português - fascículo 01 - gramática e literatura

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Português Fascículo 01 Carlos Alberto C. Minchillo Izeti Fragata Torralvo Marcia Maísa Pelachin

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Page 1: Português - Fascículo 01 - Gramática e Literatura

PortuguêsFascículo 01

Carlos Alberto C. MinchilloIzeti Fragata Torralvo

Marcia Maísa Pelachin

Page 2: Português - Fascículo 01 - Gramática e Literatura

Índice

Gramática

Resumo teórico ..................................................................................................................................1

Exercícios............................................................................................................................................6

Gabarito.............................................................................................................................................8

Literatura

Resumo teórico ................................................................................................................................10

Exercícios..........................................................................................................................................12

Gabarito...........................................................................................................................................14

Page 3: Português - Fascículo 01 - Gramática e Literatura

Gramática

Objetivo: treinar alguns aspectos da norma culta escrita.

Resumo teórico

Conteúdo do resumo teórico

I. PontuaçãoII. Algumas normas ortográficasIII. Emprego de “a”, “à”, “há”

Pontuação

O emprego dos sinais de pontuação está condicionado a dois aspectos:

a. os nexos sintáticos (entre os termos da oração e entre as orações do período) eb. os recursos de ordem textual e subjetiva (ênfase, ironia, citação...).

Vírgula

Emprego determinado por razões sintáticas.

Entre os termos da oração

Uso proibido

Entre termos diretamente ligados, ou seja:• entre sujeito e predicado (ou verbo),• entre o verbo e os complementos,• entre um núcleo substantivo e seus adjuntos adnominais.

Uso obrigatório

Em orações cujos termos estão em ordem indireta.

Deslocamento de:• adjunto adverbial• nome de cidade em indicação de data• objetos pleonásticos

Intercalação de:• adjunto adverbial• conjunção• expressões explicativas ou corretivas

Indicação de:• aposto explicativo• vocativo• enumeração• termo elíptico• zeugma (omissão de termo já expresso)

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Page 4: Português - Fascículo 01 - Gramática e Literatura

Entre as orações do período

Uso proibido

• Entre oração principal e a subordinada substantiva. Exceção: entre a oração principal e a oraçãosubordinada substantiva apositiva.

• Entre a oração principal e a subordinada adjetiva restritiva.

Uso obrigatório

• Para separar oração intercalada.• Entre a oração principal e a subordinada adjetiva explicativa.• Antes das orações coordenadas sindéticas. Exceção: oração coordenada sindética aditiva. A aditiva

pode ser precedida de vírgula se tiver um sujeito diferente do que a coordenada assindética possui.• Entre a oração principal e oração subordinada adverbial anteposta ou intercalada.

Uso facultativo

• Entre a oração principal e a oração subordinada adverbial posposta para indicar ênfase.

Ponto final, ponto de exclamação, ponto de interrogação

• Ponto final: em final de frases declarativas (afirmativas, negativas)• Ponto de exclamação: em final de frases exortativas e exclamativas ou, junto com o ponto de

interrogação, para marcar perguntas exclamativas• Ponto de interrogação: em final de frases interrogativas diretas

Ponto-e-vírgula

Não marca término do período. É usado entre fragmentos coordenados, em geral,quando a vírgula já foi empregada para separar termos da oração.

Parênteses

Usados para isolar uma informação paralela ao assunto principal da frase.

Reticências

Marcam que, por alguma razão (dúvida, ironia, omissão de conclusão desnecessária,enumeração incompleta), a frase foi interrompida.

Aspas

Isolam uma palavra ou termo

• em citação textual• para destacar com os mais diversos objetivos (ironia, ênfase, linguagem figurada, impropriedade

vocabular, nível de linguagem inadequado ao contexto)• em estrangeirismos

Dois pontos

Surgem em uma frase para introduzir informação que esclarece ou complementa palavraou idéia anteriormente expressa. Introduzem:

• enumerações• fala de personagem em discurso direto

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Page 5: Português - Fascículo 01 - Gramática e Literatura

Travessão

Usado em duas situações distintas:

• Introdução de fala de personagem, em discurso direto• Para destacar uma idéia. (Obs.: Neste caso, é comum o emprego de dois travessões, para isolar o

termo a ser destacado, por exemplo, uma oração subordinada adjetiva explicativa.)

Algumas normas ortográficas

É preciso lembrar, em primeiro lugar, que a grafia não é fonológica, isto é, ela não édeterminada única e exclusivamente pelo som.

Observação principal: uma palavra derivada costuma manter a grafia da palavra primitiva. Assim, se apalavra “laranja” é escrita com “j”, “laranjeira” também se escreve com “j”.

Emprego de algumas letras

Letra Regra Exemplos

X e + X + vogal Exame, exato, exeqüível

Após ditongo Caixa, queixo, deixar

Após a sílaba “me” Mexer, mexerica

Após a sílaba inicial “en” Enxurrada, enxugar, enxergar

S Após ditongos abertos Maisena, paisagem, náusea

Nos sufixos “–esa”, “-isa”, “-oso” Duquesa, poetisa, gostoso

Na conjugação dos verbos “pôr” e “querer” Pusesse, quisera, quiser, puser

Em verbos derivados que apresentam “s” na palavra primitiva. Analisar (de análise)

Paralisar (de paralisia)

Observação: catequese/catequisar;batismo/batizar

Em diminutivos, se a palavra no grau normal apresenta “s”. Rosinha, casinha, simplesinho

Em substantivos derivados de verbos terminados em “-nder”, “-ndir” Compreender> compreensão

Expandir> expansão

Z Nos sufixos “–ez”, “eza”, formadores de substantivos a partir de adjetivos. Firmeza, grandeza, frigidez

No sufixo “-izar” formador de verbos Agilizar, utilizar, parabenizar

No sufixo “-zinho”, indicador de diminutivo Cafezinho, pãozinho

SS Em substantivos derivados de verbos terminados em ”-der” e “-dir”;“ter” e “tir”

Agredir> agressão

Suceder> sucessão

Transmitir> transmissão

Submeter> submissão

E No presente do subjuntivo de verbos terminados em “–uar” e “oar” Continue

Perdoe

I Na 3.a pessoa do singular do presente do indicativo de verbosterminados em “-air”, “-uir”

Atrai

Possui

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Emprego dos “porquês”

Grafia Explicação

Por que Preposição + pronome interrogativo. Introduz uma frase interrogativa (direta ou indireta). Ex.: Por que faltou?Não sei por que você faltou.

Regra prática: neste caso, pode-se supor a palavra “motivo”: Por que (motivo) faltou? Não sei por que (motivo)você faltou.

Preposição + pronome relativo ( = pelo qual).Ex.: Desconheço o ideal por que ele luta ( = pelo qual)

Por quê Expressão interrogativa em posição tônica, como final de frase. Ex.: Você faltou. Por quê?

Porque Conjunção (causal, explicativa, final). Ex.: O edifício ruiu porque era velho. O edifício ruiu porque eu vi!Lutamos porque todos consigam uma vida digna.

Porquê Substantivo (o artigo, um adjetivo, um pronome sempre revelam o substantivo). Ex.: Todos conhecem os seusporquês.

Emprego de “a”, “à”, “há”

“Haver”

Usado para indicar:

• Tempo decorrido. Observação: na indicação de tempo futuro, emprega-se “a”, preposição.• Existência

“A” artigo, pronome e preposição

Artigo feminino

Empregado antes de substantivo feminino. Altera-se, portanto, se esse substantivofeminino for substituído por um substantivo masculino.

Pronome pessoal do caso oblíquo

Pronome substantivo que substitui um nome. Na linguagem coloquial, normalmente vemsubstituído por “ela”.

Pronome demonstrativo

Pronome com valor de “aquela”.

Preposição

Relaciona palavras. Não se altera se a palavra que o segue for substituída por outra, noplural, ou no masculino, uma vez que não depende da palavra que o segue, mas da palavra que aantecede.

A preposição:

1. ocorre na indicação de distância: A casa fica a duas quadras do hospital;

2. ocorre com alguns verbos (que exigem a preposição “a”):a. “assistir a”: com o sentido de ver, presenciarb. “aspirar a”: com o sentido de desejar, almejarc. “visar a”: com o sentido de desejar, ter em vistad. “pagar a”: se o complemento é pessoae. “perdoar a”: se o complemento é pessoa

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f. “chegar a”: indicando o lugar a que se chegag. “ir a”: indicando o lugar a que se vaih. “obedecer a” e “desobedecer a”i. “preferir x a y”

“À”

O acento grave ( ` ) indica a crase de duas letras iguais; no caso, do “a” preposição e o“a”, que pode ser o artigo feminino, o pronome demonstrativo ou a letra “a” que inicia os pronomesdemonstrativos aquele, aquela, aquilo.

(“a”) Não ocorre crase:

1. Diante de palavra masculina. (Se existir um “a”, é apenas a preposição.)2. Diante de palavra plural. (Se existir um “a”, é apenas a preposição.)3. Em expressões com palavras repetidas. (O “a” é apenas a preposição.)4. Diante de verbo no infinitivo. (Se existir um “a”, é apenas a preposição)5. Diante de pronome de tratamento. Exceções: senhora, senhorita e dona.6. Diante de pronomes. (Se existir um “a”, é apenas a preposição)7. Diante de nomes de cidades. Observação: se o nome de cidade vier acompanhado de um

determinante (expressão qualificadora), aceita artigo e, portanto, se houver preposição ocorrecrase.)

(“à“ ) Sempre ocorre:

1. Em locuções adverbiais femininas. Exceção: locução adverbial feminina que indica instrumentopossui acento grave facultativo.

2. Em locuções prepositivas.3. Em locuções conjuntivas.4. Na indicação de número de horas.5. Na expressão “à moda de”, ainda que a palavra “moda” esteja oculta.

Acento grave facultativo:

1. Diante de nome próprio feminino, uma vez que o emprego do artigo é facultativo.2. Na expressão “até a” (ou “até à”)3. Diante de pronomes possessivos femininos, uma vez que o artigo é facultativo.

(“à”) Ocorre crase nos seguintes casos especiais:

1. Diante da palavra “casa”, se esta vier acompanhada de um determinante (expressão qualificadora).2. Diante da palavra “terra”, se esta vier acompanhada de um determinante (expressão qualificadora).

Obs.: Em oposição a chão firme, a palavra “terra” não aceita artigo. Portanto, não ocorre crase.3. Diante dos pronomes relativos “qual” e “quais” se o antecedente for feminino e houver a presença

da preposição “a”.4. Em “aquele”, “aquela” e “aquilo”, se houver uma preposição “a” regendo essas palavras.5. Com os pronomes demonstrativos “a” e “as” seguidos de “que” ou “de”, se houver uma preposição

“a” regendo essas palavras.

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Exercícios

01. Os sinais de pontuação foram bem utilizados em:

a. Meu irmão Alberto, que morreu ainda criança, estupidamente, duma pneumonia, era enjoado: nãogostava dos trabalhos caseiros que mamãe nos impunha.

b. Quando o encontrou pela primeira vez, Laura pensou: que ia amá-lo para sempre — e correudesesperada com medo, de que ele percebesse seu nervosismo.

c. Dava um mau passo e, sua consciência de mulher casada, dizia-lhe: “não repita Fernanda”, pode serperigoso.

d. O mar fornecia energia; contemplar as ondas, aspirar o ar fazia-lhe bem — tanto, que prolongava omáximo possível, o tempo de preguiça, sobre a cama desarrumada.

e. — Estamos noivos! Exclamou Jorge, sorrindo para Helena. O casamento, por mim não devedemorar.

02. Assinale a alternativa que preenche adequadamente as lacunas do texto:

Voando _____ cegas

Não é só nas dificuldades financeiras (a Vasp que o diga) e no simétrico índice de reajustede suas passagens que as companhias aéreas brasileiras se parecem. A TAM, até _____ pouco tempoconhecida pelo atendimento que _____ diferenciava de suas concorrentes, é a mais recente integrantedo clube do pouco caso com o público. Numa sexta-feira do início de abril, aproximadamente _____23h, um vôo vindo de Curitiba que deveria pousar no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, tevesua rota alterada para Cumbica, em Guarulhos. Até aí, coisas do tráfego. O que a companhia não fez– e isso nada tem _____ ver com custos ou dificuldades técnicas – foi avisar quem esperava pelospassageiros sobre a mudança. Restaram _____ estes um enigmático “ALT-GRU” no painel eletrônico eo balcão da companhia deserto.

Michel Laub – República.

a. às - há - à - as - há - ab. as - à - à - às - à - ac. às - há - a - às - a - ad. as - à - a - às - a - àe. às - há - à - as - há - há

03. A frase em que a grafia não está inteiramente correta é:

a. Na década de 40, a ficção esteve abaixo da poesia, como senso dos problemas e como número deobras importantes, excetuados alguns nomes que serão comentados a seguir.

b. Certo ator conhecido internou-se numa clínica de reabilitação para dependentes de álcool. Segundoseu porta-voz, o ator reconheceu que o hábito de beber socialmente fugiu de seu controle.

c. Agitador cultural incansável, Celso foi o primeiro a assinar, na imprensa brasileira, uma coluna“Gay”.

d. A ascenção de Peres no Estado nascente de Israel foi meteórica. Aos 23 anos, era representante dajuventude sionista.

e. Ele se considera privilegiado por ter vencido financeiramente apesar de pertencer a um grupo deimigrantes húngaros refugiados do socialismo.

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04. Texto:

“ — Meu padrinho morreu, madrinha ficou em dificuldades e eu me vi obrigada aabandonar os estudos. Fui trabalhar. Como sabia dar meus pontos, meti-me de costureira. É coisa umpouco ingrata. Trabalha-se demais, não há folga. Acaba-se um vestido, pega-se logo outro. Mas podeser que um dia...”

Marques Rebelo

As reticências foram usadas após “dias” pela mesma razão que foram empregadas em:

a. “Fernanda, vendo que o rapaz era da mesma opinião que o seu espelho, não indagou de outrasqualidades; deu-lhe o sufrágio... não do coração, mas do espírito. O coração veio mais tarde."

Machado de Assis

b. “Logo que colocou os objetos embaixo da carteira, Pitu encontrou o bilhete. Leu, ficou vermelho,colocou no bolso, não mostrou pra ninguém. De vez em quando, mordia-lhe uma curiosidadegrande, uma vontade de reler pra ter certeza. Era uma revelação que ele não estava esperando.Não podia dizer que estivesse achando ruim, pelo contrário..."

Elias José

c. “Emílio saltava da cama, empunhava a garrucha. E espiando pelo buraco da fechadura, sussurrava:ocanalha estava no corredor, à espera. Porém matá-los, isso não ia acontecer, porque ele...Não!Não! — implorava Carolina."

Orlando Bastos

d. “(...) consultei os sites que ele me indicou e vi que tudo é possível. Quinquilharias velhas e novas, àsdezenas de milhares, divididas em categorias, algumas ilustradas com fotografias, estavam alioferecidas a quem desse o maior lance; muitas, na verdade, a quem desse um mínimo que fosse.Aparelhos, bíblias em miniatura, automóveis, alimentos, filmes, fotos, quadros, vinhos, empresas...As categorias arte e antiguidades eram as mais extensas.”

Ivan Angelo

e. Quebra-luz, aconchego.Teu braço morno me envolvendo.A fumaça de meu cachimbo subindo.

Como estou bem nesta poltrona de humorista inglês.O jornal conta histórias, mentiras...Ora afinal a vida é um bruto romanceE nós vivemos folhetins sem o saber (...)”

Carlos Drummond de Andrade

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05. No trecho:

“Tudo o que a educação gostaria de pedir à imprensa é que fosse tratada com a mesmacompetência com que trata a economia. Infelizmente, esse não é o caso, mesmo nos melhores jornais.Há erros grosseiros de interpretação de dados em assuntos em que não há lugar para opiniões ou“achismos”. Há erros de foco, em que o jornalista não localizou o ponto importante da notícia. Háopiniões que se fantasiam de fatos. Há os jornalistas que não fazem o dever de casa de checar fontes,verificar números (talvez citados de memória pelo entrevistado). Há a tendenciosidade no reportar,dizendo o que o entrevistado não quis dizer.”

Cláudio de Moura Castro

as aspas e os parênteses foram empregados, respectivamente, para:

a. indicar uma gíria - enfatizar uma informaçãob. indicar um neologismo - indicar uma informação paralelac. destacar uma ironia - enfatizar uma informaçãod. enfatizar uma crítica - destacar um detalhee. marcar impropriedade vocabular - incluir uma explicação fundamental

Gabarito

01. Alternativa a.

Os erros das outras alternativas são:

b. Os dois pontos separam inadequadamente a oração principal da subordinada substantiva objetivadireta. Além disso, a vírgula está separando inadequadamente o substantivo “medo” docomplemento nominal (oração subordinada substantiva completiva nominal).

c. Não há razão para o emprego da vírgula após a conjunção “e”. A segunda vírgula separa o sujeito(“consciência de mulher casada”) do verbo. Falta uma vírgula antes do vocativo “Fernanda”. Asaspas deveriam ser fechadas após o substantivo “perigoso”, quando termina o discurso direto.

d. A vírgula após o adjetivo “possível” separa inadequadamente o verbo “prolongar” do complemento(objeto direto) “o tempo de preguiça”. A vírgula antes do adjunto adverbial de lugar (“sobre acama desarrumada") é facultativa.

e. Falta uma vírgula antes do advérbio “não” para que o sujeito não seja separado do verbo.

02. Alternativa c.

• “às cegas”: locução adverbial feminina• “há pouco tempo”: tempo decorrido• “a (diferenciava)”: pronome pessoal• “às 23 h”: indicação de horas• “nada a ver”: preposição diante de verbo no infinitivo• “a estes”: preposição regida pelo verbo “restar”, diante de pronome masculino plural

03. Alternativa d.

O substantivo ascensão é derivado do verbo ascender e grafado com “s”.

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04. Alternativa b.

As reticências (nos dois casos) indicam uma conclusão desnecessária.

Em “a”, indicam um dúvida; em “c”, interrupção pela fala de outra personagem; em “d”e “e”, enumeração não encerrada.

05. Alternativa b.

As aspas marcam uma recente criação vocabular (neologismo) e os parênteses, uminformação que se desvia do assunto principal.

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Literatura

Resumo teórico

Os Lusíadas – Camões

Os lusíadas celebra as grandes conquistas ultramarinas portuguesas, dos séculos XV e XVI.Publicado em 1572, quando Portugal vive os primeiros sinais de decadência econômica e política, aobra de Camões perpetua um momento glorioso da história lusitana: a viagem de Vasco da Gama àsÍndias. Inspirado nos modelos dos poemas épicos1 clássicos, Camões adota uma linguagem erudita,altamente figurada2. Mantém igualmente da tradição épica a estrutura do poema em cinco partes3.

Proposição Apresenta-se o herói Vasco da Gama e a missão religiosa que justificava a expansão marítimaportuguesa.

Invocação O poeta pede auxílio às Tágides, ninfas do rio Tejo, para cumprir a tarefa de produção do poema.

Dedicatória O poema é dedicado ao rei D. Sebastião, enaltecido como valoroso guerreiro.

Narração É a parte mais longa do poema, em que se narram as peripécias da viagem de Vasco da Gama,entremeadas pela síntese da História de Portugal. Coexistem dois planos: o mítico (Baco X Vênus) e ohumano4.

Epílogo O poema encerra-se com uma avaliação dos resultados dos descobrimentos, manifestando certadesesperança com o futuro de Portugal. Denuncia-se ainda a ganância que motivou a empresaultramarina e lamenta-se a ausência de recompensas para os heróis portugueses5.

Ainda que a história contada pelo poema constitua uma seqüência contínua, podem-se identificarepisódios relativamente independentes, pois estes apresentam uma narrativa completa, com começo,meio e fim6.

1. O gênero épico, praticado desde a Antigüidade grega, caracteriza-se pela narrativa em versos que consagra um heróiresponsável por extraordinários feitos. Os mais representativos exemplos de heróis épicos são Ulisses e Enéas, protagonistasrespectivamente de Odisséia e de Eneida.

2. Além de constantes antíteses, metáforas, comparações, hipérboles e prosopopéias (figuras de pensamento), a sintaxecamoniana é caracterizada essencialmente pelas intensas inversões da ordem direta das frases (hipérbatos).

3. Os lusíadas é composto por 8816 versos decassílabos, agrupados em 1102 oitavas-rimas (estrofes de 8 versos chamadas deestâncias), cujo esquema de rimas é abababcc (seis rimas cruzadas e duas emparelhadas).

4. Simultaneamente às ações humanas, o poema narra os conflitos entre deuses mitológicos: Baco se opõe às pretensõesportuguesas, enquanto Vênus auxilia a esquadra lusitana. Tais figuras mitológicas não têm qualquer valor religioso nopoema de Camões, que se mantém estritamente de acordo com os princípios cristãos. Trata-se, portanto, de um empregoretórico, isto é, um instrumento de elaboração textual.

5. Essa mesma crítica está presente no episódio “O Velho do Restelo”.6. “Inês de Castro” e “O Velho do Restelo” são episódios introduzidos ao longo da História de Portugal contada por Vasco da

Gama ao rei de Melinde.

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Inês de Castro

Em seu longo discurso ao rei deMelinde, Vasco da Gama se atém àtrágica história que viveu Pedro, filho dorei Afonso IV. O herdeiro do tronoportuguês, casado com D. Constança,apaixona-se por Inês de Castro, damade companhia da esposa. O amorclandestino – assumido claramentedepois da morte de D. Constança – foiduramente censurado pelos nobres, quetemiam a ameaça de os filhos ilegítimosde Pedro e Inês assumirem o trono.Pressionado, o monarca decide mandarmatar a amante do filho, acreditandocom isso impedir um eventualcasamento. Em 1355, de fato, Inês deCastro é executada. Seis anos depois, D.Pedro assume o poder, outorgapostumamente o título de rainha àamada e persegue os assassinos de Inês.

Ao relatar os acontecimentos que envolvem a execução de Inês de Castro, Camões dá destaque àintensidade do sentimento amoroso, assim como desperta o terror e a piedade no leitor. Esse tom líricoe dramático é uma inovação no gênero épico, que tradicionalmente aborda ações guerreiras,explorando a grandiosidade aventuresca.

O Velho do Restelo

Ao narrar a partida da esquadra deVasco da Gama, o poeta dá a voz a umvelho que, entre a população queassistia emocionada ao embarque,manifesta sua discordância em relaçãoà política expansionista de Portugal. Emtom de reprovação, o Velho do Resteloacusa os portugueses de seremimpulsionados pelo desejo de poder ede enriquecimento; essas objeçõescontradizem o argumento oficial deque a expansão marítima tinha porobjetivo difundir a fé cristã. De modoprofético, o velho adverte sobre osperigos e sofrimentos que advêm paraaqueles que – como os navegantesportugueses – desrespeitam obom-senso e os limites impostos àhumanidade.

7. Restelo é uma praia, à margem do rio Tejo, de onde partiam nos séculos XV e XVI as naus portuguesas.

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“— Ó glória de mandar! Ó vã cobiçaDesta vaidade a quem chamamos Fama!Ó fraudulento gosto, que se atiçaC’uma aura popular que honra se chama!Que castigo tamanho e que justiçaFazes no peito vão que muito te ama!Que mortes, que perigos, que tormentas,Que crueldades neles experimentas!”

Com veemência, o Velho do Restelo identifica nodesejo de poder, na ambição desmedida e na buscade reconhecimento público fatores que impulsionamas ações humanas e causam infelicidade. Essediscurso se relaciona com as pretensões dosnavegantes portugueses que partem para conquistade terras além mar.

7

“Traziam-na os horríficos algozesAnte o Rei, já movido a piedade;Mas o povo, com falsas e ferozesRazões, à morte crua o persuade.Ela, com tristes e piedosas vozes,Saídas só da mágoa e saudadeDo seu Príncipe e filhos, que deixava,Que mais que a própria morte a magoava”

Na estrofe, os adjetivos enfatizam ora a brutalidadepraticada contra Inês (“horríficos”; “ferozes”; “crua”)ora a fragilidade da vítima (“tristes”; “piedosas”).Além disso o desprendimento de Inês, ao se mostrarespecialmente preocupada com os filhos e com oamado, acentua a injustiça de sua condenação.Esses recursos ampliam o caráter trágico da cena.

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Este episódio constitui mais uma originalidade da epopéia camoniana, pois critica justamente o fatoque serve de assunto central do poema. O discurso do Velho do Restelo pode, nesse sentido, serentendido como uma voz dissonante em relação ao tom de exaltação de Os lusíadas. Pode ainda serinterpretado como registro da opinião de setores mais tradicionais da sociedade que discordavam dapolítica imperialista de Portugal. Há também críticos que consideram a voz do Velho do Restelo eco dosjulgamentos particulares de Camões, sendo portanto uma espécie de artifício para que o poetaregistrasse sua visão desiludida sobre os destinos do reino português.

Exercícios

Teste seus conhecimentos sobre os episódios “Inês de Castro” e “Velho do Restelo”

01. Leia a estrofe abaixo e assinale a afirmação incorreta sobre a linguagem empregada.

“[D. Afonso IV] Tirar Inês ao mundo determina,Por lhe tirar o filho que tem preso,Crendo co sangue só da morte indignaMatar do firme amor o fogo aceso.Que furor consentiu que a espada fina,Que pôde tirar o grande pesoDo furor mauro, fosse alevantadaContra uma fraca dama delicada.”

a. No verso “Matar do firme amor o fogo aceso”, verifica-se um hipérbato.b. As expressões “furor mauro” e “fraca dama delicada” compõem paradoxo.c. A repetição do fonema /f/ constitui uma aliteração.d. Para referir-se à morte de Inês, o poeta emprega um eufemismo: “Tirar Inês ao mundo”.e. Pode-se identificar um pleonasmo na expressão “fogo aceso”.

02. Em relação às afirmações abaixo, assinale a alternativa correta.

I. Camões habilmente atenua a responsabilidade do D. Afonso IV em relação à sentença de morte deInês de Castro, atribuindo a culpa da tragédia às pressões políticas e ao caráter incontrolável doamor.

II. A epopéia camoniana associa verdade e ficção. Baseada na viagem verídica de Vasco da Gama àsÍndias, incorpora fatos e personagens históricos e acrescenta ao relato elementos fantasiosos.

III. A dramaticidade do episódio “Inês de Castro” é ressaltada especialmente pelo fato de a narração serfeita em 1.a pessoa, na voz da própria vítima.

a. Todas as afirmações são corretas.b. Apenas a afirmação I é correta.c. Apenas a afirmação II é correta.d. Apenas as afirmações I e III são corretas.e. Apenas as afirmações I e II são corretas.

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03. Assinale a afirmação incorreta em relação aos versos:

“(...)Põe-me em perpétuo e mísero desterro,Na Cítia fria ou lá na Líbia ardente,Onde em lágrimas viva eternamente.

Põe-me onde se use toda a feridade,Entre leões e tigres, e vereiSe neles achar posso a piedadeQue entre peitos humanos não achei.Ali, co’ o amor intrínseco e vontadeNaquele por quem morro, criareiEstas relíquias suas que aqui vistes,Que refrigério sejam da mãe triste.”

a. O trecho apresenta uma intervenção de Inês, que procura comover o rei e convencê-lo de suainocência.

b. O discurso de Inês pode ser considerado dissertativo, pois tem a intenção de persuadir por meio deargumentos encadeados logicamente.

c. Na tentativa de alterar a pena sentenciada pelo rei, Inês apresenta uma comparação exagerada com ointuito de enfatizar a desumanidade de que é vítima.

d. O exílio proposto por Inês não possibilitaria sua felicidade, mas ao menos permitiria que os netos deD. Afonso não fossem relegados à orfandade.

e. Não faz parte da estratégia argumentativa de Inês a negação do amor que sente por Pedro.

04. Leia a estrofe a seguir.

“Mas um velho, de aspecto venerando,Que ficava nas praias, entre a gente,Postos em nós os olhos, meneandoTrês vezes a cabeça, descontente,A voz pesada um pouco alevantando,Que nós no mar ouvimos claramente,Co’ um saber só de experiências feito,Tais palavras tirou do experto peito:

— Ó glória de mandar, ó vã cobiçaDesta vaidade, a quem chamamos fama!”

A figura do Velho do Restelo:

a. não tem credibilidade, pois sua “voz pesada” representa uma condenação inconseqüente à bravuraportuguesa.

b. é composta de modo a ressaltar o seu caráter tosco, rude, primitivo.c. concede autoridade às suas críticas às navegações portuguesas, uma vez que enfatiza a sabedoria

acumulada durante a vida e baseada na experiência concreta.d. representa um conhecimento anacrônico, que não tinha mais aplicação no tempo da viagem de Vasco

da Gama.e. inspira respeito porque o Velho é o único que tem coragem de contrariar a opinião geral sobre as

navegações portuguesas.

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05. Leia os versos do episódio do “Velho do Restelo”.

“Trouxe o filho de Jápeto do céuO fogo que ajuntou ao peito humano,Fogo que o mundo em armas acendeu,Em mortes, em desonras: grande engano!Quanto melhor nos fora Prometeu,E quanto para o mundo menos dano,Que a tua estátua ilustre não tiveraFogo de altos desejos que a movera!”

Em relação às afirmações abaixo, assinale a alternativa correta.

I. Como ocorre em vários momentos da narrativa de Os lusíadas, episódios da mitologia greco-romanaaparecem como ilustração, servindo de confirmação, esclarecimento para uma idéia proposta.

II. A evocação de Prometeu, filho de Jápeto, tem a função de glorificar a inventividade e a ousadiahumana.

III. A moral que está subentendida na referência ao mito de Prometeu pode ser consideradaconservadora, uma vez que está a serviço da manutenção dos valores e da realidade social anterioràs grandes navegações.

a. Todas as afirmações são corretas.b. Apenas a afirmação I é correta.c. Apenas a afirmação II é correta.d. Apenas as afirmações I e III são corretas.e. Apenas as afirmações I e II são corretas.

Gabarito

01. Alternativa b.

As expressões “furor mauro” e “fraca dama delicada” compõem uma antítese, isto é,cada uma dessas expressões, mantendo a independência de sentido, estabelece com a outra umarelação de oposição. Não confundir com paradoxo, que consiste na identificação de idéias opostasque formam uma unidade de sentido, aparentemente ilógica. Em “[Amor] é um contentamentodescontente”, as expressões contrárias “contentamento” e “descontente” não podem serdesassociadas, pois qualificam simultaneamente o substantivo “amor”. Trata-se, portanto, de umparadoxo.

02. Alternativa e.

A afirmação III é falsa. O episódio “Inês de Castro” inclui trechos em que a amante dePedro se defende do castigo que lhe é imposto; no entanto, a narração do episódio é feita em 3.apessoa, na voz de Vasco da Gama, que conta ao rei de Melinde vários acontecimentos da História dePortugal.

03. Alternativa a.

No trecho transcrito, é evidente que Inês pretende comover seu interlocutor, o rei D.Afonso IV, com a finalidade de obter a alteração da pena de morte pelo exílio. Note-se nesses versosque Inês não tenta provar sua inocência e tampouco nega que continue amando Pedro.

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04. Alternativa c.

O respeito que o Velho inspira advém da sabedoria acumulada pela vivência – “... sabersó de experiências feito”. O conhecimento maduro autoriza as críticas que o personagem faz aocomportamento ambicioso dos navegantes portugueses.

05. Alternativa d.

A desobediência de Prometeu, ao furtar o fogo reservado aos deuses, acaba provocandosofrimento entre os homens, já que possibilita a criação de armas e ocorrência de guerras. A referênciaa esse mito tem a função de alertar contra os perigos da imprudência, quando se tenta, como ocorreunas navegações portuguesas, ultrapassar os limites cabíveis à humanidade. Não há, portanto,glorificação da ousadia humana.

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