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  • LETRAS | 9

    PRAGMTICA DA LNGUA PORTUGUESA

  • LETRAS | 10

  • LETRAS | 11

    PRAGMTICA DA LNGUA PORTUGUESA

    LUCIENNE C. ESPNDOLA

    INTRODUO

    Este captulo objetiva situar a disciplina Pragmtica nos estudos da linguagem e introduzir a

    importncia do usurio (interlocutor) e do contexto nas prticas de leitura e de produo de texto.

    Isso equivale a ir alm do significado das palavras e da estrutura sinttica e do valor de

    verdade das sentenas para incluir os elementos contextuais que fazem com que o

    significado, em uma acepo pragmtica, d conta de mais do que explicitamente dito na

    interao lingstica e torne possvel a anlise dos atos realizados por meio da linguagem.

    (MARCONDES, 2005, p. 27)

    Para alguns filsofos o contexto e o usurio passaram a ser componentes imprescindveis para a

    construo do sentido. Assim, desponta a Pragmtica no seio da Filosofia e alguns filsofos, e posteriormente,

    linguistas, passaram a investigar como a linguagem pode dizer mais do que diz atravs da estrutura lingustico

    discursiva, negando (opondo se) concepo de linguagem que postulava ser a linguagem espelho do

    pensamento. As teorias que sero abordadas aqui, desenvolvidas inicialmente no seio da Pragmtica,

    consideram, de alguma maneira, o usurio e o contexto nas interaes verbais.

    Dascal (1982) prope duas origens para a Pragmtica, sendo que a principal diferena entre as duas

    a concepo de Pragmtica: subordinada Lingustica e, consequentemente, Semitica como uma

    disciplina responsvel pelo terceiro nvel de anlise lingustica; ou oriunda dos escritos de Saussure (1916)

    como uma cincia autnoma.

    A concepo moderna de uma disciplina com o nome de pragmtica est intimamente

    ligada idia de uma outra disciplina, com o nome de semitica ou semiologia, que

    surgiu por volta do incio deste sculo. A semitica ou semiologia tem, como se sabe, uma

    dupla origem: os escritos de Charles Sanders Peirce e de Ferdinand de Saussure. De um modo

    geral, ela pode ser caracterizada, segundo ambos, como a teoria geral dos sinais. A ela ficam

    assim naturalmente subordinadas todas as disciplinas que se ocupam de um tipo particular de

    sinais, como o caso da lingstica. a essa dupla origem da semitica e influncia desigual

    de seus fundadores sobre o desenvolvimento da lingstica contempornea que [...] remonta,

  • LETRAS | 12

    pelo menos em parte, o problema da incluso de um componente pragmtico na teoria

    lingstica. (p.8)

    A Pragmtica, originria dos estudos de Peirce no final do sculo XIX, concebida como um nvel de

    anlise da lingustica e tem como objeto [...] o funcionamento de algo como signo envolve o signo, aquilo que

    o signo representa e aquele para quem o signo representa algo. (p.16) De acordo com Guimares (1983), os

    estudos pautados nessa fonte apontam trs direes para a Pragmtica.

    Uma que considera o usurio somente para determinar a relao da linguagem com o mundo

    (referncia), outra que considera o usurio enquanto tal na sua relao com a linguagem. [...]

    e uma terceira que se configura a partir da linguagem ordinria. (ibid., p. 16 17)

    A primeira vertente, tambm denominada de pragmtica indicial,

    [...] subordina o usurio ao problema da referncia.[...] Esse tipo de Pragmtica seria do tipo

    que teria como fonte o signo indicial de Pierce e um compromisso com a semntica lgica,

    ocupando se, como esta, do problema da referncia de proposies, ou seja, do valor de

    verdade de proposies. (ibidem., p.17)

    Filiados a essa vertente encontramos os filsofos Bar Hillel (1954), Stalnaker (1972) e os linguistas

    Jakobson (1963) e Benveniste (1966). Saliente se que essa vertente, tradicionalmente conhecida como sendo

    objeto da Semntica, por ter como objeto de pesquisa a referncia, no ser abordada neste espao1.

    A segunda vertente est centrada no intrprete (usurio da linguagem) e o uso que este faz da

    linguagem. Ou seja, essa Pragmtica focaliza a necessidade de se considerar o usurio do signo formulado por

    Peirce (p.19); ou seja, como intrprete. Morris (1976) representa essa vertente.

    A terceira vertente da Pragmtica oriunda de Peirce a que concebe o usurio como interlocutor. E

    nessa vertente, Guimares inclui: a Pragmtica Conversacional Grice (1982 [1967]); A Pragmtica Ilocucional

    Austin (1990 [1962]) e Searle (1981 [1969], 2002 [1979]) e a Semntica da Enunciao Ducrot (1972,

    1987,1988) e Vogt (1980).

    A segunda origem da Pragmtica, proposta por Dascal (1982), so os escritos de Ferdinand de Saussure

    (1916), que, ao estabelecer como objeto da Lingustica a langue, deixou a parole para outras cincias, entre

    1 Essas questes foram abordadas na disciplina de Semntica. Alguns conceitos, porm, sero retomados no momento em foremrequeridos.

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  • LETRAS | 14

    Este captulo constitui se de uma introduo e quatro unidades:

    1. Atos de Fala (Austin e Searle)

    2. Implcitos lingusticos e pragmticos: implicaturas conversacionais (Grice)

    3. Implcitos lingusticos e pragmticos: Atos de linguagem Indiretos (Austin/Searle)

    4. Implcitos lingusticos e pragmticos: Pressupostos e subentendidos (Ducrot)

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    LETRAS | 1

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  • LETRAS | 16

    A primeira conferncia inicia se com Austin declarando que, por um tempo maior do que o

    necessrio, os gramticos, atravs de critrios gramaticais, classificaram uma sentena como declarativa,

    interrogativa, negativa, que expressa desejo, ordem ou concesso, enquanto que os filsofos acreditavam ter a

    sentena a funo de descrever ou declarar um fato.

    Recentemente, porm, muitas das sentenas que antigamente teriam sido aceitas

    indiscutivelmente como declaraes, tanto por filsofos quanto por gramticos, foram

    examinadas com um novo rigor. Este exame surgiu ao menos em filosofia, de forma um tanto

    indireta. De incio, apareceu, nem sempre formulada sem deplorvel dogmatismo, a

    concepo segundo a qual toda declarao (factual) deveria ser verificvel, o que levou

    concepo de que muitas declaraes so apenas o que se poderia chamar de pseudo

    declaraes. (AUSTIN, 1990, p.22)

    Nesse contexto, um grande nmero de sentenas seria considerado sem significado (vazias de

    significado) se submetidas ao critrio de verdade ou falsidade. A partir dessa constatao, Austin (1962)

    prope sua teoria dos atos de fala em que dizer nem sempre somente descrever e/ou declarar sobre o

    mundo. Dizer, em muitas situaes, fazer; realizar uma ao ao mesmo tempo em que se diz essa ao.

    Nessa perspectiva, uma grande parte dos enunciados no passveis de serem submetidos s condies de

    verdade (valor de verdade) teriam seu significado explicado atravs do contexto em que desempenham um

    determinado ato.

    Eu aposto 10 reais com voc que o Corinthians vai ser campeo.

    Eu batizo este carro de Julio.

    Eu declaro guerra ao cigarro.

    Confiro-lhe o ttulo de bacharel em Direito.

    Eu o condeno a 1 ano de trabalhos comunitrios.

    Dou minha palavra como Joo chegar na hora estipulada.2

    Austin, ento, passa a investigar os enunciados que, para ele, no resistiam s condies de verdade,

    enquanto atos de fala. E concebendo a linguagem como forma de ao que, inicialmente, esse filsofo

    separa os enunciados de uma lngua em dois grandes grupos:

    2 Exemplos adaptados de Levinson (2007. p. 290).

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    )

  • LETRAS | 18

    ( .1) Nos casos em que, com freqncia, o procedimento visa s pessoas com seus pensamentos e

    sentimentos, ou visa instaurao de uma conduta correspondente por parte de alguns dos participantes,

    ento aquele que participa do procedimento, e o invoca deve de fato ter tais pensamentos ou sentimentos,

    e os participantes devem ter a inteno de se conduzirem de maneira adequada, e, alm disso,

    ( .2) devem realmente conduzir-se dessa maneira subseqentemente. (AUSTIN, 1990, p. 131)

    Austin previu que nem todos os atos de fala cumprem rigorosamente todas as condies de felicidade

    (A, B ou ) e que o no cumprimento de algumas dessas condies no constitui violaes de mesmo nvel.

    Para ele a violao de uma das condies do grupo A e B gera infelicidades do tipo falhas a ao pretendida

    pela enunciao performativa no se realiza de forma eficaz; e denomina abusos as infelicidades geradas pelas

    violaes das condies do grupo .

    Consideremos a notcia abaixo.

    Igreja probe padre casado de celebrar casamentos em Goinia (GO)

    Extrado de: Folha Online - 10 de Novembro de 2008

    A Igreja Catlica em Goinia (GO) e em outras 26 cidades divulgou, na missa do ltimo domingo, uma

    carta da arquidiocese dizendo que Osiel Santos, 62, est demitido da funo de padre desde maio e no

    pode mais celebrar casamentos. Ele abandonou a batina h 20 anos para se casar, mas continuou exercendo

    o sacerdcio.

    O Tribunal Eclesistico da Arquidiocese de Goinia decidiu nesta segunda-feira tambm invalidar os cerca

    de 400 matrimnios celebrados por Santos depois de casado, que eram feitos em casas e clubes.

    Os batizados, no entanto, ainda valem --apesar de terem sido feitos por quem comportou em "persistente

    escndalo" e "gravssima ofensa a Deus", segundo a carta assinada pelo arcebispo dom Washington Cruz,

    que ainda ser lida nas missas por duas semanas.

    Em nota, a arquidiocese disse que nenhum outro sacramento recebido por meio de Santos ter validade e "o

    fiel que o procurar com esse propsito torna-se cmplice de seu ato irregular diante da igreja".

    Disponvel em:< http://www.jusbrasil.com.br/noticias/167660/igreja-proibe-padre-casado-de-celebrar-casamentos-em-goiania-go>. Acesso em: 01 jul. 2009.

    (Texto adaptado)

    Essa notcia publica um ritual social o casamento religioso que se realiza atravs de um ato

    performativo em que o padre (na Igreja Catlica) deveria estar investido da autoridade necessria para

    proferir o enunciado Eu vos declaro casados. Esse enunciado mais que um dizer, um fazer, tornar as

    duas pessoas que ali esto, perante a igreja, casados. No entanto, de acordo com a notcia, em todos os atos

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    RESUMO: Auque postu

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    nson (2007,

    ope sua teompre somemuitas situ

    que se diz etativos, quede afirmaer; dizer simra verificar oobjetivo prie felicidade

    LETRAS | 1

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    19

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  • LETRAS | 20

    Considerando essas caractersticas, o enunciado abaixo, originalmente classificado como performativo,

    ao ser reescrito com propriedades (gramaticais) lingusticas no previstas para os performativos, deixa de ser

    um enunciado performativo; e os enunciados resultantes dessa reescritura so considerados como

    pertencendo ao grupo dos constatativos.

    EU DECLARO GUERRA AO CIGARRO.

    Eu declarei guerra ao cigarro.

    Guerra ao cigarro foi declarada por mim.

    Ele declara guerra ao cigarro.

    A reescritura do enunciado Eu declaro guerra ao cigarro., com mudana de voz verbal, de tempo e de

    pessoa, mostra que os critrios funcionam com esse enunciado, saliente se, em um contexto em que o verbo

    declarar esteja sendo utilizado para realizar a ao que a enunciao veicula. Ou seja, esse enunciado ser

    performativo, se, em uma assembleia de condomnio, o sndico, aps consultar os condminos e ter a

    aprovao dos mesmos, para proibir que se fume nas dependncias comuns do condomnio que administra,

    disser: Declaro guerra ao cigarro..

    No entanto, em um contexto em que a enunciao de Eu declaro guerra ao cigarro. no esteja

    realizando o ato de fala performativo, mas somente o relato de uma ao habitual, esse enunciado, mesmo

    apresentando as caractersticas propostas por Austin, no pode ser considerado performativo.

    Pensemos esse contexto: o proprietrio de um bar, ao ser perguntado como tem sido a posio do seu

    estabelecimento com relao ao cigarro, responde com o enunciado:

    Eu declaro guerra ao cigarro.

    Nesse contexto, o dono do estabelecimento no est, ao mesmo tempo, enunciando e realizando a

    ao de declarar guerra. Constatamos somente a declarao de como tem sido sua atitude frente ao cigarro.

    Esse exemplo revela que essas caractersticas elencadas por Austin mostraram se insuficientes para

    caracterizar um enunciado performativo, pois h muitos outros enunciados com essas caractersticas que no

    realizam uma ao ao serem proferidos; constituem simplesmente declaraes, relatos etc.

  • LETRAS | 21

    Eu compro po na padaria do seu Joo.

    Com essa constatao, ficou evidente que outros critrios mais seguros so necessrios para

    caracterizar um enunciado performativo que segue o padro formal proposto pela teoria. Austin constatou

    tambm que h outras formas de enunciados performativos que no seguem os padres descritos acima:

    Culpado, Inocente, porm permitem que sejam recuperadas as formas lingusticas equivalentes:Eu o

    declaro culpado, Eu o declaro inocente. respectivamente.

    Embora as caractersticas gramaticais tenham se mostrado pouco eficientes para dizer, com certeza, se

    um enunciado performativo ou no, de acordo com Austin, no devem ser abandonadas para identificar os

    performativos explcitos, mas associadas ao critrio lexical (alguns verbos apresentam a propriedade de

    realizarem aes ao serem enunciados).

    Nessa direo, outro critrio foi apresentado, para distinguir os enunciados, no presente do indicativo

    (em primeira pessoa), que realizam performativos dos que servem a outras funes: o uso das expresses por

    meio de/ por meio da presente, para isolar os verbos performativos.

    Utilizando se uma dessas expresses, para testar os enunciados Eu declaro guerra ao cigarro. e Eu

    compro po na padaria do seu Joo., teremos o seguinte resultado:

    Eu, por meio da presente, declaro guerra ao cigarro.

    Eu, por meio da presente, compro po na padaria do seu Joo.

    A expresso por meio da presente, nessas duas situaes, foi produtiva para revelar que o verbo

    declarar, no contexto de assembleia de um condomnio, performativo enquanto que o verbo comprar

    no . No entanto, um recurso que no ser produtivo em outras situaes em que se constata um ato

    performativo no realizado pelas formas cannicas.

    Essa constatao levou Austin (1990 [1962]) a propor enunciados performativos explcitos aqueles

    que se comportam conforme os critrios j estabelecidos anteriormente (sentenas ativas, indicativas, de

    primeira pessoa, no presente simples),

    Eu os declaro marido e mulher!

    e os enunciados performativos implcitos (ou primrios) aqueles realizados por outras formas lingusticas

    que no seguem as normas dos explcitos.

    Amanh estarei no lugar combinado. (ato de promessa)

    Segundo Levinson (2007),

  • LETRAS | 22

    Dessa maneira, o que Austin sugere que, na realidade, as performativas explcitas so

    apenas maneiras relativamente especializadas de algum ser inequvoco e especfico a

    respeito do ato que est executando ao falar. (p.296)

    Os enunciados performativos implcitos, por sua vez, podero ser realizados atravs de vrios recursos

    lingustico discursivos ou suprassegmentais: atravs do modo imperativo do verbo (Devolva o dinheiro! ao

    invs de Eu ordeno que devolva o dinheiro.); advrbios (Voc viajar amanh sem falta!) em que a locuo

    adverbial sem falta aumenta a fora do que fora enunciado; uso de certas partculas conectivas gera, de forma

    sutil, o efeito de um performativo (portanto com a fora de concluo que, contudo com a fora de insisto que

    etc.); recursos suprassegmentais (tom de voz, nfase em determinado segmento do enunciado etc.); recursos

    no verbais (gestos, sinais etc.) e as circunstncias dos proferimentos.

    As formas primitivas ou primrias dos proferimentos conservam [...] a ambigidade, ou

    equvoco, ou o carter vago da linguagem primitiva. Tais formas no tornam explcita a

    fora exata do proferimento [...] Mas de certo modo, tais recursos so excessivamente ricos

    em significado. Prestam se a equvocos e distines errneas e, alm do mais, so utilizados

    tambm para outros propsitos, como, por exemplo, a insinuao. O performativo explcito

    exclui os equvocos e mantm a realizao relativamente estvel. (AUSTIN, 1990, p.69 e 72)

    A constatao de que as enunciaes podem ser performativas sem estarem na forma normal das

    performativas explcitas (LEVINSON, 2007, p. 296) gerou dois desdobramentos: o abandono da dicotomia

    entre performativos e constatativos e a adoo de uma teoria completa dos atos fala; e admisso de duas

    categorias de atos de fala: o reconhecimento dos atos de fala diretos e dos indiretos, classificao que vai ser

    abordada (revista) por Searle (1981 [1969], 2002 [1979]).

    Nessa nova direo de investigao, Austin (1970 apud LEVINSON, 2007, p. 297 298) assim se

    posiciona:

    Alm da questo, que foi muito estudada no passado e que diz respeito ao que certa

    enunciao significa, h uma outra questo que diz respeito a qual era a fora, como a

    chamamos, da enunciao. Podemos ter absoluta clareza do que significa a frase Feche a

    porta e ainda assim no ter clareza sobre a questo adicional de determinar se, quando

    enunciada em determinada ocasio, foi uma ordem, um apelo ou sabe se l o qu.

    Searle (2002 [1979]) assim se posiciona sobre essa nova direo dada Teoria dos Atos de Fala:

  • LETRAS | 23

    A distino original entre constativos e performativos pretendia ser uma distino entre

    emisses que consistem em dizer (constativos, enunciados, assertivos, etc.) e emisses que

    consistem em fazer (promessas, apostas, advertncias, etc.). [...] O principal tema da obra

    madura de Austin, How to Do Things with words, a falncia dessa distino. Assim como

    dizer certas coisas casar se (um performativo) e dizer certas coisas fazer uma promessa

    (outro performativo), dizer certas coisas fazer um enunciado (supostamente um

    constativo). [...] Qualquer emisso consistir na realizao de um ou mais atos

    ilocucionrios. (p.27)

    E, para explicar como fazemos coisas ao enunciar sentenas, Austin (1990 [1962]) prope a Teoria

    Geral dos Atos de Fala, cujo objetivo demonstrar que quando enunciamos, simultaneamente, realizamos trs

    atos:

    1) Ato locucionrio o ato de dizer algo; o uso de uma sentena em determinada ocasio.

    2) Ato ilocucionrio o ato ao dizer algo, ou seja, ao proferir uma sentena (ato locucionrio),

    realizamos atos como informar, avisar, prevenir, acusar, prometer, descrever etc.

    3) Ato perlocucionrio o ato de produzir efeitos ou consequncias no ouvinte/leitor; em outras

    palavras, o efeito que produzimos no leitor/ ouvinte ao realizar um ato ilocucionrio; h

    situaes em que se pretende estar realizando um ato do tipo prevenir e pode se confundir o

    outro ao invs de previni lo. Ao realizarmos um ato locucionrio do tipo ordenar, informar,

    prometer, declarar, encerrar, pode se produzir no leitor atos (perlocucionrios) do tipo convencer,

    intimidar, persuadir, surpreender, confundir etc.

    Por exemplo, a sentena abaixo, mesmo no sendo do grupo das explicitamente performativas (por

    no apresentar as caractersticas dessa classe),

    Amanh ser o dia grande dia!

    ao ser enunciada, seja em que contexto for, na modalidade falada4 ou na escrita, caracterizar um ato

    locucionrio, ou seja o ato de dizer a sentena, de enunci la. Esse ato poder realizar, dependendo da

    inteno do locutor e do contexto, um ato ilocucionrio de advertir, comunicar, intimidar etc. algum. Porm,

    o interlocutor poder, como efeito perlocucionrio, sentir se intimidado, desafiado, amedrontado, irritado etc.

    O interesse de Austin era explicitamente os atos ilocucionrios, mais especificamente os verbos

    performativos, no entanto, com a constatao de que todos os enunciados so utilizados com uma

    4 A Teoria dos Atos de Fala, como o prprio nome diz, originalmente foi criada em funo da modalidade falada; hoje sua aplicao foiampliada para a escrita.

  • LETRAS | 24

    determinada fora ilocucionria, a distino entre atos performativos e constatativos foi revista, mas o

    interesse pelos performativos explcitos foi mantido, inclusive com uma proposta de classificao para os

    verbos ilocucionrios (performativos).

    Searle (2002 [1979]) rev essa classificao, adotando, como critrio base para a sua classificao dos

    usos da linguagem, o propsito ilocucionrio5, como ele mesmo justifica:

    Se adotamos o propsito ilocucionrio como a noo bsica para a classificao dos usos da

    linguagem, h ento um nmero bem limitado de coisas bsicas que fazemos com a

    linguagem: dizemos s pessoas como as coisas so, tentamos lev las a fazer coisas,

    comprometemo nos a fazer coisas, expressamos nossos sentimentos e atitudes, e produzimos

    mudanas por meio de nossas emisses. (p.46)

    Searle (2002 [1979]) apresenta sua classificao dos atos ilocucionrios, sendo que os primeiros quatro

    atos (assertivos, diretivos, compromissivos e expressivos) foram assim classificados com base em algum(uns)

    dos critrios: o propsito ilocucionrio, a direo do ajuste (palavra mundo ou mundo palavra) as condies

    de sinceridade expressas; por outro lado, as declaraes no foram definidas utilizando nenhum desses

    critrios, mas, segundo Searle (2002 [1979], p.25), por considerar que em que o estado de coisas

    representado na proposio expressa realizado ou feito existir pelo dispositivo da fora ilocucionria..

    1) Assertivos O propsito dos membros da classe assertiva o de comprometer o falante (em

    diferentes graus) com o fato de algo ser o caso, com a verdade da proposio expressa. Todos os

    membros da classe assertiva so avaliveis na dimenso de avaliao que inclui o verdadeiro e o

    falso. (p.19) concluir, deduzir, gabar se, reclamar, constatar etc.

    Situao1: em um contexto de sala de aula, o professor, ao analisar as atividades desenvolvidas por

    um aluno durante o ano, assevera:

    A partir de anlise minuciosa do desempenho de x, concluo que x no tem condies de ser aprovado.

    2) Diretivos Seu propsito ilocucionrio consiste no fato de que so tentativas (em graus variveis [...])

    do falante levar o ouvinte a fazer algo. Podem ser tentativas muito tmidas, como quando o convido

    5 De acordo com Marcondes (2005, p. 59), A classificao das foras ilocucionrias e os critrios para isso so retomados eaprofundados em A taxonomy of illocutionary forces (in Expression and Meaning, Cambridge University Press, 1979) eposteriormente os sete componentes das foras ilocucionrias so apresentados em John Searle e Daniel Vanderveken, Foudations ofIllocucionary Logic (Cambridge University Press, 1985)..

  • LETRAS | 25

    a fazer algo ou sugiro que faa algo, ou podem ser tentativas muito veementes, como quando insisto

    em que faa algo. (p.21) pedir, convidar, mandar, suplicar, rogar.

    Situao 2: em uma partida de futebol, um jogador comete uma falta cuja punio a expulso, ento

    o rbitro naturalmente ergue o carto vermelho, ao que pode vir acompanhada de um dos

    enunciados abaixo:

    Convido-o a sair do campo!

    Saia do campo!

    3) Compromissivos Os compromissivos so [...] os atos ilocucionrios cujo propsito comprometer o

    falante (tambm neste caso, em graus variveis) com alguma linha futura de ao. (p.22) prometer,

    jurar.

    Situao 3: em um cerimnia de colao de grau de cursos de graduao, um dos formandos faz o

    juramento relativo profisso escolhida:

    Juro acreditar no direito como a melhor forma para a convivncia humana. Juro fazer da justia uma consequncia normal e ... (juramento do curso de Direito)

    4) Expressivos O propsito ilocucionrio dessa classe o de expressar um estado psicolgico,

    especificado na condio de sinceridade, a respeito de um estado de coisas, especificado no contedo

    proposicional. (p.23) agradecer, congratular, dar psames, dar boas vindas.

    Situao 4: na volta para casa de uma viagem longa, Joana recebida no aeroporto com uma faixa que

    dizia:

    Boas-vindas, Joana!

    Joo, filho de Joana, no pde ir recepo por estar de planto, ento enviou uma mensagem para o

    celular da me:

  • 5) Dec

    me

    suc

    em

    Situ

    LETRAS | 26

    claraes

    mbros produ

    edida garant

    realizar o at

    uao 5: em u

    6

    Me, desculp

    A caracters

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    te a correspo

    to de design

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    Voc est dem

    pe a minha aus

    tica definido

    pondncia en

    ondncia en

    lo presiden

    sa, aps dese

    mitido!

    RESUMO

    caracterstuma senteisso, fico

    caracterizapela

    enunciaeEssas consentre per

    atos fala; eatos de fala

    ncia, a vejo mai

    ora dessa cla

    ntre o conte

    ntre o conte

    nte, ento vo

    entendiment

    O: Com o avanticas para os aena com as cu evidente quar um enunciateoria. Austines performativstataes geraformativos e cadmisso dea diretos e do

    por

    is tarde!

    sse que a r

    do proposi

    do proposic

    oc o presi

    to entre chef

    no em suas patos performacaractersticasue outros critado performatn (1990 [1962]vas que no saram dois desconstatativosduas categor

    os indiretos, clSearle (1981

    realizao be

    cional e a re

    cional e o mu

    dente; (p.26

    fe e funcion

    pesquisas, prinativos, Austins propostas rios mais segtivo que segu]) constatou teguem o padsdobramentose a adoo dias de atos delassificao qu[1969], 2002

    em sucedida

    ealidade, a r

    undo: se sou

    6).

    rio, aquele

    ncipalmente aconstata que,um ato perfoguros so necee o padro foambm que hro formal pros: o abandonoe uma teoriae fala: o reconue vai ser abo[1979]).

    a de um de s

    realizao be

    u bem suced

    assevera:

    ao investigar, nem semprermativo. Comessrios paraormal propostoh outrasoposto por eleo da dicotomiacompleta dos

    nhecimento doordada (revista

    eus

    em

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    e.asosa)

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    6 [...] l infrenc

    pragmatiques,

    CITOS

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    o6. (SEARLE,

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    LINGUCO

    te, ao intera

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    s a uma das

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    unciados da

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    82 [1967]), in

    levanta a hi

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    .

    a sua teo

    e (prope) o

    s so violado

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    LEITURA

    GRICE, Hmetodol

    http://ww_Lgica_e_

    LEVINSOPaulo, M

    UN

    STICOONVERS

    agirmos em s

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    os, e as conse

    ration logique d

    cation. (SEARLE

    AS:

    erbert Paul. Lgicos da ling

    ww.4shared._Conversao.h

    N, Stephen Caryins Fontes

    NIDAD

    S E PRASACION

    situaes as

    que est lit

    permite uma

    e predomina

    eituras, recor

    nferncia se

    xtuais, conv

    m a possibili

    direciona a

    iteralmente

    mplicaturas

    s que regem

    equncias da

    de mise em rela

    E, apud BLANCH

    Lgica e convgstica v. Icom/file/133html.

    C. (2007) Prags, p. 121 152

    DE II

    AGMTNAIS (G

    s mais divers

    teralmente d

    a s leitura,

    ante.

    rremos a inf

    er entendid

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    idade de um

    sua pesquis

    e para que

    conversacio

    m (ou que de

    a no obedi

    ation de donn

    HET, 1995, p.95

    versao. In:IV: Pragmtic3960193/9db

    gmtica.(trad.

    TICOS: RICE)

    sas, ficamos

    dito (linguist

    mas outras

    ferncias em

    o aqui com

    e pragmtico

    m enunciado

    sa e teoria p

    o ouvinte ca

    onais, infer

    evem reger)

    ncia, (in)volu

    es nonces, c

    5)

    DASCAL, M (1ca. Campinasbf8d81/H_P_G

    . Lus Carlos B

    LETRAS | 2

    IMPLICA

    com muitas

    ticamente a

    s vezes o co

    m nvel lingu

    mo uma opera

    os, visando

    o comunicar

    proposta: de

    apte a inform

    ncias cont

    uma conver

    untria, a es

    contextuelles, c

    1982). Funda. Disponvel eGrice_

    Borges, Aniba

    27

    ATURAS

    s interroga

    tualizado). I

    ntexto perm

    stico discurs

    ao lgica q

    construir u

    mais do qu

    eve haver re

    mao adicio

    extuais, Gr

    rsao, com

    sas regras.

    conventionnelle

    amentos

    em:

    al Mari). Sso

    S

    es

    sso

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    sivo

    que

    uma

    e o

    egra

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    o e

    es et

    o

  • LETRAS | 28

    A teoria proposta por Grice (1982 [1967]), no artigo Logic and Conversation, no usou a palavra

    implcito, no entanto, hoje, pode se dizer que Grice, com a descrio das regras que regem (ou devem reger)

    uma conversao e as consequncias do no cumprimento dessas regras, ofereceu nos uma perspectiva para

    olhar (investigar/compreender/descrever) os implcitos lingusticos e os pragmticos: implicaturas

    convencionais e no convencionais.

    Para estabelecer (descrever) as regras que regem o dilogo, Grice parte da hiptese de que os

    participantes de uma interao fazem esforos cooperativos; se no inicialmente, mas no decorrer da

    interao esses esforos so verificados, caso contrrio no h comunicao. Essa hiptese deu origem ao

    princpio geral da conversao: o PRINCPIO DA COOPERAO.

    Alm desse princpio, Grice (1982, p. 86 88) postula quatro categorias, com mximas e submximas, as

    quais devem ser cumpridas para que uma interao (conversao) seja bem sucedida.

    I) Categoria da quantidade est relacionada com a quantidade de informao a ser fornecida e a ela

    correspondem as seguintes mximas:

    1. Faa com que sua contribuio seja to informativa quanto requerido (para o propsito corrente

    da conversao).

    2. No faa sua contribuio mais informativa do que requerido.

    II) Categoria da qualidade encontramos a supermxima: Trate de fazer sua contribuio que seja

    verdadeira., com duas mximas:

    1. No diga o que voc acredita ser falso.

    2. No diga seno aquilo para que voc possa fornecer evidncia adequada.

    III) Categoria da relao a mxima proposta : Seja relevante.

    IV) Categoria do modo refere se a como o que dito deve ser dito. A super mxima : Seja claro,

    com vrias mximas:

    1. Evite obscuridade de expresso.

    2. Evite ambigidades.

    3. Seja breve (evite prolixidade desnecessria).

    4. Seja ordenado.

  • LETRAS | 29

    Essas quatro categorias, com suas supermximas, mximas e submximas, foram propostas, para, com

    o princpio da cooperao, regerem um conversao (interao) bem sucedida. Ento, para que se tenha uma

    interao feliz preciso que essas categorias sejam observadas em toda interao. Sendo que a no

    observncia, de forma no intencional, de um desses preceitos poder acarretar rudos e mal entendidos.

    Portanto, conhecer essas categorias que podem garantir uma interao satisfatria pode ser um

    instrumento para o professor de lngua materna utilizar tanto na produo quanto na correo de textos de

    gneros textuais os mais diversos. Com as devidas adequaes ao gnero em questo, possvel utilizar essas

    categorias como critrios concretos para ensinar a produzir textos e tambm avaliar textos produzidos em sala

    de aula, como mostraremos posteriormente.

    Primeiramente, nos deteremos no objetivo de Grice (1982 [1972]) oferecer subsdios para

    responder pergunta: Como possvel dizer mais do que est literalmente dito linguisticamente?, atravs da

    quebra de, pelo menos, uma dessas categorias. Em outras palavras, o interesse do filsofo era verificar como,

    respeitando o princpio da cooperao, mas quebrando uma dessas mximas, o locutor consegue dizer ao

    interlocutor mais ou alm do que est dito; e por outro lado, como o interlocutor consegue tambm ler mais

    do que est dito na estrutura lingustico discursiva.

    AS IMPLICATURAS

    Inicialmente, Grice introduz o conceito de implicatura as informaes implicitadas, propositalmente

    pelo locutor (falante/escritor), com o objetivo de transmitir algo mais ao interlocutor (ouvinte/leitor).

    Dois tipos de implicaturas so estabelecidos por Grice (1982): a implicatura convencional e a no

    convencional (a implicatura conversacional):

    Implicatura convencional uma inferncia resultante do significado convencional das palavras.

    Ele um ingls; ele , portanto, um bravo. (GRICE, 1982, p. 84.)

    Nesse exemplo, constatamos que a inferncia de que o fato de ser bravo uma consequncia de ser

    ingls advm da presena do termo lingustico portanto. Ou seja, a inferncia aqui no estritamente

    contextual, ela possibilitada pela presena de um termo que tem como significado convencional introduzir

    uma concluso ou consequncia.

  • LETRAS | 30

    Implicatura no convencional (doravante implicatura conversacional) inicialmente ao menos, os

    implicitados conversacionais no so parte do significado das expresses cujo uso os produz. (GRICE, 1982,

    p.103)

    Embora tenha proposto dois tipos de implicaturas as quais correspondem, grosso modo, aos implcitos

    lingusticos e aos pragmticos, Grice estava interessado, como confessa, somente nas implicaturas

    conversacionais advindas da quebra proposital de uma das mximas propostas por ele. Saliente se que, nas

    condies estabelecidas por Grice, a quebra de uma das mximas acontece em um contexto em que o

    princpio da cooperao est sendo observado pelos participantes.

    Segundo Levinson (2007, p. 140), possvel derivar um padro geral para o clculo de uma

    implicatura:

    (i) F disse que p

    (ii) no h razo para pensar que F no est observando as mximas ou, pelo menos, o princpio

    cooperativo

    (iii) para que F diga que p esteja realmente observando as mximas do princpio cooperativo, F deve pensar

    que q

    (iv) F deve saber que conhecimento mtuo que q deve ser suposto para que se considere que F est

    cooperando

    (v) F no fez nada para impedir que eu, o destinatrio, pensasse que q

    (vi) portanto, F pretende que eu pense que q e, ao dizer que p comunicou a implicatura q

    Nessas condies, Grice, segundo Levinson (2007), isola as cinco propriedades essenciais das

    implicaturas conversacionais:

    a) Cancelveis (ou anulveis) uma inferncia anulvel se possvel cancel la acrescentando

    algumas premissas adicionais s premissas originais. (p.142) As implicaturas, de acordo com

    Levinson, seriam semelhantes aos argumentos indutivos.

    b) No destacveis Grice quer dizer que a implicatura est ligada ao contedo semntico do que

    dito, no forma lingstica, e, portanto, as implicaturas no podem ser retiradas de um

    enunciado simplesmente trocando as palavras do enunciado por sinnimos [...] com exceo das

    que surgem atravs da mxima de modo. (p. 144 145)

    c) Calculveis [...] deve ser possvel construir um argumento, demonstrando que, a partir do

    significado literal ou do sentido da enunciao, por um lado, e do princpio cooperativo e das

  • d)

    TEXTOS CO

    Veja

    das mxima

    outra(s); ou

    considerada

    Mxima da

    informao

    quantidade

    e a(s) inten

    mximas, p

    cooperao

    No conve

    lingsticas.

    OM QUEBR

    amos, agora

    as. preciso

    u muitas vez

    a, naquele co

    quantidade

    , ou menos,

    de informa

    o(es) do

    or outro, se

    o presumida.

    encionais

    (p. 145)

    RAS DE M

    , situaes d

    o salientar q

    zes a quebra

    ontexto, a m

    e: nos exemp

    do que requ

    es conside

    locutor.

    gue se que u

    (p.145)

    [...] no

    XIMAS I

    de interao

    ue, em muit

    a de uma m

    mais importan

    plos abaixo,

    uerido naque

    erando o gn

    RESUMO:

    enunciahiptese

    regra parque o o

    EssaPRINC

    quatrocumprid

    Grice ainda qual ge

    um destinat

    fazem par

    MPLICATU

    o em que con

    tas situae

    mxima efe

    nte.

    constata se

    ela situao.

    nero textual,

    : Paul Grice (do comunicae que direciora que o falanouvinte capte

    hiptese dePIO DA COOcategorias, cas para queda investigara as implica

    rio faria a i

    rte do sign

    URAS CONV

    nstatamos a

    s, a quebra

    etuada para

    a quebra da

    . Respeitar a

    , o objetivo d

    (1982 [1967]ar mais do qona a sua pente diga maie a informau origem aoPERAO. A

    com mximauma interaos efeitos da

    aturas conveprag

    nferncia em

    ificado con

    VERSACION

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    de uma m

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    mxima da

    mxima de

    da interao

    ), intrigado cue o sentidosquisa e teos do que esto adicionalprincpio ge

    Alm desse ps e submxim

    o (conversaa quebra vol

    ersacionais gmtico.

    LETRAS | 3

    m questo p

    vencional d

    NAIS

    encional, de

    xima acarre

    outra mxim

    quantidade

    quantidade

    o, o interlocu

    com a possibo literal veicuria propostat dito literalque a interaral da converincpio, Gricmas, as quaiao) seja beuntria dessum dos tipo

    31

    ara preserva

    das express

    uma (ou m

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    ma, por ser e

    por haver m

    saber dosa

    utor, o conte

    bilidade de uula, levanta a: deve havermente e parao veicula.ersao: oce postulous devem serem sucedidasas categoriaos de implcit

    ar a

    es

    ais)

    de

    esta

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    ar a

    exto

    marra

    .s,to

  • LETRAS | 32

    E* Por que o senhor no estudou?

    I* : :: num estudei porque num num de:u, sabe? Num quis, n? Num gostava mesmo, :: porque s s queria trabalhaO mesmo e brincaO :: e minha me era do interioO, fic grvida de mim, n? :: a veio pra c. pa capital, n? A agente era era era do Catol do Rocha. A: :: nasci, n? quando eu tinha nove anos ela morreu. :: A eu s criado [P-] fui criado tambm como como se da famia mesmo{inint}onde eu moro l. Gente muito boa l, muito boa pa mim. (01.AFD.M)

    A resposta do informante, do corpus do VALPB7, apresenta informaes que ultrapassam o contedo

    esperado como resposta. No entanto, constata se que essas informaes adicionais so apresentadas como

    justificativa para a interrupo dos estudos. Ento, a quebra da mxima da quantidade consciente e com

    objetivos os quais o informante espera sejam captados pelo entrevistador.

    A) - Joo um bom aluno?

    B) - o melhor jogador de futebol da escola.

    Situemos a interao acima: Joo candidata se a uma bolsa no programa de bolsas da escola o qual

    tem como requisitos, para seleo de alunos, o bom desempenho em sala de aula. A (presidente da comisso

    de bolsas) faz a pergunta acima a B (professor de Matemtica de Joo). Com a resposta dada por B, A precisa

    fazer algumas inferncias para chegar a uma possvel leitura: B est sendo cooperativo quando disse que Joo

    o melhor jogador de futebol da escola; portanto A precisa inferir que B est dizendo mais do que est

    literalmente expresso (p) e que B pretende que A identifique o que Grice chamou de q (a inferncia implicitada

    pela quebra da mxima). Uma das possveis inferncias, a partir do contexto descrito, que Joo no um

    bom aluno, considerando os parmetros exigidos para ser bolsista. Nessa interao, alm da quebra da

    mxima da quantidade, foram fornecidos menos informaes do que se esperava, pode se dizer que h

    tambm a quebra da mxima da relao, pois pode se pensar que a resposta dada por B no relevante para

    a pergunta feita por A.

    O excesso de informaes tambm afeta o critrio de relevncia, pois dizer mais do que requerido

    no adequado, exceto se o objetivo dizer mais do que aparentemente dito.

    As frases conhecidas como tautolgicas tambm podem figurar como exemplos de textos que violam a

    mxima da quantidade, sendo, por um lado, circulares, redundantes e, por outro, dizem menos do que

    deveriam dizer, ou seja, so menos informativas do que o requerido.

    7 Projeto de Variao Lingstica do Estado da Paraba, coordenado pelo professor doutor Dermeval da Hora de Oliveira.

  • LETRAS | 33

    Criana Criana!

    Guerra guerra!

    Surpresa inesperada!

    Acabamento final!

    Elo de ligao!

    Os dois primeiros exemplos Criana Criana! e Guerra guerra! podem tambm aparecer em

    contextos que estejam sendo utilizados para responder a perguntas do tipo Defina o que ser criana? ou

    Defina o termo guerra. Nesses dois contextos, desde que se suponha que o locutor desses enunciados esteja

    sendo cooperativo, haver a quebra da relevncia cuja inteno caber o interlocutor buscar identificar.

    Nesses dois casos, teramos a quebra de duas mximas: a da quantidade e a da relevncia.

    Mxima da qualidade: a quebra da supermxima Trate de fazer sua contribuio que seja verdadeira. faz

    com que o interlocutor identifique no texto uma incoerncia, caso no se ressalte que essa declarao

    aparentemente falsa tem como objetivo, por parte do locutor, dizer algo mais, podendo fazer, inclusive, com

    que surjam as ironias.

    A Voc est horrvel com esse vestido!

    B - Eu tambm amo voc!

    Levinson (2007) faz o seguinte comentrio para uma interao semelhante a essa:

    Qualquer participante razoavelmente informado saber que a enunciao de B

    escandalosamente falsa. Sendo assim, B no pode estar tentando enganar A. A nica maneira

    pela qual a suposio de que B est cooperando pode ser mantida se interpretarmos que B

    quer dizer algo um tanto diferente daquilo que efetivamente foi dito. Ao procurarmos por

    uma proposio relacionada, mas cooperativa, que B pode estar pretendendo comunicar,

    chegamos ao oposto, ou negao, do que B formulou[...]. (p.136)

    No nosso exemplo, provavelmente B est querendo dizer a A: Eu tambm odeio voc!. Mas para

    que se possa chegar a essa inferncia, conhecimentos partilhados e culturais precisam ser recuperados,

    partindo inicialmente da suposio de que B est sendo cooperativo.

  • LETRAS | 34

    Vejamos mais situaes em que a supermxima Trate de fazer sua contribuio que seja verdadeira.

    est sendo violada intencionalmente:

    Um edifcio estava pegando fogo, e todos corriam para a sada de emergncia. Algum pergunta: A - um incndio?

    B - No, a minha mulher que est assando uma pizza!

    O presidente Lula, ao ser perguntado por um jornalista:

    A - O senhor acha que a CPI da Petrobrs vai terminar em pizza? Ele respondeu:

    B - Todos eles so bons pizzaiolos. (15/07/09)

    Nas duas interaes acima, a primeira do gnero textual piada e a segunda fragmento de uma

    entrevista feita por um reprter de televiso com o presidente Lus Incio da Silva (Lula), constata se

    que, mesmo em gneros diferentes, h a quebra da mxima da qualidade, porm com objetivos

    diferentes.

    Na piada, a quebra da supermxima Trate de fazer sua contribuio que seja verdadeira.

    funciona como desencadeador (ativador) da ironia que gera o riso, pois a uma pergunta no

    relevante cabe uma resposta tambm no verdadeira, que, por sua vez, tambm se caracteriza como

    uma resposta no relevante. Essa caracterstica permite observar que a quebra da mxima da

    qualidade, nessa situao, tambm gera a quebra da mxima da relevncia. Como j foi dito

    anteriormente, h situaes em que a quebra de uma mxima desencadeia a quebra de outra(s),

    sendo que, s vezes, torna se difcil enquadrar a quebra em uma ou em outra categoria.

    Na entrevista, constata se que houve tambm a quebra Trate de fazer sua contribuio que

    seja verdadeira., porm com objetivos diferentes daqueles que constatamos na piada. Nessa

    entrevista, o presidente talvez por no ter condies de, com certeza, dar uma resposta para a

    pergunta feita pelo reprter, resolve ironizar, aparentemente sendo irrelevante, porm poder estar

    dizendo que os parlamentares no so pizzaiolos, embora saiba se que, metaforicamente, as CPIs

    terminam em pizza. Saliente se que, subsequentemente a esse episdio, ao ser questionado por

    essa resposta, o presidente disse que no pretendia ofender ningum. Nessa interao, como em

    outras j mostradas, poder se ia apontar outra quebra de mxima, a da relevncia, provando que

  • LETRAS | 35

    quase sempre a no observncia de uma mxima acarreta a de outra ou consequncia de outra

    quebra.

    Embora os dois textos pertenam a dois gneros textuais diferentes, de acordo com Levinson

    (2007, p. 136), Se no houvesse nenhuma suposio subjacente de cooperao, os receptores das

    ironias deveriam simplesmente ficar perplexos; nenhuma inferncia poderia ser extrada..

    Mxima da relao: nos textos abaixo, constata se a quebra da mxima seja relevante, porm ressaltando

    que essa quebra proposital, portanto o interlocutor precisa partir da presuno de que o locutor est sendo

    cooperativo, ento est dizendo algo a mais do que est dito literalmente e cabe quele buscar, atravs de

    inferncias, essa informao extra.

    Inicialmente, apresento duas perguntas com as respectivas respostas de uma entrevista feita pela

    Rede Globo de Televiso com o candidato a Presidente da Repblica, Luiz Incio Lula da Silva. poca da

    entrevista, Lula era candidato ao segundo mandato presidncia do Brasil, por isso estava sendo questionado

    sobre o escndalo do mensalo, colocado a pblico no seu primeiro mandato.

    Ftima Bernardes: O senhor acha ento que o senhor tambm errou, presidente, no caso dessas denncias, o senhor tambm teria errado? O que o senhor poderia fazer de diferente no caso de um novo mandato?

    Lula: Eu s poderia fazer diferente se eu soubesse antes. Eu soube depois que aconteceu. O dado concreto, Ftima, que muitas vezes, ou por uma f, ou quem sabe at porque estamos vivendo uma guerra poltica, as pessoas ousam dizer o seguinte: "olha, mas o presidente deveria saber de tudo". Ora, vamos ser francos, vamos ser honestos entre ns. Est cheio de famlias que tm problema dentro de casa e a familia no sabe. Est cheio de pai e me que ficam sabendo que o seu filho cometeu um delito pela imprensa, ou quando a policia prende. Como que pode algum querer que o presidente da Repblica, embora tenha que assumir responsabilidade por todos os lados, saiba o que est acontecendo agora na Secretaria da Agricultura do Estado de So Paulo ligada ao Ministrio da Agricultura. Como que eu posso saber agora o que est acontecendo com os meus ministros que no esto aqui? (entrevista 10/08/06 na Rede Globo)

    Ftima Bernardes: Mas o fato dele (Paulo Okamoto), de aliados dele, terem tentado tanto bloquear aquela quebra de sigilo, no pode levar o eleitor a pensar que havia algo a esconder?

    Lula: um direito dele no querer quebrar o sigilo dele. um direito de qualquer cidado. Amanh, isso pode estar acontecendo com voc, pode estar acontecendo comigo, pode estar acontecendo com o William e ns vamos utilizar todos os mecanismos que o direito nos d para que ns possamos nos defender. (entrevista 10/08/06 na Rede Globo)

    Analisando as respostas do presidencivel, luz da mximas, constata se que as duas perguntas feitas

    pela entrevistadora ficaram sem respostas adequadas para a situao, porm, partindo da presuno de que o

  • LETRAS | 36

    locutor (Lula) estava sendo cooperativo, ou seja, que o candidato entendeu a pergunta, e que respondeu

    dessa forma intencionalmente, cabe entrevistadora, como aos ouvintes (leitores), buscar a informao extra

    que estava sendo comunicada pelo candidato. Da forma como as perguntas foram respondidas, o

    presidencivel no se comprometeu literalmente com o escndalo vivenciado pelo PT, porm deixou margem

    para julgarem no culpado ou inocente.

    Nesse contexto, a mxima seja relevante foi violada deliberadamente pelo locutor (candidato Lula)

    por, sabermos, naquele contexto ter de agradar gregos (seu partido) e troianos (oposio solidria) e

    principalmente no poder se comprometer perante seus milhes de eleitores que assistiam entrevista.

    Saliente se que a quebra que chama a ateno a da relevncia, no entanto, para quebrar essa, outra mxima

    tambm foi quebrada: a da quantidade na primeira pergunta; na segunda, pode se constatar que a quebra da

    mxima da relevncia pode ter tido a funo de preservar a supermxima Trate de fazer sua contribuio que

    seja verdadeira..

    A seguir apresentaremos a quebra da mxima seja relevante em charges, em que a quebra tem

    funo semntico discursiva diferente da constatada na entrevista anterior. O gnero textual charge tem a

    funo social de criticar situaes cotidianas as mais diversas, atravs do humor gerado por vrios recursos

    lingustico discursivos. Apresentamos aqui algumas charges cujo recurso gerador do riso a quebra da mxima

    da relao.

    (Disponvel em: Acesso em: 04 jul. 2009)

    Nessa charge, abordado um tema do cotidiano, saliente se atemporal, e, para se chegar um

    dos possveis sentidos, preciso que o leitor identifique:

  • LETRAS | 37

    1) Os personagens ou os fatos a que o texto faz referncia na perspectiva polifnica, ostextos com os quais esse texto dialoga;

    2) o contexto scio histrico e/ou poltico e as circunstncias em que o fato referenciadoaconteceu; ou seja, recuperao da enunciao;

    3) os elementos lingsticos, quando houver;4) as possveis intenes do chargista, considerando o lugar de onde ele enuncia (se

    atravs de jornal, revista, ou sem vnculo com nenhum meio de comunicao, produoindependente). (ESPNDOLA, 2001, p. 110 111).

    Aps, serem recuperadas essas informaes, constata se, na charge, que as palavras da me

    no so adequadas situao que o texto no verbal revela (mostra). Verifica se que o que dito

    pela me no relevante para a situao em que se encontram me e filho.

    Considerando o texto no verbal (ancoragem da charge), constata se que o chargista

    apresenta dois personagens (me e filho) interagindo, porm a me dirigindo se ao filho com um

    enunciado quase que absurdo para o contexto. Porm, como nos outros gneros apresentados, os

    leitores da charge precisam partir da presuno de que o chargista, ao apresentar esse dilogo

    anormal em um lixo, est sendo cooperativo com seus leitores, portanto estaria, com esse texto,

    veiculando uma informao extra, alm do dito. A quebra da mxima seja relevante leva o leitor a

    buscar a inteno do locutor, aqui o chargista, que poderia ser uma crtica aos governantes, por

    permitirem que pessoas tenham de recorrer ao lixo para sobreviverem. A quebra gera o riso, mas,

    na charge, geralmente uma forma de crtica.

    Disponvel em: . Acesso em: 05 jul. 2009.

    Nessa charge, como j colocado anteriormente, tambm preciso que sejam recuperados os

    conhecimentos prvios necessrios para que se possa fazer uma das leituras possveis. A quebra da

  • LETRAS | 38

    mxima da relevncia novamente utilizada aqui pelo locutor (chargista), agora na resposta dada

    pelo entrevistado a um programa de televiso. Aparentemente, dir se ia que o entrevistado no

    entendeu a pergunta do entrevistador, porm, essa inferncia fica invalidada ao se recuperar nossa

    histria, principalmente, o perodo de ditadura por que os brasileiros passaram e a fase atual em que

    a ditatura tem sido reconhecida pelos governantes.

    A partir dessa constatao, resta ao leitor fazer suas inferncias, considerando que o

    personagem colocado no papel de entrevistado (provvel ator do perodo da ditadura por suas

    caractersticas fsicas), est sendo cooperativo na entrevista, portanto, se deu uma resposta

    inadequada o fez com uma inteno. Nesse caso, preciso buscar uma inferncia que traduza essa

    possvel inteno.

    A charge abaixo tambm uma crtica, atravs do humor, utilizando se do recurso da quebra

    da mxima da relevncia. Constata se, no texto, uma resposta, aparentemente, inadequada

    pergunta feita pela pessoa que est sendo detida por um policial da Polcia Federal. O ttulo da

    charge faz referncia a escndalo fiscal de uma empresa brasileira. Novamente, para se chegar

    informao extra que o locutor (chargista) pretende divulgar, preciso partir da presuno de que

    ele est sendo cooperativo e de que a quebra da mxima por um dos personagens da charge

    intencional.

    Disponvel em:http://www.chargeonline.com.br Acesso em: 05 de jul. 2009.

  • LETRAS | 39

    preciso salientar que a quebra da mxima da relao feita deliberadamente, para, muitas vezes,

    preservar a supermxima Trate de fazer sua contribuio que seja verdadeira..

    (A) - Que significa "pressuposio"?

    (B) - Consulte uma obra de semntica.

    (A) - Que horas so?

    (B) - J tarde.

    (A) - Voc me ama?

    (B) - Eu gosto de estar em sua companhia.

    Nas trs interaes acima, constata se que todas as respostas no so, aparentemente, adequadas s

    perguntas, porm percebe se que o locutor atravs dessa quebra (estratgia) est sendo cooperativo e

    protege se para no ser acusado de no ter dito a verdade. Porm, constata se que, em cada uma das

    situaes, as informaes intencionalmente veiculadas so as mais diversas, ficando a cargo dos interlocutores

    (leitores) identific las.

    Mxima de modo: quebrar essa mxima significa no seguir um desses preceitos:

    1. Evite obscuridade de expresso.

    2. Evite ambigidades.

    3. Seja breve (evite prolixidade desnecessria).

    4. Seja ordenado.

    Muitas vezes, quando constatamos a quebra de uma das trs outras mximas, em decorrncia da

    quebra de um dos preceitos da categoria do modo. Por exemplo, a quebra da mxima da quantidade, nos dois

    exemplos tratados naquele espao, est diretamente ligada ao fato de o informante no ter respeitado o

    preceito seja breve na interao:

    E* Por que o senhor no estudou?

    I* : :: num estudei porque num num de:u, sabe? Num quis, n? Num gostava mesmo, :: porque s s queria trabalhaO mesmo e brincaO :: e minha me era do interioO, fic grvida de mim, n? :: a veio pra c. pa capital, n? A agente era era era do Catol

  • LETRAS | 40

    do Rocha. A: :: nasci, n? quando eu tinha nove anos ela morreu. :: A eu s criado [P-] fui criado tambm como como se da famia mesmo{inint}onde eu moro l. Gente muito boa l, muito boa pa mim. (01.AFD.M)

    A interao abaixo, por outro lado, cuja mxima da quantidade tambm foi quebrada por dizer menos

    do que deveria ter dito para a situao, quebra, tambm, a mxima da relao.

    A) - Joo um bom aluno?

    B) - o melhor jogador de futebol da escola.

    Submetendo as implicaturas conversacionais levantadas nos textos aos critrios propostos por Grice

    (1982), possvel verificar que todas as quebras de mximas geradoras de implicaturas denominadas

    conversacionais so: cancelveis, pois no esto previstas na significao das expresses que compem a

    estrutura lingustica; no destacveis, pois as implicaturas esto ligadas ao sentido e ao contexto, portanto

    mudar a estrutura no as elimina; calculveis, so calculadas, pois a partir da presuno de que o locutor est

    sendo cooperativo, est dizendo algo atravs da quebra; portanto, cabe ao interlocutor calcular qual a

    informao extra que lhe est sendo enviada; no convencionais, pois todas os exemplos de implicaturas

    acima no esto previstos no significado convencional das expresses lingusticas.

    AS MXIMAS CONVERSACIONAIS E O ENSINO DE PRODUO TEXTOS

    A violao intencional das mximas conversacionais gera as implicaturas conversacionais privilegiadas

    at aqui, as quais constituem um implcito pragmtico. No entanto, a mximas propostas por Grice (1982)

    tambm podem ser violadas no intencionalmente, por desconhecimento das regras de construo de um

    texto de determinado gnero. Nesse contexto, quero fazer algumas ponderaes sobre a quebra dessas

    categorias, a qual gera um texto com determinada incoerncia ou gera um rudo no intencional em uma

    interao.

    As mximas conversacionais de Grice, embora tenham sido pensadas para o contexto da conversao,

    podem ser utilizadas para o ensino de produo textual, bem como critrios para a correo de textos,

    considerando as caractersticas macro e micro do gnero a que o texto pertence.

  • LETRAS | 41

    Para exemplificarmos esse possvel uso da teoria, tomamos a proposta da primeira questo da prova

    de redao do PSS 2009 da Universidade Federal da Paraba, que apresentou a foto de um menino quebrando

    pedra e o seguinte comando:

    Imagine se no papel de um reprter que comparece ao local onde ocorreu o fato retratado.

    Redija um texto para ser publicado no jornal em que voc trabalha, noticiando esse fato. Para

    tanto, observe as seguintes orientaes:

    Siga a estrutura de uma notcia;

    Redija seu texto com, no mnimo, 12 linhas, e, no mximo, com 15 linhas;

    Use a norma padro da lngua escrita.

    Observemos as mximas: de quantidade, qualidade, relao e modo no texto abaixo, considerando o

    gnero que foi solicitado: uma notcia.

    Se aplicarmos essas mximas, para verificarmos se esse texto atende ao mnimo que requer uma

    interao escrita em forma de notcia, pode se, de forma bastante superficial neste espao, fazer as seguintes

    observaes.

    Para verificar se a mxima da quantidade satisfeita, inicialmente, preciso observar quais

    informaes so requeridas pelo gnero notcia, e consultando os livros da rea, constatamos que alguns itens

    precisam estar presentes: quem, onde, quando, o qu e como (se possvel), os quais determinaro, inclusive, a

    quantidade de informaes. Constata se que os quatro primeiros itens aparecem no primeiro pargrafo,

    mesmo que o qu esteja relatado de forma bastante superficial. No segundo pargrafo, esperava se um maior

    detalhamento do fato noticiado, porm o que se encontra um ponto de vista do redator sobre o assunto. O

    nvel informativo e de argumentividade, de acordo com gnero, poderia ser avaliado nessa mxima.

  • LETRAS | 42

    A mxima da qualidade parece estar sendo satisfeita, pois o problema noticiado no texto advm de

    outras notcias e reportagens veiculadas em meios de comunicao do estado. E, nesse ponto, preciso

    trabalhar com os alunos o fato de que h gneros, por exemplo, a notcia, que requerem que os fatos

    divulgados possam ser provados por aquele que os divulga. Ou seja, diga (escreva) No diga seno aquilo

    para que voc possa fornecer evidncia adequada.. Porm, a modalizao um recurso muito usado nesse

    gnero quando no se tem todas as evidncias de um fato que est sendo divulgado, ou no se tem a certeza

    da autoria.

    No se constata nenhuma falta de relevncia entre o que foi solicitado pelo enunciado da questo e o

    que foi produzido pelo candidato. Teramos aqui um caso de no relevncia, caso o candidato escrevesse

    sobre um outro assunto, diferente do solicitado.

    Com relao mxima do modo, preciso aqui parar e verificar o texto, considerando a norma padro

    da lngua portuguesa no que diz respeito aos elementos de coeso em nvel macro e micro discursivo textual,

    de acordo com as exigncias do gnero solicitado.

    Obviamente, as mximas serviriam de norte para o professor que trabalha com produo de texto em

    sala de aula e no para comporem grades de correo de textos em concursos de grandes propores. No

    entanto, conhecer as mximas e as possibilidades de aplicao pode servir de subsdio para professores que

    trabalham com leitura e escrita em todos os nveis de ensino.

  • IM

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    LETRAS | 4

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    43

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  • LETRAS | 44

    E para tentar responder (resolver) a esses dois problemas, Searle (2002 [1979]) identifica dois atos em

    um ato indireto: um ato primrio e um ato secundrio. O primeiro (primrio) seria a inteno que tem o

    locutor com determinado enunciado, independente de estar explcito ou no; o segundo (secundrio) o ato

    usado para realizar o primrio, o sentido literal da sentena. E, para se entender e chegar ao ato primrio

    pretendido/realizado pela enunciao de x, Searle (2002), p. 53 54) apresenta uma breve reconstruo das

    etapas, que, segundo ele, o ouvinte (leitor) realiza, mesmo que automaticamente, para derivar o ato primrio

    do secundrio.

    De acordo com Searle (2002), para se buscar o ato primrio que est sendo realizado atravs de um

    ato secundrio, lana se mo de um processo inferencial que est descrito em 10 passos nessa obra.

    E assim resume esse trabalho do interlocutor (leitor).

    A estratgia inferencial estabelecer, primeiramente, que o propsito ilocucionrio primrio

    diverge do literal e, em segundo lugar, qual seja o propsito ilocucionrio primrio. [...] Esse

    aparato inclui informaes de base compartilhadas, uma teoria dos atos de fala e certos

    princpios de conversao. (p.53)

    Analisemos a situao a seguir, em que A recebe um convite para ir ao cinema e B responde,

    aparentemente, de forma irrelevante.

    A Vamos ao cinema hoje tarde?

    B Tenho de terminar o material de Pragmtica para a EAD.

    O locutor A faz um convite, em forma de ato direto, e sua proposta rejeitada por B de forma indireta.

    Ento, como A entende que sua proposta est sendo rejeitada ou que a enunciao de B deve ser lida

    (entendida) como uma rejeio? Searle (2002) diz que A, para chegar leitura de que o enunciado de B uma

    rejeio ao seu convite, primeiro realizar realizar algumas etapas lingustico cognitivas, as quais resumirei a

    seguir.

    A sabe que, ao fazer um convite a B, este dever aceit lo ou no. A tambm sabe que B est sendo

    cooperativo (princpio proposto por Grice), portanto sua resposta deve ser relevante. No entanto, ao observar

    literalmente o que fora dito por B, A constata que a resposta esperada aceitao, recusa ou proposta para

    discutir o convite no relevante para o convite feito. Mas, recuperando a presuno de que B est sendo

    relevante, A precisa buscar o que est dito alm do sentido literal expresso na sentena de B, portanto o

    propsito ilocucionrio (ato primrio) de B diferente do expresso literalmente (ato secundrio). A partir

  • LETRAS | 45

    dessa etapa, A buscar uma concluso (inferncia) probabilstica enquanto propsito probabilstico de B. Essa

    inferncia s ser possvel considerando os aspectos j levantados e o que fora dito literalmente: Tenho de

    terminar o material de Pragmtica para a EAD. A partir desses dados, pode se concluir que terminar o

    material e ir ao cinema constituem duas aes que no podem ser realizadas simultaneamente; aceitar a

    proposta de A, tendo essa tarefa a ser, com certeza, realizada, caracterizaria uma incoerncia de B.

    Para Searle (2002), h uma incidncia maior de atos indiretos no grupo dos diretivos, em funo da

    polidez, uma vez que, em nossa sociedade, muito mais eficiente uma ordem camuflada de pedido do que de

    forma literal.

    A polidez a mais proeminente das motivaes para pedidos indiretos e certas formas

    tendem naturalmente a tornar se os meios polidos convencionais de feitura de pedidos

    indiretos. (p.81)

    Assim, muito mais, socialmente, simptico e aceitvel pedir que se feche a porta atravs da forma

    indireta Voc pode fechar a porta?, do que a forma direta Feche a porta!. Os compromissivos tambm so,

    em muitas situaes, realizados atravs de formas indiretas, como os exemplos a seguir:

    Posso levar voc ao cinema?

    Entregarei os dados a voc na sua prxima visita.

    Acrescento aos postulados de Searle (2002) que todos os atos ilocucionrios podem ser realizados por

    meio de um ato indireto; as condies enunciativas e o princpio da polidez que determinaro se um ato

    ilocucionrio, quer seja assertivo, diretivo, compromissivo, expressivo ou declarativo, ser realizado de forma

    direta ou atravs de um ato indireto.

    De acordo com Levinson (2007), sero considerados atos indiretos outros usos da linguagem que no

    estejam em conformidade o que est previsto abaixo:

    (i) As performativas explcitas tm a fora que nomeada pelo verbo performativo na orao matriz(ii) Ou ento, os trs tipos principais de sentenas em ingls, isto , as imperativas, interrogativas e

    declarativas, possuem as foras que a tradio associou a elas, a saber, ordenar (ou pedir), interrogar eafirmar, respectivamente (naturalmente, com a exceo das performativas explcitas, que estejam emformato declarativo). (p.335)

  • LETRAS | 46

    H pessoas que tm dificuldade de pedir desculpas utilizando a forma direta Desculpe me, mas

    realizam o ato utilizando outras formas indiretas que surtem o mesmo efeito: Eu no queria ter magoado

    voc!. Isso no vai se repetir! (este pode ser classificado tambm como um compromissivo). Parece me que

    at uma declarao pode ser feita de forma indireta, observe a seguinte situao.

    O diretor de uma empresa, ao constatar que um dos funcionrios responsveis pela segurana da

    empresa no estava cumprindo as normas de segurana, chamou o em seu escritrio e o demitiu dizendo: A

    partir de hoje voc no trabalha mais nesta empresa!. Houve uma declarao com o propsito de demitir o

    funcionrio; o diretor tem a autoridade para realizar esse ato; o local era adequado; enfim as condies de

    felicidade foram satisfeitas e o ato consumado. Porm, o propsito de demitir foi realizado atravs de um ato

    indireto.

    Os atos assertivos, pelo menos alguns, tambm podero ser realizados atravs de atos indiretos. Por

    exemplo, posso estar fazendo uma reclamao de forma indireta. Observe a situao. Contrato uma firma de

    vigilncia para a segurana de minha casa, no satisfeita com o desempenho dos funcionrios destacados para

    fazer a referida segurana, ligo para o diretor da firma e digo: A firma no tem funcionrios mais bem

    treinados para me enviar?. Nesse contexto, no estou querendo uma resposta pergunta, mas estou

    registrando que no estou satisfeita com o desempenho dos funcionrios que tm vindo fazer a segurana da

    minha casa. Assim, o ato ilocucionrio primrio que almejo, reclamao, est sendo realizado atravs de um

    secundrio, uma pergunta. O diretor, se perspicaz, tomar as devidas providncias.

    Uma outra situao que ilustra um ato assertivo realizado de forma indireta. Em um noticirio

    televisivo, um reprter visita uma feira com objetivo de verificar um aumento de preos de frutas e verduras

    que estaria sendo praticado a partir do dia da visita. Ao verificar que os preos praticados no dia visita no

    eram os mesmos do dia anterior, estavam majorados, pergunta a um dos feirantes:

    Reprter: Os preos hoje esto mais altos do que estavam ontem?

    Feirante: Olha, os preos hoje no so os mesmos de ontem.

    Nessa situao, constatamos que o feirante no disse declaradamente que os preos das frutas e

    verduras aumentaram, recorre a uma declarao que, pelo contexto econmico em que vivemos, dificilmente

    o ato indireto realizado pela assero acima seria Os preos baixaram, mas Os preos subiram. Para o feirante

    no simptico assumir a majorao dos preos, ento recorre a um ato indireto, que, sabe se, nessa

    situao, pode ser negado, pois no h nenhuma marca lingustica que deixe essa informao registrada na

  • LETRAS | 47

    estrutura lingustico discursiva. Junto aos consumidores o feirante no foi antiptico, assumindo, o aumento,

    como tambm se preservou junto aos outros feirantes.

    Uma ltima ilustrao de interao em que um ato assertivo pode ter sido realizado atravs de um

    ato indireto.

    Em uma empresa, as pessoas que por l transitam realizando determinadas atividades agendam

    previamente suas idas a essa empresa. Em determinada situao, duas funcionrias, ao verificarem se

    determinado profissional estaria ou no na empresa em um horrio X, constataram que havia uma marcao,

    mas o profissional no estava no recinto. Nesse contexto, tiveram o seguinte dilogo:

    A: No fui quem agendou a vinda de fulano.

    B: , a letra est bem direitinha.

    A: Voc disse que minha letra ruim?

    B: Eu no disse nada.

    Nessa, situao, sabe se que h um ato indireto, porque h uma informao partilhada entre A e B, A

    diz ter uma letra ruim. Essa informao no s de conhecimento de B, como tambm parece ser aceita

    como verdadeira por B. Porm, B no assume declaramente, mas, por todas as informaes, possvel inferir

    que realmente B pretendeu dizer que a letra de A no to legvel.

    A partir da exposio dos atos indiretos e do princpio da polidez que permeia nossas relaes

    sociais, profissionais e pessoais, h uma tendncia, pelo menos em nossa cultura, de usarmos, mais do que

    imaginamos, atos secundrios com propsitos de atos primrios.

    Transcrevo, aqui, uma lista de como pedir indiretamente para fechar a porta apresentada por

    Levinson (2007, p.336 337).

    Quero que voe feche a porta.

    Eu ficaria muito grato se voc fechasse a porta.

    Voc pode fechar a porta?

    Por acaso, voc tem como fechar a porta?

    Voc fecharia a porta?

    Voc no vai fechar a porta?

  • Ou

    LETRAS | 48

    utras formas

    8

    Voc se impo

    Voc estaria

    Voc devia fe

    Poderia ser

    No seria me

    Posso pedir-l

    Voc ficaria m

    Sinto ter de d

    Voc se esque

    Faa-nos um

    Que tal um p

    s lingusticas

    Est muito fri

    Na sua terra

    A sua casa n

    RESUM

    pragmsitua

    ortaria de fechar

    disposto a fecha

    echar a porta.

    til fechar a por

    elhor voc fecha

    lhe que feche a

    muito chateado

    dizer-lhe para fe

    ecer de fechar p

    favor com a por

    ouco menos de

    ainda poder

    io com a porta a

    no se fecha a p

    o tem porta?

    MO: Os atosmtico cones uma in

    estru

    r a porta?

    ar a porta?

    rta.

    ar a porta?

    porta?

    se eu lhe pediss

    echar a porta.

    porta?

    rta, amor.

    brisa?

    riam ser acre

    aberta!

    porta?

    de linguagenstituem ounformao tutura lingus

    se que fechasse

    escentadas, c

    em indiretosutra forma dtotalmentestico discurs

    a porta?

    como:

    s uma dasde dizer madiferente, dsiva do enu

    s formas deis, ou em ado que estnciado.

    e implcitolgumasdito na

  • IMPLC

    Os i

    considerado

    participante

    contexto, o

    Por

    algumas sit

    de element

    do nvel pra

    Seg

    CITOS L

    implcitos at

    os pragmti

    es do princ

    que facilita

    m, nem to

    uaes, mes

    to lingustico

    agmtico.

    gundo Ducrot

    LINGUSE SU

    t ento dest

    cos, pois as

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    ao interlocu

    odos os imp

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    o presente ne

    t (1987), pre

    Dizer que

    admitir X,

    subentendi

    processo, a

    fala. (p.42)

    LEITURA

    Pontes.(

    MOURAa quest1999. (c

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    STICOSUBENTE

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    ido, ao contr

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    AS: DUCRO(p.13 43)

    A, Heronidees de semcap. I)

    NIDAD

    S E PRAENDIDO

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    conhecimen

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    OT, Oswald.

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    9) Significaragmtica.

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