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Cânticos ou Mantras?

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Autor: João A. de Souza FilhoTítulo: Cânticos ou Mantras?Capa: Adilson ProcDiagramação: Editora Faith

Editora Faith - www.editorafaith.com.brTodos os direitos reservadosCopyright ©2004 ISBN: 85-98131-03-2

Os textos bíblicos usados são da Nova VersãoInternacional da Sociedade Bíblica Internacional eda Edição Revista e Atualizada da Sociedade Bíbli-ca do Brasil.

Todos os direitos em língua portuguesa perten-cem à Editora Faith Ltda.

Recomendamos que não se façam cópias destelivro sem a autorização por escrito da Editora. Tre-chos podem ser copiados para menção em livros enotas em jornais e revistas, desde que citadas as fon-tes.

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Palavra ao leitor:

Cheguei escrever este livro aprofundando-me umpouco mais no tema – porque gosto de livros commais de cem páginas – mas, depois de pronto deci-di que deveria transformá-lo numa edição simples,pequena, prática, abordando um pouco do que acon-tece no mundo espiritual.

É um livro intimista, isto é, escrevi como se esti-vesse num bate-papo com meus amigos, imaginan-do que ouvia perguntas, considerações e opiniões.Por isso algumas das frases são curtas, diretas, semmuitas explicações – conversando com o leitor demaneira despretensiosa. Daí que o leitor divagarájuntamente comigo – pulando de um tema a outro.

Eu não trago todas as respostas. Escrevi para queo leitor pense um pouco, pois a reflexão serve paralevantar questionamentos. O problema é que nãosomos treinados para refletir. Acostumamo-nos areceber tudo pronto, como um pão, saído do forno.Aqui você tem que refletir e preparar seu próprioalimento!

Então, reflita comigo: o que estamos cantandoem nossos cultos? Cânticos espirituais ou mantras?Será que espíritos enganadores podem entrar emnossa hinologia e na vida ministerial?

Reflita, pois. E tire suas conclusões sem perder oencanto e sem deixar de cantar no espírito!

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SUMÁRIO

1. Entre o Falso e o Verdadeiro...........................052. Em Espírito e em Verdade..............................173. Cânticos ou Mantra?.....................................31

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Capítulo 1Entre o Falso e o Verdadeiro

Para que você entenda a diferença entre umcântico espiritual e um mantra é necessário conhe-cer as imitações da verdade que ocorrem no mundoespiritual.

Hoje, em questões de tecnologia é difícil saberse um produto que compramos é falso ou verdadei-ro! Um relógio Rolex de três mil dólares pode seradquirido por 100 reais. É igual ao verdadeiro, masé falso! Uma caneta Mont Blanc de oitocentos reaispode ser adquirida por 50! Parece verdadeira, mas éfalsa! O grande desafio dos fabricantes é provar queo produto vendido na melhor perfumaria é verda-deiro; pois a loja, apesar da grife famosa, pode serenganada. Vende o produto achando que é verda-deiro, mas é falsificado! Vendedor e cliente são en-ganados igualmente! As falsificações não têm limi-tes! Tudo que está à venda no mercado tem um si-milar falsificado! E com que perfeição!

E não é diferente em questões espirituais! O fal-so sempre imita o verdadeiro, mas é falso! Agora,em questões espirituais, o falso nem sempre podeser comparado a um produto qualquer, pois o pro-duto falsificado já nasce falso! Mas no mundo espi-ritual não! A falsidade, por ser um espírito de enga-no, “entra” operando uma “mutação” no que era

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verdadeiro! Nas questões espirituais é difícil perce-ber a falsidade, pois o “falso” nunca se apresentacomo falso, mas como verdadeiro. Um profeta, pre-gador ou mestre que sejam falsos, não são detecta-dos pelo ensino ou pela influência, porque jamaisse apresentam como tal, - e às vezes nem se dãoconta de que estão operando na falsidade – mascomo verdadeiros! Para entender como isso funcio-na precisamos examinar as escrituras sagradas, olhan-do atentamente o que escreveram homens de Deussobre este tema nos últimos tempos.

É Jesus quem dá a primeira dica no Novo Testa-mento.

Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’,entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele quefaz a vontade de meu Pai que está nos céus. Mui-tos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, nãoprofetizamos em teu nome? Em teu nome nãoexpulsamos demônios e não realizamos muitosmilagres?’ Então eu lhes direi claramente: Nuncaos conheci. Afastem-se de mim vocês, que prati-cam o mal! (Mt 7.21-23).

“Não é coincidência que o alerta de Jesus sobreos falsos profetas venha precedido do alerta sobre ocaminho largo e o estreito. Obviamente, porquemuitos que pensam que o caminho em que estãoseja o caminho da vida, mas estão sendo enganadospelos falsos profetas ou por aqueles que estão sob o

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ministério dos falsos profetas!”, escreveu DonBashan em True & False Prophets. 1 Este autor,juntamente com Derek Prince trabalharam juntosdurante muitos anos e conheceram intimamentealguns dos famosos pregadores, e contam como osespíritos de engano entraram no ministério de al-guns deles. Recomendo a leitura do livro de DerekPrince, Proteção Contra o Engano.2

O que Jesus queria dizer no texto que acabamosde ler, e que deve nos deixar preocupados?

Primeiro, que os falsos profetas eram bempentecostais! Nada contra os pentecostais, pois tam-bém sou pentecostal, ou contra os carismáticos, por-que também sou carismático, ou contra os renova-dos, porque também sou renovado; mas porque Je-sus denuncia que esses profetizavam em seu nome!E pergunto: quem de nós quando profetiza, ou pro-clama uma verdade não o faz em nome de Jesus? Oque nos deixa todos sob suspeita!

Segundo, porque eles expulsavam os demôniosem nome de Jesus. Você já expulsou demônios? Eujá perdi a conta! Sua igreja tem reuniões de liberta-ção? Parece-nos que esses irmãos mencionados porJesus tinham cultos de libertação em suas igrejas,mas não é isso que Jesus está condenando. O quedeve nos trazer temor é que esses irmãos tinhamautoridade sobre os demônios! Mas Jesus não estáafirmando que esses são falsos porque expulsavamdemônios, pois ele mesmo os expulsou e ensinou

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seus discípulos a fazerem mesmo.Terceiro, eram pregadores que realizavam mila-

gres! Não apenas milagres de cura! Mas milagres nosentido amplo do dom, isto é, que podem curar,mexer com o tempo, com a natureza, fazer crescerórgãos no corpo – entenda, milagre no sentido am-plo do dom como Paulo fala em 1 Coríntios 12.Não apenas pregadores, mas produtores de mila-gres! Paulo afirma que existe o dom de “operaçõesde milagres”, isto é, operações de poder, porque apalavra é dunamus – a mesma palavra que apareceem Atos 1.8.

O que Jesus está dizendo é que o fato de termoscapacitação espiritual para profetizar, expulsar de-mônios e realizar milagres, não nos isenta de ser-mos falsos profetas. O que eles fazem é verdadeiro!Então o que os desqualifica e os coloca entre os fal-sos?

A resposta é tão simples que passa despercebidada maioria dos leitores: “Apartai-vos de mim, os quepraticais a iniqüidade”, ou como diz a NVI “... vocêsque praticam o mal”. Então o falso – neste caso ofalso pregador – não deve ser julgado por seu mi-nistério, se os milagres são divinos ou não, mas pelavida que tem! Jesus está apontando para a qualida-de de vida, e não para as demonstrações de poder!Portanto, o que faz que um pregador sincero se tor-ne falso, não é a mensagem, mas seu estilo de vida!Julgue o leitor à luz da Bíblia, mas se uma pessoa

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vive um estilo de vida diferente do que Jesus ensi-nou entrou para a lista dos falsos!

Jesus falou que conheceremos o falso profeta peloseu fruto! Enganamo-nos quando pensamos que o“fruto” seja a obra que ele faz. O fruto é seu estilode vida! Ao nos alertar contra os falsos profetas que“vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas pordentro são lobos devoradores”, Jesus está apontan-do para atentarmos na natureza deles. Por isso, afir-ma: “Assim, pelos seus frutos vocês os reconhece-rão!”. É que o falso nunca se apresenta como tal. Oque faz é sempre verdadeiro, o que prega é verda-deiro, mas seu estilo de vida é falso!

Aprofundemo-nos um pouco mais, parafrasean-do o que Jesus quer dizer: “Nunca reconheci a vali-dade de seu ministério. Você foi um canal para meusmilagres, mas você se tornou rebelde, sem o frutodo Espírito que identifica o meu servo verdadeiro.”Prática da iniqüidade na aparência do ministério?Não. Jesus está falando de atitude interior e caráter!É no seu interior que aparece a rebelião que tirará amáscara do falso profeta!

E mais, Jesus dá a entender que nosso estilo devida anula, diante dele, a recompensa que teríamospara receber na eternidade! Por que digo isto? Por-que o profeta em questão realiza milagres, expulsademônios e profetiza, mas não é recebido no reino!

Uma das maneiras que o verdadeiro se torna falso– parece até uma incoerência o verdadeiro tornar-se

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falso, mas no reino espiritual sucede diferentemen-te da tecnologia – é pela infiltração dos espíritos deengano na vida de uma pessoa, ou da igreja. Exem-plo disso é a advertência de Deus no Antigo Testa-mento.

Se aparecer entre vocês um profeta ou alguém quefaz predições por meio de sonhos e lhes anunciarum sinal miraculoso ou um prodígio, e se o sinalou prodígio de que ele falou acontecer, e ele dis-ser: ‘Vamos seguir outros deuses que vocês nãoconhecem e vamos adorá-los’, não dêem ouvidosàs palavras daquele profeta ou sonhador. O SE-NHOR, o seu Deus, está pondo vocês à provapara ver se o amam de todo o coração e de toda aalma.

Derek Prince em seu livro Proteção Contra o En-gano aborda cinco grandes movimentos que come-çaram bem, mas que depois foram afetados por es-píritos enganadores. O movimento Chuva Serô-dia, os Filhos Manifestos, Os Meninos de Deus, omovimento iniciado por Willian Branham e o Mo-vimento do Discipulado.

Neste texto bíblico a advertência vem do pró-prio Deus. Como costumamos nos deter no títuloque os tradutores dão ao texto, neste caso – contraos falsos profetas e idólatras – pensamos que se tratamesmo de um falso profeta, mas não. O texto bíbli-co não fala em falso profeta, mas em alguém que

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anuncia um milagre ou prodígio. Até aí nada de-mais! Alguém colocou no cabeçalho do texto que setrata de falso profeta, mas não é isto o que lemos.“Se aparecer entre vocês um profeta ou alguém quefaz predições por meio de sonhos e lhes anunciarum sinal miraculoso ou um prodígio, e se o sinal ouprodígio de que ele falou acontecer...”. Até aqui nadademais! Ele não é falso. Ele anunciou que um mila-gre aconteceria, e aconteceu! As pessoas viram a ma-nifestação do poder de Deus e passaram a crer emDeus e em seu profeta. Até aqui ele é verdadeiro!

Mas quando se torna falso? Quando usa dos mi-lagres de Deus para desviar as pessoas do propósitodivino! Em outras palavras, utiliza-se dos milagres edo poder de Deus para fins pessoais ou de sua insti-tuição. Como o leque de possibilidades é amplo,deixo que você continue a refletir sobre o tema. Porexemplo, que tal levar pela linha da prosperidade?Um milagre acontece com a pessoa que ouve suapregação, e você se aproveita do milagre para acei-tar uma boa oferta; ou você orou por um enfermomoribundo, ele calcula o quanto gastaria com hos-pitais e farmácia e resolve lhe ofertar o dinheiro...que comportamento você adotaria? Não é isso quetem feito pregadores e cantores enriquecerem?

Mas um dia a iniqüidade aparece. Deus permiteque os pecados dessa pessoa venham a público e odesmascara diante de todos! Quantos têm usado dosdons de Deus com proveito próprio? Quantos usam

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dos dons para enriquecimento pessoal? E quantosdeixam de orientar as pessoas pelo caminho certo?

As pessoas costumam perguntar: mas por queDeus permite isso? Ele mesmo responde: “O SE-NHOR, o seu Deus, está pondo vocês à prova paraver se o amam de todo o coração e de toda a alma”.Quer dizer, Deus mesmo permite que o falso profe-ta apareça a fim de traçar uma linha que delimite osque realmente amam a Deus acima de qualquer coi-sa, e os que amam a Deus buscando seu própriointeresse!

Talvez você engula em seco com o que vou afir-mar: Deus permite que espíritos enganadores se apo-derem da vida e da mensagem de um servo seu,quando este não vive de maneira santa e que lheagrade; e também Deus permite que esses espíritos,operando por meio de falsos profetas, terminem porlevar à destruição os que já tiveram em alguma opor-tunidade o conhecimento da verdade, mas a des-prezaram!

Vejamos alguns exemplos bíblicos.Balaão. Ele era profeta; falava com Deus e Deus

falava com ele. “Disse-lhes Balaão: “Passem a noiteaqui, e eu lhes trarei a resposta que o SENHOR meder”. E os líderes moabitas ficaram com ele. Deusveio a Balaão e lhe perguntou: “Quem são esses ho-mens que estão com você?” (Nm 22.8-9). Houveum diálogo entre Deus e o profeta. Deus deixouclara a intenção com seu povo, e não permitiu que

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Balaão amaldiçoasse a herança do Senhor. MasBalaão cedeu diante da oferta de Balaque. Afinal, ospríncipes retornaram com mais dinheiro. O prêmioera irrecusável e Balaão caiu no laço em que costu-mam cair os servos de Deus: a ganância financeira!

Na segunda vez, Balaão falou novamente comDeus, e este lhe respondeu: “Visto que esses ho-mens vieram chamá-lo, vá com eles, mas faça ape-nas o que eu lhe disser” (Nm 22.20).

O texto bíblico pressupõe que a primeira partedo ministério de Balaão era verdadeira, porque fala-va com Deus e este falava com ele. Mas quando pôso olho na riqueza que lhe era oferecida, entrou noterritório de espíritos de engano, neste caso, do deusda riqueza! E foi então que o próprio Deus induziuBalaão ao erro, porque, ao cobiçar as riquezas deBalaque, caiu na cova de sua ambição! Tanto Pedroquanto Judas, apóstolos do Senhor atestam a mes-ma coisa: “Eles abandonaram o caminho reto e sedesviaram, seguindo o caminho de Balaão, filho deBeor, que amou o salário da injustiça” (2 Pe 2.15).“Buscando o lucro caíram no erro de Balaão” (Jd11).

Que estratégia usou Balaão? Jesus afirma queBalaão ensinou a Balaque a armar ciladas contra opovo de Israel (Ap 2.14). Como não podia amaldi-çoar a Israel, deu ao rei a estratégia que levaria opovo a ser amaldiçoado por Deus. Ele sabia que Deusnão tolera o pecado, e induziu o povo a pecar. Balaão

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conhecia o mundo espiritual, e Balaque sabia queeste profeta tinha a capacidade de abençoar ou deamaldiçoar – quer dizer, Balaão transitava pelo mun-do espiritual tendo contato com Deus e demônios!Nada diferente de muitos pregadores que têm aces-so a Deus e aos demônios em nossos dias! Eles têma capacidade de “invocar” os demônios a que se ma-nifestem, o que eles fazem continuamente em seuscultos de libertação! E são tantos hoje que tambémamaldiçoam as pessoas que abandonam suas filei-ras. Estas, se desprotegidas, isto é, se ficarem semproteção de alguma autoridade espiritual, acabarãopor sofrer pelo resto de suas vidas!

Seguindo o conselho de Balaão, o rei Balaquearmou a cena para que os homens de Israel passas-sem a ter relações sexuais com as filhas dos moabitas,e a mão de Deus pesou sobre o povo!

Eliseu e seu servo Geazi. A história é simples.Está em 2 Reis 5. Naamã, comandante do rei daSíria era leproso. Ciente de que havia cura para eleem Israel, depois de procurar o rei, encontrou-secom Eliseu, o profeta, que lhe deu ordens de mer-gulhar sete vezes no rio Jordão que seria curado.Quando percebeu que a lepra desaparecera, Naamãquis dar uma oferta generosa ao profeta Eliseu. Estea recusou. A casa dos profetas que Eliseu presidiacarecia de ajuda, mas Eliseu recusou o presente. Dizo texto que “Geazi, servo de Eliseu, o homem deDeus, pensou: “Meu senhor foi bom demais para

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Naamã, aquele arameu, não aceitando o que ele lheofereceu. Juro pelo nome do SENHOR que corre-rei atrás dele para ver se ganho alguma coisa” (2 Rs5.20).

A cobiça faz com que muitos verdadeiros homensde Deus se tornem falsos! O resto da história vocêconhece. A lepra de Naamã passou para Geazi! Oprofeta Isaías reconhece o que aconteceu com o povode Israel. Ele afirma que o povo entendeu que oEspírito de Deus, antes tão favorável e benigno coma nação, tornou-se inimigo dela! “Apesar disso, elesse revoltaram e entristeceram o seu Espírito Santo.Por isso ele se tornou inimigo deles e lutou pessoal-mente contra eles” (Is 63.10). Não, você não leuerrado! O texto realmente afirma que o EspíritoSanto se tornou inimigo do povo! Quer dizer, omesmo Espírito Santo que nos guia, quando nós odesobedecemos, torna-se nosso inimigo! Por isso opovo, nos dias de Isaías orava, perguntando: “Se-nhor, por que nos fazes andar longe dos teus cami-nhos e endureces o nosso coração para não termostemor de ti? Volta, por amor dos teus servos, poramor das tribos que são a tua herança!” (Is 63.17).O povo sabia que o coração endurecido deles, sedevia à sua própria rebelião!

O primeiro capítulo de Romanos aponta para alei universal de Deus: o desobediente, o que temconhecimento de Deus e o despreza é induzido aoerro, para sua própria condenação. Não apenas os

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ímpios são induzidos ao erro quando pecam, mastambém os crentes. Em Romanos 1 três vezes apa-rece a expressão, “o Senhor os entregou”. Primeira-mente o versículo 24 diz: “Por isso Deus os entre-gou à impureza sexual, segundo os desejos pecami-nosos do seu coração, para a degradação do seu cor-po entre si”. Depois no versículo 26, volta a afir-mar: “Por causa disso Deus os entregou a paixõesvergonhosas. Até suas mulheres trocaram suas rela-ções sexuais naturais por outras, contrárias à natu-reza” e ainda no 28: “Além do mais, visto que des-prezaram o conhecimento de Deus, ele os entregoua uma disposição mental reprovável, para pratica-rem o que não deviam”.

Assim, tanto ímpios quanto pregadores que nãovivem ordenadamente são tratados diretamente porDeus! Paulo afirma que o anticristo iludirá os quenão creram na verdade. “Por essa razão Deus lhesenvia um poder sedutor, a fim de que creiam namentira, e sejam condenados todos os que não cre-ram na verdade, mas tiveram prazer na injustiça” (2Ts 2.11-12). Quer dizer: Deus envia a “operação doerro, para darem crédito à mentira”. Os rebeldes edesobedientes têm um tratamento diferenciado deDeus! Para evitar que erremos, Jesus apontou a so-lução: adorar em espírito e em verdade!

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Capítulo 2Em Espírito e em Verdade

George Foster publicou pela Editora Betânia olivreto Em Espírito e em Verdade,3 e me enriqueceu,com algumas frases de efeito sobre este tema. Eleafirma que alguns adoram a Deus sem espírito e semverdade, o que geralmente acontece com a maioriadas religiões existentes no mundo, em quesincretismo e fé se misturam tanto. Depois ele es-creve que outros adoram a Deus mais em espírito doque em verdade, falando de pessoas que adoram aDeus baseados mais em emoções do que em infor-mações. “O perigo disso, obviamente, reside no fatode que tenderemos a formar opiniões com base emsensações, e nem sempre com base na realidade”,afirma Foster.

Ainda outros adoram a Deus muito mais em ver-dade do que em espírito. É um tipo de adoração queprefere só os hinos tradicionais, em que não se er-guem mãos diante de Deus, sem prostração espon-tânea, e onde a programação é ajustada sem deixarqualquer liberdade às pessoas. O retrato perfeito deuma igreja “tradicional”, dá a entender o autor. Mas,diz Foster, Deus quer que o adoremos em espírito e emverdade, em que nosso espírito, corpo e alma – emo-ções, vontade e intelecto envolvem-se em adoração!

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Jesus respondeu à mulher samaritana, informan-do que “os verdadeiros adoradores adorarão o Paiem espírito e em verdade”. O que é adoração emEspírito e em verdade? Não é uma adoração emforma de... Os judeus estavam acostumados à for-ma, aos sacrifícios, aos elementos, e precisavam adap-tar-se a uma forma de adoração invisível!

Em verdade, quer dizer que não é uma adoraçãoque precise de coisas exteriores, - apontando aquipara o ambiente, as cores, etc., e em espírito, porqueDeus é Espírito, não tem corpo, nem precisa de lu-gar. Pode ser adorado em qualquer lugar! (At 7.48-50; 17.24-25).

Para entender o que Jesus quis dizer temos deestudar por analogia. Jesus está falando de espírito evida, de alma e corpo, de mística e razão, de fé epragmatismo! Por exemplo, em Mateus 22.29 Jesusdiz: “Vocês estão enganados porque não conhecemas Escrituras nem o poder de Deus!”. A Escrituraapela ao intelecto. O poder apela à fé! Alguns co-nhecem apenas a Escritura, e por isso a adoraçãolimita-se ao intelecto, outros só conhecem o poder,e perdem o equilíbrio quando adoram, porque per-dem a Escritura! São duas coisas espirituais: Umaapela à razão, outra à emoção. Mística e fé em con-traste com a razão! A fé é uma coisa mística! Porexemplo, orar e falar com Deus são coisas místicas,porque não se vê a Deus!

Resumindo, Foster está afirmando que, quando

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se adora a Deus sem espírito e sem verdade, temosapenas religião. Quando se adora a Deus mais emespírito do que em verdade, temos mais emoção queinformação. Quando se pensa em buscar o conteú-do teológico, em satisfazer a razão e não os senti-mentos adoramos a Deus mais em verdade do queem espírito. Portanto, a vida cristã é mística e prag-mática! Razão e fé são duas coisas que acompanhamnossa adoração e nossa comunhão com Deus todosos dias. A Bíblia satisfaz a razão e a fé.

A vida cristã é mística e racional. Em espírito eem verdade. Disto não se pode fugir! Os que acre-ditam que a vida cristã é apenas racional, não con-seguem usufruir das bênçãos espirituais – até por-que elas estão num nível mais alto que é o espiritu-al, e se tornam agnósticos! As grandes conquistas denossa fé estão nas regiões celestiais em Cristo Jesus.Ele e os apóstolos apontaram para uma vida cristãque se firma nesses dois pontos: espírito e verdade.Tudo que faz parte da fé reside no campo da mística– falar com Deus, orar, crer em Deus, etc. não po-dem ser entendidos pela razão, portanto, fazem parteda fé. A razão não admite a fé; e este é um legado daárvore do conhecimento do bem e do mal cujo fru-to nossos pais comeram no Éden. É o humanismo eo positivismo que levam a pessoa a jamais dependerde Deus para qualquer coisa. O humanismo – frutoda razão sem fé – não admite o transcendental, oespiritual, místico, a fé, etc.

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Exemplo disso são os saduceus, que eram ultra-ortodoxos, e agarravam-se demasiadamente à leisem conseguir gozar dos benefícios da graça e da fé.Os saduceus alegavam ser descendentes de Zadoque,sumo sacerdote dos dias de Davi, e a própria pala-vra sadiq – retidão – mostra como eles viviam. Elesreconheciam somente a autoridade da Tora e nãocriam em qualquer outra palavra que não estivesseali. “Os saduceus não podiam negar a existência deanjos os quais aparecem na Tora, mas eram friosquando tinham de estabelecer um ensino sobre an-jos e demônios, cuja crença aumentou depois doexílio babilônico. Não conseguiam ver a ressurrei-ção na Tora (enquanto outros a viam – Hb 11.19),rejeitavam, portanto, a crença de que a ressurreiçãofosse na forma de anjos ou de espíritos (At 23.8)”. 4

Os saduceus bem que representam hoje os que que-rem adorar apenas em verdade – desprezando a ado-ração no espírito!

Por não crerem na possibilidade de ressurreição,Jesus citou a célebre frase: “Vocês estão enganados!,pois não conhecem as Escrituras nem o poder deDeus!” (Mc 12.24). Ao falar em “escrituras”, temosem mente a razão, o intelecto, pois a escritura apelaao intelecto; mas quando falamos de “poder deDeus”, temos em mente a mística, a fé, o que étranscendental. Se bem que as escrituras do AntigoTestamento abrem diante de nós experiências mís-ticas dos servos de Deus! Imagine uma mula falan-

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do, um arvoredo balançando ao tropel da cavalariacelestial (1 Cr 14), ou tantos outros textos da Bí-blia. Mística do início ao fim, a Bíblia satisfaz a ra-zão do cristão.

Por conseguinte, a vida cristã é mística e racio-nal; equilibra-se na palavra e no poder de Deus. Masquando se torna racional? Quando nos leva a vivercomo pessoas normais, trabalhando, estudando, obe-decendo as autoridades constituídas – como qual-quer cidadão. Nossa posição em Cristo, nas regiõescelestiais permite-nos viver na mística, na fé, nopoder de Deus, pois o poder de Deus transcendenosso conhecimento e nos coloca em contacto comum mundo espiritual cuja dimensão é ilimitada! Masa escritura, ou palavra, leva-nos a viver na terra, comoseres comuns!

Essa dupla dimensão é ao mesmo tempo fantás-tica e incompreensível. O espírito a entende, e arazão tem de se submeter ao espírito. O mundo es-piritual, no entanto, só pode ser entendido por pes-soas espirituais. É disso que Paulo trata em 1Coríntios 2.

Uma reunião de adoração, ou um culto da igre-ja, o que nelas acontecem reside no mundo espiri-tual, residem na esfera do Espírito, mas acompa-nhadas pela razão! Daí que espíritos enganadorespodem se infiltrar trazendo engano sem que sejamnotados. De que maneira os espíritos enganadoresoperam num culto, se este é realizado na esfera es-

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piritual? Como isso acontece? Pela vida de pecadoda liderança! Portanto, viver uma vida apenas depoder é perigosa se não estiver firmada na escritura.Pois a escritura exige da razão, caráter! A fé ou ocampo da mística não pode divagar sobre si mesma,mas tem de estar firmada na palavra ou na escriturade Deus! Os saduceus criam na escritura, mas des-prezavam o poder de Deus! Diferentemente demuitos que hoje vivem no espírito – no poder – edesprezam, sem querer a escritura!

Como falei anteriormente, Jesus falou de umaadoração em espírito e em verdade – novamente pa-lavra e poder; mística e escritura; fé e razão, dando aentender que essas duas verdades precisam andarparalelas na vida cristã. Tudo que está no campo dafé, é da mística; tudo que esteja no campo da men-te, é da razão. Por isso Paulo fala que temos de ter amente de Cristo! E ele fala da “mente de Cristo” nomesmo contexto em que fala do homem natural edo espiritual. “Quem conheceu a mente do Senhorpara que possa instruí-lo?” Nós, porém, temos amente de Cristo” (1 Co 2.16). Os que têm a mentede Cristo, conseguem discernir melhor o mundoespiritual!

Falamos do poder de Deus que veio sobre a vidade Maria, gerando nela o Filho de Deus! (Lc 1.35).É algo incompreensível à razão humana, mas estána esfera de Deus! Falamos desse trânsito no mun-do espiritual que nos concede poder sobre os de-

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mônios, o mesmo poder que Jesus possuía (Lc 4.36).Desse poder que saía de Jesus quando curava os en-fermos! (Lc 6.19). Referimo-nos ao poder – dína-mos – que os discípulos receberam de Deus em Lucas10.19 e Atos 1.8.

Se examinarmos todas as referências sobre “po-der”, referindo-se ao poder de Deus, veremos que opêndulo de Deus move-se sempre para a mística,porque a razão ou nossa carne, sempre quererá nostrazer de volta para seu campo de ação. Por isso Paulotrata exaustivamente sobre a luta entre carne e espí-rito! Isso parece contradizer o tema aqui proposto, eao que parece, quando nos tornamos “espirituais”também temos a tendência de palmilhar apenas ocampo do “espírito” ou da mística, abominando arazão. Nossa razão está firmada na mente de Cristoque sabe discernir todas as coisas!

“No íntimo do meu ser tenho prazer na Lei deDeus”, afirma Paulo, “mas vejo outra lei atuandonos membros do meu corpo, guerreando contra alei da minha mente, tornando-me prisioneiro da leido pecado que atua em meus membros” (Rm 7.22-23). Quer dizer, no interior, na vida do espírito, eletem imenso prazer em Deus, mas em sua mente tra-va-se uma batalha: duas forças lutam por manterdomínio de sua mente!

Paulo afirma que sua pregação e mensagem não“consistiram de palavras persuasivas de sabedoria,mas consistiram de demonstração do poder do Es-

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pírito, para que a fé que vocês têm não se baseassena sabedoria humana, mas no poder de Deus” (1Co 2.4-5). Paulo traz equilíbrio à questão da razãolevando-nos a confiar no poder de Deus! Por issoPaulo fala em “palavra da verdade e no poder deDeus” (2 Co 6.7).

Os que vivem uma adoração apenas no espíritotendem a ser enganados. Quando jejuamos e nosconsagramos, diz Arthur Wallis, o jejum afina nos-so espírito, deixando-nos sensíveis ao mundo espi-ritual, capacitados para tocar anjos e demônios.Disso os místicos o sabiam muito bem, pois perce-biam em suas experiências que nem todas as mani-festações de poder e luz vinham do Altíssimo; mui-tas eram das profundezas do inferno, com aparên-cia divina! Místicos como João da Cruz, Teresa deJesus, Madame Guyon e Evelyn Underhil – esta úl-tima protestante – buscaram compreender quandouma manifestação era puramente divina, da alma,ou satânica com aparência de espiritualidade.

Eles criaram termos como, união da alma com oCriador, algo que começa no entendimento, passapela vontade; domina o nosso ser, e por fim, alcan-ça o mais profundo de nossas almas. Também in-ventaram o termo ócio santo, para explicar o mo-mento em que na adoração e na oração ficamos pas-sivos, deixando Deus agir. Um místico disse: “Nãopense o mortal, que a alma perde tempo; a obradele é divinal” (B. Nicolas Factor). Também cria-

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ram a expressão recolhimento. Um deles afirmou:“Ficamos tomados de intensa admiração que alargaa alma enchendo-a de alegria e prazer, ao descobrirem Deus tantas maravilhas de amor, bondade e for-mosura. Outras vezes o silêncio espiritual deixa aalma atônita, absorta, e prostrada diante de tantagrandeza” 5

Embriaguez de amor. Este é um termo que osadoradores criaram para expressar o momento daadoração quando se sente o gosto da doçura de Deus.Nesse nível de adoração, dizem, “a alma ora se der-rete, ou salta de alegria, comportando-se com lou-curas de amor, em cânticos de louvor, convidandoa todas as criaturas a que louvem tanta bondade”. 6

E foram mais além inventando a expressão embria-guez espiritual, momento em que “a pessoa senteuma fragrância, um cheiro suave que conforta a almae o corpo. Outras vezes sente um gosto, um saborna língua, dando-lhe refrigério. Às vezes começa adançar. Juan de Jesus Maria, no livro Escola de Ora-ção chama isso de embriaguez espiritual”. 7

Creio que Paulo era um grande místico – maiorque todos os aqui citados – mas aprendeu a equili-brar-se sobre a palavra, a ponto de esconder por ca-torze anos a grande experiência de haver sido arre-batado ao céu! E quanto poder na experiência, poisele nem mesmo sabia se chegou lá no corpo ou noespírito! E é Paulo quem nos conduz pelo caminhoda mística quando trata dos dons espirituais. De-

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pois de falar sobre as manifestações do Espírito em1 Coríntios 12 – todas sobrenaturais – ele orientaquanto ao nosso procedimento no culto cristão. Acélebre pergunta de Paulo: “Que fazer, pois, irmãos?”de 1 Coríntios 14.26 é a chave que precisamos nes-te assunto: “Portanto, que diremos, irmãos? Quan-do vocês se reúnem, cada um de vocês tem um sal-mo, ou uma palavra de instrução, uma revelação,uma palavra em uma língua ou uma interpretação.Tudo seja feito para a edificação da igreja”.

Dependendo da maneira como se analisa a Bí-blia, ela pode parecer um livro extremamente místi-co para alguns, e puramente histórico para outros.No entanto, quando a fé e a razão ficam presentesem nossa adoração, a Escritura se torna um livrosobremodo excelente, pois enriquece a fé e satisfazo intelecto. Assim, por estranho que pareça, nossoculto se equilibra sobre a fé e a palavra, a razão e opoder! Se alguém tem um salmo, obviamente que éalgo inteligível, racional, que se pode entender semmistérios, pois se trata de uma poesia, uma letra decântico – algo assim. Depois ele fala em “doutrina”,traduzida na NVI por “palavra de instrução”, tam-bém algo que nos leva a pensar, a refletir, a meditar,deixando-nos longe do transcendental e do místi-co, colocando-nos no “chão”, com os pés em terra!No entanto, a seguir, Paulo fala em alguém contri-buir para o culto ou reunião da igreja com uma re-velação. Ora, uma revelação empurra-nos da terra

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para o céu, pois manifesta algo transcendental, di-vino, que a razão, por vezes não aceita ou ignora.

Paulo explica o que é uma revelação no mesmotexto de 1 Coríntios 12.8-10. Ele fala de três donsde revelação: palavra de conhecimento, palavra desabedoria e discernimento de espíritos. Ora, comoos demais dons deste texto, estes são donstranscendentais – não tão pragmáticos como os deRomanos 12 – pois “revelam” o que se passa no co-ração humano! Então, num mesmo momento emque alguém vem com algo pragmático e racionalcomo um salmo ou doutrina, outra pessoa “desven-da” os segredos do coração humano com revelaçõesdo Espírito. Aqui novamente vemos escritura e po-der; espírito e verdade! É uma revelação que nor-malmente – mas não necessariamente sempre – semanifesta por outros dons místicos – línguas e pro-fecias!

“Mas se entrar algum descrente ou não instruí-do quando todos estiverem profetizando, ele portodos será convencido de que é pecador e por todosserá julgado, e os segredos do seu coração serão ex-postos. Assim, ele se prostrará, rosto em terra, e ado-rará a Deus, exclamando: “Deus realmente está en-tre vocês!” (1 Co 14.24-25). Por isso, o versículo 26começa com: “Portanto, que diremos, irmãos?”Imagine alguém numa reunião da igreja, ou numencontro particular, e o Espírito Santo revelando oque ela pensou, imaginou, planejou ou lhe dando

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orientação sobre algo que esteja buscando! Esta é aparte mística de todos nós, em que o misteriosomundo espiritual se abre diante do homem! MasPaulo vai mais além. Fala sobre línguas e interpreta-ção. Se por um lado, língua é algo misterioso etranscendental, por outro o Espírito Santo não dei-xa nosso intelecto sem resposta: vem a interpreta-ção. O místico e o pragmático; a escritura e o po-der; a razão e a fé em nosso culto a Deus! Nem muitona razão, nem exacerbadamente na mística ou fé!

O pêndulo se inclina para o espírito

Nesse ponto é que entra nossa hinologia. Acos-tumados a cantar hinos dos hinários, e “corinhos”como forma de animação, de uns trinta anos paracá uma verdadeira revolução sacudiu a igreja mu-dando o comportamento do povo de Deus e a or-dem de culto. Não quero, de maneira alguma, dei-xar a impressão de que sou portador de uma revela-ção, mas acompanho essa “sacudidela” na vida daigreja desde a década de setenta do século passado!Apesar de ser oriundo de uma igreja pentecostal,desde a década de sessenta me envolvi com a igrejaem todas as denominações, pregando sobre louvore adoração. Poucas foram as denominações históri-cas em que não ministrei. Circulei entre osanglicanos, luteranos, metodistas, batistas,pentecostais clássicos, e neopentecostais, e creio que

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meus livros, de certa forma, ajudaram a mudar aestrutura dos cultos da igreja brasileira.

Quando o estilo de vida e a maneira de adorarnão mais puderam se encaixar na denominaçãopentecostal de que era pastor, começamos uma dasprimeiras comunidades cristãs de nossa cidade. Estefoi o laboratório de uma nova hinologia; palco dosurgimento de novos líderes de louvor, com novasmúsicas e novos cânticos. Foi entre nós que, pelaprimeira vez aprendemos a ficar em adoração, napresença de Deus, cantando cânticos espirituais. Queexperiência! Já havia lido sobre os grandes aviva-mentos e a experiência dos irmãos de entoarem no-vos cânticos, ou cânticos espirituais, mas a experi-ência, que ainda perdura foi inebriante!

Se antes estávamos acostumados a entoar louvo-res a Deus, segurando um hinário, estáticos, lendocada palavra do hinário, agora, com o advento doprojetor a renovação tecnológica cooperou com aespontaneidade. Com as mãos livres para se ergue-rem em adoração, e com a facilidade de escrever nalâmina cada novo cântico, a nova hinologia nos ti-rou da adoração apenas em verdade, e nos levou aooutro extremo, que é a adoração em espírito. Noschamavam de carismáticos, quem sabe pelo tempogasto com cânticos, comunhão com outros irmãos,oração e prática dos dons espirituais.

No decorrer dos anos, contudo, percebi quenossa adoração carecia de um equilíbrio, e se fazia

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necessário que o pêndulo se movesse para o outrolado, o da verdade, e que, finalmente se detivesseno centro. Quer dizer, uma adoração em espírito eem verdade sempre concomitante, parelhas, lado alado, ao mesmo tempo! Foi então que comecei aensinar nos seminários e congressos, que era neces-sário trazer de volta para os cultos da igreja os hinosantigos, resgatando a hinologia esquecida por partedos grupos renovados. Confesso que, assim comovivia no extremo da “verdade”, na nova comunida-de passei a viver no extremo do “espírito”, ignoran-do a adoração em verdade! Mas nem sempre é pos-sível trazer de volta para a pista um cavalo ou umcarro desgovernado. E hoje o louvor e a adoração,em muitos lugares, parece haver perdido as rédeas edescambado para uma adoração mântrica. É dissoque trato a seguir.

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Capítulo 3Cânticos ou Mantras? 8

A música tem o poder de elevar a pessoa a umnível espiritual, em que pode ser facilmente enga-nada, achando que está num território divino, quan-do está pisando num mundo espiritual falso. Os mís-ticos da igreja descobriram que o mundo espiritualé todo mui semelhante, e as manifestações, sejamelas divinas ou satânicas nos deixam com tremor etemor. Não se pode definir se o que se experimen-tou foi de Deus ou do Diabo apenas pelas luzes,cores, vozes e anjos. E eles criaram uma pequenaregra para perceber se a experiência espiritual é deDeus ou do Diabo. Quando é divina, depois damanifestação, a pessoa se torna mais humilde, amo-rosa, submissa e quebrantada, e esconde dos demaisa experiência que teve, porque o que aconteceu foientre ela e Deus. Mas quando é satânica e vem mas-carada de sã espiritualidade, a pessoa, depois damanifestação, se torna mais orgulhosa de suaespiritualidade, rebelde e insubmissa. Por isso os mais“espirituais” tendem a ser os mais rebeldes!

Um místico disse que a virtude divina que operanas verdadeiras revelações induzirá, moverá, in-flamará num amor casto e numa reverência aoaltíssimo (e nos levará) ao reconhecimento de

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nossa baixeza, levando-nos a aborrecer a vaidadeterrena, a desejar o desprezo das pessoas, a pade-cer com alegria, a amar a cruz levando-a com es-forçado e dilatado coração, e a desejar o últimolugar. Levar-nos-á a amar aos que nos perseguem,e a temer e odiar o pecado por menor que pareça(...) Esse será o sinal infalível da verdade comque nos visita o Altíssimo por meio de suas reve-lações, ensinando-nos a ser mais santos e perfei-tos. 9

David Tame em seu livro O Poder Oculto daMúsica 1 0 – quase que leitura obrigatória aos diri-gentes de louvor que sabem ler um livro como secome um peixe repleto de pequenos e indigestos es-pinhos – usando de exemplos bíblicos e históricostanto do povo judeu como dos povos do oriente,afirma que os povos antigos descobriram que a mú-sica pode levar o indivíduo para “cima” ou para “bai-xo”. A música boa, para cima; a ruim, para baixo!Aliás, tema em que rabisco umas notas no meu li-vro Ministério de Louvor: Revolução na Vida da Igre-ja, publicado pela Editora Betânia.

O autor fala do tom celestial que os povos anti-gos, especialmente da China, tentavam encontrarna música. Eles acreditavam que havia um tom quetocava os céus, e cuidavam para que todos os ins-trumentos musicais estivessem afinados com essetom! Claro, que os céus de que ele fala não são oque você e eu imaginamos, portanto, David Tame

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fala de algo que ocorre no mundo espiritual. Apesarde não concordar com muito do que ele escreve,não posso negar os resultados das pesquisas científi-cas que ele apresenta em seu livro. Que a músicatrabalha com as emoções, que influencia a nature-za, que aperfeiçoa ou distorce o caráter do homem,e que influencia no comportamento da sociedade,foi comprovado cientificamente!

Agora, o que muitos não entendem é que a mú-sica também é um espírito! Ela não é apenas feita denotas e de acordes; existem espíritos que se utilizamda música, da mesma forma que se utilizam dos pre-gadores do evangelho! Filósofos e pensadores de-bruçaram-se sobre esse tema milênios atrás, e fize-ram descobertas importantes. A música para os an-tigos chineses era tão importante que os doze mesesdo ano eram coordenados cada mês por uma notamusical, pois acreditavam que “a música harmoni-osa passou a ser a realização na Terra da vontade doAlto. Por sua adequação aos princípios do céu, amúsica da Terra poderia obrigar, pela lei da resso-nância harmônica, as energias do céu a se incorpo-rarem nos chefes do Estado”. 1 1

Talvez por nunca haverem estudado o poder e ainfluência que a música exerce sobre a Terra, mui-tos de nossos dirigentes de louvor e dirigentes deculto não sabem fazer uma seleção de hinos que con-duzam para “cima”, e não tão para “baixo” comotantas outras! Alguns cânticos trazidos hoje para os

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nossos cultos são muito depressivos e não espelhama verdadeira alegria da graça de Deus. A música vemdistorcendo muito da verdadeira adoração.

Da mesma forma que quando oramos penetra-mos para dentro do véu, e nos deparamos diante doinexplicável, ao nos prostrarmos diante de Deus,penetramos o invisível, entramos no mundo espiri-tual expondo-nos ao mundo dos espíritos. E quan-do seu tempo de adoração for azeitado pela música– porque a verdadeira adoração não precisa de mú-sica, já que adoração é um estilo de vida, e não esti-lo de música – a música sob a qual fica exposto podetambém levá-lo para cima, ou para baixo; a entrarem contato com anjos, ou com demônios, às vezesde maneira imperceptível! Quando o adorador pe-netra no mundo espiritual transita entre o falso e overdadeiro, entre o divino e o satânico, porque pe-netra no campo da mística ou das revelações.

A música é algo tão espiritual que todos os avi-vamentos deixaram sua contribuição para a hinódiada igreja, tema que abordo mais adiante.

Conforme falei anteriormente, três dos dons es-pirituais são de revelação: palavra de conhecimen-to, sabedoria e discernimento de espíritos, porque oque se vê e se recebe nessa área transcendem a ra-zão; estão além do conhecimento humano, daí anecessidade do discernimento de espíritos que per-mite julgar a fonte do conhecimento e da sabedo-ria! E na adoração, a música penetra nesse campo

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transcendental. E em questões transcendentais, nonível superior da fé não existem regras técnicas, masregras também espirituais!

Paulo aborda essa questão quanto ao orar em lín-guas, porque é algo tão sobrenatural que o espíritoora, mas a mente fica infrutífera! Daí que a experi-ência cristã é mística e pragmática. Quando se oraem línguas é mística; quando se interpreta, o Espí-rito Santo traz a revelação ao nível do entendimen-to humano, porque a vida cristã não é de mistério,mas de revelação! Ele diz: “Cantarei com o espírito,mas também cantarei com a mente”. E na adoraçãocom música canta-se com a mente, mas tambémcom o espírito! E pelo contexto da carta apostólica,trata-se de um cântico espiritual, quase sempre emlínguas, porque é disso que está tratando quandofala em orar com a mente e também com o espírito!

Por isso, quando cantamos no espírito entramosno mesmo terreno do falar em línguas – nada seentende a menos que haja interpretação! O cânticoespiritual é dinâmico, melódico, tem altos e baixose um cântico difere do outro! Em melodia e em le-tra. E varia de uma pessoa para outra. A questão éque o mantra e o cântico espiritual operam no mes-mo terreno espiritual em que a divisa, ou a fronteiraentre os dois é também espiritual, tênue e imper-ceptível! Se o adorador não tiver discernimento po-derá entrar ou ser levado pelo dirigente de adoraçãoa cantar mantras em vez de cânticos espirituais.

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E se no passado, como confessei, caímos no ex-tremo de só adorar em “espírito”, nesses dias, al-guns dirigentes de louvor estão levando o pêndulomais para o extremo elevado a alguma potência!Acredito que precisamos equilibrar nossa adoração;que ela seja “em espírito e em verdade”. Nesse sen-tido, muitos dos antigos hinos da igreja podem tra-zer grande equilíbrio!

E muita de nossa adoração foi invadida pelosmantras coletivos de nossos cultos, em que refrões,ou repetições, a mesma “batida” do ritmo, a repeti-ção de sons e frases confundem-se com cânticos es-pirituais e não são! O mantra budista tem sons epalavras desconhecidas e misteriosas, tal qual nocântico espiritual – em línguas. O cântico espiritualem línguas segue o mesmo padrão, porque é faladoem “mistério”, numa língua estranha! A diferençaestá que no “mantra” a pessoa é induzida, mas nocântico espiritual é uma operação do Espírito San-to. A semelhança ocorre quando o líder de adora-ção induz as pessoas, às vezes de forma imperceptí-vel, com a mesma frase, ritmo, batida de tambores,etc. Depois, aquele som e ritmo ficam martelandona mente todo dia! O verdadeiro cântico espiritualé conduzido pelo espírito, e não induzido por al-guém, por música ou por batidas de instrumentos!Ele é melódico, tem altos e baixos. Eis aqui umapequena regra espiritual: o cântico espiritual é me-lódico e tem altos e baixos, picos para cima e para

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baixo! Se colocado num gráfico pode-se averiguar adiferença entre os dois. O mantra opera numa mes-ma faixa sonora... Por isso Jesus nos orienta a ado-rar em espírito, mas também em verdade! A verda-de nos afasta do perigo!

Assisti a uma palestra de um orientador demantras, e a todos os que escutavam suas músicas,alertou que não deviam ser ouvidas enquanto diri-giam seus automóveis, mas sentadas em suas casas,pois são músicas para “relaxamento”, na realidade,músicas que induzem a algum propósito!

Alguns dos dirigentes de adoração trazemmantras enrustidos em seus cânticos, que, ao fimdeixam o adorador “prostrado”, “arrasado”, não nosentido de prostração voluntária, dequebrantamento, mas depressivo, “para baixo”, emque o lamento e dor não dão espaço a alegria e gozo.Ao fim de uma hora ouvindo-se certas melodiassentimo-nos verdadeiros trapos humanos! Seria bomque alguns dirigentes de louvor estudassem mais afundo o poder oculto da música! A verdadeira ado-ração tem esse “fundo” de tristeza e quebrantamento,mas também o “pico” de gozo e alegria!

Aliás, essa é a tônica da profecia bíblica. Nelas, omesmo Deus que adverte e promete o castigo, ace-na com palavras de restauração, trazendo libertaçãoe alegria! Deus jamais deixa seus servos eternamen-te prostrados; sempre um tempo de arrependimen-to e prostração é seguido de um tempo de alegria e

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gozo!

Cada avivamento traz uma nova hinologia

Ao refletir sobre o tipo de música que entoamosem nossos dias, cheguei a imaginar que deve fazerparte de uma nova fase na vida da igreja, ou possoestar enganado! Quero que você reflita se esse tipode adoração quase “mântrica” faz parte de algumnovo período da história ou não. Porque todos osgrandes avivamentos da história trouxeram algumacontribuição com novos hinos e letras para a igreja.Deixo, aqui, a pista para quem quiser desenvolveruma tese de mestrado ou doutorado nessa área: Re-lacionar os cânticos aos avivamentos de cada época!Cada avivamento deixou sua marca através dos hi-nos que cantamos!

Experimente fazer com seu grupo musical – masé preciso gente com muita experiência de igreja –um momento de louvor com hinos antigos. Assimcomo fazem periodicamente nos Estados Unidos Bille Glória Gaither que reúnem seus amigos para en-toar cânticos antigos e novos!

Cada nova experiência com Deus resultou numnovo cântico, ou numa maneira diferente de se lou-var a Deus. Basta dar uma vista d’olhos nas escritu-ras para perceber essa dinâmica divina na história.Comece pela experiência da passagem pelo Mar Ver-melho e verá que o cântico de Êxodo 15 trouxe

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vitalidade espiritual ao sofrido povo que acabara desair do Egito. Miriam tomou um pandeiro, comdanças e júbilo conduziu o povo no louvor, numcântico escrito por Moisés naquele dia! Mais tardeno deserto, Israel cantou um cântico de vitória, ce-lebrando a água que jorrava da rocha, uma alusãoprofética à Rocha, Cristo (Nm 21.17-18). Alguémensinou o povo!

No final dos quarenta anos no deserto, Moisésensinou um cântico escrito por Deus ao povo deIsrael (Dt 31.19,30). Era o momento de celebrar aRocha, mencionada várias vezes no cântico e o mo-mento de entrar na Terra Prometida. Mais tarde –no tempo dos juízes - Débora compôs, ensinou ecantou um novo cântico (Jz 5.1-31). Era a celebra-ção da vitória sobre os inimigos. Mais tarde Anaentoou um novo louvor a Deus (1 Sm 2.1-10), ce-lebrando a resposta à sua oração. Samuel inaugu-rou a era profética formando, grupos de louvor quecostumavam celebrar diante de Deus com cânticosproféticos! Foi num desses grupos que Saul se sen-tiu transformado, e entre eles passou um dia e umanoite profetizando a Deus (1 Sm 10.5,10 e 19.18-20).

Uma outra era foi inaugurada na nação de Israelcom a vitória de Davi sobre os filisteus, e as mulhe-res de Israel fizeram um cântico – o cântico das la-vadeiras – (1Sm 18.6-8) que cantavam enquantobatiam a roupa nos tanques. E já no reinado de Davi

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ele formou uma equipe de levitas músicos, inaugu-rando uma era que se perpetuou por mais de qui-nhentos anos. Nesta ocasião Davi encarregou a Asafee a seus irmãos para dirigirem os louvores no tem-plo (1 Cr 16.7) e ele mesmo compôs um resumo deseus cânticos (2 Sm 22.1-51). Além de Hemã, Asafee Jedutum, outros cantores, como Quenanias, peri-to na arte de dirigir os louvores quando a arca foitrazida para Jerusalém (1 Cr 15.22), trouxeram artee júbilo ao povo de Israel.

E que dizer de Matanias dirigindo os louvoresna celebração da reconstrução dos muros de Jerusa-lém? (Ne 11.17). E de Josafá celebrando diante deDeus em 2 Crônicas 20?

A igreja, ao longo da história experimentou tem-pos de renovação cuja ênfase pode ser vista na con-tribuição hinológica que deixaram. Cada experiên-cia resultou em novos cânticos que marcaram épo-ca. Eu não sou um especialista, nem fiz uma acuradapesquisa identificando os hinos com sua época, masbasta conferir a história e se verá que os grandesavivamentos contribuíram também com uma novahinologia.

Até mesmo quando questões teológicas estavamem jogo, os cânticos surgiram para marcar época.Na guerra teológica provocada por Ário que não acei-tava a Trindade e defendia suas idéias através decânticos. 1 2 (Ário era Bispo de Alexandria no séculoIV e era contrário a Trindade. Foi condenado pelo

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Concílio de Nicéia em 325 d.C.).Quando do surgimento do gnosticismo – segun-

do século – Uma tentativa de conciliar filosofia comreligião (gnose – conhecimento), o movimento criousua própria hinologia. O erudito sírio Bardesanes(155-223), autor de hinos gnósticos que foram usa-dos pela igreja Síria, foi contestado dois séculos de-pois por Efraim (307-373) que escreveu: “Nos do-mínios de Bardesanes, há cânticos e melodias. Ven-do que os jovens gostam de música suave e boa,pela harmonia de seus cânticos corrompeu a mentedeles”. Bardesanes e seu filho Harmonius compila-ram o saltério gnóstico com mais de 150 hinos! 1 3

Noutra ocasião Chrisóstomo, ao se tornar patri-arca de Constantinopla, não permitiu que os aria-nos adorassem dentro dos muros da cidade. Só po-diam entrar na cidade aos sábados a noite e domin-gos. Os arianos, para provocar, faziam vigílias a noitetoda do lado de fora dos muros cantando! 1 4

Mas deixemos os casos negativos e citemos ospositivos. Uma nova era da igreja foi inauguradapelo cântico Castelo Forte, na reforma de Lutero.Falando sobre Castelo Forte de Lutero, James Moffatdisse: “Um cântico de guerra foi este hino, com oqual ele e seus colegas entraram em Worms. A velhacatedral tremeu ao som destas novas notas e os pás-saros foram espantados dos seus esconderijos nastorres. Este hino, conhecido como “A Marselhesada Reforma”, conserva até hoje o seu poder e pode-

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ríamos usá-lo em outro conflito semelhante”.1 5Lutero em 1529 tinha 46 anos e o escreveu base-ado no Salmo 46.

Depois os Irmãos, que também foram chama-dos de anabatistas e mais tarde de menonitas, e tem-pos depois de moravianos, contribuíram com umanova hinologia. Os Irmãos influenciaram tanto suaépoca que seus descendentes, os moravianosinlufenciaram João Wesley e George Whitfield. Enesse tempo o irmão de João, Carlos Wesley escre-veu cerca de 6.500 hinos! Só um avivamento degrandes proporções poderia gerar tantos hinos! Ali-ás, a hinódia de nossos dias, quando a igreja brasi-leira canta os mesmos cânticos, não apenas os aquicompostos, mas também os que vêm de outros pa-íses, assemelha-se a um período da história em queas principais denominações do Canadá e dos Esta-dos Unidos se uniram em torno de um hinário co-mum a todas elas, apesar dos cânticos procederemde diferentes autores, como Carlos Wesley e JamesMoffat.

A história recente é muito linda. Os grandes avi-vamentos nos Estados Unidos no século vinte dei-xaram-nos um legado de novas músicas. Os cânticosdo movimento Chuva Serôdia trouxeram um reno-vo à igreja americana. Alguns fazem parte da hinódiade nossos dias. Aqui no Brasil os pentecostais con-tribuíram com uma nova hinologia. Quando o povoestava acostumado aos hinos já tradicionais, surgi-

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ram os irmãos do Evangelho Quadrangular com seus“corinhos”, fáceis de serem memorizados pela gentesimples da periferia! E foi assim que os irmãosQuadrangular e os do Brasil para Cristo tambémmarcaram nossa história com novos cânticos. Nadécada de 60-70 os batistas e metodistas renova-dos, e depois as “comunidades cristãs” deixaram-nos um rico legado de hinos e cânticos! Porto alegretornou-se um centro de hinologia em que o AsaphBorba se tornou referência nacional. Mas Goiânia,Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e cidades doNordeste deixaram sua marca na história com osnovos cânticos!

Por isso creio que uma nova melodia ainda estápor surgir na igreja brasileira. Pois novos temposvirão! Mas é um tempo em que precisamos redefinira linha hinológica para que as gerações futuras te-nham um legado do Espírito Santo e parâmetrosclaros que os orientem! E é hora de voltarmos à umahinódia pura, livre dos mantras orientais, mas re-pleta de cânticos espirituais!

E é hora de ficarmos atentos a nova tendência daigreja nesses dias! Mas livre dos mantras!

Notas Bibliográficas

1 BASHAN, Don, True & False Prophets, Manna Books, p.212 Publicado pela Worship Produções, Americana, S.P.3 FOSTER, George R. Em Espírito e em Verdade, Editora

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Betânia, B.H. pp 7-104 BELL JR, Albert A. Explorando o Mundo do NovoTestamento,Editora Atos Ltda. B.H., p. 455 ARINTERO, I.J. Biblioteca de Autores Cristianos, tomo

91 p. 5706 Ibidem p. 5717 Ibidem p. 5718 A palavra mantra vem do sânscrito que quer dizer liberar ouesvaziar a mente.A palavra mantra vem do sânscrito que querdizer liberar ou esvaziar a mente.9 ARINTERO, I.J., Biblioteca de Autores Cristianos, p. 67010 Editora Cultrix, São Paulo, 198411 TAME, David, O Poder Oculto da Música, Editora Cultrix,p. 4312 McCUTCHAN, Robert Guy, Hymns in the Lives of MenAbingdom-Cokesbury Press,, p. 90).13 Ibidem, p. 9114 Ibidem p. 9215 ITCHER, Bill, Se os Hinos Falassem, JUERP, Vol. I p. 44