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PRÁTICA PEDAGÓGICA NA BAIXADA FLUMINENSE NO CONTEXTO DA
LEI 10639/03.
Lemos, Joilton Lopes de Brito.
Universidade Federal Fluminense (UFF)
Faculdade de Educação (FEUFF)
Programa de Educação sobre o Negro na Sociedade Brasileira (PENESB)
INTRODUÇÃO
Passados mais de dez anos da aprovação da Lei 10639/03, percebemos
que a implementação desta está caminhando a passos lentos. Muito preconceito dentro e
fora da escola e a falta de formação adequada faz com que a história e cultura africana e
afro-brasileira ainda não estejam eficazmente contempladas no currículo escolar.
A cultura e a história africana e afro-brasileira nunca foram valorizadas pela
educação escolar, o que acabou provocando o fortalecimento do preconceito racial no
Brasil, solidificando a cultura dos colonizadores.
Incontestavelmente, existe, entre educação e cultura, uma relação íntima, orgânica.
Quer se tome a palavra “educação” no sentido amplo, de formação e socialização do
indivíduo, quer se a restrinja unicamente ao domínio escolar, é necessário conhecer
que, se toda educação é sempre educação de alguém por alguém, ela supõe sempre
também, necessariamente, a comunicação, a transmissão, a aquisição de alguma coisa:
conhecimentos, competências, crenças, hábitos, valores, que constituem o que se
chama precisamente de “conteúdo” da educação (FORQUIN, 1993, p 10).
O conteúdo escolar durante séculos se pautou em transmitir a cultura
europeia, como se o mundo se resumisse nas conquistas e nas derrotas do continente
europeu. Com isso a História da África, dos africanos e de seus descendentes ficou
restrita à escravidão, o que provocou a manutenção da visão preconceituosa do branco
europeu sobre o continente negro e o seu povo. Assim, como nos revela Forquin (1993),
se a educação e a cultura tem uma ligação íntima, a escola brasileira precisa abrir espaço
para a reflexão sobre a temática étnico/racial, pois se isso não acontecer, a escola
continuará a reproduzir com seu currículo de temática branca a visão preconceituosa
impregnada em nossa sociedade desde os primeiros tempos de colonização.
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Por isso em 2003, a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) – passou a vigorar acrescentada dos
seguintes artigos: 26-A e 79-B, da Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que tenta
corrigir a dívida que a educação brasileira tem com o continente africano e com todos os
afrodescendentes brasileiros. Fica dessa forma estabelecido que:
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino Fundamental e Médio, oficiais e
particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura afro-brasileira.
§ 1º O conteúdo pragmático a que se refere o Caput deste artigo incluirá o estudo da
História da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra
brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do
povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
§ 2º Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-brasileira serão ministrados no
âmbito de todo currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de
Literatura e História brasileira.
Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como Dia Nacional da
Consciência Negra.
Muito grande foi a vitória do Movimento Negro com a aprovação desta Lei,
mas toda nossa história de colonização e escravidão legou a sociedade muito
preconceito e discriminação. O currículo escolar brasileiro ainda está alicerçado pela
visão de mundo do homem branco europeu, afinal a história da educação brasileira tem
início com as práticas pedagógicas jesuíticas, que impõem não só o mundo científico
europeu, mas também sua religião Cristã como as verdades absolutas a serem seguidas.
As escolas, em sua totalidade, não estão preocupadas em trabalhar a
diversidade cultural, o que provoca em seus alunos a ilusão de que todas as pessoas são
iguais, tem os mesmos hábitos, as mesmas crenças, o mesmo vestuário etc. Como diz
Candau (1999), a escola dá muita ênfase à questão da igualdade – como se todas as
pessoas pertencessem a um mesmo grupo cultural – com isso, a cultura ocidental
europeia configurou-se na cultura escolar brasileira.
Essa maneira de tratar todos os alunos como sendo iguais culturalmente,
pode provocar sérios problemas de intolerância, pois quando um aluno percebe a
diferença de um colega de classe, seja no âmbito religioso, étnico ou social, tende a
olhá-lo com preconceito.
Como diz Sacristán (2002, p.120), “a percepção do outro como alguém
diferente pode ser motivo de aproximação, de distanciamento ou de rejeição”. O que
significa que a segurança desta pessoa deve ser garantida e protegida com a tolerância e
também com o uso da lei. Sacristán diz ainda que há dois tipos de tolerância: a negativa
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e a positiva. A primeira refere-se aquela onde um indivíduo tolera o diferente sem tirar
nenhum proveito de sua cultura, não havendo nenhuma proximidade entre os
indivíduos. Já a segunda, refere-se aquela onde as duas pessoas se interessam uma pela
cultura da outra, há interação entre elas, uma trocando conhecimento com a outra.
[...] Educar, ensinar, é colocar alguém em presença de certos elementos da cultura a
fim de que ele deles se nutra, que ele os incorpore à sua substância, que ele construa
sua identidade intelectual e pessoal em função deles [...] (FORQUIN, 1993, p.168).
Desta forma, as escolas devem promover a tolerância positiva, pois não
pode haver educação integral sem trocas culturais. Muito mais que transmissora de
conteúdos, a escola deve ser mediadora dos processos de sociabilização entre os
indivíduos.
A diversidade étnico/racial brasileira deve ser explorada na sala de aula, é
lastimável que as escolas não se apropriem dessas diferenças para educar. As danças, as
músicas, as religiosidades, as lendas, todas as manifestações culturais devem ser
trabalhadas em sala de aula, a modo de conscientizar sobre as diferenças existentes em
nossa formação enquanto povo brasileiro.
A instituição escolar deve ampliar a experiência para fora do raio de ação que limita
as condições e os meios de que o sujeito dispõe estando na família, na comunidade ou
na cultura em que vive para evitar, [...], que esses meios naturais não sejam prisões
para ele [...] (SACRISTÁN, 2002, p. 209).
Uma das maneiras mais eficazes para se trabalhar as diferenças culturais,
étnico-raciais, é elaborando projetos, como eles são mais duradouros, os alunos têm a
chance de conhecer melhor o que, até então, não faz parte do seu conhecimento.
Trabalhar de forma continuada faz com que os alunos se identifiquem com a proposta
pedagógica e alcance de forma satisfatória os objetivos que foram traçados pelo
educador.
JUSTIFICANDO A EXIGÊNCIA DE ESTUDOS ESPECÍFICOS SOBRE A
HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA
Partindo do fato que nossa história, ou seja, a História do Brasil e do povo
brasileiro é marcada pelo encontro de três raças (etnias): a indígena que já habitava
essas terras, a branca europeia e a negra africana, podemos entender que a exigência de
estudos específicos sobre a “História da África e dos africanos, a luta dos negros no
Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional”, como
4
está especificado na Lei de nº 10.639foi decretada e sancionada para que o povo
brasileiro tivesse o direito de ter parte de sua história – até então subtraída dos livros
didáticos e do currículo escolar – discutida, refletida e divulgada.
Durante todo o processo educacional brasileiro, o currículo escolar priorizou
o relato histórico e cultural do Brasil voltado para um viés eurocêntrico, não é por
acaso, que segundo os livros didáticos nossa história começa no dia 22 de abril de 1500,
data em que os portugueses chegam às terras “perdidas”, que acabam por denominar
Brasil. Como se a história desse lugar não existisse antes desta data. Assim, ao longo
dos séculos foi sendo ensinado nas escolas: a língua portuguesa, a religião cristã
europeia, as personagens brancas que escreveram a história.
Como podemos notar, em momento algum, a educação brasileira refletiu a
História sobre a ótica indígena e afro-brasileira. Os índios continuam sendo citados nos
livros didáticos apenas no momento do grande encontro com os portugueses, à época do
tal “Descobrimento” e os negros, ficaram trancafiados nos relatos sobre a escravidão e
nada mais.
Então, entendemos que a lei citada, ao exigir que as escolas ensinem tais
conteúdos, torna-se uma importante referência para avançarmos no combate à
discriminação racial e ao preconceito cultural e religioso. Afinal, quando não
conhecemos nossa história de forma integral vivemos com uma visão fragmentada dos
fatos. Assim, somos incapazes de descortinar os jogos de poder que estão envolvidos
em toda sociedade, fazendo com que uma cultura domine a outra; um povo, ou uma
classe, se sobreponha a outros, como nos revela Cuche (2002), ao citar Marx e Weber:
[...] Karl Marx como Max Weber não se enganaram ao afirmar que a cultura da classe
dominante é sempre a cultura dominante. Ao dizer isto, eles não pretendem
evidentemente afirmar que a cultura da classe dominante seria dotada de uma espécie
de superioridade intrínseca ou mesmo de uma força de difusão que viria de sua
própria “essência” e que permitiria que ela dominasse “naturalmente” as outras
culturas. [...] na realidade o que existe são grupos sociais que estão em relação de
dominação ou de subordinação uns com os outros (p. 145).
O preconceito racial no Brasil só será erradicado quando o povo brasileiro
conhecer sistematicamente suas origens e isso se fará nas escolas, através de professores
com formação adequada, material didático reformulado de modo a contemplar a
diversidade étnica brasileira e reflexão diante aos casos do dia a dia que nos faz
repensar a democracia racial que se imaginou existir no Brasil que, infelizmente, não
passa de um grande mito.
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Trabalhar a História da África e da cultura afro-brasileira na sala de aula é
trazer à tona todo um preconceito construído didaticamente ao longo dos séculos no
Brasil. Ao abordar o assunto, seja qual for a temática – música, dança, religião,
vestimenta, costumes etc. – uma das primeiras colocações que os alunos fazem é que
aquilo que está sendo tratado é “macumba”, “coisa do diabo”, algo negativo. Então,
discutir a temática negra requer um conhecimento profundo por parte do educador, seus
objetivos devem estar muito bem traçados, para que ao deparar com tais comentários, a
intervenção seja feita de maneira a garantir o desenvolvimento da aula, sem ferir o lado
simbólico de nenhum dos educandos.
Mostrar ao aluno como se deu a formação do brasileiro parece ser o
caminho para que estes entendam que surgimos de uma mistura de raças/etnias, onde
cada uma destas traz contribuições importantes para nosso desenvolvimento enquanto
povo. Por mais que os livros didáticos ainda constituem a nossa História a partir da
dominação do branco europeu sobre os indígenas e os negros escravizados, precisamos
repensar essa prática. Nunca escondendo a dominação, visto que não podemos apagar a
história, mas buscando formas de identificarmos as contribuições dos negros africanos
para o mundo e especificamente para o Brasil.
A historiadora Mônica Lima (2013) diz que ainda hoje temos uma história
única do povo africano, não poderia ser diferente, já que fomos educados a pensar o
negro apenas sobre a ótica da escravidão. Mas estudos vêm mostrando a riqueza do
continente africano e é certo, que a história da África é plural. Lima (2013) ressalta que
devemos ter atenção ao singularizar a África, pois esta é um continente, mas os
africanos que lá viveram e ainda vivem não são iguais, então temos que ter o cuidado
em não uniformizar aquilo que é diverso por natureza. Assim, como é impossível
retratar o brasileiro dentro de um só padrão, visto que somos frutos de uma mistura de
povos diferentes entre si, nossos alunos devem ter a compreensão de que o continente
africano é heterogêneo, onde cada parte da África tem cultura própria, sendo impossível
se contar uma história única desse continente. Afinal, nenhum povo se constitui por
apenas uma história.
O negativo e o positivo nem sempre caminham juntos. Até hoje, os
africanos foram retratados pelo lado negativo da escravidão. A parte positiva do
continente vem sendo descoberto diariamente a partir de estudos mais criteriosos e é
essa parte da história que precisa ser incluída no currículo escolar. Não podemos
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esquecer a escravidão, mas precisamos incluir no currículo a parte positiva referente aos
povos africanos.
COMO TRABALHAR A HISTÓRIA E A CULTURA AFRO-
BRASILEIRA NAS ESCOLAS
Lima (2013), ao citar o grande historiador africano Joseph Ki-Zerbo, traz os
quatro princípios estabelecidos por ele para o ensino e a compreensão da História da
África: I-Interdisciplinaridade, ou seja, para aprender a História da África é preciso
recorrer a várias disciplinas, como Geografia, Sociologia, Linguística entre outras; II-
Apresentar a História desde o ponto de vista africano, ou seja, olhar a História da
África de dentro para fora e não o contrário;III- Apresentar a História dos povos
africanos em seu conjunto, ou seja, apresentar as conexões, trocas, semelhanças entre
os diferentes grupos africanos, sem, no entanto, homogeneizar os mesmos;IV- Evitar o
factual,ou seja, evitar apresentar a História da África com passagens (fatos) isoladas,
pois isso dificulta a aprendizagem crítica. É preciso associar os fatos ocorridos, eles não
se dão de modo independente.
A interdisciplinaridade é essencial, pois nos possibilita ampliar nossa visão
sobre determinado tema. No caso de estudar a História da África, é imprescindível que
se faça uma pesquisa sobre as diversas áreas do conhecimento, pois cada uma
contribuirá com perspectivas para entendermos a diversidade do continente africano.
Sendo impossível a compreensão plena deste, partindo apenas do que nos diz a História.
É preciso conhecer o que diz a geografia, a sociologia, a linguística, a antropologia entre
outras áreas. Quanto mais áreas de conhecimento se buscam, maior será a compreensão
sobre o tema estudado. Assim, não cairemos facilmente na simplificação das historias
dos povos africanos, pelo caminha da homogeneização, mas, pelo contrário, teremos
argumentos de sobra para comprovar a diversidade africana. São essas áreas do
conhecimento que reunidas nos darão suporte para repensarmos os conceitos
construídos ao longo dos séculos sobre o continente africano.
Já apresentar a História desde o ponto de vista africano é importante e
desafiador, pois nos instiga a descobrir a outra face da moeda. Tudo o que sabemos, e
sabemos pouco, sobre a História da África está pautado num viés eurocêntrico, ou seja,
nosso conhecimento sobre o continente africano é retrato da visão dos colonizadores e
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exploradores. Ou seja, conhecemos a África de fora para dentro. Impossível nos
atentarmos para a diversidade regional, cultural, linguística desse continente sem o olhar
de dentro. É preciso conhecer a África com o olhar do africano, conhecendo seu ethos
(seu modo de ser, pensar e agir), não impondo visões externas que só servem para
desqualificar o diferente. Por fim, não podemos estudar um continente tão diferente do
qual nos foi dado como modelo, pautados pela visão que construímos ao longo dos
séculos. É preciso estar aberto ao olhar do outro.
PRÁTICA PEDAGÓGICA NA BAIXADA FLUMINENSE – RELATO DE
TRABALHOS DESENVOLVIDOS
Na sala de aula, trabalhando com turmas do 1º ao 5º ano de escolaridade do
Ensino Fundamental, o essencial a ser trabalhado é “... a luta dos negros no Brasil, a
cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional”, como bem está
especificado na lei 10.639. Então,nossa experiência em sala de aula não tem um
aprofundamento na História da África em si, mas na contribuição do povo africano para
a formação do povo e da História brasileira.
É comum, ouvirmos em sala de aula expressões preconceituosas com
relação às crianças negras. Falas do tipo “Seu macaco”, “Cabelo duro”, “Seu
macumbeiro”, servem para exemplificar o quanto o preconceito racial está arraigado em
nossa sociedade. Para reverter esse quadro é precioso um amplo trabalho de valorização
da cultura afro-brasileira. O currículo pautado na cultura branca precisa urgentemente
ser reformulado, cedendo espaço à diversidade do povo brasileiro. Tanto a cultura negra
quanto a cultura indígena carecem ser trabalhadas diariamente em sala de aula.
Não podemos iniciar o assunto dos negros no Brasil a partir da escravidão.
É preciso mostrar o negro na África, suas relações entre si, suas culturas, seu modo de
governar, seus impérios etc. É preciso construir junto aos alunos imagens reais do
contexto africano antes do advento do tráfico negreiro.
Os livros de história dos alunos do primeiro segmento do Ensino
Fundamental inicia a história dos negros no Brasil no tempo histórico da escravidão.
Isso provoca a negação por parte das crianças negras de sua identidade étnico/racial e se
cria uma atmosfera para que alunos brancos se sintam melhores que os alunos negros. É
preciso, então, todo um cuidado ao abordar esse assunto. Não que a escravidão deva ser
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escondida, mas é preciso um trabalho de perspectiva histórica, social e geográfica para
mostrar os jogos de poder que influenciaram e continuam a influenciar o curso da
Histórica ao longo do tempo.
O aluno negro precisa compreender desde os primeiros anos de escolaridade
que seus antepassados não nasceram fadados ao insucesso, à opressão, à miséria, mas
que dentro do seu tempo e espaço contribuíram e muito para o desenvolvimento da
humanidade. E que os tempos de escravidão foram resultados de uma política
orquestrada para denegrir um povo, colocando-o como submisso e inferior. Algo que
até hoje acontece pelo mundo com diferentes grupos humanos. Por a escola ser um
espaço de convivência entre os diferentes transforma-se no “locus” ideal para que essas
questões sejam discutidas, resultando assim, na ampliação do conhecimento e
ressignificação dos conceitos construídos preconceituosamente ao longo dos séculos.
Em sala de aula com alunos entre seis e quatorze anos de idade, temos
trabalhado em nossa prática pedagógica, de forma mais eficaz, duas contribuições do
povo negro para a cultura brasileira: o samba e a mitologia dos orixás (base da
religiosidade afro-brasileira).
Trabalhamos o samba por considerar que morando no Rio de Janeiro e
trabalhando com crianças de comunidade é importantíssimo estar próximo da cultura
musical que se tornou símbolo do país e que tem sua base fincada em solo carioca, onde
o samba ganhou força e se transformou ao longo dos anos. E a mitologia dos orixás é
trabalhada no intuito de ampliar a visão de mundo, buscando o fim do preconceito
quanto às religiões de matrizes africanas, algo que cada vez mais se solidifica na nossa
sociedade. A biblioteca escolar está abarrotada de livros com mitologia europeia, são
contos que trazem reis e rainhas, princesas e príncipes brancos. Acostumamo-nos com
esse padrão de tanto que ouvimos as histórias e visualizamos as belas ilustrações. Deste
modo, trabalhar a mitologia africana, com seus deuses e reis negros é de suma
importância para desconstruir o mito de superioridade da raça branca.
Dentre tantos estilos musicais, é certo que a maior contribuição do povo
negro para a cultura brasileira é o samba e, consequentemente, as escolas de samba.
Buscamos, então, trabalhar esse gênero musical e a cultura das escolas de samba
mostrando a história de resistência dos afro-brasileiros, a discriminação que sofreram ao
longo dos anos, a luta que travaram para a manutenção e sobrevivência de suas
manifestações culturais.
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Apresentamos os compositores negros e suas obras musicais, incentivando a
dedicação à arte como forma de vencer os preconceitos sociais. Desta forma, em 2011,
alunos do município de Mesquita, do primeiro ano de escolaridade do ensino
Fundamental, tiveram aulas sobre o compositor Cartola. Aprenderam sua obra e sua
biografia e visitaram o Centro Cultural Cartola, no Morro da Mangueira1.
Com base nessa experiência, escrever sobre tal temática é lançar esperanças
presentes de que o espaço escolar, na figura de professores comprometidos com a
educação das classes populares, reconheçam as manifestações culturais desses grupos
como algo que deve ser preservado e estudado nas salas de aula. Entendemos que o ato
de educar, como nos diz Paulo Freire (1996), é político e que, portanto, há muitas
questões ideológicas a serem implantadas e tantas outras a serem derrubadas no âmbito
escolar. É preciso que a escola pública rompa com as ideologias do branqueamento e
reafirme a cultura negra presente nas classes populares – que são formadas em sua
maioria por pessoas negras.
Propomos a utilização do samba-enredo como instrumento pedagógico para
o ensino de História brasileira e cultura afro-brasileira.Trabalhar o samba-enredo dentro
das instituições escolares é levar nossos alunos ao conhecimento desse tipo de música
tão brasileiro, criado por negros, que sofreram e ainda sofrem tanto preconceito.
Trabalhar com a cultura afro-brasileira é o caminho para que possamos
formar uma sociedade cada vez mais atenta às questões sociais e raciais, de modo a
diminuir tais preconceitos, ampliando a valorização das diferenças étnicas existentes em
nosso país.
O samba-enredo é um dos mais bem elaborado instrumento pedagógico,
pois ao mesmo tempo em que o indivíduo se diverte ouvindo e cantando, aprende sobre
o tema narrado. Ele pode ser utilizado para ilustrar os temas trabalhados2, tanto dentro
do currículo mínimo – com os conteúdos já estabelecidos – quanto nos projetos extras
que criamos com as turmas ou aqueles que nos são enviados pelas Secretarias de
Educação.
Deste modo, no ano letivo de 2014, nossa turma do 5º ano de escolaridade
conheceu a vida do Profeta Gentileza, através do samba-enredo dos Acadêmicos do
Grande Rio, de 2001; ganharam um resumo histórico sobre a Inconfidência Mineira,
1 Ver anexo I. 2Ver Anexo II
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com o samba-enredo do Império Serrano, de 1949. Além de ouvir em versos, A Vinda
da Família Real Portuguesa para o Brasil, com os sambas-enredo da São Clemente e da
Imperatriz Leopoldinense, ambos de 2008. Ao trabalhar “Brasilidade” foi inevitável não
comemorar com a criançada o cinquentenário de “Aquarela Brasileira”, do Império
Serrano, de 1964. E como o ano letivo, começa, vejam só, no período próximo ao
carnaval, as aulas começaram sendo embaladas ao som da Imperatriz Leopoldinense, de
2005, onde procuramos mostrar aos alunos a arte das escolas de samba, usando um
enredo literário sobre Hans Christian Andersen e Monteiro Lobato.
Junto com trabalhos sobre as escolas de samba e o samba propriamente dito,
desempenhamos trabalhos sobre a mitologia dos orixás3, no município de Belford Roxo,
algo que sempre causa muito preconceito não só por parte dos responsáveis dos alunos,
mas também dentro da própria escola, pois conforme já dissemos ao longo desse texto,
a escola brasileira tem bases fincadas na religião cristã, aportada nas salas de aula com a
chegada dos jesuítas ao Brasil.
O trabalho com a mitologia dos orixás é estratégico, cansados de ver alunos,
seguidores de religiões de matrizes africanas, sofrendo preconceito em sala de aula,
partimos para a ação de mostrar aos educandos que a Constituição Brasileira (1988) é
laica e isso significa que o Brasil tem reservado o direito de cada cidadão de exercer a
sua fé na religião de sua preferência.
O trabalho com os deuses do panteão africano de início é árduo, pois o
preconceito com a religiosidade negra é despertado tanto fora quanto dentro das
unidades escolares4, mas com o tempo e o envolvimento dos alunos, estes vão se
conscientizando que devem respeitar a crença de cada pessoa. Entendendo a diversidade
religiosa do país, esperamos que nossos alunos estejam sempre abertos a respeitar o
outro, mesmo que com suas diferenças.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Trabalhar a cultura afro-brasielira é colocar o indivíduo negro em evidência,
“não como simples objeto, mas como sujeito de seu discurso e de sua identidade”, como
diz Pessanha (2013). Trabalhar tal cultura na sala de aula é dar voz ao povo afro-
3 Ver anexo III 4 Ver anexo IV
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brasileiro, algo que precisa ser feito urgentemente, pois o sistema educacional brasileiro
tem uma dívida histórica com o negro no Brasil. A sala de aula clama pela literatura de
Carolina Maria de Jesus, Mãe Beata de Yemonjá e tantas outras vozes negras que lutam
contra o preconceito racial e social por meio de suas escritas e resistência de suas
culturas.
O Mito da Democracia Racial traz a crença de que no Brasil não existe
preconceito, não existem atos de discriminação. A imagem que se passa para quem
visita o país é de que aqui vivemos em comunhão, onde os brancos, os índios e os
negros estão unidos por laços de amizade, irmandade, camaradagem. Se a democracia
racial de fato existisse em nosso país, não precisaríamos de leis para a valorização da
cultura afro-brasileira, de modo a tentar controlar o preconceito racial no Brasil.
Esperamos com este artigo divulgar a Lei 10.639/03, apontando caminhos
para o trabalho com a História e Cultura Afro-brasileira. Não somos ingênuos em
pensar que acabaremos com o preconceito étnico/racial no Brasil, mas lutamos para que
este se enfraqueça cada dia mais em nossas salas de aula.
REFERÊNCIAS
CANDAU, Vera Maria. “Construir Ecossistemas Educativos – Reinventar a
Escola”. Novamérica, Rio de Janeiro: 34, dezembro de 1999, p. 16-21.
CONSTITUIÇÃO da República Federativa do Brasil. Brasília, 1998.
CUCHE, Dennys. A Noção de Cultura nas Ciências Sociais.2 ed. Bauru: EDUSC,
2002.
FORQUIN, Jean Claude. Escola e Cultura – As bases Sociais e epistemológicas do
Conhecimento Escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários a Prática
Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 2ª ed. Brasília: câmara
dos Deputados, coordenação de publicações, 2001.
LIMA, Mônica. História da África. In.: Cadernos PENESB 12. 2ª ed. Rio de
Janeiro/Niteroi: Editora Alternativa / Editora da UFF, 2013.
12
PESSANHA, Márcia Maria de Jesus.O Negro na Literatura. In.: Cadernos PENESB
12. 2ª ed. Rio de Janeiro/Niterói: Editora Alternativa / Editora da UFF, 2013.
SACRISTÁN, J. Gimeno. Educar e Conviver na Cultura Global – As exigências da
Cidadania. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002.
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ANEXO I
Fotos do projeto sobre a obra e a biografia de Cartola, trabalho realizado com alunos do
Ensino Fundamental, em 2011, na rede Municipal de Mesquita.
14
ANEXO II
Propomos um quadro com dicas de como utilizar o samba-enredo em sala de aula.
Cultura Afro-Brasileira Através dos Sambas-Enredo
TEMA SAMBA-ENREDO
OBJETIVO
Personagem Negra *Salgueiro, 1960, “Quilombo
dos Palmares”, de Noel Rosa de
Oliveira e parceiros.
*Salgueiro, 1963, “Chica da
Silva”, de Noel Rosa de
Oliveira e Anescar.
*Salgueiro, 1964, “Chico Rei”,
de Geraldo Babão e parceiros.
*Beija-Flor, 1983, “A Grande
Constelação das Estrelas
Negras”, de Neguinho da Beija-
Flor e Nego.
Conhecer
personagens
negras marcantes
da história
brasileira.
Religiosidade Afro-
Brasileira
*Mocidade Independente, 1976,
“Mãe Menininha do Gantois”,
de Toco e Djalma Crill.
*Beija-Flor, 1978, “Criação do
Mundo na Tradição Nagô”, de
Neguinho da Beija-Flor e
parceiros.
*Unidos da Ponte, 1984,
“Oferendas”, deJorginho.
*Grande Rio, 1994, “Os Santos
que a África Não Viu”, de Mais
Velho e parceiros.
*Beija-Flor, 2001, “A Saga de
Agotime – Maria Mineira Naê”,
deDéo e parceiros.
Conhecer as
religiões afro-
brasileiras;
Conhecer os
deuses do
panteão africano
e suas
mitologias.
Cultura Negra
(religiosidade, música,
danças, comidas etc.).
*Mangueira, 1999, “O Século
do Samba”, de Adalberto e
parceiros.
*Salgueiro, 1969, “Bahia de
Todos os Deuses”, de Bala e
Manuel Rosa.
*Unidos de São Carlos, 1976,
“Arte Negra na Legendária
Bahia”, de Caruso e parceiros.
Identificar as
contribuições do
povo negro para
a formação da
cultura brasileira.
15
ANEXO III
Trabalho realizado por alunos do 5º ano de escolaridade, rede Municipal de Belford
Roxo.
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ANEXO IV
Carta enviada a Secretaria de Educação do Município de Belford Roxo
Venho por meio deste documento, apresentar o trabalho sobre
CONSCIÊNCIA NEGRA, desenvolvido por mim, Professor Joilton Lopes de Brito
Lemos*, matrícula 43647, na Unidade Escolar onde estou lotado, ESCOLA
MUNICIPAL WALTER BORGHI, na turma 411, 4º Ano de Escolaridade do Ensino
Fundamental.
Meu objetivo com o envio deste documento é fazer com que a Secretaria de
Educação deste município esteja ciente de que ao trabalhar a Mitologia dos Orixás, nas
minhas aulas sobre Consciência Negra, não fui compreendido pela direção da escola,
que censurou os 11 (onze) cartazes feitos por meus alunos com desenhos dos deuses
africanos. Esses cartazes foram guardados dentro do armário da diretora e não puderam
ser expostos junto com os demais cartazes sobre cultura e História Africana e Afro
brasileira.
Ao trabalhar a Consciência Negra estamos fazendo valer a Lei 10.639/03,
alterada pela Lei 11.645/08 que diz:
“Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de
ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo
da história e cultura afro-brasileira e indígena.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo
incluirá diversos aspectos da história e da cultura que
caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses
dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e
dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil,
a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na
formação da sociedade nacional, resgatando as suas
contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes
à história do Brasil.
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira
e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito
de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação
artística e de literatura e história brasileiras.” (NR) (MEC, LEI
11.645/08)
Sendo assim, estando respaldado pela Lei citada e me apoiando nos livros
paradidáticos enviados pelo Ministério da Educação para bibliotecas escolares
desenvolvi algumas aulas no mês de novembro com a temática Consciência Negra.
Segue, abaixo, o que foi trabalhado nas aulas:
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12/11/2013 – Introdução sobre a Consciência Negra
Resumo sobre a escravidão no Brasil;
Construção da Linha do Tempo (Descobrimento do Brasil, Início da
Escravidão, Libertação dos Escravos, Dias Atuais);
O que são Orixás? / Religião do Negro (Entendendo que nosso país é plural,
laico, onde as pessoas são livres para acreditar na religião que quiser.
Tentativa de levar os alunos à reflexão contra o preconceito).
Construção do Fio de Conta de Oxalá (Começando a pintar os rolinhos de
papel higiênico que servirão como contaspara o colar).
13/11/2013 – Montando o Fio de Conta gigante.
Colocando as “contas” no fio de barbante, formando um colar gigante.
Explicação da importância do colar na cultura negra (O colar serve tanto
para enfeitar quanto para assuntos sagrados da religião).
14/11/2013 – Mitologia Africana
Vídeos recolhidos do You Tube sobre a mitologia dos deuses africanos.
(Os alunos visualizaram vídeos com pequenas histórias de alguns dos
orixás mais famosos: Exu, Oxalá, Yansã, Yemanjá, Ogum, Oxóssi,
Ossaim, Obá, Oxum, Obaluaê e Xangô.
Criação de desenhos sobre os Orixás.
Conversa para tirar dúvidas e curiosidades dos alunos com relação às
histórias vistas nos vídeos.
15/11/2013 – Confecção de Cartazes
Os alunos confeccionaram cartazes com imagens que pesquisaram de
pessoas negras. Os alunos tiveram liberdade para confeccionar os cartazes da
forma que quisessem, escrevendo frases, colando imagens, enfeitando etc.
O professor chamou os alunos que se consideravam negros para tirar uma
foto. Esse trabalho foi feito, também, com os alunos das duas turmas de 3º
ano existente no turno da manhã e com alguns professores.
18/11/2013 – Confecção de Cartazes
Os alunos confeccionaram cartazes, colando os desenhos, sobre os deuses
africanos, que produziram na aula anterior.
19/11/2013 – Confecção de Cartazes
Leitura do livro “FEIJOADA”, de Sonia Rosa, Editora: Pallas.
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Leitura do livro “CAPOEIRA”, de Sonia Rosa, editora: Pallas.
Os alunos confeccionaram cartazes sobre a capoeira e a feijoada.
21/11/2013 – Confecção de Cartazes e Ensaio de Música.
Os alunos ajudaram o professor a construir um grande cartaz com as fotos
dos alunos e professores da escola que se reconhecem negros.
O professor mostrou para os alunos um desenho do instrumento musical
africano denominado macumba. Em seguida, foi construído um cartaz
explicando que macumba é um instrumento musical e que macumbeiro é
quem toca tal instrumento. Religião é outra coisa... Umbanda/Umbandista,
Candomblé/Candomblecista.
Os alunos ensaiaram a música SORRISO NEGRO de Dona Ivone Lara para
se apresentar para as demais turmas da escola.
Uma vez relatado todos os passos das atividades realizadas em sala de aula,
começo a descrever o preconceito que meu trabalho sofreu dentro da instituição escolar.
O primeiro problema enfrentado foi à reclamação de uma responsável de aluna,
que procurou a escola para reclamar sobre as aulas que estavam sendo ministradas sobre
a mitologia dos orixás. Eu fui chamado na sala da diretora para explicar para a
responsável sobre o que se tratava o meu trabalho. Apresentei a Lei 10.639/03 e a lei
11.645/08 para a Diretora da escola (que pelo que me parece desconhecia tais leis), para
a Orientadora Educacional e para a responsável. Expliquei que meu trabalho tinha por
objetivo valorizar a História e a Cultura africana e afro-brasileira de acordo com a Lei.
E que o ensino de mitologia dos orixás estava respaldado pelo próprio Ministério da
Educação, que envia para as escolas livros com essa temática. Argumentei também, que
o negro no nosso país sofre, ainda, muito preconceito, e que este não está longe da sala
de aula, uma vez que alguns alunos utilizam-se de termos como “macumbeiro” para
ofender os colegas que são de religiões afro brasileiras.
A responsável, que segue uma doutrina evangélica, assim, como a diretora da
escola, não conseguiu entender tais explicações. Acontece que a diretora da escola, por
preconceito ou por medo de se indispor com a comunidade, censurou todos os cartazes
com os desenhos dos deuses africanos. Estes não foram expostos junto com os demais
cartazes produzidos pelos alunos. A diretora da escola “guardou-os” – palavra dela –
dentro de seu armário.
No final da culminância do projeto fui até a diretora e pedi todos os cartazes. Ela
foi até seu armário, abriu-o e me entregou-os. Nesse momento expus, na presença de
outra professora e da coordenadora da escola, que não havia gostado da atitude da
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diretora, que no meu ponto de vista, faltou com o respeito ao meu trabalho e, além, não
valorizou o trabalho dos meus alunos, numa atitude totalmente contrária ao que busquei
trabalhar na sala de aula: o respeito ao próximo, o fim do preconceito, o reconhecimento
do negro como agente histórico da construção do Brasil.
Após esse fato, publiquei no Facebook meus sentimentos quanto ao ocorrido,
procurei o SEPE – Núcleo Belford Roxo, onde sou associado, recusei proposta de
entrevista para jornalistas e fui convidado para participar de uma mesa da UERJ/FEBF
sobre os Avanços e desafios nos 10 anos da lei 10.639. E agora, por falta de tempo
antes, escrevo este documento para que a Secretaria de Educação tome ciência do que
aconteceu com o meu trabalho.
Aproveito o espaço para informar que tal atitude da parte da diretora pode ter
caráter preconceituoso, uma vez que a escola se mostra cada dia mais cristã, exemplo
disso, pode ser verificado com a música que a diretora obriga os alunos a cantar todas as
manhãs desde o início do ano e que já foi apresentada para membros da Secretaria de
Educação. A letra da música, em três versos, cita o cristianismo. Murais e enfeites da
escola citam mensagens bíblicas e o nome de Jesus e agora, no final de ano, a escola
tomada pelo espírito natalino, tem em seu pátio, um presépio representando o
nascimento do menino Jesus. Tudo isso, está registrado em fotografias.
Ao relatar a presença do cristianismo na escola, não estou me mostrando
preconceituoso com tais religiões que segue a doutrina Cristã, mas fundamentando
minha visão de que algo está errado, quando a porta da escola parece estar aberta aos
ensinamentos cristãos e fechadas às demais culturas. Fico sem entender por que Jesus,
representado no presépio e em passagens bíblicas, pode ficar exposto no âmbito escolar,
enquanto os desenhos representando os orixás sofreram censura, sendo impedidos de ser
expostos.
Pelo exposto a cima, desejo saber a colocação da Secretaria de Educação,
visando assim, saber como devo trabalhar tais questões nos próximos anos.
Duque de Caxias, 01 de dezembro de 2013.
Joilton Lopes de Brito Lemos
(Professor II)