sentar-se com a coluna ereta, encostar-se no espaldar da cadeira e pôr as mãos sobre amesa. As mãos constituem um poderoso instrumento da comunicação. O uso de um gesticularcomedido, natural, em consonância com a fala, ajuda a expressão das ideias, e produz um visualagradável. Por isso as mãos devem ser mantidas sobre a mesa, sem segurar nada, como uma caneta,ou o microfone, que deve estar próximo à boca do candidato o suficiente para evitar que se inclinecada vez que for falar.

A cabeça deve estar a uma altura em que se possa olhar para o examinador sem ter que levantaros olhos, olhando para ele quando estiver respondendo a uma pergunta, ou quando lhe dirigir apalavra.

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A postura do candidato em relação ao examinador deve ser de humildade, e simultaneamente defirmeza, sem exageros de subserviência que não combinam com o cargo almejado. É essencial ter emmente que o examinador está no comando, e só fazer o que lhe for solicitado, só responder o que lhefor perguntado, e só falar quando lhe for dada a palavra.

10.4 A apresentação pessoal: a primeira avaliação que se faz de uma pessoa é a visual. Se ocandidato quer ingressar no Ministério Público, tem que aprender a se vestir como seus membros.

A boa aparência tem que começar pela fotografia que irá instruir o cadastro do candidato. Osexaminadores analisam a ficha do candidato com sua fotografia várias vezes durante a seleção, muitomais do que vão olhar para o candidato em pessoa, por isso a apresentação deverá ser impecáveltambém na fotografia.

O segredo é ser neutro, discreto e evitar qualquer coisa que possa chamar a atenção ou gerarpolêmica como piercings, tatuagens etc.

Não usar objetos (broche, caneta) que possam identificar o candidato como simpatizante oumembro de clube ou entidade, como times de futebol, partidos políticos, associações etc.

Usar cores neutras. Terno bem ajustado ao manequim do candidato, de preferência cinza escuro,azul marinho ou preto. As cores escuras dão uma favorável impressão de sobriedade. Camisa brancaou azul bem clara, com o colarinho na medida certa. Gravata sóbria com o nó impecável. Sapatosescuros, com solado de couro, muito bem engraxados, e as meias da cor do sapato ou do terno.Cabelos bem penteados e limpos, unhas curtas, barba bem feita (ou barba e bigode bem aparados).

Para as mulheres a palavra de ordem também é a discrição. Poucas joias, brincos pequenos,cores discretas, blusas sem grandes decotes, com mangas, de tecido opaco, dando preferência à saiade comprimento adequado. Sapato, e não sandálias.

10.5 Não é preciso saber tudo: a “fase eliminatória” do concurso tem início com a análise do edital.Muitos candidatos já desistem só de pensar que precisam estudar e saber todo aquele extenso rol dematérias e tópicos. Muitas vezes, o estudo aprofundado de um único tópico demanda a leituraminuciosa de mais de um livro.

É evidente que não será necessário o domínio de todo o edital para obter a aprovação.Dificilmente haverá alguém que conheça com profundidade todas aquelas matérias. Os próprios

examinadores têm um conhecimento mais específico sobre a matéria que examinam, ou quetrabalham diretamente. Cada um domina a sua área, a sua matéria, mas não todo o edital. Ninguémsabe tudo.

As chances de obter aprovação tornam-se concretas a partir do momento em que o candidatoconhece bem os pontos principais, e tem um conhecimento razoável, acima do básico, dos pontossecundários.

10.6 Por onde começar o estudo: pelo começo? Não, pelo principal.Não adianta pegar aquela enorme lista de pontos e passar a estudar item por item, a partir do

primeiro da lista. Provavelmente o candidato não chegará ao fim antes do concurso.O principal são as matérias que mais se identificam com a carreira pretendida. No caso do

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Ministério Público Estadual, a área penal (Direito Penal e Processo Penal) é a mais exigida,acompanhada dos Interesses Difusos e Coletivos e do Direito Constitucional.

Assim, não seria producente começar estudando os pontos de Direito Civil ou Comercial antes dedominar o principal. Estar bem preparado em Direito Comercial não iria decidir a aprovação, masestar bem preparado em Direito Penal aumentará em muito as chances do candidato.

Depois de saber por qual matéria deve-se começar o estudo, é importante saber por ondecomeçar dentro de cada matéria.

Via de regra, o programa das matérias segue a ordem sistemática da legislação, ou seja, os tópicosde Direito Penal, por exemplo, geralmente são colocados na ordem em que figuram no Código Penal.

O estudo deverá ter início pelos pontos mais recorrentes, ou seja, por aqueles que costumam sermais exigidos nas provas. No caso do Direito Penal, por exemplo, o estudo da Teoria Geral do Crimedeverá preceder o estudo das penas; o estudo do crime de homicídio deverá preceder o estudo docrime de duplicata simulada. Só depois de dominar os temas principais é que se inicia o estudo dosdemais temas.

Por fim, não há um estudo isolado. É preciso conjugar a análise da doutrina com a jurisprudênciados Tribunais Superiores. Também é fundamental a leitura da “lei seca” e a resolução de provasanteriores, para conhecer o estilo do concurso desejado e os pontos tradicionalmente mais cobrados.

Mãos à obra. E boa sorte!

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ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Tradução de Virgílio Afonso da Silva. SãoPaulo: Malheiros, 2008.

BONFIM, Edilson Mougenot. Júri: do Inquérito ao Plenário. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1996.CAMPOS, Walfredo Cunha. O Novo Júri Brasileiro. São Paulo: Primeira Impressão, 2008.

FERNANDES, Antonio Scarance; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; GRINOVER, Ada Pelegrini.As Nulidades do Processo Penal. 7. ed. São Paulo: RT, 2001.

MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. São Paulo: Método, 2013.

______. Direito Penal Esquematizado. Parte Geral. 7. ed. São Paulo: Método, 2013. Vol. 1.

______. Direito Penal Esquematizado. Parte Especial. 5. ed. São Paulo: Método, 2013. Vol. 2.______. Direito Penal Esquematizado. Parte Especial. 3. ed. São Paulo: Método, 2013. Vol. 3.

MUCCIO, Hidejalma. Prática de Processo Penal. 5. ed. São Paulo: Método, 2009.

PITOMBEIRA, Sheila (Coord.). Manual Básico para a Atuação do Promotor de Justiça. Fortaleza:Ministério Público do Estado do Ceará, 2011.

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Índice

Frontispício 2GEN 3Página de rosto 4Página de créditos 5Dedicatória 1 6Dedicatória 2 7Nota dos Autores à 3ª Edição 8Apresentação 9Sumário 111 – A REDAÇÃO JURÍDICA 19

1.1 A nova redação jurídica 191.2 Síntese, clareza e objetividade 191.3 Orações intercaladas 191.4 Introdução, desenvolvimento e conclusão 201.5 Redação impessoal 201.6 Copiar e colar 221.7 Grifado, negrito e destaques 221.8 Tópicos 221.9 Doutrina e julgados 221.10 Modelos 231.11 Expressões indesejáveis 231.12 Abreviaturas 241.13 Grafia de data e hora 241.14 Latim 251.15 Alguns conceitos básicos 25

2 – FASE PRÉ-PROCESSUAL 292.1 Requisição para instauração de inquérito policial 292.2 Procedimento Investigatório Criminal (PIC) 312.3 Manifestação no auto de prisão em flagrante 332.4 Manifestação em pedido de prazo para conclusão do inquérito policial 362.5 Manifestação em pedido de busca domiciliar 372.6 Manifestação em pedido de interceptação telefônica 382.7 Manifestação em pedido de prisão temporária 392.8 Pedido de suspensão de CNH – Carteira Nacional de Habilitação 402.9 Medidas protetivas de urgência em situações de violência doméstica 41

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2.10 Arquivamento do inquérito policial 442.10.1 Previsão legal 442.10.2 Natureza jurídica 442.10.3 Terminologia 442.10.4 Estrutura 44

2.10.4.1 Relatório 442.10.4.2 Análise da prova 442.10.4.3 Conclusão 45

2.10.5 Peças de informação e outros procedimentos investigatórios 463 – DENÚNCIA 49

3.1 Conceito 493.2 Autor da denúncia 493.3 Objetivo 493.4 Terminologia 493.5 Conteúdo 493.6 Justa causa 513.7. Limites 513.8 Estrutura 513.9 O concurso de agentes 55

3.9.1 Coautoria: 553.9.1.1 O uso do art. 29, caput, do Código Penal 56

3.9.1.1.1 Crimes unissubjetivos, unilaterais ou de concurso eventual 563.9.1.1.2 Crimes plurissubjetivos, plurilaterais ou de concursonecessário 57

3.9.1.1.3 Crimes acidentalmente coletivos 573.9.2 Participação 583.9.3 Coautoria ou participação de pessoa desconhecida ou inimputável 583.9.4 Autoria mediata 60

3.9.4.1 Conceito 603.9.4.2 Terminologia 60

3.10 Concurso de crimes 613.10.1 Concurso material 613.10.2 Concurso formal 633.10.3 Crime continuado 643.10.4 Combinação de concursos de crimes na mesma denúncia 66

3.10.4.1 Crime continuado + crime continuado 663.10.4.2 Concurso material + concurso formal + crime continuado 69

3.11 Tentativa 723.12 O elemento subjetivo 73

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3.12.1 O dolo 733.12.2 O dolo eventual 743.12.3 A culpa 763.12.4 O crime preterdoloso 77

3.13 Crimes omissivos impróprios 783.14 Detalhes importantes sobre os principais crimes do Código Penal 79

3.14.1 Homicídio 793.14.2 Lesão corporal (violência doméstica) 793.14.3 Crimes contra a honra 803.14.4 Furto 813.14.5 Roubo 823.14.6 Dano 833.14.7 Apropriação indébita 843.14.8 Estelionato 853.14.9 Estelionato na modalidade de fraude no pagamento por meio de cheque 873.14.10 Receptação dolosa 883.14.11 Receptação qualificada 893.14.12 Estupro 903.14.13 Associação criminosa 913.14.14 Falsidade ideológica 933.14.15 Uso de documento falso 943.14.16 Desacato 953.14.17 Falso testemunho 96

3.15 Alguns crimes da legislação penal extravagante 973.15.1 Código de Trânsito: homicídio e lesão corporal na direção de veículoautomotor 97

3.15.2 Código de Trânsito: embriaguez ao volante 993.15.3 Tráfico de drogas 1003.15.4 Estatuto do Desarmamento: posse e porte de arma de fogo 101

3.16 A cota de oferecimento da denúncia 1023.16.1 Esclarecimentos sobre a denúncia 1033.16.2 Proposta de suspensão condicional do processo (crimes de médiopotencial ofensivo) 104

3.16.3 Arquivamento do inquérito policial em relação a outro indiciado ou aoutra infração penal 104

3.16.4 Apreciação de pedidos de prisão preventiva e sua revogação, e derestituição de coisa apreendida 105

3.16.5 Diligências complementares 1063.16.6 Dicas finais para a elaboração da cota de oferecimento da denúncia 106

4 – A FASE PROCESSUAL 111

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4.1 Suspensão do processo após a citação por edital 1114.2 Suspensão condicional do processo 1124.3 Resposta à defesa escrita 1154.4 Aditamento da denúncia 1184.5 O incidente de insanidade mental ou de dependência química do acusado 119

5 – MEMORIAL 1245.1 Conceito 1245.2 Previsão legal 1245.3 Terminologia 1255.4 Estrutura 125

5.4.1 Relatório 1255.4.2 Análise da prova e do direito 1265.4.3 Pedido 133

5.4.3.1 A pena-base 1335.4.3.2 Agravantes e atenuantes 1335.4.3.3 As causas de aumento e diminuição da pena 1335.4.3.4 O regime inicial de cumprimento da pena 1345.4.3.5 A indicação da pena adequada 1345.4.3.6 As penas de caráter pecuniário 1345.4.3.7 Os efeitos da condenação 1345.4.3.8 A conversão da pena privativa de liberdade 135

6 – RECURSOS 1396.1 Conceito 1396.2 Espécies 1396.3 Terminologia 1396.4 Juízo de retratação 1406.5 Desistência 1406.6 Petição de interposição 1406.7 As razões recursais 1426.8 Os recursos em espécie 145

6.8.1 Apelação 1456.8.1.1 Objeto 1456.8.1.2 Cabimento 1456.8.1.3 Juízo de retratação 1466.8.1.4 Petição de interposição e razões de recurso 1466.8.1.5 Abrangência 146

6.8.2 Recurso em sentido estrito 1466.8.2.1 Objeto 1466.8.2.2 Cabimento 146

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6.8.2.3 Formação 1486.8.2.4 Juízo de retratação 1486.8.2.5 Petição de interposição e razões de recurso 1486.8.2.6 Razões de recurso 149

6.8.3 Agravo em execução 1536.8.3.1 Objeto 1536.8.3.2 Cabimento 1536.8.3.3 Processamento 1536.8.3.4 Efeito suspensivo 1536.8.3.5 Juízo de retratação 1536.8.3.6 Petição de interposição e razões de recurso 153

6.8.4 Carta testemunhável 1576.8.4.1 Objeto 1576.8.4.2 Cabimento 1576.8.4.3 Formação e processamento 1576.8.4.4 Juízo de retratação 1576.8.4.5 Petição de interposição e razões de recurso 1576.8.4.6 Razões de recurso 159

6.8.5 Embargos de declaração 1616.8.5.1 Objeto 1616.8.5.2 Cabimento 1616.8.5.3 Interposição 1616.8.5.4 Interrupção do prazo para recurso 1616.8.5.5 Juízo de retratação 1616.8.5.6 Petição 161

6.8.6 Correição parcial 1636.8.6.1 Objeto e cabimento 1636.8.6.2 Processamento 1636.8.6.3 Juízo de retratação 1636.8.6.4 Petição de interposição 1636.8.6.5 Razões de recurso 164

6.8.7 Mandado de segurança 1666.8.7.1 Objeto 1666.8.7.2 Cabimento 1666.8.7.3 Interposição 1676.8.7.4 Natureza e legitimidade 1676.8.7.5 Petição 167

6.8.8 Habeas corpus 1716.8.8.1 Objeto 171

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6.8.8.2 Cabimento e legitimidade 1716.8.8.3 Petição 172

6.9 Contrarrazões 1726.9.1 Conceito 1726.9.2 Terminologia 1726.9.3 Oferecimento 1726.9.4 Estrutura 172

7 – CRIMES DE COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI 1787.1 Denúncia 178

7.1.1 Conteúdo 1787.1.2 Utilização de expressões do questionário 1787.1.3 Qualificadoras 1787.1.4 Homicídio privilegiado 1797.1.5 Rito processual e pedido 179

7.2 Memorial 1807.2.1 Estrutura 180

7.2.1.1 Relatório 1807.2.1.2 Análise da prova 181

7.2.1.2.1 Pronúncia 1817.2.1.2.1.1 Pedido 183

7.2.1.2.2 Impronúncia 1837.2.1.2.2.1 Pedido 184

7.2.1.2.3 Absolvição sumária 1847.2.1.2.3.1 Pedido 185

7.2.1.2.4 Desclassificação 1867.2.1.2.4.1 Pedido 187

7.3 Plenário 1877.3.1 Três verdades fundamentais 1877.3.2 Debates 188

7.3.2.1 Função de cada um dos personagens do júri 1887.3.2.2 Assimilação das ideias 1887.3.2.3 Sequência lógica 188

7.4 Recursos 1917.4.1 Recurso em sentido estrito 1917.4.2 Apelação 191

8 – JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL 1938.1 Termo Circunstanciado (TC) 193

8.1.1 Análise do TC 1938.2 Representação 193

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8.3 Proposta de transação penal 1938.3.1 Adequação 193

8.3.1.1 Possibilidade de cumprimento 1938.3.1.2 Condições financeiras do autor do fato 1948.3.1.3 Destinatário da prestação pecuniária 1948.3.1.4 Pertinência com a infração 1948.3.1.5 Interdição temporária de direitos 194

8.3.2 Carta precatória 1958.4 Arquivamento 195

8.4.1 Previsão legal 1958.4.2 Terminologia 1958.4.3 Conclusão 195

8.5 Denúncia 1978.6 Memorial 198

8.6.1 Previsão legal 1988.6.2 Relatório 198

8.7 Recursos 1989 – A PEÇA PRÁTICA EM CONCURSOS 200

9.1 Tema 2009.2 Limitações de tempo e fontes de consulta 2009.3 Organização 2009.4 Objetivos do examinador 2009.5 Análise de provas 200

9.5.1 Prova da 2ª fase do 89º Concurso de Ingresso à Carreira do MinistérioPúblico do Estado de São Paulo, em 2012 201

9.5.2 Prova escrita especializada da banca de Direito Penal, Direito ProcessualPenal e Direito Eleitoral. XXXI Concurso para Ingresso na Classe Inicial daCarreira do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro – 15.11.2009

209

9.5.3 Prova da 2ª fase do 85º Concurso de Ingresso à Carreira do MinistérioPúblico do Estado de São Paulo, em 2006 213

10 – DICAS PARA O CONCURSO 21910.1 A boa comunicação 21910.2 Comunicação escrita (a dissertação) 219

10.2.1 Estrutura 21910.2.1.1 Introdução 21910.2.1.2 Desenvolvimento 22010.2.1.3 Conclusão 220

10.3 Comunicação verbal (a prova oral) 22310.4 A apresentação pessoal 224

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10.5 Não é preciso saber tudo 22410.6 Por onde começar o estudo 224

Bibliografia 226

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