posiÇÃo ps porto sobre reestruturaÇÃo da rede dos stcp

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1 POSIÇÃO PS PORTO SOBRE REESTRUTURAÇÃO DA REDE DOS STCP O Governo prepara-se para subtrair parte da rede dos STCP, transferindo-a para os operadores privados, à luz de critérios extremamente contestáveis, que põem em causa o transporte público e a qualidade do serviço prestado a dezenas de milhares de utentes. A área dos transportes é um bom exemplo do que distingue o PS do PSD, seja ao nível municipal ou ao nível das políticas nacionais. Enquanto o PS encara o sector dos transportes como uma área de intervenção prioritária para correcção de desigualdades sociais e territoriais, o PSD olha-o como um fardo excessivo sob a responsabilidade do Estado. E seguindo esta máxima, o Governo está a lançar um conjunto de medidas no silêncio dos gabinetes que visam o emagrecimento do papel do Estado a favor dos operadores privados. O Governo vai cortar nas redes dos operadores públicos de transportes das áreas metropolitanas (Metro de Lisboa, Carris, Transtejo, Metro do Porto e STCP). Em muitos casos, o Governo está a ordenar a estas empresas públicas que deixem de operar linhas sob pretexto do fim da duplicação (ou concorrência?) de serviços entre o público e o privado nos mesmos percursos/carreiras. Nestes casos, os operadores privados poderão explorar as suas concessões, sem concorrência do operador público que, como sabemos, disponibiliza uma qualidade de serviço inigualável pelos privados. Os cidadãos com dificuldades de mobilidade poderão ver-se impedidos de viajar nos autocarros porque as redes de acesso fácil apenas existem nos operadores públicos, as frequências de passagem serão alargadas, a informação ao público dos operadores privados praticamente não existe e os tarifários terão aumentos muito significativos nas linhas em que os operadores privados não queiram aderir ao sistema andante. Em suma, grande negócio para o privado e claros prejuízos para os utentes! Como a operação da empresa Metro do Porto está concessionada a um consórcio privado, o Governo não pode ordenar a redução da oferta sem que esteja obrigado a avultadas indemnizações por força da natureza do contrato de concessão (no lugar de reduzir despesa estaria a agravá-la). Mas não nos surpreenderia que o Governo daqui a uns tempos estivesse a exigir à nova administração da Metro do Porto uma renegociação para diminuição de oferta, com contrapartidas de aumento de duração de contrato. Sendo assim, sobra os STCP… Rua Santa Isabel, 82 - 4050-536 Porto Telf. 22 605 19 80 Fax. 22 605 19 89 www.psporto.net [email protected]

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O Governo prepara-se para subtrair parte da rede dos STCP, transferindo-a para os operadores privados, à luz de critérios extremamente contestáveis, que põem em causa o transporte público e a qualidade do serviço prestado a dezenas de milhares de utentes.

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Page 1: POSIÇÃO PS PORTO SOBRE REESTRUTURAÇÃO DA REDE DOS STCP

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POSIÇÃO PS PORTO SOBRE

REESTRUTURAÇÃO DA REDE DOS STCP

O Governo prepara-se para subtrair parte da rede dos STCP, transferindo-a para os

operadores privados, à luz de critérios extremamente contestáveis, que põem em causa o

transporte público e a qualidade do serviço prestado a dezenas de milhares de utentes.

A área dos transportes é um bom exemplo do que distingue o PS do PSD, seja ao nível

municipal ou ao nível das políticas nacionais. Enquanto o PS encara o sector dos transportes

como uma área de intervenção prioritária para correcção de desigualdades sociais e

territoriais, o PSD olha-o como um fardo excessivo sob a responsabilidade do Estado. E

seguindo esta máxima, o Governo está a lançar um conjunto de medidas no silêncio dos

gabinetes que visam o emagrecimento do papel do Estado a favor dos operadores privados.

O Governo vai cortar nas redes dos operadores públicos de transportes das áreas

metropolitanas (Metro de Lisboa, Carris, Transtejo, Metro do Porto e STCP). Em muitos casos,

o Governo está a ordenar a estas empresas públicas que deixem de operar linhas sob pretexto

do fim da duplicação (ou concorrência?) de serviços entre o público e o privado nos mesmos

percursos/carreiras. Nestes casos, os operadores privados poderão explorar as suas

concessões, sem concorrência do operador público que, como sabemos, disponibiliza uma

qualidade de serviço inigualável pelos privados.

Os cidadãos com dificuldades de mobilidade poderão ver-se impedidos de viajar nos

autocarros porque as redes de acesso fácil apenas existem nos operadores públicos, as

frequências de passagem serão alargadas, a informação ao público dos operadores privados

praticamente não existe e os tarifários terão aumentos muito significativos nas linhas em que

os operadores privados não queiram aderir ao sistema andante. Em suma, grande negócio

para o privado e claros prejuízos para os utentes!

Como a operação da empresa Metro do Porto está concessionada a um consórcio privado, o

Governo não pode ordenar a redução da oferta sem que esteja obrigado a avultadas

indemnizações por força da natureza do contrato de concessão (no lugar de reduzir despesa

estaria a agravá-la). Mas não nos surpreenderia que o Governo daqui a uns tempos estivesse a

exigir à nova administração da Metro do Porto uma renegociação para diminuição de oferta,

com contrapartidas de aumento de duração de contrato.

Sendo assim, sobra os STCP…

Rua Santa Isabel, 82 - 4050-536 Porto Telf. 22 605 19 80 Fax. 22 605 19 89 www.psporto.net

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E é a partir desta empresa que o Governo está a incubar um corte drástico na oferta do

transporte público na AMP. O facto de haver duplicação de serviços não significa que as

empresas públicas operam com prejuízo. Muito pelo contrário, significa concorrência (conceito

sacrossanto para este Governo que muito curiosamente não entra neste contexto…) e, acima

de tudo, significa que o utente sai a ganhar em termos de preços, frequências e frota.

Em breve veremos milhares de utentes a chegar à sua paragem de autocarro e observar a

chegada de veículos dos operadores privados em vez dos veículos dos STCP. E nesse momento

irão perceber que perderam qualidade de serviço. Em muitos casos serão prejudicados nos

preços, frequências e estado da frota (principalmente as pessoas com dificuldades de

mobilidade).

Os utentes de transportes públicos da AMP não suportam mais um aumento no tarifário no

próximo ano. Os dados sobre a perda do rendimento per capita no Distrito do Porto,

demonstram que não existe margem para qualquer aumento, mesmo ajustes na ordem dos

valores da inflação já anunciados pelo governo.

Os operadores de transporte público da AMP registam quebras mensais médias na procura de

cerca de 5% deste Agosto último, ou seja desde que se verificou o aumento de 15% em média

no tarifário.

Até Julho deste ano a procura tinha aumentado cerca de 2,5% no acumulado em comparação

com a do ano anterior (2010), o que reflecte uma inflexão consistente na queda da procura

nos números em análise.

Paralelamente foi anunciado no Plano Estratégico de Transportes 2011/2015 o fim dos

passes monomodais dos STCP. A fusão das operações das empresas de transporte público de

Lisboa e Porto pressupõe a total integração tarifária o que, no caso da Área Metropolitana do

Porto, implica a migração dos títulos monomodais dos STCP para o sistema ANDANTE.

No entanto, a eliminação total e súbita dos títulos monomodais pode levar a aumentos de

tarifários significativos para uma franja da população já muito sensível em termos económicos,

podendo mesmo ter um efeito pernicioso no incentivo à utilização dos transportes públicos.

Tendo já passado 5 anos desde que os STCP aderiram a este novo sistema de bilhética – o

Intermodal Andante - compreende-se a necessidade de dar mais um passo na promoção da

intermodalidade e também de aumento da Base Tarifária Média.

Assim defende-se uma eliminação gradual do tarifário monomodal que permita a simplificação

e redução significativa das opções hoje existentes mas que possa acautelar a frágil situação

económica de uma pequena franja da população.

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Defendemos a manutenção, para já, da assinatura rede geral normal e da assinatura rede geral

para a 3ª idade, reformados e pensionistas.

Não havendo no Sistema Intermodal Andante um título com a abrangência de uma assinatura

Rede Geral seria de manter nesta fase este título, pois no caso de estes serem eliminados,

alguns clientes teriam aumentos no tarifário de mais de 100%. Ou seja, podemos ter utentes

de transporte público que necessitam de utilizar várias zonas intermodais a sofrer aumentos

que poderão chegar ao dobro do que actualmente pagam.

De manter também a assinatura rede geral para a 3ª idade, reformados e pensionistas, já que

estes títulos representam cerca de 50% das vendas dos clientes mono modais de assinaturas

(ver R&C STCP 2010).

Estima-se que esta proposta tenha um impacto global na receita no sistema, para todos os

operadores, com especial incidência no Metro do Porto.

Antes de qualquer alteração significativa, o Governo deveria avançar com uma verdadeira

rede integrada de transportes para a AMP, com decisões de escala e complementaridade e

negociada e organizada com operadores públicos e privados em todos os patamares:

promoção da intermodalidade (generalização do Andante), reformulação do sistema de

financiamento, mais e melhores interfaces, rebatimentos de carreiras nos interfaces do metro,

identificação do serviço público de responsabilidade municipal e metropolitana, ajustar

percursos, horários, frequências e frota, etc.

Não é justo aproveitar o delicado momento que vivemos para fragilizar um sector que, apesar

de tudo, tem acrescentado qualidade de vida a quem tem menos rendimentos e, pior de tudo,

não se pode olhar para o sector dos transportes como um alvo preferencial para tirar ao

Estado e dar aos privados.

Porto, 12 de Dezembro de 2011

A COMISSÃO PERMANENTE DA FDP/PS

Rua Santa Isabel, 82 - 4050-536 Porto

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