Povos indígenas no Brasil. No Brasil?

Marta Maria AzevedoNúcleo de Estudos de População “Elza Berquó”UNICAMP

Seminário: Estruturas e linguagens de exclusão: Brasil, 2015

CCR, CEBRAP e NEPO, UNICAMPSão Paulo, 13 de novembro de 2015

  1991 2000 2010TOTAL BRASIL            306.245           734.131          817.963 região norte            124.613           213.445  305.873

Rondônia 4.132 10.683 12.015Acre 4.743 8.009 15.921

Amazonas 67.882 113.391 168.680Roraima 23.426 28.128 49.637

Pará 16.132 37.681 39.081Amapá 3.245 4.972 7.408

Tocantins 5.053 10.581 13.131região nordeste              55.849           170.389  208.691

Maranhão 15.674 27.571 35.272Piauí 314 2.664 2.944Ceará 2.694 12.198 19.336

Rio Grande do Norte 394 3.168 2.597Bahia 16.023 64.240 19.149

Paraíba 3.778 10.088 53.284Pernambuco 10.576 34.669 14.509

Alagoas 5.690 9.074 5.219Sergipe 706 6.717 56.381

região sudeste              42.714           161.189  97.960Minas Gerais 6.118 48.720 31.112

Esp. Santo 14.473 12.746 9.160Rio de Janeiro 8.956 35.934 15.894

São Paulo 13.167 63.789 41.794região sul              30.334             84.748  74.945

Paraná 10.977 31.488 25.915Santa Catarina 4.884 14.542 16.041

Rio Grande do Sul 14.473 38.718 32.989região centro-oeste              52.735           104.360  130.494Mato Grosso do Sul 32.755 53.900 73.295

Mato Grosso 16.548 29.196 42.538Goiás 2.085 14.110 8.533

Distrito Federal 1.347 7.154 6.128fonte: IBGE Censos 1991, 2000 e 2010

A conquista e destruição dos povos indígenas na modernidade:

A política da colonização - conflitos e nos anos 70 e 80

as tentativas de classificação e “emancipação” dos povos indígenas

- As reuniões dos antropólogos sobre as políticas indigenistas na AL – declarações de Barbados I e II

- As criações das primeiras ongs indigenistas – conhecimentos acadêmicos à serviço de, mudança de paradigma - a criação do chamado indigenismo alternativo

As relações com a FUNAI e a militância nos anos 70: a favor de pontos importantes para a nova CF – o pensamento: leis bastam..., representações bastam.... E a categoria “indígena” basta.....

O que seria participação social dos povos indígenas; participação efetiva.

O que conseguimos: “ouvidas as comunidades indígenas” (nem povos são!)“com a anuência das comunidades indígenas”

Ouvidas: em que língua? Por quem? E depois de “ouvi-las”?O que significa anuência? É possível VETAR?

• A participação social: os conselhos... As 47 instâncias onde estão representados os povos indígenas – efetividade até que ponto?

• A formação dos gestores públicos não contempla uma formação mínima em antropologia ou formação da sociedade brasileira ou estudos sociológicos e políticos sobre raça/etnia

• Os financiamentos públicos, embora devessem, de fato não estão sujeitos ao controle social (municipais, estaduais e federal)

Educação e saúde: exemplos

A educação os bárbaros e infiéis

Primeiras fases – e atuais – da política de educação escolar indígena

- os primórdios da educação escolar – a civilização e catequização dos povos indígenas – o melhor instrumento: a conquista das crianças – a escola

- minhas próprias experiências: - cadernos de ponta cabeça- cobras no riozinho- fogo na escola - anos 70 – como fazer experiências alternativas?

- A frase que ficou na CF – a idéia dos processos próprios de aprendizagem – isso virou política? Com quais conhecimentos?

- As primeiras regras e leis – de novo – bastam? Quem faz as políticas? Quem implementa? O que é de fato e efetivamente a política de educação escolar indígena?

- Anos 90: escolas indígenas, públicas, oficiais, caso particular de escola? A educação dos indivíduos indígenas contra as sociedades indígenas.

• Saúde para os povos indígenas:

- Atendimento às epidemias; vacinações – as EVS

- Os primeiros reconhecimentos dos sistemas tradicionais de saúde dos povos indígenas – anos 60 a experiência da Escola Paulista no Xingu

- As Conferências Nacionais de Saúde Indígena: princípios norteadores nunca seguidos – respeito, participação, diálogo, respeito...(início final dos anos 80, última em 2013, foram cinco...)

O indigenismo – no singular – e o singular indigenismo brasileiro:

os bárbaros educados, as escolas, o atendimento à saúde, as atividades

produtivasCriação do SPI (e Localização de

Trabalhadores....) – o indigenismo de Rondon e a criação da FUNAI em 1973

• Década de 80: movimento indígena mais organizado e enraizado, juntamente com movimento de apoio aos índios – conquista dos direitos na Constituição Federal em 1988

• Art. 231 e 232 (e 210 educação e outros)

• Instrumentos internacionais: Convenção 169 OIT em 1989 – (ratificada pelo Brasil em 2002)Distinção entre populações e povos, políticas específicas, diálogo, respeito, consulta prévia

- Final dos anos 90 – relativas ilusões – assistencialismo indígena com algum conhecimento acadêmico

- Os livros didáticos indígenas – fiapos de cultura?

- A criação dos DSEIs – respeito com conhecimento?

- A participação dos antropólogos nas políticas indigenistas pós ditadura, tentativas árduas.

- Na demografia, 1991 a inclusão da categoria indígena, os números finalmente oficiais.

A conquista segue seu curso:

Os surtos e sustos do desenvolvimento e dos espelhinhos do século XXI

- A invisibilidade estatística – falta de conhecimentos sobre os povos indígenas – é preciso provar que eles existem.........

- Dos vazios demográficos às terras demarcadas: as políticas começam a ir contra o desejo das gerações mais jovens dos povos indígenas?

- Contradições: criação de cargos e representações traz melhores conhecimentos para as políticas? As políticas melhoraram?

- Novas formas de diálogo: a criação das representações indígenas nos Conselhos Federais, estaduais e municipais.

- Um dos primeiros – Comissão Nacional de Educação Escolar Indígena em 1992.

- Hoje em dia: cerca de 50 coletivos onde os povos indígenas tem representações

- Resultados?

- A CNPI – é um espaço de diálogo e mútuo (re)conhecimento – resultados nas TIs?

- Os sistemas de informações existentes:

• As informações do censo 2010 - público

• O censo escolar do INEP – Ministério da Educação - público

• SIASI – Sistema de Informações sobre o Atendimento à Saúde Indígena – Ministério da Saúde – não aberto à consulta

• Cadastro Único do Ministério do Desenvolvimento Social – não aberto à consulta

• PORÉM, ESSAS BASES DE DADOS NÃO SE COMUNICAM..................

• PORTANTO, É EXTREMAMENTE DIFÍCIL CALCULAR TAXAS, INDICADORES ETC.

• Qual a expectativa de vida dos povos indígenas? Não se conhece....

• Taxas de inclusão escolar?

• Como poderiam ser lidos esses indicadores para que as políticas públicas possam ser melhor informadas?

Os políticos/ fazedores de políticas e os cientistas acadêmicos - a soberba de uns e a falta de conhecimentos de 

outros:

As relações tão delicadas entre os atuais intelectuais e os ‘outros’; ou entre aqueles que são governo e os

‘outros’.

- Entre os povos indígenas:

- Os gaps geracionais entre os povos indígenas – perfis etários que dificultam a transmissão dos conhecimentos próprios e que impulsionam mudanças sócio-culturais.

- As gerações daqueles que estão atualmente nos cargos das políticas públicas municipais, estaduais e federais de educação escolar indígena – a falta de conhecimento sobre os povos indígenas, nem o RCNEI chega...

- O desconhecimento das possibilidades de apoio, pressões, influências por parte dos acadêmicos

- A falta de comunicação e a comunicação através da mídia – a generalização das comunicações não geraram comunicação generalizada..................

- O desconhecimento das possibilidades de apoio, pressões, influências por parte dos acadêmicos

- A falta de conhecimento, preconceito, desrespeito, desprezo, desvalorização de estilos de vida diferentes

• A criação dos DSEIs – Distritos Sanitários Especiais Indígenas – estudos sócio-políticos anteriores

• Gestão compartilhada com os povos indígenas, transparência através dos CONDISI

• Territorialidade semelhante aos TEEs – Territórios Etnoeducacionais (2011) e às Coordenações Regionais da FUNAI (reestruturação de 2009/2010)

• Fazer exercício com outras metodologias – diálogos de saberes em quais línguas? Com quais significados?

• O locus dos processos de transmissão e gestão dos conhecimentos – prédios escolares – a semiótica dos espaços

• “Vivemos sempre acolhendo o pensamento do não indígena, e o meu pensamento não é recebido pelos outros, que nem ao menos falam minha língua” Eliel Benitez, professor da FAIND da UFGD